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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 1ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas CURADORIA DO MEIO AMBENTE Exma. Sra. Dra. Juíza de Direito da ____ Vara da Comarca de Caldas Novas - GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, vem, com o devido respeito perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 23, inciso VI, 129, inciso III e 225 da Constituição Federal; nas Leis Federais n. 6.938/85, 7.805/89, 9.605/98, 7.347/85, 8.213/91 e 8.080/91 e ainda nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de concessão de MEDIDA LIMINAR inaudita altera par, cumulado com OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER, em desfavor do MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS, com sede na rua Orcalino Santos, nº 283, centro, representado pelo atual Prefeito Municipal Ney Gonçalves de Souza, e do DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO – DEMAE, localizado na avenida Coronel Bento de Godoy, quadra 33, lote 13, centro, nesta cidade, representado pelo Diretor Mauro Henrique de S. Lemos, pelos fatos e fundamentos a seguir narrados. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Meio Ambiente: ‘Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes na causa que abraçamos’. 1

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 1ª Promotoria de ... · Lebra, Piolhos e tifo, Tracoma, Conjutivite, Disenteria bacilar, ... impostas ao meio ambiente, causadas por omissão

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS1ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas

CURADORIA DO MEIO AMBENTE

Exma. Sra. Dra. Juíza de Direito da ____ Vara da Comarca de Caldas Novas - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, vem, com o devido respeito perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 23, inciso VI, 129, inciso III e 225 da Constituição Federal; nas Leis Federais n. 6.938/85, 7.805/89, 9.605/98, 7.347/85, 8.213/91 e 8.080/91 e ainda nas Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de concessão de MEDIDA LIMINAR inaudita altera par, cumulado com OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER, em desfavor do MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS, com sede na rua Orcalino Santos, nº 283, centro, representado pelo atual Prefeito Municipal Ney Gonçalves de Souza, e do DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO – DEMAE, localizado na avenida Coronel Bento de Godoy, quadra 33, lote 13, centro, nesta cidade, representado pelo Diretor Mauro Henrique de S. Lemos, pelos fatos e fundamentos a seguir narrados.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Meio Ambiente: ‘Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes na causa que abraçamos’.

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Sabe-se que inúmeras doenças graves estão relacionadas à poluição da água, conforme quadro abaixo1, o que justifica a utilização de todos os instrumentos possíveis para combate-lá, não só por razões ambientais, mas também por razões de saúde pública.

GRUPO DOENÇASDoenças Transmitidas pela Água

Cólera, Febre Tifóide, Leptospirose, Giardíase, Amebíase, Hepatite Infecciosa

Doenças controladas pela limpeza da água

Escabiose, Sepsia dérmica, Bouba, Lebra, Piolhos e tifo, Tracoma, Conjutivite, Disenteria bacilar, Salmonelose, Diarréias por enterovírus, Febre paratifóide, Ascaridíase, Tricurose, Enterobiose, Ancilostomose

Doenças associadas à água

Esquistossomose urinária, Esquistossomose retal, Dracunlose

Doenças cujos vetores se relacionam com a água

Febre amarela, Dengue e febre hemorrágica por dengue, Febre do oeste do Nilo e do Vale do Rift, Encefalite por arbovirus, Filariose Bancroft, Malária, Ancocercose, Doenças do sono

Doenças associadas ao destino dos dejetos

Necatoriose, Clonorquíase, Difolobotríase, Fasciolose, Paragonimfase

Desta forma, o tratamento de esgotos é medida básica de saneamento, trazendo benefícios para a coletividade e economia para o Sistema Público de Saúde (estudo da UFRJ

1 SETTI, Arnaldo Augusto (et al.). Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica; Agência Nacional de Águas, 2001, p. 49.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEestima que 68% das internações nos hospitais públicos são provocadas pela água contaminada).

Ademais, uma das conseqüências mais dramáticas do saneamento deficiente é a mortalidade infantil de crianças com até um ano de idade. Ainda no ano de 2000 o IBGE detectou 1.159 municípios com taxas alarmantes de mais de 40 mortes por mil nascidos vivos.

Os danos ambientais decorrentes do lançamento in natura de esgotos em corpos hídricos também são enormes. É preciso perceber que tudo quanto é jogado nos ralos das pias, vasos sanitários, bueiros e mesmo nos quintais das casas, acaba interferindo no ciclo natural da água.

Substâncias tóxicas, não biodegradáveis, dejetos orgânicos em suspensão (responsáveis pela proliferação de microrganismos patogênicos) e resíduos contendo metais pesados, que se acumulam nos organismos vivos, são comumente lançados sem tratamento em córregos, lagos, rios e mares, que ao invés de simbolizarem vida e movimento, passaram ultimamente a ser relacionados com veneno e morte.

Como bem resumem José Roberto Guedes de Oliveira e Valdir Aparecido Alves:

A água é elemento químico essencial para o desenvolvimento da vida humana e de outros seres, podendo dizer que a água poluída não resulta em equilíbrio ecológico, pois não apresenta características essenciais ao ecossistema. Nesse contexto, não há também qualidade de vida, pois as alterações dos padrões normais fere a vida biológica na qual o homem

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEestá inserido, trazendo certas patologias indesejadas pelo ser humano. Como já foi citado, cerca de 80 das patologias que atingem o homem, são contraídas através da água2.

Por todos esses motivos, há necessidade do Ministério Público lançar mão de todos os instrumentos judiciais e extrajudiciais colocados à sua disposição para minimizar esse quadro de conseqüências desastrosas para a saúde humana e para o meio ambiente.

Ressalte-se que por força da Constituição Federal vigente o saneamento básico, por estar diretamente conectado às condições de higiene e saúde, é um direito fundamental e inalienável de todo cidadão. Como salienta o Juiz Federal Nivaldo Brunoni, os investimentos que forem efetuados com saneamento básico reverterão em economia na área da saúde pública e com a política de municipalização do SUS adotada pelo governo federal, intensifica-se ainda mais a incumbência do Poder Público local em reverter as distorções e as deficiências no setor3.

DOS FATOS

Segundo relato apresentado pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente, Damião Cardoso Dantas (doc. 01), confirmado pelo perito ambiental do Ministério Público do Estado de Goiás (doc. 02), Rogério César, o Departamento

2 Meio Ambiente Natural. Disponível em: http://www.cnrh-srh.gov.br/artigos/mambiente_nat_guedes.htm. Acesso em 21/11/2005.3 A tutela das águas pelo município. In: Águas, aspectos jurídicos e ambientais. Coord. FREITAS, Vladimir Passos de. Curitiba: Juruá. 2ª ed. 2002. p. 85.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEMunicipal de Água e Esgoto de Caldas Novas – DEMAE, vem, ao longo dos anos, lançando esgoto in natura no Córrego Caldas:

Consta da documentação abaixo transcrita a confissão por parte do Requerido – DEMAE (doc. 03), relacionada ao lançando do esgoto in natura no Córrego Caldas, fato este atentatório contra a saúde pública e o meio ambiente, senão vejamos:

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEPara sedimentar o convencimento deste juízo, o

Gestor de Fiscalização da Agência Ambiental de Goiás constatou (doc. 04):

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEEm novembro de 2007, o Diretor do DEMAE

listou os bairros de Caldas Novas que não dispõe de rede coletora de esgoto (doc. 05):

Contrariando o alardeado em Administrações passadas, comprovando-se a ausência de investimentos, FURNAS, e não o DEMAE, através de convênio firmado com o Município de Caldas Novas, custeou a construção da atual Estação de Tratamento de Esgoto (doc. 06, extraído da ACP nº 3624/1997).

