Upload
z76a
View
243
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 1/15
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 2/15
Panorama581 Imagemda
Semana
671 Holofote
681Datas70 1Radar
721 SobeDesce
721 ConversacomJoelSantana
731 Números
761 Veja Essa
Brasil781 Senado Hora
deesvaziaraslixeiras
841AraguaiaCuriófala das
execuçõessumáriasde
guerrilheiros
Internacional861IrãMulheresideram
osgritosporliberdad901Acensuranainterneecomoosiranianosconseguiramurlá-Ia
,.IndiceEDiÇÃO1191 ANO421 N°26TIRAGEM1284778EXEMPLARES
121 Carta ao Leitor
191 EntrevistaLeonardoNascimentodeAraújo
261 I.,a luft
351 Millôr
40 1leitor
561 Blogosfera
JJtJ~
Leonardo: <5
"O s clubes estão ~
quebrados". ~ . §PAG.19 ~ ;;
Arthur Virgílio:"Ladrões!".
PAG.76
Geral941Gente961PopAmortede
MichaelJackson
1121EspecialDistúrbiofronteiriço:a vidaà beirado abismo
1221 Maílsonda Nóbrega
1241SaúdeHPV:este
detectaa atividadedo vírus
1281 OtransplantedeStevJobs,daApple
130 1 Comportamento
Vaidadeinfantil:spaaos9 e Botoxaos 18
1401 PerfilJoséEdilbenes
EBONY MAGAZINEIAP
.com
CINEMATrailerda
animaçãoA Erado Gelo3
~'I;
Michael Jackson (1958-2009) cresceu na frentedas câmeras. Durante
cinco décadas, o mundo aplau-diu sua genialidade, dançou seus
passos, cantou seus hits, e depois sesurpreendeu com seus escândalos e excen-tricidades. O site de VEJA traz a trajetória
desse popstar, com destaque para:
. Cronologia:nfância,sucessos,casamentose filhos. Fotos:acksonFive,Neverland,augeedecadência. Repercussão:úsicos,críticose fãslamentama perda. CapasdeVEJAcomo reido pop. Espaçoparadeixarseucomentário
www.veja.com.br/extras
. ALÉMDOSLIMITESProfessoreseeducaçãoísicadizemqueexisteumabarreifísicaepsicológicaservencidanoiníciodequalqueratividadefísica:a barreiradostrêsmeses.Reportagemmvídeoexplicacomoelafunciona.Emwww.ve
,--t com.brjvideos-I. ESPORTEDO INVERNO
Saibacomofazerumaquecimentoadequadonaestaçãomaisfriadoano.Oprocedimentoindispensávelaraevitaresões.Emwww
veja.com.brjpergun
o GÊNIODO pop.
8 I '0 DE JULHO, 2009 I wja
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 3/15
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 4/15
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 5/15
o cantor foi socorrido na mansão
alugada onde vivia em Los Angeles por
volta das 12h20 da quinta-feira. Jackson
havia recebido os primeiros cuidados de
seu médico particular, Conrad Murray
(figura que logo se tomou uma incógni-
ta: ele teve seu carro apreendido pela po-lícia, que queria interrogá-Io mas não o
encontrava; em seguida, veio à tona queonze dias atrás o médico havia anuncia-
do seu desligamento da profissão). Para-
médicos o encontraram sem respiração e
sem pulso. Levaram-no, em estado de
coma, para o hospital da Universidade
da Califórnia, a poucas quadras. Mal ha-
viam chegado e a notícia de sua morteiminente - finalmente declarada às
14h26 - já causava comoção global. O
tráfego do serviço de microblogs Twitterdobrou. O Google entrou em pane, tan-
tas as buscas. O serviço de mensagensinstantâneas da AOL também sofreu um
colapso nos Estados Unidos. O iTunes e
a Amazon, as maiores lojas virtuais de
música do mundo, registraram um au-mento extraordinário nas vendas de dis-
cos e canções de Jackson. No caso da
Amazon, o volume de vendas cresceuincríveis700 vezes.
