Author
ngongoc
View
215
Download
0
Embed Size (px)
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Mestrado Integrado em Medicina Dentria
A TRAUMATOLOGIA INFANTIL E OS SEGUROS, ESCOLARES
E DESPORTIVOS, NO ENQUADRAMENTO MDICO-LEGAL
Ana Filipa Catarino Pratas Soares
Orientadora:
Professora Doutora Ana Teresa Corte-Real Gonalves
Coimbra 2013
2
3
A TRAUMATOLOGIA INFANTIL E OS SEGUROS, ESCOLARES
E DESPORTIVOS, NO ENQUADRAMENTO MDICO-LEGAL
Ana Filipa Soares1; Ana Corte-Real2
1 Aluna do Mestrado Integrado em Medicina Dentria da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
2 Doutorada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Departamento de Medicina Dentria, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Av. Bissaya Barreto, Blocos de Celas
3000-075 Coimbra, Portugal
E-mail: [email protected]
ABSTRACT: The increase of child trauma situations in school, home and sport is a
reality of our days. The role of the expert in the valuation of oro-facial damages within
child trauma situations is often associated with insurers procedures. Our study aimed
to analyze child trauma and the role of insurance in damages' compensation. For this
study we analyzed the clinical files of patients with ages bellow eighteen years old from
Dental Traumatology CHUCs query.
Keywords: Dental Traumatology; oral damage; forensic evaluation
4
Sumrio:
Introduo.5
Material e Mtodo.13
Resultados.16
Discusso..17
Concluso..22
Agradecimentos23
Bibliografia.24
5
Introduo
O aumento da casustica do traumatismo infantil no espao escola, casa e
desporto a realidade dos nossos dias.
Trinta por cento das crianas sofre de trauma na dentio decdua, na
proporo de dois meninos para uma menina. A prevalncia de trauma em dentes
definitivos tambm tem vindo a demonstrar-se alta, entre quinze e sessenta e um por
cento.(1)(2)
Quedas e acidentes durante os primeiros anos de vida so comuns e, um
trauma na dentio decdua pode afetar dos dentes permanentes, devido ntima
relao que existe entre eles.(1)
Os dentes mais afetados so os anteriores, principalmente os incisivos centrais
superiores.
Os traumatismos dentrios apresentam fatores etiolgico, fatores
desencadeantes e predisponentes.(3) Relativamente etiologia, so referidas como
as principais causas de traumatismos dentrios as quedas na prtica desportiva e o
contacto, interpessoal e com objetos do meio envolvente, fatores presentes no dia-a-
dia das crianas, tanto em casa como no ambiente escolar.(4) As caractersticas
fsicas presentes no espao escola como as condies do piso, as condies das
janelas, as escadas, a rea do ptio e tipo de superfcie do mesmo, o nmero de
alunos e nmero de vigilantes presentes no recreio so fatores desencadeantes deste
tipo de traumatismos, bem como as prprias brigas entre as crianas.(4) Considerando
fatores predisponentes dos traumatismos dentrios podemos considerar: o overjet
incisal aumentado; a presena de mordida aberta esqueltica associada a uma
incompetncia labial; a epilepsia, o autismo, a paralisia cerebral, a incapacidade
auditiva e visual e a hiperatividade. Podemos considerar os fatores individuais na
prevalncia dos traumatismos em escolas. Alunos do sexo masculino, com estado de
sade insatisfatrio, com baixa concentrao, com problemas de comportamento e
elevado stress tm maior risco para a ocorrncia de traumatismo em ambiente escolar
e fora do mesmo.(5)(6)
Consideramos neste estudo e segundo o artigo 122 do Cdigo Civil, que
menor quem no tiver ainda completado dezoito anos de idade.(7). O grupo infantil
que nos propomos estudar compreende os indivduos que frequentam a escolaridade
6
obrigatria. Porm no deixamos de considerar os indivduos inimputveis, que
frequentam o espao escola e que se enquadram no regulamento do Seguro
Escolar.(8)
Ao longo dos anos, vrias foram as escalas de classificao propostas, no
mbito de traumatologia orofacial, destacamos a de Andreasen (9)(10) International
Association for Dental Traumatology Guidelines (IADT Guidelines) (11), Ellis,
Organizao Mundial de Sade (OMS) e Garcia Godoy.
