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Trabalho de conclusão de curso realizado na Universidade de Sorocaba, em 2012, no curso de Design.
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UNIVERSIDADE DE SOROCABA
PRÓ-REITORIA E GRADUAÇÃO
CURSO SUPERIOR GRADUAÇÃO
BACHARELADO EM DESIGN
Guilherme Henrique Araujo de Souza
Minimalismo em Cartaz:
Um estudo com cartazes de filmes Disney
Sorocaba/SP
2012
Guilherme Henrique Araujo de Souza
Minimalismo em Cartaz:
Um estudo com cartazes de filmes Disney
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação em Design, da Universidade de Sorocaba.
Orientador: Prof.º Dr.º Maurício Reinaldo Gonçalves Co-orientadora: Prof.ª Ms.ª Carla Bonfim de Moraes Salles
Sorocaba/SP
2012
Guilherme Henrique Araujo de Souza
Minimalismo em Cartaz:
Um estudo com cartazes de filmes Disney
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do Diploma de Graduação em ........................., da Universidade de Sorocaba.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Ass.: _______________________________ Pres.: Ass.: _______________________________ 1° Exam.:
Ass.: _______________________________ 2° Exam.:
Dedico este trabalho aos meus amigos, que sempre me apoiaram nos momentos em que mais precisei, e a meu orientador e co-orientadora, que me ajudaram a descobrir o melhor caminho a seguir.
"Of all of our inventions for mass communication, pictures still speak the most universally understood language."
(Walt Disney)
RESUMO
Esta pesquisa tem como tema o design e a criação de cartazes, com foco em
uma série criada por um designer inglês, baseada em filmes da Disney, mais
especificamente os filmes Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Peter Pan
(1953) e Rei Leão (1994). O objetivo de tal trabalho é compreender o processo
de criação de tal produto gráfico, compreendendo também como funcionam os
cartazes cinematográficos e como o minimalismo é aplicado no design destes
objetos. Para tanto, nos baseamos em uma pesquisa bibliográfica acerca da
história do Minimalismo, tanto na Arte como no Design, a teoria da linguagem
visual e Gestalt, e definições e história do cartaz como produto de
comunicação, fazendo, após isso, uma análise dos objetos desta pesquisa,
demonstrando assim os resultados obtidos, os tipos de cartazes descobertos e
suas relações com o Minimalismo. Durante a pesquisa nos baseamos em
autores como Philip Meggs, Alston Purvis, João Gomes Filho, Martine Joly,
Donis A. Dondis e Chico Homem de Melo, entre outros. O potencial do
Minimalismo aplicado ao design e a criação diferenciada de cartazes são de
grande relevância para o design e para esta pesquisa, procurando diferenciar a
produção futura do que temos atualmente no mercado.
Palavras Chave: Design. Cartaz. Minimalismo. Linguagem Visual. Disney.
ABSTRACT
This research’s theme is about design and how posters are created, focusing
on how some minimalist Disney’s posters are made, in special Snow White and
the Seven Dwarfs(1937), Peter Pan(1953) and The Lion King(1994) ones. Our
objective is to comprehend how is the process to create posters, also
comprehending how movie posters work and how minimalism can be applied on
them. To reach that goal, we based our studies on author like Philip Meggs,
Alston Purvis, João Gomes Filho, Martine Joly, Donis A. Dondis and Chico
Homem de Melo, among others. The potential of minimalism applied in design
and the differentiated creation of posters are extremely relevant to design and
this research, looking for a different future production of what we have in our
actual market.
Key-words: Design. Poster. Minimalism. Visual Language. Disney.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fountain. Marcel Duchamp, 1917 ................................................... 14
Figura 2 - Tubos de luz fluorescente e acessórios. Dan Flavin, 1968 ............. 14
Figura 3 - Orphée aux Enfers. Jules Cherét, 1879 .......................................... 26
Figura 4 - La Goulue au Molin Rouge. Toulose Lautrec, 1891 ....................... 26
Figura 5 - Cartaz dos papéis para cigarro Job. Alfons Mucha, 1898 ............... 27
Figura 6 - Cartaz produto alimentício Tropon. Henri van de Velde, 1899 ........ 27
Figura 7 - I Want You for U.S Army. James Montgomery, 1917 ...................... 28
Figura 8 - Britons Wants You. Alfred Leete, 1914 ........................................... 28
Figura 9 - Priester Match. Lucian Bernhard 1905 ............................................ 29
Figura 10 - What Force shapes you? Estúdio H-57, 2012 ............................... 31
Figura 11 - Anatomy of a Murder. Saul Bass, 1959 ......................................... 32
Figura 12 - American Institute of Graphic Arts. Paul Rand, 1968 .................... 34
Figura 13 – The Three Caballeros. 1968 ......................................................... 38
Figura 14 – Snow White and the Seven Dwarfs. 1937 .................................... 40
Figura 15 – Peter Pan. 1953 ........................................................................... 41
Figura 16 – The Lion King. 1994 ..................................................................... 43
Figura 17 - Snow White and the Seven Dwarfs. Rowan Stock Moore, 2012 ... 44
Figura 18 – Peter Pan. Rowan Stock Moore, 2012 ......................................... 47
Figura 19 – The Lion King. Rowan Stock Moore, 2012 ................................... 49
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 9
2 A HISTÓRIA DA ARTE E O CARTAZ NO DESIGN ................................... 11 2.1 Minimalismo e Simplicidade em Aliança ........................................ 11 2.2 Forma e Linguagem nas Imagens ................................................... 16 2.3 O Cartaz pela História e Cinema ...................................................... 23
3 A DISNEY E O CARTAZ ............................................................................ 37
3.1 Branca de Neve e os Sete Anões .................................................... 39 3.2 Peter Pan ........................................................................................... 40 3.3 Rei Leão ............................................................................................. 42 3.4 Análise ............................................................................................... 43
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 51 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 53
9
1. INTRODUÇÃO
Poucas coisas podem nos mostrar mais da história do design como o
cartaz. Tema desta pesquisa, o cartaz acompanhou os movimentos artísticos
do último século de uma forma completa, se desenvolvendo junto a eles, mas
sempre mantendo seu aspecto básico, sua estrutura. Desde o início do curso e
minha descoberta do campo dos cartazes, me interessei pelo seu processo de
criação e seus diferentes tipos e possibilidades, sua maneira de comunicar, e
esse trabalho procura demonstrar exatamente isso, como funcionam os
cartazes, como é a comunicação dessa mídia. Moles (2005) define o cartaz
como a imagem da cultura de uma sociedade, o que ele não deixa de ser, ele é
um reflexo dos estudos e cultura da sociedade conforme as épocas passam,
até chegar aos tempos atuais, onde a diversidade de culturas e povos criou
uma diversidade de cartazes, de formatos para eles, como veremos mais a
frente.
Em especial temos os cartazes minimalistas como objeto da pesquisa,
cartazes que prezam pela simplicidade, algo que se torna destaque quando
vemos o excesso de informações visuais com que vivemos, portanto torna-se
importante conhecer tanto o movimento artístico que foi o minimalismo, quais
as suas características e usabilidade dentro do design, outro importante ponto
desta pesquisa. O uso da Gestalt, algo de vital importância para o design, se
mostra muito presente neste tipo de cartaz, com uso das leis mais básicas até
algumas categorias específicas, como minimidade e simplicidade, trabalhadas
de forma bem diferenciada. A linguagem visual de tais cartazes se mostra
interessante e passível de estudo por isso, elas conseguem transmitir uma
mensagem através de poucos elementos, poucos signos. A capacidade de
gerar diferentes interpretações desses trabalhos deve ser notada, pois é
importante e vital, afinal, segundo Joly (2007), interpretar e analisar uma
mensagem, não consiste certamente em tentar encontrar uma mensagem pré-
existente, ou seja, não é simplesmente ver algo com um significado já
determinado, mas descobrir novos significados.
10
Temos também o cinema presente nesta pesquisa, presente motivado
pela minha paixão pela arte que ele é e seus cartazes. Os cartazes aqui
trabalhados são de três filmes que fizeram parte de minha infância e considero-
os importantes para mim. São eles Branca de Neve e os Sete Anões, Peter
Pan e Rei Leão, animações criadas pelos Estúdios Disney, um dos pioneiros
em animação e um dos maiores produtores de filmes até hoje. Os 3 filmes são
de grande importância para o estúdio, seja pelo seu pioneirismo, tecnologia,
pela lucratividade ou história, e veremos mais detalhes deles ao longo da
pesquisa. Com os objetivos desta pesquisa definidos, podemos perceber sua
importância para a área do design em face da criação visual, de como
comunicar visualmente de forma clara e limpa, em especial frente ao excesso
visual que temos na publicidade em geral, principalmente no campo do cartaz.
A possibilidade de usar o cartaz de uma forma nova, em especial no cinema, é
um diferencial frente ao comum, ao já criado.
A base para tal estudo vem de autores como Batchelor (1999), Hollis
(2001), Joly (2007), Dondis (2007) e Melo (2005), formando conceitos de
linguagem visual, Gestalt e criação de cartazes.
Esta pesquisa tem 4 seções, das quais as principais são a segunda,
contendo toda a base teórica pesquisada, com os autores já mencionados e
conceitos necessários para análise, enquanto a terceira nos apresenta um
histórico dos filmes referentes aos cartazes, e as análises comparativas em si,
baseadas em linguagem visual e Gestalt, ligando o que foi visto neles aos
conceitos anteriormente estudados, demonstrando a simplicidade e
profundidade da comunicação visual feita de forma clara e concisa, usando
poucos elementos visuais.