A causa exata da morte só deverá ser
conhecida em quatro a seis semanas,
quando serão divulgados os resultadosde sua autópsia. Mas informações vindas
de parentes e amigos do cantor sugerem
que Jackson vinha abusando de analgési-
cos potentes. Segundo aventou na sexta-
feira o canal de fofocas TMZ, entre eles
estaria o demerol, um opiáceo sintéticode ação similar à da morfina. Jackson te-
ria tomado uma injeção poucas horasantes da parada cardíaca. Na classe dos
opiáceos, só a heroína causa mais depen-
dência que a meperidina, como é chama-
do o princípio ativo do demerol. Nas
primeiras doses, o efeito dura de seis aoito horas. "Se ele for consumido todos
os dias, bastam duas semanas para oefeito do medicamento durar a metade
disso", diz !rimar de Paula Posso, anes-
tesiologista do Hospital das Clínicas de
São Paulo. A parada respiratória ocorre
porque o medicamento diminui a sensi-bilidade das células do sistema nervoso
central que regulam a respiração - aqual vai diminuindo, até causar sonolên- ~
cia. A falta de oxigênio, então, pode cul- §
minar em colapso do coração. O cantor ~começou a usar remédios para a dor em g
,..
,
\ "
98 I 10DE JULHO. 2009 Iveja
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 6/15
,~.I,
~-~-----
t
i~
~~
~-
II
--
t-
MORTESÚBITAMichael Jackson
entubado (foto maior à esq.),
o embarque do corpo no helicóptero
rumo ao departamento de medicina
legal de Los Angeles (acima),
a chegada da mãe ao hospital (à esq.)
e a irmã La Toya em prantos: ele sai decena dias antes do inicio de uma
temporada de cinquenta shows
veja I 1°DE JULHO, 2009 199
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 7/15
meados dos anos 80. Desde então, teriase tomado dependente deles. Nos últi-mos tempos, Jackson os estaria tomandoem razão de uma lesão numa vénebra e
de dores nas pernas produzidas pelo ex-cesso de ensaios: depois de vários anos
sem fazer shows e da longa reclusão quese impôs desde que foi absolvido da acu-sação de abuso sexual de um garoto, em2005, o cantor estava prestes a retomarao palco. No próximo dia 13,daria inícioa uma temporada de cinquenta apresen-tações em Londres.
No início da década de 80, momentode explosão de Jackson, nem nos con-fins do planeta se encontraria um ado-lescente que não tivesse se arriscado aimitar o quase impossível moonwalk, adança que ele inventou ao fundir a sua-
vidade dos passos de Fred Astaire àagressividade dos dançarinos de break,ou suas coreografias sensacionais, pro-fundamente estilizadas - comoaquelamão na virilha que era, ao mesmo tem-po, erótica e uma paródia do erotismo.Hoje, não se encontra em lugar nenhumattista pop que não dance no palco à ma-neira de Jackson: como uma declaraçãocriativa que avança por territórios e sen-tidos aos quais a letra e a melodia não [:Jchegam. Mas essa foi apenas uma das ~
revoluçõesde Jackson. ~
As imagens de Thriller;catorze mi- ~nutos que sempre pareciam cunos de- ~mais, cravaramo videoclipecomo a for- ~ma essencial de veicular uma música e <5
ajudaram a tomar a MTVuma força de- ~
cisiva entre o público jovem. E o público <3ovem (com a ajuda decisiva de WalterYemikoff, então presidente da CBS, queameaçou tirar todos os anistas da com-panhia da MTV caso ela não exibisseThriller) obrigou a emissora, que antestorcia o nariz para anistas de música ne-gra, a abrir sua programação para eles.
Hoje, o rap e o rhythm'n'blues (R&B)são os estilos hegemÔnicos na emissora.
