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1 Metodologia de estudo e análise de escoamento de gases com transferência de calor por meio de simulação computacional em CFD (Computational Fluid Dynamics) para otimização do processo de carbonização da madeira em tecnologia DPC (Dry, Pyrolisis, Cooling) Nota Técnica em atendimento ao Termo de Referência do contrato 49, do ano de 2013, entre CGEE e MDIC, para subsídios em: “Modernização da Produção de Carvão Vegetal”

Metodologia de estudo e análise de escoamento de gases com

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Metodologia de estudo e análise de escoamento de gases com transferência de calor por meio

de simulação computacional em CFD (Computational Fluid Dynamics) para otimização

do processo de carbonização da  madeira em tecnologia DPC (Dry, Pyrolisis, Cooling)

Nota Técnica em atendimento ao Termo de Referência do contrato 49, do ano de 2013, entre CGEE e MDIC, para subsídios em:

“Modernização da Produção de Carvão Vegetal”  

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MODERNIZAÇÃO  DA  PRODUÇÃO  DE    CARVÃO  VEGETAL  

 

   Nota  Técnica    

“Metodologia  de  estudo  e  análise  de  escoamento  de  gases  com  transferência  de  calor  por  meio  de  simulação  computacional  em  CFD  (Computational  Fluid  Dynamics)  para  otimização  do  processo  de  carbonização  da  madeira  

em  tecnologia  DPC  (Dry,  Pyrolisis,  Cooling)”

Brasília,  DF  Julho  2014

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Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Presidente Mariano Francisco Laplane Diretor Executivo Marcio de Miranda Santos Diretores Antonio Carlos Filgueira Galvão Gerson Gomes Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE SCS Qd 9, Lote C, Torre C Ed. Parque Cidade Corporate - salas 401 a 405 70308-200 - Brasília, DF Telefone: (61) 3424.9600 Fax. (61) 3424 9659 http://www.cgee.org.br Este relatório é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Contrato Administrativo CGEE/MDIC 49/2013/Ação: Subsídios para Revisão do Plano Siderurgia (Carvão Vegetal) - 29.1.1. Todos os direitos reservados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos neste relatório não poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos.

 

Nota  Técnica:  “Metodologia  de  estudo  e  análise  de  escoamento  de  gases  com  transferência  de  calor  por  meio  de  simulação  computacional  em  CFD  (Computational  Fluid  Dynamics)  para  otimização  do  processo  de  carbonização  da  madeira  em  tecnologia  DPC  (Dry,  Pyrolisis,  Cooling)”.  Subsídios  2014  ao  Plano  Siderurgia  do  MDIC:  Modernização  da  Produção  de  Carvão  Vegetal.  Contrato  Administrativo  CGEE/MDIC  49/2013.  Brasília:  Centro  de  Gestão  e  Estudos  Estratégicos,  2014.    20  p.    1.    Simulação  Carbonização.  2.  Otimização  Carvão  Vegetal.  I.  CGEE.  II.  Título.    

 

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MODERNIZAÇÃO  DA  PRODUÇÃO  DE    CARVÃO  VEGETAL  

 

   Nota  Técnica    

“Metodologia  de  estudo  e  análise  de  escoamento  de  gases  com  transferência  de  calor  por  meio  de  simulação  computacional  em  CFD  (Computational  Fluid  Dynamics)  para  otimização  do  processo  de  carbonização  da  madeira  

em  tecnologia  DPC  (Dry,  Pyrolisis,  Cooling)”   Consultor Nehemias  Lima  Lacerda   Equipe Técnica do CGEE Elyas  Ferreira  de  Medeiros  (Liderança  do  Estudo)  Cristiano  Hugo  Cagnin  (Apoio  Metodológico)  Marina  Brasil  (Apoio  Administrativo)    

   

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CONTEÚDO    

RESUMO  EXECUTIVO                   6  

 

1.  INTRODUÇÃO                 7  

2.  MÉTODO  NUMÉRICO                 8  

3.  SIMULAÇÃO  DE  COMPONENTES             10  

  3.1.  Queimadores               10  

  3.2.  Câmara  de  Fornos               12  

  3.3.  Chaminés                 13  

  3.4.  Trocadores  de  Calor             14  

4.  SIMULAÇÃO  DO  PROCESSO  DPC             17  

5.  INOVAÇÃO  POR  SPIN-­‐OFF               17  

6.  CONCLUSÃO                   18    REFERÊNCIAS                   19        

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RESUMO  EXECUTIVO  A   demanda   por   carvão   vegetal   no   setor   siderúrgico   brasileiro   tem   aumentado  substancialmente   nos   últimos   anos,   acarretando   maior   produção   deste   insumo.   A  etapa  de   resfriamento   tem  sido  constantemente   reduzida  como  forma  de  diminuir  a  duração  do  processo  de  carbonização  como  um  todo.  

Para  se  otimizar  o  sistema  de  carbonização  de  modo  geral  é  necessário  que  se  produza  uma   distribuição   de   velocidade,   pressão   e   temperatura,   que   contorne   as   toras   de  madeira   de   forma   adequada,   para   transformá-­‐las   em   blocos   de   carvão   com   maior  eficiência   (rendimento   gravimétrico),   assim   como,   outras   melhorias   que   podem   ser  implementadas  em  diversos  componentes  do  forno.  

Esta  distribuição  é  convenientemente  obtida  por  meio  de  modificações  com  resultados  antecipados  por   simulação   computacional   em  CFD   (computational   fluid  dynamics),   a  qual  flexibiliza  a  solução  de  problemas  de  alta  complexidade  em  engenharia,  de  modo  rápido   e   a   custos   mais   baixos   do   que   realizar   apenas   experimentos   físicos.   As  simulações  são  complementares  aos  ensaios  experimentais,  pois   indicam  a  tendência  da   ocorrência   de   fenômenos   reais,   permitindo   o   conhecimento   da   intimidade   do  referido  processo  físico.  

A  simulação  computacional  propicia  o  estudo  da  formação  de  vórtices,  recirculações  e  estratificação   dos   gases   que   conduzem   a   um   ambiente   interno   com   distribuição  heterogênea   de   temperatura.   Esta   distribuição   heterogênea   normalmente   produz  carbonização  inadequada  propiciando  a  formação  de  tiço  no  que  diz  respeito  ao  forno.  Por   outro   lado,   os   processos   de   aquecimento   e   resfriamento   também   contam   com  efeitos   colaterais   advindos   da   transferência   de   calor   inadequada   no   respectivo  equipamento.   Os   efeitos   mais   marcantes   são   o   início   do   processo   de   carbonização  utilizando  madeira   com  maior   teor   de   umidade   e,   na   fase   final,   maior   intervalo   de  tempo  para  resfriamento  do  carvão.  

Apresenta-­‐se   a   seguir   uma   metodologia   avançada,   podendo   inclusive   utilizar   os  mesmos   critérios,   ferramentas   matemáticas,   métodos   computacionais   e   tecnologias  adotadas   na   fronteira   do   conhecimento,   para   a   produção   de   um   padrão   de  escoamento  e  um  processo  de  transferência  de  calor  de  modo  mais  eficiente.    

Os   maiores   benefícios   que   podem   ser   obtidos   com   esta   otimização   será   a   melhor  qualidade   de   queima   do   carvão,   a   maior   quantidade   de   material   carbonizado   e   o  menor   tempo   de   cada   etapa   do   processo,   resultando   em   redução   do   prazo   para  obtenção  do  produto  final,  redução  de  tiço  e  agressão  ao  meio-­‐ambiente.  

O  objetivo  do  presente  trabalho  é  indicar  a  aplicabilidade  da  tecnologia  de  simulação  computacional,   associada   ao   modelamento   matemático   para   entendimento   do  comportamento  geral  do  escoamento  de  gases,  no   interior  de  ambientes  confinados  sujeitos   a   gradientes   térmicos,   insuflamento   e   exaustão,   assim   como,   das  particularidades  de  cada  caso,  mostrando  as  oportunidades  de  melhorias  do  referido  processo  industrial.  

