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PARTIDO POPULAR SOCIALISTA Migração e Tráfico de Mulheres Brasileiras Tráfico de pessoas significa o recrutamento, transporte, transferência, abrigo e guarda de pessoas, por meio de ameaças, uso da força ou outras formas de coerção, abdução, fraude, enganação ou abuso de poder e vulnerabilidade, com pagamento ou recebimento de benefícios que facilitem o consentimento de uma pessoa que tenha controle sobre outra, com propósitos de exploração. Isso inclui no mínimo, a exploração da prostituição de terceiros ou outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares à escravidão, servidão ou remoção de órgãos. A definição de tráfico e exploração, envolvendo ou não prostituição de outras pessoas, já constava dos Artigos 1º e 2º, fixados em 1949 na “Convenção para a Supressão no Tráfico de Pessoas e da Exploração para Prostituição de outros”. A ONU reforçou a idéia de eliminação de qualquer tipo de tráfico desde a Conferência de Pequim, de 1995, tanto através da Declaração quanto da Plataforma para Ação. O tráfico internacional de pessoas é tão complicado como o tráfico de armas e drogas, a corrupção e a lavagem de dinheiro. Segundo dados a Organização das Nações Unidas – ONU é uma das atividades mais rentáveis do crime organizado, com uma movimentação financeira estimada em US$ 9 bilhões por ano. Dentro da América Latina, os dados estatísticos não são exclusivos para o caso brasileiro. De acordo com documentos apresentados pela Fundação Helsinque de Direitos Humanos, organização não-governamental com sede na Finlândia, o Brasil é atualmente responsável por cerca de 15% da mulheres que saem da

Migração e Tráfico de Mulheres Brasileiras

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Page 1: Migração e Tráfico de Mulheres Brasileiras

PARTIDO POPULAR SOCIALISTA

Migração e Tráfico de Mulheres Brasileiras

Tráfico de pessoas significa o recrutamento, transporte, transferência, abrigo e

guarda de pessoas, por meio de ameaças, uso da força ou outras formas de coerção,

abdução, fraude, enganação ou abuso de poder e vulnerabilidade, com pagamento ou

recebimento de benefícios que facilitem o consentimento de uma pessoa que tenha

controle sobre outra, com propósitos de exploração. Isso inclui no mínimo, a exploração

da prostituição de terceiros ou outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços

forçados, escravidão ou práticas similares à escravidão, servidão ou remoção de

órgãos.

A definição de tráfico e exploração, envolvendo ou não prostituição de outras

pessoas, já constava dos Artigos 1º e 2º, fixados em 1949 na “Convenção para a

Supressão no Tráfico de Pessoas e da Exploração para Prostituição de outros”.

A ONU reforçou a idéia de eliminação de qualquer tipo de tráfico desde a

Conferência de Pequim, de 1995, tanto através da Declaração quanto da Plataforma para

Ação.

O tráfico internacional de pessoas é tão complicado como o tráfico de armas e

drogas, a corrupção e a lavagem de dinheiro. Segundo dados a Organização das Nações

Unidas – ONU é uma das atividades mais rentáveis do crime organizado, com uma

movimentação financeira estimada em US$ 9 bilhões por ano.

Dentro da América Latina, os dados estatísticos não são exclusivos para o caso

brasileiro. De acordo com documentos apresentados pela Fundação Helsinque de Direitos

Humanos, organização não-governamental com sede na Finlândia, o Brasil é atualmente

responsável por cerca de 15% da mulheres que saem da região para trabalhar em

cabarés, casas de prostituição, saunas e estabelecimentos do gênero em todo o mundo.

Ainda segundo este relatório – apresentado e divulgado no 1º Seminário

Internacional sobre Tráfico de Seres Humanos, sediado em Brasília em novembro de

2000, são atualmente 75.000 mulheres brasileiras que se prostituem em países da União

Européia para o Controle de Drogas e Prevenção do Crime e o Ministério das Relações

Exteriores.

