Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade em Educação Especial: Domínio Cognitivo-Motor

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Mestrado em Ciências da Educação na Especialidade emEducação Especial: Domínio Cognitivo-Motor

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  • I

    Escola Superior de Educao Joo de Deus

    Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em Educao Especial: Domnio Cognitivo-Motor

    O Impacto das TIC no Sucesso Educativo de Alunos com Autismo

    Raquel Pinho Pires

    Lisboa, abril de 2014

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

    __________________________________________

    II

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    III

    Escola Superior de Educao Joo de Deus

    Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em Educao Especial: Domnio Cognitivo-Motor

    O Impacto das TIC no Sucesso Educativo de Alunos

    com Autismo

    Raquel Pinho Pires

    Dissertao apresentada Escola Superior de Educao Joo de

    Deus com vista obteno do grau de Mestre em Cincias da

    Educao na Especialidade de Educao Especial: Domnio

    Cognitivo e Motor sob a orientao da

    Professora Doutora Cristina F. S. Pires Gonalves

    Lisboa, abril de 2014

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    IV

    AGRADECIMENTOS

    Para a realizao deste projeto de investigao, que culminou agora com este

    trabalho final, vrios foram os intervenientes que me ajudaram.

    Um trabalho deste teor pois, fruto de uma rede de apoios institucionais e

    pessoas que vo possibilitando o andamento do mesmo, quanto s fontes de estudo

    necessrias.

    Em primeiro lugar, de elementar justia agradecer ao Sr. Diretor da Escola

    Superior e Educao Joo de Deus, Prof. Doutor Antnio Ponces de Carvalho que

    proporcionou a possibilidade de enfrentar este desafio.

    minha orientadora Prof. Dra. Cristina Saraiva Gonalves que foi iluminando

    o caminho das minhas dvidas.

    A todos os professores do curso, pela disponibilidade demonstrada.

    s minhas colegas de grupo de trabalho, pelas tertlias pedaggicas que me

    proporcionaram e a todos os docentes que colaboraram no preenchimento do

    questionrio, possibilitando assim que pudesse extrair a matria de estudo expressa e

    decifrada nas concluses apresentadas.

    minha famlia sempre presente e atenta ao meu trabalho.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    V

    RESUMO

    Com base na massificao das tecnologias o presente estudo pretende avaliar se

    as tecnologias da informao e comunicao (TIC), nas suas mais variadas formas,

    podem ser uma mais-valia no ensino/educao de autistas.

    O estudo aqui apresentado, no pretende ser apenas mais um, mas antes mostrar

    o trabalho efetuado at data e o que pode ainda ser realizado.

    No sentido de conhecer um pouco melhor os conceitos relacionados com a rea

    do autismo, foi necessrio recorrer a pesquisas na Internet, leitura de livros e a

    reunies com pessoas ligadas a essa rea, tornando possvel uma maior aquisio de

    saberes e uma nova viso sobre a temtica.

    Para tal, elaborou-se ainda um questionrio que foi distribudo por docentes de

    diferentes nveis de ensino, de modo a recolher opinies e conhecer algumas das suas

    experincias relacionadas com a utilizao das TIC no processo de ensino-

    aprendizagem, no s no campo das necessidades educativas especiais (NEE), mas mais

    especificamente com a criana autista.

    Os resultados deste estudo revelam que o sucesso educativo do aluno autista ser

    mais favorecido se recorrer frequentemente s TIC, ainda que para isso estas

    experincias tenham que ser devidamente adaptadas, acompanhadas e adequadas s

    necessidades especficas de cada aluno.

    Note-se ainda que ao reunir e estudar toda a informao frente apresentada,

    torna-se possvel traar tambm o perfil atual das escolas portuguesas, nomeadamente,

    quanto aos recursos tecnolgicos existentes, bem como o conhecimento dos professores,

    no que toca temtica autismo/TIC.

    Palavras chave: NEE; Autismo; TIC; Solues Tecnolgicas; Sucesso Educativo.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    VI

    ABSTRACT

    Based on this approach, the study undertaken seeks to evaluate whether the new

    technologies, in its many forms, can be a real asset in teaching autistic. Autism begins

    to be seen as a field where studies and technological concepts can be developed and

    exploited respectively. The study presented here is not intended to be just one more but

    to show the work done so far and what can be accomplished by exposing proposals.

    In a way to better understand the concepts related with the autistic area, it was

    necessary to use Internet research, book reading and interviews with people connected

    to that area, making possible an acquisition of knowledge and a new vision about the

    thematic.

    It was elaborated a questionnaire which was given to several teachers. In this

    way it was possible to collect opinions and acknowledge some of their experiences

    related to the use of ICT in the teaching-learning process under the special educational

    needs, specifically with the autistic child.

    The study results reveal that the educational success of the autistic student will

    be favored if he frequently resorts to the ICT, although for this these experiences have

    to be properly adapted, followed and adjusted to the specific needs of each student.

    The analysis of existing resources allowed knowing the actual panorama of

    methods and models in use. That in conjunction with the review of needs made with the

    course of this work, contributed to understand the existing lacks and so to make, having

    that acquired knowledge has a base, a proposal of a learning model based in

    technologies to support autistic learning.

    Keywords: Special Educational Needs; Autism; Information Technology and

    Communication; Technology Solutions; Educational Success;

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    VII

    NDICE

    AGRADECIMENTOS ... IV

    RESUMO .. V

    ABSTRACT . VI

    NDICE GERAL VII

    LISTA DE FIGURAS . IX

    LISTA DE QUADROS .... X

    INTRODUO ... 11

    I ENQUADRAMENTO TERICO

    1. Autismo

    1.1. Perspetiva Histrica .13

    1.2. Definio . 14

    1.3. A Causas . 16

    1.4. Caractersticas . 17

    1.5. Espectro Autstico . 20

    1.6. Dificuldades do Autista na Aprendizagem . 22

    1.7. Mtodos utilizados no ensino de Autistas .. 23

    1.8.Autismo, Famlia e Sociedade . 27

    1.9. Incluso ... 29

    1.10.Tipificao das Necessidades Educativas Especiais ,. 31

    1.11. Metodologias Atuais no Ensino de Autistas 33

    2. Tecnologias da Informao e Comunicao

    2.1. TIC/Sociedade 39

    2.2. TIC/ Ensino . 40

    2.3.TIC/NEE .. 46

    2.4.TIC/Incluso .48

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    VIII

    3. As TIC e o sucesso educativo da criana autista

    3.1. Solues Tecnolgicas Existentes .. 50

    3.2.Dispositivos de Comunicao . 57

    3.3. Programas no especficos para Autistas ... 61

    3.4. Consideraes Tecnolgicas Existentes . 64

    II METODOLOGIA

    1. Objetivos 66

    2. Hipteses 66

    3. Amostra .. 67

    4.Questionrio 68

    5.Procedimento .. 69

    III APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS 70

    CONCLUSO . 90

    BIBLIOGRAFIA . 94

    APNDICES 97

    I. Propostas

    II. Questionrio

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    IX

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Sistema inclusivo centrado no aluno

    Figura 2 - Comunicao por figuras

    Figura 3 - Equoterapia na educao de autistas

    Figura 4 - Musicoterapia na formao de autistas

    Figura 5 - Hidroterapia como base para promover a formao de autistas

    Figura 6 - Zac Browser, ecr principal

    Figura 7 - Zac Browser, filme

    Figura 8 - Zac Browser, jogos

    Figura 9 - Sc@ut, ecr inicial

    Figura 10 - Sc@ut, ecr com opes

    Figura 11 - CPA, Comunicador para Autistas

    Figura 12 - Descobrir Emoes Emoes representadas

    Figura 13 - Tartalogo, ecr

    Figura 14 - Dispositivo de comunicao Alpha Talker

    Figura 15 - Dispositivo de comunicao Vanguard

    Figura 16 - Dispositivo de comunicao Cheap Talk

    Figura 17 - Dispositivo Pahtfinder

    Figura 18 - Mesa educacional para autistas

    Figura 19 - Robot Kaspar

    Figura 20 - Portal Smartkids

    Figura 21 - Os Jogos das Mimocas

    Figura 22 - Jogo do Coelho sabido

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    X

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Escala DSM IV TR - Manual de Diagnstico e Estatstica das

    Perturbaes Mentais

    Quadro 2 Panorama Mundial sobre o Autismo

    Quadro 3 As TIC/Auxilio na educao de Autistas.

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    11

    INTRODUO

    O presente trabalho surge com vista obteno do grau de Mestre em Cincias

    da Educao na Especialidade de Educao Especial: Domnio Cognitivo e Motor pela

    Escola Superior de Educao Joo de Deus.

    O tema deste estudo A utilizao das TIC no processo de ensino-

    aprendizagem em alunos com perturbaes globais autsticas e surge com o intuito de

    investigar qual o seu impacto no sucesso escolar/educativo destes alunos.

    Hoje em dia, nas escolas, assistimos a uma crescente transformao tecnolgica

    e a uma necessidade permanente de reorganizar todo o sistema de ensino, pois de

    repente os livros passaram a ser computadores portteis, os quadros de lousa tornaram-

    se em interativos, o lpis deu lugar ao teclado

    Poder-se-iam identificar inmeras transformaes e todas elas levar-nos-iam

    apenas a uma concluso - A sociedade mudana e esta mudana passa,

    inevitavelmente, pela utilizao das novas tecnologias. Assim sendo, e numa tentativa

    de quebrar com o desinvestimento, a desmotivao e enriquecer as intervenes

    pedaggicas, este projeto pretende apelar a uma nova organizao das nossas escolas,

    no esquecendo por isso a necessidade de se atualizar e acompanhar o progresso das

    novas tecnologias, sendo elas parte integrante do dia-a-dia dos alunos.

    Enquanto agentes educativos, no ignoramos o facto de que as instituies de

    ensino j no so os nicos centros de distribuio do conhecimento, no entanto

    enquanto profissionais de educao no podemos assistir de braos cruzados

    constante mutao da sociedade e da informao.

