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nova Economia_Belo Horizonte_16 (2)_303-322_maio-agosto de 2006 Microeconomia reducionista e microeconomia sistêmica Eleutério F. S. Prado Professor da USP Resumo No artigo sustenta-se que outra microecono- mia, metodologicamente diferente do redu- cionismo neoclássico, está em processo de rápido desenvolvimento: a microeconomia sistêmica e evolucionária. A anterior baseia- se em agentes clarividentes, que se infor- mam, mas não se instruem, e que agem com racionalidade substantiva. A última funda-se em agentes parcialmente cegos, que apren- dem e que atuam racionalmente de modo adaptativo. Mostra-se que o fulcro da dife- rença entre essas duas alternativas encon- tra-se no modo de conectar as partes entre si e as partes com o todo. Na primeira, os agen- tes são independentes entre si e as proprie- dades globais são obtidas por agregação. Na segunda, os agentes encontram-se organiza- dos pelas estruturas sociais e formam com- posições que têm propriedades emergentes. Assim, as partes e o todo se pertencem, ou se- ja, são inseparáveis. Na primeira, os agentes são definidos apenas por suas propriedades intrínsecas, mas na segunda o são também por suas propriedades relacionais. Abstract This paper argues that another microeconomics, methodologically different from neoclassical reductionism, is rapidly developing: systemic and evolutionary microeconomics. The former is based on clear-sighted agents that have access to information but do not really learn, and always proceed with substantive rationality. The latter is based on partially blind agents who learn and act rationally in an adaptive way. The study demonstrates that the crux of the difference between these two alternatives is the way they connect the parts among themselves and the parts to the whole. In the former, the agents are independent of each other and global properties are obtained by aggregation. In the latter, the agents are organized by social structures and they form compositions that have emergent properties. Therefore, the parts and the whole belong to each other; that is, they are inseparable. In the former, the agents are defined only by their intrinsic properties, but in the latter, they are also defined by their relations. Palavras-chave microeconomia evolucionária, microeconomia sistêmica, racionalidade adaptativa, racionalidade limitada, problema da composição. Classificação JEL B41, B52, D01. Key words evolutionary microeconomics, systemic microeconomics, adaptive rationality, procedural rationality, composition problem. JEL Classification B41, B52, D01.

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nova Economia_Belo Horizonte_16 (2)_303-322_maio-agosto de 2006

Microeconomia reducionista e microeconomia sistêmica

Eleutério F. S. PradoProfessor da USP

Resumo

No artigo sustenta-se que outra microecono-mia, metodologicamente diferente do redu-cionismo neoclássico, está em processo derápido desenvolvimento: a microeconomiasistêmica e evolucionária. A anterior baseia-se em agentes clarividentes, que se infor-mam, mas não se instruem, e que agem comracionalidade substantiva. A última funda-seem agentes parcialmente cegos, que apren-dem e que atuam racionalmente de modoadaptativo. Mostra-se que o fulcro da dife-rença entre essas duas alternativas encon-tra-se no modo de conectar as partes entre sie as partes com o todo. Na primeira, os agen-tes são independentes entre si e as proprie-dades globais são obtidas por agregação. Nasegunda, os agentes encontram-se organiza-dos pelas estruturas sociais e formam com-posições que têm propriedades emergentes.Assim, as partes e o todo se pertencem, ou se-ja, são inseparáveis. Na primeira, os agentessão definidos apenas por suas propriedadesintrínsecas, mas na segunda o são tambémpor suas propriedades relacionais.

Abstract

This paper argues that another microeconomics,

methodologically different from neoclassical

reductionism, is rapidly developing: systemic and

evolutionary microeconomics. The former is based

on clear-sighted agents that have access to

information but do not really learn, and always

proceed with substantive rationality. The latter

is based on partially blind agents who learn and

act rationally in an adaptive way. The study

demonstrates that the crux of the difference

between these two alternatives is the way they

connect the parts among themselves and the parts

to the whole. In the former, the agents are

independent of each other and global properties

are obtained by aggregation. In the latter, the

agents are organized by social structures and

they form compositions that have emergent

properties. Therefore, the parts and the whole

belong to each other; that is, they are

inseparable. In the former, the agents are defined

only by their intrinsic properties, but in the

latter, they are also defined by their relations.

Palavras-chave

microeconomia evolucionária,microeconomia sistêmica,racionalidade adaptativa,racionalidade limitada,problema da composição.

Classificação JEL B41, B52,D01.

Key words

evolutionary microeconomics,

systemic microeconomics,

adaptive rationality,

procedural rationality,

composition problem.

JEL Classification B41, B52,

D01.

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1_ Introdução

Acredita-se usualmente entre os econo-mistas que a microeconomia neoclássicaé uma disciplina bem estabelecida e quese encontra consagrada em seus grandestraços. E essa imagem é transmitida noslivros didáticos que se costuma empregarnos cursos de graduação e de pós-gra-duação para ministrar a matéria que levaesse nome. Junto com essa constatação, aqual apenas registra o estado das coisasno ensino e na difusão dos conhecimen-tos econômicos, têm-se como certas vá-rias idéias bem duvidosas.

Pensa-se generalizadamente que aabordagem largamente dominante, e quepode ser classificada como neowalrasia-na, é a única que produz uma inteligibi-lidade abrangente dos fenômenos eco-nômicos. Julga-se normalmente que essemodo de teorizar, o qual se preocupacentralmente com a coerência possíveldo sistema econômico, é, em exclusivo,aquele capaz de apresentar tais fenôme-nos como decorrentes das decisões deagentes racionais (em sentido instrumen-tal, obviamente). Ademais, acredita-se fir-memente que esse modo fundado em de-cisões maximizadoras respeita a idéia clás-sica de “mão invisível”. Sob tal visão,chega-se a pensar que os mercados apro-veitam otimamente as decisões autocen-

tradas e independentes de um sem núme-ro de unidades econômicas para produ-zir um resultado global que se afigura co-mo consistente e benéfico para todos osseus participantes.

