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Int. J. Knowl. Eng. Manag., ISSN 2316-6517, Florianópolis, v. 3, n.5, p. 144-173, mar2014/jun2014. 144 METODOLOGIAS, MODELOS CONCEITUAIS E FRAMEWORKS: UMA ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO EM BIBLIOTECAS Roberta Moraes Bem * Christianne Coelho de Souza Reinisch Coelho ** Resumo: A importância de se trabalhar a Gestão do Conhecimento (GC) nas organizações nesta sociedade contemporânea é indiscutível para a manutenção da competitividade. Nesse sentido, verifica-se que as bibliotecas estão se engajando nessa dinâmica de criação, representação, disseminação e uso do conhecimento, que propõe a GC. Para tanto, o uso de metodologias e frameworks conceituais têm sido utilizados para apoiar essa tarefa. Por meio de revisão da literatura, dos tipos sistemática e narrativa, procurou-se fazer um levantamento de estudos que abordem metodologias, frameworks e modelos conceituais existentes para a implementação da GC em bibliotecas. Foram analisados dez estudos, divididos em modelos, metodologias, frameworks conceituais, entre outros. Alguns têm foco específico ─ bibliotecas públicas, universitárias ─ outros não se direcionam, servindo para bibliotecas de forma geral. Todavia, independentemente do foco da abordagem, todos se propõem a impulsionar às bibliotecas por meio do uso de seu ativo mais valioso, o conhecimento. Verifica-se que as abordagens podem ser complementares ou excludentes, mas de qualquer forma direcionam positivamente gestores de bibliotecas e bibliotecários que queiram compreender melhor os seus contextos e tomar decisões mais acertadas sobre a implantação da Gestão do Conhecimento. Palavras-chave: Gestão do Conhecimento. Metodologias. Frameworks. Bibliotecas. * Bibliotecária-gestora de informação (UDESC). Mestre e doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC). Atualmente é bibliotecária do sistema de bibliotecas da UFSC. [email protected]. ** Engenheira Química. Doutora em Engenharia de Produção. [email protected]

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METODOLOGIAS, MODELOS CONCEITUAIS E FRAMEWORKS:

UMA ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DO

CONHECIMENTO EM BIBLIOTECAS

Roberta Moraes Bem

*

Christianne Coelho de Souza Reinisch Coelho**

Resumo:

A importância de se trabalhar a Gestão do Conhecimento (GC) nas organizações nesta

sociedade contemporânea é indiscutível para a manutenção da competitividade. Nesse

sentido, verifica-se que as bibliotecas estão se engajando nessa dinâmica de criação,

representação, disseminação e uso do conhecimento, que propõe a GC. Para tanto, o uso de

metodologias e frameworks conceituais têm sido utilizados para apoiar essa tarefa. Por meio

de revisão da literatura, dos tipos sistemática e narrativa, procurou-se fazer um levantamento

de estudos que abordem metodologias, frameworks e modelos conceituais existentes para a

implementação da GC em bibliotecas. Foram analisados dez estudos, divididos em modelos,

metodologias, frameworks conceituais, entre outros. Alguns têm foco específico ─ bibliotecas

públicas, universitárias ─ outros não se direcionam, servindo para bibliotecas de forma geral.

Todavia, independentemente do foco da abordagem, todos se propõem a impulsionar às

bibliotecas por meio do uso de seu ativo mais valioso, o conhecimento. Verifica-se que as

abordagens podem ser complementares ou excludentes, mas de qualquer forma direcionam

positivamente gestores de bibliotecas e bibliotecários que queiram compreender melhor os

seus contextos e tomar decisões mais acertadas sobre a implantação da Gestão do

Conhecimento.

Palavras-chave: Gestão do Conhecimento. Metodologias. Frameworks. Bibliotecas.

* Bibliotecária-gestora de informação (UDESC). Mestre e doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento

(UFSC). Atualmente é bibliotecária do sistema de bibliotecas da UFSC. [email protected]. **

Engenheira Química. Doutora em Engenharia de Produção. [email protected]

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA

No modelo econômico atual percebe-se um grande apelo à Gestão do Conhecimento (GC).

Em contra partida a presença de bibliotecários e de bibliotecas nessa onda da Sociedade do

Conhecimento não parece tão óbvia, no entanto, ambos estão trabalhando para tal, todavia

esse fenômeno nem sempre ocorre de forma consciente.

Devido à sua natureza multidisciplinar emergente e perspectivas variadas, não há consenso

geral sobre a definição de GC, nem existe um modelo padrão para fornecer uma plataforma

comum. Apesar de haver uma variedade de conceitos de GC, a maioria dos profissionais de

bibliotecas têm se centrado na percepção superficial da GC, especialmente para sua

incorporação nas bibliotecas digitais (ROKKNUZZAMAN; UMEMOTO, 2009).

Nas bibliotecas a GC apresenta-se em dois níveis, diferenciando-se da GC na maioria das

organizações. O primeiro nível trata da conversão de grandes quantidades de conhecimentos,

presentes nas mentes dos funcionários, com o objetivo de transformá-los em conhecimentos

explícitos para torná-los acessíveis aos usuários das bibliotecas. O segundo nível engloba os

processos de coleta, organização e distribuição de recursos tradicionais da biblioteca, tais

como aquisição, catalogação, circulação, digitalização, empréstimo entre bibliotecas, e

divulgação dos recursos da biblioteca (DONG, 2008; PORUMBEANU, 2009).

As bibliotecas e a disciplina de Ciência da Informação passaram por grandes mudanças nas

últimas três décadas. Algumas delas ditadas pela evolução das tecnologias de informação e

outros por mudanças sociais e econômicas. O desenvolvimento da internet, a rede mundial de

computadores, a disponibilidade de bancos de dados motores de busca e o impacto de

fenômenos como Amazon e Google desafiaram o status da biblioteca como o único

fornecedor de informações. (SARRAFZADEH; MARTIN; HAZERI, 2010).

Tais mudanças podem caracterizar a competitividade mercadológica e o risco que as

bibliotecas correm se não se reinventarem enquanto instituições provedoras e produtoras de

informação e conhecimento. Neste sentido, há um reconhecimento generalizado na literatura

de Biblioteconomia e CI de que a GC é relevante, e tem considerável sobreposição com os

interesses da biblioteca e dos profissionais da informação (SARRAFZADEH; MARTIN;

HAZERI, 2010).