    Interessa ento perceber como poder a escola atender aos diferentes alunos,

    tendo em conta as suas especificidades e responder ao novo desafio de mudana. Por

    isso, impe-se no s s escolas um grande desafio, mas tambm aos professores na

    medida em que so eles que devero saber utilizar as diferentes ferramentas e tcnicas,

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    12

    para assim direcionar a interveno pedaggica atendendo os interesses e necessidades

    reais dos seus alunos, principalmente dos alunos com autismo.

    Conscientes de que a escola ainda no proporciona a todos os seus alunos igual

    acesso s novas tecnologias, como meio facilitador e impulsionador de novas

    aprendizagens, considerou-se relevante explorar a temtica das TIC no contexto de

    apoio e reforo nas prticas educativas do autista.

    Tal como j foi referido, este trabalho procura analisar qual o impacto que a

    utilizao das novas tecnologias pode causar na educao da pessoa autista, no entanto

    no se pode esquecer que para isso necessrio:

    - Compreender as suas necessidades de formao e respetivas dificuldades;

    - Identificar possveis benefcios atendendo aos recursos existentes no atual contexto;

    - Refletir sobre as implicaes destes na evoluo social e formativa do autista;

    - Propor aplicaes que possam desempenhar um papel importante na resposta a estes

    desafios, de modo a colaborar para uma possvel melhoria da sua qualidade de vida.

    Assim, com o presente estudo, pretende-se contribuir para a divulgao e

    discusso sobre esta temtica, com o intuito de ajudar, educadores/professores e pais

    que lidam com o autismo de perto.

    Em suma, este trabalho est dividido em vrias partes sendo que a primeira

    rene, aps reviso bibliogrfica, a temtica das NEE/autismo e o contributo das TIC. J

    a segunda parte revela a pertinncia, a metodologia e a hiptese para a temtica em

    estudo e todos os procedimentos relacionados com a elaborao e aplicao do

    questionrio. Finalmente, feita a interpretao dos resultados obtidos e respetivo

    registo das concluses.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    13

    I ENQUADRAMENTO TERICO

    1. Autismo

    1.1.Perspetiva Histrica

    Apesar do autismo ser j longamente conhecido, s em 1943 Leo Kanner, um

    psiquiatra peditrico da escola mdica da universidade John Hopkins, atribui tal designao a

    esta desordem desenvolvimental. Este termo foi importado de Eugene Bleuler, psiquiatra

    suo, que o usou em 1911 para descrever o isolamento ativo das interaes sociais que

    verificava nos seus pacientes esquizofrnicos.

    Desde a dcada de 40 at aos anos 60, de modo geral, acreditava-se que o individuo

    autista tinha o desejo consciente de no participar em qualquer interao social. Atualmente,

    porm, sabe-se que tal isolamento no resulta de qualquer desejo ou vontade consciente e

    ocorre, pelo contrrio, na sequncia de alteraes neurolgicas e bioqumicas que tm lugar

    no crebro.

    1.2.Definio

    Como define Tomatis (1994), a palavra Autismo vem do grego Autos que significa eu

    ou prprio. Esta designao usada porque as crianas possuidoras da sndroma passam por

    um estdio em que se voltam para si mesmas, e no se interessam pelo mundo exterior.

    Existem vrias definies de autismo. Segundo uma dessas definies, o autismo um

    problema neurolgico ou cerebral que se caracteriza por um decrscimo da comunicao e das

    interaes sociais. O New Lexicon Webstrs Encyclopedic Dictionary (1991) define autismo

    como uma desordem psiquitrica em que o individuo se recolhe dentro de si prprio, no

    responde a fatores externos e exibe indiferena relativamente a outros indivduos ou a

    acontecimentos exteriores a ele mesmo.

    A sociedade Americana de autismo (Autism Society of America), Los Angeles, define

    autismo como uma desordem desenvolvimental vitalcia com perturbaes em competncias

    fsicas, sociais e de linguagem (Gilingham, 1995).

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    14

    No entanto, muitos autores tm questionado se o Autismo uma entidade distinta.

    Segundo Baron-Colten e Botton (1994), citados por Pereira, E. (1996), as crianas com

    Autismo no formam uma imagem mental do que se pode estar a passar na mente dos outros.

    Este facto resulta da incapacidade de pensarem acerca dos seus prprios estados

    mentais, assim como nos estados mentais dos outros. Deste modo, tal como nos diz Borges,

    M.F. (2008) ao no desenvolver uma Teoria da Mente, vai ter um comportamento

    problemtico, quer ao nvel social, quer cognitivo, na medida em que encara os outros como

    meros objetos.

    Filmes como Rainman fizeram muito para que o autismo fosse conhecido pelo

    grande pblico. O autismo est, de facto, no centro de um continuum de perturbaes que

    partilham todas de caractersticas comuns mas que se manifestam de maneira muito diferente

    a nvel individual.

    O autismo uma deficincia grave que afecta a comunicao e a interaco com as

    outras pessoas mas tambm com o mundo. De acordo com Marques (2000) O termo

    autismo () pode ser definido como uma condio ou estado de algum que aparenta estar

    invulgarmente absorvido em si prprio..

    O grau de autismo varia segundo um eixo que vai de severo a ligeiro, se bem que o

    efeito seja sempre grave. Uma pessoa pode ter autismo severo com graves dificuldades de

    aprendizagem e ser assim extremamente deficiente ou ter autismo ligeiro e inteligncia

    normal ou elevada. A maioria das pessoas com autismo tem dificuldades de aprendizagem. O

    desenvolvimento da linguagem muito varivel no autismo. Certas pessoas tm linguagem

    desenvolvida tendo contudo limites de compreenso e dificuldades de linguagem, enquanto

    grande parte daquelas que tm autismo tpico no falam. A hipersensibilidade aos barulhos,

    luz e ao tacto, ao cheiro tal como uma fraca reaco dor so muito frequentes. (Siegel, 2008)

    Lorna Wing (psiquiatra inglesa) aps vrios estudos, concluiu existir um trao

    distintivo do autismo isto uma Trade de Impedimentos Sociais que se caracteriza por

    dfices na interaco social, na comunicao e na imaginao, que variam ao longo do tempo

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    15

    tanto no seu grau de severidade, quanto na sua forma. Ao conjunto destes trs sintomas deu-se

    o nome de Lorna Wing Trade. Tal como refere Jordan (2000) esta trade que define o

    que comum a todas elas, consistindo em dificuldades em trs reas do desenvolvimento mas

    nenhuma dessas reas, isoladamente e por si s, se pode assumir como reveladora de

    autismo. a trade, no seu conjunto, que indica se a criana estar, ou no, a seguir um

    padro de desenvolvimento anmalo e, no caso de se registar uma deficincia numa das

    reas a penas, ela poder radicar numa causa completamente diferente.

    As pessoas com autismo tm trs grandes grupos de perturbaes. Segundo Lorna

    Wing (Wing & Gould,1979), a partir de uma investigao feita em Camberwell, a trade de

    perturbaes no autismo manifesta-se em trs domnios: social, linguagem e comunicao,

    pensamento e comportamento.

    - Domnio social: o desenvolvimento social perturbado, diferente dos padres habituais,

    especialmente o desenvolvimento interpessoal. A criana com autismo pode isolar-se mas

    pode tambm interagir de forma estranha, fora dos padres habituais.

    - Domnio da linguagem e comunicao: a comunicao, tanto verbal como no verbal

    deficiente e desviada doa padres habituais. A linguagem pode ter desvios semnticos e

    pragmticos. Muitas pessoas com autismo (estima-se que cerca de 50%) no desenvolvem

    linguagem durante toda a vida.

    - Domnio do pensamento e do comportamento: rigidez do pensamento e do

    comportamento, fraca imaginao social. Comportamentos ritualistas e obsessivos,

    dependncia em rotinas, atraso intelectual e ausncia de jogo imaginativo.

    1.3.Causas

    A causa exata do autismo , no entanto, desconhecida. A determinada altura, pensou-se

    que a origem desta desordem estaria numa falta de ternura e de calor humano por parte dos

    progenitores. Sabe-se agora que tal no corresponde verdade, uma vez que o autismo no

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    16

    causado por fatores de ordem psicolgica. Todos os dados existentes apontam para uma

    origem biolgica do autismo relacionado com uma disfuno metablica a nvel do crebro.

    Dado que cerca das crianas autistas apresenta sinais de problemas neurolgicos,

    possvel que, em certo grau, o seu crebro tenha sido afetado. Bernard Rimland, fundador da

    sociedade nacional para crianas Autistas (National Society for Autistic Children), diretor do

    instituto de investigao do autismo (Autism Research Institute), em San Diego, e

    preconizador do recurso modelao de comportamentos, acredita que causa do autismo tem

    uma raiz neurolgica envolvendo uma possvel disfuno da formao reticular do tronco

    cerebral. A formao reticular representa uma rede de clulas nervosas do tronco cerebral que

    esto envolvidas na perceo. Quando se regista um mau funcionamento neste campo, na

    origem pode estar uma deficincia do funcionamento reticular.

    A partir dos anos 60, a investigao cientfica, baseada sobretudo em estudos de casos de

    gmeos e nas doenas genticas associadas ao autismo (X Frgil, esclerose tuberosa,

    fenilcetonria, neurofibromatose, diversas anomalias cromossmicas) mostrou a existncia de

    um fator gentico multifatorial e de diversas causas orgnicas relacionadas com a sua origem.

    Estas causas so diversas e refletem a diversidade das pessoas com autismo.

    Parece haver genes candidatos, ou seja uma predisposio para o autismo o que

    explica a incidncia de casos de autismo nos filhos de um mesmo casal. possvel

    existirem fatores hereditrios com uma contribuio gentica complexa e

    multidimensional.

    Alguns fatores pr natais (ex.rubola materna, hipertiroidismo) e peri natais (ex.

    prematuridade, baixo peso ao nascer, infees graves neonatais, traumatismo de parto)

    podem ter grande influncia no aparecimento das perturbaes do espectro do

    autismo.

