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METODOLOGIA FILOSÓFICA

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METODOLOGIA FILOSÓFICA

PROGRAMAÇÃO:

A palavra "método" ou "metodologia", especialmente desde o famoso estudo de Descartes, "Discurso do Método", parece ter se tornado uma espécie de "abra-te sésamo" de qualquer empreitada intelectual, particularmente de natureza científica.

Na filosofia ainda se guarda a noção originalmente grega (methodos = caminho) como trilha, via e até mesmo roteiro de passagem na condução intelectual de questões ditas de natureza filosófica, ou seja, de temas que são capazes de se submeter a uma problematização, a uma investigação e a uma elaboração filosóficas. Este curso pretende oferecer justamente uma iniciação neste "roteiro", uma "metodologia filosófica".

Certamente, saber praticar a leitura de textos, decriptar um texto, fazer o resumo ou fichamento da leitura, argumentar com rigor sobre o que foi compreendido, são práticas que se aplicam a qualquer campo disciplinar. Entretanto, deve-se considerar a especificidade do texto filosófico, adequando este roteiro segundo os ditames da investigação filosófica. Este é outro objetivo deste curso.

Segundo Folscheid & Wuneburger (vide Bibliografia), os textos filosóficos afiguram-se como um meio de "conhecimento" filosófico, cuja passagem pode nos dar acesso ao pensamento dos filósofos, seus conceitos e vocabulário, seus questionamentos, o que formularam como problemas e o que deram como soluções.

Bibliografia

CALAIS, Étienne & all. (1992), De la méthode. Ellipses, Paris.CHENIQUE, François (1975), Éléments de logique classique. Dunod, Paris.COSSUTTA, Frédéric (1994), Elementos para a leitura dos textos filosóficos. Martins Fontes, São Paulo.FOLSCHEID, Dominique & WUNENBURGER, Jean-Jacques (1997). Metodologia Filosófica. Martins Fontes, São Paulo.

A HISTÓRIA DA FILOSOFIA COMO PERCURSO FILOSÓFICO

A história da filosofia é indispensável a todo currículo universitário. Mas para que ela seja praticada de acordo com o espírito da filosofia, é preciso que duas condições fundamentais sejam preenchidas.

1. Primeira condição: é preciso que a história da filosofia seja filosófica, o que a impede de contentar-se em ser uma história. Por isso ela tem seu lugar nos departamentos de filosofia e não nos de história, como obra de filósofos e não de puros historiadores.

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A razão é simples: resulta da especificidade de todo conteúdo filosófico.

Em filosofia, com efeito, não lidamos com dados, acontecimentos ou fatos puramente exteriores que o pensamento se contentaria em encontrar, constatar, registrar, porque seria incapaz de produzi-los. O pensamento que se dedica à filosofia descobre nela um pensamento filosófico - portanto, descobre a si mesmo. O que é dado de fato é, portanto, sempre dedutível de direito. No limite, um filósofo ideal poderia reproduzir por si mesmo tudo o que já foi pensado. A exterioridade aparente remete, pois, a uma interioridade de princípio.

Disso resulta que os "conhecimentos" filosóficos não são conhecimentos ordinários que poderíamos "aprender", sem penetrá-los e ser por eles penetrados, tal como se preenche um espírito ignorante com conteúdos puramente exteriores.

Procedendo assim, poderíamos no máximo adquirir uma "bagagem" que, como o nome indica, sobrecarregaria e esmagaria o espírito, o qual permaneceria inalterado.

Certamente é possível aprender pensamentos sem pensar por si mesmo e repeti-los sem implicar-se neles, até sem compreender. Mas então se pensa apenas por procuração. Ou seja, não se pensa.

Kant mostrou isso: o conhecimento histórico parte dos dados de fato, enquanto o conhecimento racional parte dos princípios. Quando se crê adquirir o conhecimento de um sistema filosófico existente, apenas se imita, não se inventa. Em suma, não se pode aprender "a filosofia" (entendida aqui como o sistema de todo conhecimento filosófico); "no que concerne à razão, quando muito se pode aprender à filosofar" (Kant, Critique de la raison pure, trad. fr. de Delamarre e Marty, Architectonique de la raison pure, Paris, Gallimard, "Folio", p. 694.) - o que equivale a aplicar ao que se apresenta princípios que a razão é sempre livre para confirmar ou rejeitar.

Vê-se por que não se deve queixar-se, como se faz com tanta freqüência, do desaparecimento dos pretensos "mestres de pensar". Se eles nos incitam a pensar por nós mesmos, tanto melhor. Mas como servem em geral de banco de pensamentos inteiramente prontos, eles são antes mestres de não-pensar.

A tentação clássica de muitos estudantes sérios é, no entanto, enxergar com complacência essa operação de recuperação, que consiste em suprir as próprias fraquezas pela riqueza dos pensamentos que se acumularam como bens adquiridos.

Mas a ilusão não dura muito. No melhor dos casos, logo se revelará que os conhecimentos são "colados" por fora, não retomados, não pensados. No pior dos casos, veremos aquelas dissertações constituídas de uma fieira de trechos prontos (os famosos "topos", no jargão dos corretores de redação), com rosários de autores recitados de cor, sem consideração nem pelo tema a tratar, nem mesmo pelos autores arrolados à força.

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A história da filosofia não é portanto uma loja de pensamentos prontos, onde se vestiria, como uma roupa, o que é apresentado no mostruário. A menos que se tomem o pensamento por um cabide a ser recoberto, o que o condena a tornar-se, conforme o caso, em um manequim ou um espantalho. Em vez de servirem ao pensamento, os conhecimentos tomam-se então um obstáculo.

Para o filósofo, a lição é clara: a história da filosofia é filosófica ou não é.

2. Segunda condição: é preciso que o pensamento assimile sua presa.

Essa exigência não é evidente. Como é possível pensar freqüentando o já pensado? A resposta se encontra no enunciado mesmo dessa pergunta: em filosofia, o pensamento filosófico só se ocupa do pensamento filosófico. O fato de que pensamentos nos precederam não altera isso em nada. Pensar o já pensado é repensar, e repensar é sempre pensar. Ora, pensar é um ato que não se aprende. Ninguém pode comprar ou adquirir pensamento. Ninguém pode pensar em lugar de um outro.

Como diz Kierkegaard, não há verdade verdadeira que não seja "subjetiva", isto é, "apropriada" - literalmente: tornada algo "próprio", nossa propriedade. Cumpre adotar a única atitude realmente filosófica: a que consiste em retomar por nossa própria conta os pensamentos já pensados por outros.

Apliquemos esse princípio à leitura dos textos. Ler textos filosóficos é entrar em relação com pensamentos filosóficos já advindos, para penetrá-los e apropriar-se deles. A leitura é portanto indissociável do próprio pensamento. Ao lermos Platão ou Descartes, pensamos nós mesmos como Platão ou Descartes. Pensamos não apenas por eles, mas neles - pensamos, simplesmente.

Isso equivale a dizer que a leitura filosófica dos textos não é primeiramente um meio de conhecimento, mas uma iniciação ao pensamento. E preciso conhecer, mas para pensar, e não conhecer por conhecer. Ao fim e ao cabo, é preciso que o pensamento repensado seja integralmente digerido, integrado. É o que os poetas franceses da Pléiade, no Renascimento, chamavam innutrition [inutrição]. E a isso que Nietzsche nos convida quando lamenta que tenhamos perdido a faculdade conservada pelas vacas: a de ruminar. São necessários conhecimentos filosóficos, tão ricos e rigorosos quanto possível. Com a condição de que não sejam um revestimento colado, mas o bloco maciço de nossa reflexão.

O MÉTODO DA SUSPICÁCIA (de Mário Ferreira dos Santos)

Para o estudo da filosofia, em seus campos mais complexos, como os que iniciamos nesta obra, que abrem o caminho aos estudos da Metafísica, sempre aconselhamos aos nossos alunos, em nossas aulas, e hoje o fazemos ao leitor, que tem a bondade de manusear nossos livros e lê-los, o que chamamos o método da suspicácia, que é uma

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atualização da suspeita, da desconfiança, a acentuação, em suma, de um estado de alerta no estudo, que só pode trazer bons frutos, ao estudioso.

Em face da heterogeneidade das idéias, das estéreis, ou não, disputas de escolas, da diversidade de perspectivas, que podemos observar em toda literatura filosófica, com a multiplicidade de vectores tomados, impõem-se ao estudioso a máxima segurança e o máximo cuidado para não deixar-se arrastar, empolgado pela sugestão e até pela sedução das idéias expostas, que o arraste, naturalmente, a cair em novas unilateralidades ou a prendê-lo nas teias de uma posição parcial, que não permitiria surgir aquela visão global e includente, que temos proposto em todos os nossos livros.

São as seguintes as regras da suspicácia, que propomos:

I ? Suspeitar sempre de qualquer idéia dada como definitiva (idéia ou opinião, ou teoria, ou explicação, etc).

II ? Pelos indícios, buscar o que a gerou. Ante um conceito importante procurar sua gênese (sob todos os campos e planos da decadialéctica e da pentadialéctica, métodos do autor) :

a) Verificar se surge da experiência e se se refere a algo exterior a nós, por nós objectivado; b)   se surge, por oposição, afrontando, assim, o espírito colonialista passivo de muitos brasileiros, que não crêem, não admitem e não toleram, que alguns de nós tenham a petulância de formular pensamentos próprios (ou negação), a algo que captamos ou aceitamos; c) se é tomado abstractamente do seu conjunto: d) se o seu conjunto está relacionado a outros, e quais os graus de coerência que com outros participa.

III ? Não aceitar nenhuma teoria, etc, que só tenha aplicação num plano, e não possa projectar-se, analogicamente, aos outros mais elevados, como princípio ou postulado ontológico.

IV ? Suspeitar sempre, quando de algo dado, que há o que nos escapa e que precisamos procurar, através dos métodos da dialéctica.

V ? Evitar qualquer idéia, ou noção caricatural, e buscar o funcionamento dos esquemas de seu autor para captar o que tem de mais profundo e real, que às vezes pouco transparece em suas palavras.

VI ? Devemos sempre suspeitar da tendência abstracionista da nossa intelectualidade, que leva a hipostasiar o que distinguimos, sem correspondência com o complexo concreto do existir.

VII ? Observar sempre as diferenças de graus da atualização de uma idéia, pois a ênfase

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pode emprestar à essência de uma formalidade o que, na verdade, a ela não pertence. Assim, o que é meramente acidental, modal ou peculiar, que surge apenas de um relacionamento, pode, em certos momentos, ser considerado como essenciais de uma entidade formal, permitindo e predispondo, que, posteriormente, grandes erros surjam de um ponto de partida, que parecia fundamentalmente certo.

Ao defrontarmo-nos com um absurdo ou com uma posição abstracionista absolutista, podemos estar certos que ela parte de um erro inicial. Remontando às origens, aos postulados iniciais, não será difícil perceber o erro.

VIII ? Na leitura de um autor, nunca esquecer de considerar a acepção em que usa os conceitos. Na filosofia moderna, cuja conceituação não adquiriu ainda aquela nitidez e segurança da conceituação escolástica, há uma multiplicidade de acepções que põem em risco a compreensão das idéias. E muitas polêmicas e diversidade de posições se fundam sobre a maneira pouco clara de apanhar o esquema noético-eidético de um conceito, o que decorre da ausência da disciplina, que era apanágio da escolástica em suas fases de fluxo.

IX ? No exame dos conceitos, nunca deixar de considerar o que incluem e o que excluem, isto é, o positivo incluído no esquema conceitual, e o positivo, que a ele é recusado.

X ? Nunca esquecer de considerar qualquer formalidade em face das formalidades que cooperam na sua positividade, sem estarem inclusas na sua tensão.

Assim, por exemplo, a rationalitas, no homem, implica a animalitas, embora formalmente, no esquema essencial, a segunda não inclua necessariamente a primeira, enquanto a primeira implica, necessariamente, a segunda.

