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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA
CÍVEL, FAZENDAS PÚBLICAS, REGISTROS PÚBLICOS E AMBIENTAL
DA COMARCA DE NOVO GAMA/GO
SEGREDO DE JUSTIÇA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meio
da Promotora de Justiça que esta subscreve, com atribuições na defesa da saúde,
vem, perante este respeitável Juízo, no uso de suas atribuições constitucionais,
infraconstitucionais e institucionais, com fundamento nos arts. 127 e 129, II e III da
Constituição Federal, arts. 1º, IV, 3º, 5º, I, da Lei n.º 7.347/85, artigo 25, inciso IV ,
alínea “a”, da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e art.
46, VI, alínea “a” da Lei Complementar Estadual nº 25/98 (Lei Orgânica Estadual do
Ministério Público), bem como nas provas produzidas no Procedimento Preparatório
nº 07/2011 – 2ª PJNG, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PRECEITO COMINATÓRIO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER
em face do MUNICÍPIO DE NOVO GAMA, pessoa jurídica de direito público
interno, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 01.629.276/0001-04, com sede na Área
Especial nº 1000, Conjunto 1 HI, Centro, Novo Gama-GO, CEP.: 72.860-000,
representado pelo Prefeito JOÃO DE ASSIS PACÍFICO, e da SECRETARIA
MUNICIPAL DE SAÚDE DE NOVO GAMA, representada pelo Secretário
DIVINO OLIVEIRA, podendo ser encontrado no próprio órgão, com sede na Quadra
470, Lote 01, Pedregal, Novo Gama/GO, CEP.: 72.860-433, pelas razões de fato e de
direito a seguir delineadas:
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
1 - DOS FATOS
1.1 – DO PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO Nº 007/2011
Inicialmente, o Ministério Público requer a tramitação do presente
feito em segredo de justiça, pois contém nomes e outras informações sobre
crianças e adolescentes.
Em 21/10/2011, a 2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama instaurou
o Procedimento Preparatório nº 007/2011, versando acerca da implantação de CAPS
– Centro de Atenção Psicossocial no Município de Novo Gama, sob os seguintes
fundamentos:
– a ocorrência de epidemia do uso de substâncias psicoativas no Estado de
Goiás, especialmente o “crack”;
– a necessidade de instalação de locais de atendimento e tratamento para os
dependentes e usuários de drogas em Novo Gama/GO;
– a necessidade de o Prefeito e Secretário Municipal de Saúde de Novo Gama
pleitearem junto ao Ministério da Saúde a habilitação dos serviços
necessários à prevenção e enfrentamento ao uso de drogas, como o CAPS;
– a disponibilização pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás de equipe
técnica para atender todos os municípios, no sentido de ampliar a rede de
serviços em saúde mental, álcool e outras drogas;
– a inexistência de comunidades terapêuticas em Novo Gama/GO;
– o encaminhamento pelo Centro de Apoio Operacional da Infância e
Educação de orientações para implantação de CAPS nos municípios, bem
como a forma de equipá-los.
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial é um serviço de saúde
aberto e comunitário do SUS, local de referência e tratamento para pessoas que
sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e persistentes,
dependência de álcool ou drogas e demais quadros que justifiquem sua permanência
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2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
num dispositivo de atenção diária, personalizado e promotor da vida.
Segundo as orientações do Ministério da Saúde, os CAPS podem ser
do tipo I, II, III, álcool e drogas (CAPSad) e infanto-juvenil (CAPSi). Para sua
implantação deve-se primeiro observar o critério populacional, cujos parâmetros são
definidos da seguinte forma, consoante a Portaria GM/MS nº 336/2002:
– Municípios até 20.000 habitantes – rede básica com ações de saúde mental;
– Municípios entre 20.000 e 70.000 habitantes – CAPS I e rede básica com
ações de saúde mental;
– Municípios entre 70.000 e 200.000 habitantes – CAPS II, CAPSad e rede
básica com ações de saúde mental;
– Municípios com mais de 200.000 habitantes – CAPS II, CAPS III, CAPSad,
CAPSi, rede básica com ações de saúde mental e capacitação do SAMU.
Deve-se ainda observar a realidade local para a escolha do tipo de
CAPS mais adequada.
A equipe do CAPS é composta por médico psiquiatra, médico clínico,
enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta educacional, pedagogo ou outro
profissional, além dos técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, administrativo,
educacional e artesão.
O Município de Novo Gama possui 95.013 habitantes (IBGE
2010), sendo, portanto, adequada a implantação do CAPS II e CAPSad.
Em 04/11/2011 foi oficiado ao Prefeito e à Secretária Municipal de
Saúde solicitando informações acerca da existência de CAPS no Município de Novo
Gama/GO, bem como enviando documentos informativos para implantação do
referido centro, porém não houve resposta.
Os aludidos ofícios foram reiterados em 25/11/2011 e 17/01/2012,
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2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
contudo não houve resposta, demonstrando o total desinteresse dos gestores
municipais em implantar o serviço de atendimento a portadores de transtornos
mentais e usuários de drogas e álcool.
Em razão da ausência de respostas, o Prefeito e Secretária Municipal
de Saúde foram notificados para comparecer nesta Promotoria de Justiça no dia
03/02/2012, tendo sido realizada reunião, consoante a certidão em anexo.
Na oportunidade, foi ressaltada a necessidade premente de
implantação do CAPS no Município de Novo Gama para atendimento de
adolescentes e adultos viciados em drogas ou portadores de doenças mentais.
Por sua vez, os gestores informaram que ainda não havia sido
iniciado o procedimento de implantação do CAPS em razão da ausência de Conselho
Municipal de Saúde (CMS), que havia sido reformulado recentemente, porém se
comprometeram a solicitar Resolução do CMS autorizando a elaboração do projeto,
conclui-lo e encaminhá-lo para aprovação, bem como a informar à Promotoria de
Justiça acerca de cada etapa do procedimento.
Ainda alegaram que, embora seja um programa federal, cabe ao
Município a complementação da remuneração dos profissionais, manutenção,
disponibilização de local para funcionamento etc, de forma que onera os cofres
municipais.
Como não houve nenhuma notícia, a Secretária Municipal de Saúde
foi novamente notificada para comparecer ao Ministério Público em 13/04/2012,
ocasião em que afirmou que já havia sido expedida Resolução do CMS autorizando a
elaboração do projeto de implantação do CAPS, porém ainda não tinha sido
encaminhado para aprovação, consoante segue em anexo.
Em março de 2012, o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO)
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lançou o PROGRAMA INTERAÇÃO, focado nas políticas públicas para a prevenção
ao uso, tratamento, reabilitação e reinserção social do usuário e repressão ao tráfico
de drogas, contemplando as leis das políticas sociais vigentes, bem como direitos
humanos.
Nesta proposta, o MPGO figura como mobilizador de uma rede
integrada de serviços, tendo como finalidade a promoção da verdadeira cidadania,
com atuação principal nas áreas de assistência social, direitos humanos, educação,
esporte e lazer, infância e juventude, saúde, segurança pública, trabalho e geração de
renda.
Assim, sendo necessária a realização de levantamento das ações
existentes no Município de Novo Gama/GO para formação de uma rede integrada de
ações dentro do “Programa Interação”, foram expedidos ofícios ao Prefeito, aos
Secretários Municipais de Saúde, Educação e Ação Social, bem como ao Conselho
Tutelar, ao CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), CRAS
(Centro de Referência de Assistência Social) e ao CMDCA (Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente) requisitando informações sobre os serviços
prestados nas seguintes vertentes:
– Prevenção ao uso de drogas;
– Tratamento, reabilitação e reinserção social do usuário;
– Combate ao tráfico de drogas.
O Prefeito informou que a Secretaria Municipal de Ação Social
realiza trabalho de prevenção ao uso de drogas através de palestras e orientações
técnicas nos programas de proteção social básica (Projovem, Adolescer e grupos da
melhor idade) e de proteção social especial (medidas socioeducativas e liberdade
assistida), bem como em palestras realizadas nas escolas da rede pública, blitz
educativas e distribuição de panfletos à comunidade (em anexo).
Asseverou ainda que nos casos de demandas de usuários de drogas,
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as respectivas famílias são acolhidas no CREAS e em seguida encaminhadas para a
Secretaria Municipal de Saúde e também para instituições parceiras de outros
municípios e Distrito Federal para que procedam às intervenções necessárias.
Em relação ao combate ao tráfico de drogas, declarou que tem
participado do GGIM (Gabinete de Gestão Integrada Municipal), onde são discutidas
e planejadas ações para combater o uso e tráfico de drogas, principalmente na porta
das escolas, transporte escolar e festas.