Destacamos a classificao da IADT, que distingue os traumas dentrios em
catorze classes para dentes decduos e em quinze classes para dentes permanentes
que se caracterizam se seguida.
A concusso e a subluxao, em dentes decduos e permanentes, afetam as
estruturas de suporte dentrio. Na concusso no existe mobilidade, nem
deslocamento do dente, nem hemorragia gengival, contudo ocorre a dor percusso.
Comparativamente, na subluxao, existe aumento da mobilidade do dente e
presena de hemorragia no sulco gengival. Em relao ao tratamento preconizado o
controlo clnico aps o acidente, na primeira semana, na sexta e oitava semanas para
a dentio decdua. Na dentio permanente, pode ser considerada a colocao de
frula flexvel por duas semanas e preconizada a monitorizao pulpar durante o
primeiro ano.
A extruso e a intruso correspondem ao deslocamento parcial do dente para
o exterior e interior do alvolo, respetivamente, com a separao total ou parcial do
ligamento periodontal na extruso e a fragmentao ou fratura do alvolo na intruso.
Em relao ao tratamento preconizado para a dentio decdua, em situao de
extruso, considerado o reposicionamento e a monitorizao clnica e radiogrfica,
na primeira semana, na sexta semana, aos seis meses e um ano. Os mesmos
controlos acontecem para a intruso, no entanto, tambm devem ser feitos controlos
anuais at erupo do dente permanente sucessor. Na situao de extruso grave
podemos considerar a eventual extrao dentria. Na dentio permanente, com o
reposicionamento deve ser considerada a colocao de uma frula por duas semanas
e os controlos clnicos e radiogrficos devem ser feitos aps duas, quatro e seis
semanas, seis meses, um ano e anuais durante cinco anos.
A luxao lateral corresponde ao deslocamento do dente no sentido axial,
relativamente ao dente adjacente. Este deslocamento pode ser acompanhado por
fragmentao ou fratura, do osso alveolar, quer em vestibular, quer em palatino ou
7
lingual. A luxao para palatino dos incisivos superiores pode resultar na interferncia
oclusal expressa pelo contacto prematuro com os dentes oponentes. Os ferimentos
causados pela luxao lateral so caracterizados pela separao parcial ou total do
ligamento periodontal e, na maioria dos casos, o pex tambm dirigido para o interior
do osso. Em relao ao tratamento preconizado para a dentio decdua a
monitorizao clnica preconizada entre a primeira e terceira semana; a
monitorizao radiogrfica preconizada na sexta-oitava semana e um ano. Em
relao ao tratamento preconizado para a dentio permanente, a monitorizao
clnica e radiogrfica preconizada na segunda-quarta-sexta-oitava semana, aos seis
meses, um ano e anualmente at aos cinco anos.
A avulso corresponde deslocao total do dente para fora do alvolo, que
clinicamente se encontra vazio ou preenchido por um cogulo. No recomendado
tratamento para a dentio decdua, apenas a monitorizao clinica e radiogrfica at
um ano. Em relao ao tratamento preconizado para a dentio permanente, a
monitorizao clnica e radiogrfica preconizada na segunda-quarta-sexta-oitava
semana, aos seis meses, um ano e anualmente at aos cinco anos.
A fissura de esmalte outro tipo de traumatismo particularizado, em que
sucede a fratura incompleta do esmalte sem perda de estrutura do dente. Para este
tipo de traumatismo no so necessrios tratamentos e controlos, o que acontece em
ambas as denties.
