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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO 10ª Promotoria de Justiça Cível de Colatina Praça Sol Poente, S/N°, Bairro Esplanada, Colatina - ES Telefone: (27) 3723-3950
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DOS FEITOS DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DE COLATINA/ES. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, pelo
Promotor de Justiça adiante assinado, vem perante Vossa Excelência, em defesa do
patrimônio público e dos princípios norteadores da Administração Pública, com
fundamento nos artigos 129, III, da Constituição Federal, e 17, caput, da Lei nº
8.429/92, no Procedimento Administrativo MPES 014.12.13.090025-4, e nas razões
de fato e de direito adiante expostas, propor a presente AÇÃO POR ATOS DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de:
LEOCIR FEHLBERG brasileiro, casado, Presidente da Câmara de Governador Lindenberg EDMAR LUIZ PIONA, brasileiro, casado, vereador EDUARDO RIBEIRO DA SILVA, brasileiro, convivente, vereador SILMARA LIMA DE SOUZA, brasileira, casada, Controladora Interna da Câmara de Governador Lindenberg/ES INOVAR – CURSOS E TREINAMENTOS EM GESTÃO PÚBLICA LTDA., pessoa jurídica de direito privado
I – DOS FATOS
Consoante as provas colhidas no Procedimento Investigativo Criminal
01/2013 (GAMPES 014.11.13.201910-8 – Operação Alpha) e no Procedimento
Administrativo MPES 014.12.13.090025-4, os RÉUS requereram e receberam
(DOC’s 07, 08, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16), cada um deles, a quantia de R$ 2275,00
(dois mil duzentos e setenta e cinco reais), relativa ao pagamento de 5 (cinco)
diárias, para supostamente custear o deslocamento e a participação em um
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“SIMPÓSIO DE ESTUDOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARTICIPATIVA”,
promovido pela empresa REQUERIDA, INOVAR CURSOS E TREINAMENTO
LTDA., na cidade de Governador Valadares, no período de cinco dias,
compreendido entre as datas de 16/04/2013 e 20/04/2013 (DOC. 06).
Ocorre que, conforme representação feita através da Ouvidoria do
Ministério Público do Estado do Espírito Santo (DOC. 03), os REQUERIDOS, em
verdade, com o auxílio da REQUERIDA INOVAR, simularam a participação no
referido curso para desviarem e apropriarem-se do dinheiro da Câmara Municipal de
Governador Lindenberg, sendo que, com exceção da REQUERIDA SILMARA – que
nem sequer pisou na cidade de Governador Valadares – os demais REQUERIDOS
estiveram nesta cidade apenas para assinarem uma lista de presença, atestando
falsamente que estavam presente em todas as aulas ministradas nos cinco dias
relativos ao período do curso.
As diligências investigativas engendradas pelo Ministério Público
revelaram a solidez e a veracidade das denúncias feitas à Ouvidoria, no sentido de
que o suposto curso na cidade de Governador Valadares não passou de uma fraude
para que os REQUERIDOS se locupletassem com o dinheiro público.
A primeira prova disso é que os próprios RÉUS confessam em seus
depoimentos que não estiveram em deslocamento e na cidade de Governador
Valadares, durante todo quinquídio compreendido entre 16/04/2013 e 20/04/2013, e
que, ao retornarem, apresentaram boletim de diária contendo informação falsa,
porquanto englobar pedido de diárias para os cinco dias de curso.
Todos afirmam que viajaram juntos para Governador Valadares, em
Minas Gerais, no veículo do REQUERIDO EDUARDO e retornaram à Governador
Lindenberg por volta das 20 horas de 19/04/2013; todavia, contradizem-se
absurdamente com relação à data de partida. A REQUERIDA SILMARA (DOC. 04)
e o REQUERIDO EDUARDO (DOC.22), por exemplo, afirmam que todos partiram
juntos de Governador Lindenberg na terça-feira, dia 16/04/2013, entretanto, ele diz
que partiram por volta das 17 horas, enquanto ela alega que partiram às 8 horas na
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aludida data. Os REQUERIDOS LEOCIR (DOC. 23) e EDMAR (DOC. 21), por outro
lado, afirmam que saíram de Governador Lindenberg na quarta-feira dia 17/04/2013,
por volta das 6 horas da manhã.
