Microeconomia

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Faculdade de Direito de LisboaEconomia Poltica

Resumos de:

Microeconomia

CAPTULO 1Conceitos Introdutrios

A Economia uma cincia social que pretende estudar a conduta humana nas suas interaces colectivas, fazendo-o com distanciamento analtico, de um modo sistemtico e recorrendo a uma metodologia explcita. - definio de economia

a) A afectao de recursos escassos

A Economia trata das escolhas que a escassez de bens e recursos disponveis impe para que se satisfaam as necessidades.A escassez no um postulado da cincia econmica; a Economia determina muitas ocasies em que se atinge um ponto de saciedade (ausncia de escassez, ou seja, equilbrio ou mesmo superabundncia dos meios face s necessidades que eles podem satisfazer). Apesar das divergncias doutrinrias, praticamente todos concordam que o problema econmico fundamental o da escassez e que o objectivo essencial da cincia econmica o de encontrar solues que permitam a sua minimizao e equilbrio.

i) Corolrios da escassez

1Se no fosse a escassez, as escolhas de que trata a Economia seriam irrelevantes, visto que uma opo errada quanto ao emprego de bens e recursos disponveis poderia sempre ser remediada, lanando-se mo de alternativas ilimitadas;

2 virtualmente impossvel atingirmos a saciedade de todas as necessidades que experimentamos (a escassez verifica-se globalmente e a procura potencial de meios que satisfazem necessidades excede sempre a oferta potencial desses meios);

3Algumas necessidades bsicas de sobrevivncia so recorrentes (a sua plena satisfao num momento no impede o seu ressurgimento posterior, peridico e cclico), como por exemplo: a alimentao.

4A escassez graduvel e relativa, j que a intensidade com que ela se verifica depende da prpria intensidade com que as necessidades so sentidas;5No sendo possvel uma utilizao indiscriminada e universal dos recursos, o facto de eles serem superabundantes para a satisfao de uma necessidade no significa que o excedente desses recursos possa ser reorientado, com um mnimo de eficincia, para outras necessidades.6Mesmo que, em abstracto, dispusssemos de todos os meios adequados satisfao plena de todas as necessidades, o tempo continuaria a ser escasso, impedindo a satisfao simultnea de todas as necessidades ( preciso comprar tempo alheio).

ii) O objecto da Economia

O tema central da Economia o estudo das decises individuais e colectivas tomadas em ambiente de escassez, enfatizando o grau de liberdade do agente e a interdependncia que se gera entre essas decises.

A Economia procura determinar as razes pelas quais da interdependncia de decises livres emerge uma ordem espontnea que muitas vezes dispensa uma supra-ordenao poltica, chegando mesmo a resistir-lhe ou a inutilizar os desgnios paternalistas ou tirnicos. No seu escrpulo realista, a Economia indaga as razes pelas quais essa ordem espontnea, apesar das esperanas que nela so depositadas, no evita alguns resultados patolgicos e socialmente nocivos.A Economia uma forma de anlise que procura acrescentar vrias dimenses compreenso da conduta social humana, fornecendo uma das mais rigorosas imagens possveis da natureza humana. Assim, pode colocar nfase inicial na racionalidade abstracta das escolhas ou nos constrangimentos contratuais e institucionais que ditam os caminhos legitimadores das solues que decorrem dessas escolhas (opo ou organizao)

ii) a) O institucionalismo (pp. 26 35) - raz classica; teoria do contrato social.

iii) A anlise econmica da racionalidade

A anlise econmica pode assumir uma de duas vias: a de olhar para os objectivos e determinar a racionalidade, a adequao dos meios (optimizao de meios) ou a de olhar para os meios disponveis e tentar justific-los, encontrar-lhes objectivos para os quais eles se afigurem racionalmente adequados (maximizao de fins).A forma como os indivduos afectam os recursos escassos obedece a uma racionalidade que no diferente daquela que eles empregam para um conjunto de outras decises que, no sendo caracteristicamente econmicas, no so menos importantes do ponto de vista individual e social.A racionalidade de que trata a cincia econmica essencialmente procedimental e raramente se aventura pelo plano dos fins. A racionalidade que pressupe no a ponderao minuciosa de todos os custos e benefcios associados totalidade de opes que o horizonte cognitivo possa abarcar, mas apenas uma resposta diferenciada e explicvel a estmulos variveis.Como estudo centrado na determinao e avaliao de escolhas racionais, a Economia tem muito a dizer sobre a modelao jurdica, na medida em que esta seja fruto ou objecto de escolhas sociais e se trate de prever os efeitos das regras jurdicas alternativas aplicadas quelas decises individuais.

iii) a) A optimizao

George Stigler formulou o princpio de optimizao: escolha de condutas que, de entre todas as possveis, apresenta a mxima diferena entre benefcios e custos.Custo de oportunidade: todos os benefcios que deixamos de receber por sacrificarmos as opes que tinham de ser preteridas em favor da conduta que escolhemos.A optimizao no pode evoluir a partir de uma anlise generalizada e minuciosa de custos e benefcios porque estes nem sempre so explicitveis e ponderveis, e tambm porque mesmo que isso fosse possvel, seria irracional despender o tempo que isso exigiria; da a vantagem do raciocnio marginal, que se concentra microscopicamente nos custos e vantagens de mais uma opo, de mais um bem, de mais um factor produtivo.Essa concentrao no mbito confinado da prxima deciso dentro de um processo incrementalista de optimizao que explica que o comportamento marginalista seja espontneo e inato nos agentes econmicos, capazes de resolver racional e eficazmente problemas mais imediatos e urgentes.A moeda um simples meio de acesso a recursos e no , em si mesma, um recurso daqueles cuja escassez obriga a escolhas e a decises optimizadoras e maximizadoras da satisfao das necessidades.A escola neoclssica essencialmente racionalista, pressupondo que as decises bsicas do agente econmico derivam de ponderaes atribuveis sua racionalidade, facilitando esta a produo de resultados maximizadores do bem-estar social.

Princpio defendido por Stigler:iii) b) Racionalidade limitada - Ligado a esta ideia, temos conceitos como "marginalismo na oferta e na procura", a primeira tendo como significado a ideia de utilidade decrscente e a segunda, a ideia de uma produo numa economia de escala.Marginalismo: a ltima utilidade que eu retiro de um determinado bem.Racionalidade limitada (Herbert Simon): conduta que pretende ser racional mas que no transcende a ponderao dos custos implcitos na racionalidade, substituindo o objectivo da maximizao pelo da satisfao, a exigncia do ptimo pela do meramente suficiente, daquilo que basta para se poder agir.Esta ideia de racionalidade limitada assenta na constatao de que o tempo limitado, um bem escasso e custoso na aquisio e anlise de informao completa e no desenvolvimento de um plano de optimizao.Assim, no s escolhemos um nvel de ignorncia racional como tambm nos agregamos em grupos de diviso de trabalho e partilha de informao. A nossa natureza gregria e a nossa complementaridade poderiam atribuir-se s necessidades criadas pela racionalidade limitada.O conhecimento, a informao de que a racionalidade se alimenta, lida com meios escassos como o tempo e a capacidade de assimilao e concentrao. Aquele que chamado a agir ter de procurar atalhos heursticos para esquematizar e padronizar os dados mnimos daquela informao e da deciso que se lhe siga, procurando reduzir os custos de deliberao e aumentar os ganhos provveis daquela antecipao aproximativa.Racionaidade pura - maximizao do interesse. O processo de deciso nunca poder ser conduzido a uma racionalidade pura.Custo de transaco - custo subjacente realizao de uma deciso racional segundo o princpio da lgica da optimizao.

b) As opes ditadas pela escassez

Uma parte significativa da vida comum dominada pela escassez e toda a escolha tem um custo, que consiste essencialmente no valor daquilo a que se renuncia para se obter aquilo por que se optou.

i) Eficincia e prioridades

A escassez igualmente condicionante de conflitos de fundo, como o que se regista entre a eficincia (objectivo quantitativo) e a justia (objectivo qualitativo).1A prioridade dada eficincia (afectao de recursos aos seus empregos com o mximo valor relativo) significa que o emprego de meios avaliado em termos de maximizao (capacidade de obter o maior rendimento possvel a partir de um determinado conjunto de meios) e essa prioridade implica orientaes polticas diversas das que seriam ditadas pela primazia da justia.

2A prioridade dada justia confere importncia forma como o rendimento repartido, forma como a igualdade verificada nas comparaes intersubjectivas de resultados distribudos, independentemente da dimenso total daquele rendimento cuja maximizao o alvo da eficincia.

A incompatibilidade da prossecuo simultnea destes dois objectivos um resultado da escassez dos recursos que podem ser afectados a cada um deles.Um uso eficiente de recursos aquele que resulta na produo dos bens e servios que mais apreciados so pelo maior nmero de pessoas, devendo isto significar que o aumento quantitativo dos meios um passo decisivo em direco optimizao das finalidades. Por outro lado, a distribuio justa de um resultado ineficiente pode ser injusta, por no satisfazer ningum.A eficincia a desejada consumao de regras de jogo que foram aceites por todos na integrao social e cujo desenvolvimento livre tambm uma forma de justia (procedimental) capaz de legitimar como justos os resultados que dela dimanam.Optimizar recursos procurar fazer com que se possa retirar deles um mximo de satisfao, ou seja, levar a respectiva explorao ao limite imposto pela escassez. No extremo oposto, a Economia lembra as decises entre objectivos que reputamos igualmente indispensveis, foradas pela escassez.c) As perguntas bsicas da deciso econmica

Toda a complexidade do processo econmico resulta da combinao e da sequncia das respostas que so dadas a um conjunto limitado de questes:

1. O que produzir, e quanto (e em que combinaes, e por quem, e onde)?1O crescimento da sofisticao no consumo leva constante multiplicao de necessidades secundrias ou civilizacionais, que implicam inovao (vai-se alargando o espao de opes e cada vez mais patente a escassez dos meios face multiplicao das suas possibilidades de uso).

2O progresso civilizacional faz com que o objectivo econmico mnimo deixe de ser o da mera sobrevivncia fsica para passar a ser o de uma determinada qualidade de vida, convertendo em necessidades primrias ou vitais aquelas que comearam por ser meras necessidades secundrias.

3Numa economia de mercado, as respostas a estas perguntas so fornecidas pelo mecanismo dos preos. Fora da economia de mercado, as respostas tm de ser dadas por um sucedneo poltico-jurdico.

4O mecanismo dos preos consegue a descoberta de uma relao quantidade- -preo que corresponda ao valor que os consumidores atribuem ao que buscam no mercado e ao custo que os produtores associam disponibilizao de bens e servios no mercado.

