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DANIELA ADALTINO CABREIRA
MINISTÉRIO PÚBLICO: CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL E
AS CONSEQUÊNCIAS NAS INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS
CURITIBA 2008
DANIELA ADALTINO CABREIRA
MINISTÉRIO PÚBLICO: CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL E
AS CONSEQUÊNCIAS NAS INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS
Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Ministério Público - Estado Democrático de Direito, na área de concentração em Processo Penal, Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR, Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil.
ORIENTADOR: Prof./Ms. Rodrigo Régnier Chemim Guimarães
CURITIBA
2008
SUMÁRIO
1. RESUMO............................................................................................... 4
2. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 5
3. A ATIVIDADE POLICIAL ...................................................................... 7
3.1 BREVE HISTÓRICO............................................................................. 7
3.2 ATIVIDADE POLICIAL BÁSICA............................................................ 10
3.3 PROBLEMAS CONCERNENTES À ATIVIDADE POLICIAL ................ 13
3.4 POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA ............................................. 19
4. CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL............................. 24
4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO..................................................................... 24
4.2 ASPECTOS GERAIS............................................................................ 27
4.3 INSTRUMENTOS DE CONTROLE EXTERNO .................................... 31
4.4 PROBLEMAS E CONSEQUÊNCIAS DO CONTROLE EXTERNO ...... 34
5. INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ............... 41
5.1 PERMISSÃO LEGISLATIVA, JURISPRUDENCIAL E DOUTRINÁRIA 41
5.2 RAZÕES E FORMAS DAS INVESTIGAÇÕES PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
.............................................................................................................. 46
5.3 RELAÇÃO E INTERDEPENDÊNCIA ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO E
POLÍCIA................................................................................................ 49
5.4 RESULTADOS...................................................................................... 51
6. DIREITO COMPARADO ....................................................................... 54
6.1 ALEMANHA/BÉLGICA.......................................................................... 54
6.2 ITÁLIA/PORTUGAL .............................................................................. 55
6.3 ESTADOS UNIDOS.............................................................................. 58
6.4 FRANÇA/ESPANHA ............................................................................. 59
7. CONCLUSÃO........................................................................................ 64
8. REFERÊNCIAS..................................................................................... 66
4
RESUMO
Título do trabalho: Ministério Público: Controle Externo da Atividade Policial e as Consequências nas Investigações Criminais O presente trabalho tem o objetivo de demonstrar a problemática que envolve a atividade de controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. Num breve relato histórico mostra-se a origem da mentalidade reinante no meio policial, em que a tortura e o desrespeito aos direitos constitucionais dos suspeitos são quase uma regra. Partindo dessa análise histórica, tem-se os problemas que envolvem a atividade policial, do abuso de poder trazido desde o regime de exceção ao qual se traduz em torturas e desrespeito aos direitos constitucionais, à corrupção e despreparo dos agentes até a falta de estrutura e interferência política dessa atividade, chegando-se, por fim, à questão da segurança pública. Da atividade de controle externo, primeiramente cumpre abordar alguns aspectos sobre o Ministério Público, órgão controlador, para depois se analisar o controle externo, seu conceito, finalidade, instrumentos utilizados para executá-lo, problemas e consequências. A consequência lógica da atividade de controle da polícia é a investigação criminal pelo Ministério Público, seja direcionando as investigações, seja investigando diretamente, para isso, possui meios próprios que não o inquérito policial. Assim, são demonstradas as razões pelas quais o Ministério Público deve exercer o papel de “senhor das investigações criminais” e os resultados obtidos na prática quando o faz. Por fim, é feita uma breve análise do papel do Ministério Público em diversos países do Primeiro Mundo e sua relação com a polícia.
2 INTRODUÇÃO
O controle externo da atividade policial tem como principal característica a
atuação do Ministério Público na fiscalização da atividade fim da polícia, o qual
culmina no seu embasamento e formação de sua opinião para fundamentar
possíveis ações penais.
O presente trabalho de pesquisa aborda os aspectos relacionados a essa
atividade de fiscalização, demonstrando que pode ir além da simples verificação do
andamento de inquéritos policiais ou visitas à Delegacias de Polícia e penitenciárias.
O tema enfoca analiticamente como ocorre o controle externo e a sua
consequência imediata é permitir ao Ministério Público o acompanhamento das
investigações e até mesmo realizar suas próprias investigações.
A sociedade brasileira vive um tempo de total descrédito das instituições
públicas, em especial da polícia, decorrente de uma série de fatores como a
corrupção, sensação de impunidade, ineficiência em áreas como segurança, falta de
políticas sérias de combate à criminalidade, descaso nas investigações,
arbitrariedades, entre outros. Daí a relevância deste estudo, em demonstrar que o
controle externo da atividade policial é salutar para o sistema criminal como um todo.
Nesse contexto, o assunto se tornou relevante ao ter notícia de dois casos
contrapostos, o primeiro sobre jovens entregues a traficantes rivais pela polícia, para
que fossem assassinados, demonstrando que parcela da instituição é conivente com
a criminalidade. Em contraste, em outro caso de repercussão nacional, o da menina
Isabela, o trabalho da polícia nas investigações demonstrou técnicas de primeiro
mundo. A diferença (além da força da mídia) foi a intervenção em todas as fases da
investigação pelo Ministério Público.
Por meio de consultas a obras de doutrinadores consagrados, bem como
artigos publicados em diversas revistas jurídicas ou não e sites jurídicos que
divulgam trabalhos de especialistas na área, tem como objetivo principal demonstrar
que o sistema criminal não comporta uma instituição maculada por corrupção,
arbitrariedades e ineficiência, e por isso, é preciso cada vez mais reforçar o sistema
de controle externo, funcionando como o sistema de freios e contrapesos, concebido
por Monstesquieu.
6
O norte da pesquisa tomou por base os problemas enfrentados pela polícia
para realização das investigações criminais, por isso, é apresentado um contexto
histórico para demonstrar que muitos dos seus problemas nasceram de longa data.
Além disso, uma breve análise das políticas atuais de segurança pública é
pincelada, a fim de demonstrar que combate à criminalidade não se trata apenas de
colocar policial nas ruas.
A segunda parte do trabalho consiste em apresentar o órgão controlador e
aspectos gerais da sua atividade de controle externo, tais como seu conceito,
finalidades, instrumentos de realização desse controle e os problemas que o
envolvem bem como as consequências da atividade.
O resultado imediato do controle da atividade policial é a investigação
criminal, seja diretamente realizada pelo Ministério Público, seja acompanhando sua
realização, orientando, fiscalizando, enfim, atuando conjuntamente com a polícia.
Por fim, é trazido ao estudo o que ocorre em alguns países do Primeiro
Mundo, visando demonstrar como é a relação polícia e Ministério Público nas
investigações criminais.
3 A ATIVIDADE POLICIAL
3.1 BREVE HISTÓRICO
O vocábulo “polícia” tem origem na palavra grega politeia, cujo significado
era de governo ou administração. Do latim surgiu o termo politia. Do conceito
clássico, polícia relacionava-se com a atividade de governar, limitando os direitos
individuais em prol da segurança de toda a sociedade. Atualmente, entende-se
como uma ação que objetiva a tranqüilidade pública e a proteção da sociedade
contra violações que a possam prejudicar, limita os interesses individuais em
benefício da coletividade.1
O que se tem hoje como atividade policial é resultado de muitas
transformações que ocorreram ao longo dos séculos e por diversas civilizações,
especialmente entre os romanos, que adotaram o “termo politia no sentido de manter
a ordem pública, a tranquilidade e a paz interna”.2
No Brasil, a instituição policial passou por diversas reformulações. Trazida
pelos portugueses, era inicialmente uma conjunção de polícia e judiciário, até ser
efetivamente organizada com a criação do Chefe de Polícia, quando finalmente se
separaram as atribuições dos juízes e dos delegados. Isso só ocorreu com a reforma
do Código de Processo Criminal do Império no fim do ano de 1841.3 No regime
monárquico, o rei se utilizava dos chamados intendentes de polícia e seus
delegados para deter arbitrariamente pessoas, que podiam ser torturadas a fim de
se obter confissões para base de denúncias.4
O marco na história da atividade policial se deu mesmo com a ascensão do
poder autoritário no Brasil, nesse tempo, construiu-se a mentalidade que vigora até
hoje nos procedimentos que envolvem a atuação policial, devido a tolerância e até
mesmo o incentivo do regime na prática de torturas, como forma de manter o
controle sobre a sociedade.
1 SANTIN, Valter Foleto. O Ministério Público na Investigação Criminal. 2ª edição.
Bauru: Edipro, 2007, p. 48. 2 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle Externo da Atividade Policial pelo
Ministério Público. Curitiba: Juruá, 2006, p.22. 3 Ibidem, p. 24-26. 4 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. O Ministério Público e a Polícia Judiciária. Belo
Horizonte: Del Rey, 1993, p. 57.
8
Na Era Vargas, com a implantação do Estado Novo, as forças policiais se
fortaleceram, prisões arbitrárias se multiplicaram, atos de violência da polícia se
intensificaram. A pretexto de proteger o país de revolucionários comunistas, após o
fracasso da Intentona Comunista5, Getúlio Vargas fez com que o Poder Legislativo
perdesse sua autonomia e as forças policiais ganhassem poder, desencadeando
intensa repressão a todos os participantes e simpatizantes do comunismo, incluindo
os apenas suspeitos de simpatizar, bem como, os inimigos do regime.6
Encontrou-se legitimidade para uso de violência a fim de coibir quaisquer
manifestações contrárias ao governo, era o instrumento de controle político. A
chamada Polícia Especial, comandada por Filinto Mueller, ficou conhecida pela
violência empregada nos assassinatos e torturas em nome da segurança do Estado.
“Durante todo o Estado Novo a Polícia Especial exerceu suas arbitrariedades,
chegando-se a ponto da institucionalização da tortura no país”.7
Com o regime militar instalado a partir de 1964 não foi diferente. A violência
da polícia contra os estudantes que se manifestavam contra o governo foi tanta que
chegou a mobilizar setores da classe média e a Igreja. Foi no governo de Emílio
Garrastazu Médici que a tortura e a repressão atingiram extremos. Desse período,
resultou na mentalidade de uma polícia agressiva e abusiva, como lembra Rodrigo
Régnier Chemim GUIMARÃES8: “(...) não se pode esquecer o papel desempenhado
pela polícia brasileira no recente passado de exceção nascido em 1964, que
seguramente, contribuiu de forma marcante para a atual situação de violência e
corrupção no seio da parcela significativa da polícia brasileira”.
Do abuso de poder aliado à corrupção e violência, tinha-se terreno fértil para
o surgimento de aberrações na polícia como o “Esquadrão da Morte”, grupo de
policiais civis liderados pelo delegado de polícia Sérgio Fernando Paranhos Fleury,
na década de 1970. Esses policiais eram ligados ao “tráfico de entorpecentes e
5 Tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas de natureza político-militar ocorrida
em novembro de 1935. 6 VICENTINO, Cláudio; GIANPAOLO, Dorigo. História do Brasil. São Paulo: Scipione,
1997, p. 361-362. 7 Ibidem, p. 367. 8 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit, p. 29.
9
eliminação sumária e covarde de meliantes que se tornassem desnecessários aos
interesses do grupo”.9
Cláudio VICENTINO e Gianpaolo DORIGO10 descrevem esse período:
Uma vez que o combate à guerrilha urbana deveria ser feito com a obtenção de informações, abriu-se caminho para a tortura. Realizada em larga escala no período, transformou nomes como Fleury e siglas como DOI-CODIS em sinônimos de violência contra o indivíduo desarmado. Escorados na doutrina da “segurança nacional”, segundo a qual os militares estavam encarregados das defesas contra ameaças internas, as Forças Armadas e policiais moveram verdadeira guerra contra os opositores do regime, guerra na qual todas as armas – inclusive a tortura – eram justificadas. Era a guerra suja.
O DOI-CODIS era o organismo de segurança das Forças Armadas e o
DOPS da Polícia Federal e Civil. Ambos formavam inquéritos contra presos políticos
e segundo Luiz Gilmar da SILVA 11, tais investigações eram clandestinas e ilegais.
Contraposto a esses fatos, surge a atuação do Ministério Público, ainda sem
independência, mas que na figura do Procurador de Justiça Hélio Bicudo, lutou para
apurar os crimes cometidos pelos policiais. Paulo RANGEL12 resume os fatos da
época da seguinte maneira:
No auge da repressão política no início da década de 1970, enquanto a sociedade torcia pelo sucesso do Brasil na copa do mundo no México, o governo cerceava toda a liberdade individual e coletiva utilizando de métodos de tortura contra todos que se rebelavam contra o sistema. O empresariado financiava as atividades dos grupos de repressão, agraciando-os com favores financeiros. Nesse ponto, a luta do Ministério Público paulista encarnado, praticamente, na figura de Hélio Bicudo, era árdua e desigual, mas foi levada a cabo com vários processos instaurados contra Fleury que foi beneficiado não só com a retirada, mais tarde, de Bicudo das investigações, mas também com a promulgação da Lei 5.941, de 22 de novembro de 1973, conhecida como “Lei Fleury”, pois fora encomendada ao Congresso para beneficiar o delegado Sérgio Fleury, tamanha era sua força e poder no regime militar. A referida lei deu nova redação ao §2º do art. 408 do CPP, permitindo que o réu primário e de bons antecedentes permanecesse em liberdade, se fosse pronunciado, e, sendo preso estivesse, solto seria.
Assim foi durante todo o regime de exceção: violência, tortura e corrupção
institucionalizadas no meio policial. E mesmo com a abertura política do país e a
consagração da Constituição de 1988, permaneceu essa cultura enraizada no
âmago da instituição.
9 RANGEL, Paulo. Investigação Criminal direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003, p. 144.
10 VICENTINO, Cláudio; GIANPAOLO, Dorigo. Op. cit, p. 417. 11 SILVA, Luiz Gilmar da. Controle Externo da Atividade Policial. Curitiba: Artes &
Textos, 1995, p. 33. 12 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 145.
10
3.2 ATIVIDADE POLICIAL BÁSICA
O art. 144 da Constituição Federal define: “A segurança pública, dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (...)”. Este artigo preceitua
segurança pública de forma ampla, abrangendo tanto a prevenção como também a
repressão de atos que afetem a preservação da ordem pública e a incolumidade das
pessoas e do patrimônio. Neste artigo, ainda são definidos quais os órgãos
responsáveis pela segurança pública e a divisão de atribuições para cada polícia.
A polícia se classifica em dois grandes ramos: polícia judiciária e
administrativa. A primeira exercida pelas polícias civil e federal (no âmbito da esfera
estadual e federal, respectivamente) e, a segunda pela polícia militar. Segundo
Celso Antonio Bandeira de MELLO13 “nessa divisão artificial, a Polícia Administrativa
age de acordo com as normas administrativas e a Judiciária em consonância com as
normas processuais penais”.
A polícia militar é responsável pela garantia do cumprimento da lei, tem
caráter preventivo, “ela garante a ordem pública e impede a prática de fatos que
possam lesar ou por em perigo bens individuais ou coletivos”. Também cumprem
sua tarefa em caráter ostensivo as polícias ferroviária e rodoviária federais.14 O
caráter preventivo se configura em estar presente e visível quando necessário,
evitando assim a quebra da paz e ordem pública.15
Marçal JUSTEN FILHO16 entende que a distinção entre a polícia judiciária
ter atuação repressiva e a polícia administrativa atuação preventiva não é
satisfatória. Explica que a diferenciação está no desempenho da polícia judiciária em
ser acessório e conexo à função jurisdicional e que a multiplicação de atividades da
polícia administrativa impossibilita uma distinção “num critério material, relacionado
com a natureza das atividades. Como resultado, o critério adotado se relaciona à
vinculação da atividade ao desempenho da função”.
13 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 5ª edição. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 401.
14 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. O Ministério Público e suas Investigações Independentes. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 49, 51.
15 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 26. 16 JUSTEN FILHO, Marçal. Tipos de atividade administrativa: limitação da autonomia
privada (poder de polícia administrativa). In:_____. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 390.
11
Corrobora essa ideia Valter Foleto SANTIN17 ao relacionar a função da
polícia judiciária como o de órgão auxiliar do Poder Judiciário e o Ministério Público,
e entre suas atribuições deve também cumprir mandados de condução coercitiva,
realização de diligências, requisições de informações, busca e apreensão de
documentos e pessoas, nesse sentido, atua realmente como auxiliar daqueles
órgãos.