Jackson desenhou ainda o mapa decomponamento do ícone pop para as dé-cadas seguintes: o anista inacessível que,com suas esquisitices e demandas, causafrenesi entre os paparazzi, aumenta a cir-culação dos tabloides e leva seus assesso-res e contratantes à loucura. Pop star quese preze, hoje - e a lista vai de astros"normais" como Madonna, Justin Tim-berlake e Mary 1. Blige a "excêntricos"do quilate de Mariah Carey e Britney
100 I 1°DE JULHO. 2009 I veja
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 8/15
MÚSiCAComele,amúsicanegraornou-sea
forçadominantenopop.Oartistamaisbem-sucedidoe
hoje- JustinTimber-lake,umbranco ain-dabebedesuafonte
MODAEESnLO~Seuvisualfoi modanos~anos80.Depoisdisso,o "quesobressaiuoisuaexcentricidade.asos
brilhantesoourodesuasluvasecasacosornaram-se
partedovocabulárioaalta-costura atémesmoemdesfilesdesteano,degrifescomoLouisVuitton
GLOBALlZADOEm sentido
anti-horário,
Jãs choram a morte
do cantor em
Pequim, Londres,Los Angeles e
Moscou: a comoção
mundial provocou
pane até no Google
DANÇADepoisdeMichaelackson,erumbomdançarinoornou-semperativo
paraqualquerastromasculinoamúsicapop.Inspirando-seobreak,umadançaderua,eleinventoueu.,
próprioestilonocomeçodosanos80- omoonwalk.OusoqueJacksonez
democassinsretoscommeiasbrancas- emtese,umpecadoashion eraumahomenagemouniformedosbailarinos
veja I 1°DE JULHO, 2009 I 101
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 9/15
TALENTOPRECOCEO cantor (emprimeiro plano), com ospais e os irmãos
nos tempos do Jackson Five: sucesso e traumas emjamflia
Spears -, reza pela cartilha escrita por
Jackson. Em uma reflexão que só pode
ser feita a posteriori, Jackson foi ainda
um exemplo definitivo do soft power, ou
a tração que um país exerce por meio deconceitos e ideias. Na primeira parte da
década de 80, a economia americana es-tava às voltas com um dado novo e des-
concertante: a ascensão esmagadora do
Japão como potência industrial - e do-no de uma indústria não mais imitadora,
como antes, mas criadora. A Sony japo-
nesa lançou, nesse período, um fcone
cultural tão poderoso quanto o próprio
Thriller: o walkman, acessório que inau-
gurou a era da ponabilidade da música.Mas os Estados Unidos, se não inventa-
ram o aparelho, tinham a música que seouvia nele - a de Michael Jackson.
E aí, claro, está a questão crucial
para entender Jackson ou qualquer ou-
tro artista capaz de alcançar a longevi-
dade na carreira: a música, o epicentro
do qual irradiam todos esses tremores
culturais e componamentais. Em razão
do aparato industrial e mercadológico
que cerca os pop stars, é comum que se
pinte com tintas ideológicas a sua exis-tência, acusando-os de serem fabrica-
ções. Alguns o são. Outros trazem para
o cenário artfstico um talento verdadei-
ro e uma capacidade real de inovação.Descartar Madonna ou Justin Timber-
lake como "produtos" é só uma forma
de não compreendê-Ios, nem ao mundo
em que vivemos; categorizar Jacksoncomo uma fabricação seria umequfvocoainda mais completo.
Ele de fato criouo pop.Até a décadade 70, a música jovem se dividia emdois nichos distintos. Havia o rock e
suas variações, consumidos principal-mente por adolescentes brancos e declasse média.E havia a músicanegra -soul, funk, disco, rhythm'n'blues -,
que era ouvida por negros. Jackson que-brou essa barreira em discos como Offlhe Wall,de 1979, e Thriller,de 1982, e
borrou para sempre a linha que separavaos dois universos. Nesses discos, o can-tor talhou as linhas de baixo e bateria na
medida para as pistas de dança; masassociou-as à vibração caracte-
r;.OS ALTOS
E BAIXOS
DEMICHAEL
(emnúmerode
cópiasvendidas)
)'.