11
2. A HISTÓRIA DA ARTE E O CARTAZ NO DESIGN Poucas épocas podem nos dizer tanto sobre o Design Gráfico como o
século XIX. Segundo Meggs e Purvis (2009), o Design como conhecemos
surgiu nesta época, auxiliado pelo pleno avanço da industrialização, advento da
Revolução Industrial, ocorrendo na época, e deve-se em boa parte as
evoluções tipográficas e no campo da impressão. A revolução Industrial mudou
radicalmente o papel social e econômico da comunicação tipográfica, criando
novos estilos e tamanhos para os tipos, e o surgimento de novas e melhoradas
técnicas de impressão, inclusive envolvendo fotografia, elevaram a publicidade
a um novo patamar, com o cartaz muito envolvido neste campo. Veremos a
seguir um pouco desta história, com foco no campo dos cartazes, além de
conhecer movimentos artísticos importantes para nós, principalmente o
Minimalismo, e a linguagem visual que sempre acompanhou e evoluiu com o
Design Gráfico.
2.1. Minimalismo e Simplicidade em Aliança
O minimalismo é um movimento artístico pós-moderno que, segundo
Batchelor (1999) surgiu por volta de 1963, quando vários artistas em Nova
Iorque começaram a expor, independentemente, trabalhos tridimensionais que,
para críticos da época, tinham características comuns. Podemos citar alguns
artistas como Carl Andre, Dan Flavin, Donald Judd, Sol LeWitt e Robert Morris
nesta época.
Uma curiosidade que deve ser notada no movimento minimalista, em
relação aos movimentos vigentes na época, em especial o Modernismo1, é
que, segundo os seus artistas, ela nunca existiu, muito em função dos artistas
não considerarem seus trabalhos parecidos. O trabalho realizado por esses
artistas representou, e ainda representa muito mais do que um estilo de época
que logo poderia ser esquecido, segundo Batchelor (1999) tais trabalhos
1 Modernismo é o conjunto de movimentos culturais e artísticos como Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo e
Construtivismo que buscava uma negação a tudo que era anterior na arte. Disponível em: <http://www.infoescola.com/artes/conceito-de-arte-moderna/ >. Acesso em: 5 Out. 2012.
12
mudaram substancialmente o aspecto que a arte poderia ter, como poderia ser
feita, e do que poderia ser feita, ele ia contra os ideais modernistas da época.
Geometria, seriedade, o uso de poucas ou apenas uma cor e abstração
são algumas das características associadas em qualquer obra minimalista. Por
tal motivo não há um consenso claro do que a arte minimalista foi ou é, a
definição se tornou algo genérico, segundo Batchelor (1999) qualquer obra com
alguma destas características já era considerada minimalista.
Tratando das obras criadas, podemos notar algumas características
básicas, como formas simples, equilibradas e abstratas. Os materiais não são
disfarçados ou manipulados, são mais industriais do que artísticos, não havia
necessidade de escondê-los. Eram muitas vezes monocromáticos, ou sem cor,
trabalhando direto com os tons do material usado. Ainda entre os artistas,
podemos notar que procuravam evitar a preocupação com a complexidade, o
que era evidente em muitas pinturas e esculturas de outros movimentos
artísticos da época. Os trabalhos minimalistas, de Pop Art2, Op Art3, eram feitos
mais próximos a uma produção industrial, ou até em pequena escala.
Segundo Batchelor (1999), os objetos e obras de arte eram tratados não
como coisas invariantes, mas como “constantemente submetidos à definição
de uma visão situada”, ou seja, os trabalhos minimalistas alertam o espectador
para as contingências do local e a variabilidade da perspectiva. Os trabalhos
minimalistas implicam um tipo diferente de espectador, tudo depende do
repertório e visão de quem vê a obra, você gera novos significados para ela o
tempo todo, dependendo muito de seus pensamentos.
A crítica da época tinha grandes dificuldades em aceitar tais
comportamentos e ideias. Segundo Batchelor (1999), o crítico Greenberg
2 Pop Art é um movimento artístico iniciado por volta de 1960 nos Estados Unidos. O movimento
desafiava a tradição por criar produtos visuais de produção em massa a partir da cultura popular, gerando uma perspectiva artística para os mesmos. Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 5 Out. 2012. 3 Op art é uma abreviação da expressão em inglês optical art e significa "arte ótica" - uma forma de arte que explora determinados fenômenos óticos com a finalidade de criar obras que pareçam vibrar ou cintilar. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/artes/op-art.jhtm>. Acesso em: 5 Out. 2012.
13
(importante crítico modernista dos Estados Unidos) as considerava no máximo
“um bom design”, ou até sem propósito. Esta mesma crítica se repetia com a
Pop Art, Op Art e Arte Cinética4, e todas as outras novas artes. Segundo ele as
obras pareciam ter sido concebidas e executadas segundo um projeto, e não
“sentidas e descobertas” como a arte era. A arte minimalista, assim como as
outras artes que surgiam na mesma época, era mais industrial, como foi
notado, e por isso era mais projetada, pensada, ao contrário do que ele
considerava arte, que trabalhava com os sentidos, com a sensação e a
descoberta dela. Algo muito mais próximo do design atual. O problema da
crítica era exatamente situar os trabalhos minimalistas, de um movimento pós-
guerra (Segunda Guerra Mundial), em ideais modernistas.
Não que as obras minimalistas sejam simples objetos ou estruturas sem
referências dos movimentos passados, a referência está ali presente, de
formas diferentes, ou simples, como o movimento em si, e dependendo da
visão de quem olha a obra. Podemos notar semelhanças presentes com a ideia
do readymade, essencialmente dadaísta5, que é um objeto apenas, mas que
adquire um status de arte em virtude da mudança de um contexto aplicado
sobre este objeto. Batchelor (1999, p. 14) diz que não há nenhum aspecto
essencial em que o urinol utilizado por Duchamp (Figura 1) seja mais do que
um objeto. E, as obras minimalistas (Figura 2) encontraram um espaço
exatamente entre a escultura e o readymade, por isso temos tantos termos
como objeto, estrutura, trabalho tridimensional para nos referir a elas. Tudo
isso indicou que algo novo estava sendo feito, algo que requeria um nome
novo, uma classificação nova. O minimalismo achou o equilíbrio entre o
readymade, a escultura e a arte, como os críticos a chamavam.
4 A arte cinética ou o cinetismo refere-se a uma corrente na área das artes plásticas que elabora formas e
efeitos visuais para gerar movimento ou ilusão óptica. Disponível em: <http://www.infoescola.com/artes/arte-cinetica/>. Acesso em: 5 Out. 2012 5 Dadaísmo é um movimento cultural iniciado em 1916. O movimento envolvia artes visuais, literatura,
poesia, design gráfico e tinha como objetivo ridicularizar o que achavam ser as coisas sem sentido do mundo moderno. Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 5 Out. 2012
14
Figura 1 - Fountain. Marcel Duchamp, 1917. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Fountain_%28Duchamp%29> Acesso em: 20 Abr. 2012)
Batchelor diz que os críticos Fried (historiador e crítico modernista de
arte dos Estados Unidos) e Greenberg faziam ensaios falando como as artes
minimalistas estavam longe da arte, eram apenas objetos. Defendiam que o
espectador não devia existir, não devia se notar, enquanto os minimalistas
faziam suas instalações e estruturas, onde o espectador se fazia notar, sentia-
se presente. Havia deslocamento do interior para o exterior, do privado para o
público, se tornando uma das maiores características do minimalismo, a
interação entre público e objeto. E esta é uma das características que tanto
vemos no design. Deve haver uma interação entre o público, o espectador, e o
produto de design criado.
Deve-se notar, no entanto, que essas não eram as únicas críticas feitas
em relação aos minimalistas, Krauss (1988 apud BATCHELOR, 1999, p. 70)
caracterizava o minimalismo como algo serial, que evitava a hierarquia e a
centralização. O significado de tais obras seria produzido apenas mediante as
relações destes com outras palavras e objetos. Ou seja, o significado é
produzido externamente, será sempre relativo, dependente do contexto em que
está aplicado e do público que o vê.
Figura 2 - tubos de luz fluorescente e acessórios. Dan Flavin, 1968. FONTE: BATCHELOR, 1999,
15
Com o passar dos anos, os trabalhos minimalistas originais passaram a
servir como forma-base para trabalhos mais atuais, como os materiais
industriais. O minimalismo continua a fornecer uma modernidade e seriedade à
arte. A repetição e a serialidade tornaram-se um dado da produção artística e
também do modo de exposição. Materiais industriais e uma geometria vazia
são o ponto de partida de numerosos trabalhos de artistas, sejam eles em
pintura, escultura, fotografia ou instalação. E mais do que isso, se tornou uma
grande referência para o design, comunicando de forma simples, em poucos
elementos. Na história do design é mais difícil encontrar o momento de ligação
com o minimalismo, mas podemos dizer que começa por volta de 1980.
O minimalismo é, no design, uma reação a esses movimentos pós-
modernos6 de reestruturação da função como também forma de comunicação
subjetiva e até certo ponto artística. Afinal o próprio design em si já é
interferência espacial, e possui implícito a si a necessidade de expor e
comunicar signos claros, de passar sua mensagem de forma clara. O
minimalismo, como anteriormente explanado, almejava uma perfeita e
necessária interação do homem com a obra, que se traduzida no design,
implicam nessa ligação funcional do objeto com o seu usuário, pois os signos
de clareza comunicacional e cognitiva presentes deveriam ser os encontrados
no design minimalista. O minimalismo trabalha perfeitamente em conjunto com
o design, auxiliando nessa comunicação clara e objetiva, mas ainda assim
artística e esteticamente bela. Trabalha com a máxima de Ludwig Mies van der
Rohe de que “Menos é mais”.