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CURADORIA DO MEIO AMBENTENo tocante a ocorrência, em tese, de crime

ambiental, todas as medidas cabíveis já foram adotadas pelo Ministério Público, ressaltando que alguns dos empreendimentos turísticos instalados nesta cidade estão sendo prejudicados pela ação negligente dos réus, no que tange ao não fornecimento/planejamento de rede coletora de esgoto ou mesmo não adotando todas as providências cabíveis para sua adequação tempestiva, pois não é dado o direito a ninguém de lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos, Pena - reclusão, de um a cinco anos (artigo 54, inciso V, da Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9605/1998).

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Não é valido o argumento de que toda a problemática aventada deve-se a turbulência política ocorrida neste município, pois o meio ambiente e a saúde pública não devem ser onerados pela irresponsabilidade e falta de planejamento de alguns políticos, maus gestores, tendo a administração pública caráter contínuo e permanente, guiando-se sempre pelos princípios norteadores, primando, ainda, pelo direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O que ocorre é a prática de atividade criminosa e

lesiva, em relação ao Meio Ambiente e aos consumidores, pois o DEMAE vem, ao longo dos anos, cobrando pelos serviços de coleta de esgoto, ao passo que procede, sem a observância das

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEnormas técnicas pertinentes, o lançamento in natura na natureza.

É imprescindível que este juízo perceba a gravidade das questões aqui tratadas, determinando a imediata ampliação ou mesmo a construção de nova rede coletora de esgoto que margeia o córrego Caldas, de forma a beneficiar a população atingida, bem como a fim de evitar que o esgoto sanitário continue a ser lançado, dia-a-dia, a céu aberto, sem tratamento algum, conforme documentalmente comprovado acima.

Seguindo esta linha de raciocínio, e levando-se em consideração toda a documentação acostada a presente peça, principalmente a extensa listagem dos bairros não contemplados pela rede coletora de esgoto (acima descrita), cumpre destacar a necessidade deste juízo, visando um regramento acerca da problemática tratada, bem como o devido cumprimento à legislação citada, impor liminarmente aos requeridos a imediata obrigação de não fazer, no que tange ao Município de Caldas Novas de se abster de emitir ‘Habite-se’ a novo(s) empreendimento(s) imobiliário(s), enquanto não regularizada (com ampliação/construção) toda a rede coletora na área de implantação do(s) mesmo(s), e ao DEMAE de abster-se de emitir CERTIDÃO de viabilidade para instalação, nos mesmos moldes narrados, interrompendo a prática, em tese, criminosa, descrita no artigo 54, inciso V, da Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9605/1998).

As atividades omissivas dos Requeridos, que vem se arrastando, de forma negligente, ao longo dos anos, importam em verdadeiro atentado a saúde pública, bem como ao meio ambiente, considerado, neste caso, o meio em que vivem os habitantes de Caldas Novas.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTENo caso em comento, tem-se ainda que os

cidadãos de CALDAS NOVAS, diante da municipalização dos serviços de esgoto, não tem opção para escolher outra empresa que venha a trazer os benefícios que são de atribuição originária do Poder Público.

É inconcebível que, diante da negligência dos governantes, caracterizada pela falta de comprometimento político, de planejamento e de investimentos, o maior pólo turístico do Estado de Goiás possua, atualmente, precária rede coletora de esgoto, sendo que, na grande maioria dos bairros, o que impera é sua completa inexistência, impondo aos córregos, rios e lagos que circundam a zona urbana e de expansão urbana total poluição e, conseqüentemente, a população, notadamente os mais carentes, expostos todos os dias aos detritos e substâncias perniciosas que são levadas pelas águas que correm a céu aberto.

As responsabilidades pelos danos causados, ações e omissões em comento, são objetivas (sem culpa), mormente no que se refere aos danos a interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

Assim sendo, as questões argüidas nesta ação dizem respeito diretamente às lesões sofridas pelos consumidores dos serviços não prestados ou prestados de forma deficiente pelo DEMAE, monopolizadora dos serviços de saneamento básico, bem como as graves e irreparáveis lesões impostas ao meio ambiente, causadas por omissão pública.

Seja por ignorância, seja por inconsciência ou por cupidez, os homens estão destruindo as bases de seus próprios meios de existência, com violação dos sistemas naturais.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEAdemais é pacífico que, pelo princípio

constitucional da prevenção, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Daí se vê a preocupação do legislador com o tema, dispensando ao meio ambiente o tratamento de bem de uso comum do povo.

Conclui-se, portanto que, a defesa e preservação do meio ambiente, o combate às mais diversas formas de poluição, bem como a recuperação dos terrenos degradados, com riscos de danos irreversíveis deve ser uma das principais preocupações das autoridades competentes em fiscalizar a devida aplicação da legislação acerca da matéria em vigor.

É patente que a irregular e inconseqüente ação omissiva dos réus causou e continua causando deploráveis danos à ecologia. O meio ambiente é um patrimônio a ser necessariamente assegurado e protegido. Além disso, toda a sociedade é prejudicada pela supressão dos recursos ambientais.

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Reza a Carta Magna Pátria que:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

... omissis ...III - promover o inquérito civil e a ação civil pública,

para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEArt. 170. A ordem econômica, fundada na

valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

...omissis...V - defesa do consumidor;VI - defesa do meio ambiente”.

A Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347, de 24.7.85), reza que:

“Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I - ao meio ambiente;II - ao consumidor;...omissis...IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Art. 5º. A ação principal e cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, União, pelos Estados e Municípios...”.

No que tange ao interesse do Ministério Público, a doutrina leciona que de “...parte do Ministério Público, o interesse de agir é presumido. Em outras palavras, quando a lei lhe confere legitimidade para intervir, presume-lhe o interesse. Ou, como diz Salvatore Satta, ‘o interesse do Ministério Público é expresso na própria norma, que lhe permitiu ou conferiu o modo de atuar...”. Hugo Nigro Mazzilli, in A defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 5ª ed., RT, p. 182.

A Lei Federal nº 8.078, de 11.09.90, denominada Código do Consumidor, reza que:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercido em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEI - interesses difusos, assim entendidos, para efeitos

deste Código, os transindividuais, de natureza indivisíveis, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisíveis de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum...

Art. 82. Para fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público...”.

Tem-se, pois, que o legislador criou, no que se refere à dicotomia dos interesses postos em Juízo, a divisão dos direitos/interesses em coletivos, difusos e individuais homogêneos.

No que se refere aos interesses coletivos tem-se que seriam aqueles que dizem respeito a toda uma categoria de pessoas, as quais podem ser determinadas e individualizadas.

Quando o interesse/direito pertence a uma categoria de pessoas indeterminadas ou de difícil determinação - moradores de uma região, etc., ligadas todas por uma situação de fato, tem-se o denominado interesse difuso.

Dentro da denominação de interesse coletivo, o legislador criou o interesse individual homogêneo, o qual se trata de interesse coletivo em sentido lato, ou seja, os quais podem ter individualizado o dano ou a responsabilidade respectiva.

A doutrina ocupou-se de tentar exemplificar tais direitos, sob a ótica do consumidor, da seguinte maneira:

“Consideremos, apenas para exemplificar, a questão do consumidor. Se, dentre uma série de bens de consumo, vendidos ao usuário final,

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEum deles foi produzido com defeito, o lesado tem interesse individual na indenização cabível. Já o interesse pode ser individual homogêneo, ligando inúmeros consumidores, quando toda a série de um produto saía da fábrica com o mesmo defeito; pode, ainda, ser coletivo (em sentido estrito), quando de um aumento indevido de um mesmo consórcio. Nestes dois últimos casos, em sentido lato, trata-se de interesses coletivos. Mas o interesse só será verdadeiramente difuso se impossível identificar as pessoas ligadas pelo mesmo laço fático ou jurídico, decorrente da relação de consumo (como os destinatários de propaganda enganosa, veiculada em painéis publicitários, pelos jornais e revistas, ou pela televisão...”. Hugo Nigro Mazzilli, in ob. cit., p. 22/23.

