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Mesa Redonda: Sondagens – Método, Procedimentos e Qualidade Patrocínio São Paulo Março/ 2011

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Mesa Redonda: Sondagens – Método, Procedimentos e Qualidade

Patrocínio

São Paulo Março/ 2011

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Apresentação A Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental – ABGE juntamente com a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica – ABMS promoveram no dia 31 de março de 2011 a Mesa Redonda: Sondagens – Método, Procedimentos e Qualidade com o intuito de fomentar a discussão sobre a prática da atividade no Brasil. Desde que a perfuração a seco foi introduzida, em 1939, pelo Eng. Odair Grillo, então chefe da seção de Solos e Fundações do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), os serviços de sondagens foram iniciados no Brasil. Como o caminho até a padronização levou 30 anos, podemos dizer que os procedimentos e métodos praticados já estão bastante consolidados no meio técnico brasileiro. Essa óbvia constatação convoca o meio técnico a uma reflexão: como está a qualidade dos serviços de sondagens praticados no mercado brasileiro? Por estar desenvolvendo atividades em empresa de projetos de barragens, tenho tido contato com um número significativo de empresas de diversas partes do Brasil e pude observar que a qualidade dos serviços executados tem ficado aquém do preconizado por elas, que admitem estar executando seus serviços de acordo com as normas vigentes. No entanto, ao receber o produto final, observa-se que há uma não-conformidade reinante. Podemos tentar entender as razões para explicar o injustificável. De meados da década de 80 até o final da década de 90, houve uma grande queda nos serviços de investigações no Brasil, reflexo, principalmente, da falta de investimentos em infraestrutura. Com isso, houve um grande enxugamento de empresas de projetos e prestadoras de serviços e, consequentemente, uma grande perda de profissionais qualificados, incluindo geólogos, técnicos de geologia e geotecnia, encarregados de sondagens e sondadores. Com a retomada do aquecimento no setor, as empresas estão fazendo o que podem para atender à demanda. Mesmo assim, os investimentos em equipamentos e pessoal qualificado não acompanham o ritmo dos trabalhos imposto pelo mercado. Essa reclamação não é recente. O Eng. Moacyr Menezes, no 3º SEFE (Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia), realizado São Paulo, em 1996, apresentou um trabalho cujo tema aborda o assunto em questão, ou seja, a falta de qualidade nos serviços de sondagens executados no Brasil. Há 14 anos, ele já dizia que: “(...) nos últimos anos, a qualidade dos serviços vinha caindo vertiginosamente (...)”. Como conclusão, apresentou ao meio técnico uma proposição com 29 procedimentos para contratação de sondagens de simples reconhecimento. O que se observa é que a constatação feita por Menezes há mais de uma década ainda persiste. O momento é oportuno para discutirmos o assunto na tentativa de encontrarmos uma solução que garanta que os serviços de sondagens voltem a ter a confiabilidade que necessitamos para desenvolver nossos projetos. Geól. Ivan José Delatim

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Programação 15:30 h Abertura: Fernando Facciolla Kertzman – Presidente ABGE

Marcos Massao Futai – Presidente ABMS - NRSP

16:00 h Palestra: GEOFÍSICA & SONDAGENS. Otávio Coaracy Brasil Gandolfo – Geofísico - IPT

16:30 h Palestra: Perfilagem Ótica. Geól. Carlos Gonçalves - Fundsolo

17:00 Palestra: O Programa de Formação de Sondadores do MEC e seu Impacto na Qualidade dos Trabalhos Wilson Conciani – Pro Reitor de Pesquisa e Inovação IFB

17:30 h Palestra: A Qualidade dos Serviços de Sondagens Executadas no Brasil – Ivan José Delatim – Geólogo - Intertechne Consultores SA.

18:00 h Intervenções de convidados especiais e pré-inscritos do plenário. 18:30 h Encerramento 19:00 h Confraternização

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GEOFÍSICA & SONDAGENS Geofísico Otávio Coaracy Brasil Gandolfo - IPT

[email protected]

A geofísica geralmente precede uma campanha de sondagens. Embora esta

seja uma seqüência esperada nas etapas de investigação em uma obra, isto nem sempre ocorre.

A geofísica, atuando preliminarmente em um projeto de engenharia, tem o papel de orientar a locação e auxiliar o planejamento das sondagens que serão realizadas na área a ser investigada. De posse das informações de sondagens realizadas posteriormente, pode haver uma re-interpretação dos dados, ou mesmo um ajuste em função dos dados diretos até então inexistentes.

Pode acontecer das sondagens serem efetuadas simultaneamente aos levantamentos geofísicos. Neste caso, as informações advindas destas, serão muito úteis para a interpretação dos dados e no refinamento do modelo geofísico final.

Pode também ocorrer uma ampla campanha de sondagem sem previsão alguma de se utilizar a geofísica no estudo da área. Neste caso, quando a geofísica é solicitada, geralmente é para elucidação de algum tipo de problema, em local de alguma complexidade geológica ou com o aparecimento de algum imprevisto.

Independentemente do caso, é altamente recomendada a utilização integrada das informações de sondagens mecânicas com os resultados de um levantamento geofísico. Primeiro, porque a informação da sondagem, embora precisa e direta, é pontual. Por outro lado, apesar da geofísica fornecer uma informação com menor precisão (por ser um método indireto), será capaz de investigar um maior volume do maciço e em seu estado natural (o que é muito importante quando se deseja a obtenção de parâmetros deste) ou ainda auxiliará na identificação de possíveis zonas de anomalia não detectadas pelas sondagens.

Portanto, geofísica e sondagens devem sempre se complementar (KEAREY et al., 2009). A Figura 1 mostra uma belíssima seção de radar (GPR) da literatura, ilustrando o perfeito casamento de um bom dado geofísico com as informações advindas de furos de sondagens.

Figura 1 - Integração de um excelente dado geofísico (GPR) com as informações de duas sondagens (DAVIS & ANNAN, 1989).

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Os métodos geofísicos comumente empregados na engenharia e na

geotecnia, são os métodos sísmicos, elétricos e, eventualmente, o GPR. São estes os métodos que geralmente fornecem os melhores resultados e que podem ser diretamente correlacionados com as informações advindas das sondagens mecânicas e informações diretas (percussão, rotativa, trado, poços e trincheiras).

Dentre os métodos sísmicos, a sísmica de refração é a mais utilizada nos projetos de engenharia e geotecnia. A sísmica de reflexão rasa, embora ainda não tenha uma larga utilização, vem gradativamente consolidando-se ano após ano.

Um método relativamente novo e ainda pouco empregado em nosso país é o MASW (Multi Channel Analysis of Surface Waves) que, como o próprio nome já diz, emprega eventos sísmicos conhecidos como “ondas superficiais” e não as “ondas de corpo” utilizadas na refração e reflexão - onda P (compressional) e onda S (cisalhante). O MASW é uma evolução do método SASW (Spectral Analysis of Surface Waves). Por meio da análise das ondas superficiais e de refinadas técnicas de processamento dos dados, são obtidas informações da variação da velocidade da onda cisalhante (VS) com a profundidade. A utilização de VS na engenharia civil é uma prática que vem crescendo, apesar de algumas dificuldades operacionais relacionadas à geração e identificação das ondas cisalhantes.