Mas é no Código de Processo Penal que se encontra a função a ser
exercida pela polícia judiciária: “Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas
autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
apuração das infrações penais e da sua autoria”. Significa dizer que, uma vez
ocorrida uma infração penal cumpre à polícia judiciária apurar sua autoria e
materialidade. Disso resulta uma série de atos investigatórios a fim de levantar as
informações necessárias para o embasamento da denúncia ou queixa-crime.18
A atividade de investigação, no parecer de Fernando da Costa TOURINHO
FILHO19 consiste em indagar de todos os fatos suspeitos, receber quaisquer
informações que possam colaborar com a elucidação do crime, formar o corpo de
delito para comprovar a existência do mesmo, coletar indícios e provas e os
instrumentos do crime, rastrear e capturar delinqüentes. Complementa o autor que a
atividade persecutória é formada por uma série de diligências, tais como: buscas e
apreensões, exames grafoscópicos, interrogatórios, depoimentos, declarações,
acareações e reconhecimentos.
A finalidade da investigação criminal é, portanto, colher elementos mínimos
sobre a autoria e materialidade do delito com o objetivo de formar a opinio delicti do
órgão de acusação e embasar a ação penal e, o principal instrumento nas
investigações criminais é o inquérito policial, do qual é formado por todas as
diligências reduzidas a escrito. É um procedimento administrativo, preparatório ou
preliminar da ação penal.20
Contudo, o inquérito policial é considerado pela jurisprudência como peça
meramente informativa, sua ausência não é óbice para a propositura da ação
17 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit. p. 62. 18 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 47-48. 19 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Da persecução. In:_____. Processo Penal. 29ª
edição. São Paulo: Saraiva, 2007, vol 1, p.193-195. 20 Ibidem, p. 195.
12
penal.21 Sua existência é criticada, pois as provas colhidas na fase preliminar são
repetidas em juízo, sob este prisma Márcio Luis Chila FREYESLEBEN22 considera o
inquérito policial uma peça inútil, tendenciosa, com influências ilegítimas, quase
nunca retratando a realidade dos fatos.
Inútil ou não, o fato é que o inquérito policial existe e na definição de José
Reinaldo Guimarães CARNEIRO23 é um procedimento extrajudicial com
características inerentes a um sistema inquisitivo, pois não vigoram os princípios
referentes ao devido processo legal. Explica o autor, que isso não significa que
sejam desrespeitados os direitos individuais garantidos na Constituição Federal, mas
que em prol da investigação criminal são mitigados os direitos do contraditório e
ampla defesa, bem como da publicidade dos atos.
O inquérito pode ser iniciado por ofício, quando a autoridade policial toma
conhecimento de um crime, mediante requisição da autoridade judiciária, Ministério
Público ou por requerimento do ofendido ou seu representante.24 Na prática, é
comum que a polícia militar seja a primeira a tomar conhecimento de um crime,
prestando o primeiro atendimento à ocorrência criminosa para só depois passá-la à
polícia civil que a registra e dá início à investigação.25
Marcelo Batlouni MENDRONI, no livro “Crime Organizado: aspectos gerais
e mecanismos legais”26, descreve as diversas atividades exercidas pela polícia no
combate ao crime através de investigações. Cita as ações de investigação por meio
de forças-tarefa, ações controladas, agentes infiltrados, coleta de dados por meio de
comunicações, quebras de sigilos, proteção de vítimas e testemunhas, buscas e
apreensões. No decorrer da obra, compreende-se que a atividade de investigação é
complexa, e que demanda pessoal capacitado bem como trabalho conjunto entre
polícia, Ministério Público e Judiciário. O diferencial do seu trabalho é defender em
todo o momento a participação do Ministério Público nas investigações, a fim de se
obter sucesso no combate à criminalidade.
21 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 34. 22 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 57. 23 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 51. 24 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 216. 25 CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Ensaio sobre um projeto de avaliação do sistema
de justiça criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, nº 7, p. 268-269, jul/set/1999.
26 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado: aspectos gerais e mecanismos legais. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2007.
13
3.3 PROBLEMAS CONCERNENTES À ATIVIDADE POLICIAL
José Frederico MARQUES27 ensina que as atribuições da polícia são
discricionárias, suas tarefas não podem ser prefixadas em fórmulas rígidas, deve ser
lhe dado um amplo campo de liberdade de ação, “limitado tão-só pelas sanções aos
atos ilegais que seus agentes praticarem”, sob pena de se ter um inquérito
contraditório por investigações fracassadas.
É nesse liame entre a discricionariedade e a lei que ocorrem os abusos,
como pondera Aury LOPES JR.28 ao afirmar que a polícia é o símbolo mais visível
de controle da criminalidade, “dispõe de uma poderosa discricionariedade de fato
para selecionar as condutas a serem perseguidas. Esse espaço de atuação está,
muitas vezes, na zona cinza, no pueril limite entre o lícito e o ilícito”, porque a
discricionariedade de fato viola o ideal de igualdade jurídica.
Pela discricionariedade da qual detém na investigação criminal, os policiais
podem conduzi-la ao vazio probatório, a fim de proteger interesses escusos, e ao
invés de combater a criminalidade alia-se a ela, servindo como proteção de
quadrilhas e traficantes29. Renato Varão VARALDA30 cita algumas condutas que são
utilizadas para esvaziar um inquérito policial de conteúdo probatório, como justificar
a não localização de testemunhas essenciais à elucidação dos fatos, efetuar a
chamada “operação tartaruga”, sem cumprimento de diligências com justificativas
diversas para a omissão.
FREYESLEBEN31 lembra que de uma apuração feita pelo Ministério Público
de registros de inquéritos no Rio, em bairros dominados por traficantes não foram
registrados nenhuma ocorrência envolvendo tóxicos. Enfatiza que 82 mil registros
foram parar no limbo, recheados de suspeitas. Essa é a forma encontrada para
proteger criminosos quando a polícia se associa a eles, como demonstra a
“Operação Duas Caras” deflagrada em janeiro de 2008, em que foram denunciados
41 policiais por formação de quadrilha, pois faziam parte de um esquema de
27 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 2ª edição.
Campinas: Millennium, 2003, vol. I, p. 164-167. 28 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 71-72. 29 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit, p. 72. 30 VARALDA, Renato Barão. Investigação Criminal e Tortura. Boletim do IBCCRIM, [S.l.],
nº 139, p. 6-7, junho/2004. 31 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 20.
14
corrupção que arrecadava dinheiro de traficantes para não combater o tráfico de
drogas.32 Isso, quando não são eles próprios os chefes de quadrilhas.
SANTIN33 enfatiza que, quando são feitas ocorrências muitas não se tornam
inquéritos:
Cabe destacar que muitos fatos criminosos registrados como boletins de ocorrência não são objetos de inquéritos policiais, principalmente de autoria desconhecida, permanecendo as informações definitivamente nas delegacias de polícia no aguardo da identificação da autoria, situação em que o Ministério Público sequer toma conhecimento dos crimes e permanecesse sem possibilidades de tomar providências adequadas. Em regra, as investigações policiais são insatisfatórias, demoradas ou ineficientes, sendo que a polícia não consegue apurar na maioria dos crimes, o que gerou desinteresse da população no registro de ocorrências.
Para Aury LOPES JR.34 há unanimidade sobre o inquérito policial: “não
satisfaz o titular da ação penal pública, tampouco à defesa e resulta de pouca
utilidade para o juiz (principalmente pela pouca qualidade e confiabilidade do
material fornecido).”
A história da polícia é marcada pelo uso da força imoderada para manter a
ordem, acredita-se que a razão seja o baixo nível cultural e econômico de seus
agentes que também se torna responsável pelo embrutecimento e total desprezo
dos direitos fundamentais do suspeito, que antecipadamente se torna culpado pela
subcultura predominante no meio policial. 35
Os altos índices de criminalidade justificam a tortura como método de
investigação (para a polícia), não só para se obter confissão, mas também como
forma de castigo ao criminoso, cujos direitos fundamentais são desrespeitados - sob
a conivência do Estado.36 A tortura, tão largamente usada no regime de exceção,
não deixou de ser tática usada pela polícia, a fim de se obter confissões, como
denuncia o SOS Tortura, organização não governamental, ligado à Secretaria
Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, que entre os meses de
novembro de 2002 e julho de 2003 recebeu 2.046 denúncias de torturas. A
32 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Indeferimento de pedido de liminar para responder
processo em liberdade. Habeas corpus nº 95220. Alisson Fabiano de Oliveira Lopes e outros e Superior Tribunal de Justiça. Relator: Min. Ricardo Lewandowski. 09/12/2008. Notícias STF, 09/07/2008.
33 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 245. 34 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 70. 35 Ibidem, p. 74-75. 36 VARALDA, Renato Barão. Op. cit, p. 7.
15
pesquisa dessa ONG demonstrou que desse total “78% teriam sido cometidas por
agentes do estado; motivo: 23% para obter confissão, 37% foram praticadas como
forma de castigo em casas penais; local: 31% ocorreram em delegacias, 19% em
casas penais; agentes: 33% são policiais militares, 30% policiais civis”. E conclui que
é reduzido o número de notitia criminis da prática de tortura levado ao conhecimento
do Ministério Público e Poder Judiciário, diante disso o controle de fatos criminosos
fica sob inteira discricionariedade da autoridade policial.37
Vale transcrever a análise feita pelo promotor de justiça Caetano AMICO, no
7º Congresso Nacional do Ministério Público, que embora tenha sido feita no ano de
1987, corresponde exatamente à situação atual:
Como se observa, a polícia ao apossar-se do indiciado faz o inquérito conforme o art. 20 do Código de Processo Penal: a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou ‘exigido pelo interesse da sociedade’. Quando o Código fala ‘sigilo necessário à elucidação do fato’ deve ser lido, infelizmente, o que se lê nos jornais diariamente, maus tratos, espancamentos, torturas e até mortes por parte da polícia no tratamento sigiloso dispensado ao indiciado, o qual não se pode defender ou ser defendido visto que o inquérito é uma peça acusatória sem contraditório e sem presença de estranhos. Como pode a polícia acusar o cidadão quando o ‘munus de acusar’ é privativo do Ministério Público que é o órgão institucional de promoção e exercício da ação penal? Como pode a polícia falar no ‘interesse da sociedade’ quando é munus específico do Ministério Público representar a sociedade e ver o interesse dela? O Poder Executivo pode exercer o poder em benefício do bem comum no exercício da soberania que confere a Constituição. A polícia pode prevenir o ilícito penal e agir em nome do bem comum, mas torna-se impossível falar em sociedade e interesse dela no inquérito policial ou nas investigações. No inquérito policial vez por outra é chamado um membro do Ministério Público para assistir ou presenciar fatos por si só evidentes, com o intuito, muitas vezes, de disfarçar os métodos não muito polidos ou educados no tratamento do indiciado.38
Alguns policiais ainda se utilizam da tortura, como também de execuções
sumárias de suspeitos. No trecho transcrito a seguir, policiais perseguem suspeitos
de roubo, o motorista era um adolescente de 17 anos que perdeu o controle do carro
e bateu em um poste. No banco do passageiro estava outro adolescente, de 16
anos, que se rendeu, mas assim mesmo foi executado pelo policial.
A principal prova contra os policiais são imagens feitas por um cinegrafista amador exibidas nesta sexta-feira (4) pela TV Bandeirantes. Nelas, um dos ladrões põe as mãos para fora
37 VARALDA, Renato Barão. Op. cit, p. 6. 38 Congresso Nacional do Ministério Público, 7, 1987, Belo Horizonte, apud
FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 64.
16
da janela do carro quando os policiais se aproximam até que um PM encosta a arma em sua cabeça. A câmera treme e, em seguida, vê-se o bandido desfalecido no chão.39
A incompetência de integrantes da polícia é outro problema que aparece
muito na mídia, sendo evidenciada por diversas notícias de ações desastrosas, que
matam pessoas inocentes, demonstrando falta de capacitação dos agentes
envolvidos. Exemplo disso está na morte da jovem Rafaeli, de 21 anos, que fora
atingida na cabeça por um disparo de arma de fogo por um policial que primeiro
atirou, depois percebeu que a pessoa nada tinha a ver com a perseguição de outros
suspeitos. A notícia veiculada na Gazeta do Povo de 14/07/2008 descreveu os fatos
assim:
No trevo de Porto Amazonas, o veículo no qual estava Rafaeli se envolveu num acidente com um carro da polícia local. O soldado Dioneti dos Santos Rodrigues, do 1º BPM de Porto Amazonas, e o soldado Luis Gustavo Landmann viram o Gol batido no carro policial. Segundo a nota da PM, os dois policiais “acharam que se tratava de mais um integrante de uma possível quadrilha e que havia colidido intencionalmente coma viatura”.
Os soldados atiraram contra o carro e só depois perceberam que o veículo era ocupado por um casal, que havia se acidentado com o carro policial e nada tinha a ver com a perseguição. 40
E mais:
Um tiroteio feriu gravemente uma criança de 3 anos e assustou, na noite deste domingo (6), moradores da Tijuca, tradicional bairro de classe média da zona norte do Rio. Segundo testemunhas, o Palio Weekend no qual a criança trafegava com a mãe e um irmão teria sido confundido pela polícia com um carro de bandidos em fuga e metralhado com pelo menos 20 tiros.41
Em outra ação desastrosa, cujas imagens foram mostradas pelo telejornal
do SBT, policiais confundem um administrador de empresas, que era refém num
seqüestro relâmpago, com o criminoso e o matam, antes ainda o chutam. Ainda,
39 CORREGEDORIA da PM investiga suposta execução de ladrões. Disponível em:
portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=783611&tit=Corregedoria-da-PM-investiga-suposta-execucao-de-ladroes. Acesso em 04/07/2008.
40 YANO, Célio. Jovem morta durante ação policial é enterrada em Porto Amazonas. Disponível em: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=786765&tit=Jovem-morta-durante-acao-policial-e-enterrada-em-Porto-Amazonas. Acesso em 14/07/2008. p.12.
41 PM do Rio confunde carro e metralha criança. Disponível em: portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=784235&tit=PM-do-Rio-confunde-carro-e-metralha-crianca. Acesso em 07/07/2008.
17
assim, com as imagens vistas por todo o Brasil, a polícia justificou sua conduta como
se fosse em “legítima defesa”!42
Não é raro ocorrer situações em que o inquérito policial foi mal instruído, ou
seja, a polícia falha em sua atividade precípua: na colheita de provas. Em que pese,
muitas vezes, os esforços de alguns policiais e delegados, a falta de estrutura
material e os fatores já mencionados como problemas, tem demonstrado na prática
a incapacidade da polícia em instruir a contento o inquérito policial. No parecer de
José Reinaldo Guimarães CARNEIRO43, a investigação criminal conduzida pela
polícia tem sido feita de modo precário, inconclusivo o que inviabiliza o trabalho do
Ministério Público beneficiando a impunidade.
Todos os problemas da polícia convergem para um único ponto: o inquérito
policial. Se há policiais corruptos, se não possuem capacitação adequada, os
equipamentos necessários, pessoal suficiente e bem treinado, e ainda, se sofre
influência política, tudo isso se reflete na má instrução do inquérito ou na a sua não
realização. Discorrendo sobre esse tema, Aury LOPES JR.44 faz a sua crítica:
Uma das maiores críticas que se faz ao modelo brasileiro de instrução preliminar – inquérito policial – é a repetição na produção da prova. O inquérito policial é normativamente sumário, inclusive com limitação quantitativa ou temporal, mas o que sucede na prática é que ele se transforma em plenário. A conversão - de normativamente sumário em efetivamente plenário – é uma gravíssima degeneração. A polícia tarda em demasiado em investigar, investiga mal e por atuar mal acaba por prolongar excessivamente a investigação. O resultado final é um inquérito inchado, com atos que somente deveriam ser produzidos em juízo e que por isso desborda os limites que o justificam.
Winfried HASSEMER45 critica a polícia pela sua incapacidade de resolver o
que ele chama de crimes de massa, e os cita como arrombamentos, assaltos nas
ruas, furtos de automóveis e bicicletas, afirmando que a polícia não mais os
combate, apenas os administra e é apoiado nessa crítica por FREYESLEBEN46 ao
acrescentar que a polícia não está nem um pouco preparada para combater o crime
organizado.
42 CASTRO, Juliana. Policiais que mataram administrador agiram em legítima defesa,
diz PM. Disponível em: noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/07/15/ult5772u331.jhtm. Acesso em 15/07/2008.
43 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 44. 44 LOPES JR., Aury. Op. cit., p. 109. 45 HASSEMER, Winfried. Segurança Pública no Estado de Direito. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, [S.l.], nº 5, p. 54-69, jan/mar/1994. 46 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 32.
