30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio da Promotora de Justiça oficiante nesta Comarca, que ao final subscreve, vem, perante a presença de Vossa Excelência, com espeque nos artigos 129, inciso II e III, da CRFB/88, 5º da Lei n 7.347/85, c/c art. 1º, §§ 2º e 3º da Lei Federal nº 9.503/97, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇAO DE TUTELA ESPECÍFICA em face do ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno, representado pelo Procurador Geral do Estado e AGÊNCIA GOIANA DE TRANSPORTES E OBRAS (AGETOP), pessoa jurídica de direito público interno, autarquia estadual criada através da Lei Estadual nº 13.550/99, inscrita no CNPJ nº 03520933/0001-06, representada por seu Presidente, Sr. Jayme Eduardo Rincon, com sede na Av. José Ludovico de Almeida, nº 20, (BR-153, Km 3,5), Fone: (62) 3265-4000, Conjunto Caiçara, Goiânia/GO, CEP 74623-160; 1 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do Fórum CEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS · 2011-10-19 · compreendido entre os Municípios de São Miguel do Araguaia/GO, Mundo Novo-GO e Nova Crixás-GO encontra-se tomada por

  • Upload
    dangnhu

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por

intermédio da Promotora de Justiça oficiante nesta Comarca, que ao final subscreve,

vem, perante a presença de Vossa Excelência, com espeque nos artigos 129, inciso

II e III, da CRFB/88, 5º da Lei n 7.347/85, c/c art. 1º, §§ 2º e 3º da Lei Federal nº

9.503/97, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇAO DE TUTELA ESPECÍFICA em face do

ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público

interno, representado pelo Procurador Geral do Estado e AGÊNCIA GOIANA DE TRANSPORTES E OBRAS (AGETOP), pessoa jurídica de direito público interno,

autarquia estadual criada através da Lei Estadual nº 13.550/99, inscrita no CNPJ nº

03520933/0001-06, representada por seu Presidente, Sr. Jayme Eduardo Rincon,

com sede na Av. José Ludovico de Almeida, nº 20, (BR-153, Km 3,5), Fone: (62)

3265-4000, Conjunto Caiçara, Goiânia/GO, CEP 74623-160;

1 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos :

1 - DOS FATOS

É fato público e notório que a Rodovia GO-164 no trecho

compreendido entre os Municípios de São Miguel do Araguaia/GO, Mundo Novo-GO

e Nova Crixás-GO encontra-se tomada por buracos, num avançado estágio de

degradação, em decorrência da omissão da requerida na deflagração de manutenção

preventiva e corretiva, causando vários transtornos à população local e aos usuários

da mencionada rodovia.

Basta transitar num pequeno trecho desta rodovia, para

perceber que o seu pavimento não têm recebido por parte do Poder Público a

manutenção necessária, estando tomadas por verdadeiras “crateras” que dificultam o

trânsito de veículos automotores.

A má conservação desta rodovia vem causando

transtornos não só à coletividade, como também prejuízos de ordem financeira,

considerando o fato de que os proprietários de veículos, não tão raramente, têm

pneus e amortecedores danificados pelos constantes impactos causados pelos

inúmeros buracos espalhados pela cidade.

Merece destaque, também, o perigo gerado aos usuários

pelos buracos, na medida em que os motoristas de automóveis, ao tentarem desviar

dos impactos, podem vir a atropelar pessoas ou mesmo a atingir outros veículos.

Incontestável também é a existência de poluição visual

causada pelos inúmeros buracos existentes na rodovia, aparentando completo

abandono, situação que afeta o chamado meio ambiente artificial, que também é

resguardado pela Constituição Federal de 1988.

Saliente-se, ainda, que o número de buracos nesta rodovia

tem aumentado a cada dia, circunstância que é agravada pelo período chuvoso, sem

2 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

que o Poder Público tome providências eficazes para evitar o agravamento da

situação caótica em que se encontram a Rodovia GO-164 no trecho compreendido

entre os Municípios de São Miguel do Araguaia/GO, Mundo Novo-GO a Nova Crixás-

GO.

Não pode se perder de vista, que o Estado, direitamente,

ou por suas autarquias, assume obrigações quanto à correta manutenção de sua

estrutura de funcionamento, a qual só se justifica para atender ao cidadão, ou seja, o

Estado só existe por que o cidadão existe. O Estado não é e nem pode ser um fim em

si mesmo, tornando-se extremamente voraz na arrecadação de tributos e da mesma

forma extremamente mínimo na prestação de serviços sociais, denominados direitos

de segunda dimensão na visão de Ingo W. Sarlet1.

Ao descentralizar a sua estrutura de prestação de serviços

para as autarquias, cabem a estas, com base no planejamento de suas atribuições,

conhecimento prévio da realidade que procura interferir e dar correta atenção na

administração destes recursos, fazer cumprir os direitos dos cidadãos quanto à

segurança, transporte, vida e outros, garantindo-lhes dignidade e atento aos

princípios da continuidade, moralidade, eficiência e outros mais.

In casu, a responsabilidade pela manutenção das rodovias estaduais está, de acordo com a Lei nº 13.550/1999, em seu art. 6º, inciso VII, regulamentada pelo Decreto 5.903/2004, é da Agência Goiana de Transportes e Obras ( AGETOP), afeta a esta, a concretividade no cumprimento de suas obrigações.

No entanto, a GO 164, no sub-trecho São Miguel do

Araguaia-GO, Mundo Novo e Nova Crixás-GO, objeto desta demanda e que com o

período de chuvas, mostra-se com o seu pavimento cada vez mais comprometido e

fadigado.

Após várias tentativas na solução do problema pela via

extrajudicial, conforme notícia anexa, conseguiu-se tão só o comprometimento de

realização de operações denominadas “TAPA BURACOS”, em parte do trecho.1 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. 4. ed. rev., atual. e ampli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.

3 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

A providência em nada contribui para a solução definitiva

do problema porque custa caro aos bolsos dos contribuintes, tanto pelo péssimo

serviço prestado, haja vista a constante necessidade de sua repetição, em virtude

ampliam e impossibilitam um controle correto da qualidade do asfalto utilizado para

sua realização, quanto pela qualidade do serviço. Coloca-se terra, cascalho, e, em

alguns casos, massa asfáltica de péssima qualidade, mas, entre uma chuva e outra,

os buracos voltam à tona de forma acentuada.

Mesmo assim, as atividades “tapa buracos” não vem

sendo realizadas com frequência, conforme se apura da análise dos trechos

comprometidos.