Mas, como esquemas formais, ambas se excluem, apesar de a primeira exigir a presença da segunda para dar-se no compositum, isto é, na humanitas.

XI ? Sempre cuidar, quando de um raciocínio, a influência que possa ter, em nossas atualizações e virtualizações, a inércia natural do nosso espírito, o menor esforço, sobretudo nos paralogismos e nas longas argumentações.

XII ? Toda afirmação que apresente cunho de verdade, verificar em que plano esta se verifica: se no ontológico, no mítico, no lógico, no formal, no gnoseológico, no material, no axiológico, no simbólico, no pragmático, etc. Estabelecida a .sua positividade, procurar as que exige para que se obtenha um critério seguro. Esta última providência, e o modo do seu processual, é a que se adquire pela matéria a ser examinada nesta obra.

Outras providências do método da suspicácia serão apresentadas nas obras posteriores

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desta Enciclopédia, à proporção que se tornem necessárias. Nessa ocasião, teremos o cuidado de tratar delas, expô-las com a exemplificação que se tornar imprescindível.

SABER LER

Há que se reaprender a ler? Parece absurdo se fazer esta pergunta depois de tanto se ter lido. No entanto, existe "ler" e "ler". A leitura que se aprendeu na escola e que é mais que suficiente para a vida cotidiana, nem sempre é suficiente quando tem que se defrontar com a apropriação de textos mais difíceis. Esta apropriação, no sentido lato de "tornar próprio" aquilo que se lê, deve ser aprendida. Alguns métodos e técnicas consagrados podem ser úteis.

Como afirma Folscheid & Wunenburger (1997), o texto deve ser considerado como a "estrada real" da iniciação filosófica. Caminho que se dá pela retomada da herança do pensamento em diferentes épocas, estabelecendo uma "relação original" com o texto filosófico, e deste com o pensar do filósofo, que é como que "vampirizado", no bom sentido.

1. Freqüentar os livros

Para ler textos filosóficos, é preciso primeiro dispor deles. Esse truísmo recobre uma necessidade que tende infelizmente a ser apagada das preocupações prioritárias. É comum os alunos se habituarem à facilidade que constituem os trechos fotocopiados pelos professores, em função das necessidades de seus cursos. Tal prática de modo nenhum substitui a freqüentação direta dos textos em sua forma normal, que é a do livro. Cumpre considerá-la, portanto, como uma ocasião para descobrir os textos, jamais como um contato suficiente.

As bibliotecas acessíveis aos estudantes devem tornar-se lugares familiares. É preciso acostumar-se a buscar referências nos arquivos, habituar-se à disposição das estantes. É preciso folhear livros para rapidamente tomar conhecimento de seu conteúdo, retirar (e devolver!) regularmente.

Os hábitos são, aqui como em toda parte, a melhor ou a pior das coisas. Se não se freqüenta a ou as bibliotecas, não se recorre ou pouco se recorre a elas. Se nelas se fica à vontade, volta-se a elas sem esforço.

A passagem pela biblioteca deve tornar-se um ritual.

2. A biblioteca pessoalNenhum dos modos de acesso aos textos anteriormente evocados substitui, no entanto, a posse de livros sempre à disposição, sobre os quais se medita longamente, que se pode rabiscar e anotar à vontade.

Claro que a aquisição de uma biblioteca pessoal representa uma despesa. Mas é um investimento necessário. Aliás, ele não está fora de alcance, uma vez que um grande

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número de textos de referência se encontra hoje em coleções de bolso. E preciso aprender a gerenciar a despesa com regularidade.

- Comece adquirindo os livros exigidos pelos cursos que você freqüenta. Não há estudo sério de outro modo!

- Constitua progressivamente um elenco de textos fundamentais dos autores essenciais: Platão, Aristóteles, Descartes, etc.

- Em relação aos textos secundários ou mais "avançados" e também aos comentários e ensaios, você pode no começo contentar-se com as bibliotecas universitárias, a menos que a vontade o domine. Em semelhante caso, você não deve contrariar o seu impulso: deve comprar!

- É bom também obter alguns livros de síntese, próprios para facilitar a iniciação. Você pode encontrá-los em várias coleções (ver o anexo bibliográfico). Mas esses livros são apenas instrumentos que desempenham o papel de suportes e jamais substituem a freqüentação direta dos autores.

- Para os que pensam em aprofundar seus estudos de filosofia, é preciso elevar um pouco o nível de exigência, fazendo a aquisição de algumas edições de referência - por exemplo, as que são citadas quando se redige a dissertação de mestrado.

- É preciso também obter alguns textos em sua língua original, a fim de poder se reportar aos conceitos e termos técnicos úteis à reflexão, e que as traduções nem sempre exprimem bem.

Isso vale em primeiro lugar para os textos gregos, que se encontram sem dificuldade em livraria.

Se você não sabe grego, deve deixar de lado esse quesito? Seria lamentável. Sabendo que, na falta de saber bem o grego, é útil saber um pouco de grego, procure todas as fórmulas de iniciação propostas na Universidade. No mínimo, a aprendizagem do alfabeto grego será extremamente proveitosa. Será possível assim identificar os termos importantes, entender e ler o professor que os utiliza ou comenta, fazer citações exatas nos trabalhos escolares. Penosa à primeira vista, essa aprendizagem mínima é muito mais fácil de realizar do que se imagina. Em todo caso, é bem menos temível que a da própria reflexão filosófica!

O mesmo vale para as obras inglesas e alemãs, que existem às vezes em coleção bilíngüe, e sempre em coleções de bolso estrangeiras. Também aí seria bom seguir as iniciações propostas. Não se pedem as competências do intérprete, longe disso. Uma certa familiaridade com a língua já é um trunfo considerável. Ela está ao alcance de todos.

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3. Que textos ler:

Uma vez de posse dos textos, seja de uma biblioteca pública, de um amigo ou pessoal, cumpre evidentemente lê-los, pois ainda não foi descoberto o meio de apropriar-se deles por osmose. Que textos e em que ordem?

Convém aqui não se imobilizar em falsos problemas. Os textos filosóficos são, em primeiro lugar, os dos filósofos, consagrados como tais.

Os textos dos filósofos patenteados são facilmente identificáveis pelo seguinte critério: neles, a forma está inteiramente submetida à mensagem a comunicar, a própria mensagem sendo inteiramente redutível a um pensamento racionalmente conduzido, que se move exclusivamente no universo conceituai.

Se houver a menor dúvida sobre o caráter filosófico de um texto, pode-se fazer a seguinte contraprova: perguntar-se se o discurso desenvolvido é ou não redutível à inteligibilidade filosófica.

Se a forma do discurso resistir ao ponto de resultar disso uma perda importante, é que se lida com outra coisa que não a filosofia - literatura ou poesia, em particular.

Se o conteúdo do discurso resiste à operação e mostra-se condicionado por dados "positivos", isto é, obtidos por um trabalho sobre dados provenientes da experiência, portanto não dedutíveis de direito, irredutíveis a conceitos, é que se trata de "ciências humanas" - história, psicologia, sociologia, etc. Nesse caso, dispõe-se efetivamente de conteúdos suscetíveis de se tornarem conhecimentos e que devem ser aprendidos como tais.

Não obstante, existem numerosos textos que não são diretamente "de filosofia" mas que podem ser objeto de uma leitura filosófica.

Isso é verdade em primeiro lugar para certos textos de filósofos, que são difíceis de classificar - por exemplo, o Zaratustra de Nietzsche.

É verdade para muitos textos da literatura, como os de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Dostoievsky, Aldous Huxley e muitos outros.

É igualmente verdade para autores como Freud, Lacan, Mauss, Lévi-Strauss ou Barthes.

Todos esses textos, que podem ser considerados intermediários ou "de passagem", podem e mesmo devem reter a atenção dos estudantes de filosofia, ser objeto de leituras assíduas, dar lugar a fichas. Não se esqueça de que a prática da filosofia, que pode submeter a exame qualquer objeto, ganha em sutileza e pertinência quando acompanhada de uma verdadeira cultura geral. Conforme os gostos, as competências ou as lacunas, convém portanto se esforçar sempre para ampliar e aprofundar essa cultura através de um leitura regular de livros de literatura, de história, de psicologia, ou

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relativos às ciências da natureza, etc.

Só que será preciso distinguir os gêneros e as coisas, evitando misturar o que tem a ver com a informação, com o conhecimento e com a reflexão propriamente dita. Mas o trabalho será menos pesado. Como as matérias para a reflexão filosófica são menos centrais nos cursos de formação, de qualquer modo você precisará dedicar menos tempo a elas. Além disso, gozará de uma liberdade bem maior, que deve marcar a parte indispensável dos gostos pessoais e da liberdade de iniciativa.

O essencial é começar por autores e obras que realmente iniciem à filosofia e que não sejam de abordagem demasiado difícil.

Por exemplo, convém não lançar-se de saída e sem guia na Crítica da razão pura de Kant ou na Enciclopédia de Hegel. Os Fundamentos da metafísica dos costumes, para o primeiro, ou as Lições sobre a estética, para o segundo, são menos opacos à primeira vista.

Do mesmo modo, é preferível começar pela República de Platão do que pelo Parmênides. Mas isso não o impede de chegar bem depressa aos textos principais, privilegiando em particular os prefácios e introduções, geralmente mais acessíveis.

Damos certo número de indicações bibliográficas. Convidamos o leitor a reportar-se a elas. Contudo, uma vez mais, o essencial não está aí. Onde está, então?

Para progredir, há apenas uma regra de ouro: dedicar-se regularmente ao exercício da leitura filosófica, ao menos várias vezes por semana, todos os dias, se possível.

No início, é normal avançar muito lentamente. Não convém precipitar-se, querer forçar o obstáculo, sob pena de criar para si mesmo um muro intransponível de dificuldades acumuladas.

Mas tampouco convém adiar sempre para mais tarde o momento da aprendizagem, esperando estar melhor preparado. Em ambos os casos corre-se o risco de entrar numa espiral viciosa, que faz crescer as dificuldades, em vez de aplainá-las.

Para evitar isso, cumpre demonstrar ao mesmo tempo tenacidade e paciência. Com efeito, se os conceitos ignoram largamente o tempo, o tempo permite entrar pouco a pouco nos conceitos. Para ser claro: a iniciação exige duração.

4. A leitura rápida

A "leitura rápida", no sentido estrito, é uma verdadeira técnica, que se aprende e se cultiva. Ela é utilizada em todos tipos de meios, a propósito de textos de natureza variada (dos jornais aos documentos, passando pelos romances ou os ensaios). Se é vedado utilizá-la tal e qual em filosofia, é interessante porém inspirar-se nela para

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facilitar certas tarefas indispensáveis.

Com efeito, a leitura atenta dos textos filosóficos é lenta, desesperadamente lenta, o que engendra dois tipos de inconvenientes:

O primeiro é de ordem psicológica, pois tem-se a impressão de não avançar, até de não sair do lugar. Enquanto a leitura de um pequeno romance requer duas horas, a de um texto filosófico de cem páginas pode exigir uma semana de esforços ao iniciante. É lícito então perguntarmos se uma vida inteira será suficiente para darmos conta de dois ou três autores maiores, enquanto, por outro lado, avaliarmos a necessidade de um crescimento exponencial de nossa cultura filosófica.

O segundo é de ordem filosófica, pois, esmiuçando o texto como convém, corremos o risco de perder-nos em detalhes que ocupam tudo, o espírito de síntese é sufocado pela preocupação de análise. Perdem-se de vista as questões, os objetos de discussão, o fim perseguido, o plano, o percursor.

Para fazer contrapeso, não é portanto desinteressante exercitar-se em percorrer um livro em seu conjunto, utilizando as idas e vindas como sondagens, de acordo com as necessidades e quase a seu gosto.

Tal exercício é não apenas salutar a título de compensação, mas útil:

permite tomar conhecimento de uma obra em sua totalidade; facilita a revisão deste ou daquele texto do programa; é indispensável para buscar a documentação de um trabalho a ser feito e para

determinar os livros de que se tem necessidade numa biblioteca.