O que se extrai dessa controvérsia é que todos estão
desesperadamente tentando encobrir o desvio de dinheiro público que cometeram;
tentativa, contudo, infrutífera, pois basta ver que nos boletins de diárias que eles
apresentaram após retornarem (DOC’s 05, 12, 13 e 15), todos atestam falsamente
que retornaram à cidade de Governador Lindenberg às 22 horas do dia 20/04/2013.
Isso é o suficiente para comprovar o desvio intencional de verbas públicas.
Ademais, não há como negar o desvio, pois foi requerida a quebra de
sigilo de dados telefônicos dos acusados e a análise das Estações de Rádio Base
(ERB) utilizadas nas ligações de telefonia móvel (doc.25), realizadas e recebidas
pelos RÉUS, evidencia que eles viajaram para o suposto curso na data de
17/04/0213, sendo que, por volta das 13:00 horas da referida data, ainda estavam
nas imediações de Colatina, tendo chegado em Governador Valadares por volta das
16 horas. Outrossim, tal análise demonstra que no dia 18/04/2013, por volta das
13h:20min eles já estavam retornando e passando pela ERB 353138952, localizada
em Aimorés, na divisa do Espírito Santo.
A título de exemplo, calha transcrever a conclusão da perícia sobre o
percurso realizado pela pessoa que se utilizava do telefone (27) 9755-9353, qual
seja o REQUERIDO LEOCIR, no sentido de que “o telefone alvo e seu usuário
estiveram no município mineiro de Governador Valadares entre 17/04/2013, a
partir de 16:20 horas e 18/04/2013 até por volta de 11:00 horas”. Este elemento
probatório temporal comprova inequivocamente que os denunciados estiveram em
Governador Valadares, para qualquer outra coisa, menos para frequentar um curso
de 5 (cinco) dias.
O mais estarrecedor é que na ilusão de que encobririam suas condutas
criminosas os REQUERIDOS LEOCIR, EDMAR e EDUARDO, vereadores de
Governador Lindenberg, no curtíssimo espaço de tempo em que estiveram na
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cidade de Governador Valadares, assinaram as listas de presença de todos os cinco
dias do curso (DOC. 18).
A Controladora da Câmara de Governador Lindenberg, a REQUERIDA
SILMARA, por sua vez, consta na lista de presença tão somente dos dias 16 e
17/04/2013, mas cotejando a assinatura lançada no termo de depoimento prestado
por ela (DOC. 04) com a assinatura e a rubrica lançada na referida lista, salta aos
olhos que estas são falsificações grosseiras, o que, por si só, demonstra que ela não
esteve nem sequer um dia no referido curso.
Em suma, o esquema fraudulento se resumia ao seguinte: após inserir
dados falsos em documentos públicos (requerimentos e boletins de diárias, listas
de presenças em cursos, etc.), os REQUERIDOS submetiam tais documentos ao
REQUERIDO LEOCIR, Presidente da Câmara de Governador Lindenberg, e este
autorizava o desvio em proveito de seu patrimônio e de seus comparsas do
valor das diárias, que deveriam unicamente ser pagas para custear viagens em
interesse do serviço público, na forma da Resolução 012/2006 do Poder Legislativo
de Governador Lindenberg, sob pena de responsabilização administrativa e penal,
nos termos do art. 10 do mencionado diploma legal.
Por fim, não obstante o Ministério Público não ter logrado êxito em
alcançar, individualizar e qualificar quais as pessoas físicas ligadas empresa
INOVAR tiveram efetiva participação nas fraudes combatidas através da presente
ação, é inegável que a aludida pessoa jurídica teve participação direta nos ilícitos
noticiados, pois emitiu certificado de conclusão de curso falso, portanto, deve
responder por improbidade administrativa e ser solidária no ressarcimento dos danos
causados ao erário.