OFFTHE
WALL-1979Éo momentoem
queelesedescoladosirmãoseda imagemde
artistajuvenil.Emsintoniacomostemposda
discoteca,é umálbumadultoedançante
BEN-1972
Segundodiscodocantor,icoumarcadopelamúsica-título a primeiradesuacarreira-soloa alcançaro topo nas
paradasamericanas
102 11° DE JULHO, 2009 I veja
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 10/15
.1 C 11/1 f LJ \ C " SOi't
INVINCIBLE- 2001Comcustode30 milhões
dedólares,oi o discomaiscaroproduzidoatéentão.levouseisanos
paraficarpronto- efoiumadecepção
OANGEROUS-1991
Apesardesaudadocomo"reido pop",eletemdificuldadeem
acompanharsnovastendênciasdamúsica
negra,razidaspelorape pelohiphop
HIStory: PAST,PRESENTANOFUTURE-1995A coletãneaé umatentativadesesperadaocantordedemonstrarqueaindatemalgumarelevânciamusical.Imersoemesquisitices,mandaespalharestátuassuaspelosquatrocantosdomundo
ONIPRESENÇA Michael Jackson
gravando videoclipe no Pelourinho,
em Salvador (no alto), num jantar
com Madonna (no centro) e recebendo
homenagem de Britney Spears no
Madison Square Garden, em Nova
York: elefazia questão de ostentar
o epfteto de "rei do pop"
wja I 10DEJULHO,2009 1103
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 11/15
rfstica do rock'n'roll. Atémesmo asori-
gens de um fenômeno social notávelentre os jovens americanos, o dos ado-lescentes brancos que querem falar,dançar e agir como negros, podem sertraçadas diretamente à sua influência.
Descontado StevieWonder,que lan-çou o primeiro disco aos 12 anos, mascujo apelonunca residiu no magnetismoou na dança,Michael Jackson foi o pri-meiro grande ídolo mirim da música.
Nascido em 29 de agosto de 1958 emGary, no estado de Indiana, desde cedoele mostrou talentopara o canto e a dan-ça. Seu pai, Joseph, que havia tentado acarreira num grupo de rhythm'n'blues,
percebeulogo o talentodeMichael,bemcomo de seus outros filhos. Transfor-
mou-os no Jackson Five, que ensaiava
exaustivamente. Em 1968, o grupo foicontratadopela gravadoraMotown, a re-ferênciamíticadamúsicanegra.A audi-ção do Jackson Five para Berry GordyJr., fundador e presidente da Motown,deixa claro que a estrela ali era Michael.No vídeoremanescentedoteste, elecan-ta I Got the Feelin', de James Brown, e
encarna todos os trejeitos do astro dofunk - mas comgraça própria.
Ao se lançar como artista-solo, em1971, Jacksonjá havia aprendidomuitosobre composição e produção musical.
Teve a sagacidade de, pouco depois,aliar-se ao produtor Quincy Jones, quehavia feito carreira no mundo do jazz.Eles colaboraram nos álbuns Off theWall, Thriller e Bad. Jackson não eraainda o recluso das últimas décadas,mas um artista curioso e vivo. Muitos
dos ritmos presentes nesses trabalhosnasceram de suas idas às discotecas, e
suas letras vinham repletas das angús- ....tias de um rapaz da sua idade. Até 1996, ~ano em que foi ao Morro Dona Marta, ~no Rio de Janeiro, e ao Pelourinho, em ~
Salvador,para gravaro clipe de They ffi
Don't Careabout Us, Jackson ainda vi- ~via no mundo real. Cada vez mais, po-rém, ia sendo dominado pelo lado obs-curamente infantilizado de suapersona-lidade, que o levaria, a cena altura, a se
isolar em sua bizarra propriedade deNeverland - ou Terra do Nunca, em
referência ao lugar em que vivia PeterPan, o garoto que não queria crescer.Esse Jackson aberrante e patético enco-briu o totem da revolução pop. Mas,com a sua mone, ele renasceu.
1041 1°DE JULHO. 2009 I wja
50FT POWER O c am or
recebido na Casa Branca por
Ronald e Nancy Reagan
(no alto). com Bill Climon
e afilha Chelsea, ao lado de
Nelson Mandela (à dir.) e com
a princesa Diana (abaixo):
s{mbol o do exercfci o do poder
pelos Estados Uni dos por
meio da cultUra
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 12/15
., CI
~.~}~,~~Z:C')1- -- -- - - - -- ._" ~~- --------
[3..