    H uma grande incidncia de epilepsia na populao autista (26 a 47%) enquanto na

    populao em geral a incidncia de cerca de 0,5%.

    H tambm estudos post mortem em curso sobre as anomalias nas estruturas (cerebelo,

    hipocampus, amgdala) e funes cerebrais das pessoas com autismo.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    17

    necessrio continuar a desenvolver a investigao sobre o autismo e, embora haja

    muitos estudos em curso, ignoramos qual o seu impacto no futuro das crianas e jovens com

    autismo.

    H contudo, neste momento uma concluso importante que rene o consenso da

    comunidade cientfica - no h ligao causal entre atitudes e aes dos pais e o aparecimento

    das perturbaes do espectro autista. As pessoas com autismo podem nascer em qualquer pas

    ou cultura e o autismo independente da raa, da classe social ou da educao parental.

    1.4.Caractersticas

    As caractersticas essenciais da Perturbao Autstica so a presena de um

    desenvolvimento acentuadamente anormal ou deficitrio da interao e comunicao social e

    um repertrio acentuadamente restritivo de atividades e interesses.

    De acordo com o estudo realizado pela Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro

    (2005) a perturbao pode manifestar-se antes dos 3 anos de idade por um atraso ou

    funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes reas: interao social, linguagem

    usada na comunicao social, jogo simblico ou imaginativo (critrio B).

    No existe tipicamente um perodo de desenvolvimento normal, embora em cerca de 20%

    dos casos os pais tenham descrito um desenvolvimento relativamente normal durante um ou

    dois anos. Nestes casos, os pais referem uma regresso no desenvolvimento da linguagem,

    geralmente manifestada por uma paragem da fala depois de a criana ter adquirido 5 a 10

    palavras.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    18

    O diagnstico do autismo hoje efetuado a partir das caractersticas definidas no DSM-IV-

    TR. (Manual de Diagnstico e Estatstica das Perturbaes Mentais, 4 ed., Texto revisto,

    Lisboa, Climepsi Editores, 2002)

    Quadro 1 - Manual de Diagnstico e Estatstica das perturbaes Mentais

    A. Um total de seis (ou mais) itens de (1) (2) e (3), com pelo menos dois de (1), e

    um de (2) e de (3).

    (1) dfice qualitativo na

    interao social,

    manifestado pelo menos

    por duas das seguintes

    caractersticas:

    (2) dfices qualitativos na

    comunicao, manifestados

    pelo menos por uma das

    seguintes caractersticas:

    (3) padres de

    comportamento, interesses

    e atividades restritos,

    repetitivos e

    estereotipados, que se

    manifestam pelo menos por

    uma das seguintes

    caractersticas:

    (a) acentuado dfice no uso

    de mltiplos

    comportamentos no

    verbais, tais como contacto

    ocular, expresso fcil,

    postura corporal e gestos

    reguladores da interao

    social;

    (b) incapacidade para

    desenvolver relaes com

    os companheiros,

    adequadas ao nvel de

    desenvolvimento;

    (c) ausncia da tendncia

    espontnea para partilhar

    com os outros prazeres,

    interesses ou objetivos (por

    exemplo; no mostrar,

    trazer ou indicar objetos de

    interesse);

    (d) falta de reciprocidade

    social ou emocional;

    (a) atraso ou ausncia total

    de desenvolvimento da

    linguagem oral (no

    acompanhada de tentativas

    para compensar atravs de

    modos alternativos de

    comunicao, tais como

    gestos ou mmica);

    (b) nos sujeitos com um

    discurso adequado, uma

    acentuada incapacidade na

    competncia para iniciar ou

    manter uma conversao

    com os outros;

    (c) uso estereotipado ou

    repetitivo da linguagem ou

    linguagem idiossincrtica;

    (d) ausncia de jogo

    realista espontneo,

    variado, ou de jogo social

    imitativo adequado ao

    nvel de desenvolvimento;

    (a) preocupao absorvente

    por um ou mais padres

    estereotipados e restritivos

    de interesses que resultam

    anormais, quer na

    intensidade quer no

    objetivo;

    (b) adeso, aparentemente

    inflexvel, a rotinas ou

    rituais especficos, no

    funcionais;

    (c) maneirismos motores

    estereotipados e repetitivos

    (por exemplo, sacudir ou

    rodar as mos ou dedos ou

    movimentos complexos de

    todo o corpo);

    (d) preocupao persistente

    com partes de objetos.

    B. Atraso ou funcionamento anormal em pelo menos uma das seguintes reas,

    com incio antes dos trs anos de idade: (1) interao social, (2) linguagem usada

    na comunicao social (3) jogo simblico ou imaginativo.

    C. A perturbao no melhor explicada pela presena de uma Perturbao de

    Rett ou Perturbao Desintegrativa da Segunda Infncia.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    19

    Assim, em suma, e de acordo com Nielsen (1999). Apontam-se as principais

    caractersticas do autismo da seguinte forma:

    - Dificuldades quanto ao relacionamento com pessoas, objetos ou eventos;

    - Uso invulgar de brinquedos e objetos;

    - Incapacidade de estabelecer interaes sociais com outras crianas;

    - Incapacidade de ter conscincia dos outros;

    - Relacionamento em que os outros so tratados como objetos inanimados;

    - Contacto visual difcil sendo normalmente evitado;

    - Incapacidade para receber afetividade;

    - Intolerncia a contactos fsicos;

    - Dependncia de rotinas e resistncia mudana;

    - Comportamentos compulsivos e ritualsticos;

    - Comportamentos de autoestimulao;

    - Comportamentos que produzem danos fsicos, como bater persistentemente com a cabea;

    - Hper ou Hipo sensibilidade a vrios estmulos sensoriais;

    - Acessos de clera, muitas vezes sem razo aparente;

    - Comportamentos violentos dirigidos a outros;

    - Competncias comunicativas verbais e no-verbais severamente afetadas;

    - Incapacidade para comunicar com palavras ou gestos;

    - Vocalizaes no relacionadas com a fala;

    - Repetio de palavras proferidas por outros (ecolalia);

    - Repetio de expresses anteriormente ouvidas (ecolalia retardada);

    - Preocupao com as mos.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    20

    - A criana, pode parecer surda e, no entanto, ser capaz de ouvir palavras sussurradas

    distncia. A recusa em ouvir uma caracterstica muito comum no autista. Os pais e todos os

    que trabalham com estas crianas nunca devem tomar esta recusa e os seus comportamentos

    em termos pessoais.

    ainda de notar que uma ou mais destas caractersticas podem ocorrer em crianas

    que apresentem outras deficincias. Nestes casos, usada a expresso comportamento de tipo

    autista.

    1.5.Espectro Autstico

    Neste documento usado o termo autismo para caracterizar de um modo geral a pessoa

    autista, apesar de existir espectro autstico, ou seja, grupos de pessoas quem partilham

    algumas das principais caractersticas do autismo revelando no entanto diferentes nveis de

    dificuldades.

    Atravs de textos de Dra. Carla Gikovate (mdica neurologista formada pela universidade

    do estado do Rio de Janeiro. Mestre em Psicologia Clinica Pontifcia Universidade Catlica

    do Rio de Janeiro. Autora de vrios livros e artigos cientficos) identifica-se atualmente o

    seguinte espectro autstico, com os seguintes graus de autismo:

    Autismo verbal;

    Autismo ecolalia;

    Autismo no verbal;

    Asperguer;

    Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificao.

    No stio, autistas.org, pgina de referncia de autismo com informaes sobre a temtica

    para pais, amigos e familiares referido que alguns dos espectros mais conhecidos do autismo

    so:

    Sndrome de Angelman;

    Sndrome de Asperger;

    Sndrome do X Frgil;

    Hiperlexia;

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    21

    Sndrome de Landau Kleffner;

    Distrbio Obsessivo-Compulsivo;

    Sndrome de Rett;

    Sndrome de Prader-Willi;

    Transtorno de Dficite de Ateno.

    Em seguida, de modo sucinto, apresentado uma breve descrio sobre os espectros

    mencionados.

    A sndrome de Angelman est associada a uma perturbao de matria gentico de

    origem materna, localizado no cromossoma 15. Quando nesta mesma localizao

    cromossmica, h uma alterao do material gentico de provenincia paterna, as

    crianas apresentam outras caractersticas de desenvolvimento e a doena tem a

    designao de sndrome de PRader-Willi, uma doena caracterizada pela diminuio

    da atividade fetal. Atraso mental, baixa estatura, obesidade, apneia do sono, diabetes e

    ps pequenos. (Associao Portuguesa para as Perturbaes do Desenvolvimento e

    Autismo [APPDA], 2009)

    A sndrome de Asperger o nome dado a um grupo de problemas que algumas

    pessoas possuem quando tentam comunicar, sendo considerado desvios da inteao

    social, uso da linguagem para a comunicao de certas caractersticas repetitivas. As

    pessoas com sndrome de Asperger geralmente apresentam elevadas habilidades

    cognitivas se comparadas a outras desordens do espectro. (Teixeira, 2009)

    A sndrome do X-Frgil uma doena gentica ligada ao cromossoma X e a causa

    mais frequente de atraso mental hereditrio. As caractersticas associadas so o dfice

    cognitivo, hiperatividade ou problemas de ateno e concentrao, ansiedade social e

    timidez excessiva, humor instvel, hipersensibilidade sensorial, fraco contacto ocular,

    problemas de linguagem e ecolalia. (Associao Portuguesa da Sndrome do X-Frgil

    [APSXF], 2009)

    Segundo o autor (Matos, 2003) o fenmeno de hiperlexia, afeta algumas crianas

    autistas, descrito como alteraes ou atraso no desenvolvimento e caracterizado

    pela aptido em aceder leitura de forma precoce e autodidata. Esta capacidade para

    as palavras no est relacionada com o nvel intelectual apresentando dificuldades de

    relacionamento social.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    22

    A sndrome de Landau Kleffner caracterizada pela manifestao de disfuno de

    linguagem nas crianas. O transtorno da linguagem pode desaparecer, embora

    permaneam com disfuno severa de linguagem, incluindo afasia e agnosia auditiva.