Deve-se dizer que o minimalismo se associou ao design através de
vários campos, como mobiliário, branding, embalagens, cartazes, campanhas
publicitárias, entre outros. O foco desta pesquisa será a aplicação do
minimalismo no campo do cartaz, ou pôster, cinematográfico, mas antes de
entrar na análise ou no estudo do cartaz em si é necessário entender como a
linguagem visual opera, e como ela é construída, além de um histórico e
6 O movimento pós-modernista implica que um objeto não pode falar simplesmente por si, mas sim que o
ambiente social em que está envolvido fale por ele. A estética e o ângulo em que ele é visto não são valores universais e não associados à arte. O seu valor é achado através de processos sociais em que o objeto está envolvido. Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 5 Out. 2012
16
conceituação do próprio cartaz. Tais conceitos serão fundamentais para uma
associação melhor com o minimalismo e para a vindoura análise que faremos,
servindo de base para ela.
2.2. Forma e Linguagem nas Imagens
Um dos conceitos que norteia está pesquisa é o de imagem. Qual a
definição e a formação da imagem? Segundo Joly (2007), desde o início da
civilização temos a imagem, ela está a nossa volta. Desde os desenhos pré-
históricos tinham como objetivo comunicar algo, tinham uma mensagem a ser
passada. Tais desenhos seriam, futuramente, chamados de “pré-anunciadores
da escrita”. E deve-se notar que os desenvolvimentos da escrita e da
linguagem visual tiveram esta mesma origem nas figuras simples, a escrita tem
em seu traçado uma grande relação com os desenhos. Ambas são formas
naturais de comunicar ideias e os primeiros seres humanos utilizavam as
figuras como um modo elementar de registrar e transmitir informações.
Consideramo-las como imagens na medida em que imitam, esquematizando visualmente, as pessoas e os objetos do mundo real. Pensa-se que estas primeiras imagens poderiam ter também uma relação com a magia e com a religião. (JOLY, 2007, p.18)
No mundo contemporâneo em que vivemos temos a imagem (palavra)
muitas vezes ligada ao conceito de imagem mediática. Segundo Joly (2007),
imagem mediática é a imagem invasora, presente em todos os momentos,
muitas vezes ligada à televisão e à publicidade visual, é a imagem anunciada,
direcionada a grandes públicos.
De uma forma mais exata, podemos definir a imagem como “um modelo
perceptivo de objeto, de uma estrutura formal que interiorizamos e associamos
a um objeto e que alguns traços visuais são o bastante para evocar;” (JOLY,
2007, p.20), ou seja, a imagem representa algo, seja ele um objeto, pessoa ou
sentimento, de uma forma realista ou abstrata, complexa ou simples. Seu uso
17
tem grande variedade de acordo com a mensagem que se pretende passar e
onde se pretende transmiti-la.
Toda a gente compreende que se trata de estudar ou de provocar associações mentais sistemáticas (mais ou menos justificadas) que servem para identificar este ou aquele objeto, esta ou aquela pessoa, esta ou aquela profissão, atribuindo-lhe um certo número de qualidades socioculturalmente elaboradas. (JOLY, 2007, p.22)
Na parte destinada ao estudo do cartaz veremos quão amplo pode ser o
uso da imagem naquele tipo de mídia, sendo utilizado para divulgação de
espetáculos, anúncios de produtos, protestos e convocações para guerras e
política.
Por fim, falemos da imagem no campo linguístico. Neste campo é
comumente associado à metáfora, uma das figuras de linguagens mais
estudadas e utilizadas que temos. Joly (2007) diz que a metáfora verbal, ou
falar por imagens, consiste em empregar uma palavra em lugar de outra, seja
em função de sua relação analógica ou de comparação, assim podemos
associar a comparação com a representação da imagem, a imagem representa
algo, transmite algo.
E aqui definimos linguagem como um recurso de comunicação humano.
Segundo Dondis (2007), a linguagem humana evoluiu desde a forma mais
primitiva, auditiva, da pré-história, até a habilidade de ler e escrever. A mesma
evolução se nota na linguagem visual, na criação de objetos gráficos, ou
visuais, que antes só eram criados pelas mãos de artistas instruídos, mas que
hoje se torna opção para qualquer pessoa, com o surgimento da câmera,
celulares avançados, a globalização e os avanços científicos mudaram tal
paradigma. Dondis ainda afirma que os objetivos da linguagem visual são os
mesmos da linguagem verbal: construir um sistema de aprendizagem,
identificação, criação e compreensão de mensagens visuais acessíveis a todas
as pessoas.
18
Para o estudo da mensagem, de como ela é passada, dos signos em si,
temos como ponto de partida a semiologia. De origem europeia, vem da
palavra grega semeion, que significa signo. (JOLY, 2007. p.23) Desde a
antiguidade temos esse estudo dos signos, e a linguagem, nesse estudo, é
uma categoria de signos, utilizados para a comunicação. O conceito criado
para signo naquela época era o de algo percebível – cores, calor, formas, sons
– e que tivessem atribuídos a eles algum significado.
Efetivamente, um signo é um signo apenas quando exprime ideias e suscita no espírito daquele ou daqueles que o recebem uma atitude interpretativa. (JOLY, 2007, p.30)
Assim podemos afirmar que tudo a nossa volta pode ser signo, pois a
todo o momento nós estamos interpretando o que vemos a nossa volta. Um
signo é então um significante ligado a um significado, ele se apresenta e
representa algo, uma mensagem.
Então temos as imagens gráficas não apenas como ilustrações
descritivas de coisas vistas ou imaginadas. Elas são signos cujo contexto lhes
da um sentido especial e cuja disposição pode conferir-lhes um novo
significado. (HOLLIS, 2001, p. 9)
Voltando ao conceito de imagem, devemos lembrar que ela representa
algo, agindo como um signo, passando uma mensagem, se utilizando do
repertório cultural de quem a vê para o entendimento desta mensagem, e,
portanto, deve possuir algumas regras de construção para que ela seja
passada de modo claro, fácil, ou simples.
Primeiro devemos pontuar as diferenças entre a interpretação e a
percepção de uma imagem, pois perceber uma imagem, reconhecer seus
elementos, pode não bastar para a compreensão da mensagem que de início
era pretendida. Podemos tomar como exemplo, novamente, os desenhos pré-
históricos. Notamos a presença de animais e pessoas, mas tal reconhecimento
não garante um completo entendimento da mensagem que procuravam passar
naquela ocasião. Mas deve-se notar que, segundo Joly (2007), o
19
reconhecimento e a interpretação são duas operações mentais
complementares.
Joly também diz que o próprio reconhecimento dos elementos exige
certo aprendizado, visto que a imagem se difere do real que ela representa.
Profundidade, cor, movimento, cheiro, tudo isso pode se alterar na imagem,
assim necessitando de um aprendizado para reconhecer as equivalências entre
imagem e real. Tal questão não é tão problemática, visto que a cultura que
vivemos é altamente visual, assim tal aprendizado se faz de maneira natural,
desde nossa infância, até a maturidade. E a visualização é então esta
capacidade de reconhecer, de formar imagens mentais.
Temos a seguinte fala de Joly (2007, p.48) sobre a interpretação de
imagens:
Interpretar e analisar uma mensagem, não consiste certamente em tentar encontrar uma mensagem pré-existente, mas em compreender que significações determinada mensagem, em determinadas circunstâncias, provoca aqui e agora, sempre tentando destrinçar o que é pessoal do que é coletivo.
Tendo como fato que a imagem em si é uma linguagem, e que procura
transmitir uma mensagem para alguém, se torna necessário achar para quem
essa mensagem foi produzida. Assim podemos acumular conhecimentos e
noções necessárias para uma análise e compreensão melhor da imagem. Além
do estudo da mensagem e receptor, deve-se pontuar também a sintaxe visual,
essencial para a criação das imagens. Dondis (2007) diz que há certos
elementos e linhas gerais para a criação da imagem, elementos básicos que,
em conjunto com técnicas manipulativas, permitem a criação de mensagens
visuais claras. Por tal motivo se faz necessário o estudo da Gestalt na
formação da imagem.
Antes de qualquer aprofundamento, é interessante pontuar as origens
desta escola de psicologia.
20
A Gestalt é uma Escola de Psicologia Experimental. Considera-se que Von Ehrenfels, filósofo vienense de fins do século XIX, foi o precursor da psicologia da Gestalt. Mais tarde, por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio de três nomes principais: Max Werheimer (1880/1943), Wolfgang Kohler (1887/1941) e Kurt Koffka (1886/1941), da Universidade de Frankfurt. (GOMES FILHO, 2004, p.18)
Segundo o estudo da Gestalt, a construção de uma imagem tem
fundamento na lei de pregnância da forma. Ou seja, equilíbrio, clareza,
harmonia visual são algumas das necessidades humanas, são fundamentos
indispensáveis na construção de uma imagem, seja ela uma obra publicitária,
gráfica, um produto, uma obra de arte, ou qualquer outra criação visual. E
ainda, de acordo com Dondis:
Captamos a informação visual de muitas maneiras. As forças perceptivas e cinestésicas de natureza fisiológicas são vitais para o processo visual. Nossa maneira de permanecer de pé, de nos movermos, assim como de reagir à luz, à escuridão ou aos movimentos bruscos são fatores importantes para o nosso modo de perceber e interpretar mensagens visuais. Todas essas respostas são naturais e atuam sem esforços; não temos de estudá-las e nem aprender a dá-las [...] existe uma correspondência entre a ordem que o projetista escolhe para distribuir os elementos de sua “composição” e os padrões de organização, desenvolvidos pelo sistema nervoso. Estas organizações, originárias da estrutura cerebral, são, pois, espontâneas, não arbitrárias, independentemente de nossa vontade e de qualquer aprendizado. (GOMES FILHO, 2004, p.17)
Assim concluímos o que foi estudado acima, a leitura visual ocorre de
diversas maneiras, e de forma muitas vezes espontânea, natural, visto que
desde crianças somo educados a esta leitura, desde crianças lemos imagens a
todo momento.