Inobstante isso, apurou-se por intermédio do PS Nº

156/10, instaurado no âmbito desta Promotoria de Justiça, que, se não bastasse a

situação de intrafegabilidade do mencionado trecho, a empresa contratada pela

AGETOP, através do Programa denominado “TERCEIRA VIA”, com a finalidade de

realizar a manutenção do sub-trecho Nova Crixás à Mozarlândia-GO, suspendeu os

seus trabalhos de conservação rodoviária, colaborando para o agravamento da

situação precária do pavimento.

Consoante peça de informação técnica confeccionada pelo Departamento de Perícia Técnica do Ministério Público do Estado de Goiás, o pavimento da Rodovia GO 164 no sub trecho São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo a Nova Crixás-GO revela uma situação em que o estágio de degradação do pavimento asfáltico encontra-se tão acentuado, que já não seria mais viável a conservação rotineira (tapa – buracos) em função da degradação do pavimento como um todo – a grosso modo, seriam como “remendos em um tecido podre”, de forma que os custos seriam extremamente altos e os reparos efêmeros, o que somente veio a confirmar a veracidade das afirmações consignadas por esta Promotoria de Justiça no tocante a conduta omissiva da AGETOP, pois se do contrário tivesse sido efetuado tempestivamente as conservações preventivas e corretivas a situação seria outra e o patrimônio público teria sido preservado sob a ótica da dilapidação.

4 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

1.1 - DA TENTATIVA DE SOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DO PROBLEMA

Noutro vértice, necessário frisar, que houve por parte do

Ministério Público diversas tentativas visando sanar o impasse em relação a

restauração da Rodovia GO 164 – sub trecho São Miguel do Araguaia-GO, Mundo

Novo a Nova Crixás-GO, ainda na seara extrajudicial. Primeiramente, houve a

expedição da Recomendação Ministerial Nº 21/2010 à AGETOP, buscando a

recuperação do pavimento e dos dispositivos de sinalização horizontal e vertical da

Rodovia GO 164 no trecho em referência.

Todavia, a requerida além de não ter respondido

tempestivamente a recomendação, quando prestou as informações requisitadas pelo Ministério Público, o fez de forma totalmente desconectada da realidade fática. Tanto é verdade, que a Perícia Ministerial ao apreciar a resposta enviada pela AGETOP, em seu ofício 2148/2010 – PR, mencionou: “parece não tratar do mesmo trecho de estrada, uma vez que são feitas referências a recuperações de pavimento realizadas entre Faina, Araguapaz e Mozarlândia – na mesma rodovia, porém fora do intervalo citado na Recomendação Ministerial supra”.

Como a requerida quedou-se inerte, e o problema ora

ventilado se agravou em decorrências das constantes precipitações pluviométricas

lançadas na Região do Vale do Araguaia nesse início de ano e tendo em vista a transição entre o Ex Governador e o atual Governador do Estado de Goiás, esta Promotoria de Justiça deu início a novas tratativas junto a atual gestão da AGETOP buscando a resolução do problema, de forma a impedir que no ajuizamento de eventual medida judicial, a requerida pudesse arguir como tese defensiva, a ausência de diálogo entre o Ministério Público e a AGETOP.

Assim, após várias tentativas, a Representante do

Ministério Público com ofício nesta Comarca na companhia de vários representantes

políticos da Região do Vale do Araguaia (Vereadores de São Miguel do Araguaia,

Mundo Novo e Nova Crixás-GO) reuniram-se com o Presidente da AGETOP no dia

5 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

31 de janeiro de 2011 com o propósito de articularem a resolução do problema,

buscando melhoria das condições de tráfego da Rodovia GO 164 sub trecho São

Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo e Nova Crixás-GO, ocasião em que a

presidência da AGETOP informou da impossibilidade de realização da reabilitação necessária nos trechos mais preocupantes da mencionada Rodovia.

Entretanto, malgrado a posição da requerida venha de

encontro a pretensão ministerial, a AGETOP se comprometeu a iniciar ações

emergenciais em caráter de urgência no dia 07 de fevereiro de 2011, o que na prática

não ocorreu.

Não obstante isso, na mesma circunstância de tempo,

buscou-se a lavratura de um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta evitando-se a

judicialização do problema e assegurando o estabelecimento de um cronograma de

execução das obras necessárias a reabilitação do pavimento asfáltico. Todavia, a

requerida solicitou um prazo até o dia 04 de fevereiro de 2011 para analisar a

viabilidade de assinatura do ajustamento de conduta, sendo que mais uma vez

quedou inerte.

Desta feita, percebe-se que a própria Agência Pública,

além de não ter efetivamente cumprido nenhum dos compromissos informalmente

assumidos, pois quedou-se inerte no ajuste de compromissos, se limitou a apontar

uma provável solução do impasse a longo período, confessando, implicitamente, a

sua conduta omissiva.

Noutra seara, com base nisto, e diante de uma simples

verificação in loco, pode-se constatar que a vida de uma quantidade enorme de

pessoas entre crianças, idosos, trabalhadores, estudantes e outros, encontra-se

diariamente sob risco de ver a sua integridade física ameaçada. Basta a existência de

um impacto num “simples buraco” para que inúmeras pessoas tenham suas vidas

ceifadas, contando, para isto, com a constante inércia do Estado-Administração, que

por sua vez, descentraliza o serviço para suas Agências.

6 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

A propósito, o Poder Judiciário já firmou entendimento que

órgão público responsável pela manutenção da rodovia, responde civilmente por

acidentes ocasionados devido à falta de sinalização ou excesso de buracos nas

rodovias de sua competência: Nesse sentido:

“EMENTA - (TRF4-064697) CIVIL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. DEFEITO NA PISTA. DNIT. ARTIGO 37, PARÁGRAFO 6º, DA CF. 1. omissis2. Em se tratando de responsabilidade objetiva, incumbe à parte ré o ônus da prova da culpa da vítima, nos exatos termos do artigo 333, inciso II, do CPC.3. Sendo o DNIT o órgão da Administração Pública legalmente incumbido de fiscalização, policiamento e segurança nas estradas, deve este responder pelas omissões que neste sentido lhe forem atribuídas.4. Hipótese em que restou provado o nexo causal entre o evento danoso e a conduta omissiva da administração, inocorrendo qualquer das causas de exclusão da responsabilidade do ente público (culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior). 5. Apelação improvida. (Apelação Cível nº 96.04.63667-7/SC (00075950), 3ª Turma do TRF da 4ª Região, Relª. Juíza Maria de Fátima Freitas Labarrère.

