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Michael Jackson - Revista Veja

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Panorama581 Imagemda

Semana

671 Holofote

681Datas70 1Radar

721 SobeDesce

721 ConversacomJoelSantana

731 Números

761 Veja Essa

Brasil781 Senado Hora

deesvaziaraslixeiras

841AraguaiaCuriófala das

execuçõessumáriasde

guerrilheiros

Internacional861IrãMulheresideram

osgritosporliberdad901Acensuranainterneecomoosiranianosconseguiramurlá-Ia

,.IndiceEDiÇÃO1191 ANO421 N°26TIRAGEM1284778EXEMPLARES

121 Carta ao Leitor

191 EntrevistaLeonardoNascimentodeAraújo

261 I.,a luft

351 Millôr

40 1leitor

561 Blogosfera

JJtJ~

Leonardo: <5

"O s clubes estão ~

quebrados". ~ . §PAG.19 ~ ;;

Arthur Virgílio:"Ladrões!".

PAG.76

Geral941Gente961PopAmortede

MichaelJackson

1121EspecialDistúrbiofronteiriço:a vidaà beirado abismo

1221 Maílsonda Nóbrega

1241SaúdeHPV:este

detectaa atividadedo vírus

1281 OtransplantedeStevJobs,daApple

130 1 Comportamento

Vaidadeinfantil:spaaos9 e Botoxaos 18

1401 PerfilJoséEdilbenes

EBONY MAGAZINEIAP

.com

CINEMATrailerda

animaçãoA Erado Gelo3

~'I;

Michael Jackson (1958-2009) cresceu na frentedas câmeras. Durante

cinco décadas, o mundo aplau-diu sua genialidade, dançou seus

passos, cantou seus hits, e depois sesurpreendeu com seus escândalos e excen-tricidades. O site de VEJA traz a trajetória

desse popstar, com destaque para:

. Cronologia:nfância,sucessos,casamentose filhos. Fotos:acksonFive,Neverland,augeedecadência. Repercussão:úsicos,críticose fãslamentama perda. CapasdeVEJAcomo reido pop. Espaçoparadeixarseucomentário

www.veja.com.br/extras

. ALÉMDOSLIMITESProfessoreseeducaçãoísicadizemqueexisteumabarreifísicaepsicológicaservencidanoiníciodequalqueratividadefísica:a barreiradostrêsmeses.Reportagemmvídeoexplicacomoelafunciona.Emwww.ve

,--t com.brjvideos-I. ESPORTEDO INVERNO

Saibacomofazerumaquecimentoadequadonaestaçãomaisfriadoano.Oprocedimentoindispensávelaraevitaresões.Emwww

veja.com.brjpergun

o GÊNIODO pop.

8 I '0 DE JULHO, 2009 I wja

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o cantor foi socorrido na mansão

alugada onde vivia em Los Angeles por

volta das 12h20 da quinta-feira. Jackson

havia recebido os primeiros cuidados de

seu médico particular, Conrad Murray

(figura que logo se tomou uma incógni-

ta: ele teve seu carro apreendido pela po-lícia, que queria interrogá-Io mas não o

encontrava; em seguida, veio à tona queonze dias atrás o médico havia anuncia-

do seu desligamento da profissão). Para-

médicos o encontraram sem respiração e

sem pulso. Levaram-no, em estado de

coma, para o hospital da Universidade

da Califórnia, a poucas quadras. Mal ha-

viam chegado e a notícia de sua morteiminente - finalmente declarada às

14h26 - já causava comoção global. O

tráfego do serviço de microblogs Twitterdobrou. O Google entrou em pane, tan-

tas as buscas. O serviço de mensagensinstantâneas da AOL também sofreu um

colapso nos Estados Unidos. O iTunes e

a Amazon, as maiores lojas virtuais de

música do mundo, registraram um au-mento extraordinário nas vendas de dis-

cos e canções de Jackson. No caso da

Amazon, o volume de vendas cresceuincríveis700 vezes.

