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Microbiologia Clínica

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microbiologia clinica

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Page 1: Microbiologia Clínica

DOCÊNCIA EM

SAÚDE

MICROBIOLOGIA GERAL

Page 2: Microbiologia Clínica

1

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Portal Educação

P842m MIicrobiologia / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação,

2012.

130p. : il.

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-8241-073-8

1. Microbiologia. I. Portal Educação. II. Título.

CDD 576

Page 3: Microbiologia Clínica

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

1 QUISITOS BÁSICOS PARA INSTALAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE UM

LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA ............................................................................................... 9

1.1 BOAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO ................................................................................................. 9

1.2 REGRAS PRÁTICAS LABORATORIAIS .............................................................................................. 14

1.3 GENCIAMENTO DAS BOAS PRÁTICAS .............................................................................................. 14

1.4 ROTINA NOS LABORATÓRIOS........................................................................................................ 17

1.4.1 DESINFECÇÃO ............................................................................................................................. 17

1.4.2 ESTERILIZAÇÃO ........................................................................................................................... 18

1.5 NORMAS DE SEGURANÇA NOS LABORATÓRIOS ............................................................................... 19

1.5.1 RISCO FÍSICO ............................................................................................................................... 20

1.5.2 RISCO QUÍMICO ............................................................................................................................ 20

1.5.3 RISCO BIOLÓGICO ........................................................................................................................ 21

1.5.4 RISCO AMBIENTAL ........................................................................................................................ 21

1.5.5 RISCO ERGONÔMICO .................................................................................................................... 21

1.5.6 PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO....................................................................................................... 21

1.6 SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA ....................................................................................................... 22

2 COLETA DE AMOSTRAS ......................................................................................................... 23

3 TRANSPORTE DE PRODUTOS BIOLÓGICOS ....................................................................... 24

4 RECEPÇÃO DE AMOSTRAS E OBSERVAÇÕES PRELIMINARES ........................................ 26

Page 4: Microbiologia Clínica

3

4.1 CRITÉRIOS DE REJEIÇÃO DAS AMOSTRAS ......................................................................... 26

5 CULTIVO DE MICRO-ORGANISMOS ...................................................................................... 27

5.1 PREPARO DO MEIO DE CULTURA ......................................................................................... 27

5.2 ISOLAMENTO E OBTENÇÃO DE CULTURA PURA ................................................................ 27

6 MICROSCOPIA ......................................................................................................................... 29

7 PRINCIPAIS MÉTODOS DE COLORAÇÃO ............................................................................. 30

8 CONTROLE DE QUALIDADE ................................................................................................... 34

9 BIOSSEGURANÇA ................................................................................................................... 35

10 AS BACTÉRIAS ........................................................................................................................ 36

10.1 ESTRUTURA................................................................................................................................. 36

10.2 TAXONOMIA: CLASSIFICAÇÃO, NOMENCLATURA E IDENTIFICAÇÃO DAS BACTÉRIAS ......................... 38

10.3 MORFOLOGIA .............................................................................................................................. 38

10.4 CRESCIMENTO ............................................................................................................................. 39

10.5 FISIOLOGIA .................................................................................................................................. 40

10.6 COLORAÇÃO ............................................................................................................................... 40

10.7 ESPOROS .................................................................................................................................... 40

10.8 SOROLOGIA ................................................................................................................................. 41

10.9 METABOLISMO ............................................................................................................................. 41

10.10 PATOGENICIDADE ........................................................................................................................ 41

11 ESTAFILOCOCOS .................................................................................................................... 43

11.1 STAPHYLOCOCCUS AUREUS ......................................................................................................... 44

11.2 STAPHYLOCOCCUS EPIDERMIDIS ................................................................................................... 45

11.3 STAPHYLOCOCCUS SAPROPHYTICUS ............................................................................................. 46

Page 5: Microbiologia Clínica

4

12 ESTREPTOCOCOS .................................................................................................................. 47

12.1 ESTREPTOCOCOS BETA-HEMOLÍTICOS .......................................................................................... 47

12.2 ESTREPTOCOCOS ALFA-HEMOLÍTICOS .......................................................................................... 49

12.3 ESTREPTOCOCOS GAMA-HEMOLÍTICOS (NÃO HEMOLÍTICOS) .......................................................... 50

13 ENTEROCOCOS....................................................................................................................... 51

14 NEISSERIAS ............................................................................................................................. 52

15 BACILOS .................................................................................................................................. 54

15.1 GÊNERO CORYNEBACTERIUM....................................................................................................... 60

15.2 GÊNERO BACILLUS ...................................................................................................................... 55

15.3 GÊNERO LISTERIA........................................................................................................................ 57

15.4 GÊNERO CLOSTRIDIUM ................................................................................................................. 57

15.5 GÊNERO MYCOBACTERIUM ........................................................................................................... 59

15.6 GÊNERO ACTINOMYCES ............................................................................................................... 60

15.7 GÊNERO NOCARDIA ..................................................................................................................... 60

16 ENTEROBACTERIACEAE ....................................................................................................... 62

16.1 GÊNERO ESCHERICHIA ................................................................................................................. 62

16.2 GÊNERO PROTEUS ....................................................................................................................... 63

16.3 GÊNEROS KLEBISIELA, SERRATIA E ENTEROBACTER ..................................................................... 63

17 SALMONELA, SHIGELA E PSEUDOMONAS .......................................................................... 64

17.1 GÊNERO SALMONELLA ................................................................................................................. 64

17.2 GÊNERO SHIGELLA ...................................................................................................................... 64

17.3 GÊNERO PSEUDOMONAS .............................................................................................................. 64

18 BACILOS GRAM NEGATIVOS CURVOS ................................................................................. 66

Page 6: Microbiologia Clínica

5

19 OUTRAS BACTÉRIAS GRAM NEGATIVOS ANAERÓBIOS ................................................... 67

20 BACTÉRIAS ESPIRALADAS ................................................................................................... 69

21 MICOPLASMAS ........................................................................................................................ 71

22 RICKETTSIAE ........................................................................................................................... 72

23 CULTURA BACTERIANA ......................................................................................................... 73

24 OS VÍRUS ................................................................................................................................. 83

25 PARVOVÍRUS .......................................................................................................................... 87

26 PAPILOMAVÍRUS ..................................................................................................................... 88

27 HERPESVÍRUS ......................................................................................................................... 89

28 ADENOVÍRUS ........................................................................................................................... 90

29 HEPADNAVÍRUS ...................................................................................................................... 91

30 POXVÍRUS ................................................................................................................................ 92

31 PICORNAVÍRUS ....................................................................................................................... 93

32 ORTHOMYXOVÍRUS ................................................................................................................ 94

33 PARAMYXOVÍRUS ................................................................................................................... 95

34 TOGAVÍRUS ............................................................................................................................. 96

35 RETROVÍRUS ........................................................................................................................... 97

36 RHABDOVÍRUS ........................................................................................................................ 98

37 ARENAVÍRUS ........................................................................................................................... 99

38 REOVÍRUS ............................................................................................................................... 100

39 CORONAVÍRUS ....................................................................................................................... 101

40 PRÍONS (SCRAPIE) ................................................................................................................. 102

41 OS FUNGOS ............................................................................................................................ 103

Page 7: Microbiologia Clínica

6

42 ESTUDO VISUAL DOS FUNGOS ............................................................................................ 113

43 IDENTIFICAÇÃO E ISOLAMENTOS DOS FUNGOS ............................................................... 115

44 MICOSES SUPERFCIAIS ........................................................................................................ 116

45 MICOSES PROFUNDAS .......................................................................................................... 117

46 PNEUMOCYSTIS CARINII ............................................................................................................... 120

47 PROTOZOÁRIOS..................................................................................................................... 121

48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 125

GLOSSÁRIO ...................................................................................................................................... 126

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 129

Page 8: Microbiologia Clínica

7

INTRODUÇÃO

A microbiologia é definida como a biologia dos organismos microscópicos que

relaciona os organismos “invisíveis a olho nu”, pelo seu tamanho, com as principais doenças

infecciosas do homem e de seus animais domésticos.

Os micro-organismos são encontrados em todos os ambientes, incluindo solo, água, ar

e participam de todas as funções vitais. Embora não possam existir dúvidas de que bactérias e

vírus sejam os patógenos mais numerosos e importantes, o estudo da microbiologia também

está ligado à micologia e parasitologia.

A relação entre o hospedeiro e o microrganismo pode se estabelecer de diversas

maneiras. Essa associação ou simbiose (viver juntos) pode ter uma conotação de benefício ou

prejuízo para o hospedeiro. Tentando categorizar especificamente essas associações, os

pesquisadores conseguiram, por conveniência, identificar três categorias, que foram nomeadas

como: comensalismo (uma espécie utiliza a outra como seu ambiente físico, como, por exemplo,

microbiota); mutualismo (as duas espécies se beneficiam, como, por exemplo, as bactérias

entéricas de ruminantes); e parasitismo (apenas uma espécie se beneficia trazendo prejuízo ao

hospedeiro, como o vírus da raiva).

Estamos, agora, diante da oportunidade de ampliar e aprofundar temas considerados

essenciais dentro do estudo da microbiologia. Nossa expectativa é a de que os usuários desta

apostila de microbiologia geral possam assimilar e alcançar novos níveis de complexidade

laboratorial. Não tivemos a pretensão de alcançar o conteúdo e a profundidade dos livros-texto

de microbiologia tradicionalmente consultados e que também nos serviram de referência, mas

sim incluir apenas uma pequena parte de uma explosiva base de dados que se expande em

forma exponencial, concernente ao número e classes de micro-organismos e às propriedades

que lhes permite causar doenças.

O material apresentado aqui é apenas um “instantâneo” da microbiologia atual, com

respeitosa mesura aos avanços científicos dos anos passados e com a visão de que as novas

tecnologias descritas neste e nos próximos módulos já revolucionaram as práticas laboratoriais e

continuarão a afetar as abordagens atuais e futuras da arte e da ciência da microbiologia.

Page 9: Microbiologia Clínica

8

O primeiro passo para o conhecimento dos micro-organismos é o mesmo que se deve

seguir para conhecer uma pessoa: é necessário saber seu nome. No estudo do mundo dos

micro-organismos como agentes de doenças no homem, é primeiramente importante assimilar

como as bactérias e outros micro-organismos são denominados, isto é, a ciência da taxonomia.

Page 10: Microbiologia Clínica

9

1 REQUISITOS BÁSICOS PARA INSTALAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE UM LABORATÓRIO

DE MICROBIOLOGIA

Os requisitos básicos para um laboratório de microbiologia visam elaborar e viabilizar

boas práticas, normas para coleta, conservação e transporte de material de interesse clínico.

Além de estabelecer e executar rotinas microbiológicas, dentro dos padrões técnico-científicos

vigentes, que permitam o isolamento e identificação dos principais agentes infecciosos de

importância clínica, por gênero, e, se possível, por espécie.

O laboratório ainda precisa determinar a sensibilidade às drogas antimicrobianas,

efetuar o controle de qualidade de suas atividades e dos processos de esterilização. E ainda

divulgar e implementar normas de biossegurança.

Os equipamentos mínimos para funcionamento de um laboratório de microbiologia

consistem em: estufa bacteriológica, forno de Pasteur, autoclave, microscópio binocular,

centrífuga de baixa rotação, homogeneizador, banho-maria de pequena dimensão, destilador

para água, balança para tarar tubos, balança comum com uma ou duas casas decimais, bico de

Bunsen, geladeira e capela de fluxo laminar.

Além desses equipamentos, o laboratório poderá contar com outros aparelhos, como:

microscópio estereoscópico, congelador (-20oC ou -70oC), bomba de vácuo para filtração com

membranas, potenciômetro e balança analítica.

1.1 Boas Práticas de Laboratório

O trabalho laboratorial executado de forma adequada e bem planejado previne a

exposição indevida a agentes considerados de risco à saúde e, sem dúvida, evita acidentes.

Manipulação de agentes considerados contaminantes é regida por leis federais,

estaduais e municipais. A manipulação, armazenamento e transporte de agentes de risco

requerem licenças especiais que são controladas por órgãos federais. O Regulamento Técnico

de Funcionamento do Laboratório Clínico foi elaborado a partir de trabalho conjunto de técnicos

da ANVISA, com o grupo de trabalho instituído pela Portaria nº. 864, de 30 de setembro 2003.

Page 11: Microbiologia Clínica

10

Esse grupo de trabalho foi composto por técnicos da ANVISA, secretaria de atenção à saúde

(SAS/MS), secretaria de vigilância à saúde (SVS/MS), vigilâncias sanitárias estaduais,

laboratório de saúde pública, sociedade brasileira de patologia clínica/medicina laboratorial,

sociedade brasileira de análises clínicas, provedores de ensaio de proficiência e um consultor

técnico com experiência na área.

A proposta de Regulamento Técnico elaborado pelo grupo de trabalho foi publicada

como consulta pública nº 50 em 6 de agosto de 2004. As sugestões recebidas foram

consolidadas pelos técnicos da gerência geral de tecnologia em serviços de saúde

(GGTES/ANVISA), pelos componentes do grupo de trabalho juntamente com o consultor. Após

discussões, as sugestões pertinentes foram incorporadas ao texto do Regulamento Técnico,

sendo produzido o documento final consensual sobre o assunto.

Esse Regulamento Técnico, discriminado na resolução da diretoria colegiada - RDC nº.

302, de 13 de outubro de 2005, regulamenta:

“A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da atribuição que lhe

confere o art.11, inciso IV, do Regulamento da ANVISA aprovado pelo Decreto 3.029, de 16 de

abril de 1999, c/c o § 1º do art.111 do Regimento Interno aprovado pela Portaria nº. 593, de 25

de agosto de 2000, republicada no D.O.U. de 22 de dezembro de 2000, em reunião realizada em

10 de outubro de 2005; considerando as disposições constitucionais e a Lei Federal nº. 8080, de

19 de setembro de 1990, que trata das condições para a promoção, proteção e recuperação da

saúde, como direito fundamental do ser humano; considerando a necessidade de normalização

do funcionamento do Laboratório Clínico e Posto de Coleta Laboratorial; considerando a

relevância da qualidade dos exames laboratoriais para apoio ao diagnóstico eficaz, adota a

seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente substituto, determino a sua

publicação”:

Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico para funcionamento dos serviços que realizam atividades

laboratoriais, tais como Laboratório Clínico e Posto de Coleta Laboratorial, em anexo.

Art. 2º Estabelecer que a construção, reforma ou adaptação na estrutura física do laboratório

clínico e posto de coleta laboratorial deve ser precedida de aprovação do projeto junto à

Page 12: Microbiologia Clínica

11

autoridade sanitária local em conformidade com a RDC/ANVISA nº 50, de 21 de fevereiro de

2002, e RDC/ANVISA nº. 189, de 18 de julho de 2003, suas atualizações ou instrumento legal

que venha a substituí-las.

Art. 3º As Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito Federal devem implementar

os procedimentos para adoção do Regulamento Técnico estabelecido por esta RDC, podendo

adotar normas de caráter suplementar com a finalidade de adequá-lo às especificidades locais.

Art. 4º O descumprimento das determinações deste Regulamento Técnico constitui infração de

natureza sanitária sujeitando o infrator a processo e penalidades previstas na Lei nº. 6437, de 20

de agosto de 1977, suas atualizações, ou instrumento legal que venha a substituí-la sem

prejuízo das responsabilidades penal e civil cabíveis.

Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Há necessidade de que os profissionais sejam previamente conscientizados sobre os

riscos, assim como das medidas de controle e proteção adotadas para a manutenção e respeito

às normas de segurança. E o cuidado tomado pelos administradores deve ser maior e mais

rigoroso para prevenir ou reduzir o risco de desenvolver alguma doença profissional por

exposição. A organização das atividades e o respeito às normas de segurança é um aspecto

fundamental para segurança de todos os usuários e para a garantia da qualidade e dos

resultados precisos. As medidas de controle e proteção laboratorial são divididas em medidas

coletivas (descarte e remoção de lixo, extintores de incêndio, lavador de olhos e sinalização),

como mostra a Figura 1.

Page 13: Microbiologia Clínica

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FIGURA 1 – MATERIAIS RELACIONADOS COM AS MEDIDAS COLETIVAS DE CONTROLE E

PROTEÇÃO LABORATORIAL. (A) REMOÇÃO DO LIXO; (B) LAVADOR DE OLHOS; (C)

DESCARTE DE MATERIAIS PERFUROCORTANTES; (D) EXTINTOR DE INCÊNDIO

FONTE: O autor

E medidas individuais que se referem ao emprego de equipamentos de proteção

individual - EPIs (luvas, máscara, avental de manga comprida, pró-pés, óculos de proteção),

como são mostradas na Figura 2.

A B

C D

A B

C D

Page 14: Microbiologia Clínica

13

FIGURA 2 – MATERIAIS RELACIONADOS COM AS MEDIDAS INDIVIDUAIS DE CONTROLE E

PROTEÇÃO LABORATORIAL: (A) ÓCULOS; (B) MÁSCARA; (C) AVENTAL; (D) LUVAS; (E)

PRÓ-PÉS

FONTE: Do autor

É difícil quantificar o risco no trabalho em laboratórios com relação aos agentes

infecciosos. Tem-se por base, porém, que o risco individual aumenta com a frequência e com os

níveis de contato com o agente infeccioso. O primeiro cuidado a ser tomado no laboratório que

trabalha com espécimes clínicas é com o risco de exposição à infecção. Por outro lado, deve-se

considerar que os riscos são influenciados por uma relação variável entre o agente infectante, o

hospedeiro e a atividade desempenhada.

Fatores aplicáveis ao agente incluem a virulência, a carga infectante, o ciclo e a

toxigenicidade. As principais variáveis que influem no risco do hospedeiro são: idade, sexo,

etnia, gravidez, uso de antimicrobianos, imunidade (vacinação prévia) e o uso de drogas

imunossupressoras. Finalmente, a natureza da atividade laboratorial (por exemplo: diagnóstico,

E

D

B

C

A

D

E

E

D

B

C

A

D

E

Page 15: Microbiologia Clínica

14

produção, pesquisa) pode afetar significativamente o risco pessoal devido ao tipo, quantidade e

concentração dos agentes empregados, a manipulação dos agentes e a eficácia primária e

secundária dos equipamentos de proteção e práticas de laboratório.

1.2 REGRAS BÁSICAS DAS BOAS PRÁTICAS LABORATORIAIS

As regras básicas de segurança em laboratório serão descritas na Figura 3, logo a

seguir. Estes itens são inegociáveis e devem ser respeitados rigorosamente e sem exceção.

1.3 Gerenciamento das boas práticas

Uma organização de gerenciamento das boas práticas, ou melhor, a garantia da

qualidade dentro do laboratório faz-se necessário para ajudar a manter a ordem minimizando os

riscos de contaminação, além de elaborar planos de gerenciamento de rejeitos químicos. Essa

organização deve estar ligada à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio),

segundo a Lei 8.974 de 05 e janeiro de 1995.

A CTNBio regulamenta os procedimentos de segurança por meio de instruções

normativas, conforme o grau de periculosidade, bem como estabelece os níveis de concentração

e de tratamento dos resíduos, a liberação planejada para o ambiente, transporte, importação,

comercialização de organismos geneticamente modificados e intervenções genéticas em

humanos e animais.

As práticas de biossegurança baseiam-se na necessidade de proteção ao operador,

seus auxiliares e a comunidade local contra riscos que possam prejudicar a saúde.