Aplicada aos textos filosóficos, tal leitura é mais "seletiva" que "rápida", mais descontínua que apressada. No entanto, ela supõe adquiridos os princípios básicos da leitura rápida:

A apreensão "fotográfica" das páginas do texto, apenas pela visão, treinando a não pronunciar interiormente o que se lê. Com efeito, a enunciação interna, muda, é o principal fator de lentidão. Convém sabê-lo. O olho, em compensação, é muito mais rápido.

A substituição de uma progressão palavra por palavra por uma progressão por saltos, de termo-chave em termo-chave, desprezando todo o tecido conjuntivo das frases.

A aplicação de uma extrema atenção, pois se trata ao mesmo tempo de dominar o conjunto do texto e de selecionar os pontos essenciais (ou os elementos buscados com um objetivo muito particular).

Ter-se-á especialmente o cuidado de ler e compreender o sumário, o índice sinóptico, tudo o que permite perceber melhor o plano de conjunto de um livro, a progressão e a articulação das idéias e dos temas, e portanto orientar-se melhor no texto, localizar esta ou aquela passagem que desperta mais nosso interesse, etc. Em muitos casos, uma atenção particular será dada igualmente à introdução ou ao prefácio, e sobretudo à conclusão (que geralmente é preferível ler antes do próprio livro, para compreender

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melhor sua tese e os objetos de discussão). É sempre melhor, em filosofia, dominar a organização e a orientação de um livro, a fim de estar mais disponível para compreender o detalhe da argumentação, o que distingue a leitura filosófica da leitura de um romance, no qual o prazer decorre, ao contrário, da ignorância do desfecho.

A operação é mais fácil de se realizar quando se lê um texto pela segunda vez, após ter tomado conhecimento dele de maneira mais pormenorizada. Mas é igualmente interessante como primeira abordagem.

5. A leitura aprofundada:

É a leitura intensa, na qual pomos toda a nossa atenção, esquadrinhando as palavras para nelas descobrir as noções, as frases para evidenciar as teses, os parágrafos para esclarecer os objetos de discussão, dos pressupostos, a argumentação e as implicações.

Essa é portanto a verdadeira leitura filosófica, no sentido pleno da palavra.

Desta vez, é preciso dar tempo ao tempo e fixar-se em um campo extremamente restrito. Por exemplo: meia hora por página, dez minutos para uma frase importante. O objetivo é quebrar o osso do texto para retirar a medula substancial.

Sobretudo no começo, convém colocar-se na atitude que seria a da explicação de texto. Escolhe-se livremente uma passagem e se faz como se fosse preciso explicá-la numa prova escolar (oral ou escrita).

Portanto, reporte-se à análise da explicação de texto para ter sobre esse ponto todos os detalhes necessários.

A ambição de tal exercício é vencer pouco a pouco o abismo entre leitura e explicação, para que a leitura aprofundada se torne quase uma explicação instantânea, mesmo se ela é reduzida em suas dimensões e retém apenas o essencial. É nesse momento que o leitor de filosofia toma-se realmente filósofo.

É bom exercitar-se em vários tipos de leituras do texto no qual se está trabalhando.

Por exemplo, procurar percorrer rapidamente certas passagens, a fim de se ter uma visão de conjunto. Depois passe à leitura "normal" do mesmo texto, para deter-se nos pontos importantes e praticar, então, uma leitura aprofundada. Mais tarde, volte à leitura rápida por ocasião desta ou daquela necessidade escolar, para deter-se de novo no que é mais importante.

Esse treinamento "misto" exige assiduidade, sem o que é impossível progredir.

Cumpre esforçar-se por repetir esses exercícios várias vezes por semana, variando os textos, para ajustar-se às diversas necessidades (um texto de acompanhamento a trabalhar, uma dissertação a preparar, uma leitura de fundo a proceder).

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Com o hábito, é possível tender a uma leitura filosófica de ritmo normal, que terá a velocidade que você é capaz de dar-lhe, levando em conta a dificuldade do objeto e as capacidades de que dispomos num dado momento. O essencial é obter a cada vez a melhor razão entre o tempo investido e o resultado obtido.

Além disso, você deve procurar trabalhar ora de maneira puramente oral, a fim de concentrar a atenção apenas no texto, ora acompanhando esse esforço de um segundo, que consiste em tomar notas.

6. Tomar notas

Tomar notas é indispensável para concretizar seus esforços, fixar ao mesmo tempo sua atenção e as idéias, preparar um exercício escolar, aumentar sua cultura, criar instrumentos de trabalho duradouros que aliviarão os esforços ulteriores e permitirão as revisões.

Existem dois grandes tipos de notas, conforme o objetivo buscado:

as notas diretamente destinadas a um trabalho escolar - dissertação, explicação ou comentário de texto. Reporte-se às rubricas em questão;

as notas de uso estritamente pessoal: as fichas de leitura.

Por que fichas?A importância capital das fichas pode ser provada a contrario. Basta pensar nessa experiência tão aborrecida quanto corriqueira que é o esquecimento de textos lidos de maneira lenta e penosa, caso não se tenham conservado vestígios escritos do trabalho.

Não é a memória enquanto tal que devemos incriminar se não nos "lembramos" de um texto filosófico como de um filme ou de um romance. Com efeito, os pensamentos dos outros não podem se tornar para nós "lembranças" no sentido estrito. Existe aí como que uma distorção de nossas funções. A memória está de uma certa maneira envolvida, mas ela não predomina - e não deve predominar, sob pena de travestir o pensamento de saberes exteriores. Independente da integração dos pensamentos dos outros em nosso pensar, o verdadeiro lugar onde se depositam os pensamentos é o papel. Isso vale tanto para o filósofo experiente quanto para o aprendiz. O tempo passado sobre os textos, mas que não se concretiza em fichas, é praticamente tempo perdido.

As fichas são, portanto, absolutamente indispensáveis. É a partir delas que se pode ter uma idéia precisa, ao mesmo tempo global e detalhada, dos textos filosóficos e de seus autores. São elas que devem ser revisadas em primeiro lugar, antes de uma prova. O que há de "útil" numa cultura filosófica universitária depende diretamente da qualidade das fichas redigidas.

Como esse trabalho não pode ser feito em situação de urgência, por exemplo em

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período de exames, ele deve estender-se ao longo de todo o ano de trabalho, acompanhando sistematicamente cada leitura.

Como fazer fichas?As fichas são tão pessoais que é impossível fixar normas imperativas. Cada um deve aprender a conhecer-se em todos os seus aspectos para montar fichas que sejam as mais proveitosas. Elas dependem, com efeito, do tamanho da escrita, da preferência pelas fichas normatizadas ou por folhas soltas, blocos ou cadernos. Entretanto, é possível dar algumas indicações razoáveis, diretamente deduzidas dos objetivos visados.

O tamanho das fichas deve corresponder ao conteúdo dos livros. Por exemplo, uma ficha de formato 10 X 15 é incapaz de conter a Crítica da razão pura. Mas cinqüenta folhas frente-e-verso serão impraticáveis. Cabe a cada um encontrar a boa medida, que oscilará entre dez e vinte folhas de caderno para o referido livro, que é considerável. Em todo caso, é preciso que o essencial seja inscrito, com suas articulações e seus conceitos principais.

Estabeleça seu sistema pessoal de abreviações. Todos os termos repetitivos devem ser abreviados (por exemplo: "sempre" em "sp", "tempo" em "tp"). As grandes categorias filosóficas também (exemplo: "moral" em "M"). Os sinais matemáticos oferecem abundantes recursos. Enfim, é preciso acostumar-se a redigir em estilo telegráfico (mas inteligível) para economizar espaço e aumentar a densidade filosófica da ficha. Quanto maior for essa densidade, melhor será a ficha.

Recorra a cores diferentes, seja para sublinhar, seja para redigir. O essencial é obter o máximo de clareza e possibilitar a revisão mais rápida e mais eficaz possível.

Habitue-se a anotar com precisão todas as referências (edição, ano, tradução, partes, paginação), a fim de poder localizar-se depois no texto e partir da ficha para efetuar um trabalho.

O caderno de vocabulárioPara que uma leitura seja enriquecedora, é preciso igualmente assinalar e classificar os conceitos encontrados, fornecendo seu contexto (autor, livro, referências) e sua função, condições necessárias para que as definições indicadas sejam de natureza filosófica.

Esse trabalho é não somente indispensável para aumentar sua cultura filosófica, mas também extremamente "rentável" para toda espécie de exercício. Os textos que freqüentamos são uma mina a explorar diretamente. Não se prive de fazê-lo.

Como?

Do ponto de vista material, cabe a cada um organizar-se conforme suas preferências, utilizando fichas ou um classifi-cador, escolhendo uma classificação por ordem alfabética.

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Do ponto de vista metodológico, é preciso saber que serão encontrados três grandes gêneros de termos:

- o primeiro compreende termos que não são propriamente filosóficos, mas podem adquirir um sentido filosófico. Por exemplo: "bom senso", "senso comum", "intuição", "liberdade", "mundo", "natureza";

- o segundo compreende termos filosóficos universalmente usados (por exemplo: "essência", "substância", "idéia", "razão"), mas que adquirem significações diferentes conforme a época, o contexto doutrinai ou o autor;

- o terceiro compreende termos absolutamente específicos, que é impossível retirar de seu contexto sem o risco de interpretação errônea (por exemplo: o "transcendental" em Kant).

Do ponto de vista do espírito filosófico da operação, deve-se avaliar de antemão toda a diferença entre um caderno de vocabulário e um dicionário - instrumento perigoso para o aprendiz de filósofo que o empregasse sem precauções.

Com efeito, um dicionário indica para cada termo uma ou várias definições, atestadas pela língua. Como esse instrumento funciona segundo o princípio de autoridade, corre-se a tentação de copiá-la com toda confiança. Infelizmente, não se vê que, na maior parte das vezes, as pretensas "definições" das palavras segundo o costume encobrem teses filosóficas concernentes a noções, ao passo que o contexto, as premissas, os debates, o exame crítico e o esforço de produção racional são escamoteados. A definição de dicionário é portanto do tipo "pegar ou largar".

Para a reflexão filosófica, ao contrário, as noções filosóficas jamais devem ser tratadas como entidades isoladas. Um termo filosófico não é um ponto de partida dado de antemão, que impõe seu sentido sem discussão, mas o resultado de um processo racional com seus pressupostos, suas implicações. Em suma, todo termo cumpre uma "função" num movimento de pensamento coerente. Seu sentido decorre dessa situação, e não o inverso. Jamais se parte de um sentido, chega-se a ele. O sentido é um resultado.

Vendo apenas por um lado, esse estado de coisas permite compreender a recriminação feita comumente aos filósofos: que eles falam línguas diferentes e são incapazes de se entender. No entanto, o que há de mais normal? Por exemplo, como se poderia definir o termo "idéia" de uma vez por todas, quando se sabe o que significa "idéia" em Platão, Descartes, Hume e Hegel? E como se poderia definir em si mesmo o termo "liberdade", sabendo que isso envolve ao mesmo tempo toda uma filosofia da liberdade?

Vê-se assim o interesse capital de um caderno de vocabulário elaborado a partir de leituras diretas. As noções receberão um sentido preciso, num contexto dado, num autor determinado. Com isso, você obterá elementos de base perfeitamente identificados e

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autenticados, que serão muito úteis em inúmeros exercícios - explicação, comentário ou dissertação.

Portanto, não há por que assustar-se com uma tecnicidade que pareceria insuperável. Basta classificar por ordem alfabética as noções principais encontradas (deixando de lado as secundárias, para não ser esmagado pelo volume). Ao cabo de certo tempo, um número importante de referências devidamente aferidas estará à sua disposição.