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Assim sendo, verifica-se que após a aceitação da importância da GC no contexto atual, os

frameworks e modelos conceituais surgiram para apoiar essa tarefa. Che Rusuli, Tasmin e

Takala (2012), destacam que ao invés de adotar uma abordagem altamente centrada em

tecnologia, é mais interessante aproveitar as pessoas, as tecnologias e a gestão da biblioteca,

já existentes.

Neste sentido, o presente artigo tem como finalidade, apresentar uma revisão de literatura que

aborde as metodologias, frameworks e modelos conceituais existentes para a implementação

da GC em bibliotecas.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Grande parte dos resultados apresentados nesse artigo surgiu a partir de uma revisão

bibliográfica do tipo sistemática ─ que tinha a proposta de levantar aplicações e práticas de

GC em bibliotecas (as especificações estão descritas na figura 1) ─ que foi complementada

por uma revisão narrativa tradicional.

A revisão sistemática é um modelo que utiliza métodos rigorosos e explícitos para identificar,

selecionar, coletar dados e descrever as contribuições relativas à pesquisa. É baseada na

formulação adequada de uma pergunta de pesquisa que vai definir quais serão as estratégias

adotadas para identificar os estudos que serão incluídos e quais serão os dados que necessitam

ser coletados de cada estudo (CORDEIRO et al., 2007).

Já a revisão bibliográfica do

[...] tipo narrativa ou tradicional, quando comparada à revisão sistemática,

apresenta uma temática mais aberta; dificilmente parte de uma questão

específica bem definida, não exigindo um protocolo rígido para sua

confecção; a busca das fontes não é pré-determinada e específica, sendo

frequentemente menos abrangente. A seleção dos artigos é arbitrária,

provendo o autor de informações sujeitas a viés de seleção, com grande

interferência da percepção subjetiva (CORDEIRO et al., 2007, p.429).

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Figura 1 – Protocolo para revisão sistemática da literatura

Fonte: Bem e Coelho (2013, p. 72-73).

3 RESULTADOS

Na revisão realizada foram encontrados nove trabalhos ─ que atendem a proposta de pesquisa

do presente artigo ─ os quais serão abordados detalhadamente. Além de um décimo trabalho

que, apesar de não tratar sobre a aplicação de GC em bibliotecas, aborda as vantagens das

técnicas de bibliotecnomia e documentação para a implementação da GC. O quadro 1

apresenta a relação dos trabalhos a serem apresentados neste artigo e o tipo de revisão utizada.

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Quadro 1 - Artigos encontrados de acordo com o tipo de revisão

Autor Título do trabalho Tipo de revisão

Alsina (2008) Metodología para la implantacíon de la gestíon del conocimiento

a partir de técnicas documentales.

Revisão sistemática

Merrick

(2009)

The role of public libraries in knowledge cities. Revisão sistemática

Porumbeanu

(2009)

Strategic model for implementing knowledge management in

libraries or information services.

Revisão sistemática

Shuhuai et al.

(2009)

From information commons to knowledge commons: building a

collaborative knowledge sharing environment for innovative

communities.

Revisão sistemática

Yang e Liu

(2009)

Study on the Framing of Knowledge Management for College

Library Management.

Revisão narrativa

Corral e

Sriborisutsakul

(2010)

Evaluating intellectual assets in university libraries: a multi-site

case study from Thailand.

Revisão sistemática

Li e Li (2010) Knowledge Management Modes and Strategies for University

Libraries.

Revisão narrativa

Cervone

(2011)

Knowledge management as a method for supporting digital

library projects.

Revisão sistemática

Che Rusuli,

Tasmin e

Takala (2012)

The impact of structural approach on knowledge management

practice (KMP) at Malaysian University Libraries.

Revisão sistemática

Daneshgar e

Parirokh

(2012)

An integrated customer knowledge management framework for

academic libraries.

Revisão sistemática

Fonte: desenvolvido pelas autoras (2013).

A criação de modelos conceituais pode ser uma proposta bastante útil para implementação da

GC, considerando que esses ajudam o homem a representar e compreender alguns fenômenos

de sua realidade. Todavia, os modelos são caracterizados por serem incompletos, na medida

que são representações, haverá sempre um empobrecimento da realidade. Mas eles devem ser

facilmente modificados, para que essa incompletude seja minimizada (ALVES, 2006).

De acordo com Alves (2006), para a construção de um modelo, seja de qualquer tipo, são

necessárias as seguintes etapas,:

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a) observação;

b) interpretação;

c) transformação; e

d) verificação.

Os frameworks, por sua vez, são importantes especialmente em áreas onde há dificuldade de

compreensão conceitual e divergências na literatura. Crossan, Lane e White (1999) destacam

que um bom framework define o território que estamos trabalhando e nos deixa mais

próximos da teoria, porém precisam atender a algumas exigências:

a) identificação clara do fenômeno de interesse;

b) indicação das premissas-chave ou suposições subjacentes ao framework;

c) descrição da relação entre os elementos trabalhados.

Já as metodologias são capazes de explicar de forma minuciosa e detalhada um caminho para

se realizar algo ─ no caso deste artigo a GC.

Ao apresentar as variadas metodologias, da mesma forma como os modelos conceituais e os

frameworks, procurou-se identificar e analisar as características das várias propostas

encontradas, avaliar suas capacidades, potencialidades e limitações. .

Cervone (2011) destaca o uso da GC para facilitar a troca de conhecimentos em projetos de

bibliotecas digitais. A ideia é fazer uso de métodos com pouco impacto, no sentido de

eliminar barreiras, para apoio à programas de bibliotecas digitais. As referidas barreiras estão

associadas a realização da GC, especialmente ao que se refere ao compartilhamento de

conhecimento. Nesse sentido, Skyrme (2003 apud CERVONE, 2011), apresenta seis

principais barreiras a implementação de um projeto de GC:

a) não ter tempo suficiente ― é fácil ignorar a GC, em vez de outras questões

prementes;

b) introspecção ― algumas organizações têm medo de aprender com pessoas de fora

ou expor suas operações internas para os outros;

c) foco em processos minuciosos ― e não em uma visão geral;

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d) tratamento da GC como um projeto único ou de retornos rápidos ― a GC é um

compromisso de longo prazo;

e) disciplinas individuais e guerras territoriais ― a GC se estende para além do

domínio de um único departamento ou divisão, todos devem colaborar, pois todos

devem ser beneficiados; e

f) os sistemas de reconhecimento e recompensa organizacionais geralmente não são

suficientes para reconhecer as contribuições do conhecimento ― na maioria dos

casos, eles ainda estão ligadas às medidas financeiras tradicionais, que são

concedidos com base no desempenho individual.

