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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) RELATOR(A): Recurso Eleitoral n. 308-83.2012.6.20.0023 – Classe 30. Procedência: Jardim do Seridó-RN (23ª Zona Eleitoral – Jardim do Seridó-RN). Recorrente: Iron Lucas de Oliveira Júnior (Advogado Dr. Rodrigo Fonseca Alves de Andrade, Dr. Gleydson Kleber Lopes de Oliveira e Dr. Arthur Paiva Alexandre). Recorrido: Ministério Público Eleitoral. Relator: Juiz Artur Cortez Bonifácio. PARECER EMENTA: RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. AIJE. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. PRELIMINARES. REJEIÇÃO. MÉRITO. CONJUNTO PROBATÓRIO HARMÔNICO EM APONTAR A PRÁTICA ILÍCITA. CONHECIMENTO E IMPROVIMENTO DO RECURSO. Preliminares. Recurso Eleitoral n. 308-83.2012.6.20.0023. 1/61

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) RELATOR(A):

Recurso Eleitoral n. 308-83.2012.6.20.0023 – Classe 30.

Procedência: Jardim do Seridó-RN (23ª Zona Eleitoral – Jardim do Seridó-RN).

Recorrente: Iron Lucas de Oliveira Júnior (Advogado Dr. Rodrigo Fonseca

Alves de Andrade, Dr. Gleydson Kleber Lopes de Oliveira e Dr. Arthur Paiva

Alexandre).

Recorrido: Ministério Público Eleitoral.

Relator: Juiz Artur Cortez Bonifácio.

PARECER

EMENTA: RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. AIJE. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. PRELIMINARES. REJEIÇÃO. MÉRITO. CONJUNTO PROBATÓRIO HARMÔNICO EM APONTAR A PRÁTICA ILÍCITA. CONHECIMENTO E IMPROVIMENTO DO RECURSO.Preliminares.

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1. Não há qualquer vício em ordem de busca e apreensão expedida com base em delação supostamente anônima quando tal delação foi seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela noticiados, tendo o pedido e a decisão referentes à busca e apreensão sido feitos com base não só nas declarações supostamente anônimas mas também em depoimento pessoal de um dos principais participantes nos fatos.2. Além disso, não é delação anônima aquela em que o noticiante dos fatos pretensamente ilícitos se identifica perante as autoridades, apenas pedindo que seus dados não sejam levados ao processo, por temer por sua segurança. Tem-se, aí, a chamada delação sigilosa, medida inteiramente legal e que não se confunde com a delação anônima, havendo previsão legislativa expressa a seu respeito, conforme se verifica no inciso IV do art. 7º da Lei 9.807/1999 (Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas), o qual preconiza ser possível a adoção de medidas tais como a “preservação da identidade, imagem e dados pessoais” da vítima ou da testemunha, em ordem a preservar sua vida ou segurança.3. A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, mesmo com o desconhecimento do outro, quando não há uma causa legal de sigilo ou de reserva da conversa, é prova legal, legítima e válida, não se podendo falar em violação da intimidade de quem quer que seja, devendo sempre ser normalmente aceita e valorada pelo julgador, ainda mais quando ela evidencia a prática de ilícito eleitoral. Precedentes do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte.

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4. Se a prova oral está gravada em meio audiovisual em mídia que disponibilizada à parte adversa, não há necessidade de degravação. Para garantir o contraditório e a ampla defesa é bem mais recomendável que a parte tenha acesso à mídia, que contém em toda sua inteireza os arquivos de áudio e/ou vídeo, do que simplesmente uma degravação, que, pela sua própria natureza meramente escrita, não retrata o conteúdo dos arquivos com a mesma fidelidade e completude. Quando, em um processo, se juntam arquivos gravados em mídia, normalmente se está a cuidar de arquivos de áudio, de vídeo ou de áudio e vídeo. Ora, a visualização das imagens e a audição do som em sua inteireza representa um acesso à prova muito mais robusto e profundo do que a simples leitura de um texto com uma degravação. Na mera degravação não se tem entonação, não se vê titubeios, tergiversações, gaguejos, particularidades que só o contato com o próprio áudio podem demonstrar com fidelidade. Tampouco se pode visualizar o contexto em que as palavras foram proferidas, circunstância que só se percebe vendo as imagens ou o vídeo. Isso demonstra que, quando se põe à disposição da parte a própria mídia, é prescindível e até de certo modo inútil qualquer degravação, porque se está fornecendo material mais qualificado e melhor aos fins a que se destina, que é servir de prova. A parte tem muito mais e melhores condições de se defender tendo acesso à mídia como um todo do que quando recebe apenas uma degravação. A preferência pelos meios audiovisuais e a desnecessidade de degravação já são, inclusive, previstas pelo art. 405, § 1º, do Código de Processo Penal e pelo art. 2º, caput, da Resolução 105/2010 do Conselho Nacional de Justiça. Seria excessivamente formalista a

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decisão judicial que, preocupando-se em demasia com questões puramente formais e descurando-se do verdadeiro interesse público subjacente ao processo, consistente em apurar a ocorrência ou não de compra de votos, não leva adiante o processo por ausência de degravação.Mérito.5. Prova testemunhal e documental, inclusive com gravações audiovisuais, que comprovam a prática de captação ilícita de sufrágio.6. Parecer pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

1. RELATÓRIO.

Trata-se, na origem, de ação de investigação judicial eleitoral promovida

pelo Ministério Público Eleitoral da 23ª Zona Eleitoral, por meio da Promotora

Eleitoral Liv Ferreira Augusto Severo Queiroz, em face de Iron Lucas de

Oliveira Júnior, candidato eleito, nas Eleições 2012, ao cargo de Vereador no

Município de Jardim do Seridó-RN. De acordo com a petição inicial, o réu, ora

recorrente, praticou captação ilícita de sufrágio, porquanto, às vésperas do pleito

eleitoral de 2012, por intermédio de protético Naquib Oliveira Libânio,

distribuiu próteses dentárias a vários eleitores do Município de Jardim do

Seridó-RN, com o manifesto propósito de angariar votos em seu favor (folhas 02

a 34).

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Depois de regular instrução processual, a Juíza Eleitoral Janaína Lobo da

Silva Maia julgou integralmente procedente o pedido contido na inicial,

condenando Iron Lucas de Oliveira Júnior pela prática de captação ilícita de

sufrágio, prevista no art. 41-A da Lei 9.504/1997, cassando, em consequência, o

seu diploma, bem como aplicando-lhe multa no valor de cinco mil UFIRs.

O recorrente alegou o seguinte (folhas 419 a 457):

a) preliminarmente, a nulidade do processo, em razão da ausência de

degravação integral dos diálogos que embasaram a petição inicial;

b) ainda como preliminar, a ilicitude da prova obtida com a busca e

apreensão, uma vez que originada de delação anônima;

c) de novo preliminarmente, a ilicitude das gravações constantes no

computador do protético Naquib Oliveira Libânio, já que tais gravações se

deram de forma unilateral e clandestina, sem conhecimento dos pacientes

filmados;

d) no mérito, não haver nos autos provas da prática ilícita pela qual foi

condenado.

O Ministério Público Eleitoral, por meio do Promotor Eleitoral Gláucio

Pinto Garcia, apresentou contrarrazões(folhas 459 a 471).

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Em seguida, os autos foram enviados à Procuradoria Regional Eleitoral

para sua manifestação, nos termos do art. 72 da Lei Complementar 75/1993, dos

arts. 29 a 31 do Regimento Interno do Tribunal Regional Eleitoral do Rio

Grande do Norte, do art. 10, caput, da Lei Complementar 64/1990 e do art. 58,

caput, da Resolução 23.373/2011 do TSE.

2. FUNDAMENTAÇÃO.

2.1. Preliminar de nulidade da busca e apreensão realizada no

consultório do protético Naquib Oliveira Libânio.

O recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior arguiu preliminar de nulidade

da busca e apreensão determinada pelo juízo da 23ª Zona Eleitoral, realizada no

consultório do protético Naquib Oliveira Libânio, em razão de ela haver tido

como único fundamento para seu deferimento uma delação anônima apresentada

perante a Promotoria Eleitoral da 23ª Zona Eleitoral, razão pela qual deveria ser

reconhecida a nulidade daquela decisão judicial, bem como das provas que

vieram aos autos depois do cumprimento do mandado de busca e apreensão.

A preliminar não tem qualquer cabimento. Isto porque, ao contrário do

que afirmado pelo recorrente, o requerimento de busca e apreensão, bem como a

respectiva decisão judicial que o deferiu, não tiveram por base apenas uma

delação pretensamente anônima, mas sim também um outro elemento de prova

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produzido posteriormente às declarações supostamente anônimas, elemento de

prova este que as corroborou inteiramente.

No dia 12 de novembro de 2012, compareceu perante a representante do

Ministério Público Eleitoral da 23ª Zona Eleitoral uma pessoa que preferiu não

se identificar expressamente “em razão de temer por sua vida”. Tal pessoa

prestou declarações noticiando que, nas Eleições 2012, o então candidato a

Vereador do Município de Jardim do Seridó-RN, o ora recorrente Iron Lucas de

Oliveira Júnior, contratou os serviços do protético Naquib Oliveira Libânio para

que ele de produzisse e distribuísse próteses dentárias aos eleitores em troca de

votos em favor daquele candidato e que o protético Naquib Oliveira Libânio

teria realizado várias gravações nas quais se comprovaria a prática noticiada

(folha 36).

Considerando a gravidade dos fatos noticiados, a Promotora Eleitoral, no

dia seguinte, ou seja, no dia 13 de novembro de 2012, antes mesmo da

realização do pedido de busca e apreensão, procedeu à oitiva do protético

Naquib Oliveira Libânio. Em seu depoimento, ele reconheceu que realmente

tinha sido contratado pelo então candidato e agora recorrente Iron Lucas de

Oliveira Júnior para produzir próteses dentárias em benefício de eleitores

indicados por aquele candidato, tudo em troca de votos (folhas 37 a 39).

O pedido de busca e apreensão apresentado pelo Ministério Público

Eleitoral e a decisão do juízo da 23ª Zona Eleitoral estão, respectivamente, nas

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folhas 43 a 46 e nas folhas 49 e 50. Neles se verifica que nem o pedido nem a

decisão que o deferiu teve por base somente a delação supostamente anônima.

Somente depois que essa delação supostamente anônima foi confirmada por um

depoimento pessoal de um protagonista extremamente relevante nos fatos (o

protético Naquib Oliveira Libânio) foi que a busca e apreensão foi pedida e

deferida. Ou seja: o pedido de busca e apreensão e a decisão que o acolheu se

fundamentaram nas declarações supostamente anônimas e também no

depoimento pessoal do protético Naquib Oliveira Libânio, um dos principais

participantes nos fatos. O Estado, via Ministério Público ou Poder Judiciário,

não agiu somente com base em uma delação supostamente anônima. Existiu o

cuidado de previamente verificar sua procedência com uma pessoa decisiva na

prática ilícita noticiada.