Por sua vez, a Secretária Municipal de Educação informou que
promove o PROERD – Programa Educacional de Erradicação às Drogas, em parceria
com a Polícia Militar. Trata-se da realização de palestras nas escolas municipais para
crianças e adolescentes de 9 a 16 anos de idade sobre o uso indevido das drogas e
seus riscos (em anexo). Tal informação foi confirmada pelo CMDCA (em anexo).
Já a Coordenadora do CREAS afirmou que o Município de Novo
Gama/GO não possui nenhuma rede para a prevenção ao uso de drogas, tratamento,
reabilitação e reinserção social do usuário e combate ao tráfico de drogas, tendo
acrescentado que as demandas que surgem são direcionadas através de terceiros,
contatos avulsos que conseguem com outros municípios e com o Distrito Federal (em
anexo).
O CRAS também asseverou que não dispõe de projetos ou programas
de prevenção ao uso de drogas, sendo que a orientação e acompanhamento
preventivo são realizados pela equipe técnica do Programa Projovem aos
adolescentes de 15 a 17 anos de idade. No que tange ao tratamento, reabilitação,
reinserção social e combate às drogas, afirmou não dispor de nenhum programa (em
anexo).
A Secretária Municipal de Saúde declarou que os usuários de drogas,
em casos de urgência e emergência, são encaminhados ao Hospital Pronto Socorro
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Psiquiátrico Wassily Chuc, em Goiânia/GO, bem como ao PAILI (Programa de
Atenção Integral ao Louco Infrator), também em Goiânia/GO, através de
requerimento encaminhado pelo Poder Judiciário (em anexo).
Na oportunidade, afirmou que já havia sido elaborado o projeto de
implantação do CAPS II e seria submetido à apreciação do CMS.
Em resumo, o MUNICÍPIO DE NOVO GAMA NÃO DISPÕE
DE NENHUM PROGRAMA DE PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS,
TRATAMENTO, REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DOS
USUÁRIOS.
Quando aparece uma demanda de usuário de drogas que precisa de
tratamento, não há qualquer serviço de orientação, apoio ou acompanhamento, não
há equipe médica e multidisciplinar com capacitação para atendimento e tratamento
ambulatorial, tampouco há comunidades terapêuticas para internação.
Na falta de órgãos específicos, os usuários são encaminhados ao
CREAS, que, por sua vez, encaminham para tratamento ambulatorial no CAPS de
Valparaíso de Goiás/GO ou CAPS de Santa Maria/DF e, nos casos de internação,
diligenciam em busca de vagas em comunidades terapêuticas no Distrito Federal ou
em Goiânia/GO, porém muitas vezes não conseguem.
Apesar dos esforços despendidos pelo Ministério Público, até o
presente momento nenhuma medida concreta foi adotada pelo Município de Novo
Gama para garantir a prestação dos referidos serviços aos usuários de drogas e
portadores de transtornos mentais, de forma a afrontar a legislação em vigor e
desconsiderar o direito à saúde.
Essa postura administrativa omissa, ilegal e inconstitucional por
parte do Município foi a razão determinante da propositura da presente ação civil
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pública, a qual tem o objetivo de tutelar o direito à saúde dos portadores de
transtornos mentais, bem como dos usuários de álcool e outras drogas.
Diuturnamente as Promotorias de Justiça de Novo Gama realizam
atendimentos ao público e a outros órgãos acerca de usuários de drogas e álcool,
portadores de transtornos mentais ou a seus familiares, seja no âmbito civil,
criminal, prisional, social, da infância e juventude, dos idosos e portadores de
deficiência, da saúde ou da educação.
A título de exemplificação, nos próximos itens são apresentados
alguns casos concretos de demandas que chegaram nas Promotorias de Justiça de
Novo Gama, seja judicial ou extrajudicialmente, que demonstram a urgente
necessidade de implantação de um Centro de Atendimento Psicossocial
destinado ao tratamento de portadores de transtornos mentais (CAPS II) e de um
Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas reservado
especificamente à reabilitação de alcoólatras e toxicômanos (CAPSad).
1.2 – DA NECESSIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE
ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL (CAPS) PARA PORTADORES DE
TRANSTORNOS MENTAIS EM NOVO GAMA/GO
O Município de Novo Gama/GO possui alto número de pessoas
portadoras de transtornos mentais em geral, que chegam ao conhecimento do
Ministério Público e do Poder Judiciário através de ações de interdição, pastas
especiais de aplicação de medidas protetivas aos idosos, portadores de deficiência,
crianças e adolescentes, ações penais, execuções penais, ações socioeducativas de
adolescentes infratores, relatórios do CREAS ou CRAS etc.
Em consulta ao Sistema de Processos Judiciários, verificou-se que já
tramitaram nesta Comarca de Novo Gama 251 (duzentos e cinquenta e uma)
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ações de interdição de pessoas absoluta ou relativamente incapazes em função de
serem portadoras de deficiências ou doenças mentais (em anexo).
Em alguns casos, a incapacidade é visível na própria audiência de
interrogatório, permitindo o julgamento antecipado da ação.
Porém, há casos em que a incapacidade não é aparente, sendo
necessária a realização de perícia médica atestando se a incapacidade é absoluta ou
relativa, provisória ou permanente etc para o Judiciário poder julgar.
Todavia, não há médico psiquiatra em Novo Gama/GO, dificultando
a obtenção de tais laudos.
Tendo sido solicitada à Secretaria Municipal de Saúde de Novo
Gama a contratação de psiquiatra para a realização de perícias nas ações de
interdição, esta informou no início de 2010 que havia contratado a Dra. Fernanda
Castro Dantas, CRM 11.109/GO (em anexo). Posteriormente, descobriu-se que a
referida médica ainda era residente em Psiquiatria e não poderia assinar os laudos.
Novamente instada, a Secretaria informou a contratação do médico
psiquiatra Dr. Marcelo Cutrim Carvalho, CRM 1.492/GO no segundo semestre de
2010. Contudo, ao tomar conhecimento do grande número de perícias que deveriam
ser feitas, o aludido médico declarou a impossibilidade de realizá-las (em anexo).
No início de 2011, foi oficiado à Secretaria Municipal de Saúde de
Luziânia/GO solicitando a indicação de psiquiatra de seus quadros para realizar as
perícias de Novo Gama/GO, mas não foi possível.
Desde então, as ações de interdição têm sido julgadas com base em
laudos médicos trazidos pelas próprias partes, elaborados por médicos particulares,
em afronta ao Código de Processo Civil.
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Mesmo após o julgamento das interdições, tal situação demonstra a
dificuldade que os interditados enfrentam para prosseguir no tratamento médico
adequado, diante da inexistência de médico psiquiatra em Novo Gama/GO, o que
seria resolvido com a implantação do CAPS.
Diuturnamente, mediante relatórios elaborados pelo CREAS, o
CRAS, Conselho Tutelar e outros órgãos, são instauradas pastas especiais de
aplicação de medidas protetivas a crianças e adolescentes, adultos e
idosos portadores de transtornos mentais, que necessitam de tratamento ou
internação, sendo evidente a dificuldade enfrentada na solução dos casos, muitas
vezes resolvido com o encaminhamento para outros municípios.
Como exemplo da inadiável necessidade de implantação de uma rede
de assistência medico terapêutica destinada ao tratamento e acompanhamento de
portadores de distúrbios mentais, seguem alguns casos concretos desde o ano de
2007, veja-se (em anexo):
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA:
Pasta especial atinente ao incapaz MISAEL DA SILVA, portador de
deficiência mental, instaurada em 25/10/2007. (…) Consta dos
relatórios elaborados pelo Creas e Cras que MISAEL permanecia
acorrentado à cama, em sua casa, sem alimentação e higiene,
pela genitora, que não tinha qualquer orientação sobre como
tratá-lo e não conseguia controlá-lo, pois este não fazia
tratamento psiquiátrico e não tomava os medicamentos
necessários. Após intervenção judicial, MISAEL foi levado à
Casa de Misericórdia de Luziânia/GO, de onde fugiu, tendo
sido então encaminhado para a AEC – Associação dos
Excepcionais de Ceilândia/DF, tendo passado por diversas
outras instituições, pois não podia retornar para Novo
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2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
Gama/GO e ficar sem tratamento psiquiátrico... (Autos nº
200704254829).
IDOSO:
Pasta especial atinente ao idoso JOÃO MANUEL DA CONCEIÇÃO,
instaurada em 22/07/2008. (…) Constata-se que o idoso está
atualmente residindo sozinho num imóvel alugado, ao passo que não
possui condições físicas e mentais para cuidar de si mesmo,
além de padecer de alcoolismo (…). Após 06 (seis) meses de
diligência, finalmente a equipe do CREAS conseguiu uma vaga
no Asilo Saída, em Luziânia/GO … (Autos nº 200704254829).