O trabalho de Cervone (2011) está mais associado a área de Gestão de Projetos, relacionado-

se ao fato de que muitas vezes projetos são prejudicados, em virtude das pessoas envolvidas

não saberem o que a equipe sabe, causando impecilho ao seu desenvolvimento e a troca de

conhecimentos. Por isso, propõe produtos que fornecem diferentes serviços de colaboração

(controle de versão automática de documentos, formas de interação mais avançadas que

email, criação de tópicos para discussão, criação de espaços de trabalhos virtuais, automação

de tarefas, entre outros) podendo ser utilizados como um ponto de partida para uma iniciativa

GC.

Para Merrick (2009) o foco está, também, em projetos de bibliotecas, mas não digitais e sim

bibliotecas públicas como colaboradoras em iniciativas de Knowledge Cities (KC). Propõe um

framework na tentativa de identificar o papel da biblioteca pública em KC e quais elementos

ela deve ter para contribuir.

O termo Knowledge City entrou no léxico da GC, planejamento urbano, desenvolvimento

econômico, e outras disciplinas. Refere-se às áreas urbanas que são intencionalmente

concebidas e regidas para facilitar a criação e o fluxo de conhecimento para o

desenvolvimento econômico sustentável (MERRICK, 2009).

KCs surgiram como um foco de estudo, e a literatura tem refletido a importância das

bibliotecas públicas para o desenvolvimento e a sustentabilidade de KCs. O framework

(figura 2) inclui atributos de localização física, arquitetura e instalações (incluindo as

tecnologias da informação e comunicação); coleções e serviços prestados; equipe, diversidade

e conjuntos de habilidades; e políticas e parcerias institucionais (MERRICK, 2009).

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Figura 2 - Framework de um sistema de biblioteca pública para Cidades de Conhecimento

Fonte: desenvolvido pelas autoras (2013) com base em Merrick (2009).

Merrick (2009) conclui reforçando o fato de que um sistema de biblioteca pública eficaz é um

componente essencial da infraestrutura de KC. Porém são necessárias mais pesquisas para

saber se este modelo conceitual é válido e como está sendo aplicado.

Porumbeanu (2009), também preocupado com a importância do papel da GC nas bibliotecas,

propõe um modelo para implantação de GC em bibliotecas e unidades de informação. A ideia

principal do modelo é focar nas atividades-chave que a organização melhor desenvolve. O

modelo é baseado em cinco elementos (figura 3): identificação e foco nos processos que são

melhor desenvolvidos; recursos humanos e cultura organizacional; tecnologia; redes e

parcerias entre outras estruturas que desenvolvem o mesmo tipo ou tipos similares de

atividade; e criação do cargo de diretor de conhecimento ─ Chief Knowledge Officer (CKO).

A proposta é que estes elementos sejam os responsáveis pelo bom funcionamento do processo

de GC dentro da biblioteca. Coordenando a elaboração e a implementação de programas de

conhecimento e sistemas de gestão, além de encontrar novas fontes de conhecimento e

identificar novas formas de uso efetivo do conhecimento na organização (PORUMBEANU,

2009).

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Figura 3 – O papel do diretor de conhecimento

Fonte: adaptado pelas autoras (2013) de Porumbeanu (2009, p. 94).

O modelo de Porumbeanu (2009) tem uma abordagem global, considerando o conhecimento

embutido nos processos e mentes das pessoas, além daqueles conhecimentos conhecidos que

estão no ambiente da biblioteca e serviços de informação (aquisição, organização do acervo,

disseminação da informação, preservação, recuperação e busca de informação,

desenvolvimento de produtos de informação, entre outros).

Os princípios subjacentes ao modelo são cooperação, compartilhamento de conhecimento,

interconexão e sistemazação. Incluindo dez passos, conforme apresentado na figura 4

(PORUMBEANU, 2009).

O modelo de implementação de GC em bibliotecas e serviços de informação de Porumbeanu

(2009) deve permitir:

a) identificação dos processos mais importantes, produtos e serviços de bibliotecas e

serviços de informação e sua avaliação;

b) identificação dos recursos de conhecimento e habilidades na organização, a fim de

explorar estes recursos;

c) identificação dos potenciais parceiros externos para a colaboração.

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Figura 4 – Passos da implementação da GC em bibliotecas e serviços de informação

Fonte: adaptado pelas autoras (2013) de Porumbeanu (2009, p. 96).

De forma geral, entre os principais resultados da implementação deste modelo devem estar:

a) realização de uma mais ampla colaboração, a fim de usar o conhecimento da

forma mais eficaz e criativa;

b) construção de um banco de dados nacional com o maior número de bibliotecas e

serviços de informação possível, independentemente do tipo, o que permitiria um

acesso permanente e total para o estoque de conhecimento armazenado;

c) estabelecimento de parcerias para a GC em nível internacional.

Daneshgar e Parirokh (2012), assim como Porumbeanu (2009), consideram que os modelos

conceituais, tornam-se importantes no contexto das bibliotecas em virtude da quantidade de

informações e conhecimentos que essas gerenciam.

Assim sendo, propõem um framework de GC, porém esse é focado no conhecimento do

cliente para bibliotecas acadêmicas, como uma ferramenta analítica para a melhoria dos

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serviços atuais e para a criação de serviços inovadores por meio de uma gestão adequada do

conhecimento do cliente dessas bibliotecas.

Diante das rotinas gerenciadas por avançadas Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC) as Bibliotecas Universitárias têm acumulado grandes quantidades de informações a

respeito de seus clientes, porém em variados formatos e de forma desestruturada. Dessa

forma, Daneshgar e Parirokh (2012) motivaram-se a organizar este conhecimento, dividido-o

nas seguintes categorias:

a) conhecimento sobre os clientes ─ Knowledge about Customers (KAC)

─formações factuais sobre os clientes (sexo, escolaridade, idades, etc.), bem

como interesses e necessidades de informação;

b) conhecimento dos clientes ─ Knowledge from Customers (KRC) ─ esta

categoria lida com o entendimento dos clientes, percepções, reações,

conhecimento sobre outros produtos, fornecedores, mercados, sugestões e

conhecimento global do ambiente competitivo;

c) conhecimento para os clientes ─ Knowledge for Customers (KFC) ─ esta

categoria de conhecimento do cliente é gerado pela junção de KAC e KRC.

