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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA – 2ª REGIÃO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR NA PRIMEIRA SEÇÃO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO. Procedimento Administrativo n° 1.02.002.000013/2011-08 Ma ficca li occhi a valle, ché s’approccia la riviera del sangue, in la qual bolle qual che per vïolenza in altrui noccia. Mas olha abaixo e verás lá adiante O rio de sangue onde estão, na fervura, Os réus de violentar seu semelhante. Dante Alighieri O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador Regional da República que esta subscreve, no uso das prerrogativas legais e constitucionais que lhes são conferidas, com lastro nas peças de informação reunidas no curso do procedimento administrativo criminal acima epigrafado, oferece a presente DENÚNCIA em face de 1- DEMERVAL BARBOZA MOREIRA NETO, CPF nº 571.708.277-00, nascido em 07/11/1959, Prefeito Municipal de Nova Friburgo/RJ, ensino médio completo, casado, com endereço residencial à Rua Abido Abi-Râmia, 560, Duas Pedras, Nova Friburgo/RJ, CEP: 28.630-090 e endereço da Prefeitura à Avenida Alberto Braune, 225, Centro, Nova Friburgo/RJ, CEP: 28.613-001; 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA – 2ª REGIÃO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL RELATOR NA PRIMEIRA SEÇÃO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO.

Procedimento Administrativo n° 1.02.002.000013/2011-08

Ma ficca li occhi a valle, ché s’approccia la riviera del sangue, in la qual bolle qual che per vïolenza in altrui noccia.

Mas olha abaixo e verás lá adiante O rio de sangue onde estão, na fervura,

Os réus de violentar seu semelhante.

Dante Alighieri

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador

Regional da República que esta subscreve, no uso das prerrogativas legais e constitucionais

que lhes são conferidas, com lastro nas peças de informação reunidas no curso do

procedimento administrativo criminal acima epigrafado, oferece a presente DENÚNCIA em

face de

1- DEMERVAL BARBOZA MOREIRA NETO, CPF nº 571.708.277-00,

nascido em 07/11/1959, Prefeito Municipal de Nova Friburgo/RJ, ensino médio completo,

casado, com endereço residencial à Rua Abido Abi-Râmia, 560, Duas Pedras, Nova

Friburgo/RJ, CEP: 28.630-090 e endereço da Prefeitura à Avenida Alberto Braune, 225,

Centro, Nova Friburgo/RJ, CEP: 28.613-001;

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2- JOSÉ RICARDO CARVALHO DE LIMA, brasileiro, Secretário

Municipal de Governo, inscrito no CPF sob o nº 960.457.607-00, com endereço na Rua

General Osório, nº 109, ap. 407, Centro, Nova Friburgo/RJ;

3- FRANCISCO DE ASSIS CORREA BARBOSA, brasileiro, Secretário

Municipal de Fazenda, inscrito no CPF sob o nº 130.145.447-87, com endereço na Tr.

Barroso, 30, Duas Barras/RJ;

4- HELIO GONÇALVES CORREA, brasileiro, Secretário Municipal de

Obras, portador do RG nº 809134299 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº 197.726.537-53, com

endereço na Rua Prudente de Moraes, nº 01 - Condomínio Parkville, ap. 301, Vila Nova,

Nova Friburgo/RJ;

5- VANOR BREDER PACHECO, brasileiro, Secretário Municipal de

Serviços Públicos, portador do RG nº 060577313 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº

842.351.447-15, com endereço na Av. Antônio Mário de Azevedo, km 13, Campo do Coelho,

Nova Friburgo/RJ;

6- HAMILTON SAMPAIO DA SILVA, Procurador-Geral do Município,

inscrito no CPF sob o nº 246.792.917-53, com endereço na Rua Eugênio Gripp, 100,

Braunes, Nova Friburgo/RJ;

7- MARCELO VERLY DE LEMOS, brasileiro, divorciado, Secretário

Municipal de Educação, portador do RG nº 07886166-3 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº

018.838.357-39, com endereço na Rua Guarani, nº 18, ap. 105, Cordoeira, Nova Friburgo/RJ;

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8- JEFERSON MARTINS CORDEIRO, brasileiro, divorciado,

advogado, RG 06567253 IFP/RJ, CPF 942.988.587-15, com endereço na Rua Jornalista

Pedro Curió n. 81, Ponte da Saudade, Nova Friburgo;

9- ANTONIO CARLOS MARTINS MESQUITA, brasileiro, casado,

servidor da prefeitura municipal de Nova Friburgo com matrícula 24.400, RG 04850504-4

IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº 485.470.937-53, com endereço na rua Conte Bittencourt, 58,

apto. 205, centro, Nova Friburgo/RJ;

10- ANTONIO AUGUSTO DUARTE PRATTI, brasileiro, casado,

arquiteto, portador do RG nº 0047011685 DETRAN/RJ, inscrito no CPF sob o nº

766.706.608-63, servidor municipal em Nova Friburgo com matrícula 24.165, com endereço

na Rua Princesa Isabel, 400 – Vale dos Pinheiros, Nova Friburgo/RJ;

11- ALAN DE FREITAS FERREIRA, inscrito no CPF sob o nº

005.672.077-73, com endereço na Rua José Maria Marinelli nº 118, Nova Friburgo/RJ;

12- IRAM FERREIRA, brasileiro, separado, comerciante, RG 1088936

IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº 326.048.407-82, com endereço no Condomínio Serraville,

bloco H, apto. 101, Catarcione, Nova Friburgo/RJ;

13- ADÃO DE PAULA, brasileiro, casado, empresário, portador do RG nº

813726346 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº 379.444.607-00, titular da firma individual

ADÃO DE PAULA ME inscrita no CNPJ sob o nº 29.861.671/0001-29, com endereço na

Rua Virgílio Laginestra, nº 470, Parque Maria Thereza, Nova Friburgo/RJ;

14- ALAN CARDECK MIRANDA DE PAULA, brasileiro, casado,

assessor parlamentar, portador do RG nº 111177937 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº

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043.876.347-58, com endereço na Rua Virgílio Laginestra, nº 479, Parque Maria Thereza,

Nova Friburgo/RJ;

15- SÁVIO SILVA OLIVEIRA, brasileiro, empresário, portador do RG nº

097775969 IFP/RJ, inscrito no CPF sob o nº 028.677.487-98, com endereço na Rua Maria

José Dutra de Castro, nº 444 - Condomínio Sítio das Pedras, Vale dos Pinheiros, Nova

Friburgo/RJ;

16- ALEXANDRE TEIXEIRA DE REZENDE, brasileiro, empresário,

casado, portador da Identidade nº 1985101495 expedida pelo CREA/RJ, inscrito no CPF sob

o nº 642.035.307-68, com endereços na Rua Equador nº 60, casa 33 - Condomínio Parque da

Pedra, Vale dos Pinheiros, Nova Friburgo/RJ e na Rua Equador, 60;

17- RONALD RAMOS MACKENZIE, brasileiro, empresário, portador

do RG 003234177-8 Detran/RJ, inscrito no CPF sob o nº 469.892.188-00, com endereço na

Rua Bento Costa Júnior, 54, casa 5, Centro, Rio das Ostras/RJ;

18- ALFREDO CHRYSOSTOMO DE MOURA, brasileiro, casado,

engenheiro civil, portador da cédula de identidade n. 82-1-03993-9-D expedida pelo CREA-

RJ e inscrito no CPF sob nº 809.986.927-72, residente e domiciliado na Rua Hernani

Coutinho da Costa, s/nº Casa 04, Costa Azul, Rio das Ostras/RJ;

19- ROBERTO AVELAR FRANÇA, brasileiro, portador da carteira de

identidade 264374 e inscrito no CPF sob o nº 132.016.896-53, com endereço profissional da

Ab. Rio Branco 156, sala 1101, Centro, Rio de Janeiro/RJ;

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20- SERGIO FERNANDES VIEIRA, brasileiro, empresário, inscrito no

CPF sob o nº 422.465.047-91, portador da CI 5108625, expedida pelo IFP/RJ, com endereço

na Rua Lauro Gonçalves Pacheco, 917, 4º Distrito, Macaé/RJ.

Em razão da prática dos crimes que serão narrados a seguir:

I - PRÓLOGO

Na Divina Comédia Dante Alighieri supôs encontrar, no sétimo circulo do

inferno, imersos em rio de sangue fervente: até os olhos os tiranos, até a garganta os

homicidas e até a altura do dorso os salteadores. Tome-se a tirania como traição do interesse

público que é confiado ao governante e encontraremos na tragédia que se abateu sobre o

Estado do Rio de Janeiro, na região da Serra dos Órgãos, no verão de 2011, quem reúna por

sua conduta cada um destes tristes papeis e quem reúna, até mesmo, todos os três, pois houve

traição do interesse público, mortes e pilhagem. Encontraremos quem seja merecedor de toda

a intensidade da repulsa que foi moldada em tons expressivos pela imaginação do poeta.