Na fratura de esmalte h a perda de estrutura do dente, no entanto, a fratura
apenas confinada ao esmalte. Em dentio decdua no necessrio qualquer
controlo, nem restaurao. Em dentio permanente, deve ser feita a restaurao dos
dentes envolvidos e respetivos controlos clnicos e radiogrficos ao fim de seis-oito
semanas e um ano. Na fratura de esmalte-dentina a dentina tambm atingida, mas
sem envolvimento pulpar. Em relao ao tratamento preconizado para a dentio
decdua a monitorizao clnica preconizada na terceira-quarta semana. Em
dentio permanente possvel tratamento, no entanto os controlos clnicos e
radiogrficos devem ser feitos ao fim de seis-oito semanas e um ano. Nos casos em
que ocorre exposio pulpar a fratura da coroa complicada e foi denominada como
fratura de esmalte-dentina com envolvimento pulpar. Em dentio decdua, o
tratamento possvel dependendo da maturidade do dente, devendo ser feito o
controlo clnico ao fim de uma semana e os controlos clnicos e radiogrficos aps
seis-oito semanas e um ano. No entanto, por vezes, a alternativa poder ser a
8
extrao. Em relao ao tratamento preconizado para a dentio permanente, a
monitorizao clnica e radiogrfica preconizada na sexta-oitava semana e um ano.
A fratura da coroa e raiz sem envolvimento pulpar atinge esmalte, dentina e
cemento. Em dentio decdua, preconizado o tratamento e neste caso os controlos
devem ser feitos uma, trs-quatro semanas e um ano depois; nos casos em que o
dente em causa foi extrado, deve ser feito o controlo clnico e radiogrfico ao fim de
um ano e anualmente at erupo do sucessor. Em dentio permanente
preconizado o tratamento e os controlos clnicos e radiogrficos devem ser feitos ao
fim de seis-oito semanas e um ano. Tambm poder ocorrer envolvimento pulpar
fratura da coroa e raiz com envolvimento pulpar. Em dentio decdua,
preconizado o tratamento nos casos em que apenas uma pequena parte da raiz est
envolvida; nas restantes situaes considerada a extrao do dente. A
monitorizao preconizada ao fim de um ano e anualmente at erupo do dente
sucessor. Em dentio permanente, preconizado o tratamento nas situaes de
afetao parcial da raiz e os controlos devem ser feitos ao fim de seis-oito semanas e
um ano.
A fratura radicular envolve o cemento, a dentina e a polpa. Este tipo de
fraturas pode ser classificado segundo o deslocamento ou no do fragmento coronal.
Existem trs tipos de fraturas radiculares, fratura do tero apical, fratura do tero
mdio e fratura do tero coronrio. Os casos de fratura do tero coronrio tm pior
prognstico. Em situaes de dentio decdua, sem deslocamento do fragmento, no
preconizado tratamento, porm se o fragmento est deslocado podemos considerar
a sua reposio ou eventual extrao. O controlo clnico deve ser feito aps uma
semana e o controlo clnico e radiogrfico aps seis-oito semana e um ano. Em caso
de extrao do fragmento os controlos clnico e radiogrfico devem ser ao fim de um
ano e anualmente at erupo do sucessor. Em dentio permanente tambm
possvel tratamento. Devem ser feitos controlos clnicos e radiogrficos aps seis-oito
semanas, quatro meses, seis meses, um ano e anuais durante cinco anos. Neste tipo
de fratura ao fim de trs meses possvel verificar a necessidade ou no de
prosseguir para tratamento endodntico.
A fratura alveolar corresponde mobilidade do processo alveolar. Em
dentio decdua possvel tratamento, o reposicionamento. E neste caso, o controlo
clnico deve ser feito uma semana depois e os controlos clnico e radiogrfico aps
seis-oito semanas, um ano depois e anualmente at exfoliao do dente envolvido.
Em dentio permanente tambm possvel o reposicionamento e, quatro semanas
9
aps deve ser feito o primeiro controlo clnico e radiogrfico e seis-oito semanas
depois, aos quatro e seis meses, ao um ano e anualmente durante cinco anos.
