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DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 45 Definições O Ministério do Esporte – denominação do atual do órgão político administrativo federal gestor das políticas públicas de esporte e de lazer – foi criado através da Medida Provisória n o 103, de primeiro de janeiro de 2003, e estruturado formalmente pelo Decreto 4.668, de 9 de abril de 2003. O governo federal definiu como missão do Ministério do Esporte-ME a promoção do “acesso ao esporte e ao lazer, formulando e operacionalizando políticas públicas sintonizadas com a perspectiva do desenvolvimento nacional e humano”. Ou seja, sua tarefa é proporcionar o acesso de todos a atividades esportivas e de lazer, como parte do compromisso do governo de reduzir – quando não eliminar – o quadro de injustiças, exclusão e vulnerabilidade social que aflige boa parte da população brasileira. Tendo como referência o princípio de que o Esporte é direito social garantido constitucionalmente e pelo dever do Estado de regulamentar e de promover o esporte, com prioridade para suas manifestações educacionais, o Governo Federal entendeu ser correto tratar estes setores e suas políticas como “questão de Estado”. Já em 2003, foi dado início à implantação de uma Política Nacional de Esporte, com mudança de conceito e foco na inclusão social. Milhões de pessoas são atendidas por programas sócio- esportivos. Estão sendo definidas novas fontes de financiamento em todos os níveis de esporte. O Brasil tem colhido bons resultados em competições internacionais. E o país tem avançado na organização do futebol. Origens “E além do rio andavam muitos deles, dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos”. Este é um dos trechos em que Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei D. Manuel, relata o comportamento dos índios encontrados aqui pelos portugueses, em 1.500. Ele fala de lutas, danças e brincadeiras dos primeiros habitantes do Brasil. O jogo de bola dos índios parecis, a corrida de tora e outras formas de esporte praticadas ainda hoje por várias etnias indígenas por certo antecedem ao Descobrimento. Cada uma dessas atividades com seu significado próprio na cultura dos que a praticam milenarmente. E passaram a conviver com outras práticas, introduzidas pelos europeus, em forma de danças, ritmos, jogos e lutas. Outras vieram com os escravos trazidos da África. E tantas mais nasceram aqui, como frutos dessa mistura e da necessidade de se criar formas de convivência ou de sobrevivência. A capoeira é um exemplo. É uma dança/luta que nasceu nas senzalas, sob a batida melódica do berimbau, um instrumento musical brasileiro. E gerou um esporte, hoje difundido mundo afora. No mundo inteiro, a trajetória do esporte se confunde com a história das sociedades – e não seria diferente no Brasil. Com maior ou menor interferência do sistema de poder vigente. Na Inglaterra, por exemplo, um tipo de jogo de bola que é tido como antecessor do futebol ficou proibido por quase 400 anos (de 1314 a 1681). Mas nunca deixou de ser jogado. Aqui, em muitos momentos, jogos e lutas esportivas também foram proibidos, mas não deixaram de existir. De todo modo, a história do esporte nos tempos modernos se confunde, em grande parte, com a presença do Estado brasileiro nessas questões. Pode ser constatada na própria evolução da organização social e política do País. Em especial, aquela construída já a partir da segunda década do século passado, quando o Brasil deixava o modelo agrário de então e se organizava no molde da industrialização capitalista. Essa mudança foi responsável maior pelo processo de urbanização vivido pela sociedade brasileira ao longo do século XX. Se tínhamos no início daquele século 9,40% de nossa população vivendo em cidades, já em meados de 1940 éramos 31,24%, chegando a expressivos 81,23% na sua última década. Desde meados do século XIX, porém, a elite brasileira tinha nas Ministério do Esporte AGNELO QUEIROZ Ministro do Esporte - Organização e supervisão do capítulo / Minister of Sport Ministry of Sport The Ministério do Esporte-ME (Ministry of Sport) was established in Brazil in 1995, but it only became an independent Ministry in 2003, when it left the control of other federal government agencies and ministries. At its very beginning, the most prominent federal agency that dealt with the sports area belonged at different hierarchical levels within the structure of the Ministry of Education through the years since 1937. These federal agencies that preceded the ME were in charge of the federal legislation in the sports area and promoted sports projects located in municipalities and states, besides some international initiatives. After 2003, the ME has been encouraging access to sport and to leisure, formulating and putting into practice public policies related to the perspective of national and human development as part of the government plan to reduce and eliminate, when possible, injustice, exclusion and the social vulnerability that affects part of the Brazilian population. In this sense, this chapter presents the intervention programs of the ME in the Four-Year Plan (see Tables below), especially detailing the period 2004 – 2007, which was formulated during the current Federal Government. This chapter also includes a summary of the directions to be followed by the very first public policy for sports in the country as a whole. This national policy was established after a survey done on a consulting basis, which included 83,000 people in 873 municipalities, 26 states and the Federal District. Therefore, not only the whole society was represented in this system of participation but also the sports and leisure sectors, which confirmed that the main focus of the ME to be put into practice is social inclusion. ‘atividades físicas’, nos moldes europeus, um valioso instrumento para a execução do seu projeto de eugenização (aperfeiçoamento da raça humana) e higienização (melhoria das condições de higiene e saúde) da sociedade brasileira. Antes até, por influência dos Jesuítas já haviam sido introduzidos alguns jogos de largo uso na Europa. Mas, é do século XIX um dos principais determinantes da relação paradigmática da educação física com a ‘aptidão física’, que durou mais de um século. As cidades, por sua vez, passaram a exigir dos governantes a construção de políticas públicas que respondessem aos enormes desafios dos cada vez maiores aglomerados urbanos. A recreação dos operários das fábricas e do restante da população incorporava essas práticas esportivas e corporais, inclusive como parte de uma estratégia para melhorar a produtividade. Já na virada do século XIX para o XX, com a abolição da escravatura e com a chegada do futebol ao Brasil (1894), os esportes já haviam fugido dos recintos fechados. O negro liberto, mas sem terras nem empregos, buscava trabalho e ocupação do tempo nas cidades. Teve contato com o futebol como serviçal nos clubes. Modalidade de poucas regras e barata de se praticar, o futebol caiu no gosto popular. Habituado às danças, às lutas e longas andanças, o negro impôs seu gingado e criou uma nova forma de jogar o futebol. Ainda que meio às escondidas e sem participar de competições oficiais, nos primeiros anos, o negro difundiu amplamente o futebol entre nós. Mantinha-se, porém, a idéia do esporte como gerador de saúde, reconhecida quase que exclusivamente em sua dimensão bio-fisiológica. Entretanto, foi só no período do Estado Novo (1937- 1945) que o governo brasileiro passou a interferir mais diretamente no esporte. A Constituição de 1937 já definia a capacitação física dos trabalhadores como finalidade do esporte. Mas, havia também o interesse político, de relacionar o esporte com o espírito cívico- patriótico, em especial no reforço à aliança capital-trabalho que norteava o governo do então presidente Getúlio Vargas. E, em 1941, o Decreto-lei 3.199 se propunha a disciplinar, na expressão usada, o esporte. Foi ali que nasceu o Conselho Nacional dos Desportos-CND, que era para ser regulador, mas que, na prática, acabou como gestor da atividade esportiva no Brasil. Essa intervenção governamental sobreviveu ao fim do Estado Novo e a outras mudanças políticas. Durou 34 anos. Quando essa legislação foi alterada, pela Lei 6.251 de 1975, durante o regime militar, foram mantidas basicamente as mesmas diretrizes e princípios orientadores do documento de 1941. Foi criada a Política Nacional de Educação Física e Esporte, mantendo a ‘aptidão física’ como base conceitual para as políticas públicas desse setor. Assim, Educação Física e Esporte continuaram confundidos com educação do físico, educação do corpo, do seu rendimento físico-esportivo. Portanto, simulacros da ordem da produtividade, eficiência e eficácia inerente ao modelo de sociedade no qual a brasileira encontrava identificação. Mais do que nunca, nesse período o esporte passou a ser usado como instrumento de poder, de clientelismo, de benefício pessoal, características que ainda sobrevivem em certa escala. Já o referencial histórico-social possibilitou a superação desse entendimento por um outro onde o preceito de saúde tem um significado mais amplo, de qualidade social de vida, do esporte como prática social e expressão da nossa cultura. Essa é uma visão secular, mas que ganhou força a partir de 1980, primeiro nos meios acadêmicos, depois entre gestores do esporte e do lazer e, hoje, pode-se dizer que é amplamente difundida no Brasil. A legislação criada na década de 1970, por sua vez, foi substituída por outra, com a promulgação da Constituição brasileira de 05 de outubro de 1988, que recebeu o apelido de ‘Constituição Cidadã’. Com a nova Carta, o esporte passou a ser tratado como “direito de cada um” e deu-se autonomia às entidades e associações esportivas. Era o rompimento da tutela do Estado sobre o esporte brasileiro. Surge, então, um novo conjunto de leis, constituído pela ‘Lei Zico’ (Lei 8672/93 e Decreto 981/93), alterada pela ‘Lei Pelé’ (Lei 9615/ 98 e Decreto 2574/98), que propõem princípios e diretrizes para a organização e funcionamento das entidades esportivas. Essas leis promoveram mudanças, principalmente nas questões do futebol. Entretanto, alvo de pressões de setores envolvidos, a Lei Pelé foi alterada pela Lei 9981/00, conhecida como Lei Maguito Vilela. Em vários momentos, o Congresso Nacional colocou em pauta o debate sobre o esporte. Um deles foi ainda em 1983, quando a Comissão de Esporte e Turismo da Câmara Federal realizou um ciclo de debates denominado ‘Panorama do Esporte Brasileiro’. Outro, nos de 2000, 2001 e 2002, por parte da Comissão de Educação, Cultura e Desporto. Raramente, porém, a sociedade foi convocada a debater. Também nesse período, duas Comissões Parlamentares de Inquérito, uma no Senado (CPI do Futebol) e outra na Câmara (CPI CBF/NIKE), deram trato a assuntos pertinentes ao esporte, em particular ao Futebol. Trouxeram conclusões indicativas de graves problemas na estrutura esportiva nacional, encaminhando esses resultados ao Ministério Público e à Justiça. Na esfera do Executivo, algumas iniciativas foram tomadas no sentido da formulação de propostas mais abrangentes para o esporte. A principal delas foi, sem dúvida, a criação da Câmara Setorial do Esporte que, em agosto de 2001, apresentou uma proposta de política nacional de esporte. Ainda no âmbito Legislativo, leis importantes foram aprovadas, a saber: Lei 10.264/01 (Lei Agnelo/Piva), que destina 2% das loterias federais aos comitês Olímpico e Paraolímpico; Lei 3826/00, um projeto de autoria do deputado federal Agnelo Queiroz (PC do B/ DF), que institui a Bolsa-Atleta, uma ajuda financeira para que atletas carentes possam treinar; Lei 10.671/03 (Estatuto do Torcedor), que dá ao torcedor a condição de consumidor e estabelece regras para o procedimento dos clubes, donos de estádios, dirigentes e dos próprios torcedores; e a Lei 10.672/03 (Moralização dos Clubes), que fixa regras de transparência aos clubes e dirigentes. Encontra-se, ainda, em tramitação na Câmara dos Deputados o projeto de lei 4.874/01 (Estatuto do Desporto), proposto no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o contrato de patrocínio firmado entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a empresa Nike. Este projeto tem por objetivo concentrar em um único diploma legal todo o ordenamento jurídico esportivo. Uma súmula dos atos legais relacionados com o esporte em âmbito federal segue na Tabela 1, apresentando a situação atual de cada um deles a partir de 1939. No concernente às origens do Ministério de Esporte, o marco histórico da criação do CND em 1941 - resultado do trabalho da Comissão Nacional de Desportos, instituída pelo Decreto n. 1.056 de 17 de abril de 1939 - reveste-se de importância em face a que deu início à institucionalização do esporte no Brasil, de acordo com João Lyra Filho. O CND, embora não possa ser caracterizado como uma estrutura político-administrativa propriamente dita – fiscalizava, orientava e incentivava a prática desportiva, porém não executava qualquer política -, administrou o esporte no Brasil até a criação do Departamento de Desportos vinculado ao Ministério da Educação e Cultura-MEC, em 1970. É senso-comum na literatura

