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METODOLOGIA PARA OPERAÇÕES DE OVERBOARDING Rafael Machado Guigon de Araujo Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Oceânica. Orientador: Murilo Augusto Vaz Rio de Janeiro Março de 2012

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METODOLOGIA PARA OPERAÇÕES DE OVERBOARDING

Rafael Machado Guigon de Araujo

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Engenharia

Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Engenharia Oceânica.

Orientador: Murilo Augusto Vaz

Rio de Janeiro

Março de 2012

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METODOLOGIA PARA OPERAÇÕES DE OVERBOARDING

Rafael Machado Guigon de Araujo

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE)

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

CIÊNCIAS EM ENGENHARIA OCEÂNICA.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Murilo Augusto Vaz, Ph.D.

________________________________________________ Prof. Antonio Carlos Fernandes, Ph.D.

________________________________________________ Prof. Breno Pinheiro Jacob, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO DE 2012

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Araujo, Rafael Machado Guigon de

Metodologia para operações de overboarding / Rafael

Machado Guigon de Araujo. – Rio de Janeiro:

UFRJ/COPPE, 2012.

VIII, 70 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Murilo Augusto Vaz

Dissertação – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia Oceânica, 2012.

Referências Bibliográficas: p. 68-69.

1. Dinâmica. 2. Pêndulo simples. 3. Modos de

vibração. I. Vaz, Murilo Augusto. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia

Oceânica. III. Título.

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It is of great use to the sailor to know the

length of his line, though he cannot with it

fathom all the depths of the ocean.

(John Locke)

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

METODOLOGIA PARA OPERAÇÕES DE OVERBOARDING

Rafael Machado Guigon de Araujo

Março/2012

Orientador: Murilo Augusto Vaz

Programa: Engenharia Oceânica

Este trabalho propõe uma metodologia para a execução de operações de

overboarding e para o dimensionamento dos equipamentos envolvidos nesta

operação. A metodologia para execução tem o objetivo de evitar que haja movimento

pendular do objeto içado. Para isto, é definido um ângulo mínimo que deve ser

mantido entre o cabo do guindaste e o eixo vertical da embarcação, com o auxílio de

um guincho de contenção. Para o caso de falha na execução desta metodologia e

ocorrência do movimento pendular, o trabalho prevê com que velocidade o cabo do

guincho auxiliar será retesado, e dimensiona um sistema capaz de absorver a energia

cinética sem que haja sobrecarga do guincho de contenção. A conclusão é que ao

aplicar a metodologia proposta, é possível fazer a operação de forma mais segura e

previsível em relação ao que é praticado atualmente.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

METHODOLOGY FOR OVERBOARDING OPERATIONS

Rafael Machado Guigon de Araujo

March/2012

Advisor: Murilo Augusto Vaz

Department: Ocean Engineering

This work proposes a methodology to be applied on the execution of

overboarding operations and on the sizing of the equipments involved in the operation.

The methodology proposed for the operation execution aims to avoid the lifted object to

have pendular motion. For that purpose, it is defined a minimum relative angle to be

kept between the crane wire and the vessel vertical axis, with the aid of a tugger winch.

In case of bad execution of the proposed methodology and eventual occurrence of

pendular motion, this work estimates the relative velocity between the lifted object and

the vessel at the moment the tugger wire will be restretched, after being slacked due to

the pendular motion of the load. The work also proposes a method to design a system

capable of absorbing the kinetic energy due to this impact, without overloading the

tugger winch. The conclusion is that by applying the methodology proposed herein, it is

possible to increase the safety level of overboarding operations.

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Sumário

1. Introdução .................................................................................. 1

1.1 Instalação de Estruturas Submarinas .................................................................................. 1

1.2 Etapas do Método Convencional ........................................................................................ 3

1.3 Descrição dos Equipamentos Envolvidos ...................................................................... 5

1.4 Revisão Bibliográfica ..................................................................................................... 7

2. Apresentação do Problema ........................................................ 9

2.1 Condição de Instalação ....................................................................................................... 9

2.2 Movimento Pendular ........................................................................................................ 10

2.3 Movimento Pendular Transversal ..................................................................................... 12

2.4 Oscilação Paramétrica ....................................................................................................... 13

3. Parte 1 – Análise de Corpo Rígido ........................................... 16

3.1 Modelo .............................................................................................................................. 16

3.2 Função de Transferência ................................................................................................... 22

4. Parte 2 – Estimativa da Velocidade de Impacto ....................... 26

4.1 Considerações Gerais ........................................................................................................ 26

4.2 Momento em que o Cabo do Guincho Soleca .................................................................. 28

4.3 Equação do Pêndulo Livre ................................................................................................. 30

4.4 Solução Particular .............................................................................................................. 32

4.5 Solução Homogênea ......................................................................................................... 33

4.6 Solução Geral .................................................................................................................... 33

4.7 Velocidade de Impacto ...................................................................................................... 36

4.8 Condição para Haver Movimento Pendular ...................................................................... 37

5. Parte 3 – Dimensionamento do Absorvedor de Choque .......... 39

5.1 Considerações Sobre as Propriedades do Sistema Mola-Amortecedor ........................... 40

5.2 Considerações Sobre a Dinâmica do Problema................................................................. 41

5.3 Modelo .............................................................................................................................. 42

5.4 Considerações Sobre a Rigidez da Mola ............................................................................ 47

6. Estudo de Caso ....................................................................... 50

6.1 Parte 1 – Dimensionamento do Ângulo Estático .............................................................. 52

6.2 Parte 2 – Estimativa da Velocidade de Impacto ................................................................ 54

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6.3 Parte 3 – Dimensionamento do Absorvedor de Choque .................................................. 61

6.4 Resumo dos Resultados .................................................................................................... 62

7. Conclusões e Recomendações ................................................ 66

Referências ................................................................................... 68

Anexo I .......................................................................................... 70

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1. Introdução

1.1 Instalação de Estruturas Submarinas

A explotação de petróleo e gás offshore requer, com muita frequência, a

instalação de equipamentos submarinos. Esses equipamentos podem ser árvores de

natal molhadas, manifolds, sistemas de bombeamento submarino, sistemas de

separação, estruturas de proteção, âncoras de sucção, estruturas de correção de vão

livre, entre outros. Como mostram Cermelli et al [1], essa operação pode ser

executada por sondas de perfuração, navios de construção e navios de

remanejamento de âncoras (anchor handling support vessels - AHST). Para a

instalação de árvores de natal molhada e eventualmente de manifolds, pode ser usada

uma sonda de perfuração (figura 1.1). Neste caso o equipamento é conectado à

coluna de perfuração no convés da embarcação, e guiado por esta através de uma

abertura no casco (moonpool) até o fundo do mar. A desvantagem do uso da sonda de

perfuração é o custo associado a este tipo de embarcação. Existe também a limitação

do tamanho do equipamento imposto pelas dimensões do moonpool.

Figura 1.1 – Instalação de equipamentos usando sonda de perfuração. (fonte: wikipedia)

Para a instalação por navios AHST (figura 1.2), o equipamento é içado pelo a-

frame instalado à popa da embarcação. O a-frame é então basculado para ré até que

o equipamento possa ser baixado para a água. Este método tem a vantagem de

contar com o uso de uma embarcação relativamente barata. Porém limita seriamente

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as dimensões do equipamento instalado, já que este deve passar por entre as colunas

do a-frame, e deve ter comprimento compatível com o alcance do mesmo.

Figura 1.2 – Exemplo de AHST (fonte: wikipedia)

Atualmente, o método considerado convencional para instalação de

equipamentos é o que utiliza um navio de construção (figura 1.3), dotado de ao menos

um guindaste offshore, sistema de posicionamento dinâmico e guinchos para controle

da carga. Neste caso, o equipamento é içado do convés pelo guindaste e

movimentado horizontalmente até que possa ser baixado para a água. Opcionalmente,

o equipamento pode estar conectado a um ou mais guinchos de contenção para

controlar o movimento pendular da carga.

Figura 1.3 – Navio de construção “Skandi Acergy” (fonte: site Subsea7)

a-frame

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1.2 Etapas do Método Convencional

O método convencional pode ser dividido em quatro etapas:

a. Içamento do convés e overboarding da estrutura para a água (figura

1.4);

b. Passagem da estrutura pela zona das ondas (figura 1.5);

c. Descida da estrutura até a profundidade de instalação;

d. Pouso da estrutura.

Figura 1.4 – Fase “a” – Overboarding

Figura 1.5 – Fase “b” – Passagem pela zona das ondas

O passo “b” é tido comumente como o mais crítico, devido às elevadas forças

hidrodinâmicas presentes. Por isso, em geral, é o que limita a janela de operação para

a execução da instalação. A estimativa dessas forças pode ser obtida por pacotes

computacionais (SIMO, Orcaflex etc) ou ainda por meio do uso de normas, como por

PEDESTAL DO GUINDASTE

OBJETO

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exemplo, [2]. É comum o uso de teste em escala reduzida para estimar os coeficientes

hidrodinâmicos. Existe vasta bibliografia específica sobre esta fase, como [3-5].

A sofisticação dos pacotes computacionais tem permitido a ampliação da janela

de operação fazendo, portanto, com que a instalação ocorra com condições de mar

cada vez mais severas.

A fase “c” é especialmente crítica para a instalação em águas profundas,

devido à maior proximidade da frequência natural axial do sistema com a frequência

de excitação do mar. Este fenômeno é bem descrito na literatura e possui normas que

auxiliam no dimensionamento dos equipamentos envolvidos, como por exemplo, [2].

Este fenômeno pode ser ainda evitado pelo uso do compensador de heave, que

desacopla grande parte do movimento da embarcação do movimento da massa.

A fase “d” tem como fator crítico a precisão do sistema de posicionamento e de

referenciamento, que garanta que o equipamento seja instalado dentro de tolerância

especificada. Nesta fase, também é importante o uso do compensador de heave para

evitar impacto da estrutura com o leito marinho. A fase “d” também é bem descrita por

[2].

Por outro lado, o manuseio da estrutura entre o convés e a água (passo “a”),

referido neste texto como overboarding, não tem recebido a mesma atenção. A

operação de overboarding é geralmente tratada como “operação de convés”, não

havendo, portanto, metodologia para sua execução no procedimento de instalação. E

ainda, os esforços encontrados nos equipamentos durante o overboarding não têm

sido incluídos na definição da janela de operação. No entanto, um incidente nesta

etapa da operação pode trazer grandes riscos às pessoas envolvidas, ao equipamento

instalado e à embarcação.

A duração da operação de overboarding está diretamente ligada ao sistema de

lastro da embarcação e à velocidade de rotação do guindaste. Isto porque à medida

que o guindaste gira, é necessário alterar a configuração de lastro de forma a manter o

ângulo de adernamento (heel) dentro do aceitável.

O objetivo deste trabalho é propor uma metodologia para o dimensionamento

dos equipamentos que controlam o movimento da carga durante a realização do

overboarding de estruturas submarinas, e ainda sugerir uma metodologia para

execução desta operação, de modo que a mesma seja realizada de forma controlada

e com nível aceitável de riscos. Esta metodologia será aplicável não só ao método

convencional, mas a qualquer método que envolva o overboarding do equipamento

entre o convés da embarcação e a água em que o equipamento esteja livre para

desenvolver movimento pendular.

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O capítulo 2 visa apresentar o problema de forma ampla, e inclui uma

verificação breve sobre a ocorrência de instabilidade paramétrica no sistema.

Na Parte 1 (capítulo 3) será proposta uma metodologia para a execução da

operação considerando um ângulo estático mínimo a ser respeitado. Este ângulo

mínimo visa garantir que a tração no cabo do guincho seja sempre positiva, o que

possibilita a execução da manobra de forma controlada.

Na Parte 2 (capítulo 4) será proposta uma metodologia para calcular a

velocidade de impacto no caso de falha na execução da metodologia proposta na

Parte 1. Esta velocidade de impacto serve de dado de entrada para a Parte 3 (capítulo

5), que consiste do dimensionamento de um sistema capaz de evitar a sobrecarga do

guincho no caso deste solecar. Para isto, foi considerado o uso de uma mola e um

amortecedor em paralelo.

No capítulo 6 será apresentado um estudo de caso onde a metodologia

proposta será aplicada a um caso com valores reais considerando uma embarcação

típica de construção. Será possível então avaliar alguns pontos importantes que

devem ser levados em consideração quando do dimensionamento do sistema.

Finalmente no capítulo 7 serão feitos alguns comentários e recomendações

para trabalhos futuros.

Este é um trabalho introdutório, que não tem a pretensão de encerrar o

assunto, mas sim de trazer a questão à tona.

1.3 Descrição dos Equipamentos Envolvidos

Guincho

Figura 1.6 – Guincho (fonte: site http://www.appletonmarine.com)

Equipamento mecânico que permite pagar ou recolher cabos sob tração. O

guincho de contenção no contexto deste trabalho terá uma capacidade típica entre 10

e 50 toneladas-força, velocidade de recolhimento típica entre 20 e 30 metros/minuto,

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possui controle local, acionamento hidráulico, pneumático ou elétrico, e pode ser

operado em modo “tração constante” ou em modo “comprimento constante”.

Quando no modo “tração constante” o guincho é ajustado para manter a tração

dentro de uma faixa especificada. Quando a tração no cabo atinge o limite superior

desta faixa, o guincho paga cabo até que a tração se reduza ao valor esperado.

Quando a tração no cabo atinge o limite inferior da faixa, o guincho recolhe cabo até

que a tração suba ao valor esperado.

Quando no modo comprimento constante, um determinado comprimento de

cabo é pago ou recolhido de acordo com o acionamento do operador. A tração no

cabo é o resultado das forças que estão agindo no sistema, e pode até chegar a zero.

Guindaste

Figura 1.7 – Guindaste (fonte: site http://www.huismanequipment.com)

Equipamento mecânico que permite içar e movimentar cargas horizontalmente.

Geralmente equipado com um guincho que permite pagar ou recolher cabo, o que

propicia o movimento vertical. No contexto deste trabalho o guindaste é o equipamento

responsável pelo içamento e movimentação horizontal do objeto entre o convés e a

água.

A capacidade típica para este equipamento depende do objeto a ser instalado,

podendo variar de 100 toneladas-força a 14200 toneladas-força (Heerema Thialf –

fonte: wikipedia). A altura máxima do convés até a ponta da lança em geral é

proporcional à capacidade de içamento. Para um guindaste com capacidade de 400

toneladas força, esta altura será tipicamente em torno de 50 metros.

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1.4 Revisão Bibliográfica

Não foi encontrada bibliografia específica sobre overboarding de estruturas

submarinas. Outros aspectos sobre a instalação de estruturas offshore têm sido

tratados em artigos diversos. Cermelli et al [1] discorrem sobre os diferentes métodos

de instalação em águas ultra-profundas, com ênfase na fase de pouso da estrutura no

leito marinho ou sobre outro equipamento.