O ensaio crosshole permite a determinação tanto de VP (velocidade da onda

compressional) como de VS no maciço compreendido entre dois ou três furos, devidamente preparados para o ensaio e relativamente próximos entre si. É, portanto, um ensaio localizado, geralmente efetuado em áreas onde serão implantadas estruturas vibratórias, quando há a necessidade de conhecimento (para fins de projeto) dos parâmetros elásticos dinâmicos do maciço sobre o qual a estrutura estará assentada (por exemplo, em projetos de fundação de aerogeradores usados para geração energia elétrica a partir de energia eólica).

Alguns ensaios sísmicos podem ser realizados quando disponíveis apenas um furo de sondagem, como por exemplo, o downhole e o uphole (CORDEIRO et al. 1984). Estas técnicas são teoricamente mais precisas para determinação em profundidade de espessuras e velocidades de propagação das ondas P e S (DOURADO, 1984).

A eletrorresistividade, particularmente a técnica do caminhamento elétrico,

tem grande aplicação na engenharia, sendo comumente empregada em conjunto com o método sísmico. O método responde a um parâmetro geofísico (resistividade elétrica ou seu inverso, a condutividade elétrica) que possui uma ótima correlação com a com a presença ou não de água no maciço terroso/rochoso. Atualmente, técnicas mais modernas de processamento dos dados possibilitam a obtenção de modelos que podem ser mais bem correlacionados com a geologia do local investigado.

O GPR encontra aplicações restritas em engenharia geotécnica devido ao seu

baixo poder de alcance em profundidade. Os solos geralmente apresentam valores de resistividade não muito elevados o que atenua fortemente as ondas de radar, dificultando a sua penetração em profundidade.

A utilização de mais de um método geofísico na investigação é altamente

recomendada. Em geral, a utilização conjunta dos métodos sísmicos com a eletrorresistividade fornece resultados satisfatórios na maioria das situações, podendo ser complementada por um terceiro método geofísico (potencial espontâneo, GPR, magnetometria), dependendo do tipo de problema a ser

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solucionado. Uma série de bons textos didáticos pode ser obtida no site do Instituto de

Geociências e Ciências Exatas da UNESP - Departamento de Geologia Aplicada (http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/), descrevendo os diversos métodos geofísicos de forma bastante didática (figuras animadas, exemplos, etc) e em diversas bibliografias da área de geofísica (GRIFFITHS & KING, 1983; PARASNIS, 1997; KEAREY et al., 2009).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KEAREY, P., BROOKS, M., HILLl, I. 2009. Geofísica de exploração. Oficina de Textos, 438p. CORDEIRO et al. 1984. A técnica de “up-hole” como auxílio na definição de estratos geotécnicos. Anais do 4º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia. V.3 DAVIS, J. L., ANNAN, A. P. 1989. Ground-penetrating radar for high-resolution mapping of soil and rock stratigraphy. Geophysical Prospecting, v.37, n.5, p.531-551. DOURADO, J. C. 1984. A utilização da sísmica na determinação de parâmetros elásticos de maciços rochosos e terrosos “in situ”. Publicações de artigos técnicos da ABGE, n.8. São Paulo, 12p. GRIFFITHS, D. H. & KING, R. F. Applied geophysics for geologists & engineers. The elements of geophysical prospecting. 3ed. Pergamon Press, 1983. 230p. IGCE-UNESP-- Departamento de Geologia Aplicada http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ PARASNIS, D. S. Principles of applied geophysics. 5ed. London: Chapman and Hall, 1997. 429p.

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Perfilagem Ótica Fundsolo

Introdução Os diversos métodos de perfilagem como: resistividade elétrica, raios gama, métodos sísmicos (cross hole, down hole, up hole), etc. são utilizados á muito tempo em investigações de poços, principalmente em setores de petróleo, hidrogeologia, mineração e geotecnia. O método de perfilagem ótica surge como uma das mais novas ferramentas neste seguimento, com uma grande gama de aplicações. Definição A perfilagem ótica ou televisamento de furos consiste em um método de investigação, em que se obtém imagem contínua, colorida em 360° de paredes de furos de sondagem convencional ou perfurações com métodos destrutivos (sem recuperação de amostras). Equipamento O equipamento utilizado trata-se de uma ferramenta, constituída principalmente por uma câmera com um espelho convexo, ligada à um cabo de aço especial que envia informações à uma central acoplada ao computador. Este sistema fornece imagens de “fatias” em 360°, que são “empilhadas” formando a imagem completa da parede do furo. O aparelho é equipado por um sistema de três magnetômetros e três gravímetros, além de um contador de profundidades. Com isso a ferramenta fornece dados complementares de direção e inclinação dos furos. Guincho com cabo de aço para dados Câmera utilizada na Perfilagem

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Aplicações Este método tem diversas aplicações, como: -Investigações geológico-geotécnicas em furos de sondagem; -Verificação de integridade de colunas; -Verificação de vazamentos ou danos em revestimentos de poços; -Análises estruturais para geotecnia e mineração; -Observação de vazios em estruturas geológicas; -Entre outras. Estrutura geológica na aquisição de dados Perfuração A perfuração dos furos para execução da perfilagem ótica poderá ser realizada através de sondagens convencionais, com recuperação de amostras, ou por métodos destrutivos, contanto que se garanta a integridade das paredes, para que não haja qualquer tipo de obstrução para a ferramenta.

Perfuração roto-percussiva para Perfilagem

Interpretação dos Dados A interpretação dos dados é realizada por softwares de última geração. Estes softwares permitem a obtenção de dados estruturais como, por exemplo, de direção e mergulho, a partir de indicações de fraturas, acamamentos, descontinuidades, intrusões, etc. Podemos ainda obter dimensões de camadas, preenchimento e abertura de

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fraturas ou vazios. Interpretação estrutural Resultados Obtidos A partir da aplicação deste método juntamente com a interpretação dos dados podemos obter os seguintes produtos: -Imagem em 2D das paredes dos furos; -Imagem em 3D das paredes dos furos (testemunho virtual); -Indicação das fraturas com suas atitudes; -Descrição visual das paredes, podendo ser indicadas mudanças litológicas; -Inclinação e direção do furo perfilado; -Desvio do furo; -Etc.

Imagem obtida com Perfilagem Testemunho convencional

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Vantagens e Limitações Este método traz a grande vantagem do tempo de execução, em relação com as sondagens convencionais. Outro grande ganho com esse equipamento é a precisão dos dados estruturais, como direção e mergulho, além da direção, inclinação e desvio dos furos. Como a perfilagem tem como objeto de trabalho a imagem, pode ser limitante para a utilização deste método, furos que estão abaixo do N.A., com água turva ou lama e não houver a possibilidade de limpeza, com a “lavagem” do furo ou a utilização de floculantes. Para estes casos a FUNDSOLO, está em processo de importação de uma nova ferramenta, que se utiliza das propriedades acústicas, para a perfilagem em águas turvas ou lama. Conclusões Este método não veio para substituir totalmente as sondagens convencionais e sim para complementá-la e acelerar grandes investigações, ou seja, em áreas em que se possui o conhecimento dos aspectos geológico-geotécnicos locais, podemos aplicá-lo para diminuir o tempo de gastos com investigações. O importante é sempre trabalhar com critérios técnicos, para que a informação obtida seja a mais confiável possível, já que se trata de um método que envolve grande tecnologia e necessita de treinamentos especiais para aquisição e principalmente interpretação dos dados.