Por ltimo, podemos considerar as fraturas maxilar/ mandibular, que se
caracterizam pelo envolvimento das estruturas, maxilar e mandbula (12)
Segundo Le Fort, as fraturas craniofaciais so classificadas em trs tipos: Le
Fort I, Le Fort II e Le Fort III. No tipo Le Fort I ocorre uma linha de fartura horizontal do
maxilar que separa os processos alveolar, dentes e palato do resto do crnio. No Le
Fort II, a fratura envolve ambos os lados, o osso nasal, processo frontal da maxila,
soalho da rbita, processo zigomtico da maxila e processo pterigoide. No Le Fort III a
linha de fratura horizontal e passa, de cada lado, pela sutura frontonasal, sutura
frontomaxilar, lacrimal, etmide, fissura orbital superior, asa maior do esfenide e
sutura frontozigomtica.
Segundo as referncias da AO, as fraturas mandibulares podem ser sub
divididas em: fratura da snfise e parasnfise simples ou complexa; fratura do corpo da
mandbula simples ou complexa; fratura do angulo ou ramo da mandibula simples ou
complexa e fratura do processo condilar simples ou complexa.(13). Em relao ao
tratamento as fraturas mandibulares devem ser estabilizadas e monitorizadas, clinica e
radiograficamente, na sexta-oitava semana, no quarto e sexto ms, ao primeiro ano e
anualmente durante cinco anos aps o evento.(13)
O reconhecimento da relao causa /efeito um princpio relevante na
medicina legal e na medicina, em geral. A complexidade do estudo da traumatologia
oro facial est em relao com o diagnstico das patologias e suas inter-relaes com
as arcadas dentrias, complexo muscular crnio facial e equilbrio sensorial. A
avaliao mdico-legal de um evento traumtico deve ser iniciada desde o momento
do evento com a identificao espacial e temporal do acidente.(14) A evoluo das
leses para a sua cura ou consolidao e existncia de sequelas, no mbito do nosso
estudo deve ser interpretada, em sede de direito civil. Neste mbito diversos so os
parmetros a serem valorizados, patrimoniais e no patrimoniais.
So considerados parmetros de avaliao, da tabela de incapacidades
(permanentes) em direito civil, as perdas dentrias, as disfunes mandibulares, a
limitao da abertura bucal e a perturbao ps traumtica da ocluso dentria ou da
articulao temporo mandibular.(15) A avaliao das sequelas efetuada segundo
parmetros temporrios, quantum doloris; e permanentes, Afetao Permanente da
Integridade Fsico-Psquica (APIFP) Repercusso na Atividade Profissional (RAP)
10
Dano Esttico (DE) Repercusso na Atividade Sexual (RAS) Repercusso nas
Atividades Desportivas e de Lazer (RADL) Dependncias (D).(15)
O papel do perito na valorizao do dano oro-facial ps-traumtico est
correlacionado com a ao das seguradoras, entidades que avaliam a evoluo das
lees e colaboram no ajuste do valor indemnizatrio das sequelas decorrentes.
Parmetros de avaliao em Direito Civil.
Figura 1 Parmetros de avaliao em direito civil
11
Tab. 1 Tabela Nacional para Avaliao de Incapacidades Permanente em Direito Civil
Cdigo Valorizao
em pontos
Sc0701 Edentao completa insuscetvel de correo por prtese.. (atendendo repercusso sobre o estado geral)
20 a 28
Sc0702
Sc0703
Perda de dente insuscetvel de correo por prtese
Incisivo ou canino
Pr-molar ou molar.
1
1,5
Sc0704
Sc0705
Sc0706
Disfunes mandibulares..
Limitaes de abertura bucal igual ou inferior a 10mm
Limitaes de abertura bucal entre 10 e 30mm.
Limitaes de abertura bucal entre 31 e 40mm.