Retornando a Gestalt, ela tem forte atuação nos estudos de percepção,
de forma, linguagem, entre outros campos, todos necessários para o estudo e
uma análise mais completa de uma imagem, além de sua criação. Esta teoria
propõe uma resposta ao fato de que certas formas agradam mais os receptores
que outras. Segundo Gomes Filho (2004) tal estudo opõe-se ao subjetivismo,
quando procura explicar a relação entre sujeito e objeto no campo da
percepção e da forma.
21
A partir destas leis que estudaremos a seguir que criamos um suporte
para a leitura visual, tais leis trabalham sob o conceito de pregnância da forma,
e tem em seu auxílio algumas categorias interessantes para a análise proposta
nesta pesquisa, como simplicidade e minimidade. Mas antes devemos definir o
conceito de unidade, ou unidades. Gomes Filho (2004) diz que unidade pode
ser um único elemento, que se encerra em si mesmo, ou como parte de um
todo, de um conjunto de elementos. Pode também ser entendida como o objeto
também, ou seja, o conjunto dos elementos. Podemos perceber tais unidades
separando-as através de diversos elementos como: pontos, linhas, volumes,
cores e tons, texturas, entre outros, isolados ou combinados. Então, para
analisar os elementos, é necessário segregá-los, ou separá-los, como foi visto
acima, para uma facilitação no estudo e compreensão do objeto.
Outro conceito importante é o de unificação, que consiste na igualdade
ou semelhança produzidos pelo objeto. A unificação se faz quando temos
harmonia, equilíbrio, coerência de linguagem no objeto. (GOMES FILHO, 2004,
p.31) Com a ideia de unificação, temos também o fechamento, obtido pela
continuidade de uma ordem estrutural, constituindo uma figura mais completa
formando unidades. É a criação de um equilíbrio entre as unidades que
possibilita tais conceitos.
Apesar de termos mais leis conceituais, como continuidade,
proximidade, ou semelhança, deixamos aqui definidas as leis mais utilizadas e
que se tornam presentes nos cartazes minimalistas, além da lei básica de
pregnância da forma. E tratando desta lei agora, podemos defini-la como lei
básica da Gestalt.
Uma boa pregnância pressupõe que a organização formal do objeto, no sentido psicológico, tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural. Ou seja, quanto melhor for a organização, melhor será o grau de pregnância do objeto, e vice-versa. (GOMES FILHO, 2004, p.37)
22
Ou seja, uma boa pregnância é uma associação elevada entre harmonia
e equilíbrio visual, gerados através das outras leis e categorias conceituais
estudadas na Gestalt, e extremamente necessárias para o homem. Segundo
Dondis (2007), o equilíbrio é tão fundamental na natureza quanto no homem,
afinal é o estado oposto ao colapso, às sensações ruins geradas pelo
desequilíbrio e falta de harmonia.
Para um estudo aprofundado agora nas ditas categorias, é necessário
definir melhor o termo “forma”:
Tudo o que pode ser visto e/ou tocado, que ocupe espaço e que tenha formato, tamanho, cor, textura e direção; maneira pela qual as coisas do mundo se apresentam à percepção humana; maneira utilizada para transmitir uma mensagem por qualquer meio de expressão. Geralmente é reconhecida como um elemento que, visualmente, se distingue de um fundo. (NOJIMA, 2012, p. 49)
Então podemos dizer que a forma é a imagem visível e a aparência
externa do objeto que estamos vendo.
Estudamos as leis básicas da Gestalt sempre associadas a algumas
categorias conceituais, que tem o papel de auxiliar e complementá-las,
principalmente a lei da pregnância da forma. A harmonia é uma das mais
básicas e essenciais categorias que veremos, ela nada mais é que a boa
organização entre os elementos compondo o objeto ou forma, gerando uma
leitura mais clara e simplificada. Auxiliando neste mesmo campo temos o
equilíbrio, já visto acima, que Gomes Filho (2004) define como a compensação
entre todos os fatores que compõem o objeto, seja ele peso, direção, simetria,
todas as partes ali presentes se tornam “essenciais” para o objeto.
Essencial também é o contraste, conseguido através do uso de cores,
posicionamento, ritmos, entre outros. Gomes Filho (2004) o define como
estratégia visual para aguçar o significado, busca atrair a atenção, causando
um desequilíbrio entre os elementos da imagem.
23
Agora falemos de 3 das categorias mais utilizadas para a criação dos
cartazes minimalistas que nos propomos a analisar: clareza, simplicidade e
minimidade. Todas elas têm como objetivo o equilíbrio visual e harmônico. A
clareza pode ser atingida através de uma organização e unificação de seus
elementos, assim como a simplicidade e a minimidade que pregam o uso de
poucos elementos e informações visuais, assim essas 3 categoriais se tornam
complementares, afinal, atingindo uma se atingirá a outra, desde que se
mantenha sempre clara a mensagem a ser abordada e utilizando os elementos
de acordo com o receptor a ser atingido e as especificações do canal de
comunicação a ser utilizado.
Gomes Filho (2004), no entanto, lembra que tais categorias podem
melhorar ou piorar a pregnância da imagem, dependendo do modo como são
utilizadas, afinal todas as categorias aqui tem seu oposto, como a harmonia e a
desarmonia, o equilíbrio e o desequilíbrio.
2.3. O Cartaz pela História e Cinema
O cartaz, como design gráfico, pertence à categoria da apresentação e
promoção, na qual imagem e palavra precisam ser econômicas e estar
vinculada a um significado único e fácil de ser lembrado. (HOLLIS, 2001, p.13)
Moles (2005) o considera a imagem da sociedade urbana, um componente
estético no nosso ambiente. Ainda segundo Moles (2005) o cartaz se
caracteriza pelo fato de nunca estar só, ou seja, ser sempre produzido em
alguma escala. Tal concepção mudou um pouco com o grande crescimento da
internet e dos softwares de construção gráfica. Com eles não é mais
necessário criar uma produção em um número fixo, seja ela grande ou
pequena, de cópias, a produção deles é feita atrelada à demanda. Isto no caso
de cartazes criados sem um cunho puramente publicitário, pois nestes ainda há
a necessidade de produção em escala maior para afixação em vários pontos.
De uma forma mais exata, podemos definir o cartaz como grandes
folhas de papel impressas com mensagens gráfico-visuais. Segundo Leite
24
(2009), o tamanho de um cartaz não é propriamente o seu tamanho físico, mas
a dimensão que ocupa dentro do campo visual destinado para a sua exposição.
Ou seja, um cartaz não acaba em si, em seus limites físicos, mas no campo em
que está presente, no ambiente em que foi afixado, depende da maneira com
que fora afixado, da quantidade de luz no ambiente, do movimento no lugar
para as suas interpretações. Afinal, Leite afirma que o cartaz é um patrimônio
do ambiente urbano.
O cartaz inicia seu processo de comunicação com o olhar. E para
conquistar esse olhar devemos despertar a participação do observador no
preenchimento dos “espaços vazios” deixados por ele. O público tem que
participar da criação da mensagem, ele deve formulá-la da maneira que melhor
conseguir, através dos elementos presentes no cartaz.
O projeto do cartaz exige múltiplos esforços, por vezes em direções divergentes. Ele deve ser sintético, de modo a atrair o olhar instantâneo do passante, pois disputa sua atenção em ambientes carregados de outros estímulos; ele é identidade e, ao mesmo tempo, comentário sobre o evento ao qual se refere; e, em última instância, ele é peça promocional, confundindo-se nessa tarefa com a publicidade. (Melo, 2005, p. 41)
Até meados do século XIX a impressão de cartazes era feita por
tipografia, como livros antigos, e xilografia, quando era usada alguma imagem,
até que no final do século a litografia se tornou popular, tendo a possibilidade
de usar cores nos cartazes. Segundo Hollis (2001) a partir desta época os
artistas pintavam designs de pôsteres, chegando a utilizar até 15 cores, em
diferentes pedras litográficas, uma para cada cor, com a possibilidade de
reproduzir toda a gama de cores das pinturas á óleo. Devemos tais avanços a
forte industrialização e as revoluções industriais que vinham ocorrendo desde o
final do século XVIII.
No final do século XIX temos grandes influências da arte asiática na
Europa, devido aos comércios entre os dois continentes, possibilitando novas
maneiras de abordar espaço, cores, temas, muitas vezes diferentes do que se
estava acostumado a trabalhar no ocidente. (MEGGS; PURVIS, 2009, p.243)
25
Tal influência e o uso das características asiáticas passou a ser chamada de
japonismo na virada do século, e este estilo teve grande influência no
movimento da Art Nouveau7.
Nesta época, temos em Jules Chéret (Figura 3) um grande exemplo.
Aprendiz de litografia, passou a criar seus próprios cartazes no final do séc.
XIX. Eles tinham como características o uso de uma única figura, com o uso de
poucas palavras. As figuras eram desenhadas livremente, sem uma
preocupação com as leis usuais de perspectiva. Com o movimento da Art
Nouveau, formas orgânicas, florais e femininas eram presentes nos trabalhos
dos artistas. Nestes tempos Paris era considerada a capital artística do mundo,
a influência que os cartazes parisienses causaram foi fenomenal, com
cartazistas de todo o mundo adorando-a.
Com o amadurecimento deste estilo, que se tornou base para a criação
de cartazes na Europa e Estados Unidos, ele foi adotado por outros artistas,
entre os quais temos Henri de Toulouse-Lautrec, que abriu novos caminhos
para a criação dos cartazes, principalmente com seu cartaz La Goulue au
Moulin Rouge (Figura 4).
