65
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465 Porto PORTUGAL VoIP/SIP: [email protected] ISN: 3599*654 Telefone: +351 22 508 14 00 Fax: +351 22 508 14 40 URL: http://www.fe.up.pt Correio Electrónico: [email protected] MESTRADO EM ENGENHARIA SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAIS Tese apresentada para obtenção do grau de Mestre Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE DOS TEMPOS DE EVACUAÇÃO Natacha Filipa do Monte Moreira da Rocha Beleza Orientador: Professor João Manuel Abreu Santos Baptista. (FEUP) Coorientador: Professora Aura Maria F. Sena Rua Soares Albergaria. (FEUP) Arguente: Professora Maria Fernanda da Silva Rodrigues. (UAveiro) Presidente do Júri: Professor Miguel Fernando Tato Diogo. (FEUP) __________ 2011/2012

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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465 Porto PORTUGAL

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Telefone: +351 22 508 14 00 Fax: +351 22 508 14 40

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MESTRADO EM ENGENHARIA

SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAIS

Tese apresentada para obtenção do grau de Mestre

Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE DOS

TEMPOS DE EVACUAÇÃO

Natacha Filipa do Monte Moreira da Rocha Beleza

Orientador: Professor João Manuel Abreu Santos Baptista. (FEUP)

Coorientador: Professora Aura Maria F. Sena Rua Soares Albergaria. (FEUP)

Arguente: Professora Maria Fernanda da Silva Rodrigues. (UAveiro)

Presidente do Júri: Professor Miguel Fernando Tato Diogo. (FEUP) __________

2011/2012

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

i

AGRADECIMENTOS

Começo por agradecer ao Prof. João Manuel Baptista e à Prof. Aura Maria Rua Albergaria

pela partilha de ideias e grande apoio na elaboração deste trabalho.

Agradeço também a disponibilidade e todos os recursos que me foram facultados pelos

administradores da empresa alvo de estudo, nomeadamente, Dr. Vasco SC e Dr.ª Joana SC.

Por último, mas não menos importantes, um enorme “Muito obrigada” aos meus pais por

tomarem conta do neto e partilharem os seus minutos educando-o e acarinhando-o de

forma que a ausência da mãe não fosse tão sentida.

Simplesmente “Obrigada Rodrigo!”, pelo carinho que deste à mãe nos seus momentos

mais agitados.

A todos o meu “Muito Obrigada”.

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

iii

RESUMO

A crescente preocupação relativa às condições de higiene e segurança nos locais de

trabalho tem influenciado positivamente a legislação que a regula e, em particular, em

matéria de Segurança Contra Incêndios em Edifícios (SCIE).

No entanto, apesar do esforço normativo e das consequências humanas, ambientais e

económicas que um incêndio pode representar, o cumprimento da legislação em Portugal

apresenta lacunas de efetividade. Por outro lado, baseada em fundamentos prescritivos, os

normativos não têm em conta informação prática ou mesmo informação suportada por

modelos computacionais, já adotados em vários países no mundo, que facilitem uma maior

adesão das organizações ao seu cumprimento.

O principal objetivo deste trabalho é o de avaliar a sensibilidade dos tempos de evacuação

numa empresa serigráfica.

A abordagem metodológica baseou-se, numa primeira análise, num estudo mais

aprofundado do tema através de literatura científica demonstrativa do avanço verificado

em matéria de Segurança Contra Incêndios por todo o Mundo e respetivas medidas de

melhoria que promovem o aumento da segurança de pessoas, ambiente e património.

Em seguida avaliou-se um programa de simulação de incêndio de forma a permitir a

comparação com os diferentes tempos obtidos através do cálculo e no próprio terreno.

Dos resultados obtidos depreendeu-se que um intervalo de 0.5 s na saída de cada ocupante,

em nada influencia o tempo de evacuação. No entanto, se esse intervalo aumentar para 1.0

s, a saída segura das pessoas pode ser comprometida se todos os ocupantes optarem por

sair pelo mesmo local de evacuação.

A situação de congestionamento poderá tornar-se mais problemática devido ao

congestionamento das portas de saída durante as campanhas de Stand-Ups/Antenas.

Os tempos de evacuação calculados através da equação da Corporação de Bombeiros de

Coimbra apresentam lacunas, acabando por originar valores incomparavelmente superiores

aos tempos de evacuação verificados no terreno.

Em suma, programas com a funcionalidade do FDS são fundamentais para apelar a

construções seguras num futuro próximo.

Procurando garantir a segurança de pessoas, ambiente e património, as propostas de

melhoria centraram-se na necessidade de dotar a legislação bastante prescritiva em algo

mais prático e de melhor compreensão.

Palavras-chave: evacuação, simuladores de evacuação e incêndios industriais.

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

v

ABSTRACT

The growing concern regarding safety at work has positively influenced the legislation that

regulates Fire Safety in Buildings.

On the other hand despite the normative effort and the human consequences and economic

effects that can pose a fire the enforcement in Portugal have effectiveness gaps.

Furthermore, it is based on prescriptive foundations that do not take into account practical

information or even information supported by computational models. These models were

already adopted in several countries around the world to facilitate greater adherence to

their compliance organizations.

This study evaluates the evacuation time sensitivity of a silkscreen company. On an initial

analysis it was read some scientific articles that demonstrate the advance in this theme and

the respective improvement measures that promote peoples safety. Then it was evaluated a

fire simulation program that allowed a comparison between the different times obtained:

manual calculating and field results.

From the results obtained it appears that a delay of 0.5s does not influence the output

evacuation time. However if this delay is 1.0s people safe exit may be influenced if all

occupants choose the same emergency exit. The most problematic situation may appear in

the Stand-Ups campaigns due to congestion of the output ports. The evacuation times

calculated with the Coimbra Fire Corporation equation have gaps and it may lead to

incredibly higher values than the evacuation times studied in the field. In short programs

with FDS functionality are essential to appeal to secure buildings in a near future.

Looking forward to ensure peoples safety the proposals for improvement are focused on

the need to provide the very prescriptive legislation into something more practical and with

better understanding.

Keywords: evacuation, models and industrial fires

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

vii

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

2 ESTADO DA ARTE ...................................................................................................... 7

2.1 Referenciais Técnicos ............................................................................................. 7

2.2 Enquadramento Legal e Normativo ........................................................................ 7

2.2.1 Legislação ........................................................................................................ 7

2.2.2 Normas Técnicas ........................................................................................... 12

2.3 Conhecimento Científico ...................................................................................... 13

2.3.1 FDS+Evac ...................................................................................................... 14

2.3.2 EvacuatioNZ .................................................................................................. 14

2.3.3 Simulex .......................................................................................................... 15

2.3.4 Tempos de evacuação e fatores influenciadores............................................ 16

2.3.5 Modelo comportamental de resposta a um incêndio ..................................... 17

2.3.6 Fatores que influenciam a perceção e interpretação de sinais de incêndio ... 19

2.3.7 Fatores que influenciam a interpretação da situação e do risco .................... 20

2.3.8 Integração de aspetos comportamentais nos modelos de simulação ............. 20

2.3.9 Contributo dos planos de contingência .......................................................... 22

2.3.10 Modelo representativo da auto-motivação .................................................... 23

3 OBJETIVOS E METODOLOGIA ............................................................................... 27

3.1 Objetivos da Tese .................................................................................................. 27

3.2 Metodologia Global de Abordagem ..................................................................... 27

3.3 Materiais e Métodos .............................................................................................. 28

4 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS ................................................................ 29

4.1 Caracterização do edifício..................................................................................... 29

4.2 Modelo CSBC do cálculo do tempo de evacuação ............................................... 31

4.2.1 Tempos de evacuação (Te) e tempos de deslocação (Te´) ............................ 32

4.3 Atrasos no escoamento à saída ............................................................................. 35

4.4 Sensibilidade dos tempos de evacuação ............................................................... 38

4.5 Simulação de incêndio .......................................................................................... 39

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................................ 41

6 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 43

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7 PERSPETIVAS FUTURAS ......................................................................................... 45

8 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 47

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

ix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - N.º de incêndios industriais .................................................................................. 1

Figura 2 – Valor despendido em segurança eletrónica no retalho ......................................... 3

Figura 3 – Distribuição do volume de vendas por produto em 2007 (milhares de €) ........... 4

Figura 4 – Distribuição do volume de vendas de SADI em 2007 (milhares de €) ................ 4

Figura 5 – Processo comportamental dos ocupantes em resposta a um incêndio ............... 18

Figura 6 – Processamento de dados segundo o método AFESM ........................................ 25

Figura 7 – Representação da análise feita por Tang e Ren (2008) ...................................... 25

Figura 8 – Área envolvente ao edifício ............................................................................... 30

Figura 9 – Piso inferior do edifício ...................................................................................... 34

Figura 10 - Piso superior do edifício ................................................................................... 35

Figura 11 – Tempos de evacuação no Cais durante a laboração normal ............................. 36

Figura 12 – Tempos de evacuação no Cais durante as campanhas de Stand-Ups/Antenas 36

Figura 13 – Tempos de evacuação no Cais durante uma campanha de Dicionários ........... 37

Figura 14 - Tempos de evacuação no Cais durante uma campanha de Galhardetes ........... 37

Figura 15 – Tempos de evacuação pela zona do Tapete Pannon numa campanha de Stand-

Ups ....................................................................................................................................... 38

Figura 16 – Sensibilidade dos tempos de evacuação no Tapete Pannon (campanha de

Stand-Ups) ........................................................................................................................... 39

Figura 17 – Visualização do piso 0 da nave industrial no programa de simulação ............. 40

Figura 18 – Taxa de queima durante o incêndio simulado .................................................. 40

Figura 19 – Sensibilidade dos tempos de evacuação à saída do Tapete Pannon ................. 42

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xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplo de alguns incêndios ocorridos no setor industrial ................................ 2

Tabela 2 – Acidentes de Trabalho em 2008 .......................................................................... 3

Tabela 3 – Diplomas relevantes no âmbito da emergência ................................................... 8

Tabela 4 – Medidas de autoproteção exigíveis .................................................................... 11

Tabela 5 – Normativos de emergência ................................................................................ 12

Tabela 6 – Resumo de alguns modelos de evacuação ......................................................... 16

Tabela 7 - Fatores que influenciam a fase 1 e 2 do processo comportamental ................... 19

Tabela 8 – Caracterização das condições laborais............................................................... 29

Tabela 9 - Definição das variáveis da fórmula de cálculo do tempo de evacuação ............ 32

Tabela 10 - Ajuste da definição das variáveis do cálculo de tempo de evacuação ............. 32

Tabela 11 - Resultado dos cálculos do Tempo de Evacuação (Te) ..................................... 33

Tabela 12 - Resultado dos tempos reais de deslocação até uma das saídas de evacuação .. 33

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xiii

GLOSSÁRIO

Categoria de risco «a classificação em quatro níveis de risco de incêndio de

qualquer utilização-piso de um edifício e recinto, atendendo a diversos fatores de

risco, a carga de incêndio e a existência de pisos abaixo do plano de referência»

(alínea e) do art.º 2 do Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de novembro).

Local de risco C qualquer área de um edifício ou recinto, em função da

natureza do risco de incêndio, com exceção dos espaços interiores de cada fogo, e

das vias horizontais e verticais de evacuação, que apresenta riscos agravados de

eclosão e desenvolvimento de incêndio (art.º 10 do Decreto-Lei n.º 220/2008 de 29

de dezembro).

Utilização-tipo XII «edifícios, partes de edifícios ou recintos ao ar livre, não

recebendo habitualmente público, destinados ao exercício de atividades industriais

ou ao armazenamento de materiais, substâncias, produtos ou equipamentos,

oficinas de reparação e todos os serviços auxiliares ou complementares destas

atividades» (alínea m) do n.º 1 do art.º 8 do Decreto-Lei n.º 220/2008 de 12 de novembro)

SIGLAS

ANPC – Autoridade Nacional da Proteção Civil

DL – Decreto-Lei

DR – Diário da República

P - Portaria

PR – Plano de Referência

RJ-SCIE – Regime Jurídico de Segurança Contra Incêndios

RJUE – Regime Jurídico da Urbanização e Edificação

RT-SCIE – Regulamento Técnico de Segurança Contra Incêndios

SCIE – Segurança Contra Incêndio em Edifícios

UP – Unidade de Passagem

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 1

1 INTRODUÇÃO

Com o presente trabalho pretende-se apresentar propostas de operacionalização da legislação no

âmbito da emergência com vista a facilitar a elaboração de medidas a nível industrial no sentido

de asseverar e aumentar a segurança das instalações e a salvaguarda de pessoas e bens.

A evacuação segura das pessoas e a garantia que o ambiente e o património não sejam

minimamente afetados são de extrema importância, razão porque é notória a obrigação do

empregador perante situações que possam vir a transformar-se em situações de emergência (Lei

102/2009, de 10 de setembro).

As estatísticas referentes a situações de emergência em Portugal são muito reduzidas, embora

através dos meios de comunicação seja transmitida, de vez em quando, uma ou outra situação de

incêndio industrial. A difusão das notícias, não dá porém origem a registo oficial relativo ao

facto de ter sido, ou não, despoletado o Plano de Segurança da organização, o que poderá levar a

crer que muito se necessita ainda de caminhar no sentido de tais medidas de autoproteção serem

implementadas.

Na indústria gráfica, por exemplo, não há conhecimento de qualquer registo de simulacro.

Os dados disponibilizados no sítio de Segurança Online, que tiveram como fonte o Relatório

Anual de Segurança Interna de 2010, constantes da figura 1, permitem conhecer a evolução

registada no período de 2008 a 20101.

Figura 1 - N.º de incêndios industriais

Segundo Vítor Primo (2010) não houve registos de mortos em incêndios industriais de 1996 a

2006, sendo a percentagem média de feridos de 3%2,3. No entanto, em 2012 existe já o registo de

um morto resultante do incêndio na fábrica de tintas TSL em Fiães, Santa Maria da Feira4.