~ -
~.'~.:
.L" I ' -!: .-=!t . ~
o AVESSODOAMichael Jackson passou a infância trabalhandocomo um adulto. Aí, cresceu e dedicou a maiorparte de seu tempo a agir como criança e a quererprovar que isso era a coisa mais natural do mundo
LIZIA BYDLOWSKI
Em uma rara entrevista, dada àrevista Time, Joseph Jackson, opai de Michael, descreveu o fi-lho mais famoso: "Ele é muito
tímido. Quer dizer, tímido diante depoucas pessoas. No palco, na frente demilhares, ele se solta. O rapaz adoraanimais. Tem um lhama, dois cervos,umcarneiro, umacobra, três papagaios,dois casais de cisnes, um negro e umbranco, alguns pavões. É religioso(mais do que os irmãos) e vegetarianoradical. Tem um carrinho de pipoca e
uma máquina de fazer sorvete - esempre convida crianças para compar-tilhar com ele essas delícias". A cenaaltUra, a mãe, Katherine, interrompe:"Falam que ele é gay. Michael não égay. Isso iria contra a religião, contraDeus". A entrevista é de 1984,MichaelJackson tinha 25 anos, ainda moravacom os pais. Já se vislumbravam ali osesboços da esquisitíssima, ambígua edesequilibrada figura que ele viria a serpelo resto da vida: nem preto, nembranco,nemhomem,nemmulher,nem
1061 1°DEJULHO, 2009 I wja
adulto, nem criança - ou,colocadodeoutra forma, preto, branco, homem,
mulher, adulto e criança.Joseph e Katherine. Pai e mãe. Pobre
Michael. A ambição dos pais não co-nhecia limites. Aos 6 anos, Michael setomaria a maior estrela do grupocriadopor eles. Acabava-se ali sua infância.Ensaiava o dia inteiro - "Às vezes,olhava para fora, via as crianças brin-cando e chorava", contou em entrevistaà apresentadora Oprab Winfrey, em1993.Se os men.inoserravamum passoou uma nota, o pai se enfurecia comoum treinador de animais de circo. Lem-
brou Michael na entrevista a Oprab:"Ele pania para cima da gente... Ficá-vamos muito nervosos nos ensaios por-que ele ficava sentado numa cadeira,com o cinto na mão, e se alguma coisanão safa direito ele vinha para cima,sem dó". De tão aterrorizado, "tinhavezes que ele chegava peno e eu vomi-tava". Jackson pai dizia que o filho-prodígio era feio, criticava o rosto comespinhas e ria de seu nariz "enorme".Nos "muito tristes" anos da puberdade,ele "chorava todos os dias". O começo
da carreira musical foi em boates e pal-cos de prostfbulos de Indiana. Em umdeles, forçado pelos irmãos mais ve-lhos, Michael perdeu a virgindade eganhou mais um trauma para carregarvida afora. O pai dominador, a mãemuito religiosa mas indiferente aosmaus-tratos, a fama, o isolamento, a
fragilidade emocional, o abismo entresua carreira e a dos irmãos (e irmãs -as três, Rebbie, Janet e LaToya, tam-bém se viabilizaram como cantoras,mas no limite mínimo da mediocrida-de), tudo isso moldou a personalidadede Michael Jackson. Seu caso se encai-xa como exemplo acabado dosmanuaisbásicos de psicologia, em especial nos
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 13/15
capítulos sobre os efeitos na personali-dade da infância perdida e da busca tor-turanteelaperfeição. I., ----- -Aos 20 anos, Michael Jackson deci-
diu exorcizar os fantasmas infantis pelafuga de simesmoe pela erradicação dos.sinais visíveis de suas origens. Come-çou sua metamorfose. As sobrancelhasse arquearam. O queixo ganhou umacovinha, a pálpebra foi levantada e omaxilar afilou. Os lábios se adelgaça-ram, o cabeloperdeu os caracóise ficouliso.A pele clareavae o nariz reapareciacada dia mais fino. Apesar de todas asevidências, nas poucas vezes em quetocou no assunto admitiu ter se subme-tido a rinoplastias. Foram muitas, aponto de a estrurora cartilaginosa do na-riz ter dado lugar a uma prótese, queatrapalhava a respiração e ele tirava pa-ra dormir. A uma admirada Oprah, eledisse candidamente que sua pele ficara
brancaem consequênciado vitiligo,a fdespigmentaçãobenignada epiderme. ~I"É de família", disse. Aproveitou para ~.justificara maquiagempesada- "Uso ~;para disfarçar as manchas na pele" - e ~.