Um padrão dinâmico de planos chapados – silhueta dos espectadores em preto, ovais amarelas para as luminárias e as roupas de baixo totalmente brancas da famosa dançarina de cancã, que se apresentava de roupa íntima transparente ou aberta – move-se horizontalmente através do centro do cartaz. [...]Nesse marco do design de cartazes, formas simbólicas simplificadas e relações espaciais dinâmicas compõem imagens expressivas e comunicativas. (MEGGS; PURVIS, 2009, p. 258)
7 Estilo internacional iniciado por volta de 1880 com qualidades visuais orgânicas e naturais em suas
formas.
Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 09 Dez. 2012.
26
Figura 3 - Orphée aux Enfers. Jules Cherét, 1879. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.250
Um ponto interessante para se notar em relação a este movimento
artístico é que com ele toda a área de pintura tornou-se uma superfície muitas
vezes texturizada, trabalhada com as curvas e ornamentos característicos do
movimento.
Outro artista que se destacou nesta época com seus cartazes foi Alphonse
Mucha (Figura 5). Com um trabalho extremamente ligado ao Art Nouveau, tinha
como tema dominante a figura de mulheres, sempre associadas a formas de
flores e mosaicos.
Seu trabalho foi tão influente que em 1900 a expressão Le style Mucha passou a ser comumente empregada de modo intercambiável com l’art nouveau. (MEGGS; PURVIS, 2009, p. 262)
Além disso, Mucha também trabalhava a tipografia, criando letras de
forma criativa em seus cartazes.
Figura 4 - La Goulue au Molin Rouge. Toulose Lautrec, 1891.
Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.259
27
Figura 5 - Cartaz dos papéis para cigarro Job. Alfons Mucha, 1898. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.263
Outra grande influência na Art Nouveau veio através do holandês Henri
van de Velde (Figura 6). Seu trabalho agregava desde as formas orgânicas,
inspirações naturais, até padrões lineares, rítmicos. Segundo Meggs e Purvis
(2009), ele se tornou precursor da pintura do século XX, prenunciando
trabalhos de Kandinski e a expressão abstrata. Seu trabalho com cartazes é
pequeno, tendo feito apenas um cartaz para um produto alimentício, mas ao
invés de retratar o produto da maneira comum à época, ele envolveu o
espectador através de formas e cores simbólicas.
Temos então a Primeira Guerra Mundial, onde os cartazes criados
utilizavam um design mais moderno e econômico, com frases de efeito,
slogans usados de forma clara e forte. Durante ela os governos foram grandes
utilizadores de cartazes, usando-os para fazer propagandas, incentivar os
esforços para a guerra e dar força ao povo. É interessante notar que, mesmo
que os estilos dos países em guerra não fossem os mesmos, o assunto era
recorrente e comum a todos. Um dos cartazes mais famosos sobre
recrutamento (e parafraseado ou parodiado até hoje) é o de recrutamento
estadunidense (Figura 7). Nele um homem, apelidado de “Tio Sam” aponta na
Figura 6 - Cartaz produto alimentício Tropon. Henri van de Velde, 1899. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.273
28
sua direção, de forma autoritária, com um texto dizendo “Quero você no
exército dos Estados Unidos”. Tal cartaz foi baseado em outro, criado na Grã-
Bretanha (Figura 8), onde o seu ministro da guerra chamava você para a
guerra, com os dizeres “Seu país precisa de você”. (HOLLIS, 2001, p. 30). Os
cartazes desempenhariam a mesma tarefa alguns anos depois, durante a
Segunda Guerra Mundial, onde temos o grande exemplo dos cartazes Keep
Calm and Carry On.
Figura 7 - I Want You for U.S Army. James Montgomery, 1917. Fonte: HOLLY, 2001, p.37
Durante e após a Primeira Guerra Mundial foi dado um empurrão no
design gráfico e na criação de cartazes comerciais. Segundo Meggs e Purvis
(2009), desde o início do século XX os designs nos cartazes eram também
copiados em fitas adesivas e adaptado para embalagens. Um grupo de
designers em Berlin revolucionou esse campo utilizando o próprio objeto a ser
vendido como imagem, e como texto apenas a marca do produto, num estilo
denominado Plakatstil (“estilo em cartaz”). Como grande nome deste estilo,
temos Lucian Bernhard, com trabalhos para a marca de fósforos Priester
(Figura 9), bem conhecidos, onde usou da simplicidade para passar a
Figura 8 – Britons Wants You. Alfred Leete, 1914. Fonte: HOLLY, 2001, p.37
29
mensagem, com a comunicação feita através de dois palitos de fósforo e a
marca Priester escrita.
Figura 9 – Priester Match. Lucian Bernhard, 1905. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.347
Temos na Rússia, durante esta época, o surgimento do Construtivismo
Russo8 e o aumento do uso da fotomontagem, com destaque para Gustav
Klutsis. Ele empregava a fotomontagem aliada a estatísticas, elementos
gráficos e fotográficos. É interessante notar que nesse uso o significado das
imagens poderia ser compreendido sem a leitura de slogans ou legendas. As
palavras e números aplicados davam um significado mais específico, mas era
secundário em relação às imagens metafóricas utilizadas. (HOLLIS, 2001, p.
47) Podemos notar aqui que as imagens carregavam o significado maior, o
argumento, a mensagem a ser passada, o movimento construtivista mantinha
uma preocupação com a clareza das imagens ao dar seu significado.
Após a guerra temos o expressionismo9 e o dadaísmo como grandes
movimentos artísticos.
8 Iniciado na Rússia em 1919, rejeitava a ideia de arte autônoma. Era a favor de usá-la para práticas
sociais. Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 20 Out/ 2012. 9 Movimento do início do século XX, surgiu como desdobramento do pós-impressionismo, tem como
característica a deformação da imagem visual e cores vibrantes.
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/expressionismo-caracteristicas-e-
autores.htm>. Acesso em: 09 Dez. 2012.
30
Pôsteres, livros e jornais produzidos por artistas expressionistas caracterizavam-se por uma ilustração agressiva, de violentos contrastes, que era combinada com letras desenhadas livremente ou com tipos pesados, desenhados originalmente para anúncios publicitários. (HOLLIS, 2001, p. 58)
Paralelamente temos o futurismo10 ocorrendo na Europa, iniciando uma
mudança no uso da tipografia, de forma mais livre, espalhada no layout, com
fontes em pesos diferentes e misturando caixas altas e baixas.
É preciso destruir a sintaxe e espalhar os substantivos ao acaso... É preciso usar infinitivos... É preciso abolir o adjetivo... Abolir o advérbio... É preciso que se confunda deliberadamente o objeto com a imagem que ele evoca... É preciso até mesmo abolir a pontuação. (HOLLIS, 2001, p. 43)
Tal uso da tipografia se tornará referência para a criação de cartazes
mesmo nos tempos atuais, onde a tipografia se funde a imagem, se torna uma
imagem ela mesma. Esse foi um artifício muito utilizado na poesia futurista, e
podemos ver uma aplicação deste conceito, mais atualizado, no seguinte
cartaz:
10
Movimento artístico iniciado na Itália durante o começo do século XX, prezava por conceitos do futuro
da tecnologia, com velocidade, tecnologia, juventude e violência como seus pilares básicos.
Disponível em: <http://gdh.2rsolutions.cz/>. Acesso em: 20 Out. 2012.
31
Figura 10 – What Force shapes you? Estúdio H-57, 2012. Disponível em: <http://www.h-57.com/the-force-of-typography/> Acesso em: 15 Mai. 2012
Temos nos anos 30 uma diminuição na importância dos cartazes.
Segundo Hollis (2001), com o surgimento das agências de propaganda,
primeiramente nos Estados Unidos, e depois se espalhando pela Europa,
houve diminuição no trabalho individual e na criação de cartazes, visto que o
trabalho era feito em equipe e houve grande aumento no uso das revistas,
onde eram feitos os anúncios. Tal uso aumentou ainda mais nos anos pós-
guerra (Segunda Guerra Mundial) com as revistas levando as notícias mais
facilmente a todos, se tornando um dos maiores campos de atuação do design
gráfico por um bom tempo. Era o design de informação e o design comercial
crescendo cada vez mais. Os países se mostravam extremamente
globalizados, o espírito internacionalista crescia, surgindo assim grandes
multinacionais, operando em mais de 100 países. (MEGGS; PURVIS, 2009,
p.480) A velocidade da comunicação colaborava para conectar todas as
regiões do mundo, assim se tornando necessária uma comunicação mais clara,
simples, que fosse multilíngue, com o uso de símbolos entendíveis no mundo
inteiro (os famosos pictogramas).
Na década de 50 e 60 houve o aumento no uso do design na divulgação
de filmes para cinema, que agora se utilizava de campanhas maiores para
32
divulgação. Temos em Saul Bass (Figura 11) um grande exemplo de mudanças
na criação. Segundo Hollis (2001), ele utilizava as mais variadas técnicas,
desde um simples recorte até uma sofisticada foto de estúdio, captando a
essência de cada filme feito, criando releituras do que se via no filme, como é o
caso do Anatomy Of A Murder (1959), dirigido por Otto Preminger.
Figura 11 – Anatomy of a Murder. Saul Bass, 1959. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Anatomy_of_a_Murder> Acesso em: 15 Mai. 2012
Neste mesmo período temos o surgimento da televisão, ou seja, uma
nova mídia para a publicidade, e também o da impressão offset11,
possibilitando maior uso de cores nas propagandas impressas, novas
possibilidades criativas. As imagens passaram a dominar o texto, a cor dava
novos efeitos a tudo.
11
O sistema de offset funciona com matrizes produzidas com as mesmas características da litografia e usando chapas de alumínio como meio de gravação e transferência de imagem. É o principal processo de impressão desde a segunda metade do século 20, e o mais usado no mundo, tanto para embalagens como para impressos. Disponível em: <http://chocoladesign.com/processos-de-impressao-5>. Acesso em: 25 Abr. 2012.