Embasado nesses itens, a CTNBio responsabiliza-se por todos os procedimentos

institucionais, mediante os quais inspecionará e fornecerá licenças para áreas de nível 1. E as

solicitações de licenças para nível 2, 3 e 4 serão encaminhadas pela Comissão Interna de

Biossegurança para CTNBio e serão sujeitas às inspeções da CTNBio. As áreas de nível de

Page 16: Microbiologia Clínica

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laboratório estão classificadas no sistema de grupo de risco dos micro-organismos e está

baseada na potência do micro-organismo de causar doença em seres humanos e contaminar o

ambiente. Os micro-organismos dividem-se em grupos quanto à patogenicidade para o homem,

a virulência, o modo de transmissão, a endemicidade e a existência de profilaxia e/ou de

terapêutica eficazes. Segundo a Resolução no. 1 de 1998 do Conselho Nacional de saúde, Cap.

X art. 64, os microrganismos podem, portanto, ser classificados em classes de risco de 1 a 4 por

ordem crescente:

Classe 1 - onde se classificam os agentes que não apresentam riscos para o

manipulador, tampouco para a comunidade (ex.: Escherichia coli, Bacillus subtilis, vírus

adenoassociados);

Classe 2 – onde se classificam os agentes que apresentam risco moderado para o

manipulador, havendo sempre um tratamento preventivo (ex.: Clostridium tetani, Klebsiella

pneumoniae, Staphylococcus aureus; Epstein-Barr Vírus - EBV, Herpesvírus; Candida albicans;

Plasmodium sp, Schistosoma sp);

Classe 3 – onde se classificam os agentes que apresentam risco grave para o

manipulador e moderado para a comunidade, sendo as lesões ou sinais clínicos graves e nem

sempre há tratamento (ex.: Bacillus anthracis, Brucella sp, Chlamydia psittaci, Mycobacterium

tuberculosis; vírus da hepatite B, vírus da hepatite C, HTLV 1 e 2, HIV, flavivírus; Blastomyces

dermatiolis, Histoplasma; Echinococcus sp, Leishmania sp, Toxoplasma gondii, Trypanosoma

cruzi);

Classe 4 - onde se classificam os agentes que apresentam risco grave para o

manipulador e para a comunidade; não existe tratamento e os riscos em caso de propagação

são bastante graves (ex.: arenavírus, certos arbovírus, vírus da encefalite de St. Louis e Coxiella

burnetii).

Page 17: Microbiologia Clínica

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FIGURA 3 – BOAS PRÁTICAS EM LABORATÓRIO

Page 18: Microbiologia Clínica

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1.4 A ROTINA NOS LABORATÓRIOS

Agora relacionaremos as rotinas que auxiliam na otimização do serviço dos usuários:

a) manter as bancadas sempre limpas e livres de materiais estranhos ao trabalho;

b) fazer uma limpeza prévia, com o solvente adequado, ao esvaziar um frasco de

reagente antes de colocá-lo para lavagem;

c) rotular imediatamente qualquer reagente ou solução preparada utilizando etiquetas

adequadas;

d) retirar da bancada os materiais, as amostras e os regentes após o término do

trabalho;

e) jogar papéis e outros materiais dispensáveis que não ofereçam riscos em lixos

específicos;

f) usar pinças e materiais de tamanho adequado e em perfeito estado de conservação;

g) limpar, imediatamente, qualquer derramamento de produtos e reagentes,

protegendo-se, se necessário, para fazer essa limpeza;

h) tomar as seguintes providências em caso de derramamento de líquidos inflamáveis,

produtos tóxicos, biológicos, tóxicos e/ou corrosivos: interromper o trabalho e advertir as pessoas

próximas sobre o ocorrido; solicitar ou efetuar a limpeza imediata, verificar e corrigir a causa do

problema.

1.4.1. Desinfecção

A desinfecção é definida como a eliminação parcial dos micro-organismos presentes

em um determinado ambiente. Os métodos de desinfecção visam principalmente destruir as

formas microbianas patogênicas ao homem por meio da utilização de um agente desinfetante ou

antimicrobiano.

Os diversos tipos de agentes antimicrobianos podem ser divididos em três grupos:

agentes físicos, agentes químicos e agentes quimioterápicos. O grau de eficiência de cada um

deles é dependente da concentração ou intensidade, das condições do ambiente e do estado

Page 19: Microbiologia Clínica

18

das células.

1.4.2 Esterilização

A esterilização é um processo de eliminação completa de todas as formas vivas de um

material ou ambiente. Por meio da esterilização dos meios de cultura e do instrumental usado

nos trabalhos, o isolamento e a manutenção das culturas puras de micro-organismos tornaram-

se possíveis.

A esterilização pode ser feita por diferentes processos que emprega métodos físicos

(calor, atrito, radiação e filtração) e métodos químicos. Normalmente são utilizadas embalagens

para acondicionar os materiais durante a esterilização para evitar contaminação posterior.

A eficácia da esterilização é monitorada por meio do emprego de indicadores. A

maioria dos protocolos requer treinamento especial para adequada preparação dos instrumentos

com remoção de toda matéria orgânica, o correto preenchimento da câmara e operação do ciclo

de esterilização dentro de parâmetros estritamente definidos.

Os métodos mais utilizados são: calor úmido, que provoca a inativação ou coagulação

das proteínas dos micro-organismos (autoclavagem e tindalização) e o calor seco, que provoca a

eliminação dos micro-organismos pela oxidação e queima das proteínas (forno de Pasteur e

chama).

Em microbiologia a autoclavagem é utilizada na esterilização de material usado na

preparação de meios de cultura e esterilização em geral. O vapor d’água sob pressão e uma

temperatura superior a 1000C destroem os micro-organismos e seus esporos (quando

produzidos) em um curto espaço de tempo.

A tindalização é um processo de esterilização fracionada para substâncias que não

podem ser aquecidas acima de 1000C. O processo consiste em aquecer o material três vezes

consecutivas em intervalos de 24 horas.

Tanto o forno de Pasteur quanto as esterilizações pela chama são processos que

requerem temperaturas elevadas por longos períodos.

Outros métodos de esterilização são utilizados, tais como:

a) irradiação pela luz ultravioleta (<330 nm de comprimento de onda). Este método é

utilizado em câmaras de segurança microbiológica em laboratórios. Ou também pela radiação

ionizante, por elétrons do cobalto-60 e ainda por um acelerador linear para a esterilização de

Page 20: Microbiologia Clínica

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artigos plásticos descartáveis sensíveis ao calor;

b) filtração pela utilização de diferentes tipos de filtros, incluindo asbesto, cerâmica e

vidro prensado. Atualmente são mais utilizados os filtros de membrana de nitrocelulose, que são

utilizadas para a esterilização de líquidos sensíveis ao calor, incluindo soro e antibióticos;

c) substâncias químicas, o gás formaldeído, a formalina líquida, o glutaraldeído e o

óxido de etileno, que são esporicidas e viricidas e, por isso, conseguem esterilizar materiais. No

entanto, essas substâncias são tóxicas e irritantes e seu uso é restrito.

1.5 Normas de Segurança nos Laboratórios

As normas de segurança são embasadas nos perigos e riscos que os usuários podem

sofrer durante o trabalho. Os perigos são divididos em risco físico, risco químico, risco biológico,

risco ambiental e risco ergonômico.

As normas de segurança adotadas para prevenção contra os acidentes laboratoriais

são:

a) todo perigo e risco devem ser conhecidos pelo manipulador, bem como o respeito

das regras gerais de biossegurança e ainda a execução das medidas de proteção individual;

b) todo experimento dentro ou fora do expediente que não tiver o acompanhamento do

interessado deverá ter uma ficha ao lado com nome, horário de experimentação, reagentes

envolvidos e medidas a serem adotadas em casos de acidentes;

c) todo experimento que envolver certo grau de periculosidade exigirá a

obrigatoriedade da utilização de indumentária adequada (luvas, óculos, máscaras, pinças,

aventais, extintores de incêndio);

d) todo laboratório ou sala de experimento deverá possuir os seguintes equipamentos:

óculos de segurança, máscara contra gases, saco de areia de 5 kg, um cobertor e um chuveiro

em funcionamento normal e caixas de primeiros socorros;

e) todo e qualquer material que venha a prejudicar ou colocar em perigo a vida ou

saúde dos usuários do ambiente, ou que venha causar incômodo, deverá ser discutido ou

comunicado ao responsável do laboratório, que sugerirá e/ou autorizará o evento sob certas

condições como avisos, precauções e horário que deve ser feito;

f) todo manuseio de produtos não deve ser feito sem que se esteja usando o

Page 21: Microbiologia Clínica

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equipamento de segurança adequado; não faça improvisações.

g) todo e qualquer acidente ou irregularidade deve ser comunicado ao seu superior e à

segurança;

h) todo e qualquer produto químico não deve ser cheirado e nem ser guardado em

lugares impróprios;

i) todo produto químico deve ser transportado de maneira segura;

j) todo profissional deve ser e deve estar bem informado no que se refere à maneira

como a contaminação pode ocorrer, o que implica no conhecimento amplo do microrganismo ou

vetor com o qual se trabalha.

Os equipamentos de segurança relacionados a seguir devem estar ao alcance de

todos os funcionários, como: extintores de incêndio (pó químico e CO2), chuveiros de

emergência, lavador de olhos, aventais e luvas de PVC contra produtos corrosivos, máscaras e

óculos de segurança, luvas de amianto ou raspa de couro, máscaras contra gases e máscara

contra pó (ex.: sílica, asbesto).

1.5.1 Risco físico

Consideram-se agentes de riscos físicos equipamentos que geram: ruídos, vibrações, pressões

anormais, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes, materiais

pontiagudos, calor, frio, chamas, umidade, ultravioleta, infravermelha, raios laser, ondas de rádio, campo

elétrico.

1.5.2 Risco químico

Consideram-se agentes de risco químico as substâncias compostas ou produtos que

possam penetrar no organismo pela via respiratória nas formas de poeiras, fumaças (incluindo

cigarro), névoas, neblinas, gases e vapores, ou que possam penetrar no organismo por contato

ou por absorção através da pele ou ingestão nas formas de substâncias tóxicas, substâncias

explosivas, irritantes, oxidantes, corrosivas, voláteis, inflamáveis e cancerígenas.

Page 22: Microbiologia Clínica

21

1.5.3 Risco biológico

Consideram-se agentes de risco biológico as bactérias, fungos, parasitos, vírus, entre

outros. Os agentes biológicos apresentam um risco real ou potencial para o homem e para o

meio ambiente. Por essa razão, é fundamental que se prepare uma estrutura adequada para

prevenção dos riscos encontrados nos laboratórios.

1.5.4 Risco ambiental

Consideram-se agentes de risco ambiental os equipamentos de vidro, instrumentos

perfurantes, equipamentos com gás comprimido, equipamentos de trituração, incêndio, explosão,

eletricidade.

1.5.5 Risco ergonômico

Consideram-se agentes de risco ergonômicos os assentos, a altura das bancadas,

entre outros que possam provocar lesões por má postura.

1.5.6 Proteção contra incêndio

As regras básicas em caso de incêndio no laboratório são:

a) manter a calma;

b) começar o combate imediatamente com os extintores de CO2 (gás carbônico).

Afastar os inflamáveis de perto;

c) evacuar o local imediatamente caso a situação fuja ao seu controle;

d) ligar o alarme (uma pequena caixa vermelha), quebrando o vidro para acioná-lo;

e) evacuar o prédio;

Page 23: Microbiologia Clínica

22

f) desligar a chave geral de eletricidade;

g) ir até o telefone mais próximo e discar para o Corpo de Bombeiros 193;

h) dar a exata localização do fogo (ensinar como chegar lá);

i) informar a condição de risco do laboratório para que os bombeiros saibam como agir

com rapidez e eficiência;

j) tapar o frasco com uma rolha, toalha ou vidro de relógio de modo a impedir a entrada

de ar quando o fogo irromper em um béquer ou balão de reação;

k) levar para o chuveiro quando o fogo atingir a roupa de uma pessoa. Há uma

tendência que a pessoa corra, aumentando a combustão. Nesse caso, deve-se derrubá-la e rolá-

la no chão até que o fogo seja exterminado ou embrulhá-la rapidamente em um cobertor. E

ainda, pode-se também usar o extintor de CO2, se esse for o meio mais rápido;

l) usar extintor de CO2 ou pó químico para apagar o fogo em um laboratório. Nunca

utilize água;

m) usar extintor de pó químico quando o fogo for em sódio, potássio ou lítio. Pode-se

também usar os reagentes carbonato de sódio (Na2CO3) ou cloreto de sódio (NaCl).

1.6 Sinalização de segurança

FIGURA 4 – SÍMBOLOS PARA SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA

HidranteHidrante

FONTE: Alterado de http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/imagem/simbolos.htm (2011)

Page 24: Microbiologia Clínica

23

2 COLETA DE AMOSTRAS

É possível que a coleta apropriada de uma amostra para cultivo seja a etapa mais

importante na confirmação final de que um micro-organismo é responsável pelo processo de

enfermidade infecciosa. Assim, todo resultado liberado pelo laboratório de microbiologia é

consequência da qualidade da amostra recebida.

O material colhido deve ser representativo do processo infeccioso investigado,

devendo ser eleito o melhor sítio da lesão, evitando contaminação com as áreas adjacentes.

Deve-se estabelecer o momento ótimo para a coleta de amostras com o objetivo de contar com a

melhor possibilidade de isolar o micro-organismo em questão. Deve-se obter quantidade

suficiente de material para permitir uma completa análise microbiológica. Caso a quantidade seja

pequena, priorizar os exames.

Portanto, a coleta inadequada pode ocasionar falhas no isolamento do agente

etiológico e favorecer o desenvolvimento da flora contaminante, induzindo a um tratamento não

apropriado. Quem colhe o material deve ser devidamente treinado e periodicamente reciclado

nessa atividade. Deve saber que o material deverá ser destinado o mais brevemente possível ao

laboratório. Deve conhecer ou obter instruções sobre conservação e/ou transporte do material

caso este não possa ser realizado imediatamente.

Algumas considerações são fundamentais na coleta de amostras, como: colher

amostras antes da antibioticoterapia (sempre que possível), instruir claramente o paciente sobre

o procedimento, observar a assepsia na coleta de todos os materiais clínicos. O pedido do

exame deve conter, além da identificação do paciente, dados como idade, doença de base,

indicação de antibióticos, data e hora da coleta e as amostras devem ser coletadas em

recipientes esterilizados.

Page 25: Microbiologia Clínica

24

3 TRANSPORTE DE PRODUTOS BIOLÓGICOS

Os regulamentos sobre o transporte de agentes biológicos são definidos de forma a

assegurar proteção ao público e aos trabalhadores da rede de transporte à exposição a qualquer

agente que possa estar presente na embalagem.

As substâncias infecciosas e materiais orgânicos para diagnóstico precisam estar

embalados num recipiente impermeável à água (recipiente primário), dentro do qual se encontra

a amostra. Esse recipiente primário deverá estar dentro de um segundo recipiente impermeável,

de preferência de metal, contendo quantidade suficiente de material absorvente entre suas

paredes. Os recipientes primários e secundários deverão conter uma etiqueta ou rótulo com a

identificação da amostra e deverão ser introduzidos em uma embalagem externa de envio que

tem a finalidade de proteção contra fatores externos. A embalagem externa deve estar rotulada

adequadamente com o símbolo risco biológico e outro rótulo com o endereço da instituição

(Figura 5).

FIGURA 5 – TÉCNICA APROPRIADA PARA EMBALAR MATERIAIS BIOLOGICAMENTE

PERIGOSOS

FONTE: Arquivo pessoal do autor

Para evitar possíveis acidentes durante o transporte de amostra biológica dentro dos

setores do laboratório, é necessário transportar em recipiente impermeável resistente à queda, e

Page 26: Microbiologia Clínica

25

o transporte de vidraria deve ser feito com o uso de carrinhos para frascos de grande porte e

bandejas para frascos de pequeno porte.

O objetivo primário no transporte de amostras para diagnóstico, seja dentro de um

hospital ou clínica, ou externamente por correio, para um laboratório de referência distante,

consiste em manter a amostra o mais próximo possível de seu estado original (Tabela 1), ou

seja, com deterioração mínima, e minimizar os riscos para os transportadores das amostras. As

amostras devem estar acondicionadas de forma que resistam às condições ambientais.

Se for previsto um atraso prolongado antes que a amostra possa ser processada, é

preferível congelar a amostra a 70oC negativos. No entanto, se o período de estocagem for

breve, pode ser utilizado um congelador a 20oC negativos.

Para a maioria das amostras, pode ser utilizado um meio de manutenção ou

transporte, que consiste essencialmente de uma solução tampão isento de carboidratos,

peptonas e outros nutrientes e fatores de crescimento formulado para conservar a viabilidade

das bactérias durante o transporte sem permitir a multiplicação das mesmas.

TABELA 1 – TEMPO CRÍTICO PARA ENTREGA DA AMOSTRA AO LABORATÓRIO E MEIOS

DE TRANSPORTE.

AMOSTRA TEMPO CRÍTICOFRASCOS E MEIOS DE

TRANSPORTE

Liquor Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril

Líquido pleural Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril

Swab Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril ou meio

semi-sólido (Stuart, Amies)

Suspeita de

Anaeróbios30 minutos

Meio de transporte apropriado. Evitar o

transporte em seringa com agulha.

Feridas e tecidos 30 minutos ou até 12 horas (meio de transporte)

Meio de transporte apropriado.

Hemocultura 30 minutos (não refrigerar)Frascos com meios de cultura

(rotina manual ou automatizada.

Trato respiratório 30 minutos Tubo seco estéril

Trato gastrointestinal 1 hora Tubo seco estéril

Urina 1 hora ou refrigerada até 24 horas Pote estéril

Fezes 12 horas se em meio de transporteCary Blair, meio modificado

para transporte de fezes, com pH 8,4

AMOSTRA TEMPO CRÍTICOFRASCOS E MEIOS DE

TRANSPORTE

Liquor Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril

Líquido pleural Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril

Swab Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril ou meio

semi-sólido (Stuart, Amies)

Suspeita de

Anaeróbios30 minutos

Meio de transporte apropriado. Evitar o

transporte em seringa com agulha.

Feridas e tecidos 30 minutos ou até 12 horas (meio de transporte)

Meio de transporte apropriado.

Hemocultura 30 minutos (não refrigerar)Frascos com meios de cultura

(rotina manual ou automatizada.

Trato respiratório 30 minutos Tubo seco estéril

Trato gastrointestinal 1 hora Tubo seco estéril

Urina 1 hora ou refrigerada até 24 horas Pote estéril

Fezes 12 horas se em meio de transporteCary Blair, meio modificado

para transporte de fezes, com pH 8,4

Page 27: Microbiologia Clínica

26

4 RECEPÇÃO DE AMOSTRAS E OBSERVAÇÕES PRELIMINARES

Os laboratórios de microbiologia precisam ter uma área específica destinada e

reservada à recepção de amostras para cultivo. E o manipulador deve usar os equipamentos de

proteção individual apropriado para manipulação da amostra.

O processamento das amostras inclui: o ingresso dos dados em um livro de registro

e/ou terminal de computador; exame visual e determinação de todos os critérios para aceitação

da amostra; e exame microscópico de montagens úmidas ou de esfregaços corados para o

diagnóstico presuntivo.

4.1 Critério de rejeição das amostras

Em todos os laboratórios, devem ser estabelecidos critérios para a rejeição de

amostras não adequadas para o cultivo. Devem ser controlados: formulário do pedido, etiqueta

da amostra (nome, número de identificação, idade, sexo, domicílio, nome do médico, data, hora),

origem da amostra e procedimentos solicitados. A história clínica do paciente também é útil para

saber se o exame solicitado é compatível com o diagnóstico.

Sempre que uma amostra for rejeitada, a pessoa que o enviou precisa ser comunicada

para explicar a natureza do problema. Como regra empírica, deve-se fazer o possível para não

recusar amostras de difícil coleta (lavados brônquicos, líquidos cefalorraquidianos, entre outros).