Outra vantagem, que não deve ser negligenciada: você estará cada vez menos ingênuo diante dos termos propostos nos enunciados de temas. Sabendo que não há um sentido decidido de uma vez por todas, vazado nas sentenças de um dicionário, mas um conteúdo a buscar, a refletir ou a produzir no interior de um contexto em que o conceito tem sua função, você será estimulado à pesquisa, com a vigilância crítica que se impõe.

Dito isto, pode ser bom referir-se a certas obras especializadas (vocabulário e dicionários filosóficos). Se você não se deixar submergir pela abundância e complexidade, se tomar cuidado na elaboração que acompanha o material fornecido, poderá tirar lições edificantes. Mas nada substituirá o caderno de vocabulário fabricado por você mesmo, "apropriado" por definição, portanto muito mais fácil de memorizar e utilizar.

7. O vocabulário:

Uma tarefa importante na leitura filosófica é reconhecer os termos chaves da leitura, em seu sentido contextualizado no texto , mas em seu sentido geral conforme definido em diferentes dicionários de filosofia, ou glossários online como o que oferecemos em Vocabulário de Filosofia.

Pode-se montar uma lista de termos e noções relevantes na leitura do texto, assinalando não apenas sua definição local e geral, como os relacionamentos que se tecem entre estes termos e noções na argumentação do texto.

Fichas apropriadas podem ajudar nesta tarefa, mas atualmente alguns recursos informatizados estão disponíveis para auxiliar sobremaneira a organização pessoal deste vocabulário assim como de notas pessoais que se façam sobre a leitura, evitando sempre que possível escrever sobre o próprio livro ou trexto.

Alguns destes recursos informatizados estão indicados na excelente página da Wikipedia sobre Outliners.

8. Roteiro prático:

Técnica geral de leitura

Ler atentamente um texto é:

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saber analisá-lo; saber interrogá-lo.

Implica em "recuo" diante do conteúdo e de sua forma discursiva, para não se correr o risco de uma leitura passiva, corriqueira, onde acaba-se dominado pela argumentação.

Recomendação inicial:Lápis ou lapiseira à mão e borracha, promove uma atitude ativa diante do texto, permitindo sublinhar e anotar, ou seja iniciar um diálogo com o texto. Isto promove uma atenção redobrada, um sentido crítico e uma maior curiosidade.

1. O que é analisar um textoo descosturar o que está costurado e desdobrar o que está dobrado em

sucessivas argumentaçõeso surpresa diante do texto como um enigma a decifraro démarche heurística: texto sujeito de interrogação

2. Como analisar um texto?o Interrogá-lo em seu conjunto, para apreender a questão em jogo

Se deixar interpelar; nem sempre o título ou o tema proposto, representam o questionamento do texto.

A visão do texto as vezes é mais ampla, sutil ou precisa Qual o problema central?

Porque o autor decidiu escrever isto? Qual sua pretensão?

Quais os problemas que o autor se coloca? Considerar a construção social do pensamento do

autoro Identificar o texto (atitude analítica)

Conjunto concertado formado por partes ligadas entre elas segundo regras de funcionamento

Desvendar o enigma proposto, desfiando as tramas do texto. Três níveis:

a) tipo de argumentação b) démarche ou construção da argumentação c) conceitos operacionais (nós da trama)

Tipos de argumentação

O que é uma argumentação?o Do latim argumentatio, é um dispositivo discursivo visando provocar ou

abalar a adesão a uma tese; considerando que uma tese repousa sobre: princípios e crenças admitidas

o Uma argumentação se compõe geralmente de vários argumentos ligados entre si de maneira coerente

A demonstração

o A demonstração estrita não pertence à argumentação que se dirige por essência a alguém; ela é um raciocínio lógico formal universal, que deve

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ser admitido necessariamente pois procede a partir de axiomas, dos quais se tiram conclusões tautológicas, qualquer que seja o conteúdo, com vistas a estabelecer uma verdade. A forma mais completa de demonstração é a de ordem matemática.

o A demonstração segundo um emprego mais amplo do termo, pertence à argumentação, enquanto: partindo de premissas admitidas por pessoas competentes; e utilizando a língua natural.

Ela permanece demonstrativa por proceder de uma associação lógica interna e restritiva, estabelecendo a verdade relativamente às premissas enunciadas ou supostas.

o Como reconhecer uma demonstração? pela utilização de argumentos teóricos pela utilização de três grande princípios lógicos:

princípio da identidade princípio do terceiro-incluso princípio da não contradição

pela utilização da forma silogística pelo aspecto tautológico da conclusão

O diálogoo Trata-se de procedimento dialético, que faz intervir uma confrontação

entre opiniões diferentes ou opostas com vistas a se alcançar um acordo sobre um sentido, mutuamente admitido como verdadeiro.

o Como reconhecer um diálogo? por sua forma, fazendo intervir dois personagens ou mais em uma

conversação real ou imaginária pela disposição da argumentação, que sem pôr em cena diferentes

interlocutores, procede a uma análise de teses contrárias pelo exposto de argumentos e de objeções

Texto didáticoo Quer ensinar, ou seja por à disposição de maneira compreensível, pela

leitura, elementos convincentes por si mesmos.o Como reconhecer um texto didático?

texto sem instrumental lógico (não demonstrativo) Ilustrativo: exemplos, fatos (provas)

o apelo à experiência pessoal como evidênciao privilegia a evidência de fatos (os fato falam por si mesmos...)

Texto apologéticoo Texto que quer convencer por uma defesa ou uma justificação fazendo

intervir outros meios além: da demonstração e da simples ilustração pelos fatos. Este meios provêm da retórica e visam suscitar a crença. Trata geralmente de temas de domínios implicando juízo de valor: política, religião, estética.

o Como reconhecer um texto apologético? por seus meios retóricos

qualidade do estilo literário apelo à emoção recurso às imagens

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repetição dos mesmos argumentos sob diferentes formas pelo tema tratado

Texto aforísticoo Formado por pequenas frases concisas que guardam muito sentido em

poucas palavras, onde nem tudo é dito para deixar margem ao próprio pensar, neste caso não conceitual

o Como reconhecer um texto aforístico? pela brevidade e o aspecto bombástico das sentenças pela ausência de argumentação e de conceitualização pelo aspecto provocante do pensamento pela dimensão requerida de interpretação

A construção da argumentação

Um todo concertado, progressivo, que guarda uma coerência orgânica entre suas partes; sendo difícil tarefa recortar partes pois rompem com o aspecto orgânico do texto.

Buscar: o diferentes grandes momentos, grande blocos de argumentação o que função cada um tem em si mesmo? o que função cada um tem em relação ao que o precede?

um texto argumentativo é progressivo em sua exposição (linear). o quais os momentos chaves, aqueles que argumentação dá um novo passo

em seu progresso o quais os momentos de transição ou bifurcação, que permitem passar de

uma perspectiva a outra? o identificação dos materiais discursivos:

quais são? para que servem? qual a função relativa que têm no todo?

o Só se pode decompor o texto em partes uma vez compreendida as diferentes funções

Desconfie da apresentação visível do texto: parágrafos ou capítulos nem sempre correspondem aos blocos lógicos

o Sempre se perguntar diante de um texto por quais razões o autor procede assim e porque aporta tal argumento neste momento

o Dê-lhe o crédito devido e afirme a razão de ser do que ele escreve Excelente maneira de distinguir os bons pensadores: o princípio

de economia no rigor é certamente uma prova da qualidade de um pensamento melhor que o de força de persuasão (a retórica possui leis muito eficazes mas nem sempre muito recomendáveis quanto a sua confiabilidade)

Se não se encontra as razões de ser de um discurso segundo a ordem desvendada dos blocos de argumentação, é possível que o texto esteja realmente mal construído ou tenha sido mal interpretado

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evite os textos "sem pé nem cabeça"

Conceitos operacionais

Identificamos as "matérias" em uma leitura, pois não há obra sem materiais. Com efeito em qualquer argumentação se faz uso de um conjunto de matérias enquanto instrumentos do discurso. Estas matérias ou materiais da obra são os conceitos.

Identificado os blocos, o passo seguinte é um trabalho sobre os conceitos, noções e termos-chaves, que operam como nós da trama do texto.

o Os argumentos (demonstrações, provas, exemplos, etc.) estão constituídos sobre conceitos.

o Conceitos estes aperfeiçoados pelo autor a partir de alguma referência original, ou algumas raras vezes criados pelo próprio autor

Não confunda dificuldade de entendimento dos conceitos com obscuridade o Conceitos complexos não são obrigatoriamente obscuros, apenas

requerem mais reflexão e pesquisa Pesquisar os conceitos de ponta que são os instrumentos principais na "talha" do

texto o Termos e noções chaves empregados com precisão tal que permitem ao

pensamento dar uma forma explicativa ao que ficaria nebuloso o Chaves porque dão forma precisa aos argumentos, delimitando o

problema, delineando seu contorno Encontrar os conceitos que tornam o texto claro Buscar as definições esboçadas pelo próprio autor Buscar os usos particulares e as nuances próprias Distinguir: uso comum, vago; uso conceitual, nó de argumentação.

o Questionamento útil: que definição precisa e original pode-se dar ao termo? que função tem aqui, que usos e nuances adota? que se pode pensar, desta construção sobre conceitos, que a torna

específica do autor?

Segundo o tamanho e a dificuldade de um texto, sua leitura deve ajustar de acordo com diferentes formas, dentro de uma mesma atitude e abordagem, conforme indicado anteriormente em "Leitura de Textos".

Um pequeno texto

Uma frase

Uma simples frase, que pode ser até um título, um aforismo ou uma frase célebre, merece uma leitura atenta aos seguintes aspectos:

Prioridade de importância dos termos no texto O porque da ordem dos termos no texto, se indica relações ou simples

enumeração Que sentido guardam os termos neste contexto ultra restrito? Que perspectiva de interpelação ou de provocação este frase tem?

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Não é porque o texto é curto que se deve lê-lo rapidamente, pelo contrário sua concisão apela maior reflexão.

Um parágrafo ou um texto de algumas linhas

Tomá-lo como um todo, seja: o fragmento o artigo o excerto de um texto maior (recorte guardando coerência)

Como lê-lo? o Repetidas leituras, com finalidades distintas:

Investigação do problema tratado Investigação do tipo de argumentação: porque o autor escolheu

este tipo de relação com o problema tratado? Investigação da estrutura do texto

momentos função destes momentos démarche, relação dos momentos entre eles

Investigação dos conceitos chaves: necessidade? apropriação original do autor

o Dialogue com o texto Que te aporta, que reflexões provoca? Que muda na sua maneira de ver o problema que trata?

aporte de informações perspectiva diferente questionamento de pressuposições aprofundamento interpelação, provocação

Leitura de periódicos

Revista de Informação Geral

Uma revista com rubricas não obrigatoriamente ligadas entre si.

Folhear a revista de cabo a rabo, para uma primeira aproximação de sua natureza Selecionar os artigos interessantes e, para cada um, proceder a sistemática em

Leitura de Textos

Revista especializada ou temática

Ler seu preâmbulo e editorial para entender sua proposta Abordar o sumário com atenção aos títulos, autores e ordenamento

o Investigar Como é organizado? Como os artigos são agrupados? Quais são os diferentes aspectos abordados e porque? Em que ordem e porque?

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o Ler atentamente os títulos dos artigos e o nome dos autores: Seus conhecidos (de nome, de notoriedade)? Sua reputação? Sua

trabalho? Dar uma olhada nas referências que eles dão para sustentar sua

exposição; indicação esclarecedora do espírito do artigo e de sua qualidade; bons autores têm boas leituras e referências bibliográficas.

Selecionar os artigos a ler (na sua ordem pessoal) Questionar fotos e imagens disponíveis na revista:

o Porque nesta posição precisa? o Que ilustra como idéia presente no texto?

Confirmar se as chamadas laterais ao texto são realmente significativas Ler cada artigo conforme indicado em Leitura de Textos

Leitura de uma obra

Aconselha-se sublinhar ou fazer algum sinal na margem diante de frases que se devem tomar nota para recuperá-las rapidamente, mas não tomar estas notas no curso da leitura, que pode impedir o acompanhamento da argumentação.

