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Desigualdades Territoriais: um Estudo sobre as Relações de (Des) proteção de Famílias na1 Política de Assistência Social

Marília Gonçalves Dal Bello2

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo estudar as desigualdades territoriais como fins de identificar as discrepâncias entre proteção desproteção das famílias em relação aos serviços socioassistenciais. Para tanto o estudo ocupa-se não só com o estudo das ofertas, mas sobretudo com as certezas com as quais as famílias contam na política de assistência social. O estudo aqui apresentado tem como recorte a cidade de Maringá, onde foram entrevistadas 166 famílias beneficiaria do Programa Bolsa Família (PBF), residentes em sete bairros da cidade de Maringá-Paraná. Para a coleta e análise de dados, adotou-se pesquisa quantitativa e qualitativa. Os resultados alcançados possibilitaram analises sobre a política de assistência social, permitiram considerar que, apesar dos avanços na cobertura de benefícios socioassistenciais, os desafios são ainda grandes no âmbito da extensão das certezas com as quais as famílias possam contar no campo dos serviços socioassistenciais.

Palavras chaves: assistência social, proteção básica, família.

Abstracty

The objective of this study is to study territorial inequalities in order to identify the discrepancies between the protection of the families and the socio-welfare services. Therefore, the study is concerned not only with the study of the offers, but above all with the certainties with which the families count in the policy of social assistance. The study presented here has as a cut-off the city of Maringá, where 166 families were beneficiaries of the Bolsa Família Program (PBF), living in seven districts of the city of Maringá-Paraná. For the collection and analysis of data, a quantitative and qualitative research was adopted. The results obtained allow us to analyze the social assistance policy, allowed to consider that despite the advances in the coverage of social assistance benefits, the challenges are still great in terms of the extension of the certainties with which families can count in the field of social assistance services.

Key words: social assistance, basic protection, family.

INTRODUÇÃO

Como resultado de pactos e correlações de forças entre governo e sociedade civil

nos espaços de gestão compartilhada, foi aprovada, pela resolução nº 145 de 15 de outubro

1 O estudo apresentado é parte da tese de doutorado defendida em dezembro de 2014.2 Assistente Social. Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Docente no curso deServiço Social na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR/Paraná- Campus Paranavaí).

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de 2004, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, a PNAS, cujas definições pautam a

implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

O SUAS, como sistema único de organização da política de assistência social,

parte de direitos específicos a serem reconhecidos por essa política pública, tendo no Estado

o principal responsável pela viabilização de ações interventivas para fazer frente a um

conjunto de desproteções, especialmente dos grupos populacionais pertencente à chamada

classe subalterna.

Inscrita como política de seguridade social, a ação específica da assistência social

é a proteção social não contributiva como direito de cidadania. Como outras políticas de

proteção, a assistência social ultrapassa o campo da iniciativa privada, individual e

espontânea, regendo-se por princípios de justiça social, respaldados por leis impessoais e

objetivas. Os direitos sociais estariam, desse modo, associados a uma postura ativa e

positiva do Estado em prover e fazer o que for devido ao cidadão, que, como tal, converte-

se em credor e titular legítimo desses direitos.

A proteção social, gestada no âmbito do SUAS prevê à proteção básica em seu

campo interventivo um conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios, incorpora o

PBF, que tem na renda a principal estratégia de provisão de proteção social à pobreza. Na

proteção básica, as famílias beneficiárias de renda e/ ou inseridas em programas

complementares devem também ser acompanhadas pelos serviços socioassistenciais,

conforme normatiza a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS/ 1993). Entretanto, a

valorização da renda em detrimento dos serviços socioassistenciais impõe-se como um dos

principais pontos de inflexão do PBF na proteção básica, dificultando a extensão de direitos

socioassistenciai.

O CRAS, principal equipamento da proteção básica da assistência social, vinculado

ao princípio da localização como estratégia para aproximar a política de assistência social às

famílias e aos territórios vulneráveis, deve ser fixado em áreas de maior vulnerabilidade. No

campo das especificidades da política de assistência social, ao CRAS é atribuído o trabalho

de informar e de orientar a população de sua área de abrangência, de gestar territorialmente

a rede de proteção socioassistencial, de articular intersetorialmente a rede de serviços locais.