Page 28: Microbiologia Clínica

27

5 CULTIVO DE MICRO-ORGANISMOS

O estudo dos micro-organismos, sua identificação e avaliação de suas populações nos

diferentes materiais e ambientes requerem seu cultivo nas condições do laboratório.

5.1 Preparo do meio de cultura

Para preparar um meio de cultura, é necessário conhecer as exigências nutricionais

dos micro-organismos. São considerados componentes essenciais do meio de cultura: fonte de

energia, fonte de carbono, fonte de nitrogênio, fatores de crescimento, fonte de minerais e água.

Além dos nutrientes, o meio de cultura deve suprir algumas condições ambientais,

como: pH, atmosfera (presença de O2, CO2), pressão osmótica.

O meio de cultura pode ser classificado quanto à origem (naturais e artificiais), quanto

à composição (complexos e sintéticos), quanto ao estado físico (sólido, semissólido e líquidos) e

quanto à finalidade (gerais ou básicos, enriquecidos, seletivos, indicadores ou diferenciais,

dosagem, transporte, estocagem ou manutenção).

5.2 Isolamento e obtenção de cultura pura

A obtenção de culturas puras (ou axênicas) a partir de culturas mistas, também

denominadas isolamento, é o primeiro passo para que se possa realizar o diagnóstico dos micro-

organismos. Essa técnica também é necessária na indústria para a fabricação de antibióticos. O

segundo passo consiste na análise do crescimento em meio líquido, caldo nutriente e correlação

com as necessidades de oxigênio dos microrganismos presentes.

O procedimento mais prático para a obtenção de colônias isoladas consiste na

semeadura em superfície, no meio de cultura até o esgotamento do inócuo. Dessa forma, o

Page 29: Microbiologia Clínica

28

inócuo é diluído progressivamente de modo que se obtêm, ao final, células isoladas que darão

origem a colônias puras (Figura 6).

FIGURA 6 – ISOLAMENTO DE COLÔNIAS DE BACTÉRIAS EM MEIO SÓLIDO

Page 30: Microbiologia Clínica

29

6 MICROSCOPIA

O microscópio rotineiramente utilizado em laboratórios de microbiologia é o

microscópio óptico composto. Seu princípio de funcionamento baseia-se no aumento da imagem

por um conjunto de lentes convergentes, associado a uma forte iluminação do campo de

observação. Isso fornece uma imagem translúcida dos micro-organismos.

Com o passar dos anos, a microscopia sofreu algumas modificações, tanto no

microscópio como nas técnicas de preparo das lâminas, como, por exemplo: microscopia de

campo escuro, microscopia de luz ultravioleta (fluorescência e imunofluorescência), microscopia

de contraste de fase e microscopia eletrônica.

Page 31: Microbiologia Clínica

30

7PRINCIPAIS MÉTODOS DE COLORAÇÃO

A perfeita visualização dos micro-organismos e/ou das suas estruturas só é possível

se, além da escolha do tipo mais eficiente de microscopia, a preparação estiver adequada. A

escolha do tipo de preparação depende da informação desejada e do micro-organismo a ser

avaliado. Duas técnicas são empregadas: a fresco (direto e sem coloração) e fixado e corado.

De uma maneira geral, as bactérias têm afinidade por um grande número de corantes,

principalmente aqueles do grupo dos derivados básicos da anilina (azul de metileno, cristal

violeta e fucsina básica). Dentre todos os métodos existentes, aqueles que têm mais importância

dentro do laboratório de microbiologia são os métodos de Gram e de Ziehl-Neelsen.

A fresco

As preparações desse tipo permitem o exame dos micro-organismos nas condições

normais de vida e são perfeitamente utilizadas nas seguintes situações: quando a morfologia fica

distorcida devido aos processos de fixação e coloração, durante a verificação da motilidade,

durante os processos fisiológicos (divisão celular, produção de esporos) e durante a observação

de corpúsculos (vacúolos e material graxo).

Entre lâmina e lamínula

Salina

Essa técnica pode ser usada para avaliar bactérias cultivadas em meio a líquido e

fungos. A técnica consiste em gotejar com o auxilio de uma alça de platina, esterilizada, no

centro da lâmina, uma gotícula da cultura a ser investigada. Ou um fragmento da cultura em

meio sólido do fungo a ser analisado. Em seguida, cobrir com lamínula e examinar ao

microscópio.

Page 32: Microbiologia Clínica

31

Hidróxido de potássio

Técnica usada para pesquisa de fungos, proveniente de material biológico como muco,

restos celulares pelos e unhas. A técnica consiste em colocar uma pequena amostra do material

biológico a ser pesquisado no centro da lâmina; suspender o material com uma ou duas gotas de

KOH, cobrir com uma lamínula e aguardar 30 minutos ou aquecer ligeiramente a lâmina para

acelerar o clareamento.

Exame de campo escuro

Empregado para observar a motilidade de bactérias dificilmente observadas em

microscopia a fresco com salina. A técnica consiste em atritar as bordas da lesão suspeita com

um swab ou alça bacteriológica, colher o exudato com a própria alça ou fazer um imprint com a

lâmina e cobrir com a lamínula (utilizar uma gota de salina). Realizar a pesquisa rapidamente.

Ou, se o material for líquido (urina recém-emitida), centrifugar e examinar o sedimento. A

microscopia em campo escuro é realizada colocando-se óleo de imersão.

Tinta da china (nanquim)

Esta técnica é empregada para pesquisa de fungos em líquido cefalorraquidiano e

outros materiais, permitindo destacar a cápsula desse fungo contra um fundo negro. A técnica

consiste em pegar o líquido cefalorraquidiano sedimentado ou uma amostra do meio de cultura

líquido e ressuspender em uma gota de tinta da china fazendo um filme bem delgado entre

lâmina e lamínula.

FIXADOS E CORADOS

As preparações fixadas e coradas são usadas para verificar as características

morfológicas, sendo bastante utilizadas na identificação das bactérias, pois tornam mais fácil a

visualização das formas e permitem a verificação do comportamento tintorial do micro-organismo

em relação às colorações diferenciais.

Page 33: Microbiologia Clínica

32

Coloração azul de metileno de loeffler

Técnica utilizada principalmente na avaliação da morfologia de bactérias em

esfregaços de líquido cefalorraquidiano, pois os danos causados às células são menores devido

ao menor número de manipulações. Essa técnica consiste em colocar o corante sobre o

esfregaço previamente fixado deixando-se corar por 3 a 5 minutos. Em seguida, escorre-se o

corante, lava-se em água corrente e deixa-se secar para posterior observação ao microscópio.

Coloração de wright giemsa

Esta técnica é utilizada para corar os elementos celulares em esfregaços sanguíneos

para demonstração de micro-organismos intracelulares e também para demonstrar inclusões

intracelulares em esfregaços diretos de pele ou mucosas. Essa técnica consiste em colocar o

corante sobre o esfregaço previamente fixado deixando-se corar por 3 a 5 minutos. Em seguida,

escorre-se o corante, lava-se em água corrente e deixa-se secar para posterior observação ao

microscópio.

Coloração de Gram

A coloração de Gram, descoberta há pouco mais de 100 anos por Hans Christian

Joaquim Gram, é utilizada com muita frequência para o exame microscópico direto de amostras

e subcultivos para demonstrar as propriedades tintoriais de todos os tipos de bactérias.

As bactérias coradas por essa técnica pertencem a duas categorias distintas: Gram

positivas e Gram negativas. A diferença básica entre os dois grupos é resultado da estrutura de

suas paredes celulares. A técnica consiste na aplicação de um corante básico, o cristal violeta e

uma solução de iodo e iodeto de potássio (lugol) em um esfregaço previamente fixado na chama.

A preparação é, então, tratada com um solvente orgânico (álcool ou acetona) com o objetivo de

descolorir as células.

As bactérias Gram positivas retêm o corante ou o complexo cristal violeta e iodo após a

descoloração e aparecem em azul escuro. As bactérias Gram negativas não são capazes de

reter o complexo cristal violeta e iodo após a descoloração e são contra coradas com um

Page 34: Microbiologia Clínica

33

segundo corante (fucsina ou safranina), chamado corante de contraste e adquirem a coloração

vermelha.

Coloração de Ziehl-Neelsen

Esta técnica é utilizada para corar os bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR). Esses

bacilos são assim denominados porque possuem um envoltório céreo que é resistente à

coloração. Para o corante penetrar na célula, é necessário calor ou detergente. Uma vez coradas

as bactérias álcool-ácido resistentes resistem à descoloração, enquanto outras bactérias

descoram com o álcool-ácido. A técnica consiste em corar o esfregaço previamente fixado com

carbolfucsina (aquecer três vezes), descorar com álcool-ácido a 3% e contra corar com o azul de

metileno.

Page 35: Microbiologia Clínica

34

8 CONTROLE DE QUALIDADE

Num sentido estrito, o controle de qualidade consistia em uma avaliação contínua e

sistemática do trabalho em andamento para assegurar que o produto final encontrava-se em

grau aceitável. Hoje, o controle de qualidade deve continuar como antes, garantindo a qualidade

do trabalho realizado. No entanto os diretores e supervisores do laboratório devem compreender

que o controle de qualidade é apenas uma das muitas facetas das certificações de qualidade do

manejo de risco.

Page 36: Microbiologia Clínica

35

9 BIOSSEGURANÇA

Biossegurança pode ser definida como o conjunto de medidas voltadas para a

prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção,

ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde

do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.

A segurança é antes de tudo um direito e uma obrigação individual. A biossegurança

laboratorial deve ser sustentada pelos planejamentos prévios das atividades, avaliação dos

riscos e adequação das instalações.

A utilização de normas de segurança requer atitude, bom senso e boa conduta do

profissional. Dessa forma, a prevenção contra acidentes assegura os resultados e a integridade

das pessoas, instalações e equipamentos.

Em um laboratório, todos fazem parte de uma equipe, e a segurança depende da ação

dessa equipe para avaliar os prováveis riscos e determinar as condições de segurança

necessárias para o trabalho.

Os ambientes voltados à prática de atividades relacionadas à saúde podem não

parecer, para muitos, mas também é um local de trabalho que não está livre de acidentes.

O profissional de saúde, como também pacientes, visitantes, pessoal de apoio (limpeza

e manutenção) e administração estão inseridos num grupo que diariamente está em contato

direto com elementos geradores de riscos em potencial, tais como equipamentos e substâncias

variadas, utilizadas em processos de limpeza e esterilização.

Quando não são orientados devidamente, no tocante à segurança, tornam-se presas

fáceis desses elementos, que causam danos aos seus corpos, muitas vezes de forma

irreversível.

Page 37: Microbiologia Clínica

36

10 AS BACTÉRIAS

As bactérias são cosmopolitas e muitas são de benefício direto ou indireto para o

homem. Comparativamente ao grande número de espécies de bactérias de vida livre, existe um

pequeno número de espécies que causam doenças.

A classificação das bactérias está bem estabelecida e emprega dados fenotípicos e

genotípicos. Para a microbiologia, os dados fenotípicos são de maior valor prático e baseia-se na

compreensão da estrutura da biologia bacteriana.

Devido às suas pequenas dimensões, as bactérias apresentam uma grande relação

superfície/volume, possibilitando um íntimo contato da célula com o meio. Isso permite à bactéria

concentrar nutrientes rapidamente e difundi-los facilmente pelo seu interior. Essa pequena

dimensão ainda permite que a bactéria apresente uma atividade metabólica elevada e grande

velocidade de multiplicação.

10.1 Estrutura

As bactérias são procariotos e possui uma organização celular característica. A

informação genética está contida em uma molécula de DNA circular de fita dupla. O cromossomo

não se encontra localizado em um núcleo distinto, não há membrana nuclear e o DNA está

firmemente enrolado em uma região conhecida como nucleoide.

Algumas bactérias apresentam moléculas menores de DNA, também circulares, cujos

genes não codificam características essenciais, porém muitas vezes conferem vantagens

seletivas à bactéria. Essas moléculas chamadas plasmídeos são capazes de autoduplicação

independente da replicação do cromossomo e podem existir em número variável no citoplasma

bacteriano. Além das estruturas genéticas, o citoplasma celular contém muitos ribossomos e

nenhuma outra organela.

Em todas as bactérias, exceto nos micoplasmas, a célula é circundada por uma parede

celular complexa, cuja natureza constitui uma característica classificatória importante (Gram

positiva e Gram negativa). O principal componente estrutural da parede celular é um

Page 38: Microbiologia Clínica

37

peptidoglicano (mucopeptideo ou mureína), um polímero misto de açúcares hexoses (N-

acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico), além de aminoácidos que nas bactérias Gram

positivas formam uma camada espessa, externa à membrana celular e pode conter ourtras

macromoléculas. Já nas bactérias Gram negativas, a camada de peptidoglicano é delgada e

superposta por uma membrana externa, ancorada a moléculas lipoproteicas no peptidoglicano.

Externamente a essa parede, podem existir cápsula (polissacarídeos), flagelos

(filamentos helicoidais longos) e pílis (fimbrias). Essas camadas e estruturas externas possuem

papel importante nas relações hospedeiro parasito. A Figura 7 mostra a estrutura geral de uma

bactéria.

FIGURA 7 – ESTRUTURA BÁSICA DE UMA BACTÉRIA

FONTE: https://sites.google.com/site/preupsubiologia/celula

As bactérias apresentam a capacidade de realizar transposições, característica que

lhes confere resistência a drogas pela possibilidade de recombinações genéticas que podem

ocorrer. Esse fenômeno de transposons ou “genes saltadores” é a capacidade que genes ou

grupos de genes apresentam em se deslocar de uma região para outra dentro do cromossomo.

Essa transposição também pode ocorrer entre o plasmídeo e o hospedeiro.

Page 39: Microbiologia Clínica

38

10.2 Taxonomia: classificação, nomenclatura e identificação das bactérias

A identificação de um micro-organismo constitui um dos trabalhos mais importantes

executados pelo microbiologista. Ela se faz necessária no diagnóstico de micro-organismos

patogênicos e é condição essencial para realização do tratamento adequado.

Uma espécie bacteriana requer a observação de um conjunto complexo de

características para determinar sua taxonomia. Assim, a classificação/identificação de uma

bactéria é analisada pelos seus aspectos de morfologia, de coloração, de motilidade, de

crescimento, de presença ou ausência de esporos, de fisiologia, de sorologia, de genética e,

eventualmente, de patogenicidade. O Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology constitui a

obra de melhor referência oficial da taxonomia bacteriana, contendo a descrição das ordens,

famílias, gêneros e espécies das bactérias conhecidas e classificadas.

A nomenclatura faz menção ao nome do micro-organismo e as regras obedecem ao

International Code of Nomenclature of Bacteria, que consiste em três principais regras: (I) existe

apenas um nome correto para um micro-organismo; (II) nomes que induzem erro ou confusão

devem ser descartados; e (III) todos os nomes devem ser em latim ou latinizados. O sistema

atual identifica cada espécie por dois nomes em latim: o primeiro, em maiúscula, é o gênero, o

segundo, em minúscula, é o epíteto específico. Os dois nomes juntos formam o nome da

espécie. Os nomes científicos podem vir do nome do cientista que descreveu a espécie, de um

nome popular desta, de uma característica que apresente, do lugar onde ocorre e outros. Por

convenção internacional, o nome do género e da espécie é impresso em itálico, o dos outros

táxons não. Subespécies têm um nome composto por três palavras, onde o primeiro nome

refere-se ao gênero, e o segundo nome, à espécie.

10.3 Morfologia

As bactérias apresentam dimensões variadas medindo desde 0,1 a 0,3 nm até 100 ou

500 nm. E apresentam três formas básicas, esféricas (cocos), ou cilíndricas com ou sem flagelos

(bastonetes/bacilos) ou encurvadas (espiraladas/helicoidais) (Figura 8).

Page 40: Microbiologia Clínica

39

FIGURA 8 – MORFOLOGIA BÁSICA DE VÁRIAS BACTÉRIAS

FONTE: http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/faecimg_monera5.gif (2012)

10.4 Crescimento

As características que os micro-organismos apresentam ao crescer em meios de

cultura são expressões fenotípicas do material genético e, portanto, são úteis na sua

identificação. As observações são feitas em culturas de meio sólido e em caldos. São

observadas as seguintes características: tamanho, forma, bordo, margem, elevação,

pigmentação, brilho, transparência, opacidade, rugosidade, butirosa (amanteigada), viscosa,

membranosa e rugosidade.

Page 41: Microbiologia Clínica

40

10.5 Fisiologia

A utilização de determinados compostos orgânicos e inorgânicos, vias metabólicas

utilizadas e seu produtos, depende da presença de uma ou mais enzimas das bactérias. Essas

características são importantes na diferenciação das bactérias e são evidenciadas por

procedimentos denominados genericamente testes bioquímicos.

10.6 Coloração

Em geral, são necessárias colorações biológicas para visualização de bactérias de

modo adequado e demonstração dos detalhes finos das estruturas internas. As colorações

consistem em preparações aquosas ou orgânicas de corantes ou grupos de corantes que

conferem uma variedade de cores aos micro-organismos, tecidos vegetais ou outras substâncias

de importância biológica.

Em termos amplos, os corantes são denominados ácidos ou básicos, o que não indica

necessariamente sua reação de pH em solução, senão que uma parte significativa da molécula é

catiônica ou aniônica. De um ponto de vista prático, os corantes básicos tingem estruturas ácidas

e os corantes ácidos reagem com substâncias básicas. As colorações mais comumente

empregadas são: coloração de Gram, coloração de ácido resistência, colorações fluorescentes,

colorações fluorocrômicas para Micobacterias e Wright-Giemsa.

10.7 Esporos

Os micro-organismos também permanecem infecciosos por períodos mais prolongados

no ambiente externo quando estão em condições desfavoráveis. Para isso, alguns gêneros de

bactérias produzem esporos que conferem resistência ao ressecamento, inativação pelo calor e

agressões químicas, reforçando a resistência ao ambiente.

Page 42: Microbiologia Clínica

41

10.8 Sorologia

Os testes sorológicos (o estudo da interação antígeno-anticorpo) são usados para o

diagnóstico das infecções para identificar micro-organismos. A maior desvantagem do

diagnóstico baseado na sorologia é que ele é retrospectivo quando identificados os anticorpos da

classe IgG. Agora os anticorpos da classe IgM, quando detectados, podem indicar a fase inicial

da infecção.

10.9 Metabolismo

Todas as bactérias patogênicas são heterotróficas. Elas obtêm energia por meio da

oxidação de moléculas orgânicas, e o metabolismo dessas moléculas (carboidratos, lipídeos e

proteínas) fornece a energia (adenosina trifosfato - ATP) necessária para as bactérias

desenvolverem suas funções vitais.

O metabolismo pode ser aeróbio, em que o aceptor final de elétrons é o oxigênio, ou

anaeróbio, em que o aceptor final de elétrons é uma molécula inorgânica. As bactérias aeróbias

produzem 38 moléculas de ATP a partir de uma molécula de glicose. Enquanto que as bactérias

anaeróbias produzem apenas duas moléculas de ATP.

O metabolismo anaeróbio, apesar de ser menos eficiente que o metabolismo aeróbio, é

realizado em condições onde os substratos estão mais facilmente disponíveis.

A exigência pela presença do oxigênio durante o metabolismo pode ser obrigatória ou

facultativa, sendo assim alguns organismos conseguem alternar entre a respiração aeróbia e

anaeróbia.

10.10 Patogenicidade

Esse termo refere-se à capacidade de um micro-organismo causar doença. A

virulência é o grau de patogenicidade dentro de um grupo ou espécies de micro-organismos. A

Page 43: Microbiologia Clínica

42

infecção de um hospedeiro por um micro-organismo é a etapa inicial necessária para se iniciar

uma doença.

