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CADERNO CRH, Salvador, v. 22, n. 55, p. 13-40, Jan./Abr. 2009 13 Ary Cesar Minella DOSSIÊ A partir da constatação da existência de conexões entre as associações de representação de classe dos bancos na América Latina, que se denominou rede transassociativa, o trabalho analisa a conexão dessa rede com organizações constituídas nos Estados Unidos para atuar politicamente ao redor do mundo. O foco é o Center for International Private Interprise (CIPE), constituído em 1983, vinculado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, e que promove reformas políticas e econômicas orientadas para o mercado. É uma das quatro organizações centrais do National Endowement for Democracy (NED), entidade financiada pelo governo daquele país. Examina-se especialmente o caso da Argentina e do Peru. Constata-se como a relação dessas entidades com organizações latino-americanas constitui uma base estrutural para o processo de construção de hegemonia de caráter neoliberal e como se articula com o sistema financeiro. O procedimento metodológico inclui a pesquisa bibliográfica e documental. PALAVRAS-CHAVE: hegemonia, democracia, sistema financeiro, redes transassociativas, National Endowement for Democracy (NED), Center for International Private Interprise (CIPE). INTRODUÇÃO Democracia é...”. A partir de setembro de 2008, os internautas que acessam o YouTube, o conhecido site de vídeo, foram chamados a defi- nir esse termo tão presente no debate contemporâ- neo. Os melhores vídeos serão contemplados com uma viagem a Washington e com outras mordomi- as. Os promotores do desafio são a Agência Ame- ricana para o Desenvolvimento Internacional CONSTRUINDO HEGEMONIA: democracia e livre mercado (atuação do NED e do CIPE na América Latina) 1 Ary Cesar Minella * ( United States Agency for International Development – USAID), subordinada ao Departamento de Esta- do, e uma organização chamada Fundo Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy – NED). O que tem em comum essa “simpática” pro- moção com o Instituto Apoyo no Peru, ou com o Centro de Implementación de Políticas Públicas para la Equidad y el Crecimiento (CIPPEC) na Argentina? Ou ainda com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e o Centro de Divulgación del Conocimiento Económico para la Libertad (CEDICE) da Venezuela? Mais ainda: o que isso tem a ver com o tema que nos ocupa aqui? As respostas a essas perguntas dependem, a meu ver, do entendimento do que representam o NED e as organizações a ele associadas. A pesquisa que realizo atualmente chegou ao NED através do Cen- tro Internacional para a Empresa Privada (CIPE – Center for International Private Enterprise) e a esse a partir da análise das associações de bancos na América Latina. Uma das constatações centrais dessa análise foi identificar o que denominei de rede transassociativa * Doutor em Estudos Latino-americanos pela Universidad Nacional Autónoma de México. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Profes- sor titular da Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Sociologia e Ciência Política. Campus Trindade. Cep: 88.040-900 - Florianópolis - Santa Catarina - Brasil. [email protected] 1 Trabalho desenvolvido dentro do projeto América Lati- na: uma visão sociopolítica das transformações e das perspectivas do sistema financeiro (IV etapa), iniciado em março de 2008, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), jun- to ao Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema Fi- nanceiro (NESFI). Agradeço especialmente a colabora- ção de Laura Gomez, que atua com Bolsa Permanência da UFSC e também a colaboração dos estudantes do Curso de Ciências Sociais que optaram por realizar a disciplina de Prática de Pesquisa junto a esse projeto: no primeiro semestre de 2008, Leonardo Salles e Gabriela Augusta da Silva, que atualmente participa como bol- sista de IC do CNPq, e alunos do semestre 2008/2, espe- cialmente Álvaro Pereira Santos.

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Hegemonia democracia e livre mercado

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A partir da constatação da existência de conexões entre as associações de representação de classedos bancos na América Latina, que se denominou rede transassociativa, o trabalho analisa aconexão dessa rede com organizações constituídas nos Estados Unidos para atuar politicamenteao redor do mundo. O foco é o Center for International Private Interprise (CIPE), constituído em1983, vinculado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, e que promove reformas políticas eeconômicas orientadas para o mercado. É uma das quatro organizações centrais do NationalEndowement for Democracy (NED), entidade financiada pelo governo daquele país. Examina-seespecialmente o caso da Argentina e do Peru. Constata-se como a relação dessas entidades comorganizações latino-americanas constitui uma base estrutural para o processo de construção dehegemonia de caráter neoliberal e como se articula com o sistema financeiro. O procedimentometodológico inclui a pesquisa bibliográfica e documental.PALAVRAS-CHAVE: hegemonia, democracia, sistema financeiro, redes transassociativas, NationalEndowement for Democracy (NED), Center for International Private Interprise (CIPE).

INTRODUÇÃO

“Democracia é...”. A partir de setembro de2008, os internautas que acessam o YouTube, oconhecido site de vídeo, foram chamados a defi-nir esse termo tão presente no debate contemporâ-neo. Os melhores vídeos serão contemplados comuma viagem a Washington e com outras mordomi-as. Os promotores do desafio são a Agência Ame-ricana para o Desenvolvimento Internacional

CONSTRUINDO HEGEMONIA: democracia e livre mercado(atuação do NED e do CIPE na América Latina )1

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(United States Agency for International Development– USAID), subordinada ao Departamento de Esta-do, e uma organização chamada Fundo Nacionalpara a Democracia (National Endowment forDemocracy – NED).

O que tem em comum essa “simpática” pro-moção com o Instituto Apoyo no Peru, ou com oCentro de Implementación de Políticas Públicaspara la Equidad y el Crecimiento (CIPPEC) naArgentina? Ou ainda com o Instituto Brasileiro deGovernança Corporativa (IBGC) e o Centro deDivulgación del Conocimiento Económico para laLibertad (CEDICE) da Venezuela? Mais ainda: oque isso tem a ver com o tema que nos ocupa aqui?As respostas a essas perguntas dependem, a meuver, do entendimento do que representam o NEDe as organizações a ele associadas. A pesquisa querealizo atualmente chegou ao NED através do Cen-tro Internacional para a Empresa Privada (CIPE –Center for International Private Enterprise) e a essea partir da análise das associações de bancos naAmérica Latina.

Uma das constatações centrais dessa análisefoi identificar o que denominei de rede transassociativa

* Doutor em Estudos Latino-americanos pela UniversidadNacional Autónoma de México. Mestre em Sociologiapela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Profes-sor titular da Universidade Federal de Santa Catarina.Departamento de Sociologia e Ciência Política. CampusTrindade. Cep: 88.040-900 - Florianópolis - SantaCatarina - Brasil. [email protected]

1 Trabalho desenvolvido dentro do projeto América Lati-na: uma visão sociopolítica das transformações e dasperspectivas do sistema financeiro (IV etapa), iniciadoem março de 2008, com apoio do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), jun-to ao Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema Fi-nanceiro (NESFI). Agradeço especialmente a colabora-ção de Laura Gomez, que atua com Bolsa Permanênciada UFSC e também a colaboração dos estudantes doCurso de Ciências Sociais que optaram por realizar adisciplina de Prática de Pesquisa junto a esse projeto: noprimeiro semestre de 2008, Leonardo Salles e GabrielaAugusta da Silva, que atualmente participa como bol-sista de IC do CNPq, e alunos do semestre 2008/2, espe-cialmente Álvaro Pereira Santos.

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das associações de bancos, constituída a partir dapresença simultânea de uma mesma instituição fi-nanceira na direção de associações de bancos dediferentes países (Minela, 2007). Bancos ou gru-pos financeiros norte-americanos e europeus apre-sentam maior centralidade nessa rede, como, porexemplo, o Citibank, que, em 2006, ocupava 13postos de direção em 10 países, e os espanhóisSantander e Bilbao Vizcaya, ambos presentes nadireção de associações em sete países. Esses ban-cos desenvolvem uma ativa política de participaçãonas entidades de classe do setor financeiro. A par-tir de uma perspectiva que procura analisar as co-nexões das associações de classe do empresariado(e especialmente das empresas e grupos econômi-cos que as comandam) com outras formas de orga-nização, dirigi a pesquisa para as organizações ge-nericamente definidas como político-ideológicas.Um exemplo importante era oferecido pelos Insti-tutos Liberais fundados no Brasil nos anos 1980,mantidos por grandes empresas brasileiras emultinacionais, incluindo grupos financeiros, eque foram amplamente analisados nas obras deGros (2003, 2004). Nesse rastreamento, identifiqueio CIPE, uma organização norte-americana que apoiaações políticas e ideológicas dos empresários naAmérica Latina e em outras partes do mundo.

Este artigo apresenta os primeiros resulta-dos da pesquisa e tem um caráter nitidamenteexploratório-descritivo que, segundo avalio, soci-aliza com o leitor bases empíricas, o que permiteampliar elementos interpretativos presentes nasanálises sobre a realidade latino-americana contem-porânea. Analiso, em primeiro lugar, o NED, de-pois o CIPE, seguido de um primeiro levantamen-to sobre o modo como o sistema financeiro insere-se nas redes de organizações a elas vinculadas.Finalmente, elaboro reflexões preliminares sobreo significado dessas articulações.

O CONTEXTO GLOBAL. REARTICULAÇÃO DAAÇÃO DO GOVERNO E DAS CORPORAÇÕESNORTE-AMERICANAS: a criação do NationalEndowment for Democracy (NED)

Ao final dos anos 70 e início dos 80, con-forme mostram vários estudos, o governo dos Es-tados Unidos redefiniu parte de sua estratégia deatuação e intervenção no exterior. O contexto glo-bal inclui um questionamento interno e externodas operações da Agência de Inteligência Ameri-cana (CIA), as implicações das ditaduras apoiadasna América Latina e as transformações que se ope-ravam na economia capitalista. Além do poderexecutivo, o legislativo americano e as corporaçõesprivadas foram envolvidos nesse processo.

Quando, finalmente, em 1983, o governoReagan e o Congresso dos Estados Unidos aprova-ram a formação do NED, estavam institucionalizando,através de uma organização não governamental, massustentada com recursos governamentais, um doscanais fundamentais de sua atuação e intervençãono exterior.2 Uma peça fundamental na construçãode uma hegemonia que se caracterizou comoneoliberal, mas que é, sobretudo, uma tentativa deatender à reestruturação capitalista em curso, confor-me os interesses estratégicos do governo e dascorporações norte-americanas.

A formação do NED foi seguida pela criaçãodo Center for International Private Enterprise(CIPE), e a ele também se vincularam o NationalDemocratic Institute for International Affairs (NDI)e o National Republican Institute for InternationalAffairs, mais tarde denominado InternationalRepublican Institute (IRI). Também se filiou ao NEDo Free Trade Union Institute (FTUI), um dos insti-tutos criados pela American Federation of Labor -Congress of Industrial Organizations (AFL-CIO)para atuar no exterior (Lowe, 2008; Ospina, 2007).3

2 A história do NED, a partir de sua própria perspectiva,aparece em artigo de Lowe (2008).

3 Para mais detalhes sobre a formação do NED, além dosdocumentos dessa instituição, incluindo o artigo deLowe (2008), ver Ospina (2007), Hale (2003), Guilhot(2001), Scott e Walters (2000). O texto de Ospina, publi-cado no Le Monde Diplomatique (edição brasileira) é umaboa síntese e contribui para o entendimento do contex-to do surgimento do NED e da sua atuação política.