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A formação de sondadores - experiência do IFB

Wilson Conciani, Professor, Eng. Civil, Dr. em Geotecnia, Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília - IFB. [email protected]

Carlos Medeiros, Eng. Civil, Doutorando da UNB, Diretor Técnico da EMBRE. Secretário Geral da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica - ABMS. [email protected]

Sônia Costa, Professora, Design Industrial, Dra. em Educação, Coordenadora do Programa CERTIFIC da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC. [email protected]

Patrícia Rodrigues Amorim, Técnica em Assuntos Educacionais, Especialista, Coordenadora Pedagógica, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília - IFB, campus Samambaia. [email protected].

RESUMO

Este artigo tem o propósito de relatar a experiência de formação profissional inicial de sondadores de solos, desenvolvida no Instituto Federal de Brasília - IFB, Campus Samambaia. O trabalho se deu de modo a atender a demanda da sociedade por qualificação profissional para a área de construção civil. Para tanto, o IFB reuniu-se com a Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica e definiu um perfil profissional. A partir deste perfil foi montado um curso com duração de 210 h. O curso reuniu um público heterogêneo, constituído de trabalhadores experientes atuando como sondadores, ajudantes, pessoas que nunca souberam desta profissão, dentre outras. Deste esforço, obtiveram-se dois resultados: a capacitação técnica de um grupo de trabalhadores e a sua ascensão enquanto pessoas. Atualmente o piloto de formação de sondadores encontra-se na fase de expansão para todo o país, através da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Palavras chave: Sondagens; Educação Profissional; Formação Inicial e Continuada; Qualificação Profissional; Estratégias de Formação Profissional; Educação de Jovens e Adultos.

INTRODUÇÃO

O mundo do trabalho demanda por profissionais qualificados tecnicamente para a execução das mais diversas atividades possíveis. Na área geotécnica este desafio é particularmente maior, haja vista a falta de escolas de formação de profissionais do nível operacional. O Catálogo Brasileiro de Ocupações (CBO) define o sondador como um profissional que desempenha tarefas de prospecção de solos, rochas e cuja formação se dá em serviço. Para o Ministério do Trabalho este profissional não carece de formação técnica ou de qualificação profissional.

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Uma parte importante desta demanda aparece nos pedidos de associações de trabalhadores e patronais feitas diretamente ao Ministério da Educação (MEC) ou ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para atender estas demandas o governo federal, através do MTE, criou um programa de qualificação financiado pelo Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT). Este programa exige que as qualificações sejam feitas segundo competências básicas e específicas. Estes cursos com duração mínima de 40 a 80 h não supriram toda a demanda do mundo do trabalho e desarticulado, na sua execução, dos setores produtivos.

Entretanto, a observação cotidiana mostra que as práticas de sondagem variam muito em função do ramo da atividade final (construção civil, mineração, meio ambiente, ...) para qual o serviço é realizado e da região onde o profissional ou empresa atua e atende firmas onde ele trabalha. Isto é, cada um faz como acha que deve ser. Por conta dessa diversidade de práticas, há um frequente desencontro na apreciação e interpretação dos resultados. Mesmo atividades simples como a identificação dos solos sofrem muitas influências regionais e pessoais. O uso da antiga NBR 7250 (ABNT, 1984) , hoje incorporada pela NBR 6184 (ABNT, 1996) é quase que desconhecido no meio destes profissionais. Alguns profissionais classificados e contratados nas firmas como sondadores são, de fato, encarregados de sondagens tipo SPT. Muitos destes sondadores se quer sabem de outra técnica de sondagem a não ser o SPT ou o trado. O boletim de campo entregue ao pessoal de escritório para compilação dos dados e formalização do relatório, com frequência apresenta descrições díspares e incongruentes. Em muitos casos a leitura destes boletins de campo é um exercício de adivinhação.

Por tudo isto é, comum ao profissional geotécnico, engenheiro ou geólogo, enfrentar problemas na interpretação dos resultados de sondagem. Em alguns casos a experiência pregressa diz a descrição dos solos pouco aderente à formação em análise. Em outros casos o uso das informações contidas no relatório de sondagens leva a erros crassos de interpretação. Por outro lado, o não uso de padrões nacionais unificados leva dificuldades concretas de confiabilidade. Em que pese a declaração de adoção das normas técnicas explicitas nos relatórios Belincanta (1998) e Cavalcante (2003) já apontavam para as principais falhas operacionais que ocorrem nas sondagens brasileiras do tipo SPT.

Claro está que a atividade de sondagem é penosa e portanto aceita ou procurada principalmente pelas pessoas de baixa escolaridade. Estas pessoas que abandonaram a escola ou concluíram seus estudos básicos em condições precárias não conseguem, de fato, interpretar o que leem ou escrever o que pensam ou veem.

O objetivo deste trabalho é, relatar uma experiência de qualificação profissional e obter contribuições para a sua adequação e expansão.

CERTFIC

Uma das demandas mais frequentes do mundo do trabalho é a certificação de profissionais. Esta certificação visa mostrar que o trabalhador tem um conjunto de conhecimento técnicos e atitudes profissionais que asseguram a qualidade dos serviços, a redução de acidentes e doenças ocupacionais e a maior produtividade. Estas certificações são caras e exigem longas preparações. Em geral são inacessíveis aos trabalhadores e restritivas as empresas.

Com o intuito de superar estas limitações de acesso e certificar um grande número de profissionais, a lei 11.892 de 2008, deu aos Institutos Federais de

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Educação, Ciência e Tecnologia (IF) a atribuição de certificar os profissionais. Para dar curso a esta lei, os Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego criaram o programa CERTIFIC (BRASIL, 2009).

O objetivo do programa CERTIFIC é reconhecer saberes adquiridos pelo trabalhador no mundo do trabalho ou em cursos livres. Estes saberes são reconhecidos em um conjunto de avaliações que vai desde uma entrevista para avaliar a experiência profissional até as provas teórico-práticas em cada ocupação. Mais que reconhecer saberes, o programa indica as necessidades de formação do trabalhador de forma a complementar a sua experiência. Este complemento pode ser de escolarização, de procedimentos técnicos, de saúde e segurança ocupacionais e até de qualidade ambiental.

Para por este programa de certificação em andamento foram realizados diversos pilotos espalhados pelo Brasil. As áreas iniciais foram pesca, construção civil, indústria eletromecânica e turismo e hospitalidade. Na área de construção civil, por acordo e solicitação da ABMS foram preparados perfis de sondadores e laboratorista de solos para um piloto de certificação. A necessidade do piloto seria de verificar a aderência do perfil, as estratégias de avaliação e de formação. No caso do piloto de sondadores foi desenvolvido em Brasília, pelo IFB com base em um curso ministrado em Cuiabá pelo IFMT, no ano de 2003.

