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Brasília, maio de 2006 Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA REFERÊNCIAS PARA A GESTÃO SOCIAL DOS TERRITÓRIOS RURAIS Guia Para o Controle Social DOCUMENTOS DE APOIO Nº 04

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Brasília, maio de 2006

Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDTMinistério do Desenvolvimento Agrário - MDA

REFERÊNCIAS PARA AGESTÃO SOCIAL DOS

TERRITÓRIOS RURAIS

Guia Para o Controle Social

DOCUMENTOS DE APOIO Nº 04

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASILMINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente da República

Guilherme CasselMinistro de Estado de Desenvolvimento Agrário - Interino

Humberto OliveiraSecretário Nacional de Desenvolvimento Territorial

Coordenação Técnica:Coordenação de Ações Territoriais

ELABORAÇÃO: - Débora da Silva Costa e Jeanne Maria Duarte dos Santos- Instituto deAssessoria ao Desenvolvimento Humano – IADH

COLABORAÇÃO:

Arilson FavarettoBerenice Gomes da SilvaCarlos Douglas OliveiraClaudio Gustavo Lasa

Inês Cabanilha de SouzaMárcio Maia da Castro

Maria Nazaré Cavalcanti da SilvaMaria Regina Teixeira da Rocha

Mônica Correia Domingues de AraújoRafael Pinzon Rueda

Silvana Maria Parente N. GondimMaria Carmela Buonfiglio

Paulo César ArnsRonaldo Camboim GonçalvesRonaldo Gonçalves MartinsRoseli Bueno de Andrade

Tânia Maria de MeloVera Maria Moura Echenique Azevedo

Volmir Frondoloso

SÉRIE DOCUMENTOS DE APOIONÚMERO 04 - 2006

REFERÊNCIAS PARA A GESTÃO SOCIAL DOS TERRITÓRIOS RURAIS- GUIA PARA OCONTROLE SOCIAL

Publicado pela SDT/MDA em maio de 2006Assunto: Gestão Social - Territórios Rurais - Controle Social

Publicado pela SDT/MDA em maio de 2006.Assunto: Gestão Social de Territórios Rurais, Controle Social.

SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO.................................................................................................................... 5

1. O QUE É CONTROLE SOCIAL ..................................................................... 61.1 Contextualizando o Processo ........................................................................... 61.2 Controle Social no Brasil .................................................................................. 81.2.1 Trajetória Histórica do Controle Social no Brasil ........................................................ 91.2.2 Instrumentos Legais de Controle Social no Brasil ..................................................... 111.2.3 As Organizações da Sociedade e o Controle .............................................................. 17

2. ELEMENTOS IMPORTANTES PARA O CONTROLE SOCIAL ............... 192.1 Reconstrução do Valor Ético ........................................................................... 192.2 Criação de Mecanismos e Instrumentos de Controle Social .........................202.3 Criação de Mecanismos de Comunicação e Acesso à Informação ...............202.4 Inserção de Valores da Participação e Cidadania na Formação Escolar ......22

3. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO : alguns conceitos importantes ........243.1 O que é Monitoramento ..................................................................................243.2 O que é Avaliação ............................................................................................263.3 O que são Resultados e Impactos...................................................................283.4 O que são Indicadores ....................................................................................28

4. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO PARTICIPATIVOS ..........................324.1 A Concepção do Monitoramento e Avaliação Participativa ...........................334.2 Níveis de Participação em Monitoramento e Avaliação ................................354.3 Decisões Importantes no Início do Monitoramento e Avaliação Participativa...364.4 Passos para a Construção de Estratégias de Monitoramento e AvaliaçãoParticipativos do Desenvolvimento Territorial .....................................................38

5 . O MONITORAMENTO E A AVALIAÇÃO NO PROCESSO DEDESENVOLVIMENTO TERRITORIAL ..........................................................455.1 A Importância do Monitoramento e Avaliação no Processo deDesenvolvimento Territorial .................................................................................455.2 As Escalas do Monitoramento no Desenvolvimento Territorial ....................465.3 Metodologia PIM - Monitoramento e Avaliação de Impacto - aplicado aodesenvovimeto territorial ......................................................................................475.4 Execício para o desenho de uma proposta de monitoramento de avaliação ... 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA ...................................54

ANEXO: ALGUMAS METODOLOGIAS DE MONITORAMENTO EAVALIAÇÃO PARTICIPATIVOS....................................................................................... 56

4Ministério do

Desenvolvimento Agrário

APRESENTAÇÃO

Além da participação e formulação daspolíticas públicas, um dos maiores desafiosda sociedade civil atualmente é o controlesocial.

Embora a discussão sobre controle soci-al das diversas políticas públicas dos gover-nos Federal, Estadual e Municipal seja algomuito amplo e que pode ser aprofundado,neste Guia Pedagógico serão apresentadosapenas alguns instrumentos legais de con-trole social, focando a discussão no acessoà informação e no monitoramento e avalia-ção participativa como ferramentas do con-trole social do desenvolvimento territorialrural sustentável.

Serão apresentadas ainda, algumas refle-xões sobre controle social e sua importân-cia para o processo de desenvolvimento ter-ritorial, com o objetivo de apoiar o proces-so de capacitação dos atores sociais nosterritórios rurais, núcleos técnicos e diri-gentes das instâncias territoriais para aGestão Social do desenvolvimento territo-rial sustentável no âmbito da política da Se-cretaria de Desenvolvimento Territorial –SDT do Ministério de DesenvolvimentoAgrário - MDA.

Também serão apresentadas algumas me-todologias de Monitoramento e Avaliação,como exemplos das diversas estratégias exis-

tentes nas experiências brasileiras e interna-cionais.

Este documento é parte integrante dossubsídios metodológicos que integram cur-sos de capacitação em gestão social volta-dos para os dos membros dos colegiadosterritoriais e/ou comissões de instalação dasações territoriais, em especial os núcleos téc-nico e dirigente dessas instâncias.

As reflexões e debates vivenciados noprocesso de Formação de Agentes de De-senvolvimento fomentado pela Secretaria deDesenvolvimento Territorial trazem novoselementos para dinâmica territorial.

Assim espera-se que este Guia de Apoioao Controle Social somado aos demais do-cumentos de apoio - Guia de Apoio ao Pla-nejamento e o Guia de Apoio a Organiza-ção Social - além do Atlas dos TerritóriosRurais e o Documento Institucional Refe-rências para Gestão Social dos TerritóriosRurais - tenham expressado parte das refle-xões e contribuições apresentadas pelos ato-res sociais dos territórios rurais, tendo emvista que trata-se de uma sistematização dasexperiências vivenciadas em nossa socieda-de. Sua elaboração contou com consultori-as externas e a colaboração da equipe técni-ca da SDT e consultores(as) da Rede Na-cional de Colaboradores.

6Ministério do

Desenvolvimento Agrário

1.1 Contextualizando o Processo

Para iniciar esta reflexão sobre controlesocial, é bom relembrar o ciclo da GestãoSocial do Desenvolvimento Territorial.

Nos Guias anteriores, o ciclo da gestãosocial é apresentado em quatro macroproces-sos considerados fundamentais quando sepretende garantir a sustentabilidade de umprocesso de desenvolvimento social:

O Guia 01 apresenta o macroproces-so do planejamento para o desenvol-vimento territorial.

O Guia 02 trata do macroprocesso daorganização das forças socioinstitu-cionais em torno da visão de futuro eobjetivos definidos no planejamentopara o desenvolvimento do território,dando suporte ao macroprocesso dasua direção/coordenação.

Este terceiro Guia está focado noquarto macroprocesso deste ciclo queé o controle social, podendo ser as-sim representado:

1. O QUE É CONTROLE SOCIAL

O controle social se consolida a partirde duas bases:

uma dimensão subjetiva dos com-portamentos, cultura, crenças, valorese atitudes dos atores sociais;

uma dimensão objetiva e políticaque se expressa em mecanismos for-mais, informais e instrumentos ne-cessários para que os atores sociais atu-em nos processos de gestão social daspolíticas públicas de modo organizado.

A base primordial do controle social estána ação de grupos da sociedade que, esta-belecendo normas de conduta social e com-portamentos que apóiem a ação da socieda-de, acompanham a dinâmica de ações quergovernamentais e não-governamentais, vi-sando ao alcance de objetivos coletivos.

Nesse sentido, elementos culturais e com-portamentais importantes - expressos navontade e capacidade de os atores locais seorganizarem para lutar por uma causa co-mum que se reflita na qualidade de vida deuma coletividade - assumem um papel dedestaque. Esta é uma aprendizagem socialque se dá pela atuação nos diversos canaisde participação democrática dos cidadãos ecidadãs, garantindo que, ao longo do tempo,mudanças aconteçam na cultura e nos com-portamentos sociais para reforçar elemen-tos da base subjetiva necessários ao fortale-cimento do controle social.

7Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Assim, para efetivar-se, a ação do con-trole social necessita de bases compor-tamentais por parte dos atores sociais ede normas, instrumentos para a partici-pação da sociedade em todo o ciclo devida das diversas políticas públicas im-portantes para o desenvolvimento ruralsustentável, desde a sua formulação eimplementação até a fase de monitora-mento e avaliação.

No desenvolvimento territorial rural sus-tentável, o controle social é o macropro-cesso através do qual a sociedade local in-terage com os rumos de ações/projetospactuados, expressos no Plano Territorialde Desenvolvimento Rural Sustentável –PTDRS, participando proativamente detodo o processo da gestão social desse de-senvolvimento desde seu planejamento,quando é definida a visão de futuro quedeve expressar o estado desejado pelo ter-ritório, evoluindo para os momentos dearticulação de políticas públicas e constru-ções de arranjos institucionais.

O objetivo é primar pelos interessesdo coletivo, preocupando-se na fase desua execução com o alcance dos objeti-vos estabelecidos, com as metas defini-das e com a fiscalização na aplicação dosrecursos financeiros e mais que isso, in-fluenciando diretamente nas eventuaisredefinições que vão acontecendo ao lon-go da execução das ações. Isso envolve acirculação plena de informações e umsistema de monitoramento e avaliação

ágil, eficiente e acessível aos diferentessegmentos da população.

O conjunto de políticas públicas que, in-tegrado, pode apoiar a melhoria da quali-dade de vida das populações rurais que pre-cisam ser articuladas e canalizadas para oprojeto coletivo da sociedade em busca damelhoria de qualidade de vida, assume im-portância para a discussão do controle so-cial, tais como: políticas de geração de tra-balho e renda, de educação, de saúde, deapoio às comunidades quilombolas e indí-genas, de meio ambiente, de apoio aos jo-vens, entre outras.

A noção de controle social também implicaque os órgãos executores e os próprios agentessociais possam aprender com seus próprioserros e acertos em um processo de ação/reflexão e reflexão/decisão. Tais órgãos vãose aperfeiçoando a cada ciclo repetido. Esseaprendizado é tanto mais rico quanto maisintegrado aos processos em questão ondeestiverem esses agentes.

O Controle é o elemento do processoda gestão social do desenvolvimento quepossibilita ao conjunto dos atores sociais oacesso às informações sobre as ações e pro-jetos em implementação no território a tem-po de analisarem se as ações estão aconte-cendo como foi planejado e pactuado, se asações estão de fato contribuindo e gerandoos resultados desejados e, se não estiverem,decidirem que medidas devem ser tomadaspara retornar ao rumo desejado.

8Ministério do

Desenvolvimento Agrário

O Controle Social tem como instrumentos:

O Monitoramento

A Avaliação

Como no caso dos macroprocessos ouetapas anteriores, também no caso dosmecanismos de controle social, é precisoentender que eles ocorrem de maneira acombinar espaços formais – os colegiados, ascomissões de avaliação etc – com momentosde relações informais como o simples diálogoe o estreitamento de contatos entreorganizações locais.

Isso requer maior circulação de informa-ções, troca de impressões e estabelecimentode situações que implicam maior apropriaçãoe atuação das instâncias colegiadas ou arran-jos institucionais articulados em torno do de-senvolvimento territorial.

É preciso, pois, valorizar formas de forta-lecimento dos laços sociais sem, no entanto,deixar de lado a necessária sistematização eformalização de procedimentos de monitora-mento e avaliação. É do bom equilíbrio entreprocessos não institucionalizados e processosformalmente estabelecidos que depende a boaavaliação das ações em curso e, mais que isso,os usos sociais que as coletividades dos terri-tórios podem fazer dos elementos trazidoscom essa avaliação.

Assim, no processo de gestão social dodesenvolvimento rural sustentável, os ato-res devem estar organizados para exercero controle social e construir um ambiente

favorável para que o PTDRS seja, siste-maticamente, acompanhado e avaliado, ga-rantindo que os projetos e as ações plane-jadas para a transformação da realidadeaconteçam como desejado e planejado pe-los atores.

O controle social requer uma sociedadeorganizada, consciente de seus direitos, comcondições de contribuir com suas idéias, fisca-lizar e cobrar resultados. Acesso à informa-ção, à educação, ao incentivo à cultura da par-ticipação e cidadania ativas, ao conhecimentode instrumentos e às formas de monitoramen-to e avaliação são fatores importantes para ocontrole social e serão temas de discussão emcapítulos que seguem neste Guia.

1.2 Controle social no Brasil

Para que a sociedade exercite o controlesocial, existem no Brasil vários instrumentoslegais que são importantes, à medida que ga-rantem formas de participação cidadã na ges-tão social das políticas públicas. São instrumen-tos que podem contribuir na consolidação deuma cultura de participação da sociedade nagestão de recursos locais quer humanos, polí-ticos, ambientais, culturais, organizacionais,quer financeiros e institucionais que podemser canalizados para a dinamização do proces-so de desenvolvimento.

Mesmo com isso, ainda é pouca a inserçãodos cidadãos e cidadãs nestes espaços; sejapelo desconhecimento da importância deles,seja por não saber como atuar ou por teremmedo de exercer sua cidadania pelo receio dasrepressões dos seus atos.

9Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Ainda assim, a transparência nas ações dogoverno na sua tarefa de articular compro-missos e alianças para desenvolver projetospolíticos que representem os interesses deuma sociedade, que busca a vivência da de-mocracia, passa a ser exigência dos cidadãose cidadãs brasileiros. O Estado passa a serquestionado diante da necessidade de mu-danças para responder às demandas da so-ciedade que evoluiu e, com ela, às suas ex-pectativas. A reforma do Estado é colocadacomo uma necessidade e com essa reformaa utilização de novas formas de responsabi-lidade dos agentes públicos através do con-trole dos resultados, do combate à corrup-ção e das políticas públicas.

Estes espaços e instrumentos de contro-le social precisam encontrar na sociedade,sua necessária valorização e utilização paraconsolidação da esfera pública democráticaque tem sido conquistada pelas lutas popu-lares ao longo da nossa história.

Apresentar-se-á um pouco dessa históriae entender porque o controle social é umaconquista que deve ser valorizada e devida-mente utilizada pelos atores sociais.

1.2.1 Trajetória histórica do controlesocial no Brasil

No Brasil, desde a sua colonização, aconte-ceram várias reformas administrativas e movi-mentos da sociedade na busca por formas decontrole social. Em 1680, criaram-se as Juntasdas Fazendas e Capitanias do Rio de Janeiroque tinham sua jurisdição em Portugal. Nessaépoca, a Coroa Portuguesa dominava todas as

ações do Estado. O Brasil vivia o regime da mo-narquia e o controle social não existia.

Com a Proclamação da Independênciaem 1822, inicia-se um período em que oEstado assume o poder absoluto e a admi-nistração é autocentrada. Esse regime per-dura até 1930, e, nesse período, a sociedadenão teve a menor possibilidade de interferirna gestão dos recursos públicos. Os cargospúblicos eram assumidos pelas pessoas le-tradas e eram passados de pai para filho,conferindo à administração pública um ca-ráter patrimonialista. O Estado como umpatrimônio de grupos e famílias dominan-tes na sociedade.

A partir de 1945, a Nação entra em pro-cesso de industrialização e o Estado atuaneste setor de forma intervencionista am-pliando suas funções econômicas. Surge anecessidade de introduzir um modelo de ad-ministração que utiliza instrumentos geren-ciais, com princípios da iniciativa privada,como forma de garantir maior eficiência noatendimento do interesse público. É o mo-delo da Administração Pública Gerencial.