Daneshgar e Parirokh (2012), observaram que os bibliotecários possuem uma enorme

quantidade de conhecimento tácito sobre seus clientes, por isso esse trabalho de GC do cliente

foi tão oportuno, entre as principais contribuições estão: favorecimento de um conhecimento

oportuno e útil aos clientes; criação de um novo modelo conceitual que resultou da análise e

junção dos existentes na literatura com a experiência da equipe da biblioteca; criação de

novos conhecimentos necessários ao entendimento das necessidades de informação dos

usuários, resultando em ideias inovadoras e novos serviços para a Biblioteca universitária em

questão.

Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012), da mesma forma, apresentam um modelo conceitual

para bibliotecas, todavia focado nas práticas de GC (desde a identificação das necessidades de

conhecimento até a utilização do conhecimento na prática) ─ conforme figura 5.

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Figura 5 – Framework conceitual para processos de GC

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012, p. 124).

De acordo com Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012) as práticas de GC no contexto das

bibliotecas compreendem os processos de criação, captura, aquisição e compartilhamento de

conhecimento (figura 6) para a compreensão da implantação dos processos de GC em

bibliotecas

Figura 6 – Modelo estrutural proposto de práticas de GC

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012, p. 126)

Os autores destacam que este modelo precisa combinar com a capacidade de insfraestrutura e

processamento da organização, para que seja possível indicar as diferenças significativas entre

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os elementos associados a satisfação do usuário, remodelando-o de acordo com as práticas de

GC em Bibliotecas Universitárias, conforme apresentado na figura 7.

Figura 7 – Perspectivas de capacidade da organização

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012, p. 125).

Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012) concluem salientando que a contribuição de

conhecimento desta pesquisa é servir de ponto de partida para que as bibliotecas possam

utilizar o framework proposto para elaborar e integrar o modelo estrutural existente,

influenciando e favorecendo as práticas de GC e proporcionando satisfação dos usuários da

biblioteca.

Neste sentido, Li e Li (2010) realizaram um estudo que também incide sobre as modalidades

de GC em bibliotecas. A proposta resulta em um framework estratégico para Bibliotecas

Universitárias.

Baseia-se no modelo de GC das empresas, tendo como foco as descrições do conhecimento

explícito e os processos de GC tácito, além da mudança do papel da biblioteca universitária na

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GC ─ que é caracterizado pela “transição de ‘armazém de conhecimento’ para ‘fábrica de

conhecimento’ e finalmente para ‘escritório de administração do conhecimento’ nas

bibliotecas universitárias que possuem abundantes recursos” (LI; LI, 2010, p. 289).

A análise foi realizada a partir dos seguintes elementos: conhecimento; usuários; organização

de aprendizagem; interação e compartilhamento; gerentes, etc.

A proposta apresentou as seguintes estratégias de GC para bibliotecas:

a) construção de uma cultura organizacional de GC para bibliotecas ─ a partilha de

experiências agrega valor aos serviços da Biblioteca universitária, favorecendo a

eficiência na aprendizagem da equipe. Uma cultura que motive a criação,

proporciona às bibliotecas a continuidade em sua evolução e a prestação de

serviços de alta qualidade;

b) tecnologia de informação e comunicação como apoio em sistemas de serviço de

conhecimento ─ tecnologias são especialmente necessárias para a construção de

plataformas de troca de conhecimentos entre bibliotecários e usuários, atendendo

a exigência de conhecimento profundo do usuário com diversos serviços e assim

por diante. Serviços de conhecimento na era das redes deve dar prioridade às

necessidades do usuário;

c) estratégia de avaliação desempenho para trabalhadores de GC em bibliotecas

universitárias ─ a avaliação de desempenho é a base para a alocação de recursos

humanos. Os índices de avaliação podem consistir em experiência de trabalho,

realização de adaptação, qualidade de serviço etc.;

d) construindo a organização de aprendizagem colaborativa ─ Senge (2006 apud LI;

LI, 2010) relata que uma organização de aprendizagem deve ser plana, flexível,

possuir a filosofia de aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning), e ser

continuamente uma organização que se preocupa consigo mesma (self-care). A

aprendizagem colaborativa significa que os alunos formam uma parceria de

aprendizagem como um todo unido, onde eles podem se comunicar e encorajar

uns aos outros em um ambiente harmônico.

Yang e Liu (2009) partilham da mesma preocupação com relação à aplicação de GC em

bibliotecas universitárias. Porém, ao invés de um framework estratégico, sugerem um

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framework conceitual. Consideram importante avaliar o fator de sucesso da GC em

bibliotecas universitárias, por isso consideram necessário compreender o fenômeno da GC

como um sistema, partindo de uma visão holística.

Entender a GC na forma de análise sistêmica é estudá-la com base no conceito de que a GC é

reconhecida como um sistema inteiro, proporcionando uma visão panorâmica do quadro,

analisando todos elementos que estão interligados. Um sistema de GC inclui conhecimento

(explícito e tácito), pessoas e sites de compartilhamento de conhecimento (local de trabalho e

espaço virtual eletrônico). Um sistema de GC pode ser divido em quatro níveis conforme a

figura 8 (YANG; LIU, 2009).

Figura 8 – Sistema de Gestão do Conhecimento

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Yang e Liu (2009, p. 105).

Para que um modelo de GC seja compatível com uma variedade de teorias, pontos de vista e

métodos deve atender aos seguintes critérios:

a) fornecer uma linguagem consistente;

b) apresentar a descrição dos processos;

c) formecer uma tabela de verificação;

d) mostrar atenção aos fatores não técnicos.

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Assim sendo, Yang e Lui (2009) propuseram o seguinte framework (figura 9).

Figura 9 – Framework de Gestão do Conhecimento

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Yang e Liu (2009, p. 106).

Reforçando a importância da GC como fator de sucesso, Yang e Liu (2009, p. 107)

consideram a

[...] GC um ativo organizacional estratégico, que garante que o

conhecimento possa ser obtido a tempo pelas pessoas que mais necessitam.

Isso pode ajudar as pessoas a compartilhar conhecimento, e, em seguida,

colocá-lo em prática de variadas formas, e finalmente atingir o objetivo de

melhorar o desempenho organizacional.