Visualiza, então, que a população de CALDAS NOVAS tem direito a receber os serviços integrais de esgoto sanitário, o que se reveste na obrigação do DEMAE e, em sua omissão, responde solidariamente o município Requerido.

Mesmo que tais interesses fossem entendidos como individuais homogêneos, a jurisprudência é pacífica em afirmar a legitimidade ativa do Parquet para o ajuizamento das demandas judiciais pertinentes.

A jurisprudência Goiana leciona que:

“Ação Civil Pública. Direitos individuais homogêneos. Legitimidade do Ministério Público. À luz do art. 82 do Código de Defesa do Consumidor, tem o Ministério Público legitimidade para intentar ação civil pública, em defesa de interesses ou direitos individuais homogêneos. Apelação conhecida e provida." Ap. Cív. nº 34.465-2, de Goiânia. Rel.: Des. Castro Filho, Ac. de 20.12.94.

“Ação Civil Público. Ministério Público. Legitimidade. Nos termos do art. 129, III, da Constituição Federal, e disposições combinadas dos artigos 81, parág. único, III, 82, 91 e 92, do Código do Consumidor (Lei nr. 8.078/90), o Ministério Público está legitimado, como substituto processual, a promover a ação civil pública em defesa dos direitos individuais, em forma coletiva e impessoal. Recurso apelatório provido,

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEcassada a sentença, para que, no juízo de origem, seja apreciado, em sua totalidade, o mérito da causa". Ap. Cív. nº 38.889-7, de Alto Paraíso de Goiás. Rel.: Des. Antônio Nery da Silva, Ac. de 14.5.96.

É pertinente a utilização da Ação Civil Pública para fins de obrigar o Poder Público a fazer, como reparação do dano efetivo ou potencial, sem qualquer ameaça à discricionariedade dos atos administrativos ou a necessidade de previsão orçamentária respectiva.

As garantias constitucionais de cidadania estão acima de tais questiúnculas, as quais estão sendo, progressivamente, refutadas pelas nossas Cortes Pátrias que outrora comungavam de entendimento, concessa venia, equivocado sobre tal questão.

Sobre a questão de figurarem no pólo passivo desta, a doutrina leciona que:

“Parte passiva da ação ambiental será o responsável pelo dano ou pela ameaça de dano, seja pessoa física, seja pessoa jurídica, inclusive a Administração Pública. Entendemos que o Poder Público poderá sempre figurar no pólo passivo de qualquer demanda dirigida à reparação do dano do meio ambiente: se ele não for responsável por ter ocasionado diretamente o dano, por intermédio de um de seus agentes, o será ao menos solidariamente, por omissão no dever que é só seu de fiscalizar e impedir que tais danos aconteçam. Ao Estado restará, no entanto, voltar-se regressivamente, neste último caso, contra o direito do causador do dano...” Édis Milaré, in Curadoria do Meio Ambiente, Edições APMP, p. 39.

Nesse sentido, o festejado Hugro Nigro Mazzili ensina que:

“...O causador do dano a um dos interesses de que cuida a Lei da Ação Civil Pública pode ser tanto o particular quanto o Estado, tanto pessoa física como pessoa jurídica. Pode mesmo ser legitimado passivo quem quer tivesse o dever de evitar a lesão...”. Hugo Nigro Mazzili, in ob. cit., p. 178.

A jurisprudência Goiana, neste tema, já decidiu que:

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CURADORIA DO MEIO AMBENTE“AÇÃO CIVIL PÚBLICA - POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - RECURSO - MINISTÉRIO PÚBLICO - PRAZO. 1)O Ministério Público goza de prazo recursal em dobro. 2)O Poder Público, em sendo vencido na ação civil pública, pode ser condenado em obrigação de fazer, sem que isso constitua ofensa ao poder discricionário. 3)Todo ato administrativo, em qualquer de suas espécies deve observar os princípios gerais correlatos, sujeitando-se, ainda, à apreciação pelo Poder Judiciário”. Ap. Cív. nº 35.404-6. Rel.: Des. Antônio Nery da Silva. Ac. de 27.06.95.

DO DIREITO

Diz o artigo 23, da Constituição Federal de 1988, in verbis:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

........................................................................... VI - proteger o Meio Ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;”

O artigo 225 da Constituição Federal, estabelece para as obras que causem danos ao ambiente a exigência prévia de elaboração do estudo de impacto ambiental, entre outras exigências:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I – (...);II – (...);III – (...);IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;VI – (...);

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEVII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Por seu turno, a Lei Federal n. 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do Meio Ambiente), dispõe que:

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios;I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;VIII - recuperação de áreas degradadas;IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

“Art. 3º - Para fins previstos nesta Lei, entende-se por:

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEI - Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas:II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente;III - Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões estabelecidos.......................................................................................”.

Por seu turno, a Lei Estadual n. 8.544, de 17 de outubro de 1978, que dispõe sobre o controle de poluição do meio ambiente, estabelece:

“Art. 2º . Considera-se poluição do meio ambiente a presença, o lançamento ou liberação, nas águas, no ar, no solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, em quantidade de concentração ou com características em desacordo com as que forem estabelecidas em lei, ou que tornem ou possam tornar as águas, o ar ou o solo: I - impróprios, nocivos ou ofensivos à saúde;II - inconvenientes ao bem-estar público;III - danosos aos materiais, à fauna e à flora;IV - prejudiciais à segurança, ou uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade;........................................................................................

Art. 5º . A instalação, a construção ou ampliação, bem como operação ou funcionamento das fontes de poluição que forem enumeradas no regulamento desta lei, ficam sujeitos à prévia autorização do órgão estadual de controle de poluição do meio ambiente, mediante licenças de instalação e funcionamento.”

Atento às diretrizes da Política Nacional de Proteção ao Meio Ambiente, o CONAMA editou a Resolução n. 01, de 23 de janeiro de 1986, a qual expressamente determina em seu artigo 1º, inciso IV:

Meio Ambiente: ‘Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes na causa que abraçamos’.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTE“Art. 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:........................................................................................IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente."

A lei n° 9.605/98 que dispõe acerca da prática de crimes ambientais nos ensina:

Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.(...).

Vejamos o teor do artigo 14, § 1º, da Lei 6.938/81:

Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.

Quanto a tutela ambiental a responsabilidade civil é objetiva, conforme consignado pela Lei nº 6.938/81, art. 14, § 1º, c/c o art. 4º, inciso VII.

Meio Ambiente: ‘Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes na causa que abraçamos’.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTESérgio Ferraz, Édis Milaré, Camargo Ferraz e Nery

Júnior entendem que a responsabilidade é objetiva, independendo da culpa, bastando somente o nexo causal entre o dano e o ato praticado pelo poluidor.

Cabe destacar ainda que, em sede de responsabilidade por danos causados a interesses difusos, aplicam-se as regras da solidariedade: a reparação é exigível de todos e de qualquer um dos responsáveis, inclusive podendo ser oposta àquele que se afigure o mais solvável, o qual depois se voltará contra os demais, em via de regresso.

A lei n° 6.938/81 adotou a teoria do risco da atividade criando o regime da responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente (art. 14, § 1º), de sorte que é irrelevante e impertinente a discussão da conduta do agente (dolo ou culpa) para atribuição do dever de indenizar, de reparar o meio ambiente.