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O NDI e o IRI4 são institutos associados ao PartidoDemocrata e ao Partido Republicano respectivamen-te; o CIPE constituiu-se como uma entidade daU.S. Chamber of Commerce (Câmara Americanade Comércio), uma poderosa organização empre-sarial à qual se vinculam mais de uma centena deassociações empresariais no mundo, incluindo amaioria dos países latino-americanos. Em 1997, aAFL-CIO unificou seus quatro institutos de atua-ção no exterior, incluindo o FTUI, criando oAmerican Center for International Labor Solidarity(ACILS), também conhecido como SolidarityCenter.5 A estrutura do NED representa, assim,uma articulação estratégica entre o Estado america-no, os dois partidos políticos dominantes, ascorporações norte-americanas e a cúpula do movi-mento sindical.

De acordo com Lowe, os objetivos do NED,definidos em sua fundação, são

... encorajar o desenvolvimento de instituiçõesdemocráticas através de iniciativas do setor pri-vado; facilitar o intercambio entre grupos do se-tor privado (especialmente entre os quatro insti-tutos integrados ao NED) e os grupos democráti-cos no exterior; promover a participação não-go-vernamental em programas de treinamento de-mocrático; fortalecer os processos democráticosno exterior em cooperação com as forças demo-cráticas locais; promover a cooperação entre osetor privado dos Estados Unidos e aqueles noexterior ”dedicados aos valores culturais, insti-tuições, e organizações democráticas pluralistas”;e encorajar o desenvolvimento democrático con-sistente com os interesses dos Estados Unidos edos grupos que recebem a assistência. (2008)

O mesmo autor – que, aliás, é vice-presi-dente do NED – destaca que a formalização dessa

instituição como uma organização não-governa-mental, apesar de ser financiada pelo governo dosEstados Unidos, “... permite que ela possa apoiarforças políticas democráticas em situações repres-sivas ou politicamente sensíveis, onde o apoio doGoverno dos Estados Unidos [...] pode ser diplo-mática ou politicamente inviável.” (Lowe, 2008,p. 8). Como observam Scott e Walters (2000, p.255), o NED permite desenvolver políticas quenormalmente seriam impedidas por princípios desoberania e não-intervenção, e essa “diplomaciainformal” é um elemento potencialmente útil paraa política externa. Essa dimensão intervencionistafoi denunciada no próprio Congresso norte-ame-ricano desde o início da formação do NED.

O NED é uma organização juridicamente pri-vada, mas seu orçamento está presente no Depar-tamento de Estado e deve ser aprovado pelo Con-gresso norte-americano. Os recursos são repassa-dos basicamente pela USAID. Durante os anos 90,recebeu entre 30 e 35 milhões de dólares anual-mente, parte dos quais é operada diretamente peloNED (entre 40-45%), e a outra é repassada para asquatro organizações, que também recebem fundosde outras fontes, como as corporações privadas(Scott; Walters, 2000, p. 239). Os recursos são uti-lizados para financiar atividades e organizações dediversos tipos no exterior: centros de pesquisa eformulação de políticas públicas (conhecidos comothink tanks), ONGs, associações empresariais e detrabalhadores, partidos políticos, organizações di-versas da sociedade civil.6 Ao mesmo tempo, con-tribui para o processo de “onguização” da políticasocial, conforme menciona Oliveira (2006, p. 284),e articula-se com o conjunto de forças que interfe-rem nas políticas públicas. Na avaliação de Petras(1997, 1999), um conjunto de ONGs, criado aolongo dos anos 80 e 90, desenvolveu uma açãopolítica para minar o crescimento de movimentos

4 Em 2005, junto com outras organizações, o IRI organi-zou, no Congresso Nacional brasileiro, um semináriosobre reforma política no país. O evento foi analisadorecentemente pela imprensa, pois o candidato republi-cano John McCain é um dos altos diretivos do Instituto(ver a matéria “Os EUA tentaram influenciar a reformapolítica do Brasil”, publicada pela Folha de São Paulo, 22jul., 2008, p.A10).

5 Para sua atuação no exterior, além do Free Trade UnionInstitute (FTUI), criado em 1977 para atuar na Europa,especialmente na Espanha e Portugal, a AFL-CIO conta-va com o American Institute for Free Labor Development(AIFLD – criado em 1962 para operar na América Lati-na), o African-American Labor Center (AALC, 1964) e oAsian-American Free Labor Institute (AAFLI, 1968) (cf.Amorim, 2007, p.354. Esse autor faz uma detalhadaanálise da fusão desses institutos para a formação doSolidarity Center e sua atuação no Brasil).

6 Entre 1990 e 1997, o NED financiou diretamente 1.754programas no mundo, com um total de US$ 153,2 mi-lhões de dólares. Esses recursos foram assim distribuí-dos: organizações da sociedade civil, 28,6%; organiza-ções de trabalhadores, 28,5%; partidos políticos, 16%;instituições educacionais, 15,4%; organizações empre-sariais, 5,3%; mídia, 5,8%; governamentais, 0,3% (Scott;Walters, 2000, p. 243, 244).

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sociais que se opunham ao modelo neoliberal.O NED recebe fundos específicos para apoi-

ar iniciativas em “países com interesse especial”,como ocorreu com Polônia (Sindicato Solidarieda-de), Chile, Nicarágua, países do Leste Europeu,África do Sul, Mianmar (antiga Birmânia), China,Tibet, Coreia do Norte. Depois dos atentados de11 de setembro de 2001, fundos especiais foramdirigidos para os países com significativa popula-ção mulçumana no Oriente Médio, África e ÁsiaCentral (Lowe, 2008). Segundo estimativas ofici-ais do NED, cada dólar investido nos programasno exterior gera fundos adicionais equivalentes aoitenta centavos provenientes de outras fontes,como ONGs, fundações privadas e organizaçõesgovernamentais (Scott; Walters, 2000, p. 254). Umadas principais iniciativas do NED foi a criação doWorld Movement for Democracy, que articula pes-soas e organizações que apoiam a democracia aoredor do mundo.7

No período de 1990 a 1997, os recursos paraa América Latina representaram 14,9% dos fun-dos totais canalizados diretamente pelo NED, e ospaíses prioritários foram Nicarágua, Cuba, Méxi-co, Guatemala, Chile e Argentina. No México, fo-ram viabilizados 21 programas, com recursos equi-valentes a US$ 2,2 milhões (Scott; Walters, 2000,p. 245, 248, 252). Em 2006, quando vários paísesdo continente latino-americano realizaram eleiçõespresidenciais e legislativas (Brasil, Chile, Colôm-bia, Costa Rica, Equador, Haiti, México, Nicará-gua, Peru e Venezuela), o NED financiava 95 proje-tos em 11 países, incluindo 14 projetos regionais.Mais de um terço dos projetos se dirigiu à regiãosubandina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru eVenezuela), com o maior número deles concentra-dos na Venezuela. Nesse país, o NED financiouatividades de organizações locais relacionadas coma independência e a transparência do poder ju-diciário, os direitos humanos, a defesa da inde-pendência da sociedade civil e com organizaçõesindígenas, “fortalecendo suas habilidades e enco-

rajando sua participação em governos munici-pais”.8 O financiamento foi dirigido às organiza-ções que desenvolviam ações e políticas de oposi-ção ao Governo Chávez, e algumas delas estiveramenvolvidas no golpe de abril de 2002.9

Na fundação do NED, definiu-se claramenteuma estratégia na qual ele atuaria de forma ampla,enquanto as quatro organizações (CIPE, ACILS, IRIe NDI) teriam como foco espaços sociais mais espe-cíficos. Estabeleceu-se, assim, uma espécie de divi-são de trabalho na atuação, para criar um consensoem favor de reformas políticas e econômicas ao re-dor do globo de acordo com interesses estratégicosdo governo e das corporações norte-americanas.Assim, os dois institutos vinculados aos partidosRepublicano e Democrata agiriam junto a organiza-ções políticas, especialmente partidárias, enquantocaberia ao instituto vinculado à AFL-CIO atuar jun-to às organizações e aos movimentos da classe tra-balhadora e ao CIPE, o universo empresarial.

A dinâmica dessa ação, no entanto, não in-clui apenas as instituições tradicionais (partidospolíticos e organizações dos trabalhadores e capi-talistas, como os sindicatos e associações empre-sariais), mas envolve especialmente organizaçõesda sociedade civil, como think tanks, ONGs e ou-tras organizações. Examinar em que medida o NEDe as quatro organizações logram articular sua ativi-dade em um determinado país ou em uma con-juntura específica escapa às possibilidades analí-ticas deste artigo e da pesquisa em curso. A com-plexidade e diversidade dos países onde atuambem como os próprios conflitos e divergências in-ternas alertam sobre as dificuldades dessa articu-lação. Mas o risco maior talvez seja subestimar seualcance e possibilidades. De qualquer forma, não ésurpreendente constatar que, enquanto o CIPEapoia os programas de organização da agenda dosempresários peruanos, a ACILS estimula a organi-zação dos trabalhadores mineiros terceirizados ouque, respectivamente, estejam apoiando, no Bra-

7 Esse movimento já realizou quatro assembleias mundi-ais: Nova Delhi 1999, São Paulo 2000, Durban 2004, Is-tambul 2006 e Kiev (Ucrânia) abril de 2008 (Lowe, 2008).

8 Informações coletadas no site do NED http://www.ned.org/grants/06programas/highlights-lac06.htmlAcesso em: 12 maio de 2008.

9 Para uma análise detalhada da atuação do NED naVenezuela, ver especialmente Golinger (2005, 2006).

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sil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativae iniciativas das centrais e federações sindicais dostrabalhadores.10 Ao tratar dos casos específicos doPeru e da Argentina, identifico alguns dos proje-tos e parcerias desenvolvidos diretamente peloNED. O CIPE passa a ser o foco central da análisena sequência deste artigo.

CENTER FOR INTERNATIONAL PRIVATEENTERPRISE (CIPE)

Dentro da estratégia de atuação do NED depromoção da democracia e do livre mercado, cabeao CIPE dirigir sua atuação para o universo em-presarial, especialmente suas associações de clas-se e organizações da sociedade civil sob sua influ-ência, buscando seu envolvimento na formulaçãoe implementação de políticas públicas orientadaspelo interesse do mercado. Como foi mencionado,embora receba fundos governamentais, o CIPE éuma entidade privada, vinculada à Câmara Ame-ricana de Comércio.

Inicialmente, é importante resgatar algumasinformações sobre essa organização empresarial.Segundo sua própria referência, a Câmara Ameri-cana de Comércio “é a maior federação empresari-al do mundo e representa mais de três milhões deempresas de todos os portes, setores e regiões” e“inclui centenas de associações, câmaras de mi-lhares de locais e mais de 100 Câmaras de Comér-cio Americanas em 91 países”.11

Ao analisar a virada neoliberal nos EstadosUnidos nos anos 1970, Harvey (2008) começa como histórico memorando de Lewis Powell à Câmarade Comércio dos Estados Unidos em agosto de1971, quando estava prestes a assumir um postona Suprema Corte, indicado por Richard Nixon.Nesse documento, Powell faz uma defesa do siste-ma norte-americano de livre mercado, pois eranecessário mobilizar esforços contra aqueles que

queriam destruí-lo. Para isso, a ação individual nãoseria suficiente. Segundo ele,

... a força reside na organização, no planejamentoe na implementação meticulosos de longo prazo,na coerência da ação durante um período indefi-nido de anos, na escala de financiamento que sóse obtém por meio do esforço conjunto e no po-der político que só se obtém por meio da açãounida e de organizações de alcance nacional(Powell, 1971, apud Harvey, 2008, p. 52).

