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7/27/2019 Michael_Fischer_-_Da_antropologia_interpretativa_à_antropologia_crítica[1] http://slidepdf.com/reader/full/michaelfischer-daantropologiainterpretativaaantropologiacritica1 1/10 1 1 1 '1 Do A ntropologia Interpretativo à Antropologio Critico 1 MICHAEL M. J . FISCHER As antropologia s criativa s s ur gem em conjunturas historicas e em contextos n aciona is especificos. Como se rem notado muitas vezes, DaO é por acaso que, por exemplo , a teorizaçao soctal n a França (ou na Inglate rr a do século dezenove) tem sida mais uni versalista do que na Al emanha (ou na antropologia social britâ niea clâssica). A teona social alemâ do sécuIo passado e DO inicia de st e estava mais sinton izada corn particularidades histOricas (d a i estabe lecendo as ba ses qu e permitiram explorar a noçao de cultura s no plural) . No Te rceira Mundo, por razôes semelhantes às da Ale- manha, 0 pensamen to social tem sida muitas Vf'zes historici st a e di a lético, situando-se rti ante de um Outra poderoso (Primeiro Mundo, imperialismo, dependénCia, etc.>. No en tan to, esse con- texto na o signifiea, n ecessa ri ame n te, que nâo tenham surgida outres !)rablemas, mais in ternas e tâo contu ndentes para 0 .d esenvolvi - mento d e nova s antrapologias.2 l E.<;te texto foi apresentado nos "S em inârias de Ant ropol ogia" . no. :i âias 16 e 23 de junbo de 1982 , no Departamento de Ciénc ias Socials, Unlversid ad e de Brasiila, dur a nte a permanéncia do au tor coma Pro- fess or Visitante financiado pela O:lmissâo Fulbri ght. 2 A discussao sobre a pensamento social no Terceira Munda (e. prin - cipalmente , os marxismos do Terceira Munda) foi exposta de modo envolvente }Xlr Ab dullah Laroui , 1 976. Consideremos , porém . as forças rel ativas das antropologias descnvolVidas na fndia, em Israel e no J apâo . Sobre 0 Brasil (Alemanha e Prança) vide Mar iza G. S. P ei - rano, 19 81. Uma boa i ntroduçâo à sociologia. intclectual da. Alemanl!u é a de Fri tz Ri n ger , 1 969. Sobre a contraste entre os estIbs [rallces e a lemâo de pensa mento soc ial, vid e, por exemplo, Norb er t Eli as, 197 8. Sobre as origens do pen'iamento soc ial nos Estados Urudos, \'icl pr1nclpal.mente, C. W. Mills, 1964. Ernst Becker, 1971; e Thomas Haskell , 1977. 55

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Do Antropologia Interpretativo à AntropologioCritico 1

MICHAEL M. J. FISCHER

As antropologia s criativas surgem em conjunturas historicas

e em contextos naciona is especificos. Como se rem notado muitasvezes, DaO é por acaso que, por exemplo, a teorizaçao soctal na

França (ou na Inglaterra do século dezenove) tem sida mais universalista do que na Alemanha (ou na antropologia social britâ

niea clâssica). A teona social alemâ do sécuIo passado e DO inicia

deste estava mais sinton izada corn particularidades histOricas (da i

estabe lecendo as bases que permitiram explorar a noçao de culturas

no plural) . No Terceira Mundo, por razôes semelhantes às da Ale-manha, 0 pensamen to social tem sida muitas Vf'zes historicista edialético, situando-se rtiante de um Outra poderoso (Primeiro

Mundo, imperialismo, dependénCia, etc.>. No entan to, esse con-

texto na o signifiea, necessa riame nte, que nâo tenham surgida outres

!)rablemas, mais in ternas e tâo contundentes para 0 .desenvolvi -mento de novas antrapologias.2

l E.<;te texto foi apresentado nos "Sem inârias de Antropologia" . no.:iâias 16 e 23 de junbo de 1982 , no Departamento de Ciéncias Socials,Unlversidad e de Brasiila, dur ante a permanéncia do autor coma Pro-fessor Visitante financiado pela O:lmissâo Fulbright.

2 A discussao sobre a pensamento social no Terceira Munda (e. prin-cipalmente, os marxismos do Terceira Munda) foi exposta de modoenvolvente }Xlr Ab dullah Laroui , 1976. Consideremos , porém. as forçasrel ativas das antropologias descnvolVidas na fndia, em Israel e noJ apâo. Sobre 0 Brasil (Alemanha e Prança) vide Mar iza G. S. Pei -rano, 1981. Uma boa introduçâo à sociologia. intclectual da. Alemanl!ué a de Fri tz Ringer, 1969. Sobre a contraste entre os estIbs [rallcese alemâo de pensa mento social, vid e, por exemplo, Norber t Elias,1978. Sobre as origens do pen'iamento soc ial nos Estados Urudos, \ ' i c lpr1nclpal.mente, C. W. Mills, 1964. Ernst Becker, 1971; e ThomasHaskell, 1977.

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Pediram-m e que ïalasse sobre 0 estilo de investigaçao antro

polagien nos Estaàos Unidos a que se tem chamado de "antropologia interpretativa",:: pr incipalmente, sobr e 0 papel de Clifford

Gee rtz e, em terceiro lugar, sobre como eu situa 0 meu propriotrabalho corn relaçao a esse estilo antropo16gico. "Antropologia in terpretativa" é um rét ula reeente (e talvez uma tendência subs

tantiva ) que corresponde a uma ini ciativa aparentemente cristalizad a na Universidade de Chicago nos anos 60 sob a liderança deDavid M. Schneider e Clifford Gcertz , mas que interessou ativa mente quase tado corpo docente.< Na época, tendia-se a chamar

essa iniciativa de varias maneiras : antropologia "cultural" (em oposiçào a <!social"), ou antropnlogi a Hs imbélica".:J

Simb6lica, cultural, interpretativa, todas pssas denominaçôes sereportam ao debate do século dezenove na Alemanha sobre 0 pap elda Verstehen (compreensao) na metodologia das ciências sociais.A questao inicial era a jà eterna: ha , em principio, uma diferençaentre os métodos das ciências na turais e os das ciênClftS humanasou sociais? Fazia-se 0 esforço de combinar, através da noçao deVerstehen, as metas c:entiflcas de objetlvidade cern 0 reconheci

ment<> de que, pelo fata de os homens refletirem soore 0 que fazem(e agirem de acordo corn essas reflexoes), é dificil trata-Ios meramente como objetos. (0 fato de que existem padroes de comportamento CIle nao sac totalmente conscientes pode ser acomodadodentro desta formulaçao). Pode-se escolher à vontade os ancestrais relevantes no seio dessa perspec tiva: Dilthey para quem éfHésofo das ciências sociais; Max Vi.Teber, para quem é soci610,go ou

3 Clifford Geertz lntitlÙOU sua. coleçâ'J de ensaios de 1973 "The In ter

pretation of Cultures" (traduçao portug uesa pela Zahar, 1978); RoyWagner intitulou um texto introdm6r io corn algo semelhante, I nven -tion of Culture; P.U mesmo usei " In terp retive Anthropology" comatituh de um artit::o-n.'s€ nha em 1977 (Reviews in Anthropology) e haagora uma coletâÏlea chamada I ntegration Social Science. A R eader,

organizada por Paul Rabinow e '' ' illiam M. Sullivan.4.