Lado outro, O “Pacato cidadão”2 que esperava com a

Constituição ter vez, encontra-se a cada dia mais bombardeado de problemas e vem

perdendo a noção de que ele é o titular do Direito e o Estado tem por dever atendê-lo,

não em condições mínimas, as quais dentre as últimas exposições doutrinárias e

jurisprudenciais na área da saúde, devem se atrelar à noção da reserva do possível.

Ao contrário, o cidadão tem direito a fazer com que o

planejamento previsto na lei (Plano Plurianual),os recursos destinados para fazer

frente a este planejamento (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e efetivamente

2 Música Pacato cidadão do Grupo de Rock Skank

7 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

arrecadados (Lei Orçamentárias) sejam aplicados em condições probas, eficientes e

transparente, não se prestando as escusas de amplas dificuldades estratégicas, documentais e outros, como justificativas para o não cumprimento de suas obrigações.

Conforme exposto, basta se utilizar a Rodovia GO 164,

sub-trecho São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo à Nova Crixás-GO, para se

constatar que o risco de acidentes na rodovia, permanentemente acentuado em

razão das ineficazes operações denominadas “TAPA BURACOS”, de custos

extremamente elevados, vem se agravando, haja vista a quantidade de buracos e

deformações que o pavimento asfáltico apresenta.

A obrigação de manutenção é da AGETOP, conforme já

exposto, mas a programação de manutenção não é justificativa para que o direito à

vida e segurança de todas as pessoas que se utilizam da rodovia ou que venham a

se utilizar possam ser desprotegidas, ainda mais, quando se tenha recursos

financeiros disponíveis para satisfazer esta pretensão.

Neste aspecto, não está nenhuma das funções do Poder,

conforme Monstequieu, ausente de controle. Cabe ao Estado-Juiz, com base na

necessária efetivação dos direitos fundamentais de primeira, segunda e terceiras

dimensões substituir a inércia dos demais titulares das outras funções que compõem

o Poder Estatal, de modo que o cidadão não seja prejudicado, nem tampouco

relegado a mera condição de litigante, aguardando a solução de demandas judiciais,

as quais podem demorar mais de uma vida.

Assim, o que se busca, não de forma inédita, posto que em outras oportunidades pôde o Ministério Público do Estado de Goiás, propor ações exigindo dos órgãos da administração pública, o dever de manutenir rodovias, tanto pela conservação do patrimônio público, quanto pelo direito de garantir vida, segurança e dignidade aos cidadãos.

A prova colacionada no procedimento administrativo

instaurado sob o nº 156/2010, que ora se junta na presente demanda, é farta quanto

8 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

ao descaso da vida do cidadão, tornando por demais cogente a intervenção do

Estado-Juiz, hoje, como única saída da garantia do Estado Democrático de Direito.

O acervo fotográfico e a peça técnica de informação

confeccionado por esta Promotoria de Justiça e pelo Departamento de Perícia do

Ministério Público, confirmam as alegações e evidenciam que os usuários da rodovia

estadual GO 164, Sub -Trecho São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo à Nova

Crixás-GO, especialmente os alunos de escolas públicas existentes nestes

Municípios e pessoas que necessitam de cuidados médicos e que são transportadas

pelas ambulâncias, estão sendo sobejamente prejudicados, violando ainda o direito

do trânsito seguro (art. 1º, § 3º, do CTB).

1.2 – Do clamor popular em busca da resolução do problema em razão da inércia da requerida.

Nesse aspecto, importante destacar, que no estado

democrático de direito, as manifestações populares pacifistas, como instrumento de

reivindicações de políticas públicas, possui respaldo constitucional, incerto no art. 5º,

IV e XVI, da CF/88. Dessa maneira, os produtores rurais da região alocados no

mencionado trecho da Rodovia Estadual GO 164, cansados de aguardarem uma

resposta da requerida em relação ao problema de recuperação da rodovia, em razão

da necessidade premente em dar o adequado e eficiente escoamento da produção

agropecuária, resolveram-se insurgir sobre a omissão e inércia da AGETOP,

promovendo a interdição e bloqueio popular desta rodovia no município de Nova

Crixás-GO, como forma de sensibilizar e compelir o Governo Estadual a deflagrar

imediatamente obras de recuperação desta via pública, em razão da sua

intrafegabilidade. (doc. Anexo).

Já determina a Constituição da República, art. 1º,§1º que

“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos

direta ou indiretamente, nos termos desta Constituição”.

9 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

A soberania popular é exercida pelo sufrágio universal e

pelo voto direto e secreto, nos termos do art. 14 da CR.

Conforme se apura dos preceitos constitucionais, os

representantes do Poder Executivo exercem seu munus público em nome do povo.

Suas atuações, por coerência, devem ser pautadas pela própria vontade popular,

que, no caso, não deixa dúvidas sobre o interesse em ver reparado o trecho citado da

rodovia GO 184.

Por fim, merce ser relembrado que a região compreendida

é conhecida também pela farta oferta turística propiciadas no período de praias no rio

Araguaia-GO. Permitir que as estradas que dá acesso aos tradicionais pontos

turísticos do Estado de Goiás ensejará na perca econômica da região e danos morais

aos cidadãos do Estado de Goiás.

Coincidência ou não, mas a estimativa de procura pelas

praias goianas deve aumentar em razão da maciça propaganda efetuada pela novela

global nominada “Araguaia”, gravada no distrito de Luís Alves/GO.

2 – DO DIREITO

O sistema viário, seja o urbano, seja o extra-urbano,

constitui condição obrigatória ao exercício da função urbana de circular – inclusive,

segundo José Afonso da Silva, de circulação econômica, sem deixar de ser meio de

comunicação. Acerca do assunto, aduz o respeitável jurista:

“O sistema viário é o meio pelo qual se realiza o direito à

circulação, que é a manifestação mais característica do

direito de locomoção, direito de ir e vir e também de ficar

(estacionar, parar), assegurado na Constituição Federal.”3

Ordenando o sistema viário nacional, encerra o Código de

Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97), em seu art. 2º:

3 SILVA, José Afonso da. DIREITO URBANÍSTICO BRASILEIRO. 4ª ed. São Paulo: Malheiros Editores. p. 183.

10 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

“Art. 2º. São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as

avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado

pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de

acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias

especiais.” (destacamos)

Na realidade, as estradas de rodagem modernas – as

rodovias – são bens públicos de uso comum do povo, segundo inteligência do art. 99,

inciso I, do Código Civil. Assim, as rodovias são bens pertencentes às pessoas

jurídicas de direito público interno (art. 98, CC), mesmo quando sejam construídas

por autarquias, porque estas são simples executoras dos plano rodoviários ou

concessionárias das vias, que ficam sob sua administração.