Devido à intensidade do fogo e das explosões, os bombeiros foram obrigados a proceder à

evacuação das habitações da zona envolvente. Este incêndio destruiu por completo as instalações

1 http://www.segurancaonline.com/gca/?id=880 (consultado em 03/05/2012)

2 http://www.portoxxi.com/jornal/ver_artigo.php?id=2412 (consultado em 24/10/2011)

3http://pt.scribd.com/doc/39265320/A-Seguranca-Contra-Incendios-em-Estabelecimentos-Industriais-Eng-

%C2%BA-Vitor-Primo-ANPC (consultado em 24/10/2011) 4http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Aveiro&Concelho=Santa%20Maria%20da%20Feira&

Option=Interior&content_id=2390468 (consultado em 28/03/2012)

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

2 Introdução

da empresa e segundo declarações do proprietário, julga-se que a origem do fogo tenha sido a

transfega de uma substância.

Para além deste grande incêndio, foram também reportados dois outros de grandes dimensões

que abalaram as empresas Zêzerovo e Nutriaves, de Ferreira do Zêzere e Óbidos,

respetivamente. Na origem destes pensa-se ter havido um curto-circuito tendo-se verificado, em

ambos, a destruição total de um dos armazéns56

.

No setor gráfico há a registar um incêndio, no ano de 2003, que destruiu na totalidade a

instalação fabril da gráfica Adi em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia7.

Através da comunicação social podem ser recordados outros registos por consulta à tabela 1.

Tabela 1 – Exemplo de alguns incêndios ocorridos no setor industrial

Ano Empresa Local Informação complementar

2012 TSL Tintas Santa Maria da Feira Origem na transfega de substância química;

Destruição total das instalações.

2012 Zêzerovo Ferreira do Zêzere Origem num curto-circuito;

Incêndio matou 150000 galinhas e destruiu cerca de 300000 ovos.

2012 Nutriaves Óbidos Origem num curto-circuito;

Destruição total do principal pavilhão de laboração do matadouro.

2011 Sicasal89 Vila Franca do Rosário Origem num curto-circuito numa sala de embalamento;

Fogo danificou zona de produção.

2011 Discoteca

Vogue10 Zona Industrial do Porto

Perda total do espaço declarada por fonte da PSP;

Afetação de edifícios contíguos pelo fumo intenso.

2007 Stone11 Zona Industrial da Maia Afetação do setor automóvel europeu;

120 Trabalhadores com futuro incerto.

Nunca será demais referir o violento incêndio deflagrado em Lisboa a 25 de Agosto de 1988.

Embora a origem tenha sido na Rua do Carmo, as chamas propagaram-se até à Rua Garrett.

Os armazéns do Chiado, a Jerónimo Martins entre outras lojas e escritórios, alguns destes

centenários, desapareceram com as chamas. Dezoito edifícios do século XVIII ficaram

completamente destruídos e cerca de 2000 pessoas perderam os seus postos de trabalho. O

combate ao incêndio envolveu entre 1150 a 1700 bombeiros e 275 viaturas. As temperaturas

chegaram a atingir os 1500 a 1700ºC e os bombeiros demoraram 12:30 horas a circunscrever o

incêndio, tendo a fase de rescaldo durado 11 dias. Infelizmente registou-se a perda de duas vidas

humanas, um bombeiro e um civil, além de 73 feridos, a maioria bombeiros. As causas para

tamanho incêndio continuam por apurar12

,13

.

5http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Leiria&Concelho=%D3bidos&Option=Interior&conten

t_id=2344143 (consultado em 05/03/2012) 6 http://www.radiocondestavel.pt/site/index.php?option=com_content&task=view&id=5818&Itemid=31 (consultado

em 02/04/2012) 7 http://fotos.sapo.pt/lusa/ZSDyB4z83BfKpuJz2bRS?a=44 (consultado em 24/10/2011)

8 http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=2123549 (consultado em 15/11/2011)

9http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Lisboa&Concelho=Mafra&Option=Interior&content_id

=2126422 (consultado em 16/11/2011) 10

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/incendio-discoteca-porto-tvi24pt-ultimas-noticias-vogue/1292145-4071.html

(consultado em 24/10/2011) 11

http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=672531 (consultado em 24/10/2011) 12

http://casadotinoni.blogspot.com/2007/08/o-incndio-do-chiado.html (consultado em 24/10/2011)

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 3

Dos acidentes de trabalho ocorridos em 2008 e constantes no sítio da Segurança Online14

que

tiveram como fonte o Ministério do Trabalho e da Segurança Social (MTSS), será de destacar os

que tiverem origem em problemas elétricos, explosão e incêndio representando cerca de 0.4% do

total e mais de 4% dos acidentes mortais conforme pode ser verificado na tabela 2.

Tabela 2 – Acidentes de Trabalho em 2008

Acidentes de Trabalho segundo o desvio de 2008

Desvio Total Não mortais Mortais

v.a. % v.a. %

Perda total/parcial controlo de máquina, meio de

transporte/equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto, animal 69102 68992 29.5 110 49.1

Movimentação do corpo sujeito a constrangimento físico (conduzindo

geralmente a lesão interna) 63430 63429 27.2 1 0.4

Escorregamento ou hesitação com queda, queda de pessoa 40653 40607 17.4 46 20.5

Transbordo, derrubamento, fuga, escoamento, vaporização, emissão 23620 23618 10.1 2 0.9

Movimentação do corpo não sujeita a constrangimento físico

(conduzindo geralmente a lesão externa) 23040 23030 9.9 10 4.5

Rutura, arrombamento, queda, rebentamento, resvalamento,

desmoronamento de agente material 10602 10567 4.5 35 15.6

Nenhuma informação 6213 6206 - 7 -

Surpresa, susto, violência, agressão, ameaça, presença 1690 1680 0.7 10 4.5

Problema elétrico, explosão, incêndio 893 883 0.4 10 4.5

Outro desvio não referido nesta classificação 775 775 0.3 0 0

TOTAL 240018 239787 - 231 -

Recordar estes acontecimentos permite compreender a importância da prevenção e da vigilância

sendo de registar a crescente consciencialização em Portugal, das entidades públicas e privadas,

em matéria de proteção das instalações contra as mais variadas exposições como indicia o estudo

desenvolvido pela APSEI, Associação Portuguesa de Segurança (Eletrónica e de Proteção Contra

Incêndio). Comprovativo do investimento efetuado encontra-se o setor do retalho assinalado na

figura 215

. Acresce que os equipamentos elétricos e eletrónicos representam uma fatia

considerável do volume de vendas já em 2007, sendo de realçar a particular preocupação das

organizações no sentido da aquisição dos sistemas automáticos de deteção de incêndio e sistemas

de evacuação por voz, figura 3.

Figura 2 – Valor despendido em segurança eletrónica no retalho

13http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=360365&tema=27 (consultado em

24/10/2011) 14

http://www.segurancaonline.com/gca/?id=903 (consultado em 03/04/2012) 15

http://www.segurancaonline.com/gca/?id=885 (consultado em 03/04/2012)

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

4 Introdução

Em termos de equipamentos, os que têm maior comercialização são os detetores de aspiração, os

detetores de fumo e os detetores de chama. Mais tímidas têm sido as vendas das centrais

analógicas e dos detetores de incêndio autónomos conforme se encontra evidenciado na figura 4.

Figura 3 – Distribuição do volume de vendas por produto em 2007 (milhares de €)

Uma análise pormenorizada ao volume de vendas dos acessórios que compõem o Sistema de

Alarme e Deteção de Incêndios é demonstrada na figura 4. Atualmente, o valor de mercado das

centrais de deteção de incêndio ronda os 160€; os detetores óticos de fumo ou os

termovelocimétricos, 14 €, e os botões de alarme, 13€, entre outros equipamentos. Por outro

lado, a opção entre um sistema endereçável poderá ser cerca de 3000€ mais dispendiosa que a do

sistema convencional apesar das suas claras diferenças e vantagens principalmente se se tratar de

um edifício com várias assoalhadas ou setores.

Figura 4 – Distribuição do volume de vendas de SADI em 2007 (milhares de €)

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 5

Mediante tal informação, é fundamental garantir a reunião de condições de segurança e saúde no

trabalho em todos os estabelecimentos, industriais ou outros, bem como a sua aplicação por parte

de todos. Nesse sentido, os artigos 15º e 17º da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, refletem as

obrigações tanto do empregador como do trabalhador em situação de perigo grave e iminente,

respetivamente. No quadro da Segurança Contra Incêndios, o cumprimento destes requisitos só

será porém possível com a adoção de ações de informação e formação e de treino, ou seja, da

necessária participação, previstas quer naquela Lei (art.º 19 e 20) quer no Decreto-Lei n.º

220/2008, de 12 de novembro (medidas de autoproteção definidas no art.º 21).

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 7

2 ESTADO DA ARTE

2.1 Referenciais Técnicos

A indústria gráfica utiliza as mais distintas matérias-primas. Desde o papel ao autocolante,

do plástico até ao tecido passando pelos mais diversos agentes químicos usados no

processo de impressão tais como tintas, colas e diluentes, entre muitos outros. A natureza

do processo produtivo e a utilização de algumas substâncias químicas inflamáveis torna

esta indústria suscetível ao incêndio.

No sentido de ultrapassar este problema, o Plano de Segurança revela as medidas de

autoproteção exigidas para a utilização-tipo e categoria de risco do estabelecimento que

automaticamente traduzem um aumento de segurança quanto à vida dos trabalhadores e

danos na sua saúde, no meio ambiente, bem como a eventuais prejuízos à própria empresa.

As medidas de autoproteção que visam a organização e gestão da segurança contra

incêndios passam pela implementação de um conjunto de documentos, procedimentos e

formação: registos de segurança, procedimentos de prevenção ou plano de prevenção,

plano de emergência interno ou procedimentos de emergência, ações de sensibilização e

formação e realização de simulacros.

Aquelas medidas constituem assim um forte pilar em caso de necessidade de resposta a

uma emergência, devendo ser criadas com o intuito, de responder a uma multiplicidade de

riscos (tecnológicos, naturais e sociais) e, fundamentalmente para proteger a vida de

pessoas e bens.

2.2 Enquadramento Legal e Normativo

Neste ponto irão ser abordados os diplomas legais e as normas técnicas aplicáveis ao

planeamento da emergência na indústria, em particular, numa empresa gráfica.

2.2.1 Legislação

São vários os diplomas que abordam o tema da Segurança Contra Incêndios em Edifícios,

conforme pode ser verificado na tabela 3.

O quadro normativo é, no entanto, mais denso, como decorrerá do exposto seguidamente.

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

8 Estado da arte

Tabela 3 – Diplomas relevantes no âmbito da emergência

Designação Legislação Artigo/

Anexo Conteudo

Regime Jurídico da

Promoção da

Segurança e Saúde

no Trabalho

Lei n.º 102/2009

Art.º 15 Obrigações gerais do empregador

Art.º 17 Obrigações do trabalhador

Art.º 19 Informação dos trabalhadores

Art.º 20 Formação dos trabalhadores

Art.º 75 Primeiros socorros, combate a incêndios e

evacuação de trabalhadores

Regime de Exercício

da Atividade

Industrial

DL 209/2008

Art.º 1 Objeto

Art.º 6º Segurança, prevenção e controlo de riscos

Art.º 18º Articulação com o RJUE

Anexo IV

Requisitos formais e elementos instrutórios do

pedido de autorização, da declaração prévia e

do registo de pedido de regularização

Regulamento Geral

de Segurança e

Higiene do Trabalho

nos

Estabelecimentos

Industriais

P 53/71,alterada pela P 702/80

Art.º 30 Meios de combate a incêndio

Art.º 31 Sistemas de alarme e de extinção automática

Art.º 32 Arrecadação de substâncias explosivas

Art.º 33 Armazenagem de líquidos inflamáveis com

ponto de inflamação inferior a 21ºC

Art.º 34 Armazenagem de gases comprimidos

Art.º 35 Armazenagem de sólidos inflamáveis

Art.º 37 Proibição de fumar e foguear

Art.º 38 Remoção de residues

Art.º 39 Proteção contra o raio

Regime Jurídico de

Segurança Contra

Incêndios em

Edifícios

DL 220/2008

Art.º 4 Princípios gerais

Art.º 6º Responsabilidades

Art.º 7º Responsabilidades pelas condições exteriores

Art.º 8 Utilizações-tipo de edifícios e recintos

Art.º 10 Local de risco

Art.º 12 Categorias e fatores de risco

Art.º 13 Classificação do risco

Art.º 14º Perigosidade atípica

Art.º 17º Operações urbanísticas

Art.º 19º Inspeções

Art.º 21 Medidas de autoproteção

Art.º 22º Implementação de medidas de proteção

Regulamento

Técnico de SCIE P 1532/2008

Art.º 193

a 207 Condições gerais de autoproteção

Estabelece a Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, Regime Jurídico da Promoção da

Segurança e Saúde no Trabalho, de entre as obrigações do empregador (n.º 9 do art.º 15)

que este deve adotar medidas e dar instruções adequadas ao trabalhador, em caso de perigo

grave e iminente. Para o efeito estipula a obrigatoriedade de instituição de serviços

mínimos de segurança, independentemente da modalidade de serviços de segurança e

saúde escolhida, que assegure as atividades de primeiros socorros, de combate a incêndios

e de evacuação das instalações (n.º 1 do art.º 75) e de nomeação dos trabalhadores

responsáveis pela sua aplicação (n.º 9 do art.º 15).

Neste campo cruzam-se os deveres e direitos de empregador e trabalhador na salvaguarda

da vida humana.

Como obrigações (n.º 6 e 9 do art.º 15 da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro), o

empregador terá de:

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 9

Adotar medidas e comunicar instruções que permitam ao trabalhador, em caso de

perigo grave e iminente, cessar a sua atividade ou afastar-se, de imediato, do local

em perigo;

Avaliar os meios de prevenção disponíveis;

Nomear uma equipa de segurança e atribuição de responsabilidades;

Garantir o contacto com equipas externas de socorro.