Em relação à organização dostrabalhadores(as) rurais e tendo que pressi-onar o Estado para o estabelecimento de po-líticas públicas que lhes possibilitassem oacesso aos meios de produção, organiza-se,no período de 1955 a 1964, no Estado daParaíba, o primeiro movimento de luta pelaterra no Brasil chamado Ligas Camponesas,que se expande para outros Estados, princi-palmente, da região Nordeste. Esse movi-mento surgiu a partir de associações de tra-

10Ministério do

Desenvolvimento Agrário

balhadores rurais criadas com fins assisten-ciais, que evolui para lutas por políticas pú-blicas que possibilitassem a reforma agráriae o estabelecimento, com dignidade, doshomens e mulheres do campo.

Em 1964, com o golpe militar, o movi-mento foi desagregado e as organizações eli-minadas. Suas reivindicações básicas foramincorporadas por algumas poucas entidadesdo movimento sindical de trabalhadores(as)rurais no período seguinte.

Ainda na década de 60, a sociedade bra-sileira inicia um processo de mobilizaçãosocial para conseguir reformas no modo degovernar o País. Busca-se um modelo deEstado que valorize a participação da socie-dade na gestão das políticas públicas atra-vés do modelo de Estado societal.1

De 1964 a 1985 o País mergulha em umperíodo nebuloso, marcado pelo regime dita-torial, com o golpe de Estado dado pelos mi-litares que assumem o governo brasileiro.Qualquer manifestação da sociedade civil con-tra o regime de governo era coibida e a repres-são política passa a ser palavra de ordem.

O golpe de Estado de 1964 interrompeessas mobilizações até a década de 70 quan-do o processo de mobilização da sociedadecontra a ditadura e a redemocratização doPaís é retomado. A igreja católica passa apromover um processo de discussão de pro-blemas coletivos junto às Comunidades Ecle-siais de Base (CEBs), a partir da Teologia daLibertação e dos princípios da educação po-pular. Sindicatos, movimentos sociais, orga-

nizações não-governamentais e partidos po-líticos de esquerda e centro-esquerda conso-lidam-se como instrumentos de busca da so-ciedade pelo controle social. No mundo in-teiro, intensifica-se o movimento da socieda-de que visava pressionar empresas, organiza-ções governamentais e também sem fins lu-crativos para que fossem mais eficientes eeficazes em suas ações garantindo resultadosduradouros na sua atuação.

Na década de 80, muitas dessas organi-zações da sociedade passam a ser denomi-nadas Organizações Não –Governamentais– ONGs – tornando-se importantes instru-mentos de controle social no Brasil. Atoressociais se organizam em espaços represen-tativos de interesses coletivos, ampliando aspossibilidades de um controle social maiseficiente, mediante a participação cidadã nacondução da vida política do País e questio-namentos ao Estado enquanto protagonis-ta da gestão pública.

Muitos movimentos da sociedade seestruturam de forma a interagirem junto a estagestão pública e, nos meados da década de 80,inicia-se o processo de formulação da novaConstituição da República Federativa do Bra-sil, promulgada em 1988. Essa Constituiçãoconsolida e estrutura o novo sistema de con-trole da administração pública e em diversosde seus artigos assegura o direito ao exercíciodo poder por parte dos cidadãos e cidadãs.

Nesse processo de democratização dasociedade, também foram sendo construí-dos diversos canais de participação, comofóruns temáticos, iniciativas de orçamento

11Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

participativo, conselhos gestores de políti-cas públicas que, como foi visto no Guiade Organização Social, têm um papel im-portante no processo de organização da so-ciedade para a gestão social.

Em 1986, é criada a Secretaria do TesouroNacional por meio do Decreto 92.452 e todoo sistema de administração é reestruturado doponto de vista financeiro e contábil, estabele-cendo-se assim um Sistema de Controle deacordo com o Decreto-Lei número 200/67.

Vários outros instrumentos foram esta-belecidos para promover a participação efe-tiva dos cidadãos e cidadãs brasileiros nasdecisões e ações públicas. No entanto, pou-cas pessoas conhecem as ferramentas queestão disponíveis para que a sociedade con-cretize o controle social.

A seguir serão apresentados os instru-mentos legais e de construção autônoma dasociedade para o exercício do controle social.

1.2.2 - Instrumentos Legais de ControleSocial no Brasil

A Constituição Federal

“Nós, representantes do povo brasileiro, reuni-dos em Assembléia Nacional Constituinte para ins-tituir um Estado Democrático, destinado a asseguraro exercício dos direitos individuais, a liberdade, a se-gurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdadee a justiça como valores supremos de uma sociedadefraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada naharmonia social e comprometida, na ordem interna einternacional, com a solução pacífica das controvérsi-

as, promulgamos sob a proteção de Deus a seguinteConstituição da República Federativa do Brasil.(...)”

Nesse preâmbulo da Carta Magna donosso País - a Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil - promulgada em 5 deoutubro de 1988, a instituição de um Esta-do Democrático aparece como o principalobjetivo a ser alcançado. Essa Constituiçãoficou popularmente conhecida como a“Constituição Cidadã”, pois foi assim apre-sentada e a questão da cidadania é tocadaem vários artigos, colocando-a em evidên-cia diante do Estado. O controle social depolíticas públicas aparece em vários artigosque, a partir de alguns dispositivos, têmcomo objetivo tornar os cidadãos e cidadãsparticipantes atentos desse processo.

Existem instrumentos legais para o con-trole social, respaldados na Constituição doBrasil e outras leis que podem ser utilizadosno dia-a-dia do cidadão e da cidadã.

A palavra cidadão vem dos romanos, de“civitas”, originado da palavra civis (conglo-merado de pessoas). O cidadão ou cidadã éaquele(a) que vive em uma comunidade, pos-sui direito construído e conquistado, bemcomo deveres. O exercício do controle so-cial, respaldado legalmente pressupõe a for-mação de cidadãos(as) capazes de exercer oseu poder definido na Constituição que diz:“Todo poder emana do povo, que o exerce por meiode representantes eleitos indiretamente ou diretamen-te, nos termos desta Constituição”. Conhecer ostermos da nossa Constituição é importantepara o exercício da cidadania na construçãoda democracia em nosso País.

12Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Vale a pena conhecer a lei máxima querege a nosso País! Aproveite e observe anossa Constituição. Você pode baixá-la naíntegra no sítio do Tribunal de Contas daUnião - TCU ou adquiri-la nas livrarias.

O endereço do Portal do TCU na in-ternet é o seguinte: http//: www.tcu.gov.br

Nesta página você deverá procurar olink BIBLIOTECA e dentro dele a op-ção ACERVO e em seguida DOCU-MENTOS ELETRÔNICOS. Lá estarádisponível o documento da Constituiçãoda República Federativa do Brasil parabaixar o arquivo (download).

As Constituições Estaduais, Leis Or-gânicas Municipais e Regimentos Inter-nos das Câmaras Municipais

As Constituições Estaduais foram pro-mulgadas depois da Constituição Federal. CadaEstado então possui a sua Constituição queinclui artigos legitimadores da participação ci-dadã na gestão social.

A Constituição dos Municípios é chamadade Lei Orgânica - que certamente defende agestão social - e cada um tem a sua Lei pró-pria, observando os princípios da Constitui-ção Federal e da Constituição de seu Estado.

§ Instrumentos legais de participa-ção popular

Os instrumentos de monitoramento legalpara a participação popular são classificados emparlamentares, administrativos e judiciais.

Os instrumentos parlamentares sãoutilizados na Câmara de Deputados, nasAssembléias Legislativas Estaduais enas Câmaras de Vereadores que represen-tam o poder legislativo nos municípios.

Os(as) cidadãos(as) podem utilizar os se-guintes instrumentos parlamentares:

acompanhamento das sessões da câ-mara de vereadores;

petição à mesa da Câmara Municipalde Vereadores;

uso da Tribuna Livre;

opinião sobre projetos;

assessoria e Apoio técnico aos verea-dores;convocação de sessões especiais sobretemas específicos;

convocação de audiências públicas;

convocação de administradores paraprestar depoimento;

denúncia de infração político- admi-nistrativa;

defesa de projeto de iniciativa popu-lar.

DICA:

13Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Os instrumentos administrativos sãoaqueles dirigidos pelos cidadãos(as) à admi-nistração pública municipal para ter acessoa informações e a documentos que regis-tram decisões, atos e denúncias de irregula-ridades cometidas pelo/a prefeito/a ou fun-cionário/as da prefeitura.

Os cidadãos e cidadãs podem utilizar osseguintes instrumentos administrativos:

pedido de informações em particularou coletivo;

petição a qualquer órgão em defesa de di-reitos contra ilegalidade e abuso de poder;

obtenção de certidões de atos e decontratos;

fiscalização de contas do orçamentomunicipal;

acompanhamento do processo de licitação;

impugnação de edital de licitação;

fiscalização anual das contas municipais;

exame de licitações;

pedido de intervenção no município;

denúncia ao Tribunal de Contas;

participação no planejamento municipal.

Os instrumentos judiciais são uti-lizados para obter uma decisão do judi-

ciário ou uma ação do Ministério Públi-co.

Os cidadãos e cidadãs podem utilizar osseguintes instrumentos:

Ação PopularMandato de Segurança Coletivo

Ação Civil Pública

Representação junto ao MinistérioPúblico

Mandato de Injunção

Representação para ação de crime deresponsabilidade

Embora existam muitos instrumentoslegais de controle social em nível munici-pal, a maior parte das pessoas os desco-nhece, ou não se encontram em condiçõesde acessá-los. Tratar-se-á um pouco sobrecada um desses instrumentos descritosnesse tópico.

Os instrumentos parlamentares

a) Acompanhamento das sessões daCâmara de Vereadores e da Assembléia

Os cidadãos e cidadãs podem realizar ocontrole social participando das sessões daCâmara que são públicas. As sessões têmsempre uma pauta de assuntos que deverãoser debatidos e votados e todo cidadão oucidadã tem o direito de ter acesso a essa pau-ta antes do início da sessão.

14Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Acompanhando as sessões da Câmarade Vereadores o cidadão ou cidadã poderásaber como os(as) vereadores(as) se posi-cionam diante dos assuntos públicos epoderá exercer maior pressão sobre osvereadores(as) eleitos(as) como represen-tantes para discutir e aprovar as reivindi-cações da comunidade.

b) Petição de informações ao CongressoNacional e aos órgãos públicos

Os cidadão(ãs) além de utilizarem osinstrumentos parlamentares, em nível mu-nicipal, podem também fazer a petição deinformações à Assembléia Legislativa Es-tadual e ao Congresso Nacional atravésde suas comissões. Esta última está pre-vista no Artigo 58, § 2o. - IV da Consti-tuição Federal. Também no Artigo 5º-XXII e XXIV da Constituição estão ga-rantidos: o direito de todo cidadão a re-ceber de órgãos públicos informações doseu interesse particular, ou de interessecoletivo - salvo se estas informações se-jam de sigilo imprescindível à segurançado Estado e da sociedade; o direito depetição aos poderes públicos em defesade direitos ou contra a ilegalidade ou abu-so de poder.

c) Uso da Tribuna Livre

Esse instrumento deve estar regulamen-tado na Lei Orgânica do Município ou noRegimento Interno da Câmara de Vereado-res e deve ser utilizado para a denúncia deproblemas ou discussão de um tema a servotado na Câmara de Vereadores.

d) Opinião sobre projetos

De acordo com a Lei Orgânica Munici-pal e Regimento Interno da Câmara de Verea-dores, todo(a) cidadão(ã) e entidades sociais po-dem se inscrever para dar opinião sobre proje-tos que estão em discussão nesse espaço par-lamentar.

e) Assessoria e apoio técnico avereadores(as)

Serve para contestar projetos prejudiciais àpopulação e pode ser utilizado paraapresentação de defesa de Projetos e Leis.

f) Convocação de sessões especiais sobretemas específicos

Esse instrumento pode ser solicitado porqualquer cidadão ou cidadã à mesa diretora daCâmara e para a sua realização podem ser con-vidados especialistas para debater o assunto.Temas com meio ambiente, educação do cam-po, políticas para a juventude, desenvolvimen-to sustentável, entre outros, podem ser debati-dos em sessões especiais apoiando o processode qualificação na discussão de projetos e leis.

g) Convocação de Audiências Públicas

Uma audiência pública é um instrumentode consulta à sociedade para que esta possadar sua opinião e expressar sua decisão sobrecomo aplicar recursos públicos a partir de pri-oridades. Deve ser solicitada junto aos presi-dentes das comissões da Câmara e dela devemparticipar entidades da sociedade civil. Esseinstrumento também se refere ao Congresso

15Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Nacional de acordo com o Artigo 58º, i§ 2º- II da Constituição Federal.

h) Orçamento Participativo

O poder de decisão sobre os recursos mu-nicipais fica compartilhado entre os poderesexecutivo, legislativo e a população. A popula-ção debate e delibera, através de assembléiasas prioridades de investimento, cabendo aoexecutivo informar os limites orçamentários.Essa proposta de participação rompe com atradição de que apenas os governantes têm acapacidade ou conhecimento para decidir so-bre os rumos do orçamento público. A expe-riência brasileira com orçamento participativosurgiu na década de 80 em Lajes (SC), a maisconhecida é a de Porto Alegre, iniciada em1989, que serviu de modelo para muitas ou-tras cidades no Brasil e é referência para ou-tros países, sendo debatida e recomendada porinstituições estrangeiras como o Banco Mun-dial e as Nações Unidas. No Nordeste desta-camos a experiência, neste sentido, do muni-cípio de Icapuí, no Estado do Ceará.

i) Convocação de administradores(as)para depoimentos

Esse instrumento pode ser utilizado atra-vés de articulação dos cidadãos e cidadãscom os vereadores e vereadoras membrosdas comissões existentes nas Câmaras deVereadores. Seu uso, no âmbito federal, estáassegurado na Constituição Federal atravésdo Artigo 58, § IV.

j) Denúncia de infração político-adminis-trativa

Essa denúncia pode ser feita porqualquer cidadão(ã) ao plenário da Câ-mara com o objetivo de cassação demandato do prefeito, vice-prefeito ouvereadores(as). Está fundamentada noDecreto Lei 201/67.

k) Iniciativa de projeto de lei

A comunidade pode apresentar para vo-tação na Câmara de Vereadores projetos deLei de seu interesse. Os projetos de lei paraserem votados na Câmara necessitam daassinatura de 5% dos(as) eleitores(as) domunicípio e a mesa da Câmara tem a obri-gação de receber e encaminhar para vota-ção os projetos de lei de iniciativa da co-munidade. Esse dispositivo está garantidono Artigo 29 - XIII da Constituição Fe-deral.

Os instrumentos administrativos

a) Pedido de informações de interesseparticular ou coletivo

As prestações de contas no municípiodevem ocorrer no prazo determinado na Lei

Orgânica do Município. A não presta-ção de contas no prazo legal é crime deresponsabilidade e pode ser denunciadaao(a) promotor(a). O crime de responsa-bilidade pode resultar na perda de man-dato. De acordo com o Artigo 5o – XX-XIII da Constituição Federal, todos têmo direito de receber, dos órgãos públicos,informações de seu interesse particular oucoletivo.

16Ministério do

Desenvolvimento Agrário

b) Petição a qualquer órgão em defesados direitos contra a legalidade ouabuso de poder

Todo cidadão ou cidadã pode encami-nhar, aos poderes públicos, documento depetição requerendo a defesa de direitos ga-rantidos pela lei e violados; contra a ilegali-dade ou abuso de poder de acordo comArtigo 5o.- XXXIV, alínea “a” da Consti-tuição Federal.

c) Obtenção de certidões de atos e contratos

Todo cidadão ou cidadã pode reque-rer, junto aos poderes públicos, certidõesde atos e contratos para a defesa dos seusdireitos e o não-fornecimento das certi-dões é considerado crime de responsa-bilidade de acordo com o Decreto Lei201/67.

d) Acompanhamento do processo de li-citação

Todo cidadão ou cidadã tem o direito ater informações e acompanhar processos delicitação para contratação de obras, servi-ços, compras públicas de acordo com a Lei8.666 de 21/06/1993.

e) Impugnação de edital de licitação

Todo cidadão ou cidadã tem o direitode solicitar a impugnação de edital de lici-tação, desde que, no prazo de cinco diasantes da abertura dos envelopes de habili-tação de acordo com a Lei 8.666 de 21/06/1993.

f) Denúncia ao Tribunal de Contas

Qualquer cidadão ou cidadã, partido polí-tico, associação ou sindicato pode denunciarirregularidades ou ilegalidades perante o Tri-bunal de Contas da União com base no Arti-go 74, § 2o da Constituição Federal.

g) Participação no planejamento municipal

No Artigo 29º- XII está garantida acooperação por meio de associações re-presentativas no planejamento municipal.