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA MENTAL:
Pasta especial atinente ao menor deficiente mental William Silva de
Souza, instaurada em 12/11/2009. (…). Consta dos relatórios em anexo
que o menor WILLIAM SILVA SOUZA, de 17 (dezessete) anos de idade, é
portador de deficiência mental diagnosticada como “Psicose Não
Orgânica CID F29” e encontra-se em situação de risco (…). O incapaz
apresenta irritabilidade, agressividade, delírios de
perseguição, isolamento social, insônia, vindo a praticar
maus tratos contra sua genitora Maria Vilma Souza Silva e
outros familiares …
CRIANÇA E ADOLESCENTE:
Pasta Especial atinente aos menores PEDRO VINÍCIUS COSTA
SCHALCHER e MARIA LUISA COSTA SCHALCHER, ambos
portadores de distúrbios mentais (…). instaurada em 28/01/2010.
Às fls. 17/18 foi acostado relatório do Conselho Tutelar informando que
levou os menores e sua genitora a Goiânia/GO no dia 13/02/2009,
porém não tinha vagas para interná-los em hospital psiquiátrico
naquele dia (…). Em 16/04/2009, o Conselho Tutelar declarou
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2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
que as crianças haviam iniciado tratamento médico no
Gama/DF e haviam melhorado, porém a genitora não tinha
condições financeiras para custear o transporte. Diante da
dificuldade, o tratamento foi paralisado, as crianças se
tornaram insuportáveis e a genitora as abandonou no Fórum
de Novo Gama (Autos nº 200900158977).
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA MENTAL:
Pasta especial atinente a JOÃO BATISTA MACIEL LIMA, interditado
judicialmente, instaurada em 21/10/2011 (…). Consta que o
interditando é portador de dependência alcoólica e apresenta
quadros alucinatórios e delirantes, faz tratamento de
psiquiatria e toma medicamentos controlados. (…). O
interditando está em situação de risco pois faz uso de bebidas
alcoólicas e é negligenciado pelos familiares, que vivem em
conflito entre si, afigurando-se necessária a aplicação da
medida de proteção consistente em abrigamento em
instituição.
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA MENTAL:
Pasta especial atinente a MAYCON DOS SANTOS SILVA, deficiente
mental, instaurada em 03/08/2012 (…) Consta do receituário
médico acostado aos autos que Maycon dos Santos Silva é
surdo-mudo e sofre de retardo mental, indignação
comportamental, nervosismo, auto flagelação, agressividade,
impulsividade e frangofilia, dentre outros diagnósticos. (…)
(Autos nº 200704254829).
A situação dos portadores de transtornos mentais relatada acima se
agravou em razão da inexistência de Psiquiatra e equipe multidisciplinar qualificada
para o atendimento, o que seria evitado com a implantação do CAPS em Novo
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Gama/GO.
No âmbito criminal, a situação não é diferente.
O art. 26 do Código Penal estabelece que é isento de pena aquele que,
por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Não há que se falar em aplicação de pena aos inimputáveis, e sim
medida de segurança, que pode ser tratamento ambulatorial ou internação.
Todavia, o Município de Novo Gama não dispõe de Psiquiatra e
equipe multidisciplinar para realizar o tratamento ambulatorial dos inimputáveis,
tampouco de local para internação.
Assim, o atendimento ambulatorial dos pacientes que cumprem
medida de segurança é realizado por uma médica residente em Psiquiatria lotada no
Posto de Saúde 24 Horas, que cumula o atendimento a todos os outros pacientes da
cidade, ficando sobrecarregada.
Já os casos de internação são encaminhados ao PAILI - Programa de
Atenção ao Louco Infrator, em Goiânia/GO.
A título de exemplificação, ao inimputável Reginaldo Ferreira dos
Santos foi aplicada a medida de segurança de internação, tendo sido levado ao PAILI,
porém fugiu da instituição e encontra-se atualmente em local incerto e não sabido
(autos nº 200604706086 – em anexo).
Por sua vez, os sentenciados Vicente Pinto Monteiro e Francis Ney
Lima da Silva foram inicialmente internados no PAILI e depois voltaram para
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2ª Promotoria de Justiça de Novo Gama/GO
tratamento ambulatorial neste Município (autos nº 201002218980 e 201101478084
– em anexo).
Diante da ausência de uma rede de saúde mental especializada, os
deficientes mentais procuram os postos de saúde, os quais já se encontram
superlotados, ante a ausência de um hospital local, resultando em atendimentos
deficitários tantos para os pacientes especiais quanto para o restante da população.
Ademais, os pacientes de outros municípios encaminhados para
Goiânia/GO sobrecarregam aquela rede de atendimento, prejudicando a população
local.
Para o Coordenador do Departamento de Saúde Mental de Goiânia,
Léo de Souza Machado, todo Município com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes
deveria disponibilizar um CAPS para a população, consoante a notícia em anexo.
Instrui a presente inicial a relação dos 31 (trinta e um) municípios
goianos que possuem pelo menos um CAPS instalado, totalizando 44 (quarenta e
quatro) unidades no estado (maio/2012).
Importante ressaltar que 21 (vinte e um) dos 31 (trinta e um)
municípios possuem população menor que Novo Gama/GO, como, por exemplo, o
Município de Palmelo/GO, de apenas 2.339 (dois mil, trezentos e trinta e nove)
habitantes e já possui um CAPS implantado.
Acrescente-se ainda que diversas cidades do entorno do Distrito
Federal já implantaram os seus respectivos CAPS, tais como: Águas Lindas de Goiás,
Valparaíso de Goiás, Formosa, Luziânia, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás e
Cristalina.
Por sua vez, já se encontra em andamento a implantação de CAPS em
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Cidade Ocidental/GO e Santo Antônio do Descoberto/GO, bem como novas unidades
em Luziânia, Formosa e Valparaíso de Goias, consoante o documento anexo.
Desta forma, imprescindível e inadiável se mostra a instalação de um
CAPS para atendimento dos portadores de transtornos mentais em Novo Gama/GO.
Segundo a Portaria GM nº 336/2002 - Ministério da Saúde, o CAPS
II deve contar com uma equipe mínima contendo: um médico psiquiatra; um
enfermeiro com formação em saúde mental; quatro profissionais de nível superior de
outras categorias profissionais como psicólogo, assistente social, terapeuta
educacional, pedagogo, professor de educação física ou outro profissional necessário
ao projeto terapêutico; e seis profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
1.3 – DA NECESSIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE
ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL (CAPSad) PARA TRATAMENTO DE
USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS EM NOVO GAMA/GO
A inauguração de um CAPSad em Novo Gama/GO também se
mostra fundamental, ante a elevada demanda de pessoas de todas as idades que
buscam atendimento para se livrar da dependência do álcool e outras drogas, não
encontrando amparo no Poder Público.
Salienta-se ainda que são inúmeros os casos de crianças e
adolescentes usuários de drogas que, para sustentar o vício, passam a cometer atos
infracionais contra a família e contra a sociedade, ou ainda vão a óbito por dívida do
tráfico ou pelo consumo excessivo de drogas.
Toda semana esta Promotoria de Justiça, com atuação na área da
saúde, realiza atendimento ao público de usuários de álcool ou drogas e seus
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familiares com o fito de garantir tratamento médico, orientação e disponibilização de
internação em clínica de desintoxicação.
A título de exemplificação, em 19/01/2012 foi instaurado o
procedimento preparatório nº 003/2012, com fulcro nos termos de declarações
prestados por familiares de Edson Pinheiro Soares Benedito, usuário de drogas (em
anexo).
Consta do referido procedimento que Edson já esteve internado na
Associação dos Centros de Pesquisa, Prevenção e Tratamento ao uso de Drogas
(ACAT), situado no Paranoá/DF, onde recebeu tratamento, mas, ao retornar ao
convívio da família, no Município de Novo Gama/GO, voltou a usar drogas em razão
da ausência de acompanhamento posterior, passando inclusive a dilapidar o
patrimônio da família para sustentar o vício.
O Ministério Público oficiou à Secretária Municipal de Saúde
solicitando a disponibilização de tratamento médico ao paciente, porém não houve
resposta.
Na mesma oportunidade, diante da inexistência de CAPS ou outro
órgão competente para tal atendimento, também foi oficiado ao CREAS, que
informou que ao realizar visita domiciliar à família, cerca de 02 (dois) meses depois,
o usuário já estava internado na Clinica Meio Ambiente e Tratamento das Adicções –
MATA, situada em Brasília/DF, por iniciativa da própria família.