O relatório final da CPI-ALERJ instalada sob a presidência do Deputado

Luís Paulo Rocha e relatoria do Deputado Nilton Salomão, datado de 31/08/2011 (tópico 5.9)

tem razão ao tratar a corrupção e malversação de recursos ali verificada como “tragédia

dentro da catástrofe”.

Os denunciados são ou gestores municipais ou prestadores de serviços que

foram contratados pela municipalidade de Nova Friburgo para dar conta de necessidades

surgidas com a catástrofe natural que atingiu a região serrana do Estado do Rio de Janeiro,

em janeiro de 2011. Por isso, antes de passar a narração das condutas imputadas convém

situar o ocorrido, na medida em que tais circunstâncias têm reflexo na aferição da

responsabilidade penal.

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Na madrugada do dia 11 para o dia 12 de janeiro de 2011 chuvas com

intensidade que alcançou pico de 130 mm/h em intervalo de 4h e 30min na madrugada do dia

12, se precipitaram sobre a Serra dos Órgãos levando a consequências drásticas. Áreas foram

inundadas muito além das séries históricas conhecidas. Fatores naturais incomuns fizeram

com que chuva frontal típica de verão (alta intensidade e curta duração), proveniente de

correntes de ar frio do Sul, fosse realimentada por massa de ar quente e úmida oriunda da

Amazônia, retida pela serra. Houve acúmulo de formações de cumulus ninbus em formato de

bigorna com altura superior a 10 Km, alcançando a tropopausa (camada atmosférica situada

entre a troposfera superficial, com cerca de 14 Km de altura e a estratosfera contida pela

camada de ozônio, com cerca de 50 Km de altura).

Entre as regiões mais atingidas estavam a área urbana central de Nova

Friburgo, a bacia do Rio Grande, Campo do Coelho e Floresta. A precipitação anormal

causou transbordamento de rios de algumas sub bacias da Macro Bacia Hidrográfica da

Margem Direita do Médio Inferior do Rio Paraíba do Sul, entre os quais a do Rio Grande,

que é integrada pelos rios Bengalas e Córrego d'Antas, os quais cortam o município de Nova

Friburgo. O Hospital Municipal Raul Sertã, por exemplo, foi completamente inundado pelo

transbordamento do rio Bengalas.

As chuvas também causaram deslizamentos de encostas, com registro de

431 eventos no município de Nova Friburgo, com vítimas fatais e destruição de imóveis e de

equipamento público (rompeu-se, por exemplo, uma adutora de água da concessionária

Águas de Nova Friburgo na comunidade de Duas Pedras, provocando desabastecimento e

contribuindo para deslizamento das encostas adjacentes); colapso da drenagem urbana, com

comprometimento das galerias de águas pluviais, causando alagamentos; além de

interrupções e falhas nos serviços de utilidade pública (abastecimento de água, fornecimento

de gás, energia elétrica e telefonia, além da coleta de lixo) e nos serviços públicos essenciais

(educação – dezenas de escolas afetadas – , assistência à saúde – hospitais e postos

comprometidos – e transporte coletivo).

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Pior, foram confirmados 909 óbitos diretamente decorrentes da chuva, com

428 vidas perdidas no Município de Nova Friburgo, na sua maior parte na localidade de Bom

Jardim, tendo sido apurado pelo Ministério Público Estadual comunicações de 698

desaparecimentos dos quais, após a identificação das vítimas fatais, ainda remanesceram 241

casos. No município foram ainda constatadas 4.528 pessoas desalojadas e 789 desabrigadas.

Relevante lembrar que a população do município, de acordo com os dados preliminarmente

divulgados do censo 2010, é de 182.016 habitantes, 87,5% em áreas urbanas.

A Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, gerida por alguns dos

denunciados recebeu diretamente, em janeiro de 2011, para fazer frente às despesas de

emergência necessárias por força da extensão da catástrofe, R$10.000.000,00 oriundos do

Ministério da Integração Nacional, destinados a ações de socorro imediato (transferência

autorizada pela Portaria ministerial nº 26, de 14/01/2011, DOU de 17/01/2011, Nota de

Empenho 2011NE000001, cujos valores foram creditados na Conta Corrente nº 570044 na

Agência 0335 do Banco do Brasil, objeto do Termo de Compromisso 0001/2011, SIAFI nº

666053) e R$2.161.969,60 oriundos do Ministério da Saúde (geridos pela Fundação

Municipal de Saúde).

Segundo dados da Controladoria Geral da União o Governo Federal

destinou para assistência, socorro, recuperação e restabelecimento da normalidade de serviços

essenciais, por meio dos Termos de Compromisso nº 001/2011(os R$10 milhões, totalmente

liberados ao município e acima referidos), 002/2011 (R$70 milhões, totalmente liberados ao

Estado do Rio de Janeiro), 030/2011 (R$80 milhões, dos quais 48 haviam sido liberados

ainda no ano passado) e pela Resolução nº 18, de 02/05/2011 do Fundo Nacional de

Desenvolvimento (R$74 milhões, totalmente liberados) perfazendo um total de 234 milhões

de reais.

DEMERVAL NETO, o primeiro denunciado, filho do médico, ex-vereador

e ex-prefeito Valmor Tassara Moreira e de Maria Iracema Mastrangelo Moreira, neto do

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farmacêutico e médico Demerval Barbosa Moreira que dá nome à principal praça de cidade,

foi eleito vice-prefeito de Nova Friburgo e por força do afastamento do prefeito Heródoto

Bento de Mello, em novembro de 2010, motivado por razões de saúde, estava à frente do

Executivo local ao tempo dos fatos. Ironia, pois ocupou o assento do político que 46 anos

antes, tendo apoiado o regime militar e sendo vice-prefeito, tomou o lugar do pai do

denunciado, cujo mandato de prefeito foi cassado.

No comando da municipalidade e com domínio sobre a atuação dos demais

denunciados que eram ao tempo dos fatos seus auxiliares na Prefeitura DEMERVAL teve a

seu cargo a responsabilidade de gerir os recursos destinados ao socorro diante da tragédia,

inclusive os que foram diretamente transferidos pela União Federal por força do mencionado

Termo de Compromisso nº 001/11, parte dos quais foram empregados indevidamente em

favor dos empresários denunciados. A proeminência da atuação de DEMERVAL e a

disposição sobre verbas federais explicam a competência desta Corte Regional para processar

e julgar a imputação que é aqui formulada.

II – DO OBJETO DA DENÚNCIA.

As condutas objeto da presente denúncia, adiante detalhadas, realizadas no

município de Nova Friburgo no Estado do Rio de Janeiro, durante o correr do ano de 2011,

envolvem em síntese: a) a contratação dirigida e sem licitação de prestadores de serviço, com

emprego de recursos transferidos pela União Federal para atender à situação de Calamidade

Pública, com obtenção de vantagens indevidas por parte das empresas favorecidas; b)

vantagens indevidas também proporcionadas pela superposição de objetos contratados; c)

falsidade na formalização dos processos administrativos; d) falta de fiscalização da execução

dos serviços contratados; e) incongruência do que foi contratado e sinais de não execução dos

serviços pagos; f) desvio dos recursos originados da transferência das verbas federais; g)

transferência de recursos da conta vinculada ao Termo de Parceria para conta da Prefeitura,

com desvio da destinação dos valores; h) pagamentos em cheques nominativos, em vez de

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Transferência Eletrônica de Débito, propiciando o desconto do valor pago na boca do caixa e

a ocultação dos beneficiários finais e reais titulares dos capitais; i) vantagem pessoal indevida

no usufruto de viagem ao exterior proporcionada por beneficiário de pagamentos

injustificados; j) desobediência durante a apuração de suspeita de improbidade administrativa,

com recusa de fornecer informações técnicas requisitadas para subsidiar propositura de Ação

Civil Pública pelo MPF na PRM de Nova Friburgo.

A disposição dos valores transferidos pela União Federal ao município, que

estiveram sob gestão descentralizada e autônoma do Fundo Municipal de Saúde, não

integram a presente denúncia por inexistir até o momento suporte probatório mínimo objetivo

de envolvimento pessoal do Prefeito, salvo no que diz respeito à contratação da Adão de

Paula ME com suporte no processo administrativo 0857/11, para serviços de desinsetização e

desratização nas unidades de saúde, CAPS e Hospital Raul Sertã, que foi diretamente

requisitada pelo prefeito. Outros fatos na órbita de gestão da FMS, embora mencionados em

parte das peças de informação, tais como os relatórios da CPI municipal e da CGU, escapam

a atribuição deste órgão ministerial de segundo grau, portanto, não foram objeto de

apreciação. Não houve exame sobre condições para exercício da demanda. Caso venham a ser

conhecidos novos fatos atribuíveis ao Prefeito, que justificam atuação, o Ministério Público

irá, na oportunidade, apreciar e adotar a providência que entender necessária para promover a

aplicação e fiel execução da lei penal.

III – DA NARRATIVA.