Os instrumentos Judiciais

a) Ação Popular

No Artigo 5º - LXXIII da Constitui-ção Federal está garantida a proposição deação popular para anulação de qualquer atolesivo ao patrimônio público, à moralidadeadministrativa, ao meio ambiente, ao patrimô-nio histórico e cultural e a qualquer enti-dade que o Estado participe.

b) Mandato de Segurança Coletivo

Assegurado no Artigo 5o, LXX da Cons-tituição Federal pode ser utilizado por parti-do político, sindicatos e associações com maisde um ano de funcionamento, para defesa dodireito coletivo de seus membros ou associa-dos, desrespeitados ou ameaçados por ato deautoridade.

c) Ação Civil Pública

Assegurada no Artigo 129-III da Cons-tituição Federal e regulamentado pela Lei

17Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública.Serve para impedir danos ao meio ambiente,ao consumidor, proteger bens de direito e va-lor artístico, estético, histórico, paisagístico eoutros interesses difusos e coletivos. Essa açãopode ser encaminhada pelo(a) Promotor(a).

d) Mandado de Injunção

Assegurado no Artigo 5o LXXI da Cons-tituição Federal e tem por objetivo protegerdireitos do cidadão e cidadã garantidos naConstituição Federal. Esse Mandado deveser acionado sempre que o poder executivoou legislativo deixar de criar leis, regulamen-tando direitos assegurados na ConstituiçãoFederal.

e) Representação para ação de crime deresponsabilidade

Esse dispositivo deve ser acionado sem-pre que houver a necessidade de qualquercidadão(a) fazer denúncia sobre crime de res-ponsabilidade.

Os crimes de Responsabilidade estãodefinidos na Lei 201/67, Artigo 1o e, entreoutros, são classificados como atos de des-vio de bens públicos ou utilização indevida;falta de prestação de contas nos prazos de-terminados em Lei; aquisição de bens comrecursos públicos sem Licitação, entre outros.

Como você vê, há vários instrumentoslegais de participação e controle social quepodem ser utilizados pelos cidadãos e cida-dãs para garantia dos seus direitos e da qua-lidade de vida.

É preciso que essas informações sejamdisponibilizadas e debatidas com o maior nú-mero possível de pessoas para qualificar o e

xercício da plena democracia.

QUESTÕES PARA REFLEXÃOE DEBATE:

E no seu território:

§ As pessoas conhecem e sabem a importânciados instrumentos legais de Controle Social? Conhe-cem a nossa Constituição Federal?

§ E no seu território, os cidadãos conhecem eutilizam os mecanismos legais de participação e con-trole social?

§ Como construir, no seu território, a práticasocial de utilização dos instrumentos legais de parti-cipação para o controle social?

§ Quais as limitações e desafios para a utiliza-ção desses instrumentos e como superá-las?

1.2.3 - As organizações da sociedadee o controle social no Brasil

Muitas das conquistas da sociedade bra-sileira no controle social foram frutos daação organizada de atores sociais compro-metidos com o processo de democratizaçãodo nosso País.

Muitas organizações sociais em suasmissões e objetivos específicos, perantea sociedade e perante os membros queas compõem, exercem papel importanteno controle social das políticas públicas.

18Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Essas organizações não são constituídas,especificamente, para exercerem o con-trole social, mas são atores importantesna construção da cultura da participaçãocidadã na gestão social das políticas pú-blicas e no processo de desenvolvimen-to territorial.

As Organizações Não-Governamentais,os Sindicatos de Trabalhadores Rurais, osConselhos de Políticas Públicas, os Conse-lhos de Desenvolvimento Rural Sustentá-vel, Fóruns de Desenvolvimento Munici-pal, Redes Temáticas e as Instâncias Cole-giadas para o Desenvolvimento Rural Sus-tentável são espaços importantes para oexercício do controle social das diversaspolíticas que contribuem para o desenvol-vimento de um determinado território e,por conseguinte, do País.

No âmbito do Desenvolvimento Ter-ritorial Rural Sustentável, essas organi-zações podem, através do Monitoramen-to e Avaliação Participativos das diver-sas ações e projetos incluídos no PlanoTerritorial de Desenvolvimento RuralSustentável - PTDRS, construir um pro-cesso de aprendizagem social que con-tribua com a dimensão da sustentabili-dade.

Através da ação articulada e negocia-da, em torno de arranjos institucionais es-pecíficos para a gestão de projetos e noacompanhamento do próprio PTDRS, osatores locais podem, por meio do Moni-toramento e Avaliação Participativos, con-seguirem maior eficiência no uso dos re-cursos locais disponíveis para o desenvol-vimento territorial.

Além disso, através do controle socialexercido pelos Conselhos de Políticas Pú-blicas, pode-se buscar uma gestão mais efi-ciente dos recursos públicos por parte dosgestores locais, contribuindo para a melho-ria de indicadores de educação, saúde e ren-da, entre outros.

Organizações fortalecidas no territóriocom clareza sobre seus objetivos, seus re-sultados, sua contribuição para o desenvol-vimento territorial e com informações quepropiciem sua participação no controle so-cial representam um fator importante parao sucesso do projeto coletivo de desenvol-vimento e a construção de uma cultura maiscooperativa, de confiança no futuro e de la-ços de solidariedade capazes de promoverum processo de superação de situações depobreza junto às comunidades dos territó-rios rurais.

19Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Há condições consideradas fundamen-tais para que os cidadãos e cidadãs pos-sam avaliar os serviços e ações ofereci-dos pelo Estado a partir de suas políti-cas públicas:

Reconstrução do valor ético - compo-nente intrínseco em torno daquilo que é pú-blico.

Criação de Mecanismos e instrumen-tos de controle social - utilização pela soci-edade de formas de participação e acom-panhamento das ações do Estado.

Criação de mecanismos e instru-mentos de comunicação e acesso às in-formações.

Inserção dos valores da participação so-cial e da cidadania na formação escolar.

Seguindo essa ordem, vamos, neste ca-pítulo, abordar-se-á um pouco cada um des-ses elementos.

2.1 Reconstrução do valor ético - com-ponente intrínseco em torno daquilo queé público.

Para que as pessoas se mobilizem emtorno do exercício do controle social daspolíticas públicas, é necessário existir, nes-sas pessoas, o sentimento de “apropria-ção coletiva” do bem público. Sentirem-

se “donos coletivos” do bem público. Essaé a idéia. E isto quer dizer: sentimento dequerer saber sobre o que o Estado estáfazendo, como está fazendo, para quemestá fazendo, a fim de poder participar noplanejamento e na tomada de decisões.Compreender e sentir, profundamente,que a razão de ser do Estado deve ser ade servir ao interesse público. O “assuntopúblico” é entendido como o que é deinteresse de um coletivo amplo (gruposocial, população de uma cidade, popula-ção de um território, segmentos econô-micos, culturais etc).

As condições de saúde das pessoas deum município, por exemplo, é assunto deinteresse público. Os recursos que o Esta-do dispõe para servir ao interesse públicodevem ser bem administrados envolven-do a participação da população na defini-ção de sua utilização e formas de melhoracompanhá-los.

O Artigo 1º da Constituição Federal aoinstituir “que todo poder emana do povo, que oexerce por meio de representantes eleitos, indiretaou diretamente”, lança um grande desafio: fa-zer com que o poder político seja realmentedo povo, que seja de fato público, coletivo.É importante lutar pela ética, para que opoder seja cada vez mais canalizado em fa-vor do bem comum, da eqüidade, do res-peito à diversidade, a favor da vida. É umaluta pela decência política.

2. ELEMENTOS IMPORTANTES PARA OCONTROLE SOCIAL

20Ministério do

Desenvolvimento Agrário

2.2 Criação de mecanismos e instru-mentos de controle social

Trata-se de iniciativas para criação e/oureativação e fortalecimento de fóruns, co-mitês, comissões e conselhos locais que ana-lisem informações, debatem, propõem eacompanham as ações do governo e comoelas estão refletindo na sociedade, ou seja,criação de espaços legítimos e representati-vos de controle social, estabelecendo capa-cidades de diálogo com setores estratégicos:coleta de informações, processamento dedados; formas de registros e instrumentosde coleta e armazenamento das informaçõesnecessárias.

2.3 Criação de mecanismos e instru-mentos de comunicação e acesso às in-formações

A comunicação é uma necessidade essen-cial ao ser humano. Através dela, explora-seo mundo, aprende-se a ser, a conviver e asobreviver.

A comunicação é um processo de diálo-go no qual alguém emite a informação, ou-tro alguém a recebe e reage de alguma ma-neira à informação recebida. É preciso ha-ver um entendimento entre quem informae quem é informado. É um caminho comdois sentidos ou via de mão dupla.

A informação é importantíssima porqueé formadora de opinião pública e pode sertransformada por aqueles que apenas defen-dem interesses individuais, instrumento demanipulação da sociedade.

Nos tempos atuais, convivemos commodernas formas de informação que envol-ve milhares de indivíduos ao mesmo tempocomo, por exemplo, a informação feita atra-vés de jornais, televisão, rede de computa-dores via internet, programas de videocon-ferência, etc.

O exercício do controle social das políti-cas públicas depende, entre outras coisas, decomo está fluindo a comunicação entre pes-soas e atores sociais dentro dos espaços ins-titucionais de controle social e externamen-te na relação desses espaços com a socieda-de. Depende de como as pessoas/institui-ções estão dialogando, acessando e trocan-do informações, se entendendo e se fazen-do entender.

Como consta no capítulo anterior, existeuma série de instrumentos para apoiar asociedade no exercício do controle social e nagestão social de políticas públicas. Muitaspessoas desconhecem esses instrumentos ecom isso os meios para o exercício do controlesocial não são utilizados. Uma boa políticade comunicação e de informação pode tornarconhecidos tais instrumentos. O processoinformativo é muito importante para oempoderamento da sociedade.

Os meios de comunicação de massa têmuma grande influência na formação da opi-nião das pessoas. Pois elas falam, debatemo que lêem, comentam com outras pessoas;por isso, é importante acompanhar o queos meios de comunicação dizem e comodizem em suas diversas formas de comuni-cação. Segundo especialistas, os programas

21Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

de rádio, de grande importância na área ru-ral, em sua maioria, seguem e reproduzemo que a imprensa escrita está pautando.Como o centro de decisão da imprensa estános grandes jornais impressos, sejam de cir-culação nacional ou mesmo estadual, é im-portante conhecer que meios de comunica-ção circulam nos territórios e a quem elespertencem. Entretanto a mídia é tida comoum quarto poder, o qual não é neutro. Porisso deve-se ter uma postura crítica diantedas informações transmitidas (o que é dito,como é dito, quem está dizendo e o que estápor traz da mensagem.

É preciso também reconhecer que as an-tenas parabólicas estão provocando umaverdadeira revolução na área rural, levan-do a TV a todo canto. Também deve sermencionada a inclusão digital no campo,como uma das metas a serem alcançadas.

No que se refere ao processo de desen-volvimento territorial rural, o mais impor-tante ainda é discutir como se relacionar comos meios de comunicação existentes nos ter-ritórios e que instrumentos alternativos asociedade pode criar para realizar o proces-so de informação transparente e transfor-madora para a sociedade.

Os(as) profissionais de comunicação doterritório quando bem informados(as), etambém quando participam das dinâmicasterritoriais passam a ser elementos essenci-ais no controle social. Da mesma forma, asrádios comunitárias locais podem exercer re-levante papel de informação e divulgaçãode informações sobre as ações governamen-

tais, bem como de mobilização da socieda-de para o controle social.

Outra ferramenta importante para o aces-so da sociedade às informações organiza-das são Os Sistemas de Informação Local.Para DOWBOR (2001) “falar de sistemas deinformação para enfrentar a pobreza, não estamos,portanto, falando em bancos de dados, em centraisde informação, mas na geração de uma ambienterico em informação, permeando o conjunto das ati-vidades descentralizadas, onde as redes de informa-ção cumprem o papel de permitir a auto-regulaçãoinformada das iniciativas.”

O acesso às informações tem um grandepoder de trabalhar o referencial político dosatores sociais, fazendo com que entendamcomo funcionam as políticas públicas, a ges-tão dos recursos públicos, o orçamentomunicipal e outros.

Sistemas de informação conectados emrede podem ajudar os atores sociais envol-vidos na gestão social do DTRS a troca-rem informações, idéias, acompanhar ini-ciativas inovadoras, avanços e dificuldadesao processo de desenvolvimento nos terri-tórios e, com isso, aumentar a capacidadede construção de conhecimentos e de for-mas de organização entre diversos espaçosterritoriais que dialogam na rede. Os siste-mas de informação podem também cons-truir momentos presenciais para ampliar arede de territórios e atores sociais envolvi-dos com a mudança e o controle social.

Os sistemas de informação local aindasão bastante incipientes, e poucos(a)

22Ministério do

Desenvolvimento Agrário

gestores(as) municipais têm um banco de da-dos atualizado com informações sobre aspolíticas públicas, seja por atraso tecnológi-co ou por decisão política. O desafio é cons-truir esses sistemas de informação para uti-lização dos atores locais e para isso é im-portante a participação de profissionais quedominam as tecnologias da informação e co-municação em diálogo com os atores locais.

No Brasil, já existem algumas experiên-cias de construção de bancos de dados emapoio ao processo de gestão pública e a partici-pação da sociedade divulgada pela POLIS (Di-cas Municipais), pelo programa Gestão Públicae Cidadania da Fundação Getúlio Vargas e Fun-dação FORD, pelo CEPAM (Censo de Expe-riências Administrações Municipais), pela Fun-dação ABRIMQ (experiências exitosas relati-vas a políticas sociais para crianças, no progra-ma Prefeito Criança) e outras iniciativas. Essasexperiências podem ser acessadas no sítiohttp://www.web-brazil.com/gestãolocal .

Enfim, o acesso a informações e à comu-nicação eficiente são importantes ferramentase condições essenciais para a mobilização dasvontades das pessoas. A comunicação tem umpapel muito importante nos processos demobilização social para a execução de açõescoletivas e conquista de interesses comuns.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO EDEBATE:

§ Como estão os processos de comunicação noseu território para garantir a eficiência na mobili-zação dos atores locais para a gestão do Desenvol-vimento Rural sustentável?

§ Quais as dificuldades? Quais os avanços eque estratégias têm sido mais eficientes?

§ Quem são os(as) comunidadores(as) do seuterritório? Como envolvê-los nas dinâmicas de de-senvolvimento territorial?

§ Que instrumentos de comunicação pode sercriado para fazer circular as informações no terri-tório e fortalecer o exercício de controle social porparte da população?

§ No seu território, existem recursos disponí-veis que garantam às organizações e aos atoresque fazem parte das Instâncias Colegiadas parao Desenvolvimento Territorial terem acesso à in-ternet e a pessoas capacitadas para colocar o seuterritório em Rede?

§ Existe, no seu território, Sistemas de Infor-mação Local?

§ Se não existe, como construí-los de modoque sejam práticos e acessíveis aos atores para quepossam realizar o controle social de políticas pú-blicas, de arranjos institucionais e do PTDRS?

2.4 Inserção dos valores da participa-ção e cidadania na formação escolar

A escola deve ser um espaço de dinami-zação das potencialidades individuais e so-ciais, de fortalecimento da criatividade daspessoas, de revelação dos potenciais indivi-duais, coletivos e culturais. Deve ser um es-paço de aprendizagem da participação, deconstrução participativa do saber e de valo-rização das capacidades locais para a identi-ficação e construção de soluções coletivas

23Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

que possibilitem a melhoria da qualidade devida da população e igualdade de oportuni-dade para todos, ou seja, deve formarcidadãos(ãs) comprometidos(as) com seupapel de ser social, político, eticamente com-prometido com a defesa dos direitos huma-nos e da preservação do patrimônio cultu-ral, ambiental, social e econômico do lugar.