18
Acrescente-se a todos esses problemas a dependência política e econômica
ao Poder Executivo. Ao se confiar a exclusividade da investigação criminal à polícia,
corre-se o risco de manipulação pela dependência de sua estrutura, que “permanece
como mero apêndice do poder político, suscetível de interferências variadas de
grupamentos partidários e econômicos”. Sem independência funcional a polícia tem
dificuldade de atuar, a tal ponto que se não fosse o Ministério Público, muitas
condutas ficariam impunes, é o que afirma José Reinaldo Guimarães CARNEIRO.47
Órgãos como o Instituto de Criminalística, Instituto de Medicina Legal e
Instituto de Identificação são subordinados à Secretaria de Segurança Pública, que
por sua vez, é subordinada direta do Poder Executivo. Assim, não raro, suas
atividades sofrem ingerência direta de quem está no poder, conforme for do seu
interesse. Vítimas de abuso pela polícia, são encaminhadas aos órgãos dos quais a
própria polícia faz parte, sua imparcialidade resta questionada, pois todos são
subordinados ao Chefe do Executivo. VARALDA48 critica essa dependência:
Realmente a ausência de independência dos Institutos retromencionados permanecerá não inspirando total confiança em suas constatações, isto é, a “imparcialidade” dos laudos continuará com credibilidade duvidosa enquanto os servidores públicos estiverem subordinados ao Poder Executivo e não ao Ministério Público ou ao Judiciário.
Luiz Gilmar da SILVA49 acredita que o fato dos delegados de polícia
adquirirem a garantia da inamovibilidade bastaria para que ficassem livres das
pressões políticas e administrativas. Afirma o autor, que a polícia está à mercê dos
caprichos e ditames da política local e que mesmo um delegado sério e honesto só
será prestigiado se alcançar a simpatia de gente influente. A seu ver, a imagem da
polícia é sempre marginalizada, o que não ocorre com juízes e promotores. Aponta
que a solução para a melhoria do trabalho policial está em oferecer mais qualificação
aos policiais, equipando melhor as Escolas de Polícia com tecnologia, mais cursos
de aperfeiçoamento, mais verbas para equipar o aparato policial. O que falta ainda,
na sua visão, é “vontade política de considerar a segurança pública como questão
de alta prioridade”. Entretanto, apenas inamovibilidade não basta, seria preciso a
instituição de garantias próprias aos delegados de carreira, assim como já ocorre
47 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 138-139, 179. 48 VARALDA, Renato Barão. Op. cit, p. 7. 49 SILVA, Luiz Gilmar da. Op. cit., p. 57, 59, 112.
19
como os magistrados e membros do Ministério Público, buscar um perfil de
independência do Poder Executivo, bem como as garantia conferidas àqueles, como
a vitaliciedade, irredutibilidade de vencimentos e inamovibilidade.50
A polícia deve se desvincular do Poder Executivo e subordinar-se ao
Ministério Público a fim de ter maior independência funcional nas investigações.
Paulo RANGEL51 assim defende por entender que num Estado Democrático de
Direito é inconcebível que um órgão investigador esteja subordinado aos interesses
políticos devendo sim, ser subordinado a quem se destina sua atividade fim.
3.4 POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA
Segurança pública é definida por “conjunto de processos políticos e jurídicos
destinados a garantir a ordem pública na convivência de homens em sociedade”, ou
em outros termos, “é o conjunto de estruturas e funções que deverão produzir atos e
processos capazes de afastar ou eliminar riscos contra a ordem pública”.52
Mais que preservação da ordem pública, segurança pública deve preservar
principalmente “as corretas atitudes da população diante dos valores da ordem” e
essas atitudes têm como pressuposto a dignidade da pessoa humana, princípio este
que o Estado desrespeita quando deixa de fornecer educação de qualidade, saúde,
segurança e justiça.53
No artigo “Educação em áreas conflagradas”, o economista Cláudio de
Moura CASTRO54 analisa a questão da educação e a segurança pública sob uma
ótica bem realista: o ser humano busca em primeiro lugar satisfazer suas
necessidades básicas para depois pensar em outras menos relevantes. Nesse
artigo, cita uma ideia concebida pelo psicólogo Abraham Harold Maslow que trata da
hierarquia das necessidades o qual o ponto central diz que as pessoas só se fixam
em determinados objetivos depois que outros mais importantes já foram atendidos e
50 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 286. 51 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 257. 52 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Revisão Doutrinária dos conceitos de ordem
pública e segurança pública. Revista de Informação Legislativa, Brasília, nº 97, p. 133-154, jan/mar/1988.
53 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. A segurança pública na Constituição. Revista de Informação Legislativa, Brasília, nº 109, p. 137-148, jan/mar/1991.
54 CASTRO, Cláudio de Moura. Educação em áreas conflagradas. Revista Veja, São Paulo, nº 3, p. 22, 21/01/2009.
20
trabalha essa tese em relação à situação de pessoas que vivem em meio à guerra
do tráfico, concluindo que educação para essas pessoas é menos importante do que
sua segurança.
Paulo RANGEL55 acredita que a criminalidade não é um caso de polícia e
sim social, econômico e político, pois há um interesse escuso de determinadas
classes de fomento a violência. Contudo, afirma que o trabalho preventivo da polícia
inibe um pouco a escalada da violência, mas não resolve, pois diversos outros
fatores deveriam ser trabalhados juntos com uma política de segurança pública
séria. Argumenta que política de segurança pública deve ser acompanhada de
trabalhos sociais, combate a fome e a miséria, investimento e capacitação dos
jovens, enfim seria um investimento no ser humano.
Para Tercio Sampaio FERRAZ JR.56 segurança pública não diz respeito tão-
somente às polícias, mas sim é um tema concernente a todos os órgãos
governamentais que se integram por medidas sociais de prevenção ao crime, aduz
que “a comunidade não deve ser afastada, mas convidada a participar do
planejamento e da solução das controvérsias que respeitem a paz pública”.
Nestes termos, política de segurança pública envolve duas partes: a
sociedade e o Estado. Essa definição é prevista constitucionalmente quando o art.
144 menciona que é dever do Estado, mas também responsabilidade de todos.
No tocante à sociedade, a dificuldade de realização de obras sociais está
em se cooptar os jovens envolvidos no tráfico de drogas. De um lado o tráfico lhe
oferece uma posição social no meio em que vive e dinheiro abundante; de outro, a
sociedade oferece-lhe emprego de salário mínimo, o que parece mais atrativo?
Luiz Eduardo SOARES57 pondera que o jovem favelado, da periferia e
pobre, não quer emprego subalterno como a rigor a sociedade lhe impõe, tem os
mesmos desejos e aspirações que os demais da classe média ou alta: internet,
tecnologia de ponta, arte, música, cinema, teatro, esporte e, por isso, políticas de
segurança pública voltadas para a disputa com o tráfico e para a sedução da
55 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 118. 56 FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Interpretação e estudos da Constituição de 1988. São
Paulo: Atlas, 1990, p. 102. 57 SOARES, Luiz Eduardo. Novas Políticas de Segurança Pública: alguns exemplos
recentes. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4096. Acesso em 14/02/2009.
21
juventude teriam de abranger não só geração de emprego, mas capacitação
educacional de alta qualidade e oportunidades reais de ascensão social.
Até aqui se tratou do aspecto sociológico de políticas de segurança pública,
ou seja, suprindo as necessidades da população com educação, obras sociais,
empregos, políticas que excluem a polícia e utilizam o controle social como fator de
diminuição da violência. Contudo, o controle social não é suficiente para assegurar
segurança, pois não considera o aspecto da conduta desviante, políticas sociais e
econômicas como controle social servem apenas à camada pobre da sociedade,
mas o que dizer quando um bem nascido comete crime atroz?
Por isso, há de se destacar o papel da polícia quando se trata de política de
segurança pública como um fator essencial, não depende somente dela, mas é em
torno de sua atividade é que a Constituição Federal definiu segurança pública. E
muito embora a Constituição Federal de 1988 tenha trazido reformulação
democrática a diversas instituições e as reajustado ao novo momento a polícia foi
relegada ao esquecimento e de certa forma propositadamente, como explica Luiz
Eduardo SOARES58:
Essa omissão histórica condenou a polícia à reprodução inercial de seu hábitos atávicos: a violência arbitrária contra pobres e negros, a tortura, a chantagem, a extorsão, a humilhação cotidiana e a ineficiência no combate ao crime, sobretudo quando os criminosos vestem colarinho branco. Claro que há e sempre houve milhares de policiais honestos, corretos, dignos, que tratam todos os cidadãos com respeito e que são profissionais de grande competência. Mas as instituições policiais, em seu conjunto e com raras exceções regionais, funcionaram e continuam a funcionar como se estivéssemos em uma ditadura ou como se vivêssemos sob um regime de apartheid social. A finalidade era construir uma espécie de cinturão sanitário em torno das áreas pobres das regiões metropolitanas, em benefício da segurança das elites. Nesse sentido, poder-se-ia afirmar que o esquecimento da polícia, no momento da repactuação democrática, em certa medida, acabou sendo funcional para a perpetuação do modelo de dominação social defendido pelos setores mais conservadores. Ou seja, essa negligência talvez tenha sido mais um golpe de esperteza do que uma indiferença política. Mas o fato é que a polícia ficou no passado, permanece prisioneira dos anos de chumbo, continua organizada para defender o Estado, não para defender os cidadãos, suas liberdades e seus direitos, o que ocorreria se as leis fossem aplicadas com equidade e fossem respeitadas pelas instituições que as aplicam.
Destaca o autor que a consequência de tudo isso é a “degradação
institucional da polícia e corrosão de sua credibilidade, ineficiência investigativa e
preventiva, ligações perigosas com o crime organizado e desrespeito sistemático
58 SOARES, Luiz Eduardo. Op. cit.
22
aos direitos humanos”, a seu ver a polícia não evoluiu, seu trabalho não se
modernizou, ao contrário de tantas outras, inclusive as organizações criminosas.
Dessa forma, seriam necessárias, primeiramente, reformas institucionais da
polícia, eliminando os focos de corrupção, capacitando melhor os policiais,
aumentando seu contingente, estruturando e modernizando seu material de
trabalho. E mais, garantir à instituição autonomia do Poder Executivo com atuação
efetiva do no controle externo de suas atividades pelo Ministério Público. Tome-se
como exemplo a política implementada pelo prefeito de Nova York na década de
1990, Rudolph Giuliani, que aplicou uma política de “tolerância zero” com a
impunidade, afastando policiais corruptos e adotando um complexo conjunto de
ações que se pautou principalmente pela redução dos níveis de impunidade.59
O trabalho realizado em Bogotá é outro exemplo, onde os resultados
alcançados no combate à criminalidade foram alcançados pela combinação de
diversas estratégias que englobavam a prevenção social e a repressão. Houve
fortalecimento da atuação policial na cidade, reformas em espaços públicos
deteriorados, o sistema prisional foi ampliado e iniciativas de mudança cultural de
respeito à vida e pela “auto-regulação de condutas cidadãs”. Enfim, essa
transformação só ocorreu devido à preocupação do poder público em priorizar a
segurança pública ao longo de três gestões políticas desde 1995, ou seja, a
continuidade de uma política bem organizada. Ressalte-se que o sucesso dessa
política empregada em Bogotá teve atuação da promotoria em conjunto com a
polícia.60
Não se pode dizer que no Brasil não políticas de segurança pública,
contudo, elas se têm pautado pela improvisação e falta de sistematicidade. O que
deveria ser regra não é muito usual nas ações de combate à criminalidade, como
“planejamento, monitoramento, avaliação de resultados e gasto eficiente de recursos
financeiros”. As ações governamentais nesse sentido ocorrem principalmente
quando algum crime tem grande clamor popular impondo ao Estado uma resposta
imediata.61
59 SAPORI, Luís Flávio. Segurança Pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de
Janeiro: FGV, 2007, p. 76. 60 Ibidem, p. 89-90. 61 Ibidem, p. 109.
23
Para Valter Foleto SANTIN62 o Ministério Público deve participar
efetivamente das políticas de segurança pública, apresentando propostas,
participando de discussões dos planos e estratégias, isso porque o Poder Executivo
não tem conseguido êxito no planejamento de medidas para prevenção e combate
ao crime e a sociedade tem exigido que seu órgão acusação participe dessas ações
visando alcançar melhores resultados.
62 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 82.
4 CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL
4.1 O MINISTÉRIO PÚBLICO
A origem mais mencionada do que conhecemos como Ministério Público
hoje advém do direito francês, como reação ao poder do rei absolutista. Nasce com
a separação dos poderes do Estado Moderno com a fusão do advogado do rei e os
procuradores do rei, o primeiro com atribuições exclusivamente cíveis e o segundo
com atribuições criminais que defendiam o interesse do Estado representado pelos
interesses do soberano.63
Sua estruturação ocorreu com a Revolução Francesa, mas foi com os
Códigos Napoleônicos que suas funções passaram a ser mais bem definidas, daí lhe
foi conferido o papel de promotor da ação penal. Houve forte influência da doutrina
francesa na história do Ministério Público e até hoje se utiliza a expressão Parquet
para se referir à instituição.64
Explica Marcellus Polastri LIMA65 que o termo Ministério Público nasceu da
prática, na França, quando passaram a designar a funções dos procuradores como
“verdadeiro ministério em defesa dos interesses públicos, já que defendiam os
interesses do rei e da Coroa”.
No Brasil, houve um gradativo crescimento e fortalecimento da instituição.
Até o ano de 1609 não havia o órgão institucionalizado, os processos criminais eram
iniciados pelo ofendido ou pelo próprio juiz, nesse ano, com a criação do Tribunal da
Relação da Bahia foi definida a figura do promotor de justiça que mais tarde passou
a ser órgão da sociedade, titular da ação penal.66
Gradativamente, ao longo dos anos de Brasil República a instituição foi
ganhando espaço e os contornos do que é hoje, foi um crescimento lento e
progressivo, pois somente em 1981 é que houve efetivamente uma definição legal
da instituição pela Lei Complementar nº 40 (Lei Orgânica do Ministério Público) que
63 FERRAZ, Antonio Augusto Mello de Camargo. Ministério Público: instituição e processo.
São Paulo: Atlas, 1997, p. 38. 64 MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. São Paulo: Saraiva, 1997, p.
1-2. 65 LIMA, Marcellus Polastri. Ministério Público e Persecução Criminal. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 1997, p. 2. 66 FERRAZ, Antonio Augusto Mello de Camargo. Op. cit., p. 39-40.
25
organizou a carreira e instituiu concurso público para ingresso em seus quadros,
conferiu aos membros do Ministério Público vantagens e direitos além de deveres e
responsabilidades, definiu os órgãos de administração e execução e as atribuições
desses órgãos.67
Depois disso, dois outros momentos marcaram o fortalecimento da
instituição: a aprovação da Lei da Ação Civil Pública, de 1985 que conferiu ao
Ministério Público a promoção de ações visando os interesses coletivos e difusos e a
promulgação da Constituição Federal de 1988 que lhe deu estatus de
essencialidade e permanência nas funções jurisdicionais. A respeito da inovação
constitucional comenta Marcellus Polastri LIMA68:
Se por um lado seria exagero reconhecer-se o Ministério Público como quarto poder, por outro lado está a clara intenção do legislador constituinte em retirar o Ministério Público do âmbito dos tradicionais poderes do Estado, deixando-o com uma função fiscalizadora sobre as atividades governamentais. Frise-se que o fato da Instituição ser disciplinada no título referente à organização dos poderes autoriza a interpretação de independência em relação aos poderes estatais.
O campo de atuação do Ministério Público é diversificado, atua tanto na
esfera cível quanto criminal. Segundo Hugo Nigro MAZZILLI69, na esfera criminal
pode investigar diretamente as infrações penais, promover a ação penal, requisitar
inquérito policial e diligências à polícia. Neste mister, ainda tem atribuição de
controlar a atividade policial. Ressalta MAZILLI, que o promotor de justiça não é
obrigado a acusar, pois tem plena liberdade de convicção, isso significa que pode
pedir a absolvição do acusado ou até mesmo recorrer e impetrar habeas corpus em
seu favor.
As atribuições na esfera cível têm uma amplitude significativa, pode atuar
em inúmeros tipos de ações, MAZZILLI70 classifica essa atuação de duas formas:
como órgão agente, quando toma a iniciativa de provocar a jurisdição, caso da ação
civil pública; interdição; nulidades de casamento e ato jurídico que fraudou a lei;
declaração de inconstitucionalidade; destituição de poder familiar e também como
órgão interveniente quando atua em razão da natureza da ação (um interesse
67 LIMA, Marcellus Polastri. Op. cit., p. 8-9. 68 MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução..., p. 4. 69 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. São Paulo: Saraiva,
1996, p. 30-31. 70 Ibidem. Op. cit., p. 31.
26
público a zelar) ou pela qualidade de uma parte (incapaz, índios, massa falida,
herança jacente).
Suas atribuições pressupõem uma efetiva independência a fim de exercê-las
a contento, por isso a Constituição Federal previu garantias para o Ministério Público
a fim de proteger a instituição e seus membros de ingerências políticas, podendo
servir livremente a sociedade e não aos governos ou governantes. Essas garantias
se referem à autonomia financeira, administrativa e funcional, sobre esta última
define MAZZILLI71:
Além da autonomia funcional, ou seja, a liberdade de exercer o ofício em face de outros órgãos e instituições do Estado, a lei também assegura aos agentes do Ministério Público a independência funcional, que é a liberdade com que estes exercem seu ofício em face de outros órgãos da própria instituição do Ministério Público.