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DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 45

Definições O Ministério do Esporte – denominação do atual doórgão político administrativo federal gestor das políticas públicasde esporte e de lazer – foi criado através da Medida Provisória no

103, de primeiro de janeiro de 2003, e estruturado formalmentepelo Decreto 4.668, de 9 de abril de 2003. O governo federal definiucomo missão do Ministério do Esporte-ME a promoção do “acessoao esporte e ao lazer, formulando e operacionalizando políticaspúblicas sintonizadas com a perspectiva do desenvolvimentonacional e humano”. Ou seja, sua tarefa é proporcionar o acesso detodos a atividades esportivas e de lazer, como parte do compromissodo governo de reduzir – quando não eliminar – o quadro de injustiças,exclusão e vulnerabilidade social que aflige boa parte da populaçãobrasileira. Tendo como referência o princípio de que o Esporte édireito social garantido constitucionalmente e pelo dever do Estadode regulamentar e de promover o esporte, com prioridade parasuas manifestações educacionais, o Governo Federal entendeu sercorreto tratar estes setores e suas políticas como “questão deEstado”. Já em 2003, foi dado início à implantação de uma PolíticaNacional de Esporte, com mudança de conceito e foco na inclusãosocial. Milhões de pessoas são atendidas por programas sócio-esportivos. Estão sendo definidas novas fontes de financiamentoem todos os níveis de esporte. O Brasil tem colhido bons resultadosem competições internacionais. E o país tem avançado naorganização do futebol.