Neste artigo contesta-se essa vi-são, mostrando metodologicamente queoutra microeconomia é possível e que elajá está em desenvolvimento. O argumen-to aqui desenvolvido sustenta-se numavisão alternativa. Acredita-se que a micro-economia sistêmica e evolucionária con-vém melhor ao entendimento dos mer-cados realmente existentes, uma vez quepermite compreendê-los em seu processo.Ademais, ela possibilita apresentar algu-mas características globais do sistema eco-nômico por meio de uma noção de mãoinvisível mais fiel ao modelo encontradoem A riqueza das nações.1 Em decorrência,pensa-se que a própria possibilidade daconcepção triunfante, largamente hege-mônica no século XX e atualmente, de-correu da repressão de um modo alterna-tivo de pensar a esfera econômica. Esseoutro modo encontra-se hoje em eclipse,mas foi originariamente empregado comenorme agudez e pertinência – ainda quede maneira pouco formalizada – pela eco-nomia política clássica. Para dar substân-cia a essa visão, quer-se mostrar que a al-ternativa da microeconomia sistêmica e

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1 Esse ponto foidesenvolvido em outrosdois artigos em que seprocurou discutir o conceitode mão invisível (Prado, 1993,2006). Neste último,formaliza-se a mão invisívelcom base na noção dedinâmica de replicação.

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evolucionária – que ganha hoje uma per-tinente expressão matemática – vem aser em princípio abrangente no trato dosfenômenos econômicos e é capaz de fun-dar as propriedades macroeconômicas naatuação microeconômica dos agentes, do-tando-os também de racionalidade ins-trumental, mas não exclusivamente.

A defesa dessa tese será aqui apre-sentada por meio da contraposição entredois modos de tratar as unidades econô-micas, as suas interações e os resultadosconjuntos das ações individuais. Um des-ses modos será denominado de microe-conomia reducionista, e o outro, de mi-croeconômica sistêmica.2 De maneira pre-liminar, pode-se dizer que, no primeirocaso, os agentes são entendidos comounidades de decisão clarividentes, dota-das de racionalidade grosso modo perfei-ta e já constituídas como tais em face dasescolhas; no segundo, elas são vistas co-mo parcialmente cegas, em processo deconstituição para tomada de decisão edotadas de racionalidade limitada.3

A mesma contraposição, a seu mo-do, foi feita por Simon. Ele distinguiu aracionalidade que atua nas situações emque o conhecimento é pleno, as expecta-tivas são corretas e o resultado da açãoé certo, chamando-a de substantiva. “Ocomportamento é substantivamente ra-

cional” – diz ele – “quando é adequadopara a obtenção de dados objetivos nascondições e limites existentes” (Simon,1976). Pois, nas situações complexas, ra-dicalmente incertas e pouco transparen-tes, prevalece uma racionalidade adapta-tiva que busca apenas o razoável. Eis quea “racionalidade procedimental” – emsuas palavras – “resulta de deliberaçãoapropriada e depende do processo que agera” (Simon, 1976).

De maneira mais centrada, comoos adjetivos empregados para caracteri-zá-los já indicam, a contraposição entremicroeconomia reducionista e microeco-nomia sistêmica tem por fulcro o modode conexão das partes entre si e das par-tes com o todo. No primeiro caso, os to-dos econômicos serão entendidos sem-pre como resultados gerados por meiode interações que se somam, ou seja, co-mo agregações; no segundo, por outrolado, eles serão compreendidos como sis-temas ou como composições globais, jáque as interações que os constituem, cons-tituem em processo também os própriosagentes enquanto tais.

Nessa segunda microeconomia, oscomponentes do sistema vão aparecernão como indivíduos autodeterminados,mas como agentes limitados, ou seja, co-mo seres atuantes, mas que estão larga-

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2 Um texto moderno que deuimportantes contribuiçõespara essa microeconomia foio de Schelling. Em seu livroMicromotives and macrobehavior,ele considerou que “esse tipode análise explora a relaçãoentre os comportamentoscaracterísticos dos indivíduosque formam um agregadosocial e as característicaspróprias desse agregado”(Schelling, 1978, p. 13). Aquio que ele chama de “agregadosocial” é entendido não comomero agregado ou “soma”,mas como composição social.3 Ainda que a elaboração dovínculo seja matéria que exigeextenso desenvolvimento,pode-se afirmar que alimitação da racionalidade temrelação com a incertezakeynesiana (Bateman, 1989;O’Donnell, 1989). Um estudoimportante quanto àsimplicações do conceito deracionalidade procedimentalpara a teoria econômica, assimcomo uma crítica de suaslimitações, foi feito porVercelli (2005).

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mente determinados pela posição socialque ocupam na estrutura existente de re-lações. Ao se considerar eventualmente ainversão entre sujeito e objeto que, segun-do Marx, caracteriza o capitalismo, elesaparecem mesmo como suportes de rela-ções sociais.4 Em perspectiva crítica, aliás,neste último caso, em vez de empregartermos abstratos como agente ou indiví-duo para designar as unidades do sistema,vem a ser mais correto usar as determina-ções posicionais que os identificam, taiscomo trabalhador e capitalista.

Antes de prosseguir, é necessáriomencionar que não se pretende tratar nes-te artigo da distinção entre a economiaclássica e a economia neoclássica conquan-to tais. Diferentemente, procura-se estabe-lecer nos planos da ontologia e da meto-dologia uma distinção entre dois modosalternativos de apreender a realidade eco-nômica, os quais – crê-se – se firmaramhistórica e concretamente, em grandes tra-ços, nessas duas correntes teóricas.

A suposição central é que a ciênciaeconômica, em sentido amplo, sempreprocurou se assenhorear da realidade es-tabelecendo conexões sistemáticas entreas partes constituintes e as totalidadessociais constituídas. Mais precisamente,desde a sua origem, ela buscou encontraros vínculos entre as propriedades dos

elementos individuais – e/ou das rela-ções sociais que estruturam e organizamesses elementos – e as propriedades glo-bais resultantes de suas interações. Ao fa-zê-lo, tomou essas propriedades como de-correntes de mera agregação ou, alterna-tivamente, como resultados que advêmda composição das partes e de seu proces-so de constituição. Ante a alta complexida-de dessas totalidades, percorreu assim doiscaminhos: um deles que se caracteriza porrespeitar essa complexidade enquanto tal,e outro que está marcado pelo propósitode simplificá-la ao máximo.