2. Como produzir (e como optimizar o modo de produzir)?1Como o enriquecimento do produtor depende do incremento da sua eficincia, deve explorar meios alternativos para a produo dos mesmos bens, procurando entre eles o mais eficiente.2As respostas a estas perguntas resultam de uma comparao de custos e benefcios, que se dificulta quando as decises afectam vrios produtores ou quando se reportam ao emprego de meios que possam ferir interesses pblicos.

3. Para quem produzir, e quando? 1O mecanismo de preos determina, numa economia de mercado, quem beneficia dos bens e servios produzidos: beneficiar mais aquele que tiver maior poder de compra e maior disposio de pagar.

2Estas respostas ganham complexidade quando a sociedade se interroga sobre a validade dos critrios de legitimao da desigualdade e da excluso, sobre a justia da preferncia pelo presente, do consumismo que levanta o problema da sustentabilidade ambiental dos nveis presentes de produo e consumo.

3Esta questo deve ter uma resposta condicionada por critrios de justia, segurana e ordem pblica.

4. Quem decide, e por que processo?1Economia de mercado: todo o mundo e ningum (todos contribuem para a formao de uma vontade colectiva mas ningum tem esse poder individualmente.

2Economia mista (concorre um sector privado e um sector pblico): o mecanismo do mercado contrabalanado pelo poder de deliberao do Estado, levantando-se uma questo de legitimidade.

3Economia dirigista (planificao central; uma entidade nica arroga-se o poder exclusivo de fornecer as respostas a todas estas perguntas): questo de legitimidade juntam-se outras como a da eficincia da direco e a da liberdade dos dirigidos.

5. Como confiar?1Economia mista ou dirigista: como assegurar que a actuao do Estado no se pauta por interesses que conflituaro com os interesses individuais?

2Economia de mercado: como ter a certeza de que os produtores e as organizaes que atingem maior dimenso no pervertem o poder de mercado em detrimento do equilbrio do mecanismo das trocas?

3Como podemos assegurar-nos de que, enquanto nos concentramos na parte que nos cabe na diviso de tarefas, aqueles de quem nos tornmos dependentes cumprem a parte deles?

4A estas questes deve responder o Direito, na sua dimenso de ordem jurdica de base estadual e internacional ou na de princpio de organizao convencional entre partes contratantes, que auto-regulam a sua interdependncia em termos de uniformidade, reciprocidade e confiana.

Um mercado operando em condies de liberdade, com um nvel concorrencial suficiente, pode responder com eficincia aos 4 primeiros grupos de questes, visto que os consumidores fazem reflectir as suas escalas de preferncias nos preos que propem ou aceitam, e que os produtores respondem a essas solicitaes com uma optimizao da relao quantidade-preo.

d) Custo de oportunidade e preo relativo

Uma escolha racional na medida em que se centra numa comparao subjectiva, mas desapaixonada, de custos e benefcios implicados nas vrias alternativas abertas opo utilidade ponderada: o resultado dessa ponderao.Custo de oportunidade: a mais valiosa das oportunidade que so preteridas quando se faz uma escolha; abarca aquilo que deixa de ser possvel fazer-se e obter-se para que possa alcanar-se aquilo por que se optou.A escassez e a irreversibilidade do tempo tornam crucial a ponderao de benefcios e custos de oportunidade, para que qualquer deciso econmica possa pautar-se por alguma medida de racionalidade.A dimenso temporal decisiva para a maior parte das valoraes econmicas e a maior parte dos custos em que incorremos resulta basicamente da perda de tempo que o alcanar de qualquer resultado implica.O custo de oportunidade espelhado no preo relativo de dois bens, que formado pelo mecanismo da oferta e da procura:

e) O raciocnio marginalista

A anlise da racionalidade econmica centra-se frequentemente, no naquelas decises que transportam instantaneamente a pessoa de um ponto de insatisfao total para a saciedade, mas naquelas pequenas decises que provocam pequenos incrementos de satisfao dentro de um plano decisrio que no raro as transcende nos seus valores totais.A maioria das decises de que a Economia se ocupa no so em rigor as de fazer ou deixar de fazer algo, mas as de fazer mais ou menos de algo, de intensificar ou reduzir o nmero de unidades empregues em apoio de uma determinada deciso ou actividade.No racional apegarmo-nos ao custo histrico e irrecupervel de um bem ou servio (sunk cost) para com ele condicionar a conduta.Custo marginal: valor da mais valiosa alternativa preterida para se conseguir produzir ou obter mais uma unidade de um bem ou servio.Benefcio marginal: valor dessa unidade suplementar do bem ou servio por que se optou.

Raciocinar em termos marginais significa optarmos por:1Produzir ou adquirir mais de um bem ou servio enquanto o benefcio de mais essa unidade exceder o correspondente custo de oportunidade;

2Produzir ou adquirir menos quando esse custo exceder o benefcio adicional;

3No produzir ou adquirir nem mais nem menos quando os dois valores coincidem.

f) O impacto dos incentivos na conduta

possvel condicionar a conduta de um agente econmico sem lhe retirar a sua liberdade de escolher e decidir, interferindo somente nos incentivos que so para ele o valor absoluto ou relativo dos ganhos e perdas esperados na sua prpria deciso, os pontos de referncia das suas escolhas e a sua motivao para agir.A questo dos incentivos, se relativamente simples no efeito que isoladamente provoca numa conduta individual, uma das mais complexas e difceis facetas da modelao da poltica econmica, no apenas porque supe que se conhea com um mnimo de rigor a reaco dos indivduos alterao dos incentivos, mas tambm porque um mesmo incentivo pode ter efeitos opostos quando estamos na presena de destinatrios com diferentes padres de reaco.A nfase nos incentivos crucial para se compreender a viabilidade das solues econmicas em contextos de liberdade social e poltica. Esta nfase tem a sua contrapartida, que o sacrifcio dos valores igualitrios: uma economia que assente na livre mecnica dos incentivos apela quilo que diferencia as pessoas.Uma economia que insista numa medida de nivelamento igualitrio em nome da justia social tem de contar com uma perda de incentivos e com as respectivas consequncias (queda do nvel de actividade econmica e da capacidade de gerar riqueza). Nenhuma medida econmica de fundo pode alhear-se deste dilema entre eficincia e justia, ou pode furtar-se ao preo imposto por qualquer soluo do dilema.

i) O postulado da racionalidade

Um dos pontos de partida da anlise econmica o da presuno de que a aco humana dominada, mesmo se no exclusivamente, por princpios de racionalidade, sendo possvel ao agente escolher livre e conscientemente uma de entre vrias alternativas de aco, optando normalmente pela que:1Apresenta a maior probabilidade de resultados ptimos, ao mesmo custo das demais alternativas;2Apresentando uma probabilidade de resultados ptimos igual das demais alternativas, tem um custo inferior ao destas.Tenta-se racionalmente minimizar os custos ou maximizar os ganhos, ou ambos simultaneamente: tenta-se o maior benefcio lquido, procurando minimizar desperdcios na obteno de quaisquer estados de satisfao.

A racionalidade econmica identifica-se com o princpio hedonstico, com a lei do menor esforo: aquele que, com o mesmo esforo dos demais, tiver alcanado mais elevado nvel de satisfao ter maximizado o sucesso da sua actividade econmica, minimizando as suas necessidades com os meios momentaneamente disponveis; aquele que, com menor esforo que os demais, alcanar o mesmo nvel de satisfao deles, conservou recursos que ficam disponveis para, de seguida, prolongar o nvel de satisfao alcanado.O que caracterstico do conceito de eficincia econmica a minimizao de custos na produo de riqueza, independentemente de quaisquer outras consideraes, embora costume ser relevante a considerao da eficincia tecnolgica, j que, por definio, no se evolui para uma eficincia econmica a partir de uma ineficincia tecnolgica.O conceito de racionalidade concentra-se mais no plano dos meios do que no da adopo dos fins, sendo a apreciao que sobre ela incide valorativamente neutra.O postulado da racionalidade decisivo para que possa acalentar-se a esperana de edificao de uma verdadeira cincia econmica, capaz de formular leis empricas com algum grau de generalidade e de rigor indutivo: se se admitir ao menos que a racionalidade predomina no plano de resposta do agente econmico aos incentivos, a conduta deste tornar-se- mais previsvel.

ii) As limitaes temporais e oramentais

A racionalidade do agente econmico manifesta-se e avalia-se dentro de um espao confinado; a, a estratgia de optimizao da satisfao de uma necessidade conflitua inevitavelmente com a actuao que requerida para se alcanar a satisfao das demais necessidades, pelo que das duas uma:1Ou se estabelece a inequvoca prioridade de uma necessidade e, temporariamente, ela beneficia do exclusivo do emprego de recursos, at que a sua progressiva satisfao lhe faa perder a prioridade;

2Ou, no caso contrrio, os recursos disponveis tm que ser seleccionados e combinados para que se consiga a satisfao simultnea e proporcionada das vrias necessidades concorrentes, sendo irracional que alguma delas seja preterida, mesmo que momentaneamente.

Nesta segunda hiptese, a gesto de recursos tornar transparente uma noo de rendimentos decrescentes ou de custos relativos crescentes, que balizar as decises concretas.Num contexto de simultaneidade e de concorrncia entre necessidades, a afectao de recursos tende para uma posio de equilbrio, que a posio de nivelamento dos custos relativos associados ao emprego desses recursos. Cada agente se defronta com um conjunto de oportunidades, um conjunto finito de opes disponveis. A dimenso e a composio do conjunto de oportunidades depende de limitaes temporais e oramentais: quanto mais tempo e recursos se pode reservar busca e edificao de uma soluo, maiores probabilidades haver de que ela seja optimizadora. So as manifestaes mais restritivas, mais sensveis no plano individual, da escassez.