Todavia, após ser desinternado e retornar para sua residência em
Novo Gama/GO, é evidente que o viciado necessitará de acompanhamento de equipe
de profissionais especializados para se manter longe do vício.
Situações como esta têm chegado ao Ministério Público
frequentemente, assim como casos de adolescentes infratores usuários de drogas e
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envolvidos com tráfico, inúmeros crimes de violência doméstica, geralmente
causados pela ingestão de bebidas alcoólicas e drogas etc.
A título de exemplificação, seguem casos concretos noticiados ao
Ministério Público desde o ano de 2007, que demonstram a constante demanda (em
anexo):
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA:
Em 15/05/2007, FRANCISCA DAS CHAGAS LIMA DE FREITAS esteve
na Promotoria de Justiça informando que é mãe de Salatiele Lima de
Freitas, que possui um filho de apenas três meses de vida; que o
genitor da criança é usuário de bebida alcoólica e
extremamente agressivo; que bate em Salatiele desde quando
começaram a morar juntos há cerca de um ano; que devido às
agressões sofridas durante a gestação, a criança nasceu
prematura e com sérios problemas de saúde, tais como
infecção no sangue e fragilidade nos ossos, tendo que ser
submetido a acompanhamento médico mensal... (em anexo).
ADOLESCENTE USUÁRIO DE DROGAS:
Em 07/07/2008, compareceu a esta Promotoria de Justiça SAMARA
SOUZA RODRIGUES solicitando ajuda para seu filho Ailson
Rodrigues Pereira de 14 anos que está envolvido com drogas, é
extremamente agressivo, não está frequentando as aulas e
está sendo ameaçado de morte por traficantes; (…) informa que
já procurou ajuda no Conselho Tutelar, mas de nada adiantou, pede
ajuda para recuperar seu filho... (em anexo) - AILSON FOI
ASSASSINADO ALGUNS MESES DEPOIS...
IDOSO VÍTIMA DE FILHO USUÁRIO DE DROGAS:
Em 21/07/2009, compareceu nesta Promotoria de Justiça o idoso
PEDRO SEVERINO BOTELHO, nascido aos 19.10.1933, que declarou que
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reside com seu filho ELCI SEVERINO BOTELHO, hoje com 40 anos de
idade, que seu filho é alcoólatra e usuário de drogas; que em
razão destes vícios, seu filho tem apresentado comportamento
violento; que é constantemente agredido por seu filho,
mediante socos e chutes; que seu filho já chegou a ameaçá-lo
de morte com uma faca; que teme por sua vida; que já
procurou tratamento para seu filho (…); que espera que seu
filho seja submetido a tratamento médico (…) - em anexo.
ALCOÓLATRA:
Em 22/07/2010, compareceu nesta Promotoria de Justiça, a Sr.
GLÓRIA RODRIGUES DE MEDEIROS relatando que seu filho
Ednaldo Rodrigues Mascarenhas é alcoólatra; que o mesmo
encontra-se fazendo uso constante de bebidas; que Ednaldo
consultou-se com a Médica do Posto de Saúde 24 Horas de
Novo Gama; Drª Fernanda Castro Dantas, todavia a mesma
prescreveu 02 (dois) medicamentos (…); que os medicamentos
possuem valor bastante expressivo, tendo em vista que juntos
somam 550,00 (quinhentos e cinquenta) reais, que a
declarante não possui condições financeiras de comprar os
aludidos remédios (…) - em anexo.
ADOLESCENTE USUÁRIO DE DROGAS:
Em 04/03/2011, foi instaurado na Vara da Infância e Juventude de
Novo Gama procedimento apuratório de situação de risco de menor com
aplicação de medida de proteção em favor de WINGUERSON RIBEIRO
NUNES, nascido em 18/11/1993, (…) O relatório do Conselho
Tutelar em anexo notícia que o adolescente acima identificado
encontra-se em situação de grande vulnerabilidade e risco
social pois passou a usar drogas há cerca de 04 (quatro) anos,
mantendo seu vício com a venda de entorpecentes. (…) Relata
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ainda que a genitora Analeuda Ribeiro Nunes conseguiu vaga
em uma casa de amparo não governamental, arcando com os
custos da internação no valor de R$ 200,00 (duzentos reais) e
uma cesta básica, todavia não conseguiu diante da falta de
autorização do Juizado de Menores para interná-lo. Informa que o
adolescente concorda com a internação e pede ajuda, pois está
sob ameaça de morte (em anexo).
ADOLESCENTE USUÁRIO DE DROGAS:
Em 31/05/2012, foi instaurado na Vara da Infância e Juventude de
Novo Gama procedimento apuratório de situação de risco de menor com
aplicação de medida de proteção em favor dos menores VALMIR RÊGO
LIRA, nascido em 09/12/1995, e VINÍCIUS RÊGO LIRA, com 14 anos de
idade (…) o adolescente Valmir Rêgo Lira encontrava-se em
situação de risco por suspeita de uso de drogas (…) sendo que
sua situação piorou, tendo em vista que passou a fornecer
drogas para o irmão mais novo Vinícius Rêgo Lira, de 14 anos
de idade. O último relatório do CREAS, datado de 22/05/2012,
informa que o estado do adolescente se agravou, pois foi
hospitalizado em decorrência de uma sobredose por consumir
conjuntamente as seguintes substâncias: “maconha, cocaína,
rophynol, conhecido como rupinol, álcool e haloperidol,
popularmente conhecido por halo (em anexo).
Encontram-se em anexo diversos outros casos semelhantes ao supra
transcritos, sendo oportuno ressaltar que a demanda é crescente.
O CAPS Álcool e Drogas (CAPSad) se revela importante por ser
a única unidade de saúde especializada em atender os dependentes de álcool e
drogas, dentro das diretrizes determinadas pelo Ministério da Saúde, tendo por base
o tratamento do paciente em liberdade e buscando sua reinserção social.
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O CAPSad oferece atendimento diário a tais pacientes, permitindo o
planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução
contínua. Parte-se do princípio que a atenção psicossocial a usuários que apresentem
uso abusivo e dependência de álcool e outras drogas deverá ocorrer em ambiente
comunitário e articulado à rede de cuidados em álcool e drogas e saúde mental.
Ressalta-se ainda que o apoio da família é fundamental neste
processo, razão pela qual os psicólogos dos CAPSad implantados em outros
municípios estão realizando grupo de atendimento aos familiares de pacientes, onde
são esclarecidas dúvidas, anseios e dado o suporte de que a família necessita.
O CAPSad possui como objetivo não só a oferta de atendimento à
população específica a que se destina o serviço, mas também atividades terapêuticas
e preventivas à comunidade, devendo "impedir o uso de substâncias psicoativas pela
primeira vez, impedir uma 'escala' do uso e minimizar as consequências de tal uso".
Assim, são oferecidas atividades recreativas, educativas e
profissionalizantes, como aulas de artesanato, mosaico, pintura em tela e tecido e
produção de bijuterias, bem como são realizadas caminhadas e palestras educativas
pela equipe de enfermagem, psicoterapias de grupo e quando necessário, sessões de
psicoterapia individual.
Outro destaque significativo do CAPSad é a disponibilização do
serviço médico de desintoxicação, propondo que a abstinência não seja o modelo
único a ser considerado e que não se promova o isolamento social do doente mental.
Os referidos centros devem funcionar com capacidade de atender
uma região que abrigue mais de 70 mil habitantes, prestando uma assistência que
compreenda desde o atendimento individual até o grupal, domiciliar e familiar, as
oficinas terapêuticas e as atividades comunitárias.
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Tais atendimentos devem ser oferecidos nas modalidades: intensiva
(na qual, em decorrência do quadro clínico do usuário, mostra-se necessário o
acompanhamento diário); semi-intensiva (regime direcionado àqueles que
necessitam de acompanhamento frequente, sem, entretanto, precisar diariamente) e
não-intensivo (o tratamento que, em função do quadro clínico, pode ocorrer em uma
frequência menor).
Segundo a Portaria GM-MS nº 336/2002, o CAPSad deve contar
com uma equipe mínima contendo: um médico psiquiatra; um enfermeiro com
formação em saúde mental; um médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e
acompanhamento das intercorrências clínicas; quatro profissionais de nível superior
entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro,
terapeuta educacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto
terapêutico; e seis de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico
administrativo, técnico educacional e artesão.