II – DO DIREITO
De tudo o que foi narrado, salta aos olhos a materialidade de crimes
contra a administração pública e, por conseqüência, de de atos de improbidade,
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uma vez que os REQUERIDOS, agiram em conluio, a fim de saquear os cofres do
município de Governador Lindenberg.
O artigo 37, caput, da Constituição Federal estabelece:
“A administração pública direta, indireta ou fundacional,
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e, também, ao seguinte:”
O parágrafo 4º do art. 37 da Constituição Federal preceitua:
“Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.”
O art. 1º, “caput”, da Lei nº 8.429/92 define como atos de improbidade,
puníveis conforme as suas disposições, dentre outros, os praticados por:
“qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios, de Território”.
O art. 2º do mesmo diploma legal, por sua vez, determina:
“Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei,
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.”
Outrossim, não se pode olvidar que, da leitura da norma do art. 3º, da
Lei 8429/92, adiante transcrito, extrai-se que a pessoa jurídica pode deve responder
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por improbidade administrativa, na qualidade de terceiro que indiretamente auxiliou e
beneficiou-se dos atos ímprobos praticados por agentes públicos e político,
entendimento inclusive já sufragado pelo Superior Tribunal de Justiça que em
importante precedente, firmou entendimento no sentido de que “as pessoas jurídicas
que participem ou se beneficiem dos atos de improbidade sujeitam-se à Lei
8429/1992.”1
“Art. 3º As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de improbidade
ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.”
Pois bem, realizada essa breves digressões sobre o sujeito ativo do ato
de improbidade administrativa, vale frisar que os fatos narrados e comprovados
durante as investigações efetuadas no Procedimento Investigativo Criminal e no
Procedimento Preparatório que ampara a presente ação deixam claro que os
REQUERIDOS agiram com o intuito de enriquecerem-se ilicitamente, causando
prejuízos aos cofres públicos.
Por isso, eles violaram princípios basilares da administração pública,
quais sejam, os princípios da legalidade, da impessoalidade, da eficiência, da
imparcialidade e da moralidade.
Em outras palavras, incorreram em atos de improbidade tipificados no
art. 9º caput, e incisos XI e XII, no art. 10, caput, e incisos I, II, IX, X, XI, XII, art. 11,
caput, e inciso I da lei 8429/92, adiante transcritos:
“Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo
de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de
cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e
notadamente:
[...]
1 STJ, RESP 1.122.177/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda turma, DJE 27/04/2011.
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XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta
lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1° desta lei.”
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e
notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física
ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
[...]
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro
se enriqueça ilicitamente;”
“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que
atenta contra os princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência;
III – DOS PEDIDOS LIMINARES
Ficou comprovado que o Município de Governador Lindenberg, em
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específico a Câmara Municipal, sofreu prejuízos em face dos atos fraudulentos
praticados pelos REQUERIDO, prejuízos os quais, alcançam um montante de R$
9100,00 (nove mil e cem reais).
Todavia, há elementos probatórios de fraude no pagamento de diárias
em vários outros congressos. Tais elementos baseiam-se no fato de que o
REQUERIDO LEOCIR, Presidente da Câmara de Governador Lindenberg, já é alvo
de outra investigação pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, sendo
que, no Procedimento Administrativo MPES 014.12.12.102089-7, constatou-se que
entre 2009 e março de 2012, foi efetuado o pagamento de R$ 474.523,00
(quatrocentos e setenta e quatro mil, quinhentos e vinte e três reais) em diárias aos
Vereadores de Governador Lindenberg, para participação em cursos promovidos por
empresas alvo de denúncias em diversas cidades do país, conforme análise técnica
contábil da Assessoria de Controle Interno do Minisitério Público (DOC. 23).
Outrossim, o Ministério Público de Contas, também está na guerra
contra a sangria do Erário Público que vem sendo promovida indiscriminadamente
pelos Vereadores de Governador Lindenberg através do pagamento de diárias com
ofensa aos princípios da razoabilidade e moralidade.
Segundo representação do Procurador de Contas (DOC. 17), no ano
de 2010, o gasto com as diárias pagas ao Vereador LEOCIR FLHBERG foi tão
exorbitante que quase equivaleu ao pagamento da remuneração, sendo que as
verbas indenizatórias recebidas por ele equivaleram à 84,54% de seu salário.