A Constituição Federal reconheceu ao Ministério Público a sua
essencialidade para o exercício da função de fiscal da lei e confirmou ser o titular da
ação penal. Fortaleceu sua atuação civil como protetor dos interesses sociais e dos
valores fundamentais do Estado.72
Aos seus membros são conferidas garantias tais quais são para os
magistrados: inamovibilidade, irredutibilidade de subsídios e vitaliciedade. Além de
configurar como uma garantia, um direito ao membro do Ministério Público, também
serve de garantia à sociedade. Assim, na inamovibilidade garante-se que o agente
ministerial não será destituído de suas funções e nem removido da Comarca em que
atua porque atingiu interesses escusos de poderosos, é uma garantia para ele que
pode exercer sua atividade sem temor e à sociedade que pode contar com a defesa
de seus interesses. Também é assim para o caso da irredutibilidade de subsídios,
remunerando de forma adequada os promotores e procuradores de justiça “busca-se
não só recrutar bons promotores e mantê-los na carreira, como assegurar condições
adequadas para que os membros e a própria instituição não comprometam o seu
ofício em barganhas remuneratórias com as autoridades governamentais”.73
71 MAZZILLI, Hugo Nigro. O Acesso à Justiça e o Ministério Público. São Paulo: Saraiva,
1998, p. 147-149. 72 SILVA, Luiz Gilmar. Op. cit., p. 73. 73 MAZZILLI, Hugo Nigro. O Acesso..., p. 152.
27
A respeito das atribuições do Ministério Público Márcio Luis Chila
FREYESLEBEN74 ensina:
O Ministério Público representa o marco da legalidade entre o jus puniendi do Estado-Juiz. O Ministério Público, como representante do Estado-Sociedade, é o único agente político que possui a faculdade-obrigação de ser o dominus litis, o iniciador da ação penal e deve exercer a ação penal desde o início do procedimento repressivo, isto é, desde o inquérito até a sentença transitada em julgado.
O interesse maior do Ministério Público não é simplesmente acusar, mas
buscar sobretudo, a proteção dos direitos individuais do cidadão e os valores
determinados na Constituição Federal. Nas palavras de Inocêncio Mártires
COELHO75: “seu papel é jurídico e social. Sua finalidade é a busca da verdade do
direito, do fato, do delinqüente”. (sic)
4.2 ASPECTOS GERAIS
Controle externo da atividade policial é uma previsão constitucional de que o
Ministério Público exercerá junto às polícias fiscalização de suas atividades a fim de
prevenir, apurar e investigar fatos criminosos, verificar o cumprimento de
determinações judiciais bem como, assegurar direitos e garantias constitucionais de
presos que estejam sob sua responsabilidade.76 Essa previsão está contida no art.
129, VII da Constituição Federal e não existia no regime constitucional anterior.
Walter Paulo SABELLA entende que a previsão constitucional de controle do
Ministério Público sobre a polícia “decorreu da falta de controle do Ministério Público
sobre o fato criminoso e da absoluta independência funcional na apuração de
crimes”.77
Dispôs a Constituição Federal que ficaria a cargo de Lei Complementar a
regulamentação dessa atividade, assim, foi promulgada a Lei Complementar nº
74 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 66. 75 COELHO, Inocêncio Mártires. O controle externo da atividade policial pelo Ministério
Público. Revista da Associação do Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, nº 55, p. 140-153, julho/1992.
76 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 64. 77 SABELLA, Walter Paulo apud SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 78.
28
75/1993, que de forma tímida e genérica “regulou” o controle externo em apenas
cinco incisos.
Dissecando o significado de controle externo da atividade policial tem-se que
controle significa ato de vigilância, verificação administrativa, fiscalização, inspeção,
supervisão e exame minucioso exercido sobre as atividades de pessoas, órgãos e
departamentos78; externo significa o que vem de fora, feito por um órgão estranho ao
fiscalizado. Assim, controle externo significa o “registro, a inspeção o exame, a
fiscalização vinda de fora, exercida por um ente ou órgão não integrante da polícia,
no caso, o Ministério Público”, nas áreas de atuação ministerial. 79
Não é conveniente que a própria instituição a que pertença o policial apure o
seu envolvimento em ilícitos, pois reina o corporativismo e isso retira a credibilidade
da apuração.80
Todos os órgãos públicos devem possuir algum sistema de controle de suas
atividades para bem cumprir os princípios constitucionais insculpidos no art. 37: da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Desse modo,
comportamentos inadequados com os princípios elencados podem ser corrigidos em
prol do interesse da sociedade.
Para SANTIN81 o controle externo é um benefício, pois evitaria a influência
sobre a atividade policial para dar “um jeitinho” ou atender a “pedidos” de pessoas
poderosas e influentes. A seu ver, o controle é muito mais uma segurança para
polícia por livrar seus membros dos “riscos funcionais e políticos do desatendimento
de pretensões ilegais e imorais”.
A omissão da polícia em investigar, as falhas na colheita de provas e na
investigação como um todo, a corrupção policial e a falta de capacitação dos
agentes policiais são motivos para o aparecimento do controle externo da atividade
policial, que visa reverter esse quadro. “É óbvio que o simples exercício desse
controle externo não servirá para eliminar totalmente os casos de omissão,
78 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico. 79 LIMA, Mauro Faria de. O Controle Externo da Atividade Policial. Revista da Fundação
Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, nº 5, p. 158-165, jan/jun/1995.
80 MACHADO, José Damião Pinheiro. Controle externo da Atividade Policial. Revista dos Tribunais, [S.l.], v. 678, p. 407-409, abril/1992.
81 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 74.
29
corrupção e abuso de poder da Polícia, mas, por certo, contribuirá para que isso
venha a ocorrer”.82
Em suma, a finalidade do controle externo é “trazer a atuação da polícia para
os exatos e estritos limites da lei”, ficando a cargo do Ministério Público esse
controle, pois do resultado dessa atuação depende o embasamento para ação
penal, por isso maior interessado que dela se obtenha bons resultados.83 Aury
LOPES JR. completa afirmando que além do controle e fiscalização o Ministério
Público possa também ter a direção da investigação quando for necessário,
podendo dar instruções gerais à atividade policial.84
Da mesma forma entende Rodrigo Régnier Chemim GUIMARÃES85
destacando que o controle da atividade policial visa “melhorar a aplicação da Justiça
criminal, fiscalizando mais de perto a atividade policial, orientando a investigação,
quando for necessário, a fim de obter melhores conclusões, evitar repetições
improdutivas de provas e impedir os abusos de poder”.
SANTIN86 propõe uma esquematização de finalidades do controle externo
baseado no art. 3º da Lei Complementar nº 75/93, divide essas finalidades em cinco
proposições:
1ª – respeito à democracia e princípios constitucionais: em síntese, aduz que
o controle pretende assegurar o atendimento dos princípios, direitos e garantias
constitucionais.
2ª – Segurança pública: visa o respeito da ordem constitucional de
preservação da ordem pública.
3ª – Correcional: tem como objetivo dar condições ao Ministério Público de
coibir ilegalidades e abuso de poder, de forma preventiva e correcional, com
medidas de punição de comportamentos ilegais e abusivos.
4ª – Indisponibilidade da ação penal: assegurar ao Ministério Público o
direito de exercer a ação penal, pois pode haver no trabalho da polícia condutas que
visem interferir ou dificultar o exercício da ação penal, assim, dispõe o Ministério
Público de mecanismos para preservar esse direito.
82 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 73. 83 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 159. 84 LOPES JR., Aury. Op. cit., p. 160. 85 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 112. 86 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 79-81.
30
5ª – Preservação de competência dos órgãos de segurança pública: que a
polícia possa exercer suas atribuições sem ser impedida por gestões políticas,
imorais, ilegais e contrárias ao interesse público.
Conclui o autor que a finalidade do controle sobre a atividade policial é
melhorar o trabalho investigatório, evitar ou pelo menos diminuir omissões,
irregularidades e abusos nos registros de ocorrências policiais, nas investigações e
por consequência nos inquéritos policiais, visa aumentar a possibilidade de vigilância
por órgão estatal alheio à estrutura policial.87
Logo, a necessidade de controle da polícia se dá por ser o braço armado do
Estado, uma instituição com amplos poderes que afetam diretamente a vida da
sociedade e também porque o trabalho policial tem estreita ligação com a função de
exercer a ação penal pública. Valter Foleto SANTIN88 justifica essa necessidade sob
o seguinte aspecto:
Nenhuma instituição está a salvo de comportamentos inadequados e ilícitos dos seus componentes. A polícia sofre mais intensamente os efeitos nefastos de excessos e abusos dos seus servidores. Provavelmente pelo seu difícil encargo de tomar as primeiras providências nas ocorrências de crimes no afã de esclarecer o delito ou acobertar a sua autoria.
O controle da atividade policial pode prevenir esses desvios funcionais ou
minimizá-los. O Ministério Público tem interesse em proteger os direitos e garantias
individuais dos indiciados para que não seja afetada a credibilidade das informações
colhidas.89 O controle externo foi criado para coibir a “prática de determinados atos
abusivos, notadamente no que diz respeito a lesões a direitos dos investigados,
presos e condenados. E quando a polícia se excede, fica enfraquecida a persecução
criminal. O acusado é absolvido, embora seja notoriamente culpado”.90
Todos os atos de polícia, no que diz respeito ao inquérito policial, mas
também nos atendimentos de ocorrências, seja polícia civil ou militar, estão sob a
égide do controle externo do Ministério Público, devido ao interesse da ação penal.91
87 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 79-81. 88 Ibidem, p. 73, 284. 89 Ibidem, p. 285. 90 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 159. 91 LAZZARINI, Álvaro. O papel da investigação e do sistema judiciário na prevenção do
crime. Revista de Informação Legislativa, Brasília, nº 121, p. 171-184, jan/mar/1994.
31
Não só isso, “o que se deve almejar, ultima ratio, com o controle externo da atividade
policial é a proteção efetiva dos direitos e garantias individuais e coletivos”. 92
José Reinaldo Guimarães CARNEIRO93 ensina que o controle externo da
atividade policial é característica de um Estado Democrático de Direito, em que
vigora o denominado princípios dos “pesos e contrapesos”, atribuindo a uma
determinada instituição a fiscalização sobre outros órgãos para evitar o monopólio
de poder, característica de Estados absolutistas.
4.2 INSTRUMENTOS DE CONTROLE EXTERNO
Na atividade de controle, o Ministério Público pode verificar e fiscalizar as
notícias-crime, os instrumentos de registro de ocorrências, as providências
adotadas, o andamento de investigações, a tramitação de inquéritos e
procedimentos, o cumprimento de decisões judiciais, cumprimento de requisições do
próprio Ministério Público, a detenção de presos e execução de pena de
condenados. Também estão inseridas nas atividades sob o controle externo do
Ministério Público as de prevenção e repressão que afetem o direito do cidadão de
receber serviços de segurança pública.94
Discorrendo sobre esse controle Hugo Nigro MAZZILLI95 observa que o
controle externo “deve ser exercido, entre outras áreas, sobre: a) notitiae criminis
recebidas pela Polícia, que nem sempre na prática são canalizadas para a
instauração de inquéritos policiais; b) a apuração de crimes em que são envolvidos
os próprios policiais (violência, tortura, corrupção, abuso de autoridade); c) os casos
em que a polícia não demonstra interesse ou possibilidade de levar a bom termo as
investigações; d) as visitas às delegacias de Polícia; e) a fiscalização permanente da
lavratura de boletins ou talões de ocorrências criminais; f) a instauração e a
tramitação de inquéritos policiais; g) o cumprimento das requisições ministeriais”.
Ressalte-se que o exercício do controle externo sobre a atividade policial
não configura poder disciplinar, no caso de detecção de falhas o Ministério Público
92 COSTA, Luiz Henrique Manuel da Costa. Introdução ao estudo do controle externo da
atividade policial militar. Revista dos Tribunais, [S.l.], v. 756, p. 454-461, outubro/1998. 93 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 110. 94 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 81. 95 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime..., p. 244.
32
deverá representar a autoridade policial superior para as providências cabíveis de
apuração e aplicação de sanções administrativas.96
A requisição compreende uma ordem que não pode ser descumprida pela
autoridade policial em relação à instauração de inquérito ou realização de
diligências. Esse poder de requisição de diligências não se restringe a espaço ou
fase do inquérito, podendo ocorrer a qualquer tempo, inclusive quando um ato
estiver em andamento. Não é preciso aguardar a finalização do inquérito para
requisitar novas diligências.97
Requisitar importa em um comando e não em uma solicitação ou
requerimento. A lei diz “requisitar” e por isso, a autoridade policial não pode se negar
a cumprir uma requisição de “quaisquer diligências como informações, exames,
perícias, documentos, auxílio de força policial e meios materiais necessários à
realização de atividades específicas.”98 A autoridade que se negar a cumprir uma
requisição legal do Ministério Público incide no crime de prevaricação.99
O MP pode acompanhar a colheita de provas e informações, inclusive de
interrogatórios ou oitiva de testemunhas, podendo fazer reperguntas. Explica
SANTIN100 que o Ministério Público poderá fazer visitas a locais de crimes e
delegacias, participar de interrogatórios e oitiva de testemunhas, consultar
documentos e autos, e realizar “entrevistas e contatos informais com os envolvidos,
testemunhas e cidadãos”. Ao Ministério Público é assegurado o direito de livre
acesso a Delegacias de Polícia ou qualquer recinto público ou privado, ressalvada a
inviolabilidade do domicílio. A importância do livre acesso do Ministério Público nas
delegacias se dá na medida em que pode verificar se estão sendo violados os
direitos individuais dos presos, impedindo seu prosseguimento, identificando os
responsáveis e tomando, desde logo, as medidas cabíveis.101
Também deve ter livre acesso a documentos relacionados com a atividade
policial, ou seja, todos os livros que registram essa atividade, com o intuito de
verificar a regularidade das ações realizadas pela polícia.
96 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 83. 97 Ibidem, p. 221-222. 98 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 160. 99 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 116. 100 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 221-222, 286. 101 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 117.
33
Outro instrumento de que se pode valer o Ministério Público no exercício do
controle externo é a notificação. É o instrumento pelo qual se determina o
comparecimento de alguém perante o Parquet para prestar declarações em
procedimento administrativo. Tal qual a requisição é uma ordem e o seu não
comparecimento implica em crime de desobediência.102
No parecer do promotor de justiça Mauro Faria de LIMA103, o procedimento
administrativo deve versar sobre matéria criminal. Explica o promotor que não
poderia versar sobre matéria pertinente ao inquérito civil, pois os dispositivos da
Constituição e da Lei Complementar seriam inúteis e nem sobre procedimento
disciplinar porque própria do âmbito da Administração Pública, portanto, por
exclusão chegou-se à matéria criminal.
Como instrumento do controle externo da atividade policial, o procedimento
administrativo visa apurar a ocorrência de infração penal e sua autoria,
principalmente quando a polícia estiver sendo “omissa, negligente, corrupta, esteja
sob pressão ou influência política, ou sejam os próprios policiais suspeitos de serem
os autores do fato criminoso investigado”. Esses são casos em que o interesse
público impõe a atuação do Ministério Público, não servindo apenas o
acompanhamento do procedimento na corregedoria da polícia, pois seria mero
expectador.104
O procedimento administrativo é o meio pelo qual o Ministério Público pode
investigar diretamente a infração penal, sua importância é descrita por Rodrigo
Régnier Chemim GUIMARÃES105:
Este instrumento legal é importantíssimo para o desempenho do controle externo da atividade policial na medida em que se tenha notícia das faltas ou abusos de autoridade por parte das Polícias. É salutar que, nesses casos, a par de outros tantos, o Ministério Público não fique aguardando providências das próprias Polícias em investigar e responsabilizar administrativamente seus agentes, mas sim, promova, de imediato, a necessária investigação para assegurar-se da veracidade, ou não, da notícia de abuso de poder que lhe chegue ao conhecimento.
Avocar o inquérito policial é chamar para si a investigação que nele se
desenvolve, “esse instrumento possibilita que se dê efetivo andamento a
102 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 160. 103 Ibidem, p. 161. 104 Idem. 105 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 116.
34
determinados inquéritos, nos quais a Polícia não procedeu às diligências
necessárias no tempo devido, denotando injustificada morosidade”.106
FREYESLEBEN107 relata que ao se avocar um inquérito, avoca-se com ele a
investigação que nele se está acontecendo, significa que o Ministério Público deve
assumir a direção do inquérito policial e por consequência, assumir a direção da
investigação criminal.