FORMAÇÃO DE SONDADORES

Para o piloto foram divulgadas as iniciativa através do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal- SINDUSCON-DF, da ABMS-NRCO; do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário de Brasília, dos postos do Sistema Nacional de Emprego (SINE) no Distrito Federal e de rádios comunitárias. Cerca de 70 pessoas se inscreveram. Estas pessoas ouviram uma palestra explicitando o perfil do trabalhador, a forma de certificação e a formação necessária. Após este momento as pessoas que se inscreveram sem a devida compreensão do trabalho abandonaram suas inscrições e procedeu-se um sorteio para formar a fila de atendimento. Foram atendidas 40 pessoas neste primeiro grupo. Nenhum dos profissionais experimentados quis se submeter a certificação por entenderem que o curso os levaria a uma melhor formação. Isto é, todos os sorteados frequentaram o curso de forma que não houve necessidade de um programa complementar individualizado.

Cerca de metade dos alunos que frequentaram o curso já atuavam na área de sondagem mas a chance de conseguir um certificado que comprovasse essa função os estimulou a voltar para sala de aula. No início do curso foi realizado um diagnóstico com os alunos a fim de verificar o nível de conhecimento que possuem. Nesse diagnóstico verificou-se que a turma, em nível de conhecimento e também de idade, era muito heterogênea, sendo que existiam alunos semialfabetizados, alunos com ensino médio concluso, outros que tinham nível superior completo e a alunos cursando o mestrado.

O perfil de competências1 do sondador foi assim descrito: obter as dimensões e arranjos da obra no projeto; planejar a execução dos serviços; calcular a quantidade de materiais necessários para a execução dos serviços; manter o local de trabalho limpo e organizado; adotar postura preventiva em relação à questões de 1 A legislação educacional brasileira define competência como a reunião de saber e fazer com a atitude

correta. (BRASIL, 1999). Este conceito foi usado na legislação como forma de descrever as diversas atividades

que constituem a essência de uma profissão. O conjunto de competências definido como o perfil do trabalhador.

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saúde e prevenção de acidentes; coletar amostras amolgadas para identificação do solo; identificar as amostras de solo; executar sondagens a trado; executar sondagens trado; executar sondagens tipo SPT; executar sondagens rotativas; executar ensaios de infiltração; coletar amostras indeformadas (BRASIL, 2009).

Para cada uma destas competências ou atividades profissionais foram desenvolvidos conjuntos de contextos e saberes, partindo da prática profissional. Os critérios de avaliação para cada atividade foram estabelecidos previamente de modo a deixar claro para todos - estudantes e professores - o que seria necessário para receber o certificado. Para estas aulas e avaliações foram usados conjuntos de sondagens de várias empresas do Distrito Federal.

O curso reuniu aulas de levantamento topográfico expedito, operações matemáticas básicas, cálculo de áreas e volumes, escalas, interpretação de projetos de obras e cartas topográficas, leitura e interpretação de textos, segurança e higiene do trabalho, ginástica laboral, artes, sistema internacional de unidades, legislação trabalhista e ambiental, preparação de propostas de trabalho, planejamento das operações de campo, manutenção de equipamentos de sondagem e técnicas de sondagem. Este último item incluiu o conceito de solos e rochas, técnicas de identificação de solos, técnicas de amostragem, distribuição dos furos e sondagem, eficácia e energia de ensaios dinâmicos e fatores que interferem nos resultados. As normas técnicas da ABNT sempre foram empregadas como forma de preparação de roteiros de trabalho no campo e aferido de equipamentos.

DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO

O curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) de sondador de solos não foi baseado em um ensino tradicional, onde há apenas transmissão de informações para que o aluno memorize, desvalorizando a compreensão e o raciocínio que este possui. O ato de ensinar está ligado ao ato de aprender, o professor nunca sabe de tudo e em se tratando de qualificação profissional, o professor tem muito mais a aprender do que a ensinar. Freire (1981) dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. "Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", escreveu. Isso implica um princípio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprendem juntos, um com o outro.

Um grande desafio foi o de nivelar a turma, pois o resultado do levantamento de uma avaliação diagnóstica realizada no inicio das aulas demonstrou que cerca de 28% da turma era semialfabetizada. Algumas atividades se fizeram necessárias, então aumentou-se o número de aulas de leitura e interpretação de texto, com isso houve um contato maior da professora, que ministrou as aulas, com os alunos. Isso fez com que detectasse que oito desses semialfabetizados, identificados no levantamento inicial, tinham muita dificuldade de leitura. Desses oito estudantes dois realmente eram analfabetos.

A descoberta destas dificuldades deu-se quando os professores apresentaram textos técnicos simples aos estudantes de modo que eles fizessem uma leitura e interpretação no grupo. Ao observar que somente alguns estudantes faziam a leitura, em voz alta para os demais, os docentes passaram a pedir que outros lessem. Neste ato, colegas de grupo procuravam acobertar a dificuldade do companheiro lendo em voz baixa para que ele repetisse.

Para resolver essas dificuldades foram ministradas aulas de alfabetização de adultos, partindo sempre do contexto no qual estavam inseridos. Foram também

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realizadas ações de elevação da autoestima com toda a turma para que se descobrissem agentes da sociedade, mais que meros expectadores sujeitos das vontades de outrem.

Outra alteração de forma realizada foi na questão da saúde do trabalhador. Nesta componente curricular estavam previstas aulas de ginástica laboral para auxiliar no processo de uso do corpo para produção do trabalho sem danificá-lo. Em lugar disto, foram desenvolvidas aulas de dança. Estas aulas desenvolveram atividades de consciência e domínio corporal. Contudo, a ideia de dançar somente entre homens fez com que eles tivessem que superar suas próprias histórias enquanto seres do gênero masculino. Mas ainda fez com que tivessem que interagir mais. Esta interação se deu hora pela via jocosa, ora pela via do apoio.

No decorrer dessas aulas foi possível observar uma boa interação entre os alunos, de modo a se tratarem com educação e respeito. Foi trabalhada também a postura correta de cada um como, por exemplo, o modo correto de se abaixar, de pegar um peso, desenvolvendo assim atitudes capazes de evitar doenças relacionadas ao trabalho de cada um. Um outro aspecto importante decorrente destas aulas foi a união do grupo, pois a turma estava subdividida e com muita competitividade entre estudantes vinculados a empresas diferentes. Ministrou-se também aulas de empreendedorismo a fim de se desenvolver a iniciativa, persistência, comprometimento, planejamento e autoconfiança.

Mas a prática pedagógica não se restringiu apenas a sala de aula, pois os alunos precisavam se sentir realmente inseridos dentro da sociedade e para isso foram realizados passeios, visitas técnicas, confraternizações, além de aulas práticas. Era possível perceber a participação e o entusiasmo de todos, um momento fora de sala, em locais onde muitos deles nunca haviam entrado, talvez por falta de tempo ou por sentirem fora daquela realidade.