2_ Diferenças lógicas gerais

Ainda que a ciência econômica institu-cionalizada prefira se ver primeiramen-te por sua dimensão metodológica – elaé antes de tudo um procedimento siste-mático para acumular conhecimento derelações aparentes sobre a esfera da pro-dução, da repartição e do consumo –,vê-la por meio de sua dimensão ontoló-gica permite ir mais a fundo no examede sua natureza.5

A microeconomia reducionista ori-enta-se pelo propósito de apreender acomplexidade do social por meio de umesquema explicativo que se conforma àexposição dedutiva. Em conseqüência,

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4 Esta última perspectiva,como se sabe, encontra-seamplamente desenvolvida emO Capital. Aqui, para nãoperder o foco estrito naontologia e na metodologia dateoria econômica, que não éum saber crítico como tal, masum saber meramenteexplanatório, ela serácolocada amplamente entreparênteses. Justamente porisso, aliás, o saber críticonão está no âmbito de umateoria econômica, de umamicroeconomia.5 Esta seção do artigobaseia-se em parte numaapresentação das ontologias emetodologias das ciênciassociais feita por Bunge nolivro Epistemologia. Aí, esseautor distingue três concepçõesbásicas de sociedade, as quaissão denominadas deindividualismo, globalismoe sistemismo (Bunge, 1980,p. 167-182).

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ela se esmera para obedecer, com a maiorexatidão possível, aos princípios da lógi-ca clássica: ou seja, da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído. Essapretensão lógica carrega consigo, entre-tanto, um pressuposto ontológico muitosignificativo: os elementos individuais queentram na arquitetura analítica têm ne-cessariamente de ser entidades fechadasem si mesmas e exteriores umas em rela-ção às outras. Disso decorre que as tota-lidades sociais vêm a ser sempre conce-bidas como agregados ou conjuntos deindivíduos considerados, eles mesmos,como átomos sociais. Em conseqüênciado fato de que, assim, essas totalidadesnão têm qualquer estatuto ontológico in-dependente das partes que as compõem,qualquer propriedade social apenas podeaparecer como algo estritamente resul-tante das propriedades desses indivíduos.

Ademais, nessa perspectiva, as to-talidades sociais como tais não podeminfluir ou atuar sobre os indivíduos: estesfiguram na análise como fontes de ação ede decisão independentes, mesmo se sãofirmas, sindicatos ou países. A microeco-nomia reducionista suspeita da idéia se-gundo a qual as entidades sociais têmuma realidade própria e que elas apresen-tam propriedades autônomas em relaçãoàs propriedades de seus membros. Assim,

por exemplo, ela encara as instituiçõesapenas como idealidades sociais postascoletivamente pela subjetividade huma-na, ou seja, como “coisas” que apenasexistem na mente dos indivíduos. Alémdisso, ela suspeita também do comporta-mento individual orientado em funçãode instituições supra-individuais. Os in-divíduos que compõem a sociedade, porassim dizer, permanecem isolados dasdeterminações vindas da sociedade. Emconseqüência dessa autonomia, as pró-prias interações sociais apareçam sem-pre como meras relações causais entreos componentes do todo social. Eis queessa microeconomia é capaz apenas deconsiderar as chamadas externalidades,ou seja, os efeitos das decisões de unsque mudam meramente as condições deescolha de outros.

A microeconomia reducionista ori-enta-se por princípios metodológicos con-sistentes em tese com esses supostos on-tológicos, os quais aparecem enfeixadosna noção de individualismo metodológi-co. Segundo essa noção, a explicação dequalquer regularidade econômica ou so-cial deve ser invariavelmente remetida àspropriedades dos membros componen-tes da totalidade social em que ela apare-ce. Na perspectiva da cientificidade ato-mista, a explicação dos fatos só pode ser

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legitimamente encontrada na conduta in-dividual e na decisão privada de agentesautocentrados.

A confluência desses supostos on-tológicos e metodológicos pode ser es-quematicamente resumida na Figura 1.6

Esta apresenta um problema genérico deexplanação econômica em dois níveis:micro e macroeconômico; e o faz pormeio de dois movimentos: um deles, ana-lítico, que vai do nível macrossocial parao nível microssocial e o outro, sintético,que segue o caminho contrário. O primei-ro movimento decompõe a regularidademacroeconômica; já o segundo agrega as

ações dos indivíduos, resolvendo simulta-neamente um problema de coordenação.Em conjunto, esses caminhos formam – eisto é crucial – um percurso de sentidounidirecional.

Já a microeconomia sistêmica ésustentada por uma ontologia social queadmite a existência de todos formadospor indivíduos interligados por estrutu-ras7 sociais objetivas – sem supor, en-tretanto, que esse “todo” seja realidadetranscendente aos seus membros ou su-per-realidade no interior da qual os indi-víduos seriam meros epifenômenos.

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Regularidademacro a ser

explicadamacro

Regularidade

explicada

Interação e Agregação

Indivíduos Atomizados

Figura 1_ Microeconomia Reducionista

6 A figura aqui apresentadabaseia-se em figura similarencontrada em Coleman (1994,p. 1-23) e em Janssen (1993).7 Grosso modo, o termo“estrutura” designa o modode organização próprio doselementos de um sistema(Bertalanffy, 1969, p. 54).

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Os todos e as partes não são opos-tos de modo absoluto nessa microecono-mia. Em conseqüência, nela se assumeque essas composições sociais estrutura-das8 têm propriedades próprias, as quaisemergem das ações e interações sociaisconstituintes. Tais atributos pertencem aoscompostos, sem pertencer, entretanto, aoscomponentes. Ademais, essas proprieda-des sistêmicas encontram-se enraizadasnos comportamentos individuais, mas eles,em si mesmos, apenas respondem por elaspor meio da mediação de processos quetêm certa autonomia. Eis que as interaçõessão agora concebidas como expressões derelações sociais, as quais não são meras co-nexões externas, mas relações que consti-tuem em parte os próprios agentes sociaiscomo tais, produzindo, ao mesmo tempo, aprópria realidade sistêmica com caracterís-ticas intrínsecas e particulares.