Investigar prefácio, índice, índice remissivo e bibliografia Buscar sempre que possível a originalidade da tese sustentada em relação ao

tema tratado, mesmo que seja um trabalho de síntese. Buscar como o texto "funciona"?

o Démarche o Articulações

Buscar quais são os momentos essenciais, aos quais se deve ter uma atenção especial

Buscar em dicionário especializado se for o caso a definição dos termos importantes

Seguir a sistemática indicada em Leitura de Textos

Agora passamos ao trabalho de síntese e articulação que se deve fazer com o que foi lido e digerido. O uso de alguns programas (vide item Recursos informatizados), muito em voga hoje em dia, que trabalham sobre o que se denomina "mapa conceitual" (vide Concept map e Mind map), pode ser de grande valia para dar uma arrumação inteligente às anotações a serem feitas como resumo do apreendido na leitura

Notas de Leitura

Discernimento quanto à quantidade e a qualidade de notas.

Utilizar fichas digitais, oferecidas por programas denominados "Outliners" (vide Outliner) pode ser útil (vide item Recursos informatizados), mas as fichas ou os cadernos de anotações ainda são de grande valia.

O que anotar? o Citações

O mais importante não é a citação exata, mas os termos chaves e suas definições.

Para cada citação:

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indispensável? extração adequada, recorte bom?

o Argumentações pontuais Fluxo (uso de mapas conceituais, pode ser muito útil) Se certifique de ressaltar a rede de argumentos

o Se por escrito, deixar espaços e margens para atualizações Importante anotar a página, e os dados bibliográficos

Quando anotar? o Logo em seguida à leitura:

pouco tempo depois retomar texto e anotações para uma revisão tempos depois resgatar para aperfeiçoar sua interpretação

Fichamentos de leitura

Não se trata nem de anotações nem de resumos. Tem como finalidade tornar claro o aporte pessoal que se aporta à leitura. Assim fichamentos de outros nem sempre são úteis.

Como estabelecer um fichamento, em quatro tempos? o Identificar e precisar o problema central de que trata o texto?

Descobrir o problema principal e sua "disposição". Valer-se do título, do índice, da introdução, ou resumo, ou

prefácio; tente precisá-lo para si mesmo. Desconsiderar o anedótico ou não essencial Distinguir bem, neste momento, o que é o problema central

proposto na leitura do que é fazer um resumo do lido. o Descobrir a démarche interna

Qual o espírito deste exercício? se pôr no lugar do autor, buscando como foi construído o

texto e com que finalidade Porque o autor procede deste modo em sua

argumentação? Evite paráfrases.

Como proceder? Referencie e anote

os momentos (variações na argumentação) importância relativa (hierarquia) giradas na argumentação argumentos dinâmicos que avançam a reflexão

(motores de progressão do texto) a função dos diferentes argumentos (como se

constrói a argumentação?) Monte um esquema sinótico comportando todos estes

elementos e usando signos claros (disponíveis nas ferramentas de construção de "mapas conceituais")

Definir os conceitos importantes o Não se trata de simplesmente recopiá-los do texto nem de um dicionário o Pesquisar os conceitos estritamente necessários para dar sentido ao texto,

especialmente os forjados pelo autor

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o Para cada conceito, dar a definição do autor, segundo sua interpretação, acentuando:

o que o autor entende pessoalmente por este termo ou noção exemplificando por referências ao texto justificando a função de tal uso (porque o autor emprega o

conceito deste modo?) Demonstre o interesse investigativo do texto

o O que te põs em questão? Que falsas evidências abalou? o Que novas questões suscitou? o Que precisões exigiu? o Que esclarecimentos aportou? o Que outras teses sobre o tema, te ofereceu?

para revisitar para pôr em perspectiva para relativizar?

o Que se pode admitir a ainda debater quanto a tese do texto?

SABER DEFINIR E ANALISAR

Eis a tarefa mais necessária quando se trata do material sobre o qual trabalha o filósofo. Seja em uma dissertação ou em um comentário do texto, é necessário saber definir e analisar os termos chaves para a compreensão do mesmo.

Existem diferentes níveis de elementos que compõem um texto e diferentes modos de tratá-los.

Níveis de "matérias" de um discurso: termo, noção e conceito

Segundo François Chenique (vide Bibliografia), denomina-se "termo" (terminus) o objeto que é apreendido pela primeira operação da inteligência, e enquanto apreendido, quer dizer enquanto se encontra no espírito. Convém assim distinguir o termo mental, conceito, e aquilo pelo qual se exprime, o termo oral: o termo oral ou escrito é o signo do conceito, como o conceito é o signo da coisa. sendo o conceito distinguível como conceito formal e conceito objetivo

Assim temos que antes de mais nada definir claramente:

1. O termoo O que é um termo?

Etimologia: latim terminus: limite; latim medieval terminus: aquilo que limita o sentido.

Sentido: sinônimo de palavra ou expressão, quer dizer o sentido geral que tem na língua; o mesmo termo pode cobrir acepções diferentes segundo os domínios implicados, oi os sistemas no quais se insere.

o Como tratar um termo? Defini-lo sucintamente para não confundi-lo com um termo

vizinho; utilizar neste caso um dicionário, de preferência de filosofia.

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Referenciá-lo a uma noção ou a um conceito para poder tratá-lo de maneira precisa; todo termo não tem de ser definido com precisão, o que justamente permite a elaboração da análise sobre suas acepções possíveis.

2. A noçãoo O que é uma noção?

Etimologia: latim notio: tomar conhecimento; de noscere: aprender a conhecer, conceber.

Sentido: uma noção é um termo suficientemente preciso para que se possa conhecer os usos.

o Características de uma noção Geralmente polissêmica. Descritiva. Empírica e não construída. Exprime uma falsa generalidade (o que é comum a várias coisas);

refere-se frequentemente a preconceitos e juízos de valor.3. O conceito

o O que é um conceito? Etimologia: latim conceptus: ação de conter. Sentido: um conceito é uma idéia geral, resultado de uma

operação pela qual o espírito constrói um conjunto explicativo e estável de caracteres coerentes entre eles.

o Características de um conceito? O conceito só tem um único delineamento necessário. Forma um todo homogêneo, logo uma unidade. Foi construído de maneira operatória. Monossêmico. Não comporta juízo de valor. Só existe no seio de um sistema rigoroso. É universal e não geral (quer dizer que trata da essência e não do

conjunto dos objetos regrados.

Termo Mental

Para François Chenique (vide Bibliografia), o conceito ou termo mental nos aparece como o resultado do ato de simples apreensão na inteligência. Logo supõe a simples apreensão de um objeto considerado como inteligível, no caso os objetos apontados pelos argumentos de um discurso textual. A redução dos argumentos aos termos chaves que representam objetos referenciados pelo discurso textual se dá por aproximações sucessivas de leitura. Cabe ressaltar que o conceito (grego ennoema, noema) é distinto do termo oral ou escrito (onoma, dictio) que nada mais é que sua expressão.

O conceito ou termo mental é a representação intelectual de um certo objeto.

Conceito ou termo mental

Conceito o O espírito humano concebe as coisas, e o fruto desta concepção é o

conceito. Em nossa relação com o discurso textual pela leitura

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"afinamos" conceitos entre autor e leitor. A imagem é aqui evidente, e convém distinguir:

Conceito subjetivo (ato do sujeito): o ato mesmo do mental que concebe (actus ipsius mentis);

Conceito objetivo (resultado do ato do sujeito): aquilo que exprime o conceito, quer dizer o resultado do ato mental.

Idéia (eidos) o Significa "forma", e conceito reproduz em nós as formas ou similitudes

dos objetos; eidos significa também "espécie", é pelas espécies (e pelas diferenças específicas) que conhecemos os objetos. Na leitura dos discursos textuais ecoam-se idéias do autor no leitor, segundo a abertura e a adequação do objeto tratado à inteligência de ambos.

Termo (terminus) o O conceito é denominado por vezes "termo", pois aparece como o termo

ou término do ato simples de apreensão; Para Aristóteles, o termo (horos) é o que se obtém decompondo o juízo; é ainda, para ele, aquilo que limita ou determina a proposição em um silogismo. O termo designará portanto, para nós, o conceito quando entra em um juízo ou um raciocínio, que compartilhamos em um ato de leitura.

Noção (notio) o O conceito é uma noção, quer dizer aquilo que é conhecido (gnosis), ou

aquilo por qual a inteligência conhece. O princípio do adaequatio, da adequação do objeto à inteligência é determinante na formação deste conhecido, da noção.

Apreensão (aprehensio) o O objeto é como prendido, apreendido pelo conceito. O ato de leitura é

um processo de apreensão, onde conceitos se negociam entre leitor e autor.

Intenção (intentio) o Pelo conceito, o mental é como que dirigido para um objeto, segundo a

etimologia de "intendere": tender para. A intencionalidade fenomenológica é fundamental na observação deste processo de "leitura" de conceitos.

Razão (ratio) o Significa "relação", que é um dos sentidos do grego logos (verbum). O

conceito estabelece uma relação entre os objetos e o espírito que conhece. A razão estabelece uma relação entre autor-leitor.

Espécie expressa (species expressa) o Graças ao conceito, o espírito humano exprime para si mesmo o objeto

concebido, o conceito sendo então uma expressão direta da coisa no espírito que conhece. Esta noção é importante na teoria do conhecimento, pois a espécie expressa é uma similitude exprimida pela inteligência e na qual esta contempla o objeto que apreende.

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Convém evocar aqui o problema da identificação pelo conhecimento. Aristóteles diz no terceiro livro do De Anima que "a alma é um sentido todas as coisas... pois o ato do sensível e aquele do que sente são um e o mesmo ato. Se na sensação, o sensível e o sentidor têm um ato comum "subjetivado" neste último, do mesmo modo, na intelecção, a inteligência e o inteligível se unem, mas em uma identificação muito mais profunda dos dois elementos. São Tomás retomou a doutrina de Aristóteles e a precisou pelos diversos "graus de identificação" que variam segundo a natureza dos seres conhecidos. A doutrina da Escolástica se resume neste adágio célebre: "O intelecto em ato é o inteligível em ato" (intellectus in actu est intellectum in actu). No ato de inteligência, o intelecto se identifica àquilo que é o inteligível no objeto, quer dizer sua forma, reflete sua essência, enquanto esta é abstrata ou destacada da matéria. A imaterialidade, quer dizer a forma em ato, é logo para um objeto aquilo que o situa ao nível do conhecimento o torna inteligível. No caso do ato de leitura a abstração já sendo dada pelos termos referentes a atos ou fatos no texto, transpõe direto para a imaginação o que se dava entre sujeito e objeto, promovendo de imediato esta relação inteligência-inteligível.

Termo oral

Segundo François Chenique (vide Bibliografia), o termo oral é um signo sensível arbitrário que exprime noções.

O termo é um signo o O signo é o que nos permite alcançar o conhecimento do outro. Logo é

signo tudo que nos manifesta alguma coisa de diferente dela mesma. É preciso distinguir dois tipos de signos:

o o signo formal é uma coisa que nos conduz ao conhecimento de uma outra coisa por meio de similitude.

o o signo instrumental é uma coisa que nos conduz ao conhecimento de outra por meio de similitude e de uma conexão (ou relação).

natural, se a conexão tem a natureza mesma das coisas artificial ou arbitrária, se a conexão resulta de uma decisão

humana, como é o caso em geral da hipertextualização.

O termo é um signo arbitrário

O termo é um signo sensível

O termo exprime noções

O termo é assim o signo do conceito (termo mental) como o conceito é o signo da coisa. No pensamento de São Tomás, o termo é o que significa imediatamente o conceito, pois ele é o conceito expresso oralmente ou por escrito: "As palavras significam diretamente os pensamentos, e as coisas por sua intermediação". Para os escolásticos, com efeito, os conceitos são sob certo ponto de vista as coisas elas mesmas posto que delas exprimem a essência. Retomando a distinção feita acima podemos dizer que o termo oral é um signo instrumental e que o conceito é um signo formal. E, no discurso hipertextual, se

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evidencia a importância do termo identificado como nó da rede discursiva que se estabelece pela textualização que se faz hipertextualização.