Por outro lado, como obrigações do trabalhador (art.º 17 da Lei n.º 102/2009, de 10 de

Setembro) destacam-se:

Cumprir as prescrições de segurança e de saúde;

Comunicar de imediato ao seu superior hierárquico ou, na ausência deste, a um

trabalhador designado para o desempenho de funções específicas nos domínios de

segurança e saúde no trabalho, as avarias e deficiências detetadas que possam vir a

traduzir-se numa situação perigosa. Para além das avarias, qualquer defeito

detetado nos sistemas de proteção tem também de ser relatado;

Adotar as medidas e instruções que lhe foram previamente estabelecidas e

contactar, logo que possível, o seu superior hierárquico ou um dos elementos

designado para cumprir com as obrigações no domínio de segurança e saúde no

local de trabalho (obrigatoriedade na nomeação de elementos para constituição de

uma equipa de segurança estabelecida pelo art.º 75 da Lei n.º 102/2009, de 10 de

setembro.

Dada a natureza industrial da empresa em causa, complementarmente, o Regulamento

Geral de Segurança e Higiene no Trabalho nos Estabelecimentos Industriais (Portaria n.º

53/71, de 3 de fevereiro, Regulamento Geral de Segurança e Higiene no Trabalho nos

Estabelecimentos Industriais largamente alterada pela Portaria n.º 702/80, de 22 de

setembro) dedica a secção VI do Capítulo II, à «Prevenção dos incêndios e proteção

contra o fogo». Em particular o art.º 30 «Meios de combate a incêndios» foca a

necessidade de os estabelecimentos industriais estarem providos de equipamento adequado

para a extinção de incêndios em perfeito estado de funcionamento, localizado em áreas

acessíveis e devidamente assinalados dispondo ainda, durante o normal horário de

funcionamento, de pessoal em número suficiente e corretamente instruído no uso desse

equipamento. O estabelecimento deve ainda optar por agente(s) extintor(es) de acordo, em

termos de utilização, com a classe de fogo, determinada pela natureza do material

combustível.

O exercício da atividade deverá pois respeitar as disposições legais e regulamentares

aplicáveis e adotar medidas de prevenção e controlo com vista a eliminar ou reduzir os

riscos suscetíveis de afetar as pessoas e bens, garantindo as condições de segurança e saúde

no trabalho, e minimizando as consequências de eventuais acidentes (n.º 1 do art.º 6 do

Decreto-Lei n.º 209/2008, de 29 de outubro). É neste sentido que o licenciamento

industrial constitui o momento privilegiado de salvaguarda da segurança também em

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

10 Estado da arte

matéria de incêndios e das condições de evacuação, atentos os seus objetivos (defender

nomeadamente a saúde pública e dos trabalhadores, a segurança de pessoas e bens, a

higiene e segurança dos locais de trabalho, a qualidade do ambiente como o refere o seu n.º

1). Disso dão nota os requisitos formais e elementos instrutórios do pedido de autorização,

da declaração prévia e do registo do pedido de regularização, no caso em apreço para

estabelecimentos do tipo I (Anexo IV daquele diploma).

A Segurança Contra Incêndios em Edifícios encontra-se hoje regulada no Decreto-Lei n.º

220/2008, de 12 de novembro (Regime Jurídico de Segurança Contra Incêndios, RJ-SCIE)

e na Portaria n.º 1532/2008, de 29 de dezembro, as disposições técnicas gerais e específicas

de SCIE (Regulamento Técnico de SCIE).

É patente a preocupação de salvaguarda dos princípios gerais (preservação da vida

humana, ambiente e património cultural) ao longo das várias fases de vida de um edifício

na perspetiva da conceção (n.º 3 do art.º 22 do DL 220/2008), do projeto (art.º 16 do DL

220/2008) e da exploração (art.º 20 e 21 do DL 220/2008).

No cumprimento daqueles princípios o RJ-SCIE aponta como objetivos (n.º 1 e 2 do art.º

4):

• Reduzir a probabilidade da ocorrência de incêndios;

• Limitar o desenvolvimento e eventual propagação do incêndio, tentando-o

circunscrever e limitar as suas consequências;

• Em situação de risco, facilitar a evacuação dos ocupantes da área em perigo para um

local seguro;

• Permitir a intervenção das equipas de socorro externas de forma segura e eficaz,

cedendo-lhes qualquer informação relevante e disponibilizando o esclarecimento de

dúvidas em tempo útil.

A sua efetivação supõe o prévio estudo e caracterização do edifício e da sua envolvente.

A responsabilidade da sua aplicação varia segundo a fase de vida do edifício e a natureza

de classificação de uso dominante (utilização-tipo) (art.º 6 e 7).

No caso em estudo, indústria tipo I, caberá ao empregador designar um delegado de

segurança para execução das medidas de autoproteção constituídas pelo plano de

segurança interno, pela formação e pelos simulacros (art.º 20 e 21), o qual chefiará uma

equipa, igualmente nomeada pelo empregador cujo número dependerá da dimensão da

utilização-tipo e categoria de risco (art.º 200).

As questões organizativas e a gestão de segurança contra incêndios, ou seja, as medidas de

autoproteção, são objeto de regulação em ambos os diplomas e consubstanciam uma

perspetiva organizacional paralelamente ao extenso quadro técnico que ambos os

diplomas, mas mais particularmente a portaria, disponibilizam nesta matéria.

O lema “Prevenir, Atuar e Repor a Normalidade” encontra-se expresso naquelas medidas -

registos de segurança, plano de prevenção, plano de emergência interno, formação e

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 11

simulacros - cujo conteúdo tem pleno desenvolvimento nos preceitos do regulamento

técnico (art.º 193 a 207). O quadro XXXIX da Portaria n.º 1532/2008 traduz o manual de

gestão em SCIE como expresso na tabela 4.

Tabela 4 – Medidas de autoproteção exigíveis

Utilização-

Tipo Categoria de risco

Medidas de autoproteção

[Referência ao artigo aplicável]

Reg

isto

s d

e se

gu

ran

ça

(art

.º 2

01

)

Pro

ced

imen

tos

de

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CIE

(art

.º 2

06

)

Sim

ula

cro

s

(art

.º 2

07

)

I 3ª «apenas para os espaços comuns»

4ª «apenas para os espaços comuns»

II

3ª e 4ª

III, VI, VIII,

IX, X, XI e XII

3ª e 4ª

IV, V e VII

1ª «sem locais de risco D ou E»

1ª «com locais de risco D ou E» e 2ª «sem

locais de risco D ou E»

2ª «com locais de risco D ou E», 3ª e 4ª

Em particular a formação, com origem no art.º 20 da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro,

encontra o seu pleno desenvolvimento no art.º 206 da Portaria n.º 1532/2008, de 29 de

dezembro.

O edifício normativo nuclear do SCIE é porem mais vasto, de que se aponta como exemplo

o Despacho n.º 2074/2009, de 15 de janeiro, relativo aos critérios técnicos para

determinação da densidade da carga de incêndio modificada, publicado no DR, 2ª série, nº

10, de 15 de janeiro de 2009, a Portaria nº 1054/2009, de 16 de setembro, respeitante às

taxas por serviços de segurança contra incêndios em edifícios prestados pela ANPC e o

Despacho nº 10737/2011, que atualiza os valores das taxas a cobrar pelos serviços de

segurança contra incêndios em edifícios prestados pela ANPC.

Completam o quadro normativo a Portaria n.º 64/2009 (Estabelece o regime de

credenciação de entidades pela ANPC para a emissão de pareceres, realização de vistorias

e de inspeções das condições de segurança contra incêndios em edifícios (SCIE)), a

Portaria n.º 610/2009 (Regulamenta o funcionamento do sistema informático previsto no

n.º 2 do artigo 32.º do Decreto -Lei n.º 220/2008, de 12 de Novembro), a Portaria n.º

773/2009 (Define o procedimento de registo, na Autoridade Nacional de Proteção Civil

(ANPC), das entidades que exerçam a atividade de comercialização, instalação e ou

manutenção de produtos e equipamentos de segurança contra incêndio em edifícios

(SCIE)) e Despacho n.º 10738/2011 (Regulamento para acreditação dos técnicos

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

12 Estado da arte

responsáveis pela comercialização, instalação e manutenção de produtos e equipamentos

de Segurança Contra Incêndio em Edifícios).

Por outro lado, o regime em análise articula-se com vários outros e, muito em particular,

com o regime jurídico de urbanização e edificação, inserto no Decreto-Lei n.º 555/99, de

16 de dezembro, (RJUE) cuja última versão (12ª) consta da Lei n.º 28/2010, de 2 de

setembro.

Relevante se entende a referência ao Decreto-Lei n.º 254/2007, de 12 de julho, regime de

prevenção de acidentes graves envolvendo substâncias perigosas, que impõe deveres gerais

ao empregador (art.º 4) nomeadamente o de tomar as medidas necessárias para evitar

acidentes graves e para limitar as suas consequências e inscreve a obrigação do

empregador em adotar as medidas de autoproteção: realização do relatório de segurança

(art.º 10) e planos de emergência internos (art.º 18).

Não despiciendos, como legislação complementar, os diplomas referentes a sinalização:

• Decreto-Lei n.º 141/95, de 14 de junho, prescrições mínimas para a sinalização de

segurança e de saúde no trabalho e Portaria n.º 1456-A/95, de 11 de dezembro,

prescrições mínimas de colocação e utilização da sinalização de segurança e de saúde

do trabalho.

2.2.2 Normas Técnicas

Na tabela 5 assinalam-se as Normas relativas à segurança contra incêndios e símbolos

gráficos disponíveis no sítio do Instituto Português da Qualidade.

Tabela 5 – Normativos de emergência

Normas Designação

NP EN 14339:2008 (Ed. 1) Hidratantes de incêndio enterrados.

NP EN 14384:2007 (Ed. 1) Marcos de incêndio (Hidratantes de incêndio de coluna).

NP 1800:1981 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Agentes extintores. Seleção segundo as classes de fogos.

NP EN 1869:1998 (Ed. 1) Mantas de incêndio.

NP 1936:1983 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Classificação de líquidos quanto ao ponto de inflamação.

NP EN 2:1993 (Ed. 1) Classes de fogos.

NP EN 2:1993/A 1:2005 (Ed.

1) Classes de fogos.

NP EN 2:1993/Errata

Jan:1994 Classes de fogos.

NP EN 25923:1996 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Agentes extintores. Dióxido de carbono (ISO

5923:1989).

NP EN 27201-1:1995 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Agentes extintores. Hidrocarbonetos halogenados. Parte

1: Especificações para halons 1211 e 1301 (ISO 7201-1:1989).

NP EN 27201-2:1995 (Ed. 1)

Segurança contra incêndio. Agentes extintores. Hidrocarbonetos halogenados. Parte

2: Especificações para a manipulação de segurança e métodos de trasfega (ISO 7201-

2:1991).

NP 3064:1988 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Utilização dos extintores de incêndio portáteis.

NP 3874-1:1995 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 1: Termos gerais. Fenómenos do

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 13

Normas Designação

fogo.

NP 3874-2:1993 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 2: Proteção estrutural contra

incêndio.

NP 3874-3:1997 (Ed. 2) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 3: Deteção e alarme de incêndio.

NP 3874-4:1994 (Ed. 1) Segurança contra incêndios. Terminologia. Parte 4: Equipamentos e meios de

extinção de incêndios.

NP 3874-5:1994 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 5: Desenfumagem (controlo de

fumo).

NP 3874-6:1994 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 6: Meios de evacuação e

salvamento.

NP 3874-7:1994 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Terminologia. Parte 7: Meios de deteção e supressão de

explosões.

NP 3992:1994/Errata

Jul:1994 Segurança contra incêndio. Sinais de segurança.

NP 3992:1994 (Ed. 1) Segurança contra incêndio. Sinais de segurança.

NP 4303:1994 (Ed. 1) Equipamento de segurança e de combate a incêndio. Símbolos gráficos para as

plantas de projeto de segurança contra incêndio. Especificação.

NP 4386:2001 (Ed. 1) Equipamento de segurança e de combate a incêndio. Símbolos gráficos para as

plantas de emergência de segurança contra incêndio. Especificação.

NP 4413:2006 (Ed. 2) Segurança contra incêndios. Manutenção de extintores.

NP EN 54-4:1999 (Ed. 1) Sistemas de deteção e alarme de incêndio. Parte 4: Equipamento de alimentação de

energia.

NP EN 671-1:2003 (Ed. 2) Instalações fixas de combate a incêndio. Sistemas armados com mangueiras. Parte 1:

Bocas-de-incêndio armadas com mangueiras semirrígidas.

NP EN 671-2:2003 (Ed. 2) Instalações fixas de combate a incêndio. Sistemas armados com mangueiras. Parte 2:

Bocas-de-incêndio armadas com mangueiras flexíveis.

NP EN 671-2:2003/A 1:2004

(Ed. 2)

Instalações fixas de combate a incêndio. Sistemas armados com mangueiras. Parte 2:

Bocas-de-incêndio armadas com mangueiras flexíveis.

2.3 Conhecimento Científico

Atualmente já existem alguns modelos de apoio à simulação da evacuação de edifícios, de

entre os quais se referem os modelos de cálculo propostos por várias instituições, alguns

dos quais se encontram informatizados como o FDS+Evac, o EvacuatioNZ e o Simulex.

Estes modelos têm sido alvo de vários estudos e aplicações com o intuito de descobrir se os

seus resultados são adequados à realidade e podem sem receio ser aplicados.