No contexto das universidades, em uma atmosfera de comunidade inovadora, o conhecimento

é nutrição. Um meio ambiente adequado ao compartilhamento do conhecimento é a condição

essencial. Neste sentido Shuhuai et al. (2009) propõe um modelo conceitual para construção

de um “Information Commons (IC)", baseado nas teorias de GC, colaboração e biblioteca 2.0,

com a proposta de integrar bibliotecas digitais, recursos físicos e humanos em um todo,

proporcionando uma ambiente de compartilhamento de conhecimento para apoiar atividades

de comunidades inovadoras em Bibliotecas Universitárias.

O conceito de Information Commons nasceu como um modelo de serviço inovador, e

prevalece em muitas Bibliotecas Universitárias do mundo. De modo geral o IC é um modelo

cresente e dinâmico, que evoluiu para Learning Commons (LC), com o objetivo de apoiar a

aprendizagem dos alunos e dos cursos. Todavia, o importante não é se se trata de IC ou LC, o

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objeto do serviço é, principalmente, o estudante universitário, e os serviços de pesquisa em

inovação que estão sendo desenvolvidos (SHUHUAI et al. 2009).

A concepção do Information Commons inclui duas modalidades. Uma delas é baseada na

Biblioteca universitária e enfatiza a integração da tecnologia, serviço e espaço, que é

especificamente projetado para organizar a área de trabalho e prestação de serviços em todo o

ambiente digital integrado (BEAGLE, 1999 apud SHUHUAI et al., 2009). A outra é baseada

na rede on line e enfatiza sobre o acesso aberto de recursos de informação e software de

código aberto, que está tornando o Information Commons um tipo de estabelecimento social

comum (KRANICH, 2004 apud SHUHUAI et al., 2009).

No artigo de Shuhuai et al. (2009) um novo modelo ─ Knowledge Commons (KC) ─ propõe-

se a atender às necessidades das comunidades inovadoras. Com base no modelo de serviço de

Information Commons e da filosofia da Biblioteca 2.0, aliando teoria e prática de ambos (IC e

Biblioteca 2.0) com a tecnologia da web 2.0, juntamente com as teorias de GC e colaboração.

Knowledge Commons combina conteúdos físicos e virtuais para construir o ambiente de

compartilhamento e colaboração de conhecimento para a comunidade inovadora.

Figura 10 – Modelo Conceitual do Knowledge Common

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Shuhuai et al. (2009, p. 252).

De acordo com a visão e os objetivos de KC, combinando o modelo de IC e as teorias citadas

(alinhamento estratégico; GC; teoria da colaboração; biblioteca 2.0), o modelo conceitual KC

está apresentado na figura 10. É dinâmico, mudando conforme a necessidade do usuário,

integra campos físicos e virtuais, consolidando tanto a centralização e a descentralização. Os

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componentes são feitos de cinco partes (usuário, áreas do conhecimento, camada física,

camada virtual e a camada de suporte). (SHUHUAI et al., 2009).

Shuhuai et al. (2009) entende que a Biblioteca universitária está tomando um papel

fundamental, tanto para o ensino como para pesquisa científica. O modelo de serviço

Information Commons é eficiente para a competência informacional e apoio à aprendizagem,

mas não funciona bem para grupos de pesquisa científica e comunidades inovadoras. O

modelo conceitual Knowledge Commons é construído em cima de IC, com base em teorias de

GC, colaboração e Biblioteca 2.0, e, portanto, pode servir como um guia para a construção de

um ambiente de compartilhamento de conhecimento colaborativo.

Corral e Sriborisutsakul (2010), também preocupados com as Bibliotecas Universitárias,

utilizaram a análise de documentos, entrevistas e questionário para desenvolver e testar

indicadores de capital intelectual e medidas de desempenho relacionadas a três Bibliotecas

Universitárias na Tailândia. Definem ativos intelectuais da seguinte forma: recursos não

financeiros controlados pela biblioteca, que a permitem melhorar a eficiência, eficácia,

qualidade e sustentabilidade das operações da biblioteca e serviços de informação em longo

prazo. Esses ativos incluem as capacidades dos recursos humanos, representações estruturadas

de competências organizacionais e são intangíveis por natureza. Neste sentido, o estudo

demonstrou a viabilidade da aplicação de uma perspectiva do capital intelectual e um modelo

de processo de scorecard para criar um sistema viável para avaliar ativos intangíveis da

biblioteca, particularmente onde as bibliotecas têm um interesse pré-existente na GC e na

cultura de avaliação.

O estudo procurou responder às seguintes perguntas: a) Quais são os mais importantes ativos

intelectuais para bibliotecas acadêmicas tailandesas?; b) Por que os administradores da

biblioteca querem avaliar seus ativos intelectuais?; c) Como bibliotecas escolhem indicadores

de desempenho para demonstrar seus ativos intelectuais?; e d) Os indicadores de desempenho

são adequados para avaliar os ativos intelectuais da biblioteca?.

Para localizar o framework teórico, Corral e Sriborisutsakul (2010) utilizam dois paradigmas

que sustentam a identificação e avaliação dos AI em Bibliotecas Universitárias: visão baseada

em recursos ─ Resource-Based View (RBV) ─ e a perspectiva do capital intelectual ─

Intelectual Capital (IC). Na visão RBV as organizações veem sua base de conhecimentos e

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ativos intangíveis como um recurso estratégico, esses recursos intangíveis são caracterizados

por serem valiosos, raros, inimitáveis e não substituíveis. Na perspectiva do IC, as

organizações consideram sua base de conhecimentos e os ativos intangíveis como um bom

investimento em longo prazo, semelhante a outros bens de capital, que lhes permitam criar

valor em produtos e serviços para as partes interessadas. A perspectiva do IC serviu de lente

para visualizar os recursos da biblioteca, porém é necessária sua expansão para a avaliação de

coleções e serviços de biblioteca. Assim, a RBV forneceu a justificativa para a criação de uma

quarta categoria (que não pode ser imitada ou substituída por outros serviços) ― além dos

ativos humanos, de infraestrutura e de relacionamento.