(atendendo bilateralidade, fenmenos dolorosos e perturbao da
funo)
21 a 30
6 a 20
at 5
Sc0707 Perturbao ps-traumtica da ocluso dentria ou da articulao
temporo-mandibular
(segundo a repercusso sobre a mastigao, a fonao e as algias)
2 a 10
Sc0708 Amputao da parte mvel da lngua
(tendo em considerao a repercusso sobre a palavra, a mastigao
e a deglutio, segundo a importncia das perturbaes)
3 a 30
O seguro escolar garante a cobertura dos danos ocorridos em acidente escolar
e abrange as crianas matriculadas em jardins-de-infncia da rede pblica e os alunos
dos ensinos bsico e secundrio, ensinos profissional e artstico, os alunos do ensino
particular e cooperativo em regime de contrato de associao, e ainda, os que
frequentam cursos de ensino recorrente e de educao extra-escolar realizados por
iniciativa e/ou colaborao do Ministrio da Educao; as crianas abrangidas pela
educao pr-escolar e os alunos do 1 ciclo do ensino bsico que frequentem
atividades de animao scio-educativa, organizadas pelas associaes de pais ou
pelas autarquias, em estabelecimentos de educao e ensino; os alunos dos ensinos
bsico e secundrio que frequentam estgios ou desenvolvam experincias de
formao em contexto de trabalho, que constituam o prolongamento temporal e
curricular necessrio certificao; os alunos participantes em atividades do desporto
escolar; as crianas inscritas em atividades ou programas de ocupao de tempos
livres, organizados pelos estabelecimentos de educao ou ensino e desenvolvidos
em perodo de frias. O seguro escolar abrange ainda os alunos que se desloquem ao
estrangeiro, integrados em visitas de estudo, projetos de intercmbio e competies
desportivas no mbito do desporto escolar. E ainda, os danos ocorridos em
12
consequncia de acidentes no trajeto entre a residncia e o estabelecimento de
ensino, ou vice-versa, desde que no perodo de tempo que precede imediatamente o
incio da atividade escolar ou imediatamente a seguir a atividade escolar.(8)
considerado acidente escolar o evento ocorrido no local e tempo de atividade
escolar que provoque ao aluno leso, doena ou morte.(8)
O seguro escolar garante a cobertura financeira da assistncia a prestar ao
aluno sinistrado na assistncia mdica e medicamentosa, no transporte, alojamento e
alimentao indispensveis para garantir a assistncia. A assistncia mdica em
situaes de urgncia prestada ao sinistrado por instituies hospitalares pblicas. A
assistncia mdica de continuidade pode ser prestada por instituies hospitalares
privadas ou por mdicos particulares abrangidos por sistema, subsistema ou seguro
de sade de que aquele seja beneficirio. O doente soberano na sua deciso, ou
seja, pode decidir pelo acompanhamento clinico da sua situao, no hospital pblico
ou noutra instituio.(8)
O seguro escolar garante o pagamento de indemnizao por incapacidade
temporria, cujo montante ser o de prejuzo efetivamente sofrido devidamente
comprovado; indemnizao por incapacidade permanente e indemnizao por danos
corporais. A indemnizao calculada em funo do grau de incapacidade que lhe
seja atribudo e o coeficiente de incapacidade fixado por junta mdica, de acordo
com a Tabela Nacional de Incapacidades.(16) Os parmetros de dano a avaliar so
diferentes conforme o domnio do direito em que se processa, face aos princpios
jurdicos que os caracterizam. A Tabela Nacional para Avaliao de Incapacidades
Permanentes em Direito Civil (Tab. 1) visa a criao de um instrumento de avaliao
neste domnio especfico do direito, consolidado numa tabela mdica com valor
indicativo, destinada avaliao e pontuao das incapacidades resultantes de
alteraes na integridade psico-fsica.(16)
13
Material e mtodo
Foram selecionados 10 doentes da Consulta de Traumatologia Dentria dos CHUC.
Esta seleo teve como princpio a faixa etria at aos 17 anos e 364 dias ou 365 nos
anos bissextos, momento em que a maioridade atingida. Os processos hospitalares
destes doentes foram devidamente consultados e analisados. Obtivemos desta
consulta trs doentes com traumatismos dentrios aos oito anos, trs doentes com
traumatismos dentrios aos doze anos, um doente com traumatismo dentrio aos
treze anos e dois doentes com traumatismos dentrios aos dezassete anos. (Tabs. 2 e
3)
14
Tab.2 Doentes da consulta de Traumatologia Dentria dos CHUC.