Conseqüências da responsabilidade ambiental :

a) prescindibilidade de culpa e do dolo para que haja o dever de indenizar;b) irrelevância da licitude da conduta do causador do dano para que haja o

dever de indenizar;c) inaplicação, em seu sistema, das causas de exclusão da responsabilidade

civil (cláusula de não indenizar, caso fortuito e força maior).

Pressupostos : evento danoso e nexo de causalidade.

Por sua vez, entende-se por dano ecológico “qualquer lesão ao meio ambiente causada por condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica de direito público ou privado” José Afonso da Silva – Direito Ambiental Constitucional.

A proteção ambiental é uma operação feita no plano da comunidade com o fito de atribuir a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar. O homem deve ser visto concretamente como membro de uma comunidade local e o território na sua realidade de Ambiente Ecológico, redescobrindo-se nele seus valores específicos, promovendo-se nele seus valores específicos, protegendo-o, além de utilizá-lo de forma consciente.

Meio Ambiente: ‘Sozinhos somos fracos, juntos somos fortes na causa que abraçamos’.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEDestarte, deve-se, in casu, analisar a possibilidade de

efetiva reintegração do estado de equilíbrio dinâmico do sistema ecológico em momento posterior à reparação.

Por “recuperação do equilíbrio dinâmico” entenda-se não apenas a recuperação da capacidade funcional do bem, mas também a recuperação das capacidades de auto-regulação e auto-regeneração do bem ambiental lesado. Dessa forma, verifica-se que três níveis devem ser atendidos para que a reparação seja efetiva e satisfatória: capacidade de auto-regeneração, capacidade de auto-regulação e capacidade funcional.

É importante dizer, também, da imprescindibilidade da compensação ecológica consistente na substituição do bem lesado por um bem funcionalmente equivalente, de maneira que o patrimônio natural permaneça, no seu todo, qualitativa e quantitativamente inalterado.

Vale ressaltar, ainda, que a par do dano material, impõe-se a reparação do dano moral ambiental, principalmente o coletivo. Sua reparação se dá de forma autônoma e independente da reparação do dano material. O dano extrapatrimonial ambiental evidencia-se aqui por meio de uma lesão que trouxe desvalorização imaterial ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e concomitantente a outros valores inter-relacionados como saúde e qualidade de vida.

Configurada, portanto, a lesão objetiva (bem ambiental) e subjetiva (interesse coletivo), a reparação dos danos morais é indispensável como forma de restabelecer o equilíbrio ambiental. Nesse sentido, é importante a avaliação econômica dos recursos naturais para se calcular o montante de ressarcimento devido à sociedade pelos danos causados ao meio ambiente.

Por oportuno, cito trecho do artigo do Dr. MARCOS PAULO DE SOUZA MIRANDA, COORDENADOR DAS PROMOTORIAS AMBIENTAIS DAS SUB-BACIAS DOS RIOS DAS VELHAS E PARAOPEBA - tema: “POLUIÇÃO EM DECORRÊNCIA DO LANÇAMENTO EM CURSOS D’ÁGUA DE ESGOTOS SANITÁRIOS SEM PRÉVIO TRATAMENTO - ASPECTOS JURÍDICOS E ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO”.

“DIPLOMAS LEGAIS APLICÁVEIS À TEMÁTICA

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEOs diplomas legais para o combate ao problema ora em análise são muitos, razão

pela qual identificamos abaixo apenas os que julgamos mais importantes.

O Decreto n. 24.643/34 (Código de Águas) preceitua em seu art. 109 que: A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros. No artigo seguinte o Código estabelece que: Os trabalhos para a salubridade das águas serão executados à custa dos infratores, que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos.

A Lei 11.720, de 28 de dezembro de 1994, que dispõe sobre a Política Estadual de Saneamento Básico estabelece que é seu objetivo assegurar a proteção da saúde da população e a salubridade ambiental urbana e rural, estatuindo ainda que:

Art. 2º - Para os efeitos desta lei, considera-se: I - salubridade ambiental o conjunto de condições propícias à saúde da população urbana e rural, quanto à prevenção de doenças veiculadas pelo meio ambiente e à promoção de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo da saúde e do bem-estar; II - saneamento básico o conjunto de ações, serviços e obras que visam a alcançar níveis crescentes de salubridade ambiental por meio de: a) abastecimento de água de qualidade compatível com os padrões de potabilidade e em quantidade suficiente para assegurar higiene e conforto;

b) coleta e disposição adequada dos esgotos sanitários; ...

Art. 3º - A execução da política estadual de saneamento básico, disciplinada nesta lei, condiciona-se aos preceitos consagrados pela Constituição do Estado, observados os seguintes princípios: I - direito de todos ao saneamento básico; II - autonomia do município quanto à organização e à prestação de serviços de saneamento básico, nos termos do art. 30, V, da Constituição Federal; III - participação efetiva da sociedade, por meio de suas entidades representativas, na formulação das políticas, na definição das estratégias, na fiscalização e no controle das ações de saneamento básico; IV - subordinação das ações de saneamento básico ao interesse público, de forma a se cumprir sua função social.

A Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, estatui:

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Art. 24. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, a qualquer momento:I - acrescentar outras condições e padrões, ou torná-los mais restritivos, tendo em vista as condições locais, mediante fundamentação técnica; eII - exigir a melhor tecnologia disponível para o tratamento dos efluentes, compatível com as condições do respectivo curso de água superficial, mediante fundamentação técnica.

Art. 25. É vedado o lançamento e a autorização de lançamento de efluentes em desacordo com as condições e padrões estabelecidos nesta Resolução.

3. INSTRUMENTOS JURÍDICOS PARA O COMBATE À POLUIÇÃO

Feita a análise acima, constata-se que o ordenamento jurídico brasileiro não permite o lançamento de esgotos em cursos d’água sem prévio tratamento. Todo aquele (pessoa física ou jurídica) que descumprir o dever de não conspurcar as águas através do lançamento de efluentes sanitários in natura enquadrar-se-á na situação jurídica de poluidor (art. 3º, IV, Lei 6.938/81) e estará sujeito às sanções previstas em âmbito administrativo, cível e criminal, como determinado no art. 225, § 3º da CF/88.

3.1 – ASPECTO CRIMINAL

Em âmbito criminal a conduta do responsável pela poluição poderá encontrar adequação típica no art. 54 da Lei 9.605/98, que sanciona a conduta daquele que causa poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, prevendo tipos qualificados nos casos de poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade e quando ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos.

Tratando do aludido crime, Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas ensinam:

Poluição hídrica é todo ato ou fato pelo qual se lance na água qualquer produto que provoque a alteração de suas características ou a torne imprópria para o uso. A água é considerada poluída quando a sua

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composição está alterada, de forma que se torna inadequado para alguma pessoa ou para todas o seu uso no estado natural. São as alterações de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas que a tornam nociva para a saúde e o bem estar da população, ou imprópria para uso, tanto para fins domésticos, agrícolas, industriais e recreativos, como para a fauna e a flora. As causas mais comuns da poluição da água são os despejos de dejetos humanos e industriais e de produtos químicos e radioativos.4

Por isso, a ação penal pública mostra-se como o instrumento jurídico apto à responsabilização do degradador em tal seara e, secundariamente, como forma de prevenção geral de fatos símiles. As pessoas jurídicas responsáveis pela poluição também poderão responder criminalmente por tal fato nas hipóteses previstas no art. 3º da Lei 9.605/98.