Sendo assim, é de fundamental impor-tância trabalhar a dimensão da educaçãocomo um elemento básico para o exercí-cio do controle social, entre outros. Des-sa forma, a escola deve romper seus mu-ros, no sentido de se integrar ao processode desenvolvimento, considerando-se que,como espaço de formação, é um dos ele-mentos fundamentais nessa construção. A

escola com seus integrantes deve buscarmobilizar-se nesta direção. Pode, a partirda construção participativa de seu plane-jamento, de seu projeto político pedagó-gico e de sua gestão democrática, abrir-separa a comunidade escolar composta portrabalhadores(as) da educação, alunos(as),pais e mães de alunos, interagindo na for-mação de atores sociais ativos, críticos econtributivos. Essa é uma educação queultrapassa a sala de aula e se faz presente,de forma efetiva, na vida e na realidadeda comunidade em que está inserida.

Seria interessante que as pessoas/entida-des integrantes dos colegiados de desenvol-vimento e de controle de políticas públicasreflittissem sobre isso!

24Ministério do

Desenvolvimento Agrário

As ferramentas do monitoramento e ava-liação participativos têm adquirido maiorevidência no Brasil a partir do processo dedescentralização, introduzido pela Constitui-ção de 1988, quando novas estruturas e for-mas de participação da sociedade vêm sen-do implementadas no Brasil com o objetivode garantir o controle social, como vimosnos capítulos anteriores.

Reflexões importantes para o alinhamentoconceitual sobre o Monitoramento e Avalia-ção - como formas de exercitar o controle so-cial – serão apresentados ao longo deste capí-tulo e que devem subsidiar o próximo, ondeserá aprofundada a discussão sobre a partici-pação no Monitoramento e na Avaliação comoelementos da gestão do desenvolvimentoterritorial e do Plano Territorial de Desenvol-vimento Rural Sustentável - PTDRS.

Serão abordados os seguintes tópicos:

O que é monitoramento

O que é avaliação

O que são Resultados e Impactos

O que são Indicadores

3.1 O que é monitoramento

A discussão sobre monitoramento e ava-liação é bastante extensa e há várias defini-

3. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO:ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

ções sobre os dois termos . Eis alguns des-ses conceitos:

Monitoramento: é um procedimen-to sistemático empregado para compro-var o funcionamento do processo de exe-cução de um programa ou projeto; iden-tificar debilidades e avanços e recomendarmedidas corretivas. Ocorre com freqüênciano processo de implementação de umprojeto ou ação.

O monitoramento é a observação e adocumentação da realidade de uma ação oude um projeto com a intenção de apreendere decidir sobre as adaptações necessárias.

O monitoramento em projetos de desen-volvimento visa:

otimizar a realização dos objetivos doprojeto e evitar desvios e efeitos ne-gativos;

facilitar a obtenção de conhecimentosque estão sendo aproveitados para aredefinição e a adequação do projeto;

Deve:

utilizar como instrumentos de medi-ção indicadores qualitativos e quanti-tativos;

ser realizado sistematicamente.

25Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

O monitoramento também é conhecidocomo um tipo especial de avaliação: a avalia-ção do processo.

A monitoria serve para guiar aimplementação de um processo ou projetosem sair do seu marco programado. Servepara acompanhar e atuar oportunamente,para assegurar a eficiência, eficácia eefetividade das ações, atividades e estratégi-as concretizadas.

A monitoria pode estar focada em qua-tro aspectos (ou tipos de monitoria):

1) Monitoria do orçamento

Compara constantemente as receitas edespesas orçadas com aquelas realizadas. Ve-rifica a disponibilidade de fundos para todasas atividades planejadas. Precisa de registrosadequados sobre a liberação de recursos.

2) Monitoria das atividades

É a comparação das atividades realiza-das com aquelas planejadas (num plano ini-cial ou na monitoria anterior).

O procedimento consiste em confrontaras duas, julgar, averiguar o que foi ‘cumpri-do’ ou ‘parcialmente cumprido’ e explicardivergências (se houver).

Pode ser realizado a partir de algumasperguntas orientadoras:

§ As atividades planejadas estão sendorealizadas:

nos prazos previstos;

com a qualidade prevista;

com os grupos de atores previstos;

com os responsáveis previstos?

Caso se identifiquem itens não alcança-dos dentro do que foi previsto/planejadodevem ser formulados encaminhamentospara retomar o curso desejado corrigindoerros e desvios. Nesse caso, é interessanteque o monitoramento seja efetuado desde aconcepção da atividade estendendo-se aolongo de sua implementação, pois algumascorreções devem ocorrer na fase de execu-ção sob pena de inviabilizar o processo.

3) Monitoria dos pressupostos

Pressupostos são condições e fatores ne-cessários para o êxito do projeto e que nãoestão sob o controle desse projeto. Tais pres-supostos devem ser definidos no início doplanejamento, devendo ser acompanhadosno sentido de evitar que a não observânciados mesmos represente risco ao alcance dosresultados esperados.

Exemplo: para implementar um projetode melhoria da qualidade do ensino nas es-colas do campo, precisamos deprofessores(as) qualificados(as) para tal, ouseja, capazes de trabalhar com uma educaçãocontextualizada, com pedagogias alternativas,com gestão democrática. Nosso pressupos-to neste caso é que as entidades de formaçãode educadores(as) readeqüem seus currícu-

26Ministério do

Desenvolvimento Agrário

los possibilitando a formação de profissio-nais com este perfil. É uma ação que requerposicionamento de outros organismos, deoutros projetos ou atores sociais e não ape-nas do nosso.

Os pressupostos estão no espaço do ambiente,ou seja, são fatores que influenciam no alcancede nossos objetivos, mas que não dependem doambiente interno, ou seja, do sistema.

4) Monitoria das conseqüências dasatividades (se as atividades conduziramaos resultados esperados)

Um plano se baseia em hipóteses: a ativi-dade X para obter o resultado Y. São rela-ções de causa e efeito.

Se só observamos as atividades do pro-jeto (‘X’), não sabemos se as hipóteses fo-ram corretas e se realmente se produziu oresultado esperado (‘Y’).

Além disso, muitas vezes, as ações pro-vocam conseqüências não previstas no pla-no que também devem ser consideradas parano futuro atuar adequadamente. Em geral,esse tipo de monitoria já se caracteriza comoavaliação, pois requer análises mais comple-xas. É importante destacar que a monitoriaé uma condição para fazer a avaliação; omonitoramento possibilita o levantamentode informações para subsidiar a avaliação.

3.2 - O que é avaliação

Avaliação é uma apreciação objetiva so-bre o desenho, a execução, a eficiência e a

efetividade dos resultados de um programaou projeto. É mais profunda do que amonitoria; demanda mais dados e análisesmais complexas. Entretanto, pode-se fazeravaliação de uma situação antes de o proje-to iniciar e também no meio e no final desua execução. É a comparação de “fotogra-fias” de momentos separados no tempo, emtermos de programação, realização, tendên-cias e ações estratégicas.

Existem momentos essencias nos quaisse deve fazer uma avaliação, como se obser-va a seguir:

Avaliação Ex-ante ou Marco Zero(quer dizer antes de tudo)

A Avaliação ex-ante trata das atividades queantecedem a implementação da ação ou proje-to com o objetivo de subsidiar os atores sociaisenvolvidos no processo de decisão sobre a via-bilidade das ações planejadas. É utilizada na eta-pa de elaboração de projetos como uma espé-cie de sua pré-avaliação. Leva em consideraçãoos custos e benefícios esperados da ação ouprojeto; a análise do ambiente político eorganizacional e sua interferência no alcance dosresultados esperados; as expectativas e aspira-ções dos atores envolvidos.

Mede a situação dos indicadores antesdo início da intervenção para futuras com-parações, de tal forma que seja possívelmais na frente indicar se houve ou não pro-gresso e se a ação está indo no caminhocerto para o alcance dos resultados espera-dos. Por isso, também é denominada deAvaliação de Marco Zero.

27Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

A Avaliação Ex-post ou de impac-to (depois)

A Avaliação Ex-post, também denomina-da de impacto, examina e analisa objetivos,resultados e impactos através da coleta deinformações e comparação do antes edepois da ação ou projeto. Acontece quan-do termina a execução do projeto (avalia-ção final) ou mesmo que não tenha finaliza-do, depois de decorrido certo período detempo sendo esta chamada de avaliação in-termediária.

Pode haver processos, projetos queimpliquem avaliações periódicas (men-sais, anuais). A periodicidade é impor-tante quando se trata de avaliar o reali-zado em relação ao planejado, para pro-por correções.

O seu propósito é aprender sobre o quefuncionou ou não em uma determinada açãoou projeto e aplicar as lições aprendidas emações e projetos futuros, bem como pararedirecionar ações. Pode-se dizer que o quese busca é a aprendizagem por parte dasorganizações, comunidades, instituições eatores envolvidos no processo de avaliação.

A Avaliação de impacto permite entender se aação ou projeto realmente produziu os be-nefícios e resultados esperados em um de-terminado espaço de tempo.

A Avaliação de impacto exige uma atitudecuriosa e livre de preconceitos sobre o quese está avaliando; idéias preconcebidas po-dem alterar o resultado da avaliação. Essasquestões devem ser bastante valorizadas emqualquer processo de avaliação.

Um processo de avaliação deve identifi-car e socializar algumas questões importan-tes para o processo de aprendizagem e exer-cício do controle social:

Identificação dos principais resultadosalcançados.Pontos fortes e pontos fracos das ex-periências.Fatores que contribuíram ou dificul-taram o alcance dos resultados.Principais lições aprendidas eRecomendações para o desenvolvi-mento de experiências similares.

O gráfico abaixo ilustra a discussão so-bre os tipos de avaliação:

28Ministério do

Desenvolvimento Agrário

3.3 - O que são Resultados e Impactos

Resultados são os produtos gerados dire-tamente pelo projeto e que resultam das ati-vidades desenvolvidas. Um conjunto de ati-vidades executadas conduz a um ou mais pro-dutos do Projeto. Por exemplo, um conjuntode “oficinas” de planejamento realizadas podeconduzir à elaboração de um Plano.

Impactos são, efeitos em termos de mu-danças econômicas, sociocultural, técnicas,institucionais ou ambientais nas pessoas enas comunidades.

As organizações não-governamentaiscomo a Oxfam, Grã Bretanha e a Novib, daHolanda definem impacto como “mudançassignificativas ou permanentes nas vidas das pessoas,ocasionadas por determinada ação ou série de ações”,ou seja, impacto é uma mudança importan-te que pode durar um bom tempo, mesmoque não seja para sempre.

Podemos citar como exemplos: o au-mento da renda das famílias dos trabalha-dores e trabalhadoras rurais; aumento dainserção de populações índigenas ou comu-nidades quilombolas em projetos produti-vos ampliando a renda das famílias envol-vidas; diminuição da poluição do rio; re-dução do número de crianças desnutridas;aumento do número de jovens concluindoo ensino médio, entre outros.

Em geral, os objetivos de um projeto sãoproduzir impactos na comunidade. Para tan-to, eles prevêem atividades que resultarãoem produtos que, por sua vez, ao interagirem

com outras variáveis externas ao projeto,deverão provocar impactos na vida das pes-soas ou organizações.

3.4. O que são Indicadores

Os indicadores são sinais e instrumen-tos destinados a medir e comunicar aconte-cimentos, resultados e impactos.

A palavra “indicador” vem do latim“indicare”, que significa assinalar, dar avisoou estimar. Os indicadores têm estado pre-sentes na sociedade desde há muito tempo,possivelmente desde os romanos.

Utilizam-se indicadores diariamente paraplanejar e alcançar objetivos.

Medindo e acompanhando os indicadoresao longo do tempo pode-se identificar as vari-ações no seu valor e dizer se houve progressoou retrocesso. Para acompanhar os indicado-res é preciso ter meios de verificação queajudem a verificar sua evolução. Exemplos deindicadores e seus meios de verificação:

Se há um compromisso marcado paradeterminada hora e o objetivo é che-gar com pontualidade, então o elemen-to que temos que monitorar para al-cançar o objetivo é o tempo. Nessecaso, as horas, os minutos e os segun-dos são os indicadores e o relógio éo meio de verificação.

Outro exemplo: no caso da saúde, a tem-peratura do corpo é um indicador de saúde eo termômetro, um meio de verificação.

29Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Os indicadores são classificados comoquantitativos e qualitativos.

Os indicadores quantitativos medemos resultados e impactos em termos de quan-tidade, de números, de estatísticas. Exem-plo: número de pessoas que participaram deuma capacitação, número de pessoas envol-vidas em um projeto produtivo, percentualde renda ampliada, percentual de pessoas al-fabetizadas, etc. Esses indicadores podemser averiguados objetivamente.

Os indicadores qualitativos medem aqualidade dos resultados e os impactos deuma ação. De uma forma simples pode-serefletir a respeito questionando:

Como o que foi aprendido pelas pes-soas, na capacitação, foi aplicado naprática?

Que mudanças qualitativas acontece-ram na vida das pessoas a partir da par-ticipação no projeto produtivo?

Os indicadores qualicativos baseiam-seem opiniões, percepções e experiências daspessoas.

Mas para que os indicadores sejam efi-cientes precisam antes de tudo responderàs expectativas e anseios dos atores envol-vidos na ação e orientar, apontando se es-tão ou não estão indo no rumo certo, parao alcance dos resultados esperados. Paraisso, é necessário que eles respondam a al-gumas exigências, ou seja, apresentem al-gumas propriedades.

O indicador deve ser:

a) Específico; isto quer dizer que eleprecisa refletir o que o projeto pretendemudar evitando as medidas que estãomais sujeitas às influências externas;

b) Mensurável; deve ser bem definidode modo que a medição e a interpre-tação não sejam ambíguas. Deve pro-porcionar dados objetivos, indepen-dentes de quem esteja coletando, ouseja, qualquer pessoa poderá medir einterpretar o indicador;

c) Atingível; os meios disponíveis de-vem permitir seu alcance;

d) Relevante e possível de coletar; deveser fácil de coletar dados dentro de umprazo razoável e com os recursos dis-poníveis;

e) Comprometido com o tempo; devedeterminar para quando está previstadeterminada mudança;

f) Plausível; um indicador precisa es-pecificar os efeitos e impactos dire-tamente resultantes dos objetivos deum projeto;

g) Independente; um indicador não éa soma de outros indicadores. Cadaobjetivo, resultado e pressuposto de-vem ter seus indicadores próprios.Um indicador deve medir a situaçãosobre a execução do objetivo de umprojeto.

30Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Todo indicador deve buscar indicar o al-cance de determinados resultados que con-tribuem com os objetivos do projeto e deveser descritos de modo a ser claro para qual-quer pessoa.

A melhor forma de selecionar os indica-dores é, a partir dos objetivos definidos eindicadores relacionados, examinar quais sãoas informações que necessitam de acompanha-mento, qual sua disponibilidade e como elascontribuem para o alcance dos objetivos.

Exemplo prático:

Ação/Projeto: Agroindústria de Casta-nha no Território X

Objetivos:

Agregar valor econômico à produçãodo município com o beneficiamento da cas-tanha.

Fortalecer a organização comunitária apartir das associações envolvidas na gestãodo projeto.

Expectativas dos envolvidos:

Aumento da renda dos agricultores.

Fortalecimento da organização comunitária.

Receios:

Falência das cooperativas.Poucos produtores se envolvendo com a

gestão do projeto.

Indicadores:

Valor bruto da produção de castanhabeneficiada.

Percentual de aumento do valor da ven-da da castanha.

Percentual de aumento da renda dosprodutores envolvidos.

Grau de participação ativa dos coope-rados.

Descritores:

Total da produção do município X To-tal beneficiado.

Percentual da venda anterior ao proje-to X percentual de venda atual.

Renda anterior dos agricultores X ren-da atual.

Preço de venda X quantidade beneficiada.

Freqüência dos cooperados nas reuniões/atividades.

Meios de Verificação:

Relatório da produção e faturamento.

Dados levantados antes da implanta-ção do projeto – diagnóstico inicial.

Atas das reuniões da Assembléia da Co-operativa.

31Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

FONTE - Extraído do Texto “Monitoramento e Avaliação do DTRS de SilvanaParente, Paulo César Arns e Renata Brandão. SDT/MDA - 2004

Freqüência da Verificação: trimestral

Responsáveis pela verificação: Geren-te Operacional e Gerente Administrativo

No monitoramento e avaliação pode-setrabalhar com três tipos de indicadores:

§ Indicadores operacionais ou de ati-vidades: Quando se deseja saber se algo queestava previsto aconteceu ou não. A ativida-de foi realizada? No tempo e nas condiçõesprogramadas? Esse indicador também podese referir aos produtos ou efeitos geradospelas atividades executadas.