No decorrer do curso, mesmo havendo aulas de segunda à sábado, observou-se a assiduidade de mais de 85% do número de alunos, o que demonstra que o ensino ocorria de forma significativa e tinha muito a contribuir para prática de cada um.

RESULTADOS

Ao final deste curso os docentes confirmaram que a estratégia de buscar uma linguagem que se adapte ao saber do estudante, reconhecer os saberes que eles trazem, e avaliar os estudantes com o intuito de conhecer a sua evolução dos estudantes em relação ao perfil profissional melhoram muito a qualidade do trabalho educacional. Os docentes observaram que a flexibilização dos conteúdos e seu sequenciamento traz grandes benefícios ao processo ensino-aprendizagem.

De outro lado, os estudantes mantem-se motivados para o estudo e estão sempre prontos a buscar mais conhecimento. A sua inserção na sociedade mudou de ator desconhecido para agente ativo no processo. Do ponto de vista trabalhista, os que estavam desempregados obtiveram contratos e os que já estavam empregados foram promovidos ou tiveram melhorias salariais. Isto vale inclusive para os graduados.

Um dado importante sobre este curso é o da eficiência em colocação. Todos os estudantes que entraram no curso sem conhecimento ou experiências anteriores saíram do curso empregados. Os ajudantes foram promovidos a sondadores. Esta evolução no aspecto empregabilidade gera a motivação para que o curso continue.

Contudo, o fator mais importante na avaliação desta iniciativa foi a mudança

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de comportamento humano. Os estudantes se tornaram mais participativos no trabalho e nas questões sociais, mostraram mudança real de comportamento humano com atitudes simples para os profissionais graduados que são raríssimos nas classes de menor renda. Dentre estes comportamentos pode-se citar: levar a família ao museu de artes, enviar flores para esposa no aniversário de casamento e apresentar-se publicamente em um espetáculo de dança. Estas alterações na trajetória de comportamento social dos trabalhadores são apenas evidências de sua melhoria na qualidade de vida.

NOTAS FINAIS

Como seria de se esperar a melhoria de qualidade dos serviços implica em aumento de salários. Também observou-se uma mobilidade de profissionais entre as empresas do Distrito Federal. A qualificação do trabalhador resultou em melhoria de qualidade dos serviços e em aumento de custos. A ABMS estuda a certificação de empresas de sondagem o que distinguirás empresas que investem em qualidade das demais, permitindo uma recuperação do investimento e a melhoria de qualidade dos serviços.

Uma vez avaliado este piloto foram promovidas as adequações necessárias e o programa nacional de certificação foi lançado oficialmente em setembro de 2010. O desafio para este momento está na expansão deste trabalho para todo o Brasil. Para tanto, o MEC prepara a formação de professores em massa e busca parceiros entre entidades profissionais para aconselhar, orientar, compor material didático, ceder equipamentos para aulas práticas. A participação do setor produtivo considerada fundamental neste processo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Programa CERTIFIC. Brasília: Ministério da Educação. Www.mec.gov.br/educacaoprofissional/certific. 2009. acessado em 18 de março de 2011.

Belincanta, A . Tese de doutorado apresentada a Escola de Engenharia de São Carlos - USP em 1998.

Cavalcante, E. H. Tese de doutorado apresentada ao Departamento de geotecnia da COPPE-RJ. 2003.

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A Qualidade dos Serviços de Sondagens Executados no Brasil Geól Ivan José Delatim

1. Introdução Desde quando foi introduzida a perfuração à seco pelo Eng. Odair Grillo, em 1939, então chefe da seção de Solos e Fundações do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, deu-se início aos serviços de sondagens no Brasil. O caminho até a padronização levou 30 anos, portanto, podemos dizer que os procedimentos e métodos praticados a pelo menos 40 anos estão bastante consolidados no meio técnico brasileiro. Esta óbvia constatação convoca o meio técnico a uma reflexão: Como está a qualidade dos serviços de sondagens praticados no mercado brasileiro? O presente trabalho tem como objetivo principal fazer uma reflexão quanto a qualidade dos serviços de investigações executados no mercado brasileiro, mais especificamente as sondagens a percussão, rotativa e mista. 2. Avaliação dos Serviços de Sondagens - Processos O fato de estar desenvolvendo atividades em empresa de projetos de barragens me permite o contato com um número significativo de empresas de sondagem de diversas partes do Brasil e, dessa forma, tenho observado que a qualidade dos serviços executados tem ficado aquém do preconizado por elas, que admitem estar executando seus serviços de acordo com as normas vigentes, mas ao receber o produto final observa-se que há uma não-conformidade reinante. Podemos tentar entender as razões para justificar o injustificável. De meados da década de 80 até o final da década de 90 houve uma grande queda nos serviços de investigações no Brasil, reflexo, principalmente, da falta de investimentos em infra-estrutura. Também ocorreu um grande enxugamento de empresas de projetos e prestadora de serviços e consequentemente perda de profissionais qualificados, incluindo aqui, geólogos, técnicos de geologia e geotecnia, encarregados de sondagens e sondadores. Com a retomada do aquecimento no setor, na última década, as empresas de sondagem dizem estar fazendo o que podem para atender a demanda. Mesmo assim os investimentos em equipamentos e pessoal qualificado não acompanham o ritmo de trabalho imposto pelo marcado, seja pela própria escassez de equipamentos disponíveis para aquisição ou pela inexperiência das novas empresas que surgiram na empolgação do aquecimento do mercado. No entanto, essa reclamação não é recente. O Eng. Moacyr Menezes no 3º SEFE (Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia), realizado em São Paulo, em 1996, apresentou um trabalho o qual aborda o assunto em questão, ou seja, a falta de qualidade nos serviços de sondagens executados no Brasil, e já dizia há quinze anos que: “... nos últimos anos a qualidade dos serviços vinha caindo vertiginosamente...”. Como conclusão apresentou ao meio técnico uma proposição com vinte e nove procedimentos para contratação de sondagens de simples

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reconhecimento. O que se observa é que a constatação feita por Meneses há mais de uma década ainda persiste. De maneira geral, pode-se dizer que o bom desempenho de uma campanha de campo deve passar por um processo que englobam: equipamento adequado + pessoal treinado e qualificado + fiscalização. Então o questionamento que fazemos é: O que fazer para reverter este processo e garantir excelência na qualidade dos serviços executados? Alguns fatores podem ser apontados como responsáveis pela queda na qualidade dos serviços executados e conseqüentemente dos resultados apresentados:

- Falta de equipamento adequado. - Falta de pessoal qualificado, - Falta de treinamento da equipe de campo, - Falta de Fiscalização

Sabemos que os serviços de sondagens, são executados por pessoal com baixo nível de escolaridade e sem treinamento adequado. A técnica de execução é repassada pelos próprios sondadores, normalmente para aquele ajudante que se mostra mais interessado e, como não há uma interface norma-prática, os procedimentos executivos vão sendo abreviados. A qualificação do pessoal deve ser considerada prioridade e deve passar por um treinamento que compreende:

• Conhecimento das Normas e seus procedimentos; relação de equipamentos utilizados no processo executivo, incluindo seus nomes mais populares;

• Conhecimento dos Boletins de campo utilizados pela empresa, onde deverão ser anotados todos os dados de campo obtidos durante a execução da sondagem;

• Valorização do trabalho do profissional. Mostrar à equipe a importância do trabalho que estão executando, definindo o papel de cada profissional no processo.