Ao tratar dos elementos que compõem as rodovias, ensina

de novo Silva:

“As mais simples compreendem, no mínimo, pista de

rolamento, que é o leito carroçável da estrada, com duas

faixas de trânsito e, ainda, faixa de acostamento de cada

lado da pista de rolamento. As mais complexas,

especialmente as auto-estradas, compõem-se de duas

pistas de rolamento, com duas ou mais faixas de trânsito

cada uma, e faixa de acostamento do lado externo;[...]”4

No caso em tela, ao tratarmos da inércia estatal,

obrigatoriamente adentramos na esfera ligada ao poder-dever de administrar. Os

poderes e deveres do administrador público são os expressos em lei, os impostos

pela moral administrativa e exigidos pelos interesses da coletividade. O poder

administrativo, portanto, é atribuído à autoridade para remover os interesses

particulares que se opõem ao interesse público. Nessas condições, o poder de agir

se converte no dever de agir. Assim, se no direito privado o poder de agir é uma

faculdade, no direito público é imposição, um dever para o agente que o detém, pois

4 Idem, p. 190

11 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

não se admite a omissão da autoridade diante de situações que exijam a sua

atenção. Eis porque a Administração responde civilmente pelas omissões lesivas de

seus agentes.

Sobre o tema, o saudoso professor Hely Lopes Meirelles já

ensinava:

“Pouca ou nenhuma liberdade sobra ao administrador

público para deixar de praticar atos de sua competência

legal. Daí porque a omissão da autoridade ou o silêncio da Administração, quando deva agir ou manifestar-se,

gera responsabilidade para o agente omisso e autoriza a

obtenção do ato omitido, por via judicial...” (in Direito

Administrativo Brasileiro, Ed. RT, 11º edição, pg. 67)

Ao poder-dever de administrar alinha-se o dever de

eficiência, impondo-se a todo agente público realizar suas atribuições com presteza e

rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já

não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados

positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da

comunidade e de seus membros.

Vale destacar que a omissão na manutenção da rodovia

caracteriza desvio do poder, passível de correção judicial. A responsabilidade da

requerida é cristalina, na medida em que à AGETOP cabe realizar a adequada

conservação, manutenção e restauração da Rodovia evidenciada.

2.1– DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

Nesse tópico, convém registrar, que a pretensão do

Ministério Público é juridicamente possível. A despeito disso, impõe destacar, que em

sede doutrinária já se conceituou a possibilidade jurídica do pedido como a

“conformidade do pedido com o ordenamento jurídico” (Leonardo Greco). Em

sede jurisprudencial, já se conceitou esta condição da ação como “a

admissibilidade em abstrato da tutela pretendida, vale dizer, na ausência de

12 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

vedação explícita no ordenamento jurídico para a concessão do provimento

jurisdicional” (STJ. REsp 254.417/MG, DJ de 02.02.2009)”.

Quanto à questão da possibilidade jurídica do pedido e

causa de pedir, necessário se faz a observação de que aqui, não cabe argumentar

que a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário constitui indevida invasão

de competência, com afronta ao princípio constitucional da separação dos Poderes,

porque o que se visa é coibir a omissão do Poder Público omissão está acoimada de ilegal, ferindo direito fundamental das pessoas, bem como buscando assegurar a inviolabilidade da vida dos usuários que trafegam no trecho em destaque da mencionada rodovia estadual, em homenagem ao comando normativo constitucional inserto no art. 5º, caput, da CF/88 .

Não se trata, portanto, de qualquer ingerência do Judiciário na Administração, pois outra não é a solução senão a intervenção judicial diante da negligência do Poder Público face às obrigações constitucionais que lhe cabem.

A propósito, compete ao Estado promover a segurança

pública, preservando a incolumidade das pessoas. E ficou bem delimitado e provado

nos autos que a AGETOP está negligenciando com o dever de manter a Rodovia

que liga os Municípios de São Miguel do Araguaia, Mundo Novo e Nova Crixás-GO,

em condições de segurança e trafegabilidade, contribuindo para a ocorrência de

inúmeros acidentes,

As fotos acostadas junto ao incluso Procedimento

Ministerial e a Peça de Informação Técnica confeccionada pelo Departamento de

Engenharia e Perícia do Ministério Público do Estado de Goiás, que bem ilustra as

características e o estado de conservação de trecho da rodovia, soando à evidência

várias anomalias e deficiências no pavimento asfáltico e da sinalização horizontal e

vertical do trecho em referência.

Portanto, em respeito a todos os usuários da rodovia,

ressalva-se a necessidade de medidas emergenciais de obras públicas no trecho da

rodovia em comento, não há sequer que cogitar eventual invasão de matéria de

13 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

competência do Poder Executivo, porquanto o Ministério Público, através da presente ação civil pública, pretende tão somente o cumprimento do dever constitucional do Estado de promover a segurança e preservar a vida das pessoas.

E ainda, pertinente enfatizar que a resposta encaminhada

pela AGETOP e as inúmeras matérias jornalísticas publicadas pela imprensa goiana

evidenciam que a requerida não nega a existência dos problemas causados pelo

péssimo estado da Rodovia GO-164 no trecho em destaque. Assim, a notícia sobre o

início de reparos emergenciais, outrossim, dispensa qualquer prova, eis que,

espontaneamente, a requerida avoca a necessidade da obrigação de fazer ora

pretendida pelo Ministério Público.

Como já decidido no Agravo de Instrumento TJSP - n°

154.201 5/5, Relator Desembargador ANTÔNIO VILLEN, "Não pode o Judiciário,

por seu turno, dar aval à ilegalidade sob o falso fundamento de uma

discricionariedade de atuação que, aqui, não existe. Isso implicaria tornar letra

morta o que a respeito da matéria dispõem a Constituição Federal e a

Estadual".

Em se tratando de ilegalidade do ato, é perfeitamente

possível a interferência do Judiciário. Como decidido no Agravo de Instrumento TJSP

- n° 009.116.5/3, Relator Desembargador ANTÔNIO VILLEN. "Quanto ao controle

dos atos do Poder Executivo pelo Poder Judiciário, o exercício do direito de

ação através da presente ação civil pública nada mais representa que a

realização do sistema de freios e contrapesos previsto na nossa ordem

constitucional. O exame da legalidade e função institucional do Poder

Judiciário, não representa violação ao princípio de independência de harmonia

dos Poderes mediante ingerência nos atos do Executivo. Não se pode excluir

da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito, conforme preceitua o

art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal".