Roveri et al [6] descrevem as etapas de engenharia e planejamento para a

instalação de um manifold com peso de 4120kN à profundidade de 620 metros pelo

método convencional. O trabalho abrange as fases de abaixamento do equipamento

até o leito marinho e seu posicionamento final. As cargas são estimadas por métodos

numéricos e é feita uma descrição detalhada da operação. No entanto, não há menção

à metodologia utilizada para o overboarding do equipamento.

As dificuldades relacionadas à instalação de equipamentos em águas

profundas pelo método tradicional são descritas por Vennemann et al [7],

especialmente no que diz respeito à fadiga do cabo de aço do guindaste/guincho de

instalação dotado de compensador de heave.

Um método alternativo, não mencionado em [1], é descrito por Ribeiro [8]. O

método chamado de “Lançamento Pendular” dispensa o uso de embarcação de

construção. Ao invés disto, utiliza uma embarcação com um guindaste, denominada

“barco de transporte”, uma embarcação dotada de guincho com capacidade

compatível com o peso submerso do equipamento instalado, e um cabo de fibra

sintética com comprimento equivalente a 90% da lâmina d’água. O objeto de estudo

deste trabalho (overboarding) se aplica igualmente ao Lançamento Pendular, já que

também se faz necessário içar o equipamento do convés do barco de transporte e

posicioná-lo na zona de ondas.

As forças envolvidas nas demais fases, em especial durante a passagem pela

zona de ondas, estão bem documentadas por estudos experimentais em Ding et al [3]

e em Ren e Wang [4] e por estudos numéricos em Ren e Wang [5]. Os métodos

utilizados para a estimativa dos esforços durante as fases de passagem pela zona das

ondas e durante a descida até a profundidade de instalação são apresentados e

discutidos por Thiagarajan e Yann [9]. Neste caso, também não é feita menção à

manobra de overboarding.

O uso de tagger lines, traduzidos neste trabalho como guinchos de contenção,

foi mencionado por Sekita et al [10], porém os autores não entram em detalhes sobre

sua utilização ou dimensionamento. Neste trabalho, os autores analisam as forças

dinâmicas envolvidas na operação de içamento de estruturas pesadas, com o objetivo

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principal de dimensionar os componentes do sistema de içamento (itens de

marinharia). A análise considera o acoplamento da embarcação de instalação com a

carga. Ou seja, os movimentos da embarcação são afetados pela massa da carga

içada.

O uso de absorvedores de choque, por sua vez tem vasta bibliografia,

principalmente para o uso em equipamentos de segurança individual. Spierings e

Stampfli [11] propõem uma metodologia para o desenvolvimento de um absorvedor de

energia para este fim. O trabalho inclui o desenvolvimento de curvas força/elongação

quasi-estáticas e dinâmicas para diferentes tipos de trava-quedas. Algo similar poderia

ser desenvolvido para gerar o mesmo tipo de resultado para fundamentar a Parte 3 do

presente trabalho. O dimensionamento do absorvedor de choque para equipamento de

proteção individual é bastante similar ao dimensionamento do absorvedor de choque

para instalação de estruturas submarinas, pois da mesma forma que o indivíduo é

protegido, o equipamento a ser instalado também tem resistência limitada aos

esforços envolvidos.

Outro trabalho investigando este fenômeno foi feito por Jones [12],

especificamente para investigar um acidente fatal de bungee-jumping. Em seu

trabalho, Jones faz uma análise baseada na conversão de energia potencial

gravitacional em energia cinética e então em energia potencial elástica. O salto só

será seguro se o material for capaz de transformar toda a energia potencial

gravitacional em energia de deformação elástica (strain energy). A conclusão do

estudo de caso é que o cabo utilizado não tinha uma relação força/deformação capaz

de absorver toda a energia potencial gravitacional. A parte 2 deste trabalho irá fazer

uma análise semelhante à da referência [12]. No entanto, ao contrário da referência,

faltam dados experimentais para o equipamento em estudo.

A referência [13] analisa o movimento do pêndulo com excitação de base, e

será utilizada na parte 2 do trabalho para avaliar o movimento do pêndulo após o cabo

do guincho de contenção solecar.

A referência [14] será utilizada como base para o desenvolvimento da Parte 3

do trabalho, pois mostra resultados sobre a curva força x elongação de cabos

sintéticos, considerados para o uso como absorvedor de choque.

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2. Apresentação do Problema

2.1 Condição de Instalação

A operação descrita neste trabalho é realizada em condições de mar

relativamente benignas. Tipicamente, a altura significativa máxima admitida para que a

operação seja realizada é entre 1,0 e 2,0 metros, e o período de pico em torno de 9

segundos. O aproamento da embarcação durante a fase de overboarding é livre. No

entanto é comum optar por fixar o aproamento de forma a receber ondas a um ângulo

de 10 a 20 graus em relação à proa. Desta forma tem-se uma região de mar a

sotavento da embarcação que fica protegida das ondas (figura 2.1). Esta prática reduz

as forças de impacto da água com o objeto, durante a passagem deste pela zona das

ondas, porém penaliza os esforços durante o overboarding devido à adoção de um

aproamento menos favorável, que resulta em maior amplitude de roll.

Figura 2.1 – Área protegida a sotavento da embarcação

Tipicamente o vento tem muito pouco impacto na operação estudada, dada a

elevada massa e relativamente pequena área do objeto içado. A correnteza não tem

qualquer impacto no overboarding.

Os movimentos da embarcação são estimados neste trabalho pelos

“operadores de amplitude de resposta” (RAO - response amplitude operators), que são

lineares. Os operadores de amplitude de resposta são funções de transferência

usadas para determinar o efeito que as ondas têm sobre a embarcação, em todos os

TREM DE ONDAS

REGIÃO PROTEGIDA

GUINDASTE OBJETO IÇADO

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seis graus de liberdade. No capitulo 3 é mostrado um exemplo de um operador de

resposta típico de uma embarcação de construção submarina.

Para os casos em que a massa do objeto içado é superior a 5% do

deslocamento da embarcação de instalação, é importante fazer uma análise acoplada,

na qual a massa do objeto içado interfere nos movimentos da embarcação, conforme

mencionado por Sekita et al [10]. Este trabalho considera que a massa do objeto içado

é desprezivel em relação ao deslocamento da embarcação.

2.2 Movimento Pendular

O sistema formado pelo objeto içado e pelo cabo do guindaste durante o

overboarding de um objeto pode ser comparado com um pêndulo com movimento de

base prescrito. A base do cabo é excitada pelo movimento do guindaste, que se move

junto com a embarcação. Esta excitação tem basicamente uma componente vertical e

uma componente horizontal.

Para a componente horizontal, o período natural do pêndulo para pequenos

deslocamentos pode ser descrito por (2.1), onde “l” é o comprimento do cabo e “g” a

aceleração da gravidade.

�� = 2���� (2.1)

Considerando valores típicos de “l” em operações de instalação submarina,

temos o período natural do sistema em torno de 11 segundos, que é tipicamente um

período de grande energia para o mar da costa brasileira. Soma-se a isso o fato de

que enquanto o objeto está suspenso, o amortecimento do sistema é extremamente

baixo, basicamente a resistência com o ar. Isso resulta em aumento gradativo da

amplitude do movimento, o que eleva o potencial de ocorrência de acidentes. Este

problema acaba após o objeto ficar parcialmente submerso, devido às forças de

amortecimento proporcionadas pela água.

Desta forma, caso o overboarding seja realizado apenas pelo guindaste,

haveria uma amplificação do movimento pendular e o sistema passaria a ter grandes

oscilações, devido à excitação horizontal, o que colocaria em risco a instalação, devido

à possibilidade de impacto do objeto com a embarcação e, em casos extremos, devido

ao comprometimento da estabilidade da embarcação por conta das elevadas forças

laterais no guindaste.

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11

O pêndulo terá então um movimento com componentes nas direções

transversal e longitudinal à embarcação.

O movimento na direção longitudinal pode ser controlado pelo uso de um par

de guinchos atuando na direção longitudinal da embarcação, porém em sentidos

opostos, sendo que um pode estar no modo “tração constante” e o outro no modo

“comprimento constante”. Garante-se, desta forma, que a tração nos cabos será

sempre positiva. Além desta facilidade de controle, esta direção de movimento não é

crítica, pois não há obstáculo no convés. O único obstáculo ao movimento longitudinal

é o pedestal do guindaste (figura 2.2). A amplitude de movimento de pitch também é

menor que o movimento de roll.

Por outro lado o movimento transversal tem como possível obstáculo o próprio

costado da embarcação, além do pedestal do guindaste.

Figura 2.2 – Arranjo Geral do convés da embarcação

O controle do movimento na direção transversal só conta com o cabo do

guincho atuando em um sentido, que é para dentro da embarcação (figura 2.2). Para

se ter um par de guinchos trabalhando em sentidos opostos (como se tem na direção

longitudinal) seria necessário dispor de outra embarcação, o que elevaria o custo e a

complexidade da operação.

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12

Pelos motivos supracitados, considera-se que o movimento na direção

transversal é mais crítico para a operação. O foco do trabalho será, portanto, esta

direção de movimento. O movimento na direção longitudinal não será mais

mencionado.

2.3 Movimento Pendular Transversal

Para manter a carga sob controle, é utilizado no mínimo um guincho de

contenção transversal – denominado a partir de agora apenas de guincho de

contenção. O guincho de contenção tem seu cabo disposto no sentido transversal da

embarcação, ou seja, no sentido do movimento do overboarding (figura 2.2).

Em geral, o guincho de contenção é usado para limitar o movimento do objeto.

Neste sentido, durante o overboarding, o guincho de contenção é acionado pelo

operador de forma a acompanhar o movimento do objeto. Este acionamento é

baseado na experiência do operador, e não segue qualquer outro procedimento. Desta

forma, ao longo da manobra, o guincho de contenção sofre seguidos impactos, a cada

vez que restringe o movimento pendular do objeto içado.

Figura 2.3 – Guincho de contenção limitando o movimento do objeto

O papel do guincho de contenção é limitar ou impedir totalmente o movimento

pendular da carga. Por “limitar”, entende-se que o movimento pendular pode ocorrer,

porém tem sua amplitude restrita pela ação do guincho de contenção. Ou seja, durante

a manobra, a tração no guincho de contenção pode chegar a zero em vários

momentos, e em seguida o cabo fica com tração novamente (figura 2.3). Entre esses

dois momentos o objeto içado adquire velocidade relativa em relação ao guincho, e

por isso ocorre impacto, já que quando o cabo volta a ficar tracionado a velocidade

relativa passa a ser nula novamente. O guincho soleca porque o monitoramento do

Guincho de contenção

tracionado

Guincho de contenção

sem tração (solecado)

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guincho de contenção é basicamente visual. O objetivo do operador é manter um

comprimento tal que imponha a menor carga possível, sem solecar.

Por “impedir”, entende-se que não há movimento pendular algum, ou seja, o

objeto içado passa a se mover junto à embarcação como um corpo rígido, e o cabo do

guincho permanece com tração maior do que zero durante toda a operação.

Este trabalho pretende investigar a dinâmica das operações, os esforços

exercidos pelo cabo do guincho de contenção, e ainda dimensionar um absorvedor de

choque para o caso de haver impacto.

O problema será dividido em três partes.

A Parte 1 tem como objetivo definir uma configuração do sistema guindaste-

objeto-guincho de forma que o guincho de contenção atue no sentido de impedir o

movimento relativo entre o objeto e a embarcação. Será proposta uma metodologia de

instalação que garanta uma carga mínima no guincho, e portanto, garanta que não

haja movimento relativo e por consequência não ocorra impacto. Esta metodologia

inclui o estudo dos movimentos da embarcação de instalação gerados pela ação das

ondas.

A Parte 2 tem o objetivo de estimar a velocidade de impacto para o caso da

metodologia proposta na parte 1 não ser utilizada corretamente.

A Parte 3 tem o objetivo de dimensionar um dispositivo capaz de absorver a

energia gerada pelo impacto proveniente do movimento relativo entre o objeto e a

embarcação, que é limitado pelo guincho de contenção. Essa hipótese de ocorrência

de impacto deve ser considerada como contingência mesmo que o dimensionamento

do guincho seja baseado no uso do guincho de contenção com intuito de impedir o

movimento do objeto içado (conforme Parte 1). Para tanto será considerada a

velocidade de impacto entre o objeto içado e a embarcação conforme calculado na

Parte 2, e será proposto o uso de um absorvedor de choque capaz de limitar a força

máxima observada pelo guincho de contenção.

2.4 Oscilação Paramétrica

Até agora, apenas o movimento pendular devido à componente horizontal da

ponta da lança do guindaste foi considerado. No entanto, como descrito

detalhadamente em [15], um pêndulo, onde o comprimento da haste varia com o

tempo, ou cujo ponto de sustentação se move na direção vertical, pode responder com

um movimento pendular transversal.

No contexto deste trabalho, a variação do comprimento da haste significa a

variação do comprimento do cabo do guindaste. Para a fase de overboarding, esta

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variação não é aplicável pois o comprimento do cabo do guindaste é constante. Por

isso, este caso não foi considerado. Especificamente para a fase do pouso, este caso

pode ser aplicável, pois eventualmente pode-se ter o comprimento do cabo do

guindaste variando com o tempo devido ao uso de um sistema de compensação de

movimentos verticais ou de um sistema de tensão constante. Porém, o movimento do

objeto içado está fortemente amortecido pela água, de forma que o movimento

pendular não é crítico.

A variação do ponto de sustentação no contexto deste trabalho significa o

movimento vertical da ponta da lança do guindaste (figura 2.4), gerado pela ação das

ondas sobre a embarcação. Este sim é aplicável ao presente problema em todas as

fases da instalação, e principalmente durante o overboarding, devido ao baixo

amortecimento.

Figura 2.4 – Pêndulo com excitação vertical

Este fenômeno é modelado pela equação de Mathieu. O objetivo é garantir que

a amplitude do sistema não aumente rapidamente, ou seja, garantir que o sistema não

está em ressonância paramétrica, ou em regime de instabilidade paramétrica. Fora do

regime de instabilidade paramétrica, não há acréscimo significativo de amplitude. A

figura 2.5 mostra a relação entre frequência de excitação (ω) e amplitude de excitação

(h0) que fazem o sistema instavel.

Figura 2.5 – Diagrama de bifurcação

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15

A equação de Mathieu, considerando pequenos ângulos, foi resolvida no Anexo

I para algumas condições de instabilidade considerando o sistema excitado com

frequência de duas vezes a frequência natural. Considerando uma amplitude de

excitação de 5% do comprimento do cabo, o movimento fica em uma órbita fechada

com amplitude na ordem de 0,02 radianos (1,2 graus), conforme ilustrado na figura

2.4a. Para uma amplitude de excitação de 10% do comprimento do cabo, o movimento

fica em uma órbita aberta, com amplitude na ordem de 0,04 radianos (2,4 graus),

conforme ilustrado na figura 2.4b.