Origens “E além do rio andavam muitos deles, dançando efolgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos”. Esteé um dos trechos em que Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao reiD. Manuel, relata o comportamento dos índios encontrados aquipelos portugueses, em 1.500. Ele fala de lutas, danças e brincadeirasdos primeiros habitantes do Brasil. O jogo de bola dos índios parecis,a corrida de tora e outras formas de esporte praticadas ainda hojepor várias etnias indígenas por certo antecedem ao Descobrimento.Cada uma dessas atividades com seu significado próprio na culturados que a praticam milenarmente. E passaram a conviver comoutras práticas, introduzidas pelos europeus, em forma de danças,ritmos, jogos e lutas. Outras vieram com os escravos trazidos daÁfrica. E tantas mais nasceram aqui, como frutos dessa mistura eda necessidade de se criar formas de convivência ou desobrevivência. A capoeira é um exemplo. É uma dança/luta quenasceu nas senzalas, sob a batida melódica do berimbau, uminstrumento musical brasileiro. E gerou um esporte, hoje difundidomundo afora. No mundo inteiro, a trajetória do esporte se confundecom a história das sociedades – e não seria diferente no Brasil.Com maior ou menor interferência do sistema de poder vigente. NaInglaterra, por exemplo, um tipo de jogo de bola que é tido comoantecessor do futebol ficou proibido por quase 400 anos (de 1314 a1681). Mas nunca deixou de ser jogado. Aqui, em muitos momentos,jogos e lutas esportivas também foram proibidos, mas não deixaramde existir. De todo modo, a história do esporte nos tempos modernosse confunde, em grande parte, com a presença do Estado brasileironessas questões. Pode ser constatada na própria evolução daorganização social e política do País. Em especial, aquela construídajá a partir da segunda década do século passado, quando o Brasildeixava o modelo agrário de então e se organizava no molde daindustrialização capitalista. Essa mudança foi responsável maiorpelo processo de urbanização vivido pela sociedade brasileira aolongo do século XX. Se tínhamos no início daquele século 9,40% denossa população vivendo em cidades, já em meados de 1940 éramos31,24%, chegando a expressivos 81,23% na sua última década.Desde meados do século XIX, porém, a elite brasileira tinha nas

Ministério do Esporte

AGNELO QUEIROZ

Ministro do Esporte - Organização e supervisão do capítulo / Minister of Sport

Ministry of Sport

The Ministério do Esporte-ME (Ministry of Sport) was established

in Brazil in 1995, but it only became an independent Ministry in

2003, when it left the control of other federal government agencies

and ministries. At its very beginning, the most prominent federal

agency that dealt with the sports area belonged at different

hierarchical levels within the structure of the Ministry of Education

through the years since 1937. These federal agencies that

preceded the ME were in charge of the federal legislation in the

sports area and promoted sports projects located in municipalities

and states, besides some international initiatives. After 2003,

the ME has been encouraging access to sport and to leisure,

formulating and putting into practice public policies related to the

perspective of national and human development as part of the

government plan to reduce and eliminate, when possible, injustice,

exclusion and the social vulnerability that affects part of the

Brazilian population. In this sense, this chapter presents the

intervention programs of the ME in the Four-Year Plan (see Tables

below), especially detailing the period 2004 – 2007, which was

formulated during the current Federal Government. This chapter

also includes a summary of the directions to be followed by the

very first public policy for sports in the country as a whole. This

national policy was established after a survey done on a consulting

basis, which included 83,000 people in 873 municipalities, 26

states and the Federal District. Therefore, not only the whole

society was represented in this system of participation but also

the sports and leisure sectors, which confirmed that the main

focus of the ME to be put into practice is social inclusion.

‘atividades físicas’, nos moldes europeus, um valioso instrumentopara a execução do seu projeto de eugenização (aperfeiçoamentoda raça humana) e higienização (melhoria das condições de higienee saúde) da sociedade brasileira. Antes até, por influência dosJesuítas já haviam sido introduzidos alguns jogos de largo uso naEuropa. Mas, é do século XIX um dos principais determinantes darelação paradigmática da educação física com a ‘aptidão física’,que durou mais de um século.

As cidades, por sua vez, passaram a exigir dos governantes aconstrução de políticas públicas que respondessem aos enormesdesafios dos cada vez maiores aglomerados urbanos. A recreaçãodos operários das fábricas e do restante da população incorporavaessas práticas esportivas e corporais, inclusive como parte de umaestratégia para melhorar a produtividade.

Já na virada do século XIX para o XX, com a abolição da escravaturae com a chegada do futebol ao Brasil (1894), os esportes já haviamfugido dos recintos fechados. O negro liberto, mas sem terras nemempregos, buscava trabalho e ocupação do tempo nas cidades.Teve contato com o futebol como serviçal nos clubes. Modalidadede poucas regras e barata de se praticar, o futebol caiu no gostopopular. Habituado às danças, às lutas e longas andanças, o negroimpôs seu gingado e criou uma nova forma de jogar o futebol.Ainda que meio às escondidas e sem participar de competiçõesoficiais, nos primeiros anos, o negro difundiu amplamente o futebolentre nós. Mantinha-se, porém, a idéia do esporte como gerador desaúde, reconhecida quase que exclusivamente em sua dimensãobio-fisiológica. Entretanto, foi só no período do Estado Novo (1937-1945) que o governo brasileiro passou a interferir mais diretamenteno esporte. A Constituição de 1937 já definia a capacitação físicados trabalhadores como finalidade do esporte. Mas, havia tambémo interesse político, de relacionar o esporte com o espírito cívico-patriótico, em especial no reforço à aliança capital-trabalho quenorteava o governo do então presidente Getúlio Vargas. E, em1941, o Decreto-lei 3.199 se propunha a disciplinar, na expressãousada, o esporte. Foi ali que nasceu o Conselho Nacional dosDesportos-CND, que era para ser regulador, mas que, na prática,acabou como gestor da atividade esportiva no Brasil. Essaintervenção governamental sobreviveu ao fim do Estado Novo e aoutras mudanças políticas. Durou 34 anos.

Quando essa legislação foi alterada, pela Lei 6.251 de 1975, duranteo regime militar, foram mantidas basicamente as mesmas diretrizese princípios orientadores do documento de 1941. Foi criada a PolíticaNacional de Educação Física e Esporte, mantendo a ‘aptidão física’como base conceitual para as políticas públicas desse setor. Assim,Educação Física e Esporte continuaram confundidos com educaçãodo físico, educação do corpo, do seu rendimento físico-esportivo.Portanto, simulacros da ordem da produtividade, eficiência eeficácia inerente ao modelo de sociedade no qual a brasileiraencontrava identificação. Mais do que nunca, nesse período o esportepassou a ser usado como instrumento de poder, de clientelismo, debenefício pessoal, características que ainda sobrevivem em certaescala. Já o referencial histórico-social possibilitou a superaçãodesse entendimento por um outro onde o preceito de saúde tem umsignificado mais amplo, de qualidade social de vida, do esportecomo prática social e expressão da nossa cultura. Essa é uma visãosecular, mas que ganhou força a partir de 1980, primeiro nos meiosacadêmicos, depois entre gestores do esporte e do lazer e, hoje,pode-se dizer que é amplamente difundida no Brasil. A legislaçãocriada na década de 1970, por sua vez, foi substituída por outra,

com a promulgação da Constituição brasileira de 05 de outubro de1988, que recebeu o apelido de ‘Constituição Cidadã’. Com a novaCarta, o esporte passou a ser tratado como “direito de cada um” edeu-se autonomia às entidades e associações esportivas. Era orompimento da tutela do Estado sobre o esporte brasileiro.