Powell propôs à Câmara de Comércio de-senvolver uma ação direta junto às universidades,escolas, meios de comunicação, mercado editoriale cortes da justiça para reverter o quadro e mudaro pensamento das pessoas sobre “as corporações,o direito, a cultura e o indivíduo” (apud Harvey,2008, p. 53).12 Segundo Harvey, “... é difícil dizerque influência direta teve essa injunção à entradana luta de classe”. Todavia – diz ele –, “sabemosque a Câmara de Comércio depois disso ampliousua base de 60 mil empresas, em 1972, para maisde um quarto de milhão, dez anos mais tarde”, e,associada à National Association of Manufacturers,reuniu muito recurso para fazer lobby e promoverpesquisa (2008, p. 53).

O Quadro 1 mostra que, entre as 22 dessasCâmaras existentes na América Latina, pelo me-nos quinze foram criadas até 1981, das quais noveaté a década de cinquenta. Mas no México, Argen-tina, Brasil e Chile, sua origem remonta ao perío-do entre 1916 e 1919. Foram constituídas paradefender os interesses das empresas norte-ameri-canas em cada país, mas agregam empresas de di-versas origens. Estão filiadas à Associação de Câ-maras Americanas de Comércio na América Lati-na (Association of American Chambers ofCommerce in Latin América - AACCLA), com sedeem Washington, que, por sua vez, está filiada àCâmara Americana de Comércio (U.S. Chamber ofCommerce).

10 Para uma análise da atuação do Solidarity Center juntoàs entidades sindicais dos trabalhadores no Brasil, verAmorim (2007).

11 U.S. Chamber of Commerce, www.uschamber.com Aces-so em: 13 june 2008.

12 Na época, Lewis era advogado de empresas e participava doconselho administrativo de 11 corporações. Esse docu-mento ficou conhecido também como “Powell Manifesto”e está disponível em http://www.reclaimdemocracy.org/corporate_accountability/powell_memo_lewis.html. Parabreves comentários sobre ele, ver, nesse mesmo endereço, otexto The Powell Memo, Introduction, de 3 de abril de 2004.

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Assim, quando o CIPE foi criado, ascorporações norte-americanas já haviam implanta-do, desde longa data, uma estrutura de represen-tação de seus interesses na América Latina. O CIPEreconhece que sua filiação à Câmara de Comérciodos Estados Unidos facilitou a entrada na região.13

Apesar de ser vinculado à Câmara de Co-mércio, os fundos do CIPE provêm basicamentedo governo dos Estados Unidos, que repassa umaparte diretamente através da USAID, e outra atra-vés do NED. Os recursos de outras fontes têm umapequena participação (1% em 2002; 6% em 2004;3% em 2005). Entre elas estão o próprio Departa-mento de Estado14 e organismos internacionais

como a ONU, o Banco Mundial e sua InternationalFinance Corporation (IFC), além de ONGs como aGlobal Corporate Governance Forum e grandesempresas americanas (CIPE, Annual Report, 2003,p. 4). Algumas delas, como o Banco Mundial, tam-bém apoiam as organizações com as quais o CIPEtem parceria.

Desde sua fundação, o CIPE articulou sua açãofinanciando mais de 1000 organizações e iniciativaslocais em mais de 100 países e conduziu programasde treinamento na administração de associações em-presariais na África, Ásia, Europa, Eurásia, OrienteMédio e América Latina. Sua atuação principal reali-za-se através das “parcerias” com organizações lo-cais, especialmente com associações empresariais,think tanks, ONGs, universidades e outras organiza-ções da sociedade civil. No desenvolvimento dosprogramas conjuntos, essas organizações locais en-tram com recursos obtidos de outras fontes.

Nos seus primeiros anos, a maior parte dosrecursos do CIPE foi dirigida para a América Lati-na e o Caribe, no contexto das dramáticas mudan-ças que ocorreram nos anos 80. No final dessadécada, segundo a avaliação do CIPE, “... quasetodos os países da região haviam abandonado apolítica de substituição de importações em favorde um sistema econômico orientado pelo merca-do” e “... quase todos os países haviam avançadona adoção de formas democráticas de governo”(Bohn, 2001, p. 14).

Segundo esse autor, nos primeiros anos, oCIPE concentrou seus programas naqueles paísesque haviam demonstrado um empenho favorávelao desenvolvimento das empresas privadas e dademocracia. Mas posteriormente ficou claro que aabordagem do CIPE poderia ser aplicada em paí-ses onde o empenho governamental para o capita-lismo e a democracia era fraco, desde que se en-contrassem “dedicadas e corajosas” organizaçõesparceiras. Foi assim, por exemplo, que o CIPEapoiou programas na Rússia e na Nigéria. Confor-me a ideologia desse empreendimento, estimularo “... surgimento de associações empresariais ethink tanks é parte vital da promoção da culturademocrática e impulso para reforma econômica”

13 O Center for Leadership Development (CLD), da USChamber of Commerce em cooperação com o CIPE, criouo Latin American Institute for Organizations Management,que atua na formação do corpo gerencial das associaçõesempresariais na região (Geurts et al, 2001, p. 64).

14 Mantém (de longa data) uma parceria com o Departa-mento de Estado na publicação do jornal do CIPE,Economic Reform Today (Bohn, 2001, p. 17).

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(Bohn, 2001, p. 15). Assim, no final dos anos 80 oCIPE ampliou suas operações, incluindo progra-mas na África e na Ásia. Após a Queda do Murode Berlim (1989) e as primeiras eleições “parcial-mente livres” na Polônia e na Hungria, o Centerpassou a atuar na Europa Central e do Leste e, apartir de 1991, na Rússia e na Ucrânia. Em mea-dos dos anos 90, havia estabelecido programas naChina e no Vietnam (2001, p. 14-15).

Ao mesmo tempo, desde o começo dos anos90, o CIPE ampliou suas parcerias com empresas,instituições multilaterais e organizações não-gover-namentais (ONGs). São exemplos disso as ativida-des realizadas com o World Bank Institute (progra-mas de treinamento sobre think tanks), com a Or-ganização de Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico (conferência sobre o combate à corrupçãoem países em desenvolvimento), e o trabalho comorganizações privadas e públicas durante a Confe-rência do CIPE sobre a Mulher (Women: theemerging economic force), realizada em 2000(Bohn, 2001, p. 17; CIPE, Anual Repport, 1998).

Uma avaliação sobre os primeiros quinze anos(1984-1999) de atuação do CIPE considerou o im-pacto de 365 projetos realizados com 200 “organi-zações parceiras” em 63 países e concluiu que 5%dos projetos tiveram um resultado excepcional, 25%um alto impacto, 53% um efeito médio e 17% delessituaram-se em nível baixo. (Geurts et al., 2001, p.1).

Na avaliação do CIPE, três programas se tor-naram fundamentais: a) programas de treinamen-to realizados ao redor do mundo para dirigentesde associações empresariais, líderes de think tanke jornalistas econômicos; b) programas de apoiolegislativo e econômico, especialmente para darsuporte à legislação e às reformas favoráveis ao li-vre mercado; c) rede de reforma econômica,estabelecida depois de ter realizado uma série deconferências ao redor do mundo e cujo objetivo é“estabelecer uma conexão entre as organizaçõesparceiras do CIPE buscando compartilhar experi-ências e recursos, bem como definir agendas dereforma para o futuro” (Bohn, 2001, p. 16).

Segundo Geurts et al. (2001), as estratégiasdo CIPE estão focadas em reformas institucionais,

e o “coração de todos os projetos do CIPE” é a“advocacy”, que significa a promoção efetiva deuma legislação que leve a mercados abertos e enco-raje a participação do setor privado na definiçãodas políticas públicas. O objetivo é desenvolverpolíticas que fortaleçam os mecanismos de merca-do e o avanço dos interesses empresariais. A arti-culação com as organizações locais é central naabordagem do CIPE, e elas devem ser ativas naelaboração e implementação dos projetos(“empoderamento das organizações locais”, na lin-guagem do CIPE). Outro aspecto fundamental daação do CIPE se realiza através do BusinessAssociation Management Training, que permite àorganização identificar potenciais organizaçõesparceiras e lideres, muitos dos quais, segundo oCIPE, acabam ocupando postos centrais no setorpúblico e no privado. O CIPE desenvolve um pro-grama de comunicação que joga um papel centralem sua estratégia de construir demanda por refor-mas democráticas orientadas para o mercado. Umavariedade de canais é utilizada para divulgar in-formações, incluindo-se a internet e publicações.15

Na avaliação de John A. Bohn (2001, p. 9),na ocasião presidente do CIPE, o fato de trabalharcom organizações “parceiras” ao redor do mundoproporciona ao CIPE ricos inputs sobre as trans-formações em curso e permite identificar tendên-cias centrais que ultrapassam as fronteiras nacio-nais e regionais e jogam importante papel naglobalização. Se isso contribui para avaliar osmecanismos de funcionamento do mercado e arelação entre capitalismo e democracia – conformeacredita Bohn –, permite também redefinir ou in-corporar novos programas de ação.

Os principais programas de ação incluem: a)o combate à corrupção; b) a promoção da governançacorporativa; c) reformas institucionais para levar osetor informal para a economia formal; d) reforçodo papel da mulher e da juventude (programas,cursos, organizações, educação); e) promoção dagovernança democrática; f) redução das discrepân-

15 A fonte menciona os sitios “Freedom for EconomicForum”, The Economic Feature Service e a publicaçãoEconomic Reform Today (p. 7).

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cias de renda através da iniciativa empresarial;16 g)desenvolvimento das associações empresariais; h)reforma na legislação e regulações que dificultam asatividades empresariais; i) acesso à informação, paraalcançar maior transparência no governo, na divul-gação e no entendimento dos princípios democráti-cos orientados para o mercado.17

Uma análise dos recursos efetivamente utili-zados para esses programas constata uma priorida-de para as associações empresariais e as reformaslegais e do marco regulatório. Por exemplo, em 2006,a primeira área recebeu 38% dos recursos, e a se-gunda, 18%.18 As associações empresariais são con-sideradas fundamentais para o setor participar nasociedade civil e atores-chave para a definição daspolíticas públicas. Portanto, o CIPE estabelece umvínculo estreito com essas organizações, estimulan-do e apoiando a participação dos empresários noprocesso político (CIPE, Annual Report 2004, cap.1, p. 7-8). O Centro elaborou um manual de orien-tação para mobilizar a “comunidade empresarial”no sentido de influenciar na reforma de políticaspúblicas, estabelecendo as prioridades empresari-ais no campo legislativo e da regulação.19 Segundoavaliação publicada em 2002, esse manual alcan-çou grande sucesso no desenvolvimento de umaagenda empresarial nacional em países como o Haiti,Argentina, Ucrânia e em agendas regionais na Rússia.Além disso, estava em aplicação em países do Ori-ente Médio (CIPE. Annual Report 2002, p.41). Em2003, o CIPE abriu escritórios no Afeganistão e noIraque, com o objetivo de “desenvolver a capacida-de de a comunidade empresarial contribuir para a

emergência de uma sociedade democrática estável”(CIPE, Annual Report, 2003, p. 133).