Impende acrescentar que o uso de drogas e álcool traz consequências
irreversíveis para a saúde, além de refletir diretamente no aumento da criminalidade
e de acidentes de trânsito.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o álcool e as drogas
estão presentes em 68% dos homicídios, 62% dos furtos e 44% dos
roubos, ao passo em que dois terços dos casos de violência doméstica,
ocorrem em função do uso abusivo de álcool ou outras substâncias
entorpecentes (MS, 2004)
Novos estudos revelam ainda que o álcool está relacionado
com 40% dos acidentes de trânsito e 15% dos acidentes de trabalho, bem
como que o consumo de substâncias psicoativas representam 87% dos
gastos com transtornos mentais no Brasil (MS, 2004).
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Consumo excessivo de álcool aumenta risco de demência: pesquisa
realizada com mais de 5 mil voluntários acima de 65 anos de idade relaciona a perda
de memória e declínio das funções cognitivas ao excesso de álcool, segundo a notícia
publicada em 19/07/2012 pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras
Drogas (em anexo).
Desta forma, diante da omissão dos gestores do Município de Novo
Gama em implantar os referidos programas do Ministério da Saúde, incumbe ao
Poder Judiciário, como último reduto para a realização e promoção dos direitos
fundamentais previstos na Carta Magna.
1.4 - DIRETRIZES PARA IMPLANTAÇÃO DO CAPS
O Ministério da Saúde repassa um incentivo antecipado para a
implantação do serviço nos valores de R$ 30.000,00 (CAPS II) e R$ 50.000,00
(CAPSad), consoante autoriza a Portaria GM – MS nº 1.455/2003 (em anexo).
Nos termos do art. 2º da Portaria GM – MS nº 245/2005 (em
anexo), para solicitação do incentivo antecipado o gestor municipal deve encaminhar
ofício com a solicitação do incentivo ao Ministério da Saúde, com cópia para a
respectiva Secretaria de Estado da Saúde, com os documentos abaixo:
a - projeto terapêutico do serviço;
b - cópia das identidades profissionais dos técnicos compondo equipe
mínima, segundo as diretrizes da Portaria 336/GM, de 19/02/02;
c - termo de compromisso do gestor local, assegurando o início do
funcionamento do CAPS em até 3 (três) meses após o recebimento do
incentivo financeiro de que trata esta Portaria; e
d - proposta técnica de aplicação dos recursos.
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Os incentivos repassados podem ser utilizados para reforma do local
em que funcionará o CAPS, compra de equipamentos, aquisição de material de
consumo e/ou capacitação da equipe técnica e outros itens de custeio (art. 4º, §2º,
Portaria GM – MS nº 245/2005).
Se o CAPS não for implantado em 90 (noventa) dias, os recursos
recebidos deverão ser devolvidos ao Ministério da Saúde. Os incentivos serão
transferidos em parcela única, aos respectivos fundos, dos Estados, Municípios e do
Distrito Federal, sem onerar os tetos da assistência de média e alta complexidade1
Além de repassar o incentivo antecipado para a implantação do
serviço, o Ministério da Saúde também custeia mensalmente parte das despesas
necessárias para manutenção do CAPS.
Assim, após a implantação do CAPS, os municípios devem solicitar o
cadastramento do serviço junto ao Ministério da Saúde para o recebimento de verba
mensal para o custeio do serviço.
As Portarias nº 336/GM, de 19/02/02, e nº 189/SAS, de 20/03/02,
dispõem que para a solicitação de cadastramento do serviço junto ao Ministério da
Saúde os gestores municipais deverão seguir os procedimentos abaixo:
1) Requerer à Comissão Intergestores Bipartite, por meio do Secretário
de Estado da Saúde, a aprovação do pedido de cadastramento do
serviço;
2) Encaminhar processo de solicitação de cadastramentos ao Ministério
da Saúde, instruído com a seguinte documentação:
A - Documentação da Secretaria Municipal de Saúde e do gestor.
B - Projeto Técnico do CAPS;
1 Ref.: Portaria nº 245/GM, de 17 de fevereiro de 2005
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C - Planta Baixa do CAPS;
D - Discriminação da Equipe Técnica, anexados os currículos dos
componentes; e
E - Relatório de Vistoria realizada pela Secretaria de Estado da Saúde.
Por outro lado, tanto o CAPS II como o CAPSad devem ser instalados
em área mínima de 500 m2 cada, contendo a seguinte estrutura física: a)
administração (uma diretoria, uma chefia médica, uma chefia de enfermagem, um
almoxarifado); b) farmácia; c) recepção / atendimento; d) ambulatório (três salas de
terapia individual, uma de terapia em grupo, uma de terapia ocupacional e uma de
apoio); e) área verde para atividades; f) copa para funcionários; g) sanitários,
consoante as diretrizes em anexo.
2 - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
2.1 - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Estabelece a Constituição Federal de 1988 que compete ao Ministério
Público a defesa de diversos direitos e interesses, dentre os quais os sociais e
individuais indisponíveis, a saber:
“Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”
A legitimidade do Ministério Público para promover ação civil
pública em defesa de interesses difusos e coletivos é indeclinável, nos exatos
termos dos dispositivos localizados nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição
Federal.
Dentre esses interesses, é fácil se localizar o direito à saúde, por força
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do preceito contido no art. 196 e seguintes da Constituição Federal.
O dispositivo acima preconiza que a saúde é direito de todos e dever
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
É evidente que a instalação de um CAPS – Centro de Atenção
Psicossocial para atendimento de pessoas portadoras de transtornos mentais e
viciados em álcool e outras drogas em um município de médio porte como Novo
Gama/GO, com 95.013 habitantes (IBGE 2010), que não possui nenhum serviço de
orientação, apoio, acompanhamento ou tratamento a tais pessoas, é medida que
resguarda o direito à saúde da população.
Por outro lado, o Ministério Público é um dos legitimados para
propor ação civil pública, nos termos do art. 5º da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil
Pública).
Deste modo, revela-se inquestionável a legitimidade do Ministério
Público do Estado de Goiás para figurar no pólo ativo da presente ação civil pública.
2.2 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO
Sabe-se que a efetiva prestação dos serviços de saúde é uma
obrigação solidária da União, Estados e Municípios.
Nos termos do art. 4º da Lei Federal nº 8.080/90, o SUS é um
conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações
mantidas pelo Poder Público.
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Diante da nova política de atendimento aos portadores de transtorno
mental e usuários de álcool e drogas implantada no Brasil, o Ministério da Saúde
editou portarias concedendo incentivo financeiro para implantação e manutenção de
centros de atendimento psicossociais nos Municípios.
Assim, a implantação dos CAPS dependem da iniciativa dos gestores
municipais.
Por sua vez, o Estado de Goiás disponibilizou equipe técnica para
auxiliar os Municípios a implementarem os respectivos centros e, em iniciativa
pioneira, instituiu o Plano de Ação Integrada de Desenvolvimento (PAI) concedendo
recursos mensais no montante de 25% (vinte e cinco por cento) sobre os valores
repassados pelo Ministério da Saúde para manutenção dos CAPS.
Desta forma, a União Federal e o Estado de Goiás demonstraram o
cumprimento de seu dever constitucional, restando ao Município de Novo Gama dar
efetividade a sua função de promover a saúde mental de seus cidadãos.
Vale dizer, os municípios encaminham o projeto ao Ministério da
Saúde e recebem recursos federais para a implantação do CAPS e sua manutenção,
bem como recebem recursos estaduais para auxiliar na manutenção, não merecendo
guarida qualquer alegação de falta de recurso para a concretização do aludido
serviço.
Destarte, depende apenas da iniciativa do Município de Novo Gama
a implantação do CAPS II e CAPSad em seu território.
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2.3 – DO DIREITO À SAÚDE COMO DIREITO FUNDAMENTAL E O
CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS
A Constituição Federal de 1988 elencou, dentre os seus princípios
fundamentais e como alicerce do Estado Democrático de Direito, a dignidade da
pessoa humana e cidadania (art. 1º, incisos II e III), determinando, ainda, como um
de seus objetivos fundamentais, a construção de uma sociedade justa, livre e
solidária.
E, com vistas ao pleno exercício da cidadania, a saúde, ao lado da
educação, contribui decisivamente para a melhoria de vida de cada cidadão.
A Constituição Federal e a legislação infraconstitucional não tratam a
saúde como um fim em si mesmo, mas um verdadeiro caminho ou instrumento para
construção de uma sociedade que se pretende justa, livre e solidária, a ser garantido a
todo cidadão brasileiro.
A saúde, concebida como o “estado completo de bem-estar físico,
mental e social, e não simplesmente como a ausência de doença ou enfermidade” é,
pois, direito humano fundamental, oponível ao Estado nos termos do art. 196
da Constituição Federal, que viabiliza e garante a própria vida, sendo inadmissível
qualquer conduta comissiva ou omissiva, especialmente da
Administração Pública, tendente a ameaçá-lo ou frustrá-lo.