O sistema de controle externo da atividade policial deve ser aperfeiçoado,
tendo a polícia que prestar contas constantemente ao Ministério Público das suas
atividades investigatórias “com relações dos registros de ocorrências policiais,
contendo informações sobre as datas, horários, locais, tipos de crimes, autores,
vítimas e números dos inquéritos instaurados, esclarecendo os motivos em caso de
ausência de instauração”.108
4.4 PROBLEMAS E CONSEQUÊNCIAS DO CONTROLE EXTERNO
A Constituição Federal previu que o Ministério Público deverá exercer o
controle externo da atividade policial e deixou a cargo da legislação
infraconstitucional a sua regulamentação, o que ocorreu com a promulgação da Lei
Complementar nº 75/93. Contudo, essa legislação foi tímida ao regular a atividade
de controle externo da polícia, pois basicamente se resume a três artigos: 3º, 9º e
10, que se traduzem em mecanismos de controle da legalidade da atividade policial
e não da atividade em si mesma. A dependência funcional não foi regulada e o
Ministério Público continua sem poder de controlar a atividade policial no curso do
inquérito.109
Em síntese, apenas o art. 9º trata especificamente do controle externo e
prevê tão somente que “o promotor fiscalize a legalidade da atuação policial e
exerça um limitado controle formal do inquérito, representando à autoridade
competente no sentido de adotar providências para sanar a omissão indevida ou
para corrigir a ilegalidade do ato”.110
106 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 126. 107 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 114. 108 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 305. 109 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 159. 110 Idem.
35
LOPES JR.111 defende que continua faltando um dispositivo que diga de
forma clara que o “Ministério Público exercerá o controle externo da atividade
policial, dando instruções gerais e específicas para a melhor condução do inquérito
policial, as quais estarão vinculados os agentes da polícia judiciária.” Nesse sentido
haveria duas linhas de atuação do Ministério Público em relação à polícia e a sua
atividade: a primeira seria imediato conhecimento dos boletins de ocorrência, já que
um dos problemas enfrentados pelo Parquet é a falta de informação, assim, tendo
ciência do fato ocorrido poderia traçar planos e metas de investigação; a segunda
seria tratar especificamente do caso concreto, dando instruções específicas de como
seria linha de investigação naquele caso.
O mesmo autor escreveu:
O grande erro está na falta de controle da investigação policial por parte do Ministério Público – destinatário final do inquérito e titular da ação penal -, que deveria ser o responsável em definir o que e o quanto a ser investigado, pois, como titular da ação penal, saberá definir que nível de cognição deve existir naquele caso específico. Atingindo um grau de convencimento tal que o promotor possa oferecer a denúncia com suficientes elementos – probabilidade do fumus commissi delicti -, ele deverá determinar a conclusão do inquérito e oferecer a denúncia.112
Um dos problemas enfrentados pelo Ministério Público ao exercer o controle
sobre a atividade policial é a oposição que se faz tanto pela instituição policial
quanto a feita por doutrinadores como José Armando da COSTA113 que o considera
prejudicial à polícia na medida em que a subordina ao Parquet. E mais, considera
que é uma intromissão e que causa sérios prejuízos à repressão criminal. Nessa
linha, considera absurda a hipótese de que a concessão de prazos no inquérito
policial passasse a ser de competência do Ministério Público, sugerindo que o
inquérito ficaria engavetado por meses, acredita que somente traz prejuízos
condicionando as chances de “corrupção por parte de inescrupulosos promotores
públicos”.
Sobre o exercício do controle externo destaca:
111 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 160. 112 Ibidem, p. 109. 113 COSTA, José Armando da. Limites do controle externo da atividade policial. Revista
Forense, Rio de Janeiro, v. 344, p. 489-495, out/nov/dez/1998.
36
A admissão de tais inoculações hipertrofiantes da função ministerial – resultante de equivocada e precipitada exegese do conceito constitucional do controle externo da atividade policial – equivale a deixar às escâncaras uma porta onde possam penetrar as mais gritantes arbitrariedades e os mais inusitados atos de corrupção por ação de quem, sendo parte na relação processual, passe a concentrar em suas mãos as atribuições de acusar e judicar.
Corrobora esse entendimento Caio Sérgio Paz de BARROS114, alega o autor
que o Ministério Público não deve investigar por ausência de isenção e excesso de
poderes, isso porque não haverá controle de sua atuação por organismos externos,
como ocorre com a polícia.
Também defende a existência do inquérito policial pontuando que o mesmo
não serve só para subsidiar a denúncia, mas que mantém em a reconstituição
aproximada dos fatos e que servirá futuramente de conhecimento aos demais
interessados. E mais, é com base no inquérito que o juiz decreta prisão preventiva,
sequestro de bens ou outras medidas cautelares. Justifica ainda, que quando o
inquérito é preterido é porque há elementos suficientes para base da denúncia, mas
isso não significa que autorize ao Ministério Público investigar, tão somente foram
levados a ele esses elementos pela vítima ou por interessados. Restringe a atividade
de controle externo do Ministério Público em apenas duas frentes: controlando a
polícia para evitar abusos e outra verificando o inquérito, “requerendo, requisitando e
orientando-se nas investigações”. Conclui afirmando que a investigação preliminar
realizada pelo Ministério Público não transmite a norma.115
Na realidade, essas críticas demonstram o medo de determinada parcela da
polícia em ser fiscalizada por órgão diverso de seu quadro, que por isso não sofrerá
influência do cooperativismo reinante na instituição policial. Esse temor dessa
parcela da polícia acaba prejudicando toda a persecução criminal e ao contrário do
que ocorre nos países desenvolvidos em que o Ministério Público não só fiscaliza a
atividade policial, mas também orienta e conduz as investigações criminais, aqui a
polícia esbraveja e luta para o distanciamento do órgão ministerial de suas
atividades.
114 BARROS, Caio Sérgio Paz de. A impossibilidade de o Ministério Público investigar
infrações penais. Repertório de Jurisprudência IOB, [S.l.], v. 3, nº 18, p. 536-532, 2ª quinzena de setembro/2004.
115 Ibidem, p. 535-532.
37
Embora exista a previsão constitucional da atividade de controle da polícia
pelo Ministério Público existe oposição direta da polícia, havendo “batalhas judiciais
hoje travadas por entidades de classe da polícia civil com a finalidade de restringir
qualquer iniciativa de controle por parte do Ministério Público”.116 A respeito disso
Renato Barão VARALDA117 se manifesta:
(...) o controle externo resta inviabilizado diante das barreiras burocráticas, operacionais e políticas da Policia, a impedir o referido controle, sobretudo pela ingerência do Executivo na mesma (viabilizando a ocorrência, diante de vínculos político-partidários, de perseguições e falhas intencionais na investigação criminal) e pela resistência ideológica da Polícia, que encontra apoio em alguns posicionamentos do Poder Judiciário, os quais não reconhecem como atribuição do Ministério Público a promoção direta das investigações de infrações penais.
O controle externo da atividade policial mexe com interesses corporativos,
de um lado está o Ministério Público tentando dar maior credibilidade à persecução
penal, buscando o cumprimento da Constituição Federal e melhorar essa atividade,
de outro, estão alguns policiais que tentam tornar “letra morta o dispositivo
constitucional que estabelece o controle externo de suas atividades”.118
Nenhuma instituição gosta de ser controlada, pois isso é encarado como
uma “diminuição institucional, uma expressão de desconfiança, um procedimento de
suspeita”.119 A instituição policial vê o controle exercido pelo Ministério Público como
“indevida ingerência em tema que julga ser de sua atribuição exclusiva”.120
Luiz Gilmar da SILVA121 é um dos autores que se posicionam criticamente
em relação ao controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. O
referido autor acha desnecessária a atuação do Ministério Público como fiscalizador
da atividade policial, porque ela está revestida de formalidades legais e que só seria
adequada a fiscalização depois de ocorrido algum desvio. Para embasar sua tese,
compara o controle do Ministério Público sobre a polícia com o controle contábil,
financeiro e orçamentário a cargo do Tribunal de Contas da União e exercido pelo
Poder Legislativo sobre o Poder Executivo, cuja fiscalização só ocorre depois de
praticados os atos de gestão.
116 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 110. 117 VARALDA, Renato barão. Op. cit., p. 6. 118 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 158. 119 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 73. 120 COSTA, Luiz Henrique Manuel da Costa. Op. cit., p. 458. 121 SILVA, Luiz Gilmar. Op. cit., p. 156.
38
Outro problema está relacionado com o controle do Judiciário na tramitação
do inquérito policial e outros procedimentos de investigação. Com o advento da
Constituição de 1988 e a implantação do processo acusatório, entende-se
inconstitucional a atuação do juiz depois de encerradas as investigações ou para
concessão de prazo, situação esta prevista no art. 10, §§ 1º e 3º, do Código de
Processo Penal, exceto quando se tratar de medidas de restrição de direitos
constitucionais, como liberdade, inviolabilidade de domicílio e de sigilo telefônico,
bancário e fiscal.122 Márcio Luís Chila FREYESLEBEN123 é um dos autores que
defendem a tese de inconstitucionalidade do art. 10 do CPP, por entender que o juiz
atuaria em substituição ao Ministério Público no controle externo da polícia.
Por ser atribuição do Ministério Público, a ida o inquérito policial ao juiz antes
da manifestação do Parquet é inócua e retarda a sua tramitação, e ainda pode gerar
influência sobre o juiz colocando em xeque a imparcialidade que deveria ter, pois
toma conhecimento antecipado de fatos antes da denúncia.124
No parecer de Valter Foleto SANTIN125 o controle externo tem sido feito de
forma incipiente, resumindo-se apenas à “fiscalização dos inquéritos policiais
durante a sua tramitação, pelos pedidos de prazo e por requisições ou
requerimentos de diligências e visitas aos presídios, para entrevistas e contatos com
presos”. Hoje, o Ministério Público é um simples repassador de provas que a polícia
coletou, muita vezes de forma ineficaz, indevida e insuficiente. A submissão ocorre
de modo contrário: é o MP que se submete à polícia levando ao conhecimento do
Judiciário aquilo que ela quer, ao invés de transmitir a convicção do promotor do
contato direto com os fatos delituosos. O papel atual do MP é ser o intermediário
entre polícia e Judiciário.
O ideal seria que os autos de inquérito policial fossem encaminhados
diretamente ao Ministério Público, que a tramitação do inquérito fosse feita
diretamente entre a polícia e o MP e que este encaminhasse ao juiz somente nas
hipóteses de necessidade de medidas restritivas de direitos constitucionais, de
representação policial ou proximidade de prescrição.126 TOURINHO FILHO127
122 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 85. 123 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 107. 124 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 87. 125 Ibidem, p. 84, 243. 126 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 87.
39
também acha que o inquérito deva ser remetido diretamente ao Ministério Público.
Contudo, é contrário ao direito do Ministério Público investigar ou conduzir as
investigações, acredita que este vai conduzir as provas da forma que lhe interesse
para simplesmente condenar, que, portanto, não vai investigar os fatos, somente
aquilo que quer provar.
É um paradoxo que o juiz ou a polícia instruam para o promotor acusar. Já é
tempo de mudar a situação em que o promotor de justiça fique sentado atrás de sua
mesa aguardando a finalização do inquérito policial e só com base nele formar sua
opinião. São conhecidos todos os problemas que envolvem a atividade policial e
ciente disso, como poderia o promotor de justiça dar credibilidade a um inquérito que
se sabe ser deficiente. Qual a finalidade precípua do Ministério Público,
simplesmente acusar ou buscar a justiça? LOPES JR.128 analisa:
Na maior parte dos sistemas modernos, o promotor é o titular da ação penal pública, o acusador oficial. Essa realidade faz com que seja incongruente que um juiz instrua para que o promotor acuse. Se o que se pretende é verificar se existem indícios suficientes para acusar, tal tarefa deve estar a cargo do titular da acusação pública e de ninguém mais. Não só é uma contradição, senão ilógico, que o promotor esteja limitado pela atividade do juiz (ou da polícia como ocorre no inquérito policial) na busca dos elementos que devem servir para formar a sua convicção, e não a convicção do juiz instrutor ou do policial.
O promotor de justiça só toma conhecimento do fato delituoso meses depois
de ocorrido, “quando os elementos probatórios podem ter se dissipado e pouco ou
quase nada pode ser feito, para modificar a situação ou recuperar o tempo
perdido”.129 Luiz Gilmar da SILVA130 critica o desconhecimento do Ministério Público
das estatísticas de ocorrências registradas, deslindadas e arquivadas.
Contudo, há que se ressaltar que é a polícia quem define o que o Ministério
Público irá denunciar e por consequência quais casos o Judiciário irá julgar. “A
polícia só registra a notitia criminis que quer, só instaura os inquéritos policiais que
reputa convenientes, com exceção, é claro, daqueles casos de repercussão ou
quando há requisição”. Mauro Faria de LIMA131 critica a atual posição de muitos
127 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 287-289. 128 LOPES JR., Aury. Op. cit., p. 94. 129 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 233. 130 SILVA, Luiz Gilmar. Op. cit., p. 139. 131 LIMA, Mauro Faria de. Op. cit., p. 165.
40
membros do Ministério Público considerando que agem como burocratas, movidos a
papéis que vêm da polícia e reproduzindo a denúncia tal qual chegou às suas mãos.
Por outro lado, o Ministério Público deve exercer efetivamente o controle
externo da atividade policial, exigindo informações imediatas de todos os crimes
graves, selecionar casos, principalmente os que envolvem policiais e de grande
repercussão pública. Isso não significa que o Ministério Público precisa ter
conhecimento de todos os fatos delituosos e nem ficar de plantão numa delegacia,
mas que caberá ao próprio MP definir instrumentos de controle periódico de modo
que apenas os delitos mais graves ou complexos sejam imediatamente levados ao
seu conhecimento. Nos demais casos, pode o promotor definir um procedimento
padrão definindo como as investigações devem ser feitas.132
Do controle externo da atividade policial decorre a permissão para que o
Ministério Público possa fiscalizar, acompanhar e direcionar as investigações
criminais bem como, em consequência disso, realizar suas próprias investigações.
Lecionando a respeito Geraldo do Amaral TOLEDO NETO133 conclui:
O controle externo deve ser entendido como instrumento de realização do jus puniendi. Seu objetivo é dar ao Ministério Público um comprometimento maior com a investigação criminal e, conseqüentemente (sic), um maior domínio sobre a prova produzida, a qual lhe servirá de respaldo na denúncia, sempre na busca dos elementos indispensáveis para a instrução do processo.
Na atividade de investigação criminal o Ministério Público, muitas vezes
necessita do auxílio e cooperação da polícia, já que em muitos casos, é necessária
análise técnica e pericial, mas para que isso ocorra a contento é imperioso que o
corpo policial esteja livre da corrupção, esteja bem treinada e equipada, enfim, que
exerça sua atividade com lisura e correção.
132 LOPES JR., Aury. Op. cit., p. 289. 133 TOLEDO NETO, Geraldo do Amaral. O Ministério Público e o efetivo controle da
atividade policial. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2812. Acesso em 10/11/2008.
5 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
5.1 PERMISSÃO LEGISLATIVA, JURISPRUDENCIAL E DOUTRINÁRIA
A prerrogativa de produzir a investigação preliminar não é exclusiva da
polícia, a confusão em torno disso se dá pela redação do texto constitucional quando
define as áreas de atuação da polícia federal, empregando o termo “exclusividade”
ao tratar da mesma. CARNEIRO134 explica que o legislador intencionou dar
exclusividade à polícia federal para apuração de crimes que envolvam bens,
serviços e interesses da União, apenas para retirar da órbita das atividades das
polícias civis. Contudo, ao cuidar das funções de polícia judiciária e investigações
criminais atribuídas as Polícias Civis, o texto constitucional do parágrafo 4º do art.
144 não utiliza o termo exclusividade. Inclusive, esse foi o entendimento do Ministro
Maurício Corrêa na ADIn 1517/DF:
Assim sendo tenho que a expressão “com exclusividade” inserida na regra contida no inciso IV do parágrafo 1º do art. 144 da CF, deve ser interpretada no sentido de excluir das demais polícias elencadas nos incisos II a V do referido artigo, inclusive as de âmbito federal (rodoviária e ferroviária) a destinação de exercer as funções de Polícia Judiciária da União. Ao cuidar das funções de polícia judiciária e investigações criminais atribuídas às Polícias Civis , o texto constitucional do parágrafo 4º do art. 144 não utiliza o termo “exclusividade” (ADIN-1517-UF- Relator, Ministro Maurício Corrêa - STF - Informativo 71).