Quadro 2 – Ativos intelectuais das bibliotecas

Categoria Biblioteca K Biblioteca SW Biblioteca T

Ativos

Humanos

mindset de serviço

agilidade mental

expertise

habilidades

espírito de equipe

compromisso com os

objetivos da biblioteca

habilidades de adaptabilidade

participação do grupo / trabalho

em equipe

compromisso com a estratégia

da biblioteca

educação e formação

desenvolvimento de

competências

Ativos de

estrutura

ata de reuniões de partilha de

conhecimentos

relatórios dos grupos de

trabalho

registros de controle de

qualidade

sistema de gestão da

informação

documentação de garantia de

qualidade, por exemplo,

manuais, auto-avaliação,

relatórios e procedimentos de

trabalho

projetos de gestão do

conhecimento, por

exemplo, melhores

práticas, histórias de

sucesso e lições

aprendidas

Ativos de

relaciona-

mento

relações com stakeholders

chave

feedback dos usuários

relações com dirigentes

universitários

imagem pública da biblioteca

marketing de comunicação

interação entre

trabalhadores da

biblioteca e usuários

Ativos da

coleção e

serviços

serviços utilizados com

frequência

elogios dos usuários em

pontos de atendimento

recursos de informação

frequentemente solicitados

materiais didáticos, novas

ferramentas de busca

arquivos eletrônicos

novos serviços de valor

agregado

coleções e serviços que

recursos de

informação

solicitados pelos

usuários-alvo

serviços top ranking

novos serviços

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coleções digitais

acesso às bases de dados em

casa

satisfaçam os usuários coleções digitais

Fonte: Traduzido pelas autoras (2013) de Corral e Sriborisutsakul (2010, p. 283).

O quadro 2 mostra os ativos intelectuais identificados em cada biblioteca. Eles estão em

conformidade com a taxonomia do IC encontrada em diretrizes nacionais ─ como por

exemplo Japão (2005) e Dinamarca (2003 apud CORRAL; SRIBORISUTSAKUL, 2010) ─ e

com a literatura que classifica o conceito em três categorias: ativos humanos, relacional e

estrutural (OECD, 2006 apud CORRAL; SRIBORISUTSAKUL, 2010).

O quadro 3 mostra as áreas de atividades representadas por cada biblioteca analisada e os

fatores-chave de sucesso de cada uma, cobertos por quatro aspectos de avaliação.

Quadro 3 – Classificação comparativa dos fatores de sucesso

Tipo de

ativo

Catego-

ria do

ativo

Fatores-chave de sucesso Aspecto

de

avalia-

ção

Biblioteca K Biblioteca SW Biblioteca T

Ativos

humanos

Humano Trabalhadores

competentes e

ambiciosos

formação e

desenvolvimento da

equipe da biblioteca

RH ligada à gestão

baseada em valor

Eficiênci

a e

eficácia

Ativo

estrutu-

ral

Administ

rativo

Gerir e dirigir a

biblioteca

sistematicamente

Maior empresa no

gerenciamento de

operações de

biblioteca

Eficiên-

cia e

eficácia

Tecnoló-

gico

O uso efetivo de

sistemas e tecnologias

de informação no

trabalho da biblioteca

Ativo de

relaciona

-mento

Social Colaborações

duradouras com

outras instituições

Compreensão da

comunidade atendida

Parceria sustentável Sustenta

-bilidade

Ativo de

serviços

e

coleção

Marke-

ting

Qualidade de

coleções e

eficiência dos

serviços

Serviços de biblioteca

que atendam às

necessidades dos

usuários

Fornecimento de

coleções e serviços

orientados ao

usuário

Qualida-

de

Fonte: Traduzido pelas autoras (2013) de Corral e Sriborisutsakul (2010, p. 285).

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Corral e Sriborisutsakul (2010) concluem que a evidência do caso sugere que o modelo de

desenvolvimento proposto de indicadores de AI é compatível com os sistemas de gestão da

qualidade operados por muitas bibliotecas e serviços de informação na Ásia e que há amplas

semelhanças entre os ativos de diferentes bibliotecas que operam no mesmo setor e contexto

cultural, mas com variações nos detalhes e tipos de ativos. Sugerem que a identificação dos

recursos intangíveis pode ser facilitada pela experiência anterior de avaliação de serviço e

acoplamento com a GC. Além disso, a cultura institucional e a terminologia têm uma

influência sobre a aplicação das medidas de desempenho. É necessário mais trabalho para

testar a adequação do modelo para outros contextos de bibliotecas acadêmicas.

Complementando a apresentação das metodologias, frameworks e modelos conceituais sobre

GC, julgamos conveniente abordar o trabalho de Alsina (2008) que propõe um modelo para

implementação da GC. Mas não em bibliotecas, como objetiva o artigo, porém utilizando as

habilidades da área de Bibliotecnonomia e Documentação, por isso o consideramos relevante.

A área de Bibliotecnonomia e Ciência da Informação, por suas formações, naturalmente

podem contribuir com a implementação de projetos de GC. Partindo dessa premissa Alsina

(2008) mostra como os trabalhos de bibliotecas e as habilidades de bibliotecários podem

contribuir com a implementação de um projeto de GC em qualquer organização.

Para tanto, propõe a utilização de técnicas documentais que permitem propor uma

metodologia para implementar GC. Tais técnicas são centradas em normas existentes no

campo da Bibliotecnomia e Documentação ─ de diferentes intituições: International

Federation of Library Associations and Institutions (IFLA); International Organization for

Standardization (ISO); International Council on Archives (ICA); National Information

Standards Organization (NISO); American; Asociación Española de Normalización y

Certificacion (AENOR); National Standards Institute (ANSI) Comité Européen de

Normalisation (CEN); etc.

Foca-se em procedimentos para captura, armazenamento e compartilhamento de

conhecimento tácito, sobretudo o que se relaciona com o conhecimento explícito refletido na

produção documental, tanto impressa como eletrônica. Os elementos contemplados pelo

projeto são: a) exposição da informação e seus modos de aquisição; b) descrição formal e

física do item de conhecimento tácito e explícito (autoria, assunto, data, etc.); c) descrição do

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conhecimento contido no documento ou nas pessoas; d) gestão, armazenamento e

preservação; e e) instrumentos construídos para compartilhar e disseminar o conhecimento.

O quadro 4 mostra a associação da cadeia documental com a cadeia de conhecimento,

propondo uma alternativa para a captura, armazenamento e compartilhamento de

conhecimento em organizações, com base nos processos de biblioteconomia.

Quadro 4 - cadeia documental e cadeia do conhecimento

Cadeia Documental Cadeia do conhecimento

En

trad

a

Seleção

Cri

açã

o

Descrição da necessidade de informação e conhecimento, de acordo com

o plano estratégico da empresa;

Seleção de fontes de informação.