Para arrematar este tópico, convém destacar, que mesmo

a discricionariedade do Poder Público não é isenta de apreciação judicial. Veja-se

que é certo existir limitações orçamentárias para execução e pleno funcionamento

14 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

dos serviços e equipamentos públicos. Contudo, é igualmente correto o dever do

Administrador de cumprir os mandamentos constitucionais relacionados às políticas

públicas, cujo descumprimento poderá comprometer a plena realização dos direitos

individuais e sociais, dentre eles, o direito à vida, integridade física e segurança.

E restou comprovado o risco à vida e à integridade das

pessoas que necessitam utilizar-se da Rodovia GO-164, no percurso entre os

Municípios de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo e Nova Crixás, nos limites

das suas extensões territoriais em razão da omissão do Poder Público em realizar as

urgentes e necessárias obras de conservação, diante da omissão e negligência dispensadas à situação local ao longo dos anos, não há razoabilidade em se aceitar a boa vontade da requerida, em razão da sua já conhecida inércia e morosidade, ainda mais quando por ela já se foi propagado aos quatros cantos deste estado, que o trecho em destaque está no rol daqueles sem prioridade de urgência, sob pena de se arrastar no tempo medida plenamente exequível e tão aclamada pelo interesse público local", para concluir que provada a OMISSÃO

com relação à situação calamitosa da rodovia, outra não é a solução senão a

intervenção judicial, diante da negligência do Poder Público face às obrigações

constitucionais que lhe cabem, em respeito, outrossim, ao Princípio Constitucional da

Eficiência. Nesse sentido, confira-se o entendimento jurisprudencial do Egrégio

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

EMENTA – TJSP - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - Rodovia

Estadual SP-281- Obrigação de fazer ajuizada pelo

Ministério Público em face do DER e do Estado de São

Paulo, buscando a reparação e reforma na Rodovia

Estadual SP-281, no trecho que interliga os municípios

de Itararé/SP a Riversul/SP, tendo em vista a

precariedade e má conservação da via que não

impossibilita o tráfego, como coloca em risco a vida

das pessoas que dela se utilizam - Preliminares

repelidas - Inexistência de interferência indevida do

Judiciário na Administração - Conteúdo probatório que

bem delimitou e provou que o DER e o Estado de São

Paulo estavam negligenciando com o dever de manter

15 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

a Rodovia que liga os Municípios de Itararé e Riversul,

em condições de segurança e trafegabilidade,

contribuindo para a ocorrência de inúmeros acidentes,

como bem demonstram a vasta documentação

juntada, com inúmeros boletins de ocorrência

registrados nos anos de 2005, 2006 e 2007 retratadores

de acidentes até mesmo com vitimas fatais - "Quanto

ao controle dos atos do Poder Executivo pelo Poder

Judiciário, o exercício do direito de ação através da

presente ação civil pública nada mais representa que a

realização do sistema de freios e contrapesos previsto

na nossa ordem constitucional. O exame da legalidade

é função institucional do Poder Judiciário, não

representa violação ao princípio de independência de

harmonia dos Poderes mediante ingerência nos atos

do Executivo. Não se pode excluir da apreciação do

Judiciário lesão ou ameaça a direito, conforme

preceitua o art. 5o, inciso XXXV, da Constituição

Federal - Cominação de multa diária que fica mantida

por se tratar de medida necessária à efetivação da

tutela específica ou a obtenção do resultado prático

equivalente - Sentença mantida - Prequestionamento

anotado - Recursos improvidos. APELAÇÃO CÍVEL

N° : 891.249-5/8; COMARCA: ITARARÉ; APELANTES:

DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO

ESTADO; ESTADO DE SÃO PAULO; APELADO:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

3 – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição da República Federativa do Brasil/88, em

seu artigo 127, ao estabelecer que ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis,

16 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

deixou bem clara a legitimidade para defender, também, direitos individuais e sociais

indisponíveis.

In casu, o principal direito que temos é justamente o

direito à vida, o qual, na precisa redação do artigo 5º, do magna carta, encontramos,

in litteris:“

Art. 5º - Todos são iguais perante à lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos seguintes termos.” (Negritei).

Aclarando, ainda mais a legitimidade do Ministério Público,

o artigo 129, da Magna Carta, em seus incisos II e III, dispôs:

“ Art. 129 – São funções institucionais do Ministério

Público:

I – omissis;

II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos

serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta constituição,

promovendo as medidas necessários à sua garantia”;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses

difusos e coletivos;” ( negritei ).

Outrossim , a Lei nº 7347/85, que disciplina a ação civil

pública, estabelece em seu artigo 5º, o seguintes:

“ Art. 5º - A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios .

17 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

I a II – omissis

§ 1º - O Ministério Público, se não intervir como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da Lei.

§§ 2º a 4º – omissis;

§ 5º - Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.

Aqui, de antemão, não cabe arguir a ilegitimidade ativa ad causam e ausência de interesse de agir do Órgão Ministerial , de forma que

qualquer tese arguida pela AGETOP nesse sentido, não merece prosperar, pois o que legitima o Ministério Público a promover ação na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos não é a natureza desses direitos, mas a circunstância de sua defesa ser feita por meio de ação civil, cuja propositura atinge o interesse social.

O órgão do Parquet deve ser entendido não com o objetivo

de proteção e defesa de interesse individual de uma única pessoa, mas a proteção de

interesses difusos, coletivos, individuais e homogêneos, entendidos como de toda a

massa de pessoas, necessitadas de proteção à sua incolumidade física. "É certo

que a população local, bem como, todas as pessoas que necessitam trafegar

pela aludida Rodovia GO-164 no sub- trecho São Miguel do Araguaia-GO,

Mundo Novo-GO a Nova Crixás-GO, têm direito à prestação do serviço publico

adequado, eficiente e seguro (arts. 6º, I e 22, do CDC), Portanto, a recuperação

das condições de trafegabilidade e de segurança da Rodovia em questão

constitui interesse social, de natureza difusa, na forma do art. 81, parágrafo

único, do Código de Defesa do Consumidor

Também não se cogita de ilegitimidade ativa do Parquet por ausência de relação de consumo, pois "Há muito vem a doutrina e

jurisprudência encarando os cidadãos como verdadeiros consumidores dos serviços

18 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

públicos, cuja natureza diferenciada não deve justificar menor eficácia ou rigor em

exigências, devendo sua prestação se dar com as mesmas observâncias e controles

impostos ao setor privado.