g) A vantagem das trocas

A relao intersubjectiva que se estabelece entre os agentes econmicos pressupe uma complementaridade de necessidades e uma contraposio objectiva de interesses. As nossas trocas no assentam num pressuposto concorrencial ou mutuamente predatrio, por no haver outra forma de alcanar benefcios seno tirando-os aos nossos parceiros essa ideia remete para a teoria do jogo de soma zero, em que o que o vencedor ganha precisamente o somatrio daquilo que os demais jogadores perdem, situao em que o valor total dos ganhos e o valor total das perdas se anulam reciprocamente. Se esta situao predominasse na economia, seria racional que cada um se isolasse e fugisse de se deixar explorar.As trocas econmicas, sendo livres, s tm lugar se ambas as partes envolvidas puderem aperceber-se racionalmente da existncia de vantagens recprocas. Nas trocas econmicas, os interesses que se contrapem so complementares, tm valores desiguais para as partes envolvidas.As pessoas sentem-se frequentemente prejudicadas, insatisfeitas nas trocas; isto acontece porque a troca um compromisso e implica que cada parte transija relativamente sua posio inicial de ganho mximo: o facto de ambas as partes ganharem no significa que ambas as partes ganhem o mesmo, sendo perfeitamente normal que, no mbito das trocas bilateralmente vantajosas, ocorram variaes de preos que ora beneficiam mais uma parte, ora beneficiam mais a outra.A situao de troca corresponde de um jogo de soma positiva, no qual os beneficiados de uma das partes no implicam necessariamente prejuzos da outra, tudo contribuindo para um resultado crescente, em que o total das transaces vai fazendo aumentar a utilidade total (utilidade combinada de ambas as partes) medida que as trocas se vo multiplicando.Cada famlia consumir tanto mais, quanto mais produzir. Mas produzir mais implica basicamente libertar-se das actividades em que menos produtiva para se concentrar naquelas em que o mais especializar-se e intensificar as trocas.O isolamento e a autarcia so atitudes irracionais, porque fazem perder oportunidades de ganhos recprocos. S assim no suceder, em termos estritamente econmicos, numa situao-limite em que j nada restasse para trocar. Esta ser tanto mais possvel quanto menos pessoas estiverem envolvidas nas trocas.Adam Smith: se todos ganham com as trocas, e se as trocas so veculo de enriquecimento generalizado, as oportunidades de riqueza sero tanto maiores quanto maior for a dimenso dos mercados, e a subsistncia e preservao do mercado a premissa essencial para o enriquecimento generalizado.

h) A afectao social de recursos atravs do mecanismo dos preos

A resposta s perguntas bsicas da deciso econmica pode ser confiada ao poder poltico (entrega-se a uma racionalidade central o poder de planificar e dirigir a actividade econmica) ou abandonada s foras do mercado e ao poder de maximizao de ganhos recprocos atravs das trocas.Numa economia de mercado, a actividade econmica condicionada essencialmente pelas foras que animam as trocas (sendo o mercado, na sua acepo mais ampla, a ocasio dessas trocas), predominando a liberdade de conformao de direitos e deveres conexos com os interesses em jogo, por recurso s formas contratuais comuns.As grandes decises de que depende a eficincia e a justia do resultado ltimo e total do funcionamento da economia de mercado no so confiadas a ningum, presumindo-se que elas resultaro de uma ordem espontnea, centrada no mecanismo dos preos, um processo de sinalizao atravs do qual as partes comunicam:1A sua disponibilidade para trocar;

2A sua adeso a valores geralmente aceites como base de negociao;

3O respeito que os compradores tm pelo custo expresso na avaliao do vendedor;

4A sensibilidade que os vendedores tm s necessidades expressas na avaliao do consumidor;

5A confiana que as partes depositam no meio de pagamento comum.

Toda a iniciativa poltica que interfira no mecanismo dos preos pode gerar, quase instantaneamente, um risco de grave instabilidade na actividade econmica.

i) Mercado de produtos e mercado de factores

Existem dois tipos distintos de mercado numa economia de mercado:1Mercado de produtos: bens e servios (produtos finais da actividade econmica organizada); outputs directamente empregues na satisfao de necessidades. Mercado final

2Mercado de factores produtivos: bens e servios apreciados e empregues no ponto inicial de um ciclo de actividade econmica, consistindo especificamente nos inputs de terra (factores naturais e matrias-primas), trabalho e capital que as empresas coordenam e optimizam, recorrendo a um grau qualquer de sofisticao tecnolgica, tendo em vista a obteno dos meios que directamente satisfaam necessidades dos utentes e consumidores Mercado instrumental.

Entre os dois tipos de mercados geram-se nexos que podem ser configurados como um fluxo circular de produtos e de factores e um contrafluxo de pagamentos, entre consumidores e produtores:

1Mercado dos produtos: os indivduos ou as famlias so os consumidores (pagam pelo que adquirem) e os produtores ou empresas so os fornecedores (recebem os pagamentos monetrios daquilo que fornecem). As famlias concentram aqui as suas despesas e as empresas obtm o seu rendimento.

2Mercado de factores produtivos: os indivduos e as famlias so os fornecedores de trabalho, factores naturais e capitais (recebem a remunerao correspondente aos factores produtivos que colocam no mercado) e as empresas ocupam o lugar de utentes (pagam as remuneraes). Aqui, as famlias obtm o seu rendimento e as empresas concentram as suas despesas. Os fundos aforrados perturbam a simetria do fluxo circular, sendo canalizados para o investimento em empresas e regressando s mos de famlias sob forma de crdito ao consumo.

As famlias so fornecedoras de factores de produo e consumidoras de bens e servios; as empresas so produtoras de bens e servios e utentes de factores de produo. O que umas ganham o que as outras gastam, pelo que o rendimento total equivalente despesa total.

j) A interveno do Estado nos mercados

O funcionamento do mercado vem acompanhado de ineficincias e injustias, a deteco das quais poder justificar a interveno do Estado para emendar as falhas de mercado (todo o tipo de perdas de eficincia resultantes do funcionamento espontneo do mercado).Esta actuao pode exprimir-se com uma amplitude muito variada, que se prende tambm com a gnese histrica do Estado moderno.A afirmao do Estado por sobre formas inorgnicas e tradicionais de actividade econmica, mas alicerada nos automatismos e nas virtualidades mecnicas do mercado, teve sucessos muito desiguais em diversas pocas, pases, regies e sectores produtivos.A interveno estadual no funcionamento dos mercados pode assentar em qualquer de 3 razes gerais:1A pura e simples ignorncia das leis econmicas, o desconhecimento dos requisitos e implicaes da atitude intervencionista;

2O imperativo de eficincia;

3O imperativo de justia.

i) A justia social

A principal razo justificativa de uma interveno pblica nos mercados deriva de consideraes de justia social. O rendimento atribudo aos participantes no jogo da economia deveria em princpio ser proporcional ao esforo e habilidade por eles aplicados na produo de bens e servios para os quais existisse procura no mercado. No bvio que o mercado atenda s circunstncias episdicas que tornam menos gil e pronta a resposta dos produtores e dos trabalhadores s mudanas de solicitaes do consumo. O Estado no deve demitir-se de balizar, ao menos nos seus limites mnimos, o resultado da livre manifestao de incentivos actividade econmica, evitando que a regra da coexistncia e de complementaridade em que o mercado se baseia, por sua vez destrua os seus prprios alicerces.No existe verdadeira liberdade econmica seno dentro de um determinado quadro normativo e organizativo, um quadro que assegure justia e segurana nas trocas, promovendo ainda, sempre que o mercado falhe, a eficincia do circuito econmico.

ii) As falhas de mercado

As intervenes do Estado nos mercados que sejam ditadas por propsitos de eficincia costumam ser justificadas pela alegada existncia de falhas de mercado, as quais so atribudas a 2 causas principais:

- Externalidades: possibilidade de que uma actuao econmica faa projectar irremediavelmente efeitos, benficos ou malficos, sobre algum que no o prprio agente, interferindo no nvel de bem-estar desse algum, sem que lhe seja paga qualquer indemnizao ou sem ter de pagar qualquer compensao. Neste caso, a interveno do Estado justificar-se- para colmatar a brecha criada entre a eficincia econmica e o bem-estar colectivo (refrear o nvel de actividade; incentivar aquele que no dispe de meios para reclamar desses terceiros a contrapartida dos benefcios que lhes causa). Se no houvesse externalidades, a intensidade da procura no mercado denotaria o benefcio social marginal, a intensidade da oferta denotaria o custo social marginal e o ponto de convergncia de procura e oferta no mercado indicaria o ponto de maximizao de bem-estar social. A presena de externalidades perturba a coincidncia entre eficincia de mercado e bem-estar social.

- Poder de Mercado: permite a algum a explorao do mecanismo dos preos em proveito prprio, para l de um limite que fira um sentido mnimo de justia ou que gere desincentivos produo e s trocas. A actuao do Estado justificar-se- na estrita medida em que seja alcanvel o esvaziamento desse poder, evitando situaes abusivas, a explorao de vantagens ou desequilbrios extremos que comprometam a capacidade de o funcionamento normal do mercado assegurar a justia e a eficincia da actividade total que nele decorre.

Em ambos os casos, o Estado pode:1Produzir directamente bens, servios ou contedos informativos que se entenda serem subproduzidos pelo mercado, ou adquirir esses bens, servios ou informao a produtores privados;

2Criar incentivos e desincentivos a produtores privados;

3Impor certos padres e condutas ao sector privado.

Mecanismos de combate s falhas de mercado:1Controlo e regulao directa das quantidades produzidas;2Interveno no mercado no sentido de alterao dos preos;3Criao de mercado, com definio de direitos de apropriao, quotas negociveis, sistemas de compensao de benefcios e sacrifcios particulares;4Aumento da informao disponvel.

Estes mecanismos traduzem-se em medidas concretas:1Eliminao de subsdios perversos que fomentam actividades geradoras de externalidades negativas.

2Adopo de medidas internalizadoras

3Reforo da regulao jurdica do acesso a recursos comuns e da participao pblica na definio das polticas ambientais.

4Ponderao custo-benefcio de efeitos de longo prazo

5Substituio da regulao administrativa directa e discricionria mais exposta a distores e captura por parte dos seus destinatrios pelo estabelecimento de incentivos de mercado, mais fixos e automticos.