Tan (2011) estudou os resultados obtidos com base na aplicação de alguns daqueles

modelos, concluindo que os resultados da evacuação podem ser determinados através de

cálculos manuais, bastando para isso uma cuidadosa análise do edifício. Estes cálculos

podem ser concisos para uma geometria simples mas extensos se a geometria for

complexa. Portanto, o utilizador do método do cálculo manual terá de perceber os

caminhos de evacuação do edifício cuidadosamente e documentar com detalhe as razões

por detrás das restrições de evacuação escolhidas em tal cálculo. Para além disso, partiu da

suposição de que o tempo de evacuação é a soma do tempo de pré-movimento e o tempo

de movimento em que o tempo de espera é mais longo que o tempo de deslocação. Esta

suposição apesar de atraente pode não ser, porém, a adequada nas situações em que os

ocupantes necessitem de percorrer uma longa distância até à saída. Adicionalmente, este

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

14 Estado da arte

modelo não contempla o tempo que uma saída pode demorar até atingir a sua vazão

máxima específica (Balci, 1997).

2.3.1 FDS+Evac

Também segundo Tan (2011), em regra, o FDS+Evac gera tempos de evacuação

semelhantes aos do cálculo manual, contudo a construção do modelo é morosa e requer

que o utilizador tenha um certo nível de competência para completar a tarefa.

Complementarmente, o utilizador necessita de converter os edifícios em coordenadas

cartesianas para este modelo. Tal poderá restringir a modelagem se o edifício for complexo

e não puder ser transposto para malhas retangulares. Embora a versão atual do FDS+Evac

tenha uma limitação de 10000 evacuados por malha de evacuação, isto será suficiente para

aplicações gerais mas insuficiente para uma aplicação de grandes multidões como por

exemplo, um estádio de futebol. Uma vez que o FDS+Evac tem uma boa interface o

utilizador pode facilmente detetar deficiências usando a interface gráfica disponibilizada.

A desvantagem deste software é que o tempo de computação para uma simulação pode ser

relativamente longo quando comparado com outras aplicações e, para grandes edifícios,

pode requerer “grande capacidade computacional” para completar o término da evacuação.

No entanto, é considerado uma boa ferramenta para implantar em cenários complexos onde

a interação entre grandes multidões são expectáveis, seja por fusão ou por contracorrente.

Atualmente, o software não contempla as interações sociais, tais como o vínculo social na

parentalidade e na amizade, entre outros, a incorporar no algoritmo de evacuação. Segundo

Korhonen & Heliovaara (2011), estes comportamentos são atualmente objeto de

desenvolvimento e a sua inclusão pode permitir perspetivas interessantes sobre os cenários

de evacuação.

2.3.2 EvacuatioNZ

O EvacuatioNZ, modelo em fase de desenvolvimento, foi fácil de construir com o recém-

desenvolvido interface de pré-processamento (yworks 2010). O tempo computacional para

gerar “corridas” é geralmente curto e permite interpretar os resultados de várias análises de

evacuação num reduzido período de tempo. Contudo, há uma lacuna na interface de pós-

processamento, o que pode traduzir-se num retrocesso para potenciais utilizadores. Uma

vez que este modelo implementa equações similares às usadas pelos modelos hidráulicos

(cálculo manual), não é de surpreender que os resultados obtidos se assemelhem a esse

modelo. Contudo, algum trabalho adicional carece de ser realizado antes de esta ferramenta

ser usada como tal. Primeiro, existem algumas diferenças com os cálculos manuais que nos

casos de uma situação altamente complexa podem conduzir a discrepâncias deveras

significativas. Atualmente, não tem havido literatura ou validação sobre a situação de

contracorrente mesmo em configurações mais simples deste software. Como consequência,

a confiabilidade dos resultados não pode ser determinada em situações de evacuação

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 15

complexa, embora os valores gerados sejam prudentes (tempos de evacuação mais

extensos que os dos cálculos manuais), o algoritmo não contempla a definição da largura

das escadas.

Todavia, para um cenário normal que envolva escadas, o fluxo máximo pode ser

antecipado na porta de entrada de acesso às escadas. Todavia, em algumas situações pode

não ser corretamente calculado, como é o caso nomeadamente do hall de entrada para as

escadas (Ko, 2003; Tan, 2011; Tsai, 2007).

2.3.3 Simulex

O Simulex pode ser facilmente construído se as plantas do edifício estiverem disponíveis

em formato CAD. O tempo de simulação da evacuação pode ser obtido em poucos minutos

e o utilizador pode observar o processo durante e após a simulação (Santos e Aguirre,

2004). Contudo, a documentação prevista no Simulex (versão 13.0) não está atualizada e

correta em alguns aspetos. Por exemplo, a documentação refere que a redução de

velocidade é de 0.5 nas escadas mas no software o valor de redução é diferente. A falta de

documentação adequada pode dissuadir potenciais utilizadores e também promover o uso

não autorizado do software; no entanto, na versão mais recente do Simulex (Ambiente

Virtual 6.0) a documentação foi melhorada. Finalmente, será difícil para os revisores

verificarem o modelo de evacuação no papel sem terem acesso a todo o modelo ou

software.

O algoritmo de contracorrente (ou a sua ausência) impõe aos utilizadores a definição de

uma estratégia para evitar que os ocupantes corram uns contra os outros como por

exemplo, agrupando-os perto das saídas de emergência e evitando a colisão entre estes.

Estas tentativas podem reduzir a distância a percorrer e acelerar o tempo de criação de uma

restrição para atingir prematuramente o máximo da taxa de débito. Como resultado, o

tempo de evacuação global pode ser encurtado de modo considerável. Em alguns casos, a

evacuação pode não ser completada em situações de contracorrente. Assim, o utilizador

pode gastar tempo desnecessário a tentar evitar barreiras de menor importância ajustando

as ligações ou substituindo os elementos que as criam.

Um breve resumo dos modelos de evacuação pode ser observado na tabela 6.

Recorde-se que os cálculos manuais podem não ser adequados para edifícios com a

configuração, por exemplo, de um teatro por subestimativa do tempo de evacuação e

também para edifícios com grupos distintos como é o caso de adultos e crianças (Ko, 2003;

Tan, 2011; Thompson e Marchant, 2000; Spearpoint, 2004).

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16 Estado da arte

Tabela 6 – Resumo de alguns modelos de evacuação

Tipo Simulex FDS+Evac EvacuatioNZ

Estrutura do

Modelo

Sistema de espaço contínuo:

Aplica-se a um espaço

contínuo 2D a planos do chão

da estrutura permitindo que os

ocupantes se desloquem por

todo o edifício.

Sistema de espaço contínuo:

Aplica-se a um espaço contínuo

2D a planos do chão da estrutura

permitindo que os ocupantes se

desloquem por todo o edifício.

Modelo de rede grosseiro:

Divide os planos do chão em

salas, corredores, secções de

escadaria; etc. Os ocupantes

movem-se de um

compartimento para o outro.

Método de

Modelagem

Método de comportamento

parcial:

Calcula principalmente o

movimento dos ocupantes.

Também inclui

comportamentos simulados

implicitamente representados

pelas distribuições de tempo do

pré-movimento entre

ocupantes, características

únicas dos ocupantes e

habilidades de ultrapassagem.

Método de comportamento

parcial:

Calcula principalmente o

movimento dos ocupantes.

Também inclui comportamentos

simulados implicitamente

representados pelas distribuições

de tempo do pré-movimento

entre ocupantes, características

únicas dos ocupantes e

habilidades de ultrapassagem.

Método comportamental:

Incorpora a atuação dos

ocupantes em direção a uma

saída específica. Este modelo

pode também incluir a

tomada de decisão dos

ocupantes.

Comportamento

dos Ocupantes

Implícito:

Atribui atrasos de resposta ou

certas características dos

ocupantes que afetam a

circulação.

Implícito:

Atribui atrasos de resposta ou

certas características dos

ocupantes que afetam a

circulação.

Condicionado: Atribui ações

individuais a um ocupante ou

grupo de ocupantes que estejam

afetos a condições estruturais ou

ambientais da evacuação.

Probabilístico: Representa que

muitas das regras são

estocásticas.

Implícito:

Atribui atrasos de resposta

ou certas características dos

ocupantes que afetam a

circulação.

Condicionado: Atribui ações

individuais a um ocupante ou

grupo de ocupantes que

estejam afetos a condições

estruturais ou ambientais da

evacuação.

Probabilístico: Representa

que muitas das regras são

estocásticas.

Perspetivas do

Modelo

Individual: Vê os ocupantes

individualmente. Os seus

resultados acompanham a

posição do individuo durante

toda a evacuação.

Individual: Vê os ocupantes

individualmente. Os seus

resultados acompanham a

posição do individuo durante

toda a evacuação.

Individual: Vê os ocupantes

individualmente. Os seus

resultados acompanham a

posição do individuo durante

toda a evacuação.

Global: Vê os ocupantes

como um todo.

2.3.4 Tempos de evacuação e fatores influenciadores

A incerteza dos cálculos sobre o tempo de evacuação de um edifício é a questão chave dos

projetos de construção e a base para credibilizar os resultados, como o assinalam Peng et

al. (2011). Esta incerteza é portanto um problema inerente à construção base dos modelos

de evacuação. É, pois, bastante útil proporcionar um método de cálculo adequado para

calcular tais valores (Sargent, 1999; Olson e Regan, 2001).

Durante a execução do modelo de evacuação que determina os tempos necessários atingir

para realizar uma evacuação em segurança, é necessário avaliar cada um dos valores do

fator segurança como também a incerteza gerada. Para determinar os tempos de evacuação

devem ser considerados fatores tais como: densidade de ocupação, velocidade de

deslocação dos ocupantes, coeficiente do fluxo de saída, tempo de pré-movimento, largura

das saídas, entre outros (Papinigis et al., 2010).

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 17

A incerteza resultante de tais fatores vai influenciar diretamente a precisão dos cálculos.

Portanto, durante o projeto e avaliação do fogo há um estudo técnico fundamental a efetuar

no sentido de saber como lidar com a incerteza dos cálculos do tempo de evacuação.

Assim, a clarificação da incerteza do fator segurança representa um importante aspeto no

estudo de uma evacuação segura. É necessário configurar um método de determinação que

seja diferente dos de coeficientes de segurança simples. Este método deverá considerar as

seguintes vantagens: a incerteza do fator segurança, a análise do efeito dos parâmetros de

funcionamento no nível de segurança do modelo e a garantia da aceitação dos resultados.

Os resultados obtidos numa evacuação podem ser bastante díspares dos obtidos pelos

simuladores em virtude do comportamento dos evacuados perante a situação (Kuligowski,

2009; Gwynne et al., 2003). As estimativas obtidas podem ser muito otimistas ou

conservadoras e ter consequências na projeção de edifícios ou procedimentos insuficientes

(ou desnecessários) que se traduzem num acréscimo de custos. Uma solução possível para

resolver esta questão será a de atender à teoria sobre o comportamento humano durante a

evacuação dos edifícios no sentido de ser incorporada naqueles modelos passando estas

ferramentas a prever o comportamento dos ocupantes de um edifício e consequentemente,

estimar tempos de evacuação semelhantes a uma evacuação real (Kuligowski, 2009).

Será também de assinalar a importância de que com esta inclusão, passa a não ser o

utilizador a arbitrar os comportamentos (esperados) antes da própria simulação podendo

haver aumento de confiança nos resultados.

A fim de desenvolver teoria sobre a previsão do comportamento humano durante uma

evacuação com origem num incêndio, primeiro será necessário identificar as ações

despoletadas pelos ocupantes e os fatores que as motivam. São elas, a busca de

informação, a preparação para a evacuação e a dita evacuação (Vorst, 2010).

A investigação realizada por Kuligowski (2009) demonstrou que qualquer ação realizada

numa situação é o resultado de um processo comportamental de tomada de decisão.

A pesquisa durante as evacuações tem mostrado que, antes dos indivíduos iniciarem uma

ação, primeiro compreendem os sinais que são emitidos, em seguida interpretam as pistas

emitidas e os riscos inerentes e, por fim, tomam uma decisão sobre como proceder. Ou

seja, a ação é baseada nas interpretações de cada individuo. Para além disso, existem

fatores que influenciam cada fase do processo. São eles:

1. A perceção dos sinais por parte do individuo;

2. A interpretação da situação e do próprio risco;

3. A tomada de decisão (Gwynne et al., 2003; Olson e Regan, 2001).

2.3.5 Modelo comportamental de resposta a um incêndio

A figura 5 representa esquematicamente o processo comportamental pelo qual os

ocupantes passam durante um incêndio.

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18 Estado da arte

Figura 5 – Processo comportamental dos ocupantes em resposta a um incêndio

(adaptado de Kuligowski, 2009)

Durante a perceção, fase 1, os ocupantes do edifício recebem sinais externos, físicos ou

sociais tais como audição da agitação; observação da “inação” de terceiros; receção de

chamadas telefónicas do exterior. Adicionalmente, durante esta fase, os ocupantes podem

receber sinais mais complexos tais como associação da incerteza, excesso de informação,

pressão temporal e mesmo os próprios pensamentos e recordações sobre um evento

passado em particular.

Na fase 2, o ocupante tenta interpretar a informação transmitida pelos sinais na primeira

fase e procede à respetiva análise da situação: avaliação sobre a veracidade do alarme ou

do risco associado a tal evento.

A fase 3 corresponde à tomada de decisão sobre como proceder perante a informação que

lhe foi transmitida anteriormente e, por último, a fase 4, a fase de ação na qual os

ocupantes colocam em prática a solução encontrada na fase transata.

É de enorme importância referir que o processo se encontra continuamente a ser

reformulado até que a situação esteja controlada e seja reposta a normalidade ao edifício.

Isto é, o processo é linear desde a primeira emissão de sinais até a ação do ocupante.

Contudo, durante a ação, os sinais que o ocupante recebe serão diferentes dos primeiros

que desencadearam essa mesma ação daí, desencadear-se um novo ciclo. Todo o processo

é iniciado quando os ocupantes do edifício são confrontados com sinais ou informação que

interrompa a sua atividade comum (Kuligowski, 2009; Gwynne et al., 2003).