Surge, então, um novo conjunto de leis, constituído pela ‘Lei Zico’(Lei 8672/93 e Decreto 981/93), alterada pela ‘Lei Pelé’ (Lei 9615/98 e Decreto 2574/98), que propõem princípios e diretrizes para aorganização e funcionamento das entidades esportivas. Essas leispromoveram mudanças, principalmente nas questões do futebol.Entretanto, alvo de pressões de setores envolvidos, a Lei Pelé foialterada pela Lei 9981/00, conhecida como Lei Maguito Vilela.Em vários momentos, o Congresso Nacional colocou em pauta odebate sobre o esporte. Um deles foi ainda em 1983, quando aComissão de Esporte e Turismo da Câmara Federal realizou umciclo de debates denominado ‘Panorama do Esporte Brasileiro’.Outro, nos de 2000, 2001 e 2002, por parte da Comissão deEducação, Cultura e Desporto. Raramente, porém, a sociedade foiconvocada a debater. Também nesse período, duas ComissõesParlamentares de Inquérito, uma no Senado (CPI do Futebol) eoutra na Câmara (CPI CBF/NIKE), deram trato a assuntospertinentes ao esporte, em particular ao Futebol. Trouxeramconclusões indicativas de graves problemas na estrutura esportivanacional, encaminhando esses resultados ao Ministério Público e àJustiça. Na esfera do Executivo, algumas iniciativas foram tomadasno sentido da formulação de propostas mais abrangentes para oesporte. A principal delas foi, sem dúvida, a criação da CâmaraSetorial do Esporte que, em agosto de 2001, apresentou umaproposta de política nacional de esporte.

Ainda no âmbito Legislativo, leis importantes foram aprovadas, asaber: Lei 10.264/01 (Lei Agnelo/Piva), que destina 2% das loteriasfederais aos comitês Olímpico e Paraolímpico; Lei 3826/00, umprojeto de autoria do deputado federal Agnelo Queiroz (PC do B/DF), que institui a Bolsa-Atleta, uma ajuda financeira para queatletas carentes possam treinar; Lei 10.671/03 (Estatuto doTorcedor), que dá ao torcedor a condição de consumidor e estabeleceregras para o procedimento dos clubes, donos de estádios, dirigentese dos próprios torcedores; e a Lei 10.672/03 (Moralização dosClubes), que fixa regras de transparência aos clubes e dirigentes.Encontra-se, ainda, em tramitação na Câmara dos Deputados oprojeto de lei 4.874/01 (Estatuto do Desporto), proposto norelatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) queinvestigou o contrato de patrocínio firmado entre a ConfederaçãoBrasileira de Futebol (CBF) e a empresa Nike. Este projeto tem porobjetivo concentrar em um único diploma legal todo o ordenamentojurídico esportivo. Uma súmula dos atos legais relacionados com oesporte em âmbito federal segue na Tabela 1, apresentando asituação atual de cada um deles a partir de 1939.

No concernente às origens do Ministério de Esporte, o marcohistórico da criação do CND em 1941 - resultado do trabalho daComissão Nacional de Desportos, instituída pelo Decreto n. 1.056de 17 de abril de 1939 - reveste-se de importância em face a quedeu início à institucionalização do esporte no Brasil, de acordo comJoão Lyra Filho. O CND, embora não possa ser caracterizado comouma estrutura político-administrativa propriamente dita –fiscalizava, orientava e incentivava a prática desportiva, porém nãoexecutava qualquer política -, administrou o esporte no Brasil até acriação do Departamento de Desportos vinculado ao Ministério daEducação e Cultura-MEC, em 1970. É senso-comum na literatura

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especializada que, até a constitucionalização do esporte em 1988,a partir da promulgação da Constituição Federal em 5 de outubrodeste ano, pouca coisa mudou no setor esportivo nacional. Mesmotendo surgido novas estruturas político administrativas para gerir oesporte a partir de 1970, somente após 5 anos de promulgada anova Constituição que uma lei infra-constitucional é formuladapara normatizar o esporte no Brasil, elaborada e aprovada naCâmara Federal, rompendo com mais de cinqüenta anos de domínioexclusivo do Poder Executivo no setor. Porém, é apenas no governodo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o esporte adquireimportância suficiente para merecer uma estrutura político-administrativa específica. O Ministério do Esporte-ME é criadopela primeira Medida Provisória do Governo Lula, em primeiro dejaneiro de 2003. A estrutura organizacional do ME é definida quatromeses depois e passa a contar, além da estrutura de gabinete doministro, quatro secretarias: uma responsável pelas atividadesmeios do ME – a Secretaria Executiva -, e três responsáveis pelasatividades fim do ME – a Secretaria Nacional de Desenvolvimentodo Esporte e do Lazer - SNDEL; a Secretaria Nacional de EsporteEducacional – SNEED; e, por fim, a Secretaria Nacional de Esportede Alto Rendimento – SNEAR. A Tabela 2 resume a evolução dosprincipais órgãos federais de esporte, listando seus dirigentes eperíodos no exercício na função. Em adição a este inventário,expõem-se em ordem cronológica os principais fatos de memóriarelacionados com este dirigentes, com a Tabela 3 finalmente listandoos presidentes do Conselho Nacional de Desportos e órgãoequivalentes que lhe sucederam.

1937 A história institucional da Educação Física no plano federaldo Brasil teve início neste ano, quando por intermédio da lei nº378, de 23/01/37, foi criada a Divisão de Educação Física doMinistério da Saúde e da Educação–DEF/MSE , que teve comodiretores, respectivamente: João Leite, Cornélio Caio Mario deNoronha Miranda, Alfredo Colombo, Antônio Pires de Castro Filho,Cornélio Genival de Freitas e Artur Orlando da Costa Ferreira .

1970 Com a inclusão da Educação Física e do Desporto, porintermédio do decreto N 66.967 de 27/07/70, a divisão foitransformada em Departamento de Educação Física e Desporto doMinistério da Educação e Cultura–DED/MEC, que teve comodiretores : Eric Tinoco Marques e Osny Vasconcellos .

1978 Na seqüência, por decreto nº 81.454, de 17/03/78, veio atransformação do Departamento de Educação Física e Desporto-DED em secretarias de Educação Física e Desporto do Ministériode Educação e Cultura–SEED /MEC, que permaneceu atuandoaté 1989, e teve como secretário: Péricles de Souza Cavalcanti –15/03/79 a 15/02/85 – (ministro Eduardo Mattos Portela, ministroRubens Carlos Ludwig e ministra Ésther de Figueiredo Ferras),Bruno Luiz Ribeiro da Silveira – 18 /03/85 a 15/02/87 – (ministroMarcos Antonio da Oliveira Maciel) , Manoel Jose Gomes Tubino –16/02/87 a 08/04/87 – Julio Cezar – 09/04/87 a 21/12/87(ministro Jorge Konder Bornhausen), Alfredo Alberto Leal Nunes06/01/88 a 21/02/89 (ministro Hugo Napoleão do Rego Neto) epor último Manoel Jose Gomes Tubino - março de 1989 a dezembrode 1989 – acumulado com a presidência do Conselho Nacional deDesporto (ministro Carlos Correia de Menezes Sant’Anna) .

1990 Com a entrada do presidente Fernando Collor de Melo, porintermédio do decreto nº 99.187, de 17/03/90, a SEED/MEC éextinta e dá lugar a Secretaria de Desportos da Presidência daRepublica–SEDES/PR, cujo primeiro secretário foi o ex-atletaArthur Antunes Coimbra (Zico) – março de 1990 a abril de 1991 -que após pedido de exoneração foi substituído em 1991 por outroex-atleta Bernard Rajzman – abril de 1991 a outubro de 1992 ;

1992 Em outubro, como o impeachment do presidente FernandoCollor de Melo, a Secretaria de Desporto-SEDES perde o vínculocom a Presidência da República e retorna ao Ministério da Educação(Murilo Hingel) , sendo nomeado como Secretário, Marcio Baroukelde Souza Braga - novembro de 1992 a agosto de 1994 - que foisubstituído pelo Marco André da Costa Berenguer – agosto de1994 a janeiro de 1995.