Em janeiro de 2011 e nos meses seguintes de mesmo ano DEMERVAL

NETO, agindo na condição de Prefeito Municipal em exercício em Nova Friburgo,

secundado pelos denunciados RICARDO CARVALHO LIMA, HELIO CORREA, VANOR

PACHECO e MARCELO VERLY, que integram a cúpula da administração municipal,

assessorado pelos denunciados HAMILTON SAMPAIO DA SILVA e FRANCISCO

BARBOSA que também integram a cúpula da gestão local e com auxílio essencial dos

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servidores JEFFERSON MARTINS, ANTONIO CARLOS MESQUITA e ANTONIO

AUGUSTO PRATTI, além de ALAN DE FREITAS FERREIRA e de IRAN FERREIRA,

usou e desviou recursos transferidos pela União Federal por força do Termo de Compromisso

001/2011 para, dispensando licitação fora das hipóteses previstas em lei, contratar

irregularmente as empresas Adão de Paula ME (Cheinara Detetilar de Imunização), gerida

pelos denunciados ADÃO DE PAULA e ALAN CARDECK DE PAULA; Vital Engenharia

Ambiental S/A, gerida pelo denunciado ROBERTO AVELAR; Terrapleno Terraplanagem e

Construção, gerida pelo denunciado ALFREDO CHRYSOSTOMO; Nativa Glicério

Manutenção e Reformas Ltda, gerida pelo denunciado SERGIO VIEIRA; e Formato de

Friburgo Construções e Empreendimentos Ltda, gerida pelos denunciados SAVIO SILVA

OLIVEIRA e ALEXANDRE TEIXEIRA DE REZENDE, com a colaboração de RONALD

MACKENZIE.

Em contrapartida do favorecimento aos empresários co-denunciados, com

destaque para o efetivo desvio de recursos creditados pela União na conta corrente da

Prefeitura aberta em virtude do Termo de Compromisso 01/11, que foram transferidos às

empresas irregularmente contratadas, dentre elas a Formato de Friburgo Construções e

Empreendimentos Ltda, DEMERVAL obteve vantagem pessoal indevida sob a forma de

viagem aos Estados Unidos da América do Norte, entre os dias 23 e 31 de março de 2011,

promovida pelo denunciado SAVIO.

Para consumar as contratações feitas contrariamente ao disposto na Lei nº

8.6666/93, viabilizar o favorecimento e assegurar a impunidade do mencionado desvio,

DEMERVAL e todos os demais agentes públicos denunciados fizeram, no correr do primeiro

semestre de 2011, inúmeras declarações falsas nos processos administrativos adiante

especificados, omitindo-se, ainda, da devida fiscalização dos serviços a serem executados,

tudo culminando com a realização de pagamentos indevidos às empresas geridas pelos

empresários co-denunciados.

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Parte dos pagamentos, inclusive, foi feita por meio de cheques firmados

pelo denunciado DEMERVAL, em lugar de transferência eletrônica de débito, com o

propósito de permitir a retirada em espécie, que efetivamente ocorreu em 04 de março de

2011, valor de R$324.578,41, favorecendo a contratada Formato e seus dirigentes, e em 18,

de março, 03 de maio e 22 de junho de 2011, valores de R$100.426,82, 71.685,40, 28.987,40,

171.976,22 e 35.846,00, favorecendo a contratada Adão de Paula ME e seus gestores;

possibilitando, com tais atos, a ocultação dos beneficiários finais e reais titulares desses

recursos desviados.

Por fim, sempre no propósito de assegurar a impunidade para as outras

condutas criminosas, sumariadas acima e abaixo detalhadas, HAMILTON, HÉLIO

CORREA, FRANCISCO BARBOSA e RICARDO CARVALHO DE LIMA, sob a liderança

de DEMERVAL, deliberadamente dificultaram o acesso do Ministério Público aos processos

administrativos de contratação das empresas dos co-denunciados, recusando-se como sua

atitude a fornecer elementos técnicos indispensáveis para conclusão de inquérito civil

público, instaurado na PRM de Nova Friburgo em 24/01/2011, que apurava suspeita, depois

robustecida, de prática de atos de improbidade administrativa no emprego das verbas federais

transferidas para atender necessidades emergenciais decorrentes da catástrofe provocada com

a tempestade. Acesso que só foi alcançado por meio de medida judicial.

Da fraude à lei das licitações.

O denunciado DEMERVAL, dirigindo a ação e secundado pelos

denunciados MARCELO VERLY, que agiu na condição de Secretário de Educação,

RICARDO CARVALHO LIMA, na condição de Secretário de Governo e HÉLIO CORREA,

na condição de Secretário de Obras, promoveram a contração direta da Cheinara Detilar de

Imunização (Adão de Paula ME) aos serviços objeto dos Processos Administrativos

850/2011, 854/2011, 857/2011, 8774/2011 e 8775/2011 (este último sequer foi formalizado);

DEMERVAL, secundando por RICARDO e HÉLIO, auxiliado por JEFERSON CORDEIRO,

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na qualidade de Presidente da Comissão Permanente de Licitações da municipalidade

promoveram a contração direta da Vital Engenharia Ambiental aos serviços objeto dos

Processos Administrativos 818/2011 e 001/2011 e a contratação direta da Formato de

Friburgo, relativamente aos serviços objetos dos Processos Administrativos 819/2011,

7063/2011 e 12.595/2011; DEMERVAL, secundado por RICARDO e VANOR PACHECO,

este agindo na condição Secretário de Serviços Públicos, e auxiliado por JEFERSON

CORDEIRO, na qualidade de Presidente da Comissão Permanente de Licitações da

municipalidade, promoveram a contração direta da Terrapleno Terraplanagem e Construção

Ltda, aos serviços objeto dos Processos Administrativos 848/2011 e 012/2011 e a

contratação direta da Nativa Glicério Manutenção e Reformas Ltda, aos serviços objeto dos

Processos Administrativos 822/2011, 851/2011 e 11877/2011.

Todas as contratações referidas foram realizadas com dispensa de licitação

com alegado fundamento no art. 24, IV da Lei nº 8.6666/90 e deram causa a desembolsos

suportados por recursos transferidos pela União Federal, vinculados ao já mencionado Termo

de Compromisso 001/2011, portanto, destinados exclusivamente a gastos das ações de

socorro, assistência às vítimas e restabelecimentos dos serviços essenciais afetados pela

catástrofe, nos termos do art. 4º da Lei nº 12.340/2010 e da Portaria nº 26/2011 do Ministério

da Integração Nacional.

Em todas as contratações destacadas na presente denúncia houve simulação,

os processos de contratação foram produzidos depois de os prestadores já terem sido

arbitrariamente escolhidos, dos preços ajustados e com os serviços em curso. Os processos

foram montados de forma tão acintosamente descuidada que apresentam data de 27 de janeiro

de 2011 embora tenha sido apurado que as contratadas Vital, Formato e Nativa iniciaram a

prestação dos serviços em 13 de janeiro, a Cheinara em 17 de janeiro e a Terrapleno em 19 de

janeiro.

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A primeira evidência da fraude na dispensa de licitação para contratação da

Adão de Paula ME no contrato objeto do PA 850/2011 e de desvio dos valores pagos é o

próprio objeto contratado. Foi contratada a desincetização, desratização e descupinização,

além de limpeza de caixas d'água e cisternas de todas as 133 unidades escolares do

município. Todavia, como foi observado no relatório da CPI da Câmara de Vereadores, nem

todas as unidades foram atingidas pela catástrofe. Não sofreram danos, por exemplo, as

unidades localizadas em Lumiar, São Pedro da Serra, Boa Esperança, Alto de Olaria,

Braunes, Cônego, Castinha e Catarcione, isto é, pelo menos 41 escolas não foram atingidas,

quais sejam: Acyr Spitz, Alberto Meyer, Américo Ventura Filho, Bela Vista, Cecília

Meireles, Conceição Cortes Teixeira, Emília Adelaide Ferreira, Flores de Nova Friburgo,

Hermenegildo Gripp, Jamile Constantino Klein, João Vicente Valladares, Padre Rafael,

Princesa Izabel, São José, São Judas Tadeu, São Pedro da Serra, Waldir Lopes de Carvalho,

Galdinópolis, Rio Bonito I, Rio Bonito II, Nossa Senhora de Nazareth, Alair Campos

Ouverney, Boa Esperança EEM, Boa Esperança EM, Bocaina dos Blaudts, Nossa Senhora de

Fátima, Ribeirão da Voltas, Laper Lyra Fagundes, Hermógenes Heringer, Manoel Antônio

Sodré, Cascata, Bonaventure Bardy, Celcyo Folly, Henrique Carlos Heckert, Lina Rosa dos

Santos, Herondino José da Rosa, Thedim Aor, João de Almeida, Fazenda Branca, Luiz

Fonseca e Sítio dos Affonsos.