Compreensível será, portanto, o facto de este novo modelo não ser de fácil construção. Os

fatores que o influenciam, direta e indiretamente, são parte integrante das fases pelas quais

os colaboradores atravessam até tomarem parte da ação (Papinigis et al., 2010).

Importa referir que o número de alternativas com que os ocupantes se deparam, a

interpretação dos sinais, a tomada de decisão e o próprio processo de ação tornam mais

difícil a interação entre as várias fases.

Fase 1: Perceção dos sinais

Fase 2: Interpretação da situação e do risco

associado

Fase 3: Tomada de decisão

Fase 4: Ação

Fatores base relacionados

com as pistas e ocupantes

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 19

O ocupante quando presente a sinais de fogo (1) iniciará a interpretação dos sinais (2) e

desencadeará um extenso número de ações (3 e 4).

2.3.6 Fatores que influenciam a perceção e interpretação de sinais de incêndio

Kuligowski (2009) defende a necessidade de aprofundar estudos que cruzem a informação

sobre a “interpretação da situação” com a “tomada de decisão”. Uma visão geral dos

fatores que influenciam as fases 1 e 2 do processo comportamental podem ser consultados

na tabela 7.

Tabela 7 - Fatores que influenciam a fase 1 e 2 do processo comportamental

Fatores Perceção

(1)

Interpretação como (2)

Fogo Risco

Pré-Evento

Experiência com fogos (Sim) Aumenta Aumenta Aumenta

Conhecimento sobre fogo/Treino (Sim) Aumenta Aumenta Aumenta

Intrusão com a área envolvente (Sim) Diminui -- --

Conhecimento dos caminhos de evacuação (Sim) -- -- Diminui

Experiência frequente em falsos alarmes (Sim) -- Diminui --

Sentimento de segurança com o edifício (Sim) -- Diminui --

Deficiência percetual (Sim) Diminui -- --

Idade (mais velho) Diminui -- Aumenta

Sexo (Feminino) Aumenta -- Aumenta

Língua comum com a dos restantes ocupantes (Sim) Aumenta -- --

Frequente interação com a família (Sim) Aumenta -- --

Durante o evento

Elevado nível de stress/ansiedade (Sim) Diminui -- --

Perceção de pressão temporal (Sim) Diminui Diminui Diminui

Presença de pessoas próximas (Sim) Diminui Diminui

Proximidade com o fogo/ Acesso visual (Sim) Aumenta --

Sonolência (Sim) Diminui --

Elevado número de processos comportamentais (Sim) -- Aumenta --

Define a situação como fogo (Sim) -- NA Aumenta

Sinais emitidos

Elevado número de pistas Misto Aumenta Aumenta

Sinais consistentes (Sim) -- Aumenta Aumenta

Sinais ambíguos (Sim) -- Aumenta --

Sinais sociais que são consistentes com o entendimento da existência se

fogo (Sim)

-- Aumenta Aumenta

Fontes oficiais (Sim) Aumenta Aumenta --

Fonte familiar (Sim) -- Aumenta --

Elevada concentração de gases tóxicos (Sim) -- Diminui --

Fumo denso (Sim) Diminui -- Aumenta

Sinais visuais/audíveis (Sim) Aumenta -- --

Informação de risco (Sim) -- Aumenta --

Na fase 1, a perceção do problema é influenciada por fatores diversos tais como ouvir o

alerta, treino ou formação em incêndios, ser mulher. Estes influenciam positivamente a

tomada de ação perante uma situação de emergência. Em contrapartida, a experiência

passada, intrusão com o ambiente em causa e a idade avançada são fatores que influenciam

negativamente a perceção do que se poderá estar a passar.

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20 Estado da arte

O stresse, a ansiedade, a pressão temporal, a presença de obstáculos na área envolvente e a

privação do sono são também outros dos fatores que influenciam desfavoravelmente a

receção dos sinais de alerta.

Por fim, apontam-se alguns fatores-base para uma boa receção de informação:

Sinal/Aviso sonoro audível;

Vasto número de sinais;

Receção da informação por fonte fidedigna.

É também de enorme importância referir que a presença de fumo denso e a sua toxicidade

diminuem a capacidade de receção dos sinais e, eventualmente, poderão levar à morte.

2.3.7 Fatores que influenciam a interpretação da situação e do risco

A fase 2 compreende duas subfases:

Definição da situação como fogo;

Definição do risco pelo próprio ocupante ou por outros.

Os ocupantes podem interpretar a situação de diferentes maneiras e o facto de o ocupante

já ter alguma experiência passada neste tipo de eventos permite-lhe aumentar a

rastreabilidade perante os sinais emitidos. Por outro lado, os que não têm qualquer tipo de

experiência e sentem-se seguros no seu ambiente de trabalho estão menos despertos para

os sinais transmitidos.

Quanto à definição de risco, a experiência e formação em situações idênticas são

favoráveis na atuação perante o reconhecimento dos sinais.

Resumidamente, o comportamento adotado durante uma evacuação por incêndio é o

resultado de um vasto conjunto de processos. Primeiro os sinais necessitam de ser

percecionados, em seguida interpretados e, posteriormente, tomada uma decisão sobre

como atuar (incluindo a inação).

Até à data têm vindo a ser desenvolvidos vários estudos no sentido da criação de modelos

computacionais que têm como principal objetivo garantir uma evacuação segura. Estes

modelos têm por base o estudo social e cognitivo dos indivíduos e das relações por eles

estabelecidas (Gwynne et al., 1998; Bryan, 2000; Gwynne et al., 1999; Pelechano e

Malkawia, 2008).

2.3.8 Integração de aspetos comportamentais nos modelos de simulação

Na última década, tem-se observado uma mudança de sistemas de informação e

comunicação de um nível exclusivamente técnico para um nível social. Contudo, a

integração dos aspetos sociais/cognitivos na designada computação social não é tarefa fácil

em virtude das diferenças conceptuais.

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 21

Assim Zia et al. (2011) consideram que o sistema sociotécnico é um conceito recentemente

introduzido pretendendo diferenciar um sistema social mediado pelas ciências naturais do

mediado pela informação tecnológica. Acrescentam que, ainda que a mediação dos aspetos

sociais/cognitivos seja "teoricamente" regida pela tecnologia, a diferença entre "sócio" e

"técnica" é colossal e histórica.

Além disso, consideram dever ser dada especial atenção à modelização de ambas as

componentes, sociais e técnicas, e à sua interação em situação de evacuação, pois que com

o passar dos anos, os sistemas técnicos tornaram-se mais inteligentes quanto à interação

com as pessoas, daí a sua abrangência. Por exemplo, Zia et al. (2011) defendem que,

aquando da conceção de um modelo, i.e., na simulação de uma situação de emergência de

um serviço público, não deve ser desprezada a eventual disponibilidade de tecnologia ao

nível do ambiente (por exemplo, sinais de reconhecimento de situação de saída, exposições

interativas) e das pessoas (telemóveis e outros equipamentos informáticos) bem como a

influência social/cognitiva (Breaux et al., 1976).

A resposta a este desafio conduziu à integração da decisão cognitiva no modelo de

simulação baseado em análise computacional, a partir das teorias psicológicas,

neurológicas e sociais do comportamento humano em situações de evacuação.

Centrados num cenário em que uma pequena população de agentes é tecnologicamente

apetrechada, Zia et al. (2011) sublinham algumas das conclusões mais interessantes:

A inclusão de um modelo de comportamento social representativo na modelização

de um sistema sociotécnico, produz essencialmente diferenças fundamentais ao

nível das metodologias;

Os agentes tecnologicamente preparados que emergem como líderes durante a

evacuação alteram as intenções de muitos agentes na sua área de influência;

Um pequeno conjunto de tais líderes no quadro de uma população suficientemente

alargada é bastante para garantir uma diferença assinalável, particularmente

improvisando a utilização de saídas alternativas ou secundárias subutilizadas.

Por seu turno, Vasudevan e Son (2011) estudaram uma metodologia que avalia a segurança

na evacuação versus produtividade, em diversos layouts, constatada a frequente

conflitualidade dos objetivos das empresas industriais em garantir um elevado nível de

produção e simultaneamente implementar medidas de segurança rigorosas para assegurar

uma evacuação segura em situações de emergência, particularmente no caso de incêndio.

Sublinham que enquanto os indicadores de desempenho de segurança, como tempos de

evacuação, são inferidos a partir de simulações baseadas na multidão (agentes), os

indicadores de produtividade de desempenho (por exemplo, taxa de produtividade,

capacidade utilizada, fluxos) são analisados empregando a simulação de eventos discretos.

Com a finalidade de avaliar a segurança versus produtividade, a investigação centra-se na

criação de técnicas inovadoras para o desenvolvimento de simulações precisas da multidão,

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22 Estado da arte

em que o quadro Crença-Desejo-Intenção é utilizado para construir ações individuais e as

interações entre as pessoas.

Utilizando um modelo de dados e algoritmos baseados em regras de ação para cada agente,

as experiências são realizadas utilizando as simulações construídas para comparar a

segurança e produtividade para layouts diferentes.

Esta análise pode ser completada com a avaliação de Aldewereld et al. (2010). Defendem

que a existência de uma grande disparidade existente nos sistemas baseados em

especificações organizacionais entre o nível de abstração dos conceitos organizacionais e

os utilizados na sua implementação gera a necessidade de relacionar os conceitos abstratos

com os conceitos usados na prática comum.

Os autores de “Making norms concrete”, Aldewereld et al. (2010), sugerem ainda que uma

solução para este problema passará pelo uso de sistemas “conta-como”, (declarações dos

agentes), enquanto ferramentas que relacionam especificações organizacionais e suas

normas com situações concretas do dia-a-dia industrial, pois permitem definir a realidade

social, fornecer os conceitos concretos e o significado da sua estrutura institucional e

organizacional.

2.3.9 Contributo dos planos de contingência

Clark (2010) explorou o contributo dos planos de contingência na organização, com vista a

superar um incidente ou mesmo um acidente. Para tal definiu quatro aspetos básicos para

os planos de contingência:

• Análise do impacto de negócios;

• Plano de resposta a incidentes/acidentes;

• Plano de recuperação de desastres;

• Plano de continuidade de negócios.

Defende ser fundamental que o plano de contingência esteja continuamente a ser avaliado,

testado e, eventualmente, de acordo com os resultados obtidos, redefinido de maneira a dar

continuidade e solução aos imprevistos que surgem mantendo um estado de prontidão para

intervir a qualquer momento. Assim, em caso de acidente, ficará assegurada uma rápida e

eficaz atuação que permitirá minimizar danos e custos associados.

Yuan (2011) e Filippidis et al. (2006) estudaram modelos de evacuação que incluíssem a

evolução do fumo e a interação dos ocupantes com a sinalização, respetivamente.

Yuan (2011) avaliou o efeito do fumo no contexto da visibilidade, a afetação deste no

comportamento humano e as consequências de exposição a este fator. Para tal, simulou a

variação de concentração do fumo num compartimento e determinou a variação de

visibilidade no decurso do tempo através de uma fórmula empírica incorporada no modelo.

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 23

Filippidis et al. (2006) analisou a interação das obstruções físicas e distâncias de

visualização da sinalética numa evacuação eficaz. A interação do ocupante com a

sinalização foi demonstrada através da simulação de diferentes cenários de evacuação.

Em suma, os principais objetivos dos modelos simuladores de evacuação consistem em

avaliar os planos de emergência ou encontrar o plano de emergência ótimo para a situação

em discussão. Um plano de emergência adequado é imperativo para a redução de

fatalidades e danos nas propriedades.

Zhang et al. (2010) concluíram sobre a existência de três diferentes objetivos para os

modelos de simulação em causa. São eles:

TET - Minimizar o Tempo de Evacuação Total;

TE - Minimizar o Tempo de Evacuação;

Maximizar o número de pessoas a evacuar no tempo estimado.

O TET é definido como o período durante o qual os evacuados estão expostos ao perigo até

atingirem o destino da evacuação (ponto de encontro) enquanto, o tempo de evacuação

(TE) é descrito como o tempo que demora a sair da área afetada o último evacuado. Em

algumas situações, o principal objetivo poderá não ser necessariamente minimizar os

primeiros dois tempos mas, em vez disso, maximizar a evacuação segura das pessoas. Este

objetivo, terceiro, é conseguido através de muito treino e formação em evacuação. Será

também uma aposta ganha na prevenção não só em termos de segurança, de ocupantes,

como também evitando custos com prémios de seguro elevados.

Zhang et al. (2010), na sua revisão bibliográfica, referem também que os modelos de

simulação de evacuação podem ser classificados em duas categorias:

Modelos baseados na simulação;

Modelos baseados na otimização.

Os modelos que seguem a primeira categoria são desenvolvidos para analisar e avaliar os

planos de evacuação enquanto, os baseados na otimização, são usados diretamente para

procurar as melhores soluções para a evacuação. Os modelos de otimização podem ser

estáticos ou dinâmicos. Os estáticos suportam-se na assunção que os ocupantes tentam

minimizar o tempo de evacuação ou na decisão dos ocupantes minimizarem o tempo de

saída de todos em detrimento do seu próprio tempo de evacuação. Os modelos dinâmicos

formulam o problema como um tempo de preparação discreto e estão aptos a caracterizar a

dinâmica de fluxos planeada.

2.3.10 Modelo representativo da auto-motivação

Yi e Shi (2009) construíram um modelo que inclui tecnologia inteligente induzida e que

represente a auto-motivação, resposta e tomada de decisão durante o evoluir de uma

evacuação. Posteriormente, apresentam um estudo efetivo que pode ser adotado naquelas

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24 Estado da arte

condições com base na integração do modelo de simulação da evacuação e do modelo da

simulação do fogo.

Chamam a atenção para o facto de alguns fatores do layout e tipo de estrutura do edifício, o

estado (físico e mental) dos ocupantes e os produtos comburentes existentes influenciarem

a performance da evacuação.