6Formao de coligaes internacionais para coordenao de esforos e melhoria do acesso a fontes de financiamento.

iii) As falhas de interveno

Qualquer interveno do Estado na economia tem uma legitimao controversa. Motivo bsico das falhas de interveno: no sendo o Estado administrado por pessoas infalveis e invariavelmente justas ou por pessoas omnipotentes e omniscientes, toda a interveno inevitavelmente contaminada por informao imperfeita, por unilateralidade e confinamento de avaliaes, por deficincias de planeamento e de execuo, por quebras de comunicao, por ocultao deliberada promovida pelos visados, por falta de vigilncia ou de responsabilizao dos executantes das medidas aprovadas, pelo jogo da corrupo, do compadrio, do nepotismo, do caciquismo.A actividade econmica colectiva dos fenmenos sociais mais complexos, e legitimamente sempre se colocar em dvida se possvel pr-se em prtica uma planificao to sofisticada que abarque e interaja eficientemente com essa complexidade, ou se h um sucedneo razovel para os incentivos que o mercado transmite a todos os participantes.Existem critrios de legalidade, de imparcialidade e de transparncia na actuao dos entes pblicos que prejudicam a sua agilidade na tomada de decises, e tornam muito onerosa, em termos de custos administrativos, a sua actividade. Alm disso, existe um grave problema de incentivos no sector pblico, j que nele as decises so tomadas por funcionrios que no so incentivados a adoptarem a diligncia que teriam se dela estivessem dependentes os seus interesses pessoais. A relao de foras entre o Estado e o mercado tende a desfavorecer sistematicamente o primeiro.No muito evidente que a interveno colectiva do Estado seja globalmente eficiente, em termos de se poder afirmar que as falhas de interveno nunca excedem as falhas de mercado e que, portanto, na presena de uma falha, a soluo pblica sempre o remdio adequado. Deve-se isto incapacidade de interagir com o dinamismo do mercado, falta de presso competitiva, falta de informao detalhada e a tantas outras complicaes previsveis e imprevisveis.Uma parte das falhas de interveno pode ser minimizada atravs do recurso a instrumentos muito sofisticados, seja na recolha e processamento de informaes, seja na sua aferio emprica e reformulao permanente, seja na sua sujeio explcita a procedimentos iterativos de optimizao que se apresentam como alternativa ao funcionamento do mercado. Se, apesar disso, o problema das falhas de interveno subsiste, isso deve-se tambm subsistncia de formas de idealismo metodolgico que tendem a inculcar nos espritos a noo de que h uma via triunfante para a optimizao econmica por via poltica, em vez de tornarem claro que no possvel passar-se alm de uma escolha de graus de falha de mercado e de falha de interveno.

k) O tema da Macroeconomia A Microeconomia concentra-se no funcionamento do mercado de produtos e no mercado de factores produtivos. A Macroeconomia incide na conduta do todo da Economia, tal como esse todo se espelha em valores mdios e em valores agregados, e tal como ele se revela, seja em fenmenos que alegadamente transcendem o horizonte de eficcia de agentes econmicos individuais, seja nas correspondentes patologias. Concentra-se no estudo de questes que se prendem com as inter-dependncias de um valor mdio, o dos preos, com alguns valores totais, os da produo, do rendimento e do emprego. A Microeconomia encara os fenmenos econmicos a partir da base, procedendo analiticamente, enquanto que a Macroeconomia encara os mesmos fenmenos j na sua manifestao combinada e final, deles fornecendo a perspectiva sinttica.A Macroeconomia lida com valores agregados: oferta agregada e procura agregada.O progresso da Macroeconomia foi permitindo um crescente sucesso na aplicao de medidas estabilizadoras, e por isso possvel sustentar que graas a ela a economia se tem aproximado de uma situao de pleno emprego, na qual se julga ser finalmente vivel a verificao das condies da sntese neoclssica na Microeconomia.O aumento de rigor analtico que se espelha na confluncia entre Microeconomia e Macroeconomia confere a ambas maior respeitabilidade cientfica e esta preserva, intocada, a sua muito evidente proeminncia social e poltica.

l) A Produtividade

Produtividade: quantidade de bens e servios que cada trabalhador capaz de produzir, em mdia numa unidade de tempo (o output por hora).Numa comparao instantnea, sero mais prsperos os pases e regies onde mais elevada a produtividade do trabalho. Numa comparao diacrnica, os aumentos de prosperidade, para no serem unicamente aparentes ou especulativos, resultaro essencialmente da intensificao da produtividade, alcanada atravs do progresso tecnolgico.Hoje crescentemente aceite que a forma ideal de gerar riqueza a nvel nacional, de assegurar o crescimento da prosperidade de modo favorvel na comparao internacional e de modo sustentvel a nvel interno, deve colocar a nfase na garantia de condies estruturais de produtividade, na afectao de recursos ao investimento em capital humano e fsico que assegurem no apenas que o crescimento ocorrer mas tambm que se mantm de reserva o potencial de crescimento futuro.A actuao estadual, sendo tradicionalmente muito absorvente de recursos, desvia para ela meios de financiamento que de outro modo estariam disponveis para o investimento directo em capital humano e fsico. Isto pode determinar quebras de produtividade, e portanto um abrandamento do progresso, ou mesmo um retrocesso, no caminho para a prosperidade.A opo pelo investimento em tecnologia, em detrimento de finalidades alternativas, revela o quanto o incremento de produtividade reclama um esforo incessante, mas frgil e de resultados incertos, de luta contra o bem escasso que o tempo.Path dependence: efeito de irreversibilidade que frequentemente acompanha os triunfos tecnolgicos, que faz com que a tecnologia triunfante tenda a arrebatar a totalidade do mercado, convertendo-se em standard e expulsando as tecnologias rivais. O progresso tecnolgico transporta consigo um risco estrutural.

i) A fronteira de possibilidades de produo

A escassez de recursos pode ser associada imagem de um universo finito, limitado por uma fronteira que agrega as possibilidades extremas das opes, uma fronteira de possibilidades de produo. Esta pretende representar simplificadamente as vrias combinaes de produo de dois bens ou servios que so alcanveis pela aplicao mxima e ptima dos correspondentes factores de produo.A fronteira de possibilidades de produo a expresso do contnuo de combinaes de vrios bens ou servios que esto ao alcance do produtor atravs de simples reafectao de recursos disponveis. um limite mximo que pressupe a afectao total dos recursos, querendo isso significar que em toda a opo produtiva por ela representada maximizada a eficincia produtiva, verificando-se uma situao em que no possvel produzir mais de um bem sem produzir menos de outros bens para os quais seja possvel reafectar em alternativa os recursos disponveis.Nessa fronteira de possibilidades de produo, a percepo das vantagens mximas de uma determinada opo imediatamente acompanhada da medida total dos correspondentes custos de oportunidade, o que facilita a intuio de que a gesto de recursos e a busca de solues so ambos dominados por um mecanismo equilibrador.Se na fronteira de possibilidades de produo se entende ser atingvel a eficincia, esta consistir essencialmente na insusceptibilidade de aumentar o rendimento total atravs de simples transferncias de recursos entre sectores: a eficincia total estar maximizada quando todas as transferncias entre sectores j se deram e equilibraram.A fronteira de possibilidades de produo no um dado esttico nem um limite absoluto; certo que no poder ser alterada de modo abrupto ou ilimitado, mas no menos certo que ela , em larga medida, susceptvel de expanso e retraco (capacidades inatas, formao, incrementos tecnolgicos, etc.). possvel um crescimento em termos absolutos, isto , uma expanso da fronteira de possibilidades de produo que permita solues eficientes com crescente susceptibilidade de nos aproximarem do limite da abundncia geral.A opo pela poupana e pelo investimento revelou-se mais produtiva, no sentido de ter aumentado a capacidade total e absoluta de consumo e de produo no futuro. Falcia da composio (o que vlido para um pode no ser vlido para todos): a poupana que benfica para um ou para alguns pode tornar-se contraproducente se praticada por todos, ou para l de certos limites.Com a prevalncia da racionalidade, a liberdade de opo pela afectao ptima de recursos no limite da eficincia, sobre a fronteira de possibilidades de produo, e a liberdade de apropriao dos recursos maximizadores e dos respectivos frutos um dos principais incentivos da actividade econmica. Estas liberdades e a legitimao dos modos de apropriao privada com elas conexas, so as razes do sucesso histrico do sistema econmico capitalista.

m) O controle dos meios de pagamento

Outro dos riscos da interveno estadual relaciona-se com o fenmeno inflacionista, com a possibilidade de subida provocada do nvel geral de preos.A maior parte dos fenmenos inflacionistas mais pronunciados e persistentes tm como causa prxima o aumento da quantidade de moeda em circulao que conduz desvalorizao da moeda, afectando a sua funo de padro geral de valor dos bens, dos servios e dos factores produtivos, e perturbando-lhe o papel de intermedirio geral nas trocas.No h aumento de massa monetria onde o Estado ou as autoridades monetrias a no provoquem ou consintam e no ocorrer inflao nem presso inflacionista se a massa monetria no crescer mais rapidamente do que o volume das trocas, disponibilizando mais unidades monetrias por cada transaco.Pode admitir-se que a prioridade de outros fins da actuao do estado e das autoridades monetrias determine e justifique a intensificao da emisso de moeda em termos inflacionistas.Poder pr-se em dvida que seja necessrio que o Estado ou as autoridades monetrias joguem no curto prazo com essa tenso de objectivos, dedicando-se a poderosos mas delicados exerccios de sintonia entre eles.

n) Vinte ideias a reter

1.Os recursos produtivos so escassos.

2.As decises concretas reclamam a ponderao de custos e benefcios adicionais resultantes de cada uma das alternativas.3.H diversos mtodos de afectao de bens e servios.

4.As pessoas respondem de um modo previsvel a incentivos, tanto positivos como negativos.

5.S existem trocas voluntrias quando as partes tm esperana de ganhos.

6.A produo e o consumo crescem com a especializao dos agentes econmicos.

7.A interaco de compradores e vendedores constitui os mercados.

8.Os preos sinalizam e incentivam os agentes num mercado.

9.A concorrncia entre vendedores baixa custos e preos e beneficia em ltima instncia os compradores.

10.Os mercados geram um enquadramento institucional que visa apoiar os agentes econmicos na realizao dos seus fins.

11.A moeda facilita as trocas, os emprstimos, a poupana, o investimento, as comparaes de valores.

12.As taxas de juro, ajustadas inflao, variam para adequarem os nveis de poupana aos nveis de emprstimo, determinando assim a afectao de recursos escassos entre os seus usos presente e futuro.

13.O rendimento das pessoas maioritariamente fixado em funo do valor dos recursos produtivos que fornecem ao mercado.

14.Os empresrios so aqueles que, incentivados pela contrapartida do lucro, assumem as incertezas da organizao produtiva dos recursos.

15.O investimento em capital fsico e em capital humano tem a virtualidade de incrementar o nvel de vida futuro.

16.H lugar, numa economia de mercado, interveno do Estado, desde que ela se justifique em termos de eficincia.

17.A interveno do Estado pode implicar custos que excedem os benefcios, dados os incentivos no estritamente econmicos por que se pauta a aco poltica.

18.O nvel nacional de rendimento, emprego e preos resultado da interaco das decises de produzir e consumir do conjunto de todos os agentes econmicos nacionais.

19.O desemprego e a inflao tm efeitos nocivos muito extensos no bem-estar colectivo, ao menos na injustia da redistribuio e na perturbao das expectativas.

20.O nvel de emprego, de produo e de preos podem ser influenciados pelos governos e pelos bancos centrais atravs de polticas oramentais e monetrias.

