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A emergência da sociedade da informação recolocou o debate sobre o potencial das tecnologias para ampliar o desenvolvimento, reduzir os níveis de pobreza, aumentar a liberdade dos indivíduos e aprimorar a democracia. Tecnofóbicos, logo, buscaram mostrar o outro lado do processo, argumentando que as redes poderiam isolar as pessoas, esvaziar ações coletivas e radicalizar os grupos políticos. Realistas, buscando aparentar maiores cuidados, retomaram o debate sobre o papel das tecnologias na sociedade, indicando que em si elas são ambíguas e incapazes de mudar as mentalidades. Tecnoutópicos viram nos computadores conectados a possibilidade de distribuir o poder da informação entre as pessoas, acreditando que os usos das tecnologias poderiam ampliar a autonomia dos indivíduos e das sociedades. Sem dúvida, são cada vez mais relevantes para uma sociedade em rede (CASTELLS, 1998) as investigações e análises da política na Internet, principalmente agora, quando não há mais dúvidas de sua importância como arranjo midiático fundamental para as disputas pelo poder de Estado. A campanha de Barack Hussein Obama não se tratou de um ponto fora da curva, mas de uma tendência. Segundo a pesquisa realizada pelo Pew Research Center for the People & the Press e da Pew Internet & American Life Project , em 2008, 42% dos jovens norte-americanos entre 18 e 29 anos disseram informar-se sobre a campanha pela Internet, destacando o papel crescente das chamadas redes sociais. A Internet é um arranjo midiático. Foi e é desenvolvida a partir da reunião de diversos meios e tecnologias. Manuel Castells descreveu a Internet como a "improvável intersecção da big science , da pesquisa militar e da cultura libertária" (CASTELLS, 2003, p. 19). Isso quer dizer que a rede, originada nos interesses militares, foi sendo reconfigurada pelos seus usuários, principalmente pela comunidade acadêmica e pelos hackers , grupos de programadores talentosos altamente influenciados pela contracultura da década de 1960. A rede mundial de computadores

Mesa Cybercultra

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Mesa redonda. Cybercultura. Internet. Academia

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A emergncia da sociedade da informao recolocou o debate sobre o potencial das tecnologias para ampliar o desenvolvimento, reduzir os nveis de pobreza, aumentar a liberdade dos indivduos e aprimorar a democracia. Tecnofbicos, logo, buscaram mostrar o outro lado do processo, argumentando que as redes poderiam isolar as pessoas, esvaziar aes coletivas e radicalizar os grupos polticos. Realistas, buscando aparentar maiores cuidados, retomaram o debate sobre o papel das tecnologias na sociedade, indicando que em si elas so ambguas e incapazes de mudar as mentalidades. Tecnoutpicos viram nos computadores conectados a possibilidade de distribuir o poder da informao entre as pessoas, acreditando que os usos das tecnologias poderiam ampliar a autonomia dos indivduos e das sociedades.

Sem dvida, so cada vez mais relevantes para uma sociedade em rede (CASTELLS, 1998) as investigaes e anlises da poltica na Internet, principalmente agora, quando no h mais dvidas de sua importncia como arranjo miditico fundamental para as disputas pelo poder de Estado. A campanha de Barack Hussein Obama no se tratou de um ponto fora da curva, mas de uma tendncia. Segundo a pesquisa realizada peloPew Research Center for the People & the Presse daPew Internet & American Life Project, em 2008, 42% dos jovens norte-americanos entre 18 e 29 anos disseram informar-se sobre a campanha pela Internet, destacando o papel crescente das chamadas redes sociais.