As sondagens como são executadas, seguem procedimentos que estão na prática há pelo menos 50 anos. Se tomarmos como exemplo a sondagem à percussão, pela forma como é executada, podemos dizer que se trata de um processo artesanal. Sua versão mais moderna está no equipamento sobre um chassi de caminhão, cujo amostrador é cravado por um martelo mecânico acionado automaticamente, cujo uso é limitado pelas condições de acesso do local. Os equipamentos utilizados nas sondagens rotativas também sofreram modestas modificações, mas o que mais se observa nas empresas são equipamentos antigos sendo utilizados a mais de 30 anos. O trabalho da fiscalização tem por objetivo e responsabilidade garantir que os processos e procedimentos determinados pelas normas estão sendo obedecidos, entretanto, uma função atualmente inexistente. É de responsabilidade de quem contrata fiscalizar. ou seja, o cliente, que na impossibilidade técnica de faze-lo deve providenciar alguém ou empresas especializadas para faze-la. Só para exemplificar, o que pensar sobre a seguinte situação? Dois ajudantes puxam por uma corda um peso de 65Kg, segura à uma altura de 75cm e soltam (em queda livre). Repetem isso sucessivas vezes até que o

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amostrador penetre os 45cm no solo. O operador (sondador) ou mesmo um outro ajudante, anota o número de golpes necessários para cravar o amostrador em cada estágio de 15 cm. Pergunto:

• É possível confiar nesse levantamento de peso na altura correta por sucessivas vezes?

• Alguém que já assistiu a essa operação, já vira alguém da equipe anotando os golpes á medida em que vão sendo aplicados?

• Alguém de vocês já anotou esses golpes e depois foi conferir com o valor anotado no boletim de sondagem?

Outros fatores podem ser questionados quanto à execução das sondagens:

• A sondagem foi executada a seco até atingir o N.A.?

• Ao atingir o N.A. foi observada a sua estabilização (30 minutos, no mínimo, de acordo com a Norma)?

• Ao entrar com a lavagem é feito a circulação de água para eliminação do material solto durante o processo de alargamento do furo, até a próxima cota de ensaio?

• Ao descer o amostrador para o próximo ensaio, a composição desce livremente? Ou houve algum obstáculo que tenha dificultado a descida? (já presenciei sondador “ajudar” o amostrador atingir a cota de ensaio com a ajuda de um grifo)

• Após o ensaio do SPT, a amostra coletada foi devidamente identificada e acondicionada em lugar seguro?

• O sondador anota de forma legível e com precisão, todos os dados no boletim de campo? O sondador tem conhecimento de todas as informações contidas no boletim?

• Ao final da jornada de trabalho, é feito o esgotamento do furo com “baldinho”?

• Ao iniciar o dia de trabalho, foi anotado o NA, antes de qualquer procedimento de avanço da sondagem?

Em sondagens rotativas:

• O equipamento de perfuração e coleta de testemunho (barrilete) é adequado ao tipo de rocha que está sendo amostrada?

• Como é feito o controle da profundidade do furo?

• Como é feito o acondicionamento dos testemunhos nas caixas, estão identificadas? (O sondador ao retirar o testemunho do barrilete coloca-o em uma calha ou diretamente nas caixas?)

• A equipe sabe “ler” as vazões dos hidrômetros utilizados nos EPA? Os hidrômetros são aferidos antes do início de cada ensaio? E nos ensaios de infiltração, escrevem com clareza se a vazão é em cm, ml ou litro?

• O sondador sabe calcular a pressão máxima do EPA? Qual critério é passado para ele?

Uma vez concluída a sondagem:

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• Quem executa a identificação das amostras? Geólogo, técnico de geologia, engenheiro ou estagiário?

• Qual o procedimento que a empresa adota para montagem dos perfis individuais (ou Logs)?

• Após a elaboração dos perfis individuais (ou Logs), os dados apresentados são conferidos com os resultados apresentados nos boletins de campo e com a planilha de classificação, antes de ser encaminhados para o cliente?

• O Relatório final, composto de texto e perfis, apresenta todos os dados preconizados nas Normas Brasileiras ou recomendada pela ABGE, em seu boletim Nº 3?

Esses questionamentos são fundamentais para que possamos garantir uma boa qualidade nos serviços de sondagens. O resultado final de uma campanha de investigação é apresentado na forma de um relatório, composto de texto explicativo com os processos utilizados e pelos perfis individuais, ou Logs como também são conhecidos. Atualmente, para a apresentação dos perfis individuais, há uma variedade de programas desenvolvidos somente para este fim. Além desses programas específicos, os Logs podem também serem gerados em outros aplicativos como o Autocad, Corel Draw, Excel e Word. 3. Avaliação de qualidade dos resultados apresentados por empresas de sondagem: A avaliação da qualidade dos produtos apresentados pelas empresas de sondagem foi realizada com base na análise de 20 perfis individuais de sondagens, extraídos dos relatórios emitidos por 16 empresas de nove estados brasileiros, das regiões sul, sudeste, centro oeste e nordeste. Nestes 20 exemplos foram identificados pelo menos 10 formatações diferentes para a apresentação dos perfis individuais no tamanho A3 e 6 no tamanho A4. A figura 1. apresenta uma planilha elaborada a partir dos dados que devem estar presente nos perfis individuais de sondagem e que constam na norma NBR 6484/2001 e o Boletim Nº 3 da ABGE. Ao todo são 34 itens, cuja responsabilidade dos resultados está dividida entre a equipe de campo e o corpo técnico especializado da empresa:

- 44% dos dados apresentados são extraídos dos boletins de campo – de responsabilidade da equipe de campo (sondador e ajudantes). - 41% dos dados são de responsabilidade do profissional qualificado para o serviço, que analisa as amostras e ensaios (geólogo ou técnico de geologia). - 15% são de responsabilidade do gestor do contrato.

Dos 20 perfis de sondagem avaliados para este trabalho, constatou-se que: - Em todos os perfis avaliados foi constatado não conformidade com as normas vigentes. - Em média as empresas deixam de informar ao cliente 20% dos dados necessários a interpretação da sondagem. - Pelo menos seis das empresas avaliadas, ou seja, 30%, apresentaram seus resultados, faltando entre 35% a 50% dos dados. - Entre os dados mais omitidos estão:

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• Cota e coordenadas

• Tabela e/ou leituras do NA

• Posição das amostras coletadas na sondagem a percussão.

• Ensaio de lavagem por tempo

• Indicação das profundidades das manobras (sondagem rotativa)

• Motivo da paralisação da sondagem.