Melford Splro, I..Joyd Fa llers , Nur Yalman, Ralph Nicl:.

olas, MekimMarri ot t, Raymond Smith, Milton Singer , Manning Nasll , Ray mondFogelso n, Paul Fr iedrich, mais tarde Victor Turner e Terence Turnere, mais tarde ai nda, Stanley J. Tambiah e Michael Silverste in e, alual

mente, Marshall Sahlins.{j 0 principal curso para os e-3tudant.es de p6s-graduaçao, p'Jr exemplo,

estava dividido (um periodo leti vo cada) , segundo 0 esq uema par so mano, em "sistemas cultu rais", "sistemas sociais " e "sistemas psico-16gicos". David Schneider intitulou &eu livro de 1968 American Kinship:

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A Cultural Accoun t. Em Princeton foi criado um departamento menorcomposta de professores advindos de Chicago, Que se chamou Dep ar tamento de Antropologia Shnb6lica. e que financiou uma série demonografias em antrop'Jlogia simb6llca. Mais tarde. David Schneider,Janet Dolgin e David Kemnitzcl' organizaram uma coletânea.

antrop610go; Karl Marx, para quem é marxista, Wilhelm Wundt,para quem é psicologo. Mas em todos os casos 0 problema geral .era de como captar de maneira objetiva os elementos inteleciùaismotivadores e culturais que influenciam a açao social. A r e s p o s t ~geral era conceber os homens camo agindo dentro de "mundosintersubjetivos socialmente constttuidos". Até melimo as experiên

cias subjetlvas sac amplamente mediadas pela llnguagem, pela participaçao social (as reaçôes dos outras) e par simbolos culturais.TaI P..lediaçao pOde dar-se em varios niveis: intençoes conscientesno nivel intelectual (ao quaI os f1l6sofos tendem a limitar-se) ' etambém no inconsciente (camo Freud nos fez perceber) e ..aquelesesquemas dados socialmente a que cnamamos cultura. Na medida

em que a comunlcaçiio entre , lndlvidilOS é compreendida (soorecujos significados existe acordo) ela é publlca, oojetlva e, pelomenas teoricamente, passivel de analise. Uma ta l formulaçâo da ·cultura e da teia de comurucaçao na quaI vivem os individuos apre

senta três implicaçfies imediatas : primeiro, afasta-se de todas as

filosofias sociais enraizadas nas experiênclas do ego (por exemplo,o "cogita ergo sum" de Descartes), forçando a um métado empi

rlco e comparativo; segundo, afasta-se de teodas ,genétlcas da 80-ciedade que começanam corn as necessldades e desejos ·lndivlduals(Ista é, teonas biologicamente reduclonlstas ,e nao lntrospectlvas)- os individuos sempre nascem em sociedade; terceiro, e maisimportante para 0 meu objetivo, a visiio de cultura como padroesde comunicaçao relatlvamente crlstalizados torna a noçao de cultu ra altarr.ente dinâmlca. Os lndlviduos mantêm d1ferentes posiç6es na sociedade, diferentes percepçoes, interesses, papéis e desuas negociaç6es e conflitos surge UID universo social plural no

quaI podern cûexisUr e compeUr mult<>s pontas de vista opostas.Este modo geral de formular a tarefa e 0 objeto das ciê:.1cias

sociai.s pocte ser remontado de varias maneiras a Vico no séculodezesseis, ou aos rewricos dos tempos clâssicos,(l coma Hans-Georg

Gadamer demonstra convincentemente. A contribuiçao critica dosséculos dezenove e l'lute tem .sido operacionalizar a abOrdagemge ral e torna-Ia empirica . Podemos fazer dois Upos de observaçôessobre essas contribuiçôes: uro·a, sobre os refinamentos da formulaçao metadol6gica; a outra, sobre seu contexta Ideol6glco ou hlstorieo.

G Hans-Georg Gadamer, Truth and Method. lt uma excelente introduçao e exploraçao dos problemas Que multo suscintamente resw:ninos parâgrafos precedentes.

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Tomemos primeiro 0 metodologico e permitam-me selecionarquatro vultos que possam representar algumas das contribuiçôesbasicas da antropologia para a operacionallzaçâo empirica. podemos

começar cam Malinowski, nâo apenas par seu lema e insistência na

busca do "ponto de vista nativo", mas, mais importante e especificamente, po r sua insistência nos textos nativos corn comentarios de

t.rés ordens: traduçôes palavra-por-palavra, traduçôes livres capta ndo 0 sentido e, depais, de maiar import3.ncia, comentarios in

cluindo gramâtica, redes semântlcas, alusôes culturais, etc, Uma

outra figura, recenternente redescoberta e reabilitada no "salâo da

fama" antropologico, é a francés Maurice Leenhardt, por sua ten

tativa de ultrapassar Malinowski, envolvendo os nativos em procedimentos de verificaçôes mùltiplas, discussao e elaboraçao de textose descriç6es registrados no trabalho etnografico. Ha du as raz6es para

essa colaboraçâo corn os nativos: primelro, claro, para aumentar 0potencial de abrangência e f1dedignidade etnogrà!icas; mas, segundo,para estabelecer um diâ.logo corn os nativos e estimula-los a re

fletir sobre a sua propria cultura, sistematizar, talvez introduzlrmudanças, alcançar um a mator consciência critica para eles e para

o etn6grafo e seus leitores. Um tereelro eontrlbuinte de Importâneiametodol6glea foi Clifford Geertz nos anos 60. Geettz deu um passoeoneeitual para além da metodologia de Max We!5er. Este, ao elabol'ar sua noçao de Verstehen, disse que, n a t u r a l ~ e n t e , queremossaber as motivaçôes e as intençôes dos agentes sociais cujo comportamento desejamos descrever e expl1car, mas que a tarefa deentrar nas eabeças dos outros nao é metodologieamente pràtiea,senao mesmo impossivel. No entanto, 0 comportamento é suficien