Partição do termo segundo a extensão e a compreensão

Compreensão o A compreensão de um termo é o conjunto de notas que constituem a

significação deste termo. o A compreensão ou conotação ou "intenção" de um termo é o conjunto de

notas que determinam o conceito; a compreensão representa portanto o sentido ou o conteúdo do termo.

o A compreensão é intrínseca ao termo, constituindo a natureza mesma do termo; não pode ser aumentada, nem diminuída sem que o termos e torne outro.

o As notas que assim constituem a base de compreensão do termo, se estabelecem pela articulação de texto e contexto, através de termos devidamente identificados (identificação pelo conhecimento, vide acima).

Extensão o A extensão de um termo é o conjunto de sujeitos ou temas aos quais este

termo convém. o A extensão reúne todos os seres cujas as mesma "notas" podem ser

afirmadas. o A extensão é extrínseca ao conceito, não pertencendo à natureza do

termo, podendo assim ser aumentada ou diminuída sem que o termo seja modificado. A extensão é apenas uma atitude a convir ou seguir em uma multitude indeterminada; ela pode ser igualmente reduzida a um único objeto se é o único de sua espécie.

A compreensão e a extensão estão em razão inversa uma da outra.

Partição do termo segundo a relação de sua extensão

Termo singular, como termo que convém a um único indivíduo, sendo assim aquilo cuja a essência é incomunicável ou ainda aquilo que é indistinto em si mas distinto dos outros.

o As notas individuantes caracterizam o indivíduo, e são em número de sete: forma (forma), figura (figura), lugar (locus), tempo (tempus), raça (stirps), país (patria) e nome (nomen) ("Forma, figura, lugar, tempo, raça, país, nome, sete coisas que em comum jamais dois homens têm")

Termo comum é aquele que convém a muitos indivíduos de maneira distributiva.

o Pode se singularizar de dois modos Pelas demonstração (ex demonstratione): bastando lhe apor um

demonstrativo do tipo "este", "isto", "aquele", etc; Pela hipótese (ex hypothesi): uma determinação que reduza a

extensão a um único indivíduo; segundo o texto algo que singularize o termo a ser usado como "nó" de um contexto.

Page 28: METODOLOGIA FILOSÓFICA

o O termo comum pode ser tornar particular se sua extensão se restringe a um indivíduo indeterminado ou a vários.

o O termo comum é coletivo se se aplica aos indivíduos de uma maneira coletiva e não distributiva.

o O termo comum é universal se convém, ou pode convir, a vários singulares segundo o mesmo sentido e de uma maneira distributiva.

o Os termos superiores e os termos inferiores, se dividem segundo gênero e espécie.

O termo universal o Algo que é apto a se encontrar em vários. o Sua propriedade essencial é a predicabilidade, capacidade de ser

predicado ou atributo. o Universal segundo o ser e universal segundo a predicação, no modo de

falar. O universal material, direto ou metafísico é a qüididade de um ser

ou de uma coisa considerada como abstrata das condições individuantes, mas não como efetivamente comum a vários sujeitos. Trata das "idéias-atributos".

A abstração total é aquela que considera a essência no sujeito e com o sujeito, mas sem as condições individuantes.

O universal formal ou reflexo ou de segunda intenção ou lógica. É a qüididade abstrata comum a vários seres ou várias

coisas, e considerada enquanto convém, ou pode convir, a vários sujeitos. Trata das "idéias-grupos".

A abstração parcial ou forma é a que considera seja uma parte da essência, por exemplo a a racionalidade no homem, seja toda a essência mas sem o sujeito, por exemplo a humanidade.

Resumindo, podemos dizer que o termo que servirá de nó da rede que apreende em modo conceitual o texto com seu contexto, pode ser:

universal = metafísico individual

o geral (ou universal lógico) o particular

coletivo singular

Segundo outra visualização, resumindo segundo a relação de extensão do termo, temos:

um só indivíduo (termo singular) vários indivíduos (termo comum)

o de modo restrito, indeterminado (termo particular) o sem restrição

se aplicando a todos tomados coletivamente (termo coletivo) se aplicando a cada um individualmente (termo geral ou universal

lógico)

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Partição do termo segundo a relação de sua compreensão

Simples (ou incomplexo) ou complexo (ou composto): simples, sem partes que teriam sentido tomadas separadamente; composto, tem o termo principal e o(s) termo(s) secundário(s) ou incidente(s) (dito explicativo ou restritivo).

Absoluto ou conotativo: absoluto, se pode ser utilizado separadamente; conotativo, se demanda nele mesmo a ligação a um outro termo.

Concreto ou abstrato: concreto, marca uma composição, aquela de um sujeito e de uma certa forma ou qualidade; abstrato, indica somente uma forma ou qualidade.

Positivo ou negativo: positivo, indica uma certa forma ou essência; negativo, indica ausência desta essência.

Finito ou indefinido: finito, significa uma coisa em exclusão de outras; indefinido, exclui uma coisa e compreende todo o resto.

Denominativo ou denominante: denominativo, se deriva de um nome, que é o denominante.

Primeira ou segunda intenção: primeira intenção se resulta da consideração da coisa ele mesma; segunda intenção, se resulta da reflexão do espírito.

Categoremático ou sincategoremático: o primeiro se tem um sentido completo que lhe permite desempenhar sozinho o papel de sujeito ou de predicado no juízo; o segundo, se deve estar associado a um outro termo para desempenhar o papel de sujeito ou predicado.

Partição do termo segundo a perfeição ou modalidade

A perfeição ou modalidade do termo segundo dois pontos e vistas:

A idéia clara e distinta o Descartes e Leibniz tornaram célebre esta partição do termo e fortemente

a recomendaram, pois uma idéia clara pode por vezes ser confusa. o A idéia é completa se ela permite discernir todas as notas do objeto; a

idéia é compreensiva quando conhece-se por ela o objeto nele mesmo e todas as sua relações reais e possíveis com os outros objetos. O homem é incapaz de ter idéias compreensivas; deve se contentar com idéias apreensivas (pelo mecanismo da simples apreensão).

Resumindo, temos:

idéia clara, quando permite discernir o objeto entre todos os outros. o idéia confusa, se o faz reconhecer somente de modo bruto, não lapidado,

não trabalhado o idéia distinta, se analisa os elementos inteligíveis, podendo ser:

incompleta (ou inadequada) completa (ou adequada)

não compreensiva ou apreensiva compreensiva (própria a Deus)

idéia obscura, quando ela não permite discernir o objeto em questão

Page 30: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Univocidade, equivocidade, analogia

Termo unívoco o É aquele que convém a vários segundo uma relação absolutamente

idêntica. o O termo unívoco é o verdadeiro universal; é o conceito participado

igualmente por seus inferiores. Termo equivoco

o O termo oral é equivoco se convém a vários segundo uma relação absolutamente diferente.

Termo análogo o É aquele que convém a vários segundo uma relação em parte idêntica e

em parte diferente; por vezes denominado "equivocidade voluntária", a analogia é a fonte do simbolismo na literatura, na arte e na ciência sagrada. Cabe distinguir:

Analogia de atribuição Aristóteles denomina "analogia de proporção". Nesta

analogia, a unidade se dá pelo fato que se relaciona diversos análogos a um só denominado "análogo principal".

O termo analógico de atribuição é aquele que convém a vários segundo o comando de um só.

Analogia de proporcionalidade Não há desta feita o análogo principal, mas mútuas

proporções ou relações que criam a unidade entre os análogos. Dizemos assim "o olho vê" e "a inteligência vê" porque a intelecção é para a inteligência o que a visão do sensível é para o olho: Visão/Olho=Intelecção/Inteligência.

O termo analógico de proporcionalidade é aquele que convém a vários por causa de uma certa similitude de proporção (ou de relação).

Analogia própria É aquela na qual a "razão" significada pelo termo e

encontra formalmente em cada um dos análogos: a visão pelo olho e pela inteligência.

Analogia metafórica (ou imprópria) Aquela na qual a "razão" não convém propriamente a não

ser ao análogo, e convém aos outros por uma construção intelectual.

Freqüentemente utilizada em literatura e em teologia, podendo ser questionada se dispões de realidade própria ou metafísica; seu sentido deve ser buscado na conversão do metafórico em próprio.

Partição segundo as relações dos termos entre eles

Segundo as relações (habitus) que os termos têm entre eles, eles podem ser classificados:

Page 31: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Idênticos: os dois termos têm a mesma compreensão Diversos

o Impertinentes (insociáveis) o Pertinentes (sociáveis)

Compatíveis Iguais ou "conversíveis" ou recíprocos Desiguais ou "inconversíveis" ou não recíprocos

Incompatíveis Díspares (ou opostos impróprios) Opostos

Contraditoriamente Privativamente Contrariamente Relativamente

Roteiro Prático

As diferentes técnicas de definição de termos

1. Etimologia: latim definire - limitar, fixar limites.2. Função

o Fixar os limites que permitem utilizar um termoo Não indica:

Nem as relações com as noções conexas; Nem a démarche de pensamento que a permite.

3. Os diferentes tipos de definiçãoo Definição nominal

Descreve o sentido da palavra Permite reconhecer as coisas que referem-se a cada um destes

sentidos. A descrição deve enunciar uma propriedade característica do

objeto designado, quer dizer: necessário e suficiente.o Definição real ou da coisa

Formula a essência da coisa O definidor deve enunciar uma propriedade representativa

daquilo que é tido por essencial no objeto definido.4. Limites da definição

o Todo termo não é definível Existem indefiníveis

Indivíduos (seja pela extrema particularidade) Coisas sensíveis Sentimentos (os dois últimos por não serem concebidos

pela razão) Nestes casos, compreender a palavra consiste em:

Saber utilizá-la Saber dizer de outro modo sem usá-la

Uma definição real, formulando a essência de uma coisa, é possível por si mesma?

A definição real não é suficientemente explicativa

Page 32: METODOLOGIA FILOSÓFICA

É apenas o resultado sem o processo que permite estabelecê-lo

Impõe o problema da classificação (taxionomia ou ciência da classificação)

Toda classificação parte de critérios Seja a linguagem que decide Seja a experiência que permite classificar

Qualquer abordagem descritiva não é suficiente...

Técnicas de análise de termos

Só ela permite verdadeiramente compreender um termo porque explicita sua formação, seu funcionamento e distingue assim o conceito da noção.

1. O que é a análise dos termos do discurso?o Etimologia: grego analysis de analuein = desprender, resolver um todo

em suas parteso Sentido: desmembrar; separar os elementos.

Trata-se de: distinguir os caracteres; encontrar:

os empregos, as nuances internas as relações externas

hierarquizar, ascendendo das consequências aos princípios;

redescobrir as condições de possibilidade fundamentos modo de funcionamento

Solucionar Passar a limpo, desdobrar Dar a fórmula do termo, quanto a:

unidade consistência valor

o A análise só pode produzir esta fórmula para um conceito, equanto a noção se apresenta deficiente.

2. Funçãoo Recuperar a démarche do pensamento

que permite a definição que determina as relações com as outras noções

o Explicitar o conhecimento em lugar de pressupô-lo como o faz a definição

Isto permite passar do sentido imediato a uma retomada de tudo o que não é dito nem precisado nele e que, no entanto, nele está contido de maneira implícita (os não-ditos).

o Permite saber Se trata-se de um conceito pela possibilidade de dar um único

desígnio articulado

Page 33: METODOLOGIA FILOSÓFICA

necessário operatório

Ou se trata-se de uma noção quando resta vários desígnios possíveis.

o Determinar os caracteres específicos por um jogo de identidades e de diferenças

3. Procedimentos de análiseo Há vários tipos de análise, e, para melhor compreender o procedimento

de cada uma, toma-se como exemplo o termo "normal".o A noção correspondente a este termo "normal" é a noção de

"normalidade".o Que análises diferentes podem-se fazer desta noção de normalidade?