A virulência de uma bactéria é determinada pelas estruturas denominadas: adesinas

(envolvida com a aderência da bactéria a superfícies do hospedeiro - pílin), agressinas

(envolvida com a produção de substâncias protetoras – cápsula), exotoxinas (envolvida com a

produção de enzimas proteolíticas protetoras), endotoxinas (envolvida com a produção de

lipoplissacarídeos).

Page 44: Microbiologia Clínica

43

11 ESTAFILOCOCOS

Os estafilococos são bactérias Gram positivos não esporuladas que mais resistem no

meio ambiente. Podem sobreviver por meses em amostras clínicas secas, são relativamente

resistentes ao calor e podem tolerar uma concentração aumentada de sal. No entanto, apesar

dos antimicrobianos existentes, da melhora das condições sanitárias e das medidas de controle

de infecção hospitalar, esse micro-organismo continua a ser um dos mais importantes patógenos

para o homem.

As colônias de estafilococos são geralmente grandes, convexas, de coloração variando

do branco-porcelana a amarelo, podendo apresentar hemólise ou não (Figura 9).

FIGURA 9 – CULTURA EM AGAR SANGUE DO GÊNERO STAPHYLOCOCCUS

FONTE:

http://2.bp.blogspot.com/_wVIfsH0HWTo/TJzaTIBdAFI/AAAAAAAAAmE/34JklgJnUuc/s1600/ima

gem.jpg (2010)

Page 45: Microbiologia Clínica

44

O gênero Staphylococcus contém pelo menos 15 espécies diferente, das quais três

apresentam importância médica, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis,

Staphylococcus saprophyticus. A tabela 2 mostra as principais diferenças entre as espécies de bactérias

de importância médica desse gênero.

TABELA 2 – PRINCIPAIS DIFERENÇAS QUE DISTINGUEM OS ESTAFILOCOCOS DE IMPORTÂNCIA

MÉDICA.

Staphylococcus

Teste S. aureus S. epidermidis S. saprophyticus

Coagulase + - -

Proteína de superfície + - -

Exotocinas + - -

Hemolisina +/- +/- -

Resistência a novobiocina - - +

+/- resultado depende da cepa

11.1 Staphylococcus aureus

Em cultura, essas bactérias formam colônias brancas ou douradas em agar sangue.

São catalase positiva e coagulase positiva, e a maioria das cepas fermenta o manitol

anaerobicamente.

Indivíduos sadios são colonizados intermitentemente por Staphylococcus aureus desde

a amamentação e podem albergar o micro-organismo na nasofaringe, ocasionalmente na pele e

raramente na vagina. A partir desses sítios, o S. aureus pode contaminar a pele e membranas

Page 46: Microbiologia Clínica

45

mucosas do paciente, objetos inanimados ou outros pacientes por contato direto ou por aerossol,

ocasionando infecções letais por conta dos fatores de virulência ou por meio de resistência aos

antimicrobianos atualmente utilizados.

As infecções mais comuns acometidas por essas bactérias são: furúnculos, sepses da

pele, infecções pós-operatória, endocardites, osteomelites, síndrome da pele escaldada,

síndrome do choque tóxico e infecções por alimentos.

O principal marcador epidemiológico é a tipagem do bacteriófago. E o principal fator de

virulência que estão associados a todas as cepas de S. aureus é a produção de mucopeptídeo e

coagulase. Algumas cepas ainda são capazes de produzir cápsula, proteína A, proteínas de

ligação a fibronectina e de ligação ao colágeno, enterotoxinas, toxinas epidermolíticas, toxinas

lesivas à membrana, leucocidina e estafilocinase.

11.2 Staphylococcus epidermidis

Em cultura, essas bactérias formam colônias brancas em agar sangue. São catalase

positiva e coagulase negativa, e as cepas não fermentam o manitol anaerobicamente. As

bactérias dessa espécie colonizam a pele e a transmissão ocorre pelo autocontato.

É um patógeno oportunista associado com sepses de dispositivos, como: sepse de

cateter-relacionada, endocardite pós-prótese de válvulas, infecção de próteses artificiais e

infecção de drenos.

O principal marcador epidemiológico é o bacteriófago. E o marcador de virulência dos

micro-organismos dessa espécie é a produção extracelular de muco. Por isso apresentam essa

característica de colonizar implantes de próteses e cateteres.

Page 47: Microbiologia Clínica

46

11.3 Staphylococcus saprophyticus

Em cultura, essas bactérias formam colônias brancas em agar sangue. São catalase

negativa e coagulase negativa, e as cepas não fermentam o manitol anaerobicamente. As

bactérias dessa espécie colonizam a pele e a mucosa genitourinária.

Essas bactérias infectam principalmente o trato urinário em mulheres previamente

saudáveis (estando associadas a relações sexuais).

Nenhum marcador epidemiológico é utilizado comumente. E os fatores de virulência

são desconhecidos.

Page 48: Microbiologia Clínica

47

12 ESTREPTOCOCOS

Os estreptococos foram os maiores causadores de infecção hospitalar na era pré-

antibiótica, causando surtos de infecção e morte de puérperas. Apesar de não serem atualmente

uma importante causa de infecção hospitalar, provocam, no entanto, doenças muito graves e

muitas vezes letais, mesmo em pacientes imunocompetentes, sendo importante o rápido

diagnóstico desse agente.

Este é um grande grupo de cocos Gram positivos amplamente distribuídos em animais

e no homem. A grande maioria faz parte da microbiota normal, mas algumas espécies são

responsáveis por problemas infecciosos importantes.

As colônias de estreptococos tendem a ser menores (puntiformes), podem apresentar

halos de hemólise total ou parcial (beta e alfa hemólise, respectivamente) (Figura 10) ou não

apresentar hemólise (gama hemólise), e ainda podem ser identificados pela presença ou

ausência de antígeno grupo específico (grupo de Lancefield) pelas letras de A a S.

12.1 Estreptococos Beta-Hemolíticos

Streptococcus pyogenes

Essas bactérias não produzem esporos e são imóveis. O seu habitat normal é a pele e

o trato respiratório superior em humanos. E a infecção ocorre por gotículas aéreas ou por

contato.

São comumente encontradas em infecções das vias aéreas superiores, pele e tecido

mole causando faringite, celulite, erisipelas e linfadenite. Podem causar manifestações tóxicas

como a escarlatina. E ainda causam sequelas não supurativas como a glomerulonefrite aguda e

a febre reumática, que são complicações de infecções de garganta e de pele.

Page 49: Microbiologia Clínica

48

A tipagem epidemiológica é baseada nos antígenos M e T, tipo específico, além do

grupo específico de Lancefield. Essas bactérias crescem em agar sangue e apresentam

atividade hemolítica acentuada (anaerobicamente favorecida). São catalase negativa e a

bacitracina é utilizada como meio de identificação (todas cepas são susceptíveis).

A S. pyogenes elabora muitas enzimas e toxinas que têm papel importante na sua

patogenicidade, como: toxina eritrogênica, estreptolisinas, estreptocinase A e B,

desoxiribonuclease e hialuronidase.

FIGURA 10 – CULTURA EM AGAR SANGUE DO GÊNERO STREPTOCOCCUS: (A) BETA-

HEMOLLÍTICO (HALOS DE HEMÓLISE AO REDOR DAS COLÔNIAS); (B) ALFA-

HEMOLLÍTICOS (COR ESVERDEADA DA CULTURA)

FONTE: http://2.bp.blogspot.com/_wVIfsH0HWTo/TJzaTIBdAFI/AAAAAAAAAmE/34JklgJnUuc/s1600/imagem.jpg

(2012)

Page 50: Microbiologia Clínica

49

Streptococcus agalactiae

Essas bactérias pertencem ao grupo B e apresenta hemólise acentuada em agar

sangue. Os testes bioquímicos de identificação são hidrólise de hipurato (positiva) e hidrólise de

esculina (negativo). O seu habitat normal é a vagina e o trato intestinal.

A infecção ocorre por contato e pode causar meningite neonatal e até quadros de

sepse.

12.2 Estreptococos Alfa-Hemolíticos

Estreptococcus pneumoniae

Bactérias que aparecem agrupadas aos pares (Figura 11), em esfregaços de Gram.

Frequentemente são encapsuladas e requerem sangue ou plasma para crescerem. Seu

metabolismo é facultativo, mas o seu crescimento é favorecido na presença de oxigênio.

Em agar sangue, as colônias podem sofrer autólise após 48 horas de incubação a

35oC. São susceptíveis ao teste da bile (teste de solubilidade) e a optoquina.

Normalmente habitam o trato respiratório e a transmissão ocorre por gotículas. Essas

bactérias causam pneumonia, sepse, otite e meningite. Sua cápsula o protege da ação dos

fagócitos e ainda essas bactérias produzem uma enzima chamada de pneumolisina, que tem

ação direta na sua virulência.

Page 51: Microbiologia Clínica

50

FIGURA 11 – COLORAÇÃO DE GRAM DE UM ESFREGAÇO DE HEMOCULTURA COM

DIPLOCOCOS GRAM POSITIVOS DE Streptococcus pneumoniae

FONTE: http://textbookofbacteriology.net/S.pneumoniae.html (2012)

12.3 Estreptococos Gama-Hemolíticos (Não Hemolíticos)

Estreptococcus Viridans

Essas bactérias não causam hemólise quando cultivadas em agar sangue, são

comensais e dificilmente causam mal ao homem e ainda são susceptíveis à penicilina.

Outras espécies de estreptococos não hemolíticos são capazes de causar endocardite.

Page 52: Microbiologia Clínica

51

13 ENTEROCOCOS

Antes, esse gênero de bactérias era classificado como estreptococos fecais, porque

compartilhavam várias características. Atualmente são conhecidas 15 espécies, das quais duas

têm importância médica, as: Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium.

São cocos Gram positivos e aparecem em pares ou cadeias com um formato mais

ovalado. Seu metabolismo é facultativo. Em agar sangue, podem ou não produzir hemólise

(Figura 12). São tolerantes ao exame da bile, ao calor e ao sal. Hidrolisam esculina e arginina.

Possuem antígenos D de Lancefield.

FIGURA 12 – CULTURA EM AGAR SANGUE DO GÊNERO ENTEROCOCCUS

FONTE: O autor

Habitam normalmente o trato intestinal e a forma de contágio é via endógena. Causam

infecção do trato urinário, endocardite e raramente sepse. Não foram constatados toxinas e

outros fatores de virulência para esses micro-organismos.

Page 53: Microbiologia Clínica

52

14 NEISSERIAS

Gênero que contém várias espécies mais ou menos exigentes, das quais duas,

Neisseria gonorrhoeae (Figura 13) e Neisseria meningitidis, têm importância médica. As

espécies de Neisseria têm como característica morfológica serem diplococos Gram negativos

mais achatadas nas laterais, dando a forma de rins ou dois grãos de feijão unidos por uma

ponte. Apenas a espécie Neisseria elongata difere dessa morfologia, sendo diplobacilos ou

diplococo-bacilo.

Todas neisserias são oxidase positivas e catalase positivas (exceto as espécies,

Neisseria elongata e Neisseria Kingella e Neisseria denitrificans). Todas utilizam carboidratos por

via oxidativa e não fermentativa, sendo baixa a acidez.

FIGURA 13 – COLORAÇÃO DE GRAM DE UM ESFREGAÇO DE EXSUDATO URETRAL

PURULENTO QUE MOSTRA DIPLOCOCOS INTRACELULARES GRAM NEGATIVOS (SETA)

DE NEISSERIA GONORRHOEAE

FONTE: O autor

As diferentes espécies de neisseria, incluindo N. meningitidis e N. gonorrhoeae, são

analisadas junto com a Moraxella catarrhalis, Moraxella spp, Acinetobacter spp, Kingella spp e

Page 54: Microbiologia Clínica

53

Alcaligenes spp pelas características morfológicas. Todas são cocos ou cocoides ao Gram e

pela possibilidade de haver confusão na sua identificação.

Quanto à sua importância clínica, a maioria das espécies de neisserias é comensal

vivendo em mucosas de humanos e animais.

Page 55: Microbiologia Clínica

54

15 BACILOS

15.1 Gênero Corynebacterium

Apesar de ser um grupo com muitas espécies e amplamente distribuído pelo mundo,

apenas à espécie Corynebacterium diphtherie tem mais importância médica. São bastonetes

Gram positivos (Figura 14) com metabolismo facultativo, imóvel, não esporulado, e patogênico.

Habitam normalmente a nasofaringe e ocasionalmente a pele. Causam a difteria, doença

decorrente da produção de toxinas diftéricas.

FIGURA 14 – COLORAÇÃO DE GRAM DE UM ESFREGAÇO QUE MOSTRA BACILOS GRAM

POSITIVOS (À DIREITA) E VISUALIAÇÃO DOS BACILOS POR MICROSCOPIA ELETRÔNICA

DE VARREDURA (À ESQUERDA) DE CORYNEBACTERIUM

FONTE: Adaptado de http://textbookofbacteriology.net/normalflora.html

Page 56: Microbiologia Clínica

55

15.2 Gênero Bacillus

Esse gênero compreende bacilos Gram positivos, formadores de esporos, resistentes a

condições ambientais adversas, tais como, calor e baixos níveis de umidade. Seu metabolismo é

facultativo e crescem bem em agar sangue, produzindo colônias grandes, branco acinzentadas,

de bordas irregulares (Figura 15). E algumas espécies são beta-hemolíticas. As espécies de

importância médica são: Bacillus anthracis, Bacillus cereus e o Bacillus subtilis.

FIGURA 15 – COLÔNIAS SECAS E RUGOSAS DE BACILLUS SP

FONTE:O autor

Page 57: Microbiologia Clínica

56

Bacillus Anthracis

Essa bactéria é o agente do carbúnculo hemático, uma zoonose transmissível aos

seres humanos. Ganhou grande importância clínica e epidemiológica desde sua utilização como

arma biológica durante os eventos que se sucederam ao ataque do World Trade Center, nos

Estados Unidos, no final de 2001.

Bacillus Cereus

O Bacillus cereus produz uma toxina termoresistente e outra enterotoxina termolábil

relacionadas a surtos de intoxicação alimentar É a espécie do gênero Bacillus mais frequente em

infecções oportunistas, principalmente em pacientes imunocomprometidos, submetidos à

hemodiálise, infusão endovenosa contínua e usuários de drogas endovenosas.

Pode ocasionar bacteremia, septicemia, meningite, abscesso cerebral, pneumonia,

endocardite e infecções supurativas em feridas e queimaduras. Quando são isoladas a partir das

fezes não têm importância clínica, sendo mesmo considerado habitante do trato gastrointestinal

de humanos e animais. Pode também ser isolada do solo, água, poeira e inúmeros alimentos,

principalmente, carnes, verduras, cereais, leite e leite em pó.

Bacillus Subtilis

O Bacillus subtilis é considerado um patógeno oportunista. Foi isolado em pacientes

sob o uso de próteses, imunocomprometidos e em infecções oculares e do sistema nervoso

central por introdução traumática.

Page 58: Microbiologia Clínica

57

15.3 Gênero Listeria

A espécie de importância médica é a Listeria monocytogenes. Essa espécie é

classificada como bacilos curtos (frequentemente cocobacilares), Gram positivos, à 25oC,

apresentam motilidade caracterizada por saltos e a 37oC são imóveis.

Em agar sangue de cavalo ou de carneiro apresentam acentuada hemólise. Podem

habitar o trato intestinal sem causar danos ao homem. Em condições infecciosas, podem causar

meningite e sepse em recém-nascidos.

15.4 Gênero Clostridium

Gênero que compreende um grande número de bacilos anaeróbios Gram positivos

esporulados (Figura 16). Estão distribuídos amplamente na natureza, e no homem habitam o

intestino. A produção de potentes toxinas é a principal característica da patogenicidade do

gênero. As principais espécies de importância médica são: Clostridium perfringens, Clostridium

tetani, Clostridium botulinum, Clostridium difficile.

FIGURA 16 – BACILOS ESPORULADOS GRAM POSITIVOS DO GÊNERO CLOSTRIDIUM

FONTE: O autor

Page 59: Microbiologia Clínica

58

Clostridium perfringens

Os esporos produzidos dificilmente são encontrados no material infectado, embora

sejam mais tolerantes ao oxigênio do que às outras espécies.

Essa espécie, em cultura anaeróbia em agar sangue, produz colônias hemolíticas. E a

identificação é confirmada pela demonstração da produção da alfa-toxina, lectinase.

A contaminação ocorre após o contato com esporos via endógena ou exógena, já que

estes micro-organismos estão presentes na microbiota normal e solo, respectivamente. A ação

das toxinas é capaz de causar necrose com consequente insuficiência de irrigação sanguínea.

Essa ação cria uma condição anaeróbica, permitindo assim o crescimento desse bacilo na ferida,

que leva a uma gangrena do tipo gasosa. Essas bactérias ainda podem causar intoxicação

alimentar que resulta após a ingestão de formas vegetativas do bacilo produtoras de

enterotoxinas.

Clostridium tetani

Esse bacilo esporulado produz um esporo terminal redondo, denominado baqueta de

tambor. Normalmente é encontrado no solo e o contágio ocorre após contato de uma ferida com

o solo contaminado. Essa doença é grave e é caracterizada por espasmos musculares e

hiperflexia, trismo, opistótono e convulsões.

O tétano resulta de uma neurotoxina, tetanospasmina produzida pelos organismos nas

feridas.

Clostridium botulinium

Page 60: Microbiologia Clínica

59

Essa espécie de clostrídio produz as toxinas mais potentes para o homem. Requerem

condições estritamente anaeróbias para isolamento, mas dificilmente são encontradas em casos

de doença. A detecção da toxina no alimento ou soro do paciente é a forma de confirmar o

diagnóstico.

Normalmente habitam o solo, e a contaminação ocorre após a ingestão de alimentos

não esterilizados adequadamente e conservas mal processadas. Após a ingestão, a toxina é

liberada como proteína inativa e é clivada por proteases, invade a corrente sanguínea e atua

sobre as junções neuromusculares, causando paralisia muscular e morte por insuficiência

respiratória.

Clostridium difficile

Esse bacilo é delgado e imóvel. O diagnóstico pela detecção da toxina nas fezes é

praticável. Habita normalmente a microbiota intestinal e seu crescimento ocorre por pressão

seletiva de antibióticos. Causa a colite pseudomembranosa (diarreia associada a antibióticos) e

pode ser letal em pacientes imunocomprometidos.

15.5 Gênero Mycobacterium

Esse gênero é amplamente encontrado no ambiente e nos animais. Os principais

patógenos de importância para o homem são: Mycobacterium tuberculosis e o Mycobacterium

leprae.

Estes são bacilos aeróbios, são consideradas GRAM positivos (devido às

características de sua parede celular). Apresentam grande dificuldade em corar por causa das

longas cadeias de ácido graxo que cobrem sua parede celular. Quando coradas pelo método de

Ziehl-Neelsen, mostram-se resistentes à descoloração, sendo classificadas como BAAR (Figura

17).

A disseminação por gotículas é favorecida pela capacidade em que o micro-organismo

tem de sobreviver no ambiente. O M. tuberculosis é o causador da tuberculose e o M. leprae é o

Page 61: Microbiologia Clínica

60

causador da hanseníase. Estes são parasitas intracelulares e dão origens a infecções crônicas,

e a patologia está ligada à resposta imune contra esse patógeno.

FIGURA 17 – BACILOS DE MYCOBACTERIUM SP CORADOS PELOS MÉTODOS: DE GRAM (GRAM

POSITIVOS – À DIREITA) E ZIEHL-NEELSEN (BAAR). AS SETAS MOSTRAM OS BACILOS

FONTE: O autor

15.6 Gênero Actinomyces

Nesse gênero, encontramos a espécie Actinomyces israelii, bacilos com ramificações

filamentosas e álcool-ácido não resistentes. Essas bactérias colonizam a mucosa da boca, do

intestino e da vagina. A infecção é endógena e ocorre após invasão de outros tecidos pós-

traumatismo local. Estão relacionadas infecções causadas pelo DIU (contraceptivo intrauterino).

