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Paleo-herpetofauna de Portu.gal MESOZÓICO - PRIMEIROS VESTÍGIOS DA PALEO-HERPETOFAUNA PORTUGUESA 11 A nível mundial, o Mesozóico é caracterizado pelo progressivo fraccionamento do inicialmente, único supercontinente, a Pangeia (fig. i). Durante todo este período, o clima teria sido, de modo geral, mais quente e húmido do que o actual.

MESOZÓICO -PRIMEIROS VESTÍGIOS DA PALEO-HERPETOFAUNA

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Paleo-herpetofauna de Portu.gal

MESOZÓICO - PRIMEIROS VESTÍGIOS DA PALEO-HERPETOFAUNA PORTUGUESA

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A nível mundial, o Mesozóico é caracterizado pelo progressivo fraccionamento do inicialmente, único supercontinente, a Pangeia (fig. i). Durante todo este período, o clima teria sido, de modo geral, mais quente e húmido do que o actual.

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E. G. Crespo

FIG. I - Cronograma do processo de fragmen­tação da Pangeia durante o Meso­zóico (o tracejado indica a possibi­lidade de terem persistido ligações a latitudes mais elevadas ainda no fim do Cretácico) (baseado em Sereno 1999).

No Triásico (250-210 M.a. , B.P.) as massas continentais estavam ainda reunidas num único bloco (fig.2). Devido a este facto seriam muito marcados os efeitos continentais, traduzidos por forte sazonalidade, gran­des amplitudes ténnicas diurnas e anuais, Verões quentes e Invernos frios, em geral com mais calor e maior aridez do que actualmente. No fim deste período o clima ter-se-ia tomado ainda mais quente e seco levando à formação de vastas zonas desérticas e semi-desérticas, sobretudo nas regiões mais interiores. Não havia na altura calotas polares ou quaisquer indícios de glaciações.

FIG. 2 - Projecção rectilínea dos conti­nentes no fim do Triásico (2 10 M.a., B.P.) Af. - África; Am. N. - América do Norte; Am. S. - América do Sul ; Ant. - Antâr­tida; As. - Ásia; Aus. - Austrá­lia; Eu .- Europa; I. - India (cf. Paleogeographic Information System, Ross & Scotese, em Fastovsky & Weishampel 1996, modificado).

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Paleo-herpetofauna de Portugal 13

No Jurássico (210-140 M.a., B.P.) a Pangeia começa a fraccionar­

-se com a formação do futuro Oceano Atlântico Norte (fig.3). Esta

fragmentação , que teria levado à formação de mares interiores, viria a

atenuar os efeitos continentais, estabilizando as temperaturas e diminuindo

a sazonalidade. O clima, embora quente, teria sido mais ameno do que o

do final do Triásico, com chuvas abundantes. No fim do Jurássico teria

havido um episódio de maior aridez ou pelo menos de condições sazonais

de aridez. Às Pteridófitas que atingiram o seu apogeu no Primário, sucedem

agora as Gimnospérmicas: pré-espermatófitas (Cicadales, Pteridospermales

e Ginkgoales) e espermatófitas (Coníferas, etc.) (Barale & Lemoigne 2000).

Fi g. 3 - Projecção rectilínea dos conti­nentes no fim do Jurássico (140 M.a. B.P.). (ver legendas Fig.2).

No Cretácico (140-65 M.a., B.P.) o processo de fragmentação con­

tinental tomou-se mais efectivo com a separação do continente meridional,

a Gonduana. A Europa fazia ainda parte da Laurásia (América do Norte

+ Ásia + Europa) separada da Gonduana pelo oceano de Tétis. Um mar

epicontinental- o mar de Obik e os estreitos de Turgai - separavam a

Europa da Ásia. Uma ligação terrestre, algo descontinua, ligaria por sua

vez a Europa à Gonduana (África), através da placa apuliana (e outras

microplacas). Os mares epicontinentais transformavam a Europa num

verdadeiro arquipélago (fig.4). Até ao Cretácico Médio teriam prevalecido

as condições climáticas da maior parte do Jurássico, com clima mais quente

e menos sazonal do que o actual , de características tropicais. Para o fim

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de Cretácico, com a oCQITência de intensas actividades tectónica e vul­cânica e, paralelamente, de uma vasta transgressão marinha, logo seguida porém, por uma igualmente grande regressão, o clima ter-se-ia tomado mais frio.

FIG. 4 - Reconstrução geográfica das paleo­costas durante o Cretácico termi­nai (Maeslrichtiano/60 M.a., B.P.) em projecção Mollweide (cF. Smith ef ai 1994, modificado com base em Barbadillo ef ai 1997 e Rage 1997) . Ar. - África; Am. N. -América do Norte; As. - Ásia; Eu.­Europa.

Durante o Triásico os Répteis mamalianos teriam entrado em aparente declínio enquanto que os Archosauria (incluindo os ancestrais dos Dinossauros), pelo contrário, ter-se-iam expandido e diversificado (Sereno 1999). Dos Anfíbios, como dissémos, apenas restavam algumas formas aquáticas. A meio e no final deste sistema, aparecem os verdadeiros Mamíferos, os Dinossauros, Pterossauros, os grandes Répteis marinhos (Sauropterígios e Ictiossauros), Crocodilos , Lepidossauros, os primeiros Lissanfibios (Anflbios actuais) e os peixes Teleósteos. Durante o Jurássico, os Dinossauros, os Répteis marinhos e outros Archosauria continuam a expandir-se e a diversificar-se, enquanto que os Mamíferos continuam a ser um grupo pouco conspícuo, reduzido a fOl1l1as de pequenas dimensões. Aparecem a plimeiras Aves.

No Cretácico os Dinossauros continuam a ser os tetrápodes domi­nantes, mas os pequenos Mamíferos di versificam-se e começam a expandir­se e surgem as primeiras Serpentes.

Na Europa, no fim do Mesozóico, estavam já representados todos os maiores grupos da sua actual herpetofauna. Os Quelónios desde o Triásico,

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os Anuros, Urodelos e Lagartos desde o Jurássico e as Serpentes desde o Cretácico. Os Anfisbénidos só viriam a surgir no fim do Cretácico. No que se refere aos Anfíbios existiam já alguns Discoglossídeos e Salamandrídeos, ainda com representantes actuais, bem como outros grupos actualmente extintos - Batrachosauroidídeos (Urodelos), Palaeobatrachídeos (Anuros) e Albanerpetodontídeos. Existiam também vários grupos de Quelónios: Bothremydidae, Kallokibotiidae, etc .; de Crocodilos: Trematochampsidae, Hsisosuchidae, Alligatoridae, Crocodilydae, etc.; e de Squamata: Iguanidae, Anguimorfos, Madtsoiidae e Boidae (Rage 1997).