CAPTULO 2O modo de pensar do economista

Uma das primeiras percepes que o no-especialista tem sobre a cincia econmica respeita linguagem privativa que esta emprega. O objectivo principal dos tecnicismos o de servirem de abreviaturas para conceitos e cadeias de raciocnios que so complexos e que, no sendo intuitivos, reclamam uma aprendizagem relativamente extensa e difcil.Para nos atermos s ao formalismo, ele necessariamente mais simplificador, mais empobrecedor na Economia do que em outras cincias que a ele recorrem, j que as abstraces podem ser fatais adequada compreenso do objecto da Economia.At meados do sc. XX, a Economia foi sobretudo uma cincia social; sobretudo a partir da dcada de 40 que a cincia econmica se entrega ao formalismo, se concentra obsessivamente em modelos quantitativos de condutas rigidamente optimizadoras e quantificadoras, postulando um crescente mecanicismo reactivo que paulatinamente foi erigindo um homo oeconomicus que, mais do que ser racional e egosta que se dizia ter sido o prottipo da Escola Clssica de A. Smith e de David Ricardo, era agora um cyborg hiper-racional, capaz de competir, como processador de informao e decisor estratgico, com as mais sofisticadas estruturas institucionais.

a) A explicao e a compreenso no mbito de uma cincia social

Como cincia social, est confiado Economia um esforo adicional, o de compatibilizar os intuitos de objectividade com a inevitabilidade do envolvimento do observador, do cientista, nos mesmos fenmenos sociais que se esfora por analisar e descrever, com a inevitabilidade de envolvimento nos fenmenos humanos e sociais pelo prisma da vivncia directa, com a inevitabilidade da referncia a esses fenmenos atravs da linguagem empenhada e intuitiva do testemunho pessoal.A objectividade, o distanciamento, apontam para o paradigma cientfico da explicao; o envolvimento do observador nas cincias sociais e humanas privilegia antes o paradigma da compreenso. A dialctica entre teoria e observao est no prprio cerne da atitude cientfica. perfeitamente possvel estender-se o mbito da cincia econmica at observao e apreciao pragmtica de condutas no-humanas. Esse estudo que dispensa a racionalidade consciente, a racionalidade da deliberao intencional, peculiar da nossa espcie, pode ser til na explicao de condutas limitadamente racionais por parte dos agentes humanos, naqueles contextos em que a aquisio de informao completa e a adequao racional a toda a informao disponvel so desproporcionadamente custosas face aos benefcios marginalmente atingveis atravs delas, justificando racionalmente condutas presididas pela ignorncia e pela racionalidade limitada, ou pela irracionalidade.

b) Observao e experimentao

A complexidade, se cria graves dificuldades ao mtodo cientfico, entravando- -lhe o esforo sinttico, em contrapartida o prprio motor de toda a actividade econmica, que nenhuma sntese cientfica pode ignorar ou desprezar sem perda de contedo.Por isso, frequentemente, a metodologia econmica lanar mo do sucedneo estatstico, ou seja, de uma forma de descrever os fenmenos de massa nas suas simples regularidades fenomnicas ou externas, prescindindo de atribuies ou pressuposies causais, limitando-se abertamente a evidenciar regularidades e tendncias, sem se envolver nas dificuldades e riscos de explicaes internas de motivaes e deliberaes conscientes. Isto visa facilitar o seu contributo para o raciocnio indutivo, ou seja, para a formao de princpios sintticos e coesos a partir da pura observao de fenmenos empricos.Ao economista habitualmente vedado a experimentao em contextos reais, no simulados. Toda a reproduo experimental, se uma experimentao controlada, envolve um artifcio, e esse artifcio tende a comprometer irremediavelmente a motivao dos agentes econmicos, dado que estes possuem a capacidade de reagir alterao deliberada das condies iniciais da sua conduta, adulterando a espontaneidade, a naturalidade das condutas.Resta ao economista, na maior parte dos casos, remeter-se a simples receptor passivo de dados, especificamente os dados histricos (fornecem uma informao completa acerca de um ciclo integral de aco econmica no qual todas as deliberaes tero chegado aos seus ltimos desfechos, e incidem sobre factos que a distncia imunizou contra o ascendente das paixes) e os dados estatsticos (reportam-se a dados presentes, insusceptveis de abordagem desapaixonada, mas em contrapartida dados referidos a circunstncias nas quais de esperar que a informao obtida possa ainda alicerar decises relevantes). Isto no significa, todavia, que no haja algum lugar para a experimentao.

c) O apoio da Estatstica

Estatstica: Meio de apoio cincia, ajudando recolha de dados, deteco de regularidades e afinidades em fenmenos de massa, manuteno de padres de uniformidade e de rigor na elaborao dos dados, no estabelecimento de correspondncias relevantes com a realidade e na extrapolao de regularidades para l dos domnios do observvel. Na Economia, a dupla circunstncia de abundarem fenmenos de massa e de muitos desses fenmenos serem facilmente quantificveis facilita muito a colaborao entre Economia e Estatstica, ao mesmo tempo que, para alguns, refora a convico de que a Economia deve submeter-se ao mesmo tipo de paradigma formal e matemtico que domina a metodologia Estatstica.A Estatstica permite a apresentao de grandes quantidades de dados sob forma compacta de quadros, mapas e grficos, que, propiciando uma intuio rpida de fenmenos de massa, tem uma eficcia inigualada por qualquer sucedneo expositivo, mas tambm aumenta grandemente os riscos de erro na interpretao e de manipulao dos resultados. A Estatstica (Aritmtica Poltica) nasceu para fornecer snteses panormicas relativas a grandes quantidades de dados, que pudessem transmitir conhecimentos, ao menos quantitativos, sobre fenmenos que pela sua natureza e dimenso escapassem possibilidade de experincia directa, e menos ainda de intuio, queles que devessem decidir com base no conhecimento desses fenmenos. O conhecimento fornecido pela Estatstica aproximativo: refere tendncias e caractersticas gerais.

d) Causalidade e correlaoA reconstruo do mecanismo de causalidade implica que se admita ao menos duas variveis, o que basta para que surjam complicaes. por isso que a cincia econmica recorre Estatstica, vocacionada como esta est para a anlise e descrio do comportamento de fenmenos de massa independentemente de quaisquer atribuies causais: 1Que duas variveis tendam a comportar-se de um modo similar, com amplitudes proporcionais, facto que pode ser estabelecido com um grau muito apreciado de segurana e medido com rigor; as excepes no perturbam a verificao de uma tendncia dominante;

2Que essas variveis sejam causa uma da outra, sejam produtos de uma causa comum, ou se manifestem conjuntamente por mero acaso, ou por efeito de uma causa indetectvel ou incompreensvel, tudo isso irrelevante para a possibilidade de estabelecimento de uma correlao entre ambas.

O primeiro passo que os economistas do na direco de uma descoberta terica costuma resultar da percepo de que existe uma qualquer afinidade recorrente entre variveis, o que conduz interrogao sobre a existncia de uma razo subjacente. O estudo de correlaes a aplicao de testes estatsticos aos dados (testes economtricos), multiplicando as observaes por forma a que possa determinar-se se existe um padro de relacionamento entre variveis que possa atribuir-se a algo mais do que a um nexo errtico ou aleatrio.Pode causar estranheza que a cincia se demita de prosseguir na senda da descoberta de verdades fundamentais e de certezas indutivas. Na realidade, esse o preo a pagar pela necessidade de agir com eficincia num mundo em que a omniscincia no gratuita e toda a aquisio de informao tem um custo. H 3 tipos de certezas que nos so acessveis a baixo custo: certezas analticas ou dedutivas, certezas intencionais quanto causalidade das deliberaes livres e certezas histricas relativas consumao de processos causais, derivadas da irreversibilidade do tempo.No domnio da aquisio indutiva ou sinttica de conhecimentos, tais certezas no so possveis, pois para isso teramos que aguardar a consumao dos tempos, e entretanto ter-nos-amos privado de agir com base num grau de certeza.A necessidade prioritria para os seres vivos agir. A nica forma de agir a de procedermos como se dispusssemos j da certeza, a de substituirmos o limite da certeza por um grau aceitvel de probabilidade e de corroborao.

e) O papel da teoria

No h ligao da teoria prtica que no envolva uma margem de risco ou de oportunidade, uma margem de criao de teorias e de formulao de hipteses na qual se insinua o talento individual, a formao e as convices do prprio cientista- -economista. A renncia descoberta de verdades fundamentais um ttulo de glria da cincia, sendo a melhor prova da sua sofisticao filosfica, da sua emancipao e da sua inesgotvel energia.Teoria: representao simplificada da realidade assente no encadeamento de pressuposies e de corolrios lgicos dessas pressuposies e geralmente formulada como um condicional hipottico (se... ento). A sua aplicao pela cincia justifica-se essencialmente no plano da simplificao das pressuposies analticas. A teoria uma imposio de sentido, da qual procuramos retirar consequncias prticas. ela que confere atractivo e relevncia prtica a esta e a qualquer cincia.

f) Descrio e prescrio nas proposies da Economia

Coexistem, no seio da Economia, 2 tipos distintos de proposies:1As que descrevem o mundo como ele ou tentam detectar nele uma ordem latente, podendo ser refutadas por contraprovas factuais descrio;

2As que visam a transformao do mundo, a formao de uma ordem positiva, podendo apenas ser contraditadas atravs de uma demonstrao da inadequao tcnica dos meios propostos, ou contestadas por quem adopte um quadro de valores diverso do proposto prescrio.