    (Neurol, 1997)

    O distrbio obsessivo-compulsivo manifesta-se como incapacidade de conseguir

    realizar com eficcia determinadas tarefas em consequncia de a pessoa ser dominada

    por uma resistncia passiva a atuar.

    O autor (Neural, 1997) descreve a sndrome de Rett como um transtorno hereditrio

    do desenvolvimento neurolgico associado com o cromossoma X, originando a perda

    progressiva do controlo dos movimentos das mos e das habilidades de comunicao.

    1.6.Dificuldades do autista na aprendizagem

    Um autista, criana ou adulto, revela dificuldades prprias na aprendizagem. A

    perceo sensorial desordenada, no conseguindo assimilar toda a informao originada

    pelos sentidos como audio, olfato, paladar e toque. O no compreender dessa informao

    cria um ambiente adverso, que pode levar a uma perda de controlo.

    A comunicao com os outros, atravs da linguagem, pode ser difcil. As expresses

    usadas podem revelar-se demasiado complexas para o autista, nomeadamente o sentido oculto

    das palavras, uma vez que o pensamento concreto, no conseguindo fazer abstraes.

    Na linguagem de um autista podem, por vezes, surgir palavras complexas,

    memorizadas do ambiente que o rodeia. Essas palavras podem surgir de diversas fontes, no

    entanto o seu significado e compreenso estranho a um autista, este apenas as diz como

    resposta. Isto chamado de ecolalia, sintoma de linguagem descrito como repetio em eco

    da fala de outro. A repetio da fala do outro tem sido considerada como "porta de entrada"

    da criana na linguagem. (Siegel, 2008)

    As complicaes na comunicao manifestam-se de vrias formas, quer a nvel verbal

    como no-verbal de transmitir a informao. As crianas autistas revelam, na sua

    generalidade, dificuldades na aquisio da habilidade comunicacional. Algumas mostram uma

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    23

    dificuldade acrescida, sendo que outras no conseguem desenvolver essa capacidade, mesmo

    atingindo a idade adulta. As dificuldades apresentadas na comunicao acarretam outros

    obstculos, como contrariedades na interao social.

    Ao nvel da motivao encontra dificuldades em orientar o seu comportamento no

    sentido de alcanar um objetivo, tem dificuldade em compreender a finalidade das tarefas, em

    aprender a tarefa como um todo e no possui o desejo de agradar. (Almeida et al., 2009)

    Para o autista o perodo de ateno e concentrao curto existindo dificuldade em

    mudar o foco de ateno. Revela dificuldade em focalizar a ateno em mais do que um

    estmulo de cada vez no compreendendo o significado social da situao, apresentando

    dificuldade em compreender aces e comunicaes de terceiros. (Almeida et al., 2009)

    Ainda segundo o autor, a pessoa autista apresenta tendncia para criar e executar

    rotinas, sendo que a sua alterao ou execuo meramente parcial pode induzir elevados

    nveis de angstia e de ansiedade.

    1.7.Mtodos utilizados no ensino de autista

    O ensino atravs de tentativas discretas uma metodologia especfica utilizada para

    maximizar a aprendizagem, segundo o ABA - Centro de Terapias Comportamentais. Trata-se

    de um processo de ensino usado para desenvolver vrias capacidades, incluindo cognio,

    comunicao, socializao, autoajuda e mesmo para brincar.

    A tcnica envolve dividir a capacidade em partes mais pequenas, ensinar cada

    capacidade individualmente at ser aprendida, permitir uma prtica repetida durante um

    perodo concentrado de tempo, providenciar ajudas e a sua extino conforme necessria e

    recorrer a procedimentos de reforo. (ABA-CTC, 2009)

    Atualmente existem vrios modelos de interveno, entre outros destacam-se os

    modelos:

    Teacch;

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    24

    Floortime;

    ABA;

    Son-rise;

    CFN;

    PECS (sistema de comunicao por figuras).

    1.7.1) Modelo Teacch

    O Modelo Teacch (Treatment and Education of Autistic and Related Communication

    Handicapped Children) surgiu em 1943 e basicamente apela a uma interveno especfica,

    caracterizada por uma adequao do ambiente, no sentido de reduzir a ansiedade e deste

    modo, potencializar a aprendizagem.

    Este modelo tem por base a estruturao de modo a diminuir os comportamentos

    problemticos. Esta estruturao a chave do sucesso deste modelo porque, as crianas com

    autismo, so crianas que no tem uma estrutura interna bem definida e, como tal, para

    funcionarem, precisam que algum lhes fornece esta estrutura. Ser, pois, atravs de um

    espao organizado, com atividades adequadas e com rotinas rgidas que essa estrutura

    coerente e consistente lhes poder ser garantida.

    Uma sala de Modelo Teacch est organizada de modo a aumentar o trabalho

    independente da criana. (Educom, 2009)

    O mtodo de funcionamento deste modelo, garante uma estruturao do ambiente,

    uma previsibilidade do meio e, consequentemente, uma diminuio dos problemas

    comportamentais. Esta metodologia assenta toda a sua dinmica funcional atravs do

    fornecimento a estas crianas de padres de referncia, padres estes garantidos por uma

    estruturao da sala. Esta estruturao fundamentalmente garantida por estruturas visuais,

    uma vez que se faz muito recurso imagem e ao estmulo visual.

    Este modelo foi criado para dar resposta a crianas e adolescentes com perturbaes

    do espectro autista. Em suma, o que este modelo proporciona , atravs de um ambiente bem

    estruturado e organizado, a garantia de padres de referncia, padres esses que so to

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    25

    importantes para uma crianas autista, como para uma crianas com dificuldades cognitivas

    e/ou comportamentais. (Educom, 2009)

    1.7.2) Modelo Floor-time

    A abordagem Floor-time um modo de interveno interativa no dirigida, que tem

    como objetivo envolver a criana numa relao afetiva, baseado numa abordagem estruturada

    e na certeza que em todas as crianas existe alguma capacidade para comunicar e que essa

    capacidade depende do seu grau de motivao e de envolvimento afetivo. Em conjunto com

    as interaes semiestruturadas de resoluo de problemas em que a criana levada a cumprir

    objetivos especficos de aprendizagem atravs da criao de desafios dinmicos que a criana

    quer resolver. baseado na premissa de que a criana pode melhorar e construir um grande

    crculo de interesses e de interao com um adulto. O objetivo do Floor-time desenvolver a

    criana para a plenitude do desenvolvimento emocional e intelectual do indivduo. (Borges,

    M.F., 2008)

    1.7.3) Modelo ABA

    O Modelo ABA - Anlise Comportamental Aplicada consiste na aplicao de mtodos

    de anlise comportamental e de dados cientficos com o objetivo de modificar

    comportamentos. O autismo uma das vrias reas nas quais a anlise comportamental tem

    sido aplicada com sucesso, segundo refere o Centro Abc-real Portugal (CAP).

    Segundo a evidncia cientfica atual, a terapia com melhores resultados. A evoluo

    de cada pessoa atravs de um programa ABA depende de vrios fatores, nomeadamente, das

    capacidades e competncias do sujeito, das suas necessidades e da forma como o modelo

    implementado. Recorre-se observao e avaliao do comportamento do indivduo, no

    sentido de potenciar a sua aprendizagem e promover o seu desenvolvimento e autonomia.

    (CAP, 2009)

    Envolve o ensino da linguagem, o desenvolvimento cognitivo e social e competncias

    de autoajuda em vrios meios, dividindo estas competncias em pequenas partes/tarefas que

    so ensinadas de forma estruturada e hierarquizada. dada muita importncia recompensa

    ou reforo de comportamentos desejados, minimizando e desencorajando comportamentos

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    26

    inadequados. Este tipo de interveno deve iniciar-se o mais precocemente possvel, o que

    permitir que as crianas adquiram competncias bsicas, ao nvel social e cognitivo, e

    reduzam os seus comportamentos estereotipados e destrutivos antes que estes se instalem.

    Contudo, sempre til adotar esta metodologia, mesmo na idade adulta. Esta interveno

    intensiva permite que uma percentagem significativa dos alunos possa acompanhar os seus

    pares, com mais ou menos apoio, nas escolas regulares. (CAP, 2009)

    1.7.4) Modelo CFN (Currculo Funcional Natural)

    O mtodo CFN (Currculo Funcional Natural) foi desenvolvido no Kansas, Estados

    Unidos da Amrica, por um grupo de educadores como proposta de trabalho para crianas na

    faixa etria de quatro a cinco anos.

    O CFN consiste num conjunto de instrues e informaes que renem no apenas

    uma prtica em sala de aula, como tambm uma filosofia e um conjunto de procedimentos

    pensado com o objetivo de desenvolver habilidades na criana, de modo a torn-la mais

    independente e criativa. A proposta do CFN ilimitada no que se refere s habilidades da

    criana, ampliando as suas possibilidades de modo a favorecer a sua aceitao e insero no

    convvio social (Azevedo, 2009).

    1.7.5) Modelo Son-Rise

    O modelo Son-rise adota um sistema especfico e compreensivo de tratamento para

    ajudar as famlias e educadores a proporcionar s crianas uma maior progressividade em

    todas as reas de ensino, desenvolvimento, comunicao e aumento de aptides. Este modelo

    educacional pretende unir as crianas em vez de ir contra elas, colocando os pais na situao

    de professores, terapeutas e responsveis dos seus prprios programas, utilizando os seus lares

    como o melhor ambiente para ajudar as crianas.

    O modelo defende que o respeito e o cuidado intensivo so os fatores mais importantes

    no impacto da motivao de uma criana para aprender (ATCA, 2009).

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    27

    Outros modelos existem para o ensino das pessoas autistas, no entanto e pela leitura de

    diversos artigos os descritos anteriormente so os mais utilizados na tentativa de melhorar o

    processo de aprendizagem.