Constata-se, portanto, que, depois de recebida a delação supostamente

anônima e antes do pedido de busca e apreensão, foram empreendidas

diligências preliminares para averiguar se os fatos narrados na comunicação que

havia sido feita eram materialmente verdadeiros. Exatamente como a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal estabelece. Confira-se (destaques

acrescidos):

DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. NULIDADE DO PROCESSO. PROVA ILÍCITA. NULIDADE DA FIXAÇÃO DA PENA. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA. DENEGAÇÃO.

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1. Três são as questões de direito tratadas neste writ, consoante as teses expostas pelos impetrantes na petição inicial: a) invalidade do processo em razão das provas ilícitas (buscas domiciliares ilegais); b) nulidade da fixação da pena-base pelo crime de porte ilegal de armas em 3 (três) anos de reclusão; c) indispensabilidade da fixação do regime aberto para início de cumprimento da pena pelo crime de porte ilegal de armas.2. A representação de busca domiciliar se baseou em fundadas razões que autorizavam a apreensão de armas e munições, instrumentos utilizados para a prática de crime ou destinados a fim delituoso, a apreensão de documentos considerados elementos de convicção (CPP, art. 240, § 1°, d e h).3. Não houve medida de busca e apreensão provocada tão somente por denúncia anônima, diversamente do que sustentam os impetrantes, mas baseada em elementos de convicção colhidos durante inquérito policial instaurado pela autoridade policial.4. Legitimidade, legalidade e regularidade das buscas domiciliares levadas a efeito no caso, baseadas em elementos de convicção suficientes a ensejar a aplicação do art. 240, do Código de Processo Penal.(…)10. Habeas corpus denegado. (HC 91350/SP, 2ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, unânime, j. em 17/6/2008, pub. DJE 29/8/2008)

EMENTA Habeas corpus. Constitucional e processual penal. Possibilidade de denúncia anônima, desde que acompanhada de demais elementos colhidos a partir dela. Instauração de inquérito. Quebra de sigilo

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telefônico. Trancamento do inquérito. Denúncia recebida. Inexistência de constrangimento ilegal.1. O precedente referido pelo impetrante na inicial (HC nº 84.827/TO, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJ de 23/11/07), de fato, assentou o entendimento de que é vedada a persecução penal iniciada com base, exclusivamente, em denúncia anônima. Firmou-se a orientação de que a autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima, deve antes realizar diligências preliminares para averiguar se os fatos narrados nessa “denúncia” são materialmente verdadeiros, para, só então, iniciar as investigações.2. No caso concreto, ainda sem instaurar inquérito policial, policiais federais diligenciaram no sentido de apurar as identidades dos investigados e a veracidade das respectivas ocupações funcionais, tendo eles confirmado tratar-se de oficiais de justiça lotados naquela comarca, cujos nomes eram os mesmos fornecidos pelos "denunciantes". Portanto, os procedimentos tomados pelos policiais federais estão em perfeita consonância com o entendimento firmado no precedente supracitado, no que tange à realização de diligências preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e, então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito.3. Habeas corpus denegado. (HC 95244/PE, 1ª T., Rel. Min. Dias Toffoli, unânime, j. em 23//3/2010, pub. DJE 30/4/2010)

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DECORRENTE DA EVENTUAL INCOMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE

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JUSTIÇA. DESEMBARGADOR APOSENTADO. PRERROGATIVA DE FORO DOS CORRÉUS. CONEXÃO. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. HABEAS CORPUS. LIMITES. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO PRESERVADA. REINTEGRAÇÃO DO PACIENTE AOS QUADROS DO PODER JUDICIÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA.1 . Não se comprova a presença de constrangimento ilegal a ferir direito do Paciente nem ilegalidade ou abuso de poder a ensejar a concessão da presente ordem de habeas corpus.2. É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que “nada impede a deflagração da persecução penal pela chamada 'denúncia anônima', desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela noticiados”. Precedentes.(…)8. Ordem denegada. (HC 105484/MT, 2ª T., Rel. Min. Cármen Lúcia, unânime, j. em 12/3/2013, pub. DJE 16/4/2013)

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte também já

reconheceu validade às comunicações anônimas de ilícitos. Veja-se (destaques

acrescidos):

RECURSO ELEITORAL - PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA - PRÉ-CANDIDATAS AO CARGO DE VEREADOR - PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE - REJEIÇÃO - REPRESENTAÇÃO AJUIZADA COM BASE EM DENÚNCIA ANÔNIMA -

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POSSIBILIDADE - DISTRIBUIÇÃO DE CAMISETAS CONTENDO OS NOMES DAS PRÉ-CANDIDATAS - PROPAGANDA ANTECIPADA - NÃO CONFIGURAÇÃO - IMPROVIMENTO DO RECURSO.Rejeita-se a preliminar de intempestividade levantada pelas recorridas, uma vez que as representações por suposta propaganda eleitoral extemporânea poderão ser ajuizadas até a data do pleito, conforme a jurisprudência do TSE. Uma vez observada discrição e cautela na apuração da verossimilhança das informações recebidas, é possível o ajuizamento de representação com base em denúncia anônima, haja vista o dever institucional do Ministério Público em resguardar o interesse público e investigar a existência de ilícitos eleitorais. (…) Improvimento do recurso. (Recurso Eleitoral n. 2224-Parnamirim/RN, Rel. Juiz Jailsom Leandro de Sousa, unânime, j. em 4/10/2012, pub. DJE 6/10/2012, p. 3-4)

RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA - FIXAÇÃO DE FAIXAS EM BENS PÚBLICOS - PROCEDÊNCIA PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU - INFRAÇÃO AO ART. 36 DA LEI Nº 9.504/97 - CARACTERIZAÇÃO - CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO.1. Configura propaganda eleitoral extemporânea qualquer manifestação que, previamente aos três meses anteriores ao pleito, leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, com exceção do disposto no artigo 36-A da Lei n° 9.504/97;2. A propaganda eleitoral antecipada pode ficar configurada não apenas em face de eventual pedido de

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votos ou de exposição de plataforma ou aptidão política, mas também ser inferida por meio de circunstâncias subliminares, aferíveis em cada caso concreto;3. Não foi somente a denúncia anônima, por si só, que gerou a representação, mas, no caso concreto, houve averiguação a posteriori pela equipe de fiscalização da propaganda para confirmar os fatos alegados, e a partir disso é que o Ministério Público Eleitoral ajuizou a demanda;4. Em face da especialidade dos feitos eleitorais, não se exige a juntada dos negativos das fotografias que instruem a ação, podendo, todavia, ser questionada a sua autenticidade, o que não ocorreu no presente caso concreto;5. O mero argumento de haver retirado as faixas não é suficiente para elidir sua responsabilidade, pois a propaganda já se consumou, tendo havido a vantagem irregular em detrimento aos demais candidatos;6. Desprovimento do recurso. (Recurso Eleitoral n. 8326-Natal/RN, Rel. Des. Amílcar Maia, unânime, j. em 30/10/2012, pub. DJE 31/10/2012, p. 6-7)

Além disso, é preciso destacar que no presente caso não se tem

propriamente uma delação anônima. Conforme realçado nas alegações finais do

Ministério Público Eleitoral (folhas 379 a 385), o que se tem é uma delação

apenas sigilosa. A distinção é sutil, mas relevante. Na espécie destes autos, o

noticiante foi sim devidamente identificado. Contudo, como ele afirmou “temer

por sua vida” (folha 36), seus dados foram mantidos sob sigilo na Promotoria

Eleitoral, sendo que esses dados sempre estiveram – e ainda estão – acessíveis

ao Poder Judiciário, acaso desejasse saber maiores informações a seu respeito.

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Recorde-se que se trata de medida inteiramente legal, havendo previsão

legislativa expressa a seu respeito, conforme se verifica no inciso IV do art. 7º

da Lei 9.807/1999 (Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas), o qual preconiza

ser possível a adoção de medidas tais como a “preservação da identidade,

imagem e dados pessoais” da vítima ou da testemunha, em ordem a preservar

sua vida ou segurança.

Em caso que, embora não seja idêntico, é assemelhado ao dos presentes

autos, o Supremo Tribunal Federal decidiu ser legítimo o sigilo em relação à

testemunha de um fato. Segue:

DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. NULIDADE DO INTERROGATÓRIO. SIGILO NA QUALIFICAÇÃO DE TESTEMUNHA. PROGRAMA DE PROTEÇÃO À TESTEMUNHA. ACESSO RESTRITO À INFORMAÇÃO. CRIMINALIDADE VIOLENTA. ALEGAÇÕES NÃO APRESENTADAS NO STJ. ORDEM DENEGADA NA PARTE CONHECIDA.1. A tese de nulidade do ato do interrogatório do paciente devido ao sigilo das informações acerca da qualificação de uma das testemunhas arroladas na denúncia não deve ser acolhida.2. No caso concreto, há indicações claras de que houve a preservação do sigilo quanto à identidade de uma das testemunhas devido ao temor de represálias, sendo que sua qualificação foi anotada fora dos autos com acesso restrito aos juízes de direito, promotores de justiça e advogados constituídos e nomeados. Fatos imputados

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ao paciente foram de formação de quadrilha armada, da prática de dois latrocínios e de porte ilegal de armas.3. Legitimidade da providência adotada pelo magistrado com base nas medidas de proteção à testemunha (Lei nº 9.807/99). Devido ao incremento da criminalidade violenta e organizada, o legislador passou a instrumentalizar o juiz em medidas e providências tendentes a, simultaneamente, permitir a prática dos atos processuais e assegurar a integridade físico-mental e a vida das pessoas das testemunhas e de co-autores ou partícipes que se oferecem para fazer a delação premiada.4. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nesta parte, denegado. (HC 90321/SP, 2ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, unânime, j. em 2/9/2008, pub. DJE 26/9/2008)

Observe-se, portanto, que adotou-se neste caso uma postura de absoluto

equilíbrio e ponderação. A delação sigilosa não foi descartada, mas também não

foi acolhida de imediato. Procedeu-se a uma apuração mais aprofundada (a

oitiva de um dos participantes nos fatos) para só então postular-se e deferir-se a

medida de busca e apreensão. Tudo isso tutelando-se a vida do noticiante e

sempre permitindo ao Poder Judiciário saber quem ele/ela era. Não se tem,

portanto, uma denúncia “anônima”, mas apenas “sigilosa”, porquanto a

identificação da pessoa foi realizada, não tendo sido declinada nos autos por

questões de segurança do noticiante. Além disso, quando a busca e apreensão foi

requerida e concedida, havia nos outros elementos de prova, qual seja, o

depoimento pessoal de um dos participantes nos fatos, cujo conteúdo confirmou

as declarações sigilosas inicialmente existentes.