Na avaliação do CIPE, apesar da emergênciade um consenso sobre a importância da democraciae da economia de mercado, muitos países não con-seguem estabelecer arranjos institucionais favoráveisao seu desenvolvimento. Assim, mesmo as melho-res políticas teriam problemas de implementação emrazão da “ausência de instituições e normas apropri-adas”. O foco de atuação do CIPE é

... promover as reformas legais e institucionaisnecessárias para sustentar democraticamenteuma economia aberta orientada pelo mercado:respeito ao papel das leis, transparência, sólidabase para os direitos de propriedade, respeitoaos contratos, acesso à justiça e uma imprensalivre (CIPE, Annual Report 2004, cap.1, p. 8-9).

Ao reconhecer os limites ou fracassos daspolíticas neoliberais, o CIPE se soma à interpreta-ção segundo a qual as razões disso se devem aofato de essas políticas não terem sido acompanha-das de reformas institucionais:

O fracasso das reformas do Consenso de Washing-ton na América Latina forçou os formuladoresde políticas a colocar mais atenção nas reformasinstitucionais, uma posição que o CIPE defendede longa data para a região (CIPE. Annual Report2002, p. 31).

Segundo o CIPE, essa é uma oportunidadepara que os programas desenvolvidos pela organi-zação tenham um impacto significativo na região.

Atuação do CIPE na América Latina

No período de 1984 a 1999, o CIPE finan-ciou 109 projetos na América Latina e no Caribe,envolvendo 50 organizações em 19 países. Os re-cursos envolvidos nessa atividade atingiram US$9.375.047 (Geurts et al, 2001, p. 60). O impactodesses programas foi considerado excepcional oualto em 41% dos casos e médio em 50% deles,destacando, assim, a região como a dos melhoresresultados que o CIPE teria alcançado no período.O apoio aos projetos foi maior entre 1984 a 1994,declinando nos cinco anos posteriores em favor

16 O CIPE vem encorajando o desenvolvimento de inicia-tivas empresariais que gerem emprego e renda, especial-mente através das pequenas e das microempresas. Masas pequenas e médias empresas jogam também um pa-pel político e devem ser mobilizadas para dirigir as refor-mas, e as associações empresariais seriam um instru-mento efetivo para isso (BOHN, 2001).

17 Cf. CIPE, http://www.cipe.org/about/AboutCIPE.pdf.Acesso: 25/04/2008; e Bohn (2001).

18 CIPE, http://www.cipe.org/about/AboutCIPE.pdf. Aces-so: 25/04/2008

19 CIPE. Guía para la Agenda Nacional Empresarial. Lavoz de las Empresas . Disponível em: http://www.cipe.org/regional/lac/pdf/spanishnba.pdf. Acesso:05/09/2008. Essa orientação aos empresários se apre-senta de forma mais aprofundada em publicação do CIPEorganizada por Milner (1999).

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das operações realizadas no Centro e Leste Euro-peu e na Eurásia. Na avaliação do CIPE, grandeparte dos projetos apoiados foi importante para asreformas institucionais ocorridas nos países lati-no-americanos e outros contribuíram com elemen-tos-chave para a governança democrática(democratic governance). No Quadro 4 (anexo),apresento uma lista das organizações na AméricaLatina que, em diferentes momentos e com inten-sidades diversas, foram financiadas para desen-volver programas dentro dos interesses estratégi-cos no CIPE para o continente.

Segundo avaliações internas do CIPE, umdos elementos que explicaria o “sucesso” de suaatuação no continente é a capacidade de as organi-zações parceiras adaptarem os programas às condi-ções locais de cada país. O Programa de ApoioLegislativo é mencionado como um exemplo nessecampo. Uma das formas principais de atuação doCIPE, o Programa foi inicialmente criado pelo Cen-tro de Orientación Económica na RepúblicaDominicana (COE). Segundo Bohn (2001, p. 16), oprograma baseava-se na análise “não-partidária” dalegislação de modo acessível e apoiada por estudosem profundidade realizados por uma equipe deeconomistas e tecnocratas. Basicamente esses rela-tórios analisam as leis em debate no poder legislativo,resumem os efeitos da legislação sobre o setor pú-blico e privado, o orçamento nacional, o sistemalegal e apresentam recomendações específicas pararepresentação, revogação, rejeição ou emendas. Osrelatórios são distribuídos entre os legisladores, amídia e o público (CIPE. Annual Report 2003).

“Através de uma série de análises econômi-cas e relatórios, a comunidade empresarial foi há-bil em inserir sua voz no processo de debate polí-tico.” Segundo o CIPE, em pelo menos 12 países(até 1999), essa atividade foi realizada com suces-so, e os relatórios produzidos constituíram umafonte de informação que permitiu aos legisladoresparticipar e tomar decisões em questões econômi-cas fundamentais (Geurts et al, 2001, p. 65).20 O

programa foi aplicado também na África, Ásia eEuropa Central.

A Tabela 1 identifica, em fins dos anos 80 einício dos 90, alguns dos parceiros e os principaisprogramas apoiados pelo CIPE com o objetivo deinfluenciar o processo legislativo e implementar re-formas em 11 países da América Latina, além deum programa regional (América Central). Os casosmencionados envolveram recursos em torno de US$US$ 4.400.000,00, dos quais US$ 2.866.690,00(65,2%) fornecidos pelo CIPE.21

A atuação com o IERAL (sigla adotada peloInstituto a partir de 1996) na Argentina é o maiordestaque, tanto pelo volume de recursos envolvi-dos (quase um milhão de dólares) como pela ex-tensão do período (cinco anos). O CIPE inclui oIERAL como um dos três casos de maior sucessode sua atuação na América Latina (os outros doissão o Instituto Libertad y Democracia, no Peru, e oCOE, na República Dominicana). Chama a aten-ção o interesse do CIPE pelo Paraguai nesse perío-do, pois o volume de recursos repassados para aFundación Paraguaya para la Cooperación y elDesarrollo (FUPACODE) somente é superado pe-los recursos canalizados para o IERAL e o Institu-to Liberal do Rio de Janeiro (ILRJ).22

Na estratégia de divulgação das ideias e pro-postas de reforma na América Latina, o CIPE sevale também de Perspectiva, uma publicação tri-mestral distribuída em Argentina, Bolívia, Colôm-bia, Equador, Panamá, Uruguai, Venezuela, Peru eChile. Três organizações apoiadas pelo CIPE sãoresponsáveis pela produção da revista: o Institutode Ciencia Política (ICP) na Colômbia, o Centropara a Diseminación de Informaciones Económicas(CEDICE) na Venezuela e o Instituto de PolíticaEconómica do Equador (CIPE. Annual Report,2002). Em 2002, o

... foco dos programas do CIPE para a AméricaLatina era a construção das instituições ausentes

20 A avaliação dessa atividade indicou, segundo o CIPE,que 65% dos projetos de apoio legislativo tiveram umexcepcional ou alto impacto na América Latina (Geurtset al, 2001, p.63).

21 Em alguns casos, não consta, nas fontes, o aporte fi-nanceiro local para o programa.

22 Além dos recursos canalizados através do CIPE, o NEDatuou de forma intensa no Paraguai, segundo avaliaçãode Payne (1990), diretor de estudos hemisféricos daFreedom House de Nova York.

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em uma economia de mercado e dirigir-se aodéficit de governança democrática. Além disso,buscava apoiar os líderes empresariais e os pen-sadores pró-mercado na implementação das re-formas institucionais e o papel da imprensa nainvestigação da corrupção nos setores público eprivado (CIPE, Annual Report 2002, p. 31).

No relatório anual de 2004, o CIPE avaliouque se agudizara a “crise da democracia” na Amé-rica Latina em países como Venezuela, Equador,Peru e Bolívia. Em 2007, desenvolvia 23 progra-mas em 13 países da América Latina (Quadro 2).

Três programas eram de alcance regional:um para o desenvolvimento de governançacorporativa na Colômbia, no Equador e naVenezuela (com a Confederación Colombiana deCámaras de Comercio - CONFECAMARAS); ou-tro programa para formação de liderança para “pro-mover a democracia” e o terceiro voltado para apublicação da Perspectiva e a defesa das reformas(Instituto de Ciência Política).

A seguir, examino com mais detalhes a pre-sença do CIPE no Peru e na Argentina e identificotambém intervenções diretas do NED ou através

dos institutos dos partidos Republicano (IRI) eDemocrata (NDI).

Os parceiros no Peru: o Instituto Libertad yDemocracia (ILD) e o Instituto Apoyo.

Segundo a avaliação do CIPE, o ILD é am-plamente reconhecido por sua atuação em estabe-lecer um consenso em torno da economia de mer-cado no Peru durante os anos 80 e firma os pilarespara os programas de reforma econômica duranteos anos 90 (Geurts, et al, 2001, p.61). Fundadordo ILD, a figura de destaque é Hernando De Soto,considerado pela publicação Time como um doscinco maiores lideres inovadores na América Lati-na no século XX e um dos líderes do Novo Milê-nio, enquanto o The Economist considerou o ILDcomo um dos dois mais importantes think tanksno mundo (CIPE. Annual Report 2003, cap.6, p.6).

Entre 1981 e 1984, o ILD, então com umpequeno grupo de pesquisadores, analisou a situ-

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ação do mercado informal no Peru e passou a de-fender um processo de mudança que teria permi-tido reduzir drasticamente o procedimento de re-gistro legal de um negócio, o que teria ajudadomilhares de empresas a passarem do setor infor-mal para o formal da economia (Geurts, et al, 2001,p. 61; Islam, 2007). De Soto avaliou que uma dasformas de superar a economia informal e o atrasodo capitalismo em geral, no Peru, era legalizar ostítulos de propriedade dos lotes urbanos e habita-ções da população pobre, criando, assim, a possi-bilidade de utilizá-los para garantir o acesso a servi-ços (água, eletricidade) e como garantia na obtençãode empréstimo para pequenos negócios (Islam, 2007,p. 55). Segundo relatório de 2003, 380 mil empre-sas haviam ingressado no mercado formal e gerado560 mil empregos formais adicionais, incrementandoa arrecadação fiscal em 300 milhões de dólares (CIPE.Annual Report 2003, cap. 6, p. 6).23

Em 1984, o ILD recebeu os recursos do pri-meiro programa de apoio do CIPE. Isso teria contri-buído para criar um sistema mais estável de gover-no e minar o apoio ao Sendero Luminoso, constitu-indo-se, assim, na avaliação do CIPE, em uma abor-dagem alternativa para “combater o terrorismo”(CIPE, Annual Report 2003, cap. 1, p. 2; cap. 6, p.13). Segundo Islam (2007), a obra de Soto (The OtherPath: The invisible revolution in the Third World),publicada em 1986, oferecia “aos pobres uma alter-nativa à revolução: o empreendedorismo”[entrepreneurship].24 Essa perspectiva, que tambémidentificava, na debilidade das instituições, a bar-reira primária para o crescimento empresarial edestacava a importância do desenvolvimento deinstituições (como garantia de contratos, mercadofinanceiro e sistema judicial), recebeu uma boaacolhida no CIPE e passou a ser divulgada nasorganizações multilaterais (Islam, 2007, p. 55-56).