Os todos sociais, ademais, caracte-rizam-se também por serem complexos,pois são formados por elementos hetero-gêneos que se interligam heterogeneamen-te, com elevadíssima multiplicidade. Aconcepção de economia como sistema im-plica supor, por isso, que os funcionamen-tos econômicos não são transparentes pa-ra os agentes, ou seja, que estes últimossão parcialmente cegos aos eventos ma-crossociais. As propriedades emergentes

no nível macroeconômico atuam de certomodo sobre os indivíduos, uma vez quesuas ações e decisões têm conseqüênciasnão intencionais, as quais retroagem sobreeles próprios. Na esfera da microecono-mia sistêmica, portanto, é necessário pen-sar as instituições como existências sociaisobjetivas, supra-individuais, que determi-nam em parte o comportamento dos indi-víduos, cujas ações, em última análise, in-conscientemente ou subconscientemente,são responsáveis por elas. A microecono-mia institucionalista, como também pode-ria ser chamada, admite, por exemplo, queo comportamento dos indivíduos pode es-tar determinado em parte pelas funçõesque exercem na organização social.

No âmbito da crítica da economiapolítica, o sistema econômico existentefoi encarado como o sistema da relaçãode capital. Foi tratado, então, como umsistema que se caracteriza por estar go-vernado por um princípio de desenvolvi-mento infinito, por possuir um funciona-mento global que escapa do controle dosagentes, os quais por isso mesmo são ti-dos como suportes ou funções das pró-prias relações de produção. Em vez deser um sistema que se reproduz segundometas postas pela ação política conscien-te dos homens, mostra-se então comoum sistema que se reproduz segundo au-

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8 Sobre isso, diz Auyang,“Composição não é meraagregação; os constituintes deuma composição interagem ea interação gera estruturas.Também não é meramenteinteração; pois, adicionalmente,tais composições sãototalidades que possuem assuas próprias propriedades”(Auyang, 1998, p. 1).

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tomatismos, que depende de formas feti-chistas e que sabota o caráter reflexivo daação humana individual e coletiva.

A microeconomia sistêmica não écompatível com o individualismo meto-dológico, ainda que haja autores dispos-tos a sustentar que este último pode serenxergado de um modo alargado queabre espaço para a determinação institu-cional das ações e decisões individuais(Latsis, 1976). Como isso implica, de cer-to modo, acolher uma contradição – osindivíduos determinam as instituições, eas instituições determinam os indivíduos–, há também autores que excluem essapossibilidade, assumindo que as prefe-rências dos agentes da microeconomianeoclássica são determinadas exclusivamente pelos desejos e pela apreensão defatos ditos naturais (Boland, 1982).

Na verdade, a metodologia da mi-croeconomia sistêmica requer muito maisdo que um individualismo instituciona-lista. Exige que a explanação das pro-priedades macrossociais nesse campo doconhecimento seja remetida sempre à sín-tese entre propriedades individuais e re-lacionais, já que é exatamente isso o queestá implicado no conceito de sistema.Assim, o próprio comportamento indivi-dual é explicado em função de caracte-rísticas psicológicas, posicionais, interati-vas, etc. do “indivíduo em sociedade”,

visto que, nessa perspectiva, o indivíduosem a sociedade é uma má abstração.Nessa perspectiva, pois, o próprio concei-to de indivíduo já envolve o conceito desistema, ou ainda, melhor dizendo, osconceitos de indivíduo e sistema se re-querem mutuamente.

Tal como anteriormente, a combi-nação das características ontológicas e me-todológicas da microeconomia sistêmicapode ser apresentada esquematicamente. Aexplanação, agora, segue um caminho maiscomplicado. Inicia-se com um movimentode análise que vai não só aos indivíduos,mas busca apreender também como elesse encontram organizados. Admite, assim,explicitamente, que a própria estrutura de-termina em parte o comportamento dosindivíduos ditos socializados. A interaçãodos indivíduos condicionada pela estruturadefine o modo de composição do sistema,que, por sua vez, modifica em processo ocomportamento dos indivíduos. Por isso,a explanação aqui é necessariamente dinâ-mica. O movimento sintético que explicaa propriedade macroeconômica parte dosindivíduos, mas o faz também pela compo-sição do sistema. O fenômeno explicado édito emergente porque ele não decorre,por redução, apenas das propriedades in-trínsecas dos indivíduos, mas se deriva emparte delas, mas também em parte das rela-ções que eles travam sob os constrangi-mentos da estrutura.

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Há um problema lógico inerenteao discurso teórico nessa espécie de mi-croeconomia que é preciso mencionar.Ela requer, por um lado, que se tenhauma visão dos agentes econômicos comoseres mutáveis, adaptativos; exige, poroutro, que se compreendam os fenôme-nos econômicos como processos de mu-dança, evolucionários. Eis que isso impli-ca supor que os próprios objetos sobexame científico não permaneçam idên-ticos a si mesmos, mas que, ao contrário,se transformem constantemente sob alente da teoria: os indivíduos aprendem,adquirem comportamentos, mudam as

próprias expectativas; os sistemas pas-sam por mutações, apresentam proprie-dades emergentes e de auto-organização.Em conseqüência, não se constituem co-mo objetos que se submetem facilmenteà lógica da identidade. Ao não perma-necerem sob o foco do estudo, eles im-pedem que se possa apreendê-los estri-tamente por meio do método axiomáti-co e dedutivo.