A ele cabe também a oferta e o reconhecimento de direitos à proteção básica no âmbito dos

serviços socioassistenciais, como são o Serviço de Atendimento Integral a Família (PAIF) e

Serviço de Convivência de Vínculos Familiares e Comunitária. A partir dessa proposição o

presente trabalho, ao ter como recorte a cidade de Maringá e nela o CRAS Santa Felicidade,

localizado na zona Sul da cidade, tem como foco estudar com quais certezas podem contar

as famílias do PBF para se protegem. Para tanto segue analise das entrevistas realizadas

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junto a 166 famílias residentes em 7 bairros da cidade, sendo eles: Núcleo Habitacional

Santa Felicidade, Jardim Universo, Jardim Ipanema, Cidade Alta, Residencial Tarumã,

Parque Tarumã e Conjunto Habitacional Odwaldo Bueno Netto.

1.2- SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS: COM O QUE CONTAM AS FAMÍLIAS?

O PAIF é o principal serviço da proteção básica na assistência social. Define-se

como serviço socioassistencial de caráter continuado que, articulado ao CRAS, direciona-se

ao desenvolvimento de capacidades mediante respostas às vulnerabilidades das famílias de

baixa renda e de seus territórios de vivência. O CRAS, através do PAIF (vol.2, 2012),

coloca-se como a principal referência da política de assistência social na garantia de

reconhecimento de direitos aos seus usuários, pressupondo acesso aos bens, aos serviços,

aos direitos socioassistenciais e às demais políticas setoriais.

No âmbito do PAIF, o trabalho social com famílias prevê aquisições no campo da

política de assistência social, definindo-se por um conjunto de procedimentos centrados na

provisão de certezas no âmbito da segurança de acolhida, de convívio familiar e

comunitário e de desenvolvimento de autonomia das famílias de baixa renda. Nas práticas

interventivas que compõem o PAIF, é proposto o desenvolvimento de ações individuais

como atendimentos, encaminhamentos e inclusão em serviços socioassistenciais. Cabe

ainda ao PAIF o desempenho de ações coletivas, pressupondo trabalho sistematizado e

continuado, como oficinas e/ou grupos socioeducativos e reuniões destinadas ao conjunto

de famílias de baixa renda residentes no território de circunscrição da proteção básica.

Muniz (2011), ao tratar da relação entre demandas individuais e coletivas, afirma

que as demandas, muitas vezes trazidas aos serviços de modo individual, têm um caráter

coletivo, que deve ser explicitado e trabalhado pela inclusão das famílias e indivíduos em

espaços de vivência e relações solidárias com vistas à superação de condições de

subalternidade.

No campo específico da política de assistência social, o PAIF prevê aquisições de

capacidade no âmbito da família e do território. O fortalecimento de vínculos

intrafamiliares, a capacidade de mobilização das famílias por meio de ações que incentivem

a participação política, a autonomia e o reconhecimento, bem como o acesso a direitos em

seus territórios de moradia compõem meios de agir de famílias de baixa renda.

Há que se ressaltar que está se adotando o conceito de serviço socioassistencial como um conjunto de atividades continuadas e

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organicamente articuladas em torno de objetivos comuns, as quais respondem às seguranças afiançadas pela Assistência Social, prestadas em um determinado local e que se destinam a prover determinadas atenções profissionalizadas, afiançando aquisições sociais que resultam do exercício capacitador de vínculos sociais, por meio de metodologia de trabalho social e trabalho socioeducativo. (MUNIZ, 2011, p.103).

No conjunto das famílias pesquisadas, público-alvo do CRAS Santa Felicidade,

para além da renda paga pelo PBF, as necessidades das famílias, como mostra o gráfico 8,

associam-se em grande parte ao elevado número de cortes e bloqueios de benefícios. Nesse

caso, segundo a Resolução CIT nº 07 de 20091, constitui campo específico da assistência

social a inserção da totalidade dessas famílias no PAIF. Todavia, embora se reconheça a

importância de incluir famílias em descumprimento de condicionalidades nos serviços

socioassistenciais, a perspectiva de proteção à família, inscrita na PNAS/2004, não se

restringe ao emergencial. Ela se estende, sobretudo, a práticas interventivas qualificadas,

sistemáticas, planejadas, pressupondo aquisição de capacidade de reivindicar diretos no

âmbito da assistência social.