15.7 Gênero Nocardia

As nocardias estão amplamente distribuídas no ambiente. São bacilos Gram positivos

aeróbios que formam ramificações filamentosas delgadas. Nocardia asteroides é o principal

agente causador de infecções no homem.

Page 62: Microbiologia Clínica

61

A Nocardia asteroides cresce em meio agar sangue com aspecto de “migalhas de

pão”. A infecção ocorre por oportunismo e são acometidos pacientes imunocomprometidos. A

infecção primária limita-se ao pulmão, mas em infecções secundárias a propagação leva a

abscessos renais e cerebrais.

Page 63: Microbiologia Clínica

62

16 ENTEROBACTERIACEAE

Essas bactérias constituem os mais numerosos micro-organismos com metabolismo

facultativo. E estão presentes no intestino humano, perfazendo aproximadamente 109 por grama

de fezes.

16.1 Gênero Escherichia

Gênero que contém apenas uma espécie de importância médica, a Escherichia coli.

São bacilos móveis, Gram negativos (Figura 18), com ou sem cápsula, capazes de resistir a

temperaturas de 44oC e são boas fermentadoras de lactose. Habitualmente colonizam o

intestino, mas podem colonizar também a porção final da uretra e vagina. A contaminação ocorre

após contato ou ingestão via fecal-oral.

Uma variedade de fatores de virulência já foram identificadas associadas às

enterotoxinas e adesinas. Essas bactérias são responsáveis pelas infecções do trato urinário,

meningite neonatal, sepse e doenças diarreicas.

Esses micro-organismos possuem antígenos O (somáticos), H (flagelar), K (capsular),

e F (fimbrial), que são utilizados para classificar sorologicamente as cepas da espécie.

FIGURA 18 – ESFREGAÇO DO SEDIMENTO DE URINA COM BACILOS DE E. COLI

COROADOS PELOS MÉTODOS: DE GRAM (GRAM NEGATIVO)

FONTE: O autor

Page 64: Microbiologia Clínica

63

16.2 Gênero Proteus

Nesse gênero, concentram-se várias espécies, mas duas são de importância médica:

Proteus vulgaris e Proteus mirabilis.

Essas espécies são bacilos Gram negativos com metabolismo facultativo, gostam de

pH alcalino, altamente móvel, e exalam um odor desagradável característico. Elas não

fermentam a lactose, produzem uréase. A reação com indol serve para distinguir as duas

espécies (Proteus vulgaris é indol positivo e Proteus mirabilis é indol negativo).

O habitat natural é o intestino, o solo e a água. E a disseminação é normalmente

endógena. O fator de virulência é caracterizado por endotoxinas e uréase produzido.

São responsáveis por infecções no trato urinário, sepse, pneumonia em pacientes

imunocomprometidos e infecção hospitalar em feridas.

16.3 Gêneros Klebisiela, Serratia E Enterobacter

Bactérias que raramente estão associadas a infecções, exceto como oportunistas em

hospedeiros imunocomprometidos. Esses gêneros compreendem bacilos Gram negativos,

podendo ser ou não encapsulados. São bons fermentadores da lactose e seu metabolismo é

facultativo.

O habitat natural é o intestino do homem e também podem ser encontrados em locais

inanimados, como solo e água. A infecção, quando ocorre, é via endógena e desenvolve-se nos

tratos respiratório e urinário.

Page 65: Microbiologia Clínica

64

17 SALMONELA, SHIGELA E PSEUDOMONAS

17.1 Gênero Salmonella

Esse gênero compreende mais de 2000 espécies com bases em diferenças

sorológicas. São bacilos Gram negativos, móveis, não esporulados e não encapsualdos (exceto,

Salmonella typhi que é capsulada).

Essas bactérias não fermentam lactose e são oxidase negativas. Estão amplamente

distribuídas no ambiente (especialmente em produtos de granja, ovos, carne, leite e manteiga). A

doença ocorre após ingestão dos alimentos contaminados e por contato interpessoal por meio da

via fecal-oral. O principal sintoma é a diarreia.

17.2 Gênero Shigella

As bactérias desse gênero causam a disenteria bacilar. Têm quatro espécies

importantes para o homem: Shigella dysenteriae, Shigella boydii, Shigella flexneri e Shigella

sonnei.

Todas são bacilos Gram negativos, imóveis, não capsuladas e com metabolismo

facultativo. Essas bactérias fazem parte do grupo da não fermentadoras da lactose. A

transmissão ocorre pela via fecal-oral, principalmente em locais de aglomeração.

17.3 Gênero Pseudomonas

A espécie mais importante para o homem é a Pseudomona aeruginosa, que é um

bacilo aeróbio Gram negativo e oportunista. Apresentam motilidade por meio de um flagelo polar

e são oxidase positivos. Suas colônias em meio de cultura são iridescentes irregulares e

apresentam um odor característico.

Page 66: Microbiologia Clínica

65

A Pseudomona aeruginosa infecta praticamente qualquer parte do corpo, dada às

condições predisponentes adequadas. Provoca também infecções de pele e em queimaduras.

Sua virulência está baseada na produção de endotoxinas e exotoxinas.

Page 67: Microbiologia Clínica

66

18 BACILOS GRAM NEGATIVOS CURVOS

GÊNERO VIBRIO

O principal bacilo Vibrio cholerae é o causador da cólera. São bacilos Gram negativos

curvos, altamente móveis pela presença de um único flagelo polar. Seu metabolismo é

facultativo e são oxidase positivos.

A sua virulência é embasada nos fatores motilidade, na produção de mucinases,

adesinas e principalmente pela produção de endotoxinas.

GÊNERO CAMPYLOBACTER

A espécie de importância médica é a Campylobacter jejuni, mas não é causadora de

doenças graves no homem. São bacilos Gram negativos curvos e a motilidade ocorre por causa

de um flagelo polar. Causam diarreia e podem causar sepse.

Foi descoberto que gastrite e úlceras duodenal são causadas pela espécie

Campylobacter pylori.

Page 68: Microbiologia Clínica

67

19 OUTRAS BACTÉRIAS GRAM NEGATIVOS ANAERÓBIOS

Historicamente, as bactérias com características de bacilos curtos, Gram negativos e

não esporulados eram classificados dentro do gênero dos Bacterioides, e os bacilos longos com

essas mesmas características eram classificados dentro do gênero dos Fusobacterium. Após os

avanços nas técnicas de identificação microbiológica, as espécies ganharam seu próprio gênero.

GÊNERO BACTERIOIDES

A espécie que compõem esse gênero de importância médica é a Bacterioides fragilis,

que são pequenos bacilos Gram negativos, pleomórficos, anaeróbios, imóveis e não

esporulados. As culturas apresentam odor pútrido devido ao composto final do metabolismo dos

ácidos graxos.

Pouco se sabe sobre os fatores de virulência, embora uma cápsula e a produção de

enzimas extracelulares provavelmente sejam fatores importantes. A infecção ocorre por

contaminação fecal e as suas causas são: sepse intrabdominal, abscessos hepáticos e cerebrais

GÊNERO HAEMOPHILUS

Gênero que contém um grande número de espécies de bactérias, mas as de

importância para o homem são: Haemophilus influenzae e Haemophilus ducreyi.

Essas duas espécies são pequenos bacilos (ou cocosbacilares), imóveis, capnofílicos,

com metabolismo facultativo. Podem ser encapsuladas quando isoladas do local da infecção.

O habitat normal é o trato respiratório superior no homem, e a transmissão é via

interpessoal aerógena. A infecção com cepas encapsuladas da Haemophilus influenzae causam

meningite, osteomelite, epglotite e otite, enquanto que as cepas não encapsuladas causam

bronquite crônica.

Page 69: Microbiologia Clínica

68

A infecção com a Haemophilus ducreyi causa o cancro mole no trato genital.

GÊNERO BORDETELA

Das várias espécies a Bordetela pertussis, é a de importância médica. É o pequeno

bacilo causador da coqueluche que é transmitida via aerógena (não existem portadores

saudáveis). A virulência dessa bactéria está relacionada à citotoxina traqueal, com as fimbrias e

endotoxinas produzidas.

GÊNERO BRUCELLA

Existem várias espécies, cada uma está relacionada a uma espécie animal, como:

Brucella abortus (bovinos), Brucella suis (suínos) e Brucella melitensis (caprinos). Sua

importância médica é por causa das infecções zoonóticas em humanos.

A transmissão e infecção do homem ocorrem por ingestão e contato direto.

GENERO LEGIONELLA

Esse gênero foi descoberto e demonstrado por técnicas de isolamento de vírus. As

suas espécies crescem com facilidade na água, porém em meios de cultura seu crescimento é

difícil.

A principal espécie é a Legionella pnemophila, um bacilo Gram negativo que se cora

fracamente pela técnica de Gram. Isto faz com que passe desapercebido. São micro-organismos

oportunistas do ambiente e são adquiridos por inalação de águas contaminadas, sistemas de ar-

condicionado e torres de resfriamento. Esses bacilos causam pneumonia atípica (doença dos

legionários).

Page 70: Microbiologia Clínica

69

20 BACTÉRIAS ESPIRALADAS

GÊNERO TREPONEMA

Várias espécies e subespécies são de importância para o homem. A espécie

Treponema pallidum e suas subespécies T. pertenue e T. carateum são as mais importantes.

Constituem-se células individuais na forma de espiroquetas aneladas e móveis pela

presença de flagelos. São observadas por microscopia óptica (fundo escuro) quando

empregadas às técnicas de coloração por prata ou imunofluorescêcia.

A transmissão ocorre por contato íntimo pelo fato de serem muito sensíveis ao calor e

ao ressecamento, ou por contato direto com lesões cutâneas infectadas. O Treponema pallidum

é o causador da sífilis, e os T. pertenue e T. carateum são causadores de doenças

treponematosas não sexualmente transmitidas (bouba e pinta).

GÊNERO LEPTOSPIRA

Duas espécies são de importância para o homem: Leptospira interrogans e Leptospira

biflexa. A Leptospira interrogans é um parasita e a Leptospira biflexa é de vida livre.

Essas espécies são espiroquetas delicacamente espiraladas, com extremidades em

ganchos. São observadas por microscopia óptica (fundo escuro) quando empregadas as

técnicas de coloração por prata ou imunofluorescêcia.

A doença que a Leptospira interrogans causa é a leptospirose, uma zoonose causada

por roedores, morcegos, bovinos, caprinos e ovinos (hospedeiros naturais).

Os micro-organismos desse gênero penetram pela pele integra ou conjuntiva, chega à

corrente sanguínea e invadem outros órgãos, principalmente fígado e rins.

Page 71: Microbiologia Clínica

70

GÊNERO BORRELIA

Os micro-organismos desse gênero são importantes para o homem porque causam a

febre recidivante – atualmente rara (Borrelia recurrentis) e a doença de lyme (Borrelia

burgdorferi). São do tipo espiroquetas.

A B. recurrentis coram-se facilmente com Giemsa. Já a B. burgdorferi é bem mais difícil

de ser observada (diagnóstico sorológico).

A B. recurrentis é transmitida de pessoa para pessoa por piolhos. E a B. burgdorferi é

uma zoonose causada por carrapatos de estrutura rígida (xodes spp).

Page 72: Microbiologia Clínica

71

21 MICOPLASMAS

Os micro-organismos dessa classe são diferenciados dos outros procariotos por não

apresentarem uma parede celular verdadeira, consequentemente sem rigidez. Essa é uma

característica exibida pelos gêneros: Mycoplasma, Ureaplasma e Acholeplasma.

A identificação laboratorial é lenta e esses são micro-organismos exigentes. A espécie

de maior importância médica é o Mycoplasma pneumoniae, agente causador da pneumonia

atípica. Aparecem também em infecções genitais (uretrites não gonocócicas). A transmissão é

por via aerógena.

Page 73: Microbiologia Clínica

72

22 RICKETTSIAE

Os organismos dessa espécie são incapazes de sintetizar coenzima A e ATP, portanto

são parasitas intracelulares obrigatórios. São pequenas bactérias Gram negativas, e o

isolamento em laboratório é difícil. Assim o diagnóstico faz-se por meios sorológicos.

Essa doença é uma zoonose transmitida por piolhos, carrapatos, pulgas e ácaros

contaminados que causa no homem a febre Tifo, a febre Q e febres maculosas.

Page 74: Microbiologia Clínica

73

23 CULTURA BACTERIANA

INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS E LAUDOS

O microbiologista, ao elaborar os relatórios de exames microbiológicos, deve ter em

mente a possibilidade do clínico não saber interpretá-lo adequadamente, tanto por desconhecer

um determinado nome de bactéria, como seu potencial patogênico e porque muitas vezes essas

dúvidas associadas à disponibilidade do antibiograma possam ser um fator determinante do uso

inadequado de antimicrobianos.

Cabe ao microbiologista elaborar um laudo claro e objetivo:

a) facilitando a comunicação direta (telefone ou pessoalmente), indo ao encontro do

clínico para discutir o caso;

b) elaborando manuais de coleta, informes sobre perfil de bactérias mais isoladas e

padrões de sensibilidade (hemocultura, urina, ferida cirúrgica);

c) esclarecendo novos padrões de relatórios, novos agentes, seu potencial patogênico,

mudanças de padrões (antibiograma), disponibilidade de recursos, diagnóstico e orientação

terapêutica;

d) tendo em mente os principais agentes etiológicos correspondentes a cada material

enviado, bem como da respectiva flora normal para adequada interpretação do resultado;

e) tomando a iniciativa de procurar o médico ou o paciente para esclarecer dúvidas

sobre exames e materiais;

f) estimulando a comunicação rápida dos resultados de bactérias resistentes, dos

exames relacionados com diagnóstico, dos exames de urgência, como de líquido

cefalorraquidiano, hemocultura e de doenças de notificação compulsória ou que exijam

isolamento.

Em resumo, mais do que um retrato do crescimento nas placas de Petri, o laudo

microbiológico deve ser o resultado de uma leitura interpretativa e crítica utilizado como um

instrumento de comunicação e interação entre o laboratório de microbiologia e o médico.

Page 75: Microbiologia Clínica

74

IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA PRESUNTIVA

Para colônias de anaeróbios estritos, deve ser feita coloração de Gram. Nessa etapa, o

laboratório presta uma grande ajuda ao clínico, informando se o paciente tem uma infecção por

uma bactéria anaeróbia estrita que pertence a determinado grupo morfológico.

O diagnóstico do gênero e da espécie é feito utilizando:

a) provas bioquímicas: utilização de açúcares, produção de indol, redução de nitratos,

urease, crescimento em presença de bile, liquefação da gelatina e hidrólise de esculina;

b) produção de pigmentos;

c) hemólise;

d) aprofundamento no Agar;

e) susceptibilidade a antimicrobianos;

f) formação de ácidos detectados por cromatografia líquida;

g) sorologia.

As seguintes considerações práticas são úteis na orientação do clínico para uma

conduta adequada, sem a necessidade de aparelhos ou metodologias caras por parte do

laboratório:

a) na presença de cocos Gram positivos, o laboratório deve fazer o diagnóstico

presuntivo de Streptococcus, que são os mais frequentemente isolados nesse grupo morfológico;

b) diagnóstico diferencial com Streptococcus e Staphylococcus anaeróbios como das

espécies de Peptostreptococcus deve ser feita com ajuda da cromatografia para detectar a

produção de diferentes ácidos graxos. Já o diagnóstico diferencial entre a família

Streptococcacea dos estreptococos e a família a Microccocacea dos estafilococos ocorre pela

prova da catalase (Figura 19);

c) na presença de cocos Gram negativos, o laboratório deve fazer o diagnóstico

diferencial com os gêneros de cocos Gram negativos. Também é recomendada a cromatografia

líquida para pesquisar ácidos graxos;

Page 76: Microbiologia Clínica

75

d) na presença de bacilos Gram positivos esporulados, o laboratório deve fazer o

diagnóstico de Clostridium. Na dúvida no diagnóstico de um bacilo esporulado, recomenda-se o

tratamento com álcool etílico a 95%, durante 1 hora à temperatura ambiente e a ressemeadura

posterior. Além disso, a suspensão bacteriana pode ser aquecida a 80ºC (durante 10 minutos),

esfriada e feita ressemeadura. Após um ou outro desses procedimentos, só sobrevivem

bactérias esporuladas. Se o Clostridium produzir um duplo halo de hemólise, pode ser feito o

diagnóstico presuntivo de Clostridium perfringens. Essa espécie é a mais frequentemente isolada

dentro desse grupo bacteriano. Para o diagnóstico diferencial das outras espécies de

Clostridium, devem ser feitas provas bioquímicas como hidrólise da gelatina, fermentação da

glicose, lecitinase, lipase, produção de indol, ureia, nitratos e motilidade;

FIGURA 19 – PROVA DA CATALASE. À ESQUERDA, TEMOS UM RESULTADO POSITIVO –

MICROCCOCACEA (FORMAÇÃO DE BOLHAS); À DIREITA, UM RESULTADO NEGATIVO –

STREPTOCOCCACEA (NÃO FORMAÇÃO DE BOLHAS)

FONTE: http://www.clsi.com.cn/Photo/UploadPhotos/2005451249471389.jpg

Page 77: Microbiologia Clínica

76

e) na presença de bacilos Gram positivos não esporulados, recomenda-se fazer a

prova de catalase, redução de nitratos, hidrólise de esculina, urease, e produção de pigmento.

Para o diagnóstico definitivo, deve ser feita a pesquisa da produção de ácidos graxos;

f) se a coloração de Gram mostrar bacilos Gram negativos, recomenda-se semear a

colônia em Agar sangue (Brucella ágar), colocando um disco de Rifampicina (15 mcg) e um

disco de Kanamicina (1.000 mcg). A bactéria deve também ser semeada num meio que contém

bile a 20%, e num meio rico em triptofano para determinar a produção de indol, com as placas

incubadas por 48 horas a 37ºC. Essas provas, junto com a produção de pigmento, permitem

fazer o diagnóstico presuntivo de Bacteroides, Porphyromonas e Fusobacterium. Frente aos

discos de antibióticos, a bactéria é considerada sensível se o halo de inibição é de 12 mm ou

maior; considerada resistente com halos menores de 12 mm. Como inóculo para a semeadura,

utiliza-se uma suspensão com turvação semelhante ao número 3 de escala de MC Farland ou

uma turvação semelhante após incubação em meio de tioglicolato. A prova da bile é considerada

positiva se existir crescimento bacteriano no quadrante respectivo. Para a produção de

pigmento, recomenda-se a observação direta das colônias, e, em caso de não existir pigmento

evidente, iluminar a placa com luz ultravioleta (± 360 mm de comprimento de onda). Para a

prova de indol, recomenda-se passar uma colônia, a partir do meio com triptofano com ajuda de

uma alça de platina num papel filtro impregnado em 1% de paradimetilaminocinamaldeido (em

ácido clorídrico 10%). Uma reação positiva produz imediatamente uma cor azul;

g) alguns sistemas comerciais manuais ou automatizados permitem fazer o diagnóstico

das diferentes espécies de anaeróbios utilizando numerosas provas bioquímicas. Alguns

utilizando a ação de enzimas bacterianas pré-formadas podem fazer este diagnóstico após 4

horas de incubação. Desses, os mais frequentemente utilizados são: API®, Vitek® e

Microscan®. Esses sistemas mais caros não são fundamentais para o diagnóstico dos grupos

bacterianos e para uma orientação terapêutica adequada;

h) em algumas infecções, é importante, para o diagnóstico, determinar a presença de

toxinas, como acontece nas infecções intestinais por Clostridium difficile. Essa determinação é

feita com provas sorológicas disponíveis comercialmente.