Na aludida representação também consta que os supostos cursos
foram promovidos por um Instituto envolvido em diversas fraudes na realização de
cursos oferecidos aos gestores municipais do Brasil, qual seja o Instituto Nacional
Municipalista. E mais, imputa-se na referida representação, à LEOCIR FELHBERG,
a suposta prática de crime de falsificação de documento público para tentar dar ares
de legalidade às condutas criminosas e ímprobas que vem sendo praticada por
alguns dos integrantes da Câmara Municipal de Governador Lindenberg a fim de
locupletarem-se com o dinheiro público.
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Além disso, a população de Governador Lindenberg já não suporta ser
alvo da chicana que vem sendo promovida com o dinheiro público na Câmara de
Vereadores, como se depreende do abaixo-assinado apresentado à esta Promotoria
de Justiça (DOC. 19).
Vale ainda registrar que o abuso no pagamento de diárias vem sendo
até noticiado em veículos de informação (DOC. 20), pois o como se infere do
exemplar do Diário do Noroeste, publicado em 17 de Setembro de 2013, mesmo
após a instauração das presentes investigações, o Presidente da Casa de Leis do
mencionado município, o REQUERIDO LEOCIR, continuou autorizando diárias
exorbitantes, tanto que em julho do corrente ano foi gasto R$ 12.000,00 (doze mil
reais) em diárias.
Isso é suficiente para evidenciar uma necessidade imperiosa de uma
atuação enérgica do Poder Judiciário para estancar a sangria dos cofres públicos,
sob pena de descrédito nos Órgãos encarregados de aplicar o Direito.
Essas circunstâncias demonstram que o esquema de desvio de
dinheiro público através do pagamento fraudulento de diárias a vereadores de
Governador Lindenberg há muito está se perpetrando, existindo por parte dos
autores desses desmandos uma completa noção de impunidade, sendo, portanto,
imprescindível para garantir a ordem pública o afastamento dos REQUERIDOS dos
cargos e funções públicas que exercem.
Em virtude desses sucessivos gastos ilegais, também resta claro que
os REQUERIDOS utilizar-se-ão de todos os artifícios para continuar mantendo e
tentando acobertar os desvios de dinheiro público.
Posta assim a questão, é de se dizer: salta aos olhos a existência de
da plausibilidade do direito alegado e do perigo na demora.
Em casos como este, demonstrados os atos passíveis de subsunção
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nas iras da Lei nº 8.429/92, com violação aos princípios constitucionais previstos
para a Administração Pública (art. 37, CF/88), bem como, de igual norte, trazendo
enriquecimento indevido para particulares e danos ao erário, fundamental a
concessão de liminar objetivando o resguardo do patrimônio público em face da
grave lesão que vem sendo ocasionada pelos atos ímprobos.
III.1) Do afastamento provisório dos REQUERIDOS
É imperioso frisar que a permanência dos REQUERIDOS nos
respectivos cargos que ocupam e mandatos que exercem representa perigo para a
moralidade administrativa e um prenúncio de que continuarão a ser violados os
princípios constitucionais que regem a Administração Pública.
Deve ser realçado que a censurável conduta destes demandados é
renovada a cada dia, protraindo-se no tempo de forma indefinida, gerando constante
malversação dos recursos públicos e lesão aos sempre mencionados Princípios
Administrativos.
Isso porque, aos olhos da sociedade e da Constituição Federal que
garante não apenas os direitos do indivíduo, mas também da sociedade frente aos
administradores ímprobos, é intolerável a permanência deles nos cargos que
ocupam, pois suas condutas conduta ferem, frontal e profundamente a moralidade
administrativa, sendo motivo de revolta dos cidadãos de Governador Lindenberg a
prática às escancaras das condutas ilícitas narradas, mormente, quando eles são
alvo de ação penal já proposta nesta mesma data (doc. 28).