Análise etimológica Deve-se sempre começar pela etimologia de uma palavra

pois é muitas vezes esclarecedora. Há, no entanto, etimologias possíveis e contestadas, o que

também oferece alguma luz. Consultar dicionários etimológicos, de preferência mais

de um. Normalidade do latim norma = o esquadro Sentidos derivados: a regra, o modelo, o tipo, a lei.

Análise semântica É um trabalho de comparação e de diferenciação. A

função desta análise é chegar a precisar os sentido próprio da noção. Parte-se de uma nebulosa para se chegar ao específico.

Diferentes meios: Buscar as palavras da mesma família, e os

contextos nos quais são empregadas. No caso de "normal": norma, normativo,

normalizado, normalização; examinar em diferentes domínios de aplicação (psicologia, sociologia, técnica, etc.)

Buscar sinônimos No caso de "normal": regra, lei, princípio,

modelo, ideal, ótimo, etc. Buscar antônimos

No caso de "normal": anormalidade, desregramento, caos, patologia, excesso, etc.

Na passagem pelos antônimos, vemos o que se torna positivo e o que se torna negativo.

Aparecem então os juízos de valor subjacentes

anormalidade é negativo genialidade embora se afastando na

média, do normal, tem conotação positiva.

Análise semiológica

Page 34: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Trata-se da pesquisa dos principais sentidos da noção ela mesma.

normalidade = média; é normal um ser ou uma coisa que apresenta os traços da maioria...

normalidade = modelo; sentido normativo; é normal um ser ou uma coisa conforme a uma essência ideal pela qual se define uma espécie.

Análise das condições de possibilidade Busca de pressupostos e implicações Trabalho filosófico mais importante, pois a análise tem

como função desvendar sob as evidências os não-ditos, as representações mentais não refletidas, os juízos de valor de ordem psicológica ou cultural, em resumo trazer à luz a ideologia subterrânea que que é por isto mesmo ignorante dela mesma.

Análise funcional Para que serve esta função Busca:

da fiabilidade da noção de sua função explicativa

TRABALHANDO SOBRE O APREENDIDO

Ao longo do estudo filosófico, várias possibilidades de aquisição de informações e meios de reflexão em relação a seu programa de estudo, vão sendo reunidas como "recursos" a serem devidamente organizados para utilização quando do exercício do pensar e de sua exposição argumentativa.

Saber argumentar

Toda a preocupação anterior com a leitura, a definição e análise dos termos chaves, visa reunir os elementos essenciais para construção de uma boa argumentação crítica, fruto como toda boa filosofia de um diálogo permanente com o pensamento daqueles que legaram suas reflexões para a eternidade.

Na construção de uma boa argumentação crítica não se trata apenas de inspiração, nem de uma espontaneidade fortuita, mas de um exercício altamente técnico com base em uma atitude intelectual propriamente filosófica, adquirida por uma prática constante no diálogo com nossas leituras.

Esta atitude se assenta na capacidade de problematizar corretamente, prelúdio requerido a toda argumentação para que esta seja pertinente. Com efeito, nenhuma argumentação tem interesse por si só, independentemente de sua função em relação à problemática imposta.

Uma argumentação se constitui em uma dissertação que, por sua vez, se dá como uma

Page 35: METODOLOGIA FILOSÓFICA

démarche concertada com vistas a descobrir os liames entre as condições precisas de um problema e as diferentes posições possíveis vis-a-vis.

Trata-se sempre de um campo delimitado de investigação e o interesse dos argumentos depende de sua justeza em relação à precisão deste campo. Logo não se poderá argumentar de maneira judiciosa a não ser em função da capacidade que se tenha de problematizar.

Saber problematiza é a pedra de toque, o fundamento das outras técnicas intervenientes, as quais restam sem qualquer funcionalidade fora desta primeira atitude.

Assim é preciso dominar dois tipos de exercícios filosóficos de cuja qualidade, em particular do primeiro, determina o segundo o resultado global: a problemática é o fundamento necessário de toda a argumentação.

O trabalho de problematização

A atitude intelectual propriamente filosófica corresponde a uma capacidade de problematizar corretamente, requisito prévio a toda e qualquer argumentação pertinente.

1. O que é uma problemática?o Definição: conjunto de pressupostos por referência aos quais se

formulam e se resolvem os problemas dispostos.o Finalidade: passagem da doxa (opinião comumente recebida) à euporie

(resposta feliz porque a mais provável, a mais digna de confiança — axioma).

o Características Démarche concertada que forma um conjunto sistemático de

argumentos alcançando: não apenas a uma resposta que fecha o problema mas a uma elucidação dos desafios do problema

permitindo de encampá-lo com precisão. O que é uma problemática corresponde, em consequência

exatamente ao trabalho próprio do filósofo que é de ser: um desconstrutor de evidências um contestador

2. Como problematizar?o O que é problematizar?

Trata-se de encontrar o programa de investigação que permite passar:

de uma evidência ou de uma opinião acabada, a um problema filosófico claramente caracterizado, quer

dizer rigorosamente estabelecido Atitude prévia

se interditar responder a qualquer preço posição de suspensão em relação às evidências imediatas

Investigação dos pressupostos

Page 36: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Sempre remontar da questão que coloca aparentemente de maneira direta, às condições nas quais foi possível formulá-las

Dois tipos de interrogação Porque se pode pôr este problema? (condições de

possibilidade) Porque responde-se a ele habitualmente de tal

maneira, ou seja, quais são os pressupostos: que sustentam evidências? que escondem desafios?

Trata-se de um trabalho "genealógico", com vistas a desmantelar as resistências de ordem psicológica que se devem iluminar para poder abordar o trabalho lógico que exige o tratamento dos desafios filosóficos do problema.

Método de construção de uma problemática Trata-se de organizar a dúvida para transformá-la em

programa de investigação. Em que consiste este programa do qual dependerá toda a

argumentação? Convém referenciar as diferentes questões que

impõe o problema, para delas fazer um conjunto concertado, que visa as diferentes perspectivas concernentes, articulando-as entre elas de maneira lógica, quer dizer:

Partir da tese não refletida (doxa) para dela mostrar:

as dificuldades os limites

Buscar uma posição possível (enquanto que justificável por argumentos) face a este trabalho de desestabilização da doxa, para mostrar por sua vez:

as dificuldades os limites

Isso permite então visualizar uma outra posição provavelmente maus justificável (quer dizer, tendo argumentos mais sólidos e refletidos) em relação aos pressupostos habituais face ao problema posto.

Não implica necessariamente que esta posição seja contraditória em relação à precedente

Implica, entretanto, que ela permita progredir na descoberta das condições de possibilidade da formulação habitual do problema.

A problemática vai assim progressivamente desarticular:

não somente as evidências

Page 37: METODOLOGIA FILOSÓFICA

mas as condições de possibilidade para que um problema filosófica se dis-ponha

Isso quer dizer que um problema filosófico não se põe jamais por si mesmo mas que tem um meio que lhe permite desabrochar

Não há problema filosófico aparecendo por si mesmo: só existem problemas filosóficos em certas condições intelectuais que conduzem a formulá-los

A problemática é, desde então, este trabalho genealógico que permite reencontrar como se constrói um problema filosófico.

Parece assim que a filosofia não tem por objeto:

uma realidade dada que seria suficiente explicar

mas de fato a investigação das diferentes construções possíveis de uma "realidade" que não seria inteligível sem este trabalho, mas que faz problema:

porque há construção porque diferentes

construções são possíveis Se a problemática tem como função fazer aparecer

as condições de possibilidade de um problema filosófico, isto exclui qualquer tentativa de resposta ao problema

Tal não é o objeto da dissertação filosófica porque tal não é aquele da filosofia

Buscar respostas seria incongruente, manifestaria mesmo que o terreno próprio à filosofia não foi apreendido em suas características.

Ao inverso, a problemática vai permitir, no curso da dissertação, organizar um trabalho de suspensão que alcançará então, na conclusão, à reformulação do problema com uma maior consistência, quer dizer:

em suas dimensões em suas implicações em suas relações a consecução de uma dissertação sendo de

exibir a originalidade e a irredutibilidade de um problema filosófico além dos pressupostos que o recobrem e que dão a ilusão de crê-lo reabsorvido.

3. O que é uma problemática permite então compreender a confusão frequente que se faz entre:

o a atitude problemática ela mesma

Page 38: METODOLOGIA FILOSÓFICA

o e a "problemática" de um filósofo que é o sistema de axiomas que põe em obra na "sua" démarche filosófica original.

O trabalho de argumentação

Antes de mais nada é preciso entender o que seja uma argumentação, sabendo distinguir claramente o trabalho de argumentação daquele anteriormente tratado de problematização.

O que é uma argumentação?Convém distinguir muito bem:

o trabalho de argumentação daquele de problematização, porque a escolha de elementos da argumentação e

sua organização ela mesma dependem exclusivamente, em sua pertinência, da problemática que pode justificá-las.

Isso quer dizer que não se pode escolher impunemente argumentos sob o pretexto que guardam traços do problema posto.A argumentação deve ser extremamente rigorosa posto que ela é delimitada pela problemática.

Características da argumentaçãoo Consiste em uma démarche

inteiramente "tramada", o que não quer dizer que não seja feita de momentos, até antagonistas; donde a importância das transições.

feita de uma sequência de argumentos coordenados da maneira racional, o que implica em justificar sua utilização e sua posição no conjunto

progressiva, quer dizer que conduza a se exibir o problema nas sua estatura filosófica (na sua dimensão e nas suas implicações).

o Esta démarche progressiva alcançará, assim, na conclusão que permitirá caracterizá-la propriamente. Enquanto que na introdução, pareciam ainda nebulosa as colocações, na conclusão se tem a clareza almejada da argumentação.

Finalidadeo A função da argumentação é de produzir este diferencial de clareza, e

não, como tanto crêem, fazer fundir o problema sob o fogo dos argumentos. Estes , com efeito, vão lhe dar sua consistência propriamente filosófica.

Como construir uma argumentação?

1. A forma de uma argumentaçãoo Uma argumentação deve ser sempre:

interrogativa, o que não significam um conjunto de frases com ponto de interrogação.

heurística, no sentido que busca esclarecer melhor o problema

Page 39: METODOLOGIA FILOSÓFICA

crítica, o que não quer dizer polêmica; não se trata de defender posições mas de analisar a solidez e os limites mesmo das posições em questão.

o Em consequência, ela não pode jamais ser: nem descritiva; analisar uma posição implica em apresentá-la, o

que não implica exclusivamente em descrevê-la; uma argumentação não é uma informação.

nem, menos ainda, enumerativa; enumerar diferentes posições testemunha sem dúvida, de uma certa cultura, o que pode não ter nenhum interesse em uma argumentação filosófica na medida que esta cultura não esteve suficientemente integrada e refletida para se tornar um instrumento de aprofundamento pessoal do objeto de reflexão.

o A enumeração mostra, por conseguinte, que: as distinções não foram feitas a escolha não foi possível em função do reconhecimento da maior

pertinência presente de um dos argumentoso Com efeito, a enumeração presta um desserviço à argumentação

perdendo a qualidade de precisão do raciocínio.2. A démarche de uma argumentação

o Em que consiste? Cercar progressivamente o problema central contido no líbelo

mas que não aparece diretamente posto que só foi apresentado de maneira trivial, alusiva, imprecisa.

Será necessário redefinir os termos do problema regularmente, em função do graus de precisão que ele toma.

O exercício filosófico assim se caracteriza como uma tentativa de redefinição permanente dos conceitos.

Assim uma argumentação que chega a definições mais e mais rigorosas dos conceitos em jogo é a marca de um trabalho excelente.