Além disso, muitas unidades foram destruídas, condenadas ou

integralmente inutilizadas, dispensando, por óbvio, aqueles serviços contratados. E não

convence a justificativa apresentada pelo denunciado RICARDO CARVALHO DE LIMA à

CPI, de que os serviços teriam sido prestados nos locais para os quais as atividades das

unidades inutilizadas foram transferidas, em primeiro lugar, porque não explica a dispensa da

licitação para serviços em unidades não atingidas pela calamidade, em segundo lugar porque

como regra as atividades das unidades impedidas de funcionar foram deslocadas para outras

unidades da própria rede escolar municipal, o que, no mínimo, importaria em duplicidade de

pagamentos.

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A segunda evidência, que por si também configura crime, está no uso, por

parte dos gestores aqui denunciados que conduziram a contratação, de documento falso em

nome da firma HR SERRANA DESINSETIZADORA LTDA, que usa o nome fantasia de

Truly Nolem Pest Control, nos PAs 850/2011 e 857/2011, para simular cotação, visando

ardilosamente fazer crer que foi selecionada proposta vantajosa para a administração, fora o

fato de também não terem sido cumpridas as exigências do art. 26 da Lei nº 8.6666/90.

A terceira evidência, em si também caracterizadora de falso está na

apresentação dos preços em nome da firma contratada e da firma cujo nome foi

indevidamente utilizado em data de 27 de Janeiro de 2011, posterior aos atos que

supostamente fundamentariam a contração tais como Nota de Autorização de Despesa e

requisição de parecer da Procuradoria da Prefeitura, firmada pelo denunciado MARCELO

VERLY, datadas de 26 de janeiro, parecer do denunciado HAMILTON, datado de 19 de

Janeiro (?!?!), parecer da Controladoria, resposta de VERLY ao parecer e autorização do

Controlador para prosseguimento, datados de 26 de Janeiro.

A manipulação pode ser ilustrada com a falsidade que buscava dar

aparência de legalidade na contratação da Formato. JEFFERSON CORDEIRO, o Presidente

da Comissão Permanente de Licitação e amigo de infância além de ex-concunhado de

RICARDO CARVALHO LIMA, ou seja pessoa da estrita confiança do principal colaborador

do Chefe do Executivo no emprego das verbas para atenção à catástrofe, teria solicitado em

correspondências datadas de 19/01/2011, orçamentos às empresas Venire Construtora Ltda. e

RRM de Friburgo Artefatos de Cimento e Construções Ltda., bem como à própria Formato.

DEMERVAL e RICARDO concluíram a coleta de orçamentos no dia 20/01/2011, quando a

solicitação de orçamento foi recebida pela Venire, sem aguardar que a empresa em questão

apresentasse proposta, não tendo havido sequer o cuidado de certificar o eventual

desinteresse.

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A única empresa a supostamente apresentar orçamento, além da pessoa

jurídica contratada, foi a RRM. No entanto, a proposta subscrita no dia 20/01/2011 pelo

denunciado RONALD RAMOS MACKENZIE, revela-se em si mesma um embuste, seja

porque a dita empresa já não operava há anos no endereço da Rua Maranhão, 32, Nova

Friburgo, ao qual foi endereçada a solicitação do orçamento, seja porque a firma estivesse

com o seu registro junto ao CREA cancelado desde 27/10/2010, não possuindo responsável

técnico pela atividade de engenharia civil desde 2005, ou empregados para o serviço, ou

mesmo veículos que cotou, seja especialmente porque só veio a se regularizar em data

posterior quando foi subcontratada exatamente pela Formato, fato revelador das relações

estreitas entre ambas.

Esta grosseira e criminosa manipulação nas datas nas Notas de Autorização

de Despesa, nos Pareceres e nas Decisões Homologatórias, sinal inconteste de que houve dolo

por parte dos denunciados que integravam a cúpula da administração municipal tanto na

dispensa da licitação fora da lei, quanto na inserção de dados falsos e uso de documento falso

para dar aparência de legalidade ao procedimento espúrio, com inconsistência também do

emprego dos números de protocolo, antecipadamente reservados para encobrir depois a

irregularidade dos procedimentos, se repete em todos os processos administrativos acima

mencionados. Em todos eles há pareceres do denunciado HAMILTON, simulação de atos de

seleção por parte dos denunciados RICARDO, HÉLIO, VERLY, VANOR e JEFFERSON e

autorização expressa de DEMERVAL.

Do desvio dos recursos federais transferidos para socorro da catástrofe.

Outro ilícito apurado foi o favorecimento à Adão de Paula ME. Os

documentos de movimentação da conta bancária aberta para trânsito dos recursos repassados

pela União à municipalidade por força do tantas vezes mencionado Termo de Compromisso

01/11 registam pagamentos à firma gerida pelos denunciados ADÃO e ALAN CARDECK,

que usa o nome fantasia de CHEINARA DETILAR DE IMUNIZAÇÃO, no valor de R$

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603.778.72. Parte deste valor, mais precisamente 431.802,50 remunera serviços contratados

(embora, como já foi dito, com violação da lei) nos PAs 850/11, 854/11, 857/11 e 8774/11,

outra parte, ou seja, R$171.976,22 foram desviados do patrimônio público em favor da

empresa privada, sem qualquer pretexto e, portanto, com desvirtuamento da destinação

devida aos valores creditados naquela conta corrente.

Tais recursos foram pagos mediante cheque de nº 850087, emitido por

DEMERVAL em 21/06/2011 e descontado no dia seguinte, em espécie, junto à boca do

caixa, com o acompanhamento pessoal da transação por parte do denunciado IRAN

FERREIRA, na ocasião gerente do Gabinete do denunciado DEMERVAL. Estes recursos que

se imputa terem sido desviados, não podem ser tomados como pagamentos referentes ao PA

8775/2011 já que há forte evidência de que antes de 12/07/2011 este processo administrativo

não tinha existência de fato, pois não foi encontrado pelo Oficial de Justiça na diligência de

apreensão determinada pela Justiça Federal em Nova Friburgo (nos autos nº 0000521-

75.2011.4.02.5105 - 2011.51.05.000521-9), não foi apresentado seja ao Juízo seja ao MPF

quando requisitada toda a documentação pertinente ao auxílio para fazer frente à catástrofe,

não ter sido mencionado pelos beneficiados, nas declarações prestadas ao Ministério Público

Federal sobre os fatos objeto da presente denúncia (dias 21/07/2011 e 14/10/2011), quaisquer

serviços que correspondam a tal “processo”, e não há notícia de publicação da abertura do

mesmo na imprensa oficial.

Além disso, DEMERVAL, com a colaboração de RICARDO CARVALHO

LIMA e de MARCELO VERLY, usando de suporte o PAs 850/11 e 857/11, favoreceram

ADÃO e ALAN CARDECK com o pagamento de serviços não executados ou apenas

parcialmente executados, tais como o suposto combate a vetores e limpeza de reservatórios

de água nas Escolas Izabel Jovelilna Monteiro e João Batista Faria (Cabrita), integralmente

destruídas; descupinização não realizada em 133 unidades escolares e 26 unidades de saúde

(como por exemplo as Escolas Paula Frassinetti e Odete Pena Muniz, os Hospitais Raul Sertã

e Maternidade Nova Friburgo, os Postos de Saúde Tuney Kassuga e São Geraldo e a Unidade

de Saúde da Família de Amparo), fato admitido por ALAN CARDECK na instrução do

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Inquérito Civil Público que seve de peça de informação a presente denúncia e confirmado

com o depoimento de Maria Christina Gonçalves Fernandes Brum, da diretora da Escola

Santa Paula Franssinetti; e limpeza dos reservatórios de água, serviço pago como tendo sido

realizado com uma equipe de apenas 18 pessoas em 15 unidades, no dia 15/2/2011, 16

unidades, no dia 16/2/2011 e mais 11 unidades, no dia 19/2/2011, algo absolutamente

inverossímil principalmente porque a mesma equipe é apontada como responsável

simultaneamente pela desinsetização e desratização de 25 escolas no primeiro dia, 16 escolas

no segundo dia e 11 escolas no terceiro dia (fora o fato de que, como é notório, nestas datas a

infraestrutura para deslocamento no município ainda estava comprometida).

Reforça a convicção de que houve delito o fato de que durante a apuração

civil do órgão ministerial em primeiro grau de jurisdição os representantes da firma

favorecida, aqui denunciados, apresentou boletins de análise de amostra de água

supostamente colhida nas unidades relativamente à quais houve pagamento para realização do

serviço emitidos em data anterior (!?!) às datas anotadas nos respectivos certificados que

constam dos processos administrativos como sendo a da prestação do serviço indevidamente

pago por ordem dos agentes públicos co-denunciados em pelo menos 15 unidades (Escolas

Adriano Afonso Freitas, Anna Barbosa Moreira, Carmem Rodrigues de Souza, Dante

Magliano, Dinah Lantimant Bravo, Honório Tardin, Rei Alberto I, Tiradentes, Francisco

Ouverney, Monsenhor José Antônio Teixeira, Rio Bonito II, Alair Campos Ouverney,

Ernesto de Souza Cardinot, Flor do Ypê e Herondino José da Rosa).