Em caso análogo ao objeto desta demanda, em votação pelo
afastamento do presidente do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia, na APN
nº 266-RO (2003⁄0169397-8), julgamento realizado no Superior Tribunal de Justiça
em data de 1º de junho de 2005, o Ministro Luiz Fux, ao acompanhar a relatora,
Ministra Eliana Calmon, assim fundamentou o seu voto:
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“(...) hoje é assente que a aplicação do Direito é
principiológica, não só se baseia na legislação
infraconstitucional como também nos princípios maiores da
Constituição Federal, que são normas qualificadas e estão
em patamar superior à própria legislação
infraconstitucional, e o princípio mais significativo no
tocante à administração pública é o princípio da
moralidade. Então, estaria mais do que justificada a
adoção do afastamento tendo em vista à contradição que
encerra o cargo que o agente ocupa e o recebimento de
denúncia por um delito tão grave. Mas, sem prejuízo, há
também um paradigma que pode ser interpretado e
flexibilizado, que é o art. 20 da Lei de Improbidade,
porque, no fundo, há uma essência de ato imoral, ímprobo,
nesse fato narrado pela Sra. Ministra Eliana Calmon. O
art. 20 dispõe que a autoridade judicial pode impor o
afastamento do agente público quando entender que é
nociva sua presença à instrução. Ora, se pode afastar
porque é nociva à instrução, com muito mais razão pode
afastar quando também é contraditória a permanência desse
funcionário em uma função de fiscalização de contas
quando há uma denúncia recebida exatamente pela
malversação de verbas públicas. Estou inteiramente de
acordo com o voto da Sra. Ministra Eliana Calmon.
Pelo voto vencedor do ministro, pois, fica patente que o Superior
Tribunal de Justiça admite o afastamento de agente político do cargo que ocupa
quando “se estabelece uma contradição entre a permanência do agente público
no cargo que ocupa e a função de fiscalização das contas públicas”. Mudando-
se o que se deve mudar, é uma contradição a permanência do agente político no
cargo que ocupa e função de zelar pelo patrimônio público municipal.
Mas de outra parte, vale considerar que estando eles no exercício de
cargo de tamanho poder e influência, poderão, sem dúvida alguma, atrapalhar a
instrução processual, seja evitando ou ao menos dificultando o acesso a
informações importantes existentes no âmbito da Câmara Municipal de Governador
Lindenberg, ou até mesmo intimidando as possíveis testemunhas que serão
ouvidas.
Em palavras diretas: a permanência dos Requeridos no exercício dos
mandatos de Vereadores lhes permitirá a prática de atos destinados ao
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desaparecimento de provas, à coação de testemunhas e, ainda, ao tráfico de
influência destinado a impedir que haja bom termo no andamento deste processo.
Presentes, portanto, os requisitos para a concessão da medida cautelar
pleiteada, para garantir escorreita instrução processual e para o resguardo do
interesse público e da probidade administrativa, bens jurídicos elevadamente mais
importantes do que os interesses particulares dos envolvidos em permanecer no
exercício do mandato de vereador, Presidente da Câmara municipal e no cargo de
Controladora.
O pretendido afastamento liminar constitui medida perfeitamente
admitida na própria Lei de Improbidade Administrativa, senão vejamos o parágrafo
único do art. 20 da Lei nº 8.429/92:
“Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa
competente poderá determinar o afastamento do agente
público do exercício do cargo, emprego ou função, sem
prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer
necessária à instrução processual.”
No mesmo sentido a Doutrina:
“Não se mostra imprescindível que o agente público tenha,
concretamente, ameaçado testemunhas ou alterado
documentos, mas basta que, pela quantidade de fatos, pela
complexidade da demanda, pela notória necessidade de
dilação probante, se faça necessário, em tese, o
afastamento compulsório e liminar do agente público do
exercício de seu cargo, sem prejuízo de seus vencimentos,
enquanto persistir a importância da coleta de elementos
informativos ao processo.”2
Por essas razões, o Ministério Público requer, com fundamento no
parágrafo único do artigo 20 da Lei nº 8.429/92, buscando cessar o enriquecimento
ilícito auferido dia-a-dia em detrimento de princípios basilares do funcionamento
administrativo, seja decretado o afastamento cautelar, inaudita altera parte, dos
REQUERIDOS EDUARDO, EDMAR, LEOCIR e SILMARA, respectivamente dos
2 (Osório, Fábio Medina. Improbidade Administrativa. Porto Alegre : Editora Síntese, p. 242)
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mandatos de vereador e de Presidente da Câmara, e do cargo de Controladora
da Câmara de Governador Lindenberg.