Vale dizer, a saúde é um dos direitos expressos na Constituição
Federal. Outrossim, é um serviço de relevância pública, sendo dever do Estado
promover, proteger e recuperar a saúde das pacientes.
Ademais, a Constituição Federal assegura proteção integral à saúde
da pessoa portadora de deficiência, conforme abaixo:
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Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos: (…) IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária.
A Lei Federal nº 10.216/2001 impõe aos poderes públicos, em
complemento ao art. 196 da CF, a proteção e a tutela dos direitos dos portadores de
sofrimento psíquico, sabidamente vulneráveis socialmente.
Na regulamentação do direito à saúde, as leis nº 8.080/90 e
8.142/90 estabelecem princípios e diretrizes para a organização do Sistema Único de
Saúde (SUS), destacando-se a universalidade, integralidade e a descentralização
entre as três esferas de governo.
Como se vê, a Magna Carta deu um valor especial à saúde,
determinando que os Estados aplicarão, anualmente, nunca menos de 12% (doze
por cento), no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, nas ações e e serviços públicos de saúde, ao passo que
o os Municípios e o Distrito Federal deverão aplicar no mínimo 15% (quinze
porcento), consoante determina o art. 77, II e III.
Outrossim, como bem leciona Américo Bedê Freire Junior, em sua
obra O Controle Constitucional de Políticas Públicas, editora Revista dos Tribunais,
pág. 71:
“Não existe discricionariedade na omissão do cumprimento da
Constituição. Na verdade, trata-se de arbitrariedade que pode e precisa
ser corrigida.
Ademais, a Constituição prevê em seu art. 5º, XXXV, peremptoriamente
que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito.” Uma interpretação adequada do dispositivo leva à
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conclusão de que não somente a lei, mas também atos, inclusive
omissivos, do Poder Legislativo e Executivo não podem ficar sem
controle. Disso se constata que a omissão total pode (deve) ser apreciada
pelo Poder Judiciário.”
Mais adiante, às fls. 84, menciona o referido autor:
“O STF já fixava na ementa do julgamento liminar que “se o Estado deixar
de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da
Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exequíveis,
abstendo-se, em consequência, de cumprir o dever de prestação que a
constituição impôs, incidirá em violação negativa do texto
constitucional.”
Neste contexto, não restam dúvidas que, diante de uma omissão do
MUNICÍPIO DE NOVO GAMA e da SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, faz-se
necessária a intervenção do Ministério Público para a implantação de serviços de
atendimento a portadores de transtornos mentais e usuários de álcool e outras
drogas em Novo Gama/GO.
O PODER JUDICIÁRIO não pode assistir de forma passiva e
condescendente as violações à carta de direitos fundamentais. O Judiciário está
constitucionalmente autorizado a corrigir e suplantar as omissões estatais, para
preservar a força normativa da Constituição e máxima efetividade das normas
fundamentais, principalmente as definidoras de direitos da Cidadania.
A cláusula de separação de Poderes não pode ser invocada para
legitimar o desrespeito aos direitos fundamentais, sob pena de se frustrar o
desiderato constitucional, colocando em xeque a força normativa da Constituição.
De nada adiantaria a Constituição abraçar diversos direitos sociais se
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a eleição de como e quando tais direitos devessem ser observados ficasse a cargo do
Chefe do Poder Executivo. Como vige o sistema de cheks and counthercheks, toda e
qualquer lesão ou ameaça a direito autoriza a tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF).
Assim, é lícito afirmar que todo aparato estatal, toda a máquina
administrativa existe apenas com a finalidade de assegurar aos cidadãos brasileiros
os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça.
A atuação do administrador público na promoção da saúde
é vinculada ao texto constitucional. Não é uma faculdade do administrador
promover ações de saúde, é uma obrigação constitucional do Poder Executivo, sendo
que omissão do Poder Público em tais casos é inconstitucional, o que autoriza o
Judiciário a intervir para restaurar a força normativa da Constituição e a máxima
efetividade das normas constitucionais, sobretudo as definidoras de direitos
fundamentais (art. 5º, § 1º, CF).
Repise-se: qualquer ação ou omissão no trato da saúde dos
cidadãos (e, via de consequência, da vida da população) será, sem que se demande
muito esforço de raciocínio, INCONSTITUCIONAL, impondo a atuação
jurisdicional para coibi-lo.
Pela afeição ao raciocínio esposado, excerto do voto proferido pelo
Ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski ao julgar o agravo de
instrumento interposto pelo Estado do Rio Grande do Sul contra decisão que não
admitiu recurso extraordinário:
“Ainda que superado tal óbice, o recurso não prosperaria, uma vez que o
acórdão recorrido encontra-se em harmonia com a orientação da Corte
que, ao julgar o RE 271.286-AgR/RS, Rel. Min. Celso de Mello,
entendeu que o Poder Público, qualquer que seja a esfera
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institucional de sua atuação no plano da organização
federativa brasileira, não pode se mostrar indiferente ao
problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda
que por censurável omissão, em grave comportamento
inconstitucional. Salientou-se, também, que a regra contida no art.
196 da Constituição tem por destinatários todos os entes políticos que
compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado
brasileiro. No mesmo sentido, menciono as seguintes decisões, entre
outras: RE 539.216/RS, Rel. Min. Eros Grau; RE 572.252/RS, Rel.
Min. Cezar Peluso; AI 507.072/MG, Rel. Min. Joaquim
Barbosa; AI 635.766/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; AI
662.822/RS, Rel. Min. Celso de Mello”.
Por oportuno, cumpre desde já destacar que não há que se falar no
caso dos autos em “separação de poderes”, “intromissão na esfera de competência do
executivo”, “reserva do possível” ou qualquer teoria “moderna” hoje propagada em
profusão por aqueles que, em prejuízo da população, buscam isentar o poder
público do cumprimento de suas obrigações constitucionais e legais.
Com efeito, hoje está sedimentado no Tribunais Superiores que
incumbe sim ao Poder Judiciário o controle de políticas públicas, pois, em
que pese a separação e independência dos Poderes, não é autorizado ao
Administradores Públicos qualquer juízo de conveniência e oportunidade em
cumprir ou não cumprir o que a Constituição Federal lhe determina, mormente em
casos que envolvam a saúde e a vida dos destinatários dos serviços
públicos.
A garantia à saúde e à vida da população, não há como se negar,
constitui mero corolário, como já dito acima, da dignidade da pessoa humana,
princípio de direitos humanos que alicerça a formação de um Estado de Direito.
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A partir dos ideais do constitucionalismo contemporâneo, tem-se
que inexiste razão para a manutenção de um Estado de Direito sem garantia de
dignidade mínima à população, e é isso que se busca in casu.
Não se está, pois, imiscuindo-se no juízo de conveniência e
oportunidade do administrador, porque as políticas públicas já foram
preestabelecidas pelo legislador constituinte.
De toda sorte, é indubitável que a implantação de serviços
de atendimento a portadores de transtornos mentais e usuários de álcool
e outras drogas em Novo Gama/GO seja necessária e prioritária,
consoante comprovam os documentos que instruem a inicial.
Vislumbra-se, portanto, a necessidade do Poder
Judiciário (CF, art. 5º, XXXV), em defesa dos direitos fundamentais e serviços
essenciais previstos pela Carta Magna - vida, dignidade da pessoa humana,
saúde - garantir a prestação de serviços de saúde (hospitalares) à
população local, inclusive responsabilizando as autoridades omissas.
O julgado a seguir reconhece o dever do Município de implementar
os serviços necessários à saúde dos seus cidadãos, veja-se:
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. ART. 196
DE CONSTITUIÇÃO. AÇÃO CÍVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE
IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO.