Legenda da Tabela :
FC fratura coronria; EP envolvimento pulpar; Ext. extrao; FM Fratura mandibular; FR fratura radicular; FA fratura alveolar; L luxao;
SL subluxao; A avulso; Mob. mobilidade; D dentrio; O sseo; M mucosa; TE- tratamento endodntico; RP restaurao provisria;
E extrao; PR prtese removvel; PF prtese fixa; RD restaurao definitiva
Idade data do acidente (anos)
Tipo e local do Acidente
Estruturas Envolvidas
Tipo de Traumatismo (IADT)
Tratamentos efetuados
Tratamentos programados
D O M
1 8 Atividade desportiva
X FC com EP (11). Pulpotomia e RP TE e RD
2 8 Escola X FC esmalte e dentina (31). Restaurao RD ou
TE e RD
3 8 Escola X X Ext. com retruso (31 e 32).
L (22).
Ferulizao (74 a 83). Sutura das feridas.
E(32)
Correo por PF implanto-suportada (32, 31 e 22)
4 12 Educao
Fsica X X
FC esmalte e dentina (85 e 26). FM, condilar direita.
Restaurao. Controlo da abertura
bucal e recomendao de exerccios em
ambulatrio
TE
5 12 Atropelamento X X X
FR (11). FA com L dentria e Mob.
(12, 21 e 22). FC (21 e 22).
E (11). TE e restaurao (21 e
22). Tratamento ortodntico bi-maxilar.
E (13 e 24).
PR at aos 18 anos. Implante.
Facetas cermicas ou coroas totais (12 e 13).
15
Tab. 3 - Doentes da consulta de Traumatologia Dentria dos CHUC
Idade data do acidente (anos)
Tipo e local do Acidente
Estruturas envolvidas
Tipo de Traumatismo (IADT)
Tratamentos efetuados
Tratamentos programados
D O M
6 12 Atropelamento X X
Escoriaes no lbio inferior. FAD (11 e 21) A (11).
L intrusiva e FC esmalte-dentina (21).
SL (12 e 22).
TE (21), sua trao ortodntica.
PR (11). Tratamento ortodntico.
PF (11 e 21).
7 13 Escola X FC com EP (11) Pulpotomia parcial e RP RD ou
TE e RD.
8 17 Educao
Fsica X FC oblqua (21)
Restaurao (colagem do fragmento)
TE e RD
9 17 Atividade desportiva
X X FC esmalte-dentina. (11,12 e 21)
SL dos dentes adjacentes e escoriaes no lbio superior.
TE (12). Restauraes a
compsito (11 e 21).
PF (12). Controlo (11 e 21) por
eventual necessidade de TE e PF.
Proteo bucal.
10 12 Escola X FC (21) RP TE e RD
Legenda da Tabela 3:
FC fratura coronria; EP envolvimento pulpar; Ext. extrao; FM Fratura mandibular; FR fratura radicular; FA fratura alveolar; L luxao;
SL subluxao; A avulso; Mob. mobilidade; D dentrio; O sseo; M mucosa; TE- tratamento endodntico; RP restaurao provisria;
E extrao; PR prtese removvel; PF prtese fixa; RD restaurao definitiva
16
Resultados
Na anlise dos processos dos doentes da consulta de Traumatologia Dentria dos da
rea de Medicina dentria da FMUC/CHUC verificmos que, em sete dos dez doentes,
os traumatismos dentrios tiveram incidncia nos incisivos superiores (73%); dos
doentes traumatizados foram atingidos os incisivos inferiores (13%). Noutra criana
foram afetados o molar superior definitivo e o molar inferior decduo. Tambm
verificmos a ocorrncia de uma fratura mandibular, condilar direita.
Graf. 1 - Distribuio de Traumatismos Oro-faciais por sexo.
Graf. 2 - Distribuio de Traumatismos Oro-faciais por idade
Idadesat aos 9 anos
9 aos 15 anos
16 aos 18
Graf. 3 Distribuio de Traumatismos Oro-faciais por fraturas coronrias.