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Constata-se que a delação sigilosa acima referida não trouxe qualquer

prejuízo para o presente caso quando se observa que a representante do

Ministério Público Eleitoral muito bem poderia ter recebido as declarações do

noticiante que pediu para sua identificação não ser divulgada nos autos, em

seguida ter ouvido o protético Naquib Oliveira Libânio e por fim ter requerido a

busca e apreensão com base apenas no depoimento pessoal deste último, sem

sequer mencionar a delação sigilosa. Os fundamentos para a autorização judicial

da busca e apreensão estariam presentes do mesmo jeito, tendo em conta o

conteúdo do depoimento pessoal do protético Naquib Oliveira Libânio. A

menção à delação sigilosa no pedido de busca e apreensão era, a rigor, até

dispensável, tendo sido feita pela representante do Ministério Público Eleitoral

provavelmente para demonstrar com lealdade processual como tudo começou e

transcorreu.

Assim, impõe-se a rejeição desta preliminar.

2.2. Preliminar de nulidade das gravações contidas no computador

do protético Naquib Oliveira Libânio, por terem sido feitas sem o

conhecimento das pessoas filmadas.

A presente preliminar afirma que os vídeos constantes do computador do

protético Naquib Oliveira Libânio são provas ilícitas, já que as gravações se

deram de forma unilateral e clandestina, sem conhecimento dos pacientes

filmados, que tiveram sua intimidade violada.

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Mais uma vez o recorrente não tem razão.

Depois do cumprimento do mandado de busca e apreensão no

consultório do protético Naquib Oliveira Libânio, logrou-se apreender, dentre

outros objetos, um computador o qual continha vários vídeos daquele

profissional atendendo diversos eleitores encaminhados pelo então candidato

Iron Lucas de Oliveira Júnior. Nestes vídeos se via a negociação para a

produção de próteses dentárias em troca dos votos dos pacientes/eleitores em

favor daquele candidato. Dito de outra forma: as imagens mostram que os

pacientes/eleitores iam até o consultório do protético Naquib Oliveira Libânio a

pedido e por indicação do recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior e lá obtinham

tratamento que era posteriormente pago não pelos pacientes/eleitores, mas pelo

então candidato e agora recorrente, tudo em troca de posteriormente votar nele.

Constata-se, pois, que os vídeos mencionados são um exemplo típico do

que se convencionou chamar de gravação ambiental, espécie de prova revestida

de total legalidade e legitimidade, podendo validamente servir para fins de

convencimento do julgador.

A gravação ambiental (hipótese dos autos) não se confunde com a

interceptação das comunicações telefônicas. Em relação à primeira (gravação

ambiental), não há que se falar em qualquer ofensa ao direito à intimidade

Recurso Eleitoral n. 308-83.2012.6.20.0023. 17/61

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constitucionalmente assegurada (art. 5º, X, da Constituição da República de

1988).

A respeito do assunto, Vicente Greco Filho ensina que o sigilo existe em

face de terceiros e não dos interlocutores, os quais podem divulgar a conversa

desde que haja justa causa, sendo possível, neste caso, tal gravação servir como

prova em processo, para qualquer das partes. Discorrendo sobre a Lei

9.296/1996, afirma aquele autor:

“A gravação unilateral feita por um dos interlocutores com o desconhecimento do outro, chamada por alguns de gravação clandestina ou ambiental (…) não é interceptação nem está disciplinada pela lei comentada e, também, inexiste tipo penal que a incrimine. Isso porque, do mesmo modo que no sigilo de correspondência, os titulares – o remetente e o destinatário – são ambos, o sigilo existe em face de terceiros e não entre eles, os quais estão liberados se houve justa causa para divulgação.(…)Em nosso entender, aliás, ambas as situações (gravação clandestina ou ambiental e interceptação consentida por um dos interlocutores) são irregulamentáveis porque foram do âmbito do inciso XII do art. 5º da Constituição e sua licitude, bem como a da prova dela decorrente, dependerá do confronto do direito à intimidade (se existente) com a justa causa para a gravação ou a interceptação, como o estado de necessidade e a defesa de direito, nos moldes da disciplina da exibição da correspondência pelo destinatário (art. 153 do Código Penal e art 233 do

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Código de Processo Penal)” (Vicente Greco Filho, Interceptação telefônica, São Paulo, Saraiva, 1996, p. 4-6)

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal confirma a absoluta

legalidade, legitimidade e validade como prova da gravação ambiental feita por

um dos interlocutores. Confira-se (destaques acrescidos):

HABEAS CORPUS. PROVA. LICITUDE. GRAVAÇÃO DE TELEFONEMA POR INTERLOCUTOR. É LÍCITA A GRAVAÇÃO DE CONVERSA TELEFÔNICA FEITA POR UM DOS INTERLOCUTORES, OU COM SUA AUTORIZAÇÃO, SEM CIÊNCIA DO OUTRO, QUANDO HÁ INVESTIDA CRIMINOSA DESTE ÚLTIMO. É INCONSISTENTE E FERE O SENSO COMUM FALAR-SE EM VIOLAÇÃO DO DIREITO À PRIVACIDADE QUANDO INTERLOCUTOR GRAVA DIÁLOGO COM SEQÜESTRADORES, ESTELIONATÁRIOS OU QUALQUER TIPO DE CHANTAGISTA. ORDEM INDEFERIDA. (HC 75338/RJ, Pleno, Rel. Min. Nelson Jobim, maioria, j. em 11/3/1998, pub. DJ 25/9/1998, p. 11)

GRAVAÇÃO DE CONVERSA. INICIATIVA DE UM DOS INTERLOCUTORES. LICITUDE. PROVA CORROBORADA POR OUTRAS PRODUZIDAS EM JUÍZO SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO. Gravação de conversa. A gravação feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, nada tem de ilicitude,

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principalmente quando destinada a documentá-la em caso de negativa. Precedente: Inq 657, Carlos Velloso. Conteúdo da gravação confirmada em juízo. AGRRE improvido. (AgR no RE 402035/SP, 2ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, unânime, j. em 9/12/2003, pub. DJ 6/2/2004, p. 50)

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL. GRAVAÇÃO DE CONVERSA FEITA POR UM DOS INTERLOCUTORES: LICITUDE. PREQUESTIONAMENTO. Súmula 282-STF. PROVA: REEXAME EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO: IMPOSSIBILIDADE. Súmula 279-STF.I. - A gravação de conversa entre dois interlocutores, feita por um deles, sem conhecimento do outro, com a finalidade de documentá-la, futuramente, em caso de negativa, nada tem de ilícita, principalmente quando constitui exercício de defesa.II. - Existência, nos autos, de provas outras não obtidas mediante gravação de conversa ou quebra de sigilo bancário.III. - A questão relativa às provas ilícitas por derivação – “the fruits of the poisonous tree” – não foi objeto de debate e decisão, assim não prequestionada. Incidência da Súmula 282-STF.IV. - A apreciação do RE, no caso, não prescindiria do reexame do conjunto fático-probatório, o que não é possível em recurso extraordinário. Súmula 279-STF. V. - Agravo não provido. (AgR no AI 503617/PR, 2ª T., Rel. Min. Carlos Velloso, unânime, j. em 1º/2/2005, pub. DJ 4/3/2005, p. 30)

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EMENTA: HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL POR UM DOS INTERLOCUTORES. ILICITUDE DA PROVA. INOCORRÊNCIA. REPORTAGEM LEVADA AO AR POR EMISSORA DE TELEVISÃO. NOTITIA CRIMINIS. DEVER-PODER DE INVESTIGAR.1. Paciente denunciado por falsidade ideológica, consubstanciada em exigir quantia em dinheiro para inserir falsa informação de excesso de contingente em certificado de dispensa de incorporação. Gravação clandestina realizada pelo alistando, a pedido de emissora de televisão, que levou as imagens ao ar em todo o território nacional por meio de conhecido programa jornalístico. O conteúdo da reportagem representou notitia criminis, compelindo as autoridades ao exercício do dever-poder de investigar, sob pena de prevaricação.2. A ordem cronológica dos fatos evidencia que as provas, consistentes nos depoimentos das testemunhas e no interrogatório do paciente, foram produzidas em decorrência da notitia criminis e antes da juntada da fita nos autos do processo de sindicância que embasou o Inquérito Policial Militar.3. A questão posta não é de inviolabilidade das comunicações e sim da proteção da privacidade e da própria honra, que não constitui direito absoluto, devendo ceder em prol do interesse público. (Precedentes). Ordem denegada. (HC 87341/PR, 1ª T., Rel. Min. Eros Grau, unânime, j. em 7/2/2006, pub. DJE 3/3/2006, p. 73)

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EMENTA: PROVA. Criminal. Conversa telefônica. Gravação clandestina, feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro. Juntada da transcrição em inquérito policial, onde o interlocutor requerente era investigado ou tido por suspeito. Admissibilidade. Fonte lícita de prova. Inexistência de interceptação, objeto de vedação constitucional. Ausência de causa legal de sigilo ou de reserva da conversação. Meio, ademais, de prova da alegada inocência de quem a gravou. Improvimento ao recurso. Inexistência de ofensa ao art. 5º, incs. X, XII e LVI, da CF. Precedentes. Como gravação meramente clandestina, que se não confunde com interceptação, objeto de vedação constitucional, é lícita a prova consistente no teor de gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva da conversação, sobretudo quando se predestine a fazer prova, em juízo ou inquérito, a favor de quem a gravou. (RE 402717/PR, 2ª T., Rel. Min. Cezar Peluso, unânime, j. em 2/12/2008, pub. DJE 13/2/2009)

EMENTA: AÇÃO PENAL. Prova. Gravação ambiental. Realização por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. Validade. Jurisprudência reafirmada. Repercussão geral reconhecida. Recurso extraordinário provido. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC. É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro. (QO-RG no RE 583937/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, maioria, j. em 19/11/2009, pub. DJE 17/12/2009)

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CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. GRAVAÇÃO. CONVERSA TELEFÔNICA FEITA POR UM DOS INTERLOCUTORES, SEM CONHECIMENTO DO OUTRO. INEXISTÊNCIA DE CAUSA LEGAL DE SIGILO OU DE RESERVA DE CONVERSAÇÃO. LICITUDE DA PROVA. ART. 5º, XII e LVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.1. A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação não é considerada prova ilícita. Precedentes.2. Agravo regimental improvido. (AgR no AI 578858/RS, 2ª T., Rel. Min. Ellen Gracie, unânime, j. em 4/8/2009, pub. DJE 28/8/2009)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. (…) 4) GRAVAÇÃO AMBIENTAL FEITA POR UM INTERLOCUTOR SEM CONHECIMENTO DO OUTRO: CONSTITUCIONALIDADE. 5) ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO ART. 5º, INC. LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA: CONTROVÉRSIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.(AgR no AI 769798 AgR/RO, 1ª T., Rel. Min. Cármen Lúcia, unânime, j. em 1º/2/2011, pub. DJE 23/2/2011)