Uma grande parte da dificuldade consiste então: em saber organizar e pôr em obra de maneira funcional os

diferentes argumentos que autorizarão as definições as mais rigorosa permitindo caracterizar o problema em sua natureza.

sem, no entanto, ser repetitivo, sem digressões.o Os diferentes tipos de démarche implicados pela problemática:

De pronto, a formulação do líbelo impõe uma problemática da qual decorrerá a organização da argumentação; convém se exercitar em identificar rapidamente a problemática requerida a partir de um líbelo, assim como construir os esboços das argumentações que dele decorrem.

Os líbelos em termos de "é necessário"? Convém em função do domínio do problema concernido,

identificar se se trata de: de uma problemática relativa à necessidade (é

necessário?): seja necessidade objetiva, seja necessidade subjetiva.

Page 40: METODOLOGIA FILOSÓFICA

de uma problemática relativa à razão (tem-se razão de?): seja racionalidade pura seja razoabilidade.

de uma problemática relativa à moral (tem-se o dever de?): para com outro, para consigo mesmo.

Os líbelos em termos de "o que é que é"? O que equivale filosoficamente a: isso é pensável? Quer dizer:

Há um conceito único e rigoroso de ...? Pode-se passar da noção ao conceito porque há

uma essência comportando atributos próprios ao termo em problema?

Os líbelos em termos de "o que é que é?" implicam sempre uma problemática da essência e sua argumentação consequente.

Os líbelos em termos de "existe isso?" Requerem uma problemática da relação:

entre uma essência, hipotética ou definível e uma existência correspondente

Ao nível da argumentação, convém interrogar mas particularmente a experiência com vistas a interpretar o real.

o A argumentação requerida em função do tipo de líbelo Se exercitar em montar um plano de démarche coerente segundo

os grandes tipos de líbelos possíveis. Pode-se agrupar os líbelos em quatro tipos principais cujos

procedimentos de argumentação variam consideravelmente porque não fazem apelo às mesmas problemáticas

De pronto, é preciso deiferencia a organização da argumentação segundo se trate de uma noção ou da comparação de duas noções, o problema em questão não sendo da mesma ordem

Líbelo sob a forma de uma noção Suponha-se que se trate da noção ou do líbelo "o

que é que é...?" A argumentação deve ser organizada da mesma

maneira, o porblema que põe quando se trata de uma única noção sendo sempre aquele de sua conceitualização, quer dizer, esta noção é filosoficamente sólida?

Esta investigação implica em três direções para os questionamentos, três vias dsiputativas das quais é preciso encontrar os argumentos:

Há uma definição possível do termo segundo sua essência e não apenas segundo os caracteres comuns a uma classe de objetos?

Pode-se passar: do caráter descritivo do

termo (aquel que permite unificar diferentes objetos);

a seu caráter explicativo:

Page 41: METODOLOGIA FILOSÓFICA

único específico racional

ou seja, que designa a natureza da idéia.

Como funciona esta noção? que papel desempenha? porque é posta? qual a utilidade dela, e em quais

contextos é utilizada? Que fiabilidade filosófica esta noção tem?

Quais são os limites dela, pelo fato dos pressupostos que a sustentam?

Que confiança teórica pode-se lhe dar?

Quer dizer, quais são as vozes que falam por trás dela, de que posições dogmáticas provém?

Líbelo sob a forma de duas noções Trata-se de organizar uma argumentação que

esclareça os liames recíprocos entre as noções em questão.

Portanto não convém digredir muito sobre cada noção de per si de modo a guardar sempre a necessária articulação entre elas

O que seria supor que se possa defini-las anteriormente a sua comparação e a sua articulação

O que seria postular que elas têm uma autonomia, o que justamente causa problema neste gênero de líbelo

A argumentação deverá se montar ao redor do questionamento: quais são as razões que conduzem a pôr em relação estas duas noções?

Este questionamento que comporta duas dimensões:

Em que a oposição, a aproximação, a confrontação das duas noções é indispensável? — quer dizer, em que esta relação é constitutiva?

Em qual contexto se é levado a visar esta relação? — quer dizer, qual é o tipo da problemática subjacente?

Deve-se logo visar, previamente a pôr em obra a argumentação, o tipo de relações possíveis em função das noções a tratar.

Estas relações podem ser: Uma relação constitutiva — quer dizer,

que não se pode pensar uma noção sem a outra.

Page 42: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Uma independência prévia Uma relação lógica: de inclusão; de

interação; de exclusão. Uma relação comparativa por: paralelismo,

isomorfismo, analogia. Uma determinação recíproca, cada uma

sendo causa e efeito da outra Líbelo sob a forma de uma questão

A dificuldade da argumentação consiste em considerar ao longo de seu caminho, esta questão como um todo.

A argumentação consistirá então em esclarecer o problema na sua totalidade, mas sob diferentes ângulos de análise que serão principalmente:

a caracterização do problema com vistas a definir seu alcance filosófico

a explicação daquilo que pressupõe este problema — quer dizer, o que clama, justifica a questão tal qual é posta?

a investigação das outras questões que ela implica e que o problema omite pôr diretamente

Trata-se de buscar os liames subjacentes, não explícitos e que, no entanto, permitem fazer uma análise crítica da coerência das respostas possíveis.

Este trabalho de argumentação terá de mostrar que todo argumento tem sempre obrigatoriamente:

registros domínios referências

Estudo de uma citação Uma citação é sempre uma tese. A argumentação deve responder, desde logo, às

três exigências deste tipo de assunto: Identificar e formular o problema ao qual a

citação remete Estudar, explicar e caracterizar o conteúdo

da proposição, a fim de fazer aparecer os pressupostos.

Avaliar a tese por confrontação. Assim convém organizar a argumentação em três

momentos que tratarão reciprocamente das três dimensões do problema:

O que implica como pressupostos esta afirmação?

Quais são os pressupostos da posição contrária?

Há uma superação possível e sólida desta posição?

Page 43: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Em resumo, trata-se da argumentação clássica de tipo dialético. O líbelo a exige posto que expõe uma tese.

Tipos de argumentos

Para construção de uma justa argumentação é preciso conhecer os tipos de argumentos que devem se adequar a cada situação discursiva.

1. Argumentos lógicoso A demonstração positivao A demonstração negativa — quer dizer que faz aparecer uma

contradição.2. Argumentos sob forma de recursos à argumentação própria a um filósofo

o Funçãoo Como proceder?

3. A análise dos conceitos4. Argumentos experimentais

Saber redigir

A arte de bem escrever é essencial ao sucesso discursivo. A correção, a elegância da expressão, a adequação do pensamento e da palavra justa são qualidades necessárias e vitais.

1. A correção da expressãoo A correção da ortografia

Sua necessidade Vossos objetivos serão de cometer o mínimo de erros...

Erros devido à grafia de certas palavras... Erros de concordância...

Estratégias Balanço Adoção de estratégias

o A correção da sintaxe

Sua necessidade Vossos objetivos serão de aperfeiçoamento progressivo... Vossas estratégias dependerão de vosso nível...

Um estilo leve e variado

o Enriquecimento do léxicoo Leveza da sintaxe

O retorno da retóricao Arte integral da palavrao Apenas a elocução interessa...

As figuras de dicção... As figuras de palavras...

o Inventário preliminar e não exaustivo

Page 44: METODOLOGIA FILOSÓFICA

Saber utilizar as notas e fichamentos

Meios práticos para arquivamento e recuperação de notas e fichamentos.

1. Tomada de notas em palestras, cursos, seminários2. Providências imediatas após o evento3. Providências ao longo do tempo

Fichamento

1. Organização do fichamentoo Relações da noção principal com outras noçõeso Fichamento segundo os autoreso Fichamentos de exemplos analisados em detalhe

2. Como trabalhar sobre estas fichaso Fichamento de relações de noçõeso Fichamento de autoreso Fichamento de exemplos

3. Repertório4. Recursos informatizados

DISSERTAÇÃO, EXPLICAÇÃO E COMENTÁRIOS DE TEXTOS

É preciso entender o que é efetivamente uma dissertação, como estruturá-la e redigi-la. Não basta se dominar o tópico a dissertar ou se ter lido o texto ou textos sobre os quais se desenvolverá a dissertação, para se ter a garantia de que a exposição dos mesmos será bem sucedida.

Do mesmo modo é necessário entender a natureza distinta de uma explicação e de um comentário. Tratam-se de duas abordagens diferentes, com exigências próprias e resultados específicos.

O que é uma dissertação?

Uma dissertação é um exercício intelectual com ares de artificialidade, posto que se assenta sobre regras, que podem parecer arbitrárias, mas que de fato auxiliam um autêntico pensar. As idéias claras e pessoais não brotam por encantamento, mas resultam de uma démarche paciente usada com maestria.

Trata-se de um método: um caminho laborioso ao final do qual encontra-se um sentido de realidade e de realização. Como todo método indicam-se etapas que guiam um trajeto que só pode ser dominado, seguindo-o passo a passo. Não se deve surpreender pela preparação necessária que antecede o dissertar propriamente.

1. A preparação ao exercícioo As características gerais do temao Atenção ao enunciadoo O enunciadoo Os problemas de vocabulário

Page 45: METODOLOGIA FILOSÓFICA

o Para compreender seu próprio saber2. Como abordar o tema?

o Buscar relaçõeso Preferir verbos de açãoo Os nomes também podem estabelecer relaçõeso Investir ao máximo no tema

3. Em que consiste o método ele mesmo?o Notas relevanteso O desenvolvimento da teseo Os limites da teseo A antítese e sua formalizaçãoo Colocação da problemáticao A sínteseo O que é uma resposta?o Algumas anotações antes da redação

4. A dissertação ela mesmao A Introdução

E se não se encontra qualquer idéia para começar? Algumas dificuldades próprias à introdução

o O Desenvolvimento Uso de referências Os Exemplos Alguns casos particulares de exemplos

o A Redação do desenvolvimentoo A Conclusão

A explicação de texto

Uma explicação de texto de caráter filosófico não supõe um espírito fundamentalmente diferente daquele que preside à dissertação. Nos dois casos, com efeito, levantar uma problemática, de estabelecê-la, de desenvolver as características, e de resolvê-la. Mas enquanto na dissertação se é dono do desenvolvimento, em uma explicação de texto é o autor do mesmo que impõe o quadro da reflexão. Deve-se portanto desdobrar-se a atenção sobre os imperativos do texto ele mesmo.

1. A abordagem do texto2. As dificuldades técnicas da explicação de texto3. Construir seu dever4. A tese de referência e seus limites5. O interesse do texto

Os diferentes tipos de temas

As técnicas e procedimentos apresentados nos roteiros anteriores não eximem o autor de sua reflexão própria sobre a temática, explorando os recursos próprios de cada tema.

1. Temas do tipo "nada mais que..." (tal coisa é nada mais que ....)2. Temas evidentes (cujo enunciado é indiscutível)3. Temas do tipo "que se pensa a respeito de...?"4. Temas do tipo "o que é...?"

Page 46: METODOLOGIA FILOSÓFICA

5. Temas do tipo "Porque...?"6. Palavras negativas (p.ex.: o irracional tem sentido?)7. Temas compostos de duas palavras (p. ex.: verdade e liberdade)8. Temas com base em uma citação

RESUMO E SÍNTESE DE TEXTOS

Trata-se de um desafio maior com que se depara todo aquele que tendo lido extensivamente uma obra, se vê solicitado a declarar qual sua mensagem fundamental, ou quais são seus tópicos principais, ou até mesmo escrever uma breve notícia sobre a mesma.

Métodos de resumo e de síntese de textos

1. Resumo do textoo Preâmbuloo O espírito e a letra

O espírito do resumo de texto A letra

o O discurso do métodoo Exemploo Progredindo...

2. A síntese de textoso Preâmbuloo O espírito e a letra

Documentos de base O que não é e não deve ser uma síntese de textos O que é e o que deve imperativamente ser uma síntese de textos

o A metodologia A leitura de descoberta As leituras de aprofundamento A elaboração do plano da síntese

o A redação