Figura 2.4a – Movimento considerando excitação com 5% do comprimento do cabo

Figura 2.4b – Movimento considerando excitação com 10% do comprimento do cabo

É possível concluir que a instabilidade paramétrica só levaria o sistema a um

movimento oscilatório crítico para o caso de amplitudes de movimento vertical da

ponta da lança do guindaste da ordem de 10% do comprimento do cabo do guindaste -

muito grande se comparado com o esperado em campo. Por isto o efeito da excitação

no sentido vertical não será tratado neste trabalho. Além disso, o uso do guincho de

contenção conforme proposto elimina o problema causado pela instabilidade

paramétrica, já que restringe o aumento da amplitude do movimento.

Este é um tema de grande relevância para este tipo de operação. Um estudo

mais completo pode ser objeto de pesquisas futuras. Este trabalho só fez uma

verificação superficial que não aponta problemas.

Ângulo1 [rad]

Ângulo 2 [rad]

Ângulo1 [rad]

Ângulo 2 [rad]

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16

3. Parte 1 – Análise de Corpo Rígido

3.1 Modelo

Ao se considerar o guincho de contenção como uma ferramenta que impede o

movimento relativo do objeto, e considerando também que o cabo do guincho de

contenção é suficientemente rígido, pode-se considerar que o objeto e a embarcação

formam um só corpo rígido. Esta hipótese ignora a existência do absorvedor de

choque que será proposto na Parte 3.

Ao longo da instalação, o objeto está sujeito às acelerações geradas pela

influência das ondas na embarcação. Por isso, a força de tração no cabo do guincho

de contenção irá variar em torno de um valor médio. Quando esta variação for

suficiente para levar a força de tração a zero, o cabo do guincho deixa de atuar, e o

objeto começa a pendular livremente, até que em algum momento voltará à posição

inicial, retesando subitamente o cabo.

Para evitar esta condição, será necessário definir um ângulo estático “θe“ entre

o cabo do guindaste e a vertical (considerando o referencial N, fixo na embarcação –

Figura 3.1), de forma que o valor mínimo esperado para a tração no guincho seja

positivo. Definimos também a força “Tc” como sendo a força do cabo do guincho de

contenção.

Figura 3.1 – Sistemas de coordenadas e forças consideradas

ψ

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A condição para que não haja movimento relativo entre o objeto e o navio será

verdadeira sempre que a força “Tc” for maior que zero. Ou seja, sempre que “Tc” for

positivo, é possível garantir que o objeto e a embarcação movem-se como um corpo

rígido. Ao contrário, ter “Tc” menor ou igual que zero significa que o cabo do guincho

de contenção ficou sem tração, e por isso deixou de agir. Nesta condição o modelo

deixa de ser válido, e passamos para a condição de impacto, que será analisada nas

Partes 2 e 3.

O objetivo da Parte 1 será, portanto, definir um ângulo estático que garanta

que para um determinado estado de mar, a força “Tc” será positiva.

Na prática, isso implica em haver uma coordenação entre o movimento do

guindaste e o movimento do guincho de contenção. Esta coordenação deverá estar

descrita em procedimento, e deve cobrir toda a operação de overboarding desde o

içamento do objeto do convés até a entrada do mesmo na água. A sequência de

operação deverá consistir dos seguintes passos (Figura 3.2a):

(1) Conexão do cabo do guindaste (c) e do cabo do guincho de contenção

(a) no objeto (b);

(2) Movimentação da lança do guindaste (c) para a posição referente ao

primeiro passo e içamento da carga de forma a manter o ângulo

estático;

(3) Movimentação da lança do guindaste (c) para fora da embarcação,

conjugado com o movimento de “pagar” do guincho de contenção (a) de

forma a manter o ângulo estático . De forma a garantir que o ângulo mínimo seja respeitado, o movimento do

guindaste entre um passo e outro deve ser feito antes do movimento do guincho.

Deste modo o ângulo vai variar entre o nominal e um valor maior que o nominal como

ilustrado na figura 3.2b. Esta figura ilustra uma sequência hipotética, em que cada

movimento dura 1 minuto. No primeiro minuto tanto o guincho quanto o guindaste

estão no passo “1” e o ângulo do guindaste é o ângulo nominal . No minuto “2” o

guindaste é operado para passar ao passo “2”, e o guincho permanece no passo “1”.

Desta forma o ângulo do cabo do guindaste aumenta para 1,1 vezes o nominal. No

minuto “3” o guindaste permanece no passo “2” e o guincho é operado para o passo

“2”, de forma que o ângulo do cabo do guindaste volta ao ângulo nominal .

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Figura 3.2a – Sequência operacional

Figura 3.2b – Variação do ângulo durante a sequência operacional

0,9

1

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

0

1

2

3

4

5

6

7

0 5 10 15

Ân

gulo

re

al /

θe [

-]

Pas

so [

-]

Tempo [min]

Mov. Guincho

Mov. Guindaste

Angulo Real / θe

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Para encontrar a força “Tc”, começamos fazendo o equilíbrio de forças para o objeto

içado (figura 3.1):

⋅=Σ mFm MR

a (3.1)

Onde,

MRa = aceleração do objeto de massa “m” no referencial inercial R

m = massa do objeto içado

As forças nas direções r1 e r2 são facilmente encontradas utilizando o diagrama

do corpo livre:

)()cos(~1

~epGpcm HsenTHTrF θψψ +⋅⋅−⋅⋅=⋅∑ (3.2a)

gmHTHsenTrF epGpcm ⋅−+⋅⋅+⋅⋅=⋅∑ )cos()(~2

~

θψψ (3.2b)

Onde,

~1r = vetor unitário horizontal do referencial R

~2r = vetor unitário vertical do referencial R

ψ = ângulo de jogo (roll) do navio para onda unitária

eθ = ângulo estático entre o pedestal do guindaste e o cabo do guindaste (a

ser definido)

cT = Força no cabo do guincho de contenção

GT = Força no cabo do guindaste

g = Aceleração da gravidade

pH = Altura da onda de projeto, que será definida em função da maior onda

esperada durante a realização da operação de overboarding.

As acelerações são encontradas utilizando-se o Teorema Cinemático [16]:

MNNRC

M

NRC

M

NRNRCRMNMRvppaaa ×+×+

××++= ωαωω 2*** (3.3)

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Onde,

MNa = aceleração do objeto de massa “m” no referencial “navio” N

*CRa = aceleração do centro de rotação do navio em relação ao referencial

inercial R

NRω = velocidade angular do navio em relação ao referencial R

*C

M

p = posição do objeto de massa “m” em relação ao centro de rotação do

navio C*

NRα = aceleração angular do navio em relação ao referencial R

MNv = velocidade do objeto de massa “m” em relação ao navio

Como vale a hipótese de corpo rígido, não há movimento relativo entre o objeto

içado e o referencial N, e como estamos considerando a rigidez axial do cabo do

guincho de contenção suficientemente alta, temos:

0≅MNa (3.4)

0≅MNv (3.5)

Definimos os vetores de movimento e posição conforme equações (3.6) a (3.9):

⋅=

0

*z

x

Ha p

CR&&

&&

(3.6)

⋅=

ψ

ω

&

0

0

p

NRH (3.7)

=

0

* h

d

pC

M

(3.8)

⋅=

ψ

α

&&

0

0

p

NRH (3.9)

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Onde,

x&& = Aceleração para onda unitária no sentido da deriva (sway)

z&& = Aceleração para onda unitária no sentido do afundamento (heave)

ψ& = Velocidade angular para onda unitária no sentido do jogo (roll) do navio

ψ&& = Aceleração angular para onda unitária no sentido do jogo (roll) do navio

d = Distância no sentido transversal entre o objeto içado e o centro de rotação

h = Altura relativa entre o objeto içado e o centro de rotação

Pelas condições em que a operação é realizada e pelos ângulos esperados

durante a manobra, é possível fazer as seguintes considerações:

ϕψ ≅)(sen 1)cos( ≅ψ eesen θθ ≅)( 1)cos( ≅eθ (3.10)

Aplicando as definições (3.6) a (3.9) e as condições (3.4) e (3.5) na equação

(3.3), e decompondo o resultado nas direções r1 e r2, temos:

hHxHdra pp

mR ⋅⋅−+⋅⋅=⋅ ψψ &&&&&2

~1

~)( (3.11a)

dHHhHzra ppp

mR ⋅⋅−⋅⋅−⋅=⋅ ψψ &&&&&2

~2

~)( (3.11b)

Resolvendo (3.1) para as direções r1 e r2 de acordo com as equações (3.2a),

(3.11a), e (3.2b), (3.11b), considerando nulos os termos de ordem 2 de ângulos,

velocidades, acelerações angulares, termos cruzados de ângulos com aceleração no

sentido do heave, e considerando ainda (3.10), temos o seguinte sistema:

mHhxHTTpepGc

⋅⋅⋅−=+⋅⋅− )()( ψθψ &&&& (3.12a)

pGpcHmdzgmTHT ⋅⋅⋅−=⋅−+⋅⋅ )( ψψ &&&& (3.12b)

Resolvendo (3.12b) para TG e substituindo em (3.12a), temos a seguinte

expressão:

[ ]ψψθψψ ⋅−⋅+⋅⋅⋅−+⋅+⋅⋅⋅−=cpeppc

TgmHmdzHHmhxT )()()( &&&&&&&& (3.13)

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Aplicando novamente as condições de (3.10), temos:

+

+

⋅−⋅⋅⋅= epc

g

h

g

xHgmT θψ

ψ&&&& (3.14a)

+

⋅⋅⋅⋅−= 1

g

z

g

dHgmT pG

&&&&ψ (3.14b)

Pela equação (3.14b) vemos que a força no guindaste não é afetada pelo

ângulo estático eθ . Pela equação (3.14a) vemos que a força no guincho de contenção

tem uma parcela constante proporcional a eθ , e uma parcela que varia com o tempo

em função dos movimentos da embarcação. Reescrevendo (3.14a), temos:

( )dpec

HgmT θθ ⋅+⋅⋅= (3.15)

Onde,

g

h

g

xd

⋅−+=

ψψθ

&&&& (3.16)

A força de tração do guincho de contenção, então, depende somente da massa

içada, da geometria do sistema, da altura e período da onda, e do RAO da

embarcação. A massa içada é constante. A geometria varia ao longo da operação,

mas a força pode ser calculada para vários instantes.

Apesar da dinâmica da embarcação variar conforme o guindaste e a massa

içada se movem, considera-se que o processo é quasi-estático. Isso possibilita utilizar

o mesmo RAO para toda a operação. Esta premissa é aceitável apenas para

embarcações grandes em relação à massa içada.

3.2 Função de Transferência

O objetivo agora é encontrar a função de transferência de (3.16) em função do

período de excitação. Como todos seus componentes são senóides, é possível

escrever esta parte dinâmica como uma amplitude multiplicada por um seno,

associado a um ângulo de fase. Ou seja, uma expressão da forma:

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( ) ( )ddd

tsen εωθωθ +⋅⋅=_

(3.17)

Onde,

ω = Frequência de excitação

dε = Ângulo de fase

Para encontrar (3.17), definimos:

( )xtsenxtx εω +⋅⋅=)( (3.18)

( )ψεωψψ +⋅⋅= tsent )( (3.19)

Onde as variáveis abaixo são obtidas pela análise do RAO da embarcação:

ω = Frequência de excitação

x = Amplitude de movimento para a onda unitária na direção de deriva (sway)

ψ = Amplitude de movimento para a onda unitária na direção de jogo (roll)

xε = Ângulo de fase para a direção de sway

ψε = Ângulo de fase para a direção do roll

Expandindo (3.17), temos:

( ) [ ])cos(cos)( tsentsen dddd ⋅⋅+⋅⋅⋅= ωεεωθωθ (3.20)

Substituindo agora (3.18) a (3.24) em (3.16), temos:

( ) ( )tsentseng

xtsentseng

hxxd ωεεω

ωωεεω

ωψθ ψψ coscoscoscos1

22

⋅+⋅−⋅+⋅

+=

(3.21)

Por simplicidade, definimos:

gxA

2ω= (3.22a)

xB εcos= (3.22b)

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xsenC ε= (3.22c)

+

⋅= 1

2

g

hD

ωψ (3.22d)

ψεcos=E (3.22e)

ψεsenF = (3.22f)

Substituindo (3.22a) a (3.22f) em (3.14a) e igualando a (3.21), temos o seguinte

sistema de duas equações e duas incógnitas:

BAEDdd ⋅−⋅=⋅ εθ cos (3.23a)

CAFDsen dd ⋅−⋅=⋅ εθ (3.23b)

Resolvendo o sistema, encontramos:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )FCEBDACAFDBAEDd ⋅+⋅⋅⋅−⋅+⋅+⋅+⋅= 22222ωθ

(3.24a)

( )

⋅−⋅

⋅−⋅=

BAED

CAFDd arctanωε (3.24b)

Podemos então reescrever (3.17) como:

( )

+⋅+

⋅⋅⋅⋅⋅= d

dp

e

dpc tsenH

HgmT εωθ

θθ

(3.25)

A figura 3.3 ilustra a força adimensionalizada no guincho de contenção para os

ângulos estáticos adimensionalizados em 0,8 (verde), 1,0 (vermelho) e 1,2 (azul) do

ângulo estático nominal.

Para cada valor adimensional do ângulo estático foi plotada a força máxima

(linha tracejada) e mínima (linha cheia) em função da onda de projeto. É possível

observar que para o ângulo estático adimensional de 1,0 a força mínima é sempre

zero. Para o ângulo estático adimensional de 0,8 a força mínima é negativa, ou seja, o

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guincho soleca. Ao aumentar o ângulo estático, aumenta-se o nível de segurança

porém aumenta-se também a força máxima no guincho de contenção.

Figura 3.3 – Força adimensional no cabo do guincho de contenção

O ângulo estático maior do que o de projeto traz mais segurança à operação,

porém seu aumento é limitado pelo ângulo máximo de deflexão admitido pelo

guindaste. Este valor é tipicamente de 5º.

Além disso, o aumento do ângulo estático implica em um aumento na força

máxima esperada durante a operação. Esta força máxima é limitada pela capacidade

do guincho em si e pela capacidade dos olhais do objeto içado nos quais o guincho de

contenção é conectado.

Como o objetivo desta metodologia é dimensionar o ângulo estático eθ para a

resposta do sistema a uma onda extrema, é razoável que a análise seja feita

considerando ondas regulares, dada a simplicidade desta abordagem em relação à

consideração de ondas irregulares.