Essa dificuldade poderia sugerirque se chamasse o método científico ine-rente à teoria sistêmica de dialética9 –mas não aqui porque se assume as con-tradições, mas porque se as reconhece

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Propriedademacro a ser

explicadaemergente

Propriedade

explicada

Composição do sistema

Indivíduos socializados

Figura 2_ Microeconomia Reducionista

9 Tratando não das teoriascientíficas enquanto tais, masda teoria da própria ciência,o filósofo popperiano, HansAlbert, expressa tudo isso deum modo inequívoco. Naciência, diz ele, “não se aspiraà justificação do existenteatravés do recurso afundamentos seguros, e sim àsua refutação por meio doteste de contradições. Assimpode-se dizer, em verdade,que aqui dialética e evoluçãose encontram relacionadasnum sentido bemdeterminado, enquanto que,por um lado, o pensamentoaxiomático, ligado aomonismo teórico, tendemuito facilmente, por trás daaspiração a um fundamentoseguro, a dar valor àpersistência, à insistênciano que até então vigora”(Albert, 1976, p. 61).

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nos movimentos processuais, procuran-do evitá-las.10 Assim compreendido, essemétodo não coage o teórico a tomar ascontradições como objetivas – ora, eraexatamente isso o que fizeram Hegel eMarx11 –, mas o obriga a um permanenteesforço para fazer distinções analíticas:por um lado, o objeto é isso; por outro, omesmo objeto é aquilo. Pois, o desdobra-mento analítico do objeto é uma opera-ção necessária ao discurso científico quevisa apreendê-lo quando o próprio obje-to está em processo de mudança e detransformação ao longo do tempo.

Em resumo: na esfera da microe-conomia reducionista, pensa-se a esferaeconomia como um conjunto de indiví-duos atômicos cujas propriedades glo-bais são devidas aos próprios indivíduos;já na esfera da microeconomia sistêmi-ca, concebe-se a economia como um sis-tema adaptativo complexo que tem pro-priedades emergentes e que é capaz deauto-organização. A título de exemploilustrativo, lembre-se de que os preços nateoria neoclássica estão já, desde o início,implícitos nas preferências individuais,ao passo que, na teoria clássica, eles sãofenômenos emergentes no mercado. En-quanto, na teoria neoclássica, os preçossão explicados como propriedade da con-sistência agregada dos planos individuais,

na teoria clássica, eles surgem da açãoadaptativa dos agentes, mas flutuam forado equilíbrio em torno de um atrator sis-têmico chamado de preço natural ou depreço de produção.

3_ Microeconomia reducionista

A microeconomia dominante se enxergacomo teoria científica que adere firme-mente ao paradigma do individualismometodológico, segundo o qual as explica-ções dos fatos econômicos em geral de-vem ser construídas, em exclusivo, combase em suposições concernentes ao com-portamento dos indivíduos. Em conse-qüência, nela se trabalha com dois níveisde análise: o plano dos indivíduos, o qualcompreende unidades de decisão, tais co-mo consumidores, investidores, empre-sas, etc., e o plano dos agregados, em que setrata grosso modo das propriedades ine-rentes aos mercados ou mesmo das pro-priedades da economia como um todo.

As decisões individuais são descri-tas como comportamentos racionais, osquais buscam escolher o melhor curso deação possível para obter um dado objeti-vo viável, com base no melhor uso da in-formação disponível. Supõe-se que osagentes possuem ordenações de prefe-rências sobre todos os resultados eventu-

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10 Popper, um campeão doanti-hegelianismo e doantimarxismo, poderiaperfeitamente ter chegado aessa conclusão. Em “O que édialética?” (Popper, 1982), eleaceita a tríade “tese, antítese esíntese”, mas refutaingenuamente Hegel e Marx,pensando que eles assumemcomo existente a própriacontradição que a lógica formalrejeita. Popper ignora que essesdois autores apreendem acontradição fazendo distinçãoentre posição e pressuposiçãono interior da própriacontradição, de tal modo que oregistro do “é” se distingue doregistro do “não é”, ainda queeles se pertençam um ao outro,formando uma unidade (VerFausto, 1983).11 Nessa perspectiva, DuncanFoley sugere que “a dialéticapode ser utilmente entendidacomo uma tentativa deencontrar uma linguagemprecisa para discutir osfenômenos dos sistemascomplexos e da auto-organização” (Foley, 2003, p. 8).Um ponto importante éperceber que as dialéticashegeliana e marxiana vãoalém do evolucionismo, porquesão capazes de apreender asreais possibilidades demudanças estruturais.

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almente alcançáveis por suas ações, quepermanecem constantes durante toda aanálise. Os conjuntos das opções viáveisestão limitados pelas circunstâncias na-turais e pelas instituições sociais. Estasúltimas entram no quadro de análise, en-tretanto, apenas numa perspectiva mini-malista.12 Às vezes se admite que as con-seqüências das ações que podem ser toma-das pelos agentes lhes são perfeitamenteconhecidas, mas essa circunstância limitepode ser enfraquecida pela suposição deque eles se defrontam com a existênciade incerteza probabilística. Os agentesnão apenas tomam a melhor decisão combase nas suas expectativas sobre as con-seqüências de suas ações, mas se julgaque eles empregam com consistência to-da a informação disponível para formaruma expectativa a mais correta possível.

Em síntese, os agentes dessa mi-croeconomia são calculistas competentesque se preocupam em geral com elesmesmos e se movem pela ambição de ob-ter os maiores retornos possíveis. As in-terações entre eles têm sempre a forma ju-rídica de relações contratuais. O quadroinstitucional subjacente é, pois, o contra-to entre livres proprietários privados, oqual caracteriza apenas, como é bem sa-bido, a aparência do sistema. Ademais,para fazer abstração completa de todos

os outros elementos inerentes às intera-ções humanas em geral, como a igno-rância, a coerção, a assimetria de poder,etc. esses contratos são pensados comocompletos e decorrentes da expressa von-tade soberana dos contratantes. Dito deoutro modo, essa teoria supõe que oscontratos entre os agentes incluam todasas circunstâncias possíveis que cercam astransações econômicas. Tudo isso se con-figura, evidentemente, como uma ideali-zação de altíssima potência ideológica.