Indicadores de avaliação de processo(quando o que importa é observar a seqüên-cia das ações, a metodologia adotada, o esti-lo de atuação da organização executora). Sãoindicadores utilizados no monitoramento deprocesso para acompanharos avanços e deficiências noplanejamento, execução egestão.

§ Indicadores de ava-liação de resultado:

Se os efeitos relaciona-dos com as atividades fo-ram realizados e se os obje-tivos foram alcançados. AAvaliação de resultados for-nece elementos para aredefinição de objetivos erevisão da estratégia, ouseja, do caminho propostopara se chegar aos objetivos.

§ Indicadores de avaliação de impacto:

Contribuição dos produtos/resultados alcan-çados na solução dos problemas, mudança darealidade, melhoria da qualidade de vida, ou seja,a materialização da visão de futuro. Tais impac-tos referem-se às mudanças mais duradouras ousignificativas e, portanto, mais difíceis de seremmedidas. Mesmo porque essas mudanças tam-bém são influenciadas por outros elementos quenão apenas as ações do Projeto. Muitas vezesrequer um “marco zero” de informações sobreas condições de vida dos(as) agricultores(as) parapermitir a comparação posterior.

A seguir é apresentado um quadroilustrativo das diferenças entre os tipos demonitoramento e avaliação aplicado ao desen-volvimento territorial rural sustentável:

32Ministério do

Desenvolvimento Agrário

A utilização de metodologias participati-vas no monitoramento e avaliação de proje-tos é imprescindível, especialmente quandose trata de instâncias colegiadas ou arranjosinstitucionais para o desenvolvimento terri-torial que envolvem comunidades locaisentre seus beneficiários(as) e executores(as).Em particular, as metodologias participati-vas são essenciais para a análise de aspectosqualitativos da implementação de projetos epara a incorporação de lições aprendidas noplanejamento de ações futuras.

A participação é fundamental na identifi-cação e definição dos indicadores que serãoacompanhados. Esses indicadores devem sercompreendidos por todos os envolvidos noprojeto e no seu acompanhamento, por isso,é importante que este grupo participe da iden-tificação desses indicadores.

Considerando que a participação tem deser vista enquanto uma conquista processu-al “infindável em constante vir-a-ser, sempre fazen-do” (DEMO; 1988:18) é que os “indicadoresparticipativos” conseguem ter o mesmo sig-nificado para todos envolvidos no projeto.

Para o acompanhamento dos projetos, énecessário que se tenha acesso a informa-ções e a dados que caracterizem a situaçãoinicial e final dos grupos envolvidos (o an-tes e o depois das atividades executadas peloprojeto) de forma que se possa fazer com-parações no tempo com situações, grupos

ou áreas parecidas do projeto. O levanta-mento de dados deve ser a partir de fontesconfiáveis, de baixo custo e ágeis.

Tendo em vista o processo de descentra-lização de políticas públicas, se deu a partirda Constituição de 1988, e que existe uma fragi-lidade no que se refere à capacidade de os atoreslocais monitorarem a grande diversidade de pro-jetos e de grupos em torno das políticas públicase do Plano Territorial de Desenvolvimento Ru-ral Sustentável faz-se necessário o acompanha-mento participativo, como instrumento de ges-tão social e de aprendizado para o desenvolvi-mento do capital humano e social do território.

A capacitação para o acompanhamento par-ticipativo deverá ser trabalhada em um proces-so que assegure a continuidade. Está direta-mente ligada à capacidade que for geradano território quanto à habilidade dos atoressociais em assegurar o processo participati-vo, que tem a ver com comprometimento,envolvimento e abertura de espaços de par-t i c i p a ç ã o.

Alguns aspectos importantes do monito-ramento e avaliação participavos do desen-volvimento territorial:

4.1 - A concepção do Monitoramento eavaliação participativos;

4.2 - Níveis de participação em Monito-ramento e Avaliação.

4. O MONITORAMENTO E AVALIAÇÃOPARTICIPATIVOS

33Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

4.3 - Decisões importantes no início doMonitoramento e Avaliação Participativos.

4.4 - Etapas para construção de estraté-gias de Monitoramento e Avaliação Parti-cipativos.

4.1 - A concepção do Monitoramentoe Avaliação participativos

O monitoramento participativo é aquelerealizado com a atuação conjunta de todosos atores envolvidos na ação ou projeto.Envolve os(as) beneficiários(as) do progra-ma/projeto desde o processo de desenhodo sistema, da coleta de informações, daanálise e da organização até a socializaçãodas informações para os atores envolvidose para a sociedade de modo geral.

Um dos maiores desafios para a gestão so-cial de projetos ou de programas não residena dificuldade de selecionar métodos de mo-nitoramento e avaliação bem definidos e es-truturados ou mesmo em encontrar dadosconfiáveis, mas alavancar processos participa-tivos que se preocupem em incorporar de fatoas necessidades e expectativas dos grupos einstituições envolvidas, especialmente, daque-les mais marginalizados. Um dos objetivos deum sistema de Monitoramento e Avaliaçãoparticipativos deve ser sensibilizar e buscar ocomprometimento dos atores locais.

Tradicionalmente, os sistemas de moni-toramento e avaliação têm sido conduzidospor agências financiadoras e entidades go-vernamentais com o objetivo de mantê-losinformados sobre os avanços dos projetos

e programas que financiam ou apóiam, com-parando os objetivos inicialmente propos-tos com os resultados obtidos.

Em resposta a esses enfoques tecnocrá-ticos de monitoramento “de cima para bai-xo”, surgiram, nos últimos anos, muitas ex-periências de monitoramento e avaliaçãoparticipativaos, cujos princípios e estraté-gias foram fortemente influenciados peloDiagnóstico Rural Participativo – DRP1,que foi um dos precursores dos vários mé-todos de diagnósticos participativos levadosa cabo em comunidades rurais nas últimasdécadas.

Os métodos de monitoramento e avalia-ção têm-se disseminado rapidamente emvárias direções e em vários domínios: dasONGs para as organizações governamen-tais, universidades e centros de pesquisa; doespaço rural para o urbano; de projetos e pro-gramas formalizados para contextos informaise processos sociais mais integradores, comogrupos, fóruns, redes e comitês. Além disso,redirecionaram seu foco de atenção que antesrecaía sobre os recursos, produtos e atividadesdos projetos e instâncias colegiadas ou arran-jos institucionais para o desenvolvimento ter-ritorial em andamento para privilegiar os re-sultados e impactos obtidos (FAO, 2002).

1 Os Diagnósticos Rurais Participativos - DRPs se propõema tratar das necessidades e problemas concretos dos agri-cultores familiares e comunidades rurais, principalmente atra-vés do emprego de técnicas e ferramentas participativas, comespecial enfoque àquelas com orientação visual (Chambers,1997). Os recursos visuais, como: mapas, digramas, matri-zes e calendários permitem que todos os participantes pos-sam ver, discutir, interpretar, manipular, compartilhar emodificar as informações, segundo suas perspectivas(Chambers, 1992)

34Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Com exceção de alguns métodos, como oMonitoramento Participativo de Impacto, aAuto-avaliação Participativa, o Monitoramen-to de Processos, como será visto os mais adi-ante, a maior parte dos métodos participati-vos de monitoramento e avaliação fazemparte da estrutura maior de diagnósticos par-ticipativos. Em geral, esses métodos incluemem suas estratégias de funcionamento, alémda etapa de diagnóstico, procedimentos deplanejamento, monitoramento e avaliação,abarcando todo o ciclo de gestão necessáriopara o desenvolvimento completo de proje-tos e programas.

Alguns métodos de monitoramento eavaliação se preocupam em utilizar indica-dores tecnicamente definidos capazes deavaliar em que medida as atividades progra-madas foram oportunas e qualitativamenterealizadas e se os objetivos e resultados fo-ram alcançados. Isso significa que, para queesses sistemas funcionem, é necessário umaetapa anterior de planejamento onde os ele-mentos constitutivos dos projetos (objeti-vos, atividades e metas) devem ser previa-mente formulados. Essa condição nem sem-pre traz vantagens como a princípio podeparecer, considerando que os momentos deplanejamento, muitas vezes, não conseguemtraduzir as necessidades e expectativas dosgrupos envolvidos e tão pouco, consensuá-los de forma minimamente satisfatória,criando, não raras vezes, uma estruturalógica e organizada, mas com pouca coe-são social.

Em reação a essa tendência, cada vezmais as experiências com monitoramen-

tos participativos têm demonstrado a im-portância de assegurar indicadores quetraduzam as diferentes necessidades e in-formações que interessam aos atores en-volvidos.

No Anexo deste guia é apresentado umresumo dos diferentes métodos de Monito-ramento e Avaliação Participativos.

Independentemente de suas estratégias ediferenças, todos os métodos participativosde monitoramento têm como pontos emcomum:2

§ a incorporação das percepções dosdiferentes atores locais;

§ o fortalecimento das organizações locais;

§ a valorização do conhecimento e dascapacidades locais;

§ o reconhecimento da diversidade;

§ flexibilização, divisão das responsabi-lidades e descentralização nas decisões.

A questão mais importante no momentode escolher os indicadores é ter claro quemserão os usuários finais, para garantir que osresultados do monitoramento sejam os maissignificativos para essas pessoas, grupos ouinstituições envolvidas. Questão esta quegeralmente é pouco enfatizada ou mesmolembrada.

2 No Anexo, é apresentado um resumo dos diferentes méto-dos de Monitoramento e Avaliação Participativos.

35Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

A distinção entre os diversos métodos demonitoramento e avaliação é mais perceptí-vel na ênfase dada à aplicação de técnicasparticipativas e no grau de envolvimento dosatores locais e usuários(as) finais nas diver-sas fases do monitoramento. Boa parte dosmétodos utilizam-se das técnicas e ferramen-tas propostas pelos DRPs com diferentesprioridades. No entanto, deve-se estar aten-to para evitar uma tendência muito comumentre as abordagens participativas que é ainstrumentalização da participação, ou seja,a ênfase excessiva no emprego das técnicasparticipativas em detrimento dos princípi-os, conceitos e métodos que orientam essasabordagens (PETERSEN, 1999), ou dos ob-jetivos que devem ser alcançados.

Além dessas distinções, é necessário es-tabelecer uma clara diferença entre o moni-toramento e avaliação de processos plane-jados (aqueles que passaram por um pro-cesso formal de planejamento, como proje-tos, programa e outros) e processos não pla-nejados (aqueles processos individuais oucoletivos que são conduzidos com propósi-tos claros e a partir de decisões lógicas, masnão passaram por um processo formal deplanificação, como a maioria dos processossociais). Essa distinção é fundamental, poisos métodos para definir os indicadores emum caso e no outro são distintos.

É preciso avaliar até onde é viável a par-ticipação de grande parte dos atores envol-vidos com o projeto/programa, pois deter-minadas ações do monitoramento podemser executadas por um número menor deatores, sob pena de inviabilizar a atividade

tanto economicamente quanto operacional-mente. As construções sobre estratégias degestão e os momentos de avaliação coletivanecessitam da participação da maioria dosenvolvidos, já as ações de coleta de dados eacompanhamento podem prescindir da par-ticipação de grandes grupos.

4.2 Níveis de participação em Moni-toramento e Avaliação

O monitoramento e avaliação podem acon-tecer de forma participativa ou não. Quando aparticipação não existe é feita sem consulta,nesse caso, é exclusividade dos especialistas.

No contexto convencional do monitora-mento, as entidades externas, usualmente, de-finem o que monitorar e como vai ser moni-torado, sendo conduzido por especialistas ex-ternos que utilizam indicadores sem a partici-pação dos atores envolvidos. Nesse nível departicipação, a avaliação é feita a partir da con-tratação de avaliador externo para que coor-dene o processo.

A participação em processos de monitora-mento e avaliação assume níveis diferentes,conforme o projeto, definindo quem assumee realiza o processo, e principalmente, quemaprende e se beneficia das conclusões.

Portanto, em sendo participativo podemser classificados quantos aos níveis de par-ticipação da seguinte forma:

1. Consulta Genérica

O que se faz é apenas estudar as pessoas/organizações envolvidas: neste nível, os ava-

36Ministério do

Desenvolvimento Agrário

liadores escutam as pessoas, suas opiniões elevam a informação para analisar no nívelinstitucional; nem sempre os resultados sãocompartilhados. Apenas se socializa uma par-te da informação analisada com alguns inte-ressados.

2. Consulta Autêntica

Associação com os atores para o desen-volvimento:

Neste nível de participação, a equipedo projeto se reúne com as pessoas dascomunidades e organizações envolvidase, através de uma ação associativa, reali-za todo o processo de avaliação desde suaelaboração até a sua execução. Assim seorganiza um sistema de monitoramentoe avaliação que aposta na responsabili-zação dos atores envolvidos com o pro-cesso e na aprendizagem coletiva comoum pressuposto para o sucesso da açãoou projeto.

Esta última opção é a que necessita demais tempo e construção de compromis-sos entre os envolvidos, laços de confiança,quebra de preconceitos e um investimentonas capacidades locais para que a ação e pro-jeto alcancem os resultados esperados e talopção caracteriza o processo de monitora-mento e avaliação participativos.

4.3 - Decisões Importantes no Início doMonitoramento e Avaliação Participativos

Para garantir que o processo de monito-ramento e avaliação seja de fato participati-

vo desde o início, é fundamental adotar al-gumas decisões para construir as bases dosistema de monitoria e avaliação que se adap-te à realidade local:

§ Identificação dos diferentes interessesdas pessoas em participar e o propósito domonitoramento e avaliação.

§ Negociação dos graus de participaçãode cada ator.

§ Definição dos ganhos de cada ator edecisão sobre os apoios que necessitam.

§ Definição de como o Monitoramentoe Avaliação Participativos se relacionamcom o Monitoramento e Avaliação não par-ticipativos (monitoramento institucional) nocontexto da ação ou projeto.

Identificação dos diferentes inte-resses das pessoas em participar eo propósito do monitoramento eavaliação

Nessa fase, o importante é definir comos(as) envolvidos(as), pessoas e organizaçõesos seus interesses, motivações e qual o sen-tido da avaliação para que sejam feitas esco-lhas conscientes sobre os esforços e investi-mentos a serem feitos no processo. Trata-sede fazer o exercício de responder duas per-guntas básicas:

§ Por que desejo participar do Monito-ramento e Avaliação do Projeto ou Ação X?

§ Por que avaliar o projeto ou ação X?

37Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Para apoiar a definição dos interesses decada ator, grupo ou organização envolvidae o propósito dos processos de monitora-mento e avaliação de um projeto ou ação,pode-se utilizar o seguinte esquema:

§ Neste sentido, deve ficar claro qual opapel que o processo de monitoramento eavaliação vai cumprir junto ao projeto emquestão. Também é fundamental, nestemomento, que os(as) envolvidos(as) alinhem assuas concepções sobre os diversos conceitos esuas aplicações: O que é monitoramento?

§ O que é avaliação? Para que servem omonitoramento e a avaliação? O que são in-dicadores? Resultados e impactos? O que éparticipação?

Esse levantamento do interesse dos diver-sos atores locais em participar da avaliação doprojeto, juntamente com o nivelamento dosconceitos representa um processo social e po-lítico importante para construir as bases doprocesso de monitoramento e avaliação; defi-nir o foco do processo e construir elementossubjetivos importantes para a formação dosenso de equipe e partilha de objetivos.

Negociação dos graus de partici-pação de cada ator

Os graus de participação de cada ator en-volvido dependerão muito dos interesses emotivações existentes, bem como do própriopropósito da avaliação.

Por exemplo: se um dos propósitos daavaliação for promover processos de apren-

dizagem no desenvolvimento sustentável emum Projeto de Agroindústria de Produçãode Ração com o pedúnculo do caju, então éimportante que os(as) produtores(as)envolvidos(as), o pessoal que prestará a as-sistência técnica e até representantes da ins-tância colegiada para a gestão do desenvol-vimento territorial participem do processofazendo com que a aprendizagem propicia-da possa ser canalizada para o aperfeiçoa-mento de outras experiências de gestão.