temente regular para permitlr que um procedlmento preeàrio, deemergência, nos permita trabalhar, ou seja, a construçâo de mo

delos "coma se" aa "tipos ideais" Laseados no desempenho subjetivodo analista (Nacherleben) ou reeonstruçao (Naehbilden) de motlvaçôes tipicas, aj ustadas a estruturas institucionais que reforçam

tais motlvaçôes. (Assim, a anâlise de Weber sobre a Étiea Protestante ajustada a um estrato social especifico de uma conjuntura

historica especifica, ou sua discussâo semelhante do tipo de per

sonalidade que tende a ser selecionada nas camadas mais baixas deuma burocracia). A. SChutz, aluno de Weber, lido par Geertz edepo:s por todos os alunos de pos-graduaçao de Chicago em meados

da dceada de 60, tentou elaborar mail; detalhadamente a metodoJogia de Weber na eonstruçao de tipos ideais. Em importante tra

balho de 1966 sobre "Pessoa, Tempo e Conduta em Bali", Geertz..

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lmostrou os perigos de se confiar num procedimento introspectivo ereforçou a insistência antropologica de que a teoria social deve-sebasear em etnografia empirica. Neste e em outras trabalhos posteriores Geertz demonstrou para os antrop610gos (Gadamer 0 fazde modo mais geral e sistemâtico) que a compreensao (Verstehen l

nao esta. baseada na empatia ou em outras introspecçôes psicologicas,

mas sim nu m processo de justaposiçao, de esquemas de referêncianativas corn aqueles do analista, 0 que é, também, um processo decomunicaçao, Esta concepçâo da tarefa etnogrâfica (e antropolo

gica) chama a atençâo para expressôes idiomâticas, meios, modos,u::os fig-urativos e canais de comunicaçao, E, realmente, a década

de 60 foi a épaca em que os antrop6 logos buscaram ajuda e ins

piraçâo na Lingüistica.

Um ultimo vulto que poderia ser incluido, pOl' sua contribuiçào,de um a outra maneira, à ooeral!ionalizaçâo da Verstehen, é CiaudeLévi-Strauss e as técnicas (mas nao a metafisica) do estruturalismo.Tal vez inicialmente 0 estruturalismo tivesse sido pensado para tratar,

especificamente, de restas fragmentarios de sistemas culturais: osindicios de que tala Lévi-Strauss de modo tao comovente em Tr istes

Tropicos, onde nao ha histOria nem outra maneira de compor um ·sentido do todo. Naturalmente, 0 estruturalismo também se ajusta

especialmente bem a "sociedades frias", onde se tenta reproduzir 0

sistema cultural e negar mudança. Quanta à sua aplicaçao a sociedades mais quentes, 0 prôprio Lévi-Strauss deixou a questao em

aberto. É verdade que ha processos frios em sociedades quentes,processos mîticos onde a alfabetizaçao jâ se desenvolveu. De fato,o meu estruturaUsta favorito no momento é Marcel D_ tienne quetrata de processos miticos na cultura grega de grande tstabilidade

temporal. 0 valor dessa demonstraçâo é aumentado pela fata dete r sido feita em pIena luz de muitos classicistas (diferentemente

da situaçâo na América do Sul onde somente uns poucos criticosindigenistas conseguem discutir corn autoridade plena). De Qualquer modo, existe um a convergéncia entre 0 estruturalismo e aconcepçâo de uma in ter subjetividade qu e constitui a cultura; êàessa maneira que entendo 0, famoso dizer de Lévi-Strauss de quepouco importa se os mitos se .pensam at ra\'és de sua mente ou sesua mente pensa através dos mitas. 0 cri té rio de objetividade nessas

an a ises estruturalistas é dado pela redundi ncia,

Permitam-se resumir ess as cont ribuiçoes metodolôgicas : a pr eo

cupaçâo de Malinowski corn a forma e conteudo reais da compreensâo nativa, a de Maurice Leenhardt corn 0 esforço de colabora-

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çao. 0 despertar mutuo de consciência critica entre nativo e etno

grata e 0 acesso duplo ao produto da etnografia, a demonstraçaode Geertz (e de Gadamer) de que na compreensao/etnografia aquestâo é processo de comunicaçâo publieR que envolve sucessivasaproximaçôes e justaposiçoes de esquemas conceituais e a captaçâode codigos estruturais, como postula L e v i ~ S t r a u s s .

Quero agora passar a um comentario sobre 0 contextoi d e o l o ~

gico em que se deu a iniciativa chamada antropologia simbOlica eInterpretativa nos anos 60. Quero focalizar sobre Clifford Geertzpor ser, provavelmente, 0 antropologo americano contemporâneomais lido (fora e dentro da profissao). Sua visibllidade deve-setalvez ao tata de que durante anos ele foi 0 unico cientista socialdo Instituto de Estudos Avançados de Princeton. Porem, de maior

importância. é que a sua carreira parece quase um O cristalizaçâotipica ideal de certos processos dos quais os p.nos 60 surgem comose fossem uma reprise dos anos 20. Multas vezes a ciência socialtoma 0 carâter de duplicaçâo ou repetiçâo; ha corn f r e q ü ~ n c i a um

retorno a uma er&. anterior em busea de textos inspiradores; aduplicaçiio ou repetiçiio nunca é exatamente isso, pois ha sempre

uma nova faceta ou uma nova soluçao. Neste sentido, a historianao é circular, mas espiralada.Comecemos com a justaposiçâo de três "geraçôes" de intelectuais

antes da sua segunda guerra mundial Paul Ricoeur referiu-se àgeraçao do fim do século dezenove como a das "escolas da suspeita":Nietzsche atacando 0 Cristianismo coma uma mentalidade escravocrata, Marx atacando 0 utiEtarismo e, principalmente, a economia clâssica do lai ssez faire como uma ideologia protetor'R da bur

guesia inglesa, Weber analisando a Ética Protestante como estandosocialmente localizada num determinado estrato da sociedade e po-

derosa nu ma dada conjuntura historica, e Freud desvelando asneuroses sexuais coma meios de controlar e reprimir, necessarios àcultura. Todos eles introduziram a atitude modern a de nao se

deixar levar pela apa rência das coisas e de olhar corn suspeita osgrandiosos sistemas do seculo dezenove (Hegel, Spencer, Comte).Foi também a época em que a industriallzaçâo e a urbanizaçaocriaram um ambie:1te social onde se sentia cada vez mais que 0controle e a compreensâo escapavam ao individuo. Foi a época dasteorias que caracterizavam a transiçâo da sociedade de Gem ei nschaft

para Gesellschaft , de mecânica a orgânica, de status a contrato, deDm holismo confortavel a um individuali smo alienante. A geraçaoque sucedeu às escolas . da suspeita é a chamada "Geraçao de 1905"

