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Michael Jackson - Discografia Comentada Got to Be There (janeiro 1972) Em seu primeiro álbum solo, a orientação era elaborar uma extensão do que Michael fazia no Jackson 5, só que por um viés mais romântico e ainda mais adocicado, evidenciado pela inclusão de uma bela canção de Carole King, “You’ve Got a Friend” – que depois se tornou imortalizada pela interpretação de James Taylor – e da faixa-título. Obviamente, o disco cativa muito mais pela abordagem divertida imprimida em bobagens deliciosas como "Rockin' Robin" e a versão de “Love is Here and Now You’re Gone”, das Supremes, mas principalmente pela impressionante maturidade com que o então garoto atacou um clássico de Bill Withers, “Ain’t No Sunshine”. Apesar de sua voz de moleque irritar um pouco nos agudos, Michael estreou com o pé direito. Ben (agosto 1972) Lançado poucos meses depois do primeiro álbum e ainda integrante do Jackson 5, Michael já sentiu a barra pesada que teria pela frente ao trabalhar em dois discos gravados ao mesmo tempo apenas para aproveitar/capitalizar a sua “voz de garotinho prodígio” enquanto a inevitável mudança hormonal não surgia. O mesmo time de compositores e arranjadores do disco anterior, arregimentado pelo chefão da Motown, Berry Gordy, trabalhou com afinco e mesma pegada, fazendo com que um álbum

michael jackson discografia comentada - Regis Tadeu · 2020. 8. 22. · Michael Jackson - Discografia Comentada Got to Be There (janeiro 1972) Em seu primeiro álbum solo, a orientação

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  • Michael Jackson - Discografia Comentada

    Got to Be There(janeiro 1972)

    Em seu primeiro álbum solo, a orientação era elaborar uma extensão do que Michael fazia no Jackson 5, só que por um viés mais romântico e ainda mais adocicado, evidenciado pela inclusão de uma bela canção de Carole King, “You’ve Got a Friend” – que depois se tornou imortalizada pela interpretação de James Taylor – e da faixa-título. Obviamente, o disco cativa muito mais pela abordagem divertida imprimida em bobagens deliciosas como "Rockin' Robin" e a versão de “Love is Here and Now You’re Gone”, das Supremes, mas principalmente pela impressionante maturidade com que o então garoto atacou um clássico de Bill Withers, “Ain’t No Sunshine”. Apesar de sua voz de moleque irritar um pouco nos agudos, Michael estreou com o pé direito.

    Ben(agosto 1972) Lançado poucos meses depois do primeiro álbum e ainda integrante do Jackson 5, Michael já sentiu a barra pesada que teria pela frente ao trabalhar em dois discos gravados ao mesmo tempo apenas para aproveitar/capitalizar a sua “voz de garotinho prodígio” enquanto a inevitável mudança hormonal não surgia. O mesmo time de compositores e arranjadores do disco anterior, arregimentado pelo chefão da Motown, Berry Gordy, trabalhou com afinco e mesma pegada, fazendo com que um álbum

  • complementasse o outro, sem grandes alterações. A melosa faixa-título fez um sucesso enorme nas rádios e há pequenas pepitas do pop escondidas no repertório, como “We've Got a Good Thing Going”, “Greatest Show on Earth” e a versão de “People Make the World Go ‘Round”, do grupo vocal Stylistics. Sem contar a reinterpretação da clássica “My Girl” com uma abordagem um pouco mais sacolejante do que aquela imortalizada pelos Temptations. Foi uma sequência digna!

    Music & Me(1973)

    Já com a voz mais grave aos 14 anos, Michael começou a bater o pé para incluir suas próprias composições, proposta negada completamente por Berry Gordy e que deu início ao azedamento das relações entre ambos. Não deixa de causar certo estranhamento o quanto Michael imprimiu uma entonação à la Diana Ross no hit “Happy”, tema do filme Lady Sings the Blues, estrelado por Ross no papel de Billie Holiday. Mesmo tendo outro grande sucesso em sua faixa-título, o álbum é considerado um passo atrás na carreira solo do garoto, o que para mim é uma tremenda injustiça, ainda mais com faixas bem legais como “All the Things You Are”, “Euphoria” e “Johnny Raven”. É um daqueles discos que precisa ser reouvido com atenção...