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1. INTRODUÇÃO  

O   processo   de   industrialização   no   Brasil   é   altamente   dependente   do   uso   do   carvão  vegetal.   A   grande   conveniência   deste   produto   é   seu   baixo   custo,   sua   origem   ser   de  uma   matéria-­‐prima   de   grande   abundância   no   País   e   o   processo   de   produção   do  mesmo  ser  de  fácil  operação.  

Com  isto,  diversas  usinas  de  pequena  capacidade  de  produção,  adequadas  ao  mercado  do   aço   foram   instaladas   no   Brasil.   A   implantação   da   Usina   Siderúrgica   Nacional   em  Volta   Redonda   na   década   de   50   conduziu   ao   uso   de   coque   do   carvão   mineral  importado,  conduzindo  a  uma  competição  entre  as  duas  modalidades  desta  matéria-­‐prima.  Este  fato  causou  uma  queda  no  uso  de  carvão  vegetal.  

Por   outro   lado,   os   processos   de   redução   que   fazem   uso   do   carvão   vegetal   são  praticamente  isentos  de  enxofre,  conduzindo  a  produtos  de  melhor  qualidade  uma  vez  que  apresentam  baixos  teores  de  inorgânicos.  

Outro   fato   a   se   utilizar   na   justificativa   do   uso   de   carvão   vegetal   é   que   o   uso   deste  apresenta  menor   agravamento  do  efeito   estufa,   tornando  atrativa   a  produção  deste  termoredutor  para  as  mais  variadas  aplicações  da  engenharia,   sendo  a  siderurgia  um  grande  mercado  consumidor.  

De  acordo  com   informações  obtidas  no  Balanço  Energético  Nacional   (Brasil,  2011),  a  madeira   e   o   carvão   vegetal   representam   9,7%   da  matriz   energética   nacional,   sendo  transformada  em  carvão  um  total  de  33,1%  da  madeira  produzida  em  2010.  Cerca  de  84,8%  do  carvão  vegetal  produzido  naquele  ano   foi  direcionado  ao   setor   siderúrgico  do   Brasil,   correspondendo   a   21,6%   da   energia   demandada.   Comparando-­‐se   estes  dados  estatísticos  com  o  mercado  mundial,  verifica-­‐se  a  dependência  do  Brasil  nesta  matéria-­‐prima,  pois  no  mundo  representa  apenas  uma  parcela  de  1%  na  produção  de  ferro  gusa.  

Embora  o   carvão  vegetal   seja  de  grande  valia  para  o   setor   siderúrgico,  o   sistema  de  produção  ainda  segue  os  mesmos  moldes  de  séculos  passados,   tornando-­‐se  nos  dias  de   hoje   arcaico   e   rudimentar.   A   operação   e   desempenho   do   processo   tornam-­‐se  dependentes  de  parâmetros  físicos  altamente  variáveis  de  caso  para  caso.  

Após  a  obtenção  da  madeira   seca  em  campo,  esta  é   transportada  para  as  praças  de  carbonização,  iniciando-­‐se  o  processo  de  pirólise  em  fornos  de  alvenaria.  Este  processo  tem  uma  duração   de   5   a   11   dias.  Neste  mesmo   local   é   realizado   o   resfriamento   do  material  até  que  a  temperatura  aproxime-­‐se  de  40o  C.  A  partir  daí  o  carvão  está  pronto  para  ser  armazenado  e  transportado.  

Ocorre  que  o  processo   como  um   todo  apresenta  diversas  perdas  de  energia  que  vai  desde   o   escoamento   interno   no   forno,   até   a   perda   térmica   substancial   durante   o  processo  de  resfriamento.  O  calor  transmitido  durante  a  fase  de  resfriamento  pode  ser  utilizada  na  redução  do  tempo  de  secagem  da  madeira,  propiciando  a  minimização  do  consumo  energético  na  produção  de  carvão.  

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Os  fatores  associados  aos  processos  físicos  de  escoamento  de  gases  com  troca  de  calor  podem  ser  otimizados  por  meio  de  simulação  computacional  em  CFD  (Computational  Fluid   Dynamics).   Com   isso,   a   modelagem   matemática   e   simulação   computacional  capacitam  a  análise  de  diversas  situações  propiciando  a  concepção  de  novas  soluções,  a   modernização   de   processos   consagrados   e   o   reparo   de   não   conformidades   de  processos  industriais  que  apresentam  anomalias  de  desempenho.  

A  grande  conveniência  desta  metodologia  é  a  maior  rapidez  em  se  obter  soluções  de  engenharia   que   capacitam   o   aumento   da   eficiência   de   processos   físicos   com  consequente   redução   do   consumo   de   energia   e   custos   de   produção.   Este   método  computacional  é  largamente  utilizado  no  desenvolvimento  das  tecnologias  avançadas,  tais  como:  aeronáutica,  espacial,  defesa,  automotiva,  energia,  óleo  e  gás.    

Além   de   ser   um   método   altamente   conveniente   para   melhoria   de   processos  industriais,  propicia  o  entendimento  dos  fenômenos  físicos  presentes  com  acesso  aos  parâmetros  que  regem  o  comportamento  do  escoamento  com  transferência  de  calor,  conduzindo   à   otimização   almejada   e   correspondentes   inovações   tecnológicas,  agregando  substancial  valor  ao  processo  industrial  em  estudo.  

2. MÉTODO  NUMÉRICO  

As   oportunidades   de   realização   na   engenharia   moderna   contam   com   soluções,  anteriormente   disponíveis,   apenas   por   meio   de   grandes   investimentos   de   recursos  humanos  e  financeiros.  

Com   o   advento   da   computação   científica,   foram   desenvolvidos   códigos  computacionais   comerciais   para   buscar   as   soluções   de   problemas   de   dinâmica   de  fluidos,  a  serem  aplicadas  a  projetos  de  aeronaves,  mísseis  e  foguetes.  

Estes  códigos  normalmente  contaram  com  a  validação  por  meio  de  exaustivos  ensaios  experimentais   em   túneis   de   vento   e   laboratórios   de   física   de   fluidos.   As   soluções  computacionais  disponíveis  no  mercado  estão  configuradas  para  uma  faixa  ampla  de  situações  possíveis,  aplicáveis  aos  mais  variados  setores  da  economia.  

O  conjunto  de  códigos  computacionais  que  permitem  a  simulação  do  escoamento  de  ar   e   produtos   de   combustão   com   troca   térmica,   de  modo   geral   e   em   particular   no  interior  de  fornos  de  carbonização,  normalmente  são  compostos  por  uma  estrutura  de  módulos  numéricos  interligados  para:  

• Pré-­‐processamento  -­‐  representação  da  descrição  geométrica,  malha  de  cálculo  numérico  e  preparo  para  inserção  das  condições  de  contorno  do  problema;  

• Processamento   –   cálculo   numérico   dos   fenômenos   físicos   presentes   no  problema;  e  

• Pós-­‐processamento   –   obtenção   dos   resultados   referentes   aos   cálculos  realizados   constituídos  de   tabelas,   gráficos  e   figuras  para  análise  e   confecção  de  relatórios.  

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Após  a  malha  que  descreve  o  fenômeno  físico  em  questão  ser  inserida  no  software  de  pós-­‐processamento,   todas  as  operações  de  cálculo  de   fluido   são  por  ele  executadas.  Estas   requerem   a   escolha   do   fluido   de   trabalho,   por   meio   de   propriedades   físicas  conhecidas.   A   definição  dos  modelos   físicos   a   serem  utilizados   (regime  permanente,  transitório,   turbulento,   etc.)   é   realizada   nesta   etapa,   antecedendo   ao   cálculo  propriamente  dito.  A  este  também  se  inserem  as  condições  de  contorno.  