1995 Com a entrada do presidente Fernando Henrique Cardoso,pela Medida Provisória número 813, de 01/01/1995, foi criado ocargo de Ministro de Estado Extraordinário dos Esportes, sendonomeado o ex-atleta Edson Arantes do Nascimento (Pelé), cabendoà Secretaria de Desporto do Ministério da Educação e do DesportoSEDES/MEC (ministro Paulo Renato de Souza), ainda sob a chefia

de Marcos André da Costa Berenguer, prestar o apoio técnico eadministrativo necessário ao seu desempenho.

1995 A SEDES /MEC, por intermédio da medida Provisória nº962, de 30 /03/95, é transformada em Instituto Nacional deDesenvolvimento do Desporto–INDESP, que é desvinculado doMEC e passa a ser subordinado ao Ministro de EstadoExtraordinário dos Esportes, tendo como primeiro presidenteJoaquim Ignácio Cardoso Filho – janeiro de 1995 a dezembro de1997, Ruthênio de Aguiar (interino) – dezembro de 1997 a abril de1998 e Luiz Filipe Cavalcante de Albuquerque – abril de 1998 ajunho de 1999.

1998 O ministro Edson Arantes do Nascimento (Pelé) sai doGoverno e o INDESP volta a ter vinculação com o Ministério daEducação e do Desporto–MEC (ministro Paulo Renato de Souza).

1999 Com a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardosofoi criado o Ministério do Esporte e Turismo e o INDESP passa afazer parte de sua estrutura, tendo como ministro o deputadofederal Rafael Grecca e como presidente do INDESP, o professorManoel Jose Gomes Tubino – junho de 1999 a outubro de 1999,que após a sua exoneração foi sucedido por Augusto Carlos Garciade Viveiros outubro de 1999 a outubro de 2000. Com a saída doministro Rafael Grecca, foi nomeado para o seu lugar, pelo decretode 05/05/2000, o deputado federal Carlos Carmo Andrade Melles.

2000 O INDESP é extinto em seu lugar é criada a SecretariaNacional de Esporte, na estrutura do Ministério do Esporte eTurismo (ministro Carlos Carmo Andrade Melles), cujo primeirosecretário foi José Otavio Germano - nomeado em dezembro de2000. Este se exonerou em 12 fevereiro de 2001, ato contínuo foinomeado Secretário, o esportista Lars Schmidt Grael (fevereiro de2001 a janeiro de 2003).

2002 O ministro Carlos Carmo Andrade Melles pede exoneraçãodo cargo e, em abril de 2002, Luiz de Carvalho foi nomeado pelodecreto de 02/04/2002, para substituí-lo, tendo permanecido atéo fim do governo, em 31 de dezembro deste ano.

2003 Com o presidente José Inácio Lula da Silva, o Ministério doEsporte e Turismo foi transformado em Ministério do Esporte, tendonomeado para o cargo de ministro o deputado federal Agnelo SantosQueiroz Filho e pelo decreto de 13/01/2003 , como secretárionacional de esporte, Orlando Silva de Jesus Junior.

2003 Em 09/04/2003, o decreto número 4.668 institui a EstruturaRegimental e o quadro de Cargo e Funções do Ministério do Esporte,que passa a contar com três secretarias fim, a saber: a SecretariaNacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer, para a qual foinomeado, em 12/05 /2003 Lino Castellani Filho; a SecretariaNacional de Esporte de Alto Rendimento, para a qual foi nomeadaem 22/05/2003 a ex-atleta Maria Paula Gonçalves da Silva, aMagic Paula; e a Secretaria Nacional de Esporte Educacional, paraa qual foi designado Orlando Silva de Jesus Júnior, que havia sidonomeado em 13/06/3003, como Secretário Nacional de Esporte eteve sua nomeação apostilada em 06/06/2003. Em 24/10/2003,aSecretária Nacional de Esporte de Alto Rendimento, Maria PaulaGonçalves da Silva, pediu a demissão do cargo que ocupava e foisubstituída, interinamente, na mesma data por André Almeida daCunha Arantes, diretor de Esporte de Base e de Alto Rendimento,da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento. Em 19/11/2003, Orlando Silva de Jesus Junior, que havia sido nomeadoem 13/01/2003, como Secretário Nacional de Esporte e teve suanomeação apostilada em 06/06/2003, como Secretário Nacionalde Esporte Educacional, foi nomeado secretário-executivo doMinistério do Esporte, sendo conseqüentemente exonerado do cargoque exercia anteriormente. Em 28/11/2003, Ricardo LeyserGonçalves, foi nomeado secretário nacional de Esporte Educacional,em Substituição a Orlando Silva de Jesus Junior. Em 2/12/2003,André Almeida da Cunha Arantes, foi efetivado como secretárionacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.

Situação atual O relato da atualidade do Ministério do Esporteé ora exposto por seus programas e ações, segundo o enfoque daspolíticas públicas de esporte. A partir do ano de 1996, as políticaspúblicas no Governo Federal passaram a ser traduzidas emprogramas. Segundo o art. 3 do Projeto de Lei de DiretrizesOrçamentárias de 2003 (PLDO – 2003), entende-se por programao instrumento de organização da atuação governamental visando àconcretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por

indicadores estabelecidos no Plano Plurianual-PPA. A definição de“programa” é introduzida a partir do projeto de lei para o orçamentofederal de 2000. A definição de programa está intimamente ligadaà identificação e à solução de problemas ou ao atendimento deuma necessidade ou demanda da sociedade. Portanto, programa“é o instrumento de organização da atuação governamental. Articulaum conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum pré-estabelecido, mensurado por indicadores divulgados no planoplurianual, visando a solução de um problema ou ao atendimentode uma necessidade ou demanda da sociedade (MPOG, SOF,Manual Técnico de Orçamento, 1992, p.14).” Um programa podeser classificado em três tipos: 1. programas finalísticos, “são aquelesque resultam em bens e serviços ofertados diretamente àsociedade”; 2. programas de gestão de políticas públicas, “abrangemas ações de gestão de governo e serão compostos de atividades deplanejamento, orçamento, controle interno, sistemas de informaçãoe diagnóstico de suporte à formulação, coordenação, supervisão,avaliação e divulgação de políticas públicas”; 3. programas deserviço de Estado, “são os que resultam em bens e serviços ofertadosdiretamente ao Estado, por meio de instituições criadas para essefim específico (idem, p. 14-5).” Um programa pode conter açõesque envolvem diferentes áreas de atuação do governo, envolvendodiversos ministérios, sendo que aquela predominante é que definiráem que função o programa será classificado. As ações dosprogramas governamentais também são categorizadas em três tipos:projetos, atividades e operações especiais. Um projeto é “uminstrumento de programação para alcançar o objetivo de umprograma, envolvendo um conjunto de operações, limitadas notempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansãoou aperfeiçoamento da ação do governo (Portaria n. 42/99 doMinistério do Planejamento, Orçamento e Gestão).” Uma atividade“é um instrumento de programação para se alcançar o objetivo deum programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizamde modo contínuo e permanente, das quais resulta um produtonecessário à manutenção da ação do governo (idem).” OperaçõesEspeciais “são ações que não contribuem para a manutenção dasações de governo, das quais não resulta um produto e não geramcontraprestação direta sob forma de bens e serviços” (MPOG,SOF, Manual Técnico de Orçamento,1992, p.16).