Page 78: Microbiologia Clínica

77

PROVA DE SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS

O estudo da sensibilidade dessas bactérias é importante pelo aumento permanente de

sua resistência frente aos diferentes antimicrobianos. Essa resistência é mais comum no gênero

Bacteroides, mas pode estar presente também no gênero Clostridium, Staphylococcus

(coagulase negativos), Enterococcus faecalis e Pseudomonas aeruginosa.

As bactérias sofrem continuamente uma forte pressão seletiva. Pela ação de drogas ou

outros fatores, há o extermínio de linhagens sensíveis, com o crescimento de bactérias mais

resistentes da população.

A importância em fornecer ao médico as informações precisas para que ele possa

diagnosticar e tratar as doenças infecciosas é a de esclarecer principalmente se existe um

agente antimicrobiano adequado ao micro-organismo infeccioso.

Os antimicrobianos são substâncias químicas que inibem o crescimento ou destroem

os micro-organismos. Portanto, possui efeitos bacteriostático ou bactericida tem espectro de

atividade amplo, intermediário ou reduzido, o mecanismo de ação pode ser: inibição da síntese

da parede celular, alteração da permeabilidade celular, inibição da síntese proteica e inibição da

síntese de DNA e RNA.

Para a execução das técnicas de determinação da sensibilidade das bactérias a

antimicrobianos, utilizam-se três métodos básicos: diluição em caldo, diluição em Agar e difusão

com discos e fitas.

Page 79: Microbiologia Clínica

78

Método do disco

O método do disco-difusão não é adequado para estudar a sensibilidade das bactérias

anaeróbias estritas. O National Committee for Clinical Laboratories Standards (NCCLS), dos

EUA, recomenda um método de diluição em Agar: as concentrações de antimicrobianos são

incorporadas no meio de Wilkins-Chalgren. Cada placa tem uma concentração de um

antimicrobiano. As bactérias são semeadas utilizando o inoculador múltiplo de “Steers” e as

placas colocadas em jarras com gerador de anaerobiose. A leitura é feita após 48 horas de

incubação na estufa, determinando-se a CIM (concentração inibitória mínima).

Método da fita

Um método alternativo mais prático é a determinação da sensibilidade utilizando fitas

de plástico impregnadas com um gradiente de concentração de antimicrobianos como no método

do E test®. As bactérias são semeadas em forma similar à empregada no método do disco para

aeróbios. São colocados duas fitas cada uma com um antibiótico diferente em cada placa de 9

cm de diâmetro. Em geral, é necessário testar seis antibióticos (três placas). Os antimicrobianos

com maior atividade in vitro e in vivo frente aos anaeróbios estritos são: cloranfenicol,

clindamicina, cefoxitina, metronidazol, penicilina e amoxicilina + ácido clavulânico. As placas são

incubadas dentro de jarra com gerador a 37 graus de temperatura. A leitura é feita após 48 horas

de incubação e a sensibilidade é interpretada nos dois métodos seguindo as tabelas publicadas

pelo NCCLS.

Salientamos que existe uma boa correlação nos resultados obtidos com as duas

metodologias descritas.

Page 80: Microbiologia Clínica

79

Diluição em caldo

São utilizadas diluições seriadas de uma droga teste, em contato com uma suspensão

padrão de bactéria, determinando-se a Concentração Inibitória Mínima (CMI).

Utilizam-se hoje técnicas de microdiluição em que as drogas a serem testadas são

diluídas em placas especiais, utilizando pequenos volumes de reagentes, possibilitando o teste

de um número maior de bactérias. O fator limitante desse método é o intenso trabalho, que é

dispensado para realização de cada teste, e a disponibilidade do sal puro dos antibióticos a

serem testados, o que impossibilita a realização do método.

Diluição em Agar

São realizadas concentrações seriadas do antimicrobiano a ser testado, utilizando uma

placa de Agar para cada concentração. Os micro-organismos são diluídos com uma turbidez que

correspondam à escala 0,5 de McFarland. Uma alíquota de cada suspensão é inoculada na

superfície da placa teste, utilizando um replicador apropriado (Steere).

Interpretação dos resultados do antibiograma

Após a leitura, os diâmetros das zonas de inibição são comparados com aqueles

especificados nas tabelas fornecidas pelo representante dos antibióticos, podendo o resultado

ser:

a) sensível: induz o clínico a um tratamento onde o agente pode ser eliminado por um

determinado antimicrobiano nas doses usuais recomendadas:

b) moderadamente sensível: essa categoria inclui amostras que podem ser inibidas por

certos antimicrobianos, desde que administrados em altas doses;

Page 81: Microbiologia Clínica

80

c) intermediário: geralmente indica que o resultado do teste foi impreciso ou

indeterminado, podendo ser devido a alguns fatores técnicos da prova;

d) resistente: refere-se àqueles organismos que não são inibidos por concentrações

sistêmicas de um antimicrobiano com doses terapêuticas usuais.

Métodos automatizados

Os métodos para determinar a sensibilidade antimicrobiana têm sofrido significantes

mudanças nos últimos 15 anos. Surgiram novos testes de determinação da resistência

bacteriana aos antimicrobianos, destacando-se os sistemas automatizados e uma nova

metodologia de trabalho denominada E test. O ponto comum deles é o fato de determinarem a

concentração inibitória mínima das drogas analisadas.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

O microbiologista, na sua rotina diária para decidir a importância das bactérias

isoladas, deve considerar o potencial patogênico do agente, a bacterioscopia e o pedido médico.

Bactérias como Streptococcus pyogenes, Neisseria gonorrhoeae e Mycobacterium

tuberculosis, independente do material em que foram isoladas, é de importância clínica e

epidemiológica. Bactérias como Neisseria meningitidis, e Haemophilus influenzae, que se forem

isolados no liquido cefalorraquidiano ou no sangue, são de importância indiscutível, mas quando

isolados em mucosas, costumam representar a microbiota e seu relato é discutível.

Page 82: Microbiologia Clínica

81

ALGUMAS SUGESTÕES IMPORTANTES

Como norma, não se deve identificar e fazer antibiograma de bactérias da microbiota

da pele e das mucosas. No entanto, é sempre conveniente entender as sugestões que se

seguem como sujeitas a revisões conceituais e atualizações:

a) conversar com o médico do paciente ou mesmo com o paciente, se indicado;

b) quando não for possível a comunicação, relatar os achados da bacterioscopia, se

realizada, com identificação sumária (bacilos ou coco-bacilos não fermentadores), ou ao nível de

gênero (enterobactérias e alguns Gram positivos), ou coagulase negativo;

c) conservar a bactéria por um prazo de 7 a 10 dias, deixando a possibilidade de

prosseguir nos testes, caso necessário;

d) estudos quantitativos são sempre que possíveis mais úteis do que exames

qualitativos, usando ou diluição do material ou semeando com alça calibrada;

e) relatório quantitativo de bacterioscopia: número médio de bactérias anotadas no

mínimo em 10 campos observados;

f) relatório qualitativo de bacterioscopia do esfregaço corado pelo Gram, descrevendo e

quantificando (Tabela 3) a presença de: grupos morfológicos de bactérias (cocos/bacilos/ Gram

positivos ou negativos) e predomínio, quando o microbiologista for experiente recomenda-se

adicionar o comentário “sugestivo de pneumococos ou haemophilus”; bactérias intracelulares

(neutrófilos ou monócitos);

g) finalmente a discussão sobre os materiais provenientes de tecido cutâneo-mucosos,

o que devemos relatar com antibiograma, e o que entender como microbiota são muito relativos,

não havendo unanimidade para padrões definitivos de relatórios.

É sempre conveniente entender que as sugestões que se seguem estão sujeitas a

revisões conceituais, atualizações e pequenas adaptações locais. Como microbiologia é uma

soma de evidências (microbiológicas, clínicas, epidemiológicas), torna-se impossível esgotar

todas as possibilidades. O que pode e deve ser feito é buscar traçar linhas mestras para a

orientação do raciocínio, deixando que cada caso seja analisado como um exercício constante

do bom senso e cientificamente embasado.

Page 83: Microbiologia Clínica

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TABELA 3 – EXAME MICROSCÓPIO QUANTITATIVO PELA COLORAÇÃO DE GRAM.

Descritivo

Classificação

numérica

No. Médio de bactérias

por campo 1.000x

Ausente 0 0

Raros + 1-5

Frequentes ++ 6-15

Numerosos +++ 16-30

Incontáveis ++++ >30

Fonte : Arquivo pessoal do autor.

Page 84: Microbiologia Clínica

83

24 OS VÍRUS

Os vírus infectam todas as formas de vida, desde bactéria, fungos e plantas até os

animais e o homem. O termo vírus vem do latim que significa veneno. Esse termo foi utilizado

como sinônimo de veneno e se referia a agentes de natureza desconhecida que provocavam

diversas doenças.

No ano de 1935, cristais de vírus foram isolados e observados ao microscópio pela

primeira vez. A sua composição parecia principalmente proteica, porém constatou-se mais tarde

uma pequena quantidade de ácidos nucleicos.

No início dos anos 40, generalizou-se que todos os vírus continham ácidos nucleicos, o

que foi confirmado por estudos com bacteriófagos, que eram vírus bacterianos. Em 1952, foi

demonstrado para o bacteriófago T4 que somente o DNA do fago, e não a proteína, penetrava

na célula bacteriana hospedeira, iniciando os eventos de replicação que levavam à produção de

centenas de vírus em cada célula infectada.

Uma grande contribuição para a virologia foi a descoberta de que os vírus podem ser

cristalizados. Quando o vírus do Mosaico do Tabaco foi cristalizado, forneceu um poderoso

argumento para que se pudesse pensar nos vírus como estruturas químicas simples, consistindo

somente de proteína e ácido nucleico. Dessa forma, se pensarmos nos vírus fora das células,

podemos considerá-los como estruturas moleculares excepcionalmente complexas. No interior

das células, a informação levada pelo genoma viral faz com que a célula infectada produza

novos vírus, levando-nos a pensar nos vírus como organismos excepcionalmente simples.

Dessa forma, os vírus só são replicados dentro de células vivas. O ácido nucleico viral

contém informações necessárias para programar a célula hospedeira infectada, de forma que

esta passa a sintetizar várias macromoléculas necessárias à produção da progênie viral. Fora da

célula susceptível, as partículas virais são metabolicamente inertes.

Três propriedades principais distinguem os vírus de outros micro-organismos: o

tamanho – os vírus são menores que outros organismos, embora eles variem consideravelmente

em tamanho; o genoma, que pode ser formado de DNA ou RNA, nunca ambos (os vírus contêm

apenas um tipo de ácido nucleico); e o metabolismo – os vírus não possuem atividade

Page 85: Microbiologia Clínica

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metabólica fora da célula hospedeira, mas sim atividade ribossomal ou aparato para síntese de

proteínas.

Os vírus diferem de outros parasitas intracelulares porque o ciclo de infecção viral

inclui um "período cego" durante o qual não se detecta a presença do vírus, o que não ocorre

com os outros parasitas intracelulares.

ESTRUTURA VIRAL

Os vírus são os menores agentes infecciosos, de 20 a 300 nm de diâmetro. A estrutura

viral (Figura 20) é composta por:

a) capsídeo: é o invólucro proteico que protege o genoma viral;

b) nucleocapsídeo: é o conjunto capsídeo com genoma viral;

c) capsômeros: são aglomerados de polipeptídios;

d) envoltório: é uma membrana de lipídio que envolve as partículas virais.

FIGURA 20 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DOS COMPONENTES DE UMA PARTÍCULA

VIRAL

FONTE: Alterado de http://ec.europa.eu/health/opinions/en/energy-saving-lamps/glossary/ghi/hiv-

aids.htm

Page 86: Microbiologia Clínica

85

Também é importante definir a palavra vírion, que é a partícula viral completa que em

algumas instâncias pode ser idêntica ao nucleocapsídeo. E ainda vírus defectivo, que é uma

partícula viral funcionalmente deficiente em algum aspecto da replicação.

CULTIVO E QUANTIFICAÇÃO VIRAL

O cultivo in vitro de vírus pode ser feito em culturas de células ou em ovos

embrionários sob condições estritamente controladas. O crescimento in vivo é empregado para o

isolamento primário de certos vírus e para o estudo das viroses e da ontogênese viral.

A quantificação das partículas viral pode ser contada diretamente no microscópio

eletrônico por comparação com uma suspensão padrão de partículas de látex de tamanho

similar. A hemaglutinação é outra forma de se quantificar as partículas virais, que ocorre por

meio da aglutinação das hemácias humanas ou de alguns animais por estes vírus. Esse teste

mensura a quantidade total de vírus presente.

E ainda podemos mensurar a quantidade viral por meios biológicos por meio da morte

dos animais, infecção dos animais ou efeitos citopáticos em culturas de tecidos (diluição final do

vírus teste – ensaio de plaques).

CLASSIFICAÇÃO VIRAL

A nomenclatura viral segue as regras do International committeeon taxonomy of

viruses (ICTV). A classificação dos vírus baseia-se nas seguintes características: tipo de ácido

nucleico (fita simples ou dupla e estratégia de replicação), tamanho e morfologia (simetria,

quantidade de capsômeros e ausência ou presença de envoltórios) (Figura 21), presença de

enzimas específicas, susceptibilidade a agentes físicos e químicos (principalmente éter),

métodos naturais de transmissão, tropismo celular ou tecidual ou preferência por hospedeiro,

patologia (inclusão de corpúsculos), sintomatologia e propriedades imunológicas.

Page 87: Microbiologia Clínica

86

FIGURA 21 – CLASSIFICAÇÃO DOS VÍRUS SEGUNDO AS CARACTERÍSTICAS: TIPO DE

ÁCIDO NUCLEICO (FITA SIMPLES OU SUPLA) E MORFOLOGIA (SIMETRIA, QUANTIDADE

DE CAPSÔMEROS E AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE ENVOLTÓRIOS, SINAIS + =

PRESENÇA / - = AUSÊNCIA)

FONTE:

http://blog.naver.com/PostView.nhn?blogId=leonjuhee&logNo=150047742272&redirect=Dlog&widgetTypeCall=true

Page 88: Microbiologia Clínica

87

25 PARVOVÍRUS

Nos membros desta família Parvoviridae, o material genético é composto por fita

simples de DNA e a forma é icosaédrica. Essa família contém o parvovírus humano B19 e os

vírus adenoassociados. Os vírus adenoassociados são defectivos e sua infecção ocorre

concomitantemente com os vírus do herpes e outros adenovírus auxiliares.

A doença causada pelo parvovírus B19 pode ser representada por um eritema

infeccioso brando (vermelhidão local), até uma crise aplásica (em paciente portador de anemia

falciforme). A transmissão faz-se via gotículas respiratórias.

Page 89: Microbiologia Clínica

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26 PAPILOMAVÍRUS

A família Papilomaviridae compreende micro-organismos com DNA, dupla fita (circular)

com forma icosaédrica. Esses vírus podem persistir latentes no ambiente e serem reativados. As

espécies incluídas nessa família são o papilomavírus, o poliomavírus e o vírus símios

vacuolizantes.

O papilomavírus, HPV 16 e HPV 18 causam verrugas na pele e na região genital

masculina e feminina. A transmissão é sexual. O poliomavírus causa infecções brandas nas vias

aéreas superiores.

Page 90: Microbiologia Clínica

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27 HERPESVÍRUS

Os micro-organismos dessa família Herpesviridae têm a forma icosaédrica, são

envelopados e o DNA é composto por fita dupla. Esse vírus permanece por longos períodos de

tempo no organismo, frequentemente latentes e depois podem ser reativados.

O isolamento desses vírus pode ocorrer em cultivo celular, em células multinucleadas

ou em inclusões intranucleares.

Os principais membros dessa família são os:

a) HHV1 (HSV1), causador da gengivoestomatite e úlcera fria. Transmitido por meio da

saliva, fluido vesical e parto normal (contato vaginal com recém-nascido);

b) HHV2 (HSV2), causador do herpes genital, herpes cutâneo, encefalite e meningo-

encefalite. Transmitido principalmente por meio da saliva;

c) HHV3 (VZV), causador da varicela. Transmitido por meio de gotículas respiratórias e

fluido vesical;

d) HHV4 (EBV), causador da mononucleose (febre glandular) e encefalite. Transmitido

por meio da saliva.

e) HHV5 (CMV), causador da mononucleose, hepatite, pneumonite. Transmitido por

meio da saliva, urina, sêmen, secreções cervicais e leite. E ainda pode ser transmitido por

tecidos transplantados e via placenta.

Page 91: Microbiologia Clínica

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28 ADENOVÍRUS

Os membros dessa família Adenoviridae, o material genético é composto por fita dupla

de DNA e a forma é icosaédrica. Seus 41 membros causam febre faringoconjuntival, adenite

mesentérica e epidemias de doenças respiratórias. Os tipos 3, 4, 7, 14, 21 também podem

causar pneumonia. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias e fezes.

Page 92: Microbiologia Clínica

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29 HEPADNAVÍRUS

Os membros dessa família Hepadnaviridae têm a forma esférica, mas seu

nucleocapsídeo é isocaédrico, e são envelopados. O DNA é do tipo dupla fita e circular. O

envelope (antígeno HBs) circunda o cerne que apresenta os antígenos HBc e Hbe. Esse vírus é

o causador da Hepatite B e não cresce em cultivo celular. A identificação dos antígenos HBs e

HBc ocorre apenas na fase de incubação, e a presença do antígeno Hbe indica que o sangue do

indivíduo é altamente infeccioso. Após a exposição do organismo ao vírus, a identificação deste

ocorre pela presença dos anticorpos específicos formados.

A transmissão ocorre pela transfusão sanguínea, agulhas contaminadas, via sexual e

gestação.

Page 93: Microbiologia Clínica

92

30 POXVÍRUS

São os maiores vírus dermatóficos e causam pústulas na pele. Os membros da família

Poxviridae possuem forma ovoide ou retangular e o nucleocapsídeo tem uma estrutura

complexa. Algumas espécies são envelopadas. O genoma é composto por fita dupla de DNA.

Esses vírus são encontrados em microscopia eletrônica de biópsias ou fragmentos das

lesões cutâneas. É uma zoonose, e a transmissão ocorre pelo contato com a lesão contaminada.

Page 94: Microbiologia Clínica

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31 PICORNAVÍRUS

Os membros dessa família são os Picornaviridae, cujo material genético é composto

por fita simples de RNA e a forma é icosaédrica. Os principais representantes dessa família são

os Rhinovírus (com mais de 100 sorotipos diferentes), causadores do resfriado comum; os

Enterovírus ou poliovírus (com três sorotipos diferentes), causadores da meningite asséptica e

poliomelite paralítica; Echovírus (com 32 sorotipos diferentes), causadores da meningite assética

e exantemas; Coxsackievírus (com 29 sorotipos diferentes), causadores da meningite asséptica,

herpangina e miopericardite.

A disseminação ocorre por exposição a gotículas respiratórias (Rhinovírus e

Coxsackievírus tipo A), e para os outros a transmissão ocorre via fecal-oral.

Page 95: Microbiologia Clínica

94

32 ORTHOMYXOVÍRUS

Os membros dessa família são os Orthomyxoviridae, e o material genético é composto

por fita simples de RNA (oito segmentos lineares com fita sense negativa). Seus representantes

são encapsulados, a forma é esférica e o nucleocapsídeo é helicoidal.

Esses vírus podem ser isolados em cultivo laboratorial e a identificação do antígeno

viral é feita por imunoflorescência.

Durante o período de incubação do vírus, o hospedeiro apresenta os sintomas: febre,

mialgia, mal estar, descarga nasal, dor de garganta, tosse e pneumonia.

Page 96: Microbiologia Clínica

95

33 PARAMYXOVÍRUS

As espécies que representam a família dos Paramyxoviridae são os agentes

causadores da caxumba, influenza e sarampo. São vírus encapsulados com forma pleomórfica e

núcleocapsídeo helicoidal. O genoma é composto por uma fita simples de RNA (fita sense

negativa).