III.2) Da proibição da EMPRESA INOVAR, ora Requerida, de contratar com os
Poderes Públicos no âmbito dos municípios de Colatina e Governador Lindenberg.
Por tudo o que fora exposto, inegável que a Empresa REQUERIDA não
tem idoneidade para firmar contratos de prestação de serviços à órgãos e poderes
públicos, pois seus cursos não passam de uma farsa para permitir o desvio de
dinheiro público.
Dessarte, visando resguardar-se os patrimônios dos municípios
abrangidos pela Comarca de Colatina, requer-se, a concessão de liminar
antecipatória de tutela para proibir a empresa INOVAR – Cursos e Treinamentos
Ltda. de contratar com os Poderes Públicos no âmbito dos municípios de
Colatina e de Governado2r Lindenberg.
III.3) Indisponibilidade de bens dos Réus:
Visando a restabelecer a moralidade administrativa e garantir o
ressarcimento dos prejuízos causados ao patrimônio público, bem como para
assegurar o pagamento das multas eventualmente cominadas ao final como sanção
pela prática de atos de improbidade administrativa, impõe-se a decretação da
indisponibilidade dos bens dos réus, o que se pleiteia com fulcro no artigo 7º,
parágrafo único, da Lei nº 8.429/92 e, também, no poder geral de cautela.
Ainda que assim não fosse, o Código de Processo Civil contempla a
determinação judicial de medidas cautelares inominadas, permitindo-se, pois, que se
confira atuação concreta à previsão constitucional de indisponibilidade dos bens.
Por outro lado, o artigo 942 do Código Civil dispõe que os bens do
responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação
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do dano causado e, se tiver mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação, acrescentando, no seu parágrafo único, a
responsabilidade solidária dos co-autores.
Seguindo este raciocínio, é medida que se impõe a indisponibilidade de
bens, frente aos indicativos seguros, lastreados em prova documental carreada, de
prática de improbidade administrativa, mesmo porque, segundo WALLACE PAIVA
MARTINS JÚNIOR “a lei presume esses requisitos a autorizar a
indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia da
execução da sentença, tendo como requisitos específicos evidências de
enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado
receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos
do ato hostilizado. Exsurge, assim, indisponibilidade como medida de
segurança obrigatória nessas hipóteses”3. O perigo de demora, nesta senda, é
extraído da própria gravidade dos fatos aqui descritos.
A doutrina e o conjunto da legislação citada, que se ajusta com
perfeição ao caso, torna indeclinável o dever de ressarcir o dano gerado pela
improbidade administrativa, ensejando a presença do fumus boni iuris, robustamente
demonstrado, restou também o periculum in mora, tendo em vista a fluidez dos
recursos versados, e ainda, o entendimento pretoriano acerca de sua presunção.
Eis:
“...2. O requisito cautelar do periculum in mora está
implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de
bloqueio de bens, uma vez que visa a 'assegurar o
integral ressarcimento do dano'.
3. A demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do
enriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus
boni iuris.
4. É admissível a concessão de liminar inaudita altera
pars para a decretação de indisponibilidade e seqüestro
de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela
jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário.
Precedentes do STJ. “(1135548 PR 2009/0069870-0, Relator:
Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento: 15/06/2010,
T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/06/2010)”
3 Probidade Administrativa, 2001, Ed. Saraiva, página 325/330.
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Essa medida mostra-se indispensável, considerando o significativo
valor do prejuízo que continua se protraindo no tempo, havendo, portanto, a real
possibilidade de dilapidação do patrimônio e a conseqüente ineficácia do provimento
jurisdicional principal.