Graf. 4 Distribuio de Traumatismos Oro-faciais por estruturas envolvidas.
Graf. 5 Distribuio de Traumatismos Oro-faciais por tipo de traumatismo.
17
Discusso
No universo da nossa amostra, o tipo de traumatismo oro facial
predominante foi a fratura coronria dos incisivos superiores, o que corrobora os
estudos existentes neste contexto.(3)
No mbito mdico-legal, a valorizao do dano corporal, da nossa amostra
realizada em sede de direito civil, com a valorao de parmetros patrimoniais e no
patrimoniais (figuras 2, 3 e 4)
A informao clnica do evento fundamental para a correta elaborao
do relatrio mdico/legal. A descrio do evento e a identificao do tipo de
traumatismo oro facial e respetivas leses so elementos basilares para a atribuio
do nexo de causalidade. Consideramos que o estabelecimento do referido nexo
fundamental no estabelecimento da correta valorao mdico legal do dano corporal.
Em relao partilha de informao clinica, podemos considerar que a
referida informao pode ser prestada pela entidade que acompanha o doente
diretamente ao tutor legal ou a pedido do ministrio publico atravs do Instituto
Nacional de Medicina Legal e Cincias Forenses (INMLCF,IP). Podemos considerar
que o pedido de informao requerida pelas seguradoras diretamente ao profissional
de sade pressupe o pedido de suspenso do sigilo profissional Ordem dos
Mdicos Dentistas (OMD) pelo profissional, para a divulgao da mesma.
Face faixa etria predominante da nossa amostra consideramos que na
atribuio do quantum doloris influi uma componente social de integrao escolar, que
no seria relevante na faixa etria inferior, podendo corresponder a uma qualificao
superior, at moderado (5/7)
O tipo de traumatismo predominante, fratura coronria dos incisivos superiores,
corresponde a um perodo de incapacidade temporria curto, por volta dos sete dias .
O perodo de incapacidade temporria o tempo em que h perda ou reduo da
capacidade para as atividades de dia-a-dia resultante do acidente escolar ou
desportivo, alimentao/mastigao e fala. Contudo salientamos que os tratamentos
que correspondem reabilitao fixa correspondem a perodos de incapacidade
temporria longos comparativamente com as fraturas de ortopedia, como por exemplo
a fratura da cabea do fmur, que tem um perodo de trs meses de imobilizao, ou
seja, tem um perodo de incapacidade inferior.
18
Na nossa amostragem no foi possvel a atribuio de data de
consolidao pelo que os relatrios efetuados apenas correspondem a uma discusso
preliminar. O relatrio clnico um documento elaborado pelo Mdico Dentista
responsvel pelo sinistrado e no seu contedo deve compreender: a informao
descritiva do traumatismo oro facial, os tratamentos efetuados, o prognstico e a data
da nova reavaliao.
Consideramos, com base no regulamento do Seguro Escolar que as
seguradoras atribuem um perodo de dezoito meses para tratamento dos danos
causados em acidentes escolares e/ou desportivos, a partir desse tempo o processo
do sinistrado (criana) arquivado. Pelo exposto, face aos longos perodos de
monotorizao clinica e radiogrfica, devem ser efetuados relatrios intercalares, para
evitar o arquivamento e esquecimento do processo.
Ao efetuar a correlao entre os tipos de traumatismos oro faciais do universo
da nossa amostra e o enquadramento mdico legal (figuras 2, 3 e 4), destacamos a
necessidade de monotorizao por um perodo mnimo de 1 ano. O perodo
necessrio de 12 meses decorrentes do acidente corresponde a um perodo
equivalente de acompanhamento do sinistrado pela entidade seguradora, no suporte
de honorrios e assistncia. Ao qual no se exclu a reabilitao aos 18 anos, data
que se considera, em termos mdico-legais, como data de consolidao. Pelo exposto
o alargamento de 1 ano, por um perodo varivel, consoante a idade do sinistrado
data do acidente (na faixa etria predominante pelo menos de 3 anos), atinge longos
perodos de incapacidade temporria. Estes extensos perodos de valorizao do dano
so contornados pelas entidades seguradoras com acordos entre as partes na
atribuio de um valor total para a reabilitao e valorizao do dano. Pelo que a
elaborao do relatrio mdico-legal se revela de extrema importncia e correo.