Primeiro dividiram o plano numa fina grelha de 0.4 x 0.4 metros, espaço típico ocupado

por uma pessoa. Em seguida, foi concebido um agente de decisão para simular o

comportamento. Este modelo aborda o conceito de vizinhança, i. é, optaram por atribuir

que o comportamento de cada indivíduo é totalmente decidido pelos parâmetros ambientais

dentro da vizinhança.

Apesar de haver condições tais como a saúde, o sexo, a faixa etária, o tempo de reação, a

familiaridade com o espaço e a cooperação, entre outros, os autores aceitam que os

ocupantes sejam principalmente afetados por dois aspetos: os sujeitos e os objetivos e que

estes se relacionam entre si.

Algumas propriedades tais como velocidade, tempo de reação, familiaridade são fatores

cruciais na evacuação.

Após esta caracterização, é calculada a velocidade dos ocupantes em função da densidade

populacional, pois que, quanto maior for o aglomerado de ocupantes menor a velocidade

de evacuação junto às saídas.

Na determinação daquela variável, os autores usaram a expressão da velocidade em função

da densidade, de Nelson e MacLennan (1996) e calcularam a redução de velocidade

através da função proposta por Thompson e Marchant (2000). Contudo, para além da

densidade populacional outros fatores como o estado psíquico e o carácter do individuo

foram tidos em conta na expressão de “ajuste de velocidade” onde os autores sumarizam

todos os fatores críticos através da introdução de um coeficiente de ajuste. Este coeficiente

é bastante complexo e a sua atribuição dependerá do valor médio de perigo calculado a

partir das grelhas de interação com a vizinhança anteriores.

Para determinar a influência do fogo utilizaram o FDS (Fire Dynamics Simulator). Este é

um modelo de simulação dinâmica de fluídos e sendo o fumo (tóxico) de um incêndio a

maior ameaça para a vida humana, o FDS permite o cálculo dos tempos de combustão dos

produtos (Tang e Ren, 2008).

Através da simulação com FDS, é descoberto o valor da densidade de fuligem em qualquer

ponto do campo do edifício. Em função do tempo de exposição ou da concentração dos

gases libertados (CO2 e CO) pode haver incapacidades ou mesmo a morte do ocupante. O

FDS é também capaz de calcular a temperatura e obstruções.

Para terminar o seu estudo, Zhang et al. (2010) integraram ambos os modelos de maneira a

obter resultados os mais fidedignos possíveis. Com esta integração, os perigos do fogo e a

resposta comportamental são estabelecidas na interação do ocupante com o fogo. O

programa proposto, AFESM (Agent-based Fire Evacuation Simulation Model), introduz a

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 25

programação orientada a objetos, método do projeto para realizar o modelo físico e o

modelo matemático acima mencionado.

O AFESM consiste principalmente num banco de dados de informação sobre incêndios,

um módulo central de análise, uma regra de raciocínio mecânico e uma plataforma gráfica,

entre outros.

A informação sobre incêndios constitui o núcleo do banco de dados que permite a ligação

entre o FDS e o programa AFESM. O processamento de dados é demonstrado na figura 6.

Figura 6 – Processamento de dados segundo o método AFESM

(adaptado de Zhang et al. 2010)

Tang e Ren (2008) integraram a interação do fogo e a geometria do edifício a partir de uma

análise espacial de acordo com a figura 7.

Figura 7 – Representação da análise feita por Tang e Ren (2008)

Geometria do edifício

Comportamento dos ocupantes:

Seleção do caminho de

evacuação;

Ações de evacuação

Arquivo dos ficheiros Visualização Gráfica

Incêndio / Fumo

Simulação FDS Base de Dados

Informação

comercial

Regras da base de dados

Regras de acordo

com as condições

ambientais

Ajuste do modelo para as velocidades e direções

Regras da máquina

do raciocínio

Modelo numérico

para a velocidade e

direções

Agentes Plataforma

Gráfica

Layout do

edifício

GUI

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

26 Estado da arte

Concluíram que o programa usado nesta simulação, FDS, lhes permite descobrir a

densidade de fuligem e a percentagem de calor libertado em qualquer ponto do campo de

incêndio. Permite também quantificar a avaliação do perigo entre o volume de substâncias

tóxicas e quantidade de ocupantes lesados. A representação geométrica inclui uma análise

espacial e visualização do ambiente.

A habilidade em processar elevadas quantidades de dados espaciais sobre um extenso

ambiente possibilita um maior desenvolvimento do modelo para simular vários cenários de

evacuação em edifícios com grande número de ocupantes ou mesmo em espaços abertos e

os compartimentos possíveis de avaliar poderão ser divididos em nove categorias: quarto,

corredor, entrada, escadaria, degrau, patamar, porta, bloco ou saída.

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 27

3 OBJETIVOS E METODOLOGIA

3.1 Objetivos da Tese

Com o presente trabalho pretende-se analisar a sensibilidade dos tempos de evacuação de

uma unidade industrial, comparar os resultados com os regulamentos existentes nesta

matéria e finalizar com a apresentação de propostas de operacionalização da legislação no

âmbito da emergência com vista a facilitar a elaboração de medidas a adotar em cada

empresa no sentido de asseverar e aumentar a segurança das instalações e a salvaguarda de

pessoas e bens.

3.2 Metodologia Global de Abordagem

A metodologia seguida durante a elaboração deste trabalho pode ser dividida em duas fases

distintas.

A primeira fase consistiu em analisar os referenciais normativos e bibliográficos,

concernentes à Segurança Contra Incêndios em Edifícios. Com as palavras-chave

“Evacuation” e “Models” foram milhares os artigos bibliográficos obtidos que demonstram

a imensa pesquisa desenvolvida nesta área. A pesquisa foi refinada para incluir estas

palavras apenas no título e excluir todos os artigos que referissem “Pedestrian”. O

resultado final foram 223 artigos. De entre eles cerca de duas dezenas apresentaram

perspetivas interessantes para o presente trabalho.

Concluído esse passo, no trabalho de campo foram calculados os tempos de evacuação

segundo informação cedida na página da Companhia dos Sapadores Bombeiros de

Coimbra (CSBC). A palavra-chave usada nesta pesquisa específica foi “Tempo de

Evacuação”.

Os resultados obtidos a partir do modelo da CSBC foram confrontados com o tempo real,

cronometrado, que um ocupante do edifício demora desde o seu posto de trabalho até uma

das saídas de emergência, este tempo será, doravante, designado por tempo de deslocação.

Em seguida foi realizada uma análise de sensibilidade aos tempos de evacuação através da

variação de ±10 % e ±5% aos tempos de deslocação. Ao tempo de deslocação foi acrescido

um atraso, Δt, de 0.5 s e de 1.0 s por cada ocupante que chegue à porta de emergência a ser

avaliada no momento, tempo esse correspondente à frequência de passagem dos ocupantes

pela porta.

Por fim, com o modelo computacional simulou-se um incêndio nas instalações do edifício

tendo-se obtido a taxa de queima entre outros dados.

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

28 Objetivos e metodologia

3.3 Materiais e Métodos

O método adotado teve por base o software FDS e Smokeview do PyroSim, o cálculo dos

tempos de evacuação através da fórmula da Corporação de Bombeiros de Coimbra e

avaliação dos tempos de deslocação entre os vários pontos usados no cálculo dos tempos

de evacuação. Este software foi gentilmente cedido por um período experimental de 30

dias pela Thunderhead Engineering.

O FDS e o Smokeview permitem modelar e recriar a propagação de incêndios num edifício.

O modelo usado baseia-se no modelo de dinâmica de fluídos computacional, vulgarmente

designado por FDS, que realiza a simulação dinâmica de um incêndio.

Alguns dos parâmetros tidos em conta por este programa são as características dos

materiais e a instalação contra incêndios como por exemplo, a colocação de sprinklers e

detetores de fumo. Com isto, é possível melhorar a conceção de edifícios ainda em

construção ou propor alterações em construções já existentes que aumentem a segurança

das pessoas, ambiente e património.

O edifício industrial foi introduzido em formato cad no programa para em seguida ser

exportado como ficheiro fds por forma a permitir a simulação do incêndio. Neste foram

definidos os materiais usados no chão e nas paredes, a zona na qual é deflagrado o

incêndio e o tempo de simulação pretendido (600s).

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 29

4 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS

Como ponto de partida considerou-se ajustado caracterizar o tipo de edifício que serviu

para avaliação do programa de simulação de incêndios.

4.1 Caracterização do edifício

A empresa, alvo de estudo, situa-se no Norte de Portugal e é uma referência do setor

gráfico. Enquadra-se na CAE 18120, Rev. 3 “Outra impressão” no âmbito da “Impressão e

reprodução de suportes gravados” (Divisão 18), nos termos do Decreto-Lei n.º 381/2007,

de 14 de novembro. Até ao momento já empregou dezenas de trabalhadores, contando

atualmente com cerca de 50 colaboradores, conforme é visível na tabela 8.

Um resumo das condições laborais da empresa que serviu de apoio a este estudo pode ser

visualizado na tabela 8.

Tabela 8 – Caracterização das condições laborais

Caracterização das condições laborais

Efetivo (n.º de pessoas) ≤ 50

Área (m2) 4400

Altura (m) H ≤ 9

N.º de pisos abaixo do PR 0

N.º de pisos acima do PR 1

Fontes de energia Eletricidade / Gás

Piso Regular, em bom estado de conservação e antiderrapante

Cobertura

Perfil ‘Tesoura’

Estrutura metálica

Isolamento térmico em fibra de vidro

Ventilação

Natural Janelas / Postigos em fachadas opostas

Artificial Piso 1: Ar condicionado

Piso 0: Refrigeração

Iluminação

Natural Norte / Sul / Poente / Nascente

Artificial Geral

Piso 1: Fluorescentes

Piso 0: Iodetos Metálicos

Local Piso 1: Incandescentes

Matérias-primas / Produtos intermédios /

Outros (produtos de limpeza / solventes)

Armazenados em embalagens próprias ou em

secundárias sempre com rótulo identificativo

Principais máquinas /

Equipamentos instalados

Máquinas de Impressão

Máquinas de Lavar e Secar

Máquinas de Corte e Vinco

Máquinas de Alta Frequência

Reservatório de Gás

Computadores

Compressores

Resíduos e efluentes

Águas residuais domésticas, lamas de tratamento físico-

químico, mistura de resíduos, papel e cartão, têxteis,

entre outros.

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30 Discussão dos Resultados

O edifício, de acordo com a legislação em vigor (art.º 8 do DL 220/2008), é de utilização

mista integrando a UT III «Administrativos» e UT XII «Industriais, oficinas e armazéns».

Uma vez que a área administrativa, 400 m2, possui uma área cerca de 10% inferior à da UT

XII, 3940 m2, e é um espaço necessário ao funcionamento da entidade exploradora da UT

em questão, sendo gerido sob a sua responsabilidade, não se encontrando acessível ao

público, para estas instalações irão prevalecer as especificações da UT XII, UT dominante,

em matéria de segurança contra incêndios.

A carga de incêndio de 42790,43 MJ/m2

(Despacho 2074/2008), cujo cálculo consta no

anexo I, remete o edifício para a categoria mais gravosa, 4ª categoria, dado ser superior a

15000 MJ/ m2 (art.º 12 do DL 220/2008).

As instalações encontram-se isoladas no lote, o que significa que não comunicam

diretamente com instalações vizinhas conforme evidenciado na figura 8.

Figura 8 – Área envolvente ao edifício

Aos quadros elétricos, posto de transformação, servidores informáticos, compressores,

armazém de químicos, armazém de matérias-primas, sistema de ar comprimido, depósito

de gás propano e ETAR foi atribuído a classificação de local de risco C (art.º 10 do DL

220/2008).

Estes locais apresentam riscos de eclosão e desenvolvimento de incêndio agravado em

virtude das características dos produtos, materiais e equipamentos existentes.

Após a caracterização anterior, será interessante apresentar os tempos de evacuação

previstos pela equação da Corporação de Bombeiros de Coimbra e compará-los com os

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 31

tempos de deslocação entre os vários postos de trabalho e uma das saídas disponíveis. Na

tabela 11 encontram-se os resultados dos cálculos do tempo de evacuação fruto do ajuste

da equação da Corporação de Bombeiros; enquanto a tabela 12 retrata o tempo de

deslocação até uma das saídas de evacuação do edifício.

Aliado a este estudo foi realizado um outro (no terreno) para determinar quais as saídas de

emergência que estão interiorizadas pelos colaboradores.

4.2 Modelo CSBC do cálculo do tempo de evacuação

O modelo CSBC para cálculo dos tempos de evacuação foi obtido através da equação

proposta pela Corporação de Bombeiros de Coimbra e é composto por quatro parcelas

diferentes:

Te = Ts + Tdh + Tde + Tep

Ts - Tempo de evacuação pelas saídas de emergência;

Tdh - Tempo de circulação pelas vias horizontais;

Tde - Tempo de circulação em escadas;

Tep - Tempo de escoamento máximo de um piso.

Algumas variáveis usadas nesta equação foram reajustadas para o edifício em estudo.

O tempo de evacuação pelas saídas do edifício envolvia originalmente o efetivo total a

evacuar e a largura total das vias de evacuação. Readaptado passou a incluir o efetivo do

local a analisar e a menor largura das vias de evacuação (situação mais desfavorável).

O tempo de circulação pelas vias horizontais definido inicialmente pela maior distância a

percorrer na horizontal desde o ponto mais desfavorável até à saída foi reformulado para a

distância a percorrer na horizontal até à saída.

O tempo de circulação em escadas não contemplou a “maior distância a percorrer em

escadas desde o ponto mais desfavorável até à saída” passando a ser somente a distância a

percorrer em escadas visto, no caso em estudo, existir apenas um piso acima do piso de

referência. Nesse mesmo piso existem várias as portas de acesso ao piso inferior, não se

considerando portanto haver desfavorecimento dos ocupantes que aí se encontrem.