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_ . _ ~ - "- -- " .....

que amadureceu nos anos 20 e 30: Rober t Musil, Ludwig WIttgenstein,Walter Benj amin, os surrealistas. Foi a geraçâo que trouxe 0 "mo- ')

dernismo", que via as ordens estaveis de significado Odeologiassistemas grandiosos) coma artificiais e repressivas, que temiamas ideologias, <lem ataques de desatençao", permitissem 0 acûmulode impérios, ou que se entrasse em guerras quase que por rotina

e que, portanto, se aprazia em subverter as convençoes da normalidade, justapondo exotismos e fragmentas de realidade a flm de

desafiar as pessoas. Foi uma geraçao de ensaistas que prapunham

ser possivel ter apenas insights fragmentarios da ve,tdade. ",. ""

Ha uma espécie de paralelismo corn a ' situ açao dos "EstadosUnidos dE:pois da segunda guerra. Vencedores da guena nos anos 50,

havia ai um otimlsmo, um sentido de poder llimitado, de nao exisUrnada que 0 conhecimento e energla apropriados nao pudessem re

solve:::-. Foi a era do romantismo, aquela tentativa grandiosa desintese de toda ciéncia social, que termir.ou numa interminavel(embora abrangente) geraçiio de classificaçôes. Foi também .o periodo da teoria da modernizaçâo: sentia-se que os problemas dedesenvolvimento do mundo podiam ser resolvidos, que havia mesmo

uma seqüência regular nesse desenvolvimento eum ponta de par

tida para ca da pais se lançar na auta-sustentaçiio e crescimentoIndependente.

Na década de 60 essa visao de sistema foi atacada. Na antro

pologia hou ve um reforço mûtuo de dois desenvolvimentos corn origens bem diferentes. Em primeiro lugar, estava a politica dos anos60, a reaçâo contra a guerra no Vietnam, uma poUtica"de protesta,corn elementos modernistas, anarquistas; separadamente. deu-se na

Universidade de Chicago 0 desenvolvimenta do nivel cultural doesquema parsonlano que, inevitavelmente, levou à quebra da concepçâo algo esta ica de sistema cultural. Assim que os alunos "dePa rsons e seus amigos corneçaram a levar a sério a proposta destede que 0 sistema cultural poderla ser estudado camo um assuntoanaliticamente separado, d e s v i o u ~ s e a atençâo para os processos decomunicaçâo que compôem a "cultura e que, de maneira alguma,sao estftticos ou cristallnos como parece implicito na rubrica " s i stema de simbolos". A carreira de Geertz é slntamàtica: se se lêos ensaios em Interpretaçao das Culturas em ordem cronoI6g1ca,parece haver uma mudança na conceitualizaçâo de cuItura. A prin

cipio é comparada a um programa de computador, um sislema deinformaçâo que desempenha um importante pape} no processo evolutivo; em meados da década de 60 ternos os ensaios sobre "Religiâo

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il!

coma Sistema Cultural", "Id eologia coma Sistema Cultural", "Artecomo Sistema Cultural", "Senso Comum coma Sistema Cu ltural" nosquais a noçao de "sistema de simbolos" é bastante enfatizada; nosanos 70, talvez ja corn "Deep Play", mas , sem duvida, em "DescriçaoDensa", tem-se uma noçao mutto mais fiexivel e indetermtnada dopro cessa cOffi.unicativo. Tante é mais sofisticada em termos de tr a

balhar 0 significado como, ao mesmo tempo, fru strantemente refrataria à sistematizaçao. Os escritos de Geertz sobre a empreitada

etnografiea comcçam a eeoar corn a "geraçao de 1905".

Foi Robert Musil quem argumentou que a c o n h e c ~ m e n t o su

perou a ideologia e que 56 seria possivel ter-se conhecjmento prag

matieo er:l pedaços. (Também Weber sustentou que a realldade épar demais complexa para a descriçao absolu a, que se alcançaria

a compreensâo sociologiea através de comparaçôes para problemasou prop6sitos especificas). 0 papel do escritor, continua Musil, éser poeta no sentido de evocar experiências imaginativamente.

Também Geertz, em Islum Observed, fala do antrop610go coma poetanesse mesmo sentido. Wittgenstein ensinou que a lin guagem devesel' entendida do modo como entendemos os jogos: muitas vezes a

significado esta na maneira como as palavras sao \ usadas, em seu ·contexto, e nao em alguma ilusao de denotaçôes .fixas. (Foi ele, talias, que, em 1922,  reviu cam desdém a noçao de James Frazer

segundo a quaI a religiâo primitiva poderia ser um erra in te lectual).

Assim coma para Geertz mais tarde, para Wittgenstein compre

ender a cultura era semelhante a se captar um a postura ou en tender-se Ulua piada, dependendo-se de uma ampla margém dealusôes e associaçôes. Walter Benjamin disse que a linguagem era

metaforica cm grande parte, que nao almejava ser verificâvel (comaas afirmaçôes cientificas, que representam um uso da linguagemespecial e muito restrito), mas caracterizar a experlência e deconter profundos sedimentos de hist.6rla, de modo que 0 processode compreender consistia em desfiar a significado, camada por

camada. Também Geertz, em "Descriçao Densa", veria na tarefa

do antrop610go 0 desfiar de -significados, a s s o c i a ç ô e s ~ conexôes;em seu artigo mais recente (e bem menas feliz) sobre um bazar

de Marrocos vê-se a ênfase em sin ais lingüisticos.7 Como Benjamin,

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o ensalo é a sua contribuiçao a um v01ume conjunto, Clifford Geertz,Hildred Geertz, Lawrence Rosen. Vide a interessante critica de Vincent Crapanzano, 1981a sobre esse ensaio, onde Crapanzano acha queGeer tz perd eu de vista as diferenças entre as regras de uso de significado referencial (dai, as listas de nomes nisba ) e de signtflcadoindéxico.

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Geertz observa que a ensaio é a forma apropriada; "coma Musil,argumenta que a teoria sistematica ou é impossÎvel ou vazia. Pa r

v ~ z e s , a eco do periodo an te rior é direta :  a frase popularissima deGeertz - modelas de ·e modelos para - pa·ra se referir ao modocoma os simbolos surgem da realidade e a moldam é, naturalmente,

a Nachbild e a Vorbild de Dilthey.