Do que se depreende do dispositivo do art. 144, “reserva de mercado entre
as polícias não se coaduna com o espírito do constituinte de buscar a plena
segurança pública, mesmo porque até os cidadãos têm direito e responsabilidade na
complementação dos serviços de segurança pública, incluídos os atos de
investigação criminal”. Se até o cidadão possui direito de participação nos trabalhos
de segurança pública, com muito mais razão terá o Ministério Público esse mesmo
direito. 135
Benedito Calheiros BOMFIM136 defende que se a Constituição atribuiu ao
Ministério Público a qualidade de guardião da sociedade, implicitamente também lhe
134 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 125, 183. 135 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 71. 136 BOMFIM, Benedito Calheiros. Ministério Público e a Investigação Criminal. Jornal
Síntese, [S.l.], nº 90, p. 1-3, agosto/2004.
42
conferiu poderes para “conduzir as correspondentes investigações, sem as quais
seus objetivos consectários, que é, daquele poder maior, abrangente, de que está
investido”. E continua afirmando que o Ministério Público não arroga para si a
exclusividade da investigação criminal, que esta pode ser produzida paralelamente
pela polícia ou em conjunto com o órgão ministerial. Lembra ainda, que a polícia não
possui a mesma isenção e autonomia que o Ministério Público para investigar
autoridades e policiais por ser subordinada ao Poder Executivo.
O art. 4º, parágrafo único do Código de Processo Penal prevê que outras
autoridades administrativas podem apurar infrações penais. Prova disso é a
existência das Comissões Parlamentares de Inquéritos no âmbito do Poder
Legislativo. Outros órgãos públicos também desenvolvem investigações
administrativas e que, muitas vezes, resultam em encaminhamento ao Ministério
Público para proposição de ação penal, tais como o Banco Central, INSS, COAF e
Receita Federal. Isso demonstra que o inquérito é o meio exclusivo da polícia
investigar, mas ela não detém o monopólio da investigação que pode acontecer por
outros procedimentos administrativos.137
Não existe impeditivo legal para que o Ministério Público desenvolva as
investigações quando achar pertinente, mesmo porque, é parte interessada, pois
dessas investigações é que se viabilizará o “regular do processo justo que irá se
submeter o réu”. Há, inclusive, permissão legal para que dispense o inquérito policial
quando tiver elementos suficientes para embasar a denúncia, conforme o que dispõe
o art. 39, §5º do Código de Processo Penal, ora, como obter estes elementos?
Indiretamente, o próprio artigo confere permissão para que o Ministério Público
proceda a investigação.138
Sendo o inquérito policial peça dispensável, pela lógica a atuação da polícia
também o é, isso significa que o Código de Processo Penal também autoriza ao
Ministério Público realizar suas próprias investigações, sendo que o instrumento
para realização de suas investigações não é o inquérito, porque este sim é exclusivo
da polícia judiciária, mas por procedimento administrativo pré-processual.139
137 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 125, 182. 138 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 66. 139 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 166.
43
Nelson NERY JÚNIOR140 entende que o termo “investigação criminal”
alcança tanto o inquérito policial como qualquer outro procedimento administrativo
instaurado pela autoridade (por exemplo, inquérito administrativo ou no âmbito do
Ministério Público para apuração de infração penal), a fim de averiguar a existência
de fato típico caracterizado como crime ou contravenção penal.
A jurisprudência cada vez mais caminha no sentido de aceitar a legitimidade
do Ministério Público nas investigações criminais, vários julgados demonstram isso
nos Tribunais superiores:
ATOS INVESTIGATÓRIOS REALIZADOS DIRETAMENTE PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. VALIDADE RECONHECIDA. I. São válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério Público, que pode requisitar informações e documentos para instruir seus procedimentos administrativos, visando ao oferecimento da denúncia. II. Ordem se denega. (STJ. HC nº 7445/RJ, 5ª Turma, Relator Min. Gilson Dipp, julgado no dia 1/12/1998, DJU 1/2/1999)
PROCESSUAL PENAL. DENÚNCIA ALEGAÇÃO DE INÉPCIA. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. FATOS TÍPICOS. "HABEAS CORPUS". INQUÉRITO INSTAURADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. - Constando da denúncia a adequada descrição de fatos que, em tese, consubstanciam crimes, não procede a alegação de inépcia, já que observados os requisitos próprios, inscritos no art. 41 do CPP. - O "habeas corpus" instrumento processual de assento constitucional destinado a assegurar o direito de locomoção, não se presta para a realização de longa incursão sobre fatos em exame no curso de ação penal, nem para a obtenção de absolvição sumária. - O Ministério Público, como órgão de defesa dos interesses individuais e sociais indisponíveis(CF, art. 127), tem competência para instaurar inquérito policial para investigar a prática de atos abusivos, susceptíveis de causar lesão a tais interesses coletivos. - A instauração de tal procedimento não provoca qualquer constrangimento ilegal ao direito de locomoção, revelando-se, por isso, impróprio o uso do "habeas corpus" para coibir eventuais irregularidades a ele atribuídos. - Recurso ordinário desprovido. (STJ. RHC 7063 / PR, RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS nº 1997/0090182-3, Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, Data do Julgamento 26/08/1998, Data da Publicação: DJ 14/12/1998, p. 302)
PENAL. PROCESSUAL PENAL. "HABEAS-CORPUS". AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. MINISTÉRIO PÚBLICO. PRINCÍPIO DA UNIDADE E INDIVISIBILIDADE. VINCULAÇÃO DE PRONUNCIAMENTO DE SEUS AGENTES. DENÚNCIA. INÉPCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. DESCRIÇÃO EM TESE DE CRIME. O princípio da unidade e da indivisibilidade do Ministério Público não implica vinculação de pronunciamentos de seus agentes no processo, de modo a obrigar que um promotor que substitui outro observe obrigatoriamente a linha de pensamento de seu antecessor.
140 NERY JR., Nelson apud SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 30.
44
Para a propositura da ação penal pública, o Ministério Público pode efetuar diligências, colher depoimentos e investigar os fatos, para o fim de poder oferecer denúncia pelo verdadeiramente ocorrido. O trancamento de ação penal por falta de justa causa, postulada na via estreita do "habeas-corpus", somente se viabiliza quando, pela mera exposição dos fatos na denúncia, se constata qua há imputação de fato penalmente atípico ou que inexiste qualquer elemento indiciário demonstrativo da autoria do delito pelo paciente. Não é inepta a denúncia que descreve fatos que, em tese, apresentam a feição de crime e oferece condições plenos para o exercício de defesa. Recurso ordinário desprovido. (STJ. RHC 8025 / PR, RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS nº 1998/0078717-8, Relator Ministro VICENTE LEAL, Órgão Julgador SEXTA TURMA, Data do Julgamento 01/12/1998, Data da Publicação DJ 18/12/1998 p. 416)
"HABEAS CORPUS" SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. ATOS INVESTIGATÓRIOS REALIZADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. VALIDADE. ORDEM DENEGADA. I. São válidos os atos investigatórios realizados pelo Ministério Público, que pode requisitar informações e documentos para instruir seus procedimentos administrativos, visando ao oferecimento de denúncia. II. Ordem que se denega. (STJ. HC 7445 / RJ, HABEAS CORPUS nº 1998/0032251-5, Relator Ministro GILSON DIPP, Órgão Julgador QUINTA TURMA, Data do Julgamento 01/12/1998, Data da Publicação DJ 01/02/1999 p. 218)
A doutrina também se alinha no sentido de que é permitido ao Ministério
Público investigar, vários autores defendem que se o legislador atribuiu-lhe a
titularidade da ação penal, também intencionou dar-lhe “os meios necessários para
alcançar de forma mais efetiva este fim, de modo que a investigação preliminar,
como atividade instrumental e de meio, deverá estar sob seu mando”.141
Aury LOPES JR.142 lista uma série de justificativas que autorizam a
intervenção do Ministério Público nas investigações criminais:
1ª – o material fornecido pela polícia é imprestável tanto do ponto de vista de
valor probatório como de fonte de informação, a demora, as deficiências e
descompasso com o que necessita o Ministério Público e o que apresenta
prejudicam a peça acusatória;
2ª – a competência que o art. 4º do CPP prevê para investigar não exclui a
de outras autoridades autorizadas por lei;
3ª – a Constituição Federal outorgou diversos poderes ao Ministério Público
que complementados pela legislação infraconstitucional permitem-lhe atuar na fase
processual e pré-processual. No plano teórico está perfeitamente prevista a
141 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 163. 142 Ibidem, p. 157, 162.
45
possibilidade do Ministério Público investigar. Além do mais, a Constituição Federal
não dispôs que a investigação é atividade exclusiva da polícia, quando pretendeu
exclusividade, o legislador assim dispôs de forma expressa.
Conclui o autor que não só o Ministério Público está autorizado a
acompanhar a investigação criminal como também a realizar suas próprias
investigações por se tratar de um procedimento administrativo e preliminar. Explica
ainda, que no sistema promotor investigador este é quem dirige as investigações,
recebendo direta ou indiretamente a notícia do crime, podendo contar com o auxílio
da polícia se assim julgar necessário, mas como diretor da investigação ou
investigando diretamente. Neste sistema, o promotor está limitado a autorização
judicial para realizar atos que atinjam a esfera dos direitos e garantias individuais,
tais como: “medidas cautelares, buscas domiciliares, intervenções telefônicas, etc..
Será o juiz da instrução a decidir sobre essas intervenções e não o juiz instrutor, há
diferença, pois o primeiro não investiga e só intervém quando solicitado como
“controlador da legalidade” dos atos do promotor.143
Deve-se levar em conta também que a atividade investigatória tem a
finalidade de formar a opinio delicti e isso interessa ao seu titular, ou seja, o
Ministério Público que, baseado na investigação preliminar decide se vai ou não
propor a ação penal e provar o que alega em Juízo, deve ser uma atividade
administrativa “dirigida por e para o promotor”. A finalidade é que a investigação
direta pelo Ministério Público sirva para fundamentar o exercício da acusação ou
pedido de arquivamento, acelerando notavelmente o processo.144
Alegar que o Ministério Público não pode investigar porque não tem controle
externo sobre si é uma falácia, conforme os artigos 52 e 128 da Constituição Federal
o próprio Ministério Público tem sobre si o controle externo exercido pelo Poder
Legislativo, acrescido ainda, do controle exercido pelo Judiciário, os quais contrasta
os atos ministeriais pelas partes e seus procuradores e no que diz respeito ao
princípio da obrigatoriedade nos processos penais.145 A investidura na carreira por
concurso público com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil é outra
forma de controle externo. A previsão constitucional da proposição da ação penal
143 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 92, 157, 162. 144 Ibidem, p. 94. 145 LIMA, Marcellus Polastri. Op. cit., p. 69.
46
subsidiária é outra forma de controle, pois retira a privatividade das mãos do Parquet
como forma de contraste pela sua inércia.146
5.2 RAZÕES E FORMAS DAS INVESTIGAÇÕES PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
A ação penal pública é atribuição exclusiva do Ministério Público, como
fiscal da lei sua função maior não simplesmente acusar, fazer uma denúncia contra
alguém “para provocar sua perseguição ou processamento”, mas, sobretudo, buscar
a verdade dos fatos, buscar justiça, “é ‘assumir’ pessoalmente o processo penal, a
ação repressiva” na justa medida. Entretanto, a questão é: “Como assumir a
responsabilidade de uma acusação com convicção, sem ter participado da pesquisa
da verdade sobre os fatos?”.147
Daí decorre a necessidade de intervenção do Ministério Público nas
investigações criminais e isso ocorre, principalmente para verificar se os métodos
empregados, os fatos materiais e pessoais e foram obtidos conforme a lei.148
Inocêncio Mártires COELHO149 justifica a intervenção do Ministério Público
nas investigações:
Como o Ministério Público não investiga os fatos, não tem possibilidade também de refutar seriamente os argumentos da defesa. Porque não tem o Ministério Público um staff para fazer suas verificações, as testemunhas podem falsear a verdade impunemente. Assim, a Justiça se desmoraliza às barbas do órgão que deve velar pela boa marcha dela em geral. Aliás, será que na estrutura de nossa Justiça atual o Ministério Público tem meios de cumprir bem este seu dever?
A participação efetiva do Ministério Público nas investigações garantirá uma
colheita de provas de qualidade, fiscalizando a forma como é obtida, direcionando o
que deve ou não ser investigado e sobretudo “privilegiando o lado técnico e
científico”. Por não participar efetivamente da colheita de provas, muitas vezes o
Ministério Público se vê preso a provas mal produzidas, tendenciosas o colhidas de
forma ilícita.150
146 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. Op. cit., p. 257. 147 COELHO, Inocêncio Mártires. Op. cit., p. 145. 148 Ibidem, p. 143. 149 Ibidem, p. 145. 150 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 72, 162.
47
O Ministério Público não deseja para si o comando de uma delegacia de
polícia, deseja apenas e tão-somente uma maior influência e maior responsabilidade
sobre a prova que é colhida e que lhe servirá de respaldo na denúncia.151 Também
não deseja a extinção do inquérito policial, o que busca na realidade é poder “colher
elementos de prova mediante investigação ministerial direta, para fins de embasar
ação penal pública”, em conformidade com o ordenamento jurídico constitucional.152
O acompanhamento pelo Ministério Público nas investigações tem duas
razões básicas: evitar que ocorra um critério seletivo na apuração, escolhendo quem
e o que se irá investigar e garantir a qualidade da investigação, “principalmente no
que se refere à fidelidade e voluntariedade dos testemunhos, bem como para dar
maior valoração à prova técnica. Enfim, a função precípua do controle é otimizar o
inquérito policial, pois servirá de base para a ação penal.153.
Outra razão é a falta de estrutura e independência da polícia, como também
a grande incidência de corrupção acarretando em manipulação das provas obtidas,
“justamente decorrente da inexistente independência daquela estrutura, que hoje,
como sempre, permanece como mero apêndice do poder político, suscetível de
interferências variadas de grupamentos partidários e econômicos”. 154 Tornou-se
comum o envolvimento de policiais no crime organizado, o que torna a investigação
mais difícil, dessa forma, torna-se imperiosa a necessidade do Ministério Público
investigar, considerando ainda, o crescimento vertiginoso da criminalidade cada vez
mais complexa e organizada, o que requer do órgão investigador uma
especialização e lisura que atualmente a polícia não detém.155
Para investigar, o Ministério Público pode se valer de dois procedimentos: o
inquérito policial ou procedimento investigatório próprio. Pelo inquérito policial o
Ministério Público pode acompanhar o andamento das investigações realizadas pela
polícia, fiscalizando e verificando irregularidades e omissões, procedimento próprio
de controle da atividade. Também pode simplesmente aproveitar os atos de
investigação realizados pela polícia e, depois de concluído o inquérito sanar as
lacunas ele mesmo. Quando atua por conta própria, o Ministério Público pode se
151 FREYESLEBEN, Márcio Luis Chila. Op. cit., p. 27. 152 OLIVEIRA, Glaucenir Silva de. Os limites investigatórios do Ministério Público. Revista
EMERJ, Rio de Janeiro, v. 7, nº 27, p. 286-295, outubro/2004. 153 TOLEDO NETO, Geraldo do Amaral. Op. cit. 154 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 138. 155 OLIVEIRA, Glaucenir Silva de. Op. cit., p. 289.
48
valer do auxílio da polícia, requisitando diligências tanto à polícia investigatória,
como a técnica quanto a outros entes públicos.
Esse procedimento administrativo investigatório do Ministério Público deve
ter características análogas ao inquérito policial, ambos são procedimentos
administrativos visando o mesmo fim: a persecução penal. Contudo, assim como o
inquérito policial não possui rito procedimental definido em lei, assim também o
procedimento do MP segue o paradigma da discricionariedade, sem ordem
sequencial, com liberdade procedimental. A exceção está nos atos formais como
auto de prisão em flagrante, interrogatórios e reconhecimento, conforme art. 226, do
Código de Processo Penal. Assim como as restrições aos direitos e garantias
individuais devem atender rigorosamente ao princípio da legalidade.156
No Brasil, é necessária a autorização judicial para infiltração de agentes nas
investigações criminais, MENDRONI157 considera a autorização judicial como forma
de controle da atividade policial, sem a qual haveria infinita discricionariedade por
parte da polícia, embora concorde que o modelo adotado por países da Europa e
Estados Unidos, em que o Ministério Público efetiva essa autorização seja o ideal.
Entende MENDRONI158 que o Ministério Público no exercício de suas
funções investigatórias pode ter acesso a extratos telefônicos sem necessidade de
autorização judicial, assim como é possível a gravação de imagens em ambientes
públicos. Afirma que isso se estende à quebra de sigilo bancário tanto de pessoas
físicas como de pessoas jurídicas e que doutrina e jurisprudência já têm caminhado
rumo a esse entendimento. Essas medidas servem para fortalecer a atuação do
Ministério Público nas investigações por ele realizadas.