A causa exata da morte só deverá ser

conhecida em quatro a seis semanas,

quando serão divulgados os resultadosde sua autópsia. Mas informações vindas

de parentes e amigos do cantor sugerem

que Jackson vinha abusando de analgési-

cos potentes. Segundo aventou na sexta-

feira o canal de fofocas TMZ, entre eles

estaria o demerol, um opiáceo sintéticode ação similar à da morfina. Jackson te-

ria tomado uma injeção poucas horasantes da parada cardíaca. Na classe dos

opiáceos, só a heroína causa mais depen-

dência que a meperidina, como é chama-

do o princípio ativo do demerol. Nas

primeiras doses, o efeito dura de seis aoito horas. "Se ele for consumido todos

os dias, bastam duas semanas para oefeito do medicamento durar a metade

disso", diz !rimar de Paula Posso, anes-

tesiologista do Hospital das Clínicas de

São Paulo. A parada respiratória ocorre

porque o medicamento diminui a sensi-bilidade das células do sistema nervoso

central que regulam a respiração - aqual vai diminuindo, até causar sonolên- ~

cia. A falta de oxigênio, então, pode cul- §

minar em colapso do coração. O cantor ~começou a usar remédios para a dor em g

,..

,

\ "

98 I 10DE JULHO. 2009 Iveja

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,~.I,

~-~-----

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~-

II

--

t-

MORTESÚBITAMichael Jackson

entubado (foto maior à esq.),

o embarque do corpo no helicóptero

rumo ao departamento de medicina

legal de Los Angeles (acima),

a chegada da mãe ao hospital (à esq.)

e a irmã La Toya em prantos: ele sai decena dias antes do inicio de uma

temporada de cinquenta shows

veja I 1°DE JULHO, 2009 199

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meados dos anos 80. Desde então, teriase tomado dependente deles. Nos últi-mos tempos, Jackson os estaria tomandoem razão de uma lesão numa vénebra e

de dores nas pernas produzidas pelo ex-cesso de ensaios: depois de vários anos

sem fazer shows e da longa reclusão quese impôs desde que foi absolvido da acu-sação de abuso sexual de um garoto, em2005, o cantor estava prestes a retomarao palco. No próximo dia 13,daria inícioa uma temporada de cinquenta apresen-tações em Londres.

No início da década de 80, momentode explosão de Jackson, nem nos con-fins do planeta se encontraria um ado-lescente que não tivesse se arriscado aimitar o quase impossível moonwalk, adança que ele inventou ao fundir a sua-

vidade dos passos de Fred Astaire àagressividade dos dançarinos de break,ou suas coreografias sensacionais, pro-fundamente estilizadas - comoaquelamão na virilha que era, ao mesmo tem-po, erótica e uma paródia do erotismo.Hoje, não se encontra em lugar nenhumattista pop que não dance no palco à ma-neira de Jackson: como uma declaraçãocriativa que avança por territórios e sen-tidos aos quais a letra e a melodia não [:Jchegam. Mas essa foi apenas uma das ~

revoluçõesde Jackson. ~

As imagens de Thriller;catorze mi- ~nutos que sempre pareciam cunos de- ~mais, cravaramo videoclipecomo a for- ~ma essencial de veicular uma música e <5

ajudaram a tomar a MTVuma força de- ~

cisiva entre o público jovem. E o público <3ovem (com a ajuda decisiva de WalterYemikoff, então presidente da CBS, queameaçou tirar todos os anistas da com-panhia da MTV caso ela não exibisseThriller) obrigou a emissora, que antestorcia o nariz para anistas de música ne-gra, a abrir sua programação para eles.

Hoje, o rap e o rhythm'n'blues (R&B)são os estilos hegemÔnicos na emissora.