    1.8.Autismo, Famlia e Sociedade

    1.8.1) O papel dos intervenientes educativos na educao da criana com Espectro

    Autista

    A auto imagem influencia a perceo que as pessoas tm das suas competncias e do

    seu valor. Sabe-se que a presena da deficincia numa famlia pode ter impacto na identidade

    da famlia e como diz Leito (1993), referido por Ramos (1999):

    Os pais das crianas e jovens com deficincia vivenciam muitas vezes, dificuldades

    nos seus sentimentos de competncia e de autoestima como pais, situao que em parte se

    deve ao facto de os filhos serem parceiros comunicativamente menos competentes e menos

    responsivos, proporcionando menos experincias contingentes aos seus pais.

    Constata-se que, se as atividades (famlia/escola/tcnicos) forem desenvolvidas em

    conjunto, atravs de programas educativos (apoio afetivo-emocional), a deficincia no

    passar a ser a maior caracterstica de identificao da famlia.

    Forest e Reynolds (1988), conforme Pereira, Edgar (1996), acentuam que, os

    profissionais tm um grande papel, no sentido de ajudar a famlia a elevar o nvel das suas

    expectativas, quanto ao desenvolvimento global da criana.

    Tumbul e Tumbul (1998), ibidem, chamam a ateno para a necessidade de

    profissionais e famlia a comearem a dotar a criana com deficincia de slills, na rea das

    tomadas de deciso, dando sistematicamente continuidade aos treinos desta rea atravs do

    programa educativo. Dizem ainda os autores que esta aprendizagem e experincia dot-la-

    com skills que lhe permitiro tomar decises sobre a sua carreira educacional,

    transformando as suas expectativas em realidades. (1996:42)

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    28

    As boas relaes entre profissionais e as famlias, promovem uma maior participao

    destas na elaborao e consequente implementao de programas educativos. Contudo, os

    pais sentem necessidade, no s no que diz respeito prioridade da criana, mas tambm

    planificao do seu futuro. Como nos diz Faure (1972), citado por Pereira, F. (1996), todo o

    ser humano por essncia educvel. No basta equacionar a educao de crianas

    deficientes, necessrio planificar at idade adulta ou mesmo at terceira idade. O mesmo

    autor salienta que para educar necessrio humanizar e para humanizar necessrio educar

    tendo como mxima o importante sentir. (ibidem).

    Embora existam casos de sucesso, na maioria, os pais e educadores queixam-se da

    falta de meios e das dificuldades num acompanhamento personalizado e adequado a estas

    crianas. As dificuldades variam consoante o espectro autstico e sua profundidade mas todas

    elas acabam por recair sobre as formas de comunicao da pessoa autista com os outros e dos

    outros com eles (Rodeia, 2008).

    Num estudo que abrangeu 7 pases europeus, incluindo Portugal, a autora Teresa

    Oliveira estudou os obstculos e constrangimentos sentidos pelos familiares de autistas,

    concluindo que estes necessitam de:

    Ter acesso a mais e melhor formao;

    Pretendem cursos de autismo acessveis monetariamente e perto dos locais de

    residncia;

    Sentem falta de apoio de pessoal qualificado e recursos educativos;

    Estruturas e necessidade de uma parceria efetiva entre pais e profissionais para

    efetivar a educao dos seus filhos.

    Com a declarao de Salamanca, em 1994, o conceito de integrao de alunos com

    necessidades educativas especiais evoluiu e hoje fala-se em escola inclusiva. No entanto as

    dificuldades de integrao e formao destes alunos persistem.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    29

    Apesar da evoluo constante das novas tecnologias, familiares e educadores, deparam-se

    com a ausncia ou quase inexistncia de programas educativos adaptados e adequados para

    este tipo de alunos, com necessidades muito especficas, nesta rea.

    A demonstrao da carncia deste tipo de software bem visvel, no caso da navegao na

    Internet, com uma total ausncia at 2006 de um browser destinado a pessoas com autismo.

    1.9.A incluso

    Nos finais dos anos 70, reconheceu-se que os alunos com NEE conseguiam alcanar

    sucesso escolar nas classes regulares, pelo menos aqueles que apresentavam problemas

    ligeiros podendo fazer parte do sistema regular de ensino.

    Em 1986 surge ento nos EUA, um movimento chamado de Regular Education Iniciative

    (REI), que pretendia encontrar formas de atender s necessidades do maior nmero de alunos

    com NEE na classe regular, propondo a adaptao dessa mesma classe, de forma a facilitar as

    aprendizagens dos alunos com NEE nesse ambiente (Will, 1986, cit. Correia, 2005). Este

    movimento acabou por mais tarde, dar origem ao princpio da incluso que recebeu vrios

    apoios e crticas de muitos investigadores e educadores.

    A educao especial passa de um lugar a um servio, sendo reconhecido ao aluno com

    NEE o direito de frequentar a classe regular, possibilitando-lhe o acesso ao currculo comum

    atravs de um conjunto de apoios apropriados s suas caractersticas e necessidades (Correia,

    2005).

    A incluso deve ser um processo dinmico que se proponha responder s necessidades de

    todos e de cada um dos alunos, dando-lhes uma educao apropriada que considere trs nveis

    de desenvolvimento essenciais: acadmico, socioemocional e pessoal (Correia, 2005).

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    30

    Para alm do aluno com NEE ser considerado como um todo e como centro de ateno

    por parte da escola, da famlia e da comunidade, o Estado tambm um factor essencial, pois

    tem um papel fundamental na implementao de um sistema inclusivo eficaz.

    O sistema tradicional, ento, afetado por este novo conceito de Necessidade

    Educativa Especial, o que implica que para cada criana necessrio proceder-se a uma

    cuidadosa identificao e avaliao das suas necessidades, para que se possa organizar o

    programa mais adequado de acordo com o sistema educativo geral.

    Para superar as dificuldades apresentadas pelas crianas, pode recorrer-se a mltiplos e

    variados tipos de apoio, nomeadamente a um mtodo de ensino especializado, para que o

    aluno possa aceder ao currculo normal, a um currculo modificado e adaptado s suas

    possibilidades e a algum apoio educativo contextualizado. Para isso, devem disponibilizar-se

    diferentes modalidades de servios, desde a sala regular a tempo inteiro, com ou sem ajuda do

    professor de ensino especial, sala regular mais sala de apoio, at escola especial para um

    reduzido nmero de crianas com problemas graves (Veiga, 2000).

    Figura 1 Sistema inclusivo centrado no aluno (Correia, 1999)

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    31

    1.10.Tipificao das Necessidades Educativas Especiais

    Segundo Bairro (1998), o conceito de Necessidade Educativa Especial (NEE) foi

    introduzido por Warnock Report, no Reino Unido em 1978, em sequncia de vrios

    movimentos de integrao que se faziam sentir, um pouco por toda a Europa. O Warnock

    Report refere ento trs categorias de necessidades educativas especiais:

    - Necessidades aplicadas (sensoriais) fundamentalmente a crianas com problemas

    sensoriais e que necessitam de ajuda no campo da comunicao e da expresso e a

    crianas/adultos com problemas motores que necessitam de ajuda no sentido mais vasto do

    termos;

    - Necessidades aplicadas (aprendizagem), por exemplo, a crianas com graves

    dificuldades de aprendizagem que necessitam de suporte para aprender determinadas reas

    curriculares que outras crianas atingem sem nenhuma forma de ajuda.

    - Necessidades (emoes) que dizem respeito a esforos para criar ambientes que

    atenuem presses que as crianas e os adultos, emocionalmente mais vulnerveis, no

    conseguem suportar.

    No nosso pas este conceito de necessidade educativa especial, foi adotado no final da

    dcada de 80 e pouco mais tarde, com publicao do Decreto-lei 319/91 ficou garantido o

    direito de frequncia nas escolas regulares de muitos destes alunos. Citando o referido decreto

    de 23 de Agosto de 1991:

    foi considerada no presente diploma a evoluo dos conceitos resultantes do

    desenvolvimento das experincias de integrao, havendo a salientar: A substituio da

    classificao em diferentes categorias, baseada em decises de foro mdico, pelo conceito de

    alunos com necessidades educativas especiais, baseado em critrios pedaggicos.

    Segundo a CIF (Classificao Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Sade)

    (2001), este conceito de necessidades educativas especiais atinge ainda um grupo muito

    heterogneo de alunos, em que as suas dificuldades podem ir de grau ligeiro a severo e podem

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    32

    ter um carcter mais ou menos prolongado, no estando ainda muito centrado nos problemas

    dos alunos. Muitas vezes so fatores extrnsecos que causam as primeiras dificuldades nas

    crianas e jovens.

    muitos dos alunos considerados com NEE podero necessitar, acima de tudo, de

    um ensino de qualidade, pautado pelos princpios da flexibilizao, adequao e estratgias

    de diferenciao pedaggica e no necessariamente de medidas de educao especial (CIF,

    2001).

    De acordo com os pontos um e dois do artigo 10 do decreto-lei n6/2001, aos alunos

    com necessidades educativas especiais de carcter permanente oferecida a modalidade de

    educao especial. Estas, so atribudas a:

    alunos que apresentem incapacidade ou incapacidades que se reflitam numa ou

    mais reas de realizao de aprendizagens, resultantes de deficincias de ordem sensorial,

    motora ou mental, de perturbaes da fala e da linguagem, de perturbaes graves da

    personalidade ou do comportamento ou graves problemas de sade.

    Na sequncia da publicao do decreto referido anteriormente, a DGIDC (Direco

    Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular) avana com uma definio para o

    conceito de NEE, numa perspetiva mais prxima dos atuais modelos de interveno nesta

    rea:

    Consideram-se alunos com necessidades educativas especiais de carter prolongado

    aqueles que experienciam graves dificuldades no processo de aprendizagem e participao

    no contexto escolar, familiar e comunitrio, decorrentes da interao entre fatores

    ambientais (fsicos, sociais e atitudinais) e limitaes de grau acentuado ao nvel do seu

    funcionamento num ou mais dos seguintes domnios:

    - sensorial (viso e audio);

    - motor;

    - cognitivo;

    - comunicao;

    - linguagem e fala;

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    33

    - emocional e personalidade.