A Internet um arranjo miditico. Foi e desenvolvida a partir da reunio de diversos meios e tecnologias. Manuel Castells descreveu a Internet como a "improvvel interseco dabig science, da pesquisa militar e da cultura libertria" (CASTELLS, 2003, p. 19). Isso quer dizer que a rede, originada nos interesses militares, foi sendo reconfigurada pelos seus usurios, principalmente pela comunidade acadmica e peloshackers, grupos de programadores talentosos altamente influenciados pela contracultura da dcada de 1960. A rede mundial de computadores no pode ser definida como um produto nem como um conjunto de equipamentos com a evoluo controlada por uma ou algumas empresas. A Internet no tem um centro, uma sede, trata-se de uma rede distribuda, construda colaborativamente por grupos de voluntrios que no decorrer de sua histria foram envolvendo, alm dos acadmicos ehackers, engenheiros e especialistas de vrias empresas, para construrem os elementos fundamentais do funcionamento da rede, a saber, os seus protocolos de comunicao.

Se ler uma forma de incluso desde a Grcia antiga at o incio da era moderna; se entender o audiovisual (os mdia de massa) e saber ler as informaes que nos so despejadas diariamente por centros de informao uma necessidade para se incluir na sociedade industrial; ento, saber lidar com os novos dispositivos e as redes telemticas so hoje condies necessrias e imprescindveis para incluso social na sociedade da informao.Saber ler hoje entender, produzir e distribuir informaes sob os mais diversos formatos (texto, programas, sons, imagens...). As habilidades anteriores se mantm (saber ler, poder criticar os mass media), mas outras aparecem, como novas habilidades para produzir e distribuir contedo em uma sociedade cada vez mais mvel e global. Acho que mais do que dar acesso s tecnologias (uma condio tcnica imprescindvel e bsica para qualquer projeto de incluso digital), o desafio maior da incluso cidad cultura digital fazer com que os indivduos possam produzir contedos prprios e distribu-los livremente, mantendo-se senhor dos seus dados pessoais, garantindo-se a privacidade e o anonimato.

m. Um bom exemplo veio da Espanha. Milhares de jovens, convocados pela internet, dirigiram-se s praas espanholas no dia 15 de maio de 2011. Nenhum partido ou grande instituio os convocou, nenhum grande jornal, muito menos teve apoio do governo ou da igreja. Eles Inclusao digital-polemica.indd 57 02/12/2011 18:31:54s 58 s usavam nas redes sociais as hashtags #spanishrevolution e #DemocraciaRealYa que, entre outras, incomodaram profundamente os segmentos reacionrios de todos os partidos conservadores, incluindo os velhos socialistas do PSOE. A plataforma de reivindicaes, as palavras de ordem, os slogans, eram discutidos nas redes digitais e nas ruasA expanso da Internet reforou as prticas colaborativas, trouxe novas agregaes desterritorializadas de interesses e tornou mais fcil falar que ser ouvido (BENKLER, 2005, p. 215). Com uma arquitetura lgica distribuda sobre uma infraestrutura cada vez mais centralizada e controlada por oligoplios, a rede mundial de computadores permitiu que uma mensagem de um indivduo atingisse milhes de pessoas que com ela passaram a interagir. Este aumento do poder comunicativo dos indivduos acarretou uma grande instabilidade para a imprensa. A deciso sobre o que deveria ser considerado notcia deixou de ser responsabilidade de um nmero diminuto de editores, principalmente com o surgimento das redes de relacionamento on-line.As atividades de criao, produo e distribuio de bens culturais voltados para o mercado de consumo de massas, antes concentradas na indstria cultural, tambm sofreram um grande impacto. As redes digitais permitiram que prticas corriqueiras de compartilhamento, presentes em quase todas as culturas, ganhassem escala transnacional, e, aparentando atingir um grau de intensidade jamais visto,revoluo tecnolgica concentrada nas tecnologias da informao que, segundo ele, remodela a base material da sociedadeAs redes interativas de computadores esto crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicao, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela, afirma Castells (2007: 40)informatizao do cotidiano, termo empregado para conceituar o surgimento do predomnio de prticas culturais mediadas por computadores, e no apenas a disseminao dos equipamentos de informtica (Cazeloto, 2007: 166)

Hay un juego entre diversificacin y concentracin. Las nuevas tecnologas generan una posibilidad de diversidad de conocimiento, de conocer la heterogeneidad del mundo con un horizonte mucho ms amplio que en el pasado, y a la vez esa diversificacin es limitada por la concentracin de las grandes poderes empresariales transnacionales.