As cinco
mulheres
Qantomaisestranhoare-cia,maisMichaelackson
queriaprovarque era umhomemnormal.Suaprimeiranamoradaséria"foi BrookeShields,ela tambémartistaprecoce,onhecedoraosso-frimentosntensosfantásticosprazeresueelevivia.Nointer-
valodedécadasntreBrookeseupróximo,igamos,oman-ce,Michaelacksonultivouaamizadede duasmulheresmaisvelhas:a cantoraDiana
Ross,comquemrabalhounofilmeTheWize comquemporcertotempotentouicarpare-cido,e a atrizElizabethaylor,umaalma gêmeatempera-mental,gastadoramaluque-te.Em1994,casou-seemternamoradoomUsaMariePres-
ley,a filha de Elvis.Duroudois
anosenuncaconvenceuinguém,masna sexta-feira,abaladapor
suamorte,elaescreveunumblog:"Nossarelaçãonãofoi umasimu-
lação.Eraumarelaçãoncomum,é verdade,naqualduaspessoas
incomunsque nãotinhamnem
conheciammavidanormalen-contraramumaconexão",ComDebbieRowe, mãededoisdeseusilhos,Michaelacksonemtentoudisfarçar:epoisdosim,numasuítedehotelemSydney,naAustrália,eu-lheumbeijinhonorosto efoisó.
108 110DEJULHO,2009I veja
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 14/15
VELHAS, NOVASE TANTOFAZ
Jacksonesuasdamas:
a musa-espelhoDiana Ross,
a colega deproblemas de
infdncia Brooke Shields,
a amiga Elizabeth Taylor.
a noiva Lisa Marie Presley
e a enfermeira motoqueira
Debbie Rowe - que lhe deu
doisfilhos de olhos azuis
BONZINHO?
NEMTANTO
A imagemcultivada
pelaproximidadecommeninoscomo
MacaulayCulkindespedaçou-secomasacusações
depedofiliaeas
imprudênciascom
oprópriofilho
para reiterar suas raizes: "Tenho orgu-lho de ser um negro americano".Com suas roupas de soldadinho de
chumbo (sóquecommuitomaisbrilho),a voz aguda e a extrema magreza, Mi-
chael Jackson fez o que pôde para pararno tempo- um tempoque o tomavacada vez mais esquisito. Recluso, cala-do e solitário, mas montado em muitos
milhões de dólares, em 1987 comprouuma propriedade de 1150 hectares naCalifórnia e lá construiu suaDisneylân-
dia particular, que chamou de Never-land, a Terra do Nunca de Peter Pan (o
manual de psicologia básica, de novo).Nele instalou castelosemminiatura, um
pequeno zoológico, roda-gigante, mon-tanha-russa, fliperama, videogame, um
trenzinho - e uma estátuaem tamanhonatural do Homem-Aranha.Fechado em Neverland com seu
chimpanzé de estimação, Bubbles, re-
cebia poucos e escolhidos amigos pin-çados em dois grupos distintos: o dasmulheres mais velhas, que eramduas - Elizabeth Taylor e DianaRoss, presenças marcantes na sua
k'-U:::::C:::T--
~.1J!I~~. : p1-1 ,. .-" ,. - ." 1I.ii- ... ... . a.II
... ... 11..I" ...,. ... í.....%10- I" -'
I '_ ..~ .,. = "!il:~..i -
wja I 10DE JULHO, 2009 1109
8/14/2019 Michael Jackson - Revista Veja
http://slidepdf.com/reader/full/michael-jackson-revista-veja 15/15
vida (veja quadro na pág. 108) -, e odos meninos pequenos, que eram mui-tos, inclusive o ator Macaulay CuIkin,seu amiguinho 22 anos mais novo. A es-
sa altura, Jackson já usava máscara (portemor aos germes). Deixou-se fotografaradormecido em uma câmara hiperbárica,em cuja atmosfera de alta pressão espe-rava encontrar a longevidade. A ideia erachegar aos 150 anos. Essa esquisitice,ele desmentiu a Oprah. A foto na câmarateria sido feita durante uma visita a um
centro de tratamento de queimadurascuja ala cirúrgica ele patrocinou.Em 1993, quando um esforço para
reaquecer a carreira parecia estar dandocerto, os pais de Jordan Chandler, 13
anos e hóspede frequente de Neverland,abriram um processo contra Jacksonpor abuso sexual do filho. "Não possoacreditar que isso esteja acontecendocomigo", lamuriou-se, com um fio devoz. Por 20 milhões de dólares, retira-ram a acusação e sumiram, mas a repu-tação de Jackson desmoronou. Apressa-damente, casou-se, para surpresa geral,com Lisa Marie Presley, a filha de El-vis. Divorciou-se dois anos depois e secasou de novo, com Debbie Rowe, umaenfermeira sem graça que ele conheceuno consultório do seu dermatologista.