Para sua atuação política no Peru nos anos

90, o CIPE estabeleceu vínculos com outra organi-zação do país: o Instituto APOYO. Organizado em1989 para realizar pesquisa de política econômica,esse instituto está vinculado à APOYO, uma enti-dade privada de consultoria empresarial criada em1977, durante o governo militar. No âmbito doCIPE, ela era considerada uma entidade “estável,consistente, confiável e profissional” (Mashek,1993, p. 100). Segundo Mashek ela era responsá-vel pelo mais confiável indexador de preços aoconsumidor usado no país, havia atuado emconsultoria política e econômica para grandes em-presas privadas, realizava pesquisas internacionaisde opinião pública. Além de estudos de mercadoe pesquisas econômicas, publicava dois jornaiseconômicos e uma revista.25

O Instituto APOYO passou a realizar o ser-viço de assessoria legislativa, justamente no mo-mento em que o governo de Fujimori iniciava seuprograma de estabilização financeira e reforma eco-nômica. Assim, entre julho de 1990 e fins de 1992,o CIPE financiou com US$ 150.000,00 o programade Apoio ao Congresso (Congressional Support)do Instituto, que, de sua parte, aportou para o pro-grama US$ 90.000,00. Na avaliação de Mashek(1993, p. 100), o serviço de relatórios legislativosmensais foi recebido com grande entusiasmo noCongresso, incluindo parlamentares da “esquerdamoderada”. O serviço “era novo no Peru, e aindaúnico” e também alimentava a imprensa diária,editoriais e colunistas além de painéis de discus-são nos canais de televisão (1993).

O serviço sofreu descontinuidade quandoo Congresso foi fechado em abril de 1992. Mas aformação da Assembleia Constituinte mobilizou oCIPE e o APOYO para revisar e apresentar pro-postas sobre os itens econômicos. Conforme asinformações de Mashek (1993, p. 101), as propos-tas foram consolidadas em quatro relatórios distri-

23 O tempo para o registro legal de um negócio passou de289 dias para apenas 1 dia (Geurts, et al, 2001, p.61). OCongresso Peruano aprovou uma lei de simplificaçãoadministrativa em 1989.

24 Segundo o CIPE, essa obra teria revolucionado a manei-ra de pensar dos acadêmicos, especialistas em desenvol-vimento e governantes sobre o papel do direito de pro-priedade (CIPE, Annual Report 2003, cap.1, p.2).

25 Segundo levantamento realizado pelo Foreign PolicyResearch Institute (FPRI) da Filadélfia, em um universode 5080 think tanks e organizações da sociedade civil,408 estão na América Latina, dos quais 21 no Peru. OInstituto Apoyo foi considerado como um dos cincomelhores think tanks do continente. Os demais são daArgentina (dois), do Brasil e do Chile (Disponível em:www.apoyo.com. Acesso em: 04/09/2008).

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buídos para o Congresso, para o Executivo, para aimprensa e a comunidade empresarial, além deoutras instituições. Uma série de encontros foi pla-nejada com os parlamentares encarregados da ma-téria econômica, e alguns deles teriam trabalhadoem estreita relação com o Instituto APOYO. Tam-bém se estabeleceu contato e coordenação com oMinistério da Economia. Mashek (1993, p. 101)avaliou que a instituição APOYO desempenhariaum papel fundamental no ordenamento eimplementação das medidas de liberalização eco-nômica e que seria equiparado unicamente àqueledesempenhado por outra organização peruana deprestígio nacional e internacional, e também par-ceira do CIPE, o Instituto Libertad y Democracia(ILD). É importante ter presente que, nesse perío-do (fins dos anos 80 e início dos 90), conforme foimencionado, o CIPE financiou programas de apoiolegislativo em 11 países da América Latina, alémde um programa regional para a América Central(Quadro 2).

Os vínculos do CIPE no Peru, durante operíodo 2002 a 2007, estão identificados no Qua-dro 3. O Instituto APOYO está presente até 2005e, nesse ano, em parceria com o CIPE, realizou

uma série de discussões que serviram de base paraa definição de uma Agenda Empresarial Nacionalpara o Peru e que representa todo um programa degoverno que visava às eleições presidenciais de2006. No período de 2005 a 2007, o CIPE apoiouiniciativas para o desenvolvimento da governançacorporativa no país, em parceria com a Asociaciónde Empresas Promotoras del Mercado de Capitais(PROCAPITALES)26 e a Universidad Peruana deCiencias Aplicadas (UPC) (CIPE, Annual Report,2005-2007).27

A partir de 2006, o CIPE passou a apoiar asatividades da Confederación de Instituciones yEmpresas Privadas (CONFIEP), uma organizaçãofundada em 1984 e que reúne a maioria dos seto-res empresariais do país, incluindo a Asociaciónde Bancos de Peru (ASBANC). Em pauta, a atuali-zação da Agenda Nacional de Reformas Econômi-cas no Peru e a implementação das reformas deinstitucionais que, segundo essa Confederação, nãoteriam avançado o suficiente no país. Entre ospontos, há a revisão e difusão da agenda de refor-mas para o novo Congresso, a reforma educacio-nal e o papel dos empresários nela.28

Para melhor compreensão do significado da

26 Fundada em 18 de julho de 2001, com sete associados,atualmente reúne 50 empresas. Seu objetivo é “... con-tribuir para o desenvolvimento do mercado de capitaisno Peru através de um marco legal eficiente eimplementação das melhores práticas de governançacorporativa.” (Disponível em: www.invertir.or.pe. Aces-so em: 04/09/2008).

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2002 OYOPAotutitsnI

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27 Em 2005, foi realizada uma pesquisa sobre GovernançaCorpororativa com 4 mil empresas peruanas.

28 Disponível em: www.confiep.org.pe. Acesso: 04/09/2008. A Confederação empresarial também desenvolveatividades com o IFC do Banco Mundial, em relação aoprojeto municipal de simplificação de trâmites.

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atuação do CIPE no Peru, é necessário ter presenteo conjunto de organizações com as quais o NEDatuou (e atua) nesse país e o volume de recursosutilizados. No período de 2002 a 2007, foram ca-nalizados US$ 5,5 milhões de dólares para umagama diversificada de organizações (não estão in-cluídos os valores para projetos regionais do NEDdos quais o Peru participa), conforme se apresentana Tabela 2. Os detalhes sobre o financiamento rece-bido ano a ano se encontram na Tabela 6 (em anexo).

Os parceiros do CIPE na Argentina: IERAL,CIPPEC e CEF

O Instituto de Estudios Económicos de laRealidad Argentina e Latinoamericana (IEERAL)foi organizado em 1977 por empresários na cidadede Córdoba juntamente com a Fundación

Mediterránea, à qual estávinculado.29 Em 1996,passou a denominar-seInstituto de Estudios de laRealidad Argentina yL a t i n o a m e r i c a n a(IERAL).

O objetivo daFundación é promover apesquisa sobre questõeseconômicas, para criarum espaço para discussãoe formulação de propos-tas de políticas econômi-cas a partir da perspecti-va empresarial. “Ametodologia de trabalhoimposta pela FundaciónMediterránea, desde suacriação, é a interação per-manente entre empresári-os e técnicos.” (IERAL,2005). O IERAL contoucom uma equipe de eco-nomistas dedicados emtempo integral à pesqui-

sa. Domingo Cavallo, presidente do Instituto, as-sumiu o Ministério da Economia em janeiro de1991 e formou parte de sua equipe com pesquisa-dores do Instituto (Ramirez, 2006, p. 187-188). Se-gundo Geurts et al (2001, p. 61), muitos dos rela-tórios produzidos pelo IERAL serviram de basepara as propostas de reforma da economia argenti-na adotadas por Cavallo. Conforme já menciona-do, o Programa de Apoio ao Legislativo, desenvol-vido entre março de 1988 e fevereiro de 1993 na-quele país, canalizou quase um milhão de dóla-res, dos quais cerca de US$ 450 mil saíram dosfundos do CIPE (ver Tabela 1).

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29 Para uma análise detalhada sobre a FundaciónMediterránea e o IERAL, ver os trabalhos de RAMÍREZ(2000, 2006). Esse autor faz uma interessante análisecomparativa entre o Instituto de Pesquisas Econômicase Sociais – IPES, que teve papel central no golpe deEstado de 1964 no Brasil, e as organizações argentinasFundación de Investigaciones EconômicasLatinoamericanas (FIEL) e a Fundación Mediterrânea.

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A partir de meados dos anos 90, o Institutoampliou suas pesquisas para outras áreas, comoeducação, saúde, justiça e seguridade, e sua influ-ência teria se estendido também para outras refor-mas, como a do trabalho, lei do consumidor, taxade administração e reforma do serviço civil (Geurtset al, 2001, p. 61; CIPE. Annual Report, 2003, cap.3, p. 5-6). O Banco Interamericano de Desenvolvi-mento (BID) e o Banco Mundial também financiamprojetos desenvolvidos pelo IERAL.30

O apoio do CIPE ao IERAL aparentementediminuiu a partir da crise econômica que assolouo país em 2001-200231 e que, segundo Braum et al(2004), levou também a um questionamento de umconjunto maior de think tanks como fonte de aná-lise política e recrutamento de quadros para o Es-tado.32 A Tabela 3 sintetiza as parcerias do CIPE naArgentina e recursos envolvidos para o período2002-2007.

A partir de 2002, o CIPE passou a apoiar oCentro de Implementación de Políticas Públicaspara la Equidad y el Crecimiento (CIPPEC), orga-nização que procura desenvolver um consensosobre a necessidade de reforma política e econô-

mica na Argentina.33 Em pouco tempo, além doCIPE, o Centro passou a contar com apoio de vári-as fundações e organizações da sociedade civil erecursos de organismos como o Banco Mundial eo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).34

Mas é importante destacar que o apoio do NED aoCIPPEC foi muito mais amplo e, provavelmente,fundamental para consolidá-lo. Assim, além doCIPE, o NED canalizou recursos ao CIPPEC de for-ma direta e especialmente através do IRI. No perío-do de 2002 a 2007, o CIPPEC recebeu dessas orga-nizações mais de US$ 900 mil (somente o IRI foiresponsável por US$ 525 mil), conforme Tabela 4.

O CIPPEC atua na formulação e naimplementação de políticas públicas. Sua ação sevolta para o Congresso, o governo e o público emgeral, produzindo informações e análises sobre de-senvolvimento social e econômico, e o fortalecimentodas instituições, “através de programas de educa-ção, saúde, política fiscal, justiça, transparência,instituições políticas, gestão pública local, incidên-cia da sociedade civil e formação de líderes públi-cos para a democracia” (http://www.cippec.org/).

A estratégia do Centro é articular autorida-

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30 Fontes de financiamento do IERAL em 2003: 50% de“organizações filantrópicas” argentinas, 25% de organi-zações internacionais (“filantrópicas e de crédito”), 15%com recursos governamentais (diferentes níveis) e o res-tante de contribuições empresariais e individuais (Fon-te: Informação de Gabriel Sánchez, Diretor de Pesquisa eVice-presidente do IERAL, em março de 2004. Disponí-vel em: http://www. researchandpolicy.org/consultas.Acesso em: 25/09/2005.)

31 As referências ao IERAL no relatório do CIPE de 2003são pouco precisas. Informa apenas que o Instituto con-tinua realizando a atividade de análise legislativa parainfluenciar o congresso e a opinião pública.

32 Além de Domingo Cavallo, Humberto Petrei e AldoDadone, da Fundación Mediterránea, membros do Cen-

tro de Investigaciones Sociales sobre el Estado (CISEA)como Dante Caputo e Felipe Sola e do Centro de EstudiosMacroeconómicos de Argentina (CEMA), como RoqueFernandez e Carlos Rodriguez, também ocuparam impor-tantes postos no comando do Estado (Braum, et al, 2004).