19
Figura 2 Enquadramento mdico legal da fratura coronria.
20
Figura 3 Enquadramento mdico legal da avulso.
21
Figura 4 Enquadramento mdico legal da fratura coronria.
22
Concluso
Com este trabalho podemos concluir que o tipo de traumatismo oro facial
predominante da consulta de Traumatologia Dentria da AMDFMUC a fratura
coronria dos Incisivos Superiores.
Este tipo de traumatismo corresponde a um perodo de incapacidade
temporrio baixo.
Para reabilitaes fixas na faixa etria predominante correspondem a pelo
menos 3 anos de incapacidade temporria, sendo perodos longos. Face ao que
aconselham relatrios intercalares.
Na consulta de Traumatologia Dentria da AMDFMUC embora haja uma
standardizao de critrios para formular corretamente todos os documentos
necessrios para garantir a cobertura de todos os tratamentos dentrios, ocorridos em
acidentes escolares e desportivos, pelas Seguradoras (Seguro Escolar e Seguro
Desportivo) o formulrio nem sempre preenchido,
23
Agradecimentos
Gostaria de agradecer minha Orientadora, Professora Doutora Ana Teresa Corte-
Real por toda a disponibilidade, prestao, incentivo e ensinamentos que me
transmitiu ao longo deste trabalho.
E aos meus colegas por todo o apoio ao longo deste trabalho.
24
Bibliografia
1. Zuanon A, Pansani C. Bad Formation in Permanent Teeh, RGO, P.Alegre, v.53, n.3, p.198-200, jul/ago/set. 2005.
2. Caldas IM, Magalhes T, Afonso A, E. Matos. Orofacial damage resulting from road accidents Dental Traumatology 2008 24, 410-415.
3. Pdua MC De, Mendes FM, Benedetto MS De, Volpi AC, Imparato JC, Azevedo G, et al. Prevalncia de leses dentrias traumticas em pr-escolares de escolas pblicas e particulares Prevalence of traumatic dental injuries in preschool childres of private and public schools. 2010;28(3):23740.
4. Correa MB. Traumatismos Dentrios e Ambiente Fsico Escolar, Pelotas, RS, Brasil. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clnica Integrada [Internet]. 2011 Apr 1 [cited 2013 Jul 10];11(2):26974. Available from: http://revista.uepb.edu.br/index.php/pboci/article/viewFile/726/675
5. Suu Y, Yu I, Wang T, Y Z. Unintentional Injuries at School in China: Patterns and Risk factors. Accident Analysis and Prevention. 2006;
6. Odoi R, Croucher R, Wong F, Marcenes W. The Relationship between problem behaviour and traumatic dental injury amongst children aged 7-15 years old. Community Dent Oral Epidemiol. 2002;
7. Art. 122o Cdigo Civil, Editora Almedina. 2009.
8. Regulamento Seguro Escolar - Dirio da Repblica no132. 1999;32218.
9. Andreasen JO. Textbook and Color Atlas of Traumatic Injuries to the Teeth (4th ed.), Oxford, Blackwell. 2007.
10. Andreasen JO, Andreasen FM. Essentials of Traumatic injuries to the teeth. 1990;
11. Bastone EB, Freer TJ, Mcnamara JR. Epidemiology of dental trauma: A review of the literature. 2000;(1):29.
12. Guidelines International Association for Dental Traumatology. 2010.
13. AO Surgery References. 2008.
14. Magalhes T. Clnica Mdico-Legal, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 2003.
15. Confdration europenne dexperts en valuation et rparation du dommage corporel; Guide-barme europen d'valuation mdicale des atteintes l'intgrit physique et psychique, 2a Ed. Anthemis L.G.D.J., Louvain-la-Neuve, 2006.
25
16. TABELA NACIONAL DE INCAPACIDADES (TNI). 2008;1172.