    1.11.Terapias atuais no ensino de autistas

    Ensinar no uma funo vital, porque no tem o fim em si mesma; a funo vital aprender.

    (Aristteles)

    1.11.1) O modelo atual

    Muitas das tcnicas usadas na educao tradicional, no so eficazes no ensino de

    crianas autistas, uma vez que estas necessitam de formao especfica.

    Aps algumas pesquisas, verificou-se a existncia de vrias terapias para a educao

    de uma pessoa autista. Musicoterapia, equoterapia, hidroterapia, reorganizao neurolgica,

    comunicao facilitada, comunicao por figuras, terapia ocupacional, terapia familiar, entre

    outros.

    Dos modelos referidos, so explicados de modo sucinto, aqueles que se destacam pelo

    seu uso e relevo para este trabalho.

    1.11.2) Comunicao por figuras

    O Sistema de Comunicao por Figuras (PECS) - e o mtodo de comunicao mais

    utilizado com autistas, como pode ser lido na pgina austistas.org. Este mtodo comea a ser

    utilizado nas crianas autistas desde os primeiros anos de idade.

    O sistema de comunicao por figuras muito popular como referiu o psiclogo Joo

    Teixeira do Centro de Estudos e Apoio Criana e Famlia da APPDA-Norte. O PECS

    revela-se importante para autistas no-verbais.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

    ____________________________________________

    34

    Segundo a autora Isabel Santos (Santos et al., 2009) as crianas autistas apresentam

    frequentemente considerveis dificuldades no uso da linguagem expressiva, pelo que ser

    benfico o recurso a intervenes intensas e altamente estruturadas.

    Outra das suas principais dificuldades reporta-se ao relacionamento interpessoal,

    tambm fortemente marcada pela linguagem. Neste sentido, alguns autores tm defendido

    sistemas de comunicao alternativos, onde no haja envolvimento da fala. A linguagem por

    sinais, imagens e outros smbolos visuais tem-se revelado um sistema relativamente lento de

    aprendizagem, visto que a linguagem por sinais requer a imitao e os sistemas de imagens

    implicam a sinalizao, processos que podem ser confusos e exigem uma enorme ateno por

    parte do autista. A comunicao por figuras possui a preocupao de ir ao encontro daquilo

    que atrai as crianas, como alimentos, bebidas, brinquedos, livros, etc. Depois de se

    conhecerem as preferncias da criana so feitas imagens desses objectos que, lhe so,

    apresentadas e oferecidas. Lentamente, retirada a ajuda fsica para apanhar a imagem,

    constatando-se que a criana comea a desenvolver a iniciativa de principiar a interaco,

    pegando na imagem e entregando-a a um terapeuta. Progressivamente o grau de dificuldade

    ser aumentado, ao ponto do modelo ensinar a criana a criar enunciados simples a partir de

    vrias imagens. (Santos et al., 2009)

    Figura 2 Comunicao por figuras, exemplo retirado do site universo do autista interveno

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    35

    Equoterapia

    As terapias que usam animais fornecem benefcios em termos de bem-estar fsico e

    emocional como mostram muitos estudos sobre os ganhos proporcionados pela interao

    entre o homem e o animal na promoo da sade humana e como terapia especfica.

    A equoterapia um mtodo teraputico e educacional que utiliza o cavalo dentro de

    uma abordagem interdisciplinar, nas reas de sade, educao e equitao. A equoterapia

    permite uma grande diversidade de estmulos sensoriais, atravs da viso, tato, olfato e

    audio, algo que incrementa a consciencializao corporal, o desenvolvimento da fora

    muscular, o aperfeioamento da coordenao motora e o equilbrio. O cavalo extremamente

    sensvel, expressando emoes de forma clara e variada, o que facilita a interpretao por

    parte o ser humano. (Bastos et al 2004)

    Para alm da sua funo teraputica, o uso de cavalos em tratamentos tem uma

    participao importante no aspeto psquico, j que a pessoa usa o animal para desenvolver e

    modificar as suas atitudes e comportamentos. (Freire, 2009)

    Ao andar de cavalo a pessoa necessita de coordenar os seus movimentos com a do

    animal e com isso precisa de concentrao para prestar ateno a todo o meio que o envolve.

    A terapia encoraja o autista a desenvolver o seu processo de aprendizagem na

    realizao de tarefas funcionais.

    Figura 3 Equoterapia na educao de autistas retirado do site da Revista Crescer

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    36

    Musicoterapia

    De acordo com a definio da Federao Mundial de Musicoterapia (WFMT), a

    musicoterapia consiste na utilizao da msica ou dos seus elementos (som, ritmo, melodia e

    harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, num processo sistematizado de forma a

    facilitar e promover a comunicao, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilizao, a

    expresso e organizao de processos psquicos de um ou mais indivduos para que sejam

    capazes de recuperar as suas funes e desenvolver o seu potencial adquirindo uma melhor

    qualidade de vida.

    A interveno envolve atividades musicais que podem ser feitas individualmente ou

    em grupo, num processo planificado e continuado no tempo, levado a cabo por profissionais

    com formao especfica, afirma a Associao Portuguesa de Musicoterapia (APMT) na sua

    pgina oficial.

    A musicoterapia destina-se especialmente a pessoas com problemas de

    relacionamento, comunicao, comportamento e integrao social, como o caso das pessoas

    autistas.

    Segundo Santos, a utilizao de estmulos musicais na motivao das pessoas autistas,

    revela-se benfica, induzindo respostas afetivas positivas que podem fomentar a sua

    participao em atividades de socializao e desenvolvimento da linguagem. Acresce a isto o

    fato da msica poder criar um contexto essencial ao desenvolvimento da curiosidade e do

    interesse exploratrio, aspetos essenciais do processo de reabilitao.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    37

    O som do instrumento, assim como o seu aspeto visual e tctil, podem auxiliar o

    autista a compreender melhor os outros, propiciando quantidades inumerveis de relaes que

    podem ser a chave do xito da terapia.

    Figura 4 Musicoterapia na formao de autistas retirado do sitio da internet Caminhos do Autismo

    Terapia Ocupacional

    Segundo a autora (Mota, 2004) a sade apoiada e mantida quando o indivduo

    consegue realizar as suas atividades e ocupaes, que permitem uma participao desejada e

    necessria em situaes de vida comunitria.

    Ainda segundo a mesma autora se o estado de sade de um determinado indivduo

    afetar as suas capacidades impedindo-o de realizar certas atividades necessrias para se

    sentir competente e com qualidade de vida, a terapia ocupacional apoia a pessoa no sentido

    de melhorar o desempenho das suas atividades de vida diria, para que o indivduo consiga

    desempenhar de forma desejada os seus papis na sociedade e noutros contextos da sua

    vida.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    38

    O terapeuta ocupacional tenta prevenir a incapacidade e facilitar a reabilitao da

    pessoa, procurando a obteno do mximo de funo e independncia a todos os nveis

    atravs de um envolvimento significativo e gratificante.

    Na terapia ocupacional podem ser realizados treinos especficos, simulao de

    desempenhos e ensino de estratgias a contextualizar. Pode ainda utilizar ajudas tcnicas ou

    adaptaes para substituir as funes perdidas, no caso de no ser possvel recuper-las e

    modificar a habitao de forma a eliminar as barreiras arquitetnicas e adaptar o espao s

    necessidades do indivduo. Pode tambm intervir no meio social ou profissional da pessoa,

    promovendo a reintegrao (Mota, 2004).

    Hidroterapia

    Diversos estudos realizados apontam como instrumento relevante, a hidroterapia, na

    interveno das crianas com necessidades educativas especiais para melhorar o seu

    desenvolvimento e comportamentos sociais, permitindo tambm uma estimulao motora e

    sensorial.

    A gua torna-se estimulante para alguns movimentos que no so possveis nos

    tradicionais exerccios no solo, proporcionando uma sensao de bem-estar, pois focaliza as

    habilidades do autista na gua e no as suas limitaes.

    A atividade fsica para as crianas com NEE mas na gua torna-se mais acessvel,

    ganhando confiana, autoestima e interao social, uma vez que na gua so capazes de

    concorrer com elementos que no tm necessidades especiais.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    39

    Esta terapia fornece estimulao visual e auditiva tentando tambm melhorar a

    respirao, de modo a possibilitar um maior equilbrio e controlo pessoal. (Matos, et al.,

    2009)

    Figura 5 Hidroterapia como base para promover a formao de autistas retirado do site universo do

    autista

    2. Tecnologias da Informao e Comunicao

    2.1. Tecnologias da Informao e Comunicao [TIC] / Sociedade

    A sociedade est num processo de mudana em que as novas tecnologias so as

    principais responsveis, alguns autores identificam um novo paradigma de sociedade que se

    baseia num bem precioso, a informao, atribuindo-lhe vrias designaes, entre elas a

    sociedade da informao. (Naisbitt, 1998; Drucker, 1993; Toffler, 1984; Santos, 2004).

    Esta sociedade poder ser responsvel por grandes diferenas sociais, tendo em conta

    o seu grau de existncia. Como uma sociedade que vive do poder da informao, tendo

    como base as novas tecnologias, ela poder ser muito discriminatria, quer entre pases, quer

    internamente, entre empresas, entre pessoas. At algum tempo atrs o saber ler e interpretar

    textos, bem como efetuar clculos matemticos simples, era obrigatrio para se viver em

    harmonia e bem estar na sociedade, este cenrio mudou e as necessidades de qualificaes

    profissionais e acadmicas aumentaram consideravelmente. (Lyon, 1998)

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    40

    As pessoas tm de ser capazes de se adaptarem a diversos meios, desenvolvendo uma

    atitude flexvel, com conhecimentos generalistas, capazes de se formarem ao longo da vida de

    acordo com as suas necessidades e que dominem as Tecnologias da Informao e

    Comunicao (TIC). A sociedade exige da escola pessoas com uma formao ampla,

    especializada, com um esprito empreendedor e criativo, com o domnio de uma ou vrias

    lnguas estrangeiras, com grandes capacidades de resoluo de problemas (Martins, 1999;

    Matos, 2004).