O tempo de escoamento máximo de um piso passou a considerar o efetivo a evacuar no

local a avaliar e a menor largura das saídas em vez de optar por considerar apenas o efetivo

do piso mais desfavorável e a largura total das saídas do piso mais desfavorável.

A tabela 9 representa as variáveis que permitem o cálculo original do tempo de evacuação

de um edifício enquanto a tabela 10, inclui a readaptação das variáveis usadas para o

edifício em análise.

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32 Discussão dos Resultados

Tabela 9 - Definição das variáveis da fórmula de cálculo do tempo de evacuação Variável Definição da variável Definição da equação

Te Tempo de evacuação Te = Ts + Tdh + Tde + Tep

Ts Tempo de evacuação pelas saídas do edifício Ts = Et / (Ls x Ce)

Tdh Tempo de circulação pelas vias horizontais Tdh = Lh / Vh

Tde Tempo de circulação em escadas Tde = Le / Ve

Tep Tempo de escoamento máximo de um piso Tep = Ep / (Lp x Ce)

Et Efetivo total a evacuar -

Ls Largura total das vias de saída (m) -

Ce Coeficiente de evacuação (1,8 pessoas / m/s) -

Lh Maior distância a percorrer na horizontal desde o ponto mais desfavorável

até à saída (m)

-

Vh Velocidade de circulação em vias horizontais (0,6 m/s) -

Le Maior distância a percorrer em escadas desde o ponto mais desfavorável até

à saída (m)

-

Ve Velocidade de circulação em escadas (0,3 m/s) -

Ep Efetivo do piso mais desfavorável -

Lp Largura total das saídas do piso mais desfavorável -

Fonte: Corporação de Bombeiros de Coimbra

O reajuste das variáveis usadas na fórmula de cálculo do tempo de evacuação dos

Bombeiros encontra-se enunciado na tabela 10.

Tabela 10 - Ajuste da definição das variáveis do cálculo de tempo de evacuação

Variável Definição da variável

Et Efetivo a evacuar

Ls Menor largura das vias de evacuação (m)

Lh Distância a percorrer na horizontal até à saída (m)

Le Distância a percorrer em escadas até à saída (m)

Ep Efetivo a evacuar (= Et)

Lp Menor largura das saídas

Durante a formação sobre Segurança Contra Incêndios foi realizado um pequeno

questionário informal de forma a conseguir obter informações tão genuínas quanto

possível. Durante a apresentação do tema, os trabalhadores foram interrogados sobre

quantas saídas de emergência existiam ou quais as saídas de emergência que recordam e

foi notório o reconhecimento das saídas de emergência do Cais e da ETAR. Todavia, a

saída de emergência do Tapete Pannon apenas foi recordada, de imediato, pelos

colaboradores que laboram nesta área e a saída da entrada principal - entrada de

Administradores e Clientes - apenas foi assinalada pelos colaboradores que trabalham no

primeiro piso e pelo trabalhador que se encontra na zona da Preparação de Ecrãs – CTS

Signtronic.

4.2.1 Tempos de evacuação (Te) e tempos de deslocação (Te´)

Os resultados obtidos através da equação da Corporação dos Bombeiros encontram-se

registados na tabela 11 e em anexo. As áreas a evacuar foram divididas segundo o processo

de laboração em cada uma delas ou a principal máquina aliada a esse processo e o piso em

questão. Para facilitar a visualização, as figuras 9 e 10 representam as áreas envolvidas nos

cálculos nos pisos 0 e 1, respetivamente.

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Beleza, Natacha 33

Tabela 11 - Resultado dos cálculos do Tempo de Evacuação (Te)

Área a evacuar Te Cais

(s)

Te ETAR

(s)

Te Pannon

(s)

Te Entrada

PP (s)

Pis

o 0

Preparação de Ecrãs

CTS Signtronic (1) 79,3 79,7 240,0 32,2

Emulsão/Lavagem Quadros (2) 54,2 54,9 207,8 61,1

Prensas de Gravação (3) 54,9 55,2 207,8 56,1

Pequeno Formato

Carroussel Pannon (4) 56,9 57,7 210,6 105,6

Zona de colagem (5) 49,9 88,0 240,6 135,6

Guilhotina Josting (6) 87,6 106,4 203,9 150,0

Grande Formato

Thieme – Entrada (7) 62,1 119,7 134,4 168,9

Thieme – Meio (8) 106,5 101,1 164,4 137,5

Thieme – Saída (9) 96,0 62,5 215,0 116,7

Impressão Têxtil Tapete Pannon – Entrada (10) 119,8 139,9 35,6 212.8

Icomatex – Saída (11) 137,1 103,6 53,9 190.6

Acabamento

Rollmatik Roll (12) 71,9 80,5 233,3 128,3

Alta Frequência (13) 130,3 29,4 177,2 151,1

Cravar ilhós (14) 79,3 113,3 121,7 180.6

Costura (15) 28,6 131,6 205,6 164.4

Embalagem/Expedição

Mesa – Embalar (16) 84,8 112,2 135,6 170.6

Guilhotina Jumbo (17) 53,2 144,9 171,1 181.7

Mesa – Expedição (18) 22,6 135,8 193,3 175.0

Pis

o 1

Dpt. 1 Administrativo-Financeiro (19) 170,1 101,3 248.9 73,3

Dpt. 2 Comercial/Arquivo (20) 176,5 107.4 255.0 82,8

Dpt. 3 Qualidade (21) 186,5 123,6 266.7 92,2

Dpt. 4 Técnico (22) 198,6 130,9 278.9 100,6

Digital

Kongsberg (23) 255,4 185,8 172.2 153,9

Rho (24) 231,5 161,9 337.2 130,0

Zund (25) 208,8 139,1 285.6 107,2

Na tabela 12 para além dos tempos de deslocação assinalaram-se, a amarelo, as respostas

recebidas ao questionário elaborado no que toca às saídas de emergência que facilmente

são recordadas pelos trabalhadores.

Tabela 12 - Resultado dos tempos reais de deslocação até uma das saídas de evacuação

Área a evacuar Te´ Cais

(s)

Te´

ETAR (s)

Te´ Pannon

(s)

Te´ Entrada

PP (s)

Pis

o 0

Preparação de

Ecrãs

CTS Signtronic (1) 46,0 28,1 72,2 14,8

Emulsão/Lavagem Quadros (2) 35,6 14,1 59,2 14,6

Prensas de Gravação (3) 36,1 18,6 57,6 18,4

Pequeno Formato

Carroussel Pannon (4) 23,5 16,3 53,1 25,4

Zona de colagem (5) 25,4 25,7 45,9 34,7

Guilhotina Josting (6) 14,9 27,6 33,5 42,0

Grande Formato

Thieme – Entrada (7) 19,4 23,5 26,7 42,6

Thieme – Meio (8) 24,7 29,0 36,6 51,0

Thieme – Saída (9) 21,9 19,7 60,0 30,7

Impressão Têxtil Tapete Pannon – Entrada (10) 34,6 43,6 12,4 69,9

Icomatex – Saída (11) 38,1 29,4 19,7 76,4

Acabamento

Rollmatik Roll (12) 22,2 22,9 40,6 34,1

Alta Frequência (13) 37,3 10,0 48,0 32,1

Cravar ilhós (14) 17,4 31,1 39,8 42,8

Costura (15) 11,7 36,2 48,1 50,6

Embalagem/Expedi

ção

Mesa – Embalar (16) 21,4 27,7 40,2 47,7

Guilhotina Jumbo (17) 12,0 41,7 49,8 53,3

Mesa – Expedição (18) 4,1 35,2 44,7 48,0

Pis

o 1

Dpt. 1 Administrativo-Financeiro (19) 47,6 30,3 74,6 22,2

Dpt. 2 Comercial/Arquivo (20) 45,6 28,3 72,8 21,9

Dpt. 3 Qualidade (21) 56,0 38,4 82,3 32,3

Dpt. 4 Técnico (22) 53,7 37,0 79,6 30,0

Digital

Kongsberg (23) 53,7 57,4 53,7 48,3

Rho (24) 58,0 47,6 58,2 40,2

Zund (25) 62,7 43,3 64,0 36,4

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34 Discussão dos Resultados

A azul distinguiram-se as saídas que, apesar de mais próximas, não são espontaneamente

relembradas.

As áreas a evacuar referidas na tabela 12 encontram-se representadas nas figuras 9 e 10.

Figura 9 – Piso inferior do edifício

A próxima figura, figura 10, representa o piso 1 do edifício.

É importante recordar que na eventualidade de uma das saídas se encontrar obstruída pelo

fogo ou pelo fumo, os trabalhadores têm sempre oportunidade de escolher outra que

garanta a sua evacuação segura. Na eventualidade de ter de decidir por uma que não a mais

próxima, basta aos trabalhadores optarem pela que se encontra mais afastada do perigo.

9

1

2

3

6

4

10

11

5

8 7

12

13

15

14 16

18

17

ETAR

CAIS

Entrada

Principal Pannon

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Beleza, Natacha 35

Figura 10 - Piso superior do edifício

4.3 Atrasos no escoamento à saída

Após o cálculo dos tempos de deslocação, disponíveis para consulta no anexo, avaliou-se a

sensibilidade da evacuação segura para atrasos, Δt, de 0.5 s e de 1.0 s, à saída.

Os ocupantes foram dispostos por ordem de chegada à porta de saída e foi-lhes atribuído o

respetivo atraso aquando a sua chegada de acordo com o número de pessoas já presentes

no local. Sempre que o tempo de deslocação se verificasse igual ou inferior ao tempo de

deslocação do ocupante anterior, era-lhe somado o valor do atraso (0.5 s ou 1.0 s) à

diferença entre os tempos anteriores, passando este novo tempo a representar o tempo de

evacuação.

19

20

21

22 23 24 25

Acesso Piso 0

Acesso

Entrada PP

Acesso Piso 0

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36 Discussão dos Resultados

A evolução dos tempos de evacuação obtidos no Cais é apresentada na figura 11. Nesta

situação o tempo total máximo de evacuação ronda os 70 segundos.

Figura 11 – Tempos de evacuação no Cais durante a laboração normal

A figura 12 apresenta a evolução dos tempos de evacuação no Cais durante uma campanha

de Stand-Ups/Antenas. Nestas condições, o tempo máximo total de evacuação sobe para

um pouco mais de 80 segundos.

Figura 12 – Tempos de evacuação no Cais durante as campanhas de Stand-Ups/Antenas

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0

TE

MP

O D

E E

VA

CU

ÃO

(s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: CAIS - LABORAÇÃO NORMAL

Tempo de deslocação (s)

Tempo de evacuação 0,5s (s)

Tempo de espera na porta 0,5s (s)

Tempo de evacuação 1,0s (s)

Tempo de espera na porta 1,0s (s)

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0

TE

MP

O D

E E

VA

CU

ÃO

(s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: CAIS - CAMPANHÃ DE STAND-UPS

Tempo de deslocação (s)

Tempo de evacuação 0,5s (s)

Tempo de espera na porta 0,5s (s)

Tempo de evacuação 1,0s (s)

Tempo de espera na porta 1,0s (s)

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Beleza, Natacha 37

Os resultados obtidos na evacuação dos ocupantes pela porta do Cais durante uma

campanha de Dicionários são mostrados na figura 13. Os tempos máximos têm um valor

intermédio entre as situações anteriores.

Figura 13 – Tempos de evacuação no Cais durante uma campanha de Dicionários

Em relação à evacuação pela porta do Cais falta apenas mostrar os resultados obtidos

durante uma campanha de Galhardetes, figura 14.

Figura 14 - Tempos de evacuação no Cais durante uma campanha de Galhardetes

Os tempos anteriores foram estimados para as várias saídas existentes.

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0

TE

MP

O D

E E

VA

CU

ÃO

(s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: CAIS - CAMPANHÃ DE DICIONÁRIOS

Tempo de deslocação (s)

Tempo de evacuação 0,5s (s)

Tempo de espera na porta 0,5s (s)

Tempo de evacuação 1,0s (s)

Tempo de espera na porta 1,0s (s)

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0

TE

MP

O D

E E

VA

CU

ÃO

(s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: CAIS - CAMPANHÃ DE GALHARDETES

Tempo de deslocação (s)

Tempo de evacuação 0,5s (s)

Tempo de espera na porta 0,5s (s)

Tempo de evacuação 1,0s (s)

Tempo de espera na porta 1,0s (s)

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38 Discussão dos Resultados

Das várias situações contempladas, a mais desfavorável, em caso de eclosão de incêndio,

prende-se com a campanha de Stand-Ups/Antenas visto mobilizar diversos trabalhadores

para zonas muito próximas entre si. Se a evacuação for efetuada pela zona do Tapete

Pannon, os tempos de evacuação sobem, conforme se pode observar na figura15.

Figura 15 – Tempos de evacuação pela zona do Tapete Pannon numa campanha de Stand-Ups

4.4 Sensibilidade dos tempos de evacuação

Para completar o estudo sobre a sensibilidade dos tempos de evacuação, procedeu-se a uma

variação de ±5% e ±10%.

Estas percentagens foram arbitradas tendo em conta a diminuição do tempo se os

ocupantes durante a evacuação tenderem a correr em vez de andar em passo acelerado;

enquanto o aumento aspira a assemelhar-se ao tempo de evacuação caso, nos primeiros

instantes, os ocupantes duvidem do sinal de alerta e não procedam de imediato à

evacuação.

Os resultados que sofreram maior variação, conforme era de esperar tendo em conta o

historial anterior, foram os obtidos para a evacuação dos trabalhadores pela saída do

Tapete Pannon durante uma campanha de Stand-Ups/Antenas, figura 16. Observa-se, no

entanto, um outro fenómeno que é um comportamento não linear relativamente à variação

destes fatores. Opostamente ao que, eventualmente, alguém menos avisado poderia

esperar, as diferentes linhas não são paralelas, pelo contrário, cruzam-se várias vezes.