Nesse sentido, as informações coletadas a partir das famílias pesquisadas, para

além da constatação da presença do Estado na proteção básica da assistência social (quadro

5), revelam fragilidades de vínculos de cidadania, em decorrência daquilo com que contam

ou não no PAIF. Para responder a tais fragilidades, é essencial promover uma maior

integração entre serviços, benefícios e procedimentos vinculados à inserção das famílias de

baixa renda nos serviços socioassistenciais.

No gráfico 1, a prevalência no CRAS Santa Felicidade de procedimentos relativos

ao CadÚnico sinaliza que o conhecimento do CRAS pelos usuários ocorre principalmente

via esse instrumento

1 Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

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Gráfico 1 - Conhecimento do CRAS pelas famílias

Parque Tarumã

Jardim Universo

Resid. Tarumã

Cidade Alta

Jardim Ipanema

Santa Felicidade

Odwaldo Bueno

0.0% 20.0% 40.0% 60.0% 80.0% 100.0%

Conhecimento do CRAS

Cadastro no programa

Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa

Segundo dados do gráfico 1, mais de 80% das famílias pesquisadas contam com o

CRAS para se (re)cadastrar no CadÚnico, como condição para se manterem como

beneficiárias do PBF. Esse dado, contrastado com o gráfico 2, permite afirmar que a

inserção de famílias no CadÚnico, principal prática do CRAS Santa Felicidade, não é

acompanhada da inclusão de grande parte das famílias nos serviços e benefícios

socioassistenciais.

Gráfico 2 - Disponibilidade de serviços e benefícios no CRAS

Parque Tarumã

Jardim Universo

Resid. Tarumã

Cidade Alta

Jardim Ipanema

Santa Felicidade

Odwaldo Bueno

0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 30.0%

Grupo de mães/pais

Grupo Socioeducativo

Cesta básica

Auxilio transporte

Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa.

Ante os elevados percentuais de famílias que passaram por cortes e bloqueios de

benefícios monetários pagos pelo PBF (gráfico 2), a cesta básica, ofertada pelo CRAS Santa

Felicidade, coloca-se como um auxílio essencial para garantia da subsistência de seus

membros. Apesar disso, é bastante baixo e discrepante o contingente de famílias incluídas

como beneficiárias da cesta básica. Se no Conjunto Pioneiro Odwaldo Bueno Netto 30%

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das famílias colocam-se como beneficiárias da cesta básica, nos demais bairros menos de

10% encontram-se nessa condição. O que reforça a responsabilização individual das

famílias na provisão de proteção e subsistência aos seus membros, ratificada ainda pela

provisoriedade na oferta de benefícios materiais, como é a cesta básica.

Segundo o Plano de Ação do CRAS Santa Felicidade (2012), a concessão de cestas

de alimentos, por um período de três meses, é feita mediante contrato com as famílias

pressupondo o retorno ao trabalho. Contexto que fortalece perspectivas cuja lógica não é a

da política pública, mas a do mercado. Importante ainda ressaltar que, durante o período de

realização da pesquisa de campo (meses de abril a junho de 2013), segundo informações

dos entrevistados, as cestas básicas encontravam-se cortadas pela prefeitura, por um período

de aproximadamente cinco meses. Muitos entrevistados relataram estar recebendo

provisoriamente cestas de alimentos de associações religiosas ou de familiares, reforçando

um movimento de autorresponsabilização das famílias de baixa renda pela sobrevivência

dos seus membros e o caráter de ajuda e caridade que historicamente permeia a política de

assistência social.

Nas questões abertas, entre os que consideram poder contar com o CRAS Santa

Felicidade para proteção de sua família, muitos vincularam os auxílios recebidos a uma

ajuda diante da “carência” de acesso ao consumo de bens materiais, como os ligados à cesta

básica. Os próprios critérios de seleção de famílias de baixa renda para o acesso a benefícios

materiais fazem com que esses núcleos familiares passem novamente pelo filtro da

incapacidade, nesse caso, para a aquisição de bens materiais básicos fora da relação de

mercado (BRASIL/MDS, 2013b). Algumas falas foram bastante representativas na tradução

de uma política que, embora situada no campo do direito, seleciona e estigmatiza famílias e

indivíduos pela incapacidade de poder de consumo.