Geertz é um escritor extremamente divertido, informati\'o emesmo inspirador. Os antrop6Iogos da minha geraçâo foram pOl'

" le apresentados ao problema de Verstehen e à tradiçâo da teoriasocial alema em suas fontes (e nao na s versôes expurgadas, via·uma Ruth Benedict ou um Taleott Parsons>. A estétlca do insight

fragmenta rio (t anto nos anos 20-30 coma, de nova, nos anos 60-70)é uma forma de critica salutar e atenta e tem um efeito renovadorao trazer de volta 0 prazer de explorar e descobrir.8 Mas, em lilttmaanâlise, é insatisfaroria porque deixa de responder àquela o b r l g a ç a ~para COrn 0 lado cientifico, sistematizante e generalizante da em

presa antropologica.Quando Geertz chama a atençao para a natureza dos processos

de comunicaçao ele gera uma ambigüidade: tanto a compreensaodentre osatores soelals coma a eompreensâo tr<lnseultural (0 textoetnografleo) sâo construidas de manelra semelhante; n t r e t a n t opara fins etenUrieos, geralmente deve-se manté-las distintas. Temhavido reclamaçôes, por exemplo, sobre 0 ensaio "Deep Play",dizendo-se que ticou . oculto 0 processo de compor a descriçao: elerepresenta um conjunto de muitas brigas de galo? Ou en tao nosensaios sobre pessoa ("Pessoa, Tempo e Conduta . . ." e "From th e

Native's Point of View"), todos os balineses, javaneses, marroquinos,europeus sao dessa maneira? hâ quanta tempo sao assim? camo éque chegaram a se diferenciar? (Vide, par exemplo, nos ultimosparagrafos de ''Pessoa, Tempo e Conduta", a descrlçâo atemporal

das concepçôes balinesas de repente sendo questionadas corn a fi -

gura de Sukarno>.Por um lacto, sente-se que os trabalhos mais recentes de Geertz

abandonaram as questôes, que sao tao importantts quanta criticas,dos limites ou fronteiras histéricas e sociais de dadas formas cul

turais . Existem questôes que ppdem e devem ser colocadas, comafez Weber com a Ética Protestante, Benjamin corn TrauerspieIenou' eom Baudelaire, ou Bakhtin cam 0 humaI' rabelesiano. Existcmsimbolos e formas culturais que possuem maior força dentro de

8 SObre e. relaçao entre os surrealistas e antrop61ogos na França, videJames Clifford, 1981.

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uma formaçâo social especificaD e nao se deve descambar para uma

posiçâo segundo a quaI 0 que quer que impressione a imaginaçao

do etnografo tem igual utilidade para 0 texto etnogràfico, como"Descriçao Densa" parece sugerir. Realmente, qualquer forma de

"descriçâo densa" ou micro-an âlise torn a-se trivial se nao for

colocada dentro de esquemas macro-sociolôgicos e his tôricos mai s

abrangentes.10

Pa r outra la do, 0 que Geertz tem fette em ensaios como '·Des

criçâo Densa" e "Blurred Genres" é enfocar 0 modo como sao COl1S

truidos os textes etnogrâIicûs, um a questào de interesse cl'escente

na antropologia contemporânea. Assim, 0 termo "Antropologia 1n

terpretativa" trouxe uma nova faceta substantiva para os velhos

problemas de Verstehen, ao dar tanta atençao (senao mais ) aostextos criados pelos antropologos (por que acreditar neles, da; vema sua autoridade) quanta à operaçâo dos processos culturais que

sao descritos nesses textos.

Quero coneluir corn alguns comentarios breves sobre a geraçâo

dos alunas de Geertz e, especificamente, sobre 0 meu proprio tra

balho. Se me permitem continuar corn 0 conceito de processo cir

cular ou espiralado de renovaçao na antropologia, talvE:z voltemos aum eerto fio de pensamento dos anos 30 que se recuso u a abrlr

mao da busea de esquernas macro-sociologicos e historicos e, ao

mesmo tempo, manteve a preocupaçâo corn questôes humanistas de

forma e contelido em comunicaçâo. Uma das minhas principal')

fontes de "renovaçâo" esta no trabalho da Escola de Frankfurt,

principalmente em Adorno e Benjamin,lI corn seu esforço explicita

de sintetizar as investigaçôes de Weber, Marx e Freud, alëm da

preocupaçao de Nietzsche corn a estética. (D e fato, varias de meus

artigos recentes têm subtitulas que os caracterizam coma tentativas

1) Realmente, a prôpria noçâo de "Deep Play" é de algo tâo importante para os atores que, como mari posas atraidas pela luz, eles :;âo

atraidos para além de qualquer grau de racionalidade. Vide, por exemplo, 0 modo como eu sugeri 0 paradigma de Karbala e seu funcionamento no Ira durante os nnos 70 e 0 modo como as lendas deKhomeini funeionaram no inieio do ams SO.

10 0 recente ensaio sobre 0 Bazar de Sefrou em Marrocos eon tém, realmente, algumas sugestôes sobre a transformaçao hist6riea; mas, rnesmo ai, 0 também "marroquista" Crapanzano acha que as tentativasdo ensaio de fazer uma espeeifieaçâo histOriea SM vastas gen eralizaçôes nâ.o documentadas e mal integradas à. tese sobre a naturezaatual do bazar (op. cit.).

l1 Um conhecimento um tanto supel'ficial da Eseola de Frankfurt foidisseminado entre os estudantes do New Left nos anos 60, prîncipalmente através do trabalho de Herbert Marcuse.

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de "hermenêutica critica' ·).I2 Outra fonte inspira dora semelhante

para minha geraçao tem sido 0 trabalho da Escola Francesa dos

A.nnales de historiadores, a quaI, muUo apropriadamente, tem-se

aberto às contribuiçôes da antropologia .