O  código  computacional  utilizado  para  simulação  de  escoamento  de  fluidos  com  troca  térmica,  normalmente  aplica  a  técnica  baseada  em  volume  de  controle,  convertendo  as  equações  que  governam  o  fenômeno  em  estudo  em  equações  algébricas,  a  serem  resolvidas  por  meio  de  métodos  numéricos.    

A  discretização  das  equações  que  governam  o  fenômeno  físico  representado  pode  ser  ilustrada   em   se   considerando   as   leis   da   conservação   em   regime   permanente   para   o  transporte  da  quantidade  escalar  Φ .  

Isto   é   demonstrado   pela   equação   escrita   na   forma   integral   para   um   volume   de  controle  V,  como  se  segue:  

∫∫∫ ΦΦ +⋅Φ∇Γ=⋅ΦV

dVSAdAdv!!!!

ρ  

(  1  )  

Onde  ρ  é  a  densidade  do  fluido  no  interior  do  domínio  computacional,  ν  o  respectivo  vetor  velocidade,  A  o  vetor  área,  ΓΦ  é  coeficiente  de  difusão  de  Φ  e  S  é  a  fonte  de  Φ  por  unidade  de  volume.  

A   técnica   de   volume   de   controle   consiste   na   integração   das   equações   em   cada  elemento   de   volume,   conduzindo   a   expressões   algébricas   discretas   que   conservam  cada  uma  das  quantidades  em  cada  um  destes  elementos.    

A   equação   1   é   aplicada   para   cada   volume   de   controle,   no   domínio   computacional  completo.  Uma  vez  que  todo  o  domínio  esteja  decomposto  em  elementos  discretos,  o  processo  se  aplica.    

As  células  que  compõem  o  domínio  são  exemplos  de  volume  de  controle  localizado.  A  composição  da  equação  1  para  elemento  discreto  em  sua  forma  integral  é  conduzida,  por   meio   do   método   de   volumes   finitos,   a   um   sistema   de   equações   lineares.   Este  sistema  de  equações  lineares  demanda  o  conhecimento  das  condições  de  contorno  e  da   geometria   do   problema.   Uma   grande   conveniência   do   método   é   a   aplicação   a  problemas  envolvendo  geometrias  complexas.    

Uma  vez  que  o  problema  esteja  determinado  por  meio  da  geometria  e  das  condições  de   contorno,   o   sistema   de   equações   lineares   torna-­‐se   passível   de   solução.   Para  problemas   reais   estas   soluções   normalmente   são   obtidas   após   certo   número   de  iterações.  O  sistema  de  equações  lineares  oriundo  da  equação  1  é  representado  pela  equação  2.  

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dVSAdAvface sface s N

fn

N

fffff ΦΦ∑∑ +⋅Φ∇Γ=⋅Φ

!!!! )(ρ  

(  2  )  

A  equação  2  é  resolvida  durante  a  fase  de  processamento  em  sua  forma  matricial  e  se  aplica  às   situações   reais  multidimensionais  para   solução  de  escoamentos.  O  domínio  da   simulação   aplicada   a   fornos   de   carbonização   é   formado   por   uma   malha   que  representa   toda   a   parte   interna  do   forno,   indicando   a   carga   formada  pelas   toras   de  madeira,  canais  de  insuflamento  de  ar  quente,  chaminé,  trocadores  de  calor  e  demais  acessórios  representativos  do  processo,  através  do  qual  ocorre  escoamento  de  fluido  com  transferências  de  calor.  

Após  a  solução  matemática  dos  fenômenos  físicos  presentes  no  domínio  da  simulação,  procedem-­‐se  à  coleta  de  informações  por  meio  da  representação  gráfica  de  campos  de  velocidade,  densidade,  pressão,  temperatura,  etc.  A  distribuição  de  linhas  de  corrente  do  escoamento  é  de  fundamental  importância  para  se  determinar  o  caminho  segundo  o  qual  o  fluido  de  trabalho  se  desloca  em  todo  o  domínio  do  estudo.  

O   processo   de   visualização   de   escoamento,   como   mencionado   acima,   propicia   a  correção  da  geometria  e  condições  operacionais  do  forno  e  seus  acessórios,  de  modo  a  se   otimizar   o   seu   funcionamento   ou   criar   inovações   tecnológicas,   rompendo-­‐se  paradigmas  até  então  seguidos.  

3. SIMULAÇÃO  DE  COMPONENTES  

A  aplicação  da   técnica  de   simulação  computacional  em  CFD,  para  entendimento  dos  processos  físicos  presentes  em  fornos  de  carbonização  de  madeira,  como  demais  áreas  da  engenharia,  aplica-­‐se  tanto  ao  conjunto  de  componentes  que  constituem  um  forno,  como  também  por  um  agrupamento  de  fornos  em  operação  sincronizada.  

Para  se  iniciar  um  trabalho  neste  sentido,  deve-­‐se  otimizar  cada  um  dos  componentes  principais  do  forno,  composto  por  queimadores,  câmara  de  confinamento  das  toras  de  madeira,   chaminés,   trocadores   de   calor   e   dutos   de   comunicação   entre   fornos   em  eventual  operação  sincronizada.  

A   partir   dos   resultados   obtidos,   sugere-­‐se   a   simulação   de   conjuntos   de   modo   a   se  obter   a   maximização   dos   resultados   representados   pela   redução   do   tempo   de  carbonização,  do  consumo  de  energia  e  da  geração  de  tiço.  3.1. Queimadores  

Os   queimadores   são   dispositivos   que   propiciam   a   combustão   direcionada   de  substâncias   inflamáveis   que   com   a   existência   de   comburente   capacitam   o  aquecimento  de   gases   por   irradiação   e   convecção.  O   aquecimento  de  partes   sólidas  ocorre  basicamente  por  condução.  

Estes  queimadores  normalmente  encerram  um  conhecimento  adquirido  por  meio  de  extensivas  pesquisas  em  laboratório  em  conjunto  com  simulações  computacionais.  As  empresas   que   possuem   este   conhecimento   normalmente   registram   este   privilégio,  uma  vez  que  o  apelo  comercial  destes  artefatos  é  de  grande  valia.  A  figura  1  refere-­‐se  

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a  uma  iniciativa  de  projeto  de  um  queimador  baseada  em  conhecimento  adquirido  por  meio  de  trabalhos  práticos  neste  ramo  da  engenharia.  

 

 

  Figura  1  -­‐     Simulação   de   queimador,   por   meio   de   projeto   tradicional,   para   aquecimento   a   alta  temperatura  de  câmara  de  forno.  

O  diferencial   básico  nesta   tecnologia   é   que  utiliza   o   plasma  para   que  o   processo  de  combustão   seja  mais  eficiente.  Por  outro   lado,  a  análise   crítica  do  mesmo  utilizando  simulação   em   CFD   mostrou   particularidades   internas   as   quais   poderiam   ser  otimizadas.  

Estas  particularidades   referem-­‐se  aos  caminhos  preferenciais  dos  gases  presentes  no  interior  do  queimador,  no  processo  de  mistura  entre  combustível  e  comburente,  assim  como  na  formação  de  zonas  de  recirculação,  as  quais  tendem  a  reduzir  o  desempenho  do  referido  escoamento.  

A   parte   interna   original   deste   artefato   foi   alterada   com   base   no   conhecimento   dos  processos   de   escoamento   de   gases   e   produtos   de   combustão   já   dominados   em  combustores   de   turbo   reator   e  motor-­‐foguete   segundo   Saravanamuttoo   (2009).   Por  meio  da  mesma  teoria  desenvolvida  para  estas  aplicações  aeronáutica  e  espacial  em  conjunto   com   extensivas   simulações   computacionais,   obteve-­‐se   um   queimador  diferenciado   que   atendeu   as   expectativas   dos   operadores   do   referido   processo  industrial,  como  mostra  a  figura  2.  