“[...] o CRAS é bom porque ajuda a gente, porque somos carentes.” (entrevistado/ Núcleo Habitacional Santa Felicidade)

“[...] ajuda os pobres nas necessidades.” (entrevistado/ Jardim Universo)

Além da cesta básica, outro benefício material ofertado pela proteção básica na

assistência social é o vale-transporte. Aprovisionado a percentuais inferiores a 10% das

famílias, o vale-transporte, apesar de concedido pela assistência social, é empregado como

meio de viabilizar consultas nos serviços de saúde.

Ao elucidar as especificidades da assistência social na relação com as políticas

setoriais, Sposati (2004a) salienta que à política de assistência social não cabe responder por

demandas materiais não supridas. Mas sim garantir, assim como as demais políticas

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setoriais, provisões materiais que possam viabilizar o acesso a serviços e benefícios

pertinentes ao que se propõe.

Além dos benefícios disponibilizados pelo CRAS, outros procedimentos

vinculados a serviços, como os encaminhamentos, também foram mencionados pelos

entrevistados, principalmente nas questões abertas. Solicitados a elencar em quais situações

podiam contar com o CRAS, os encaminhamentos para acesso a serviços, documentos e

cursos profissionalizantes foram os mais citados.

A ênfase em procedimentos vinculados a serviços, como são os encaminhamentos,

exige esclarecer que, embora constitua no âmbito do PAIF estratégia para facilitar o alcance

das famílias às políticas setoriais, essa prática não pressupõe aquisições específicas na

assistência social. Nesse caso, Sposati (2004b) alerta para o risco de a assistência social ser

relegada a mera mediação institucional, uma vez que em si não resolve, só agencia os

serviços dos outros. Seriam ainda as famílias as principais responsáveis por promover a

intersetorialidade entre as políticas sociais. Contrapor-se a tal perspectiva exige que os

encaminhamentos sejam valorizados sob a lógica da articulação intersetorial da assistência

social com as demais políticas setoriais, tendo como fim potencializar o reconhecimento de

direitos no campo das políticas setoriais.

Essa articulação deve ser fomentada principalmente pelo poder público, que, junto

aos gestores das políticas de saúde e educação, viabiliza saberes e intervenções

intersetoriais. Sob essa premissa, a troca de saberes, planejamento e avaliação no sentido de

aproximar linguagens institucionais e setoriais colocam-se como condição para provisão de

certezas na assistência social, bem como na educação e na saúde, a ser acionada por

famílias de baixa renda inseridas em complexos processos de exclusão social, como propõe

Junqueira (1998). A partir dessa perspectiva, o campo coletivo a ser construído no âmbito

da justiça social, portanto, do direito a ser respondido ante as desproteções da assistência

social, para além da segurança de renda e da presença de equipamentos e serviços

socioassistenciais, vincula-se a construção articulada de direitos coletivos no âmbito dos

serviços públicos.

No que diz respeito às ofertas encontradas no CRAS Santa Felicidade, destacam-

se, além dos benefícios e do PAIF, os Serviços de Convivência Familiar e Comunitária.

Importante ressaltar que em Maringá inexistem esses serviços no CRAS Santa Felicidade ou

nas suas proximidades, o que obriga crianças, adolescentes e idosos a percorrerem longas

distâncias para participar das atividades propostas. Nesse caso, é sobre os usuários que recai

grande parte da responsabilidade por permanecerem nos Serviços de Convivência Familiar

e Comunitária. As distâncias a serem percorridas, bem como o número de vagas nos Serviço

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de Fortalecimento de Vínculos Familiares e Comunitários1, contribuem para compreender a

limitada participação das famílias pesquisadas nesses serviços, conforme mostra o gráfico 3.

Gráfico 3 - Participação das famílias no Serviço de Fortalecimento

de Vínculos Familiares e Comunitários

Parque Tarumã

Jardim Universo

Resid. Tarumã

Cidade Alta

Jardim Ipanema

Santa Felicidade

Odwaldo Bueno

0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 30.0%

Grupo ou núcleo de convivencia

Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa

De acordo com o gráfico 3, é baixa a inserção (10%) ou menos na maioria dos

bairros das famílias nos Serviços de Convivência Familiar e Comunitária. Isso implica

considerar que as famílias pesquisadas, ao revelarem elevados percentuais de

descumprimento de condicionalidades, não estão sendo incluídas nem mesmo em caráter

emergencial nesses serviços. Dados que apontam à assistência social demandas a serem

reconhecidas pela inclusão de todas as famílias de baixa renda que necessitam do Serviço de

Fortalecimento de Vínculos Familiares e Comunitários.