Aquisição Aquisição de conhecimentos necessários: especialistas, bancos de dados,

etc.

Registro Criação de formulários para registrar o conhecimento criado e necessário,

e registro de documentos relacionados com o conhecimento.

Tra

tam

ento

e A

náli

se D

ocu

men

tal

Análise formal

– catalogação:

Descrição

documental;

Pontos de

acesso

bibliográfico;

Controle de

autoridades;

Definição de

cabeçalhos.

Cap

tura

e a

rmaze

nam

ento

Descrição formal dos componentes de conhecimento (pessoas, processos,

conteúdo e tecnologia), aqueles que os descrevem, identificam e

permitem sua recuperação:

Identificação das características formais dos detentores (pessoas e

tecnologia) conhecimento explícito e implícito, e estabelecimento de

critérios para recuperar (pontos de acesso);

Identificação do conhecimento tácito e explícito e focos de criação:

especialistas e especialidades (mapa de conhecimento com as pessoas,

processos, conteúdo e tecnologia);

Definição das tipologias documentais associadas ao conhecimento

(Conteúdo – descrição física);

Desenho de referência do conhecimento. Seleção de critérios para

descrever o conhecimento e documentos de maneira padronizada

(cabeçalhos);

Princípio da uniformidade e controle de autoridade: considerar mudanças

de nome do cliente, formas de introduzir ou abreviar, áreas geográficas,

idiomas, produtos ou terminologia de novas áreas de conhecimento,

títulos descritivos, projetos, etc.;

Descrição do ciclo de vida da informação, conteúdos e documentos;

Previsão de duplicidades e referências cruzadas.

Análise de

conteúdo –

Descrição dos conhecimentos contidos nos documentos e nas pessoas, de

modo que permita sua recuperação posterior.

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indexação:

Pontos de

acesso segundo

linguagens

documentárias;

Resumo.

Organização do conhecimento a partir de um sistema de classificação,

linguagens de indexação que serão posteriores linguagens de

recuperação. Seleção de termos que descrevem o conhecimento

específico da empresa, para facilitar a recuperação. Representação do

conhecimento.

Processamento

técnico:

organização,

armazenamento

e preservação

Critérios de ordenação e armazenamento de conhecimento.

Criação de registros específicos em bases de dados para capturar

conhecimento tácito e os documentos que contém conhecimento,

segundo identificação na fase de tratamento e análise.

Descrição de uma estrutura e procedimentos comuns para arquivar

documentos eletrônicos e em papel, atendendo a:

- ordenação e localização fácil e rápida;

- unidade do conhecimento: a unidade de Registros;

- localização de experts em conhecimento (mapa de conhecimento

(especialistas e especialidades);

- equipes de trabalho;

- níveis de segurança.

Critérios de armazenamento em diferentes etapas (gestão, intermediário,

histórico) e definição do ciclo dos conteúdos.

Saíd

a

Difusão:

Serviços e

produtos

documentais.

Cotrução de

Ferramentas de

busca e

recuperação da

informação.

Div

ulg

açã

o

Criação de bases de dados (referenciais e documentais);

Catálogos de documentos;

Formação de usuário e competência informacional;

Divulgação e formação dos usuários quanto ao uso das bases;

Divulgação das estruturas e produtos documentais (Mapa de

conhecimento; Empréstimo de Documentos; DSI; boletins e sumários;

Boletins de últimas aquisições; Guias de leitura; outros).

Fonte: Adaptado pelas autoras (2013) de Alsina (2008, p. 47-48).

Alsina (2008) conclui que as técnicas documentais junto às normas existentes no campo da CI

e Documentação permitem desenhar a arquitetura dos procedimentos e sistemas de

informação adquados para capturar e localizar informação de forma adequada para seus

usuários. Instrumentos ─ como descrição documental, pontos de acesso, controle de

autoridades, títulos uniformes, descrição física, referências cruzadas, linguagens

documentárias para controle de sinônimos e polissemias, critérios de armazenamento e

conservação ─ são de grande utilidade para a análise das características formais dos

componentes de conhecimento, para estudo de seu conteúdo e representação.

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4 SÍNTESE

Diante de tantas abordagens com características diferentes, consideramos importante fazer

uma síntese (quadro 5), para que possamos perceber as principais características de cada

trabalho (bases conceituais, aplicações e finalidades) ― que foram discutidas na seção

anterior.

Quadro 5 – Panorama de metodologias, frameworks e modelos conceituais associados a GC e

bibliotecas / serviços de informação.

AUTOR/ TIPO

DE MODELO

FINALIDADE PRINCÍPIOS/BASES

TEÓRICAS

APLICAÇÕES

Cervone (2011) Apresentar métodos para programas

de bibliotecas digitais visando o

compartilhamento de conhecimento.

Gestão de projetos;

Bibliotecas digitais;

Compartilhamento de

Conhecimento.

Bibliotecas

Digitais

Métodos

Merrick (2009) Identificar o papel das bibliotecas

públicas e os elementos que

influenciam sua contribuição em

“Knowledge Cities”

Knowledge Cities;

Bibliotecas Públicas.

Bibliotecas

Públicas Framework

conceitual

Porumbeanu

(2009)

Propor um modelo para

implementação de GC

Atividades que a organização

melhor desenvolve;

Práticas de GC.

Bibliotecas e

serviços de

informação Modelo

Daneshgar e

Parirokh

(2012)

Propor um modelo conceitual de

Gestão do Conhecimento do cliente.

Acúmulo de informações

sobre os clientes em virtude

das rotinas que envolvem TIC.

Bibliotecas

Universitárias

Framework

conceitual

Che Rusuli,

Tasmin e

Takala (2012)

Apresentar um modelo conceitual que

envolva as atividades de GC desde a

identificação das necessidades de

informação até o uso do

conhecimento

Práticas de GC;

Satisfação dos usuários;

Bibliotecas

Universitárias

Framework

conceitual

Li e Li (2010) Apresentar um Framework

estratégico para GC em BUs

Modelo de GC para empresas;

Mudança do papel das BU`s

no contexto da GC

Bibliotecas

Universitárias Framework

conceitual

Yang e Liu

(2009)

Aplicação de GC em bibliotecas Visão sistêmica da GC Bibliotecas

Universitárias

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Framework

conceitual

Shuhuai et al.