Jackson desenhou ainda o mapa decomponamento do ícone pop para as dé-cadas seguintes: o anista inacessível que,com suas esquisitices e demandas, causafrenesi entre os paparazzi, aumenta a cir-culação dos tabloides e leva seus assesso-res e contratantes à loucura. Pop star quese preze, hoje - e a lista vai de astros"normais" como Madonna, Justin Tim-berlake e Mary 1. Blige a "excêntricos"do quilate de Mariah Carey e Britney

100 I 1°DE JULHO. 2009 I veja

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MÚSiCAComele,amúsicanegraornou-sea

forçadominantenopop.Oartistamaisbem-sucedidoe

hoje- JustinTimber-lake,umbranco ain-dabebedesuafonte

MODAEESnLO~Seuvisualfoi modanos~anos80.Depoisdisso,o "quesobressaiuoisuaexcentricidade.asos

brilhantesoourodesuasluvasecasacosornaram-se

partedovocabulárioaalta-costura atémesmoemdesfilesdesteano,degrifescomoLouisVuitton

GLOBALlZADOEm sentido

anti-horário,

Jãs choram a morte

do cantor em

Pequim, Londres,Los Angeles e

Moscou: a comoção

mundial provocou

pane até no Google

DANÇADepoisdeMichaelackson,erumbomdançarinoornou-semperativo

paraqualquerastromasculinoamúsicapop.Inspirando-seobreak,umadançaderua,eleinventoueu.,

próprioestilonocomeçodosanos80- omoonwalk.OusoqueJacksonez

democassinsretoscommeiasbrancas- emtese,umpecadoashion eraumahomenagemouniformedosbailarinos

veja I 1°DE JULHO, 2009 I 101

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TALENTOPRECOCEO cantor (emprimeiro plano), com ospais e os irmãos

nos tempos do Jackson Five: sucesso e traumas emjamflia

Spears -, reza pela cartilha escrita por

Jackson. Em uma reflexão que só pode

ser feita a posteriori, Jackson foi ainda

um exemplo definitivo do soft power, ou

a tração que um país exerce por meio deconceitos e ideias. Na primeira parte da

década de 80, a economia americana es-tava às voltas com um dado novo e des-

concertante: a ascensão esmagadora do

Japão como potência industrial - e do-no de uma indústria não mais imitadora,

como antes, mas criadora. A Sony japo-

nesa lançou, nesse período, um fcone

cultural tão poderoso quanto o próprio

Thriller: o walkman, acessório que inau-

gurou a era da ponabilidade da música.Mas os Estados Unidos, se não inventa-

ram o aparelho, tinham a música que seouvia nele - a de Michael Jackson.

E aí, claro, está a questão crucial

para entender Jackson ou qualquer ou-

tro artista capaz de alcançar a longevi-

dade na carreira: a música, o epicentro

do qual irradiam todos esses tremores

culturais e componamentais. Em razão

do aparato industrial e mercadológico

que cerca os pop stars, é comum que se

pinte com tintas ideológicas a sua exis-tência, acusando-os de serem fabrica-

ções. Alguns o são. Outros trazem para

o cenário artfstico um talento verdadei-

ro e uma capacidade real de inovação.Descartar Madonna ou Justin Timber-

lake como "produtos" é só uma forma

de não compreendê-Ios, nem ao mundo

em que vivemos; categorizar Jacksoncomo uma fabricação seria umequfvocoainda mais completo.

Ele de fato criouo pop.Até a décadade 70, a música jovem se dividia emdois nichos distintos. Havia o rock e

suas variações, consumidos principal-mente por adolescentes brancos e declasse média.E havia a músicanegra -soul, funk, disco, rhythm'n'blues -,

que era ouvida por negros. Jackson que-brou essa barreira em discos como Offlhe Wall,de 1979, e Thriller,de 1982, e

borrou para sempre a linha que separavaos dois universos. Nesses discos, o can-tor talhou as linhas de baixo e bateria na

medida para as pistas de dança; masassociou-as à vibração caracte-

r;.OS ALTOS

E BAIXOS

DEMICHAEL

(emnúmerode

cópiasvendidas)

)'.