A minha antropologia aspira a ser : (a) dinâmica, mais inte

ressada em mudança cultural e social do que em formas culturais

coma fieras textos;13 (b) politicamente democratlca, no sentido de

Leenhardt, de tentar produzir textos etnograficos que sejam ricos

o suficiente para dizerem aIguma coisa para 0 pava descrito (e

naD apenas para a cOl1r"mldade antrapologica ou 0 publico leiter

oCidental) e terem bastan te sentido para despertar 0 Se'H. interesse;

(c) objetiva, no sentido de captar as formas "-piiblicasèe discurso

que na e sejaI!l impressôes idiossincrâticas, mas que passam ser COll-

firrnadas par outros observadores e participantes, levando, por tanto,

a atençao tanto para os modos de comunicaçao utiliza.dos pela cul

tu ra em Q u e s t ~ o camo para as formas de construçao de texto que

se apresentam ao observador.14

Em minha tese tente! começar corn problemas definidos pelosproprios iranianos, tomando coma tarefa antropolégica clarificar,

delimitar e justapor comparativamente. Dentre os problemas quepareciam mais centrais estavam a religlao e sentimentos de per

seguiçao. Ao inv és de começar corn uma definiçao de religiâo tirada

de teorias antropolégicas, Hz 0 esforço de de·ixar que diversos atores

iranianos definissem a problemâtica. Assim, por exemplo, planifi

cadores, politicos e académicos poderiam falar de religiao, colocando

problemas de desenvolvimento; sh iitas, judeus, zoroastrlanos e

bahais podiam reclamar das demandas opressivas feitas sobre eles

pela rdigiao dos outros, pelas repressivas tradiçôes milenares ou

par clérigos ignorantes; e, no entanto, todos eIes, mesmo assim,

afirmavam que, apesar do abuso, a religiâo era algo bom. Dando ·

um segundo exemplo, meu livro recente pretende ser suficientemente

"'.on Being Raised in the Middle East : amId Development, SOcializat l ' : ~ n , and the Socialization of Affect"; "Legal PostuIates in Flux: Law,Wit and Hierarehy in Ir an"; "Symbolic Modes of COnduet: A CriticalHermeneutie Approaeh".

ni A partir da observaçao de · que, para se analisar a cultura é precisacapta-la em forma escrîta,'. surgîu a noçâo de que compreender acultura era analogo a 1er um texto. Tanta Paul Ricoeur como Geertzelaboraram essa n0çâo. .

14 Um pequeno esforço de inovaçâo foi a minha dupla tntroduçâo àversâo original do livro reeentemente publicado, Iran: From Relfgiou.sDispute to Revolution: uma "Introduçâo para Iranianos" e umn "Introduçâo para Amerieanos". Aqueles pareceram gostar da idéla; estes(editores a fortiori) rejeitaram-na.

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rico em detalhes e em arg umentaçâo iranianos para interessar aoslei ores do Ir a, nao apenas corn 0 proposito de receber d ~ l e s uma

reaçao, mas também para tentar pôr d1ante deles um espelhd, para

provocar um aumenta mutuo de cansciência critica. N a ~ u r a l m e n t e ,aD avaliar esses esforços, s6 p o ~ s o falar de 'minhas esperanças ea s p i r ~ ç ô e s ,

Vale a pena, talvez, mencionar uma outra area, que é 0 tipo

de, antropologia que tentamos construir na ' Universidade de Rice.Naturalmente, nao posso afi rmar qu e 0 que acontece nos EstadosUnidos é 0 que esta acontec€ndo em Rice. Contames com um grupojovem e dinâmico que quer ex'plorar as abordagens da hermenêutieacritica a Que . me referi acimalli e aplica-Ias aos Estados Unidos,cumprindo a veLna promessa da antropologia de trazer seus instrm;nentos e capacidades de volta a casa. Um dos tôpicos que seprestam a continuas discussôes e reflexao sâo os novos modos de

escrita etnografica, inclusive a natureza das velhas convenç6es realistas da etnografia,lCa natureza da autoridade que deve ser trans

mltida num texto antropol6gico e a possibilidade de se utiliz.r

convençôes de diàlogo . Por exemplo, Tyler, num trabalho em· quereanatisa as discussôes que ele pr6prio teve corn ~ informantesobre um r!tual, argumenta que a noçoo de um dialogo verdadeiramen'te colaborativo ' é uma ilusao em etnografia porque, em liltimaanalise, é um dos dois que tem .o lapis na mao. po r ·outro lado, ·euargumento a dialogo (e multi-Iogo) é uma opçao viâvel" que

nenhum dia ogo é slmplesmente entre duas partes, mas que qualquer discurso envolve uma terce ira composta de formas culturais,meios lingüîsticos, aquilo Que Gadamer charna de sensus communis

Hi Steven Tyler, que jâ foi wn importante explorador de . métodos formais em antropologia (viz., 0 volume que organizou, Cognitive .A nthro-pology) , mais reeentemente (1978) 1 escreveu uma critiea inquisitiva(e muitas vezes divertida) dos formalismos da antropologia llngillstiea e cultural, propondo uma sensibilidade hermenêutica. Ele ministr a eursos de Hermenêuti-:a e de Neurolingilistica. George Marcus,

o ehefe d'J departamento, escreveu resenhas sobre novas modos de'eserita etnografica, dando CW'sos sobre isso e sobre a comunicaçao inter

cultural. Julie Taylor, que trabalhou no Brasil e na Argentina , esta.interessada em formas simb6licas , e da, par exemplo, wn curso sobrelIiSt6ria camo Processo Simb61ieo. Em 1983 teremos a presença de TullioMaranhâo, que nos traz seu interesse em h ermenêutica e s o c i o 1 i n g ü i s ~tica, hav endo traball1ado , principalmente, corn as abordagens de Habermas e Labov num est udo de faiantes portugueses de Oabo Verdeem Cambridge, Massachusetts.

le Vide resenha de George Marcus e Dick Cushman, 1982, também suaintroduçao ao volume que organizou sobre estudos de elites ( U n 1 v e r ~sity of New Mexico Press, no prelo).

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(consenso, senso comum, em seu significado mais rico), isto é, quehA. sempre terceiros para corrigir um ou os dois interlocutores emassuntos de cultura,17 e que é uma tarefa etnogrâfiea bâsiea explorar a margem de opiniôes em qualquer assunto e avaliar suaprofundidade de apoio como um melo de se avaliar, também. qu aissâo as opiniôes dominantes e por quanto tempo.

o esforço de desenvolver uma antropologia de sociedades com

plexas e, em particular nos Es tados Unidos, ainda estâ em sua

fase preliminar em Rice. Mareus esereveu uma série de ar tigos sobrea Id eologia do parentesco entre dinastias dos Negocios, explol'andoa noçao de que a natuf€za de instrumentos legais, tais coma 0

Massachusetts Trust, e 0 papel de fiduciarios profissionais trans

formaram a compreensao de "familia" para aqueles envolvidos na

dilicil tentativa de evitar a dissoluçâo d. s dinasti. s . Um dos resultados mais provocadores dessa pesquisa (baseada tantv em entre

vistas como em pesqulsa de arquivo) é a sugestao de que a étieafiduciaria profissional (serviço desinteressado) representa um dos

modelos chaves da ética do Establishment da América, pelo menosaté os anos de Johnson, um Establishment composto de filhos dessas

f.milias de neg6clos, cuja relaçâo corn a filantrolJla e 0 serviçopubllco dlzla-se anàloga à do flduclàrio corn as fortunas de suas

familias.