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0

TE

MP

O D

E E

VA

CU

ÃO

(s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: TAPETE PANNON - CAMPANHÃ STAND-UPS

Tempo de deslocação (s)

Tempo de evacuação 0,5s (s)

Tempo de espera na porta 0,5s (s)

Tempo de evacuação 1,0s (s)

Tempo de espera na porta 1,0s (s)

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 39

Figura 16 – Sensibilidade dos tempos de evacuação no Tapete Pannon (campanha de Stand-Ups)

4.5 Simulação de incêndio

Para terminar o estudo foi simulado um incêndio nas instalações com a ajuda da interface

gráfica da Thunderhead Engineering que permite simular incêndios e obter o diagnóstico

do movimento de fumo, temperatura e concentração de toxinas durante o incêndio, através

dos modelos FDS e Smokeview.

Convém recordar que o FDS é um modelo de dinâmica de fluidos computacional que

permite a simulação do incêndio através da dinâmica de escoamento de fluidos. O software

resolve numericamente uma série das equações apropriadas para fluxo termicamente

dirigido de baixa velocidade, com ênfase no transporte de calor e na névoa de incêndios.

O Smokeview é um programa de visualização empregue para apresentar o resultado das

simulações do FDS, podendo-se dizer que é o módulo de simulação de evacuação para o

FDS. Este software é usado para simular o movimento de pessoas em situações de

evacuação, podendo as simulações de evacuação ser totalmente acopladas com as

simulações de incêndio.

Como entrada de dados importou-se a planta das instalações em formato 3D no modelo de

AutoCAD.dwg. Seguidamente foram definidos os materiais das superfícies envolvidas na

simulação – chão e paredes – como inertes, cimento e tijolos, respetivamente. Face a planta

importada contemplar a maquinaria e restantes equipamentos, não houve necessidade de se

atribuir mobiliário no programa embora, este o permita. Por último, foi escolhido o local e

o material causador do incêndio. O material foi escolhido de acordo com os materiais

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0 T

EM

PO

DE

EV

AC

UA

ÇÃ

O (

s)

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: TAPETE PANNON - CAMPANHÃ STAND-UPS

Tempo de deslocação (s)

5% Diminuição do tempo de

deslocação (s)

Tempo de evacuação atraso 0,5s

(5% diminuição) (s)

Tempo de espera na porta 0,5s

(5% diminuição)(s)

Tempo de evacuação atraso 1,0s

(5% diminuição) (s)

Tempo de espera na porta 1,0s

(5% diminuição)(s)

10% Aumento do tempo de

deslocação (s)

Tempo de evacuação atraso 0,5s

(10% aumento) (s)

Tempo de espera na porta 0,5s

(10% aumento)(s)

Tempo de evacuação atraso 1,0s

(10% aumento) (s)

Tempo de espera na porta 1,0s

(10% aumento) (s)

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

40 Discussão dos Resultados

disponíveis, na própria livraria que o modelo contempla, e que apresentasse maior índice

de carga térmica, isto é, o mais próximo possível do papel. Por seu turno, o local escolhido

foi a prateleira de papel e autocolante que está assinalada na figura 17 a laranja enquanto

na figura 18 está evidenciada a taxa de queima obtida.

Figura 17 – Visualização do piso 0 da nave industrial no programa de simulação

A próxima figura representa a taxa de queima que se tornou constante a partir dos 9.0s de

simulação.

Figura 18 – Taxa de queima durante o incêndio simulado

0,0

20000,0

40000,0

60000,0

80000,0

100000,0

120000,0

140000,0

160000,0

180000,0

Taxa de Queima (kg/s)

Taxa de Queima (kg/s)

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Avaliação da Sensibilidade dos Tempos de Evacuação

Beleza, Natacha 41

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste estudo foi avaliado um edifício industrial, utilização-tipo XII de 4ª categoria de

risco.

Os tempos obtidos pela equação da Corporação de Bombeiros de Coimbra são

incrivelmente grandes quando comparados com o tempo real de deslocação entre os

diferentes locais e uma das saídas de emergência. Esta disparidade chega mesmo a atingir

500% de diferença, por exemplo, na evacuação dos ocupantes da zona de colagem até à

saída do Tapete Pannon. Pela definição das variáveis da equação dos tempos de evacuação

depreende-se que o cálculo destes tempos foi projetado para edifícios com construção em

altura.

Quanto aos tempos de evacuação obtidos, quando há um atraso de 0.5 s (evacuação de

duas pessoas por segundo) à saída por cada ocupante que chegue à porta, verificou-se não

haver grande influência nos resultados finais uma vez que as áreas a evacuar se encontram

dispersas pelo edifício e, apesar de haver congestionamento pontual em determinados

momentos, estes não afetam o tempo final de evacuação.

Porém, se a frequência de passagem através das portas diminuir de 0.5 s para 1.0 s por

pessoa, os resultados já não são tão satisfatórios e, em situação de perigo grave e iminente,

poderão fazer a diferença. Os tempos de evacuação sofrem também um ligeiro aumento

durante as campanhas de Stand-Ups/Antenas.

O tempo de evacuação mais elevado é registado na saída do Tapete Pannon durante o

aumento de 10% ao tempo de deslocação e deve-se ao facto de haver congestionamento da

saída a partir do momento em que os trabalhadores do setor Comercial chegam a esta

saída, figura 19.

Relativamente à simulação de incêndio, os resultados são diminutos uma vez que o tempo

de simulação era bastante elevado não se tendo concluído o seu cálculo. Dezanove horas

decorridas após o seu início, os resultados obtidos rondavam os 100s de simulação sendo

que a cada resultado parcial obtido, maior era o incremento ao tempo total de simulação.

Dado o tempo inicialmente estipulado para a simulação ser 600s, optou-se por interromper

a simulação visto o tempo de cálculo ultrapassar largamente uma semana. Sendo assim e

uma vez que a taxa de queima se tornou constante a partir dos 9.0 s optou-se por evidenciar

essa informação no trabalho agora apresentado.

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

42 Discussão dos Resultados

Figura 19 – Sensibilidade dos tempos de evacuação à saída do Tapete Pannon

-10,0

10,0

30,0

50,0

70,0

90,0

110,0 T

EM

PO

DE

EV

AC

UA

ÇÃ

O

LOCAIS A EVACUAR: EFETIVO (por ordem de saida)

LOCAL DE EVACUAÇÃO: TAPETE PANNON - CAMPANHÃ STAND-UPS

Tempo de deslocação (s)

Novo tempo deslocação c/

atraso 10% (s)

Tempo de evacuação atraso

1,0s (10% aumento) (s)

Tempo de espera na porta 1,0s

(10% aumento) (s)

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 43

6 CONCLUSÕES

Os tempos de evacuação calculados através da equação da Corporação de Bombeiros de

Coimbra apresentam lacunas, acabando por originar valores incomparavelmente superiores

aos tempos de evacuação retirados no terreno.

Por exemplo, a referida equação atribui importância idêntica ao tempo de evacuação pelas

saídas do edifício e ao tempo de escoamento máximo de um piso. Tratando-se de um

edifício industrial, a equação teve de ser reajustada de forma a poder ser aplicada à

situação em concreto de uma unidade fabril.

Um grande número de unidades fabris apenas contempla um piso de referência portanto, a

equação proposta pela Corporação de Bombeiros de Coimbra devia ser refeita atribuindo

percentagens parcelares aos tempos de percurso nos diferentes troços dos caminhos de

evacuação. Por exemplo, a importância do número de ocupantes num piso bastante acima

do piso de referência (construção em altura) será bem diferente da importância de apenas

existir um piso acima do piso de referência. Da mesma forma, a evacuação de uma unidade

comercial de grandes dimensões é bastante díspar da evacuação de uma habitação familiar.

Os tempos de evacuação mais influenciados pelo atraso provocado pela chegada dos

ocupantes à saída são os tempos durante as campanhas de Stand-Ups/Antenas. Tal deve-se

ao facto de vários trabalhadores se centrarem em áreas muito próximas umas das outras e,

principalmente, pela saída dos comerciais por esta porta. Para os trabalhadores dos setores

comercial (5 trabalhadores), administrativo-financeiro (3 trabalhadores), técnico (6

trabalhadores) e qualidade (1 trabalhador) aquela é a porta mais distante da sua área de

trabalho pelo que, após a chegada dos primeiros, de acordo com a ordenação anterior,

haverá sempre congestionamento à saída.

Torna-se de extrema importância referir que os estudos realizados contemplaram a saída

dos ocupantes por cada uma das portas isoladamente, isto é, primeiro avaliou-se a saída de

todos pela porta de emergência do Cais; em seguida, a da ETAR; depois, a do Tapete

Pannon e, por último, a da Entrada Principal. Na realidade, os trabalhadores poderão

dividir-se por estas saídas de emergência consoante o local onde se encontrem a trabalhar e

a zona afetada pelo perigo.

Do questionário informal depreende-se que, pelo menos uma das saídas de emergência

mais próxima ao trabalhador é facilmente reconhecida pelo mesmo. Paralelamente, a

conclusão retirada por Averill et al. (2011) em que há uma clara ligação entre o

comportamento humano e os códigos construtivos do edifício é evidenciada no momento

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Mestrado em Engenharia de Segurança e Higiene Ocupacionais

44 Conclusões

em que os ocupantes recordam consistentemente a porta de saída de emergência como

sendo a porta pela qual deram entrada no edifício.

As expetativas depositadas na possibilidade de comparação dos resultados obtidos no

terreno com os resultados obtidos pelo software foram defraudadas em resultado do

elevado tempo de computação da simulação em causa. Tal como Tan (2011) afirmou, esta

poderia ser considerada uma das desvantagens da utilização deste tipo de software. É

relevante também poder confirmar que a construção do modelo requer do utilizador um

certo nível de competência para completar esta tarefa.

Numa perspetiva mais abrangente, é crucial dar início à incorporação dos programas de

simulação da evacuação na formação-base de um engenheiro civil e despertar não só estes

como também os técnicos de segurança para a problemática da deflagração de um incêndio

em áreas bastante diversas.

Ganha relevância a consciência social da importância do conhecimento legislativo e da sua

análise, contribuindo para a diminuição de lacunas de cumprimento das exigências

normativas e para uma maior perceção do risco.

Programas com a funcionalidade do FDS são fundamentais para apelar a construções

seguras num futuro próximo.

Até ao momento, os programas de projeção de edifícios apenas contemplam a segurança da

obra em termos arquitetónicos na ocorrência de sismos, acústica, isolamento, entre outros.

Em termos de segurança contra incêndio o projetista cinge-se, em regra, a cumprir com a

legislação nuclear, isto é, cumprimento do número de saídas de emergência, colocação de

sinalética e iluminação, largura das vias de evacuação. Não tendo em conta, por exemplo,

os locais destinados a cargas térmicas mais elevadas, os produtos mais inflamáveis e o

número de ocupantes destinados (Ando et al. 1998) a cada área de trabalho.

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Análise das Condições de Segurança Contra Incêndios num Edifício Industrial

Beleza, Natacha 45

7 PERSPETIVAS FUTURAS

Numa perspetiva macro, a melhoria das condições em matéria de SCIE encontrará eco no

avanço da legislação visando incluir instrumentos práticos que permitam tornar as normas

mais facilmente concretizáveis por parte das empresas.

Alguns países entre os quais os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Nova

Zelândia complementaram a legislação prescritiva com modelos computacionais

disponibilizados, nomeadamente, pelos serviços governamentais, com vista a favorecer a

compreensão da lei e a induzir o seu cumprimento de modo mais fácil e seguro.

É neste caminho que igualmente se aponta.

Por exemplo, o estudo dos tempos de evacuação em conjunto com a formação de gases

tóxicos ou com a diminuição do grau de visibilidade perante a evolução do fogo poderá ser

importante para se compreender a (in)suficiência dos meios de intervenção perante as

variáveis em causa.

Entende-se ser relevante realçar a necessidade da adoção em Portugal, de instrumentos,

complementares da legislação prescritiva, de natureza mais prática, mais exatamente de

natureza computacional capazes de simular diversas situações e estudar os limites

aplicáveis a cada indústria em particular. Deste modo, o estudo efetuado permitiria

avaliações em casos extremos e balizaria os eventuais prejuízos patrimoniais e ambientais

e, acima de tudo, garantiria a segurança dos trabalhadores e visitantes dos edifícios,

determinando todas as medidas necessárias à sua salvaguarda.

Estes instrumentos podem, deste modo, contribuir para facilitar o estudo casuístico, de

forma célere e fundamentada, garantindo segurança, individualização e uma maior

flexibilidade na tomada de decisão e marcando a diferença entre a simples aplicação da

legislação e a sua aplicação face às condições reais do edifício.

Constituiria, sem dúvida, uma mais-valia se, em futuro próximo, a legislação de Segurança

Contra Incêndios em Edifícios pudesse ser complementada com a possibilidade de

Regulamentos Computacionais/Notas Técnicas para a aplicação do RJ-SCIE através de

modelos informáticos, viabilizando a análise e estudo das características dos meios de

intervenção e das medidas de autoproteção a adotar nas instalações.

A existência de um modelo computacional que acompanhasse normativos de elevada

complexidade como é o caso da SCIE, contribuiria para uma maior efetividade das leis e

para a melhoria das condições de segurança das pessoas em geral e dos trabalhadores de

uma organização em concreto, de defesa do ambiente e de salvaguarda do património.

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Beleza, Natacha 47

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1

ANEXOS

Cálculo da carga de incêndio modificada;

Cálculo dos tempos de evacuação através da equação da Corporação de Bombeiros;

Determinação dos tempos de deslocação;

Cálculo dos tempos de evacuação com atraso de 0.5 s por ocupante à saída;

Cálculo dos tempos de evacuação com atraso de 1.0 s por ocupante à saída;

Cálculo da sensibilidade da diminuição em 5% dos tempos de evacuação;

Cálculo da sensibilidade do aumento em 10% dos tempos de evacuação;

Simulação de incêndio.