Cogita-se no cenário nacional até mesmo

responsabilizações pela demora da prestação jurisdicional, entendendo se o

jurisdicionado como um consumidor da justiça, quanto mais assim que se falar com relação a todos os cidadãos que trafegam pela rodovia em questão, para mantença da qual pagam tributo específico. Claro que são consumidores deste serviço de mantença da rodovia que não vem sendo prestado pelo Estado”.

4. DA COMPETÊNCIA

O artigo 2º, da Lei nº 7347/85, dispõe:

“ Art. 2º – As ações previstas nesta lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parágrafo único – A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriores intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto” .( Negritei)

Todavia, convém pontuar, que conforme lição esposada pelo eminente doutrinador Marcelo Abelha Rodrigues, em majestosa obra denominada Ações Constitucionais (Editora Podivm, 2º edição, pgs. 291/292) cujo organizador é o nobre Professor-adjunto da Universidade Federal da Bahia, Fredie Didier JR, é necessário fazer uma interpretação conjunta sobre o art. 2º e art. 16º da LACP e a incidência do art. 93 do CDC, pois a tentativa de se alterar politicamente a LACP, fragmentando a sua utilização para diminuir-lhe

19 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

a força social, fez com que o poder executivo lançasse mensalmente medidas provisórias (posteriormente convertidas em lei) que atacaram a LACP basicamente em dois flancos: coisa julgada e legitimidade. Assim, na tentativa de fragmentar a coisa julgada nas demandas coletivas propostas com base na LACP, o legislador acrescentou a expressão “nos limites da competência territorial do órgão prolator” ao art. 16, como forma de dizer que a coisa julgada ficaria adstrita aos limites da competência territorial do juiz, independentemente da natureza indivisível do objeto e dos limites subjetivos da coisa julgada. A regra que aparentemente causou rebuliço no meio processual foi adequadamente interpretada sob o ponto de vista da competência. É que tal dispositivo – o art. 16 da LACP – fez com que a competência territorial passasse a ser fixada de acordo com o alcance do dano (melhor seria falar em predominância espacial do interesse tutelado), ou seja, não é o limite objetivo do julgado que é limitado pela competência territorial, mas simplesmente o contrário, qual seja, esta é fixada, em maior ou menor alcance, de acordo com o alcance do objeto que será tutelado, de forma que “ressalvada a competência da justiça federal, é competente para a causa, a justiça local: 1 – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; II – no Foro da Capital do Estado ou no Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente”, tal como preconiza o art. 93 do CDC.

Essa interpretação do dispositivo 16 da LACP não só afasta a limitação territorial da coisa julgada,

resolvendo o problema no seu nascedouro – na

20 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

medida em que atribuiu a competência de acordo com a abrangência do bem tutelado – mas também porque põe no mesmo trilho as regras de competência da LACP (art. 2) e do CDC (art. 93) para as demandas coletivas lato sensu (difusos, coletivos e individuais homogêneos). Portanto, agora prevalece a regra do art. 93 do CDC para qualquer demanda coletiva supra-individual proposta com base no CDC ou na LACP, e, assim, não há risco de se fragmentar coisa julgada.

Nesse sentido, confira-se a intelecção jurisprudencial do

Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

EMENTA - TJMG: PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE

INSTRUMENTO - DECISÃO DECLINATÓRIA DE

COMPETÊNCIA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA - TUTELA

COLETIVA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

- LIMITAÇÃO AO ÂMBITO DO PEDIDO -

COMPETÊNCIA - INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 93 E

103, III DO CDC - AÇÃO CIVIL PUBLICA AJUIZADA EM

OUTRO ESTADO - FALTA DE IDENTIDADE DE PEDIDO

E DE CAUSA DE PEDIR- COMPETÊNCIA FUNCIONAL -

CARÁTER ABSOLUTO - RECONHECIMENTO DE

OFÍCIO. Tratando-se de ação movida por ente

legitimado pelo art. 82 do CPC, em que é visada a

tutela coletiva de direitos individuais homogêneos dos

consumidores, que se restringe à proteção de dano

local (limitados a uma Comarca), incide a regra da

competência do foro do lugar onde ocorreu ou deva

ocorrer o dano, disposta no art. 93, I, do CDC, com a

extensão dos efeitos da decisão também restritos ao

âmbito do pedido formulado. A reunião dos processos

por conexão somente tem lugar quando efetivamente

demonstrado o risco de decisões contraditórias.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.0024.07.688288-5/001

21 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

- COMARCA DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S):

COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA BRASIL -

AGRAVADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO

MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ELIAS

CAMILO; Relator: Des.(a) ELIAS CAMILO Relator do

Acórdão: Des.(a) ELIAS CAMILO Data do Julgamento:

12/08/2009 Data da Publicação: 09/09/2009.

É imprescindível asseverar que o escopo da Lei da Ação

Civil Pública e do Código de Defesa do Consumidor em concretizar a jurisdição no

foro do local do dano, determinando a competência funcional do juízo, estava

atrelada em permitir ao destinatário das provas, a concretização, com maior clareza

possível, sobre a extensão dos fatos e de suas consequências.

Desta forma, não resta dúvidas que a competência do juízo para apreciar a presente demanda se encontra inserta no art. 93, I, do CDC, ou seja, no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local. Logo, o juízo competente para apreciar a presente demanda é o da Comarca de São Miguel do Araguaia-GO.

5. DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

A Lei nº 8437/92, que dispõe quanto à concessão de

medidas cautelares contra atos do poder público, estabelece em seu artigo 2º , in

litteris:

“ Art. 2º - No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

22 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

Por sua vez, a lei nº 9494/97, que disciplinou a aplicação

da tutela antecipada, contra a Fazenda Pública, estabelece em seu artigo 1º, in

litteris:

“ Art. 1º - Aplica-se à tutela antecipada prevista nos artigos 273 e 461 do Código de Processo Civil o disposto nos artigos 5º e seu parágrafo único e 7º da Lei nº 9348, de 26 de junho de 1964, no artigo 1º e seu § 4º, da Lei nº 5021, de 9 de junho de 1966 e no artigo 1º, 3º e 4º, da Lei nº 8437, de 30 de junho de 1992”. (Negritei).