Apesar do disposto no art. 6º da Lei 9.296/96 que menciona que a
autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, MENDRONI159
defende que o próprio Ministério Público pode realizá-la, tendo ao seu dispor
condições físicas e estruturais, quando se trata de investigação a respeito de
integrantes da polícia, afirma que este é um instrumento de controle externo da
atividade policial.
156 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 286-290. 157 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 56. 158 Ibidem, p. 70-72, 85-86. 159 Ibidem, p. 65.
49
Torna-se importante a participação do Ministério Público nos casos de busca
e apreensão, o promotor que acompanhar a operação deve analisar os documentos
e materiais a serem apreendidos, pois estará melhor preparado para valorar a
relevância de cada material apreendido e que exista conexão com o crime apurado.
Visa-se com isso evitar que o suspeito seja prejudicado, bem como a celeridade e
eficácia da operação, tendo em vista que servirá para a formação do contexto
probatório. Também serve de controle da atividade policial, coibindo abusos e
ilegalidades na sua atuação, bem como garantindo a idoneidade da prova.160
5.3 RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA ENTRE MINISTÉRIO PÚBLICO E
POLÍCIA
O relacionamento entre polícia e Ministério Público é problemático, parte da
polícia não quer se submeter ao controle externo de sua atividade e não admite que
o titular da ação penal participe das investigações. As desculpas são das mais
variadas: que é uma invasão da competência, que não cabe ao MP investigar, que já
é fiscalizada pela Corregedoria, que é inconstitucional, situação agravada pela
realidade de que atuam em completo descompasso, sem harmonia e integração.161
Sobre o relacionamento entre polícia e Ministério Público Valter Foleto
SANTIN162 escreveu:
O relacionamento institucional entre a polícia e o Ministério Publico é formal e distante, sendo normalmente pequena a integração e cooperação entre os órgãos. São raras as trocas de experiências e idéias entre polícia e Ministério Público sobre o andamento da investigação e principalmente aos rumos a serem tomados par ao desfecho do trabalho de pesquisa da autoria e materialidade, para uma rápida apresentação dos elementos para a opinio delicti ou para o arquivamento do feito, por ausência dos pressupostos legais para a movimentação da máquina judiciária na apreciação da ação penal. Cada instituição trabalha isolada e independentemente, com pouca integração e pequeno intercâmbio de informações.
Inocêncio Mártires COELHO163 ensina que a polícia judiciária é de um corpo
auxiliar do Ministério Público, encarregada da repressão da criminalidade, mas só
atinge esse objetivo se ajustada harmonicamente ao órgão ministerial, pois a polícia
160 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 104. 161 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 158. 162 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 243-244. 163 COELHO, Inocêncio Mártires. Op. cit., p. 142.
50
judiciária não tem uma finalidade em si mesma. Não é possível alcançar uma justiça
criminal se não houver um íntimo contato entre ambas as instituições, o Ministério
Público não estará em condições de realizar suas funções sem a cooperação dos
serviços técnicos que a polícia judiciária se presta a fazer, nem conduzir uma
repressão aos seus autores. Contudo, ressalta o autor que as investigações
criminais não podem estar sob o domínio exclusivo da polícia, “nem do Ministério
Público, todos estes fatores devem reunir-se numa necessária e mútua cooperação”.
Defende ainda, que as polícias deveriam estar subordinadas à direção e supervisão
do Ministério Público.
Explica TOURINHO FILHO164 que a subordinação da polícia ao Ministério
Público não é hierárquica mas se trata de relações funcionais centradas na busca da
justiça criminal, e que essa “subordinação deriva dos vínculos que são criados na
regulamentação do processo penal. É por isso que cabe ao Juiz e ao MP requisitar a
abertura do inquérito policial”.
Marcelo Batlouni MENDRONI165 traça parâmetros para que a polícia atue em
conjunto com o Ministério Público nas investigações criminais, especialmente
quando se tratar de organizações criminosas, cujo levantamento de informações é
muito mais complexo. Em suma, cabe ao MP definir uma estratégia de atuação
desde o início da investigação, e após, acompanhar passo a passo o decorrer da
investigação até se obter um panorama geral da organização criminosa. Por isso, a
relação MP e polícia deve ser harmoniosa e integrada, pois toda a tarefa de campo
será exercido por esta última. À medida que são levantadas informações, cabe aos
promotores “realizar estudo dos dados e documentos coletados para então definir os
principais pontos de ataque jurídico”.
O trabalho de Marcelo Batlouni demonstra que a atuação conjunta entre
Judiciário, polícia e Ministério Público gera bons resultados, em toda a sua obra
ressalta que a intervenção direta do Ministério Público na atividade de investigação
resulta em sucesso no combate ao crime organizado. Se para o crime organizado,
que é uma formação complexa funciona, que se dirá para os crimes mais simples de
investigação. É preciso antes de tudo, mudar a mentalidade reinante na polícia, de
que não é uma instituição acima da lei e toda poderosa, que não está mais a serviço
164 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 280. 165 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 27-28.
51
dos desmandos do Estado e sim seu compromisso é com a sociedade, que deve se
submeter ao Ministério Público nas investigações criminais
SANTIN166 afirma que a proximidade do Ministério Público com a
investigação proporciona um canal de comunicação mais harmonioso com a polícia,
que poderá compreender melhor a necessidade que tem o Parquet “sobre o crime e
a sua visão sobre a qualidade e a quantidade dos elementos necessários para o
oferecimento da denúncia e maior sucesso na ação penal”. Atualmente, o
relacionamento institucional entre a polícia e o Ministério Publico é distante, inexiste
uma parceria para cooperação e troca de ideias a respeito do andamento de
investigações. Na verdade, o Ministério Público só toma conhecimento de uma
infração penal no deslinde final do inquérito policial quando então chega em suas
mãos. Não há participação do Ministério Público no trabalho de pesquisa da autoria
e materialidade.
Para isso, entende-se que a polícia deveria estar funcionalmente
subordinada ao Ministério Público.167
5.4 RESULTADOS
A prática tem demonstrado que a participação do Ministério Público nas
investigações criminais, seja direcionando a polícia seja investigando diretamente,
resulta quase sempre em efetividade da justiça criminal. Alguns casos foram
selecionado para demonstrar isso:
O Ministério Público tomou a iniciativa de investigar operações que
envolviam o ex-presidente dos bancos FonteCindam e Marka, Francisco Lopes, com
fortes indícios de esquema de venda de informações privilegiadas no Banco Central,
com destaque para as operações cambiais com os bancos. Com isso, obteve
autorização do Poder Judiciário para busca e apreensão de documentos na casa do
suspeito. Essa operação se deu em caráter sigiloso, com a cooperação da Polícia
Federal que não tinham conhecimento dos termos da autorização judicial nem quem
era a pessoa investigada. Dessa operação, SANTIN conclui que se o Ministério
Público não tivesse tomado a iniciativa da investigação e não tivesse solicitado a
166 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 243-244, 284. 167 LOPES JR., Aury. Op. cit., p. 162.
52
autorização judicial para buscar e apreender documentos na casa do investigado,
nenhuma medida seria tomada contra o crime por ele cometido.168
Desde o início das investigações do caso Celso Daniel, o Ministério Público
de Santo André acompanhou de perto as atividades da polícia. Esse
acompanhamento compreendeu desde conferência de laudos periciais, realizados
pelo Instituto de Criminalística, até visita aos locais de onde o prefeito foi
sequestrado, mantido em cativeiro e encontrado morto. Houve ainda, participação
direta na oitiva de testemunhas e suspeitos. A polícia judiciária chegava à conclusão
de fora um crime comum contra o patrimônio, mas o Ministério Público instaurou
procedimento administrativo investigatório, em caráter sigiloso, e passou a apurar o
caso sob outro ângulo. Dessa investigação resultou em suporte para propor ação
penal contra diversas pessoas ali investigadas pelos crimes de concussão e
formação de quadrilha.169
Apesar dos esforços do Ministério Público a denúncia foi anulada, pois no
decorrer das investigações não se deu oportunidade aos investigados de se
pronunciarem, pois entendia o Parquet que isso poderia prejudicar o desenlace das
investigações e que haveria oportunidade de contraditório e ampla defesa na ação
penal.170
Mesmo com essa decisão discutível, mostra a capacidade de elucidação dos
fatos pelo Ministério Público que superou o resultado da investigação por parte da
polícia.
Em outra situação, o Ministério Público de Santo André conseguiu, por meio
de interceptação telefônica, comprovar a prática de sonegação fiscal e lavagem de
dinheiro por um escritório de advocacia. Para conseguir a interceptação, impetrou
mandado de segurança sob alegação de que tem o Ministério Público direito líquido
e certo de investigar diante de fortes indícios de práticas de graves infrações
penais.171
Num caso em que atuou o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado de São Paulo, formado por membros do Ministério Público,
através de investigações próprias chegou-se a uma complexa organização criminosa
168 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 67-68. 169 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 165-167. 170 Idem. 171 Idem.
53
estrangeira que lavava dinheiro através do futebol brasileiro. Essa operação fez com
que o Ministério Público interagisse com diversos organismos internacionais, bem
como, nacionais como a ABIN, BACEN e COAF demonstrando que o órgão
ministerial está bem aparelhado e capacitado a investigar crimes complexos.172
Os casos apontados demonstram que o trabalho de investigação realizado
pelo Ministério Público consegue elucidar fraudes ocorridas no meio político e
econômico, envolvendo pessoas de situação econômica privilegiada que de outra
forma seriam intocáveis ao considerar a dependência funcional da polícia.
Contudo, quando a polícia trabalha em conjunto com o Ministério Público,
bons resultados também são obtidos, a exemplo do que aconteceu em mais um
caso envolvendo o empresário (do mensalão) Marcos Valério Fernandes de Souza.
Ao investigarem uma quadrilha de policiais corruptos, o Ministério Público e a Polícia
Federal descobriram muito mais do que isso, chegaram a dois advogados que
patrocinaram um inquérito forjado para incriminar dois auditores fiscais. Um dos
advogados foi detido com um milhão de reais em espécie, entregue por Marcos
Valério, para pagar policiais corruptos.173
Paulo RANGEL174 lembra ainda outros casos de repercussão nacional em
que a presença do Ministério Público trouxe credibilidade nas investigações. Cita
como exemplos a eventos ocorridos no Rio de Janeiro como a condenação de todos
os envolvidos em fraude contra o INSS; a chacina na favela de Vigário Geral e da
praça da Candelária.
Mais recente resultado da investigação direta do Ministério Público culminou
na prisão de dezesseis pessoais, incluindo uma delegada e diversos policiais, na
região metropolitana de Curitiba. A investigação realizada pelo Grupo Especial de
Combate ao Crime Organizado (GAECO) descobriu que a delegada do município de
Colombo e dez policiais entre outros envolvidos extorquiam dinheiro de traficantes
para liberá-los da prisão.175
172 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 176. 173 FILHO, Expedito; OLTRAMARI, Alexandre. Mensaleiro Aloprado. Revista Veja, São
Paulo, nº 43, p. 76-78, 29/10/2008. 174 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 118. 175 VICENTE, Marcos Xavier. Policiais são presos por extorsão. Disponível em:
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=868241&tit=Policiais-sao-presos-por-extorsao. Acesso em 18/03/2009.
6 DIREITO COMPARADO
6.1 ALEMANHA/BÉLGICA
A reforma alemã de 1974 suprimiu a figura do juiz instrutor e deu ligar ao
promotor investigador. A Alemanha foi precursora dessa modificação, a partir dela
outro países começaram a reformular sua legislação na mesma direção.176
No sistema processual alemão a direção da investigação criminal está a
cargo do Ministério Público, sendo que a polícia tem a obrigação de informar
urgentemente dados e investigações que obtiver. Por essa característica o promotor
de justiça é conhecido como senhor da investigação criminal.177
Ainda pode o Ministério Público proceder às diligências preliminares para a
propositura da ação penal, e tal procedimento preparatório é um verdadeiro
inquérito. Esse procedimento é denominado procedimento de investigação do MP.178
Na Alemanha a polícia não é subordinada ao Ministério Público, mas no que
diz respeito à investigação, está ligada às suas ordens e deve obedecer às suas
instruções superando as de seus superiores hierárquicos. “O Ministério Público tem
a direção e o controle da investigação criminal. Possui grande desenvoltura e
autonomia no seu trabalho de persecução penal”. Pode ele mesmo realizar suas
investigações, mas normalmente não faz, aceitando o que a polícia lhe apresenta,
entretanto, realiza fiscalização sobre a atividade policial na apuração dos fatos,
colheita de provas e a legalidade dos métodos de investigação.179
A doutrina alemã costuma chamar o Ministério Público de “senhor da
investigação criminal” tal é a importância do seu papel frente à investigação.180
O modelo adotado é do típico “promotor investigador”, mas como salienta
Aury LOPES JR.181 a tendência é de se transformar em uma investigação
meramente policial.
O Código de Processo Penal alemão prevê que o Ministério Público tem a
“prerrogativa de averiguar as circunstâncias que sirvam de incriminação do suspeito,
176 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 91. 177 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 134-135. 178 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 209. 179 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 120-121. 180 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 134. 181 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 272.
55
atribuindo-lhe, também, a atividade de investigação sobre as causas e
circunstâncias que possam levar à sua absolvição”. Pode contar com o auxílio do
Poder Judiciário e de todas as autoridades públicas, “com ou sem o auxílio da
polícia”.182
Tal poder investigatório confere ao Ministério Público alemão poderes para
autorizar, por exemplo, a atuação de agentes policiais infiltrados, casos em que a
investigação se concentra nas organizações criminosas.183 Também lhe são
conferidos poderes de realizar prisões temporárias e seqüestros sem necessidade
de permissão judicial.184
Na Bélgica o Ministério Público recebe queixas e notícias-crimes. Deve ser
informado de imediato da ocorrência de fato delituoso tanto pelos oficiais de polícia,
como por funcionários, autoridades e oficiais públicos que devem informar também
quaisquer atos relativos ao fato.185
O Procurador do Rei tem opção de proceder ou fazer proceder atos de
instrução, pode colher elementos para formar sua convicção e ainda pode realizar
busca domiciliar sem autorização judicial. Não há exclusividade do Ministério Público
no exercício da ação penal, o ofendido e advogados gerais também podem iniciá-la,
além dos Procuradores Gerais em 2ª Instância.186
6.2 ITÁLIA/ PORTUGAL
Na Itália o Ministério Público dirige as investigações preliminares com o
auxílio da polícia, mas também pode realizá-las pessoalmente. Inclusive, o
Procurador-Geral da República é o chefe da polícia judiciária. Suas atividades
básicas são: investigação, persecução penal e execução.187 Foi a partir de 1988 que
passou a adotar a instrução preliminar a cargo do Ministério Público.188
O Ministério Público exerce a direção das investigações e determina os atos
a serem praticados pela polícia, atuam em perfeita integração, ainda que o Ministério
182 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 74. 183 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 142. 184 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 140. 185 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 98. 186 Ibidem, p. 74, 98. 187 Ibidem, p. 114-116. 188 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 91.
56
Público exerça fiscalização sobre atividade policial.189 A polícia é obrigada a informar
ao Ministério Público a ocorrência de crime com “os elementos essenciais do fato,
indicando as fontes de prova e as atividades completas, com a entrega da respectiva
documentação”. Mas, mesmo depois disso, a polícia pode continuar a investigar, é a
chamada investigação paralela ou co-investigação, e depois deve entregar todos os
dados obtidos ao Ministério Público.190
Há previsão legal no Código Italiano de que o Ministério Público também
investigue fatos que sejam favoráveis ao indiciado (art. 358, do CPPi) e acerca
disso, Paulo RANGEL191 relata:
O Ministério Público italiano tem a função imparcial de produzir toda a atividade necessária com o fim de concluir a investigação preliminar delimitando sua autoria, bem como circunstanciando os fatos delituosos praticados. Entretanto, com uma função nitidamente de fiscal da lei, o Ministério Público na Itália deve, inclusive colher informações que sejam, também, favoráveis ao investigado, o que corrobora nosso entendimento e que antes de ser autor da ação penal, no sistema acusatório, adotados entre nós no Brasil, é ele o defensor da ordem jurídica.
Inclusive, é possível que o Ministério Público convide o investigado a
comparecer a atos que exijam sua presença, acompanhado de defensor, sob pena
de condução coercitiva. Isso ocorre ainda na fase de investigação preliminar pois
ainda não há acusação propriamente dita.192
Lá, o MP é ligado ao Poder Judiciário, com as mesmas garantias dos
magistrados, mas sem poder jurisdicional. Esse sistema fortalece o Ministério
Público que goza, inclusive de poderes de adotar medidas que afetem os direitos
individuais, muitas das quais sem necessidade de autorização judicial.193
Como salienta CARNEIRO194, a polícia atua em total integração com o
Ministério Público mesmo que sendo este o controlador da fase investigatória (ao
contrário daqui).