    A sociedade atual est a transformar-se numa sociedade digital, com a crescente

    influncia da tecnologia do nosso quotidiano.

    2.2. TIC e o Ensino

    O presente captulo procura sintetizar marcos importantes sobre a utilizao das TIC

    na educao no panorama nacional, que se multiplicaram em anos recentes. uma temtica

    sobre a qual muito se escreveu, mas que porm escasseiam documentos sobre a especificidade

    que envolve a sua utilizao com alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE).

    Irei aqui relacionar a evoluo desta temtica evidenciando as implicaes para os

    alunos com e sem necessidades educativas especiais.

    Tal como em qualquer interveno em educao especial, o normal o fio

    orientador a partir do qual so realizadas as adaptaes necessrias para individualizar e

    acomodar as necessidades de cada aluno. Considerando o mbito do presente trabalho,

    afigura-se como pertinente a incluso de uma componente que ilustre as principais vantagens

    da utilizao das TIC na educao dita regular para, de seguida, se efetuar a transio para a

    educao de alunos com problemas de aprendizagem. Neste cenrio, importa caracterizar o

    momento atual da utilizao das Tecnologias na educao ao nvel do ensino pblico no

    superior, de onde efetivamente se destaca o Plano Tecnolgico para a Educao e a

    sustentao da modernizao tecnolgica da educao ainda em curso.

    incomensurvel a dimenso tecnolgica do mundo que habitamos, a qual no

    podemos ignorar, com ramificaes para quase todos os aspetos da vida quotidiana e,

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    41

    consequentemente, na educao. As crianas e jovens crescem hoje em ambientes altamente

    mediados pela tecnologia, principalmente a audiovisual e a digital (Sancho & Hernandz,

    2006). A televiso, o cinema, os videojogos e o computador conquistam, de forma especial, a

    ateno dos mais jovens que desenvolvem grande aptido para captar as suas mensagens

    (Sancho & Hernandz, 2006). Osrio e Valente (2006) acrescentam mesmo que as crianas

    so atradas pelas tecnologias de forma quase impulsiva.

    Todavia, e em sequncia, Osrio e Valente (2006) salientam que esse aspeto nem

    sempre aproveitado pela Escola para integrar outras aprendizagens, apesar dos alertas

    integradores de alguns investigadores do conhecimento.

    No panorama nacional discutem-se principalmente os novos papis da escola e do

    professor, as preocupaes e implicaes subjacentes a nvel de estratgias pedaggicas e

    formao dos agentes educativos na utilizao educativa das TIC. As iniciativas pblicas e

    privadas que visam a utilizao das TIC nas escolas, em Portugal, so j muito frequentes,

    com a sua gnese mais entusistica na dcada de 80 do sculo passado. Das iniciativas com

    maior impacto destacam-se o Projeto Minerva (Meios Informticos no Ensino:

    Racionalizao, Valorizao, Atualizao) (1985/1994), que constituiu a primeira iniciativa

    financiada pelo Ministrio da Educao que teve uma expresso nacional na introduo das

    novas tecnologias no ensino em Portugal.

    Atualmente, o Plano Tecnolgico para a Educao (PTE), igualmente sob a alada do

    Ministrio da Educao, ainda ativo, constitui o mais recente esforo para o desenvolvimento

    das competncias de alunos e professores e, pessoal no docentes das escolas.

    frequentemente mencionado que as tcnicas pedaggicas suportadas pelas TIC

    revolucionam a educao e proporcionam amplas oportunidades e potencialidades de

    inovao nas metodologias de ensino e de aprendizagem. Em 1997, Ponte, no seu estudo de

    aplicaes do computador em vrias instituies internacionais, refere:

    O computador, pela sua flexibilidade, presta-se a mltiplas funes e pode enriquecer o

    ensino de diversas maneiras. (Ponte 1997).

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    42

    A versatilidade, bem como, o conjunto extremamente diversificado de uso, afiguram

    se como caractersticas mais genunas da tecnologia, que justificam a argumentao de vrias

    perspetivas sobre ensino e aprendizagem de que o computador um aliado de valor

    inestimvel para a sua atuao (Sancho & Hernndez, 2006). Estes autores indicam que tanto

    as correntes behaviorista e neo-behaviorista que visualizam o computador como mquina de

    ensinar (programas de tutoria), bem como as correntes cognitivistas, que o visionam como

    metfora do crebro humano, vislumbram-no como ferramenta que transforma o que toca.

    possvel apontar vrias vantagens gerais e especficas que advm da utilizao do

    computador e parece ser j ponto assente da comunidade educativa internacional que Os

    benefcios e as vantagens de ensinar com as TIC so muitos. (Curriculum Online, 2008).

    A ACOT (Apple Classrooms of Tomorrow) desenvolveu um estudo por um perodo de

    10 anos, finalizado em 1998, que concluiu que a introduo de tecnologia na sala de aula pode

    aumentar significativamente o potencial para a aprendizagem, especialmente quando

    utilizada para apoiar o trabalho colaborativo, o acesso informao e a representao e a

    expresso de ideias e pensamentos dos alunos (Apple Computer, Inc., 1995). Recentemente,

    esta iniciativa foi repetida (ACOT) com o objetivo especfico de contribuir para a reforma

    educacional nos EUA, atravs da modernizao do ensino, aproximando as escolas da criao

    do tipo de ambiente de aprendizagem que a atual gerao de alunos espera e contribuindo para

    a sua permanncia na escola. O relatrio final de 2008 alerta para a obrigatoriedade de dotar

    os alunos com competncias que lhes permitam perseverar no mundo atual, ressalta o papel

    essencial da tecnologia na vida e trabalho do sculo XXI e, consequentemente, o papel que

    deve desempenhar na aprendizagem. Aceira os benefcios do uso da tecnologia na educao

    de todos os alunos, salienta que do acesso ubquo tecnologia advm vantagens tambm para

    os alunos com incapacidades pelas propriedades equalizadoras que permitem formas de

    conexo com o mundo nunca antes vistas (ACOT, 2008).

    Estudos realizados em 2006 pela European Schoolnet (Consrcio de 28 Ministrios de

    Educao Europeus) e o relatrio anual de 2007 da BECTA (British Agency for Educational

    Communication and Technology) vm reforar a perceo da irrefutabilidade das vantagens

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    43

    da utilizao das TIC no apoio aos processos de ensino e aprendizagem para todos os

    envolvidos (Becta, 2007a; Balanskat, Blamire & Kefala, 2006). A nvel nacional a

    implementao do Plano Tecnolgico da Educao reconhece os benefcios da utilizao das

    TIC na educao em geral e considera que:

    essencial valorizar e modernizar a escola, criar as condies fsicas que

    favoream o sucesso escolar dos alunos e consolidar o papel das tecnologias da informao e

    da comunicao (TIC) enquanto ferramenta bsica para aprender e ensinar nesta nova era.

    [] A integrao das TIC nos processos de ensino e de aprendizagem e nos sistemas de

    gesto da escola condio essencial para a construo da escola do futuro e para o sucesso

    escolar das novas geraes de Portugueses. (Resoluo do Conselho de Ministros n.

    137/2007) e almejava colocar Portugal entre os cinco pases europeus mais avanados na

    modernizao tecnolgica do ensino 2010 (Plano Tecnolgico da Educao, 2008).

    Um importante estudo do Department for Education Skills (DfES), de 2002, sobre

    sucesso educacional concluiu que as TIC esto positivamente associadas a melhorias na

    aprendizagem em reas diversas (Curriculum Online, 2008).

    Num primeiro aspeto, generaliza-se o fator motivacional. H relativamente pouco

    tempo, foi produzido um estudo nacional pelos Centros de Competncia Nnio da

    Universidades do Minho e de vora, e pela Faculdade de Cincias de Lisboa que demonstrou

    que as TIC podem auxiliar o desenvolvimento de competncias e melhorar a aprendizagem

    dos alunos, assim como possibilitar uma melhor integrao dos alunos na escola

    (Ministrioda Educao, 2002).

    Numa segunda viso deparamo-nos com a multiplicidade de caractersticas que a

    utilizao das TIC transporta: mltiplas fontes de informao, de vias de acesso informao,

    de representaes da informao, vrias formas de manipulao da informao e, ainda, vrias

    formas de enviar informao bem como a possibilidade de explorar ambientes diferentes de

    aprendizagem. Dentre esta multiplicidade vislumbra-se a capacidade que as TIC possuem

    para suprimir barreiras fsicas e geogrficas, permitindo a comunicao, a obteno de

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    44

    informao e aprendizagens que, longinquamente, se aproximam daqueles que veem nas TIC

    uma ponte para o conhecimento.

    Amante (2008) considera que difcil ignorar o contributo destes novos media para o

    enriquecimento dos contextos de aprendizagem, quer pela natureza dos programas utilizados,

    quer pelas possibilidades de acesso informao e comunicao disponveis atravs da

    Internet. que acarreta a utilizao das TIC por professores e principalmente pelos alunos,

    despertando interesses, incrementando a motivao para a descoberta e despoletando a

    curiosidade e nsia de obter conhecimento sobre o que possvel realizar com as ferramentas

    tecnolgicas de que atualmente dispomos.

    De facto, a BECTA (2007b) declara, acerca do impacto das TIC nas escolas, que

    avassaladora a mensagem passada por alunos e professores de que a introduo das TIC na

    sala de aula produziu desenvolvimentos positivos, motivando alunos e professores de igual

    modo e modificando as experincias de ensino e aprendizagem de ambos.

    Estas constataes, associadas flexibilidade permitida e maior possibilidade de

    escolhas e de reduo de esforo, permitem-nos atestar facilmente que quando se utilizam as

    TIC verifica-se para alm de um incremento da motivao, um maior envolvimento na

    aprendizagem e consequente satisfao que se repercutem na acelerao da aprendizagem,

    bem como num progresso mais evidente (BECTA, 2008).