33
Com a Guerra Fria ocorrendo, principalmente no final dos anos 60 e
início dos 70, vemos uma volta poderosa dos cartazes como forma de protesto,
utilização política e de comoção pública. Neste período temos o psicodelismo,
com o uso de cores contrastantes, tipografias estilizadas, de maneira que não
pudessem ser entendidas por qualquer pessoa. Formava-se nessa época o
cenário underground. Alguns usos principais dos cartazes eram para
divulgação de shows de rock, protestos contra as guerras ocorrendo no
momento, como a do Vietnã, promoção da paz e do amor. A cultura Hippie se
espalhava pelos Estados Unidos.
Os cartazes eram criados usando técnicas simples e econômicas de
impressão, como a serigrafia, não precisando mais ser impressos por gráficas,
permitindo uma liberdade na criação deles. Segundo Hollis (2001), os cartazes
políticos e culturais desta época tornaram-se, além de um objeto decorativo,
um símbolo de status e compromisso das pessoas com suas ideologias, o
design gráfico passou a não ser mais associado apenas a interesses
comerciais. O indivíduo podia criar e controlar a mensagem e seus meios de
produção.
Também nesta época temos o trabalho de Paul Rand (Figura 12),
considerado um dos pioneiros do design moderno estadunidense. Segundo
Meggs e Purvis (2009), Rand conhecia o valor de sinais e símbolos comuns, ou
seja, de entendimento universal, como ferramenta para criar e traduzir ideias
na comunicação visual. Para ele o designer precisava alterar e sobrepor signos
e símbolos, reinterpretar a imagem, fugindo assim do banal. Seu trabalho
utilizava as mais variadas leis da Gestalt, contrastes, fechamento, harmonia,
equilíbrio, mas também brincava com os opostos, sempre buscando novas
maneiras de comunicar.
34
Figura 12 – American Institute of Graphic Arts. Paul Rand, 1968. Fonte: MEGGS; PURVIS, 2009, p.488
Com os anos 70 vieram os avanços tecnológicos, e o crescente uso do
computador para os trabalhos de design. Isso possibilitou uma nova maneira
de mesclar fotografias e ilustrações, um uso mais extenso de tipografia, com a
possibilidade de armazená-las, os programas de edição permitiam a fácil
alteração de tipos e sua manipulação com imagens. Segundo Hollis (2001), o
microcomputador tornou-se uma ferramenta de design.
Após este panorama geral da história do cartaz, devemos entender o
cartaz que analisaremos no capítulo adiante. O cartaz, como visto acima,
servia para comunicar de muitas formas diferentes, e com objetivos diferentes,
ora publicitário, ora protestante, entre outras mensagens, e os cartazes
analisados a seguir estão no campo de atuação cinematográfico. São os
cartazes referentes a filmes, ao cinema, são os cartazes que tem como
mensagem uma cultura, uma história. Vejamos o seguinte conceito de cartaz
cultural:
Tornar-se um ícone do evento e, simultaneamente, colaborar na construção de sua identidade. Essa colaboração tem uma particularidade: ela exige uma interlocução do designer com as linguagens envolvidas nas obras referidas pelo cartaz – um diálogo interno entre as linguagens. Essa é uma das seduções de projetar um
35
cartaz: realizar uma leitura da obra à qual ele se refere, para, a partir dessa leitura, propor uma síntese gráfica que a apresente ao leitor. (Melo, 2005, p. 41)
A criação de um cartaz deve não simplesmente representar, mas fazer
uma releitura do que se foi proposto. Não se deve simplesmente representar a
experiência que o espectador terá com o conteúdo do cartaz, no caso um filme,
mas sim apresentar uma releitura desta experiência, ela deve ser análoga ao
filme.
E para falar sobre o cartaz de cinema atual, é necessário falar sobre o
próprio cinema. Nos últimos anos temos visto grandes avanços no campo
cinematográfico, com novos formatos de filmagem, como o 3D e o IMAX, e
produções cada vez mais caras, os chamados blockbusters, filmes de grande
porte. Consequentemente, tais filmes exigem uma ação de marketing melhor
para atingir lucros, assim formou-se um “padrão” para o cartaz atual, nomeado
por Melo (2005) de cartaz-anúncio.
Este cartaz traz os atores principais em uma foto editada conforme as cores do
filme, demonstrando ali o ritmo, as certezas que permeiam ele. E, em
contrapartida, temos o que Melo chama de cartaz-capa. É o cartaz que
promove uma releitura do filme, uma nova interpretação, não há certezas, mas
sugestões.
Apesar das diferenças, deve ser pontuado que os dois têm a
característica de vender, ou divulgar, o filme, o que muda entre eles é como e
quais linguagens são utilizadas para fazê-lo.
A partir destes dois conceitos em relação aos cartazes cinematográficos,
entramos no campo dos cartazes minimalistas. O cartaz minimalista aqui será
considerado um cartaz-capa, visto que tem as características relacionadas a
este tipo de cartaz. Não são representações exatas do filme, com os atores
claros, ou, como dito acima, valorizando as certezas do filme. Os cartazes
minimalistas procuram aguçar o público de uma forma mais enigmática, não
tem como principal objetivo a venda do filme, mas sim evocar a curiosidade de
36
quem o vê ou viu, seu caráter será mais apreciado ainda para quem já possui
um repertório em relação ao filme referido.
37
3. A DISNEY E O CARTAZ12
A Disney, como conhecemos hoje, teve sua origem por volta de 1920.
Walt Disney, criador da empresa, que desde jovem vendia desenhos a seus
vizinhos, começou suas primeiras animações em 1922, basicamente curtas
que circulava em uma pequena cadeia de cinemas. (NADER, 2001, p. 41) Com
o sucesso atingido nestes cinemas, Disney passou a criar também filmes
longos e logo foi para Hollywood. Segundo Nader (2001), lá ele fundou o
estúdio Disney Bros, e as primeiras animações criadas ali eram produzidas
inteiramente por ele e sua equipe. Disney, desde seus primeiros filmes, sempre
se interessou mais pelas animações, e foi trabalhando com elas que mudou o
nome do estúdio para o que conhecemos hoje, The Walt Disney Studio
(NADER, 2001, p.49).
Após esta mudança a empresa cresceu cada vez mais, criando seus
primeiros personagens icônicos, como Mickey Mouse, criado em 1928, o jovem
camundongo que é, até hoje, símbolo da empresa e seu maior personagem.
Segundo Nader (2001), foram vários os curtas realizados com o personagem, e
cada filme trazia novas caras para o público. Mas foi em 1937 que Disney
lançou sem primeiro longa-metragem de animação, Branca de Neve e os Sete
Anões. A produção deste filme foi o que elevou a Disney ao patamar de grande
produtora de animações, gerando prêmios e experiência para a produção de
novos filmes, além de ter sido o primeiro longa-metragem animado da história.
(NADER, 2001, p.77) A seguir vemos uma melhora cada vez maior na técnica
de animação e filmes icônicos, como Pinóquio, na década de 40, e o que viria a
ser uma das animações mais conhecidas e controvertidas da Disney, Fantasia,
de 1940, que nos mostrou o real potencial criativo dos estúdios Disney, com
sua ousadia em ilustrar algo surreal como a música e uma incrível qualidade
artística. (NADER, 2001, p.85)
As produções de Disney nunca pararam, com animações cada vez mais
variadas e criativas, tratando desde preocupações ambientais, como no filme
Bambi (1942) a divulgações culturais, como o filme The Three Caballeros
12
Todos os dados referentes a datas, premiações, sinopses oficiais e elenco relacionados aos filmes aqui citados foram retirados do site Internet Movie Database (IMDB), um grande agregador de informações sobre cinema.
38
(Figura 13) de 1944, que junta personagens como o Pato Donald e Zé Carioca
para uma visita ao Brasil.
Figura 13 – The Three Caballeros, 1937. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Three_caballeros_poster.png> Acesso em: 15 Set. 2012
Ainda durante esta época, Disney produziu vários curtas para o governo
americano, utilizados para treinamento dos soldados durante a 2ª Guerra
Mundial, além de propagandas militares. Segundo Nader (2001), nas
propagandas eram utilizados grandes personagens do estúdio, em geral
falando sobre saúde ou dando apoio aos soldados em guerra. Tais
propagandas são circuladas no mundo até hoje pelo Departamento de Estado
norte-americano.
Segundo Nader (2001), as propagandas circuladas foram extremamente
mal aceitas pelo público em geral, deixando a Disney a ponto de falir,
obrigando a empresa a lançar uma nova animação. Foi daí que surgiu
Cinderela, filme que nos trouxe uma das maiores princesas da Disney e um
imenso lucro para a empresa.
Walt Disney ainda produziria outras animações, como Peter Pan (1953),
material de análise deste capítulo, entre outras animações e curtas, até sua
39
morte, em 1966. Desde então a Disney passou por seus familiares e acionistas,
continuando seus trabalhos com animações.
Essa breve introdução à história da Disney como estúdio de animações
nos dá uma noção mais ampla de todo o trabalho e criatividade com que cada
filme foi feito, não apenas em sua produção, mas também na divulgação. A
seguir detalharemos um pouco cada um dos filmes que são base para análise,
assim como mostraremos seus cartazes originais, criando assim uma conexão
entre eles e os cartazes minimalistas, tendo uma noção muito maior da
mensagem pretendida e os elementos visuais utilizados.
3.1. Branca de Neve e os Sete Anões
Como dito acima, este foi o primeiro longa-metragem animado criado
pelos Estúdios Disney, representando uma grande revolução no cinema, visto
que foi também o primeiro longa-metragem animado da história, ganhando um
Oscar honorário por tal feito.