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Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRAVAÇÃO AMBIENTAL FEITA POR UM INTERLOCUTOR SEM CONHECIMENTO DOS OUTROS: CONSTITUCIONALIDADE. AUSENTE CAUSA LEGAL DE SIGILO DO CONTEÚDO DO DIÁLOGO. PRECEDENTES.1. A gravação ambiental meramente clandestina, realizada por um dos interlocutores, não se confunde com a interceptação, objeto cláusula constitucional de reserva de jurisdição.2. É lícita a prova consistente em gravação de conversa telefônica realizada por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva da conversação. Precedentes.3. Agravo regimental desprovido. (AgR no AI 560223/SP, 2ª T., Rel. Min. Joaquim Barbosa, unânime, j. em 12/4/2011, pub. DJE 29/4/2011)

Ementa: QUESTÃO DE ORDEM. INQUÉRITO INSTAURADO A PARTIR DE CARTA DENÚNCIA E DE DEGRAVAÇÃO DE FITA MAGNÉTICA. GRAVAÇÃO AMBIENTAL. CONVERSAS NÃO PROTEGIDAS POR SIGILO LEGAL. AUSÊNCIA DE ILICITUDE. INDÍCIOS DE PARTICIPAÇÃO DE AGENTE DETENTOR DE PRERROGATIVA DE FORO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. QUESTÃO DE ORDEM RESOLVIDA, POR MAIORIA, PARA DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DAS INVESTIGAÇÕES NO STF .

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1. É lícita a prova obtida mediante a gravação ambiental, por um dos interlocutores, de conversa não protegida por sigilo legal. Hipótese não acobertada pela garantia do sigilo das comunicações telefônicas (inciso XII do art. 5º da Constituição Federal).2. Se qualquer dos interlocutores pode, em depoimento pessoal ou como testemunha, revelar o conteúdo de sua conversa, não há como reconhecer a ilicitude da prova decorrente da gravação ambiental.3. A presença de indícios de participação de agente titular de prerrogativa de foro em crimes contra a Administração Pública confere ao STF o poder-dever de supervisionar o inquérito.4. Questão de ordem resolvida no sentido da fixação da competência do Supremo Tribunal Federal para supervisionar as investigações e da rejeição da proposta de trancamento do inquérito por alegada ilicitude da gravação ambiental que motivou a abertura desse procedimento investigatório. (Pleno, QO no Inq 2116/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão Min. Ayres Britto, maioria, j. em 15/9/2011, pub. DJE 29/2/2012)

Habeas corpus. Trancamento de ação penal. investigação criminal realizada pelo Ministério Público. Excepcionalidade do caso. Possibilidade. gravação clandestina (gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento do outro). Licitude da prova. Precedentes. ordem denegada.(…)2. Gravação clandestina (Gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento do outro). Licitude da prova. Por mais relevantes e

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graves que sejam os fatos apurados, provas obtidas sem a observância das garantias previstas na ordem constitucional ou em contrariedade ao disposto em normas de procedimento não podem ser admitidas no processo; uma vez juntadas, devem ser excluídas. O presente caso versa sobre a gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a denominada “gravação telefônica” ou “gravação clandestina”. Entendimento do STF no sentido da licitude da prova, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação. Repercussão geral da matéria (RE 583.397/RJ).3. Ordem denegada. (HC 91613/MG, 2ª T., Rel. Min. Gilmar Mendes, unânime, j. em 15/5/2012, pub. DJE 17/9/2012)

O posicionamento do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do

Norte é idêntico. Veja-se (destaques acrescidos):

RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL - ELEIÇÕES 2004 - CARGO DE PREFEITO - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO - REJEIÇÃO - GRAVAÇÕES DE CONVERSAS SEM O CONHECIMENTO DE UM DOS INTERLOCUTORES - ADMISSIBILIDADE COMO MEIO DE PROVA - CONHECIMENTO - PROVIMENTO.Afigura-se descabida a afirmação de que o recurso afastou-se da temática da inicial e que, por tal razão,

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não deveria ser conhecido. Rejeição da preliminar de não conhecimento do recurso.O interesse relativo aos postulados da democracia deve prevalecer sobre a preservação do sigilo da conversa. Tanto a proibição do uso da prova ilícita quanto o direito à prova são garantias constitucionais. Pelo Princípio da Proporcionalidade, as normas constitucionais se articulam num sistema, cuja harmonia impõe que, em certa medida, tolere-se o detrimento de alguns direitos por elas conferidos. Nesse contexto, impõe-se ao juiz de primeira instância admitir a licitude da prova contida nos CDs para fins de produção de todos os elementos probatórios imprescindíveis ao desate da controvérsia.Conhecimento e provimento do recurso. (REL 6727-Lagoa de Velhos/RN, Rel. Juiz Raimundo Carlyle de Oliveira Costa, Rel. p/ acórdão Juiz Fernando Gurgel Pimenta, maioria, j. em 9/3/2006, pub. DJ-RN 8/4/2006, p. 45).

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDADO ELETIVO - PRELIMINAR DE GRAVAÇÃO CLANDESTINA - LICITUDE - REJEIÇÃO - ABUSO DE PODER ECONÔMICO E CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUGRÁGIO - IMPRESTABILIDADE DA PROVA EM RAZÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE FORAM PRODUZIDAS - FRAGILIDADE DO ACERVO PROBATÓRIO - POTENCIALIDADE LESIVA - NÃO CONFIGURAÇÃO - CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO.A gravação da conversa por um dos interlocutores, ao contrário da interceptação telefônica ou da escuta ambiental, feitas por terceiros, não afronta o

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direito constitucional à intimidade, na medida em que quem mantém conversa com outrem assume o risco de o assunto discutido passar a ser de conhecimento público, conforme entendimento do STF. Rejeição da preliminar que se impõe.(…)Conhecimento e desprovimento do Recurso. (REL 1394585-Sítio Novo/RN, Rel. Des. Cláudio Manoel de Amorim Santos, unânime, j. em 26/7/2010, pub. DJE 29/7/2010, p. 4)

EMENTA: RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES - LICITUDE DA PROVA - CONJUNTO PROBATÓRIO QUE APONTA PARA A PRÁTICA DA CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO.A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, mesmo com o desconhecimento do outro, é prova legal, legítima e válida, devendo sempre ser aceita e valorada pelo julgador, ainda mais quando ela evidencia a prática de ilícito eleitoral. Precedentes do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior Eleitoral.As provas existentes nos autos demonstram satisfatoriamente a prática de captação ilícita de sufrágio pela candidata aliciante, mediante o oferecimento de benesse em troca do voto e do apoio político do eleitor.A regra da indivisibilidade da chapa obriga a que se aplique ao vice-prefeito a mesma decisão dada à

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candidata ao cargo de prefeito, devendo ser cassado o diploma de ambos.Desprovimento do recurso. (Recurso Eleitoral n. 183-92.2012.6.20.0063-Taboleiro Grande/RN, Rel. Juiz Nilson Cavalcanti, maioria, j. em 5/2/2013, pub. DJE 8/2/2013, p. 7-8)

No Superior Tribunal de Justiça prevalece o mesmo entendimento.

Consulte-se, por exemplo, os seguintes julgados: REsp 1113734/SP, 6ª T., Rel.

Min. Og Fernandes, unânime, j. em 28/9/2010, pub. DJE 6/12/2010; APn

644/BA, Corte Especial, Rel. Min. Eliana Calmon, unânime, j. em 30/11/2011,

pub. DJE 15/2/2012; HC 112386/RS, 5ª T, Rel. Des. convocado Adilson Vieira

Macabu, unânime, j. em 1º/12/2011, pub. DJE 3/2/2012; HC 210498/PR, 5ª T.,

Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, unânime, j. em 14/2/2012, pub. DJE

15/3/2012; RHC 29156/PR, 6ª T., Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

unânime, j. em 19/6/2012, pub. DJE 29/6/2012.

No Tribunal Superior Eleitoral não é diferente. Veja-se decisões do TSE

a respeito (destaques acrescidos):

1. Agravo regimental no recurso especial. Prova. Gravação de conversa ambiental. Desconhecimento por um dos interlocutores. Licitude das provas originária e derivada. Questão de direito. Precedentes. O desconhecimento da gravação de conversa por um dos interlocutores não enseja ilicitude da prova colhida, tampouco da prova testemunhal dela decorrente.

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2. Prova. Gravação de conversa ambiental. Transposição de fitas cassete para CD. Mera irregularidade formal. Não incidência da teoria dos frutos da árvore envenenada. Retorno dos autos ao TRE para que proceda a novo julgamento do feito, como entender adequado. Agravo regimental a que se nega provimento. A prova formalmente irregular, mas não ilícita, não justifica a aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada. (ARESPE 28558-Grão-Pará/SC, Rel. Min. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, unânime, j. em 11/9/2008, pub. DJE 30/9/2008, p. 13)

Agravo regimental em recurso especial. Captação ilícita de sufrágio. Prova consubstanciada em gravação ambiental.1. O relator está legitimado a decidir monocraticamente recursos que apresentam fundamentação em desconformidade à jurisprudência prevalecente do Tribunal Superior Eleitoral (art. 36, §§ 6º e 7º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral).2. A revaloração de prova não se confunde com o seu reexame.3. A prestação jurisdicional nos limites do que decidido pela instância ad quem e assim impugnada atende às determinações legais.4. A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores é prova válida.5. O dissídio jurisprudencial configura-se quando presentes a similitude fática e o cotejo analítico entre os acórdãos confrontados.6. O julgamento adstrito às provas consideradas válidas afasta a alegação de excesso por parte do órgão prolator da decisão.