Neste aspecto, é imprescindível afirmar que a vontade do

legislador foi esvaziar, quase que por completa, a concessão antecipada do pedido

deduzido em ação civil pública ou em mandado de segurança, quando o objeto da

lide versa a respeito de questão patrimonial, envolvendo remuneração.

É de se ver que, sentido outro não teria, justamente por

conta dos incontáveis efeitos deletérios aos cofres públicos, face à possibilidade de

não se obter a recomposição do dano, caso a demanda proposta tenha julgamento

desfavorável.

No entanto, versando a respeito de obrigação de fazer, em que o objeto da lide seja outro que não remuneração de servidor, concessão de vantagens pecuniárias, não há como se limitar a antecipação da tutela, quando verificados os requisitos necessários à identificação desta.

A situação é de fácil constatação quando se aborda a

questão ambiental, onde se adota o princípio da prevenção.

Nestes casos, há posição inconteste da necessidade de se

evitar que o dano atinja condições impossíveis de recuperação, servindo de

fundamento para o manejo, a pedido do autor ou de ofício, da tutela antecipada, com

aplicação de multa diária, em sede de obrigações de fazer ou não fazer.

23 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

Portanto, se no âmbito do meio ambiente temos a clara noção de se prevenir, o que se dirá então do direito à vida?

A plausibilidade do direito é mais do que contundente,

ante os fatos descritos e provados no Procedimento Administrativo anexo, bem como

a não prestação jurisdicional em tempo célere repercute, a cada segundo que passa,

em riscos de danos irreversíveis.

A tutela antecipada, in casu, está atrelada ao pedido de

obrigar a ré a fazer a imediata reabilitação (reconstrução) do pavimento asfáltico e

dos dispositivos de sinalização horizontal e vertical da Rodovia GO-164, no trecho

correspondente às cidades de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo a Nova

Crixás-GO, adotando-se, outrossim, posição negativa no sentido de não fazer

operações do tipo “tapa buraco” nos trechos em que o pavimento já se encontra

totalmente deteriorado, justamente por conta da total impossibilidade da manutenção

do quadro paliativo, já realizado em diversas épocas e de custos elevados, além de

sua provada ineficácia.

O que se objetiva, é obrigar a ré a cumprir com as suas

funções institucionais, guarnecendo o cidadão com a segurança necessária,

permitindo-lhe o direito à vida, através de ações concretas.

Conforme se verifica no acervo fotográfico incluso, bem

como na informação técnica confeccionada pelos engenheiros do CATEP – Centro de

Apoio Técnico Pericial do Ministério Público do Estado de Goiás (doc. anexo), o

citado trecho rodoviário, não mais comporta operações do tipo “tapa buraco”, as quais

vêm sendo feitas, de forma atécnica, gerando mais riscos de acidentes, do que

propriamente em prol da manutenção da rodovia.

A Rodovia GO - 164, necessariamente, entre as cidades

de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo e Nova Crixás, em pouquíssimos

Quilômetros teria condições de se adotar a malfadada operação denominada ‘tapa

buraco”. Há urgência de se adotar providências em obrigar a ré a cumprir com o seu

dever.

24 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

A verossimilhança das alegações para concessão da

antecipação da tutela, bem como a prova inequívoca são contundentes, servindo o

acervo fotográfico anexo, a informação técnica pericial, a inspeção judicial e a

própria irresignação (exteriorizada pela manifestação popular realizada no dia 10 de fevereiro de 2010, culminando na interdição do mencionado trecho da rodovia estadual) de todos aqueles que são obrigados a arriscarem suas vidas pela

GO-164, como mecanismo hábil ao deferimento do pedido.

Portanto, resta apenas o cumprimento do prazo de 72

horas, previsto pela Lei nº 8.437/92, para que a ré seja obrigada, através de tutela

jurisdicional antecipada, a arcar com o dever de recuperar o pavimento asfáltico e os

dispositivos de sinalização horizontal e vertical da Rodovia GO-164, no trecho

correspondente às cidades de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo a Nova

Crixás-GO, através de nova estruturação do pavimento asfáltico, não o fazendo

através de operações empíricas e arcaicas, do tipo “tapa buraco”, que na verdade

correspondem apenas a jogar o asfalto na rodovia, e esperar que algum motorista

passe por cima compactando-o .

Infelizmente, este tem sido o comportamento adotado,

servindo a prova material juntada ao Procedimento Administrativo como elemento a

demonstrar ser este um dos motivos do péssimo estado de conservação da Rodovia

GO-164, no trecho entre as Cidades de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo-

GO e Nova Crixás-GO.

Frise-se, por oportuno, posicionamento doutrinário, firmado

pelo Douto Prof. Humberto Theodoro Jr. , a respeito, in litteris:

“ Com relação à tutela antecipada, a Lei nº 9494, de 10.09.1997, mandou aplicar-lhe as restrições da Lei nº 8437/92, sujeitando, destarte, sua aplicação liminar ao mesmo regime restritivo traçado para o mandado de segurança e as medidas cautelares. Isto, porém, não representa uma vedação completa e irrestrita ao cabimento de medidas antecipatórias contra o Poder Público. Ao contrário, o que se deduz da Lei nº 9494 é

25 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

justamente a admissibilidade de semelhantes medidas, as quais apenas nas hipóteses excepcionais enumeradas pelo legislador sofreriam restrições ou impedimentos. Logo, fora das limitações ao aludido diploma legal, as medidas de antecipação de tutela são normalmente aplicáveis também em face da Administração Pública.É importante ressaltar que o direito à antecipação de tutela, tal como o direito às medidas cautelares, integra o direito à efetividade e tempestividade da tutela jurisdicional, constitucionalmente garantido.

“O Direito de acesso à Justiça, albergado no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, não quer dizer apenas que todos têm direito a recorrer ao Poder Judiciário, mas também quer significar que todos têm direito à tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva” (grifamos).Quer isto dizer que, “se o legislador infraconstitucional está obrigado, em nome do direito constitucional à adequada tutela jurisdicional, a prever tutelas que, atuando internamente no procedimento, permitam uma efetiva e tempestiva tutela jurisdicional, ele não pode decidir, em contradição com o próprio princípio da efetividade, que o cidadão somente tem direito à tutela efetiva e tempestiva contra o particular. Dizer que não há direito à tutela antecipatória contra a fazenda Pública em caso de ‘fundado receio de dano’ é o mesmo que afirmar que o direito do cidadão pode ser lesado quando a Fazenda Pública é ré.”