Para o Delegado da Polícia Federal, Eriosvaldo Renovato Dias, o País precisase

preparara cada vez mais para combater o tráfico de pessoas. Para ele “ O Brasil é uma

praça de aliciamento e já identificamos o crime em todos os estados”

Desde 2003, a Polícia Federal já realizou nove operações especiais de combate ao

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tráfico internacional de pessoas. Uma das operações realizadas foi a Babilônia que

prendeu, em Goiás, sete pessoas de uma quadrilha que enviava mulheres para a

Espanha. Já a operação Castanhola desarticilou uma quadrilha que atuava no tráfrico

internacional de mulheres para Portugal. As mulheres eram aliciadas em Anápolis (GO).

No Rio Grande do Sul é tota preferencial para tráfico de seres humanos, revela

pesquisa “ Tráfico de Seres Humanos para Fins de Exploração Sexual no Rio Grande do

Sul”. O levantamento detectou que regiões com uma economia local forte, com infra-

estrutura, transporte ( aeroportos) e facilidade de emissão de passaporte são as

prediletas para o tráfico de mulheres. A coordenadora da pesquisa Marina Oliveira diz que

“ Desmistificamos o senso comum de que o tráfico de pessoas só ocorre em locais onde

os indicadores sociais são de extrema vulnerabilidade”, o trabalho mostra que as redes

criminosas também se articulam, associadas a cadeias produtivas globalizadas, como é o

caso do município de Caxias do Sul, centro industrial que atrai empresários de várias

partes do mundo ao Rio Grande do Sul.

Mulheres e o tráfico:

Traficar meninas e mulheres é uma das formas mais comuns de imigração mas

todo o trâmite tem características muito especiais. Com o propósito de oferecer/vender “

empregos sexuais”, as mulheres envolvidas, em geral, não estão conscientes da situação

que irão enfrentar ao chegar aos países receptores.

As mulheres brasileiras estão entre as principais vítimas do tráfico, para fins de

exploração sexual, revelam recentes pesquisas do Ministério da Justiça e do Escritória da

ONU contra Drogas e Crimes.

O perfil delas é o seguinte: têm em média entre 15 e 27 anos, são na grande

maioria aliciadas por taxistas, donos de boates e agências de modelo. A maior parte deles

é de Goiás, Paraná e Minas Gerais; cerca de 58% tem ensino médio, superior completo

ou incompleto ( 19,4%); as vítimas são em sua maioria, de origem humilde e recebiam no

Brasil até três salários mínimos.

O Brasil contribui para o tráfico de mulheres com cerca de 75 mil mulheres que são

exploradas sexualmente na União Européia, representando 15% do total de mulheres

exploradas nesses países.

Os aliciadores tem o seguinte perfil: são majoritariamente do sexo masculino,

sendo que 59% deles têm idade entre 20 e 56 anos, a pesquisa sobre Tráfico de

Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil –

Prestaf, apontou para a existência, no âmbito nacional, de um total de 161 aliciadores,

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dos quais 52 são estrangeiros e 109 brasileiros. Curiosamente, a pesquisa também

identificou 66 agenciadoras do sexo feminino, compondo 41% do totalde 161 aliciadores

encontrados.

A Pestraf indicou uma estreita relação entre pobreza e a exploração sexual

comercial, pois as rotas do tráfico apresentam-se em maior número nas regiões menos

favorecidas e desenvolvidas econômica e socialmente do Brasil. A pesquisa revala que a

Região Norte apresenta a maior concentração de rotas ( 76 rotas); seguida da região

Nordeste ( 69 rotas) e com maior diferença, das regiões Sudeste ( 35 rotas); Centro-Oeste

( 33 rotas) e Sul ( 28 rotas). O total de rotas de tráfico identificadas é portanto de 241.

Destinam-se ao tráfico interno ( rotas intermunicipais e interestaduais) 110 rotas, sende

que destas, 93 envolvem prioritariamente adolescentes.