 

  Figura  2  -­‐     Simulação   de   queimador,   por   meio   de   projeto   otimizado,   para   aquecimento   a   alta  temperatura  de  câmara  de  forno  com  aumento  de  eficiência  térmica.  

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Este  escoamento  de  gases  produz  um  padrão  de  chama  que  propicia  maior   troca  de  calor  com  o  ambiente  circunvizinho.  Este  processo  se  dá  pela  existência  do  movimento  dos   gases   da   atmosfera   reinante   em   ambiente   confinado   para   a   parte   interior   da  chama,  experimentando  desta  forma  mais  altas  temperaturas.  

A  única  alteração  que  pode  ser  vista  pela  parte  externa  deste  queimador  é  que  na  área  traseira   deste   existe   um   estreitamento   de   sua   parede   formando   uma   espécie   de  cintura.  Este  requisito  foi  inserido  devido  à  formação  de  vórtices  internos  nesta  região,  os  quais  inibem  um  melhor  escoamento  e  mistura  dos  gases.  

A  utilização  de  escoamentos  periféricos,  técnica  também  oriunda  do  conhecimento  de  turbo   reator,  propiciou  maior   resfriamento  das  paredes  do  queimador,  uma  vez  que  estas  temperaturas  são  responsáveis  pelo  desgaste  destas  e  consequente  limitação  do  tempo  de  vida  destes  artefatos.  

Queimadores   como   este,   quando   em   ambiente   confinado,   também   induzem  movimentos   adicionais   aos   gases   presentes,   podendo   aumentar   o   processo   de  transferência   de   calor   entre   a   fase   gasosa   e   sólida,   como   as   paredes   e   no   caso   de  fornos  de  carbonização,  o  conjunto  formado  por  toras  de  madeira.  

3.2. Câmaras  de  Fornos  

Como  o  processo  de  carbonização  ocorre  no  interior  da  câmara  do  forno,  esta  deve  ser  objeto  de  grande  ênfase  em  simulação  computacional,  uma  vez  que  a  produção  de  tiço  e  o  tempo  do  processo  de  carbonização  e  resfriamento  estão  intimamente  ligados  aos  gradientes  térmicos  presentes.  

Uma  situação  que  foi  dominada,  equivalente  a  este  caso,  encontra-­‐se  na  indústria  do  alumínio.  Os   fornos  de   tratamento  de  bobinas  deste  metal,   como  mostra  a   figura  3,  apresentam  um  grande  volume  e  são  dotados  de  aquecedores  elétricos  presentes  em  uma   segunda   câmara.   No   entanto,   ambas   as   câmaras   também   apresentavam   o  problema  de  gradientes  térmicos  durante  a  fase  de  aquecimento  das  bobinas.  

   

  Figura  3  -­‐     Simulação  de   tratamento   térmico  de  bobinas  de  alumínio   indicando  a  distribuição  de  temperatura  e  velocidade  em  torno  destas  no  interior  de  um  forno  típico.  

A  figura  3  também  mostra  a  distribuição  de  temperatura  e  velocidade  do  escoamento  em   torno   de   duas   bobinas   contíguas.   Esta   distribuição   anteriormente   indicava   que  

forno  

T  

V  

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13    

entre   cinco   bobinas   colocadas,   uma   apresentava   temperatura   muito   inferior   às  demais.  

Por  outro   lado,  o  estudo  acima  mostrou  que  aproximadamente  30%  do  escoamento  aquecido  à  alta  temperatura  ocorria   longe  das  bobinas.  Este  conhecimento  adquirido  propiciou   a   criação  de  defletores  de  escoamento  no   interior   do   forno  que   tornaram  esta  bobina  a  mais  privilegiada  entre  todas  as  outras.  

A   mesma   técnica   capacitou   a   criação   de   outros   defletores   que   propiciaram   o  compatilhamento   das   demais   bobinas   com   a   intermediária,   no   recebimento   de   um  fluxo  térmico  adicional  diferenciado,  tornando  o  aquecimento  uniforme.  

Ensaios   experimentais   realizados   em   fornos   reais   indicaram   que   o   processo   térmico  com  duração  de  16  horas  teve  uma  redução  superior  a  30%  e  consumo  de  nitrogênio  em  torno  de  80%.  

A   aplicação   de   técnica   equivalente   ao   caso   particular   de   forno   de   carbonização   irá  direcionar   os   gases   aquecidos   para   as   áreas   mais   frias   do   forno,   obtendo-­‐se   maior  uniformidade  do  perfil  térmico  deste.  

Estudos  associados  ao  escoamento  interno  devem  também  aquinhoar  os  processos  de  transferência  de  calor  pelas  paredes  e  portas  do  forno.  Estas  últimas  são  responsáveis  por  parte  substancial  da  perda  de  calor  e  projetos  mais  elaborados  destas  certamente  conduzirão  a  fornos  de  maior  eficiência  térmica.  

3.3. Chaminés  

As  chaminés  utilizadas  nos  fornos  de  carbonização  de  madeira  são  representadas,  de  modo   geral,   pelo   processo   de   exaustão   de   gases   oriundos   de   câmara   aquecida,  contando  com  o  modelamento  de  escoamento  em  CFD,  o  qual  tem  sido  usado  como  uma   ferramenta   fundamental   para  o  desenvolvimento  de  novas   ideias   e   tecnologias  avançadas,  sendo  capaz  de  prever   informações  quantitativas  e  qualitativas  dentro  da  precisão  e  acurácia  suficiente  para  justificar  modificações  em  projetos  de  engenharia.  

O   trabalho   realizado   por   Wang   &   Yan   (2008)   é   apresentado   na   figura   4,   onde   foi  estudado  um  processo  de  exaustão  de  produtos  de  combustão  em  alta  temperatura,  em  escoamento  devido  à  presença  de  um  trocador  de  calor  de  tubos  transversais  ao  fluxo  de  gases.    

 

  Figura  4  -­‐     Distribuição  de  velocidades  (m/s)  de  produtos  de  combustão  devido  a  escoamento  em  trocador  de  calor  e  chaminé:  (a)  projeto  original  (b)  sugestão  de  modificação.    

trocador  de  calor  

baixa  velocidade  de  exaustão  

alta  velocidade  de  exaustão  

diretor  de  escoamento  

(a)   (b)  

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Este   caso   é   aqui   mostrado   por   causa   do   escoamento   que   acontece   no   duto   de  exaustão  do  mesmo,  não  sendo  considerado  o  fenômeno  de  transferência  de  calor.  

Este   estudo   utiliza   a   mesma   metodologia   aplicável   a   fornos   de   carbonização   de  madeira.  O  tratamento  matemático  em  ambos  os  casos  se  equivalem,  uma  vez  que  a  pilha   de   madeira   deve   ser   modelada   da   mesma   forma   que   um   conjunto   de   tubos,  como  no  caso  do   trocador  mostrado.  A   figura  4  compara  uma  concepção  original  de  um   projeto   de   engenharia   com   a   sugestão   de   modificação   deste.   Neste   caso   a  modificação  foi  realizada  colocando-­‐se  um  diretor  de  escoamento  convenientemente  posicionado.    

Um   fato   comum   a   partir   de   estudos   de   simulação   computacional   é   que   pequenas  modificações  geométricas,  em  se  tratando  de  escoamentos  de  fluidos,  pode  conduzir  a  mudanças  substanciais  no  rendimento  do  processo  em  questão.  

O  primeiro  fato  relevante  deste  trabalho  é  que  a  exaustão  dos  produtos  de  combustão  para  o  primeiro  caso  pode  não  ser  exatamente  o  esperado  e  com  isso  a  adoção  de  uma  solução  adequada  torna-­‐se  de  maior  dificuldade  quando  não  se  conhece  a  estrutura  do  escoamento   reinante.   Esta   pode   ser   fornecida   por   complexos   ensaios   experimentais  ou  por  simulações  computacionais  tridimensionais  como  apresentadas  na  figura  4.  