• Identificação das anomalias apresentadas Os problemas não se resumem apenas nos dados faltantes, podemos incluir aqui a falta de precisão, clareza e critério aos resultados de SPT, na classificação dos solos e rochas e nos resultados dos ensaios de permeabilidade. A seguir abordaremos alguns aspectos que julgamos pertinentes a respeito dos dados omitidos bem como da responsabilidade de obtenção de cada dado. 1- Cotas e coordenadas: Normalmente é de responsabilidade da contratante, que deve efetuar a locação no campo para a execução e depois a locação definitiva. A empreiteira deve entregar os perfis com a locação definitiva de campo, caso contrário, a sondagem perde sua função uma vez que não tem endereço certo. 2- Tabela de Leitura de NA: Durante a execução de uma sondagem a leitura do NA é de extrema importância. Assim como verificar a ocorrência de “níveis empoleirados”, também denominado de lençol suspenso, muito comum na bacia sedimentar de São Paulo. É muito comum nos perfis de sondagens rotativas e mistas, cuja execução demora por cerca de quatro dias em média, a apresentação de um único NA. Isto significa que não houve verificação diária do mesmo, conforme solicita a Norma. Nos ensaios de infiltração e EPA, observa-se que há uma dificuldade por parte dos sondadores em saber qual N.A. deve ser adotado no ensaio. A Norma diz que ao iniciar os trabalhos, deve-se medir a profundidade do N.A. no furo, sendo assim é esta leitura que deverá ser utilizado em todos os ensaios executados naquele dia. Isto porque a utilização constante de água para o avanço da sondagem mascara a profundidade real do N.A. A leitura do N.A. 24 horas após o término da sondagem, indicado pela Norma, não é obedecido por nenhuma empresa. Daí a necessidade de verificar sempre o primeiro N.A. encontrado. 3- Posição das amostras coletadas: Na sondagem a percussão coleta-se uma amostra de solo a cada metro ensaiado. Pode ocorrer que o solo não seja recuperado, ou por não possuir coesão e ser muito fofo (caso das areias) ou muito resistente, sem penetração suficiente do amostrado. Nesses casos a Norma recomenda a coleta de “amostra lavada”, que nada mais é que o material que vem pela bica de lavagem. Nos perfis individuais de sondagem a percussão (ou mista) a coleta de amostra a cada metro é apresentada de forma gráfica (quadrada ou circular), cuja posição no perfil deve estar em escala, ou seja, a figura representa o início e término da cravação do amostrador padrão e consequentemente o número da amostra coletada, ou seja, amostra nº 1, significa que foi a amostra retirada do

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amostrador para o trecho de 1,00 a 1,45m e assim sucessivamente. A não recuperação da amostra deve ser representada por uma simbologia gráfica específica que identifique a anomalia ocorrida no trecho. Que pode ser: “Não recuperada” ou “Amostra lavada”. Esta informação no boletim de campo é de responsabilidade do sondado e no perfil do pessoal técnico. A maioria dos perfis atualmente no mercado não apresentam mais este dado, apresentam apenas o tipo litológico do trecho sem qualquer indicação do tipo de coleta executada. 4- Lavagem por tempo: Este procedimento confere à sondagem a percussão impenetrabilidade ao processo, que pode ser entendido como possível “topo de rocha”. Lembrando que deve ser analisado com certo cuidado e restrição, dependendo do tipo litológico envolvido. Deve ser executado sempre que a sondagem não atingir a profundidade solicitada pela programação. Nas sondagens mistas é fundamental para garantir com maior acerto o topo de rocha. Dificilmente se encontrará nos perfis este ensaio. Na maioria das sondagens, quando os valores de SPT registram solos duros ou muito compactos, já entram direto com o processo rotativo e o que se verifica, muitas vezes, são trechos extensos de solos de alteração de rocha, sem medida de resistência e consequentemente sem coleta de amostra do trecho atravessado, que dificulta em muito a identificação do tipo de solo que está sendo atravessado. 5- Identificação das profundidades das manobras. Atualmente a maioria dos perfis não apresenta esses dados. Como nem sempre são apresentados os boletins de campo, cabe recorrer ao trecho do perfil responsável pela apresentação da porcentagem de recuperação das amostras, mas quando um grande trecho tem, por exemplo, 100% de recuperação não tem como identificá-los. Outra forma é recorrer às fotos dos testemunhos de sondagens que nem sempre apresentam as manobras legíveis. A falta da indicação da profundidade das manobras dificulta a identificação das profundidades de outros parâmetros importantes na interpretação da sondagem como o grau de alteração, coerência, fraturamento e RQD ou IQR, só para citar esses. Esta falta de informação somada à falta de escala dos desenhos obriga-nos a recorrer a métodos geométricos, nem sempre confiáveis, para identificar as profundidades dos trechos mais críticos das sondagens. 6- Motivo de paralisação da sondagem: Vamos imaginar que chegou a suas mãos somente o perfil da sondagem de uma determinada área em estudo, possivelmente o texto do relatório, fotos e etc, ficaram pelo caminho, em mesas de outros profissionais que já fizeram uso dele. Verifica-se que não há uma indicação se quer sobre o motivo da paralisação da mesma. Algo do tipo: “paralisação da sondagem conforme solicitação do Cliente”, “paralisação da sondagem solicitada pela projetista”, “impenetrável a lavagem

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por tempo”, “Impenetrável ao amostrador padrão”, “paralisada devido a presença de galeria”, “paralisação devido a presença de matacão”, etc. É comum nos perfis a indicação “profundidade final = 19,60m”, que não significa nada, uma vez que na coluna de profundidades já existe esta informação. Dos 20 perfis analisados apenas dois apresentaram o motivo da paralisação da sondagem.

7- Identificação de anomalias observadas: Durante a execução de uma sondagem podem ocorrer vários problemas que afetam diretamente a continuidade da investigação, ou alteram o processo de perfuração para garantir a continuidade da mesma. Dentre as ocorrências mais comuns podem-se destacar os seguintes: - Quebra de equipamento e falta de peças de reposição (afeta o cronograma) - Indicação do tipo de amostragem executada, quando essa não foi possível ser feita de acordo com a norma. - Dificuldade ou impossibilidade de executar ensaios de SPT. - Problemas ocorridos durante a execução de ensaios de infiltração e/ou ensaios de perda d´água – EPA. - Quebra mecânica nos testemunhos de sondagem. - Odor referente a possível contaminação do solo, - Indicar os valores de SPT, cuja penetração tenha sido superior ou inferior aos 45 cm. Se são dos primeiros 15 cm iniciais do amostrador, ou referentes a penetração total do amostras. - Perda de testemunho de rocha em trechos efetivamente sãos. Enfim, deve-se informar qualquer problema que represente não conformidade e que seja relevante para interpretação dos resultados apresentados. Outros aspectos ligados diretamente à apresentação dos resultados merecem ser comentados

8- Classificação/Identificação do material amostrado: Este dado, presente nos perfis individuais, merece um comentário a parte, devido a diversidade e não conformidade que se apresentam. A classificação táctil-visual apresentada nos perfis de sondagem, para o trecho em solo, nem sempre seguem os critérios estabelecidos pela Norma, que indica: Granulometria + Compacidade / Consistência + cor Não há uma uniformidade neste quesito, cada empresa adota uma forma de apresentar que, muitas vezes, em nada contribui para uma identificação e determinação de parâmetros geotécnicos para o trecho em estudo. Ou são sucintos demais, como “solo argiloso, marrom” ou prolixos demais, com “AREIA MÉDIA E GROSSA, SILTOSA, ARGILOSA, DE COLORAÇÃO VARIEGADA, PREDOMINANDO TONALIDADE AMARELA (AMOSTRA LAVADA), MUITO COMPACTA. SEDIMENTO/SOLO RESIDUAL” . A classificação táctil-visual deve apresentar o comportamento do solo e não somente uma quantificação granulométrica.