A onda regular utilizada para este dimensionamento deve refletir a onda

extrema para o estado de mar no qual a operação irá ocorrer, incluindo margem de

segurança. Tipicamente, o que irá limitar o estado de mar para a operação será a

passagem da estrutura pela zona das ondas (splash zone), de forma que o

dimensionamento em questão deve levar este limite em consideração.

Apesar disso, o conhecimento da função de transferência possibilita que seja

feita análise probabilística considerando um mar irregular, mas esta análise não fará

parte deste trabalho.

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4. Parte 2 – Estimativa da Velocidade de Impacto

4.1 Considerações Gerais

Mesmo que seja utilizada a metodologia sugerida na Parte 1, é possível que a

tração no guincho de contenção venha a zero, e por isso haja impacto. Isto pode

ocorrer por dois motivos, descritos a seguir.

O primeiro é devido à falha de operação. Neste caso, o ângulo estático definido

na fase de projeto não é respeitado. Isto pode ocorrer pela falta de sincronia entre o

operador que controla o guindaste e o operador que controla o guincho de contenção.

Para que esta falha ocorra, basta que o operador do guincho de contenção “pague”

um comprimento de cabo superior ao que está no procedimento, ou basta que o

operador do guindaste execute um movimento de lança menor do que o estipulado.

O segundo é devido à ocorrência de uma onda com altura acima do esperado.

O segundo motivo não será abordado, pois considera-se que pode ser mais facilmente

evitado, através de considerações mais conservadoras sobre o estado de mar quando

da elaboração do procedimento de overboarding e definição do ângulo estático . Em

uma empresa de instalação submarina, esta iniciativa está sob o controle da

Engenharia, podendo ser mais facilmente rastreada.

A falha de execução da manobra, por sua vez, está no âmbito da operação, e

dependerá da habilidade e da atenção de um operador, que está sujeito a cometer

erros. O foco desta seção do trabalho será, portanto, a ocorrência do impacto devido à

falha de operação, ocasionando em um ângulo estático �, sendo � < conforme

ilustrado na figura 4.1.

Além do impacto, o movimento pendular vai aumentar o ângulo entre o cabo do

guindaste e o eixo vertical da embarcação, o que pode também levar a um ângulo de

deflexão do cabo do guindaste superior ao admitido pelo equipamento.

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Figura 4.1 – Desenho esquemático do ângulo errado

Toda a análise será feita considerando ondas regulares.

Neste caso, consideramos o instante � = 0 como o momento em que a crista

da onda começa a se formar no ponto de origem do RAO. O momento em que a força

de tração no cabo do guincho de contenção vai a zero é definido como ��. O momento

em que o equipamento içado retorna à posição original, ou seja, o momento em que

ocorre o impacto, é definido como ��. Entre estes dois instantes, o equipamento

pendula livremente. A figura 4.2 ilustra estes instantes ao longo do tempo.

Figura 4.2 – Ilustração dos instantes principais.

Para o problema do pêndulo livre, será adotado o referencial de tempo T,

definido conforme (4.1):

sttT −=

(4.1)

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Consideramos que entre �� e �� o comprimento do cabo do guincho é

constante. Na prática é possível que o comprimento seja reduzido pelo operador,

como resposta ao movimento pendular do objeto. Neste caso, a velocidade de impacto

seria reduzida, de forma que a consideração de que o comprimento fica inalterado é

conservadora. Esta é uma premissa que pode ser alterada em estudos futuros, e que

irá remover parte do conservadorismo incluído neste trabalho.

4.2 Momento em que o Cabo do Guincho Soleca

Conforme definido nas seções anteriores, o ângulo será dimensionado para

evitar que o cabo do guincho de contenção venha a solecar, para uma determinada

onda de projeto ��. Desta forma, pode ser definido conforme a expressão:

pde H⋅= θθ (4.2)

Sendo que dθ foi definido em (3.24a).

Durante a execução da manobra pode haver falta de sincronia entre as partes,

que eventualmente pode ocasionar um ângulo � diferente de �. Caso � seja maior do que , a tração no guincho de contenção não irá a

zero. No entanto, há o risco de a força máxima ultrapassar a admissível, o que pode

vir a sobrecarregar o equipamento, ou em caso extremo, pode levar ao rompimento do

cabo.

Caso � seja menor do que , a onda que faz o cabo do guincho solecar

passa a ter altura ��, sendo �� > ��. Desta forma, qualquer altura de onda ��que

satisfaça (4.3) faz o sistema solecar devido a um erro de operação.

PiR HHH << (4.3)

Para valores superiores a ��, o sistema solecaria devido a ocorrência de uma

onda acima do esperado (como discutido no item 5.1, esta hipótese não será

abordada). Para valores abaixo de ��, o cabo não soleca. É possível que a operação

seja realizada sem a ocorrência de uma onda de altura �� de forma que mesmo com o

erro de operação o guincho não solecaria. No entanto, quanto maior a diferença entre

� e maior a probabilidade do guincho vir a solecar.

Conservadoramente, para o cálculo da velocidade de impacto, considera-se

que o sistema com o ângulo errado Rθ será submetido a uma onda de altura

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equivalente ao limite superior de ��, ou seja, considera-se �� = �� É como se o

sistema estivesse com a configuração errada por um tempo indeterminado, até que

uma onda com a altura da onda de projeto (considerada para dimensionamento do

ângulo estático, portanto extrema para aquela condição) incida sobre a embarcação.

No momento em que o cabo do guincho de contenção solecar, devemos ter as

seguintes condições satisfeitas:

0=cT (4.4)

A partir deste ponto, os cálculos são desenvolvidos para uma altura de onda

unitária. Como o problema é linear, alturas de onda diversas podem ser consideradas

quando da aplicação da metodologia desenvolvida. Desta forma, considerando altura

de onda unitária, temos:

dR θαθ ⋅= (4.5)

Onde,

10 <<α

Substituindo (4.5) em (3.25)

( )[ ]ddc tsengmT εωαθ +⋅+⋅⋅⋅= (4.6)

Resolvendo (4.6) para a condição de solecamento descrita em (4.4),

encontramos o valor de st :

( ) ( )ω

ωεα d

s

arcsent

−= (4.7)

O instante em que o cabo do guincho de contenção soleca depende somente

da relação entre o ângulo de projeto e o ângulo errado, da fase da função que define o

ângulo dinâmico (3.24b) e da frequência da onda incidente. Não depende, portanto, da

altura de onda.

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30

4.3 Equação do Pêndulo Livre

A partir do instante ��, a massa içada pelo guindaste não sofre mais influência

do guincho de contenção. Esta afirmação pressupõe que a força que o cabo do

guincho de contenção em catenária exerce sobre o objeto içado é muito pequena se

comparada com as demais forças envolvidas no problema. Desta forma, o objeto içado

passa a ter um movimento pendular, descrito pela equação (4) da referência [13].

Considerando ângulos pequenos, temos:

000 =⋅−+⋅+⋅ θθθ yxgL &&&&&& (4.8)

Onde,

0x = componente horizontal do movimento da ponta da lança do guindaste;

0y = componente vertical do movimento da ponta da lança do guindaste;

L = comprimento do cabo do guindaste.

As componentes horizontal �� e vertical �� da lança podem ser obtidas pela

geometria do problema:

ψ⋅−= Hxx0 (4.9)

ψ⋅+= Dzy0 (4.10)

Onde,

x = movimento de sway

ψ = movimento de roll

H = altura da ponta da lança do guindaste em relação ao centro instantâneo de

rotação da embarcação (figura 4.3)

D = distância transversal da ponta da lança do guindaste em relação ao centro

instantâneo de rotação da embarcação (figura 4.3)

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31

Figura 4.3 – Geometria do problema

Sendo x (movimento de sway) e ψ (ângulo de roll) para uma onda unitária,

definidos anteriormente, como:

( )xtsenxx εω +⋅= (4.11)

( )ψεωψψ +⋅= tsen (4.12)

Onde,

�̅ = amplitude do movimento de sway para a onda unitária

�� = amplitude do movimento de roll para a onda unitária

xε = ângulo de fase do sway

ψε = ângulo de fase do roll

A altura da ponta da lança do guindaste em relação ao centro instantâneo de

rotação da embarcação é tipicamente três vezes maior do que a distância transversal.

Além disso, o termo da componente vertical do movimento da ponta da lança do

guindaste é multiplicado em (4.8) pelo ângulo θ, o que faz com que sua contribuição

ao movimento do pêndulo possa ser desconsiderada. Com isso, reescrevemos (4.8),

obtendo uma equação linear de segunda ordem (4.13).

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32

L

x

L

g 0&&&&−

=⋅+θθ (4.13)

Assumimos que 0x será formado por uma amplitude 0x que multiplica uma

senóide submetida à mesma frequência do mar, deslocado de uma fase 0xε , conforme

a equação (4.14).

( )000 xtsenxx εω +⋅= (4.14)

Com esta consideração, resolvemos (4.8) expandindo os senos em somas de

senos e cossenos, o que leva ao sistema representado pelas equações (4.15) e (4.16):

( ) ( ) ( )ψεψεε coscoscos 00 ⋅⋅−⋅=⋅ Hxxxx

(4.15)

( ) ( ) ( )ψεψεε senHsenxsenxxx

⋅⋅−⋅=⋅ 00 (4.16)

Elevando (4.15) e (4.16) ao quadrado e depois somando, obtemos:

( ) ( )ψεεψψ −⋅⋅⋅⋅−⋅+= xHxHxx cos2220 (4.17)

E ainda, dividindo (4.16) por (4.15), obtemos:

( ) ( )( ) ( )

⋅⋅−⋅

⋅⋅−⋅=

ψ

ψ

εψε

εψεε

coscos0Hx

senHsenxarctg

x

x

x (4.18)

4.4 Solução Particular

Para resolver a equação não linear de segunda ordem dada por (4.13),

utilizamos o Método dos Coeficientes Indeterminados [17]. Como o termo não

homogêneo é composto por uma senóide, parte-se da hipótese de que a função

senoidal p

θ é uma solução particular de (4.13).

( ) ( )ppp TsenT θεωθθ +⋅⋅= (4.19)

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33

Substituindo (4.19) e (4.14) e suas derivadas em (4.13), e considerando

0ωω ≠ , temos:

( )20

2

021

ωω

ωθ

⋅⋅=

x

Lp (4.20a)

0xpεε θ = (4.20b)

Onde a frequência natural do sistema é dada por:

L

g=0ω

(4.21)

Para o caso da frequência da onda ω coincidir com a frequência natural do

sistema, o ângulo do pêndulo livre tenderia a crescer indefinidamente.

4.5 Solução Homogênea

Tendo a equação particular conhecida, encontramos agora a solução homogênea:

( ) ( ) ( )TCTsenCTh ⋅⋅+⋅⋅= 0201 cos ωωθ (4.22)

4.6 Solução Geral

A solução θ será dada pela soma de p

θ e hθ :

( ) ( ) ( ) )(ˆcos 0201 TTCTsenCT pθωωθ +⋅⋅+⋅⋅= (4.23)

( ) ( ) ( ) )(ˆcos 020010 TTsenCTCT pθωωωωθ && +⋅⋅⋅−⋅⋅⋅= (4.24)

Condições iniciais

A equação (4.25) pode ser interpretada como o ângulo “original” a que o cabo

do guindaste pertence no referencial inercial. Este ângulo é a soma do roll da

embarcação com o ângulo estático Rθ do cabo do guindaste em relação ao referencial

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fixo à embarcação (figura 4.4). Este ângulo pode ser entendido também como o

ângulo descrito pelo sistema em relação ao referencial inercial considerando que o

cabo do guincho de contenção soleca.

( ) ( ) Ror tt θψθ += (4.25)

No instante em que o cabo soleca, temos:

( )sor tθθ =0 (4.26)

Figura 4.4 – Ilustração do movimento pendular e ângulo original

Cálculo da velocidade angular inicial

Enquanto o cabo do guincho de contenção está com força de tração positiva, o

objeto içado se move junto à embarcação como um corpo rígido. Nesta fase, a

velocidade do objeto içado “M” em relação ao referencial “R” é dada por (4.27):

0θ&⋅+= LvvORMR (4.27)

Onde, OR

v = Velocidade da ponta da lança do guindaste no referencial R;

MRv = Velocidade do objeto içado no referencial “R”;

L = Comprimento do cabo do guindaste.

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As velocidades do objeto içado M e da ponta da lança do guindaste O em

relação ao referencial R, por sua vez, são dadas por (4.28a) e (4.28b).

( ) ( )ss

MRtxhtv && +⋅= ψ (4.28a)

( ) ( )ss

ORtxHtv && +⋅= ψ (4.28b)

Resolvendo (4.27), (4.28a) e (4.28b) encontra-se a velocidade angular inicial do

movimento pendular:

( )

−⋅=

L

Hhtsψθ &&

0 (4.29)

Solução da Equação Diferencial

Aplicando as condições iniciais (4.25) e (4.29) em (4.23) e (4.15), temos:

( )pp senC θεθθ ⋅+= 20 (4.30)

( )ppC θεθωωθ cos100 ⋅⋅+⋅=& (4.31)

E após algum algebrismo, temos os coeficientes C1 e C2:

( )ppC θεθωθ

ωcos

10

01 ⋅⋅−= & (4.32)

pp senC θεθθ ⋅−= 02 (4.33)

Substituindo em (4.23) temos a expressão do ângulo do pêndulo livre:

( ) ( ) ( ) ( ) ( )+⋅⋅⋅−+⋅⋅⋅⋅−= TsenTsenT pppp 00000

coscos1

ωεθθωεθωθω

θ θθ&

( )pp Tsen θεωθ +⋅⋅

(4.34)

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Com algum algebrismo é possível transformar (4.34) em um seno com

respectiva amplitude e ângulo de fase, como se segue:

( ) ( ) ( )[ ]pphhp TsenTsenHT θθ εωθεωθθ +⋅⋅++⋅⋅⋅= ˆ0 (4.35)

Onde,

( ) ( )( ) ( ) ( )( )[ ] 21

20

20

2000

220

22220

0

cos2cos1

ωθεωθεωθθεωεωθθω

θ θθθθ ⋅+⋅⋅+⋅⋅⋅−⋅+⋅⋅+= pppppph sensen &&

( ) ( ) ( )( )[ ] 21

20

20

2000

0

cos21

ωθεωθεωθθω

θ θθ ⋅+⋅⋅+⋅⋅⋅−= ppph sen& (4.36)

( )

⋅−=

θ

εθθε

θ

θ

p

h

senarcsen

0

(4.37)

4.7 Velocidade de Impacto

O momento do impacto �� é caracterizado pelo instante no qual o ângulo θ

coincide com o ângulo original ��. Neste instante a relação expressa na equação

(4.38) será satisfeita. Ou seja, o ângulo que determina a posição do pêndulo livre θ em

relação ao referencial inercial será o mesmo do ângulo que determina a posição

original do pêndulo solidário ao navio.