A resultante do conjunto das açõesindividuais é um fato social no plano agre-gado e que se manifesta como um estadode equilíbrio. Esse estado que figura co-mo mero resultado é implicitamente vi-sado por elas, com maior ou menor pre-cisão. De qualquer modo, é aqui, na pas-sagem do nível individual para o nívelagregado, que aparece a obra do métodoreducionista, o qual se encontra, entre-tanto, desde o começo, no cerne dessamicroeconomia, uma vez que as proprie-dades dos indivíduos antes referidas, eque pareceram primeiras em relação aomomento da agregação, foram na verda-de talhadas na medida exata para a aplica-ção desse método. O caminho que vai dofenômeno agregado a ser explicado àspropriedades relevantes dos indivíduosconsiste numa decomposição. Por meio

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12 A própria instituiçãoda propriedade privada,por exemplo, aparece naanálise apenas por meio darestrição orçamentária.

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dela, os indivíduos são tomados comoátomos plenamente constituídos e queinteragem entre si, direta ou indiretamen-te, de modo estritamente externo, semque cada um deles possa influir ou mudaras determinações de qualquer outro. Ocaminho que vai das propriedades atômi-cas dos indivíduos para o fenômeno ex-plicado é o da mera agregação (que não é,necessariamente, uma operação trivial).

Um exemplo canônico de explana-ção de microeconomia reducionista é ojogo denominado genericamente de “di-lema do prisioneiro”. Tal jogo configurauma situação de interação social típicaem que se enfrentam dois agentes egoís-tas, ambos substantivamente racionais, quetêm duas opções estratégicas: cooperar ouse eximir de fazê-lo. Os retornos da inte-ração estão associados a um bem coletivoque apenas pode ser produzido se am-bos cooperarem. O jogo conquanto talvisa apresentar um contexto social emque há contradição entre os interesses in-dividuais e os interesses coletivos. Paramelhor caracterizar a situação como umencontro de agentes individualistas, su-

pôs-se na construção do exemplo que osretornos esperados (pay-offs) são própriosdos indivíduos envolvidos. Assim, comose vê na figura abaixo, o jogador da linhaobtém retornos subjetivos substancial-mente superiores ao jogador da coluna.

Como se sabe, essa interação deapenas uma fase tem um equilíbrio de es-tratégia dominante, e ele é um resultadoinferior do ponto de vista do bem-estardos agentes, já que a opção de mútua coo-peração produziria um resultado melhorpara cada um deles. Como os jogadoresmaximizam o próprio retorno estrita-mente de um modo autocentrado, na si-tuação desse jogo, eles não conseguemproduzir o bem coletivo que os colocariaem melhor situação. Ainda que a raciona-lidade individual produza aqui um resul-tado irracional do ponto de vista coleti-vo, esse resultado não pode ser atribuídoa uma suposta fraqueza do método deanálise, já que esse jogo obedece rigoro-samente às condições do método reduci-onista. Dito de outro modo, nesse mode-lo o equilíbrio é um resultado estrito daagregação de decisões individuais.13

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13 O dilema do prisioneiromostra, por outro lado, que aapologia das interaçõesestratégicas, e dos contratosnelas baseados, tambémtem o seu limite.

Cooperação Defecção

Cooperação 30 ; 3 0 ; 4

Defecção 40 ; 0 *10 ; 1*

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4_ Microeconomia sistêmica

Um tratado recente que apresenta de mo-do integrado e em extenso as concepçõesda microeconomia sistêmica, aí qualifica-da como evolucionária e institucional,busca de modo bem significativo

apresentar a teoria que versa sobre como

os comportamentos individuais e as insti-

tuições econômicas interagem para produ-

zir resultados agregados14 e sobre como os

indivíduos e as instituições mudam no

tempo (Bowles, 2004, p. 8).

O que já mostra de uma maneira sintéticaque essa microeconomia se caracterizapor ser não-reducionista, ou seja, por nãopermitir que se concebam as totalidadesem geral como meras somas de indivíduos.Ao contrário, indica que se tem de pensaressas composições como modos estrutu-rados de organização social – isto é, co-mo sistemas –, os quais têm uma dinâmi-ca própria bem complexa e que, por issomesmo, não podem ser tomados comoapreensíveis pela razão científica de mo-do pleno. Rigorosamente, a ciência osentende conceitualmente, apenas em prin-cípio, sem pretender representá-los ou re-presentar fielmente o seu comportamento.

Nesse modo alternativo de pen-samento microeconômico, as ações sãoainda concebidas como intencionais, maselas têm sempre conseqüências não inten-cionais. Os agentes têm metas e procuram

alcançá-las, mas não são senhores auto-centrados no contexto da interação. Aocontrário, são pensados como seres limi-tados tanto em sua capacidade cognitivaquanto em sua competência para agir ra-cionalmente. Como tais, eles podem terpreferências que abarcam tanto interessespróprios quanto interesses sociais, nemsempre distinguíveis com a clareza da aná-lise reducionista que opera só por meio dadedução. Em função do contexto em quese encontram, eles podem agir – empre-gando uma terminologia padrão – de mo-do egoísta ou altruísta. Em geral, em mi-croeconomia sistêmica prefere-se pensar apopulação de agentes como heterogênea.Assim, julga-se aí que se deve conceber si-tuações em que os agentes diferem entre si,por exemplo, quanto ao grau com que dãosuporte aos interesses e bens coletivos.

Segundo a microeconomia sistê-mica, os indivíduos, as organizações e osmercados co-evolvem. Os sistemas deinterações não são estáticos, mas evolu-cionários. E isso tem algumas implica-ções interessantes: nessa perspectiva, porexemplo, tornam-se muito importantesos retornos crescentes de escala que afe-tam um amplo conjunto de processos,entre os quais os tecnológicos. Tais retor-nos aparecem quando certas ações ouatividades apresentam resultados que au-mentam mais do que proporcionalmen-te quando, por exemplo, cresce o núme-

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14 O autor escreve “aggregate

outcomes”, mas é evidente queele quer se referir a resultadosque aqui são chamados de“sistêmicos”.

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ro de pessoas por elas responsáveis. Osprocessos de realimentação negativa ouconstante dão origem a comportamentossistêmicos que tendem a estados de equi-líbrio estatístico-estacionários. Já os pro-cessos de realimentação positiva estão li-gados tanto às transformações e ao apa-recimento de fases, assim como do novo,quanto à dependência de trajetória e aoauto-encerramento (lock-in).

