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por Ramiro Costa Júnior

Mestre soberano: Alfred Hitchcock

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Revista sobre o cineasta Alfred Hitchcock

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por Ramiro Costa Júnior

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Mestre Soberano - Alfred Hitchcock

por Ramiro Costa Júnior

Alfred Hitchcock nasceu em Londres em 13 de agosto de 1899, ao contrário da maioria das famílias inglesas, a sua era católica. Da sua infância, sempre contou a seguinte história: “Eu devia ter quatro ou cinco anos...Meu pai me

mandou à delegacia de polícia com uma carta. O delegado leu e me trancou numa cela por cinco ou dez minutos, me dizendo:’É isso que se faz com os garotinhos levados’". Talvez por isso, tenha sido o cineasta que melhor filmou o medo.

Estudou numa escola jesuíta, o Saint Ignatius College, onde o rigor disciplinar, como o uso da palmatória reforçaram o medo que existia no pequeno Alfred: ruim para ele, excelente para o cinema que viria a produzir.

Posteriormente foi para uma escola especializada, onde estudou mecânica, eletricidade, acústica, navegação e cursos na Universidade de Londres, no departamento de Belas-Artes. Desde cedo se interessou pelo cinema, assistindo filmes de Chaplin, Buster Keaton e Griffith, entre outros.

Começou a trabalhar em uma Companhia telegráfica e acabou sendo transferido para o departamento de publicidade, onde começou a desenhar. Em seguida foi contratado por uma empresa de

Aparição de Hitchcock

em “Pássaros”

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filmes, para fazer desenhos nos letreiros que aparecem nos filmes mudos. Não tardou para conseguir, graças ao seu enorme talento, um posto de assistente de direção. Em 1925 dirige de forma completa (há um projeto inacabado de 1922) seu primeiro filme, THE PLEAUSERE GARDEM. No ano seguinte dirigiria o seu primeiro filme importante, O INQUILINO SINISTRO ou The Lodger. Nesse filme ele faz a sua primeira aparição. Para que o leitor menos assíduo à obra do cineasta não se assuste ou estranhe, Hitchcock sempre aparece de forma rápida na maioria de seus filmes, principalmente no início.

Nos anos seguintes dirigiria inúmeros filmes, como O RINGUE, O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (versão inglesa), A DAMA OCULTA e A ESTALAGEM MALDITA, todos disponíveis no Brasil em DVD, entre outros. Em 1939 muda-se para os Estados Unidos, onde dirigiu inúmeras obras-primas, tornando-se um dos maiores cineastas de todos os

tempos. Os filmes de Hitchcock nos mostram um cineasta

apaixonado pelo que fazia, algo indispensável para o êxito em qualquer área de atuação humana, bem como um domínio absoluto da técnica cinematográfica e uma profunda maestria na arte de controlar a situação, leia-se a platéia. Seus trabalhos foram muitas vezes negligenciados pelos críticos mais antigos, acusados de serem apenas filmes comerciais ou meros suspenses. O que esses críticos do cinema não conseguiam, e infelizmente alguns ainda não conseguem, é enxergar, escapando da miopia purista, a profundidade e a grandiosidade da obra

Gary Grant e Ingrid Bergman

em “Interlúdio”

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hitchcokiana. Muitos afirmam que o suspense é a apresentação mais intensa de uma situação dramática ou os momentos privilegiados de um filme, sendo portanto, uma forma menor de espetáculo. Mas como defende o cineasta francês, François Truffaut, em sua magnífica entrevista com Hitchcock, os filmes desse gênio do cinema não revelam apenas

cenas bem executadas, pois eles foram construídos para que cada plano fossem momentos privilegiados.

Seu fazer cinematográfico revela uma profunda capacidade de construção de roteiros, domínio da fotografia e do som, bem como da montagem. Em seus filmes sentimentos como raiva, ciúme, desejo, ódio e obsessões, tão humanos, são mostrados de forma clara e direta, sem diálogos excessivos ou longos e cansativos devaneios intelectuais. Através do controle da técnica e da linguagem cinematográfica ele manipula a platéia, transformando-a em marionete de sua arte. Através da relação filme-platéia, revela a atração humana pelo medo, a força dos instintos e da loucura, a angustiante tormenta anterior, o poder imaturo dos desejos, a irremediável cobiça e o poder destrutivo do ciúme. Sua obra revela não apenas um gênio da técnica, mas também um construtor de arquétipos morais e éticos.

Sobre Hitchcock eu prefiro sempre indicar a obra, todavia vou apontar nesse espaço, de forma breve, cinco filmes do mestre. O primeiro é INTERLÚDIO (Notorius) de 1946, o filme nos remete ao final da 2ª Grande Guerra, onde Alicia (Ingrid Bergman), filha de um espião nazista preso nos EUA aceita uma missão do governo, aproximar e reatar contato com um antigo amigo de seu pai, Alexander Sebastian (Claude Rains, em atuação

James Stewart e Grace

Kelly em Janela Indiscreta

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soberba), que tem uma mansão no Rio de Janeiro repleta de nazistas. Para tanto, a moça irá contar com a “ajuda” do agente Devlin (Cary Grant). Mais que uma história de espionagem, o filme é um emocionante painel humano sobre o amor, a indiferença, o ciúme, a traição, a vulnerabilidade e busca por redenção. O roteiro é construído de forma magistral, a direção inequívoca e as atuações enriquecem o filme. A cena final está entre as maiores do cinema, uma prova do talento e das sutilezas estéticas desse cineasta completo.

O segundo filme é JANELA INDISCRETA (Rear Window) de 1954. Nele James Stewart interpreta um fotógrafo com a perna engessada e em cadeira de rodas que espiona pela janela, com

sua poderosa teleobjetiva, seus vizinhos. Um assassinato pode vertigens, vivido por James Stewart, se vê envolvido numa trama terrível, que o levará da descoberta de uma nova paixão às mais terríveis decepções que as armadilhas da vida podem proporcionar. Sobre PSICOSE, não vou fazer comentários, apenas peço que assistam primeiro a esse filme, pois ele é maior que qualquer palavra dita por um crítico, cinéfilo, detrator ou amante da obra de Alfred Hitchcock.