Debbie era boa de copo e gostava demotocicletas. Ela lhe deu dois filhos,Prince Michael I, hoje com 12anos, e ameninaParis, 11.Separaram-se semex-
plicações e, no processo, ela abdicou daguardadas crianças. Quatroanos depoisnasceria, de mãe não revelada, o tercei-ro filho, Prince Michael 11, apelidoBlanket ("cobertor", em inglês).Pai solteiro de três crianças peque-
nas, cada vez mais excêntrico, MichaelJackson, no começo dos anos 90,já ti-nha uma longa história de abuso de re-médios controlados. O problema podeter começado em 1984, quando sequeimou gravemente em um acidenteocorrido durante a gravação de um co-
mercial. O forte analgésico Demerol,uma das drogas suspeitas de tê-lo ma-tado na semana passada, foi entãoacrescentado ao coquetel diário que in-cluía tranquilizantes e antidepressivos.Em 2002, na cena mais marcante deseu desequilfbrio, diante de fotógrafose cinegrafistas, balançou seu bebêBlanket (de cabeça coberta) do lado Qefora da sacada de umhotel em Berlim.Desculpou-se depois, mas afirmou:"Ele se divertiu". Enquanto todo mun-do se espantava, foi à TV tentar provarque era o pai mais amoroso do mundo
ADEUS, TERRADO NUNCA
Absolvido da acusação deabusar de um menor em sua
mansão, Jackson nunca mais
pisou nela. Hoje ela se encontra
vazia e abandonada
das três crianças brancas quejurava serem seus descen-dentes. "Para Blanket, useuma mãe de aluguel e meupróprio esperma. Tambémmeus outros dois filhos sãodo meu esperma. São todosmeus filhos", declarou ao in-glês Martin Bashir em 2003.Nessa mesma e célebre en-trevista, confessou que sim
dormia com garotos na mes-ma cama. Inocentissima-mente. E recomendou: "É oque todo mundo devia fa-zer". À entrevista se seguiuseu pior momento: uma se-gunda denúncia de abuso se-
!5xual, desta vez contra GavinArvizo, 13 anos, que foi re-
petidamente convidado a Neverlandquando se tratava de um câncer.Dessa vez houve prisão, depoimen-
to, julgamento público e humilhações
várias, até Michael Jackson ser inocen-tado de todas as dez acusações. Estava,porém, acabado - e quebrado. Nosanos em que não trabalhou, envolveu-se em projetos mirabolantes e gastousem parar, compulsivamente (Bashir oviu torrar 6 milhões de dólares emumaúnica tarde em antiquários). O cantormultimilionário, dono dos direitos de250 canções dos Beatles, acumulouuma dívida avaliada em 500 milhõesde dólares. Não quis voltar para Never-land (até por não conseguir pagar aconta de manutenção da propriedade)e instalou-se, com os filhos, em altíssi-mo estilo, em Barein, à custa do filhodo rei, o xeque Abdullah bin HamadAIKhalifa. O xeque, que compõe, con-cordou em sustentar Michael se elegravasse suas músicas. Quando Mi-chael se recusou, pôs ele e a famíliapara fora e se juntou ao movimentadoclube de pessoas que processavam ocantor. As ações e a falta de dinheirop~enunciavamuma velhice atormenta-da. Michael Jackson escapou de maisesse pesadelo pelo sono eterno. 8