Mas como avaliar a necessidade de par-ticipação de um determinado ator (agricultorou agricultora , pescador, técnicos, gestores,etc.) em um processo de monitoramento e ava-liação de um projeto ou ação? Para buscar aresposta podemos refletir a partir das seguin-tes perguntas:

§ Em que momento é mais importante participar?(no momento de desenhar a metodologia de acompa-nhamento, na coleta dos dados, ou na análise de infor-mações, etc.);

§ Quem irá utilizar a informação final de cadaatividade, produto ou impacto? Essas informações sãoutilizadas pelo ator para tomar decisões importantesdentro dos compromissos assumidos junto ao projeto?

§ Quais as técnicas e instrumentos que serão utili-zados para a coleta e análise das informações?

Dependendo do nível de complexidade dosinstrumentos adotados, mais criteriosa deve sera definição de quem deverá participar. Por ou-tro lado, quanto mais simples forem os instru-mentos, mais ampliada a capacidade de parti-cipação dos diversos atores.

38Ministério do

Desenvolvimento Agrário

Criação de condições que motivemos atores a participar e definir osapoios necessários

Para garantir a participação dos atoresno processo de monitoramento e avalia-ção, é fundamental que todos envolvidossintam e tenham a segurança que seus es-forços podem ser refletidos em resulta-dos concretos, uma vez que estão dedi-cando seu tempo, sua energia e outros re-cursos no processo de aprendizagem co-letivo. É preciso que os atores estejam mo-tivados e que essa motivação seja cultiva-da a partir da construção e manutençãode alguns fatores:

§ benefícios percebidos e custos envol-vidos em curto e médio prazos;

§ pertinência da ação de monitoramen-to e avaliação em relação aos objetivos e ex-pectativas dos atores envolvidos;

§ comunicação rápida e eficiente das de-cisões tomadas no processo;

§ capacidade de atuar em relação às con-siderações que forem feitas pelo atores parti-cipantes a partir das conclusões apresentadas;

§ capacidade, liderança, identidade ematuridade dos atores participantes além dacapacidade de compartilhar resultados epoder;

4.4 - Passos para construção de estra-tégias de Monitoramento e AvaliaçãoParticipativos do DT

Tendo claros os objetivos da avaliação, asexpectativas, os recursos e os compromissosassumidos, o próximo passo é definir o siste-ma de monitoramento e avaliação.

As metodologias de monitoramento eAvaliação Participativos compartilham dealguns procedimentos e etapas:

1a. Etapa - Formular questões que de-verão ser respondidas pelo monitoramen-to e avaliação: construir perguntas avalia-tivas.

2a. Etapa - Definir os aspectos a seremmonitorados/avaliados para compor o sis-tema de avaliação – construir indicadores.

3a. Etapa - Identificar as possíveis fon-tes das informações – fontes.

4a. Etapa - Definir os instrumentos eprocedimentos apropriados para cada tipode monitoria (atividades, orçamento, pres-supostos) e avaliação (processo, resultadose impacto) - meios de verificação.

5a. Etapa - Definir a periodicidade da cole-ta de informações – estabelecer cronograma.

6a Etapa - Definir a forma de análise dasinformações coletadas.

7a Etapa- Definir as responsabilidadesentre os participantes do processo – cons-truir matriz de responsabilidades.

8a Etapa - Definir os meios de comuni-cação dos resultados.

39Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

1a Etapa - Formular questões que deverão ser respondidas pelo monitoramento e avaliação: construir pergun-tas avaliativas

A construção das perguntas avaliativas éimportante para a definição do foco da ava-liação. Esse foco pode ser definido a partirde uma afirmação ou área de resultado ou apartir de uma pergunta. O trabalho com asperguntas é mais rico na medida em quecoloca para os atores uma provocação paraa investigação, para o acompanhamento e abusca da resposta pelo processo avaliativo,criando expectativas positivas.

A elaboração da pergunta avaliativa deveenvolver todos os atores interessados ecomprometidos com o processo de moni-toramento e avaliação. Ter uma boa per-gunta avaliativa é um fator que contribuipara um bom processo de avaliação.

Alguns exemplos de perguntas avaliativas:

§ Qual a contribuição do projeto da co-operativa de crédito para a melhoria da ren-da dos trabalhadores e trabalhadoras ru-rais?

§ Que mudanças o projeto gerou nas or-ganizações dos(as) produtores(asa) e seusassociados(as)?

§ Em que medida o projeto melhorouas condições ambientais no assentamento?

§ Que mudanças o projeto X gerou na vidadas mulheres produtoras rurais?

2a Etapa - Definir os aspectos a serem monitorados/avaliados paracompor o sistema de avaliação – cons-truir indicadores

Com a pergunta avaliativa formulada,pode-se partir para a segunda etapa: a cons-trução dos indicadores.

Para a construção dos indicadores, é im-portante que se esteja atento àquelas cincopropriedades apresentadas no capítulo 3,como também descrevê-las com cuidado.Tão importante quanto definir o indicadoré formular a sua descrição deixando claro oseu significado.

Construir indicadores não é uma coisa“do outro mundo”, a participação dos ato-res que conhecem bem a realidade sobre aqual o projeto pretende atuar para modifi-cá-la é um grande passo para uma boa cons-trução do indicador. O(a) facilitador(a) en-tão, deve assumir a postura de buscar as res-postas, as pistas para o indicador no conhe-cimento e experiências dos atores locais so-mados aos seus conhecimentos, abandonan-do a postura de definir sozinho os indica-dores. Esse processo promove a aprendiza-gem dos atores; lembrando que o processode aprendizagem pressupõe postura aber-ta, paciente e pronta para os erros e acertosdo processo na construção da experiênciaprática de formular indicadores.

Portanto, os atores sociais envolvidos noprocesso de monitoramento e avaliação sãoos(as) elaboradores(as) dos indicadores(as)e o técnico(as), um facilitador(as) desse pro-

40Ministério do

Desenvolvimento Agrário

cesso com suas informações complementa-res, questionamentos sobre a operacionali-dade dos indicadores apresentados, tendocomo base a construção coletiva e o estabe-lecimento de um clima de confiança e estí-mulo à criação. A etapa de nivelamento deconceitos pode ser aqui reforçada a partirdo exercício prático, realimentando o pro-cesso de aprendizagem do grupo de atoresenvolvidos.

Identificar o que cada ator propõe comoum indicador de impacto é fundamental paraa escolha de bons indicadores. O que podesignificar um impacto para um produtor ouprodutora rural pode não significar para umtécnico ou para uma ONG e assim respec-tivamente. Pela seleção dos indicadores,deve-se considerar as expectativas de impac-to de todos os interessados no processo demonitoramento e avaliação (homens, mulhe-res, técnicos, produtores e produtoras, ges-tores, jovens, etc.).

O importante é que a partir de cada per-gunta avaliativa o grupo possa ser estimula-do a apontar indicadores, e isto pode ser feitoa partir de uma chuva de idéias. Ofacilitador(a) deve antes lembrar ao grupo oque é um indicador e com a lista de indica-dores propostos analisar como o indicadorresponde, para, ao final, definir a viabilida-de e selecionar bons indicadores para o pro-cesso de monitoramento e avaliação. Defi-nidos e selecionados os bons indicadores, aetapa seguinte é descrevê-los. A descriçãodeve buscar características bem claras e ob-jetivas a qual facilitará o processo posteriorde coleta de informações.

3a Etapa - Definir as possíveis fontesde informações: estabelecer fontes

Com indicadores selecionados e descritos,o grupo deve então definir onde irá buscaras informações sobre o indicador para poderacompanhá-lo e avaliar os processos de mu-dança e os impactos do projeto ou ação.

São fontes de informação dos indicadores:

§ Fontes primárias: as mulheres pro-dutoras rurais (em caso de projetos volta-dos para as mulheres) e suas famílias; fi-nanciadores do projeto ou ação; técnicosda assistência técnica; produtores rurais;gestores públicos; a prefeitura municipal;jovens envolvidos em projetos de educa-ção do campo e seus professores, entre tan-tas outras;

§ Fontes secundárias: informações deórgãos públicos como IBGE, IPEA; Atlasde Desenvolvimento Humano do PNUD;diagnósticos municipais; sistemas de infor-mação como o SIAB Municipal, que traba-lha com as informações do Programa Saú-de da Família; Pesquisas de dados como oCenso Escolar, entre outros.

A fonte de informação vai depender doprojeto e dos indicadores definidos.

4a Etapa - Definir os instrumentos eprocedimentos apropriados para cadatipo de monitoria (atividades, orça-mento, pressupostos) e avaliação(processo, resultados e impacto) -meios de verificação

41Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Para cada fonte de informação, pode-seter uma forma distinta e mais apropriadapara coletar as informações.

As formas mais utilizadas para o levanta-mento de informações são:

§ Entrevistas semi-estruturadas telefônicas;

§ Entrevistas semi-estruturadas presenciais;

§ Grupos focais;

§ Aplicação de questionário com ques-tões fechadas.

§ Questionários com questões abertas.

§ Observação (com roteiro estruturado).

§ Análise de documentos e registros.

§ Questionários por correio eletrônico,entre outros.

O monitoramento de atividades pode ser feito utilizando instrumentos simples como oque apresenta-se agora:

42Ministério do

Desenvolvimento Agrário

5a Etapa - Definir a periodicidade dacoleta de informações – estabelecercronograma

Definidos(as) indicadores(as),descritores(as), fontes de informação e for-ma de coleta, o próximo passo é definir aperiodicidade da coleta de informações.

Uma primeira coleta deve ser feita logono início do projeto ou ação para identifi-car a situação antes da ação do projeto, comojá foi tratado, ao definir os tipos de avalia-ção como avaliação do Marco Zero.

É fundamental definir um cronogramacom todos os(as) envolvidos(as) na coleta dasinformações, considerando as disponibilida-des da equipe e o tempo das pessoas que se-rão fontes de informação. Por exemplo, nocaso dos produtores(as) rurais deve ser con-siderado os melhores dias e horários com mai-ores possibilidades de atender os coletadores;períodos de plantio ou de intensa atividadede colheita devem ser considerados. Tratan-do-se de jovens em idade escolar será im-portante considerar o horário em que estãoenvolvidos com atividades da escola e o ho-rário em que estão livres; dias de feira no mu-nicípio; festas e feriados. Tratando-se dasmulheres há que se ter um cuidado especial,uma vez que ainda estão envolvidas comdiversas tarefas domésticas, além das ativida-des de apoio à melhoria da renda da família.Assim, para cada fonte de informação deve-rão ser consideradas as disponibilidades parao atendimento aos coletadores na elabora-ção do cronograma, o tempo necessário paraa coleta de informação e o período do ano.

Um bom sistema de organização e siste-matização das informações ajuda no processode análise, com o objetivo de sugerir medidascorretivas quando necessário e comunicar aosinteressados(as) e à sociedade os avanços noprojeto ou ação. O próximo passo é ter infor-mações bem trabalhadas para se ter um bomsistema de monitoramento e avaliação.

Algumas questões são importantespara a coleta de informações:

§ coletar informações que os atores en-volvidos na equipe de monitoramento e avali-ação tenham condições de analisar, organizare armazenar. Evite um volume de informa-ções maior do que é realmente necessário;

§ assegurar-se que os dados coletadossejam devidamente registrados, arquivadose armazenados de modo que os atores en-volvidos na equipe de monitoramento e ava-liação tenham acesso e não se corra o riscode perda de informações (no caso de infor-mações armazenadas em computadores ésempre bom ter um backup periódico);

§ escolha métodos e instrumentos fáceisde aplicação e entendimento por parte dosatores envolvidos;

§ os atores envolvidos na coleta das infor-mações devem ser capacitados para que pos-sam dominar os instrumentos e no caso douso de entrevistas ou grupos focais devemdesenvolver atitudes, habilidades e comporta-mentos capazes de ajudar na compreensão dasperguntas, caso sejam feitas de diferentes ma-neiras. O que importa é o alcance do seu obje-

43Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

tivo. Sensibilidade e habilidade para ouvir aspessoas e fazê-las se sentirem à vontade paraexpor suas respostas, pontos de vista e per-cepções, são requisitos fundamentais.

6a Etapa - Definir as formas deanálise das informações coletadas

Também nessa etapa, é importante queparticipem os atores interessados nos re-sultados avaliados no processo. Inicialmen-te as informações podem ser analisadaspelos técnicos ou especia-listas envolvidos, mas de-vem ser discutidas com oconjunto dos atores envol-vidos para que seaprofundem as reflexões ese discutam medidas corre-tivas, quando necessárias, construindo oprocesso de aprendizagem importante paracriar entre os atores locais a competênciapara processos de monitoramento e avali-ação a partir da construção de processosde aprendizagem.

7ª Etapa - Definir as responsabilida-des e os participantes do processo

A participação deve ser negociada des-de o primeiro momento articulando a pre-sença de todos os atores envolvidos, por-que só assim se é capaz de gerar o com-prometimento e a responsabilização como processo. Com os atores mobilizados eparticipando efetivamente, deve-se nego-ciar a distribuição das tarefas podendo serconstruída uma Matriz de Compromissos,conforme a seguir: 1 A comunicação aqui pode ser percebida enquanto

socialização.

2 – Participa da execução

3 – Responsável pela execução

4 – Supervisiona

5 – Verifica/Avalia

6 – Socializa

7 – Relata

(Matriz adaptada da Matriz de Respon-sabilidades da Metodologia de Padronizaçãode Processos do livro Organização Flexível).

8ª Etapa - Definir os meios decomunicação dos resultados

A comunicação1 dos resultados da avalia-ção é a última etapa dos passos metodológicosem um processo de monitoramento e avalia-ção e tem um papel importantíssimo no pro-cesso de aprendizagem a partir dos resulta-dos observados e das lições aprendidas comos AVANÇOS e ERROS identificados pelosatores envolvidos .

Essa comunicação deve ser feita ao finaldo projeto ou ação comunicando seus im-

Responsabilidades (códigos): 1 – Prepara/Planeja

44Ministério do

Desenvolvimento Agrário

pactos, mas também deve ser precedida de todoum processo de comunicação anterior que di-vulgue para a sociedade e atores interessados oandamento do projeto ou ação monitorada.

É importante que para cada público a sercomunicado se escolha o melhor meio ouinstrumento. A forma e o tempo para co-municar à equipe de financiadores do pro-jeto ou ação não são os mesmos para co-municar aos beneficiários ou à comunidadeonde este grupo está inserido.

O uso de relatórios parciais para adaptara forma de comunicação para os diversospúblicos deve ser considerado para que a

comunicação seja feita ao longo do proces-so avaliativo e fortaleça a relação da equipede monitoramento e avaliação com as pes-soas interessadas em acompanhar os resul-tados do projeto ou ação, além de fortalecero processo de aprendizagem social.

O uso dos instrumentos de mídia localtais como as rádios comunitárias, jornaislocais, apresentação dos resultados em even-tos da comunidade, bem como os espaçosinstitucionais formais pode ser um excelen-te espaço para ampliar os debates sobre aslições aprendidas ao longo do processo efortalecer a participação dos atores locais noprocesso de gestão social.

45Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

Neste capítulo será abordado os seguin-tes temas:

§ A importância do Monitoramento eAvaliação Participativa no processo de de-senvolvimento territorial.

§ As escalas do monitoramento no de-senvolvimento territorial.

§ Metodologia PIM - Monitoramentoe Avaliação de Impactos - aplicado ao De-senvolvimento Territorial.

§ Exercício para o desenho de umaproposta de monitoramento e avaliação.

5.1 - A importância do monitoramen-to e avaliação participativos no pro-cesso de Desenvolvimento Territorial

Como já foi mencionado, o macro-processo de controle social diz respei-to ao monitoramento e avaliação e é res-ponsável pela identificação dos resultadose impactos e formulação de medidas deaperfeiçoamento. O monitoramento é oacompanhamento sistemático das açõespasso a passo e está mais relacionado aoandamento das etapas/atividades em si. Jáa avaliação verifica o alcance dos objetivos,sejam os produtos executados que viabili-zem o alcance desses objetivos, sejam

as alterações na situação-problema apósas intervenções.

Lamentavelmente, as atividades de moni-toramento e avaliação, em geral, são negli-genciadas tanto por facilitadores(as) quantopelas lideranças que coordenam processos dedesenvolvimento. Por isso, enfatizamos queessa etapa é tão importante quanto a planifi-cação e a organização, pois é através dela quese avança no processo de gestão social, ouseja, os s agricultore e agricultoras e suas li-deranças podem exercitar o controle social,através da disponibilização e análise críticadas informações sobre as atividades do pro-cesso, sobre os resultados alcançados, sobreos projetos em andamento e sobre que im-pacto estão obtendo com todo esse esforço.