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7. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (AgR-REspe 36992-Eldorado/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia Antunes Rocha, unânime, j. em 19/8/2010, pub. DJE 28/9/2010, p. 16-17)

ELEIÇÕES 2008. Agravo regimental em agravo de instrumento. Recurso especial inadmitido na origem. Prefeito eleito. Cassação. Captação ilícita de sufrágio. Oferta de dinheiro em troca de voto dias antes das eleições. Acórdão baseado em depoimentos de pessoas suspeitas (art. 405, § 3º, inc. IV, do Código de Processo Civil), e também em gravação ambiental. Possibilidade (art. 405, § 4º, do Código de Processo Civil). Princípio da persuasão racional (art. 131 do Código de Processo Civil). Provas consistentes.1. Admissibilidade do uso, como meio de prova, de gravação ambiental realizada por um dos interlocutores.2. A ausência de impugnação específica a todos os fundamentos adotados na decisão agravada, assim como a mera reiteração das razões do recurso especial, inviabilizam o conhecimento do agravo regimental (Súmula 182 do Superior Tribunal de Justiça).3. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (AgR-AI 76984-Celso Ramos/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia Antunes Rocha, unânime, j. em 16/12/2010pub. DJE 15/4/2011, p. 76)

ELEITORAL. ELEIÇÕES 2008. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES. VALOR DA PROVA. AGRAVO PROVIDO.

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I. As manifestações desta E. Corte Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal orientam-se majoritariamente e sistematicamente no sentido de que a gravação ambiental de diálogos e conversas entre pessoas, sendo do conhecimento apenas de uma ou algumas delas, não constitui prova ilícita, sobretudo quando buscam demonstrar a prática de crime por parte daquela que não tem conhecimento da gravação. Precedentes.(…)V. Agravo provido, nos termos do voto do Relator. (AgR-REspe 36359-Coronel Sapucaia/MS, Rel. Min. Gilson Langaro Dipp, unânime, j. em 1º/7/2011, unânime, j. em 18/8/2011, p. 32-33)

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. AIME. ELEIÇÕES 2008. PREFEITO. GRAVAÇÃO AMBIENTAL REALIZADA POR UM DOS INTERLOCUTORES. LICITUDE DA PROVA. PROVIMENTO.1. A gravação ambiental realizada por um dos interlocutores é prova lícita. Precedentes do TSE e do STF.2. Na espécie, a gravação de conversa entre o candidato, a eleitora supostamente corrompida e seu filho (autor da gravação) é lícita, pois este esteve presente durante o diálogo e manifestou-se diante dos demais interlocutores, ainda que de forma lacônica. Assim, o autor da gravação não pode ser qualificado como terceiro, mas como um dos interlocutores.3. Recurso especial eleitoral provido. (REspe 49928-Rio Grande do Piauí/PI, Rel. Min. Fátima Nancy Andrighi, maioria, j. em 1º/12/2011, pub. DJE 10/2/2012, p. 32)

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Conclui-se, pois, que os vídeos existentes no computador do protético

Naquib Oliveira Libânio, os quais demonstram aquele profissional atendendo

diversos eleitores encaminhados pelo recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior

foram gravados de maneira inteiramente legítima, sem violação à intimidade de

quem quer que seja, e por isso não só são provas hábeis a serem apreendidas em

cumprimento de mandado de busca e apreensão como podem e devem ser

consideradas para todos os fins legais. A preliminar de nulidade deve ser

rejeitada.

2.3. Preliminar de nulidade processual em razão da ausência de

degravação dos áudios constantes nos arquivos audiovisuais encontrados no

no computador do protético Naquib Oliveira Libânio.

A terceira preliminar consiste na alegação de nulidade processual em

razão de a petição inicial da presente ação não ter sido acompanhada da

transcrição integral dos áudios considerados como configuradores da captação

ilícita de sufrágio, o que teria impossibilitado o exercício do direito de defesa.

Inicialmente, observa-se que, ao contrário do que afirmado nas razões

recursais, já na petição inicial se vê a transcrição dos diálogos que foram

considerados como configuradores da captação ilícita de votos (folhas 07 e

seguintes).

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Ademais, conforme registrado na decisão das folhas 168 e 169, toda a

documentação que acompanhou a petição inicial, inclusive a mídia contendo os

arquivos audiovisuais cuja degravação o recorrente pretende, foram entregues a

Iron Lucas de Oliveira Júnior quando de sua notificação para apresentar defesa.

E não é só. O conteúdo da mencionada mídia foi submetido a perícia,

oportunidade em que o perito realizou a transcrição integral dos diálogos entre o

protético Naquib Oliveira Libânio e os pacientes/eleitores cooptados (folhas 249

a 259).

Quando o réu recebe a própria mídia a degravação é desnecessária,

porque ele estará tendo acesso não apenas a uma mera degravação, mas ao

conteúdo audiovisual completo, e não apenas escrito, degravado.

E isso é completamente lógico. Para garantir o contraditório e a ampla

defesa do réu é muito melhor que ele receba a mídia, que contém em toda sua

inteireza os arquivos de áudio e/ou vídeo explorados pelo autor na petição

inicial, do que simplesmente uma degravação, que, pela sua própria natureza

meramente escrita, não retrata o conteúdo dos arquivos com a mesma fidelidade

e completude.

Na espécie, além de a petição inicial ter transcrito os diálogos reputados

como relevantes (folhas 07 e seguintes) e de a perícia haver transcrito a

integralidade dos diálogos (folhas 249 a 259), o recorrente Iron Lucas de

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Oliveira Júnior recebeu, quando notificado para apresentar resposta, cópia de

toda a documentação que acompanhou a petição inicial, inclusive da mídia

contendo os arquivos audiovisuais (folhas 168 e 169). Ou seja, além de existir

degravação nos autos, o ora recorrente ainda recebeu cópia da mídia com o

mesmo conteúdo da original existentes nos autos. E isso torna totalmente

prescindível qualquer degravação.

Quando, em um processo, se juntam arquivos gravados em mídia,

normalmente se está a cuidar de arquivos de áudio, de vídeo ou de áudio e

vídeo. Ora, a visualização das imagens e a audição do som em sua inteireza

representa um acesso à prova muito mais robusto e profundo do que a simples

leitura de um texto com uma degravação. Na mera degravação não se tem

entonação, não se vê titubeios, tergiversações, gaguejos, particularidades que só

o contato com o próprio áudio podem demonstrar com fidelidade. Tampouco se

pode visualizar o contexto em que as palavras foram proferidas, circunstância

que só se percebe vendo as imagens ou o vídeo. Isso demonstra que, quando se

põe à disposição do réu a própria mídia, é prescindível e até de certo modo inútil

qualquer degravação, porque se está fornecendo material mais qualificado e

melhor aos fins a que se destina, que é servir de prova. O réu tem muito mais e

melhores condições de se defender tendo acesso à mídia como um todo do que

quando recebe apenas uma degravação. O devido processo legal, o contraditório

e a ampla defesa são exercidos em muito maior intensidade do que quando se

disponibiliza somente a degravação.

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O Tribunal Superior Eleitoral já decidiu ser desnecessária a degravação

quando a mídia é posta à disposição da parte. Confira-se (destaques acrescidos):

GOVERNADOR. CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO E ABUSO DO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. POTENCIALIDADE DA CONDUTA. INFLUÊNCIA NO RESULTADO DAS ELEIÇÕES. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. É DESNECESSÁRIO QUE TENHA INFLUÊNCIA NO RESULTADO DO PLEITO. NÃO APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 224 DO CÓDIGO ELEITORAL. ELEIÇÕES DISPUTADAS EM SEGUNDO TURNO. CASSAÇÃO DOS DIPLOMAS DO GOVERNADOR E DE SEU VICE. PRELIMINARES: NECESSIDADE DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA, INEXISTÊNCIA DE CAUSA DE PEDIR, AUSÊNCIA DE TIPICIDADE DAS CONDUTAS, PRODUÇÃO DE PROVAS APÓS ALEGAÇÕES FINAIS, PEDIDO DE OITIVA DE TESTEMUNHA, PERÍCIA E DEGRAVAÇÃO DE MÍDIA DVD, DESENTRANHAMENTO DE DOCUMENTOS. RECURSO PROVIDO.Preliminares:(…)5. Permitido o acesso à mídia de áudio e vídeo, torna-se não necessária sua transcrição. Precedentes.(…)16. Recurso provido. (RCED n. 671- São Luís/MA, Rel. Eros Roberto Grau, unânime rejeição preliminares e por maioria no mérito, j. em 03/03/3009, pub. Dje 03/03/2009, p. 35)

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PROPAGANDA PARTIDÁRIA. ALEGAÇÃO DE DESVIO DE FINALIDADE. PUBLICIDADE NEGATIVA. AGREMIAÇÕES PARTIDÁRIAS DIVERSAS. PROMOÇÃO PESSOAL. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. PRELIMINARES. INÉPCIA DA INICIAL. REJEIÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.1. Disponível, nos autos, o conteúdo audiovisual da propaganda inquinada de irregular, dispensável a respectiva degravação. Precedente.(…)5. Representação que se julga improcedente. (Rp 4199050-Brasília/DF, Rel. Aldir Guimarães Passarinho Júnior, maioria, j. em 13/5/2010, pub. DJE 8/6/2010, p. 65-66)

A desnecessidade de degravação seja do que for é confirmada pelo art.

405, § 1º, do Código de Processo Penal (“sempre que possível, o registro dos

depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos

meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar,

inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações”) e

pelo art. 2º, caput, da Resolução 105/2010 do Conselho Nacional de Justiça (“os

depoimentos documentados por meio audiovisual não precisam de transcrição”).

Ora, se até na esfera penal a degravação não é mais necessária e a coleta da

prova por meio audiovisual é estimulada, com muito mais razão a prática há de

ser a mesma no presente caso, inclusive por se tratar de depoimentos

testemunhais juntados com a petição inicial e que podem repetidos em juízo. A

disponibilização da mídia, na verdade, otimiza a fidedignidade na coleta e no

registro da prova oral e, como se mostrou, atende mais e melhor aos princípios

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da ampla defesa e do contraditório. Não se pode ser excessivamente formalista,

preocupando-se em demasia com questões puramente formais e descurando-se

do verdadeiro interesse público subjacente a este processo, que é apurar a

ocorrência ou não de compra de votos.

Na seara penal, o Supremo Tribunal Federal já decidiu ser desnecessária

a degravação ou transcrição de diálogos ou de depoimentos. Se isso foi válido

em matéria penal, com mais razão ainda deve sê-lo na área cível-eleitoral.

Confira-se:

EMENTA: HABEAS CORPUS. MEDIDA CAUTELAR. PROCESSUAL PENAL. PEDIDO DE LIMINAR PARA GARANTIR À DEFESA DO PACIENTE O ACESSO À TRANSCRIÇÃO INTEGRAL DAS ESCUTAS TELEFÔNICAS REALIZADAS NO INQUÉRITO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (ART. 5º, INC. LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA): INOCORRÊNCIA: LIMINAR INDEFERIDA.1. É desnecessária a juntada do conteúdo integral das degravações das escutas telefônicas realizadas nos autos do inquérito no qual são investigados os ora Pacientes, pois bastam que se tenham degravados os excertos necessários ao embasamento da denúncia oferecida, não configurando, essa restrição, ofensa ao princípio do devido processo legal (art. 5º, inc. LV, da Constituição da República).2. Liminar indeferida. (STF, MC no HC 91207/RJ, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ acórdão Min.