33 Entre os onze “jovens profissionais” que fundaram oCIPPEC em 2000, oito tinham em comum sua formação(mestrado ou doutorado) na Harvard University (quatroem Políticas Públicas, três em Economia, um em Admi-nistração Pública e outro em Política Educacional). Osdemais fundadores tiveram formação na London Schoolof Economics, na Northwestern University e na Universityof Chicago (Disponível em: http://www.cippec.org/espanol/cippec/fundadores.html. Acesso em: 29/09/2008).

34 Além da capital, o CIPPEC atua em onze províncias ar-gentinas e conta com um staff de oitenta e duas pessoas.

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des governamentais nacionais e regionais, líderesempresariais, jornalistas, representantes das orga-nizações civis e o público. Estabeleceu, assim, umamplo leque de alianças com outras organizações,universidades e centros de pesquisa no país e noexterior. O CIPPEC busca influenciar a definição deuma agenda de reformas e promover a participaçãoe inclusão do setor privado na formulação de polí-ticas públicas (CIPE, Annual Report 2002 e 2007).

No Congresso Argentino, o CIPPEC distri-bui análises e recomendações de política fiscal. Or-ganizou seminários sobre o tema e lançou uma cam-panha para promover a reforma fiscal (CIPE, AnnualReport, 2005). Em 2007, propôs a criação de umaComissão Orçamentária no Congresso, que teriarecebido um amplo apoio (CIPE, Annual Report,2007). O Congresso argentino institucionalizou oSeminário Anual sobre Federalismo Fiscal, o queteria levado a ampliar o reconhecimento desse temapara o desenvolvimento sustentável. Segundo orelatório do CIPE de 2007, o Congresso aprovou aLei sobre Financiamento da Educação, que incor-porou recomendações do CIPPEC “... destinadasa garantir a transparência e a publicação de infor-mações sobre educação, investimentos e atribui-ções, entre outras”. Informa também que o CIPPECestava trabalhando com o Ministério da Educaçãopara avaliar o cumprimento dos objetivos da lei.35

Programas educacionais desenvolvidos na provín-cia de San Luis foram acompanhados pelo CIPPEC,que também esteve envolvido formulação das po-líticas para a área (Braum, et al, 2004, p. 211).

A atuação do Centro realiza-se também jun-to às organizações da sociedade civil e coordena,na América Latina, o Programa de Alianzas de laSociedad Civil do Instituto para o DesenvolvimentoInternacional (Overseas Development Institute - ODI),uma think tank britânica financiada por outras fun-dações de pesquisa, organizações internacionais,ONGs e empresas. O objetivo “... é fortalecer o tra-balho em rede das organizações para uma melhorparticipação e influência nas políticas públicas”.36

Em 2006, dentro de sua estratégia de apoiara governança corporativa na América Latina, o CIPEarticulou sua atuação com a Fundación Centro deEstabilidad Financiera (CEF), a fim de desenvol-ver um padrão para medir a qualidade de práticasde governança corporativa nas instituições finan-ceiras na Argentina. Também desenvolveu um có-digo de ética e de responsabilidade social para ser-vir como um guia para instituições financeiras, bemcomo para agências financeiras reguladoras (CIPE,Annual Report 2006).

Como foi mencionado também para o casoargentino, uma compreensão melhor do significa-do da atuação do CIPE se faz tendo presente oconjunto de organizações com as quais o NED atuou(e atua) nesse país e o volume de recursos utiliza-dos. No período de 2002 a 2007, foram canaliza-dos quase US$ 2,5 milhões, para uma gamadiversificada de organizações (não estão incluídosos valores para projetos regionais do NED), con-forme Tabela 5. Os detalhes sobre os recursos uti-lizados ano a ano se encontram na Tabela 7 (emanexo). Os dados revelam o importante papel atri-buído ao CIPPEC (recebeu mais de US$ 900 mil).

36 Cf. CIPPEC, Newsletter 26 – Octubre 2006. Disponível em:http://cippec.org/espanol/newsletter/n26/ Proyecto_1.htm.Acesso em: 29/09/2008; ODI, http://www.odi.org.uk/about.html. Acesso: 29/9/2008.

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EPIC 00,219.0015002 DEN 00,319.05

EPIC 00,672.986002 DEN 00,823.14LATOT 00,955.819

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35 Além disso, o CIPPEC teria influenciado no melhora-mento da lei que regulamenta imposto sobre o valoragregado na indústria do pão (defendeu a eliminação dedisparidades, que criava uma taxa de 10,5 por cento iguaispara toda cadeia de abastecimento).

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Estratégias do CIPE para o período 2007-2012

Em fevereiro de 2007, o CIPE divulgou umdocumento com a estratégia da organização para operíodo de 2007-2012.37 As considerações seguin-tes estão baseadas nesse documento.

Na avaliação do CIPE, a emergência do“populismo” e do “protecionismo” são dois gran-des desafios a serem enfrentados nesse período.Esse “novo populismo”, segundo o documento,procura desvincular a liberalização política dasreformas de livre mercado e livre comércio e, aomesmo tempo, busca reforçar laços políticos e eco-nômicos regionais contrários à reforma global. Issoformaria o núcleo do que se denominaria “recuoda democracia” (democracy backlash). “O desafiopara os próximos anos é sustentar o ímpeto dasreformas democráticas e do livre mercado” (CIPE,2007, p. 3).

Na América Latina, alguns países estariamvinculados ao “recuo democrático”. Venezuela,Bolívia e Argentina são exemplos citados no do-cumento de planejamento estratégico. O presiden-

te Hugo Chávez é considerado como responsávelpelo desenvolvimento de um sistema político comum Poder Executivo sem controle, enquanto, naArgentina, a presidência estaria concentrandosuperpoderes em detrimento do Congresso, e, naBolívia, o presidente “demonstrou desprezo peloEstado de Direito e pelos direitos de propriedade,por nacionalizar hidrocarboneto e ter avançado naexpropriação de terras”. Deixando claro como es-ses casos estariam no centro da estratégia do CIPEpara a América Latina, o documento afirma: “Éessencial que se desenvolvam estratégias de com-bate a essas ameaças ao longo dos próximos cincoanos” (p. 34 – grifo meu). Os programas do CIPEnesses países, em 2007, se encontram no Quadro2. Nesse mesmo ano, o NED apoiou um conjuntode organizações na Venezuela.38

O CIPE considera que, apesar dos resulta-dos macroeconômicos positivos em muitos paísesda região, existe um questionamento sobre a “qua-lidade do desenvolvimento” e sondagens de opi-nião apontam claramente que a população, apesarde apoiar a democracia, também está frustrada pornão ser beneficiada diretamente pelo sistema (p.35-36). São necessários esforços para criar insti-tuições que tratem a “frustração popular” e criemprosperidade para a maioria da população da re-gião. O fortalecimento das instituições inclui umareforma política, o reforço dos direitos de proprie-dade e estruturas jurídicas que garantam o cum-primento das leis. Reformas institucionais são fun-damentais para garantir uma democracia verdadei-ra e sustentável, segundo o documento (p. 35).

Está clara a estratégia de manter as articula-ções com organizações localizadas na América Lati-

eIRIodsévartauosaterid(sairecraP-DEN-5alebaT)7002-2002(anitnegrA.)EPIClacoLoriecraP $SUlatoT

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selaicoSyselageLsoidutsEedortneC 00,064.381aicitsuJalydadlaugIalropliviCnóicaicosA 00,526.311

ocitárcomeDoibmaCnóicadnuF 00,505.83arogÁlE 00,000.03

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37CIPE. Five year strategy 2007-2012 . Center forInternational Private Enterprise, February 2007. Dispo-nível em: http://www.cipe.org/about/strategy5year.pdf.Acesso em: 25/04/2008.

38 Em 2007, o NED apoiou 18 programas no país com umvolume de recursos de US$ 938 mil, dos quais US$ 300mil se dirigiram a programas de “civic education” e US$360 mil para o “fortalecimento” de ONGs e programas dedireitos humanos; através do IRI, US$ 100 mil foramcanalizados para organizar dois encontros entre líderespolíticos nacionais e locais e o desenvolvimento de cam-panhas públicas; o Instituto Prensa y Sociedad recebeuoutros US$ 102 mil (Cf. NED, Latin América and theCarribean 2007. Disponível em: http://www.ned.org/grants/07programs/grants-lac07.html. Acesso em: 01/11/2008). Não incluem recursos dos programas regionaisdo NED que afetam a Venezuela, especialmente aquelesque se realizam através do Solidarity Center dirigidos àsorganizações dos trabalhadores.

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na, especialmente think tanks, associações empre-sariais e organizações da sociedade civil. Cinco te-mas foram considerados como foco da atuação a serdesenvolvida. O primeiro deles é atuar na formaçãode propostas econômicas para os partidos políticos.O objetivo é combater as propostas “populistas” edesenvolver uma abordagem centrada nagovernança, em reformas institucionais e em edu-cação cidadã acerca das vantagens das políticas pro-postas. A reforma do setor informal é o segundofoco de atuação, e o exemplo inspirador vem daatuação do Instituto Libertad y Democracia, no Peru.Existem razões políticas no interesse pelo setor in-formal, pois o CIPE avalia que ele oferece importan-te base para as políticas populistas.39 O fortaleci-mento de pequenas e médias empresas é de inte-resse do CIPE. O terceiro foco é capacitar o setorprivado a participar de forma mais ativa nos proces-sos de definição das políticas públicas, sempre como objetivo de criar um consenso em torno da demo-cracia e das reformas em favor do mercado. Aomesmo tempo, com outro foco, o CIPE seguirá apoi-ando a implementação da “governança corporativae a cidadania corporativa” (corporate citizenship),como mecanismos para fortalecer o mercado de ca-pitais e atrair investimentos. Finalmente, outro focode atuação será o combate à corrupção, que, segun-do avaliação do CIPE, representa um custo elevadopara as empresas que atuam na América Latina.40

CIPE E O SISTEMA FINANCEIRO

Como mencionei na introdução deste texto,ao iniciar a pesquisa atual, parti da estrutura de re-presentação de classe do empresariado financeiro naAmérica Latina, manifesta na rede transassociativadas associações de bancos, e indaguei sobre as pos-síveis conexões que se estabeleciam com outros es-paços de articulação e organização de classe. Encon-trar no caminho o CIPE e, em consequência, o NED,

alargou o horizonte da pesquisa, descortinando umuniverso de relações e significados bem mais amplodo que imaginava inicialmente.

Esse movimento exploratório-descritivo pre-liminar permite identificar algumas conexões como sistema financeiro, e, mais especificamente, coma estrutura de classe expressa nas associações debancos. Para efeito analítico, considerei que ainterconexão entre esses níveis poderia se estabe-lecer diretamente, tanto por essas associações comopelas instituições financeiras, especialmente aque-las de maior centralidade na rede transassociativa.

A rede de parceiros do CIPE, uma organiza-ção atrelada aos interesses estratégicos do governo edas corporações dos Estados Unidos, não esgota ouniverso de organizações político-ideológicas que sevinculam ao sistema financeiro, nem sequer pode-mos afirmar que sejam as mais significativas. Assimmesmo, os vínculos identificados dão conta da com-plexa relação que se estabeleceu entre esse país eorganizações internas na América Latina para cons-truir sua hegemonia a partir de meados dos anos 80.