A sorologia para o sarampo e influenza é limitada. A infecção inicial ocorre pelo trato

respiratório. Não há lesão no local da infecção.

O sarampo causa febre, descarga nasal e exantema. A caxumba causa parotidite e

meningite asséptica. A influenza causa resfriado comum, bronquiolite e pneumonia.

Page 97: Microbiologia Clínica

96

34 TOGAVÍRUS

Os togavírus humanos incluem os vírus da rubéola, dengue e febre amarela. Eles

fazem parte da família Togaviridae, com forma esférica e nucleocapsídeo isocaédrico. A fita de

RNA é simples com fita sense positiva.

A transmissão ocorre entre os seres humanos pela via de gotículas respiratórias. A

rubéola causa uma doença exantematosa branda em adultos e algumas vezes complicada por

artralgia e em mulheres grávidas (infecção fetal e malformações congênitas). Os demais

togavírus causam doenças febris que podem ser graves quando há comprometimento hepático

(febre amarela) ou quando há comprometimento imunopatológico (febre hemorrágica dengue).

Page 98: Microbiologia Clínica

97

35 RETROVÍRUS

Os representantes da família Retroviridae apresentam fita simples de RNA. Esses vírus

são possuidores de envelope e têm forma esférica com nucleocapsídeo icosaédrico.

As espécies que representam esta família são os lentivirus (HIV1 e HIV2), os oncovírus

(HTLV1 e HTLV2), o vírus humano espumoso (pouco conhecido).

A transmissão ocorre por transfusão de sangue contaminado, via placentária e sêmen.

E no caso do HTLV1, pode também ser transmitido pelo leite materno.

O HIV resulta numa doença de imunossupressão grave, levando a infecções

oportunistas. Já o HTLV1 causa uma doença em nível do sistema nervoso central e leucemia

numa fase mais adiantada da doença.

O diagnóstico laboratorial ocorre pela identificação dos anticorpos pesquisados nos

ensaios por ELISA, aglutinação em látex e western blotting.

Page 99: Microbiologia Clínica

98

36 RHABDOVÍRUS

Os membros da família Rhabdoviridae são envelopados com formato de bala e

nucleocapsídeo helicoidal. A fita de RNA é simples. Os micro-organismos dessa família são os

causadores da raiva.

A transmissão ocorre após a mordida de cães, gatos e morcegos, principalmente. Após

a replicação viral no local da mordida, ascende por meio dos axônios para o sistema nervoso

central, onde se dissemina e então desce por meio dos nervos periféricos para a pele e

glândulas salivares.

O diagnóstico ocorre por meio da autópsia do tecido cerebral e fragmentos de pele ou

córnea que contenham pelos para pesquisa de antígenos ou inclusões.

Page 100: Microbiologia Clínica

99

37 ARENAVÍRUS

Essa família Arenaviridae é composta por vírions pleomórficos, contendo dois

segmentos de RNA fita simples. São também envelopados de forma esférica e possuem

nucleocapsídeo helicoidal.

Esses vírus são transmitidos por excretas de roedores que causam a doença febril

(Febre Lassa), às vezes complicada por meningite asséptica ou doença hemorrágica grave.

Page 101: Microbiologia Clínica

100

38 REOVÍRUS

As espécies que representam a família dos Reoviridae são os agentes causadores da

doença diarreica (rotavírus). São vírus de forma icosaédrica com nucleocapsídeo de camada

dupla icosaédrico. Seu genoma é composto por fita dupla de DNA.

A infecção ocorre via fecal-oral. E o vírus resiste muito bem aos ácidos estomacais.

Page 102: Microbiologia Clínica

101

39 CORONAVÍRUS

A família Coronaviridae possui indivíduos RNA fita simples, é envelopada com a forma

esférica (coroa) e o nucleocapsídeo é helicoidal.

Os representantes dessa espécie causam o resfriado comum e são contraídos por

gotículas respiratórias.

Page 103: Microbiologia Clínica

102

40 PRÍONS (SCRAPIE)

Provavelmente não são vírus. O agente infectante replica-se inexoravelmente nos

tecidos linfoides, e então nas células cerebrais onde produz vacúolos intracelulares. As doenças

causadas são: encefalite espongiforme, doenças de príons e doença de Creutzfeldt-Jacob.

Por muito tempo, as doenças causadas por príons cujo protótipo é o scrapie de

carneiros foram classificadas como vírus lentos devido ao longo período de incubação. Isso

porque são doenças infecciosas, esporádicas ou genéticas.

Page 104: Microbiologia Clínica

103

41 OS FUNGOS

Os fungos (do latim fungus = cogumelo) têm sido tradicionalmente considerados como

"semelhantes a plantas". A maioria das espécies cresce por extensão continua e ramificação de

estruturas filiformes. Em adição, eles são imóveis em sua maioria e suas paredes celulares

assemelham-se às de plantas em espessura e, até certo ponto, em composição química e em

estrutura ultramicroscópica. São seres heterotróficos, essencialmente aeróbicos, com limitada

capacidade anaeróbia. O material de reserva é o glicogênio.

Os fungos crescem como células únicas, as leveduras, ou como colônias filamentosas

multicelulares, os bolores e cogumelos (Figura 22). As formas multicelulares não possuem

folhas, caules ou raízes e são muitas menos diferenciadas do que as plantas superiores, porém

são muito mais diferenciadas do que as bactérias. Contudo, os fungos não possuem pigmentos

fotossintéticos e, assim, eles estão restritos a uma existência saprofítica ou parasita. Uma única

célula uni-nucleada pode produzir cordões multinucleares filamentosos, leveduras, órgãos de

frutificação com diversos esporos e células que são diferenciadas sexualmente (em muitas

espécies). Ainda mais, algumas espécies formam notáveis armadilhas para a captura de vários

microrganismos.

FIGURA 22 – FIGURA QUE REPRESENTA AS FORMAS DE CRESCIMENTO DOS FUNGOS.

À ESQUERDA, FORMA UNICELULAR (LEVEDURA); À DIREITA, FORMA FILAMENTOSA

MULTICELULAR (BOLOR DE PÃO)

FONTE: Alterado de http://www.infoescola.com/biologia/leveduras/ e

http://ciencias3c.cvg.com.pt/setimo/reinos.html

Page 105: Microbiologia Clínica

104

Os fungos são abundantes no solo, nos vegetais e em massas de água, onde vivem

em folhas mortas ou em madeira (Figura 23). Seus esporos ubíquos, transportados pelo ar, são

frequentemente incômodos contaminadores de culturas de bactérias e de células de mamíferos.

De fato, foi um desses contaminadores numa cultura de estafilococos que eventualmente levou a

descoberta da penicilina.

FIGURA 23 – LOCALIZAÇÃO DOS FUNGOS. (A) CRESCIMENTO EM MADEIRA; (B)

CRESCIMENTO EM MASSA DE ÁGUA; (C) CRESCIMENTO EM SOLO; (D) CRESCIMENTO

EM RESTOS DE VEGETAIS

B

C D

A B

C D

A

FONTE: O autor

ESTRUTURA E CRESCIMENTO

Bolores

O principal elemento da forma vegetativa ou de crescimento de um bolor é a hifa (do

grego hyphe= teia), uma estrutura tubular ramificada com cerca de 2 a 10 µm de diâmetro, isto

é, muito maior do que as bactérias. À medida que uma colônia, ou talo, cresce, suas hifas

formam uma massa de filamentos enovelados, chamadas micélio (do grego mykes= cogumelo).

As hifas crescem pelo alongamento de suas pontas (crescimento apical) e pela

produção de ramificações laterais (Figura 24). As hifas que penetram no meio, onde absorvem

Page 106: Microbiologia Clínica

105

nutrientes, são coletivamente conhecidas como o micélio vegetativo, enquanto que aquelas que

se projetam acima da superfície do meio constituem o micélio aéreo; como esse último. Via de

regra, tem células reprodutivas ou esporos e é também chamado micélio reprodutivo.

FIGURA 24 – CRESCIMENTO DA HIFA A PARTIR DE UM ESPORO

FONTE: http://www.uygardergi.com/kavramlar/0cimlenme.gif

A maioria das colônias cresce na superfície de meios líquidos ou sólidos como lençóis

irregulares, secos e filamentosos. Devido ao enovelamento das hifas filamentosas, as colônias

são mais resistentes do que as de bactérias. No centro das colônias micelianas, as hifas são

frequentemente necróticas devido à falta de suprimento de nutrientes e de oxigênio e talvez ao

acúmulo de ácidos orgânicos.

Na maioria das espécies, as hifas são divididas por paredes transversas, chamados

septos (do latim septum = cerca, divisão). Contudo, os septos possuem finos poros centrais; daí

mesmo as hifas septadas serem cenocíticas, isto é, seus múltiplos núcleos estarem incluídos

numa massa contínua de citoplasma (Figura 25).

Page 107: Microbiologia Clínica

106

Leveduras

As leveduras são fungos unicelulares ovais ou esféricos, geralmente de 3 a 4 µm de

diâmetro. Às vezes as leveduras e sua progênie aderem entre si e formam cadeias ou "pseudo-

hifas".

FIGURA 25 – A FIGURA À ESQUERDA REPRESENTA UMA ESPÉCIE DE HIFA COM

PAREDES TRANSVERSAS CHAMADAS SEPTOS, HIFAS SEPTADAS. E A FIGURA À

DIREITA REPRESENTA UMA HIFA CENOCÍTICA COM MÚLTIPLOS NÚCLEOS

FONTE: Alterado de http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA0-sAG/fungos

Citologia

Tanto as leveduras e como os bolores assemelham-se a plantas superiores e a

animais na complexidade anatômica de suas células. São eucarióticos, com vários cromossomos

diferentes e uma membrana nuclear bem definida, possuindo mitocôndrias e um retículo

endoplasmático. Ainda mais, suas membranas contêm esteróis, assemelhando-se, assim, a

formas superiores e não a bactérias.

PAREDE CELULAR

Page 108: Microbiologia Clínica

107

A parede celular de um fungo, como a de bactérias, fica do lado imediatamente externo

da membrana limitante do citoplasma e, em algumas leveduras, está envolvida por um

polissacarídeo capsular externo. Contudo, ao contrário das bactérias, cujas paredes celulares

frequentemente contêm unidades estruturais como se fossem tijolos, as paredes celulares dos

fungos parecem ser entrelaçadas.

Do mesmo modo que nas bactérias, os polissacarídeos da parede celular dos fungos

são sintetizados de vários nucleotídeos de açúcares. A quitina-sintetase está ligada à membrana

celular. In vitro, Ela necessita de um iniciador, que deve conter pelo menos seis ou sete resíduos

conectados, como acontece na quitina. Um antibiótico nucleotídico a poloxina D é um inibidor

seletivo da quitina-sintetase. Ele inibe a incorporação de 14C-glicosamina na parede celular de

Neurospora crassa, o que resulta num aumento do acúmulo de uridina-difosfato-N-acetil-

glicosamina.

As paredes de várias leveduras contêm complexos de polissacarídeos com proteínas

ricas em resíduos de cistina e a redução reversível de ligações tem sido implicada na formação

de brotos. Em algumas leveduras, lipídeos contendo fósforo e nitrogênio também são

abundantes na parede (até 10% do peso seco).

As paredes celulares dos fungos podem ser digeridas por enzimas contidas nos sucos

digestivos do caracol Helix pomatia. Esses sucos contêm mais de 30 atividades enzimáticas

conhecidas, incluindo glucanase, quitanase e mananase. Foram também isoladas, de amostras

de solo, bactérias que produzem enzimas líticas para essas paredes pela aplicação da técnica

de enriquecimento com paredes celulares purificadas, como fonte de carbono.

Como nas bactérias, a digestão das paredes das leveduras e dos bolores em solução

hipertônica produz protoplastos viáveis. Também se produzem protoplastos pelo crescimento em

meios que inibem a síntese da parede celular. Os protoblastos de leveduras são deficientes em

algumas das hidrolases das células intactas, como invertase e β-fructosidase. Essas

observações sugerem que, assim como nas bactérias, as enzimas secretadas estão localizadas

no espaço periplasmático.

REPRODUÇÃO

Além de crescerem por extensão apical e por ramificação, os fungos reproduzem-se

por meio de ciclos sexuais e assexuais e também por um processo parassexual. A grande

maioria dos fungos patogênicos para o homem não possui sexualidade.

Page 109: Microbiologia Clínica

108

Reprodução assexuada

O crescimento vegetativo de um micélio cenocítico envolve divisão nuclear sem divisão

celular, sendo que o processo clássico de mitose assegura a transmissão de um complemento

total de cromossomos para cada núcleo resultante.

O passo seguinte da divisão celular leva a reprodução assexuada (vegetativa), isto é, a

formação de um novo clone sem envolvimento de gametas e sem fusão nuclear.

São conhecidos três mecanismos: (I) esporulação, seguida da germinação dos

esporos; (II) brotamento; e (III) fragmentação das hifas.

Os esporos assexuados são às vezes chamados conídios; mais frequentemente, esse

termo é reservado para os esporos assexuados que se formam nos terminais ou nos lados das

hifas. Outros esporos assexuados (clamidósporos e artrósporos) desenvolvem-se dentro das

hifas.

Os esporos germinam quando plantados num meio congenial, isto é, eles se tornam

alargados e, se destinados a formar um bolor, emitem um ou mais tubos germinativos. Os tubos

alongam-se em hifas dando surgimento a uma nova colônia.

Os clamidósporos, que podem ser formados por muitos fungos, apresentam parede

espessa e são excepcionalmente resistentes ao calor e à dessecação; eles são provavelmente

formados da mesma forma que os esporos bacterianos, por endosporulação verdadeira e, de

modo semelhante, promovem a sobrevida em ambientes desfavoráveis. Em contraposição, os

artrósporos, que se formam pela fragmentação das hifas, e os conídios, que se formam por um

processo semelhante à gemulação, não são excepcionalmente resistentes; é provável que eles

ajam para promover a disseminação aérea.

Os esporos, que contêm um ou vários núcleos, variam bastante em cor, tamanho e

forma. Sua morfologia e modo de origem constituem a principal base para a classificação dos

fungos que não possuem sexualidade. Algumas espécies produzem somente uma espécie de

esporos e outras produzem até quatro tipos diferentes.

Brotamento é o processo de reprodução assexuada prevalente nas leveduras, apesar

de algumas espécies dividirem-se por fissão (leveduras de fissão). Enquanto que nesta (o

Page 110: Microbiologia Clínica

109

processo reprodutivo comum em quase todas as bactérias) um antecessor se divide em duas

células-filhas de tamanho essencialmente igual, no brotamento a célula-filha é a principio muito

menor do que a célula primitiva. À medida que o broto sai da célula primitiva, o núcleo desta

divide-se e um deles passa para o broto. O material da parede celular, então, interpõe-se entre o

broto e a célula primitiva e eventualmente aquele desliga-se. Pela micrografia eletrônica,

podemos ver uma cicatriz de nascimento na parede da célula-filha e uma cicatriz de brotamento

na parede da célula primitiva. Como resultado de repetidos brotamentos, velhas células de

levedura apresentam muitas cicatrizes de brotamento, mas têm apenas uma cicatriz de

nascimento.

Os fragmentos de hifas (p. ex., formados pela ruptura de um micélio) são também

capazes de formar novas colônias. Essa capacidade é frequentemente explorada no cultivo dos

fungos, mas é provável que não seja importante na natureza.

Reprodução sexuada

Os fungos que apresentam reprodução sexuada seguem os seguintes passos: (I) um

núcleo haploide de uma célula doadora (macho) penetra no citoplasma de uma célula receptora

(fêmea); (II) os núcleos macho e fêmea fundem-se para formar um núcleo zigoto, diploide; (III)

por meio de meiose, o núcleo diploide do surgimento a quatro núcleos haploides, sendo que

alguns deles podem ser recombinantes genéticos.

Na maioria das espécies, a condição haploide é a que está associada a um

crescimento vegetativo prolongado e o estado diploide é transitório, mas em outras espécies,

como nos animais superiores, o inverso é verdadeiro.

Dimorfismo

Algumas espécies de fungos crescem somente como bolores e outras apenas como

leveduras. Muitas espécies, contudo, podem crescer em ambas as formas, dependendo do meio

ambiente. Essa capacidade e conhecida como dimorfismo. Ela é clinicamente importante, pois a

Page 111: Microbiologia Clínica

110

maioria dos fungos mais patogênicos para o homem é dimórfica; vias de regra aparecem nos

tecidos infectados por leveduras, mas quando cultivados in vitro, em condições convencionais,

aparecem como bolores típicos.

O dimorfismo pode ser experimentalmente controlado pela modificação das condições

culturais. Alguns fungos produzem formas micelianas ao crescerem na superfície de meios

líquidos de cultura, e formas de levedura quando o crescimento se dá na profundidade desses

meios. Para o seu desenvolvimento, os fungos exigem sempre uma fonte orgânica de carbono,

que será utilizada como material plástico ou energético. A fonte de nitrogênio pode ser

inorgânica.

Por exigirem carbono orgânico exógeno para as reações oxidativas na produção de

energia necessária ao seu desenvolvimento, os fungos são classificados como heterotróficos e

quimiorganotróficos. Os fungos podem ser saprófitas e parasitas (facultativos ou obrigatórios),

conforme vivam de fontes de alimento existentes livres ou em hospedeiros. As fontes orgânicas

podem ser bastante simples, como os álcoois, cetonas, aldeídos, gorduras, ácidos. Ou

complexas como proteínas, polissacarídeos e polipeptídeos.

De modo geral, essas substâncias de moléculas grandes são digeridas por enzimas

até formas mais simples, num processo semelhante à digestão estomacal do homem, sendo o

processo, porém, sempre externo, isto é, no próprio meio circundante, o que permite a

assimilação fácil do alimento.

Algumas vezes, certas substâncias, como os aminoácidos, podem funcionar como

fontes de carbono e nitrogênio, podendo ser utilizadas como substâncias energéticas ou

plásticas.

FATORES DE CRESCIMENTO

O fator de crescimento é: "qualquer composto orgânico que não pode ser sintetizado

por um dado organismo e que deve ser fornecido ao mesmo, intacto".

Muitas espécies de fungos, para o seu desenvolvimento, podem exigir os chamados

fatores de crescimento, ou os chamados "bios” de WILDIERS, os quais, geralmente, devem ser

Page 112: Microbiologia Clínica

111

fornecidos em pequeníssimas quantidades. Esses fatores podem ser classificados em

essenciais, estimulantes e condicionais.

Uma determinada espécie pode não exigir um fator de crescimento, porém algumas

amostras podem sofrer mutações e perder a capacidade de sintetizá-lo, passando assim, a

depender do mesmo.

Os fungos exigem certos microelementos, isto é, elementos químicos inorgânicos em

pequenas quantidades, como o ferro, zinco, manganês, cobre, molibdênio, cálcio, potássio.

Esses elementos podem ser adicionados ao meio.

De modo geral, os íons metálicos agem favoravelmente em pequenas concentrações,

tornando-se, porém, quando adicionados além de determinado limite, prejudiciais ao

crescimento.

METABOLISMO

Os fungos têm sido instrumentos interessantes no estudo dos processos metabólicos,

tanto plasmático como energéticos, sendo de fácil manejo, tendo crescimento rápido e utiliza-se

de meios bem caracterizados quimicamente.

A via glicolítica ou da fermentação alcoólica, ou via de EMBDEMMEYERHOFF-

PARNAS, é um dos exemplos de via metabólica conhecida em profundidade e que serve de

padrão para as pesquisas em outros mecanismos metabólicos. Ela apresenta interesse, ainda,

porque o organismo animal pode utilizar uma via semelhante para a degradação do açúcar.