OFFTHE

WALL-1979Éo momentoem

queelesedescoladosirmãoseda imagemde

artistajuvenil.Emsintoniacomostemposda

discoteca,é umálbumadultoedançante

BEN-1972

Segundodiscodocantor,icoumarcadopelamúsica-título a primeiradesuacarreira-soloa alcançaro topo nas

paradasamericanas

102 11° DE JULHO, 2009 I veja

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.1 C 11/1 f LJ \ C " SOi't

INVINCIBLE- 2001Comcustode30 milhões

dedólares,oi o discomaiscaroproduzidoatéentão.levouseisanos

paraficarpronto- efoiumadecepção

OANGEROUS-1991

Apesardesaudadocomo"reido pop",eletemdificuldadeem

acompanharsnovastendênciasdamúsica

negra,razidaspelorape pelohiphop

HIStory: PAST,PRESENTANOFUTURE-1995A coletãneaé umatentativadesesperadaocantordedemonstrarqueaindatemalgumarelevânciamusical.Imersoemesquisitices,mandaespalharestátuassuaspelosquatrocantosdomundo

ONIPRESENÇA Michael Jackson

gravando videoclipe no Pelourinho,

em Salvador (no alto), num jantar

com Madonna (no centro) e recebendo

homenagem de Britney Spears no

Madison Square Garden, em Nova

York: elefazia questão de ostentar

o epfteto de "rei do pop"

wja I 10DEJULHO,2009 1103

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rfstica do rock'n'roll. Atémesmo asori-

gens de um fenômeno social notávelentre os jovens americanos, o dos ado-lescentes brancos que querem falar,dançar e agir como negros, podem sertraçadas diretamente à sua influência.

Descontado StevieWonder,que lan-çou o primeiro disco aos 12 anos, mascujo apelonunca residiu no magnetismoou na dança,Michael Jackson foi o pri-meiro grande ídolo mirim da música.

Nascido em 29 de agosto de 1958 emGary, no estado de Indiana, desde cedoele mostrou talentopara o canto e a dan-ça. Seu pai, Joseph, que havia tentado acarreira num grupo de rhythm'n'blues,

percebeulogo o talentodeMichael,bemcomo de seus outros filhos. Transfor-

mou-os no Jackson Five, que ensaiava

exaustivamente. Em 1968, o grupo foicontratadopela gravadoraMotown, a re-ferênciamíticadamúsicanegra.A audi-ção do Jackson Five para Berry GordyJr., fundador e presidente da Motown,deixa claro que a estrela ali era Michael.No vídeoremanescentedoteste, elecan-ta I Got the Feelin', de James Brown, e

encarna todos os trejeitos do astro dofunk - mas comgraça própria.

Ao se lançar como artista-solo, em1971, Jacksonjá havia aprendidomuitosobre composição e produção musical.

Teve a sagacidade de, pouco depois,aliar-se ao produtor Quincy Jones, quehavia feito carreira no mundo do jazz.Eles colaboraram nos álbuns Off theWall, Thriller e Bad. Jackson não eraainda o recluso das últimas décadas,mas um artista curioso e vivo. Muitos

dos ritmos presentes nesses trabalhosnasceram de suas idas às discotecas, e

suas letras vinham repletas das angús- ....tias de um rapaz da sua idade. Até 1996, ~ano em que foi ao Morro Dona Marta, ~no Rio de Janeiro, e ao Pelourinho, em ~

Salvador,para gravaro clipe de They ffi

Don't Careabout Us, Jackson ainda vi- ~via no mundo real. Cada vez mais, po-rém, ia sendo dominado pelo lado obs-curamente infantilizado de suapersona-lidade, que o levaria, a cena altura, a se

isolar em sua bizarra propriedade deNeverland - ou Terra do Nunca, em

referência ao lugar em que vivia PeterPan, o garoto que não queria crescer.Esse Jackson aberrante e patético enco-briu o totem da revolução pop. Mas,com a sua mone, ele renasceu.