As discrepâncias identificadas na relação de proteção/desproteção social no âmbito

dos Serviços de Convivência Familiar e Comunitária, bem como no âmbito do PAIF, apesar

de constatadas como necessidades a ser respondidas pela política de assistência social, são

timidamente sinalizadas pelos sujeitos da pesquisa, conforme aponta o gráfico 4.

1 O Serviço de Fortalecimento de Vínculos Familiares e Comunitários não é ofertado a crianças de até 6 anos, conforme prevê a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução nº 109 de 2009).

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Gráfico 4 - Dificuldades da família na relação com o CRAS Santa Felicidade

Parque Tarumã

Jardim Universo

Resid. Tarumã

Cidade Alta

Jardim Ipanema

Santa Felicidade

Odwaldo Bueno

0.0% 10.0% 20.0% 30.0% 40.0% 50.0%

Distancia do CRAS

Acesso a serviços

Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa

Segundo mostra o gráfico 12, 50% dos entrevistados residentes no Conjunto Habitacional

Pioneiro Odwaldo Bueno Netto reconheceram limites no acesso de membros da família aos serviços

socioassistenciais ofertados pelo CRAS. Em seguida vem o Conjunto Habitacional Cidade Alta,

onde 32% das famílias fizeram essa identificação. Nos demais bairros, apesar da baixa inserção das

famílias nos serviços socioassistenciais, não é percebida dificuldade em acessar tais serviços.

Em relação à distância, apenas 10% dos entrevistados residentes no Jardim Ipanema a

veem como fator de dificuldade para que membros da família cheguem até o CRAS Santa

Felicidade. Nos demais bairros, inclusive o Residencial Tarumã, localizado longe do CRAS (quadro

6), o percurso até a unidade de proteção básica da assistência social, referência para o bairro, não é

visto como fator que limita a busca pelo CRAS.

De acordo com os dados analisados, as famílias contam no PAIF principalmente com

procedimentos individualizados, associados à recepção de famílias de baixa renda para o cadastro e

recadastro no CadÚnico. Esse procedimento, deslocado da inserção extensiva da totalidade das

famílias beneficiárias do PBF nas atividades do PAIF e/ou nos Serviços de Convivência Familiar e

Comunitária, reforça perspectivas individuais, calcadas no repasse de renda, portanto, no poder de

consumo. A ausência e descontinuidade dos benefícios e a restrição dos serviços aos mais “carentes”

desconsideram necessidades de sobrevivência, de convivência, de autonomia, reforçando atributos

individualistas das famílias, moldados pela incapacidade de aquisição de bens materiais, como é a

cesta básica, na lógica do mercado.

De acordo com os resultados obtidos, a perspectiva individual revelada sobre os

procedimentos, com foco na inserção e manutenção de famílias de baixa renda no PBF, é reforçada

por práticas conservadoras ainda presentes na operacionalização da política de assistência social.

Essa percepção analítica sustenta-se pelos resultados da pesquisa realizada pelo NEPSAS (2011) na

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cidade de São Paulo, a qual revelou que o cadastramento de famílias soma-se, na prática interventiva

da política de assistência social, a antigos processos que, sob o exercício do plantão social,

reafirmam o emergencial, a urgência e o provisório como principais ações desenvolvidas pela

política de assistência social.

Considerado o propósito da política de assistência social de fortalecer capacidades, cumpre

retomar os estudos de Munck (2008), para quem a proteção social ultrapassa uma relação de causa e

efeito – ou seja, a regra normativa, embora existente, pode não ser operacionalizada ou apropriada.

Essa consideração pertinente se faz para que não se incorra no risco de ponderar a capacidade como

um atributo moral, em que o individuo, ou o “carente”, é o principal responsável por mazelas que

são societárias, estruturais e expressão de desigualdades que, intrínsecas às contradições capitalistas,

expressam-se em diferentes territórios ou bairros.