(2009)

Apresentação de um modelo

conceitual para a criação de um

“Knowledge Commons” com a

proposta de integrar bibliotecas

digitais, recursos físicos e humanos,

proporcionando um ambiente de

compartilhamento de conhecimento.

“Information Commons”;

Comunidades inovadoras;

Teoria de GC;

Biblioteca 2.0;

Colaboração/compartilhamen-

to.

Bibliotecas

Universitárias

Framework

conceitual

Corral e

Sriborisutsakul

(2010)

Propõe um framework para avaliar

indicadores e medidas de

desempenho.

Ativos intelectuais;

Capital intelectual;

Scorecard;

Visão Baseada em Recursos.

Três Bibliotecas

Universitárias

da Tailândia

(case) Framework

conceitual

Alsina (2008)

Apresentar uma metodologia para

captura, armazenamento e

compartilhamento de conhecimento

tácito, sobretudo os que se

relacionam com conhecimento

explícito refletido na produção

documental.

Técnicas da área de

biblioteconomia e

documentação;

Normas da área de

biblioteconomia e

documentação de diversas

instituições;

Cadeia documental X Cadeia

do conhecimento.

Organizações

Metodologia

Fonte: desenvolvido pelas autoras (2013)

Percebe-se que a grande maioria das abordagens são voltadas às Bibliotecas Universitárias, o

que pode caracterizar que nas universidades há uma exigência maior com relação à Gestão do

Conhecimento.

De acordo com Che Rusuli, Tasmin e Takala (2012) o ambiente de GC em que as bibliotecas

acadêmicas operam está mudando. Confrontadas com desafios e oportunidades bibliotecas

universitárias precisam responder a estes desafios, a fim de servir melhor as necessidades de

toda a comunidade acadêmica. Uma maneira de fazer isso é engajando-se em práticas de

Gestão de Conhecimento, isto é, criar, capturar, compartilhar e utilizar o conhecimento para

atingir os objetivos da biblioteca.

Com relação ao tipo de abordagem, pode-se ver claramente que os frameworks conceituais

estão em maioria. Todavia, com aplicações diversas (kowledge cities; gestão do conhecimento

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do cliente; atividades de GC; framework estratégico; aplicação de GC em bibliotecas;

knowledge commons e avaliação de indicadores e medidas de desempenho).

Parece que há a necessidade de um framework mais completo, com uma abordagem holística

da implementação da GC em bibliotecas. Yang e Liu (2009) consideram a variável da

complexidade, no entanto essa visão restringe-se à GC e não às bibliotecas como sistemas

complexos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade do engajamento no contexto da GC passa a ser uma questão de sobrevivência

no mercado competitivo. Daneshgar e Parirokh ao refletir sobre o contexto da GC nas

bibliotecas acadêmicas destacam que estas precisam

[...] produzir respostas rápidas e eficazes para diversas mudanças ambientais

constitui-se em grande desafio para elas aumentarem suas taxas de

sobrevivência e manter o crescimento em ambientes competitivos

(DANESHGAR; PARIROKH, 2012, p. 7).

Nesse sentido, independentemente da modalidade de biblioteca, os modelos conceituais

surgem como alternativas para compreender o fenômeno da GC nestas organizações tão

complexas, em virtude do “emaranhado” de informações e conhecimentos que precisam dar

conta. De forma que possam facilitar a implementação da GC nestes contextos: favorecendo

sua compreensão; definindo objetivos; destacando elementos a serem considerados;

proporcionando uma visão holística; favorecendo a sinergia dos recursos já existentes; entre

outros.

Observamos que os trabalhos têm sido desenvolvidos com abordagens similares. Porumbeanu

(2009), por exemplo, apresentou um framework bastante interessante, que assim como Dong

(2008), considera a dualidade de conhecimento existente em bibliotecas, reconhecendo dois

níveis de conhecimento, diferentemente das demais organizações ─, porém sem foco

específico, diferenciando-se dos trabalhos de Daneshgar e Pariroch (2012), Che Rusuli,

Tasmin e Takala (2012), Li e Li (2010) e Yang e Liu (2009), por exemplo, que tratam

especificamente de bibliotecas universitárias.

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Todavia o interessante de se identificar modelos conceituais, frameworks e metodologias ─

mesmo que não sejam exatamente destinados ao tipo de organização que nos interessa ─ é

que podemos adaptá-los aos contextos necessários, além de poderem ser utilizados de forma

complementar. Um dos principais objetivos dos frameworks é incorporar novos significados,

relações, domínios e conhecimentos ao longo do tempo, o que ocorre quando é reutilizado em

outros ambientes de contextos semelhantes (DANESHGAR; PARIROKH, 2012).

Neste sentido, acreditamos que esta pesquisa pode ser motivadora para que as bibliotecas

possam começar a compreender melhor os seus contextos e tomar decisões mais acertadas

sobre a implantação da GC.

Além disso, a relação da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação com a Gestão do

Conhecimento deve ser uma motivação a mais para a sua aplicação em bibliotecas e unidades

de informação. Como pode-se ver por meio do estudo de Alsina (2008) as habilidades

proporcionadas pelos serviços de bibliotecas podem ser aperfeiçoadas e adequadas para

trabalhar com o conhecimento.

Artigo recebido em 01 de agosto de 2013 e aceito para publicação em 07 de agosto de 2013

METHODOLOGIES, CONCEPTUAL MODELS AND FRAMEWORKS:

AN ANALYSIS OF KNOWLEDGE MANAGEMENT

IMPLEMENTATION IN LIBRARIES

Abstract:

The importance of developing Knowledge Management (KM) in organizations is

unquestionable in this contemporary society to maintain competitiveness. In this sense, it

turns out that the libraries are getting engaged in this dynamic creation, representation,

dissemination and use of knowledge, which proposes the KM. Therefore, uses of conceptual

frameworks and methodologies have been used to support this task. Through systematic and

narrative literature review, was developed a survey of studies that deal with methodologies,

frameworks and conceptual models for the implementation of KM in libraries. Ten papers

were analyzed, divided into conceptual models, methodologies, frameworks and others. Some

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have specific focus as public libraries and university libraries; others are not direct, serving

to libraries in general. However, regardless of the focus of the approach, all intend to boost

libraries through the use of their most valuable asset: knowledge. It appears that the

approaches can be complementary or exclusionary, but either guide positively managers of

libraries and librarians who want to better understand their contexts, and make better

decisions about the implementation of KM.

Keywords: Knowledge Management. Methodologies. Frameworks. Libraries.

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