Um sentido mais geral dessa conexão é dadopelo posicionamento do CIPE ao considerar o pa-pel fundamental das associações empresariais comoatores políticos fundamentais no processo deimplementação das reformas políticas e econômi-cas voltadas para o mercado. Em outro sentido, aspropostas de reformas de livre mercado coincidemcom o discurso das associações do setor financeiro,embora nem sempre quando se trata de abertura dopróprio setor.

Em termos mais específicos, pode-se iden-tificar o envolvimento direto de instituições finan-ceiras no financiamento de algumas das organiza-ções que realizaram ou ainda mantêm “parcerias”com o CIPE. Uma primeira referência é a partici-pação das instituições financeiras privadas, juntocom outras empresas, brasileiras e multinacionais,no financiamento dos Institutos Liberais organiza-dos no Brasil a partir de 1983, conforme foi men-cionado.41 Um desses institutos, o do Rio de Ja-

39 Como já foi mencionado, o processo de formalização dosetor, no Peru, teria contribuído para enfraquecer a es-querda naquele país, segundo avalia o ILP.

40 Segundo o documento do CIPE, se estimam em 10% oscustos de transação envolvidos em corrupção.

41 Alguns exemplos são bem emblemáticos da relação comos Institutos Liberais, como é o caso de Roberto KonderBornhausen, do Unibanco, que ocupou a presidência devárias entidades de classe do setor.

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neiro, foi quem estabeleceu uma “parceria” diretacom o CIPE.

Um segundo exemplo se refere às organiza-ções envolvidas no programa mundial deGovernança Corporativa estimulado pelo CIPE, emestreita associação com a USAID. Entre as 21 em-presas (“associadas patrocinadoras”) que contri-buem diretamente para a manutenção do InstitutoBrasileiro de Governança Corporativa (IBGC), oitosão vinculadas ao setor financeiro. Além da Bolsa(BM&FBOVESPA), estão três dos maiores bancosprivados brasileiros (Bradesco, Itaú e Unibanco) eum estrangeiro (ABN Amro)42, que também parti-cipam da diretoria de várias associações de classedo setor financeiro. O Itaú se envolve diretamentena ampliação da cobertura jornalística sobre o temada Governança, através do “Prêmio IBGC-Itaú Jor-nalismo”, que, em 2008, realizou sua terceira edi-ção, buscando estimular os jornalistas a produzi-rem matérias sobre o tema.43

No Chile, uma das principais fontes priva-das de recursos do Centro para el Gobierno de laEmpresa é o espanhol Banco Santander, um dosmais centrais na rede transassociativa. Na Argen-tina, o CIPE atua nesse campo com a FundaciónCentro de Estabilidad Financiera (CEF), uma orga-nização articulada durante a crise de 2001 e quepassou a funcionar no ano seguinte com o objeti-vo de “contribuir para a análise, o debate e a for-mulação de políticas públicas em temas relaciona-dos aos serviços financeiros”.44 Entre os nove mem-bros do Conselho de Administração do CEF, en-contra-se o vice-presidente da Asociación de Ban-cos Privados de Capital Argentino (ADEBA).45 O

projeto desenvolvido pelo CEF, com apoio do CIPEem 2007-2008, se relaciona com a governançacorporativa entre as empresas financeiras que ope-ram na Argentina. Situação semelhante podemosencontrar no México, onde o Centro de Excelenciaen Gobierno Corporativo (CEGC)46 inclui aAsociación Mexicana de Bancos entre os sete mem-bros de seu Conselho Consultivo Institucional.47

Na Argentina, o Instituto Argentino para elGobierno de las Organizaciones (IAGO) foi organi-zado pela Fundación Empresarial para la Calidady la Excelencia (FUNDECE) e o Instituto para elDesarrollo Empresarial (IDEA), uma organizaçãoque conta com mais de 400 empresas associadas,entre as quais bancos locais, especialmente estran-geiros,48 e associações de classe, incluindo aAsociación de Bancos de la Argentina (ABA) e aAsociación de Bancos Privados de Capital Argenti-no (ADEBA).

No caso argentino, bancos locais e estran-geiros se encontram entre as empresasmantenedoras da Fundación Mediterrânea ao qualo IERAL está vinculado. Entre as instituições pri-vadas, é o Citibank que estabelece uma conexãoindireta entre o CIPE e algumas associações debancos através de sua participação simultânea nadiretoria daquelas associações e na diretoria dasCâmaras Americanas de Comércio em vários paí-ses da América Latina.49

Pode-se constatar que, na parceria direta

42 Os demais são estatais (Banco do Brasil, Banco do Esta-do do Rio Grande do Sul e Nossa Caixa).

43 É também uma forma de contornar a restrição estatutáriado IBGC sobre a publicação de matérias pagas.

44 O Mercado a Término de Rosario (ROFEX) e o InstitutoArgentino de Ejecutivos de Finanzas (IAEF) são os fun-dadores do CEF. O site da organização não identifica ex-plicitamente o conjunto de financiadores, que incluemalém dos fundadores, fontes multilaterais e bilaterais,institutos públicos e privados além de aportes individu-ais. (Disponível em: http://www.cefargentina.org/espanol/ Acesso em: 13/10/2008. Ver especialmente CEF– Memoria de Actividades 2006).

45 A ADEBA foi criada em 1972, com a denominação deAsociación de Bancos Argentinos, e reorganizada com a atu-al denominação em abril de 2003, por iniciativa de bancos

privados argentinos (http://www.adebaargentina.com.ar/?page=institucional).

46 O CEGC foi fundado em março de 2004 pela UniversidadAnáhuac del Sur e pela empresa Deloitte de México, como apoio e assessoria da Universidade de Yale, o BancoMundial e o NACD (National Association of CorporateDirectors), uma organização vinculada aos membros dosconselhos das corporações, localizada na capital norte-americana e dedicada à questão de governança corporativa.

47 Os demais membros são: Instituto Mexicano deEjecutivos de Finanzas, Nacional Financiera, BolsaMexicana de Valores, Confederación de Cámaras de laIndustria, Asociación Mexicana de IntermediariosBursátiles e o Club de Empresarios Bosques.

48 Entre as dezenove instituições financeiras menciona-das como associadas, encontram-se ativos participantesdas associações de classe como o Citibank, o ABN AMRO,o Banco Itaú, o Deutsche Bank e o HSBC (http://www.ideared.org/ Acesso em: 13/10/2008).

49 Em 2008, o Citibank estava presente na diretoria dasCâmaras Americanas de Comércio nos seguintes países:República Dominicana, Guatemala, Peru, Equador (Qui-to), Uruguai, Brasil e Brasil (Rio de Janeiro).

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com as organizações de representação de classe doempresariado na América Latina, o CIPE privile-gia aquelas de maior representatividade setorial,nas quais, normalmente, as associações de bancostambém participam. É o caso da peruanaConfederación de Instituciones y Empresas Priva-das (CONFIEP), na qual participa a Asociación deBancos de Peru (ASBANC).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste artigo, examinei aspectos particularesde um processo mais amplo de relações que se esta-belecem entre organizações norte-americanas insti-tuídas no começo dos anos 80 e sua articulação comorganizações na América Latina, com o objetivo denão apenas renovar a ordem capitalista no conti-nente, mas desenvolvê-la conforme os interessesestratégicos do governo e das corporações dos Esta-dos Unidos. A análise das informações sintetiza-das nesse artigo possibilita algumas reflexões.

Em termos gerais, as organizações norte-ame-ricanas aglutinadas em torno do NED tratam de cri-ar e manter um consenso geral no continente emtorno de um eixo fundamental: democracia e livremercado. Quando, no final dos anos 80, as princi-pais propostas econômicas foram definidas em tor-no do chamado Consenso de Washington, uma redede entidades já estava atuando na América Latinacom apoio financeiro e organizacional no sentidode formular e implementar políticas públicas con-vergentes com o consenso mencionado. Cabe aoCIPE atuar de forma mais direta com os interessesempresariais e as organizações a eles vinculadas,enquanto o Solidarity Center atua junto às organiza-ções dos trabalhadores. As associações empresari-ais foram estimuladas a assumir um papel centralna definição das políticas públicas, atuando juntoaos poderes executivo e legislativo. Em seu conjun-to, identificamos um processo de construção dehegemonia no sentido gramsciano do termo. Comosugere Mato (2007, p. 22), a expansão das ideiasneoliberais não é simplesmente consequência daspolíticas econômicas impostas pelas instituições fi-

nanceiras multilaterais e (ou) FMI, mas, além disso,e inclusive cronologicamente antes, a ascendênciadessas ideias é o “resultado de práticas de atoressociais” que participam em redes transnacionais eque, de longa data, promovem “um sentido comum”de natureza neoliberal. A forma e o ritmo que assu-miu a expansão do ideário e a implementação depolíticas neoliberais estiveram condicionados pe-las condições específicas de cada país, em um con-texto de reestruturação econômica global (Basualdo;Arceo, 2006a; Cruz, 2004, 2007).50 A criação de umconsenso em torno de reformas econômicas e polí-ticas alcançou relativo sucesso, considerando aspolíticas públicas adotadas pela maioria dos paísesdo continente ao longo das décadas de 80 e 90 e ainfluência que os valores capitalistas alcançaram naregião. Um processo que se estabelece não sem re-sistências e movimentos contra-hegemônicos, queganham força especialmente quando as implicaçõessociais, políticas e econômicas do modelo adotadose revelam de forma mais clara. É quando tambémse percebe o alcance limitado da democracia queessas organizações estão dispostas a aceitar: umademocracia que não pode contrariar o mercado,tampouco questionar os interesses estratégicos dosEstados Unidos.

Deve-se ter presente que a atuação do NED ede suas quatro organizações foi em parte desenvol-vida no passado, através da Central de InteligênciaAmericana (CIA), como reconhecem vários autores,inclusive dirigentes do próprio NED. A atuação atra-vés de centros de pesquisa e de formulação de polí-ticas públicas e também de ação política direta serealizou ao longo do continente para interferir nosprocessos políticos locais e contribuiu paradesestabilizar e derrubar governos na região.51

50 Para uma análise detalhada, ver os demais trabalhos,incluindo casos nacionais, publicados na coletânea(Basualdo, Arceo, 2006). O livro de Cruz (2007) aprofundaa temática com um estudo comparativo incluindo a Ín-dia, a Coreia do Sul e a Argentina.

51 No caso brasileiro, um exemplo significativo é o Insti-tuto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES) e seupapel no golpe de estado de 1964 e durante o primeirogoverno militar (sobre esse caso, ver especialmenteDreifuss,1981). A experiência do Chile, durante o gover-no Salvador Allende, constitui outro caso significativo.Além disso, as ações externas norte-americanas se exer-ceram através de outras organizações no período anteri-or à formulação do NED (Cf. Dreifuss, 1986).