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Cármen Lúcia, maioria, j. em 11/6/2007, publicado DJE em 21/9/2007)

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIA PROBATÓRIA. OFENSA REFLEXA. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS JUDICIALMENTE AUTORIZADAS. DEGRAVAÇÃO INTEGRAL. DESNECESSIDADE. AGRAVO IMPROVIDO.I - Este Tribunal tem decidido no sentido de que o indeferimento de diligência probatória, tida por desnecessária pelo juízo a quo, não viola os princípios do contraditório e da ampla defesa. Precedentes.II - No julgamento do HC 91.207-MC/RJ, Rel. para o acórdão Min. Cármen Lúcia, esta Corte assentou ser desnecessária a juntada do conteúdo integral das degravações das escutas telefônicas, sendo bastante que se tenham degravados os excertos necessários ao embasamento da denúncia oferecida.III - Impossibilidade de reexame do conjunto fático probatório. Súmula 279 do STF.IV - Agravo regimental improvido. (AgR no AI 685878/RJ, 1ª T., Rel. Min. Ricardo Lewandowski, maioria, j. em 5/5/2009, pub. DJE 12/6/2009)

Ao julgar casos semelhantes ao presente, os Tribunais Regionais

Eleitorais, inclusive o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, têm

afirmado ser desnecessária a degravação. Confira-se, por exemplo, os seguintes

julgados (destaques acrescidos):

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REPRESENTAÇÃO ELEITORAL FUNDAMENTADA NOS ARTS. 41-A E 73, INCISO I, DA LEI 9.504/97. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO RITO MAIS AMPLO PREVISTO NO ART. 22 DA LC 64/90. PRELIMINARES AFASTADAS. AUSÊNCIA DE PROVAS. IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO. REJEIÇÃO DA ALEGAÇÃO DE LITIGÂNCIA TEMERÁRIA.(…)3) Inexistência de ofensa ao devido processo legal e ampla defesa por ausência de degravação de CD juntado aos autos.(…)6) Representação julgada improcedente. (TRE-GO, REP 1257-Cidade Ocidental/GO, Rel. Euler de Almeida Silva Júnior, unânime, j. em 19/9/2007, pub. DJ 27/9/2007, p. 140)

RECURSO - PROPAGANDA ELEITORAL - EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, PELO JUÍZO A QUO, POR AUSÊNCIA DA DEGRAVAÇÃO - DVD CONTENDO APENAS IMAGENS - DEGRAVAÇÃO DISPENSÁVEL - CONHECIMENTO E PROVIMENTO.A exigência da degravação objetiva tornar mais fácil o acesso à prova, de forma a tornar desnecessário acessar a mídia para saber seu conteúdo. No entanto, a ausência da aludida degravação não implica afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, pois o representado tem acesso direto à prova dos fatos alegados na inicial, mediante a utilização da

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mídia, que se constitui como elemento principal a ser juntado à inicial.O Tribunal Superior Eleitoral já firmou entendimento no sentido de que é dispensável a degravação quando se trata de fita de vídeo. No caso presente, tendo em vista que o DVD acostado aos autos possui somente fotografias desacompanhadas de qualquer áudio, não é possível se realizar a degravação exigida pelo juízo.Conhecimento e provimento do recurso. (RRP 7923-Currais Novos/RN, Rel. Juíza Maria Soledade de Araújo Fernandes, unânime, j. em 16/9/2008, pub. DJE 18/9/2008, p. 3)

RECURSO ELEITORAL. PRELIMINARES: CERCEAMENTO DE DEFESA, AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO, FALTA DE LEGITIMIDADE PASSIVA, LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ, AFASTADAS. AUSÊNCIA DE PROVA NOS AUTOS DA PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA OU DE QUALQUER OUTRO ILÍCITO ELEITORAL. RECURSO ELEITORAL DESPROVIDO.(…)2. A degravação é desnecessária quando o DVD contém áudio e imagens e quando o mesmo ficou disponibilizado às partes no processo, de maneira que lhes assegurou os princípios do contraditório e da ampla defesa. Preliminar de ausência da condição da ação afastada.(…)9. Recurso Eleitoral desprovido. (TRE-GO, RE 5585-Aparecida de Goiânia/GO, Rel. Ilma Vitoria Rocha, unânime, j. em 8/6/2009, pub. DJ 17/6/2009, p. 1)

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RECURSO ELEITORAL - PRELIMINARES - INTEMPESTIVIDADE E INÉPCIA DO RECURSO - REJEITADAS - MÉRITO - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - RITO APLICÁVEL PREVISTO NO ART. 22, DA LC Nº 64/90 - AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE DE APRESENTAÇÃO DE DEGRAVAÇÃO NA INICIAL - SENTENÇA ANULADA - RECURSO PROVIDO.(…)Mérito: Por se tratar de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral, por abuso poder, o rito aplicável é aquele previsto no art. 22 da Lei de Inelegibilidade, que não abriga a parte autora a apresentar degravação da mídia de DVD na inicial, motivo pelo qual, deve-se anular a r. sentença hostilizada para dar prosseguimento ao presente feito. Recurso conhecido e provido. (TRE-ES, RE 1347-Mantenópolis/ES, Rel. Telêmaco Antunes de Abreu Filho, unânime, j. em 7/6/2010, pub. DJE 18/6/2010, p. 7-8)

RECURSO ELEITORAL - RECURSO TEMPESTIVO - APLICAÇÃO DO ART. 258 DO CÓDIGO ELEITORAL - PEÇA RECURSAL REGULAR - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO - RITO DO ART. 22 DA LEI COMPLEMENTAR 64/90 - DESNECESSÁRIA JUNTADA DE DEGRAVAÇÃO - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO - SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU ANULADA.

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1 - No caso de cumulações de ações: uma Representação por ofensa ao art. 30-A, parágrafo segundo, da Lei 9.504/97 e uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral por Abuso de Poder Econômico, baseado no art. 22 da Lei Complementar n.º 64/90, o § 2º do art. 292, do CPC esclarece qual prazo deve prevalecer, o de três dias, estabelecido no art. 258, do Código Eleitoral;2 - Recurso que atende aos requisitos legais, preliminar da inépcia da peça recursal afastada;3 - No mérito deve prevalecer o rito do art. 22, da Lei Complementar 64/90, diante da ressalva feita pelo art. 23 da Resolução TSE 22.624/2007, desnecessária a juntada da degravação.Recurso conhecido e provido. Sentença de primeiro grau anulada. (TRE-ES, RE 1373-Mantenópolis/ES, Rel. Rodrigo Marques de Abreu Júdice, unânime, j. em 29/6/2010, pub. DJE 12/7/2010, p. 12-13)

RECURSO ELEITORAL - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO NA FORMA DO ART. 267, INCISO VI, DO CPC, C/C ART. 5º, § 4º, DA RESOLUÇÃO N. 22.624/07 DO TSE - PRELIMINARES DE INTEMPESTIVIDADE RECURSAL E DE INÉPCIA DO RECURSO REJEITADAS - MÉRITO - INAPLICABILIDADE DA RESOLUÇÃO TSE N. 22.624/2007 AO CASO - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (…)3. A apresentação de duas vias de degravação de mídia eletrônica (DVD) com a petição inicial não constitui condição específica da ação de investigação judicial eleitoral.

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4. Recurso provido. Sentença anulada. (TRE-ES, RE n. 1346-Vitória/ES, Rel. Dair José Bregunce de Oliveira, unânime, j. em 12/7/2010, pub. DJE 26/7/2010)

RECURSO ELEITORAL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL PELA PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA. ARTIGO 73 E INCISOS DA LEI 9.504/97. PRELIMINAR DE DECADÊNCIA EM VIRTUDE DA AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DA VICE-PREFEITA. ACOLHIDA. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. ACOLHIDA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. REJEITADA. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA LÓGICA DE CAUSA DE PEDIR. REJEITADA. MÉRITO. NÃO RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DE ABUSO DE PODER POLÍTICO E O USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. RECONHECIDA A PRÁTICA DE CONDUTA VEDADA DESCRITA NO ART. 73, INCISO II, DA LEI Nº 9.504/97. CONDENAÇÃO DOS RECORRIDOS AO PAGAMENTO DE MULTA PREVISTA NO ART. 73, § 4º DA LEI Nº 9.504/97. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (…)4. A alegação dos recorridos de que a ação não possui a correta exposição dos fatos e que a ausência de degravação da mídia em DVD impossibilitou o regular exercício de defesa não merece guarida. A exordial delineou a causa de pedir e pedido de forma devida. Considerando que a mídia DVD trazida como meio de prova acompanha a exordial, não havendo registro de dificuldade de acesso à mesma, e tendo em vista a

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juntada aos autos, em momento anterior à citação dos ora recorridos, entendo não restar configurado qualquer prejuízo aos ora recorridos. Preliminar rejeitada.(…)Recurso parcialmente provido. (TRE-ES, RE n. 1085-Anchieta/ES, Rel. Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon, unânime, j. em 31/3/2011, pub. DJE 18/4/2011, p. 6-8)

REPRESENTAÇÃO. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. LITISPENDÊNCIA, COISA JULGADA E BIS IN IDEM. NÃO CARACTERIZAÇÃO. JUNTADA POSTERIOR DE DVD E DOCUMENTOS. NÃO CABIMENTO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INOCORRÊNCIA. (…)4. A degravação de mídia acostada à peça vestibular não se trata de elemento essencial à tramitação de processo por captação de conduta vedada.(…)11. Pedido rejeitado. (TRE-TO, RP 262684-Palmas/TO, Rel. Marcelo Velasco Nascimento Albernaz, unânime, j. em 4/7/2012, pub. DJE 6/7/2012, p. 4-5)

RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO POR CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - DECISÃO QUE INDEFERIU A PETIÇÃO INICIAL POR NÃO TER SIDO JUNTADA A DEGRAVAÇÃO DAS MÍDIAS - DESNECESSIDADE - OBSERVÂNCIA DO RITO ESTABELECIDO NO

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ART. 22 DA LEI COMPLEMENTAR 64/90 - PRECEDENTES - PROVIMENTO DO RECURSO.1- A degravação de mídia acostada à peça inicial não se trata de elemento essencial à tramitação de processo por captação de conduta vedada, que deve obedecer ao rito estabelecido no art. 22 da LC 64/90.2- O indeferimento da inicial na hipótese caracteriza excesso de formalismo, porquanto a ação foi proposta inclusive com a indicação do rol de testemunhas para serem ouvidas em juízo, cujos depoimentos constam nas mídias anexadas.3- Provimento do recurso. (Recurso Eleitoral n. 351-29.2012.6.20.0020-Currais Novos/RN, Rel. Des. Amílcar Maia, unânime, j. em 19/12/2012, pub. DJE 7/1/2023, p. 17-18)

A exiguidade dos prazos na seara eleitoral, aliada à celeridade da busca

da prestação jurisdicional assegurada constitucionalmente pelo art. 5º, inciso

LXXVIII, da Constituição do Brasil de 1988, recomendam o uso dos recursos

tecnológicos para otimizar a própria prestação jurisdicional, sendo que a

obrigatoriedade de transcrição ou degravação de mídias para apurar a prática de

captação ilícita de sufrágio acaba por caminhar na contramão dessa evolução.