( ) ( )isori ttt += θθ (4.38)

Para encontrar o valor de ��, resolvemos a equação (4.38). A solução algébrica

é possível, porém, devido a complexidade de seus componentes, não é prática. Para o

caso de um problema concreto, pode-se facilmente utilizar uma solução numérica.

Para o caso deste trabalho, entende-se que o valor �� é conhecido a partir deste

momento.

A velocidade observada pelo guincho de contenção, que está fixo ao

referencial “N”, será a velocidade do objeto içado “M” no referencial “N”, que calculada

a partir do teorema cinemático, é dada pela seguinte expressão:

** C

M

NRCRMRMNpvvv ×−−= ω (4.39)

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37

Onde,

MRv = velocidade do objeto M no referencial R;

*CRv = velocidade do centro instantâneo de rotação no referencial R;

NRω = velocidade angular do referencial N no referencial R;

*C

M

p = posição relativa entre o centro instantâneo de rotação e o objeto M.

Sendo,

( ) ( ) ( )( )iisi

MRtLthttv θθψ cos⋅⋅+⋅+−= && (4.40)

( ) http siC

M

NR ⋅+−=× ψω &*

(4.41)

A velocidade do centro instantâneo de rotação *CRv em relação ao referencial

inercial é desprezada, pois é muito pequena se comparada à velocidade do objeto

içado. Substituindo (4.40) e (4.41) em (4.39) e considerando pequenos ângulos, temos

a expressão da velocidade do objeto içado no referencial fixo à embarcação.

( ) Ltv i

MN ⋅= θ& (4.42)

4.8 Condição para Haver Movimento Pendular

O calculo do instante em que o cabo do guincho de contenção soleca foi feito

no item 5.2. No entanto, é possível que o guincho soleque sem ocorrência de

movimento pendular. Para que haja movimento pendular, é necessário que

imediatamente após solecar, o ângulo do pêndulo cresça mais rapidamente que o

ângulo original. Ou seja, é necessário que o objeto içado tenha velocida maior que

zero em relação ao guincho de contenção. Esta velocidade foi definida em (4.42).

Como o comprimento “L” do cabo do guindaste é constante, para saber se a

velocidade é positiva basta avaliar o sinal da velocidade angular � no instante ��. A

condição para haver impacto está portanto descrita em (4.43). Para tanto, criamos a

função descrita em (4.43).

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�(��) > 0 (4.43)

Onde,

( )stθ& = velocidade ângular do pêndulo livre

Caso a condição não seja satisfeita, apesar do cabo do guincho solecar, o

mesmo será retesado imediatamente após a ocorrência, e não haverá portanto

movimento pendular e nem velocidade de impacto relevante.

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5. Parte 3 – Dimensionamento do Absorvedor de Choque

Após a modelagem na seção anterior do período em que o objeto içado pendula

livremente sem a ação do guincho de contenção, esta seção irá tratar do período

subsequente, qual seja, o período que se inicia quando o objeto içado retorna à

posição original e o cabo do guincho de contenção é retesado.

A figura 5.1 ilustra os instantes em questão:

Instante (1) – Objeto içado pendula livremente, sem sofrer a ação do guincho

de contenção;

Instante (2) – Cabo do guincho de retenção é retesado. A velocidade relativa

do objeto içado em relação ao guincho de contenção é 0v , e foi calculada na

seção anterior;

Instante (3) – Após o impacto inicial, o sistema do guincho de contenção

chegou ao ponto de deformação máxima, e a energia proveniente do impacto

foi absorvida.

Figura 5.1 Geometria do problema de impacto incluindo deformações

O foco desta seção será, portanto, estudar os esforços que serão impostos

pelo objeto içado e com velocidade inicial !� ao cabo do guincho de contenção no

período compreendido entre o instante (2) e o instante (3). Após o instante (3)

consideramos que a situação volta ao normal, pois a onda que ocasionou o incidente

já passou e caso haja falha de operação a mesma será corrigida, ou seja, o

comprimento do cabo do guincho será ajustado.

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40

O objetivo é similar ao de [11]. Ou seja, dimensionar um sistema intermediário

que seja capaz de absorver uma determinada quantidade de energia de forma que a

força máxima repassada ao sistema principal esteja dentro de sua capacidade. Neste

caso, o sistema principal é o guincho de contenção propriamente dito, que conforme

descrito na seção 1.3, possui uma carga máxima de trabalho admissível. A energia a

ser absorvida é a energia cinética contida no objeto içado que translada com

velocidade !�, e o sistema intermediário é o que será dimensionado aqui,

considerando-se uma mola linear e um amortecedor viscoso, também linear, em

paralelo. O efeito que este sistema mola-amortecedor tem sobre o modelo

apresentado na Parte 1 será discutido mais adiante.

5.1 Considerações Sobre as Propriedades do Sistema Mola-Amortecedor

Ao contrário do que foi considerado em [11], o sistema a ser utilizado na

operação estudada aqui não pode ser descartável. Ou seja, ao longo de uma

operação, o absorvedor de choque pode ser solicitado em diversas ocasiões. Outra

diferença em relação a [11] é que não foi encontrado na literatura curvas dinâmicas de

tração x elongação para os materiais que poderiam ser utilizados como absorvedores

de choque. Foram encontradas apenas curvas quasi-estáticas, como as apresentadas

em [14]. Devido a esta restrição, optou-se por uma análise global do problema,

considerando então um absorvedor de choque simplificado, conforme ilustrado na

figura 5.2. Esta abordagem permite que seja feito um modelo totalmente analítico, ao

invés de um modelo numérico como utilizado em [11].

Figura 5.2 Esquema do sitema mola-amortecedor

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41

A mola possui constante elástica linear k e o amortecedor possui constante de

amortecimento linear c , de forma que a força “F” no cabo do guincho de contenção

pode ser escrita como:

)()()( tpctpktF &⋅+⋅= (5.1)

Onde, p é a deformação do cabo do guincho de contenção, e p& sua derivada

no tempo. Este sistema massa-mola-amortecedor está sujeito a uma condição inicial

com velocidade !� (calculada na seção anterior) e deformação inicial nula.

O absorvedor de choque pode ser um cabo com rigidez baixa, mas pode ser

composto também por uma mola e um amortecedor industriais dimensionados

especificamente para este propósito. No caso deste trabalho foi considerado o uso de

um cabo de fibra sintética.

5.2 Considerações Sobre a Dinâmica do Problema

Durante o período analisado nesta seção, a embarcação está sujeita a

acelerações devido às ondas. A aceleração no objeto içado foi descrita em (3.11a). A

aceleração do objeto entre os instantes (2) e (3), por sua vez, será da ordem de

aproximadamente 1 m/s2 (como será confirmado no capitulo 7), enquanto que a

aceleração da embarcação naquele ponto é aproximadamente dez vezes menor. Por

isso, a aceleração da embarcação é desconsiderada.

A deformação p será muito pequena se comparada ao comprimento do cabo

do guindaste L e do cabo do guincho de contenção Lc (figura 5.1). Esta consideração

permite estimar, a partir da geometria do problema, a diferença da altura y∆ do objeto

içado entre o instante (2) e o instante (3), como sendo:

xy R ⋅≅∆ θ (5.2)

A diferença de altura do objeto devido à movimentação do navio também será

desprezível dado o curto intervalo de tempo entre os instantes (2) e (3).

Estas duas simplificações sobre a variação da altura do objeto permitem que a

variação da energia potencial gravitacional seja desprezada no modelo. Ou seja,

considera-se que todo o movimento do objeto içado durante o choque se dá no plano

horizontal. Rigorosamente, se o choque se der com ângulo de roll positivo, ao longo do

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choque haveria energia potencial gravitacional sendo liberada, ou seja, a força

calculada no modelo estaria subestimada.

5.3 Modelo

No instante do impacto, o sistema massa-mola-amortecedor está sujeito a

aplicação súbita de uma excitação não periódica. O sistema experimenta, portanto,

uma resposta transiente. Esta oscilação ocorrerá na frequência natural do sistema, até

que, em outro instante, o sistema voltará à configuração de “corpo rígido” e retorna ao

regime permanente. Esta parte do trabalho visa estudar apenas o instante do impacto

em que ocorre o pico de força.

Este trabalho irá adotar um fator de amortecimento sub-amortecido. Esta

premissa se mostrará a mais eficiente, conforme demonstrado ainda nesta seção do

trabalho. A solução para o problema de amortecimento subcrítico é facilmente

encontrada na literatura, por exemplo em [18], de onde temos:

( ) ( ) ( )

⋅⋅−⋅

⋅−

⋅⋅++⋅⋅−⋅⋅= ⋅⋅−

tsenpp

tpetpt

02

02

0000

20 1

11cos0 ωζ

ωζ

ωζωζωζ &

(5.3)

Onde ζ é o fator de amortecimento, ou a razão entre o coeficiente de

amortecimento c e o amortecimento crítico cc do sistema, sujeito às seguintes

condições iniciais:

00 =p (5.4)

00 vp =& (5.5)

Sendo que !� foi calculada no capítulo anterior, em (4.44). Reescrevendo (5.3)

e considerando as condições iniciais, temos:

( ) ( )

⋅⋅−⋅

⋅−⋅= ⋅⋅−

tsenp

etpt

02

02

0 11

0 ωζωζ

ωζ & (5.6)

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43

Introduzindo em (5.6) as variáveis adimensionais tt ⋅= 0ω e ( ) ( )0

0

ptptp

&

ω⋅=

temos:

( ) ( )

⋅−⋅

−⋅= ⋅−

tsenetpt 2

21

1

ζ

ζ (5.7)

A força no conjunto mola amortecedor é dada por (5.1) e foi reescrita em (5.8)

considerando as variáveis adimensionais..

00

0 )()()( ptpcp

tpktF &&&

⋅⋅+⋅⋅=ω

(5.8)

Após algum algebrismo, temos:

⋅+⋅⋅= )(

2

)()( 0 tp

tpcptF c

&& ζ (5.9)

Sendo,

Mkcc ⋅= 2

(5.10)

É possível observar que a força no cabo do guincho de contenção é

proporcional à velocidade de impacto "��, à raiz quadrada da rigidez equivalente do

sistema # e à raiz quadrada da massa $ do objeto içado.

A massa do objeto e a velocidade de impacto são dados de entrada deste

problema, pois não podem ser controlados. A rigidez do sistema, por sua vez, pode

ser definida, de acordo com a disponibilidade comercial dos sistemas que serão

utilizados. Em geral, para um dado material, a rigidez axial é proporcional à carga de

ruptura, de forma que a rigidez axial terá um limite inferior imposto pela disponibilidade

comercial. Por isso, a princípio, não consideramos # como uma variável passível de

ajuste. Uma análise mais aprofundada será feita mais adiante sobre este parâmetro.

Definimos então a variável adimensional F de forma que:

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44

)(2

)()()(

0

tptp

cp

tFtF

c

&

&⋅+=

⋅= ζ (5.11)

Temos, portanto, uma função adimensional que expressa o comportamento da

força exercida sobre o cabo do guincho de contenção ao longo do tempo, em função

do fator de amortecimento. Ou seja, para qualquer sistema massa-mola-amortecedor

sujeito a uma condição inicial com velocidade "�� e deformação inicial nula, a resposta

do sistema ao longo do tempo em função da constante de amortecimento será definida

por (5.11). A figura 5.3 mostra a força normalizada )(tF plotada considerando vários

valores de amortecimento ζ.

0 1 2 3 4 50.5−

0

0.5

F t 0.05, ( )

F t 0.2, ( )

F t 0.4, ( )

F t 0.6, ( )

F t 0.9, ( )

t

Figura 5.3 Força normalizada para vários fatores de amortecimendo

Para valores de amortecimento altos, o valor máximo da força ocorre no

instante zero. Ou seja, o sistema é dominado pela força de amortecimento. Para

valores de amortecimento abaixo de 0,5 (aproximadamente), o valor máximo da força

ocorre num instante diferente de zero. Pela observação da figura é possível observar

também que a força máxima é menor para valores de amortecimento abaixo de 0,5.

Vamos agora achar o máximo da função )(tF . Para achar o ponto máximo de

)(tF para qualquer instante, derivamos a função no tempo e achamos a raiz.

0),(

=∂

t

tF ζ (5.12)

Resolvendo (5.12) para achar o instante em que a força é máxima, temos:

ζ=0,05

ζ=0,2

ζ=0,4

ζ=0,6

ζ=0,9

%�(�)

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45

( )( )

2

2

22

max1

43

411

)(ζ

ζ

ζ

ζ

ζ

ζ−

⋅−

⋅−⋅

=

atg

t (5.13)

Ou seja, no instante maxt a força é máxima. O instante em que a força é

máxima é uma função do amortecimento. Como podemos observar na figura 5.3, para

valores altos de amortecimento, o máximo da função %� ocorre para um valor de tempo

negativo, o que não é aplicável no presente problema. Para determinar o domínio da

função )(max ζt vamos encontrar o amortecimento que faz com que o valor de maxt seja

nulo.

0)(max =ζt (5.14)

Devemos observar, ainda, que como o modelo considera um sistema sub-

amortecido, a seguinte restrição deve ser considerada para o amortecimento:

10 << ζ (5.15)

Considerando (5.15), resolvemos (5.14) e encontramos o seguinte valor

máximo de amortecimento:

5,0max =ζ (5.16)

Para valores de amortecimento superiores a este, o instante em que a força é

máxima, dado pela equação (5.13) dá valores negativos, o que não é representativo

para o problema em questão. Na prática isto significa que para valores de

amortecimento acima de maxζ , o valor máximo da força será no instante zero.

Deve-se portanto definir uma nova função chamada de )(max ζT considerando

(5.16):

)()( maxmax ζζ tT = se max0 ζζ <≤

(5.17)

0)(max =ζT se maxζζ ≥

(5.18)

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46

A função )(max ζT está ilustrada na figura 5.4

0 0.2 0.4 0.6 0.80

0.5

1

1.5

Tmax ζ( )

ζ

Figura 5.4 – Função Tmax

Definimos portanto a força máxima normalizada em função do amortecimento

da seguinte forma:

),()( maxmax ζζ TFF = (5.20)

O objetivo agora é encontrar o valor ideal para o amortecimento ζ de forma a

minimizar a força máxima %�&'( no guincho de contenção. A força normalizada em

função do amortecimento pode ser vista na figura 5.5, como a curva cheia. A curva

tracejada mostra a contrinuição da força da mola de rigidez k , e a curva pontilhada

mostra a contribuição da força de amortecimento.