Colhe-se, a propósito, da jurisprudência:

PENAL. CRIME AMBIENTAL. CAUSAR POLUIÇÃO AO MEIO AMBIENTE MEDIANTE O LANÇAMENTO DE ESGOTO EM ARROIO. MATERIALIDADE E AUTORIA. - Suficiente para configuração da materialidade e autoria do artigo 54, caput, §4º, incisos IV e V, da Lei 9.605/98 a prova de que dejetos oriundos da atividade de um hotel administrado pelo acusado eram lançados em arroio fluvial apresentando índices de coliformes fecais acima do permitido em Resolução do CONAMA. (TRF4 - APELAÇÃO CRIMINAL - Processo: 200072040015318 UF: SC Órgão Julgador: OITAVA TURMA - Data da decisão: 23/02/2005 - Rel. Juiz Luiz Fernando Wowk Penteado).

CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. RECURSO PROVIDO. . Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado, juntamente com dois administradores, foi denunciada por crime ambiental, consubstanciado em causar poluição em leito de um rio, através de lançamento de resíduos, tais como, graxas, óleo, lodo, areia e produtos químicos, resultantes da atividade do estabelecimento comercial. (STJ - RESP 564960 – Rel. Min. Gilson Dipp, J. 02/06/2005)

4 Crimes contra a natureza. São Paulo: Revista dos Tribunais, 6. ed. 1999, p. 180.

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3.2 – ASPECTO CÍVEL

Em âmbito cível o degradador poderá ser condenado judicialmente à reparação dos danos ambientais causados bem como às obrigações de fazer e não fazer necessárias à cessação da atividade lesiva ao meio ambiente.

No que tange ao Poder Público, a obrigação de zelar pela proteção ao meio ambiente é plenamente vinculada. Ademais, a discricionariedade administrativa não legitima a conduta omissiva lesiva aos bens ambientais. É que o texto constitucional, principalmente o art. 225, determina a obrigação do Poder Público, ou daquele que fizer suas vezes, de promover a defesa do meio ambiente, não podendo causar poluição, atividade completamente proscrita e danosa à sociedade.

Contudo, sabe-se que muitos são os danos ambientais causados pelo Poder Público, por ação ou omissão, direta ou indiretamente. Álvaro Luiz Valery Mirra acerca de tal problemática se refere na obra “Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio Ambiente”, aduzindo que em inúmeras situações o Estado se omite no cumprimento de seu dever de adotar as medidas necessárias à proteção de bens e recursos ambientais.

Segundo o ilustre magistrado paulista:

Inúmeros são os exemplos que, pela sua gravidade, acarretam conflitos importantes, os quais, com freqüência cada vez maior, chegam aos tribunais. Ilustram bem essa realidade os seguintes casos: a) a poluição de rios e corpos d’água pelo lançamento de efluentes e esgotos urbanos e industriais sem o devido tratamento; b) a degradação de ecossistemas e áreas naturais de relevância ecológica; c o depósito e a destinação final inadequados de lixo urbano; d) o abandono de bens integrantes do patrimônio cultural brasileiro.5

Em casos tais, pode e deve o Ministério Público lançar mão da ação civil pública (se por acaso não alcançada a solução extrajudicial, sempre preferível, para o problema) objetivando compelir a administração pública a cumprir o dever de não poluir.

Wallace Paiva Martins Júnior, a propósito, expõe com precisão:

Compelir o Município a obrigação de não fazer consistente na cessação da atividade nociva à qualidade de vida, de despejo de efluentes ou esgotos domésticos in natura nas águas, ou de obrigação de fazer consistente na prestação de atividade devida, de efetuar o lançamento desses esgotos

5 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2ª ed., atualizada. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004.

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submetidos ao prévio tratamento e na conformidade dos padrões ambientais estabelecidos é, em última análise, impor-lhe o dever de cumprimento da lei, de preservação do ambiente e de combate a prevenção à poluição para cessar atividade nociva ao meio ambiente e prestar atividade devida decorrente de lei.

Depara-se a questão diante do poder-dever vinculado, não de uma opção administrativa discricionária porque o ordenamento jurídico é enfático ao exigir da administração pública a realização de um dado ato, de conteúdo (objeto) explícito na norma, seja por prestação negativa (abster-se de poluir), seja por prestação positiva (submeter a prévio tratamento), que, em resumo, fundem-se numa única e prioritária preocupação material de evitar a poluição das águas.6

Outra não é a posição de Erika Bechara, que sustenta que o artifício da discricionariedade seria admissível se houvesse duas ou mais maneiras de se impedir poluição por esgoto in natura e o Poder Público optasse por uma delas. Mas não é o caso, já que as opções são: impedir que o esgoto seja produzido ou tratar o esgoto produzido e impedir a poluição. Daí porque impedir a poluição dos cursos d’água pelo lançamento de esgoto in natura é um poder-dever do Poder Público, é um ato vinculado7.

No âmbito de nossos Tribunais essas lições doutrinárias têm encontrado costumeira guarida.

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça, a propósito, já decidiu:

PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PUBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE CAUSADO PELO ESTADO. SE O ESTADO EDIFICA OBRA PUBLICA – NO CASO, UM PRESIDIO - SEM DOTA-LA DE UM SISTEMA DE ESGOTO SANITARIO ADEQUADO, CAUSANDO PREJUIZOS AO MEIO AMBIENTE, A AÇÃO CIVIL PUBLICA E, SIM, A VIA PROPRIA PARA OBRIGA-LO AS CONSTRUÇÕES NECESSARIAS A ELIMINAÇÃO DOS DANOS; SUJEITO TAMBEM AS LEIS, O ESTADO TEM, NESSE AMBITO, AS MESMAS RESPONSABILIDADES DOS PARTICULARES. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. (STJ – RESP 88776 - Rel. Min. Ari Pargendler . J. 19/05/1997)

Os Tribunais Estaduais, de igual sorte, vêm decidindo de forma reiterada:

6 MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Despoluição das Águas. Revista dos Tribunais, vol. 720, p. 58-72.7 BECHARA, Érika. Tratamento do esgoto doméstico pelo Poder Público: discricionariedade ou vinculação? Anais do 7º Congresso Internacional de Direito Ambiental, volume I, São Paulo.

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CONSTITUCIONAL. OMISSÃO DO PODER EXECUTIVO NA TUTELA DO MEIO AMBIENTE. DETERMINAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO PARA CUMPRIMENTO DE DEVER CONSTITUCIONAL. INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DE SEPARAÇÃO DE PODERES E À CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL. No microssistema da tutela ambiental impõe-se, em virtude dos princípios da precaução e preservação, uma atuação preventiva do Poder Judiciário, de forma a evitar o dano ao meio ambiente, pois este, depois de ocorrido, é de difícil ou impossível reparação. Por tal motivo que, nas ações que envolvam o meio-ambiente, o uso da tutela antecipada se legitima ainda mais. A omissão do Município de Luz em tratar adequadamente do lançamento de esgotos e derivados, no Córrego do Açudinho, importa em flagrante violação ao meio-ambiente e, por conseqüência, ao direito fundamental à saúde e ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. O meio ambiente, como um bem extraordinariamente relevante ao ser humano, é tutelado pela Constituição Federal. Assim, é dever inafastável do Estado empreender todos os esforços para a sua tutela e preservação, sob pena de violação ao art. 225 da CF. O Poder Judiciário, no exercício de sua alta e importante missão constitucional, deve e pode impor ao Poder Executivo Municipal o cumprimento da disposição constitucional que garante a preservação do meio ambiente, sob pena de não o fazê-lo, compactuar com a degradação ambiental e com piora da qualidade de vida de toda sociedade. A judicialização de política pública, aqui compreendida como implementação de política pública pelo Poder Judiciário, harmoniza-se com a Constituição de 1988. A concretização do texto constitucional não é dever apenas do Poder Executivo e Legislativo, mas também do Judiciário. É certo que, em regra a implementação de política pública, é da alçada do Executivo e do Legislativo, todavia, na hipótese de injustificada omissão, o Judiciário deve e pode agir para forçar os outros poderes a cumprirem o dever constitucional que lhes é imposto. A mera alegação de falta de recursos financeiros, destituída de qualquer comprovação objetiva, não é hábil a afastar o dever constitucional imposto ao Município de Luz de preservar o meio ambiente. Assim, a este caso não se aplica à cláusula da Reserva do Possível, seja porque não foi comprovada a incapacidade econômico-financeira do Município de Luz, seja porque a pretensão social de um meio ambiente equilibrado, preservado e protegido se afigura razoável, estando, pois, em plena harmonia com o devido processo legal substancial. (TJMG - AGRAVO Nº 1.0388.04.004682-2/001 – REL. DESª. MARIA ELZA – J. 21/10/2004)