Confira-se, a respeito do assunto, o seguinte julgado do Superior

Tribunal de Justiça:

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO PENAL. PEDIDO PARA QUE OS DEPOIMENTOS GRAVADOS DURANTE

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A INSTRUÇÃO CRIMINAL SEJAM TRANSCRITOS AOS AUTOS. NEGATIVA OCORRIDA EM DECISÃO NA QUAL, MOTIVADAMENTE, DEMONSTROU-SE A PRESCINDIBILIDADE DA DILIGÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO.1. O art. 405 do Código de Processo Penal possibilita o registro dos termos da audiência de instrução em meio audiovisual. Tal regra - cuja redação foi conferida pela Lei n.º 11.719/2008 - não tem o escopo somente de reduzir o tempo de realização do ato, em razão da desnecessidade da redução, a termo, dos depoimentos do acusado, vítima e testemunhas, mas, também para possibilitar registro fiel da íntegra do ato, com imagem e som, em vez da simples escrita. Vê-se, assim, que o dispositivo não causa prejuízo às partes. Ao contrário, fortalece a sua segurança.2. O art. 405, § 2º, do Código de Processo Penal estabelece que "no caso de registro audiovisual, será encaminhado às partes cópia do registro original, sem necessidade de transcrição", o que sequer foi impugnado pela parte ora Recorrente, não havendo nenhuma mácula ao contraditório no caso. Até porque, segundo consta nos autos, a mídia em que gravada a audiência encontra-se apensada ao processo referente ao feito criminal, cujo acesso é facilmente franqueado às partes.3. A busca da celeridade na prestação jurisdicional é hoje imperativo constitucional, estabelecido no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição da República, segundo o qual "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação."4. No caso, a decisão recorrida, ao não determinar a degravação e a transcrição dos depoimentos orais

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registrados em meio audiovisual alinhou-se ao espírito da referida norma constitucional. Acrescente-se que a negativa deu-se em decisão fundamentada, em que se demonstrou a prescindibilidade da diligência.5. Ora, se ao Julgador ocorre a necessidade de ter acesso ao conteúdo dos depoimentos gravados em meio audiovisual, pode fazê-lo com o auxílio de uma miríade de equipamentos, dispensada efetivamente a degravação.6. O Poder Judiciário brasileiro, a bem de todos, tem buscado nos recursos tecnológicos meios para otimizar a prestação jurisdicional, devendo se harmonizarem com este horizonte todos aqueles que nele atuam.7. Recurso desprovido. (RMS 32818/MS, 5ª T., Rel. Min. Laurita Vaz, unânime, j. em 20/3/2012, pub. DJE 29/3/2012)

Dessa forma, não se pode falar de agressão, sequer indireta, ao devido

processo legal ou à ampla defesa, motivo pelo qual também esta preliminar há

de ser afastada.

2.4. Mérito

O recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior pretende a reforma da

sentença proferida pelo juízo da 23ª Zona Eleitoral que julgou procedente ação

de investigação judicial eleitoral pela prática de captação ilícita de sufrágio. Para

tanto, argumenta que (1) não há nos autos provas suficientes nem hábeis que

demonstrem a prática da conduta ilícita pela qual ele foi condenado e que, (2)

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mesmo se se entender comprovada a compra de votos, também não há provas de

que ele anuiu com esta prática ilícita.

Conforme o art. 41-A da Lei 9.504/1997, para a caracterização da

captação ilícita de sufrágio é preciso que os seguintes requisitos estejam

presentes: (a) realização de uma das condutas previstas na lei, a saber, doar,

oferecer, prometer ou entregar bem ou vantagem pessoal a eleitor; (b) fim

especial de agir, consistente na obtenção do voto do eleitor; e (c) ocorrência do

fato durante o período eleitoral.

As provas existentes nos autos deixam evidente que o recorrente Iron

Lucas de Oliveira Júnior, então candidato ao cargo de Vereador do Município de

Jardim do Seridó-RN, por meio do protético Naquib Oliveira Libânio forneceu

próteses dentárias a pelo menos dez eleitores em troca de seus votos.

De início, impõe-se ter presente os contundentes diálogos travados entre

o protético Naquib Oliveira Libânio e os eleitores/pacientes Juliana Cláudia de

Medeiros Soares, Jonas Azevedo de Sá e Naldo “mototaxista”, encontrados no

computador do protético Naquib Oliveira Libânio que foi apreendido quando do

cumprimento da ordem judicial de busca e apreensão, os quais foram transcritos

quando da realização de perícia feita por setor técnico do Departamento de

Polícia Federal do Rio Grande do Norte (folhas 249 a 259).

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A partir dessa análise se constata que, quando chegavam ao consultório

do protético Naquib Oliveira Libânio, os eleitores já tinham prévio

conhecimento de que estavam ali para colocar uma prótese dentária que seria

custeada pelo candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior. Ademais, vê-se que o

fornecimento da prótese dentária tinha íntima, direta e necessária ligação com o

voto deles e de seus familiares em favor daquele candidato. Seguem alguns

excertos, na parte que interessa ao deslinde do presente caso:

Juliana Cláudia de Medeiros Soares (folhas 252 e 253):

Naquib: Vou anotar seus dados, diga seu nome.(…)Eleitora: Juliana Cláudia de Medeiros Soares.(…)Naquib: Você lembra qual é a sua seção?Eleitora: Seção de voto?Naquib: Hum.Naquib: Não pode deixar nenhuma dúvida pra ele, que ele vai conferir.Naquib: Você lembra o número dele?Eleitora: Lembro, cinco, cinco, um, um, um.Naquib: Cinco, cinco, um, um, um. Esqueceu dele não.(…)Eleitora: Ele já pagou?Naquib: Já.Eleitora: O problema também era esse, pagar né.Naquib: Não, mas ele já (ajeitou).

Jonas Azevedo de Sá (folhas 254 a 256):

Naquib: Diga seu nome.Recurso Eleitoral n. 308-83.2012.6.20.0023. 50/61

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(…)Eleitor: Jonas Azevedo de Sá.Naquib: Na hora de prestar contas lá, a gente, é bom ter os dados sabe, porque aí...Naquib: É uma sua e a outra dele era? Ou era as duas dele?Eleitor: As duas dele.Naquib: Você lembra a seção?Eleitor: Eu voto ali na (prefeitura).Naquib: E o número dele, você lembra?Eleitor: De quem?Naquib: De Iron.Eleitor: Eu já esqueci, eu seu que é três números, né? Voto eu e a mulher com ele.Naquib: E o vereador lá... já ajeitou viu.Eleitor: Hum rum.

Naldo “mototaxista” (folhas 256 a 258):

Naquib: Pronto. Aí já resolve né.Eleitor: Ele não lhe pagou ainda?Naquib: Hein?Eleitor: Ele já num lhe pagou.Naquib: Mas eu tenho que prestar conta com ele, do serviço que eu entrego.Eleitor: Ah.Naquib: Tem que prestar conta.Naquib: A relação da pessoa que foi atendida (bacaninha), que é pra depois não tá (inteligível) né.Naquib: Ele lhe conhece mais assim é?Eleitor: É.Naquib: Naldo.Eleitor: Do pé da serra.Naquib: Você lembra o número dele.Eleitor: O número dele eu vou dizer... é cinquenta e cinco, cento e onze, né?

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Portanto, os trechos das conversas travadas entre o protético e os

pacientes/eleitores demonstram claramente que Naquib Oliveira Libânio foi

contratado pelo recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior para produzir próteses

dentárias e fornecer aos pacientes/eleitores por ele (por Iron Lucas de Oliveira

Júnior) indicados, tudo em troca dos votos dos pacientes/eleitores e de seus

familiares.

Os diálogos acima transcritos demonstram também que os beneficiários

das próteses dentárias se referem ao então candidato e ora recorrente Iron Lucas

de Oliveira Júnior como aquele que patrocinou a fabricação e colocação da

dentadura, bem como a pessoa em quem votariam.

Mas há mais. Quando do cumprimento do mencionado mandado de

busca e apreensão no consultório do protético Naquib Oliveira Libânio foi

apreendida uma agenda na qual existiam anotações com os seguintes dizeres:

“pessoal de Iron J.” e logo em seguida o nome de vários eleitores, dentre eles

Juliana, Jonas e Naldo, bem como o respectivo número de próteses fornecidas

(folha 56).

Veja-se que tais anotações se harmonizam com os diálogos acima

transcritos, pois o eleitor Jonas Azevedo de Sá, em uma das conversas, afirma

que as duas próteses (superior e inferior) seriam custeadas pelo recorrente Iron

Lucas de Oliveira Júnior e nas anotações do protético Naquib Oliveira Libânio

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se vislumbra que, de fato, ao lado do nome deste paciente/eleitor consta a

quantidade “2”. Da mesma forma ocorreu em relação à eleitora Juliana Cláudia

de Medeiros Soares. Ela diz ao protético Naquib Oliveira Libânio que o

candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior custearia apenas a prótese superior e nas

anotações apreendidas, de fato, ao lado do seu nome consta apenas a quantidade

“1”.

Ademais, em convergência com estes elementos de prova, tem-se o

bilhete da folha 73, subscrito por Juliana Cláudia de Medeiros Soares, conforme

ela própria reconheceu em seu depoimento judicial, no qual ela informa que

estava pagando ao protético a quantia de R$ 100,00 (cem reais), referente à

prótese inferior pois “(…) a superior foi Iron Júnior que pagou!”.

Ainda há mais provas. Depois da realização da busca e apreensão, o

então candidato e ora recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior ligou para o

protético Naquib Oliveira Libânio querendo saber detalhes sobre a diligência e

se ela tinha alguma relação com ele, demonstrando muita preocupação sobre os

fatos. O diálogo foi gravado pelo próprio Naquib Oliveira Libânio. Confira-se

alguns trechos (folhas 19 e 20 e 68) (destaques acrescidos):

Iron Junior: Amigo, o que foi o negócio lá? Foi negócio de pedofilia? Negócio de Prefeitura: Foi o quê?Naquib: Aonde?Iron Junior: O negócio lá da Promotoria, homem! Foi o quê?