Na fermentação alcoólica, há produção de energia que pode ser acumulada em

moléculas de ATP, responsáveis por importantes reações de óxido-redução. Aliás, os

carboidratos representam as principais fontes de energia e carbono para os micro-organismos de

modo geral.

Observa-se, nessa via, a formação de inúmeros produtos intermediários, com a

intervenção de muitas enzimas que catalisam reações de quinase, mutase, aldolase e

isomerase.

Page 113: Microbiologia Clínica

112

A via glicolítica, porém, não é a única via de degradação de carboidratos, havendo

outras, como o ciclo oxidativo das fosfopentoses, o ciclo de KREBS, entre outras. Os

mecanismos de óxido-redução, sistemas reversíveis de transferência de energia por meio de

hidrogênio ou de transporte eletrônico, são exercidos nas células dos fungos pelo mitocôndrio.

CLASSIFICAÇÃO

Os fungos de interesse médico estão incluídos atualmente em quatro subdivisões:

Zygomycotina, Ascomycotina, Basidiomycotina e Deuteromycotina (a classificação dos fungos é

baseada principalmente nas características dos esporos sexuados e dos corpos de frutificação

assexuados).

Page 114: Microbiologia Clínica

113

42 ESTUDO VISUAL DOS FUNGOS

Os fungos podem ser observados como colônias em placas ou ao microscópio.

ESTUDO MACROSCÓPICO

O estudo macroscópico deve ser baseado nas seguintes características:

a) velocidade de crescimento (lento, médio ou rápido);

b) aspecto cotonoso, algodonoso, lanoso, penugento, cremoso, céreas, membranosas,

coriáceas, gomosas, aveludadas, granulosa ou terrosa;

c) cor;

d) verso e anverso;

e) pigmento da colônia;

f) pigmento difusível;

g) consistência (duras, moles, friáveis, pastosas);

h) contorno arredondado, ameboide, rizoide, festonada;

i) bordos limitados ou não, elevados, franjados, adentram no meio;

j) topografia da superfície (dobras, sulcos, elevados, plana estriada);

l) presença de micélio aéreo ou profundo;

m) topografia do reverso.

ESTUDO MICROSCÓPICO

Page 115: Microbiologia Clínica

114

O estudo microscópico deve ser baseado nas seguintes características:

a) hifas tubulares, simples ou ramificadas, constituindo em seu conjunto o micélio;

b) hifas não septadas;

c) hifas septadas, parciais, completas ou perfuradas;

d) hifas vegetativas e aéreas;

e) leveduras redondas ou ovais.

Page 116: Microbiologia Clínica

115

43 IDENTIFICAÇÃO E ISOLAMENTOS DOS FUNGOS

O diagnóstico laboratorial de infecções fúngicas no homem segue procedimentos

gerais abaixo discriminados:

a) coleta do material clínico e transporte ao laboratório especializado;

b) preparação e exame microscópico direto de uma parte do material a analisar;

c) culturas em meios de enriquecimento;

d) culturas em meios de isolamento e posteriormente isolar o agente em cultura pura;

e) avaliação quantitativa do fungo no material clínico a analisar;

f) diferenciação das colônias quanto à morfologia macroscópica, morfologia

microscópica, bioquímica, experimentação em animais, tipagem, determinação da sensibilidade

do agente causal a agentes antifúngicos;

g) testes sorológicos para detecção de antígenos fúngicos (no soro, na urina, no líquido

cefalorraquidiano) e detecção de anticorpos no soro e no líquido cefalorraquidiano.

O isolamento de fungos deve ser recomendado em função da identificação do isolado

e sua correlação com o achado em exame direto, da realização de testes de sensibilidade a

drogas no seguimento do tratamento. Por isso, uma alíquota do material é semeada em meio

para isolamento. O meio padrão empregado é o Agar Sabouraud glicose a 2%, com antibióticos

para supressão da microbiota bacteriana. A maioria dos cultivos devem ser deixados a

temperatura ambiente.

Page 117: Microbiologia Clínica

116

44 MICOSES SUPERFCIAIS

Os fungos causadores das micoses superficiais são os classificados como

dermatófitos. Este é um termo genérico para aqueles fungos que invadem as camadas

superficiais da pele. Dentre os fungos envolvidos, os que mais têm importância são:

Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton.

Estes são fungos filamentosos que invadem as estruturas ceratinizadas de superfície

(pele, cabelo e unhas). As hifas penetram entre as células. A transmissão ocorre por meio do

material fúngico das escamas da pele. Após a contaminação ocorre a inflamação cutânea,

pruridos e algumas reações localizadas de hipersensibilidade.

Page 118: Microbiologia Clínica

117

45 MICOSES PROFUNDAS

Os fungos causadores das micoses profundas compreendem os gêneros: Aspergillus,

Blastomyces, Candida, Coccidioides e Histoplasma.

ASPERGILLUS

Existem três espécies de importância Aspergillus flavus, Aspergillus niger (Figura 26) e

Aspergillus fumigatus (a mais importante).

Esses são fungos filamentosos que provocam infecções oportunistas em hospedeiros

imunocomprometidos. Estão também bem difundidos no ambiente externo. E quando infectam,

difundem-se para o pulmão e vasos sanguíneos.

A infecção ocorre pela inalação dos conídeos (fase aerógena) e provoca trombose e

infarto (quando nas veias sanguíneas) e provoca bloqueio das vias aéreas por massa fúngica e

reação alérgica broncopulmonar (quando nos pulmões).

BLASTOMYCES

Dentro desse gênero, a principal espécie é a Blastomyses dermatitidis. Este fungo

dimórfico invade o pulmão e pode se disseminar por todo o organismo. Causador da

blastomicose por inalação de esporos aerógenos.

A infecção fúngica dos pulmões pode se apresentar na forma de tuberculose e produzir

abscessos.

Page 119: Microbiologia Clínica

118

FIGURA 26 – CRESCIMENTO EM MEIO SÓLIDO DE ASPERGILLUS NIGER. AS SETAS

MOSTRAM HIFAS AÉREAS E VEGETATIVAS

FONTE: O autor.

CÂNDIDA

A Candida albicans com características dimórficas apresenta-se como leveduras nas

superfícies mucosas como componente da microbiota. Quando invadem o tecido, podem formar

hifas provocando lesões mucocutâneas localizadas em pacientes estressados. A doença que

causa comumente é a candidíase.

COCCIDIOIDES

Dentro desse gênero (Figura 27), temos os Coccidioides immitis, que crescem como

hifas no solo, mas são semelhantes a leveduras em cápsulas nos tecidos. A via de

contaminação ocorre pela inalação de artroconídeos.

Se a infecção ficar contida no pulmão, provoca uma doença branda, mas a

disseminação pode acarretar uma doença grave.

Page 120: Microbiologia Clínica

119

FIGURA 27 – ESFREGAÇO EM LÂMINA MOSTRANDO AS FORMAS COCCIDIOIDES

FONTE: http://acd.ufrj.br/LabImgBio/Micologia/

HISTOPLASMA

O Histoplasma capsulatum, é um fungo dimórfico que cresce no formato de hifas no

solo em fezes de pássaros. A infecção ocorre pela inalação de esporos via aerógena, causando

a uma doença pulmonar aguda ou crônica e uma doença grave que pode resultar da

disseminação para outros órgãos.

Uma vez no pulmão, os fungos crescem como leveduras e podem sobreviver

intracelularmente após fagocitose.

Page 121: Microbiologia Clínica

120

46 Pneumocystis carinii

São organismos que invadem o trato respiratório e vivem extracelularmente nos

alvéolos. Antigamente eram classificados como protozoários esporozoários, mas atualmente são

classificados dentro do reino Fungi.

Esses fungos causam uma doença semelhante à pneumonia e pode ser graves em

pacientes imunocomprometidos. E a sua transmissão ocorre presumivelmente por gotículas.

Page 122: Microbiologia Clínica

121

47 PROTOZOÁRIOS

O estudo da microbiologia abrange todos os organismos microscópicos, ou seja, os

micro-organismos invisíveis a olho nu. Portanto, o termo micro-organismos é usualmente

empregado de maneira restrita, primariamente aos vírus, bactérias e organismos relacionados.

Algumas vezes, protozoários (parasitas) também têm sido incluídos como agentes secundários,

mas em geral, são tratados como objetos de outras disciplinas, como a parasitologia.

Os protozoários são eucariotos unicelulares, abundantes como organismos de vida

livre no ambiente, mas são importantes parasitas do homem.

A prevalência das infecções é maior em países de clima quente. A transmissão dos

parasitos protozoários ocorre de maneiras variadas, mas as duas vias mais comuns são: picada

de insetos hematófagos e da ingestão acidental dos estágios infectantes.

Os protozoários infectam todos os tecidos e órgãos importantes do hospedeiro e vivem

como parasitos intracelulares em uma ampla variedade de células, ou ainda, como parasitos

extracelulares no sangue, no intestino e no sistema genitourinário.

A transmissão entre hospedeiro depende da produção de estágios resistentes que são

expelidos por um hospedeiro e subsequentemente ingeridos por outros. Os insetos vetores

também estão envolvidos nesta transmissão e os estágios infectantes desenvolvem-se depois de

o inseto alimentar-se em um indivíduo infectado, para então serem introduzidos no novo

hospedeiro durante a próxima hematofagia.

CLASSIFICAÇÃO

Os protozoários são classificados em quatro grandes divisões que refletem sua

estrutura, motilidade e modo de vida. A divisão:

a) esporozoários: contém apenas parasitos intracelulares;

b) flagelados: locomove-se pela movimentação de um ou mais flagelos;

Page 123: Microbiologia Clínica

122

c) amebas: locomove-se por pseudópodos, não apresentam forma fixa;

d) ciliados: locomove-se por meio da movimentação dos vários cílios.

Cryptosporidium parvum

Essa espécie é um esporozoário intestinal que invade e reproduz-se nas células

epiteliais do intestino delgado. Formam oocistos que são eliminados nas fezes. A forma de

infecção é por meio da ingestão de oocistos infectantes.

Entamoeba histolytica

É uma ameba intestinal, e vive como trofozoito produzindo cistos resistentes que são

eliminados nas fezes. A transmissão ocorre via fecal oral.

Giardia lamblia

É um micro-organismo flagelado que vive no intestino e habita a mucosa do intestino

delgado. A forma de infecção ocorre após ingestão de cistos, por meio da água contaminada.

Leishmania

Esse gênero compreende várias espécies de importância médica. Tais espécies são:

Leishmania brasiliensis, Leishmania donovani, Leishmania amazonensis.

Page 124: Microbiologia Clínica

123

Os micro-organismos que fazem parte desse gênero são esporozoários de vida

intracelular. Eles são transmitidos por mosquitos flebótomos.

Plasmodium

O gênero contém quatro espécies causadoras de doença: Plasmodium falciparum,

Plasmodium malariae, Plasmodium ovale e Plasmodium vivax.

Os micro-organismos que fazem parte desse gênero são esporozoários de vida

intracelular. Eles são transmitidos pela picada do mosquito anofelino infectado.

Toxoplasma gondii

São esporozoários intracelulares que formam cistos teciduais grandes. O hospedeiro

natural é o gato, onde o parasita apresenta um ciclo entérico produzindo oocistos nas fezes. No

homem, os micro-organismos podem invadir muitos tecidos. A transmissão ocorre por meio da

ingestão de oocistos eliminados pelos gatos, ingestão de cistos tecidual em carne crua ou mal

cozida e transmissão vertical.

Trichomonas vaginalis

Esse parasita é um flagelado do sistema urogenital de mulheres e ocasionalmente de

homens. Não há cistos, apenas trofozoitos. A transmissão é venéria.

48.9 Trypanosoma

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124

Esse gênero contém três espécies que causam doenças: Trypanosoma gambiense,

Trypanosoma rhodesiense e Trypanosoma cruzi. São micro-organismos flagelados do sangue e

tecidos (intracelulares). A transmissão ocorre após o repasto sanguíneo de insetos hematófagos.

Page 126: Microbiologia Clínica

125

48 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje há uma certa pressão para que nós reconsideremos nossa opinião sobre o

enfoque do estudo da microbiologia, em termos de micro-organismos que usualmente devem ser

considerados em um livro texto. E também em termos do contexto que eles, e as doenças que

causam, são discutidos. Existem duas razões para se chegar a essa conclusão:

a) um conhecimento mais abrangente das bases biológicas da infecção, da doença,

interações parasito-hospedeiro e da epidemiologia da doença infecciosa;

b) com os atuais conhecimentos disponíveis, sabe-se que a resposta do hospedeiro é

uma interação coordenada e sutil que envolve os mecanismos inatos e adaptativos de

resistência, independente da natureza e identidade do micro-organismo envolvido.

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GLOSSÁRIO

Abscesso: acúmulo de pus em tecido ou órgão situado em uma cavidade; consequência de um

processo infeccioso.

Aeróbio: micro-organismo que tem necessidade de oxigênio para viver; que só se desenvolve

em presença do ar.

Aerossol: solução em que a fase dispersora é gasosa e a fase dispersa é gasosa ou líquida.

Agar: extrato polissacarídeo de algas marinhas do gênero Gelidium, constituído de unidades

monomérica de galactose e ácido galacturônico.

Aglutinação: formação de agregados suficientemente grandes, de células interligadas por

pontes moleculares de anticorpos que se combinam simultaneamente com determinantes

antigênicos específicos.

Alça de platina: instrumento de metal com alça na extremidade sustentada por um cabo.

Utilizado para a inoculação de micro-organismos (ou amostras clínicas) em meios de cultura.

Alfa Hemólise: hemólise incompleta causada por micro-organismos, na qual as hemácias do

meio Agar retraem-se e tornam-se esverdeadas, ocorrendo apenas na presença do oxigênio

devido à redução da hemoglobina.

Anaeróbio: micro-organismos que não necessitam de oxigênio para o seu crescimento.

Antibiograma: método utilizado para determinar a sensibilidade de um micro-organismo a

antibióticos/quimioterápicos, por meio de difusão em Agar.

Antimicrobiano: substância química capaz de matar ou suprimir o crescimento de micro-

organismos. Antibiótico.

Antisséptico: substância que impede a proliferação de micro-organismos; desinfetante.

Antissepsia: ato de matar, prevenir e/ou inibir o crescimento de micro-organismos na pele ou

mucosas.

Assepsia: processo no qual se afastam os micro-organismos infecciosos ou contaminantes, por

meio do calor e agentes químicos.

Autoclavagem: processo mais efetivo de esterilização que utiliza a técnica do calor úmido, por

meio do vapor saturado sob pressão. Autoclave.

Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR): bacilos resistentes à descoloração por uma

solução álcool-ácida, durante a coloração pelo método de Ziehl-Neelsen.

Bacitracina: antibiótico utilizado em teste microbiológico para identificação presuntiva de

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Streptococcus pyogenes.

Bacteriemia: presença de bactérias no sangue.

Bactericida: agente antibacteriano capaz de destruir bactérias.

Bacteriostático: agente antibacteriano que inibe o crescimento de bactérias.

Bacteriúria: presença de bactérias na urina.

Beta Hemólise: hemólise completa causada por micro-organismos, no qual ocorre o

clareamento do meio Agar sangue ao redor das colônias.

Beta Lactamases: enzimas que destroem ou inativam penicilinas e/ou cefalosporinas. Podem

ser produzidas por uma variedade de micro-organismos Gram positivos e Gram negativos.

Cápsula bacteriana: camada viscosa, geralmente incolor, que envolve a parede celular de

algumas bactérias. Usualmente são de natureza polissacarídea.

Catalase: enzima produzida por algumas bactérias capaz de degradar o peróxido de hidrogênio

em água e oxigênio.

Cateter: estrutura tubular flexível usada para drenar fluídos de cavidades ou vasos.

Cistite: infecção localizada na bexiga.

Coagulase: enzima com atividade semelhante à da protrombina, capaz de produzir a

coagulação sanguínea.

Coleta: obtenção de amostras biológicas para exame laboratorial.

Colônia bacteriana: crescimento macroscopicamente visível de micro-organismos na superfície

de meios de cultura sólida.

Colonização: crescimento bacteriano em determinadas áreas do organismo do hospedeiro.

Coloração de Gram: método de coloração que consiste basicamente em tratar bactérias

sucessivamente com cristal violeta, lugol, álcool e fucsina.

Coloração Ziehl-Neelsen: método de coloração específico para bactérias álcool-ácido

resistentes.

Contaminação: introdução de micro-organismos em artigos, materiais, meios de cultura ou

tecidos estéreis.

Cultura: população de micro-organismos em crescimento, em determinado meio.

Desinfecção: processo que mata ou remove micro-organismos patogênicos, com exceção de

esporos bacterianos.

Diplococos: cocos agrupados aos pares após a divisão.

Esfregaço: suspensão ou amostra bacteriana espalhada de maneira uniforme e em uma fina

camada sobre uma lâmina de vidro.

Estéril: totalmente isento de qualquer micro-organismo.

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Esterilização: ato ou processo que destrói ou elimina todos os micro-organismos vivos de um

material ou ambiente.

Exsudato: líquido orgânico seroso, fibrinoso ou mucoso, proveniente de locais inflamados.

Gastroenterite: síndrome caracterizada por sintomas como náusea, vômito, diarreia e

desconforto abdominal.

Gram Positivo: coloração de bactérias onde o tratamento com álcool não retira o complexo

cristal violeta+lugol

Gram Negativo: coloração de bactérias onde o tratamento com álcool extrai o complexo cristal

violeta+lugol deixando as células descoradas.

Hematúria: presença de hemácias na urina.

Hemólise: destruição de hemácias com liberação da hemoglobina.

Incubação: manutenção das culturas bacterianas em condições de temperatura e aeração

favoráveis ao seu crescimento.

Infecção: invasão, multiplicação e disseminação de micro-organismos em tecidos resultando em

uma reação do hospedeiro.

“In Vitro”: reação que ocorre fora do corpo ou realizado em meios artificiais.

“In Vivo“: reação que ocorre no interior do corpo ou dentro de organismos vivos.

Inoculação: introdução ou transferência de amostras biológicas ou micro-organismos para uma

cultura estéril ou organismo, para subsequente identificação.

Meio de Cultura: preparação líquida ou sólida que contém nutrientes.

Optoquina: antibiótico utilizado em teste microbiológico na identificação presuntiva de

Streptococcus pneumoniae.

Piogênico: adjetivo que se refere à presença de infecção.

Piúria: presença de leucócitos polimorfonucleares na urina.

Placa de Petri: recipiente circular de vidro ou plástico utilizado na cultura de micro-organismos

em meio sólido

Sensibilidade: capacidade de um teste detectar corretamente a presença de uma doença.

Septicemia: doença sistêmica na qual micro-organismos multiplicam-se livremente.

Termoestável: que resiste ou não à inativação pelo calor.

Termolábil: inativado ou destruído pelo calor, geralmente a 560C durante 30 minutos.

Virulência: propriedade relativa à capacidade dos micro-organismos em causar doença.

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REFERÊNCIAS

KONEMAN,E. W. et al. Color Atlas Textbook of Diagnostic Micorbiology. 5. ed. Philadelphia:

J. B. Lippincott Company, 1997.

KONEMAN, E W. et al. Diagnóstico Microbiológico: texto e atlas colorido. 5. ed. Rio de

Janeiro: MEDSI, 2001.

MILLER, J. M. A Guide to Specimen Management in Clinical Microbiology. Washington, D.C:

American Society for Microbiology, 1996.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE. Manual de condutas em

exposição ocupacional a material biológico. Brasília, 1999.

MIMS, C. A. et al. Microbiologia Médica. São Paulo: Manole, 1995.

SPICER, J. W. Bacteriologia, Micologia e Parasitologia Clínicas. Rio de Janeiro: Guanabara

& Koogan, 2002.

TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.