Minha contribuiçao aos nossos esforços americanistas tem sidoaté agora um curse exploratério sobre "CUltura Americana". 1 0

esquema geral foi 0 de explorar até que ponto podemos compreender (ou alegamos que podemos) os Estados Unidos em termosde: (al excepcion.lldade (por exemplo, a idéia seiscentista de que

17 Vide também 0 recente trabalho de Vincent Crapa!lZano sobre esseme!:>lllo ponto, principalmente a introduçao a TUhami, 1981b e 198ft.Crapanzano baseia-se, prineipalmente, em Desire in the Novel, deGiraud e no trabalho de Lacan.

18 Parece-me que no Brasi! 0 esforço de se falar em uma "cultura brasilelra" foi amplamente criticado ha alguns anos atras coma wn a

postura ideo16gica para descartar problemas de integraçao, etnicida.de,regionalismo, etc. Rouve um periodo semelhante em meados dcstesécul'J nos Estados Unidos, quando a americanizaçao era uma forçaideol6gica. Desde os anos 60 e a nova celebraçâo da etnicidade , essaideologizaçâ.o tcm-se diluido , e abriu -se a e s t a o de até que p o n ~existem simbolos nacionalmente operativos (V1Z., por exemplo, a noçaade Robert Bellah sobre wn a religiât:> civica). Desconiio que os ame

ricanos operam sempre em três niveis, pela menos: ha. u!ll c6dlganacional publico, ha também os Jocais, sejam eles regionais. etnicos oureligiœos, e ha. os c6digos pessoais. A s s i m ~ embora passa haver muareligiao civica, 0 pertencer a 19rejas especiflcas n:.uitas vezes traz consigo indices locais de status, que padern ou nao passar para wn aescala nacional.

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Deus criou especialmente a América, a idéia oitocentista de que a

fronteira acabava corn a decadéncia européia, ou a noçao de que

a riqueza natural da América do Norte queria dizer que a sociedade

americana estaria sujelta a conflitos de status em vez de conflitos

de classe no estilo europeu); (b) a noçâo de que quando a fron

telra americana se esgotar, a América ficarâ cada vez mais sujeita

a tensôes sociais do mesmo tipo que na Europa (a Alnérica é uma

Europa imatura); ou a noçao de que a América é a sociedade mais

avançada (é a Europa que precisa alcançâ-la), principalmente, em

termos de tecnologia moderna e comunicaçao e em termos de uma

nova estrutura psicologica (a muito discutida tl'ansiçao de uma

velha ética de traba lho protestante, orientada para 0 interior, con

trolada por sentimentos de culpa, para uma nova personalidade

orientada para 0 cutro, narcisista, recompensada pOl' habilidades

nas relaçôes interpessoais). Dentre os topicos tratados no curso

estâo a politica simbôlica (pOl' exemplo, 0 movimento da Proibiçao

visto como um esforço das velhas elites de cidadezinhas republi

canas de protestar contra a sua perda de poder para os novas grupos

de imigrantes; a utilizaçâo de ritos publicos coma a Pa!'ada Tri

centenaria de Newburyport, Massachusetts, ou os . dramas da Re

conquista em Santa Fé, Novo México, negando, ma s ao mesmo

tempo, expondo conflitos sociais); os modos coma os intelectuais

caracterizam a América vista coma refletindo caracterizaçôes mu

taveis da sociedade americana por intelectuais (historiadores, cien

tistas sociais, criticos literarios) camo indices ideo16gicos de rnu

da nça (pOl' exemplo, 0 estudo de Michael Kammen sobre a revo

luçâa americana que se tornou progressivamente mais conservadora,

Ou as mudanças peIi6dicas de opiniâo por parte dos historiadores,

digamos, dos Progressistas aos Liberais de meados do século); a

etnicidan.e em autobiografia e 0 debate sobre cultura de massa.

Considera os dois ultimos t6picos especialmente gratificantes.

As recentes autobiografias étnicas revelarn Ulua tripla explo

raçao marcante da que vern a sel' etnicidade, ou, pela menas, comaela é tl'ansmitida camo poderoso elemento de conscientizaçao. Em

primeiro lugar, ha a que poderiamos charnar de afirmaçôes cogni

tivas: todas as ana ises sociologicas padrao da historia de grupos

especificos, a contexto s6cio-politico, a necess idade de solidariedade

em vârias formas. Muito mais interessantes sao as autobiografias

recentes que exploram processos anâlogos aos dos sonhos, isto é,

utllizando uro fluxa de imagens que operam de maneil'a diferente

da linguagem cOmum ou do discul'sO racional. Assim coma quando

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urn paciente vai a uro psicanalista e Ihe conta os sonhos, ha urn

processo de traduçâo de modos do imaginàrio para a forma verbal,

traduçao essa que, muitas vezes, é apenas aproximativa e que pode

traze r distorçôes e mudanças nao aleat6rias. Do mesmo modo, nessas

autobiografias as ansiedades sao freqüentemente transmitidas pOl'

melo de fragmentas de mi tas , costumes parcîalmente compreendidos,

memôrias que nao formam um todo articulado (tal coma urn etno-'grafo à antiga tentaria apresentar), mas Que sao emocionaimente

fortes e se rep etem em situaçoes especificas.19 Em terceiro lugar,

e ~ s a s autobiografias também j.ogam corn processos s e m e ~ n t . e S - à

transferência psicanalitica, onde 0 paciente se relaciona corn 0 outro

camo 0 fez corn outra pessoa anteriormente, mas onde ele nao

fornece nenhum texto verbal de suas ::tçôes (isto é, diferentementt;.

de sonhos, onde exis te um texte, mesmo que distorcido) .20 Reconhe

cel' e explorar esses complexos componentes do comportamento

étnico é a.lgo è.e que a sociologia nâo conseguiu dar conta; talvez.

os instrumentas antropologicos que permitem distinguir entre usos

indéxicos e linguagem referencial( I') possam fornecer a impulso para

esse tipo de estudo.:n "

19 Vide, por exemplo, 0 romance autobiogrâfico Warrior Woman, de Maxine Hong Kingston, um.a. sim-americana. .

2v Vide, par exemplo, Passage ta Ararat, de Michael J. ArIen, americanode ascend2ncia armênia.