    Os professores portugueses referem, frequentemente, o carcter apelativo das TIC para

    auxiliar a aprendizagem, assim como as potencialidades disciplinadoras demonstram um

    aumento mais veloz nos resultados de desempenho que as escolas com nveis inferiores das

    TIC, na medida que focalizam a ateno do aluno e permitem, por exemplo, a utilizao dos

    clebres quadros interativos, possibilitando que o professor se encontre mais fisicamente

    direcionado para a turma que leciona.

    Segundo Palloff e Pratt (1999), citados por Carvalho (s.d) as novas tecnologias podem

    enriquecer o ato pedaggico favorecendo uma interatividade efetiva entre os agentes do

    processo: alunos e professores.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    45

    As vantagens de se associar as TIC educao no se esgotam com a sua implicao

    direta no processo presencial de ensino e aprendizagem e so tambm conhecidas vantagens a

    nvel do apoio administrativo (gesto curricular) e da planificao de contedos para a sala de

    aula. Neste ponto importante aferir, nas palavras de Erstad (2009), a dimenso holstica da

    integrao das TIC na escola, no s no processo de ensino e aprendizagem, bem como na

    estrutura envolvente, a componente organizacional, ao nvel superior ao da sala de aula e do

    docente, evidencia ter um papel relevante no valor que as TIC podero acrescentar na

    educao. , portanto, um dado adquirido que os ganhos da integrao das TIC na escola no

    devem apenas ser procurados e considerados individualmente nas atividades letivas dos

    docentes mas tambm na vida da prpria organizao (Carneiro, Melo, Lopes, Lis &

    Carvalho, 2010).

    O governo britnico, atravs do seu site oficial gerido pela BECTA, sintetiza, numa

    smula de pesquisas, cinco razes para a utilizao das TIC (Curriculum Online, 2008)

    referindo que:

    - As TIC constituem uma ferramenta atual e futura de trabalho. O ensino apoiado pelas TIC,

    alm de uma mais-valia na aprendizagem, prepara o aluno para um posto de trabalho j

    dominado pelo computador, onde a tecnologia j uma realidade do presente.

    - A incorporao das TIC e de recursos multimdia nas atividades de sala de aula apresenta-se

    como ferramenta de eleio para captar os alunos para aprendizagem pela banalizao da sua

    utilizao nos restantes contextos da sua vida.

    As TIC auxiliam os profissionais da educao, providenciando oportunidades para injetar

    nova paixo nos contedos, adotar abordagens frescas (inexploradas) em materiais j

    conhecidos e para desenvolver novas competncias para expandir o seu prprio potencial de

    carreira.

    A utilizao das TIC permite economizar tempo e energia. Num inqurito realizado por

    esta organizao governamental s escolas pblicas em 2003, a maioria declara que as TIC

    ajudam a reduzir a carga do trabalho dos professores em termos de preparao de aulas,

    planeamento e avaliao.

    As TIC possuem uma componente ldica para a maioria dos utilizadores.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    46

    2.3. TIC e NEE

    frequentemente advogado que, da utilizao das TIC, advm benefcios no processo

    de ensino-aprendizagem, no s pela disponibilidade de novos meios de transmisso de

    conhecimentos, mas tambm pela carga motivacional que despoleta nos jovens da atualidade,

    que vivem assoberbados com inovaes tecnolgicas. Com efeito, so j numerosos os

    estudos de mbito europeu e internacional que comprovam os benefcios da associao de

    tecnologia e educao, com provas concludentes de melhorias ao nvel do desempenho e

    participao. Nesta conjuntura relevante a afirmao de Florian e Hegarty Technology can

    be used to overcome barriers to learning for all learners, but particularly those with

    disabilities, wherever that learning takes place.(Florian & Hegarty, 2004, p. 6)

    A nvel internacional tem sido amplamente discutida a utilizao de tecnologias e o

    apoio aos processos de ensino e de aprendizagem dos alunos com necessidades educativas

    especiais (Almeida, 2006).

    Almeida (2006), numa reviso de estudos internacionais, referencia ainda que

    possibilidades de adaptao e configurao de atividades, tarefas e nveis de dificuldade,

    associada elevada motivao de alunos com NEE no contacto com este tipo de ferramentas e

    s possibilidades de fornecimento de feedback tm contribudo para um aumento significativo

    de propostas, projetos e estudos nesta rea.

    Se assumido que as TIC transportam uma amlgama de benefcios para os alunos do

    ensino regular, em Portugal ainda se percorrem caminhos algo imaturos quanto ao seu

    potencial como instrumento pedaggico e/ou tecnologia de apoio individual do aluno com

    Necessidades Educativas Especiais.

    A incluso surge como uma obrigatoriedade para se atingir a igualdade de

    oportunidades e a equidade educativa, para que para todos os alunos tenham acesso a um

    ensino de qualidade que lhes permita a obteno de melhores resultados possveis para assim

    desenvolverem competncias que lhes permitam a vivncia plena da cidadania.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    47

    Neste mbito, as TIC que se encontram contempladas na atual legislao de educao

    especial assumem-se como ferramentas de elevado potencial para a consecuo dos

    propsitos pretendidos, revelando-se capacitadoras e permitindo no s o derrube de barreiras

    de acesso s prprias tecnologias e contedos disciplinares, como tambm o combate s

    dificuldades daqueles alunos que no conseguem acompanhar os mtodos tradicionais de

    ensino. Se, para alguns alunos, constituem novas formas de acesso informao e construo

    de conhecimento, para outros afiguram-se como a nica forma de aceder aos contedos e

    concretizar uma participao ativa no seu processo individual de aprendizagem.

    As TIC ajudam a equilibrar a balana entre competncias e deficincia, assumindo-se

    com um utenslio ao servio da equidade. Lewis (1999) refere mesmo que a tecnologia da

    educao especial , em muitos aspetos uma fora de equalizao, uma maneira de contornar

    deficincia e permitir o acesso s atividades que as pessoas sem deficincia tomam por

    garantido.

    A heterogeneidade dos alunos caracteriza a escola inclusiva e, perante uma

    diversidade de caractersticas, observa-se que as experincias de aprendizagem e a capacidade

    de resolver problemas dos alunos so diferenciadas e que, portanto, necessitam de desafios

    diferentes. As TIC providenciam formas de criar novos desafios de aprendizagem ajustados s

    necessidades especficas de cada aluno. Esta diversidade de caractersticas com utilizao das

    TIC em resposta s mesmas funciona em prole de qualquer aluno: possibilitando a

    transferncia das iniciativas TIC para o ensino regular; permitindo melhorar a anlise

    contnua e adaptar os desafios na escola para as necessidades particulares de cada aluno; e

    permitindo aumentar o nmero de alunos que frequentam a escola regular (Andresen, 2004).

    Todavia, a implementao das TIC como suporte aos alunos com NEE,

    desconstruindo e permitindo a transposio de barreiras e dificuldades, seja como Tecnologia

    de Apoio/Produtos de Apoio ou como instrumento pedaggico, necessitam de profissionais

    cientes das potencialidades e limitaes inerentes e, sobretudo, instrudos e dinmicos, para

    que uma ferramenta que se pretende de incluso no se torne fator de excluso.

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    48

    Em jeito de concluso, e de uma forma sintetizada e generalizada, constata-se que as

    TIC podem auxiliar o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos com NEE

    (Sparrowhawk & Heald, 2007):

    - Incrementando a motivao;

    - Possibilitando ou Facilitando/Melhorando o acesso;

    - Melhorando o desempenho e aumentando expectativas;

    - Facilitando a diferenciao;

    - Providenciando alternativas;

    - Promovendo o envolvimento com o mundo real;

    - Facilitando o acompanhamento e avaliao pelo professor;

    - Apoiando o trabalho administrativo;

    - Suportando a ligao com o lar e a comunidade.

    2.4. As TIC / Incluso

    Uma escola que pretenda a incorporao plena de alunos com NEE, portanto, uma

    escola inclusiva, deve reconhecer e satisfazer as necessidades particulares dos alunos,

    adaptando-se a diferentes ritmos de aprendizagem, s experincias e inter-relao do

    indivduo com o meio, atravs de adaptaes curriculares, de estratgias pedaggicas

    diversificadas e de uma boa organizao escolar (Santos, 2006). Deve procurar a igualdade de

    oportunidades, minimizando as incapacidades para que o aluno com NEE possa efetuar um

    percurso escolar e social o menos restritivo possvel, como preconiza a Declarao de

    Salamanca de 1994, da Unesco.

    Santos (2006), citando Fonseca (1984), salienta que fundamental fornecer s

    crianas com NEE uma interveno educativa especializada, assim como meios e cuidados, os

    professores precisam de recursos que os possam ajudar a compensar as situaes

    desfavorveis dos seus alunos. As TIC revelam-se, assim, um instrumento poderoso, na

  • O IMPACTO DAS TIC NO SUCESSO EDUCATIVO DE CRIANAS COM AUTISMO

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    medida em que podero diminuir as incapacidades e desvantagens dos alunos com NEE,

    promovendo a integrao escolar e social (Santos, 2006).

    Nos alunos com problemas mais severos, possuidores de uma deficincia redutora de

    funcionalidade, as TIC podem atuar como orttese ou prtese, ou seja, como uma tecnologia

    de apoio individual (Produto de Apoio) no sentido de compensar ou substituir a funo que se

    encontra afetada, que poder ser sensorial, motora ou intelectual.

    No entanto, a aplicabilidade das TIC no Ensino Especial no se esgota na funo de

    Ajuda Tcnica, substituindo ou compensando funes. Tal como no ensino regular, e talvez

    ainda com maior relevo, as TIC assumem-se como um instrumento importante ao servio do

    professor e do aluno para ultrapassar barreiras e facilitar a aquisio de competncias.

    Florian (2004) apresenta um espectro do uso pedaggico das TIC com alunos com

    NEE onde se vislumbram as diferentes abordagens que propiciam diferentes oportunidades e

    desafios que vo desde tutoria, explorao e comunicao, bem como ferramentas de apoio

    aprendizagem (ex. processador de texto). Santos (2006), menciona que a utilizao das TIC,

    permite e potencia a existncia de novas perspetivas na educao inclusiva.

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