Apurou-se que em algumas unidades o serviço foi prestado, porém,

tardiamente, como no caso da Unidade de Saúde da Família de São Pedro da Serra, saneada

sete meses depois da catástrofe, pois o serviço lá foi realizado em agosto de 2011. Ora, a

situação emergencial que serviu de pretexto para a contração direta àquela altura já não daria

cobertura legal para o serviço e, portanto, para o desembolso correspondente. Além do mais o

uso dos certificados que atestam falsamente o serviço e dos boletins de análise, perante a

administração e os órgãos de fiscalização e de controle, também configura crime.

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Houve também ilícito com o favorecimento ilegal e deliberado à Vital

Engenharia Ambiental S/A, gerida pelo denunciado ROBERTO AVELAR. A empresa foi

beneficiada por DEMERVAL, em concurso com RICARDO CARVALHO LIMA e HELIO

CORRÊA, com os pagamentos indevidos a título de contraprestação por equipamentos de

proteção individual – EPI e por ferramentas manuais de trabalho, servindo-se do PA 818/11,

na ordem de R$102.563,18 (computados os 25% de benefícios e despesas indiretas), itens que

já integravam o preço estipulado e pago a título de mão-de-obra e de administração local dos

serviços, tal como veio ser constatado pela Controladoria-Geral da União em Relatório de

Fiscalização que integra as peças de informação à presente denúncia. Vale destacar serve de

evidência da duplicidade de cobrança o fato do custo de mão-de-obra e administração local

pago em valores de R$531.006,98 e R$148.384,19 (sem computar benefícios e despesas

indiretas) excederem a estimativa inicial da prefeitura com base na Tabela da EMOP.

Nestes fatos, a atuação de HELIO CORRÊA agindo na condição de

Secretário de Obras foi determinante, na medida em que houve solicitação de esclarecimento

do Coordenador de Controle Interno da Prefeitura sobre o pagamento em destacado destes

itens e o gestor, atuando com “cegueira deliberada”, omitiu-se sobre este questionamento no

despacho que viabilizou a contratação nos termos lesivos ao patrimônio público. O modo de

realização da conduta delituosa foi particularmente grave, pois houve antecipação de

pagamento do valor total no primeiro Boletim de Medição, referente aos serviços de

19/1/2011 a 02/02/2011, sendo certo que os serviços se estenderam até 18/4/2011 e portanto,

não é crível que os equipamentos e ferramentas tenham sido consumidos tão rapidamente.

Por outro lado RICARDO CARVALHO LIMA, com a conivência

criminosa de DEMERVAL que tinha o domínio da administração municipal com o poder e o

dever de evitar a conduta do seu colaborador direto e subordinado, e auxiliado por

ANTONIO CARLOS MESQUITA e de ANTONIO DUARTE PRATTI, integrantes da

comissão especial mista de fiscalização, ordenou o pagamento de despesas concernentes ao

uso de veículos, máquinas, materiais, equipamentos e mão-de-obra contratos pela Prefeitura à

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Vital com recursos federais, empregados em serviços de limpeza de estabelecimentos de

empresas privadas, mais exatamente a Fabrica de Rendas ARP, nos dias 19, 20, 21 e

22/1/2011 e Fábrica DALLEC nos dias 24, 25, 26, 27 e 28/01/2011, importando no desvio de

R$95.535,78.

Este fato foi igualmente constatado no Relatório de Fiscalização da

Controladoria-Geral da União, não havendo dúvida sobre o conhecimento pelos agentes

públicos do desvirtuamento da destinação dos valores porque assinalados nos relatórios de

Medição Diária dos Serviços e nas planilhas de Controle de Equipamentos e Mão de Obra por

Frente de Serviço, ilustrados por fotografias apontando a execução de serviços no interior dos

estabelecimentos privados.

Houve também por parte de RICARDO CARVALHO LIMA, sempre com

a conivência criminosa de DEMERVAL, e mais uma vez auxiliado por ANTONIO CARLOS

MESQUITA e de ANTONIO DUARTE PRATTI, integrantes da comissão especial mista de

fiscalização, pagamento de outros serviços medidos com falsidade de declarações.

Importa notar que a criação desta comissão, em ato com efeitos retroativos

(Ordem de Serviço nº 02/2001, publicada em 02/03/2011, ou seja, depois da requisição de

informações pela auditoria do TCU, com efeitos retroagindo a 13/01/2011) com incumbência

de fiscalização de todos os contratos celebrados em caráter emergencial pela Prefeitura, a

despeito da diversidade dos objetos, da dispersão por toda a extensão territorial do Município

e da frequente prestação simultânea, demonstra o dolo de fraudar no uso das verbas federais,

da parte da cúpula da gestão local.

Destaque-se que a comissão mista, integrada por ANTONIO CARLOS

MESQUITA, ANTONIO DUARTE PRATTI e por Fabiano de Cristo Gouvêa Aragão deu

aparência de legalidade ao conjunto dos contratos, incluídos os de todas as empresas

indevidamente favorecidas, todavia, Fabiano não atestou a execução de nenhum dos contratos

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celebrados no período de calamidade pública, razão pela qual, não lhe é imputada

responsabilidade pelos ilícitos aqui denunciados.

Assim, é forçoso concluir que as planilhas de controle de equipamentos e

mão de obra por frente de serviço, relativas ao contrato com a empresa dirigida por

ROBERTO AVELAR, entre 19/01/2011 e 14/03/2011, não são, como deveriam ser,

contemporâneas à execução dos serviços, tudo isso permitindo pagamentos indevidos, como

transparece das inconsistências nos boletins de medição apreendidos por ordem judicial,

planilhas e notas fiscais, tendo sido obtida planilha de retificação no PA 818/11, apresentada

pela Vital, com “de acordo” de RICARDO CARVALHO LIMA, que modifica as horas de

serviço indicadas sem variação do valor global. Tudo indica, portanto, que os agentes

públicos deliberaram por pagar qualquer valor cobrado pelos empresários beneficiados,

escolhidos sem competição, lembre-se, falseando os processos administrativos para dar

aparência de controle e regularidade.

Esta convicção se reforça com as incongruências relatadas pela CGU,

constatadas na execução do contrato com a Vital, tais como o emprego de sacos de lixo em

quantidades incompatíveis com o serviço declarado como tendo sido executado (984 fardos

de sacos de lixo de 100 litros para retirada de solo e entulho, com impacto de R$29.028,00) e

pagamentos em antecipação à entrega dos bens ou à realização dos serviços.

Outro modo de desvio, sob a forma de pagamento indevido por serviços é

constatada no pagamento de serviços sobrepostos. Os agentes públicos denunciados

ordenaram e anuíram com o pagamento à Adão e à Vital, em duplicidade, como se deu no

pagamento para desentupimento de bueiros e galerias na Praça General Osório, alegadamente

realizado pela Adão em 14/1/2011 e no pagamento para limpeza/desobstrução de bueiros,

boca de lobo e transporte para bota-fora na RJ 130 na mesma Praça em 19/01/2011,

alegadamente realizado pela Vital.

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Também anuíram e ordenaram pagamento à Vital, em duplicidade pela

sobreposição de objetos e com falta de cobertura. A empresa foi contratada para execução de

serviços de limpeza, raspagem, varrição, lavagem de vias públicas e logradouros dos 2º, 3º,

4º. 5º. 6º, 7º e 8º Distritos da Cidade, conforme PA 818/11, mas lhe foram pagos serviços

realizados no 1º Distrito, contratados e pagos à Terrapleno conforme PA 848/11.

Conforme foi apurando no ICP que tramitou na Procuradoria da República

em Nova Friburgo e que, repita-se, serve de peça de informação subsidiando o oferecimento

da presente denúncia, nos Processos Administrativos nos 7063/2011 e 12595/2011, consciente

do fato de não haver comprovantes da prestação efetiva dos serviços, o denunciado HÉLIO

CORRÊA solicitou, respectivamente em 19/04/2011 e 21/06/2011, o denunciado RICARDO

CARVALHO DE LIMA homologou, por meio de ato não datado e em 04/07/2011, e o

denunciado DERMEVAL ratificou, também mediante ato não datado e em 04/07/2011, a

realização de pagamentos no total de R$ 814.300,14, em favor da empresa Formato de

Friburgo Construções e Empreendimentos Ltda. (PA nº 7063/2011, fls. 01 e 03; PA nº

12595/2011, fls. 03 e 23).

Recorde-se que a empresa prestadora, gerida pelos co-denunciados SAVIO

e ALEXANDRE REZENDE, como já se disse, foi escolhida sem necessária licitação. Atrai

atenção o fato de que a empresa Formato de Friburgo Construções e Empreendimentos Ltda.,

cujo gestor mais tarde veio a patrocinar viagem de DEMERVAL ao exterior, foi contratada

pelos valores máximos previstos para cada item na planilha orçamentária da Prefeitura

Municipal, salvo por ligeira redução de BDI de 25% para 20%, com o objetivo de dissimular

o direcionamento da contração.