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE. CONDENAÇÃO DA COPASA E DO MUNICÍPIO DE CORAÇÃO DE JESUS ÀS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER. APELAÇÃO DA COPASA, NO QUE TANGE À OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER (NÃO LANÇAR O ESGOTO NO CÓRREGO CANABRAVA, ANTES DE TOMAR AS DEVIDAS PRECAUÇÕES). APELANTE ALEGA IMPOSSIBILIDADE DE EFETUAR O LANÇAMENTO EM OUTRO LOCAL, ANTES DE SER CRIADA A ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO. É INEGÁVEL O DANO AMBIENTAL SE A REDE COLETORA CONTINUAR FUNCIONANDO SEM A CONSTRUÇÃO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO - ETE. A COPASA E O MUNICÍPIO SÃO RESPONSÁVEIS PELA IMPLANTAÇÃO DE UM CORRETO SISTEMA DE ESGOTAMENTO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJMG - APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.00.337425-3/000 –REL. DES. RONEY OLIVEIRA – J. 20/11/2003)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE - DESPEJO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS EM RIO - OBRIGAÇÃO DE FAZER - AÇÃO PROCEDENTE - PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E LITISCONSÓRCIO REJEITADOS. À vista do artigo 191 da Constituição Estadual o Município é responsável pelos danos ambientais ainda que o serviço de esgoto sanitário esteja a cargo de autarquia. Tal responsabilidade é objetiva, afastando argüições de ilegitimidade e litisconsórcio passivo. Deplorável o descaso do poder público com o meio ambiente ao proceder o despejo "in natura" de esgotos domésticos e, corpo d'agua, sendo imperativa a construção de lagoa de tratamento prévio. (TJSP - Apelação Cível Nº 164.488-1/7 – Sorocaba, v.u., 30/04/1992, Relator Ney Almada)

Como já dito, além de cessar a atividade poluidora e de prestar a atividade ambientalmente devida, há ainda o dever do poluidor de reparar os danos ambientais já consumados (contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas etc.), uma vez que o art. 14, § 1º da Lei 6938/81 é enfático: Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.

A doutrina de Walace Paiva Martins Filho é elucidativa:

É inconcusso que a omissão da administração lesou o meio ambiente nos termos do art. 3º, III, a e e da Lei Federal 6.938/81 e dos arts. 2º e 4º da Lei

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEEstadual 997/76 e seu decreto regulamentador, pois o lançamento de esgotos

domésticos sem prévio tratamento e desconforme os padrões ambientais estabelecidos gerou degradação da qualidade das águas causando dano ao curso d’água, à saúde e o bem-estar da coletividade.Exsurgem daí os deveres de restauração do ambiente degradado e de reparação dos danos causados nos termos do art. 225, § 1º, I e § 4º da Constituição Federal e do art. 14, § 1o. da Lei Federal 6.938/81, satisfazendo para o acolhimento da pretensão o simples estabelecimento do nexo etiológico da conduta comissiva ou omissiva com a eclosão da lesão ou dano, sem necessidade de aferição de culpa ou dolo, liquidáveis mediante simples perícia na fase de conhecimento ou execução.8

Em âmbito jurisprudencial colhe-se idêntico entendimento consoante se dessume das seguintes decisões:

Dano ao meio ambiente. Águas contaminadas – Lançamento de poluentes industriais sem tratamento por empresa – Comprovação através de perícia – Responsabilidade objetiva – Indenização devida – Sentença mantida – Recurso improvido – Inteligência do art. 14 da Lei 6938/81 (TJSP – Rel. Des. Ney Almada - RT 693/130).

Meio Ambiente – Dano – Contaminação de terras e águas – Empresa química – Despejo de resíduos tóxicos em áreas de Município – Afetação do ecossistema local e de ocupação humana na região – Obrigações cominatórias e indenizatórias impostas cumulativamente – Admissibilidade – Ação Civil Pública procedente – Recurso não provido (TJSP – JTJ 212/126 – Rel. Vallim de Toledo)

Ainda sob o ponto de vista cível, importante ressaltar que não se mostra lícita a cobrança de remuneração a título de serviços de coleta e tratamento de esgotos a usuários, se esses serviços não são efetivamente prestados de forma adequada.

Esse entendimento vem sendo sufragado pela jurisprudência pátria, como se depreende do seguinte julgado:

ESGOTAMENTO SANITÁRIO. CEDAE. NÃO PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. COBRANÇA INDEVIDA. Se a CEDAE não cumpre o seu dever precípuo de prestação de serviço de tratamento de esgoto objetivando a não poluição de lagoas, canais e rios, no propósito de tutela ao meio ambiente saudável, na perspectiva da regra de ouro: mais vale prevenir do que remediar, não pode cobrar por serviço público que não prestou nem colocou à disposição do

8 op. cit. p. 70.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEconsumidor. Inaplicável, por isso, a norma do artigo 9º do Decreto nº 22.872/96, porquanto se o autor não se utiliza do sistema público de

esgotamento sanitário, visto que inexiste tal prestação de serviço, não há fato gerador do preço da tarifa que lhe seria correspectivo. Desprovimento do recurso. (TJRJ – Ap. Civ. 2003.001.30227 – Rel. Des. Roberto de Abreu e Silva - Julgamento: 11/05/2004)

Sob a ótica da responsabilidade administrativa vale ressaltar que o Decreto 3.179/99 tipifica no art. 41 a infração administrativa relativa à poluição, prevendo como sanção multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais), ou multa diária.

Tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas, de direito público ou privado, que derem causa à poluição podem ser responsabilizadas administrativamente por tal fato.

Neste sentido:

Meio Ambiente – Proibição de lançamento de esgoto nos rios sem o devido tratamento – Multa por infração ao meio ambiente – Constitucionalidade e legalidade – Mandado de segurança denegado – Recurso não provido (Apelação Cível nº 104211-5 – São Manuel – Rel. Dês. Luiz Tâmbara – j. 19/09/2000).

MULTA - Poluição - Município - Admissibilidade - Ausência de quebra de autonomia constitucional - Pessoa jurídica de direito público interno que não está imune ou isenta do cumprimento da lei - Recursos não providos. A municipalidade não é imune às sanções previstas na legislação que cuida do meio ambiente, e imposta por outra entidade de direito público. Aliás, o artigo 3º, IV da Lei n. 6.938/81 define a figura do poluidor como sendo pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradação ambiental. (Tribunal de Justiça de São Paulo - Relator: Hermes Pinotti - Apelação Cível n. 228.078 -2 - Itanhaém - 05.04.94).