É através do monitoramento e avaliaçãoque se reiniciam os ciclos da gestão, ou seja,antigos e novos atores são mobilizados paradiscutir e refletir sobre as ações; identificaro que pode ser redirecionado ou aperfeiço-ado. Isso ajuda a se otimizar o uso dos re-cursos e a se tomar as melhores decisões.Nesse processo, novos projetos surgem,constituindo-se em um ciclo contínuo e per-manente de intervenção para transformaçãoda realidade com sustentabilidade.

As pessoas podem aprender a realizarmelhor a gestão dos projetos e processos

5. O MONITORAMENTO E AAVALIAÇÃO NO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

46Ministério do

Desenvolvimento Agrário

de desenvolvimento uma vez que o moni-toramento promove o processo de reflexãosobre o modo de fazer para alcançar os ob-jetivos desejados.

É preciso reconhecer que o ciclo da ges-tão é cumulativo e processual e que é possí-vel, desde o início da construção do Planode Desenvolvimento Territorial Rural Sus-tentável (PDTRS) começar a visualizar asbases e mecanismos para a gestão do planoe projetos.

Desde a fase do diagnóstico, devem-sebuscar as informações para a análise da re-alidade, na perspectiva de que serão neces-sárias para o monitoramento e avaliaçãoposterior. Trata-se do já mencionado mar-co-zero, ou ponto de partida referencial, apartir do qual as mudanças serão observa-das, em especial, os impactos na vida dosagricultores e agricultoras e suas comuni-dades. Também na fase de planificaçãodeve-se pensar o que se espera mudar darealidade e como é possível medir o im-pacto das ações. Nesse momento, já é pos-sível identificar indicadores de avaliação eos meios de verificação.

5.2 - As Escalas do Monitoramento noDesenvolvimento Territorial

A gestão social do desenvolvimento ter-ritorial exige um processo adequado de con-trole social que se dá em duas escalas dife-rentes:

Monitoramento e Avaliação do Desen-volvimento Territorial

Monitoramento e Avaliação de Progra-mas e Projetos Específicos

O Monitoramento e Avaliação do De-senvolvimento Territorial

Trata do processo de DesenvolvimentoTerritorial rural sustentável no nível do terri-tório, ou seja, do processo de auto-organiza-ção e da avaliação de resultados de impactono território. Vale ressaltar que a SDT está re-comendando o uso de ferramentas de cons-trução participativa de indicadores no nível dosterritórios. Isso significa que são os atores so-ciais de cada território sob a coordenação dasinstâncias colegiadas para o desenvolvimentoterritorial que definem as variáveis/pontos decontrole que desejam acompanhar, a partir desuas expectativas e receios. Isso implica moni-torar e acompanhar o desenvolvimento do ter-ritório através de indicadores mais agregados.Normalmente não se detecta qual ator, pro-grama ou projeto tem maior ou menor contri-buição no desempenho do indicador, mas con-segue-se analisar o desempenho agregado àdinâmica do desenvolvimento territorial.

As instâncias colegiadas ou arranjos ins-titucionais para o desenvolvimento territo-rial, como parte da rede de órgãos colegia-dos, têm o papel de acompanhar o desem-penho do Plano Territorial de Desenvolvimen-to Rural Sustentável na escala territorial.

É através dessas instâncias que se dá o con-trole social sobre o uso dos recursos públicose a implementação de determinada políticapública. Assim, o monitoramento e avaliação,através das instâncias Colegiadas para desen-

47Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

volvimento territorial, podem servir de instru-mento de transparência para o controle social.

Para tanto, o Núcleo Técnico – NT - e oNúcleo Diretivo – ND - dessas Instânciasdevem ser capacitados para estarem alinha-dos conceitualmente quanto ao significado,importância e metodologia de Monitora-mento e Avaliação do DesenvolvimentoTerritorial e projetos dentro do PTDRS.

O Monitoramento e Avaliação de progra-mas e projetos específicos oriundos doPTDRS, os quais requerem definição de indi-cadores mais específicos, a partir dos resulta-dos esperados desses programas e projetos.

A SDT/MDA recomenda a utilização deuma metodologia de monitoramento e ava-liação chamada PIM - Monitoramento eAvaliação de Impacto.

Os atores do território podem iniciar oprocesso de aprendizagem sobre o controlesocial do desenvolvimento territoria cons-truindo pequenos sistemas de Monitora-mento e Avaliação para projetos específi-cos, a partir dos arranjos Institucionais quese formam para apoiar a gestão desses pro-jetos. Dessa forma, vão construindo a suacompetência avaliativa, de modo a, posteri-ormente, evoluírem para a construção de umsistema de monitoramento do desenvolvi-mento territorial a partir do Plano Territo-rial de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Desse modo, os atores envolvidos na ges-tão dos projetos vão exercitando o proces-so de definição de objetivos do monitora-

mento e avaliação, negociação dos interes-ses, expectativas dos envolvidos, elaboraçãode perguntas avaliativas e de indicadores,coleta, análise e comunicação dos resulta-dos, exercitando todas as etapas da elabora-ção e implementação de um processo deMonitoramento e Avaliação Participativos.

Apresenta-se-à agora a metodologia PIMcomo um exemplo de metodologia a ser uti-lizada, além das demais citadas em capítuloanterior, considerando que ela se apresentacomo uma ferramenta prática e de fácil uti-lização em processos de monitoramentoparticipativo.

5.3 - Monitoramento e Avaliação deImpacto Aplicada ao DesenvolvimentoTerritorial – Metodologia PIM

A metodologia PIM foi desenvolvidacomo alternativa aos processos tradicio-nais de monitoramento e avaliação, umavez que não pressupõe a necessidade deuma boa documentação de planejamento,nem o adiamento da reflexão para umaavaliação posterior, como é de costume.Quantos projetos se acabam ou ficam ina-cabados sem que tenha havido qualquerreflexão sobre eles!

A PIM pode ser utilizada para monitora-ção de impactos no grupo (organizações deagricultores(as)) ou para monitorar impac-tos nas organizações que apóiam projetosvoltados para os agricultores e agricultoras.

No caso do Plano Territorial de Desen-volvimento Rural Sustentável – PTDRS –

48Ministério do

Desenvolvimento Agrário

essa metodologia pode ser utilizada para tra-balhar o monitoramento e avaliação do pro-cesso de desenvolvimento territorial juntoaos membros das Instâncias Colegiadas ouArranjos Institucionais para o Desenvolvi-mento territorial (nível do território), bemcomo para o monitoramento e avaliação deprojetos específicos, mais relacionados auma organização de agricultores(as) em ní-vel de projeto, a partir dos arranjos institu-cionais.

Levando em conta as recomendações daPIM e adaptando-as ao processo de desen-volvimento territorial, pode-se distinguir trêstipos de organizações na promoção do de-senvolvimento rural:

1. Grupos e organizações deagricultores(as) (GRUPOS).

2. Organizações de apoio aos grupos aci-ma (ONG).

3. Agências de fomento ou financiadores/doadores (AFS), inclusive a SDT.

Cada uma delas vê um conjunto de pro-blemas que tentarão resolver através de umconjunto de atividades. Cada organização (ouatores) tem o seu próprio “projeto”, mas ainterface comum é o acordo de projeto, ou seja,o PTDRS, pactuado através das instânciascolegiadas ou arranjos Institucionais para odesenvolvimento territorial.

Por exemplo, a SDT “quer em todo país ofortalecimento institucional dos agricultores fami-liares na gestão do desenvolvimento territorial sus-

tentável e integrar políticas públicas nos territóri-os”. Os agricultores e agricultoras e suasorganizações querem vender mais e melhora sua produção. Uma ONG quer que osagricultores utilizem tecnologias sustentá-veis na produção de alimentos e melhorema venda de produtos agroecológicos. As-sim a estratégia de desenvolvimento ruralfoi pactuada a partir do desenvolvimentoda agroecologia, começando com dois pro-jetos: cursos em Agroecologia e processa-mento de alimentos naturais e central deacondicionamento e comercialização dealimentos agroecológicos.

Cada uma dessas organizações está in-teressada no monitoramento e na gestãodo “seu” projeto, com pontos de vistas di-ferentes. Os GRUPOS estão interessadosna melhoria palpável de sua renda (impac-to técnico-econômico e podem quereraprender mais sobre agroecologia e comer-cialização (impacto sociocultural). Todaviaaspectos relacionados com a capacidade deconstrução coletiva em geral não serãomencionados explicitamente, embora algu-mas lideranças reconheçam a necessidadedo seu fortalecimento institucional ao as-sociar com as possibilidades de impactostécnico-econômicos.

Por outro lado, os(as) produtores(as) ru-rais e as ONGs estão interessados(as) nosefeitos a longo prazo da sua assistência.Querem oferecer ajuda para a melhoriaimediata da renda, mas sabem que essesprojetos só têm sustentabilidade se osGRUPOS ampliarem suas capacidades emlongo prazo, sendo que a ONG ambienta-

49Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

lista está mais preocupada com o uso detecnologia apropriada e a agricultura fami-liar com a capacidade de agir e cooperardas pessoas. Nesse exemplo, temos pers-pectivas não coincidentes, porém não con-traditórias, havendo uma sobreposição depropósitos a explorar. Em outros casos podeaté haver perspectivas contraditórias.

Para decidir o que se quer avaliar, a me-todologia PIM, através de uma pergunta sim-ples, consegue captar essas intenções que,posteriormente, se transformarão em indi-cadores: “considerando seus interesses e experiên-cias, que expectativas e receios você têm em relaçãoao Programa X em relação ao projeto Y?”

Os parceiros cooperantes são muito di-ferentes. Possuem quantidades diferentes dedinheiro e poder ou têm diferentes estrutu-ras educacionais, sociais e culturais. Há mui-tos problemas de comunicação. Por isso, ati-tudes participativas são condições préviaspara trabalhar a metodologia PIM.

A participação, neste contexto, significaque cada grupo (ator) é autônomo na suatomada de decisões e que pode haver acordonuma base de cooperação. O resultado será aação conjunta. Sabe-se que a participação nãoacontece naturalmente. Daí a necessidade dese utilizar instrumentos de gestão participa-tiva, criando uma ambiência para a aprendi-zagem dos(as) envolvidos. Atitudes partici-pativas podem ser também aprendidas.

Em se tratando de monitoramento/ava-liação, cada grupo (ator) terá necessidade defazer a sua reflexão periódica através da se-

qüência ação-reflexão-ação já familiar detodos nós. Entretanto, é necessário momen-tos de avaliação conjuntos, com troca deinformações e reflexão participativa.

“Participação não significa apenas to-mar parte numa atividade conjunta”. Sig-nifica mais: deveria haver uma conces-são contínua de poder aos grupos deagricultores(as) familiares, a par de uma con-tínua cessão de poder por parte das ONGse das agências de fomento como a secreta-ria de desenvolvimento territorial. Da mes-ma forma, isso implica também aumentode poder nas ONGs e das Instâncias cole-giadas ou arranjos Institucionais para o de-senvolvimento territorial face às agências defomento e outros parceiros.

Já foi dito dissemos que, um primeiro pas-so importante é discutir o que se quer mo-nitorar e avaliar (indicadores de avaliação deprocesso, de resultados e de impacto). E maisque isso, deve ser feito de forma participativalevando em conta os sentimentos (expectati-vas e receios) que o processo de desenvolvi-mento territorial e/ou um projeto específicocausam para os diferentes grupos/atores. To-dos os grupos (atores) têm suas intenções asquais representam objetivos informais, que, naprática, orientam as atividades de cada ator. Asexpectativas de mudança subjetivas são muitasvezes mais determinantes que os objetivos for-malmente pactuados. O famoso “iceberg” mos-tra apenas 1/7 da organização e é invisível.

Daí a pergunta: “O que você acha impor-tante observar?” vai ser respondida de formadiferente pelos atores no exemplo anterior:

50Ministério do

Desenvolvimento Agrário

1. Pelas organizações de agricultores: resul-tados concretos na produção e venda, apren-dizagem técnica, acesso a recursos para osprojetos, respeito pessoal.

2. Pela ONG: resultados planejados,aporte de recursos para suas atividades nosprojetos, inovação tecnológica técnica, par-ticipação das bases.

3. Pela Agência de Fomento (SDT): re-sultados planejados, utilização correta dosfinanciamentos, participação das bases, for-talecimento institucional das organizaçõeslocais, aprendizagem na gestão social.

A metodologia PIM sugere que o moni-toramento e avaliação se concentrem maisnas mudanças subjetivamente importantes.Ela faz uma distinção entre:

a) Mudanças (impacto) técnico-econômi-cas, as quais abrangem as alterações físicas,técnicas, econômicas e financeiras e que sãomais fáceis de observar direta ou indireta-mente.

b) Mudanças (impacto) socioculturais, asquais abrangem os processo de aprendiza-gem e as alterações no comportamento enas atitudes, em geral, mais difíceis de ob-servar e medir.

Os dois tipos de impacto estão interas-sociados. Muitas vezes, os indicadores téc-nico-econômicos representam mudanças so-cioculturais. Como a maioria dos sistemasde avaliação convencionais concentra-se nosaspectos técnico-econômicos, a metodolo-

gia PIM sugere que o monitoramento e ava-liação dêem ênfase aos impactos sociocul-turais, ou seja, aos processos de aprendiza-gem, alterações de comportamentos e deatitudes. Se os processos de aprendizagemforem desconhecidos, a contribuição que asorganizações dos agricultores(as) e ONGsprestaram é subestimada. A monitoraçãodos impactos socioculturais trará não ape-nas reconhecimento e apreço exteriores, mastambém aumentará a auto-estima dos ato-res envolvidos, seja nos grupos seja nasONGs.

Além de participativa a avaliação deveter um caráter pró-ativo, positivo e não pu-nitivo. Se uma avaliação for bem organiza-da e executada, torna-se um processo deaprendizagem social, comunitária, profissi-onal, metodológica e estratégica; por isso,constitui um instrumento pedagógico po-deroso.

A despeito dos visíveis benefícios ofere-cidos por esses diferentes métodos de mo-nitoramento e avaliação para melhorar ossistemas de gestão de programas, projetosou Instâncias colegiadas ou arranjos insti-tucionais para o desenvolvimento territori-al, nem sempre as condições encontradasnos projetos, nos sistemas de organizaçãodos grupos e/ou nas estruturas das institui-ções envolvidas propiciam o desenvolvimen-to pleno deles. É preciso inovar e dar “asas”à criatividade para ajustá-los às situações nãoideais. Além disso, a construção de um sis-tema de monitoramento eficiente nem sem-pre conta com apenas um método de refe-rência. A experiência revela que a combina-

51Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

ção de dois ou mais métodos se mostra maisinteressante do ponto de vista operacionale metodológico com resultados claramentevantajosos. Essas vantagens podem ser ain-da maiores quando se ousa combinar méto-dos participativos com métodos mais con-vencionais, como ZOOP e o Marco Lógi-co, considerando a complementaridade desuas especificidades e qualidades próprias.

5.4 Exercício prático para o desenhode uma proposta de monitoramento eavaliação de um projeto

A seguir, será apresentado orientaçõespráticas para construção do sistema de mo-nitoramento em uma oficina de monitora-mento e avaliação de um projeto:

1. Resgatar o histórico do projeto. O(as)facilitador(a) pode nivelar os demais partici-pantes sobre como foi identificado esse pro-jeto dentro da estratégia do desenvolvimen-to territorial, descrever o Projeto (objetivos emetas) e em que fase ele está no momento.

2. Quem deve participar do Monitora-mento e Avaliação desse projeto? Em espe-cial da coordenação desse processo? Quaisos atores do Território mais relacionadoscom o projeto? Em geral, serão aqueles queestão envolvidos no “Arranjo Institucional”para sua implementação.

3. Discutir os princípios da avaliação par-ticipativa. Lembrar que os atores são diver-sos e têm interesses específicos, a importân-cia do monitoramento e avaliação para to-dos, quais os objetivos da avaliação.