O PPA 1996 – 1999 foi desenvolvido pelo INDESP conforme mostraa Tabela 4. Como destaque citam-se as ações previstas no ProgramaDesporto Amador deste estágio que visavam ao fomento do esportesocial, com ampla repercussão social e educacional, sendo dotadasde mecanismos eficazes para o incentivo e desenvolvimento doesporte nas comunidades que contemplam sobretudo as crianças eadolescentes carentes, além dos portadores de deficiência física eatletas em geral.

No PPA 2000 – 2003, destacam-se os programas Esporte Solidário,Esporte na Escola e Brasil Potência Esportiva (Tabela 5). O ProgramaEsporte Solidário objetivava diminuir a situação de exclusão deidosos acima de 60 anos e de jovens e adolescentes carentes nafaixa etária de 7 a 17 anos pela intensificação da prática desportiva.Entre suas principais ações podem ser citadas: 1. Apoio a projetosesportivos sociais para a infância e adolescência, com finalidadede garantir apoio à disponibilização de espaços físicos destinadosa ações esportivas e sociais voltadas a socialização de crianças eadolescentes; 2. Promoção de eventos esportivos de identidadecultural e criação nacional, com por finalidade de resgatar práticasesportivas de tradição histórica, fazendo com que sejam cultuadase cultivadas como formas vivas, e proporcionar condições básicaspara que cada indivíduo e cada comunidade possam ativar seuimaginário lúdico com criatividade e liberdade; 3. Funcionamentode núcleos de esporte em comunidades carentes, com finalidadede possibilitar o desenvolvimento de atividades físico-desportivas,integradas com reforço escolar para crianças e adolescentes e deeducação para a saúde, arte e meio-ambiente, contribuindo para amelhoria da qualidade de vida e difusão da informação econhecimento da prática esportiva; o Programa Brasil PotênciaEsportiva foi criado para melhorar o desempenho do atleta derendimento brasileiro em competições nacionais e internacionais epromover a imagem do País no exterior.No PPA 2004 – 2007,pormenorizado na Tabela 6, podem ser destacados quatroprogramas: Esporte e Lazer da Cidade, Segundo Tempo, Rumo aoPan, Inserção Social pela Produção de Material Esportivo e Gestãodas Políticas de Esporte e de Lazer. Entretanto, o plano de ação doMinistério do Esporte abarca um conjunto de medidas que estãoprovocando uma verdadeira revolução neste setor. A começar pela

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 47

realização da 1ª Conferência Nacional do Esporte, cuja fase finalocorreu de 17 a 20 de junho de 2004, em Brasília. Em verdade, jáfoi dado início à implantação de uma Política Nacional de Esporte,com mudança de conceito e foco na inclusão social. Milhões depessoas são atendidas por programas sócio-esportivos. Estão sendodefinidas novas fontes de financiamento em todos os níveis deesporte. Há uma política permanente para o alto rendimento. E háavanços na organização do futebol. Na área do Esporte Social asações são as que se seguem por programa.

Segundo Tempo Já no início do segundo semestre de 2004 foiatingida a meta de um milhão de crianças atendidas por esteprograma, que é elogiado por organismos internacionais e atraiparceiros entre empresários, ONGs e o sistema “S” (SESI, SENAI,SESC e SENAC). Ao criar um turno a mais na escola, com reforçoalimentar, reforço escolar e material esportivo, sem novosinvestimentos em infra-estrutura, o programa viabiliza o ensinointegral a um custo de R$ 25,00 por criança/mês. Ao alcançar estameta, o “Segundo Tempo” se transformou no maior programa social-esportivo do mundo. As metas estabelecidas para o programaSegundo Tempo para o ano de 2004 são atingir: 1 milhão de criançase adolescentes atendidos; 2.300 professores em processo decapacitação (especialização); 3.500 estagiários em processo decapacitação (extensão); 3.500 bolsas estagiário/monitordistribuídas no país; mais de 600 municípios beneficiados; 26Unidades da Federação e Distrito Federal beneficiados.

Pintando a Liberdade O programa, que produz material esportivo nasprisões para distribuição à rede pública de ensino, está consolidado,com 62 unidades em produção. Em 2004, em parceria com a Petrobrás,serão criadas 30 novas fábricas em comunidades carentes, gerando 9mil empregos e duplicando a produção de material. Com o ProgramaPrimeiro Emprego, serão criadas até junho-2004 dez novas unidades,empregando 500 jovens, em caráter piloto.

Esporte e Lazer da Cidade É um programa que busca garantiro acesso de toda a população a atividades esportivas e de lazer, numaação junto aos municípios. Com o Ministério da Saúde, será utilizadaa estrutura do SUS e do Programa Saúde da Família para incentivar aprática esportiva e de lazer. As metas do programa Esporte e Lazer daCidade, propostas para o ano de 2004, é a de mobilizar 715 milpessoas em 572 núcleos de Esporte e Lazer, gerando 3.813 postos detrabalho e atingindo a marca de 58 milhões de atendimentos.

Conferência Nacional do EsporteCarta de Brasília (ver abaixo).Ouvidoria Em janeiro de 2004, foi implantada a Ouvidoria doMinistério do Esporte.

Fóruns estaduais São mantidas reuniões periódicas do Fórumde Secretários Estaduais de Esporte, que funciona como órgãoconsultivo do Ministério.

Conselho Nacional de Esportes Revitalizado, este conselho passaa ter papel importante como órgão consultivo nas decisões doMinistério.

Diagnóstico Começou a ser realizado, com o IBGE, o primeiroDiagnóstico do Esporte no Brasil desde 1971.

Jogos nacionais Cinco importantes eventos esportivosnacionais já têm suas datas marcadas: da Juventude, Escolares,Universitários, Indígenas e dos Esportes de Aventura

Nova Loteria A “Timemania” é uma nova loteria destinada aalocar recursos para o futebol brasileiro. Significará, desde logo, osaneamento financeiro dos clubes. Com os recursos auferidos osclubes poderão fazer algo que, de outro modo, é visível que nuncaconseguirão: quitar suas dívidas com a Previdência e com a ReceitaFederal. Serão 80 clubes beneficiados (dois de cada unidade dafederação, mais os de melhor desempenho nas diversas regiões).O projeto da “Timemania” foi elaborado sob a coordenação técnicada Caixa Econômica Federal.

Conanda O Fundo Nacional da Criança e do Adolescente passaráa ser importante fonte para o Esporte. Os empresários serãoatraídos para esse mecanismo, destinando contribuições paraentidades (ONGs, clubes, federações etc).

Bolsa-Atleta Esta bolsa significará um enorme avanço para oesporte de rendimento no Brasil. O atleta carente, e que nãodisponha de patrocínio, receberá um valor mensal (entre 340 e2.400 reais) para poder se dedicar ao esporte de maneira digna eeficaz. O Ministério do Esporte tem previsão orçamentária paraatender ao programa já em 2005, e promoverá o acompanhamentomensal do rendimento de cada atleta beneficiado, estabelecendoassim uma avaliação periódica.