1041 1°DE JULHO. 2009 I wja

50FT POWER O c am or

recebido na Casa Branca por

Ronald e Nancy Reagan

(no alto). com Bill Climon

e afilha Chelsea, ao lado de

Nelson Mandela (à dir.) e com

a princesa Diana (abaixo):

s{mbol o do exercfci o do poder

pelos Estados Uni dos por

meio da cultUra

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o AVESSODOAMichael Jackson passou a infância trabalhandocomo um adulto. Aí, cresceu e dedicou a maiorparte de seu tempo a agir como criança e a quererprovar que isso era a coisa mais natural do mundo

LIZIA BYDLOWSKI

Em uma rara entrevista, dada àrevista Time, Joseph Jackson, opai de Michael, descreveu o fi-lho mais famoso: "Ele é muito

tímido. Quer dizer, tímido diante depoucas pessoas. No palco, na frente demilhares, ele se solta. O rapaz adoraanimais. Tem um lhama, dois cervos,umcarneiro, umacobra, três papagaios,dois casais de cisnes, um negro e umbranco, alguns pavões. É religioso(mais do que os irmãos) e vegetarianoradical. Tem um carrinho de pipoca e

uma máquina de fazer sorvete - esempre convida crianças para compar-tilhar com ele essas delícias". A cenaaltUra, a mãe, Katherine, interrompe:"Falam que ele é gay. Michael não égay. Isso iria contra a religião, contraDeus". A entrevista é de 1984,MichaelJackson tinha 25 anos, ainda moravacom os pais. Já se vislumbravam ali osesboços da esquisitíssima, ambígua edesequilibrada figura que ele viria a serpelo resto da vida: nem preto, nembranco,nemhomem,nemmulher,nem

1061 1°DEJULHO, 2009 I wja

adulto, nem criança - ou,colocadodeoutra forma, preto, branco, homem,

mulher, adulto e criança.Joseph e Katherine. Pai e mãe. Pobre

Michael. A ambição dos pais não co-nhecia limites. Aos 6 anos, Michael setomaria a maior estrela do grupocriadopor eles. Acabava-se ali sua infância.Ensaiava o dia inteiro - "Às vezes,olhava para fora, via as crianças brin-cando e chorava", contou em entrevistaà apresentadora Oprab Winfrey, em1993.Se os men.inoserravamum passoou uma nota, o pai se enfurecia comoum treinador de animais de circo. Lem-

brou Michael na entrevista a Oprab:"Ele pania para cima da gente... Ficá-vamos muito nervosos nos ensaios por-que ele ficava sentado numa cadeira,com o cinto na mão, e se alguma coisanão safa direito ele vinha para cima,sem dó". De tão aterrorizado, "tinhavezes que ele chegava peno e eu vomi-tava". Jackson pai dizia que o filho-prodígio era feio, criticava o rosto comespinhas e ria de seu nariz "enorme".Nos "muito tristes" anos da puberdade,ele "chorava todos os dias". O começo

da carreira musical foi em boates e pal-cos de prostfbulos de Indiana. Em umdeles, forçado pelos irmãos mais ve-lhos, Michael perdeu a virgindade eganhou mais um trauma para carregarvida afora. O pai dominador, a mãemuito religiosa mas indiferente aosmaus-tratos, a fama, o isolamento, a

fragilidade emocional, o abismo entresua carreira e a dos irmãos (e irmãs -as três, Rebbie, Janet e LaToya, tam-bém se viabilizaram como cantoras,mas no limite mínimo da mediocrida-de), tudo isso moldou a personalidadede Michael Jackson. Seu caso se encai-xa como exemplo acabado dosmanuaisbásicos de psicologia, em especial nos

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capítulos sobre os efeitos na personali-dade da infância perdida e da busca tor-turanteelaperfeição. I., ----- -Aos 20 anos, Michael Jackson deci-

diu exorcizar os fantasmas infantis pelafuga de simesmoe pela erradicação dos.sinais visíveis de suas origens. Come-çou sua metamorfose. As sobrancelhasse arquearam. O queixo ganhou umacovinha, a pálpebra foi levantada e omaxilar afilou. Os lábios se adelgaça-ram, o cabeloperdeu os caracóise ficouliso.A pele clareavae o nariz reapareciacada dia mais fino. Apesar de todas asevidências, nas poucas vezes em quetocou no assunto admitiu ter se subme-tido a rinoplastias. Foram muitas, aponto de a estrurora cartilaginosa do na-riz ter dado lugar a uma prótese, queatrapalhava a respiração e ele tirava pa-ra dormir. A uma admirada Oprah, eledisse candidamente que sua pele ficara

brancaem consequênciado vitiligo,a fdespigmentaçãobenignada epiderme. ~I"É de família", disse. Aproveitou para ~.justificara maquiagempesada- "Uso ~;para disfarçar as manchas na pele" - e ~.