A microeconomia sistêmica tam-bém se vale de modelos, mas as técnicasmatemáticas empregadas diferem em certamedida daquelas utilizadas pela micro-economia reducionista. Ambas utilizamos instrumentos do Cálculo Diferencial eIntegral, mas mesmo aqui subsistem di-ferenças: se a última emprega especial-mente as técnicas de otimização estáticae dinâmica, a primeira concentra-se nouso das equações diferenciais e a diferençasfinitas. Se a última tem preferência toda es-pecial pelo método axiomático dedutivoe pela análise topológica, a primeira apre-cia bastante a matemática experimental eos sistemas dinâmicos não lineares, osquais hoje empregam intensamente, ain-da que não em exclusivo, as simulaçõescomputacionais para apreender os ciclos,os comportamentos caóticos, as bifurca-ções e os atratores estranhos. Em especial,a microeconomia sistêmica, na formu-

lação de modelos, propõe-se atualmentea empregar certas técnicas matemáticasdesenvolvidas depois do advento da “pro-va de Gödel” e do conseqüente colapsodo programa formalista de Hilbert: sis-temas classificadores, algoritmos genéti-cos, autômatos celulares, teorias do cam-po aleatório, etc.15

No campo das analogias com asciências naturais, também se observamdiferenças importantes. Se a microeco-nomia neoclássica, por exemplo, utilizaprincipalmente do formalismo da termo-dinâmica clássica,16 subsiste atualmenteuma série de tentativa de empregar osformalismos da mecânica estatística mo-derna. As teorias dos campos aleatórios edas transições de fase estão sendo utiliza-das com o objetivo de entender melhoralguns aspectos da realidade econômicaligados às interações sistêmicas de múlti-plos agentes.17 Se a microeconomia con-sagrada continua se desenvolvendo pormeio do emprego da teoria dos jogos tra-dicional, que trata da tomada de decisõessimultâneas ou sucessivas num contextoestático, a nova microeconomia faz usoda teoria dos jogos evolucionários, a qualse desenvolveu primeiro no campo daBiologia Matemática. Ademais, a Econo-mia está hoje procurando acompanhar

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15 As técnicas matemáticas eos conceitos empregados nateoria dos sistemas complexosadaptativos estãoapresentados, de mododidático, em Casti (1992).16 Mirowski mostrou comoum desejo de aproximar aEconomia Política da FísicaMatemática motivou osurgimento da teorianeoclássica, indicandotambém como essa meta foirealizada por meio daincorporação no seio daprimeira do formalismotermodinâmico desenvolvidonesta segunda ciência(Mirowski, 1984). Foley, poroutro lado, apontouinequivocamente como anoção de equilíbrio dosmodelos de equilíbrio geral éum caso especial do equilíbrioestatístico, quando a entropiainformacional do sistema étornada zero (Foley, 1994).17 Freitas empregou essatécnica no Brasil comresultados interessantes(Freitas, 2003).

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as ciências naturais que tomaram a inicia-tiva de estudar formalmente os proces-sos de auto-organização, os quais combi-nam características estocásticas e deter-ministas, fazendo uso da chamada “teo-ria dos processos ergódigos”.

Pode-se ilustrar o modo de expla-nação da microeconomia sistêmica com-parando-o com o modo da microeco-nomia reducionista. Para isso, pode-seampliar o dilema do prisioneiro antesapresentado por meio da consideraçãode uma estrutura social mais rica. Admi-ta-se, por um momento, que os agentessão ainda, de início, calculistas compe-tentes, mas que eles dispõem, agora, deuma estratégica adicional que expressaum princípio normativo de reciprocida-de. Essa estratégia, usualmente chamadade tit-for-tat, consiste na seguinte regra decomportamento: se o outro coopera, oagente também coopera; caso, entretan-to, o outro opte pela defecção, o agenteem consideração acompanha essa opçãopara minimizar a sua perda. É patenteque essa norma só pode vir a existir sea relação social entre os jogadores forconstitutiva das suas preferências. Emconseqüência, na hipótese de que eles ve-nham a adotá-la, deixam de se preocuparexclusivamente com eles mesmos. Ao adi-

cioná-la às opções do jogo, o homo econo-

micus já está sendo transformado em homo

reciprocans (Gintis e Bowles, 1998).A matriz de retornos, em que es-

ses estão agora expressos em valores su-postamente objetivos (por exemplo, emdinheiro), encontra-se abaixo. Um estu-do desse jogo sob a perspectiva da estra-tégia de melhor resposta de cada um dosjogadores, em face de cada uma das op-ções possíveis do outro, mostra que hádois equilíbrios de Nash. Ora, essas solu-ções são características da metodologiareducionista. Elas permitem pensar, seos agentes estiverem posicionados numdesses equilíbrios, que eles não terão es-tímulos para se desviarem para uma ou-tra estratégia; mas essa metodologia nadapermite dizer sobre como eles podem al-cançá-lo. Ao se concentrar na situação deequilíbrio como um resultado que advémde um processo de otimização, esse mo-do de análise se impede de teorizar sobreo processo por meio do qual a situaçãode equilíbrio pode vir a ser obtida. Comoa estratégia de reciprocação é normati-va, e a opção estratégica que a viabilizaé meramente instrumental, haverá umainconsistência nessa solução do jogo deinteração se ela for proposta.

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A solução para esse problema teó-rico vem a se repensar o problema nocontexto de um jogo evolucionário, cujapreocupação central é a dinâmica fora doequilíbrio. Nesse jogo populacional, asestratégias são normas de comportamen-tos que os agentes podem eventualmenteseguir. Esses, agora dotados de racionali-dade limitada, escolhem individual e cons-cientemente as estratégias disponíveis, mas,conquanto um todo populacional, con-vergem inconscientemente para uma so-lução, ou seja, para determinada estraté-gia ou para uma combinação delas, pormeio de um processo de aprendizagem ede formação de si mesmos.