O economista, na sua veste de cientista social, no se encontra habilitado a ditar solues polticas sociedade, mas o poder carismtico da cincia econmica confere ao economista uma voz autorizada na formao da representao cultural que uma sociedade forma de si mesma. A distncia entre descrio e prescrio pode ser encurtada pela autoridade que a sociedade reconhea voz dos economistas.A nossa liberdade postula uma demarcao entre asseres descritivas e prescritivas: o mundo como no tolhe, nem deve tolher, o nosso desejo de o rectificarmos, de o melhorarmos de acordo com valores que representamos naquilo que ele no mas poderia ser e seria bom que fosse. A objectividade do cientista social no tolhe a sua participao no devir histrico, no o indisponibiliza para a manifestao da sua vontade transformadora. atravs da Economia que recebemos as mais sombrias e preocupantes informaes acerca da condio material da humanidade, mas tambm na sua aplicao que se depositam as mais genunas e vibrantes esperanas de remdio social e de progresso real.

g) Abstraco e modelao

Na medida em que a representao simplificada da realidade envolve escolhas, pode dizer-se que todo o aparato terico da anlise econmica assenta numa arte, em regras de seleco e edificao de aparatos tericos que nem sempre esto perfeitamente explcitas ou so generalizadamente adoptadas, e que sobretudo no derivam, por deduo estrita, de um ncleo axiomtico de evidncias universais.A escolha de variveis, a sua manipulao, a prpria discriminao entre aquilo que conta como dado e aquilo que se admite como varivel, constituem facetas da arte de modelao.Modelo econmico: conjunto de proposies sobre comportamentos econmicos e suas relaes, de acordo com hipteses causais que podem conferir relevncia genrica a esse conjunto de proposies como princpios explicativos ou preditivos de um universo de situaes subsumveis aos traos bsicos da caracterizao daqueles comportamentos. Debate-se com 2 interesses conflituantes: o do realismo e o da simplificao. Compreende-se o quo subtil e falvel a arte da modelao, se considerarmos a verdade da assero segundo a qual o melhor modelo aquele que conseguir ser ao mesmo tempo mais realista e mais irrealista, ao mesmo tempo o mais informativo e o mais esquemtico.A forma mais rudimentar de modelao econmica aquela que, para efeitos de anlise e de clculo de uma varivel, procura isol-la representando o resto da realidade de referncia como se ele fosse composto exclusivamente por dados constantes. de enorme importncia esse pequeno deslizamento ficcional que consiste em imaginar-se que, no complexo mundo da realidade econmica, possvel que um fenmeno produza os seus efeitos isoladamente, mantendo-se constante tudo o resto ceteris paribus.Mais crucial se torna este esforo de simplificao se lembrarmos que a cincia econmica , uma vez por outra, chamada a conceber mercados que sero criados efectivamente.Ideias como as da fronteira de possibilidades de produo e do fluxo circular de riqueza, so j modelos simplificadores, envolvendo opes de escala e elementos de arte.So essas simplificaes que convertem estes modelos incipientes em poderosos instrumentos analticos, de uso recorrente em toda a cincia econmica.

h) O modelo do mercado concorrencial

Num modelo rudimentar que pretenda representar a concorrncia livre no mercado, podemos presumir que as partes contrapostas se movem por princpios de racionalidade em direco a finalidades maximizadoras e hedonsticas, e que o mercado em que interagem dispe de uma tal capacidade de optimizao do nvel de satisfao de necessidades que ele em larga medida dispensa qualquer interveno rectificadora externa, nomeadamente por parte do Estado.

i) A questo do egosmo

No modelo do mercado, presume-se que as pessoas interagem e colaboram na estrita medida em que percebem que lhes individualmente vantajoso faz-lo; no se requer qualquer altrusmo, mas isso no significa que uma atitude altrusta seja nociva para quem a adopta num mercado.Naquilo que se diria ser mais um afloramento da mo invisvel smithiana, as expectativas partilhadas acerca do altrusmo acabam por redundar em benefcio para todos os envolvidos nas trocas, tanto egostas como altrustas.H quem defenda que o altrusmo inato na condio humana. Alm disso, nada demonstra que o altrusmo seja uma estratgia mediata de egosmo de grupo.Cabe perguntar se ser concebvel que uma comunidade de absolutos egostas ultrapasse os desincentivos sua coordenao para promover colectivamente uma afectao eficiente de recursos, ou se antes indispensvel sujeitar uma tal comunidade a constrangimentos ticos e institucionais capazes de quebrar os impasses do egosmo generalizado.Por outro lado, a motivao econmica no necessariamente nem egosta nem altrusta, mas antes no-tusta, no sentido de afigurar-se manifestamente irracional apenas a atitude daquele que propositadamente favorea o livre curso do egosmo alheio em detrimento dos seus prprios interesses.A definio de egosmo frequentemente vaga, de tal maneira que pouco mais designa do que o facto de a nossa conduta individual ser teleolgica e, quando se pretende ser econmica, visar uma satisfao de desejos que so pessoais, amide exclusivos, intransmissveis e inefveis.Nada disto significa que, chegado o momento, no devamos, por razes de simplificao e de sntese, voltar linearidade do cnone do egosmo.

ii) O papel dos preos

A concorrncia ser tanto mais eficiente e benigna quanto mais ela se cingir ao aspecto dos preos; medida que cresce o nmero de vendedores concorrentes num mercado, menos peso especfico poder cada um deles ter na formao dos preos.Ao concorrente retirado o poder de mercado, ficando ele na posio de simples receptor passivo de um nvel de preos, na posio que habitualmente designada como a de price taker.O consumidor o principal beneficiado com a guerra de preos da concorrncia, visto que para ele que o preo se apresenta como um custo, e que minimizar o custo o objectivo central da sua racionalidade; tambm ele tende a ser um price taker.A incapacidade de oposio aos preos dominantes por parte do consumidor beneficia o lado dos vendedores, os quais se vem poupados a uma presso que seria para eles potencialmente ruinosa, dada a possibilidade de essa presso agravar drasticamente os custos de formao de equilbrio nas trocas.Todos os participantes no mercado esto motivados pela presena de incentivos, os quais, transmitidos pela sinalizao dos preos, consistem essencialmente na possibilidade de se alcanar vantagens extraordinrias nas trocas realizadas no mercado e na possibilidade de haver apropriao individual dessas vantagens.A capacidade de acumular e permutar riqueza atravs da apropriao privada um incentivo adicional eficincia.

iii) Modelo bsico, incentivos e laissez-faire

O modelo concorrencial bsico ilustra o poder de modelao na anlise econmica, concordando com ele todos os economistas. Todo o recuo perante essa forma ideal de funcionamento eficiente e livre tende a acompanhar-se de problemas.O quadro legal que rodeia o funcionamento do mercado no sempre um mero conjunto de proibies e limitaes animadas por uma lgica restritiva ou tutelar dominada por valores de justia, mas tambm um conjunto de garantias de atribuio e de legitimao, sem as quais a prpria eficincia do mecanismo espontneo do mercado que posta em cheque, e a prpria concorrncia do mercado no alcana os seus efeitos optimizadores. Contudo, ainda a lgica tutelar, paternalista, que costuma presidir interferncia estadual nos mecanismos de mercado. difcil conceber-se, mesmo em abstracto, um mecanismo de repartio mais eficiente e justo que o mecanismo dos preos.

i) Peculiaridades terminolgicas

Um dos pontos susceptveis de fragilizar mais a cincia econmica e de dificultar mais a sua compreenso consiste no facto de ela empregar predominantemente uma terminologia comum, ao mesmo tempo que lhe subverte a semntica.Custo e riqueza, por exemplo, no tm o mesmo significado para os economistas e para o senso comum. A ambiguidade que resulta destes subtis deslizamentos semnticos no , todavia, de evitar a todo o custo.

j) As divergncias doutrinrias entre os economistas

Uma das limitaes mais aparentes relevncia prtica da cincia econmica reside no facto de no haver consensos estveis em muitos pontos de doutrina.Esta limitao algo de extremamente positivo, pois denota no apenas a abertura e o inacabamento da cincia econmica, a sua capacidade de progresso atravs da descoberta de novos factos e do debate entre cientistas, mas o prprio envolvimento dos economistas em questes polticas, sociais e morais para as quais seria vo e perigoso esperar-se um consenso definitivo.Muitas das questes doutrinrias debruam-se sobre a eficcia, a amplitude ou intensidade e a justia. Estas ltimas, que a maior parte das vezes no podem ser resolvidas pela prpria cincia econmica, so, na sua relatividade, especialmente dependentes de padres de aferio. Se no compete Economia oferecer esses padres de aferio, pela mesma razo que no lhe cabe a definio dos valores sociais que ela serve, e para a prossecuo dos quais deve limitar-se a prescrever os meios mais eficientes. Mas a mais legtima misso da Economia concentrar-se na avaliao dos meios, subordinando-se pacificamente, tanto livre determinao poltica dos rumos sociais, como livre determinao dos rumos privados atravs da espontnea formao de mercados.A Economia define-se como um incessante esforo de progresso; do inacabamento que a caracteriza, dessa sucessiva abertura temtica, que, como qualquer cincia, retira a sua fora cultural e o seu nimo progressista.A grande maioria dos economistas tem uma natural simpatia pelas solues do mercado e no se multiplica em objeces superior eficincia do livre-cambismo. No s o unanimismo no reina na cincia econmica como ele no seria sequer desejvel. Poderia pensar-se que a Economia deveria prestar-se a um esforo de coeso interna, apresentando-se como um produto acabado de anlise quantitativa e de modelao matemtica, ao servio da engenharia social. Mas mesmo que esse ideal de engenharia social fosse aceitvel, no essa a principal vocao de uma cincia social, que deve colocar como seu objectivo primordial a compreenso dos fenmenos humanos, das intenes e das condutas que, entrecruzadas, do origem a fenmenos colectivos.A pluralidade de vozes dentro da cincia econmica um atestado da sua vitalidade e das suas perspectivas de progresso.

k) O charlatanismo pseudo-cientfico

A Economia um ramo de saber com grande poder de atraco sobre pseudo-cientistas e charlates, que fazem um hbil aproveitamento dos tecnicismos da cincia econmica para se escudarem numa aparncia de sabedoria impenetrvel, de conhecimento privilegiado ou inicitico, e seduzirem com essa aparncia os mais crdulos, transmitindo-lhes um de dois tipos de falsa impresso que costumam acompanhar a percepo leiga da Economia:1A Economia um veculo de conhecimento do futuro;

2A Economia contm uma chave segura para o enriquecimento pessoal.

Estes pseudo-economistas correspondem a necessidades efectivamente sentidas e, em especial, quela ansiosa avidez de antecipao que alimenta a credulidade.A cincia econmica no tem muito a ver com o circo meditico que a rodeia. No obstante a margem de estridncia circense, ela continua a fazer-se sobretudo de trabalho metdico, de permuta de conhecimentos e de verificao e refutao de hipteses, de evoluo de mtodos e de linguagem, de adio permanente de desafios e de estmulos intelectuais, de abertura crtica radical de cada um dos seus pressupostos por todos aqueles que dela se aproximam com seriedade e escrpulo.

l) Pedagogia e autismo

Em 2000, o jornal Le Monde publicou um manifesto de estudantes franceses contra a falta de realismo e de pluralismo no ensino da Economia, que apelava ao fim da hegemonia do paradigma neoclssico e seus derivados, fazendo-se a apologia do pluralismo, do pragmatismo, de uma maior concentrao no universo da referncia emprica. Apelava:1 necessidade de reconexo entre o mundo imaginrio da modelao neoclssica e o mundo dos problemas concretos;

2 necessidade de crtica do enamoramento com a forma que, avanando num crescendo de complexidade, dificulta mais do que facilita a compreenso dos problemas reais.

3 necessidade de reintroduo de algum pluralismo a nvel pedaggico.