O Ministério Público italiano tem poderes para autorizar interceptações
telefônicas em casos de extrema urgência, para só posteriormente essa decisão ser
189 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 154. 190 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 114-116. 191 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 154-155. 192 Ibidem, p. 155. 193 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 263-264. 194 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 69.
57
ratificada ou anulada por um juiz. Para tal operação, pode valer-se da polícia ou
executá-la diretamente. Como ressalta Marcelo Batlouni MENDRONI195:
Verificou-se que o tempo perdido na eventualidade de urgência, para elaboração de requerimento ao Juiz, com apresentação de suporte documental, poderia tornar inútil a medida em caso de demora. As conversas entre os criminosos acontecem muito rapidamente, e por vezes em questão de horas conversas importantes pode ser perdidas e deixam de se tornar provas contundentes.
Para dar mais força ao trabalho investigatório do Ministério Público é punido
aquele que der ao promotor informação falsa no âmbito da investigação criminal.196
No sistema português, o Ministério Público é o encarregado direto do
inquérito policial, a polícia atua sob sua direta orientação e de na sua dependência
funcional. A terminologia empregada para quem exerce a atividade investigatória é
“órgãos de polícia criminal”, o que é mais adequado do que “polícia judiciária”.197 As
reformas no sentido de que o Ministério Público ficasse à frente das investigações
preliminares iniciaram-se a partir de 1995.198
Em Portugal, o Ministério Público pode realizar diretamente as
investigações, os promotores podem praticar todos os atos necessários de
investigações199, “e assegurar todos os meios de prova necessários à realização das
diligências comprovadoras da existência do crime, identificando seus agentes, com
consequente delimitação de suas responsabilidades, a fim de que ao termo final do
mesmo possa ser (ou não) deduzida a acusação”, devendo respeitar os direitos e
garantias dos investigados, os quais só poderão sofrer restrições por ordem
judicial.200
Suas investigações diretas são proporcionadas pela existência de um
Departamento de Investigação Criminal presidida pelo próprio Parquet.201
Pode contar com o auxílio da polícia que se subordina a ele, atuando sob
sua orientação e dependência funcional, devendo informar todos os atos e
procedimentos realizados no inquérito policial.202
195 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 157. 196 Ibidem, p. 161. 197 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 61, 118. 198 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 92. 199 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 72. 200 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 164-165. 201 Ibidem, p. 167.
58
O Ministério Público português está integrado ao Poder Judiciário, a
previsão constitucional é de que os promotores são magistrados. Contudo, seus atos
não são considerados jurisdicionais, “típicos da magistratura propriamente dita”203, a
diferença entre um e outro é que os juízes “aplicam o direito objetivo ao caso
concreto, ao passo que aqueles colaboram no exercício do poder jurisdicional
através do exercício da ação penal e a iniciativa da defesa da legalidade
democrática”.204
A respeito do relacionamento entre a polícia e o Ministério Público português
Rodrigo Régnier Chemim GUIMARÃES205 conclui que se trata de uma relação
estreita, “prevalecendo o domínio do Ministério Público sobre o curso da
investigação, sem, contudo, prescindir do auxílio da Polícia, que, de resto, é por ele
diretamente fiscalizada”.
6.3 ESTADOS UNIDOS
Nos Estados Unidos o Departamento de Repressão às Drogas, o Birô de
Presídios e o FBI estão subordinados ao Ministério Público. O Ministério Público
orienta e participa ativamente da investigação criminal, possui amplos poderes
podendo investigar tanto particulares como condutas criminosas de autoridades.206
Há absoluta integração entre os membros do Ministério Público e os policiais
que se subordinam à intervenção e colaboração do Parquet na pesquisa da prova. A
investigação criminal pode ocorrer em conjunto: Ministério Público e polícia ou sob o
comando e hierarquia deste, como também pelo juizado de instrução.207
Nos Estados Unidos, interceptações e escutas telefônicas em caráter
emergencial são autorizadas pelo Ministério Público com posterior confirmação
judicial, há o prazo de quarenta e oito horas para o promotor levar ao conhecimento
do Judiciário dessas medidas emergenciais. Marcelo Batlouni MENDRONI208 explica
como ela ocorre:
202 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 164-165. 203 Ibidem, p. 163. 204 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 279. 205 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 137. 206 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 128. 207 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 76 208 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 175.
59
Em face da dinâmica das situações existentes, e em decorrência da gama de documentos exigidos para a obtenção de ordem judicial, em regra exigível para a obtenção de escutas e interceptações, sobreveio disposição legal que autoriza o representante do Ministério Público designar agente especial de investigação, tanto no âmbito federal como estadual, a proceder a investigação, realizando as interceptações e/ou escutas eletrônicas, em plano emergencial, em situação de emergência de constatação de risco de segurança nacional, ou de atividades praticadas por organização criminosa, ou então se existentes os pressupostos legais para obtenção de uma ordem judicial, em relação aos crimes previstos.
Já as gravações ambientais ou diretas, extratos de chamadas por telefone
ou aparelho similar dispensam autorização judicial.209
É o Ministério Público quem determina a prática de infiltração de agentes,
quando e como conforme a necessidade da investigação.210
6.4 ESPANHA/FRANÇA
Ainda vigora na Espanha o sistema de juiz instrutor, na verdade, é um
sistema híbrido em que o promotor pode iniciar e praticar os atos de investigações,
mas quando o juiz assume, aquele deve lhe enviar todas as informações obtidas e
cessar sua intervenção.211
No que chamam de juízo abreviado o Ministério Público, lá nominado de
Ministério Fiscal, dirige as investigações, exercendo o papel de custos legis, “pois
sua situação é sempre em defesa da legalidade, em defesa da manutenção da
ordem pública”.212
O Ministério Fiscal é órgão constitucional do Estado integrado ao Poder
Judiciário.213 Juízo abreviado ou sumário foi criado em 1882 e depois passou por
uma reestruturação para separar as funções de instruir e julgar e incrementar as
atribuições do Ministério Fiscal para tornar o rito mais célere. A ideia foi romper com
a instrução preliminar judicial substituindo-o pela instrução pelo Ministério Público
(Ministério Fiscal), o resultado foi de um sistema híbrido.214
209 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 176. 210 Ibidem, p. 178. 211 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 92. 212 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 149. 213 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 108-109. 214 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 243-245.
60
O Ministério Público fiscaliza a investigação que fica sob sua orientação
direta, esse procedimento sumário leva em conta as penas privativas de liberdade
não superiores a nove anos e as que não são de competência do Júri. O promotor
pode ele mesmo realizar as diligências necessárias à elucidação do crime, passando
pelo crivo do juiz instrutor. Segundo Aury LOPES JR.215 o promotor poderá “dar
instruções – gerais ou particulares – à polícia, intervir nas atuações policiais, aportar
elementos de prova”.
A polícia é funcionalmente dependente do Ministério Público, como também
é dos Tribunais e juízes de instrução. É vinculada organicamente ao Ministério do
Interior, sob a dependência do Governo para a “proteção do livre exercício dos
direitos e liberdades e garantindo a segurança pública”. Ou seja, quando se trata de
investigação criminal a polícia não está subordinada ao Poder Executivo, seguindo
as instruções do Ministério Público ou Poder Judiciário.216 Estes, requisitam
diretamente à policía judicial as diligências para a comprovação do delito e
identificação dos autores da infração e quaisquer outras diligências que se acharem
necessárias no curso da investigação.217
CARNEIRO218 explica que o Ministério Público foi incluído
constitucionalmente no livro destinado ao Poder Judiciário, e que o entendimento
predominante, mas não pacífico, é que sua natureza seja judicial, denominado como
“magistratura postulante” em contraposição aos juízes que seriam denominados
como “magistratura decisória”.
Ao mesmo tempo em que vigora o princípio da legalidade, ou seja, não há
discricionariedade em se propor ou não a ação penal, ela é obrigatória nos termos
da lei penal espanhola, permite a mesma legislação que o Ministério Público atue
com base no “princípio de consenso”, que significa que pode o Ministério Público
fazer uma “petição conjunta com o acusado para uma concordância na
acusação”.219
215 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 252-254. 216 Ibidem, p. 256-258. 217 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 152. 218 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 70. 219 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 191.
61
Tanto o Ministério Público quanto o Judiciário podem autorizar a prática de
infiltração de agentes.220
Na França vigora o sistema acusatório misto juntamente com o Juizado de
Instrução. Cabe ao Ministério Público a condução das investigações e ao Juizado de
Instrução somente a instrução, este não julga o processo. Dependendo do tipo de
crime a sentença é dada por um colegiado ou juiz monocrático.221
Ocorrido um crime a polícia atende a ocorrência e noticia imediatamente o
Ministério Público, o qual cabe a iniciativa da perseguição do crime. Ao final da
instrução o Juiz de Instrução decide pelo prosseguimento ou arquivamento da
acusação, com manifestação do Ministério Público. Se o Juiz de Instrução decidir
pelo prosseguimento da acusação, a instrução é avaliada por uma Câmara de
Acusação. O julgamento é realizado pelo Judiciário por juiz diverso do Juiz Instrutor.
O Juiz de Instrução pode tomar conhecimento da investigação em casos
obrigatórios, previstos em lei, momento em que a Procuradoria da República aciona
o Juizado de Instrução por meio de requisição.222
Paulo Rangel lembra ainda, que o juiz também exerce papel de investigador,
tendo a obrigação de intervir nos crimes, podendo colher as “provas necessárias
para delimitação da autoria e materialidade”.223
Explica TOURINHO FILHO224 que as investigações preliminares são
realizadas pela Polícia em estreita colaboração com os membros do Ministério
Público, “aos quais ela está, aliás, estritamente subordinada. E, sem embargo da
participação do órgão do MP no transcorrer das investigações, não se permite a
intromissão da Defesa”.
Na França, o Ministério Público pertence ao Poder Judiciário, e poderá ele
mesmo investigar ou requisitar que a polícia o faça.225 A polícia francesa é o corpo
auxiliar do Ministério Público, é responsável por colher provas e buscar a autoria dos
crimes cometidos. Nas investigações seguem a direção direta do Ministério Público,
devendo agir somente sob suas instruções.226 Existe uma relação de subordinação
220 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Op. cit., p. 197. 221 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 93. 222 Idem. 223 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 159. 224 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 209. 225 LOPES JR, Aury. Op. cit., p. 259-261. 226 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 94-96.
62
da polícia que “se encontra sob a direção do procurador geral que, pode determinar
aplicação de sanção disciplinar por falta de seus agentes”.227
A polícia tem obrigação de manter o Ministério Público informado sobre tudo
o que acontece, “inclusive quanto às diligências que serão realizadas para colheita
de informações necessárias à elucidação dos fatos cometidos”.228 O Ministério
Público francês recebe as notícias-crimes e decide pelo arquivamento ou promoção
da ação penal. Também pode decidir pelo arquivamento de infrações de pouca
importância.229
A autonomia da polícia em relação às investigações se limita aos crimes de
menor potencial ofensivo, mesmo assim, a polícia deve encaminhar ao Ministério
Público o inquérito policial no prazo de vinte e quatro horas. Quando não participa
diretamente das investigações o Ministério Público indica à polícia os procedimentos
a serem seguidos. O controle externo da atividade policial fica evidenciado pelo
poder de investigação ao qual detém o Ministério Público, ainda que podendo ser
paralelo ao da polícia, mas que teme ciência de tudo o que se está sendo
investigado e direcionando as investigações.230
Contudo, a titularidade da ação penal não é privativa do Ministério Público,
podendo a vítima de um crime iniciar perante o Judiciário a investigação.231
Embora o direito francês seja o berço do Ministério Público, Paulo
RANGEL232 tece sua crítica quanto ao sistema adotado:
Pensamos que, não obstante ser o berço da atuação do Parquet, o juizado de instrução na França não é a melhor opção a ser adotada, pois deixa o juiz em uma posição de parcialidade mesmo que depois não seja o mesmo que irá julgar a demanda. A questão da imparcialidade do órgão jurisdicional nada tem a ver com o fato de ser o mesmo juiz que colheu as provas aquele que irá julgar ou não, mas sim em colocar no lugar devido, dentro de uma sociedade democrática de direito, o órgão jurisdicional, ou seja, o órgão que dá a cada um aquilo que é seu, satisfazendo (ou não) uma pretensão.
A sistemática adotada nos países apresentados demonstra um Ministério
Público forte, presente e atuante nas investigações criminais, que orienta e fiscaliza
a atividade policial conduzindo as investigações, “em nenhum deles o Ministério
227 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 159. 228 Idem. 229 SANTIN, Valter Foleto. Op. cit., p. 94-96. 230 GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Op. cit., p. 141-142. 231 CARNEIRO, José Reinaldo Guimarães. Op. cit., p. 66. 232 RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 159.
63
Público ficou inerte, diante dos trabalhos da polícia judiciária, e, pelo contrário,
firmada foi a participação ativa do órgão do Ministério Público junto à polícia
judiciária”. A polícia em todos os casos é sempre funcionalmente subordinada ao
Ministério Público, seguindo suas orientações e premissas, não é uma instituição
autônoma com subordinação política, mas “enquanto pertencente a um Estado
Democrático de Direito, existe com papel nítido de investigação e como órgão
auxiliar do Ministério Público”. 233
233 COELHO, Inocêncio Mártires. Op. cit., p. 152.
7 CONCLUSÃO
As regras de conduta no meio policial foram fundamentadas basicamente no
tempo ditatorial em que se configurava a repressão por meio da força, muitas vezes
sob a forma de tortura. É uma mentalidade que ainda reina em muitos círculos da
polícia, que detém um poder de coação na prática, ilimitado.
O envolvimento de integrantes da polícia com o crime é outro fator que retira
da instituição sua credibilidade, embora não se possa dizer que todos os policiais
são corruptos ou envolvidos com o crime, é justamente devido a essa parcela
envolvida que macula a imagem da polícia. Assim, não se pode olvidar que é
extremamente necessário que exista um controle externo da atividade policial, pois
da externalização dessa atividade que se encontra imparcialidade suficiente para
tomar as atitudes necessárias para coibir condutas ilícitas.
Em se tratando de controle externo da atividade policial o Ministério Público
não age como se fosse corregedor dos atos administrativos disciplinares, mas sobre
a atividade fim da polícia que é o que lhe interessa para formar sua opinio delicti e
embasar a ação penal. O que busca com o controle externo é proporcionar que toda
a colheita de provas tenha qualidade suficiente para fundamentar suas razões. E
mais, fiscalizando a atividade investigatória, também busca a garantia dos direitos
constitucionais dos suspeitos, já que na busca de culpados, tem-se notícias
freqüentes de abusos por policiais.
A consequência de um controle externo efetivo sobre a atividade policial se
traduz na possibilidade do Ministério Público acompanhar, fiscalizar e orientar as
investigações criminais, isso porque, a natureza do controle é fiscalizar a atividade
fim da polícia e esta é basicamente a investigação criminal.
A atividade policial de investigação criminal deve ser mantida, contudo, deve
ter maior participação do Ministério Público, tanto no direcionamento da investigação
como no controle da atividade policial. O que deveria ocorrer é uma maior integração
entre os membros dessas duas instituições, principalmente no que diz respeito ao
corporativismo policial. Deve ser vencida a mentalidade existente em determinados
grupos de policiais de perseguição contra si e ser trabalhada uma nova concepção:
a de trabalho harmonioso e em conjunto. O ideal seria que polícia e Ministério
65
Público somassem forças na investigação criminal, estando a polícia funcionalmente
subordinada ao Ministério Público no que concerne às investigações criminais.
O Ministério Público tem autonomia funcional, não está subordinado aos
desmandos políticos ao contrário da polícia que se subordina ao Poder Executivo e
segue sua “política criminal” conforme quem está no poder, assim, sua liberdade de
atuação investigativa fica limitada. Não é incomum um delegado não permanecer
muito tempo numa mesma Comarca. A rotatividade é muito grande em razão do
interesse político. Note-se que o interesse é político e não público. Um delegado que
“incomoda”, ou seja, começa a investigar autoridades públicas ou pessoas de poder
econômico, é logo removido. Assim, não há uma continuidade nas investigações, o
que as tornam demoradas, pois quem vai substituí-lo tem que primeiro se inteirar de
tudo para depois dar continuidade, quando o faz.
É preciso que a atividade de controle externo sobre a polícia seja
consolidado e fortalecido, com o apoio da própria polícia, pois esse instrumento é,
sobretudo, uma segurança no exercício de suas atribuições investigativas. Tem-se o
exemplo de diversos países de Primeiro Mundo a provar que a relação Ministério
Público e polícia pode ser bastante satisfatório na tarefa de combate ao crime. O
crime organizado se especializou e cresceu vertiginosamente e somente um trabalho
conjunto e integrado de ambas as instituições, cujo interesse comum é combatê-lo
pode fazer frente a esse inimigo comum.
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