Por derradeiro, lembre-se que a Lei 9.433/97, que trata da Política Nacional de Recursos Hídricos, exige em seu art. 12, III, outorga para o lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final. Assim, aquele que não dispuser de outorga para tal fim e utilizar recursos hídricos para o lançamento de efluentes estará incurso na infração administrativa prevista no art. 49, II, do aludido diploma legal, ficando sujeito a sanções que variam entre a advertência, a multa e o embargo de atividades.”

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

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CURADORIA DO MEIO AMBENTE

O legislador consumerista, na efetiva proteção dos direitos do consumidor brasileiro, erigiu como direito básico deste a inversão do ônus da prova, nos seguintes termos:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:... omissis ...VIII - a facilitação da defesa de seus

direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência”.

A doutrina, sabiamente, ensina que são “...duas as hipóteses em que se admite a inversão do ônus da prova no processo civil, sempre com escopo de favorecer a defesa dos direitos do consumidor: a)quando verossímil sua alegação; b)quando for ele hipossuficiente. Tanto para se considerar se é verossímil a alegação, quanto para avaliar se trata de consumidor hipossuficiente, o juiz poderá valer-se das regras ordinárias de experiência; não está adstrito aos critérios do art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 1060/50, até porque não há razão para entender hipossuficiência apenas do aspecto econômico” Nigro Hugo Mazzilli, in ob. cit., p. 95.

Presentes, no caso em tela, ambas as hipóteses permissivas da inversão do ônus da prova em favor dos consumidores-vítimas, ex vi do art. 6º, VIII, do Código do Consumidor.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEO fato básico narrado na presente peça –

ineficácia da prestação dos serviços de esgoto sanitário - está plenamente comprovado, não se tendo como negá-lo.

Por outro turno, como ressaltou o Douto Mazzilli, a hipossuficiência ditada pelo legislador pátrio não é simplesmente a econômica, mas sim aquela que coloca o consumidor em desvantagem ao agente da lesão.

No caso em comento, tem-se que os cidadãos de CALDAS NOVAS, diante da municipalização dos serviços de esgoto, não tem opção para escolher outra empresa que venha a trazer os benefícios que são de atribuição originária do Poder Público.

Pugna-se, pois, após a análise detida deste Juízo, que seja aplicado, em defesa dos direitos dos consumidores, a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, Cód. Cons.), cabendo aos Requeridos DEMAE e MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS comprovarem a construção plena de redes coletoras de esgoto e tratamento efetivo do mesmo, com a conseqüente prestação, eficaz e regular, dos serviços de esgoto sanitário.

DO PEDIDO DE LIMINAR

Permite a legislação vigente que o juiz, verificando presentes os requisitos básicos - fumus boni iuris e periculum in mora - conceda medida liminar initio litis para resguardar situações positivas ou negativas, ex vi do artigo 12, da Lei Federal nº 7.347/85.

No que tange ao requisito do fumus boni iuris, exige a legislação que esteja, desde o início do pleito, configurada no ordenamento jurídico a existência do direito pretendido, sendo verossímil sua aceitação posterior.

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CURADORIA DO MEIO AMBENTE

No caso dos autos, consoante exposição supra, verifica-se, pelas provas acostadas, que as omissões dos Requeridos estão causando prejuízos efetivos à saúde da população, bem como ao MEIO AMBIENTE.

Ao analisar o pedido de liminar este juízo deve deparar-se com o malicioso e absurdo argumento de que toda a problemática aventada deve-se a turbulência política ocorrida neste município, contudo vale lembrá-lo que a questão tratada remonta a décadas, sem a adoção de qualquer providência mitigatória, e que o meio ambiente e a saúde pública não devem ser onerados pela irresponsabilidade e falta de comprometimento e de planejamento de alguns políticos, maus gestores, tendo a administração pública caráter contínuo e permanente, guiando-se sempre pelos princípios norteadores, primando ainda pelo direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O que deve ser levado em consideração é a necessidade imperiosa de interromper a prática permanente de atividade criminosa e lesiva, em relação ao Meio Ambiente e a saúde pública dos consumidores, pois o DEMAE, sem se preocupar com os graves danos provocados pela atividade irregular, vem, ao longo dos anos, cobrando pelos serviços defasados de coleta de esgoto, ao passo que procede, sem a observância das normas técnicas pertinentes, o lançamento in natura na natureza.

A LIMINAR pleiteada deve atender a gravidade das questões aqui tratadas, determinando-se a imediata ampliação ou mesmo a construção de nova rede coletora de

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEesgoto que margeia o córrego Caldas, de forma a beneficiar a população atingida, bem como a fim de evitar que o esgoto

sanitário continue a ser lançado, de forma contínua, a céu aberto, sem tratamento algum, conforme documentalmente comprovado.

Por outro lado, no caso dos demais setores - mormente aqueles carentes - a lesão ao meio ambiente é gigante, levando-se em conta que os cursos naturais de água que circundam a zona urbana e de expansão urbana estão, dia-a-dia, sendo destruídos em situação quase irreversível, diante do lançamento in natura de esgoto sanitário.

Busca-se ainda amparo LIMINAR, com base nos fatos já narrados, bem como na extensa listagem dos bairros não contemplados pela rede coletora de esgoto, na necessidade urgente deste juízo impor aos requeridos, visando um regramento acerca da problemática tratada, bem como o devido cumprimento à legislação citada, a obrigação de não fazer, no que tange ao Município de Caldas Novas de se abster de emitir ‘Habite-se’ a novo(s) empreendimento(s) imobiliário(s), enquanto não regularizada (com ampliação/construção) toda a rede coletora na área de implantação do(s) mesmo(s), e ao DEMAE de abster-se de emitir CERTIDÃO de viabilidade para instalação, nos mesmos moldes narrados, fazendo valer, de uma vez por todas, os direitos dos consumidores, dos cidadãos e do meio ambiente, as normas legais vigentes, bem como interrompendo a prática, em tese, das atividades criminosas permanentes acima descritas.

Consoante se comprovou na exposição supra, a continuação da grave situação narrada têm lesado

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEenormemente o patrimônio ambiental como um todo, bem como a situação dos cidadãos que são afetados diretamente pela inexistência ou ainda ineficácia do sistema coletor de esgoto.

A manutenção de tais situações traz, cada vez mais, prejuízos a tais cidadãos que, indefesos, tentam obter no Judiciário, via do Ministério Público, amparo para que o meio ambiente e a saúde pública sejam resgatadas.

Vislumbra-se, pois, de extrema urgência que, liminarmente, este Juízo determine ao DEMAE que proceda a ampliação/construção imediata de novas redes coletoras de esgoto, o que se não for realizado, levará ao engrandecimento das lesões ambientais e de cidadania, as quais podem ocasionar conseqüências totalmente danosas aos munícipes.

Presente, pois, o periculum in mora, consubstanciado na situação precária supra mencionada, a qual atinge diretamente direitos e garantias constitucionais de nossos cidadãos.

Destarte, o artigo 12 da Lei n. 7.347/85 que contempla um procedimento especial, estabelece de forma clara que é permitido ao Juiz o poder de conceder, com ou sem justificação prévia, MEDIDA LIMINAR.

Visualiza-se, pois, pelo exposto, a urgência de solução da problemática causada pela negligência dos réus, estando presentes os requisitos necessários para a concessão da medida pleiteada, quais sejam: fumus boni iuris, consistente nos dispositivos legais retro mencionados e o periculum in mora, presente no agravamento da situação e a ocorrência contínua de graves danos ambientais e da inobservância total das garantias constitucionais de proteção à saúde e a vida dos munícipes, eis que os réus não tomaram as medidas legais

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEcabíveis para regularizar a questão, em flagrante desrespeito à legislação em vigor.