Outrossim, busca-se em antecipação de tutela específica

e de forma alternativa, haja vista a relevância social dos fatos expostos, a fazer com

que a Rodovia GO-164 no Sub Trecho São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo e

26 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

Nova Crixás-GO, seja corretamente manutenida, tanto de forma direta pela AGETOP

em prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias fixados por Vossa Excelência.

Nota-se, incontestavelmente que, com o período de chuva,

o estado de intrafegabilidade da Rodovia GO-164 está agravando e, com isso,

maiores riscos estão sendo impostos a todos os que venham a se utilizar da rodovia.

É imprescindível afirmar que a AGETOP tem

conhecimento desta situação e nada fez para solucionar o problema. Ao contrário, a

provocação judicial confirma a ausência de dinamismo, embora os tributos

arrecadados pelos cofres públicos, sejam devidamente cobrados e repassados à

AGETOP.

Conforme dito, a relevância social e a definição da tutela

jurisdicional devem ser, no atual modelo de processo civil coletivo, maximizadas,

evitando-se a utilização comum das formas de execução de sentença.

A obtenção do resultado prático equivalente, corresponde,

no presente caso, à manutenção da rodovia. Não há outro desiderato a que se busca

com a presente ação. Porém, para que seu alcance ocorra, há vias alternativas, as

quais se busca em antecipação de tutela para que seja a AGETOP, após o prazo de

72 horas, instada imediatamente a realizar a reabilitação (construção) do pavimento

asfáltico inabilitado e deteriorado, assim como a restauração dos dispositivos de

sinalização nas modalidades horizontal e vertical, no mencionado trecho, em razão

das suas deficiências, de forma direta ou através dos procedimentos emergenciais

previstos na Lei nº 8666/93, concluindo-a no prazo máximo de 120 (cento e vinte)

dias .

Afirma-se, outrossim, a possibilidade de obtenção de

resultado prático equivalente, qual seja a realização do bloqueio da rodovia,

imputando ao Estado de Goiás e AGETOP os ônus quanto à indenização dos

prejuízos que os cidadãos vierem a ter, como também, as diversas pessoas jurídicas,

em decorrência da impossibilidade de trânsito, tendo como justificativa a salvaguarda

da vida das pessoas.

27 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

Assim, com supedâneo no artigo 12, § 2.º, da Lei 7.347/85,

requer o Ministério Público, vencido o prazo de 72 horas, seja determinado a

AGETOP que inicie as obras de reabilitação e recuperação (construção) do

pavimento da GO -164, no trecho compreendido entre os Municípios de São Miguel

do Araguaia-GO, Mundo Novo a Nova Crixás-GO (em sua totalidade territorial), sob

pena de cominação de multa liminar diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ,

quantia mínima necessária para que a ré seja compelida a cumprir a liminar,

abstendo-se, outrossim, de apenas “jogar” asfalto na rodovia.

6 – DOS PEDIDOS

Posto isto, requer o Ministério Público:

1) a concessão da medida liminar, correspondente a tutela antecipada, para que a ré seja obrigada a iniciar a manutenção da rodovia GO-164, nos trechos correspondentes aos municípios de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo à Nova Crixás-GO (em sua totalidade territorial), nos termos descritos no item 5, desta, adotando-se, outrossim, a regra do artigo 2º, da Lei nº 8437/92, especificamente quanto ao prazo de 72 ( setenta e duas ) horas para resposta preliminar;

2) que seja condenada a AGETOP a realizar a manutenção definitiva de toda a pista de rolamento da GO-164, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, no trecho que liga as cidades de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo à Nova Crixás-GO (em sua totalidade territorial, até as respectivas divisas), condenando-a a não-fazer a manutenção da GO-164 no trecho mencionado, através das atuais operações “ tapa buracos “, da forma com que são realizadas, qual seja, jogando-se o asfalto nos buracos, sem compactação e nivelamento, ficando a compactação condicionada aos

28 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

motoristas que passam pelos buracos, provocando desnivelamento na pista de rolamento;

3) que seja imediatamente compelida a promover a restauração da sinalização horizontal e vertical da Rodovia GO 164, no trecho compreendido entre os municípios de São Miguel do Araguaia-GO, Mundo Novo à Nova Crixás-GO (em sua totalidade territorial, até as respectivas divisas);

4) que da não realização da obra diretamente pela ré ou através de terceiros, mediante contrato, como também da não execução imediata nos termos determinados por Vossa Excelência, requer o Ministério Público o bloqueio da GO-164 no Sub Trecho São Miguel do Araguaia-GO a Nova Crixás-GO (em sua totalidade territorial, até as respectivas divisas), haja vista os riscos incontestes que os cidadãos estão tendo, indicando-se, outrossim, na referida decisão a responsabilidade da AGETOP e do Estado de Goiás quanto aos prejuízos materiais e morais de todos aqueles que ficarem impedidos de se utilizar da rodovia no período que a mesma esteja bloqueada ao trânsito regular de veículos.

5) a procedência dos pedidos supra descritos, com a cominação de multa diária no quantum correspondente a R$ 10.000,00 (dez mil reais), após concessão da liminar requerida nos itens 1,2 e 4, sendo este último de forma alternativa.

6) a citação da ré, para, querendo, responder a

presente ação, com as advertências do artigo 282, do CPC;

7) a juntada do Procedimento Administrativo Ministerial inscrito sob o nº 156 aos autos, como meio de prova dos fatos expostos;

29 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA E NOVA CRIXÁS-GO

8) protesta provar o alegado, por todos os meios de prova em direito admitidos, requerendo desde já, a realização de inspeção judicial, objetivando-se com isto a melhor visualização de todo o quadro fático exposto, realizando-se esta de forma antecipada, a realização de perícia, nos termos supra descritos, a oitiva de testemunhas e o depoimento pessoal dos representantes legais da ré.

Embora haja determinação para identificação do valor da

causa, vê-se que o objeto da lide, por estar atrelado à obrigação de fazer, comporta

parâmetros certos, porém o direito que se busca tutelar, qual seja a vida, tem valor

inestimável.

Portanto, para fins apenas de atendimento ao artigo 259,

do CPC, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 ( mil reais).

Nestes Termos

Pede deferimento.

São Miguel do Araguaia-GO, 21 de fevereiro de 2011.

Cristina Emília França Malta

Promotora de Justiça

30 Av. Maranhão, esq, com Rua 10 , QD. 101, Setor Alto Alegre – Edifício do FórumCEP 76590-000 - Tel/fax: 0xx62 - 3364-1020