(. ) N. T. - Utilizamos 0 neologismo indéxico, seguindo a forma, igualmentenova, em inglès (indeIical) para chamar a atençao para esse canceitorelativamente recente na literatura antropolOgica. Ele e sua contrapartida - 0 conceito de linguagem referenciaJ - têm sido trabalhadas.principalmente, par Pierce (Collecte(/, Papers of C. S. Pierce, org. deCharles Hartshorne e Paul Weiss , Harvard University Press, J932),Silverstein, citado neste artigo, Vincent Crapanzana. 1981C, tambémcitado aqui. De Silverstein, citamas: "A funçao referencial da falapOde sel' caracterizada com() sendo a comunicaçâo de proposiçôes .. .em alguns casos, sujeitas a verificaçâo de obj etos e acontecimentos, emoutras, tamadas camo representaçôes da verdade" (: 14), Trata-se, pois,

daltuilo a que se referem os simbolos e equilo que eles denotam. EmCrapanzan(), temos que funça.o indéxica, do grego deixis (apontar, indicar) "refere-se a funcâo de pronomes pessoais, demonstra tivos, artigos,certas' oc uçôes adverbiaîs, tempo, indicadores honorificos e de status eoutras traços léxicos e gramaticais que ligam wna elacuçao ao seucontexto" (: 127) . Re fe re-se, portanto, à funçâü pragmâtica da linguagem.

21 Michael Silverstein tem sido uma figura chave ao enfatizar para osantrop610gos as implicaçôes da distinçao entre linguagem referenciaie l1'5OS indéxicos. Vide, por exemplo, seu ensaio na c o l ~ t â n ~ a de KeithBasso e Henry Selby, Mean in g in Anthropology (Uruverslty of NewMexico Pre&<> 1976), onde ele desafia os antropôlogos (principalmenteos simb6licos') que se tém voltado para a Lingüistica em busca demodelos me to dol6gicos, que os lingüistas tratariam melhor daquilo que

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Num certo sentido importante, 0 estudo de cultura de massaremonta ao trabalho de Adorno, Benjamin e a Escala de Frankfurt.

Estes colocaram questoes criticas de como a cuttura é produzlda edistribuida, até que ponta as platéias e os consumidores padern ser

manipulados, até onde as formas de arte podem estimular ou embotar a consciéncia. Na ur gêllcia da pr eocupaçao corn 0 surgimento

do fascismo e de controles totalitârios, suas cri ticas d e s c ~ n f i a d a stiveram força. Entretanto, muitas dos juizos que emitiram à luzde tempos posteriores devem ser descar tados; por exempla, que 0

jazz e a mûsica popular sac infantilizal1tes e meramente um meiode reduzir a consciência à passividade. 0 curso tenta tomar uma'

série de componentes da moderna cultura de massa - filmes, es

porte, mu sica - e explorar ern que medida a mûsica de Elvis

Presley refletia 0 ambiente sulista de brancos pObres do quaI eleveio, a rnusica de Sly s tone seguia 0 tom euforico e de pois deses

perado da camuni da de negra dos ano s 60, ou 0 rock dos anos 70

refletia as lutas entre expressôes criativas e a economia de mer

cado; ou, por que a ficçao arnerican a quase n un ca usa coma vei

culo 0 corredor, enquanto que n a ficçâo européia encantra-se corn

freqüência 0 esforço de carredores coma um excelente veiculo; 0

que hà no conjunto de imagens do baseba ll que tem apelo para amente americana e por que a pop ularidade do ba seball tem dimi

nuido em anos recentes (sera que as imagens pastorais de bri zas

primaveris, chuvas de maio e grama nova bro ta ndo sao incompa

tiveis COrn as trodomos fechados, grama artificial e transmis3âo televisionada?) .

Em todos esses eSforços, ten ta -se ir por detras da aparência

da realidade até chegar a processos sociais sistemâtlcos e em COffi

petiçao, explorar as formas de comunicaçâo em termos das qua is

as pessoas agem e fornecer um ins trumento que possa levantar aauto-consciência critlca. Embora a formulaçao deste estilo de 1n-

ve.st igaçao antropologica tenha surgido de correntes hi stâricas es

pecificasâ.

América pos- Vietnam, as questôes tê m fontes e ecosinternacionai s e significado perene. Sera de grande interesse ver

coma elas sâo colocadas diferentemente em diferen tes paises, quais

sac as mai s paroquiais e quais as de in teresse mais amplamente

colaborativo ou conflitivo.

70

Traduçâo de ALCIDA RITA RAMOS

pOde ser visto camo as partes menas interessantes da cultura. Doisexemplos de utilizaçâo inovadora destes conceitos na antropologia sâ oCrapanzano (nota 17) e G. Obeysekere, 198 1.

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A Casa-Grande e 0 Sobrcido na Obra de

Gilberto Freyre 1

L UIZ A. DE CASTRO SANTOS

UM E S C L A R E C I ~ l E . N T O , 1984

Ca sa Grande & Senzala completou e!11 1983 cinqüenta anos de

serviços pr estados ao leitor brasileiro. Ao todo, vinte e duas edlç5es

no Bra sil. Sobrados e Mocamoos fara seu cinqüentenario em 1986,precedido de inümeras ediçôes. Juntas, estas duas obras traçam a

interpre taçao gilbert iana do passado escravista e senhorlal do Brasil.

Sao obras irm as. A contribuiçao destes dois grand es ensa ios deve se r

analisada em seu conjunto.

É a estes dois ensaios - talvez 0 filao ma is l'ico da obra extra

ordinaria de Gilberto Freyre - que dedieo a maior parte do pre

sente trabalho. Aqui e ali, lanço mao de outras livras que sao parte

do mesmo filao, ainda que naD revelem a mesma força, 0 mesmo

viço das obras de 19 33 e 1936. 0 cr i ério adotada foi a de examinar

um dentre mui tos Gilbertas - aq uel e que estudau 0 Brasil senhorial

e eseravocrata, que se debruçou sobre colonizadol'es e colonizados

nos trép ieos, sobre 0 ~ i s t e m a de produçao da monocultura e dolatifûndio, sobre a estrutura de dominac;ao pa triarcal.

Mas antes de par ti r par a ,a discussao de tais temas, gostaria de

fazer dois co mentarios.

l Agradeço 0 apcio Hnanceiro do CNPq durante a elaboraçao deste ar tigo. Agrad eço também 0 estimulo que rccebi de nirios amtgos cprofessorcs, especialmente :o.1aria Helena de Castro Santos, Mar iza G.S. peirano. LYClli'go Sa mos Filho e Tullio P. Maranhao no Brnsil . eDa\'jct Maybur;.· ·Lewis e Or lando Patterson n'Js Estados Unidos.

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