O   segundo   fato   relevante   é   que   o   conhecimento   da   estrutura   do   escoamento,   com  formação  de  vórtices  e  bloqueios,  conduz  à  busca  de  soluções  sob  medida  aos  anseios  do   projeto,   indicando   inclusive   o   limite   tecnológico   a   ser   esperado.   O   uso   de  concepções   a   partir   de   tecnologias   mais   avançadas,   associada   à   simulação  computacional   pode   conduzir   inclusive   a   inovações   tecnológicas,   agregando-­‐se   valor  ao  produto  final.  

3.4. Trocadores  de  Calor  

A   produção   de   carvão,   por   meio   de   técnicas   modernas,   está   sendo   implantada   em  praças   de   carbonização,   possibilitando   ganhos   expressivos   na   produção   de   carvão  vegetal.  Dentre  estas  técnicas  salientam-­‐se  a  utilização  de  trocadores  de  calor  para  o  resfriamento  artificial  do  carvão  contido  em  fornos  DPC.  O  conhecimento  da  dinâmica  do  processo  de  resfriamento  e  do  escoamento  de  gases  associados,  ao  fluir  no  interior  do  leito  de  carvão  é  fundamental  para  orientar  o  citado  ganho.  

A  transferência  de  energia  térmica  de  um  sistema  para  a  vizinhança  ou  entre  partes  de  um  sistema  é  realizada  utilizando-­‐se  trocadores  de  calor.  Estes  dispositivos  são  usados  para   transferir   energia   térmica   entre   dois   fluidos   em   diferentes   temperaturas,  separados   por   uma   superfície   sólida   de   modo   que   não   exista   transferência   de  momentum,  apenas  troca  térmica.  

Esse   processo   de   troca   térmica   é   bastante   utilizado   e   com   muitas   aplicações   na  engenharia.   Dentre   estas   aplicações   destacam-­‐se   o   aquecimento   e   resfriamento   de  ambientes,  operação  de  usinas  de  geração  de  energia,  evaporação  ou  condensação  de  fluidos,  recuperação  ou  rejeição  de  calor  de  um  sistema  térmico.  

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A   operação   de   sistemas   térmicos   de  modo   geral   dissipa   uma   grande   quantidade   de  calor,   principalmente   na   fase   de   resfriamento   correspondente.   Os   fornos   de  carbonização   no   processo   DPC   caracterizam-­‐se   pela   necessidade   de   se   resfriar   a  madeira  carbonizada  no  interior  da  câmara.  Com  isso  passa  a  existir  um  volume  de  gás  aquecido  a  alta  temperatura  que  deve  ser  tratado  com  relativo  cuidado.  

O   dimensionamento   e   construção   de   sistemas   de   resfriamentos   vem   ocorrendo  levando-­‐se   em   conta   basicamente   a   quantidade   de   calor   que   se   deseja   retirar   dos  fornos  em  um   intervalo  de   tempo  que   justifique  sua   implantação.  Nesta  sistemática,  alguns  protótipos  já  foram  testados.  Certas  configurações  tiveram  viabilidade  técnica,  porém  não  se  viabilizaram  do  ponto  de  vista  econômico  e  ambiental.    

Como  exemplo  de  trabalho  realizado  no  Brasil,  cita-­‐se  a  pesquisa  de  Santos  (2013)  que  consistiu  de  ensaios  de  carbonização  de  madeira  e  resfriamento  dos  gases  de  pirólise,  sendo   utilizado   um   protótipo   de   forno   retangular   de   tijolo   maciço   com   capacidade  para  10  estéreos.  Para  tiragem  e  queima  dos  gases,  o  forno  foi  acoplado  a  um  sistema  de  fornalha  e  chaminé,  como  mostra  a  figura  5.  

 

  Figura  5  -­‐     Processo  de  transferência  de  calor  gerado  por  um  forno  de  carbonização  para  um  fluido  de  trabalho  e  consequente  resfriamento  do  ambiente  interno  da  câmara.  

Segundo   Santos,   em   algumas   configurações   tem-­‐se   verificado   equipamentos   de  resfriamento  superdimensionados,  devido  principalmente  à  diferença  de  pressão  que  o  mesmo   oferece   à   estrutura   interna   dos   fornos   que   é   suficiente   para   possibilitar   a  infiltração  de  ar  externo  e  consequentemente  ocasionam  aquecimento  do  sistema  ao  invés  de  resfriar  a  massa  de  carvão  contida  no  forno.    

As   empresas   produtoras   de   carvão   vegetal   vêm   obtendo   reduções   de   40   a   50%   no  tempo  total  de   resfriamentos  dos   fornos,  ocasionando  uma  maior  produtividade  dos  mesmos,  ainda  com  sistemas  superdimensionados.  Por  outro  lado,  tais  empresas  não  constataram   mudanças   nos   parâmetros   de   qualidade   do   carvão   vegetal   resfriado  artificialmente.   Para   um   melhor   dimensionamento   e   configuração   de   solução   para  resfriamento  de  fornos,  os  parâmetros  do  carvão  vegetal  e  comportamento  dinâmico  do  escoamento  presente  devem  ser  considerados.    

Os  trocadores  de  calor  tubulares,  como  mostrado  na  figura  5,  são  envolvidos  por  uma  carcaça  sendo  também  chamados  de  casco  e  tubo.  O  projeto  de  um  trocador  de  calor  tem  início  propondo-­‐se  um  equipamento  capaz  de  realizar  a  troca  térmica  requerida,  sendo  feita  a  verificação  da  área  de  troca  térmica  e  a  respectiva  perda  de  carga.  

trocador  de  calor  por  tubos  

acoplamento  do  trocador  

no  forno  

forno  de  carbonização  

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16    

Além   dos   gases   aquecidos   em   seu   interior   deve-­‐se   considerar   a   inércia   térmica   da  estrutura   do   forno,   tendo   como   grande   parcela   o   calor   armazenado  nas   paredes   de  tijolo.   Uma   estrutura   com   baixa   inércia   térmica   mantém   mínima   a   variação   da  temperatura  entre  o  interior  e  exterior.  Já  em  sistemas  com  maior  inércia  térmica,  as  temperaturas   das   respectivas   faces   tendem   a   permanecer   iguais   às   regiões   as   quais  estão  submetidas,  podendo  ocasionar  uma  grande  variação  de   temperatura  entre  as  superfícies.  

A   estrutura   do   forno   recebe   calor   proveniente   das   reações   termoquímicas   que  ocorrem   na  madeira   na   fase   de   carbonização.   O   sistema   formado   pelas   paredes   do  forno  e  massa  de  carvão  possui  uma  quantidade  de  energia  armazenada  e  passa  a  ser  dissipador  de  calor  na  fase  de  resfriamento.  A  característica  de  isolamento  térmico  das  paredes   do   forno   dificulta   a   transferência   de   calor   do   interior   para   o   exterior   da  respectiva   câmara,   tornando-­‐se   necessário   um   processo   adicional   que   permita   o  resfriamento  dos  gases  em  admissão  de  ar  exterior  para  o  interior  do  forno.  

O  estudo  realizado  por  Santos  (2013)  contou  com  a  simulação  em  CFD  para  concepção  do   trocador   de   calor,   o   qual   apresenta   um   resultado   equivalente   ao   obtido   pela  COMSOL   que   está   representado   na   figura   6.   Nesta   visualização   simulada   pode-­‐se  conhecer  em  detalhe  o  trajeto  realizado  tanto  pelo  gás  a  ser  aquecido  quanto  pelo  gás  a  ser  resfriado.  

O   conhecimento   da   intimidade   deste   processo   físico   propicia   a   melhor   escolha   de  materiais  e  características  geométricas  capazes  de  propiciar  a  troca  térmica  de  maior  eficiência  entre  os  respectivos  fluidos  de  trabalho.  