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Naquib: Rapaz, a gente não pode falar nada, acredita? Nada! Saí de lá com um zíper na boca.Iron Junior: Sim, meu amigo. Mas você não sabe o que é? Eu quero saber o que é! Você não pode dizer o que é, não?Naquib: A questão meu amigo é que eu não posso falar nada! Me compromete! Você entendeu? A imprensa toda está ligando para me perguntar e eu não posso falar nada! É segredo de justiça!Iron Junior: Sim, mas não tem nada a ver comigo não, né?Naquib: Eu não posso fala nada! Eu não posso vazar nada sobre o assunto. Se eu falar me compromete.Iron Junior: Sim, eu sei, amigo! Mas se foi aquele negócio, se foi alguma coisa comigo, você tem que saber, né?Naquib: É claro!Iron Junior: Você não sabe? Ela não lhe perguntou não, homem?Naquib: Eu não posso falar, Iron! Não posso meu amigo! Eu não posso falar nada! De mim não pode sair nada! A gente já está combinado com a justiça. Eu tenho que ficar assim até segunda ordem!Iron Junior: Tá bom! Tomara que não seja! Para ser bom para você viu? Pois eu queria lhe ajudar! Tomara que não seja!Naquib: É.

O áudio original referente a esse diálogo acima transcrito está na folha

68 dos autos e sua audição é contundente para afastar qualquer dúvida que

porventura ainda pudesse existir quanto à efetiva captação ilícita de sufrágio em

referência e sua respectiva responsabilidade. A iniciativa espontânea do

recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior de ligar para o protético Naquib

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Oliveira Libânio demonstrando imensa preocupação quanto ao mandado de

busca e apreensão cumprido no consultório do protético, bem como o tom

ameaçador usado por ele depois de não ter obtido do protético as informações

desejadas, notadamente sobre se aquelas buscas tinham ou não alguma relação

com ele, demonstram, sem dúvidas, o esquema engendrado pelo recorrente Iron

Lucas de Oliveira Júnior para realizar captação ilícita de sufrágio em seu favor

nas Eleições 2012. Aliás, a pergunta que surge é óbvia: se o recorrente Iron

Lucas de Oliveira Júnior não tinha qualquer relação com o protético Naquib

Oliveira Libânio, para que tomar a iniciativa de telefonar-lhe perguntando se a

medida judicial de busca e apreensão tinha alguma coisa a ver com ele?

Registre-se que as testemunhas ouvidas no decorrer da instrução

processual confirmam a ocorrência dos fatos narrados na petição inicial desta

ação de investigação judicial eleitoral, embora os eleitores cooptados tenham

tentado, por razões óbvias e frequentes em processos desta natureza (não querer

se comprometer com o político que patrocinou suas dádivas), isentar de

responsabilidade o recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior, atribuindo a

captação ilícita de seus votos apenas ao protético Naquib Oliveira Libânio. Não

obstante isso, tais depoimentos conflitam com as demais provas existentes nos

autos (folhas 227 a 229). As contradições são as seguintes:

a) testemunha Juliana Cláudia de Medeiros Soares depôs em juízo que

pagou pela prótese inferior e a superior lhe foi oferecida pelo protético Naquib

Oliveira Libânio, o qual lhe informou que o pagamento ficaria a cargo de Iron

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Lucas de Oliveira Júnior, mesmo sem ela nunca ter falado com este último. Só

que nos arquivos audiovisuais gravados se vislumbra a própria eleitora

afirmando, sem nenhuma provocação por parte do protético Naquib Oliveira

Libânio, que a prótese superior seria paga pelo então candidato Iron Lucas de

Oliveira Júnior, tendo ela até fornecido o número de sua seção eleitoral e

externado o número do candidato. Afora isso, o documento da folha 73 é um

bilhete elaborado pela própria eleitora Juliana Cláudia de Medeiros Soares no

qual ela indica expressamente que a prótese superior seria paga pelo então

candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior;

b) Jonas Azevedo dos Santos afirmou em juízo que nunca tinha

conversado com o recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior e que as próteses

teriam sido oferecidas pelo protético Naquib Oliveira Libânio. Disse que tinha

ficado sabendo no trabalho por meio de uma pessoa chamada Pedro José dos

Santos que próteses dentárias estariam sido distribuídas pelo protético Naquib

Oliveira Libânio. Contudo, nos arquivos audiovisuais se verifica a testemunha

Jonas Azevedo dos Santos informando que as próteses seriam pagas pelo então

candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior e que na sua casa tanto ele quanto sua

esposa teriam votado no então candidato. Além disso, Pedro José dos Santos foi

ouvido em juízo e negou ter dito à testemunha Jonas Azevedo dos Santos

qualquer informação referente à distribuição de próteses;

c) Everaldo Batista da Costa, conhecido como Naldo “mototaxista”,

testemunhou que foi procurado pelo protético Naquib Oliveira Libânio, o qual

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lhe teria oferecido a prótese em nome de Iron Lucas de Oliveira Júnior, sendo

que ele, mesmo sem querer, aceitou a prótese. Não obstante isso, os arquivos

audiovisuais mostram Naldo “mototaxista” informando o número do então

candidato e se preocupando com o efetivo pagamento, dizendo que havia estado

com o então candidato depois das eleições; e

d) Luiz Eugênio da Silva afirmou que pagou R$ 800,00 pelas duas

próteses, sendo que para tanto teria usado R$ 500,00 que tinha em sua casa e

sacado R$ 300,00 de sua conta bancária. Entretanto, a testemunha Luiz Eugênio

da Silva, além de constar na lista como sendo um dos pacientes enviados pelo

então candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior (folha 56), não conseguiu

comprovar o saque que teria feito para efetuar o suposto pagamento das

próteses.

Dessa forma, não há como emprestar qualquer credibilidade aos

depoimentos dessas testemunhas, diante das manifestas contradições em que

incorreram ao tentar retirar a responsabilidade pela prática da captação ilícita de

sufrágio do então candidato e agora recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior e

atribuí-la ao protético Naquib Oliveira Libânio (folhas 227 a 229).

Por outro lado, o testemunho do protético Naquib Oliveira Libânio foi

profundo, tendo ele descrito, em minúcias e com coerência, como as

irregularidades aconteceram, a começar pela negociação realizada com

recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior. Afirmou que foi procurado pelo então

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candidato Iron Lucas de Oliveira Júnior para fornecimento de próteses dentárias

a pessoas previamente indicadas, tendo em vista o período eleitoral, e que o

valor abaixo do mercado se deu em razão do número de próteses contratadas.

Explicou os detalhes da negociação e informou que como pagamento recebeu

dois cheques, sendo ambos de titularidade de Rosemária dos Santos Azevedo,

companheira do ora recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior. O protético

Naquib Oliveira Libânio declarou, ainda, que os mencionados cheques foram

preenchidos e assinados por Iron Lucas de Oliveira Júnior em nome da sua

esposa. Tanto o depoimento do protético merece credibilidade que esta última

informação em especial foi comprovada pericialmente, por meio do laudo

pericial das folhas 328 a 335.

O recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior fez diversas e sucessivas

alegações de que, por se tratar de um notório apoiador da coligação adversária, o

protético Naquib Oliveira Libânio teria montado as provas constantes nos autos

com o único propósito de prejudicá-lo. Essa alegação não tem qualquer

fundamento.

De fato, aparentemente o protético Naquib Oliveira Libânio apoiou os

candidatos da coligação adversária do recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior.

Mas, conforme bem registrou a sentença, justamente aí está a esperteza do então

candidato. Ao contratar uma pessoa ligada à coligação adversária para cooptar

votos em seu favor ficaria mais difícil fazer qualquer ligação dele com o ilícito,

caso porventura o esquema fosse descoberto. Das duas, uma: ou o esquema não

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era descoberto ou, se fosse, bastaria pôr a culpa em um eventual complô

realizado por inimigos políticos. Confira-se trecho da sentença:

“É certo que a tática planejada pelo candidato para compra de votos no município de Jardim do Seridó se apresentou bem planejada, posto que o representado procurou uma pessoa aliada ao grupo político da oposição como intermediário no esquema de compra de votos, afastando quaisquer suspeitas sobre sua pessoa, se não fossem as provas produzidas pelo Ministério Público durante a instrução processual que esclarecem todos os detalhes da trama”.

Sobre a ligação entre o recorrente Iron Lucas de Oliveira Júnior e o

protético Naquib Oliveira Libânio no período eleitoral, chama atenção o

depoimento de Maria Odete de Oliveira Azevedo, cunhada do protético Naquib

Oliveira Libânio, a qual afirmou que estranhou a amizade entre Naquib Oliveira

Libânio e Iron Lucas de Oliveira Júnior durante a campanha eleitoral de 2012,

tendo visto, inclusive, algumas vezes Iron Lucas de Oliveira Júnior visitando o

protético Naquib Oliveira Libânio.

A existência de vínculo e de contatos entre o recorrente Iron Lucas de

Oliveira Júnior e o protético Naquib Oliveira Libânio também são provados

pelas informações remetidas pela empresa de telefonia móvel TIM, nas quais se

verifica a existência de vários contatos telefônicos entre Iron Lucas de Oliveira

Júnior e Naquib Oliveira Libânio, muitas dessas ligações, inclusive, tendo

ocorrido durante o período eleitoral (folha 280v).

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Por fim, também ficou provado que a conduta de captação ilícita de

sufrágio ocorreu durante o período eleitoral relativo às Eleições 2012. A esse

respeito, todas as testemunhas afirmaram que foram abordadas entre os meses de

agosto e setembro de 2012, justamente no período crítico e mais aceso da

campanha.

Assim, observa-se que a sentença recorrida está em total consonância

com as provas produzidas nos presentes autos, todas elas apontando que Iron

Lucas de Oliveira Júnior forneceu próteses dentárias no mínimo aos eleitores

Juliana Cláudia de Medeiros Soares, Jonas Azevedo dos Santos e Naldo

“mototaxista”, com o fim de obter os seus votos.

3. CONCLUSÃO.

Em razão do exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral se manifesta

pela rejeição das preliminares suscitadas e, no mérito, pelo desprovimento do

recurso.

A Procuradoria Regional Eleitoral requer, ainda, a extração de cópia

integral dos autos, inclusive de todas as mídias a ele acostadas, e seu posterior

envio para a Procuradoria da República no Município de Caicó, em decorrência

da possível prática do crime do art. 342 do Código Penal por Juliana Cláudia de

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Medeiros Soares, Jonas Azevedo dos Santos, Everaldo Batista da Costa e Luiz

Eugênio da Silva.

Natal-RN, 25 de junho de 2013.

PAULO SÉRGIO DUARTE DA ROCHA JÚNIOR

PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL

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