0 0.2 0.4 0.6 0.80

0.2

0.4

0.6

0.8Fmax ζ( )

Fel ζ( )

Fam ζ( )

ζ

Figura 5.5 – Contribuição da componente elástica e de amortecimento

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47

O deslocamento máximo é um fator que deve ser verificado, porém não é

determinante para o dimensionamento do sistema, por isso será tratado

separadamente, no estudo de caso. Podemos ver pela figura 5.5 que o amortecimento

que dá a menor força no guincho de contenção está na faixa em que a força tem

contribuição tanto da parcela elástica quando da parcela de amortecimento. Para

achar o valor exato, derivamos a equação (5.20) e achamos a raiz, encontrando assim

o valor ideal para o amortecimento.

265,0=otimoζ

Para valores de amortecimento diferentes deste, há um acréscimo na força

máxima. Para valores menores que o amortecimento ótimo, a contribuição da força

elástica se acentua. Para valores superiores ao amortecimento ótimo, a contribuição

da força de amortecimento se acentua, chegando a dominar totalmente a força quando

o fator de amortecimento chega a 0,5.

Substituindo este valor em (5.20), temos o valor máximo absoluto absFmax para

a força normalizada, que será:

405,0max =absF

É possível também aplicar o valor máximo absoluto para a função original

absFmax substituindo o valor encontrado em (5.11):

cabsabs cpFF ⋅⋅= 0maxmax &

(5.21)

É possível concluir que caso haja incerteza sobre o coeficiente de

amortecimento, é melhor não ter amortecimento algum, pois o ganho propiciado pelo

amortecedor é modesto comparado com o eventual prejuízo causado por um

amortecedor mal projetado.

5.4 Considerações Sobre a Rigidez da Mola

Voltamos agora a avaliar a escolha da rigidez axial do sistema. A rigidez axial

provavelmente será fornecida por um cabo de aço, ou por um cabo de fibra sintética.

Em ambos os casos, a rigidez axial está diretamente relacionada à força máxima de

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48

ruptura suportada pelo cabo. Definimos o fator como a correlação entre essas duas

grandezas, como se segue:

MBLEA ⋅= γ (5.22)

Onde,

MBL = carga mínima de ruptura (minimum breaking load)

EA = rigidez axial a 20% da carga

Relacionamos a rigidez axial com a constante de rigidez k como:

cL

EAk = (5.23)

Onde, cL é o comprimento do cabo.

É possível ainda relacionar a força máxima esperada no cabo do guincho de

contenção durante a operação, e a força máxima suportada pelo cabo, por um fator de

segurança FS, como se segue:

MBLFFS abs =⋅ max (5.24)

Substituindo (5.24) e (5.22), em (5.23), temos:

c

abs

L

FFSk max⋅⋅

(5.25)

Substituindo (5.25) e (5.10) em (5.21), temos:

ML

FFSpFF

c

abs

absabs ⋅⋅⋅

⋅⋅⋅= max0maxmax 2

γ&

(5.26)

Isolando o termo absFmax

e simplificando (5.26), temos:

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49

c

absabsL

FSMFpFγ

⋅⋅⋅⋅⋅=2

max2

0max 4 &

(5.27)

Após a definição do amortecimento ideal, deve-se escolher agora o material

ideal em termos de rigidez axial. Deve-se ter o maior comprimento possível de cabo

Lc, e a menor relação γ entre rigidez e carga de ruptura. O absorvedor de choque

deverá servir para uma vasta gama de embarcações e equipamentos. O sistema pode

consistir de uma mola e um amortecedor viscoso, ou pode utilizar cabos de fibra

sintética.

No caso do uso do amortecedor viscoso, tem-se um sistema com

comportamento conhecido, já que é possível dimensionar e adquirir, sem dificuldades,

amortecedores na indústria com ampla gama de fator de amortecimento.

A opção de se usar cabos de fibra sintética para obter a rigidez e o fator de

amortecimento calculados neste trabalho depende do conhecimento das propriedades

do cabo quando solicitado dinamicamente. Este conhecimento dependerá de testes

dinâmicos desses materiais. A vantagem de usá-los é que são mais baratos e mais

leves do que o conjunto mola-amortecedor industrial.

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50

6. Estudo de Caso

Neste capítulo, a metodologia proposta nas partes 1, 2 e 3 será aplicada a um

caso com valores reais. O ângulo estático mínimo a ser mantido durante a operação

será calculado utilizando a equação (3.24a), de forma que a força no guincho de

contenção dada por (3.25) seja sempre positiva. Com isso, também é possível calcular

a força máxima esperada para o guincho de contenção.

Caso haja falha de execução durante a operação, que resulte em um ângulo

estático � menor que o nominal, combinado com a incidência de uma onda com

altura igual à da onda de projeto ��, o guincho de contenção irá solecar. Isto vai fazer

com que o objeto içado comece a pendular livremente, até que o guincho de

contenção seja retesado novamente. Neste momento, toda a energia cinética do

objeto içado será absorvida pelo cabo do guincho de contenção. Esta energia cinética

é função da velocidade relativa entre o objeto içado e o guincho de contenção. Esta

velocidade será calculada utilizando-se a equação (4.42). A influência de α -

parâmetro que indica a diferença entre o ângulo errado � e o ângulo nominal que

deve ser mantido entre o cabo do guindaste e o eixo vertical da embarcação - na

velocidade de impacto será avaliada. O ângulo máximo do cabo do guindaste em

relação ao eixo vertical da embarcação durante o movimento pendular também será

avaliado.

Finalmente, com a velocidade de impacto conhecida, será dimensionado um

absorvedor de choque, que será composto por uma mola linear e um amortecedor

viscoso linear em paralelo. O objetivo deste absorvedor de choque é minimizar a força

máxima no cabo do guincho de contenção. O coeficiente de amortecimento otimoζ será

utilizado. A força máxima será calculada utilizando (5.27). O coeficiente de rigidez da

mola será calculado utilizando (5.25), considerando as propriedades conhecidas para

um cabo de poliamida (maiores detalhes na seção 6.3). A influência do comprimento

do cabo que compõe o absorvedor de choque será avaliada. Como a rigidez axial da

mola não foi considerada na parte 1, o impacto que a inclusão da mola em série com o

cabo do guincho de contenção tem no modelo considerado na parte 1 também será

simplificadamente avaliado. Para tanto será considerado um sistema com geometria

conforme descrito na tabela 6.1 e figura 6.1. Trata-se de uma geometria típica de um

navio de construção, com guindaste com capacidade de içamento de

aproximadamente 400 toneladas-força.

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51

Tabela 6.1 – Dados de entrada do exemplo

Descrição Símbolo Valor Unidade

Massa do objeto içado M 300 mt

Ver figura 6.1 h 5 m

Ver figura 6.1 d 15 m

Ver figura 6.1 H 50 m

Comprimento do cabo do guindaste L 40 m

Altura de onda de projeto Hp 2,5 m

Período da onda de projeto T 11,0 s

A massa considerada para o objeto içado é de 300 toneladas, bem

representativa de um equipamento submarino tipo manifold.

O RAO considerado é compatível com o de uma embarcação com capacidade

de içamento de 400 toneladas.

Figura 6.1 – Geometria do problema

Premissas e hipóteses adotadas:

• Influência do vento desprezada;

• Movimento da embarcação calculado pelo RAO (desacoplado);

• Embarcação sujeita a pequenos ângulos;

• Controle do objeto na direção longitudinal não considerado;

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52

• Rigidez infinita entre o objeto içado e a embarcação para o

dimensionamento do ângulo estático;

• Ondas regulares;

• Pequenos deslocamentos para o movimento pendular;

• Componente vertical do movimento da lança não considerada para o

cálculo do movimento pendular;

• Velocidade de translação da embarcação desprezada para o cálculo da

velocidade de impacto;

• Aceleração da embarcação durante o impacto desprezada;

• Variação de energia potencial durante o impacto considerada nula.

6.1 Parte 1 – Dimensionamento do Ângulo Estático

Como a função de transferência obtida na seção 3.2 é linear, a carga resultante

é proporcional à amplitude da onda. Isso significa que as cargas das ondas que

formam um estado de mar arbitrário podem ser sobrepostas.

Conhecendo-se o RAO da embarcação, é possível então plotar a função de

transferência calculada na seção 3.2. Conforme descrito em [19], o RAO é uma função

de transferência normalizada em relação à amplitude da onda, e calculada para uma

faixa de frequências de onda suficientemente ampla para representar o

comportamento de um sistema a partir da onda incidente. Para descrever o

comportamento de uma embarcação, o RAO deverá possuir 6 componentes, um para

cada grau de liberdade.

Figura 6.2 – RAO para sway e para roll típico de uma embarcação de construção para ângulo de

incidência de 15º

0 4 8 12 16 200

0.06

0.12

0.18

0.24

0.3

Período [s]

Am

plit

ude

de S

way

[m

/m]

xxj

T j

0 4 8 12 16 200

0.4

0.8

1.2

1.6

2

Período [s]

Am

plit

ude

de R

oll [

grau

s/m

]

ψψj180

π⋅

Tj

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53

0 4 8 12 16 200

0.6

1.2

1.8

2.4

3

100−

50−

0

50

100

Período [s]

Âng

ulo

Din

âmic

o [g

raus

/m]

Fas

e do

Âng

ulo

Din

âmic

o [g

raus

]

180

πθθd j( )

180

πεd j( )

Tj

Figura 6.3 – Função de Transferência do ângulo dinâmico θd

Aplicando valores de RAO de uma embarcação, conforme a Figura 6.2, com

ângulo de incidência de 15º em relação à proa, e considerando uma altura “h” de 5

metros em relação ao centro de rotação, obtemos valores para ( )ωθ d conforme Figura

6.3.

De acordo com a Figura 6.3, para este sistema, o ângulo dinâmico θd possui

um pico de resposta para um período em torno de 13,5 segundos. Neste caso, com

uma onda de amplitude unitária, o sistema responderia com um ângulo dinâmico de

aproximadamente 2,4 graus, o que exigiria, por sua vez, um ângulo estático θe de no

mínimo 2,4 graus, de forma e evitar que o cabo venha a solecar.

A Figura 6.4 mostra a contribuição do roll (linha tracejada) e do sway (linha

pontilhada) para o ângulo dinâmico final (linha cheia). Não é uma soma direta pois a

figura não contabiliza o efeito do ângulo de fase. No entanto, é possível observar que

a contribuição do sway é modesta, sendo o sistema governado pelo movimento de roll.

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54

Figura 6.4 – Contribuição de sway e de roll para o ângulo dinâmico θd

Para a onda e o período de projeto considerados no estudo de caso, teremos

um ângulo estático mínimo de 2,0 graus.

Dimensionamento do guincho de contenção:

Aplicando os valores do estudo de caso e o ângulo estático de 2,0 graus à

equação (3.25), é possível calcular a força máxima no guincho de contenção, que será

de 21 toneladas força para o ângulo estático.

Para dimensionar o guincho de contenção é necessário incluir ainda uma folga

devido ao aumento do ângulo entre um passo e outro, como discutido no item 4.1.

Considerando que durante a sequência operacional o ângulo máximo será 20% do

ângulo nominal, teremos uma força máxima no guincho de 23 toneladas força, de

acordo com a equação (3.25).

6.2 Parte 2 – Estimativa da Velocidade de Impacto

Movimento da ponta da lança:

Conforme apresentado na parte 2, a amplitude do movimento horizontal )� da

ponta da lança do guindaste excita o pêndulo e causa o movimento pendular (equação

5.13). A figura 6.5 mostra a contribuição do movimento de roll (linha pontilhada) e de

sway (linha tracejada) para o movimento total )� da ponta da lança do guindaste (linha

cheia) de uma embarcação de instalação submarina típica. É possível observar que a

0 4 8 12 16 200

0.6

1.2

1.8

2.4

3

Período [s]

Âng

ulo

Din

âmic

o [g

raus

/m]

AngDin j( )

ContrRoll j( )

ContrSway j( )

Tj

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55

0 5 10 15 200

0.5

1

1.5

2

X0 j( )

Xroll j( )

Xsway j( )

Tj

principal contribuição é devido ao roll. Tendo em vista o termo cruzado (fase relativa

dos movimentos), o sway atua no sentido de reduzir o movimento total. Seria possível,

portanto, considerar apenas o movimento de roll, porém esta abordagem seria

exageradamente conservadora.

Figura 6.5 – Movimento horizontal da ponta da lança do guindaste de uma embarcação típica.

Movimento pendular:

O movimento pendular foi descrito na parte 2 pela equação (4.35), que possui

partes homogênea e particular. A figura 6.6 ilustra a relação entre a amplitude da parte

homogênea e particular. O eixo y representa o módulo da divisão da amplitude da

solução homogênea pela amplitude da solução particular. É possível observar que

para períodos pequenos, a solução homogênea predomina. Ou seja, o movimento

pendular é governado pela velocidade angular inicial do pêndulo. À medida que o

período de excitação se aproxima do período natural do pêndulo, que neste caso é de

12,7 segundos, a parte particular da solução passa a ter a mesma ordem de grandeza

da homogênea.

Além da relação entre as amplitudes da solução homogênea e particular da

figura 6.6, plotamos, agora na figura 6.7, o módulo da diferença entre o ângulo de fase

em graus da solução homogênea e particular, para períodos entre 4 e 16 segundos. A

figura não mostra nenhuma tendência clara, porém é possível observar que em torno

do período 6,5 segundos, 11,5 segundos, 13 segundos e 13,5 segundos, ambas as

soluções estão em fase. Para períodos de aproximadamente 9,5 segundos, ambas as

soluções estão defasadas de quase 150º, portanto, estão fora de fase.

Período [s]

X0

Roll

Sway

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56

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 160

15

30

45

60

75

90

105

120

135

150

165

180

mod ts j, ( )

Tj

4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 160

1

2

3

4

5

Aθθ h ts j, ( )

θθb j( )

j

Figura 6.6 – Relação entre solução homogênea e particular

Figura 6.7 – Relação entre ângulos de fase da solução homogênea e particular

A partir das figuras 7.6 e 7.7 é possivel concluir, portanto, que tanto a solução

homogênea quanto a solução particular incluindo suas respectivas fases devem ser

consideradas no calculo da velocidade de impacto.

*+,*+-

Período [s]

./0 − /�.

Período [s]

Ângulo [graus]

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57

Condição para haver movimento pendular:

O critério para haver impacto é dado pela equação (4.43) e indica se o ângulo

do pêndulo livre é maior que o ângulo original, fixo ao referencial do navio, para o

instante ��. Valores negativos indicam que o ângulo do pêndulo livre é menor que o

ângulo original. Para estes casos não ocorre velocidade de impacto relevante, pois

imediatamente após o cabo do guincho solecar já ocorre um impacto com velocidade

desprezível.

Valores positivos indicam que o ângulo do pêndulo livre no instante

imediatamente posterior a �� é maior que o ângulo original. Neste caso o impacto

ocorrerá com velocidade não desprezível.