Houve, também, desvio com pagamento a maior pelos serviços. Note-se

que na planilha que serviu de base para contratação os custos unitários máximos dos itens

foram estipulados com base na tabela da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de

Janeiro - EMOP referente a 12/2010 (PA nº 819/2011, fls. 13/15). Todavia, nos termos do art.

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127 da Lei nº 12.309/2010, por se tratar de serviços de engenharia contratados e executados

com recursos públicos federais os custos deveriam, necessariamente, ter respeitado os limites

do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil – SINAPI da Caixa

Econômica Federal, o qual retrata os preços médios correntes no mercado.

Um dos itens constantes da planilha orçamentária consistiu no custo horário

de caminhão basculante, no toco, capacidade 5,00m3, motor diesel 132cv, incluindo

motorista (CP). Para tal item, o SINAPI, sob o nº 73306, com referência a 12/2010, registra o

valor de mercado de R$ 73,73. DERMEVAL e RICARDO CARVALHO DE LIMA, de

foram ilegal, subscreveram requisições de serviços aprovando valores superiores aos devidos

para o item em questão: R$ 76,73, nos Processos Administrativos nº 819/2011 e 7063/2011, e

R$ 82,07, no Processo Administrativo nº 12595/2011 (PA nº 819/2011, fls. 12; PA nº

7063/2011, fls. 02; PA nº 12595/2011, fls. 04).

Esta situação não escapou ao crivo dos Procuradores da República que

promoveram Ação de Improbidade em face de alguns dos ora denunciados. Na peça os fatos

foram assim sintetizados:

Ao autorizarem contratações por valores superiores ao do SINAPI, esses dois requeridos concorreram para causar dano ao erário no total de R$ 24.388,99, já incluído o BDI de 20% que incidiu sobre os custos

praticados para o item em apreço, conforme discriminado na tabela abaixo:

PA QUANTIDADE VALOR UNITÁRIO

PRATICADO

VALOR UNITÁRIO

SINAPI

DIFERENÇA UNITÁRIA

PREJUÍZO

819/2011 1540 H R$ 76,73 R$ 73,73 R$ 3,00 R$ 4.620,00

7063/2011 2110 H R$ 76,73 R$ 73,73 R$ 3,00 R$ 6.330,00

12595/2011 1124 H R$ 82,07 R$ 73,73 R$ 8,34 R$ 9.374,16

DIFERENÇA SOMADA R$ 20.324,16

SOBREPREÇO TOTAL (INCLUÍDO BDI DE 20%) R$ 24.388,99

E há mais. O valor pago pela hora trabalhada por caminhão basculante foi

ainda mais elevado nos serviços objeto do Processo Administrativo nº 12595/2011, fato que

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não se justifica, sobretudo porque, relativamente aos meses 05/2011 e 06/2011, entre os quais

teriam sido executados tais serviços, o SINAPI registra que o custo de tal item decresceu para

apenas R$ 72,50.

A certeza de que tanto DERMEVAL quanto RICARDO CARVALHO DE

LIMA tinham ciência de que deveriam adotar como limite para as contratações os índices do

SINAPI, decorre de que em 18/02/2011, antes mesmo da celebração do primeiro Termo de

Reconhecimento de Dívida, no Processo Administrativo nº 819/2011, ambos receberam a

Recomendação Conjunta MPF/MPRJ nº 01/2011, que sublinhou a exigência legal no sentido

de que se adotasse: "como limite para o custo global das obras e serviços de engenharia,

composições de custos unitários, previstas no projeto, menores ou iguais à mediana de seus correspondentes no Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil –

SINAPI, mantido e divulgado pela Caixa Econômica Federal, e, no caso de obras e serviços rodoviários, à tabela do Sistema de Custos de Obras Rodoviárias – SICRO, excetuados os

itens caracterizados como montagem industrial ou que não possam ser considerados como de construção civil, na forma do art. 127 da Lei n° 12.309/2010".

Tal convicção se fortalece uma vez que, na intenção de legitimar os valores

praticados, foi juntado aos próprios autos do Processo Administrativo nº 819/2011 impressão

de consulta ao SINAPI, com data de emissão de 09/02/2011, tendo como referência o mês

01/2011, o que torna claro que mesmo antes de receberem a Recomendação os denunciados

já sabiam qual limite deveriam adotar para as contratações (PA nº 819/2011, fls. 132/135); a

despeito da consulta, posta nos autos com evidente dolo de iludir, não conter os valores

médios praticados no Rio de Janeiro, mas sim os válidos para Rio Branco, no Estado do Acre.

DEMERVAL, sempre secundado por seu Secretário de Governo e co-

denunciado RICARDO CARVALHO LIMA, contando a colaboração de VANOR

PACHECO, que agiu na condição de Secretário de Serviços Públicos e com o auxílio de

JEFFERSON CORDEIRO, que presidiu a Comissão Permanente de Licitações do Município,

favoreceu o denunciado ALFREDO CHRYSOSTOMO, gestor da Terrapleno Terraplenagem

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e Construção Ltda., a quem foram pagos com recursos federais o valor total de R$

2.054.808,43, com amparo em contração dirigida que resultou no PA 848/11.

Muito embora o contrato pretexto reconheça a prestação de serviços a partir

de 19/01/2011, o denunciado VANOR PACHECO atuando para dar uma aparência de

regularidade ao favor, assinou, com data de 26/01/2011, pedido de contração de empresa

especializada na limpeza de vias públicas e, na mesma data, o denunciado RICARDO

CARVALHO LIRA, ordenador de despesa, endossou o pleito e o submeteu ao denunciado

DEMERVAL que, em ato mais uma vez datado de 26/01/2011, afirmou falsamente que

estava autorizando a contratação, ocultando a informação juridicamente relevante de que essa

já havia sido escolhida e já havia iniciado a prestação de serviços. Tal como, de resto, se

repetiu em todas as contrações aqui denunciadas.

Prosseguido na fraude, DEMERVAL e RICARDO dirigiram requisição do

serviço a JEFERSON MARTINS CORDEIRO, Presidente da Comissão Permanente de

Licitação, o qual, sabedor de que os serviços já estavam sendo prestados e a firma escolhida,

por meio de correspondências datadas de 27/01/2011, solicitou orçamentos às empresas Vital

Engenharia Ambiental S/A, Estrutura 67 Construções e Serviços Ltda, Engetécnica Serviços

e Construções e, evidentemente, à previamente escolhida Terrapleno.

Tudo indica que a simulação envolveu a aposição de datas falsas nos

documentos acima referidos, que podem ter sido produzidos depois de 28/01/2011 e de que

pelo menos JEFERSON CORDEIRO se não até as empresas que receberam as solicitações de

orçamento concorreram conscientemente para a fraude.

Como foi apontado em ação de improbidade administrativa ajuizada pelo

MPF em Nova Friburgo, na solicitação inicial do processo de contratação direta VANOR

“justificou a necessidade dos serviços de limpeza urbana afirmando que a Companhia de

Limpeza Urbana da Cidade do Rio de Janeiro – COMLURB, que viera a Nova Friburgo em auxílio às autoridade locais, havia se desmobilizado na “sexta feira próxima passada”,

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sendo que em Termo de Referência anexo àquela solicitação acrescentou que a “suspensão da execução dos serviços prestados pelos funcionários da Companhia de Limpeza Urbana

do Município do Rio de Janeiro” dera-se “a partir do dia 28 de janeiro do corrente” (PA nº 848/2011, fls. 04 e 06; grifou-se). O dia 28/01/2011 foi efetivamente uma sexta-feira, de

modo que tanto o expediente subscrito pelo Secretário Municipal de Serviços Públicos, que a tal data se referiu no passado, quanto os atos subsequentes do Prefeito Municipal em

exercício, do Secretário Municipal de Governo e do Presidente da Comissão Permanente de Licitação podem ter sido na realidade praticados de 29/01/2011 em diante.”

A possibilidade da simulação ter sido posta em prática em data posterior a

28/01/2011 permitiria supor que as empresas que receberam as solicitações de JEFERSON

aderiram à farsa antedatando os atos que praticaram. Isso é especialmente plausível no que

diz respeito à empresa Vital, que também foi favorecida pelos dirigentes municipais e que

apôs na solicitação de orçamento que lhe foi encaminhada recibo datado de 27/01/2011, com

rasura sob a qual se vislumbra a data de 27/02/2011.

Todavia não há nas peças de informação reunidas elementos que forneçam

justa causa para imputação de crime em face dos gestores das demais empresas que

receberam solicitações de propostas de preços, apesar de haver motivos para suspeitar da

ESTRUTURA 67 CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA cujo expediente também foi

datado de 27/01/2011 e que em proposta para itens idênticos, no âmbito de outro Processo

Administrativo da Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, o de nº 818/2011, cotou preços

divergentes.