As cinco

mulheres

Qantomaisestranhoare-cia,maisMichaelackson

queriaprovarque era umhomemnormal.Suaprimeiranamoradaséria"foi BrookeShields,ela tambémartistaprecoce,onhecedoraosso-frimentosntensosfantásticosprazeresueelevivia.Nointer-

valodedécadasntreBrookeseupróximo,igamos,oman-ce,Michaelacksonultivouaamizadede duasmulheresmaisvelhas:a cantoraDiana

Ross,comquemrabalhounofilmeTheWize comquemporcertotempotentouicarpare-cido,e a atrizElizabethaylor,umaalma gêmeatempera-mental,gastadoramaluque-te.Em1994,casou-seemternamoradoomUsaMariePres-

ley,a filha de Elvis.Duroudois

anosenuncaconvenceuinguém,masna sexta-feira,abaladapor

suamorte,elaescreveunumblog:"Nossarelaçãonãofoi umasimu-

lação.Eraumarelaçãoncomum,é verdade,naqualduaspessoas

incomunsque nãotinhamnem

conheciammavidanormalen-contraramumaconexão",ComDebbieRowe, mãededoisdeseusilhos,Michaelacksonemtentoudisfarçar:epoisdosim,numasuítedehotelemSydney,naAustrália,eu-lheumbeijinhonorosto efoisó.

108 110DEJULHO,2009I veja

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VELHAS, NOVASE TANTOFAZ

Jacksonesuasdamas:

a musa-espelhoDiana Ross,

a colega deproblemas de

infdncia Brooke Shields,

a amiga Elizabeth Taylor.

a noiva Lisa Marie Presley

e a enfermeira motoqueira

Debbie Rowe - que lhe deu

doisfilhos de olhos azuis

BONZINHO?

NEMTANTO

A imagemcultivada

pelaproximidadecommeninoscomo

MacaulayCulkindespedaçou-secomasacusações

depedofiliaeas

imprudênciascom

oprópriofilho

para reiterar suas raizes: "Tenho orgu-lho de ser um negro americano".Com suas roupas de soldadinho de

chumbo (sóquecommuitomaisbrilho),a voz aguda e a extrema magreza, Mi-

chael Jackson fez o que pôde para pararno tempo- um tempoque o tomavacada vez mais esquisito. Recluso, cala-do e solitário, mas montado em muitos

milhões de dólares, em 1987 comprouuma propriedade de 1150 hectares naCalifórnia e lá construiu suaDisneylân-

dia particular, que chamou de Never-land, a Terra do Nunca de Peter Pan (o

manual de psicologia básica, de novo).Nele instalou castelosemminiatura, um

pequeno zoológico, roda-gigante, mon-tanha-russa, fliperama, videogame, um

trenzinho - e uma estátuaem tamanhonatural do Homem-Aranha.Fechado em Neverland com seu

chimpanzé de estimação, Bubbles, re-

cebia poucos e escolhidos amigos pin-çados em dois grupos distintos: o dasmulheres mais velhas, que eramduas - Elizabeth Taylor e DianaRoss, presenças marcantes na sua

k'-U:::::C:::T--

~.1J!I~~. : p1-1 ,. .-" ,. - ." 1I.ii- ... ... . a.II

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wja I 10DE JULHO, 2009 1109

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vida (veja quadro na pág. 108) -, e odos meninos pequenos, que eram mui-tos, inclusive o ator Macaulay CuIkin,seu amiguinho 22 anos mais novo. A es-

sa altura, Jackson já usava máscara (portemor aos germes). Deixou-se fotografaradormecido em uma câmara hiperbárica,em cuja atmosfera de alta pressão espe-rava encontrar a longevidade. A ideia erachegar aos 150 anos. Essa esquisitice,ele desmentiu a Oprah. A foto na câmarateria sido feita durante uma visita a um