OMISSÃO DO PODER PÚBLICO NA PROTEÇÃO À SAÚDE DOS
PORTADORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO. ANTECIPAÇÃO DE
TUTELA. DEFERIMENTO. PRAZO PARA INÍCIO DO CUMPRIMENTO
DA MEDIDA. A Lei Federal 10.216/2001 impõe aos poderes
públicos, em complemento ao art. 196 da Constituição da
República, a proteção e a tutela dos direitos dos portadores de
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sofrimento psíquico, sabidamente vulneráveis socialmente. A
Portaria nº 106/2000 do Ministério da Saúde organiza e estrutura os
Serviços Residenciais Terapêuticos, na forma e com os fins que devem
ser perseguidos pelos Municípios. As provas, colhidas no inquérito
civil público preparatório da presente ação civil, indiciam que
o Município de Canoas não dispõe de instituição adequada
para o acolhimento e tratamento dos portadores de sofrimento
psíquico, que estão sendo atendidos em instituições
inadequadas, ou, simplesmente estão desatendidos, o que
demonstra o perigo de dano, se houver demora no provimento. O
princípio da reserva do possível não pode justificar o
descumprimento de políticas públicas que contemplem o
atendimento à saúde em seu grau mínimo de proteção. Procede
a antecipação de tutela recursal para obrigar o Município à
implementação do Serviço Residencial Terapêutico - SRT, nos moldes da
legislação nacional, sob pena de multa de R$ 10.000,00, devendo ser
apresentado, em 20 dias, cronograma do projeto para
implementação do SRT, pelo Município. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº
70024042095, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Denise Oliveira Cezar, Julgado em 13/08/2008)
A situação retratada na inicial revela o descaso do poder público com
a cidadania e com a população de Novo Gama/GO na medida em que a inexistência
de qualquer serviço de atendimento, orientação e tratamento de portadores de
transtornos mentais e usuários de álcool e outras drogas expõe todos a riscos, o que
viola o direito fundamental da dignidade da pessoa humana, valor supremo da
ordem jurídica. Está devidamente comprovada a omissão do Estado no
adimplemento de suas obrigações constitucionais.
Presente, portanto, a omissão inconstitucional do Município de Novo
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Gama e da Secretaria Municipal de Saúde, que, na prática, neutraliza, anula, o direito
à saúde, deve o Poder Judiciário, provocado por meio desta ação civil pública,
preservar a intangibilidade do núcleo de direitos da cidadania desrespeitados,
garantindo aos cidadãos de Novo Gama o efetivo acesso à saúde consubstanciado na
a implantação de serviços de atendimento a portadores de transtornos mentais e
usuários de álcool e outras drogas em Novo Gama/GO.
2.4 - O NOVO MODELO DE SAÚDE MENTAL E REABILITAÇÃO
A partir da década de 1970, o Brasil passa a ser palco de inúmeras
denúncias de violação de direitos humanos dos pacientes psiquiátricos, notícias de
violência nos hospitais e internação psiquiátrica apenas em busca do lucro,
iniciando-se o questionamento sobre o modelo de assistência psiquiátrica vigente.
Constatou-se que o modelo de assistência psiquiátrica asilar e
carcerário não apresentava efetividade quanto à prevenção, tratamento e muito
menos reabilitação e reinserção social das pessoas portadoras de transtornos
mentais.
Na década de 80 passam a surgir as primeiras propostas e ações para
a reorientação da assistência às pessoas com transtornos mentais. E, em 1987, surgiu
na cidade de São Paulo o primeiro Centro de Atenção Psicossocial - CAPS do Brasil.
Posteriormente, em 1990, o Brasil assinou a Declaração de Caracas,
comprometendo-se a desenvolver esforços no sentido de superar o modelo de
hospital psiquiátrico como serviço central para o tratamento das pessoas portadoras
de transtornos mentais.1
1 Declaração de Caracas (Adotada pela Organização Mundial da Saúde em Caracas, Venezuela, em 14 de novembro de 1990) disponível na página da Procuradoria Geral da República (www.pgr.mpf.gov.br).
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No ano de 1992 foi editada a Portaria SNAS nº 224, de 29/01/92,
que estabeleceu as diretrizes e normas no âmbito do SUS para atendimentos
psiquiátricos.
Em 11/02/2000, o Ministério da Saúde editou a Portaria nº 106,
criando os serviços residenciais terapêuticos em saúde mental, entendidos como
“moradias ou casa inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar
dos portadores de transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de
longa permanência”.
A partir de então a política pública para a saúde mental, seguindo as
diretrizes da Declaração de Caracas, passou a considerar que as internações em
hospitais especializados em psiquiatria devem ocorrer somente naqueles
casos em que foram esgotadas todas as alternativas terapêuticas
ambulatoriais existentes, partindo da premissa de que o modelo de atenção
extra-hospitalar tem demonstrado grande eficiência e eficácia no tratamento dos
pacientes portadores de transtornos mentais.
Assim, o modelo de atenção à pessoa com transtorno mental vigente,
que em âmbito institucional se convencionou denominar Reforma Psiquiátrica
brasileira, decorrente do esgotamento do modelo assistencial asilar/carcerário,
baseia-se na excepcionalidade da internação e prevalência da assistência extra-
hospitalar.
Nesse contexto, diante do crescente quadro de epidemia do uso de
substâncias psicoativas em todo o país, bem como da necessidade de oferecer um
tratamento digno aos portadores de transtorno mental, o Governo Federal
promulgou a Lei nº 10.216/2001.
A referida norma estabelece acerca da necessidade da criação de
políticas específicas para reabilitação psicossocial, sob responsabilidade do Poder
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Executivo.
Por sua vez, o Ministério da Saúde editou a Portaria GM/MS
95/2001 ampliando as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica, bem
como redefinindo o processo de regionalização da assistência.
Buscando consolidar a nova política de atenção à saúde, o Ministério
da Saúde expediu as portarias nº 336/2002-GM e nº 189/2002-GM
redirecionando o modelo assistencial em saúde mental.
Dentre as principais inovações, a referida norma trouxe a
implantação de Centros de Atendimento Psicossociais (CAPS) em três
níveis de complexidade, bem como centros especializados em álcool,
drogas (Portaria GM/MS nº 816/2002) e infância e juventude.
Com o fito de garantir o êxito das novas políticas, o Ministério da
Saúde expediu ainda a Portaria nº 1455/GM, datada de 31/07/2003, concedendo
incentivo financeiro antecipado aos Municípios na ordem respectiva de vinte, trinta e
cinquenta mil reais para efetiva implantação dos centros psicossociais.
O repasse é feito pelo Ministério da Saúde previamente à
implantação do serviço, para evitar eventuais dificuldades
orçamentárias dos gestores.
No ano de 2009, o Ministério da Saúde elaborou o Plano
Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em álcool e outras
drogas, instituído pela portaria 1.190/2009-GM.
Nesse contexto, o Governo Federal emitiu o Decreto Presidencial nº
7.179, de 20/05/2010, instituindo o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e
outras Drogas, corroborando o novo paradigma de prevenção e tratamento
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implantado pelo Ministério da Saúde.
Posteriormente, visando garantir a efetividade das referidas políticas
públicas, o Ministério da Saúde liberou recursos no valor de 15.115.000,00 (quinze
milhões, cento e quinze mil reais) para atender a ampliação dos 1.592 CAPS
existentes em todo o País.
Vale ainda lembrar que o Ministério da Saúde, além de conceder
incentivo financeiro para implantação do CAPS, auxilia na sua manutenção,
encaminhando recursos de acordo com a estatística de atendimento de cada unidade.
Importante ressaltar ainda que o Estado de Goiás lançou
em 17/09/2012 o Plano de Ação Integrada de Desenvolvimento (PAI)
concedendo recursos mensais no montante de 25% (vinte e cinco por
cento) sobre os valores repassados pelo Ministério da Saúde para
manutenção dos CAPS existentes no estado (em anexo).
Conforme dados divulgados pela Secretaria de Estado de Gestão e
Planejamento, o montante previsto para o Programa PAI no período de 2012 a 2014,
é da ordem de R$ 89,6 milhões de reais.
Desta maneira, não prosperam eventuais alegações dos gestores
municipais acerca da carência de recursos para implantação dos referidos centros.
3 – DA MEDIDA LIMINAR
No caso em análise, afiguram-se presentes os elementos previstos no
art. 273 do Código de Processo Civil para a antecipação dos efeitos da tutela
pretendida ou, alternativamente, para a concessão da medida liminar, nos termos do
art. 12 da Lei nº 7.347/85.
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A antecipação dos efeitos da tutela, no bojo de uma ação civil
pública, é possível desde que a tese jurídica exposta seja plausível e que haja fundada
necessidade de se assegurar a fruição da tutela de mérito pretendida antes da
estabilização subjetiva do processo e da efetivação do contraditório.
Com efeito, acha-se configurada a prova inequívoca da
verossimilhança do alegado, bem como a presença do fumus boni iuris e do
periculum in mora.
O cerne da questão cinge-se à necessidade premente de implantação
de serviços de atendimento, orientação, acompanhamento e tratamento de pessoas
portadoras de transtornos mentais em geral e usuários de álcool e outras drogas em
Novo Gama/GO, consubstanciados no CAPS II e CAPSad.
Mister consignar que a plausibilidade do direito que está sendo
lesionado, o fumus boni iuris, está patenteada pelo reconhecimento em sede
constitucional e infraconstitucional do direito a saúde como direito público e
subjetivo e do dever do poder público municipal de prover o devido atendimento.