Prof. Fernando Arajo: O excesso de formalismo uma oportunidade pedaggica desperdiada, mas a convencionalidade da cincia econmica deriva em larga medida da especializao interna.1A heterogeneidade tem sempre caracterizado a evoluo histrica da cincia econmica e esta constatao conserva toda a sua validade mesmo em momentos, como o actual, de vincada predominncia de um paradigma.

2Objectivos de progresso acadmica e de acesso a fundos de financiamento de projectos tm levado muitos economistas a aproximarem-se de uma posio consensual e mediana, pagando insincera vassalagem ao cnone dominante.

3Qualquer disciplina cientfica deve adoptar as suas convenes e agregar em torno delas as suas escolhas temticas e os seus critrios de relevncia.

4A obsesso das cincias sociais com o rigor f-las emularem aquilo que se julgou ser o rigor das cincias exactas, superando-as at em convencionalismo e em formalizao.

5O protesto contra o convencionalismo exacerbado pelo sentimento de excluso causado pelo triunfo claro de um s paradigma dentro de uma rea disciplinar to vasta como o a Economia.

A economia deve preocupar-se em conservar o seu realismo, permitindo-lhe compreender e lidar com os problemas reais, mesmo naquilo que esses problemas tenham de mais contaminado por influxos e consideraes que podem parecer no ter nada a ver com o tema da Economia, mas que no so menos implicados nos contextos vivenciais em que os problemas surgem e convocam a nossa ateno e a nossa determinao.Contra o autismo dos cientistas econmicos, depe o prprio propsito civilizacional que, em finais do sculo XVIII, fez nascer a moderna cincia econmica: o propsito emancipador do iluminismo, o objectivo de colocar disposio do homem comum os meios para poder levar uma vida condigna de um ser racional, de auto-determinao, responsabilidade e coeso social no imposta, mas espontnea, esclarecida e fraterna, na caminhada da modernidade.

CAPTULO 3Interdependncia e trocas

A actividade econmica evidencia um grau de coordenao e de harmonia que parece postular uma inteligncia central, uma supra-ordenao, de tal modo regular a forma como cada um de ns contribui para o funcionamento do todo, cada um desempenha funes especficas, cada um auxilia os demais, mesmo que deles no tenha recebido uma indicao precisa das necessidades que sentem ou das expectativas que tm quanto a esse contributo.Ningum nasce absolutamente pr-determinado ao exerccio de uma funo; aquilo que cada um faz depende em larga medida das suas prprias opes livres, daquilo que a pessoa, bem ou mal, decide fazer.Os resultados nem sempre so os mais justos, nem os objectivamente mais eficientes. No entanto, ainda que pontualmente sejam detectveis falhas na distribuio de tarefas em funo da sua utilidade social, o facto que a Economia funciona com razovel eficincia em matria de ocupao livre das especialidades profissionais, em matria de diviso social do trabalho, de colaborao e troca de bens e servios, de comunicao de necessidades e de aptides, de tomada de decises colectivas; essa coordenao espontnea transcende fronteiras polticas.A harmonia econmica mais no do que o resultado involuntrio do simples e mecnico entrechoque da actividade de pessoas movidas pelo seu interesse particular, cada uma criando condies benficas aos outros quando procurava o seu benefcio particular.No significa isto que da interdependncia resultem invariavelmente a fragmentao atomstica dos planos individuais de realizao e a multiplicao de condutas centrfugas, porque a interdependncia tambm indutora de coeso e uniformidade, de aproximao das condutas individuais a uma normalidade social que tende a converter-se em norma, e at, passado um limiar de convico quanto necessidade dessa norma, em Direito.

a) A diviso do trabalho

As relaes econmicas e a interdependncia que delas emerge do-se margem do conhecimento pessoal e no reclamam a confiana intersubjectiva que aquele conhecimento pode propiciar; reclamam apenas uma confiana institucional, a confiana de que a complementaridade objectiva de interesses e aptides tornar inevitvel, recorrentemente e com estabilidade, uma conduta generalizada de cooperao, independentemente da prevalncia de sentimentos de benevolncia ou de solidariedade. porque incorporamos nas nossas motivaes a representao de interesses alheios que, no momento em que convertemos a confiana numa efectiva permuta de vantagens presidida por critrios de reciprocidade, satisfazemos interesses alheios para satisfazermos os nossos, e todos ficamos a ganhar com as trocas.A oportunidade para proceder a trocas vantajosas pressupe apenas que as pessoas, ou os pases, tenham necessidades complementares, disponham de bens diversos ou de distintas aptides para prestarem servios, e possam obter, sem custo demasiado, informaes acerca da existncia de potenciais parceiros nas trocas, e acerca da reciprocidade e da justia com que as trocas possam decorrer.Num ambiente de informao imperfeita ou de informao muito dispendiosa, a racionalidade dos agentes poder ver-se obrigada a decidir pela colaborao, pela troca, quando est ainda inteiramente em aberto a possibilidade de que alguma informao adicional venha demonstrar que a troca no ser a mais proveitosa. As trocas ocorrem motivadas pela simples representao de ganho, dentro de um intervalo de probabilidade de ocorrncia de soma positiva.Cooperao condicional: atitude racional que aceita a interdependncia assente na convico de que haver, ou se manter, a reciprocidade, e faz depender dessa regra de ouro da reciprocidade a sua disposio de colaborar, elevando-a at dignidade de critrio jurdico, a justia comutativa ou o sinalagma contratual.A preferncia pela cooperao est, ela prpria, sujeita a regras de evoluo e de adaptao, e at sua consagrao em normas consuetudinrias.

b) Vantagens absolutas

a vantagem absoluta que pode alcanar-se na especializao que comea por ditar qual a posio que cada um ocupa nas trocas, e essa vantagem que determina o que que cada um vai produzir em excesso relativamente s suas necessidades, de forma a habilitar-se a obter bens e servios no produzidos por ele, em troca daquele excedente.A especializao e a diviso de trabalho segundo os princpios das vantagens absolutas so as fontes da maior parte da diversidade social observada na economia, e tambm das formas mais estveis e permanentes de consagrao institucional da interdependncia, nomeadamente o trabalho em grupos e em empresas, a definio de profisses s quais se dirige o esforo de aquisio de vantagens absolutas, de escolha e investimento em aptides produtivas.Feita essa escolha por uma diviso de trabalho estvel e congruente de acordo com princpios de vantagens absolutas, os ganhos das trocas podem ampliar- -se at ao limite consentido pela dimenso do mercado, mas sempre com as vantagens da descentralizao e da liberdade induzida pelo simples balizamento dos incentivos.

c) A confiana e o equilbrio nas trocas

O facto de uma pessoa se sentir insatisfeita com uma transaco no significa necessariamente que tenha sido prejudicada por ela, ou mesmo que no tenha sido por ela beneficiada.A troca sempre um compromisso, e implica que cada parte transija relativamente sua posio inicial de ganho mximo: o benefcio objectivo tem de existir para que ocorra troca voluntria, por mais que esse benefcio objectivo fique aqum do subjectivamente esperado.Transaco: unidade bsica da actividade econmica; contm nela os trs princpios bsicos de conflito, mutualidade e ordem.A complementaridade e a interdependncia, se so por um lado os alicerces da prosperidade, so por outro lado limites realizao irrestrita dos planos individuais de cada um, so limites ao arbtrio, o qual s em pleno isolamento poder seguir o seu livre curso sem quaisquer constrangimentos.Os economistas, conservando um prudente cepticismo perante as preferncias declaradas, tendem a fazer recair o peso da sua anlise sobre as preferncias reveladas dos agentes econmicos. A insinceridade campeia na abordagem negocial s trocas, dados os benefcios estratgicos que podem fazer-se derivar da reserva de informao.A racionalidade nas trocas reclama que todos os envolvidos beneficiem, mas no que todos beneficiem no mesmo montante ou na mesma proporo.Se, num caso, o lucro foi superior ao excedente do consumidor (diferena entre o mximo que o comprador estaria disposto a pagar e aquilo que efectivamente pagou), noutro caso verifica-se o contrrio, mas em nenhum dos casos a presena de um dos valores implicou o desaparecimento do outro, pois se tal tivesse sucedido, a transaco no teria ocorrido, ou ento a aparncia de uma transaco onerosa teria recoberto aquilo que substancialmente seria um acto de benemerncia.Sugerir que uma troca s justa se ela resultar numa equivalncia de resultados para as partes envolvidas pode, para alm de ser falso, suscitar problemas melindrosos, sobretudo aqueles que tm a ver com a tutela da confiana daqueles que contratuam, e com a distribuio de riscos entre ambas as partes.A maior parte das trocas envolve uma margem de risco quanto ao valor daquilo que transaccionado. Os desejos de conhecimento perfeito ou de certeza absoluta so incompatveis para a nossa necessidade de aco. Eliminar completamente esse risco teria o custo elevadssimo de volatilizar a confiana no cumprimento das transaces contratuadas, dada a rejeio por ambas as partes de qualquer margem de risco. possvel reduzi-lo, fazendo acompanhar as transaces de sinalizaes e garantias que incutam a impresso de seriedade ou que permitam remediar resultados muito insatisfatrios ou desequilibrados.Um quadro jurdico protector do direito de propriedade um requisito essencial e mnimo da existncia e subsistncia da especializao e das trocas no mercado, que serve simultaneamente para erradicar os riscos mximos.