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A análise da atuação do CIPE deve ser reali-zada levando-se em conta o conjunto de ações de-senvolvidas pelo NED e considerada no contextomais amplo da política externa norte-americana. ONED e as quatro organizações a ele vinculadas ex-pressam a articulação entre o Estado e as grandescorporações norte-americanas, combinada com umsetor de cúpula da classe trabalhadora daquele paíse os dois partidos políticos dominantes (Republi-cano e Democrata). Sua articulação, organização eatuação envolvem uma rede que inclui órgãos dogoverno dos Estados Unidos, associações empre-sariais, think tanks, intelectuais, universidades,centros de pesquisa e veículos da mídia, gruposeconômicos e financeiros, ONGs e outras organi-zações da sociedade civil nos Estados Unidos e naAmérica Latina. Além disso, como foi possívelperceber, instituições do Grupo Banco Mundial (opróprio Banco e o IFC) e o BID se integram a essaestratégia, pois se constatou que algumas organiza-ções “parceiras” do CIPE também recebem fundosdessas instituições. Dessa forma, a atuação do Ban-co Mundial e do BID não se realiza apenas na di-mensão macroeconômica e de forma direta com osgovernos, mas também reforça essa extensa rede deação em favor de reformas políticas e de livre mer-cado, de acordo com os interesses hegemônicos dosEstados Unidos. Escapa ao alcance deste artigo, masé necessário ter presente que, no período, além daestratégia política e ideológica – em parte descritaneste trabalho –, os Estados Unidos mantiveramuma ativa estratégia militar e, na década de 90, am-pliaram acordos e bases militares, estendendo suapresença militar à Europa Central e a mais de cempaíses ao redor do globo (Petras, 1997; Fiori, 2004).

Na América Latina, atuam também outrasorganizações que não se vinculam diretamente aosinteresses estratégicos dos Estados Unidos, man-tendo com eles campos de articulação, mas tam-bém de concorrência. Algumas delas estão vincu-ladas a partidos políticos europeus. Outras sãocontroladas por instituições privadas e jogam umpapel fundamental na promoção das ideiasneoliberais em escala mundial, como o Institute ofEconomic Affairs (IEA) e Atlas Economic Research

Foundation (Gros, 2003).52 Mato (2007) identificoudezesseis organizações latino-americanas que re-ceberam recursos dessa fundação, algumas delastambém apoiadas pelo CIPE.53 Outra rede orienta-da especialmente para a América Latina é mantidapela Fundación Internacional para la Libertad (FIL),presidida pelo escritor Mario Vargas Llosa.54 Al-guns países criaram organizações similares parasua atuação no exterior, como o Canadá com seuInternational Center for Human Rights andDemocratic Development (ICHRDD), organizado em1990.55 No âmbito da ONU, especialmente a partirde 1993, os Estados Unidos se defrontaram comdiferentes concepções e propostas de atuação napromoção da democracia (Pubantz, 2007).

O fato de realizar parcerias com o CIPE nãosignifica que as organizações passem a dependernecessariamente da organização norte-americana.As parcerias se fazem em um contexto de conver-gência de interesses do ponto de vista da manu-tenção e renovação de uma ordem capitalista, maso papel que as organizações podem desempenharnesse processo pode sofrer variações importantes.Como já foi mencionado, as organizações locaisoperam também com diferentes fontes de financia-mento. A estratégia do CIPE é de longo prazo, masoperacionaliza suas ações através projetos específi-cos de apoio organizacional, político e financeirocom objetivos e prazos definidos. Esse procedimentolhe permite operar com grande flexibilidade paramanter, redefinir ou romper as parcerias, em fun-ção dos resultados alcançados ou de alterações

52 Os dois últimos foram criados por Anthony Fisher,seguidor das ideias de Hayek. O IEA está localizado naInglaterra e Atlas nos Estados Unidos. Em 2001, a AtlasEconomic Research Foundation da Inglaterra, tambémfundada por Anthony Fisher, se transformou em umainstituição chamada The International Policy Network(Mato, 2007, p.68).

53 Por exemplo, o Instituto Libertad y Democracia no Perue o Centro de Divulgación del Conocimiento Econômico(CEDICE) na Venezuela (Mato, 2007, p.30).

54 Segundo Mato (2007, p.33), a FIL conta com uma com-plexa estrutura de comando, que inclui representantes deinstituições da América Latina, Europa e Estados Unidos.

55 Scott e Walters (2000) desenvolvem um estudo compara-tivo entre o NED, e o International Center for HumanRights and Democratic Development (ICHRDD) e aWestminster Foundation for Democracy (WFD) estabelecidapelo governo da Inglaterra em 1992. Abelson (2000) com-para think tanks do Canadá e dos Estados Unidos.

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conjunturais em cada país, ou ainda em razão dassuas prioridades, que são definidas em termos desua atuação global. Como observa Cruz (2007, p.41),para analisar a política do neoliberalismo “... é pre-ciso ver como os grupos ou tendências políticasidentificados com essa perspectiva atuam, que pro-blemas enfrentam, que alianças precisam estabele-cer para se colocar em posição de implementar osseus projetos”.

O sistema financeiro vincula-se, de diver-sas formas, à rede de organizações mencionada.Como se viu, instituições financeiras multilaterais,como o Banco Mundial e o BID, apoiam algumasdessas organizações. Associações de representaçãode classe do setor financeiro participam de associa-ções empresariais que também recebem recursos doCIPE. Instituições financeiras privadas, especialmentegrupos financeiros, participam e aportam recursos.O Citigroup, por exemplo, tem uma presença ativanas associações de bancos na América Latina, assimcomo nas Câmaras Americanas de Comércio exis-tentes no continente. Sobretudo, é necessário desta-car que o sistema financeiro, na América Latina, emritmos e graus diversos de intensidade, sofreu umprofundo processo de abertura e desregulamentação,assim como foi alvo de privatização, políticas que oNED e especialmente o CIPE apoiaram e contribuí-ram para estabelecer.

O modelo de democracia institucional queos Estados Unidos pretendem exportar para omundo, além de essencialmente articulada com aeconomia de livre mercado, busca gerar posiçõesaliadas ou amistosas com os interesses políticos eeconômicos dos Estados Unidos. Não se trata deimplementar, manter e renovar uma ordem demo-crática e capitalista em cada país apenas; ela devearticular-se com os interesses estratégicos da po-tência hegemônica. Dessa forma, o campo dessadisputa democrática cria alianças e também rivali-dades com as iniciativas de outros países capita-listas que também desenvolvem ações semelhan-tes através de organizações específicas. Ao mesmotempo, não consegue ocultar as contradições compráticas internas e, especialmente, externas de atu-ação. As debilidades também se revelam quando

se deparam com processos locais que questionama economia de livre mercado e os interesses dosEstados Unidos, ou se conectam com movimentospopulares, como está ocorrendo atualmente emalguns países da América Latina. Que o modelode democracia e o esforço do governo e dascorporações norte-americanas para implementá-loao redor do mundo seja eivado de contradiçõesnão deixa de colocar um significativo desafio teó-rico e político em torno da questão da democra-cia,56 além de levantar novas questões relaciona-das com o imperialismo.57

A partir da rede de organizações que se in-seriram na estratégia do governo e das corporaçõesnorte-americanas e das práticas que dela derivame as forças sociais e políticas que logram mobilizara partir de meados dos anos 80, é possível perce-ber uma estrutura complexa e abrangente de rela-ções. Mesmo que não tenham conseguido evitaras contradições geradas pela implementação, emmaior ou menor grau, das políticas neoliberais,definiram e estruturaram um padrão de atuação ede luta de classes cuja melhor compreensão aindadeve ser alcançada.

(Recebido para publicação em dezembro de 2008)(Aceito em março de 2009)

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56 Ver, por exemplo, Boron (2006), Chomsky (2007), es-pecialmente capítulo 4 “Fomento de la democracia en elextranjero”). Guilhot (2001) faz uma análise da cooptaçãode intelectuais para esse processo de defesa de uma de-mocracia conforme à visão e ao interesse do governo edas corporações norte-americanas. Callari (2008) consi-dera que essa cruzada pela democracia se vincula à novaforma do imperialismo e requer das forças políticas daesquerda e do discurso marxista o engajamento no ter-reno do debate sobre democracia.

57 Ver, por exemplo, Panitch e Leys (2006, 2006a), Slater(2006), Petras (1999).

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CONSTRUINDO HEGEMONIA NA AMÉRICA LATINA...

Ary Cesar Minella - Doutor em Estudos Latino-americanos pela Universidad Nacional Autónoma de México.Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-Doutor em Ciência Política pelaUniversidade de Campinas e em Sociologia pela Universidade de São Paulo, incluindo estágio na UniversidadAutónoma de Barcelona. Professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento deSociologia e Ciência Política e Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política. Tem experiência na áreade Sociologia Política e Sociologia Econômica, com ênfase em Classes Sociais e Grupos de Interesse, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: organização corporativa e política do empresariado financeiro no Brasile na América Latina, sistema financeiro no Brasil, grupos econômicos, redes financeiras, globalização finan-ceira. Coordena o Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema Financeiro (NESFI), grupo de pesquisacredenciado pelo CNPq. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. Principais publicaçõesincluem o livro Banqueiros: organização e poder político no Brasil. Os artigos mais recentes foram publicadosna revista Sociologias (Maiores bancos privados no Brasil: um perfil econômico e sociopolítico), n. 18, p. 100-125, jul./dez., 2007, e Revista de Sociologia e Política (Representação de classe do empresariado financeirona América Latina: a rede transassociativa no ano 2006). n. 28, p. 31-56, jun., 2007.

BUILDING HEGEMONY: DEMOCRACY AND FREEMARKET (performance of NED and of CIPE in Latin

America)

Ary Cesar Minella

Beginning from the verification of the existenceof connections between the banking classrepresentation associations of Latin America, the so-called transassociative network, this paper analyzesthe connection of that network with American-basedorganizations to act politically around the world. Itsmain focus is the Center for International PrivateInterprise (CIPE), begun in 1983, linked to the UnitedStates Chamber of Commerce, and that promoteseconomical and political market-oriented reforms. Itis one of four main organizations in the NationalEndowement for Democracy (NED), entity financed bythe that country’s government. The case of Argentinaand Peru is especially examined. Two factors areexamined: how the relationship of those entities withLatin-American organizations constitutes a structuralbase for the process of neoliberal hegemonyconstruction and how it works with the financialsystem. The methodological procedure includes thebibliographical and documental research.

KEYWORDS: hegemony, democracy, financial system,transassociative nets, National Endowement forDemocracy (NED), Center for International PrivateInterprise (CIPE).

L’HÉGÉMONIE EN CONSTRUCTION:DÉMOCRATIE ET LIBRE ÉCHANGE ( Le rôle du

NED et du CIPE en Amérique Latine)

Ary Cesar Minella

C’est à partir de la constatation de liens existantsentre les associations de représentation de classe des ban-ques en Amérique Latine, appelé réseau trans-associatif,que ce travail analyse la connexion qu’a ce réseau avec desorganisations constituées aux Etats-Unis pour agirpolitiquement dans le monde entier. L’attention est portéesur le Center for International Private Interprise (CIPE),fondé en 1983, lié à la Chambre de Commerce des Etats-Unis, et dont les réformes politiques et économiques sonttournées vers le marché. C’est l’une des quatre organisationscentrales du National Endowement for Democracy (NED),entité financée par le gouvernement américain. On y étudietout spécialement le cas de l’Argentine et du Pérou. Onpeut voir combien la relation de ces entités avec desorganisations latino-américaines constitue une basestructurale dans le processus de construction del’hégémonie à caractère néo-libéral et comment elles’articule avec le système financier. La méthodologiecomprend une recherche bibliographique etdocumentaire.

MOTS-CLÉS: hégémonie, démocratie, système financier,réseaux trans-associatifs, National Endowement forDemocracy (NED), Center for International PrivateInterprise (CIPE).