Os   trabalhos   de   simulação   de   trocadores   de   calor   como   no   presente   caso   conta  também   com   a   facilidade   de   se   utilizar   configurações   de   tubos   aletados   com   as  dimensões   mais   adequadas   tanto   para   o   processo   de   troca   térmica   quanto   para   a  facilidade  de  fabricação  destes  dispositivos  térmicos.  

O   estudo   de   engenharias   assistido   por   simulação   em  CFD   indica   o   desempenho   dos  processos   de   transferência   de   calor   e   massa,   tanto   do   ponto   de   vista   local,   como  global.   Com   isso   pode-­‐se   determinar   que   pequenos   detalhes   podem   causar   grandes  diferenças  finais  no  desempenho  de  artefatos  desta  natureza.  

 

  Figura  6  -­‐     Simulação  do  processo  de  transferência  de  calor  em  um  trocador  típico  de  aplicação  em  processo  de  carbonização  da  madeira.    

gás  a  ser  aquecido  gás  a  ser  resfriado  

gás  resfriado  

gás  aquecido  

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A  trajetória  dos  gases  a  serem  aquecidos  está  intimamente  ligada  ao  desempenho  do  trocador  de  calor,  uma  vez  que  a  maior  transferência  de  energia  térmica  associa-­‐se  ao  fluxo  de  gás  frio  que  escoa  em  torno  dos  tubos  de  gases  quentes,  forçando-­‐se  os  gases  frios   a   escoarem   pelo   meio   poroso   formado   pelos   tubos,   aumenta-­‐se   a   eficiência  global  do  trocador.    

A   instalação   de   dispositivos   internos   poderá   direcionar   adequadamente   este  escoamento.  Além  das  imagens  associadas  ao  processo  de  visualização  de  escoamento  por   meio   de   linhas   de   corrente,   como   mostrado   na   figura   6,   realizam-­‐se   cortes  tomográficos  nas  mais  diversas  partes  do  trocador  de  calor,  buscando  o  conhecimento  da  evolução  da  camada  limite,  fluxo  térmico,  perfis  de  velocidade  associados,  pressão,  escoamentos   secundários,   como   profundamente   estudados   por   Çengel   (2006),  Liepmann  (1957)  e  Schlichting  (1979).  

Estas   informações   são   fornecidas   tanto   do   ponto   de   vista   qualitativo   quanto  quantitativo,   permitindo-­‐se   a   criação   de   tabelas   de   resultados   e   gráficos  correspondentes,   tornando-­‐se   uma   metodologia   a   ser   empregada   em   projeto   de  engenharia  de  grande  valia  na  melhoria  dos  fornos  de  carbonização  tanto  do  processo  DPC  quanto  qualquer  outro  que  requeira  redução  do  tempo  de  resfriamento  dos  gases  aquecidos.  

4. SIMULAÇÃO  DO  PROCESSO  DPC    

No  Brasil   são  utilizadas  diversas   concepções  de   fornos  de   carbonização.  No  entanto,  existem  empresas  e  operadores  de  carbonização  da  madeira  que  buscam  a  otimização  do  processo  como  um  todo.  Como  exemplo  desta  iniciativa  nacional,  cita-­‐se  o  caso  da  empresa  DPC  Tecnologia  em  Carvão  Vegetal  que  desenvolveu  um  processo  integrado  aplicado  a  fornos  retangulares  de  pirolise  da  madeira.  

A   figura   7  mostra   um   arranjo   integrado   destes   fornos,   onde   a   liberação   de   energia  térmica   de   uma   fase   é   transferida   para   outro   forno,   no   qual   a   fase   requer   o  aquecimento  da  respectiva  câmara.  

 

  Figura  7  -­‐     Instalação   industrial   integrada   de   fornos   para   secagem  –   pirólise   –   resfriamento   para  operação  com  otimização  de  eficiência  energética  na  carbonização  da  madeira.  

A   figura   8a   mostra   como   se   processa   a   transferência   de   calor   entre   fases  concomitantes   do   conjunto   de   fornos   mostrados   na   figura   7.   Os   gases   emitidos  durante  a  etapa  de  pirólise  da  madeira,  que  se  processa  no  forno  2  são  queimados  em  

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uma  câmara  de  combustão,  gerando  assim  o  fluido  térmico  de  transferência  de  calor  para  secagem  da  madeira  que  esta  sendo  processada  no  forno  1.  No  forno  3  acontece  o  resfriamento  do  carvão  vegetal,  que  fornece  calor  para  o  reator  onde  se  processa  a  secagem.    

 

  Figura  8  -­‐     Integração   do   processo   de   escoamento   com   transferência   de   calor:   (a)   câmara   de  processo  DPC  (b)  escoamento  em  câmara  e  dutos  de  integração  de  processo  térmico.    

Findo  o   resfriamento  no   forno  3  este  é  descarregado,   sendo  em  seguida  alimentado  com  lenha  verde.  O  forno  3  passa  então  a  funcionar  como  reator  de  secagem.  No  forno  1  muda-­‐se  a  natureza  dos  gases  que  infiltram  a  biomassa  previamente  seca,  passando  este   então   a   funcionar   como   reator   de   pirólise,   o   forno   2   passa   a   funcionar   como  reator  de  resfriamento.  

Um  arranjo  conveniente  do  escoamento  entre  fornos  capacita  o  conjunto  de  3  fornos  trabalharem  em  nova  configuração,  sempre  utilizando  a  liberação  de  calor  de  uma  fase  para   a   absorção   de   energia   térmica   em   outra   fase,   constituindo-­‐se   assim   de   um  processo  integrado.  

As   principais   características   deste   novo   processo   produtivo   podem   ser   enumeradas  segundo  as  seguintes  vantagens:    

• Utilização   dos   gases   inflamáveis   emitidos   durante   a   pirólise   como   fonte   de  energia  térmica  necessária  à  carbonização  da  madeira;  

• Utilização   dos   gases   emitidos   durante   a   pirólise   como   fluido   térmico   para   a  transferência  de  calor  à  madeira  durante  a  fase  endotérmica  da  pirólise;  

• As  etapas  de  secagem,  pirólise  e  resfriamento  do  carvão  vegetal  se  processam  simultânea   e   independentemente   em   reatores   nos   quais   a   madeira  previamente  colocada  permanece  estática;  

• O  fato  da  madeira  permanecer  estática  durante  todo  o  processo  minimiza-­‐se  a  formação  de  finos;  

• A   carga   sólida   em   cada   reator   é   percolada   por   gases   com   temperatura  adequada  à  etapa  em  operação;  e  

• Além   de   produzir   carvão   a   partir   de   lenha   com   quaisquer   dimensões,   o  processo   permite   ainda   a   utilização   de   diversos   tipos   de   biomassa   como  matéria   prima,   desde   resíduos   de   serrarias,   de   cana,   de   coco   babaçu,   capim  elefante,  etc.  

(a)  

(b)  forno  1   forno  2   forno  3  

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A   figura  8b  mostra  um  caso   típico  onde   se   simula  o  escoamento  no   interior  de  uma  câmara  na  qual  existe  um  meio  poroso  formado  por  um  conjunto  de  obstáculos  sólidos  que  permitem  a  percolação  de  gases  no  espaço  criado  entre  as  respectivas  superfícies.  Os  dutos  mostrados  nesta  figura  enfatizam  a  capacidade  de  se  simular  os  escoamentos  de   admissão   e   exaustão   nesta   câmara,   os   quais   se   interligam   a   componentes  integrados  ao  sistema  estudado.  

O  sistema  desenvolvido  pelo  HZDR  e  mostrado  na  figura  8b  representa,  na  realidade,  um  sistema  de  filtragem,  transporte  de  fluido  e  transferência  de  calor  característico  de  aeronaves   e   foguetes.   A   metodologia   desenvolvida,   para   que   estes   dispositivos   de  aplicação  aeroespacial  possam  operar  utilizando  artifícios  de  engenharia  na   fronteira  do   conhecimento,   torna-­‐se   a   mesma   que   poderá   otimizar   os   escoamentos   com  transferência  de  calor  entre  fornos  com  integração  de  fases  operacionais  por  meio  de  simulação  em  CFD.    