    Forever, Michael(1975)

    Pouco antes do rompimento definitivo com a Motown, Michael deu amostras do tipo de direcionamento mais dançante que pretendia dar em sua própria carreira, uma manobra que explodiria no disco seguinte. Predominantemente suingado, o repertório é calcado em composições mais maduras em termos de arranjos, em que “We’re Almost There” e “Just a Little Bit of You”- não por acaso, ambas produzidas por Brian Holland, do lendário trio de compositores Holland/Dozier/Holland – são os melhores exemplos. Evidente, ainda há resquícios de sacarose romântica em “One Day in Your Life” e em “You Are There”, mas isso não atrapalha a audição, pois tudo é compensado com as ótimas “Dapper Dan” e “Take Me Back”. Disco subestimado.

    Off the Wall (1979)

    Não há um ser vivo no planeta que não tenha caído de costas quando o groove arrebatador de “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” saiu dos alto-falantes das rádios. A canção era tão absurdamente espetacular que dava a impressão que Michael tinha saído de um casulo e aberto asas lindíssimas. Ainda hoje, é impossível não sacudir o esqueleto onde quer que estejamos quando ouvimos esse petardo pop. Como se isso não bastasse, o primeiro álbum lançado por uma nova gravadora (Epic) depois do rompimento com a Motown, produzido pelo mago Quincy Jones, tem tantas canções sensacionais – “Rock With You”, “Workin’ Day and Night”, “Get on the Floor”,

  • a faixa-título – que mais parece uma coletânea. Não só é o ponto alto da excelência musical de Michael: é um dos melhores álbuns de todos os tempos!

    Thriller (1982)

    Tudo bem, é o disco mais vendido de todos os tempos, com faixas que revolucionaram o mundo dos videoclipes, bla bla bla... Mas a verdade precisa ser dita: a fama do álbum se deve basicamente ao impacto visual proporcionado pelos clipes de “Billie Jean”, “Beat It” e da faixa-título. São músicas realmente muito boas que, junto com as pouco lembradas “Babe Be Mine” e “P.Y.T. (Pretty Young Thing)” – não à toa, ambas com uma vibe totalmente Off the Wall – compensam canções MUITO medianas, como a parceria com Paul McCartney na boba “The Girl is Mine”, as insípidas imitações de Diana Ross nas baladas “Human Nature” e “The Lady in My Life”, e a demonstração estéril da tecnologia dos sintetizadores e programações eletrônicas na bagunçada “Wanna Be Startin’ Somethin’”. Sem contar que a ordem das canções no disco está totalmente errada: não abrir com “Billie Jean”, botar “Thriller” como a última faixa do lado A e jogar “P.Y.T.” para o final do disco beira a insanidade!

    Bad (1987)

    Depois do estouro mundial do álbum anterior, a tarefa era inglória: como superar ou mesmo igualar o sucesso de Thriller? Esse talvez tenha sido o pesadelo em comum que Michael e Quincy Jones tiveram por meses antes de entrar no estúdio. E o negócio realmente degringolou, já que nada em Bad soa minimamente digno de nota. A começar pela medíocre faixa-título, uma canção que soa como um material deixado de lado das sessões de gravação de algum disco da irmã de Michael, a linda e talentosa Janet – assim como ocorre nas fraquíssimas “Just Good Friends”, “Another Part of Me” e “I Just can’t Stop Lovin’ You”. Tudo apresenta um excesso de sintetizadores tão desagradável que até mesmo as boas ideias em “The Way You Make Me Feel”, “Man in the Mirror”, “Leave Me Alone” e “Smooth Criminal” acabam ‘empasteladas’ por timbres irritantes. Há canções beirando o constrangedor, como “Speed Demon” e “Liberian Girl”, e até mesmo a tentativa de se aproximar do rock depois do estouro de “Beat It” deu errado, já que “Dirty Diana” é tão cativante quanto um cacto seco. “Flop” total!