A equação (4.43) está plotada na figura 6.8a, para uma faixa de período entre 6

e 16 segundos. A curva cheia se refere a um valor de 2 = 0,2. A curva pontilhada se

refere a um valor de 2 = 0,7. A curva tracejada se refere a um valor de 2 = 0,9.

Na figura 6.8a, é possível observar que para períodos entre 6 e 9 segundos,

para período de 13,0 segundos e para períodos acima de 14 segundos o valor da

equação (4.43) é negativo. Para estes períodos o impacto ocorre imediatamente após

o cabo do guincho solecar, com velocidade desprezível. Para períodos entre 9,5 e

12,5 segundos e para período de 13,5 segundos o valor da equação (4.43) é positivo.

Para estes períodos o impacto ocorre no instante ��, com velocidade não desprezível.

É possível observar também que o valor de α interfere na velocidade angular no

instante ��, mas não interfere na ocorrência ou não de impacto.

Figura 6.8a – Condição para haver impacto

6 6.5 7 7.5 8 8.5 9 9.5 10 10.5 11 11.5 12 12.5 13 13.5 14 14.5 15 15.5 160.05−

0

0.05

vv20mn j( )

vv60mn j( )

vv90mn j( )

Tj

�(��)

α = 0,2

α = 0,7

α = 0,9

Período da onda de projeto T [s]

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58

Figura 6.8b – Condição para haver impacto

A figura 6.8b mostra no eixo y principal o critério de impacto dividido pelo seu

módulo. Valores positivos indicam que ocorre impacto. No eixo y secundário está

plotado o valor de �� dividido pelo período T. Valores próximos a 1 indicam que o cabo

soleca com �� próximo ao valor de T. A figura foi plotada para a mesma faixa de

períodos da figura 6.8a.

É possível associar a ocorrência ou não de impacto com o instante �� em que

o cabo soleca. Para períodos de onda em que o cabo soleca relativamente mais cedo

ocorre impacto. Para períodos de onda em que o cabo soleca relativamente mais tarde

não ocorre impacto.

Velocidade de impacto:

A velocidade de impacto é calculada pela equação (4.42), e é proporcional à

altura da onda. A figura 6.9 mostra a velocidade de impacto para uma onda unitária

(eixo y da figura) em função do erro α (equação (4.5)), para períodos de onda de 9,5 a

13,5 segundos. O valor de α vai de “zero “a “um”, sendo que em “um” o erro não

existe, e em zero, o ângulo errado é igual a zero.

O período de 12,5 segundos (curva marcada com “x”) foi o que deu a maior

velocidade de impacto, seguido pelo período de 13,5 segundos (curva marcada com

“*”). Em seguida, as maiores velocidades de impacto foram para os períodos 11,0

segundos, 10,0 segundos e 9,5 segundos.

Analisando a figura 6.9a juntamente com a figura 6.8, é possível inferir que a

velocidade de impacto está diretamente ligada ao afastamento inicial do objeto içado

da posição original. Quanto maior é o afastamento inicial, maior é a velocidade de

impacto.

A figura 6.9a mostra também que não há relação direta entre o erro α e a

velocidade de impacto. Ou seja, um erro maior não implica em uma velocidade de

impacto maior. Por exemplo, para os períodos de 12,5 e 13,5 segundos, a maior

6 6.5 7 7.5 8 8.5 9 9.5 10 10.5 11 11.5 12 12.5 13 13.5 14 14.5 15 15.5 161−

0

1

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

vv20mn j( )

vv20mn j( )

Ts 0.2 j, ( )

Tj

TjPeríodo da onda de projeto T [s]

���

� (�6).� (�6).

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59

velocidade de impacto foi para um valor de α de 0,4. Para um erro menor, a

velocidade de impacto cai. O mesmo ocorre para um erro maior.

Para períodos de 11,0 e 10,0 segundos, a maior velocidade de impacto foi para

um valor de α de 0,1. Para o período de 9,0 segundos, a maior velocidade de impacto

foi para um valor de α de 0,55.

Figura 6.9 – Velocidade de impacto em função de α

A figura 6.10 mostra o instante em que ocorre o impacto em função do erro α,

também para períodos de onda de 9,5 a 13,5 segundos. Este é um resultado

intermediário, portanto não é de grande interesse. Comparando as figuras 6.9 e 6.10 é

possível concluir que o instante do impacto não tem relação direta com a velocidade

do impacto. Por exemplo, o período de onda que gerou maior valor de ti não é o

mesmo que gerou a maior velocidade de impacto.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Ve

loci

dad

e d

e im

pac

to (

m/s

)

α(-)

9,5

10,0

11,0

12,5

13,5

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60

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Inst

ante

do

imp

acto

ti (

s)

α(-)

9,5

10,0

11,0

12,5

13,5

0 1 2 3 40

1

2

3

Tempo [s]

Âng

ulo

[gra

us]

θnavio t ts, ( )

θR180

π⋅

t

Figura 6.10 – Instante do impacto ti em função de α

Considerando os valores do estudo de caso, a velocidade de impacto

considerada é de 1 metro por segundo.

A figura 6.11 ilustra o ângulo relativo θ89:(t) entre o cabo do guindaste e o eixo

vertical da embarcação e também o ângulo estático real θ< (incluindo o erro de

operação) do cabo do guindaste em relação ao eixo vertical da embarcação. O

instante zero é quanto o movimento pendular se inicia. Neste instante o ângulo θ89:(t) é igual a θ<. Durante o movimento pendular, θ89:(t) atinge o valor máximo de 2,7

graus. O valor máximo admitido para o guindaste é tipicamente 5 graus. No instante

� = �� o ângulo θ89:(t) volta a ter o mesmo valor que o ângulo estático θ<. É neste

instante que ocorre o impacto.

Figura 6.11 – Ângulo relativo entre guindaste e navio

θrel(t)

θR

Tempo [s]

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61

6.3 Parte 3 – Dimensionamento do Absorvedor de Choque

De acordo com a equação (5.21), de forma a minimizar a força máxima

observada no guincho de contenção durante o impacto, devemos ter ζotimo = 0,265 e a

menor rigidez axial possível.

Para encontrar a força máxima no cabo do guincho de contenção, vamos

considerar um valor para γ referente a um cabo de poliamida. A curva tensão

deformação para o cabo em questão na condição seca foi retirada de [14], e replicada

abaixo na figura 6.12. Esta curva é obtida em uma condição quasi-estática, o que não

representa bem a aplicação do presente estudo. É esperado que a curva dinâmica

apresente uma rigidez mais elevada, porém não foi possível encontrar curvas

dinâmicas na literatura.

Figura 6.12 – Curva tensão deformação para cabo de poliamida seco (Fonte: HAACH [14])

Considerando que será adotado um fator de segurança de aproximadamente 5,

vamos considerar a relação tensão x deformação para uma faixa de até 20% da força

de ruptura. Consideramos também que o comprimento considerado para o cabo de

poliamida já leva em consideração o comprimento perdido com “bedding elongation”.

Ou seja, a formulação leva em conta que o cabo já parte de um estiramento inicial de

7%. Teremos então:

3,3713

120=

−=γ

O fator de segurança escolhido é de 5, e o comprimento de cabo escolhido é

de 10 metros. Consideramos ainda uma velocidade de impacto de 1,0 metro por

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segundo, o que equivale, de acordo com a figura 6.9 a um valor de 2 = 0,1 e um

período de onda de 11 segundos, com uma onda de 2,5 metros de altura.

Aplicando os valores à equação (5.27), temos:

c

absabsL

FSMFpFγ

⋅⋅⋅⋅⋅=2

max2

0max 4 &

kNF abs 8,32410

3,35300405,00,14 22

max =⋅⋅⋅⋅⋅=

Ou seja, a força máxima do guincho de contenção durante o impacto será de

324,38 kN. Fazendo agora o cálculo inverso para dimensionar o cabo adequado,

substituimos o valor da força máxima encontrada em (5.24), para obter a força mínima

de ruptura do cabo, que será 1624 kN.

Para esta força de ruptura, de acordo com (5.23) teremos uma rigidez #

de 536 #> ?⁄ .

O amortecimento crítico, dado por (5.10) é 7867 #> 6⁄ . O amortecimento será:

ζ⋅= ccc

Que dá 2080 #> 6⁄ .

6.4 Resumo dos Resultados

A tabela 6.2 resume os resultados analisados no estudo de caso e inclui dois

casos, um com valor de α de 0,5 e outro com α de 0,8

Pelos resultados expostos, é possível observar que, seguindo a metodologia

proposta, para valores baixos de α, o dimensionamento do guincho de contenção será

governado pelo problema de impacto tratado nas partes 2 e 3. Nestes casos, a tração

máxima atingida durante o impacto foi maior que a tração máxima atingida durante a

fase controlada da operação, modelada na parte 1. Por exemplo, para α=0,5 a força

máxima durante o impacto foi de 219kN enquanto que a força máxima na fase

controlada foi de 206kN. Para valores altos de α, neste caso acima de 0,5, o

dimensionamento do guincho de contenção será governado pelo problema tratado na

parte 1. Por exemplo, para α=0,8 a força máxima durante o impacto foi de 61kN

enquanto que a força máxima na fase controlada foi de 206kN.

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63

Tabela 6.2 – Resumo dos resultados

Altura da onda de projeto Hp 2,5 [m]

Período da onda de projeto T 11,0 [s]

Ângulo estático nominal 2,0 [graus]

Tração máxima no guincho de contenção durante movimento controlado �A&'( 206 [kN]

Relação entre o ângulo errado e o ângulo estático nominal α 0,1 0,5 0,8 [-]

Velocidade de impacto !� 1,0 0,82 0,43 [m/s]

Rigidez da mola k 536 360 99 [kN/m]

Coeficiente de amortecimento c 2090 1707 897 [kN/s]

Tração máxima no guincho de contenção após o impacto %&'('B� 324 219 61 [kN]

Deformação máxima do absorvedor de choque1 - 6 6 6 [%]

A deformação máxima do absorvedor de choque foi de 6% para todos os

casos. Como o dimensionamento é feito em funçõa do MBL e do fator de segurança é

esperado que a deformação máxima para todos os casos seja a mesma. Somado à

deformação de pré estiramento do cabo de 7% este valor dá uma deformação total de

13%, compatível com o carregamento de 20% do MBL.

A escolha do ângulo errado, representado pelo parâmetro α, considerado no

dimensionamento do sistema é, portanto, de suma importância. Dada a dificuldade em

se monitorar este parâmetro, que depende somente da coordenação entre a operação

do guindaste e do guincho de contenção, é recomendável que se adote sempre o valor

de 0,1.

Ainda considerando os dados referentes ao estudo de caso, a figura 6.13

mostra a variação da força máxima no guincho de contenção após o impacto

considerando um absorvedor de choque composto por um cabo de comprimento Lc

variando de 2 a 12 metros. Comprimentos menores aumentam a rigidez do sistema e

causam um aumento considerável da força máxima.

Na prática este comprimento pode ser limitado pela arquitetura do convés da

embarcação. Caso o cabo do guincho de contenção seja todo de fibra sintética, este

comprimento irá aumentar no decorrer da operação, e este comprimento poderá ser

aumentado tanto quanto necessário. A arquitetura do convés deixa de ser um

1 Não incluindo 7% de pré estiramento do cabo.

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problema, pois o cabo pode ter seu comprimento aumentado sendo desviado por

polias.

Figura 6.13 – Força máxima no guincho durante o impacto em função do comprimento Lc

A parte 1 considerou que o cabo do guincho de contenção tem rigidez infinita.

Ao se incluir uma mola de rigidez k, é necessário avaliar a deformação causada pela

força Tcmax aplicada à mola. Trata-se de um sistema amortecido sendo excitado por

uma força harmônica de amplitude Tcmax. De acordo com [RAO pp105], a amplitude de

resposta será dada por:

) = %�C(# − ? ∙ EF)F + HF ∙ EFIJ F⁄

A figura 6.14 mostra a deformação da mola em relação ao desvio da posição

Lerro causada por α. Mesmo considerando a mola com comprimento de 12 metros, a

deformação máxima da mola causa um desvio da posição nominal inferior a 15% do

desvio causado pela premissa de que α = 0,1. Na prática este valor será ainda maior,

visto que a excitação não é perfeitamente harmônica, mas sim irregular.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

0 2 4 6 8 10 12

Forç

a m

áxim

a n

o g

uin

cho

de

co

nte

nçã

o (

F max

abs)

[kN

]

Comprimento da mola (Lc) [m]

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Figura 6.14 – Amplitude de oscilação do sistema massa mola amortecedor

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

0 2 4 6 8 10 12

X

--------------------------------------------

Lerro

Comprimento da mola (Lc) [m]

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7. Conclusões e Recomendações

Este trabalho focou no desenvolvimento de um modelo de um sistema de

auxílio ao overboarding de estruturas submarinas, com o objetivo de tornar a operação

mais segura. Para tanto, o trabalho divide o problema em três Partes. Cada Parte

pode ser desenvolvida independentemente das demais em trabalhos futuros. O

objetivo deste trabalho não foi encerrar nenhuma das três Partes, mas sim apresentar

o problema de forma mais abrangente.

Na Parte 1 (capítulo 3) foi proposta uma metodologia para a execução da

operação considerando um ângulo estático mínimo a ser respeitado.

A metodologia descrita na Parte 1 pode ser aplicada imediatamente nas

operações offshore, pois não depende de qualquer desenvolvimento em termos de

equipamento ou teoria. Trata-se apenas de um detalhamento do procedimento de

overboarding que irá coordenar o movimento dos dois elementos principais já

empregados atualmente, a saber, o guindaste principal, e o guincho de contenção.

Esta coordenação exigirá disciplina dos operadores de convés e aumentará o tempo

total de execução da manobra. No entanto, a mesma será feita de forma mais

controlada do que é realizada atualmente.

Como desenvolvimento futuro, sugere-se que o problema seja revisitado

considerando agora que o cabo do guincho de contenção tem rigidez axial finita. Esta

consideração torna o problema bastante mais complexo, já que elimina a possibilidade

de considerar o sistema funcionando como um corpo rígido.

É possível ainda desenvolver o problema a partir de uma abordagem

probabilística, onde uso do espectro de onda aplicado à função de transferência

encontrada neste trabalho geraria um espectro de resposta do sistema.

Existem outras possibilidades de desenvolvimento alternativas à solução

proposta na Parte1. Uma delas seria o uso de um guincho de contenção com controle

ativo do comprimento baseado na leitura da força de tração. Desta forma, quando a

tração se aproximar de um valor mínimo, o guincho deveria reduzir o comprimento do

cabo até que a tração atingisse um valor nominal. O movimento oposto ocorreria

quando a tração atingisse um valor máximo. Neste caso o comprimento de cabo seria

aumentado até a tração atingir o valor nominal. Esta funcionalidade pode ser incluída

neste tipo de equipamento, no entanto, aumenta consideravelmente seu custo. Além

disso, a utilização eficaz demandaria análise da velocidade necessária para o

equipamento, de forma que a correção de comprimento seja feita rápida o suficiente.