Poder:Manuel Castells (2009) sustenta que os meios de comunicao tornaram-se o espao social onde o poder decidido.

Com o advento da comunicao distribuda em redes digitais, mesmo em pases ditatoriais, se conformam espaos de dilogos horizontais entre grupos e indivduos conectados. Independente da comunicao em rede estar sob os olhares dos ditadores e submetida ao rastreamento promovido pelas polcias polticas e antiterror, o bloqueio das articulaes e dos movimentos de opinio muito mais difcil do que em um cenrio pr-internet. Essa afirmao foi confirmada nos protestos iniciados nos pases rabes no final de 2010 e incio de 2011. A denominada Revoluo de Ltus, no Egito, teve seu incio articulado pela rede, culminando com um conjunto de protestos e atos de desobedincia civil. A primeira manifestao convocada pela rede aconteceu em 25 de janeiro de 2011 e desencadeou uma onda de atos pblicos que culminou com a queda do ditador Hosni Mubarak.

Aqui preciso continuar a reflexo em dois sentidos: o da relao do poder comunicacional com a conectividade, de um lado, e do poder comunicacional com o grau de autonomia tecnolgica, de outro. O poder de conectar em rede ou de bloquear e impedir que grupos sociais tenham acesso rede requalifica a ideia de incluso digital, que passa a ganhar uma dimenso principalmente democr- tica. Ao deixar extensas regies sem conexo ou sem assegurar o direito dos segmentos pauperizados ao uso da comunicao em redes digitais, o Estado e seus grupos hegemnicos deixam milhares e at milhes de pessoas sem a possibilidade de obter mais poder a partir do desenvolvimento da capacidade de criar redes, articulaes e interaes com vistas defesa ou ampliao de seus interesses. Para que os movimentos sociais sejam capazes de intervir mais decisivamente no espao de comunicao, precisam aumentar sua capacidade de criar redes, portanto, precisam tambm elevar seu grau de autonomia tecnolgica, de usar, recriar novos usos, recombinar tecnologias e criar solues informacionais para atender suas necessidades. Isso por que h uma grande assimetria na capacidade de usar as redes digitais, entendida aqui como meio e fonte de poder, como base para a articulao das outras redes culturais, sociais e polticas.

A infraestrutura de conectividade pode gerar desigualdades de oportunidade no uso da rede. perceptvel que atualmente no basta conectar os cidados, sendo necessrio conect-los em velocidades compatveis com o desenvolvimento das aplicaes, sistemas e solues na rede. Desconsiderar tal proposio pode gerar polticas de incluso assimtricas, que consolidam o poder na rede e o poder de criar redes daqueles que so mais velozes, que possuem mais capital ou mais poder poltico. Em um certo sentido, essa incluso assimtrica cria cidados conectados de categorias distintas no uso da rede.

O objetivo das grandes operadoras de telecom e da indstria do copyright transformar a internet em uma grande rede de TV a cabo, ou seja, reduzir a sua interatividade, filtrar os fluxos de informao, impedir o compartilhamento livre de arquivos digitais.

O aspecto subjetivo da tecnologia no est no que a informtica faz por ns, mas no que ela faz conosco.Esperamos cada vez mais da tecnologia e menos das pessoas.Celures: trs gratificaes:1) Controlar nossa ateno para o que desejamos.2) A sensao de estarmos sendo ouvidos, que os outros esto, de algum modo, prestando ateno em ns.3) A iluso que nunca estamos sozinhos. No precisamos ficar sozinho com ns mesmos. Uma solido compartilhada. Resolvida pela conexo.