Nesse sentido, a construção de um sistema único em todo o território nacional convive de

modo paradoxal com a necessária superação da fragmentação das desigualdades no trato de

indivíduos e famílias sob condições similares de privações. O reconhecimento de direitos, da

equidade, da justiça, é uma primeira condição para a defesa da política de assistência social no

campo dos direitos, supondo que indivíduos e famílias tenham acesso a um conjunto de certezas e

seguranças que previnam ou reduzam situações de risco e vulnerabilidades. (BRASIL/MDS, 2013a)

Avançar nesse sentido, mais do que olhares homogêneos orientados pela renda e do que

indicadores que sinalizam a disponibilidade de equipamentos e serviços, implica identificar

heterogeneidades capazes de revelar em diferentes territórios com quais certezas as famílias de baixa

renda contam no campo das provisões da proteção básica da assistência social. O olhar em

microescala nos territórios intraurbanos, como são os bairros delimitados para este estudo,

conduzido por metodologia que colabore para evidenciar proteções e desproteções de bairros e

famílias, coloca-se como alternativa à construção de processos de vigilância socioassistencial e

defesa da assistência social como política pública de direito. Vislumbra-se, desse modo, a

possibilidade de leitura que, ao ultrapassar ocorrências tópicas e individuais, se transforme em

estratégia para o fortalecimento da capacidade protetiva de famílias de baixa renda. Na assistência

social, isso pressupõe o reconhecimento de direitos a benefícios e serviços à totalidade das famílias

que vivem condições similares de necessidade (BRASIL/MDS, 2013c).

De acordo com os resultados obtidos, a perspectiva individual revelada sobre os

procedimentos, com foco na inserção e manutenção de famílias de baixa renda no PBF, é

reforçada por práticas conservadoras ainda presentes na operacionalização da política de

assistência social. Essa percepção analítica sustenta-se pelos resultados da pesquisa

realizada pelo NEPSAS (2011) na cidade de São Paulo, a qual revelou que o cadastramento

de famílias soma-se, na prática interventiva da política de assistência social, a antigos

processos que, sob o exercício do plantão social, reafirmam o emergencial, a urgência e o

provisório como principais ações desenvolvidas pela política de assistência social.

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Considerado o propósito da política de assistência social de fortalecer capacidades,

cumpre retomar os estudos de Munck (2008), para quem a proteção social ultrapassa uma

relação de causa e efeito – ou seja, a regra normativa, embora existente, pode não ser

operacionalizada ou apropriada. Essa consideração pertinente se faz para que não se incorra

no risco de ponderar a capacidade como um atributo moral, em que o individuo, ou o

“carente”, é o principal responsável por mazelas que são societárias, estruturais e expressão

de desigualdades que, intrínsecas às contradições capitalistas, expressam-se em diferentes

territórios ou bairros.

Nesse sentido, a construção de um sistema único em todo o território nacional

convive de modo paradoxal com a necessária superação da fragmentação das desigualdades

no trato de indivíduos e famílias sob condições similares de privações. O reconhecimento de

direitos, da equidade, da justiça, é uma primeira condição para a defesa da política de

assistência social no campo dos direitos, supondo que indivíduos e famílias tenham acesso a

um conjunto de certezas e seguranças que previnam ou reduzam situações de risco e

vulnerabilidades. (BRASIL/MDS, 2013a)

Avançar nesse sentido, mais do que olhares homogêneos orientados pela renda e

do que indicadores que sinalizam a disponibilidade de equipamentos e serviços, implica

identificar heterogeneidades capazes de revelar em diferentes territórios com quais certezas

as famílias de baixa renda contam no campo das provisões da proteção básica da assistência

social. O olhar em microescala nos territórios intraurbanos, como são os bairros delimitados

para este estudo, conduzido por metodologia que colabore para evidenciar proteções e

desproteções de bairros e famílias, coloca-se como alternativa à construção de processos de

vigilância socioassistencial e defesa da assistência social como política pública de direito.

Vislumbra-se, desse modo, a possibilidade de leitura que, ao ultrapassar ocorrências tópicas

e individuais, se transforme em estratégia para o fortalecimento da capacidade protetiva de

famílias de baixa renda. Na assistência social, isso pressupõe o reconhecimento de direitos a

benefícios e serviços à totalidade das famílias que vivem condições similares de

necessidade (BRASIL/MDS, 2013c).

Com base nos pressupostos da PNAS/2004, calcados na matricialidade

sociofamiliar e territorial, reafirma-se que fortalecer a proteção de famílias traz o desafio de

transitar do individual ao coletivo. Instância que, ao ultrapassar o isolamento entre serviços

e benefícios, a valorização do poder de consumo e as atribuições morais pela condição de

pobreza, assenta-se na extensão de direitos com base nas seguranças socioassistenciais,

fundamentadas no desenvolvimento de potencialidades, autonomia e, portanto, de meios de

agir diante da pobreza.