A prova perfunctória é sobeja ao retratar a situação por que passa a
população de Novo Gama/GO, afrontando a Constituição, a legislação
infraconstitucional e a sociedade em todos os seu aspectos, pois não preserva a
Dignidade da Pessoa Humana, ao expor os cidadãos, inclusive idosos, crianças e
adolescentes a risco em razão da inexistência de qualquer serviço de saúde para
portadores de transtorno mental e viciados em álcool e drogas, tendo que se deslocar
até Brasília/DF ou Goiânia/GO para receberem atendimento médico, não
resguardando o direito à saúde.
O periculum in mora, de sua parte revela-se na necessidade
inadiável de se oferecer atendimento adequado aos portadores de transtornos
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mentais e viciados em álcool e drogas domiciliados em Novo Gama/GO. A falta do
atendimento imposto por lei traduz risco para a saúde e para a vida dessas pessoas,
alem de colocá-las à margem do processo de ressocialização e de resgate da
cidadania.
As provas colhidas no procedimento preparatório em
anexo demonstram que o MUNICÍPIO DE NOVO GAMA NÃO DISPÕE DE
NENHUM PROGRAMA DE ATENDIMENTO AOS PORTADORES DE
TRANSTORNOS MENTAIS, PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS,
TRATAMENTO, REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DOS
USUÁRIOS, e tais pessoas estão sendo atendidas de forma inadequada,
por profissionais não capacitados, ou, simplesmente estão
desatendidas, o que demonstra o perigo de dano, se houver demora no
provimento.
Em razão da inexistência de tais serviços, os casos desaguam no
Ministério Público e no Judiciário, através de ações de interdição, pastas especiais de
aplicação de medidas protetivas aos idosos, portadores de deficiência, crianças e
adolescentes, ações penais, execuções penais, ações socioeducativas de adolescentes
infratores, relatórios do CREAS ou CRAS etc.
Quando aparece uma demanda de usuário de drogas que precisa de
tratamento, não há qualquer serviço de orientação, apoio ou acompanhamento, não
há equipe médica e multidisciplinar com capacitação para atendimento e tratamento
ambulatorial, tampouco há comunidades terapêuticas para internação.
Na falta de órgãos específicos, os usuários são encaminhados ao
CREAS, que, por sua vez, encaminham para tratamento ambulatorial no CAPS de
Valparaíso de Goiás/GO ou CAPS de Santa Maria/DF e, nos casos de internação,
diligenciam em busca de vagas em comunidades terapêuticas no Distrito Federal ou
em Goiânia/GO, porém muitas vezes não conseguem.
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A título de exemplificação, instruem a presente inicial documentos
referentes a casos concretos noticiados ao Ministério Público desde o ano de 2007 até
a presente data (em anexo). De lá para cá, a situação vem se agravando, pois a
população de Novo Gama/GO apresentou elevado crescimento.
Não há dúvidas acerca da necessidade de implantação de um CAPS II
e de um CAPSad em Novo Gama/GO, uma vez que a população está totalmente
desassistida de serviços de saúde mental.
A relevância da causa de pedir decorre do agudo contraste entre a
conduta omissiva do Município de Novo Gama e da Secretaria Municipal de Saúde e
as normas legais e constitucionais mencionadas.
O receio de ineficácia do provimento final também resta configurado
já que os cidadãos não estão obtendo do Estado a assistência médica, psiquiátrica e
psicológica necessária no campo da saúde mental e no tratamento de usuários de
álcool e outras drogas.
Assim, vislumbra-se a necessidade de se tomar medidas imediatas,
como forma de coibir danos que possam advir, caso a situação persista, inclusive
evitar mortes que ocorrem com frequência em razão do uso de álcool e drogas e da
inexistência de tratamento no município para aqueles que desejam.
Sendo assim acham-se perfeitamente delineados os requisitos da
prova inequívoca e da verossimilhança das alegações, de maneira nenhuma poder-
se-á duvidar do atendimento ao requisito da existência de fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação, pois os fatos narrados nesta peça, em tendo
continuidade, lesam direitos fundamentais da população de forma irreparável e
irreversível, visto que o que está em jogo e a saúde mental dos cidadãos que residem
em Novo Gama/GO.
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Pretende-se o deferimento de medida liminar e
antecipação apenas parcial da tutela pretendida.
Vale dizer, pretende-se que seja determinado aos réus que
deflagrem o procedimento de implantação dos CAPS, dando o primeiro
passo, que é o envio de solicitação ao Ministério da Saúde para
recebimento do incentivo para implantação do CAPS II e CAPSad, no
valor de R$ 30.000,00 e R$ 50.000,00, respectivamente (Portaria GM-
MS nº 1.455/2003).
Destarte, demonstrada a plausibilidade jurídica da tese e o perigo da
demora, mister se faz a concessão da medida liminar, com fulcro no art. 12 da Lei nº
7.347/85 e art. 273 do CPC, deferindo o pedido consistente na seguinte obrigação de
fazer:
a) LIMINARMENTE, procedendo este Juízo nos termos do art. 2º da Lei nº
8.437/92, sejam compelidos o MUNICÍPIO DE NOVO GAMA e a
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, n o prazo de 30 (trinta) dias , a
comprovar o encaminhamento de ofício ao Ministério da Saúde
solicitando incentivo para implantação do CAPS II e do CAPSad em
Novo Gama/GO, com cópia para a Secretaria Estadual de Saúde de
Goiás, instruído com os documentos abaixo (art. 2º da Portaria GM-MS
nº 245/2005):
I - projeto terapêutico dos serviços;
II - cópia das identidades profissionais dos técnicos compondo equipe mínima,
segundo as diretrizes da Portaria 336/GM-MS, de 19/02/02;
III - termo de compromisso do gestor local, assegurando o início do funcionamento
do CAPS II e do CAPSad em até 3 (três) meses após o recebimento do incentivo
financeiro de que trata esta Portaria; e
IV - proposta técnica de aplicação dos recursos.
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b) Em caso de descumprimento da obrigação acima descrita, requer que
os requeridos sejam condenados a pagar uma multa de R$ 1.000,00 (mil
reais) por cada dia em que não cumprirem a medida de urgência
deferida, que será revertida em favor do Fundo Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente de Novo Gama.
4 - DOS PEDIDOS
Diante do exposto, o Ministério Publico requer:
1) a concessão LIMINAR, "inaudita altera parte", compelindo-se os réus a
cumprir a obrigação acima alinhavada, procedendo este juízo nos termos do art.
2º da Lei nº 8.437/92;
2) que a presente ação civil pública seja recebida, autuada e processada, pois
presentes os requisitos dos artigos 282 e 283 do CPC e da Lei nº 7.347/85;
3) a citação dos réus, na pessoa de seus ilustres Representantes acima já nominados,
para, querendo, contestarem os termos da presente, sob pena de revelia;
4) a procedência dos pedidos deduzidos, após regular tramitação processual,
condenando o MUNICÍPIO DE NOVO GAMA e a SECRETARIA MUNICIPAL
DE SAÚDE nas seguintes obrigações de fazer, no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias:
a) implantar e fazer funcionar um CAPS II e um CAPSad, para
acompanhamento e tratamento de portadores de transtornos mentais
e usuários de álcool e drogas, nos termos da Portaria GM-MS nº
336/2002 ou da legislação em vigor à época do cumprimento da
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decisão a ser prolatada em favor da coletividade;
b) contratar uma equipe profissional composta por 1 médico
psiquiátrica, 1 enfermeiro com formação em saúde mental, 4
profissionais de nível superior entre as seguintes categorias
profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta
ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto
terapêutico; 6 profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de
enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão
para o CAPS II (item 4.2 da Portaria GM-MS nº 336/2002) e outra
equipe semelhante acrescida de um médico clínico geral para o
CAPSad (item 4.5 da Portaria GM-MS nº 336/2002).
5) para o caso de descumprimento da decisão proferida, seja fixada multa diária no
valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para assegurar o cumprimento da decisão final, sem
prejuízo das medidas de responsabilização penal ou político-administrativa;
6) a juntada do Procedimento Preparatório nº 07/2011 - 2ªPJNG para instruir o
presente pedido;
7) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, ou seja, depoimento
pessoal das partes, prova testemunhal, documental e pericial.
Dá-se ao presente o valor de R$ 2.000,00 (mil reais) para efeitos
meramente fiscais.
Nestes termos, pede deferimento.
Novo Gama, 17 de outubro de 2012.
VANESSA GOULART BARBOSA
Promotora de Justiça
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