Também chama a atenção a circunstância de que, na fase de Inquérito Civil,

havendo sido requisitadas informações à ESTRUTURA 67 CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS

LTDA. e à ENGETÉCNICA SERVIÇOS E CONSTRUÇÕES LTDA, por meio de ofícios

distintos a primeira apresentou resposta fazendo referência, não ao ofício que lhe fora

dirigido (OF/PRM-NF/2ºOFÍCIO/BR/Nº367/11), mas sim ao endereçado à ENGETÉCNICA

(OF/PRM-NF/2ºOFÍCIO/BR/Nº384/11), fato que revela haver vínculo entre ambas. Merece

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nota que a ENGETÉCNICA SERVIÇOS E CONSTRUÇÕES LTDA. em resposta ao órgão

de atuação do Ministério Público em primeira instância admitiu manter “vínculo eventual e

temporário com a Terrapleno Terraplenagem e Construção Ltda., através da Sociedade em Conta de Participação que tem como objeto a execução de obras no bairro Eldorado,

Município de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro”. Assim, se tais

circunstâncias não são suficientemente fortes para embasar a incriminação dos gestores da

ESTRUTURA 67 e da ENGETÉCNICA, são indícios veementes de que a contração da

Terrapleno foi uma fraude.

Os agentes públicos denunciados também praticaram o desvio e utilização

indevida de verba pública ao efetuarem prorrogação manifestamente ilegal do contrato

firmado com a empresa Terrapleno. Inicialmente ficou estabelecido um prazo de 90 dias para

que fossem prestados os serviços diretamente ajustados, como foi visto, mediante dispensa de

licitação, sob pretexto da situação calamitosa. Portanto, o contrato para execução dos serviços

iniciados em 19/01/2011 era improrrogável, na forma do que estabelece o art. 24, IV da Lei

nº 8.6666/93.

Todavia, DEMERVAL firmou aditivos prorrogando o contrato da Prefeitura

com a Terrapleno, em 19/04/2011 e em 18/05/2011, seguindo manifestação favorável de

RICARDO CARVALHO, datadas de 06/04/2011 e de 20/05/2011. Reforça a conclusão pelo

dolo os fatos de que a contratação já foi ilícita e na data do primeiro aditivo o contrato já

estava expirado, não ter havido qualquer fato extraordinário e imprevisto na execução e

prosseguimento dos serviços não ser indispensável à segurança das pessoas e bens afetados

pelas chuvas. O argumento usado para prorrogação, isto é, atrasos decorrentes de

precipitações pluviométricas só teria justificado a medida excepcional se as chuvas tivessem

excedido o habitual e, por fortuna, não há registros de novas chuvas atípicas nos meses que se

seguiram imediatamente à tragédia de janeiro de 2011.

O verdadeiro intento foi satisfazer, com verbas públicas, o interesse privado

da firma gerida pelo denunciado ALFREDO, tanto que na segunda prorrogação a firma

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chama atenção para a existência de saldo financeiro empenhado na realização do objeto do

contrato reclamando a prorrogação por trinta dias ou até “o exaurimento do saldo financeiro

empenhado, o que ocorrer primeiro”.

Importa notar que conforme foi apurado no Inquérito Civil “nos últimos dias do prazo inicialmente previsto para a execução do contrato, os serviços prestados pela

empresa requerida, em grande parte, já não correspondiam a resposta à tragédia climática ocorrida em 12/01/2011.

Tal foi o que se constatou em diligência realizada pelo Ministério Público Federal em 13/04/2011, na companhia de fiscais da Prefeitura Municipal de Nova Friburgo, os quais não fizeram, no que diz respeito à empresa TERRAPLENO TERRAPLENAGEM E CONSTRUÇÃO LTDA., mais do que mostrar duas equipes pouco numerosas de funcionários em pausa de atividades ordinárias de varrição de logradouros que já não apresentavam sinais decorrentes das chuvas (Vol. I, fls. 139 e 144/162)1.

Após 19/04/2011, quando iniciou-se o primeiro período de prorrogação contratual, os serviços prestados por essa empresa envolveram notadamente a conservação da limpeza de vias públicas, afastando-se substancialmente das ações de “atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares”, das quais trata o inciso IV do art. 24 da Lei nº 8.6666/1993, como fundamento para a dispensa de licitação.

É isso o que se vê nos Relatórios Fotográficos apresentados pela pessoa jurídica em questão, relativamente aos períodos de 19/04/2011 a 18/05/2011 e de 19/05/2011 a 18/06/2011, que em muitas imagens retratam funcionários desempenhando tarefas que já não poderiam ser qualificadas como de resposta ao desastre.

O 4º e o 5º Boletins de Medição, que correspondem aos períodos citados, revelam a mudança na natureza dos serviços prestados após a prorrogação contratual: esses dois últimos Boletins de Medição deixaram de consignar

1 Essas duas equipes achavam-se em pausa para almoço na Via Expressa e nas proximidades da Ponte da Saudade. Bem assim, avistou-se 01 carrinho de mão e 02 carrinhos de lixo na Rua Tiradentes, próximos a caminhão não identificado. Além disso, prosseguindo por conta própria na diligência, o Ministério Público Federal logrou localizar, nas adjacências da Rua Carlos Éboli, outros funcionários da empresa, manejando maquinário na remoção de terra proveniente de encosta. Aí sim estava sendo executada atividade em resposta à tragédia, ainda dentro do prozo originário do contrato.

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as horas trabalhadas por tratores carregadeiras/retro-escavadeiras, engenheiros/arquitetos, encarregados, apontadores e vigias, mas mantiveram o registro das atividades desenvolvidas pelos feitores e serventes que continuaram mobilizados para a conservação da limpeza dos logradouros públicos.”

Portanto, quando da prorrogação ilegal os serviços continuados eram

ordinários e poderiam ser desenvolvidos pelos servidores municipais e já não guardavam

pertinência com a destinação vinculante das verbas federais transferidas para socorro à

tragédia. Isto torna ilícito o emprego dessas verbas para pagar os serviços desenvolvidos pela

Terrapleno no período da prorrogação do Contrato Emergencial. No entanto, por ação direta

de DEMERVAL e de RICARDO e com benefício de ALFREDO, houve desembolso de R$

288.811,70 e R$ 298.498,33, relativamente à 4ª e à 5ª medições, vale dizer, para os serviços

correspondentes ao período de prorrogação.

Em 26/01/2011 o denunciado DEMERVAL NETO também autorizou, com

a chancela de RICARDO CARVALHO LIMA, solicitação de VANOR para contratação de

materiais e serviços de terceiros, incluindo material e ferramentas, tais como uniformes,

bonés, luvas, capas de chuva, carrinho de mão, balde etc, no objeto a contratar junto à

Terrapleno, itens que, como foi exposto linhas antes relativamente ao contratado e pago à

Vital, já integravam o preço estipulado e pago a título de mão de obra e de administração

local dos serviços. Houve, portanto, pagamento em indevida duplicidade de R$38.136,45

(fora os 25% pagos a título de Benefícios e Despesas Indiretas – BDI) posto que estes itens

compunham o custo orçado de R$617.842,56 pela mão de obra e de R$94.900,00 pela

administração local dos serviços (também desconsiderados os 25% de BDI).

Também à semelhança do que foi feito na contração da Vital o Coordenador

de Controle Interno da Prefeitura solicitou esclarecimento sobre a inclusão para pagamento

em separados deste tipo de material, em um contrato de serviços, e VANOR ao se

pronunciar, com “cegueira deliberada”, omitiu-se sobre o questionamento.

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Mais uma vez com semelhança ao que foi narrado relativamente aos favores

à Vital houve, no que respeita à execução do contrato da Prefeitura de Nova Friburgo com a

Terrapleno, objeto do PA 848/11, pagamentos efetuados a despeito das inconsistências na

medição, constatadas no Relatório de Fiscalização elaborado pela CGU donde se destaca o

seguinte:

2 – Tendo em vista a natureza dos serviços prestados (retirada de material composto de solo e material orgânico proveniente de capina), não identificamos a necessidade de utilização de sacos de lixo, e na quantidade contratada, 2.150 fardos de sacos de 100 litros. Foram gastos R$ 63.575,50 com sacos de lixo.

3– Verificamos em registros de Relatório Fotográfico, fls. 121 a 133, que o equipamento trator carregadeira e retro-escavadeira foi subutilizado, ao menos em parte do tempo alocado. As fotos a seguir, tiradas do Relatório Fotográfico do processo, evidenciam que a retro-escavadeira não executava, no momento dos registros, serviços de escavação, e sim foi carregada pelos serventes para, em seguida, carregar o caminhão basculante para transporte do material. Foram gastos com horas de escavadeira, R$ 99.602,88.

(...)

- Incompatibilidade entre quantitativos de equipamentos que executam serviços de escavação e serviços de transporte do material.