Na verdade, o que deve prevalecer na análise e apreciação da MEDIDA LIMINAR é o fato de estarmos diante de interesses de ordem metaindividual, atinentes ao Meio Ambiente e a saúde da população, bens jurídicos fundamentais para a continuidade da vida em nossa comunidade.

Presença indelével dos requisitos que autorizam a concessão da MEDIDA LIMINAR, realçando a patente inocuidade da prestação jurisdicional a posteriori, vez que a situação está a exigir medidas rápidas que possam salvaguardar os bens jurídicos expostos a violação.

DOS PEDIDOS

Ao exposto, o Ministério Público, tendo em vista a grave exposição supra, requer:

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1) a concessão, initio litis, de liminar9, determinando OBRIGAÇÃO DE FAZER aos Requeridos - DEMAE e MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS - para que, no prazo máximo

de 30 (trinta) dias, iniciem a ampliação ou mesmo a construção de nova rede coletora de esgoto que margeia o córrego Caldas, fixando-se judicialmente cronograma de execução para a conclusão das obras, não superior a 180 (cento e oitenta) dias, de forma a beneficiar os consumidores, a saúde pública da população atingida, bem como a fim de impedir que o esgoto sanitário (incluindo o esgoto in natura – oriundo daqueles empreendimentos e domicílios que não são atendidos pela defasada rede coletora do DEMAE ou mesmo pela falta de capacidade do sistema atual)

9 No microssistema da tutela ambiental impõe-se, em virtude dos princípios da precaução e preservação, uma atuação preventiva do Poder Judiciário, de forma a evitar o dano ao meio ambiente, pois este, depois de ocorrido, é de difícil ou impossível reparação. Por tal motivo que, nas ações que envolvam o meio-ambiente, o uso da tutela antecipada se legitima ainda mais. A omissão do Município de Luz em tratar adequadamente do lançamento de esgotos e derivados, no Córrego do Açudinho, importa em flagrante violação ao meio-ambiente e, por conseqüência, ao direito fundamental à saúde e ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. O meio ambiente, como um bem extraordinariamente relevante ao ser humano, é tutelado pela Constituição Federal. Assim, é dever inafastável do Estado empreender todos os esforços para a sua tutela e preservação, sob pena de violação ao art. 225 da CF. O Poder Judiciário, no exercício de sua alta e importante missão constitucional, deve e pode impor ao Poder Executivo Municipal o cumprimento da disposição constitucional que garante a preservação do meio ambiente, sob pena de não o fazê-lo, compactuar com a degradação ambiental e com piora da qualidade de vida de toda sociedade. A judicialização de política pública, aqui compreendida como implementação de política pública pelo Poder Judiciário, harmoniza-se com a Constituição de 1988. A concretização do texto constitucional não é dever apenas do Poder Executivo e Legislativo, mas também do Judiciário. É certo que, em regra a implementação de política pública, é da alçada do Executivo e do Legislativo, todavia, na hipótese de injustificada omissão, o Judiciário deve e pode agir para forçar os outros poderes a cumprirem o dever constitucional que lhes é imposto. A mera alegação de falta de recursos financeiros, destituída de qualquer comprovação objetiva, não é hábil a afastar o dever constitucional imposto ao Município de Luz de preservar o meio ambiente. Assim, a este caso não se aplica à cláusula da Reserva do Possível, seja porque não foi comprovada a incapacidade econômico-financeira do Município de Luz, seja porque a pretensão social de um meio ambiente equilibrado, preservado e protegido se afigura razoável, estando, pois, em plena harmonia com o devido processo legal substancial. (TJMG - AGRAVO Nº 1.0388.04.004682-2/001 – REL. DESª. MARIA ELZA – J. 21/10/2004)(GRIFO NOSSO).

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEcontinue a ser lançado, dia após dia, a céu aberto, sem tratamento (provocando graves danos ambientais, no mencionado córrego, arbitrando multa diária por descumprimento da ordem, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser recolhida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente, notificando-se os Requeridos;

2) a concessão, initio litis, de liminar, determinando (obrigação de não fazer) ao Município de Caldas Novas que se abstenha de emitir ‘Habite-se’ a novo(s) empreendimento(s) imobiliário(s), enquanto não regularizada (com ampliação/construção) toda a rede coletora de esgoto na área de implantação do(s) mesmo(s), arbitrando multa diária por descumprimento da ordem, no valor de R$ 5.000,00 (cinco reais), a ser recolhida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente, notificando-se o Requerido;

3) a concessão, initio litis, de liminar, determinando (obrigação de não fazer) ao DEMAE que se abstenha de emitir CERTIDÃO de viabilidade para instalação de novo(s) empreendimento(s), enquanto não regularizada (com ampliação/construção) toda a rede coletora de esgoto na área de implantação do(s) mesmo(s), arbitrando multa diária por descumprimento da ordem, no valor de R$ 5.000,00 (cinco reais), a ser recolhida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente, notificando-se o Requerido;

4) seja distribuída a presente, juntamente com os documentos que a instruem, com sua autuação e efetivo registro, determinando-se a citação dos Requeridos, a fim de que, contestem a AÇÃO CIVIL PÚBLICA, querendo, sob pena de revelia, prosseguindo-se o feito em seus ulteriores termos de lei;

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CURADORIA DO MEIO AMBENTE5)seja realizada perícia e inspeção judicial

em toda a zona urbana e de expansão urbana de Caldas Novas para avaliar os danos, materiais e morais, causados ao meio ambiente e a saúde dos cidadãos locais, com a falta ou mesmo ineficácia de redes coletoras de esgoto, estimando-se em pecúnia tais danos para serem cobrados via liquidação judicial;

5.1)protesta ainda pela produção de todas as provas permitidas em direito, mormente perícias, juntadas de documentos, notificação, oportuna, das testemunhas a serem arroladas, etc.;

6) a procedência in totum dos pedidos formulados na presente ação civil pública, confirmando-se, em caráter definitivo, a medida liminar eventualmente concedida, de modo a satisfazer todos os objetivos expostos na presente peça vestibular, em especial, quanto ao mérito:

I. Que os Requeridos DEMAE e MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS sejam condenados na obrigação de fazer, consistente em construir, por completo, dentro do cronograma de execução fixado por este juízo, rede coletora de esgoto em toda a zona urbana e de expansão urbana desta cidade;

II. Que os Requeridos DEMAE e MUNICÍPIO DE CALDAS NOVAS sejam condenados a recuperarem e compensarem os danos ambientais, socioeconômicos e à saúde pública, provocados em razão de atividade irregular e negligente, de maneira que a reparação seja efetiva e satisfatória e o patrimônio natural permaneça, no seu

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CURADORIA DO MEIO AMBENTEtodo, qualitativa e quantitativamente inalterado, nos moldes expostos nesta exordial;

III. Que seja, ainda, os Requeridos condenados a indenizarem os danos materiais e extrapatrimoniais causados ao meio ambiente, cuja quantificação (quantum debeatur) deve ser feita por arbitramento, o que, desde já, se requer;

IV. A publicação de Edital para dar conhecimento a terceiros interessados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;

V. A condenação, ainda, no ônus da sucumbência, nos termos da legislação processual civil vigente.

Valora-se a presente ação em R$ 100.000,00, para efeitos fiscais.

Caldas Novas, 15 de maio de 2008.

DELSON LEONE JÚNIORPromotor de Justiça

Curador do Meio Ambiente

Em Anexo documentação pertinente.

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