    Dangerous (1991)

    Buscando evitar o tropeço do disco anterior, Michael desfez a parceria com Quincy Jones e chamou um trio de produtores – Teddy Riley, Bruce Swedien e Bill Bottrell – para se aproximar do universo do hip hop. Isso fica claro logo na faixa de abertura, a ótima “Jam”, claramente inspirada – mais uma vez! – na sonoridade resultante da parceria de sua irmã Janet com a dupla de produtores Jimmy Jam e Terry Lewis (até no título da música!), que se

  • estende a canções como “Why You Wanna Trip on Me”, “She Drives Me Wild” e “Can’t Let Her Get Away”. “Remember the Time” e “Black and White” tiveram suas boas qualidades realçadas por clipes muito divertidos. Tudo compensa as baladas xaroposas – “Heal the World”, “Give in to Me”, “Gone Too Soon” -, todas proibidas para diabéticos. Se tivesse sido lançado como um LP simples e não duplo, com uma seleção de repertório caprichada, seria alçado a condição de clássico. Por causa da megalomania de Michael, é apenas um bom disco.

    HIStory: Past, Present and Future, Book I

    E por falar em megalomania, este álbum duplo é um dos mais equivocados exemplos, já que reúne no primeiro CD uma coletânea desnecessária (todo mundo já tinha aquelas músicas em casa) e no segundo algumas canções até então inéditas e que acrescentavam muito pouco na carreira egocêntrica do cantor. Pretensioso e aproveitando a autonomeação como “rei do Pop”, Michael já era assombrado pelos escândalos e tratou de alimentar ainda mais a sua mitomania com o messianismo explícito em “Earth Song”, “They Don’t Care About Us” e na chatíssima balada de autoajuda “You Are Not Alone”. Há poucos momentos dignos de nota, como a bela “Stranger in Moscow”, o dueto com Janet Jackson em “Scream” e as sacolejantes “This Time Around” e “D.S.”, que oferecem um contraponto a uma desinteressante versão de “Come Together”, dos Beatles, e outras canções medíocres, como o pavoroso chororô em “Childhood” (tema do filme Free Willy 2). No fim, tudo soa desnecessário.

    Invincible (2001)

    O último disco lançado por Michael é um álbum tão fraco que chega a ser difícil acreditar que tenha vindo da mesma lavra de quem sempre foi chamado de “gênio” e “rei do pop”. Além do desejo de convencer a si mesmo e aos seus fãs babadores de ovos que era realmente ‘invencível’ – uma falácia da qual todos sempre soubemos – com os títulos de algumas canções incrivelmente insípidas, como “Privacy”, “Unbreakable” e, claro, a faixa-título.

    Apostando novamente suas fichas em uma formula que unia o seu pop já manjado a uma pálida concepção do que era o hip hop, Michael apenas conseguiu exibir a falência total de sua habilidade em fazer algo realmente significativo em termos musicais, passando a soar exatamente como seus imitadores. É inacreditável ouvir o cara tentando soar como um sub-Prince em “Butterflies” e “2000 Watts”. Quando foi para as baladas, os resultados foram ainda mais desastrosos, como provam a pseudomessiânica “The Lost Children” e a autoindulgente “Cry”. Que final triste...

  • Michael (2010)

    Desculpe, mas não dá para comentar a respeito de uma das maiores picaretagens já feitas por uma gravadora em todos os tempos: a Sony simplesmente contratou um imitador do Michael Jackson para botar a voz em cima de canções até então inacabadas!!! Recuso-me a comentar esse estelionato...

    Xscape (2014)

    Depois do fiasco da picaretagem em Michael ter batido fundo no bolso da gravadora, foi dada a ordem para que os produtores Timbaland e L.A. Reid arregimentassem um time de outros produtores para dar um trato ao material que sobrou e fazer com tudo soasse mais próximo daquilo que Michael gravou nos anos 80 do que uma extensão daquilo que ele vinha fazendo antes de bater as botas. Incrivelmente, há bons momentos, como a parceria com o veteraníssimo Paul Anka em “Love Never Felt So Good” com sua pegada soul/disco meio retrô e refrão grudento, a charmosa “Slave to the Rhythm” e a interessante “Do You Know Where Your Children Are”, que soa como se Michael resolvesse chamar o Devo ou o Ultravox como banda de apoio. Em compensação, várias canções simplesmente não funcionam, como “Chicago” e seu excesso de teclados com timbres cafonas e programações eletrônicas, a boba “Loving You”, a apenas simpática “A Place With No Name” e a fraquíssima “Blue Gangsta”. Como um “verdadeiro” disco póstumo, até que não ficou constrangedor.