Consigne-se, ainda, que o direito material acha-se suficientemente
demonstrado nos documentos que instruem esta inicial, o mesmo ocorrendo com a
possibilidade do perigo que poderá representar a demora da prestação jurisdicional
final, conforme já ressaltado.
Fica, assim, claramente evidenciada a necessidade de amparo judicial
urgente para afastar de pronto os riscos de perecimento dos bens que representam
a garantia de eficácia da sentença de mérito postulada nesta ação.
Nesta linha de pensamento, REQUER-SE, desde já, sem a oitiva da
parte contrária, decrete-se a indisponibilidade de bens dos promovidos até o
montante dos valores que lhes foram pago indevidamente (R$ 9100,00 – nove mil e
cem reais), sejam imóveis, máquinas, veículos, valores em dinheiro e ações,
oficiando-se, para tanto:
a) aos Cartórios de Registro de Imóveis desta Comarca e à Corregedoria do Tribunal
de Justiça, a fim de comunicar a medida judicial e impedir a transferência dos
imóveis pertencentes aos Requeridos;
b) às agências bancárias de todo o Estado do Espírito Santo, igualmente, ao Banco
Central do Brasil S.A., na Capital Federal, ou, de forma mais rápida, através da
internet, por site do BACEN, já especificado para tanto, com intuito de comunicação
às demais instituições financeiras, imobilizando os créditos pecuniários existentes,
sejam em contas-correntes, aplicações financeiras, poupança, assegurando-se a
plena composição dos prejuízos até o limite do ressarcimento ao erário municipal
pleiteado;
c) ao Detran/ES e CIRETRAN’S do Estado do Espírito Santo, no que pertine a
veículos registrados em nome dos REQUERIDOS.
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IV – DOS PEDIDOS PRINCIPAIS.
Pelo exposto, além do deferimento dos pedidos liminares nos
moldes anteriormente alinhavados, o Ministério Público, pelo Promotor de Justiça
adiante assinado, REQUER:
a) seja a presente autuada e processada na forma e no rito preconizado no art.
17 da Lei nº 8.429/92;
b) seja dispensado o pagamento de custas, emolumentos e outros encargos,
desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85, aplicado
subsidiariamente;
c) sejam as intimações do autor feitas pessoalmente, dado o disposto no artigo
236, § 2º, do CPC e no artigo 14 do Provimento nº 14/99, de 08/03/99, da
Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Espírito Santo, com a redação
que lhe foi dada pelo Provimento nº 15/99, de 14/04/99;
d) seja o MUNICÍPIO DE GOVERNADOR LINDENBERG notificado, para,
querendo, integrar a lide na qualidade de litisconsorte, podendo apresentar ou
indicar os meios de prova de que disponha (artigo 17, § 3º, da Lei nº
8.429/92);
e) seja determinada a notificação dos requeridos para, querendo, oferecer
manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e
justificações, dentro do prazo de quinze dias, na forma prevista no § 7º do
artigo 17 da LIA;
f) seja recebida a petição inicial, determinando-se a citação dos requeridos, já
qualificados na exordial, para, querendo, contestar o presente pedido, no
prazo de quinze dias, sob pena de confissão e revelia, permitindo-se ao
Oficial de Justiça utilizar-se da exceção prevista no art. 172, § 2º, do Código
de Processo Civil;
g) seja, ao final, julgada procedente a presente Ação Civil Pública, (g.1)
condenando-se os requeridos nas sanções civis alistadas no art. 12, incisos I,
II e III, pela prática dos atos de improbidade descritos no artigos 9º, 10 e 11,
da Lei nº 8.429/92;
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h) após o trânsito em julgado da sentença, seja expedido ofício ao Tribunal
Regional Eleitoral e ao Tribunal Superior Eleitoral, para o fim previsto no
artigo 20 da Lei nº 8.429/92.
Por derradeiro, protesta também pela produção de prova oral, através
do depoimento pessoal dos requeridos e oitiva de testemunhas.
Dá à causa o valor de R$ 9100,00 (nove mil e cem reais).
Colatina/ES, 30 de outubro de 2013.