 

  Figura  9  -­‐     Processo  de  transferência  do  calor  gerado  em  um  forno  de  carbonização  de  madeira:  (a)  fase  de  secagem  (b)  fase  de  pirolise.    

A   figura   9   mostra   a   ocorrência   de   duas   fases   em   um   processo   integrado   de  aquecimento  e  pirólise  da  madeira,  porém  no  interior  dos  fornos  de  modo  análogo  ao  indicado  na   figura  8b.  A  escolha  dos   trajetos  mais  adequados  dos  gases  quentes  em  ambas  as  fases,  desde  os  dutos  de  aquecimento,  como  os  dutos  de  transporte  e  pilha  de   madeira,   irá   designar   o   desempenho   das   referidas   fases   do   processo   DPC.   A  aplicação  dos  estudos   realizados  com  simulação  computacional  em  CFD  associados  a  otimização  deste  processo  interno  à  câmara  do  forno  é  mostrado  na  figura  10.    

 

 Figura  10  -­‐     Simulação  3D  de:   (a)   fluxo  de  massa   (kg/m2s)   de  particulado  de   cinza  depositado  nas  

vórtice  

vórtice  

região  de  maior  deposição  de  cinza  

(a)  

(b)  

(a)  

(b)  

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paredes  de  forno  de  queima  de  madeira  após  1  hora  de  operação  (b)  reator  turbulento.  

A  figura  10a  mostra,  segundo  o  trabalho  apresentado  pelo  BIOS,  como  o  escoamento  no  interior  de  uma  câmara  de  queima  de  madeira  causa  deposição  de  cinzas  em  suas  paredes   criando  variações  no  desempenho  destes  processos   industriais.   Esta  mesma  solução   pode   ser   aplicada   no   processo   de   geração   de   gases   aquecidos   a   altas  temperaturas  no  processo  DPC.  

O  escoamento  em  galerias  de  reatores  turbulentos  com  formação  de  vórtices  e  áreas  preferenciais   de   escoamento   de   gases   aquecidos   está   indicado   na   simulação  apresentada   na   figura   10b.   A   formação   de   vórtices   e   recirculações   torna-­‐se   visível,  indicando  que  o  processo  deve  ser  melhorado  em  partes  e  conjuntos  deste  artefato.  

Do   ponto   de   vista   da   simulação   computacional,   o   escoamento   com   formação   de  vórtices   e   recirculação   de   gases   está   também   presente   na   fase   de   resfriamento   do  carvão  no  processo  DPC,  como  mostrado  na  figura  11.    

 

 Figura  11  -­‐     Processo  de  transferência  do  calor  gerado  em  um  forno  de  carbonização  de  madeira:  (a)  fase  de  resfriamento  (b)  escoamento  de  gás  em  meio  poroso.    

Estes  mesmos  fenômenos  ocorrem  no  escoamento  de  gases  através  de  meios  porosos.  Embora  o  escoamento  no  interior  do  meio  poroso,  aqui  simbolizado  pelos  pedaços  de  madeira  a  serem  carbonizados,  como  mostram  os  trabalhos  de  Bear  (1988)  e  Matyka  (2013)   por   meio   da   figura   11b,   apresente-­‐se   com   características   laminares,   a  redistribuição   tanto   interna   à   pilha   de  madeira,   quanto   externa   a   esta   se   dá   com   a  formação  de  vórtices  e  recirculação  de  escoamento.  

Além  de  buscar  o  aumento  da  produtividade  de  um  processo  industrial  pela  melhoria  de  desempenho,  um   fato  muito  comum  na   implantação  de  processos   industriais  é  o  aumento  da  produtividade  por  meio  do  aumento  da  dimensão  dos  equipamentos  de  modo  a  processar  maior  quantidade  de  material.  

Quando   se   trabalha   com   escoamento   de   fluidos   com   transferência   de   calor,   o  escalonamento   de   processo   baseado   no   aumento   das   dimensões   de   equipamentos  nem  sempre  é  verdadeiro,  pois  as  medidas  e  cadência  de  produção  nem  sempre  tem  uma  relação  linear  ou  ainda,  diretamente  proporcional.  

Para   isso   é   fundamental   o   conhecimento   de   um   processo   em   uma   cadência   de  produção  onde   realiza-­‐se   a   simulação   computacional   deste   em  CFD.  De   posse   deste  

(a)  

(b)  

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conhecimento  completo,   realiza-­‐se  a   simulação  do  novo  processo  com  as  dimensões  geométricas  pretendidas  e  características  operacionais  almejadas.  

Os   resultados   obtidos   irão   indicar   se   o   escoamento   de   gases   com   transferência   de  calor   associados   irão   propiciar   o   aumento   de   produtividade   para   a   nova   escala  geométrica   do   equipamento   em   estudo.   Caso   isso   não   ocorra,   a   mesma   simulação  poderá   indicar   pontos   a   serem   melhorados   com   as   correções   adequadas   de  configuração  geométrica.  

Um   conjunto   de   correções   mostrará   se   a   solução   de   escalonamento   propiciará   o  desempenho  almejado,  ou  ainda,  se  serão  necessárias  a   inserção  de  novas  etapas  no  processo  para  que  o  mesmo  atenda  aos  requisitos  do  cliente.  

Esta  metodologia  está   sendo  empregada  com  sucesso,  em  particular,  para   fornos  de  fusão  de  metais,  nos  quais  o  padrão  de  escoamento  de  metais  líquidos  é  susceptível  às  dimensões   geométricas   em   função   da   inserção   de   trabalhos   de   eixo   de   impelidores  convenientemente  localizados.  

5. INOVAÇÃO  POR  SPIN-­‐OFF  

A   carbonização   da   madeira,   embora   seja   uma   técnica   dominada   a   séculos,   ainda  poderá   ser   realizada   por   meio   de   processos   industriais   modernizados,   sujeitos   a  incorporação  de  inovações  tecnológicas,  visto  que  o  princípio  ainda  utilizado  tem  sido  o  mesmo  desde  a  sua  criação.  

No   Brasil   alguns   setores   da   economia   desenvolveram-­‐se   mais   do   que   outros,  contando-­‐se   com   áreas   do   conhecimento   que   encontram-­‐se   na   fronteira   do  conhecimento,  podendo  gerar  spin-­‐off  para  setores  como  o  carbonífero.  

O   termo   spin-­‐off   refere-­‐se   ao   uso   de   conhecimento   ou   tecnologia   de   um   setor   da  economia   mais   avançado   em   aplicação   a   outros,   de   modo   a   produzir   melhorias   ou  inovações  tecnológicas  nas  mais  diversas  áreas  da  engenharia.  

Segundo   o   Departamento   de   Defesa   dos   EUA,   seletas   tecnologias   avançadas   foram  consideradas  sensíveis  para  efeito  de  hegemonia  nacional.  Dentre  estas  tecnologias  a  obtenção  de  energia  e  a  simulação  em  CFD  ocupam  parte  substancial  da  atenção  de  especialistas,   nos   centros   de   pesquisa   e   desenvolvimento   mais   avançados   daquele  país.  

A  atenção  às  fontes  de  energia  estão  associadas  à  produção  industrial  de  modo  geral  e  à  siderurgia  e  ao  setor  de  óleo  e  gás  em  particular,  visto  a  grande  dependência  destes  insumos  na  vida  moderna  e  para  garantir  os  progressos  tecnológicos  que  ainda  estão  por  vir.  

De  modo   geral,   o   spin-­‐off   de   tecnologias   avançadas   como   a   aeronáutica,   espacial   e  defesa   conduzem   a   grandes   progressos   em   outros   setores,   como   os   que   tem   sido  experimentado  pela  humanidade  nos  últimos  100  anos.  