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O fortalecimento de meios de agir de famílias exige da política de assistência

social respostas às multideterminações da pobreza no campo específico da assistência

social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A política de assistência social, embora tenha entre suas principais intenções a

proteção de famílias, certamente ainda depara-se com muitos desafios a serem vencidos.

Tendo em vista o estudo realizado, considera-se que a construção de um sistema

único em todo o território nacional convive de modo paradoxal com a necessária superação

da fragmentação das desigualdades no trato de indivíduos e famílias sob condições similares

de privações. O reconhecimento de direitos, frente as desigualdades é uma primeira

condição para a defesa da política de assistência social no campo dos direitos.

A prevalência no reconhecimento de direitos a benefícios e procedimento, coloca à

proteção básica, que o maior desafio está na necessária ampliação qualificada dos serviços

socioassistenciais, como é o PAIF e o Serviço de Convivência de Vínculos Familiares e

Comunitários. Isso exige uma maior incorporação do território, bem como de metodologias,

capaz de traduzir demandas e respostas a totalidades das necessidades das famílias, entre as

quais as beneficiárias do PBF.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JUNQUEIRA, L. Descentralização e Intersetorialidade: a construção de um modelo de gestão municipal. Rio de Janeiro, 1998. Disponível em: <http://biblioteca digital.fgv.br/>. Acesso em: 16/09/2014.

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MUNCK, J. Qu’est-ce qu’une capacité? In: ZIMMERMANN, B.; MUNCK, J. La Liberté au Prisme des Capacités. Amartya Sen Au-Delá Du Liberalisme. Èditions Del EHESS, Paris, 2008.

SPOSATI, A. Especificidade e intersetorialidade na política de assistência social. Serviço Social & Sociedade, ano XXV, n. 77, São Paulo, 2004a.

________. A pesquisa sobre segregação: conceitos, métodos e mediações. Espaço & Debates - Estratégias gerenciais, v. 24, n. 45, jan./jul. 2004b.

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DOCUMENTOS ANALISADOS

BRASIL.Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Caderno 1 - Capacita SUAS - A assistência Social: Política de Direito à Seguridade Social. Brasília: Secretaria Nacional de Assistência Social, 2013a.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Caderno 2 - Capacita SUAS - Proteção de Assistência Social: Segurança de Acesso a Benefícios e Serviços de Qualidade. Brasília: Secretaria Nacional de Assistência Social, 2013b.

________. Relatório NEPSAS/MDS. Produto 2. Relatório final e sumário executivo do estudo, contendo dados e resultados da pesquisa, além de indicadores e índices para análise da capacidade protetiva de famílias. Projeto PNUD BRA 04/046. São Paulo, 2011b.

________. Relatório NEPSAS/MDS. Estudo da Capacidade Protetiva das Famílias Beneficiárias de Programas Federais de Transferência de Renda em Regiões Metropolitanas Periféricas Metropolitanas. Brasília, 2011c.

________. Projeto PNUD/BRA/04/046. Relatório Painel de Indicadores para análise da capacidade protetiva da família de baixa renda residente em territórios vulneráveis de metrópoles e beneficiárias de programa de transferência de renda. São Paulo, 2011d.

MARINGÁ. Plano Diretor de Maringá. Maringá, 2012. Disponível em: <www2. maringa.pr.gov.br>. Acesso em: 06/11/2013.

________. SASC - Secretaria de Assistência Social e Cidadania. Plano de Ação do Centro de Referência da Assistência Social - CRAS Santa Felicidade. Maringá, 2012

LEGISLAÇÕES ANALISADAS

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004. Brasília, 2004.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Orientações Técnicas sobre o PAIF - Volume 1. O serviço de proteção integral à família, segundo a Tipificação de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2012.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Orientações Técnicas sobre o PAIF - Volume 2. Trabalho Social com famílias do Serviço de Atendimento Integral a Família. Brasília, 2012.

________. Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome - MDS. Conselho Nacional de Assistência Social - CNSA. Resolução nº 109 de 11 de novembro de 2009. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2009.

________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Comissão Intergestora Tripartite (CIT). Resolução nº 07 de 10 de setembro de 2009. Protocolo de Gestão Integrada de

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Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência Social - SUAS. Volume l. Brasília, 2009.