Emenda do Orçamento para 2004R$ 10 milhões.Olimpíadas de Atenas Os recursos previstos em lei, mais aquelesque, com o empenho do governo, foram obtidos com patrocinadores,garantem um alto nível técnico aos atletas brasileiros que participamdas Olimpíadas, em agosto de 2004. O mesmo ocorre com os queparticipam da Para-Olimpíada. Dia 13 de junho de 2004, chegou aoBrasil (Rio de Janeiro) a Tocha Olímpica, num grande evento.

Pan 2007 Estão em andamento as obras de infra-estruturapara os Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Ostrabalhos são coordenados por uma comissão interministerial,que atua em conjunto com os governos do Estado e do Municípioe o Comitê Olímpico Brasileiro-COB. Uma das principais obrasé a Vila Olímpica, que está sendo construída com financiamentoda Caixa Econômica Federal-CEF. A vila conterá 25 edifícios,com 2.000 apartamentos, no bairro Barra da Tijuca, no Rio, eabrigará os 8.240 atletas do Pan-2007. Após os jogos, osapartamentos serão vendidos a particulares, sistema usadocom sucesso nas olimpíadas de Barcelona, em 1992, e deSydney, em 2000. A obra vai gerar 5.400 empregos diretos e16.200 indiretos. Após o Pan, 7.200 pessoas continuarãoempregadas no novo bairro.

Centros e Alto Rendimento Aproveitando estruturais jáexistentes, com poucos investimentos estão sendo implantadosos Centros de Alto Rendimento de São Paulo-SP, Goiânia-GOe Manaus-AM, este já inaugurado. Eles serão referênciasregionais para os esportes olímpicos. Um quarto centro serácriado no Nordeste.

Cooperação internacional África: em Moçambique e emAngola serão implantadas fábricas do Pintando a Liberdade. Emambos, também, dar-se-á apoio técnico para implantação deprogramas nos moldes do Segundo Tempo. Negociações avançamtambém com São Tomé e Príncipe; Cuba: consolida-se em 2004 oacordo firmando com Cuba, que prevê apoio técnico cubano para oAlto Rendimento no Brasil, e do Brasil para o futebol cubano;Rússia, Canadá e China: também com esses países estão sendoimplementados acordos similares do de Cuba; Uruguai e Paraguai:com tecnologia brasileira estão sendo implantadas fábricas demateriais esportivos nestes dois países.

Agenda legislativa Estatuto do Esporte: o ME está seempenhando em obter apoios no Congresso para assegurar aaprovação deste Estatuto, que será o marco regulador do setor deesportes no Brasil; Lei de Incentivo: com esta lei, pode-se dizerque a história do esporte brasileiro se divide em duas partes: antese depois dela. É uma antiga reivindicação que unifica o mundo doesporte e terá apoio quase unânime no Congresso Nacional. Terá omérito de atrair o setor privado para o financiamento da atividadeesportiva. Na abertura da 1a. Conferência Nacional do Esporte, opresidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o envio ao Congressode uma proposta de lei de incentivo. A Conferência apoiou a decisãopor unanimidade, e fez constar esse apoiou no seu documentofinal, intitulado “Carta de Brasília”, transcrita adiante.

Futebol Segurança nos Estádios: está sendo criado o ConselhoNacional de Segurança nos Estádios. Uma campanha tem divulgadoa idéia de que 2004 é o ano da Paz nos Estádios; A Força da Lei: OMinistério do Esporte está mobilizando a sociedade para a aplicaçãoplena da lei. Os prazos fixados pelo Estatuto do Torcedor jávenceram e, agora, a lei está em pleno vigor. A estratégia tem sidoa de mobilizar os setores envolvidos para assegurar seucumprimento; Código de Justiça Desportiva: uma comissão dejuristas, criada pelo Ministério do Esporte, elaborou o novo Código,que entrou em vigor dia 1º de janeiro de 2004, como previa oEstatuto do Torcedor.

Conferência Nacional do Esporte A Conferência Nacionaldo Esporte foi criada pelo presidente Lula e regulamentada peloministro do Esporte, Agnelo Queiroz. É um evento inédito na históriado Brasil. Nunca o esporte e o lazer foram temas de debate tãoamplo, propiciando a elaboração de propostas que passaram aservir de referência para as políticas públicas do setor. O documentofinal do encontro resume seus resultados:

Carta de BrasíliaMomento históricoEste 20 de junho de 2004 já é parte importante da história doesporte e lazer brasileiros. Nós, participantes da 1ª ConferênciaNacional do Esporte, com muita alegria em nossos corações, vemosque nossos sonhos começam a virar realidade. Estamos criando ascondições para fazer do esporte e do lazer atividades essenciais navida de todos os brasileiros e brasileiras. A própria realização daConferência já é uma vitória. Jamais em nossa história tivemos,como temos agora, ampla participação da sociedade no processode formulação das políticas públicas para o esporte e o lazer. É umaforte mobilização que se transforma num entendimento nacionalpelo esporte e pelo lazer, num sentido amplo e democrático. Foramquatro dias de debates, deflagrados pelo presidente Luiz InácioLula da Silva em ato no belo Teatro Nacional de Brasília. Vínhamoscom o respaldo de 83 mil pessoas que se mobilizaram em 873municípios, 26 estados e Distrito Federal. Não representamos apenaso chamado segmento de esporte e lazer, mas toda sociedade.Aprovamos a política de esporte e lazer que vem sendo implantada,com foco na inclusão social. Estamos convictos de que é a políticamais adequada para o nosso tempo. O tema “Esporte, Lazer eDesenvolvimento Humano” propiciou um debate amplo sobre todosos aspectos do esporte e lazer. E ficou claro: esta luta não temdonos. É de todos os brasileiros e brasileiras em favor de umasociedade melhor. Desse intenso processo de debates, surgiu avigorosa proposta de criarmos o Sistema Nacional do Esporte eLazer, com eixos em políticas nacionais de gestão participativa econtrole social, de recursos humanos e de financiamento. Será umsistema descentralizado e regionalizado. No campo dofinanciamento, pelo momento em que vivemos, desde logodestacamos nosso apoio à criação de uma Lei de Incentivo aoEsporte e o nosso desejo de rápida aprovação, pelo Senado Federal,da lei que cria a Bolsa-Atleta. Nos recursos humanos, sustentamosque todas as atividades esportivas e de lazer, quando orientadas, osejam por trabalhadores qualificados. Isto, em carátermultiprofissional e multidisciplinar. No controle social, é unânime atese de que a democracia participativa é que deve reger as açõestambém neste campo da vida em nosso país. As teses e propostasresultantes desta Conferência irão referenciar, a partir de agora, aPolítica Nacional de Esporte e Lazer. Brasília, 20 de junho de 2004