d) Vantagens comparativas

Seria vantajoso, para aquele que dispe de mais de uma vantagem absoluta, assumir todas as tarefas nas quais se registasse esse tipo de vantagem, maximizando em todas elas os ganhos advindos da sua superior produtividade.Todavia, mesmo assim benfico para o produtor mais eficiente dividir trabalho, porque, libertando-se das tarefas em que seja comparativamente menos apto, poder concentrar-se naquela ou naquelas em que a sua produtividade relativamente maior, confiando as demais a parceiros de trocas que perderiam em comparao com ele, decerto, mas s na situao hipottica de as trocas comerciais se cingirem a um s produto.David Ricardo: como poderia a Gr-Bretanha entrar em relaes econmicas com Portugal na permuta de vinho e de l, se em ambos os casos era patente a vantagem absoluta dos produtores portugueses? Soluo: cada um se deve especializar na sua vantagem relativa, os produtores britnicos na l e os portugueses no vinho, acabando por resultar dessa diviso de trabalho uma clara vantagem para ambos os envolvidos.A escassez (ao menos a que resulta da limitao absoluta do tempo disponvel) determinar que mesmo aquele que dispe de vantagens absolutas em ambas as actividades acabe por no poder dedicar a qualquer dessas actividades mais do que tempo parcial, no caso de optar pela auto-suficincia, ou seja, se se furtar s trocas.A soluo tecnicamente mais eficiente pode estar para l daquilo que o mercado comporta, e por isso converter-se numa soluo que no economicamente a mais eficiente, no sentido de no ser aquela que maximiza a utilidade no mercado. Por essa razo, a cincia econmica advertiu para a circunstncia de a especializao ser limitada pela dimenso do mercado, pela procura dos bens e servios a que possa corresponder essa especializao de factores produtivos.Na orientao da opo racional encontra-se uma ponderao de custos de oportunidade: o tempo gasto na actividade menos produtiva tempo roubado actividade mais produtiva, e vice-versa, pelo que, obviamente, a opo pela actividade menos produtiva a que tem mais elevados custos de oportunidade, e a opo pela actividade mais produtiva a que tem custos mais baixos.Quando extrapolamos a situao de especializao parcial para um contexto nacional, temos ainda que aditar uma outra justificao: a especializao parcial h- -de ser reflexo da diversidade de produtores interna, e o grau de especializao depender do nmero e peso especfico de produtores internacionalmente competitivos de que cada pas disponha.A constatao de vantagens absolutas, ou a mais subtil deteco de vantagens comparativas, acabam sempre por apontar no sentido da especializao, determinando quem produz o qu, o que que se troca e ate o quanto se troca, no sentido de permitir determinar qual o volume de transaces que incentiva ao mximo a especializao.O clculo das vantagens comparativas envolve apenas a ponderao de custos de oportunidade e de taxas de substituio, que so valores proporcionais, susceptveis de expresso percentual, no estando dependente de qualquer considerao quanto dimenso absoluta do produtor, ao volume dos factores que emprega ou escala dos seus custos. o facto de cada pessoa se concentrar na produo de bens e servios para os quais existem custos de oportunidade mais baixos que explica os benefcios da especializao das trocas.

e) As fontes das vantagens comparativas

i) Dotaes naturais ou herdadas

H pessoas naturalmente mais e menos dotadas para o desempenho de certas funes e essas diferenas podem ser vantajosamente aproveitadas na diviso social do trabalho.Ns no nascemos iguais, e pese embora o esforo formativo, seria irracional desperdiarmos a desigualdade inata e no aproveitarmos algum desse esforo no sentido do aprofundamento dessa ddiva natural de diversidade.Por outro lado, demasiada nfase nas dotaes inatas pode no s encaminhar-nos para muito perigosas tentaes eugnicas, com antecedentes histricos sinistros, como pode reflectir uma atitude conformista e fatalista que sugeriria a futilidade do esforo de aperfeioamento individual e colectivo e a irrelevncia das escolhas que presidem a esse esforo: desconsiderando a inteligncia com que individual e colectivamente nos auto-determinamos, fazendo a nossa histria, promovemos endogenamente o incremento da nossa prosperidade.Um dos pilares da vida econmica da sociedade moderna a perspectiva de colocao das aptides individuais ao servio de um esforo de progresso tecnolgico que, por sua vez, incentiva e apoia o progresso de aptides individuais, incrementando os meios e as recompensas para o investimento em capital humano, premiando o mrito que reside na aquisio de dotaes, privilegiando as aptides mais visveis e mais padronizadas de acordo com critrios de aferio institucional, sempre de acordo com pressupostos de mobilidade social que se concentram no dom da perfectibilidade humana.Na actividade econmica, a desigualdade de dotaes naturais no uma maldio, mas sim uma oportunidade de partilha, de enriquecimento e de transcendncia. J sem esta conotao moral se constata a desigualdade de dotaes naturais ou herdadas entre as vrias naes: diferenas de clima, solos, configurao geogrfica, acessibilidade, so ou podem ser decisivas para provocarem profundas diferenas de aptides produtivas entre regies e entre Estados, e para determinarem inicialmente as linhas demarcadoras da diviso internacional de trabalho.

ii) Dotaes adquiridas

A perfectibilidade um motor decisivo da conduta; pode s-lo tanto dos indivduos como das naes.A maior parte daquilo que podem considerar-se dotaes adquiridas reconduz-se ao conceito amplo de capital, o conjunto de meios de produo que tiveram por sua vez que ser produzidos, o stock de recursos produtivos como mquinas e prdios.A opo racional entre consumo e investimento (na Fronteira de Possibilidades de Produo) no inteiramente indiferente, na medida em que investir propiciar mais directamente a formao de dotaes adquiridas, embora indirectamente o aumento do consumo possa ter precisamente o mesmo efeito.

iii) Capital humano e especializao

Aquele que aposta numa formao muito especializada ou numa educao superior, ou o pas que acarinha as suas instituies educativas e cientficas, que fomenta a investigao e a inovao, esto ambos a investir na melhoria das qualidades humanas que podem resultar em incrementos de produtividade e de riqueza.Em termos objectivos, basta reconhecermos o papel da tecnologia no crescimento econmico e constatarmos que a tecnologia essencialmente conhecimento para concluirmos que no pode deixar de haver uma correlao positiva entre educao e crescimento.Nada disto seria possvel sem a intermediao de um investimento em capital de risco (venture capital), o financiamento em inovao tecnolgica que essencialmente consiste num salto de f em direco aos rumos que, com uma margem de extrema incerteza, podem garantir incrementos de produtividade at vanguarda do progresso econmico.A vanguarda econmica no alcanvel sem a sinergia do capital humano com o capital social das instituies, em termos que permitem a destrina de vrias acepes de capital humano que, combinadamente com o adequado enquadramento jurdico-poltico, propiciam o salto qualitativo na produtividade. Aquilo que, desde finais do sc. XX, se tem designado por Nova Economia precisamente o reflexo da ecloso de novos sectores produtivos dominados por investimentos intensivos em conhecimento e informao, em capital humano, como a informtica ou as telecomunicaes, e explosivos incrementos de produtividade em sectores tradicionais nos quais foi possvel aplicar as inovaes tecnolgicas. A confluncia do capital humano com a exploso da tecnologia de informao contribuiu decisivamente para a acelerao da produtividade agregada nos pases industrializados.O fenmeno tem sido atribudo, nas suas incidncias reais (no-especulativas) essencialmente combinao de algumas caractersticas estruturais (intensificao do emprego de capital por hora de trabalho; aumento de formao tecnolgica por trabalhador; aumento simultneo, em vrios sectores, e sob a liderana do sector informtico e da tecnologia da informao, da produtividade total dos factores).Quanto especializao, sublinha-se que a diviso do trabalho, que pode resultar de no mais do que uma opo inteiramente arbitrria, tem contudo algumas virtualidades de auto-reforo (a prtica habitual agua o engenho, e o treino, o labor paciente, a persistncia que fazem, frequentemente, a excelncia do especialista).A especializao potencia a manifestao das capacidades produtivas:1Porque reduz o nmero e a diversidade das tarefas, facilita a aprendizagem;

2Porque tende a uma estabilizao em tarefas repetitivas, permite que a habilidade aumente a custos marginais decrescentes;

3Propicia que a ateno se liberte dos aspectos rotineiros para se concentrar nos pontos crticos nos quais possvel um progresso tcnico ou mesmo a descoberta e a inveno.

Por maior que seja a sua importncia, a especializao tem limites: o da dimenso do mercado e o da desumanizao (a repetio pode resultar num ambiente produtivo desincentivador, esgotante, no qual as pessoas caem em hbitos rotineiros que so os seus horizontes de ambio e talento, imveis a desafios e avessos a novidade, sem orgulho no produto final, em que no se revem).

f) A diviso internacional de trabalho

Conquanto a sua dimenso e a existncia de uma dinmica prpria nos seus mercados internos permita aos pases encararem a opo da autarcia como uma soluo mais vivel e menos radical do que o para as pessoas singulares, nenhum pas pode, na actualidade, acalentar sequer a mais remota esperana de furtar-se ao comrcio internacional e ao mesmo tempo conseguir, seja manter o seu prprio nvel de prosperidade, seja acompanhar o progresso econmico dos demais pases.As trocas entre Estados podem dizer respeito a:1Transaco de bens e servios: As importaes permitem ao consumidor nacional ter acesso a maior nmero e diversidade de produtos, as exportaes permitem ao produtor nacional ter acesso a mercados mais vastos e diversificados, possibilitando a formao de excedentes e a remunerao em moeda estrangeira.

2Deslocaes de pessoas: As deslocaes respeitam aos movimentos migratrios. Os emigrantes buscam condies de remunerao que o mercado de factores, especificamente o mercado de trabalho, lhes no propicia internamente; os imigrantes buscam as oportunidades de obterem remuneraes que no so alcanveis nos seus mercados de origem. Muitas das vantagens que podem alcanar-se com o comrcio internacional de bens e servios podem ser obtidas tambm, e ainda complementadas, pela liberdade de circulao de trabalhadores.

3Movimentos de capitais: Permitem que haja investimentos, poupana, financiamentos que transcendem as fronteiras nacionais, que a prpria titularidade de recursos produtivos, ou a assuno dos riscos inerentes s iniciativas empresariais seja internacionalmente partilhada. Muitas das trocas internacionais assumem um carcter multilateral, e no simplesmente uma feio bilateral. A multilateralidade, se permite maior flexibilidade nas trocas e maior agilidade na escolha ptima dos factores de produo, e se por essa via o caminho mais curto em direco ao crescimento e reduo da pobreza, agrava drasticamente, por outro lado, a interdependncia, e os riscos de reverberao dos choques que se faam sentir em qualquer ponto da cadeia, j que quanto mais profunda a dependncia recproca, maior a probabilidade de que se registe um efeito de domin, envolvendo em cadeia o destino econmico de todos os agentes econmicos abrangidos nessa rea de multilateralidade.

g) Os custos da interdependncia

Comrcio: Designa, na sua vertente de interdependncia, de cooperao e de coordenao, toda a actividade produtiva, aquela mesma que se representa em mini- -modelos de circulao econmica.Os ganhos das trocas implicam agravamentos de interdependncia.Capital social: o adquirido civilizacional que corresponde sedimentao dos nexos de interdependncia que vrias razes colocam nos alicerces da sociedade; visto de um prisma individualista, o conjunto de vantagens que qualquer pessoa pode retirar da sua pertena a uma sociedade, ainda que essas vantagens dependam genericamente de uma contrapartida de obrigaes e limitaes, ou reclamem nveis mnimos de participao nas actividades colectivas, at como forma de travar ou evitar a degradao da experincia comunitria ou da formao e legitimao da vontade poltica; h quem evite completamente esta expresso.h) Livre-cambismo, proteccionismo e interdependncia

Tudo indica que as vantagens e o potencial de ganhos recprocos ultrapassam em muito os custos da perda de independncia. As relaes econmicas internacionais so uma eloquente ilustrao do movimento para o aument