O tráfico internacional mobiliza 131 rotas, das quais 120 enfocam apenas

mulheres. Disso a pesquisa tirou a seguinte conclusão: que as rotas internacionais são

preferencialmente destinadas ao tráfico de mulhres adultas e as rotas internas têm como

fico as adolescentes.

O principal destino são: Europa ( Itália, Espanha e Portugal); Paraguai, Suriname,

Venezuela e República Dominicana.

Deixaram do seu país de origem até a Espanha um total de 310.968 pessoas,

sendo que desse total são mulheres 169.573 e homens 141.395.

Com destaque especial para Bolívia, Brasil e Colômbia que o número entre homens e

mulheres se distanciam bastante.

Países de Origem Homens Mulheres

Bolívia 34.585 43.170

Brasil 14.374 18.212

Colômbia 16.581 19.040

Através desses dados, verifica-se que o número de mulheres migrantes é superior

ao número de homens migrantes. As mulheres latino-americanas representam um total de

50 % das mulheres estrangeiras na Espanha (CCOO, CERES, 2004).

Já uma pesquisa realizada, ano passado, no aeroporto internacional de Guarulhos,

revelou que mulheres brasileiras desacompanhadas e jovens têm maior chance de não

serem aceitas em países da União Européia. Ao todo 175 mulheres responderam a um

questionário. Do universo analisado, 76% não chegaram a ser aceitas nos países de

destino. Portugal foi o país que mais recusou a entrada das brasileiras, seguido da Itália,

França, Espanha e Inglaterra, respectivamente. Dados da Polícia Federal, cerca de

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22.500 brasileiros foram deportados ou não admitidos no exterior em 2004. Desse total

15.000 ( 33% mulheres) retornaram ao Brasil via Guarulhos.

Uma das coisas que mais preocupam as entidades é silêncio que se instaura, pois

as mulheres exploradas dificilmente denunciam as redes que as mantiveram no país por

medo de represálias e por desinformação. Pedro Garcia, diplomata do MRE que lida com

esta área, diz que isso é alarmente e preocupante, pois dificulta a prisão dos traficantes.

Uma rota que preocupa a Policia Federal e a Procuradoria Geral da República está

localizada em nove cidades do Estado de Goiás. O destino das mulheres é a Espanha, e

pelo menos cem mulheres já foram localizadas em boates espanholas , vinda diretamente

deste destino.

A situação de mulheres na Espanha se repete também em países como Portugal,

Alemanha e Itália. A Organização Internacional do Trabalho também confirma essa

tendência forte de tráfico entre Américas e União Européia e confirma que uma de suas

políticas e agendas prioritárias é investir em projetos em parcerias com países envolvidos

com a finalidade de restreamento das rotas domésticas e internacionais de tráfico de

mulheres, adolescentes e crianças. Muitas das vezes na Espanha a integração das

mulheres migrantes se dá, num primeiro momento, através de trabalho doméstico, que

em geral é substituído por outro na área de hotelaria. Foi verificado através de dados da

Seguridad Social espanhola que somente no mês de maio de 2008, 163.439 estrangeiros

ingressaram no mercado de trabalho, através de contratação doméstica, desses 148.482

são mulheres.

Nos últimos anos, diversas campanhas foram incentivadas e fomentadas com o

intuito de, no mínimo, explicitar a real situação em relação ao tráfico e violência contra

mulheres. O Governo Federal tem estimulado a sociedade a denunciar casos de abuso e

exploração sexual, para intensificar as ações de combate a esse tipo de violência.

Entretanto a miséria, as más condições de vida, a falta de informação são fatores que

impulsionam o aliciamento de mulheres para a prostituição e trabalho escravo no exterior.

O CHAME – Centro Comunitário de Apoio à Mulher, organização não-

governamental responsável pela divulgação e processo educativo de mulheres brasileiras

que integram o tráfico internacional, afirma ser a prevenção ao comércio e tráfico

Elaine Faria

Liderança do PPS