4. Para a construção dos indicadores eda sistemática de avaliação:

§ O que deveria ser observado nomonitoramento e avaliação desse Proje-to? Levantar as expectativas e receios dosparticipantes quanto às mudanças (impac-to) possíveis de ocorrer com esse projeto.Para fins de facilitação, poder-se-ia segmen-tar em dois tipos de mudança: i)técnico-fi-nanceira (mais diretas e tangíveis) eii)mudança na aprendizagem/atitudes (indi-retas e intangíveis).

§ Como isso pode ser observado? Aresposta a essa pergunta pode ser utilizadacomo uma aproximação de indicadores demonitoramento/avaliação do projeto e mei-os de verificação. Pactue com o grupo a se-leção daqueles indicadores mais relevantese viáveis.

§ Quem deveria observar essas ocor-rências e fatos? Quais serão os responsá-veis pela coleta de dados.

§ Como pode se documentar e dis-cutir esses resultados? Qual o formatodas informações: relatório? Tabelas? (instru-mento específico?). Que informações vãopara quem e quando? (sistemática de moni-toramento e avaliação futura desse Projeto)

5.5 Para a execução do Monitoramen-to e Avaliação subseqüente, as pergun-tas geradoras serão:

§ O que observamos? (que mudanças/impactos podemos observar com as infor-

52Ministério do

Desenvolvimento Agrário

mações que temos?). São os relatórios noinício das oficinas.

§ Por que é que obtivemos esses resul-tados? Análise das causas/razões.

§ O que deveríamos fazer? (para corrigirfalhas e melhorar). Tomar decisões imedia-tas ou reorientações.

Há concepções de controle e de partici-pação social que enfatizam, sobretudo opapel de fiscalização nelas envolvido. Porém,é desejável que os agentes sociais e o poderpúblico estabeleçam modalidades participa-tivas em todas as etapas que envolvem umapolítica pública no desenvolvimento terri-torial local. Trata-se mesmo de criar um am-biente marcado pela fluidez de informaçãoe o comprometimento com as ações pactu-adas, de maneira a se ter permanente avalia-ção e controle sobre os rumos do projetodo território. Além da informação, é preci-so materializar esta perspectiva em um sis-tema de monitoramento para o qual essasavaliações permanentes possam ser canali-zadas transformando-se em insumos parao contínuo aprimoramento das definiçõestomadas.

Por isso, uma primeira característica deque o processo de monitoramento e avalia-ção deve se revestir é ter um caráter per-manente e retroalimentador do ciclo degestão social das ações territoriais. Essa éuma condição para que a prática da avalia-ção seja incorporada de fato ao processo,para que ela seja valorizada pelos agenteslocais, coisa que raramente acontece quan-

do ela se dá somente ao final do processo,quando em geral o comprometimento doplano já está demasiadamente adiantado paraque sejam introduzidas inovações capazesde corrigir o rumo adotado. Por isso, moni-toramento e avaliação são dois instru-mentos complementares e indissociá-veis.

Uma segunda característica desejada,como tem sido enfatizado, é o caráter emi-nentemente participativo que o monito-ramento e avaliação requerem. É natural queos agentes locais e também os representan-tes do poder público extralocal se sintammais sensibilizados por resultados de moni-toramento e avaliação que se apóiam emexpectativas e indicadores previamente dis-cutidos com esses mesmos agentes. Destamaneira, se evita o questionamento posteri-or sobre pressupostos e dimensões tratadasna avaliação e se aumenta o nível de com-prometimento dos agentes com os resulta-dos obtidos.

O papel fundamental das práticas demonitoramento e avaliação é medir a eficiênciae eficácia da implementação das políticas públi-cas subsidiando, permanentemente, a execuçãodo plano. É isso que permite aos agentes doterritório o controle sobre os resultados quegradativamente vão sendo construídos e sobresuas conseqüências. É isso que permite à dire-ção do processo desencadeado promover cor-reções de rumo em tempo de não comprome-ter os esforços envidados.

Sobre a metodologia do monitoramentoe avaliação há uma infinidade de técnicas e

53Referência para a Gestão Socialdos Territórios Rurais

Guia para o Controle Social

procedimentos, cada qual com vantagens edesvantagens. O fundamental é, pois, ob-servar as características desejadas e o obje-tivo dessa ação, tal qual exposto acima. Odetalhamento disso em termos de indicado-res a serem observados deve ser objeto dedebate e definição no âmbito do próprioterritório. É altamente recomendável queaquele mesmo conjunto de agentes que vemparticipando desde a etapa de mobilizaçãoe sensibilização seja chamado também a su-gerir e pactuar dimensões e indicadores aserem cobertos pela prática do monitora-mento e avaliação.

Uma dessas dimensões pode ser umaauto-avaliação da atuação da própria insti-tucionalidade territorial (CIAT, CODE-TER), se ela é representativa, legítima, se teminfluenciado políticas públicas, se está fun-cionando de tal forma a fortalecer o pro-cesso de Desenvolvimento Territorial.

Por fim, é recomendável também queessas ações combinem momentos de auto-avaliação, onde os próprios agentes envol-vidos produzem indicadores e refletem so-bre os impactos das ações sobre eles, commomentos onde um olhar externo podeser convidado a dar sua contribuição. Em

geral, este contraste entre auto-avaliaçãoe a avaliação externa é extremamente ricopara mapear problemas e tatear soluçõespara contorná-los.

É preciso ainda, inovar em termos demonitoramento e avaliação do DTRS e dosprojetos financiados pela SDT, na medidaem que se devem introduzir instrumentosparticipativos de monitoramento e avaliaçãode tal forma a avançar na aprendizagem co-letiva para a gestão social do desenvolvimen-to territorial.

Expressão de objetivos informais. A ob-servação continuada desses elementos levaà reflexão e à tomada de decisão e constituinum importante instrumento de autogestão.Observações imprecisas são aceitas e nãose espera a definição de indicadores forma-lizados.

O PIM não constitui em receita, mas emconceito que: (i) propicia quadro simplifi-cado acerca de realidade complexa; (ii) limi-ta-se a número facilmente gerenciável devariáveis; (iii) permite modo organizado eprevisível de procedimentos; (iv) deve seradaptado à situação local; e (iv) deve ser vis-to como processo de aprendizagem.

54Ministério do

Desenvolvimento Agrário

BIBLIOGRAFIACONSULTADA E RECOMENDADA

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56Ministério do

Desenvolvimento Agrário

ANEXO: ALGUMAS METODOLO-GIAS DE MONITORAMENTO EAVALIAÇÃO PARTICIPATIVOS

Segue abaixo uma descrição sucinta sobre os prin-cipais métodos participativos de monitoramento eavaliação, destacando suas principais características:

I. O Diagnóstico, Monitoramento e Ava-liação Participativos (DSEP)

II. O Mapeamento Analítico, Reflexivo eParticipativo da Sustentabilidade (MARP)

III. A Metodologia de Avaliação de Sis-temas de Manejo Incorporando Indicado-res de Sustentabilidade (MESMIS)

IV. A Análise Socioeconômica e deGênero (ASEG)

V. Auto-Avaliação Participativa

VI. O Sistema de DesenvolvimentoLocal (SISDEL)

VII. O Monitoramento e Avaliação deEstratégias de Vida

VIII. Monitoramento de Processos

IX. Monitoramento e avaliação deimpacto (PIM)

I. Diagnóstico, Monitoramento e Ava-liação Participativos (DSEP)

O Diagnóstico, Monitoramento e Ava-liação Participativos (DSEP) é uma me-

todologia elaborada pela FAO que pres-supõe que a sustentabilidade dos projetosdepende, em grande medida, das capaci-dades das comunidades locais de analisare explicitar os seus objetivos e interesses.Para isso, há necessidade de apoiar e for-talecer as atitudes analíticas dos seus inte-grantes para que eles próprios possam le-vantar suas próprias questões e respon-dê-las e, assim, estar em “pé de igualda-de” para dialogar e negociar seus pontosde vista e interesses no monitoramentocom os extensionistas, ONGs, governo,centros de pesquisa e financiadores. ODSEP utiliza, com bastante ênfase, as téc-nicas e ferramentas propostas pelo DRPem todas as fases do monitoramento.

II. Mapeamento Analítico, Reflexivoe Participativo da Sustentabilidade(MARP)

O Mapeamento Analítico, Reflexivo eParticipativo da Sustentabilidade (MARP)é uma metodologia de monitoramento eavaliação desenvolvida pela UICN (UniãoInternacional para Conservação da Natu-reza) voltada para processos não planeja-dos com forte ênfase nos processos deação e reflexão. Essa metodologia privile-gia a análise integrada e sistemática docontexto do projeto e das instituições en-volvidas no monitoramento. Utiliza, pre-ferencialmente, a técnica de elaboração demapas participativos para obter uma vi-são geral da região geográfica na qual seinsere o projeto. Como o MARP é um mé-todo eficiente para a compreensão inte-gral do contexto dos projetos, ele tem sido

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Guia para o Controle Social

usado, em alguns casos, para construir a“árvore de problemas e hipóteses”, favo-recendo, assim, o uso combinado do Mar-co Lógico1.

III. Metodologia de Avaliação deSistemas de Manejo IncorporandoIndicadores de Sustentabilidade(MESMIS)

A Metodologia de Avaliação de Sistemasde Manejo Incorporando Indicadores deSustentabilidade (MESMIS), parte de um en-foque sistêmico que propõe um conjuntode atributos sustentáveis que servem de re-ferência para o monitoramento e avaliaçãode projetos, instâncias Colegiadas ou Arran-jos Institucionais para o DesenvolvimentoTerritorial, como produtividade, estabilida-de, flexibilidade e adaptabilidade, autonomiae eqüidade nas relações, incluindo a dimen-são de gênero. É um excelente método vol-tado para análise de sistemas ecológicos deprodução muito utilizado por ONGs queprestam apoio aos agricultores familiares.

IV. Análise Socioeconômica e deGênero (ASEG)

A Análise Socioeconômica e de Gênero(ASEG) é um método de análise político-institucional que incorpora, de fato, a dimen-são de gênero em todas as fases do monito-ramento, desagregando todos os dados e in-formações por sexo, idade, geração, etnia eoutros parâmetros socioeconômicos. Ape-sar de se constituir em um método mais for-malizado e estruturado que outros, tambémse centra em indicadores produzidos a par-

tir das percepções subjetivas dos diferentesatores sociais a cerca das características cha-ves dos projetos ou programas. Utiliza, pre-ferencialmente, ferramentas convencionaisda pesquisa social, como entrevistas, obser-vação direta e revisão de documentos.

V. Auto-Avaliação Participativa

A Auto-Avaliação Participativa foi desen-volvida pela FAO para analisar os projetose programas onde atua. É um método maisestruturado de avaliação que conta com oi-tenta diferentes variáveis e indicadores divi-didos em cinco categorias de análise (ges-tão, econômico, técnico, financeiro, institu-cional) que devem ser selecionadas pelosgrupos locais e organizações de apoio, con-siderando as metas específicas do projeto eas situações e contextos locais. A idéia éconstruir dois sistemas relativamente inde-pendentes de monitoramento e avaliação,um voltado para os grupos locais e outropara a organização de apoio, que se dialo-gam e se influenciam, em momentos espe-cíficos. Essa estratégia permite que haja umaautonomia dos grupos locais em relação àorganização de apoio, reforçando, assim, suacapacidade analítica e de negociação.

VI. Sistema de DesenvolvimentoLocal (SISDEL)

O Sistema de Desenvolvimento Local(SISDEL) constitui-se em um métodonovo que tem sido proposto por uma ONGequatoriana, tendo como base o métodode auto-avaliação “Marcos do Desenvolvi-mento de Base”, desenvolvido no início da

58Ministério do

Desenvolvimento Agrário

década de 90, pela Fundação Interameri-cana. Na prática, o SISDEL é um proces-so colaborativo de auto-reflexão, envolven-do grupos e organizações em uma mesmaárea geográfica. O foco de atenção do mé-todo recai sobre os produtos e resultadose não sobre as atividades dos projetos. Osresultados são enfocados a partir de doistipos (tangível e não-tangível) e de três ní-veis (benefícios diretos para a vida dos be-neficiários, fortalecimento institucional eefeitos mais gerais, como mudanças nasatitudes, políticas, leis, etc.), cuja combina-ção cria seis variáveis chaves de impactoque orientam a formulação dos indicado-res específicos.

VII. O Monitoramento e Avaliaçãode Estratégias de Vida

O Monitoramento e Avaliação de Estra-tégias de Vida foi desenvolvido pelo DFIDpara avaliar e monitorar os impactos provo-cados por um determinado projeto ou pro-grama nas estratégias de vida das popula-ções rurais envolvidas. Há uma preocupa-ção constante em vincular os resultados eos impactos esperados e não esperados comos contextos mais amplos em que se inse-rem os beneficiários do projeto, identifican-do as relações de causa e efeito. Os indica-dores são definidos de forma negociada eaberta para medir e avaliar as mudanças po-sitivas e negativas, em termos de tendência,em relação ao acesso aos recursos, às estru-turas e relações institucionais e aos váriosaspectos da estratégia de vida. São utiliza-das ferramentas e técnicas do DRP -Diag-nóstico rápido participativo.

VIII. Monitoramento de Processos

Monitoramento de Processos foi desen-volvido pela GTZ no âmbito do projetoPiloto “Auto-ajuda no Manejo de RecursosNaturais”. É um método específico paraanalisar os diferentes processos e aspectosde programas e projetos de cooperação téc-nica, voltados para o manejo de recursos na-turais. O Monitoramento de Processo cen-tra a atenção em seis campos de observa-ção: (i) distribuição de tarefas e responsabi-lidades entre atores sociais; (ii) conhecimen-tos e habilidades aprendidas e compartilha-das entre os atores; (iii) níveis de aportes econtrapartidas; (iv) cooperação e coordena-ção de atividades; (v) conflitos em relaçãoao uso e acesso aos recursos; (v) estratégiasde ação, concepções e expectativas. Para cadaum desses campos são definidos os objeti-vos do monitoramento, os indicadores, osinstrumentos, os métodos, as aplicações eos resultados esperados.

IX. Monitoramento e avaliação deimpacto (PIM)

Monitoramento e Avaliação de Impacto éum instrumento de reflexão e aprendizagempara melhorar as atividades de um projetoconsiderando as diferentes fases do seu ciclode gestão. Tem como principal foco a avalia-ção objetiva e subjetiva dos impactos promo-vidos por projetos de desenvolvimento so-bre os recursos naturais, considerando os as-pectos econômicos, sociais, institucionais eambientais. Está estruturado em seis passos:(i) análise dos atores sociais envolvidos; (ii)análise dos problemas; (iii) formulação das

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Guia para o Controle Social

hipóteses de impacto; (iv) seleção dos indi-cadores de impacto; (v) desenvolvimento eaplicação de métodos de monitoramento dosimpactos e (vi) avaliação dos impactos.

Monitoramento Participativo de Impac-to (PIM, sigla em inglês) foi desenvolvidopela Agência de Cooperação Alemã (GTZ)em meados dos anos 90 e divulgado no Bra-sil pela agência alemã Pão Para o Mundo.Foi concebido como um instrumento para“projetos de auto-ajuda”, conduzidos porgrupos e instituições de base, como associ-ações, pequenas cooperativas, conselhos,comitês ou grupos de trabalho e/ou porONGs que trabalham com projetos de de-senvolvimento.

A metodologia PIM é estruturada paraser utilizada em ambientes com alto grau deinformalidade e baixo uso de instrumentosde gestão não formalizados (projetos, pla-nos, relatórios). Embora seja um sistema deavaliação que não está baseado em métodosde planejamento, é orientado por objetivos.

Seus indicadores são definidos a partir demotivações e de preocupações subjetivasexpressas pelos grupos envolvidos em rela-ção às mudanças provocadas pelo projetoou Instâncias Colegiadas ou Arranjos Insti-tucionais para o Desenvolvimento Territo-rial em questão, que nada mais são que aexpressão de objetivos informais. A obser-vação continuada desses elementos leva àreflexão e à tomada de decisão e constituinum importante instrumento de autogestão.

Obsevações imprecisas são aceitas e nãose espera a definição de indicadores forma-lizados.

O PIM não constitui em receita, mas emconceito que: (i) propcia quadro simplifica-do acerca de realidade complexa; (ii) limita-se a número facilmente gerenciável de vari-áveis; (iii) permite modo organizado e pre-visível de procedimentos; (iv) deve ser adap-tado à situação local; e (iv) deve ser vistocomo processo de aprendizagem.