Lançado em 1937, o filme, que levou 3 anos para ser feito, tem no
roteiro e direção muitos nomes, mas o que nos é mais importante para a
pesquisa é a história contada, baseado em um conto original dos irmãos
Grimm, no caso o conto Branca de Neve. A sinopse oficial do filme é a
seguinte:
Uma rainha má e bela (que também é bruxa) resolve, por inveja e vaidade, mandar matar sua enteada, Branca de Neve, a mais linda de todas. Mas o carrasco que deveria assassiná-la a deixa partir e, durante sua fuga pela floresta, encontra a cabana dos sete anões, que trabalham em uma mina e passam a protegê-la. Algum tempo depois, quando descobre que Branca de Neve continua viva, a Bruxa Má disfarça-se e vai atrás da moça com uma maçã envenenada, que faz com que Branca de Neve caia em um sono profundo por toda a eternidade.
Essa breve sinopse já nos mostra os elementos-chave da história, sejam
eles personagens ou não, e encontraremos estes elementos em toda a
publicidade relacionada ao filme, como o cartaz original (Figura 14), veiculado
em 1937.
40
Figura 14: Snow White and the Seven Dwarfs, 1937. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Snow_White_and_the_Seven_Dwarfs.jpg>. Acesso em: 15 Set. 2012.
Podemos ver, de início, que este cartaz se trata de um cartaz-anúncio, o
cartaz que nos traz informações e certezas sobre o filme, trabalhando de forma
a mostrar o que o filme carrega. Podemos ver ali os principais personagens, o
castelo e o campo onde se passa a história, além de alguns itens que veremos
ao longo dela e que serão importantes, principalmente por estarem presentes
nos cartaz que analisaremos, criando uma ligação entre o filme e o cartaz
através desses itens que, por sua importância na história, se tornaram objetos
de destaque no filme. Voltaremos a tratar deste cartaz em alguns momentos de
nossa análise.
3.2. Peter Pan
O segundo filme que trataremos em nossa análise é Peter Pan, neste
caso o original da Disney, de 1953. Este segundo filme ainda nos traz uma
estética parecida com a de Branca de Neve, visto que não aconteceram muitas
mudanças tecnológicas na técnica de animação nos anos que se passaram
entre os dois filmes. Apesar disto, os Estúdios Disney já estavam melhorando
41
sua experiência com animações, o que tornou o processo deste filme mais
viável. A sinopse oficial é a seguinte:
Peter Pan (Bobby Driscoll), o garoto que se recusa a crescer, espreita a casa dos Darling, pois Wendy (Kathryn Beaumont), a mais velha dos filhos do casal Darling, crê que ele exista e já convenceu seus irmãos, João (Paul Collins) e Miguel (Tommy Luske). Wendy tem certeza disto, pois Peter Pan perdeu sua sombra. Aproveitando a ausência dos pais de Wendy, ele vai até a casa dela. Após recuperar sua sombra, Peter Pan ensina a Wendy, João e Miguel o que devem fazer para voar: pensar em algo bom e usar um um pó mágico, que uma pequena fada, Sininho, joga sobre eles. Peter leva as três crianças para um passeio na Terra do Nunca, um ilha encantada que é o lar de Peter, Sininho, os Garotos Perdidos e um maquiavélico pirata, o Capitão Gancho (Hans Conried), que jurou se vingar de Peter. Gancho perdeu uma de suas mãos em um duelo com Peter Pan, com ela tendo sido comida por um crocodilo que agora segue sempre o navio do Capitão Gancho, pois quer comer o resto. Tudo realmente se complica quando Sininho fica com muito ciúme de Wendy e quer prejudicá-la.
Assim como no caso anterior, a sinopse se faz essencial para
absorvermos a atmosfera presente no filme, veremos no cartaz original vários
elementos centrais do filme, e devemos guardá-los também para a nossa
análise referente ao cartaz minimalista deste filme. A seguir mostramos o
cartaz original de 1953:
Figura 15 – Peter Pan, 1953. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Peter_Pan_Disney.jpg> Acesso em: 15 Set. 2012
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Este cartaz, com uma estética muito parecida com o de Branca de Neve,
nos mostra de novo o que já esperamos, como os personagens principais,
alguns detalhes da trama e personagens secundários, facilmente percebidos
com um olhar mais detalhista, representando bem seu papel como cartaz-
anúncio. Veremos mais a frente como nosso cartaz trabalha com um aspecto
totalmente diferente em relação à história do filme e sua atmosfera.
3.3. Rei Leão
Aqui apresentamos a vocês o filme referente ao último cartaz que
analisaremos.
Rei Leão, diferentemente dos dois anteriores, nos traz uma fantasia
voltada ao mundo animal, dando vida à África e mostrando sua diversidade. O
filme, apesar disso, tem uma temática parecida com a dos anteriores, padrão
para os filmes Disney, tornando fácil fazer uma ligação entre os personagens
dos diferentes filmes. Com seu grande sucesso, o original de 1994 teve mais
duas continuações, Rei Leão 2 (1998) e Rei Leão 3 (2004), além do
relançamento do primeiro filme em 3D em 2011.
Aqui a sinopse oficial do filme:
Mufasa (voz de James Earl Jones), o Rei Leão, e a rainha Sarabi (voz de Madge Sinclair) apresentam ao reino o herdeiro do trono, Simba (voz de Matthew Broderick). O recém-nascido recebe a bênção do sábio babuíno Rafiki (Robert Guillaume), mas ao crescer é envolvido nas artimanhas de seu tio Scar (voz de Jeremy Irons), o invejoso e maquiavélico irmão de Mufasa, que planeja livrar-se do sobrinho e herdar o trono.
A seguir veremos o cartaz original (Figura 16) que circulou nos cinemas
em 1994, assim percebendo as diferenças entre os filmes e cartazes nestes 41
anos que separam Rei Leão de Peter Pan.
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Figura 16 – The Lion King, 1994. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:The_Lion_King.jpg> Acesso em: 15 Set. 2012
Podemos ver, de início, a aplicação de uma estética diferente. Enquanto
nos outros cartazes tínhamos a ilustração composta de elementos centrais à
trama, além de detalhes e periféricos no segundo plano, aqui temos uma
imagem muito mais abstrata, que não nos dá a trama do filme de modo óbvio,
carregando características mais fortes de um cartaz-capa do que um simples
cartaz-anúncio. Veremos mais a frente como este cartaz já nos traz uma
estética que se assemelha ao nosso cartaz minimalista referente a este filme.
A seguir trabalharemos na análise dos cartazes em si, sempre fazendo
uma ligação com o filme referente e os cartazes já vistos até aqui, além de ligar
tudo que vermos ao nosso referencial teórico, principalmente em relação à
comunicação e linguagem visual.
3.4. Análise Visual
Os três cartazes analisados são de um mesmo designer, Rowan Stocks Moore.
Formado em Comunicação Visual e Marketing pela Universidade de Leeds,
Inglaterra, se especializou em trabalhos editoriais, fazendo trabalhos para
jornais como The Observer e Huffington Post, jornais de grande circulação na
44
Inglaterra, e tem como trabalho pessoal a criação de cartazes, como os da
Disney, que veremos alguns a seguir, e de outros grandes filmes, como sua
série Oscar 2012.
A nossa primeira análise será referente ao cartaz de Branca de Neve e
os Sete Anões, criado por Moore, e em alguns momentos retornaremos ao
cartaz original e a sinopse para enriquecer a análise.
Figura 17 – Snow White and the Seven Dwarfs, Rowan Stock Moore, 2012. Disponível em: <http://www.etsy.com/listing/97173024/disneys-snow-white-and-the-seven-dwarfs?ref=pr_shop> Acesso em: 12 Out. 2012
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A primeira vista já podemos perceber as diferenças básicas entre este
cartaz e o original, sendo a diminuição de elementos visuais a mais clara.
Enquanto no cartaz original (Figura 14) nós temos todos os personagens
principais inseridos, além de cores bem mais vivas, aqui temos um único
“personagem” inserido nele, a maçã. Um objeto de destaque no filme e na
história, a maçã envenenada é dada a Branca de Neve pela rainha, com a
intenção de tirá-la de seu caminho, nos dando um dos momentos mais
memoráveis do filme e tornando a maça um símbolo facilmente associável a
ele. A maçã centralizada e mordida também nos remete a dois outros
personagens vitais da história, Branca de Neve e o Príncipe Encantado. Os
dois estão presentes no cartaz através de algumas técnicas da Gestalt, vistas
no capítulo anterior. O contraste entre as cores da maçã e do fundo,
associadas a técnicas de harmonia e fechamento, cria as formas das faces
destes dois personagens, frente a frente, com a semente da maçã, que foi
utilizado em formato de coração, demonstrando a ligação entre eles, ligação
esta que cresce após a cena da maçã envenenada e o fato do príncipe ter
salvo Branca de Neve do feitiço.
Ainda no campo da Gestalt podemos perceber seu cuidadoso trabalho
neste cartaz. A pregnância da forma, lei máxima da Gestalt, está presente
neste trabalho através das categorias conceituais já mencionadas, além do
criativo uso de simplicidade, clareza e minimidade. O contraste entre as cores,
entre o claro e escuro, associado com estas categorias, gera uma harmonia
que torna o cartaz agradável aos olhos, tornando-o uma única unidade.
O uso e escolha das cores também é bem específico neste trabalho. O
cartaz original nos traz cores mais vivas, cores que remetem a algo mais
animado e até infantil. Já este cartaz nos traz tons mais neutros, que, em
comparação com o original, denota um tom mais sombrio, relembrando os
momentos mais pesados do filme, podendo até ser mais associado ao conto
original dos irmãos Grimm do que o filme dos estúdios Disney.
O fato de o nome do filme já estar presente no cartaz torna sua leitura
mais fácil, uma vez que você já pode associar o nome, o texto, a imagem
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criada, mas não diminui sua capacidade de significação, pelo contrário, permite
novos caminhos para interpretação, e torna este cartaz um signo altamente
interpretativo.