De   acordo   com   a   Agência   Espacial   Europeia   e   NASA,   a   cada   US$   1,00   investido   em  tecnologia   avançada,   conduz  a   geração  de  US$  4,75  nas  mais   variadas   aplicações  de  mercado.  Este  comportamento  poderá  também  ser  observado  na  produção  de  carvão  vegetal   em   fornos   de   carbonização   com   o   uso   de   spin-­‐off   destas   tecnologias  avançadas.  

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O  uso  de  CFD,  que  é  oriundo  destas  tecnologias,   já  tem  revolucionado  até  mesmo  os  desenvolvimentos   na   fronteira   do   conhecimento.   Para   ilustrar   este   fato   pode-­‐se  mencionar  que  uma  aeronave  Boeing  737  na  década  de  80  utilizava  aproximadamente  70  modelos,   para   ensaios   em   túneis   de   vento   para   diferentes   configurações   de   asa.  Este  procedimento  era  demorado  e  de  custo  elevado.  

Atualmente,  durante  a  fase  de  concepção  do  modelo  para  desenvolvimento  de  novos  jatos,  até  de  maior  porte,  realiza-­‐se  a  simulação  de  um  grande  número  de  asas,  sendo  que  apenas  aquelas  5  que  apresentam  melhores  resultados  são  ensaiadas  em  túnel  de  vento,   conduzindo   a   um   conhecimento   prévio   capaz   de   não   apenas   reduzir   a  quantidade,  tempo  e  custo  dos  ensaios  experimentais,  como  também    contribuir  para  a   redução   do   tempo   de   desenvolvimento   e   aumento   do   desempenho   da   referida  aeronave.  

Desta   forma,   sugere-­‐se   que   o   uso   de   spin-­‐off   aeroespacial   em   conjunto   com  modelamento   matemático   e   simulação   computacional   capacitará   a   otimização   de  processos  de  escoamento  com  tranferência  de  calor  associados  à  secagem,  pirolise  e  resfriamento  da  madeira  em  fornos  de  carbonização  segundo  o  processo  DPC.  

6. CONCLUSÃO  

O  presente  trabalho  indica  que  o  processo  de  carbonização  da  madeira  de  modo  geral  e  o  DPC  em  particular,  podem  ser  otimizados   tanto  do  ponto  de  vista  de   integração  das   fases   (aquecimento,   pirolise   e   resfriamento)   como   da   melhoria   substancial   do  escoamento  no  interior  de  cada  um  dos  componentes  físicos  que  constituem  o  arranjo  de  fornos.  

O  uso  de  simulação  de  escoamento  com  transferência  de  calor  por  CFD  torna-­‐se  uma  ferramenta   de   grande   valia   na   avaliação   de   concepções   modernas   possibilitando   o  desenvolvimento   de   equipamentos   e   processos   industriais   na   fronteira   do  conhecimento.  

Associado   a   esta   ferramenta,   o   conhecimento   de   processos   de   escoamento   com  tranferência   térmica   para   aplicação   aeroespacial   e   militar   propiciam   soluções  convenientes   ao   aumento  do  desempenho  do   transporte  de   calor   e  massa  para  uso  específico   em   secagem,   pirólise   e   resfriamento   de   madeira   durante   a   execução   do  processo  DPC.  

Resultados   já   consagrados   nestas   pesquisas   avançadas   propiciam   uma   forma   de  partida   de   soluções   que   tornarão   possíveis   tais   concepções   em   conjunto   com   as  mencionadas  simulações  computacionais,  possibilitando:  

• A  determinação  das  estruturas  de  turbulência  e  mistura  de  gases  combustíveis  e   comburentes   no   processo   de   geração   de   produtos   de   combustão   a   alta  temperatura   com   minimização   de   oxigênio   para   as   fases   endotérmicas   do  processo  DPC;  

• Obtenção  de  perfis  térmicos  que  minimizam  a  estratificação  térmica  no  interior  da   câmara   de   aquecimento   do   forno,   considerando-­‐se   os   efeitos   de   empuxo  devido   aos   gradientes   de   densidade   combinados   com   a   aceleração   da  gravidade;  

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• Configuração   adequada   de   trocadores   de   calor   para   transferência   de   energia  térmica   entre   fases   concomitantes   do   processo   DPC,   gerando-­‐se   um   circuito  integrado  de  transporte  de  calor  e  massa;  

• Arranjo  adequado  da  pilha  de  madeira  a  ser  instalada  no  interior  da  câmara  do  forno  que  propicie  a  percolação  de  gases  de  transferência  térmica;  

• Inserção  de  dutos  e  galerias  em  fornos  para  transporte  de  gases  aquecidos  de  modo   a   otimizar   o   processo   de   transferência   de   calor   no   interior   das  respectivas  câmaras;  

• Colocação   de   aberturas   de   insuflamento   e   exaustão   de   gases   na   câmara   de  aquecimento   das   toras   de   madeira,   tanto   do   ponto   de   vista   dimensional,  quanto  quantidade  e  posição  para  que  o  processo  de  troca  térmica  ocorra  de  maneira  homogênea,  maximizando-­‐se  a  secagem  da  madeira,  minimizando-­‐se  a  formação  de  tiço  e  o  tempo  de  resfriamento  do  carvão;  e  

• Quando  se  tem  um  processo  que  é  bem-­‐sucedido  em  um  tamanho  de  forno,  ao  aumentar-­‐se   as   suas   dimensões   pode-­‐se   experimentar   uma   redução   no  respectivo  desempenho.  Esta  correção  pode  ser  feita  por  meio  de  simulação  do  processo  em  CFD  favorecendo  inclusive  a  criação  de  inovações  tecnológicas.  

Embora  o  processo  de  carbonização  de  madeira  é  conhecido  de  longa  data,  as  técnicas  na  fronteira  do  conhecimento  indicadas  no  presente  trabalho  poderão  contribuir  para  que  o  processo  DPC  venha  a  ser  operado  com  maior  eficiência  e  nenhuma  agressão  ao  meio-­‐ambiente.  

REFERÊNCIAS  

BEAR,  J.  Dynamics  of  Fluids  in  Porous  Media.  Dover.  London.  1988.  

BIOS  Simulation  of  Ash  Deposit  and  Fine  Particulate  Formation  in  Biomass  Furnaces  and  Boilers.  http://www.bios-­‐bioenergy.at/en/cfd-­‐simulations.html.  

COMSOL   Comparação   do   escoamento   de   uma   aproximação   2D   e   de   um  modelo   3D   de   um  reator  turbulento  com  defletores.  http://www.br.comsol.com/cfd-­‐module.  

ÇENGEL,  Y.A.  &  CIMBALA,  J.M.  Fluid  Mechanics  –  Fundamentals  and  Applications.  New  York,  McGraw-­‐Hill,  2006.  

DPC  Tecnologia  em  Carvão  Vegetal  -­‐  Novo  Sistema  de  Carbonização.  http://www.youtube.com/  watch?v=2tCeW2cWhc8.  

HZDR  Numerical   simulation   of   density   driven   flows   at   the  Mixing   Test   Facility   ROCOM.   CFD  development  Group.  http://www.hzdr.de/db/Cms?pOid=24900&pNid=0.  

LIEPMANN,  H.W.  &  ROSHKO,  A.  Elements  of  Gasdynamics.  New  York.  John  Wiley  &  Sons.  1957.  

MATYKA,   M.,   KOZA,   Z.,   GOTEMBIEWSKI,   J.,   KOSTUR,   M.,   JANUSZEWSKI,   M.    Anisotropy   of   flow   in   stochastically   generated   porous   media    Phys.  Rev.  E  88,  023018  (2013).  

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SANTOS,   I.S.   Resfriamento   Artificial   de   Carvão   Vegetal   em   Fornos   de   Alvenaria.   Tese   de  Doutorado.  Viçosa.  UFV.  2013.  

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