Para pensar a solução de um mo-do ilustrativo, suponha-se que há um es-tado originário em que todos os mem-bros da população, quando se enfrentamem encontros bilaterais, optam constan-temente pela defecção. Eles vivem, porassim dizer, num estado de natureza, le-vados que foram por uma mão invisívelmaléfica. Suponha-se que alguns deles,em certo momento, descobrem a opção

de reciprocação e passem a experimentá-la eventualmente. Inicialmente, essa açãoainda não se afigura para eles como umanorma social válida, mas apenas comouma oportunidade de testar uma alterna-tiva. À medida que fazem experimentos,verificam que o seu próprio retorno mé-dio aumenta, ou seja, descobrem aos pou-cos que o comportamento mais coopera-tivo é mais vantajoso. Ao fazê-lo, passam aconsiderar aqueles com que cooperam co-mo parceiros. Suponha-se, também, que osmembros da população menos bem-suce-didos sejam capazes de imitar o comporta-mento dos membros melhor sucedidos.

Assim, o comportamento de reci-procação, aos poucos, passa a ser adota-do generalizadamente pela população, detal modo que ela passa a viver, agora, noestado de sociedade. Do ponto de vistado jogo evolucionário, esse processo equi-vale ao deslocamento de um equilíbriopara outro. Conceitualmente, o compor-tamento estratégico assim se transformanum comportamento normativo, e este éum resultado que emerge – é incutido na

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Cooperação Defecção Reciprocação

Cooperação 3 ; 3 0 ; 4* *3 ; 3

Defecção *4 ; 0 *1 ; 1* 1 ; 1*

Reciprocação 3 ; 3* *1 ; 1 *3 ; 3*

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mente dos jogadores – sem que eles o te-nham buscado conscientemente. Trata-sede um resultado não intencional de açõesintencionais cegas, ou seja, um produto so-cial legítimo da mão invisível que, nessecaso, atua beneficamente.18

5_ Conclusões

Diante da existência dessas duas alter-nativas, quais seriam as perspectivas dedesenvolvimento da microeconomia emgeral? A microeconomia sistêmica, quepensa o sistema econômico fora do equi-líbrio, poderá superar a microeconomiareducionista, que o pensa essencialmenteno equilíbrio? Eis aqui perguntas a quea própria visão de mundo sistêmica eevolucionária considera difícil responder.Pois, para ela, o futuro é incerto e podereservar muitos caminhos alternativos pa-ra a teoria econômica estabelecida. Apesarda alternativa hoje consagrada ser bem in-ferior à outra eventualmente emergente,até porque, de um ponto de vista teórico,pode ser encarada como esfera de seuscasos particulares (para a microeconomiareducionista, grosso modo, os processos eco-nômicos no mundo real convergem sem-pre para atratores de ponto fixo), a pri-meira tem a força de uma concepção do-minante. De qualquer modo, a micro-

economia sistêmica pode ser desenvolvi-da para enfrentar todos os problemasrelevantes no campo da Economia Polí-tica, desde a formação de preços até ascrises financeiras (Arthur, 2005).

Apresentar a Economia capitalistapor sua aparência mercantil e como re-sultante estável de decisões particulares –que se originam, por sua vez, de indi-víduos movidos pelo retorno privado edotados de racionalidade clarividente eeficiente – ou seja, como agregados emestados de equilíbrio –, parece bem con-fortável diante das turbulências e dos di-laceramentos da realidade econômica empermanente transformação. Por outro la-do, entretanto, a ciência tem dinâmicaprópria, que pode surpreender os segui-dores do ramerrão teórico e pouco re-flexivo contido nos livros-textos. Essesse julgam ainda instalados em fortalezas,mas os teóricos de fronteira da própriateoria neoclássica sabem bem hoje que ogigante está enfraquecido e que ele tempés de barro.19 É de se acreditar, porém,que a força dos argumentos possa ter ain-da papel importante na trajetória da teoriaeconômica, ainda que a cultura dominantepossa ter entrado na fase pós-moderna.Saber, entretanto, quão decisivo poderãoser os argumentos racionais em face dospreconceitos ideológicos para definir o

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18 A apresentação formal ecompleta desse jogo e de suasolução requer muitas páginas,e não apenas um parágrafo.Uma formalização com baseem dinâmica de replicaçãopode ser encontrada numestudo do autor (Prado, 1999).Ver também Axelrod (1984).19 Como se sabe, os“pés de barro” da teorianeoclássica contemporâneasão os teoremas deSonnenschein, Debreu eMantel (Soromenho, 2000).

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futuro da microeconomia é até certo pon-to uma grande incógnita.

Há, entretanto, diferenciais quepodem favorecer a microeconomia sistê-mica. Ela está em consonância com cer-tos desenvolvimentos atuais das ciênciasnaturais, os quais estão voltados à apre-ensão e à compreensão de certos proces-sos de que estão na origem das formasexistentes de auto-organização, seja nomundo inanimado, seja na esfera da vida,seja ainda na esfera da inteligência.20 Oestudo da emergência de formas maiscomplexas de organização da matéria,valendo-se de formas menos complexas,é um objeto privilegiado de estudo no en-contro, por exemplo, da Química Orgânicae da Biologia (Kauffman, 1995). À medi-da que a microeconomia sistêmica podedispor hoje de formalismos matemáti-cos avançados (Boccara, 2004), em es-pecial aqueles da Matemática recursiva(Wolfram, 2002; Velupillai, 2000), ela po-de sair da defensiva para fazer vir à luzuma visão mais profunda da realidadeeconômica em processo. Eis que aquitambém, por um lado, podem existir re-tornos crescentes em escala. Por outrolado, como a sociedade humana em to-das as esferas possui freios conservado-res, é possível que esse potencial de de-senvolvimento possa ser contido aindapor um largo tempo.

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20 Uma introdução didática,popular e muito difundida àschamadas “ciências dacomplexidade” vem a ser olivro de Coveney e Highfield(1995). Um tratado sobre odesenvolvimento da Biologiaevolucionária é a obra magnade Stephen J. Gould (2002).

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O autor agradece os comentários

dos pareceristas anônimos da

revista Nova Economia.

Artigo recebido em agosto de 2005

e aprovado em junho de 2006.

E-mail de contato do autor:

[email protected]