Podemos concluir que este cartaz carrega então todos os elementos que
caracterizam um cartaz-capa, que, como Melo (2005) apresenta, promove
novas interpretações, releituras, ao invés de simplesmente informar certezas
acerca do filme. O minimalismo13 também é facilmente perceptível neste cartaz,
visto que traz as categorias de Gestalt básicas de trabalhos minimalistas, além
de trazer um teor altamente interpretativo para o espectador, permitindo que
ele se envolva e crie novas interpretações para o cartaz.
A nossa próxima análise é referente ao cartaz de Peter Pan, o segundo
filme que listamos acima, e novamente retornaremos a ele para algumas
comparações.
13
Estudado no capítulo anterior, este movimento artístico e de design tem como características básicas formas simples, equilibradas, abstratas e com uso de poucas cores.
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Figura 18 – Peter Pan, Rowan Stock Moore, 2012. Disponível em: < ttp://www.etsy.com/listing/97173024/disneys-snow-white-and-the-seven-dwarfs?ref=pr_shop> Acesso em: 12 Out. 2012
Este cartaz, assim como o anterior, nos traz uma visão contrastante em
relação ao cartaz original. Enquanto o original (Figura 15) trabalhava as cores
da animação e carregando um tom infantil, este nos traz um aspecto
diferenciado, mostrando as mudanças de tom do filme com o uso de cores e
formas. O uso de Gestalt neste cartaz é parecido com o do anterior, mas com
algumas questões mais singelas e bem trabalhadas. Podemos notar nele
alguns elementos icônicos do filme, como o relógio, objeto odiado pelo vilão
Capitão Gancho, que está centralizado no cartaz, demonstrando sua
importância para a trama. A divisão do cartaz em dois ambientes, além de
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mostrar os dois lados da história, os dois cenários (Londres e Terra do Nunca),
permite um trabalho diferente para cada cenário dentro do cartaz, com tons
diferentes. De um lado temos a Londres, com o famoso relógio de Londres, Big
Bem, centralizado, feito através de técnicas de gestalt como fechamento e
contraste. Vemos nesse lado um tom mais leve, a noite londrina é tranquila ali,
percepção criada através do azul e branco.
Já do outro lado temos a Terra do Nunca, simbolizando um lado mais
forte, mais ativo, do cartaz e do filme. Podemos ver Peter Pan sobrevoando o
navio de Gancho, ambos utilizando a Gestalt a seu favor, tornando a leitura
mais agradável e inovadora, e, no centro, temos o crocodilo, maior inimigo e
trauma de Gancho, formado de forma sutil, assim como foi o Big Ben, e
fechando o desenho do relógio. Nisso podemos perceber como este cartaz é
formado por várias unidades, mas que juntas formam uma única unidade
coesa, equilibrada e harmoniosa, criando uma alta pregnância para este cartaz.
O extenso uso de técnicas de fechamento e contraste, aliado ao uso de
poucas cores e formas simples garante também ao cartaz um alto grau de
simplicidade e minimidade, criando uma característica minimalista que é notada
facilmente. Podemos perceber também, de forma clara, como este cartaz
representa o cartaz-capa que estudamos. Este é um cartaz que não mostra em
momento algum, de forma clara, personagens principais, mas objetos e
momentos, ícones que são notados durante o filme e que se mostram de vital
importância ao final dele.
Nossa última análise é referente ao filme Rei Leão. Antes de mostrar o
cartaz de análise, devemos nos lembrar do cartaz original do filme, que já
carrega uma característica diferenciada em relação aos cartazes comuns, os
cartazes-anúncio, e tem uma relação interessante com nosso cartaz.
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Figura 19 – The Lion King, Rowan Stock Moore, 2012. Disponível em: http://www.etsy.com/listing/97175515/disneys-the-lion-king-
minimalist-poster> Acesso em: 12 Out. 2012
Este cartaz, assim como os outros analisados, apresenta um profundo
uso de Gestalt. Em relação ao cartaz original (Figura 16), podemos notar que
há certa mudança no tom do filme. Enquanto ele nos mostra cores claras,
tranquilas, cores que atingem as crianças de uma maneira melhor, já este
segundo cartaz no mostra um tom levemente mais sombrio, utilizando cores
quentes, criando uma sensação de perigo, e que nos remetem também a
África, onde se passa a história. O uso de poucas cores continua presente,
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trabalhando com fechamento, utilizando contrastes e positivo-negativo para
formar as imagens. E a principal imagem formada e vista aí é a cabeça de um
leão, a cabeça de Simba, personagem principal da trama, que também é
repetido em escala menor à frente de outros animais, criando uma relação de
isolamento e liderança, duas questões presentes no filme e na trajetória deste
personagem. A formação de um cenário dentro do leão também deve ser
notada, afinal o cenário criado, de Simba a frente dos animais, com o sol a
fundo, se funde claramente com a imagem central, do leão rugindo, onde o sol
acaba se tornando o olho do leão.
Mais uma vez podemos notar uma grande pregnância de forma neste
cartaz, com suas unidades se fundindo de forma harmoniosa, e, com o uso de
poucas cores e formas, temos uma grande simplicidade e minimidade
presentes nele, assim formando um completo cartaz minimalista e
caracterizando-o como também um cartaz-capa, visto as várias interpretações
que podem surgir de acordo com o seu conhecimento do filme.
Finalizando as análises podemos perceber claramente alguns
elementos-chave que compõem estes cartazes, podemos notar que todos
trabalham algumas categorias da Gestalt básicas para torná-los minimalistas.
Além das 3 categorias chave para o minimalismo, simplicidade, minimidade e
clareza, vemos como o contraste, o fechamento e a harmonia foram de vital
importância para a criação destes cartazes, característica que deveria ser
usada na criação de qualquer cartaz com a intenção de tornar a mensagem
com o menor ruído possível para o espectador. Deve se notar também que
alguns cartazes apresentam mais elementos que outros, mais unidades, mas
que isso não interfere na compreensão do mesmo, desde que usadas às leis
de Gestalt de uma boa maneira. E, acima de tudo, percebemos como a
interpretação de um trabalho minimalista depende quase inteiramente do
repertório de seu espectador, pois cada signo ali presente representa algo que
pode ou não ser notado pelo seu observador.
51
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desta pesquisa pudemos perceber o quanto o cartaz foi
importante na história do design e da comunicação. O cartaz, desde o século
passado, tem sido um dos maiores meios de comunicação presentes, seja para
divulgar eventos, shows, filmes, festivais, produtos, ou simplesmente para
colecionar, e teve seu alcance aumentado graças a internet, onde o cartaz não
está presente como impresso, mas sim como um formato, uma medida. Salles
(2010) diz que o cartaz está cada vez mais imaterial, e isto se mostra um fato
por tal advento que se tornou a internet, gerando até cartazes diferenciados,
como os novos cartazes em 3D ou animados que têm sido lançados nos
últimos tempos. Deve-se notar, no entanto, que tal mudança não altera a
necessidade do cartaz de comunicar da melhor forma possível. Um bom cartaz
deve se fazer legível ao público pretendido, por isso a linguagem visual é de
extrema importância, seja no uso de elementos adequados ou na disposição
destes elementos, utilizando a Gestalt da melhor forma possível, e, não menos
importante, escolher o lugar, ou a plataforma (online ou impresso) que este
cartaz deve ficar.
Todos os cartazes analisados fazem parte dessa nova definição, são
cartazes criados para ficar na web, com a opção de serem impressos por
algum cliente que os queira. Tal opção, de usar a internet, permitiu que eles
fossem vistos por um número muito maior de pessoas, e chegasse ao público
que possui maior interesse por eles, principalmente pela sua relação com os
filmes. Assim suas interpretações se tornam muito mais complexas e
diversificadas. De uma forma simples, é facilmente perceptível o filme retratado
no cartaz, mas um olhar mais longo nos mostra novas visões dele. Com isso
podemos perceber como o minimalismo não influência negativamente na
compreensão e complexidade do cartaz, pelo contrário, ele pode auxiliar o
criador do cartaz a criar novos signos, novas visões, e o espectador, que tem
algo esteticamente limpo a sua frente, facilitando a sua leitura. E este era um
dos pontos principais que esta pesquisa buscava abordar, o potencial do
minimalismo aplicado ao cartaz.
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A compreensão dos tipos de cartazes também deve ser pontuada. O
cartaz sempre esteve presente na história do cinema, como pôde ser visto no
segundo capítulo desta pesquisa, e a diferença entre os dois tipos de cartazes
que estudamos, o cartaz-anúncio e o cartaz-capa, se mostraram claras após as
análises, e pudemos notar a diferença na mensagem passada. O cartaz-capa,
objeto de análise, se mostra muito mais interpretativo e instigador que o
anúncio, comum nas divulgações de produções cinematográficas hoje em dia.
Assim a linguagem visual se mostra muito mais importante para este, pois deve
ser melhor planejada para não ser basicamente literal, comum.
O objetivo desta pesquisa era explicitar cada uma dessas questões, do
processo de criação do cartaz a seus tipos, em especial com aplicação do
minimalismo, e sua importância é clara ao vermos o excesso de elementos que
temos na comunicação visual atualmente. Em uma época em que os filmes
devem gerar um lucro gigantesco é muito mais fácil e lucrativo usar imagens de
seus atores principais a criar expectativas de forma diferenciada, a usar uma
técnica diferente. E isso diferencia muito os trabalhos em cartazes, torna fácil
notar os cartazes-capa nesse mar de informações, pois eles se sobressaem,
em muito devido à estranheza que causam em contraste com os outros. A
comunicação tem iniciado uma tendência à limpeza de informações nesse
último ano, principalmente na área de branding, embora no cartaz
cinematográfico vejamos alguns trabalhos seguindo a tendência, se tornando
cartazes de destaque nos lugares em que são mostrados. Afinal, deixando
novamente a citação de Ludwig Mies van der Rohe, menos é mais.
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REFERÊNCIAS
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