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Na Parte 2 (capítulo 4) foi proposta uma metodologia para calcular a velocidade

de impacto no caso de falha na execução da metodologia proposta na Parte 1. O

resultado fornecido pela metodologia proposta na Parte 2 já pode ser empregado, pois

da mesma forma, não depende de qualquer desenvolvimento adicional. Além da

velocidade de impacto, é possível também avaliar se, durante o movimento pendular,

o ângulo máximo do cabo do guindaste em relação ao eixo vertical da embarcação

está dentro do admissível para o equipamento.

Na Parte 3 (capítulo 5) foi proposta uma metodologia para se dimensionar um

sistema capaz de absorver a energia cinética do objeto no caso de um impacto com a

velocidade calculada na Parte 2. A metodologia apresentada é bastante simplificada,

pois considera uma mola e um amortecedor lineares postos em paralelo.

A aplicação desta metodologia depende do desenvolvimento tecnológico do

absorvedor de choque, com as propriedades mecânicas de amortecimento e rigidez

conforme proposto. Este equipamento não está disponível comercialmente, porém não

deve demandar nenhum grande avanço técnico, mas sim uma combinação de

elementos em um equipamento.

Outra possibilidade é o uso de cabos de fibra sintética com baixa rigidez axial,

como foi proposto no Estudo de Caso do capítulo 6. Neste caso, para aplicação

correta deste material é necessário maior conhecimento sobre suas propriedades

mecânicas (rigidez axial e amortecimento) quando submetidos a aplicação dinâmica

(com velocidade de elongamento significativa). Os valores disponíveis na literatura são

para aplicações quasi-estáticas, com velocidade de elongamento próxima a zero. O

maior conhecimento das propriedades deste tipo de material em aplicações dinâmicas

é uma outra possibilidade de desenvolvimento futuro. Foi possível concluir também

que valores elevados do coeficiente de amortecimento aumentam a força máxima

durante o impacto, de forma que talvez seja preferível não ter amortecimento algum.

O uso de cabos de fibra como absorvedores de choque no sentido horizontal

poderia ser um primeiro passo para posteriormente se considerar o uso no sentido

vertical, ou seja, no cabo que sustenta a carga. Isso possibilitaria eliminar parcialmente

o critério de slack previsto em [2], passando a avaliar a velocidade de impacto após a

ocorrência do slack, e se o sistema é capaz de absorver este impacto. Esta prática

possibilitaria aumentar consideravelmente o estado de mar admissível na instalações

de estruturas que apresentam amplificação dinâmica elevada.

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Referências

[1] C. CERMELLI, D. MORRISON, H. C. SAN MARTIN, M. GUINN, “Progression of

Ultradeep Subsea Deployment Systems,” OTC 15147, 2003.

[2] DNV Recommended Practice DNV-RP-H103, April 2010.

[3] Z. DING, B. REN, Y. WANG, X. REN, “Experimental Study of Unidirectional

Irregular Wave Slamming on the Three-Dimensional Structure in the Splash Zone”,

Ocean Engineering 35 (2008) 1637–1646.

[4] B. REN, Y. WANG, “Experimental Study of Irregular Wave Impact on Structures in

the Splash Zone”, Ocean Engineering 30 (2003) 2363–2377.

[5] B. REN, Y. WANG, “Numerical Simulation of Random Wave Slamming on

Structures in the Splash Zone”, Ocean Engineering 31 (2004) 547–560.

[6] F. E. ROVERI, M. C. DE OLIVEIRA, M. J. MORETTI, “Installation of a Production

Manifold in 2000 ft Water Depth Offshore Brazil”, OTC 8237, 1996.

[7] O. VENNEMANN, I. FRAZER, R.TÖRNQVIST, “Extending the Use of Conventional

Construction Technology for the Installation of Subsea Production Facilities in Deep

Water”, OTC 19334, 2008.

[8] M. L. P. G. RIBEIRO, Concepção de Manifolds Submarinos para Lançamento

Pendular em Águas Ultra Profundas. Dissertação de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil, 2008.

[9] K. P. THIAGARAJAN, N. YANN, “Assessment of One Company’s Regulations for

Offshore Lifting Operations”, OTC 13242, 2001.

[10] K. SEKITA, H. KIMURA, M. TATSUTA, “Dynamic Lifting Analysis of Offshore

Structures”, OTC 5287, 1986.

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[11] A. B. SPIERINGS, R. STAMPFLI, “Methodology for the Development of an Energy

Absorber: Application to Worker Security Ropes”, International Journal of Impact

Engineering 32 (2006) 1370–1383.

[12] D. R. H. JONES, “Analysis of a Fatal Bungee-Jumping Accident”, Engineering

Failure Analysis 11 (2004) 857–872.

[13] J. L. TRUEBA, J. P. BALTANÁS, M. A. F. SANJUAN, “A Generalized Perturbed

Pendulum”, Chaos, Solitons and Fractals 15 (2003) 911–924.

[14] L. F. HAACH, “Performance Analysis of Mooring Hawser Prototypes Manufactured

with Different Kinds of Constituent Materials”, OTC 19821, 2009.

[15] C. F. RULLI, J. P. RINO, “Oscilações Paramétricas: Uma Simulação Numérica”,

Revista Brasileira de Ensino de Física, V.29, n.1, 2007.

[16] R. A. TENENBAUM, “Dinâmica”, pp 150-157, Editora UFRJ, 1997.

[17] W. E. BOYCE, R. C. DIPRIMA, “Equações Diferenciais Elementares e Problemas

de Valores de Contorno”, pp 114-115, Editora LTC, 1999

[18] S. RAO, “Vibrações Mecânicas”, pp 66-68, Editora Pearson Prentice Hall, 2008.

[19] S. K. CHAKRABARTI, “Hydrodynamics of Offshore Structures”, pp 392-393,

Computational Mechanics Publications, 1987.

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Anexo I

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COPPE - PENO

COV 705 – Problemas Especiais em Engenharia Oceânica

Instabilidade Paramétrica de Mathieu

Aluno: Rafael M. Guigon de Araujo Professor: Murilo Vaz Rio, 22 de dezembro de 2009

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Índice

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3

2. MODELO .......................................................................................................... 4

3. PROBLEMA 1 – CASO BÁSICO ......................................................................... 6

4. RESULTADO 1 ................................................................................................. 7

5. PROBLEMA 2 – FORÇA CONSTANTE .............................................................. 10

6. RESULTADO 2 ............................................................................................... 11

7. CONCLUSÃO .................................................................................................. 14

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 15

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1. INTRODUÇÃO

A intensificação da exploração de petróleo offshore tem levado a um aumento significativo do número de equipamentos submarinos instalados. Dentre estes equipamentos, podemos citar manifolds, módulos de bombeio, estacas de sucção, entre outros, que são instalados por guindaste de embarcações de instalação. Nestes casos, a carga está suspensa por uma base sujeita a oscilação, já que o guindaste está fixo na embarcação que sofre excitação das ondas do mar. Neste contexto, três etapas em particular devem ser investigadas quanto à possibilidade de ocorrência de ressonância:

a) Durante a retirada do convés da embarcação e colocação na água, há a possibilidade de movimento pendular; b) Durante o abaixamento da estrutura até o fundo, há a possibilidade de ressonância no sentido axial do cabo; c) Durante todas as fases da instalação, há a possibilidade de ressonância devido à oscilação paramétrica. Este trabalho visa descrever o último fenômeno, aplicado especificamente à instalação de uma estrutura tipo “manifold”, por uma embarcação sujeita a excitação do mar.

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2. MODELO O modelo básico trata de um pêndulo, de comprimento “l” com uma massa “m” na extremidade, sujeito a uma oscilação em sua base com amplitude “h0” e freqüência “w”, conforme ilustrado na figura abaixo:

Figura 2.1 – Modelo com oscilação de base

Consideramos a equação do pêndulo, incluindo o termo forçante variando em função do tempo:

)()( 0 tgtg

A equação linearizada do pêndulo não-amortecido será portanto:

0)(

2

2

l

tg

dt

d

Para resolver a equação, consideramos que a solução da massa em repouso é possível. O objetivo é verificar se esta solução é estável ou não. Para isto, consideramos:

0

dt

d

E consideramos o termo forçante como:

)2cos()( 10 wtggtg

Substituindo na equação de movimento, nos dá a seguinte equação, também conhecida como Equação de Mathieu:

0sin()].2cos(1[202

2

wthwdt

d (1)

Onde,

Θ

l

2h0

m

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l

gw 02

0 , e 0

1

g

gh

Que tem como solução:

2

.

2

. 00 whwh (2)

Sendo, 0.2 ww

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3. PROBLEMA 1 – CASO BÁSICO Para o problema em questão, com um movimento de base harmônico com amplitude “h0”, teremos a seguinte equação de movimento (referência /1/):

0))(sin(.)sin(..1 22

2

twtwdt

d

Onde,

l

h0

Escolhendo w = 2, e considerando <<1, temos:

0))(.()sin(.412

2

twtdt

d

Esta expressão é similar à equação de Mathieu, com “w0=1” e “h=4. ”. Podemos, portanto utilizar a solução para a equação de Mathieu (equação (2)) com os valores acima, encontrando:

)1(2)1(2 w

Onde,

w = wexcitação / wn

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4. RESULTADO 1

Considerando a amplitude do movimento na base do pêndulo com 1,1m. Este valor foi estimado com a ajuda do RAO de uma embarcação de instalação, sujeita a um mar com Hs=1,5m. Fizemos a solução acima em função do período de excitação, e em seguida plotamos os limites inferior e superior do período susceptível a ressonância em função do comprimento “l”, que varia à medida que se baixa o equipamento em direção ao leito marinho, obtendo o seguinte gráfico:

Fazendo a análise numérica, resolvemos a equação (1) não linearizada, pelo método de Runge-Kutta pelo Mathcad.

1

50

2

y0.01

0

D x y( )

y1

2

sin x( ) sin y0 sin y

0

Z rkfixed y 0 100 500 D( ) Resolvemos o problema para vários valores de amplitude de perturbação :

Limite Inferior

Limite Superior

Período Natural

[s]

Comprimento do cabo [m]

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0.01

0.05

0.1

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0.3

0.5

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5. PROBLEMA 2 – FORÇA CONSTANTE Para o problema 2, adicionamos uma força constante na massa, que simula um guincho operando no modo “tensão constante”, conforme figura a seguir:

Figura 5.1 – Modelo com oscilação de base e força constante horizontal

A principio foi tentado definir analiticamente a zona de estabilidade como foi feito no item 3. Para tanto seria necessário desenvolver a expressão abaixo, com as respectivas condições iniciais:

lm

Ftwtw

dt

d

.))(sin(.)sin(..1 2

2

2

(3)

gm

F

.)0(

0)0(

dt

d

A posição inicial é a posição de repouso da massa, que devido à força constante “f” fica defasada da vertical. Tentamos resolver a equação utilizando a mesma metodologia da referência 2. No entanto não foi possível resolver a expressão abaixo para chegar à expressão equivalente à da equação (18) da referência 2.

A solução foi resolver numericamente, utilizando o mesmo método do item 4.

2( ) a t( ) e sin we t( ) we 2 b t( ) e cos we t( ) we w02

1 h sin we t( )( ) we( ) tF

m g1 a t( ) cos we t( ) b t( ) sin we t( )

F

m l0 0

Θ

l

2h0

m

f

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6. RESULTADO 2 Fazendo a análise numérica, resolvemos a equação (3), pelo método de Runge-Kutta pelo Mathcad.

Para analisar a influência de força “f”, variamos seu valor para uma determinada situação, com

Para “f=0”, temos um resultado igual ao encontrado no item 4:

f 10kN

M 300tonne

0.29

l0 40 m

2

0g

l0

y

f

M g

0

D x y( )

y1

2

sin x( ) sin y0 sin y

0 f

M l0 02

Z rkfixed y 0180

5000 D

0.3 2

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Conforme aumentamos o valor de “f” mantendo as demais condições, observamos que a órbita fica contida para alguns valores de “f”, mas ainda assim depende fortemente desta variável, como podemos observar nas figuras a seguir:

2 0 2

2

0

2

Z2

Z1

f 25 kN

2 0 2

2

0

2

Z2

Z1

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f 30 kN

2 0 2

2

0

2

Z2

Z1

f 35 kN

2 0 2

2

0

2

Z2

Z1

f 41 kN

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7. CONCLUSÃO Para um período de mar típico da costa brasileira, que é de 8 segundos, a estrutura está susceptível a entrar em ressonância quando estiver a aproximadamente 65 metros de profundidade. Nessa fase da instalação, no entanto o movimento é fortemente amortecido, já que o equipamento está submerso. Desta forma, a fase mais crítica seria desde a retirada do equipamento do convés até sua colocação na água. Nesta fase, na qual o comprimento do cabo está em torno de 30 metros, períodos curtos de até 6 segundos podem causar ressonância paramétrica. Além disso, vimos que a adição de uma força constante na horizontal aplicada à massa atua no sentido de conter o aumento do ângulo, mantendo a órbita fechada. No entanto para algumas intensidades de forças, este efeito não ocorre. Ou seja, a força horizontal só contém a órbita da massa para alguns valores de força, sendo o fenômeno altamente caótico.

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8. REFERÊNCIAS /1/ C. C. Rulle e J. P. Rino, , Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29, n. 1, p. 71-78 (2007) /2/ MIT Open Courses – 6.1 – Parametric Oscillators

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Check - Oscilações Paramétricas

r rComprimento do cabo do guindaste:

De acordo com [1], existe uma dada faixa de frequência onde o sistema se torna instável. A essa instabilidade, dá-seo nome de instabilidade paramétrica, é dada por:

e

n

Tn

Te

onde n e Tn são a frequência natural e o período natural, e e e Te são a frequência de excitação e o período deexcitação (ou forçamento), respectivamente.

Além disso, a faixa de frequência onde este fato ocorre está compreendido entre:

2 1 2 1

onde é a amplitude do movimento .

O período natural e a amplitude do sistema são dados por:

Tn r( ) 2 r

g r( )

max b

r

Portanto, a faixa de período onde ocorre a instabilidade paramétrica é:

r( )2 1 r( ) 2 1 r( )

Texc r( )Tn r( )

r( )

Sendo assim, o período dominante do mar considerado no modelo numérico é muito próximo da faixa de período deinstabilidade paramétrica

r r

20 35 50 65 80 95 110 125 140 155 170 185 2004

6

8

10

12

14

16

Tn r( )

2 1 r( )( )

Tn r( )

2 1 r( )( )

r