centro de tratamento de queimadurascuja ala cirúrgica ele patrocinou.Em 1993, quando um esforço para

reaquecer a carreira parecia estar dandocerto, os pais de Jordan Chandler, 13

anos e hóspede frequente de Neverland,abriram um processo contra Jacksonpor abuso sexual do filho. "Não possoacreditar que isso esteja acontecendocomigo", lamuriou-se, com um fio devoz. Por 20 milhões de dólares, retira-ram a acusação e sumiram, mas a repu-tação de Jackson desmoronou. Apressa-damente, casou-se, para surpresa geral,com Lisa Marie Presley, a filha de El-vis. Divorciou-se dois anos depois e secasou de novo, com Debbie Rowe, umaenfermeira sem graça que ele conheceuno consultório do seu dermatologista.

Debbie era boa de copo e gostava demotocicletas. Ela lhe deu dois filhos,Prince Michael I, hoje com 12anos, e ameninaParis, 11.Separaram-se semex-

plicações e, no processo, ela abdicou daguardadas crianças. Quatroanos depoisnasceria, de mãe não revelada, o tercei-ro filho, Prince Michael 11, apelidoBlanket ("cobertor", em inglês).Pai solteiro de três crianças peque-

nas, cada vez mais excêntrico, MichaelJackson, no começo dos anos 90,já ti-nha uma longa história de abuso de re-médios controlados. O problema podeter começado em 1984, quando sequeimou gravemente em um acidenteocorrido durante a gravação de um co-

mercial. O forte analgésico Demerol,uma das drogas suspeitas de tê-lo ma-tado na semana passada, foi entãoacrescentado ao coquetel diário que in-cluía tranquilizantes e antidepressivos.Em 2002, na cena mais marcante deseu desequilfbrio, diante de fotógrafose cinegrafistas, balançou seu bebêBlanket (de cabeça coberta) do lado Qefora da sacada de umhotel em Berlim.Desculpou-se depois, mas afirmou:"Ele se divertiu". Enquanto todo mun-do se espantava, foi à TV tentar provarque era o pai mais amoroso do mundo

ADEUS, TERRADO NUNCA

Absolvido da acusação deabusar de um menor em sua

mansão, Jackson nunca mais

pisou nela. Hoje ela se encontra

vazia e abandonada

das três crianças brancas quejurava serem seus descen-dentes. "Para Blanket, useuma mãe de aluguel e meupróprio esperma. Tambémmeus outros dois filhos sãodo meu esperma. São todosmeus filhos", declarou ao in-glês Martin Bashir em 2003.Nessa mesma e célebre en-trevista, confessou que sim

dormia com garotos na mes-ma cama. Inocentissima-mente. E recomendou: "É oque todo mundo devia fa-zer". À entrevista se seguiuseu pior momento: uma se-gunda denúncia de abuso se-

!5xual, desta vez contra GavinArvizo, 13 anos, que foi re-

petidamente convidado a Neverlandquando se tratava de um câncer.Dessa vez houve prisão, depoimen-

to, julgamento público e humilhações

várias, até Michael Jackson ser inocen-tado de todas as dez acusações. Estava,porém, acabado - e quebrado. Nosanos em que não trabalhou, envolveu-se em projetos mirabolantes e gastousem parar, compulsivamente (Bashir oviu torrar 6 milhões de dólares emumaúnica tarde em antiquários). O cantormultimilionário, dono dos direitos de250 canções dos Beatles, acumulouuma dívida avaliada em 500 milhõesde dólares. Não quis voltar para Never-land (até por não conseguir pagar aconta de manutenção da propriedade)e instalou-se, com os filhos, em altíssi-mo estilo, em Barein, à custa do filhodo rei, o xeque Abdullah bin HamadAIKhalifa. O xeque, que compõe, con-cordou em sustentar Michael se elegravasse suas músicas. Quando Mi-chael se recusou, pôs ele e a famíliapara fora e se juntou ao movimentadoclube de pessoas que processavam ocantor. As ações e a falta de dinheirop~enunciavamuma velhice atormenta-da. Michael Jackson escapou de maisesse pesadelo pelo sono eterno. 8