Fontes BRASIL. Legislação Desportiva. Brasília: MEC/SEED,s.d.; BRASIL/ME. Balanço Geral da União – ME. Brasília, ME,mimeo, 2003; BRASIL/ME. Mensagem Presidencial – esporte.Brasília, ME, mimeo., 2002; BRASIL/ME. Relatório de Gestão.Brasília, DF, 2003; BRASIL/MEC. Relatório de Gestão. Brasília,DF, 1994; BRASIL/MEC. Relatório de Gestão. Brasília, DF, 1995;BRASIL/MEC. Relatório de Gestão. Brasília, DF, 1996; BRASIL/MEC. Relatório de Gestão. Brasília, DF, 1997; BRASIL/MEC.Relatório de Gestão. Brasília, DF, 1998; BRASIL/MEC. Relatóriode Gestão. Brasília, DF, 1999; BRASIL/MEC. Relatório de Gestão.Brasília, DF, 2000; BRASIL/MEC. Relatório de Gestão. Brasília,DF, 2001; BRASIL/MET. Relatório de Gestão. Brasília, DF, 2002;BRASIL/MPOG/SOF. Manual Técnico de Orçamento MTO – 2002,Brasília, 2001; LINHARES, Meily Assbú. A trajetória política doesporte no Brasil: interesses envolvidos, setores excluídos. Tese deDissertação, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, UFMG,1996; MANHÃES, Eduardo Dias. Política de Esportes no Brasil. 2ed., São Paulo, Paz e Terra, 2002; NOGUEIRA, Marco Aurélio. Aspossibilidades da política: idéias para a reforma democrática doEstado. Paz e Terra, São Paulo, 1998; RESENDE, Fernando e CUNHA,Armando. Contribuintes e Cidadãos: compreendendo o orçamentofederal. Rio de janeiro, Editora FGV, 2002; TUBINO, Manoel. 500anos de legislação esportiva brasileira. Rio de Janeiro, Shape,2002. TUBINO, Manoel. O esporte no Brasil. Rio de Janeiro, Ibrasa,1996; VERONEZ, Luiz Fernando C. As políticas de esporte no Brasilpós Constituição brasileira de 1988: quando o Estado joga a favordo privado. Mimeografado, 2003.

3.48 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Tabela 1 / Table 1

Evolução da Legislação Esportiva BrasileiraBrazilian sports laws at federal level – present conditions

Fonte / source: Senado Federal

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 49

Tabela 2 / Table 2

Dirigentes dos órgãos federais do esporteFederal bodies of sport – directors and governance periods

Fonte / source: Senado Federal

Tabela 3 / Table 3

Presidentes do Conselho Nacional de Desportose órgãos equivalentesPresidents of the National Sports Council (equivalent bodies included)

Fonte / source: Senado Federal

3.50 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Tabela 4 / Table 4

Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto - Plano Plurianual, 1996 – 1999National Institute of Sport Development - Four-year Plan, 1996 - 1999

Fonte / source: SOF

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 51

Tabela 5 / Table 5

Ministério do Esporte - Plano Plurianual, 2000 – 2003Ministry of Sport - Four-year Plan, 2000 - 2003

Fonte / source: SOF/MPOG

3.52 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Tabela 6 / Table 6

Ministério do Esporte - Plano Plurianual, 2004 – 2007Ministry of Sport - Four-year Plan, 2004 - 2007

Fonte / source: Plano Pluri-Anual 2004 – 2007 / Projeto de Lei

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 3. 53

A maior parte das receitas do Orçamento Geral da União – OGU -, (aproximadamente 90%), sãoreceitas vinculadas, isto é, não podem ser utilizadas para financiar despesas diferentes daquelas paraas quais foram criadas. Por outro lado, há um crescimento contínuo de despesas obrigatórias. Essesdois fatores impedem uma flexibilidade que permita um aumento de recursos oriundos do OGU para oesporte. A origem dos recursos públicos e privados para financiar o esporte brasileiro, atualmente, estádefinida na Lei 9615 de 24 de março de 1998, mais conhecida como Lei Pelé. No artigo 56, esta leidetermina que: “art. 56. os recursos necessários ao fomento das práticas desportivas formais e não-formais a que se refere o art. 217 da Constituição Federal serão assegurados em programas de trabalhoespecíficos constantes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,além dos provenientes de: I – fundos desportivos; II – receitas oriundas de concursos de prognósticos;III – doações, patrocínios e legados; IV – prêmios de concursos prognósticos da Loteria EsportivaFederal não reclamados nos prazos regulamentares; V – incentivos fiscais previstos em lei; VI – dois porcento da arrecadação bruta dos concursos prognósticos e loterias federais e similares cuja realizaçãoestiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se este valor do montante destinado aos prêmios; VI –outras fontes. § 1o Do total dos recursos financeiros resultantes do percentual de que trata o inciso VIdo caput, oitenta e cinco por cento serão destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro e quinze por centoao Comitê Paraolímpico Brasileiro, devendo ser observado, em ambos os casos, o conjunto de normasaplicáveis à celebração de convênios pela União. § 2o Dos totais de recursos correspondentes aospercentuais referidos no § 1o , dez por cento deverão ser investidos em desporto escolar e cinco porcento, em desporto universitário. § 3o Os recursos a que se refere o inciso VI do caput.

Orçamento público federal para o esporte Os recursos utilizados para financiar os gastosgovernamentais, distribuídos entre grupos sociais diferenciados ou setores da sociedade civil, comono caso do esporte, são apropriados pelo Estado por intermédio de tributação. Estes recursos compõemo orçamento federal. Compreender o processo de elaboração do orçamento federal é fundamentalpara participar do debate sobre o financiamento do esporte no Brasil. O Orçamento Geral da União(OGU) é uma estimativa de receitas e despesas, cujos números se distribuem entre o OrçamentoFiscal, o da Seguridade Social e o do Investimento das Empresas Estatais (Resende, Fernando eCunha, Armando, 2002, p.21). Embora constituído por valores expressivos (na ordem deaproximadamente um trilhão de reais para 2004), o OGU possui uma série de vinculações de receitas,isto é, “despesas específicas, de acordo com a legislação atual (idem)”. Estes autores chamam aatenção para o fato de que se por um lado “várias das vinculações asseguram recursos indispensáveis

a áreas indiscutivelmente importantes”, por outro lado, “é reduzido o espaço disponível no orçamentopara fazer escolhas que eventualmente impliquem a redefinição de prioridades, quanto à alocação dereceitas Idem, p. 27.” Os autores complementam: “Estas (as receitas) já estão, por assim dizer,‘carimbadas’, restando ao Executivo e ao Legislativo escassa margem de manobra para alterar-lhesa destinação, a menos que introduzam mudanças nos correspondentes dispositivos legais, váriosdeles inscritos na própria Constituição Federal (idem, ibidem)”. Portanto, a fração do orçamentosobre a qual o Executivo e o Legislativo podem deliberar é muito pequena – segundo os autoresaproximadamente apenas 10% do total. Deve-se levar em consideração também que as metas desuperávit fiscal são calculadas sobre este percentual. Daí a dificuldade de aumentar os recursos parao esporte. Isso significaria criar outras fontes, ou seja, criar mais impostos ou re-alocar recursos deoutras áreas. Para além dessas dificuldades, vale lembrar o fato de que o orçamento federal ébaseado em perspectivas de receitas. Mudanças na economia alteram tais perspectivas, obrigando ogoverno a contingenciar recursos. Como decorrência disso há dificuldade de executar o orçamento,sendo que os recursos originalmente destinados a este ou aquele setor dificilmente são utilizados emtoda a sua extensão.

O financiamento do esporte no BrasilThe funding of sports in Brazil

Recursos Públicos e Privados para o Esporte: FontesPublic and private funds for sport: sources

Fonte: Lei 9615/1998 (Lei Pelé)