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Um outro agravante relacionado a descrição de testemunhos de sondagens é a falta de comprometimento das empresas de sondagem com o contexto geológico em que estão trabalhando, sendo que muitas vezes não há visita do geólogo da empresa de sondagens ao local dos trabalhos e a descrição do testemunho ocorre no galpão da empresa. Este procedimento se reflete em descrições equivocadas a respeito da litologia e tipo de depósito inconsolidado, e que muitas vezes não representam coerência alguma com o contexto geológico em estudo. 9- Especificações técnicas, prazo para execução dos serviços e aceite do

cliente: As especificações técnicas – ETs – nem sempre são seguidas. É muito comum a equipe de campo não estar familiarizada com as solicitações impressas na ETs, emitidas pelas projetistas, o que acaba gerando trabalhos incompletos ou fora do estabelecido. Também a falta de comprometimento com o prazo estabelecido para a campanha, comprometendo o andamento do projeto. Ao término da campanha o empreiteiro emiti o relatório final para o cliente, que o recebe, certo de que todas os procedimentos e solicitações foram atendidas, mas ao analisá-lo observa-se que há não conformidade nos resultados.

4. Conclusão Diante do exposto acima concluímos que há muito que resgatar para que possamos atingir um nível satisfatório de qualidade aos serviços de sondagens. Por hora o que podemos dizer é que:

• O padrão de qualidade das sondagens tem demonstrado que está aquém do esperado e preconizado pelas Normas vigentes, ou seja, as Normas não estão sendo respeitadas.

• A queda no padrão de qualidade decorre de três fatores principais: o Falta de mão de obra qualificada – falta de treinamento o Falta de um controle de qualidade por parte de quem executa o Falta de fiscalização por parte de quem contrata os serviços.

• Há uma freqüente falta de comprometimento das empresas de sondagem com o contexto geológico do local onde estão sendo realizadas as investigações, refletindo em descrições equivocadas tanto dos solos quanto dos testemunhos de sondagem.

• A conseqüência óbvia de todos esses fatores é a não confiabilidade nos resultados e/ou nas informações fornecidas, redundando em ricos e/ou ônus para os projetos elaborados a partir dessas sondagens.

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Item DADOS QUE DEVEM CONSTAR NOS PERFIS DE SONDAGENS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 201 Nome da Obra x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x2 Nome do Cliente x x x x x x não x x x x x x x x x x x x x3 Nome da Empresa Executora x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x4 Cota da boca do furo x x x x x (não) x (não) x (nâo) x x (nâo) x x (não) x x x x x (não) x x x (não) x (não)5 Coordenadas, N e E x x x x x (não) x (não) x (nâo) x x (nâo) x x x x x x não x x não não6 Número da Sondagem x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x7 Localização do furo não x x x não não não x x x x x x x x x x não x x8 Identificação do Método Utilizado (Percussão, Rotativa, Mistas e etc) não nâo nâo x x x x x x x x x x nâo nâo x não x x x9 Datas de Início e término x x x x x x x nâo x x x x x x x x x não x x

10 Total Perfurado - Profundidade Final do Sondagem. x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x11 Tabela com leituras do NA não nâo nâo x não não x x nâo nâo não nâo nâo x (não) x (não) x x não não não12 Indicação do NA no Perfil x x x x x x x x x x x x x x (não) x não x não x x13 Indicação do NA quando não encontrado. - - - - - - - - - x - - - nâo - - - não - x14 Posição final do revestimento x x x x x (não) x (não) não nâo x x não x x nâo x x (não) não x x x

15Posição das amostras colhidas, inclusive a indicação das amostras não recuperadas. não nâo nâo nâo não não não x nâo x não nâo x nâo nâo x - não não x

16 Classificação táctil-visual x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x17 Classificação geológica dos materiais (gênese) x x x nâo x x x x x x não nâo x nâo - não - não não x18 Convenções gráficas dos solos, ou rochas, atravessados x x x x x x x x nâo x x x x x (não) x x x x x x

19 Resultados dos ensaios de penetração, com Nº de golpes e avanço em centímetros, para cada 15cm de penetração não x x x x x x x x x x x x x - x - x x x

20Resultados dos ensaios de Lavagem Por Tempo, com intervalo ensaiado, avanço em centímetros e tempo de operação da peça de lavagem.

não nâo nâo x não não não nâo x x não nâo x nâo nâo x (não) - não não x

21 Descrição sucinta dos materiais (descrição da rocha) x x x x x x x x x x x x x x x x22 Indicação das profundidades das camadas atravessadas x x x x x x x x x x x x x x x x23 Indicação das profundidades das manobras não nâo nâo nâo x x x nâo x nâo nâo nâo não não não x24 Recuperação dos Testemunhos, em porcentagem, por namobra. x x x x x x x x x x x x x x x x25 RQD ou IQR x x x x x (não) x x x x x x x x x x x26 Gau de Alteração x x x x x x x x x x x x não x x x27 Grau de Coerência x x x x não x x x x x x x não x x x28 Grau de Fraturamento x x x x x x x x x x x x não x x x29 Resultados dos ensaios de perda d´água. x x x nâo x x x nâo x x x nâo não x não não30 Características das descontinuidades x x x x não não x x x x x x não x x não31 Parãmetros de classificação x x x nâo não não não x x x x x nâo nâo não x x não32 Motivo de paralização da sondagem não nâo nâo nâo não não não nâo x não nâo nâo nâo nâo não não não não33 Identificação das anomalias observadas. não nâo nâo nâo não não não nâo x nâo não nâo nâo nâo nâo não não não não x

34Identificação do geólogo que executou a classificação, com nome, número do registro do órgão de fiscalização profissional e assinatura.

x x x x x x não x x (não) x x x x x não x(não) não x x

Dados não apresentados nos perfis (%) 26 21 21 21 42 50 35 19 18 12 14 21 12 50 26 47 17 35 32 14

Responsabilidade % LEGENDA:Gestor/Gerente/Supervisor/Residente 15

Equipe de Campo 41 X Dado e informação, apresentados no perfil. Equipe de Geologia 44

X (não) Dado apresentado no perfil. Informação não fornecida.

Ivan, acho que precisa incluir uma legenda das cores da tabela não Dado e informação não apresentados no perfil.

Responsabilidade das Equipes Envolvidas (%)

Gestor/Gerente/Supervisor/Residente

Equipe de Campo

Equipe de Geologia

Figura1 - Avaliação dos Resultados Apresentados nos Perfis Individuais de Sondagens