- na 1ª medição foram declarados 2 caminhões basculantes e 1 trator/retroescavadeira para realizar as escavações, retirada de entulho;- na 2ª medição foram declarados 2 caminhões basculantes e 4 tratores/retro-escavadeiras;- na 3ª medição foram declarados 3 caminhões basculantes e 2 tratores/retro-escavadeiras;- na 4ª medição foram declarados apenas 5 caminhões basculantes; e- na 5ª medição foram declarados apenas 6 caminhões basculantes. Podemos observar que nas 4ª e 5ª medições não houve serviços de escavação ou utilização de equipamentos que fariam a carga no caminhão basculante, não havendo justificativa para utilização desse equipamento e ainda o aumento da quantidade do mesmo. Além disso, não podemos considerar que esse carregamento tenha sido feito por mão-de-obra, serventes, pois o quantitativo desse pessoal nesses meses também diminuiu: de 65 serventes na 3ª medição para 54 nas 4ª e 5 ª. Sendo assim,

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não foi possível identificar como foi feito o carregamento desses caminhões basculantes, questionamento que deveria ter sido feito pela contratante, a prefeitura, antes da aprovação da medição e pagamento dos serviços.

(...)

6 – Nas memórias de cálculo encaminhadas (resposta a SF 009), verificamos a fragilidade das demonstrações dos quantitativos. Há demonstração, com relação a equipamentos, apenas das horas utilizadas. Não foram comprovados o que foi executado com essas horas de equipamentos contratadas, o local onde as equipes executaram os serviços e o volume de material retirado e transportado para botas-fora

No que diz respeito à contratação ao arrepio da lei da Nativa Glicério,

formalizada nos PAs 822/11 e 851/11 além de sinais evidentes de simulação comuns aos

demais processos, com inconsistências das datas, padronização, ocultação dos contratos

apenas obtidos com ordem judicial, solicitação de contratação atribuída à Secretaria de Obras,

porém firmada pelo Secretário de Serviços Públicos, em papel timbrado da Secretaria de

Governo, algumas circunstâncias reforçam a certeza de delito: o não reconhecimento por

parte do denunciado SERGIO, gestor da empresa favorecida, das assinaturas que lhe são

atribuídas no contrato e na confissão de dívida; a justificativa por parte de VANOR de que a

escolha da prestadora se devia a ter apresentado a proposta mais vantajosa em termos de

preço, sem que existissem outras cotações e tendo o denunciado SERGIO declarado à CPI da

Câmara de Vereadores que o valor do serviço foi apontado pelo próprio VANOR.

Da execução destes contratos, sem qualquer controle por parte da

Municipalidade, resultou o desembolso indevido de verbas federais transferidas pelo

multicitado Termo de Compromisso 01/2011 no valor de R$47.461,20 (PA 822/11) e

R$17.376,26 (PA 851/11).

Das falsidades.

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A apuração civil das circunstâncias da contração emergencial feita para

atender, com o emprego de verbas federais, serviços impostos pela calamidade, revelou,

como já antecipado linhas acima, inúmeras falsidades. Houve inserção de dados falsos nos

processos administrativos, omissão de dados juridicamente relevantes e uso do falso na

formalização desses processos administrativos para dar uma aparência de regularidade ao

trato da municipalidade com os empresários antecipadamente escolhidos como destinatários

dos favores.

DEMERVAL, RICARDO CARVALHO, MARCELO VERLY, HELIO

CORREIA e HAMILTON foram responsáveis pela falsificação ideológica dos processos cujo

objeto é a contratação da Cheinara Detilar de Imunização (Adão de Paula ME), assim como

pela falsidade material da cotação atribuída à Truly Nolen Pest Control (HR Serrana

Desinsetizadora ltda); DEMERVAL, RICARDO CARVALHO, HELIO CORREIA,

HAMILTON e JEFFERSON foram responsáveis pela falsificação ideológica dos processos

cujo objeto é a contratação da Vital Engenharia e da Formato de Friburgo, contando,

relativamente à Formato, com a participação consciente e penalmente relevante de RONALD

MACKENZIE na apresentação de proposta falsa em nome da RRM de Friburgo Artefatos de

Cimento e Construções; DEMERVAL, RICARDO CARVALHO, VANOR PACHECO,

HELIO CORREIA, HAMILTON e JEFFERSON foram responsáveis pela falsificação

ideológica dos processos cujo objeto é a contratação da Nativa Glicério e Terrapleno e pelo

uso da falsidade material na assinatura do contrato e da confissão de dívida em nome da

Nativa Glicério, cuja autoria não ficou esclarecida.

DEMERVAL é individualmente responsável pela falsidade ideológica das

decisões homologatórias proferidas em todos os processos administrativos já citados;

RICARDO pela Notas de Autorização de Despesas; VERLY, HÉLIO e VANOR pelos

despachos que eles assinaram; HAMILTON pelos pareceres que justificam as contratações

diretas; JEFFERSON pela simulação de que haveria impessoalidade na contração, com

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solicitação de orçamentos a varias firmas; ANTONIO CARLOS MESQUITA e ANTONIO

PRATTI pela simulação de acompanhamento da execução dos contratos

Da ocultação de ativos.

Como foi dito linhas antes, em janeiro de 2011, a Prefeitura Municipal de

Nova Friburgo recebeu R$10.000.000,00 oriundos do Ministério da Integração Nacional, para

despesas de emergência necessárias em decorrência da catástrofe climática (transferência

autorizada pela Portaria ministerial nº 26, de 14/01/2011, DOU de 17/01/2011, Nota de

Empenho 2011NE000001, cujos valores foram creditados na Conta Corrente nº 570044 na

Agência 0335 do Banco do Brasil, objeto do Termo de Compromisso 0001/2011, SIAFI nº

666053). Inúmeras obrigações foram assumidas e arcadas com as verbas transferidas para

esta conta corrente cuja movimentação ficou a cargo do denunciado DEMERVAL, prefeito

em exercício.

Contudo, contrariando as boas práticas da administração pública e o bom

senso, o prefeito denunciado optou por emitir cheques para pagamentos dos serviços

contratados, mesmo quando se tratava de valores elevados, deixando, com esta atitude

injustificada, de assegurar-se de que os valores pagos eram destinados aos fornecedores. Este

comportamento incongruente teve um propósito, criar condições para servir à ocultação de

ativos que foram destinados a duas das firmas favorecidas ilegalmente, a saber Adão de Paula

e Formato.

DEMERVAL, em lugar de determinar transferência eletrônica de débito,

como seria adequado para disposição de verbas federais de vulto, emitiu cheques, omitindo-

se do dever de assegurar que os valores fossem destinados aos fornecedores. Permitiu assim a

retirada em espécie, que efetivamente ocorreu em 04 de março de 2011, valor de

R$324.578,41, favorecendo a contratada Formato e seus dirigentes, e em 18, de março, 03 de

maio e 22 de junho de 2011, valores de R$100.426,82, 71.685,40, 28.987,40, 171.976,22 e

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35.846,00, favorecendo a contratada Adão de Paula ME e seus gestores. Com tais atos

DEMERVAL possibilitou a ocultação dos beneficiários finais e reais titulares desses recursos

que, como foi narrado antes, tiveram origem em delito contra a administração pública

previsto no art. 1 º do Decreto-Lei 201/1967.

O ajuste de vontades entre o ordenador de despesas do município e os

empresários que efetuaram a retirada em espécie é constatável pela presença de ALAN

FERREIRA e de seu pai IRAM FERREIRA, que ocupava função de confiança no gabinete

do prefeito, na agência bancária no momento dos saques. As imagens da câmera de segurança

da agência revelam que os emissários do prefeito DEMERVAL embora tenham procurado

disfarçar não estavam ali por casualidade e tiveram contato direto com os favorecidos. Os

laços de ALAN com DERVAL são tão estreitos que é notório o fato de que o chefe do

executivo local, mesmo possuindo vários carros, fazia uso de veículo Toyota Hilux registrado

em nome do filho de seu gerente de gabinete.

Da Sonegação de dados técnicos.

Diante da suspeita de emprego irregular dos recursos federais transferidos

em razão do Termo de Compromisso nº 0001/2011 foi instaurado na Procuradoria da

República no Município de Nova Friburgo, em 24/01/2011, o procedimento administrativo de

n° 1.30.0006.000001/2011-71, no curso da apuração houve reiterada, consciente e voluntária

resistência, por parte dos denunciados DEMERVAL e HAMILTON, a apuração dos fatos,

com ocultação de dados e informações necessárias à propositura de ação civil pública por

atos de improbidade administrativa.

Inicialmente foi requisitado ao denunciado DEMERVAL NETO, por meio

do OF/PRM-NF/2º OFÍCIO/BR/N°15/01, recebido pelo denunciado HAMILTON, na

condição de Procurador Geral do Município em 25/01/2011, o instrumento do Termo de

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Compromisso, cópia do Plano de Trabalho pertinente, e cópia do processo administrativo de

acompanhamento de execução, com informações sobre as providências adotadas com os

recursos até aquele momento recebidos. Esse Oficio foi sucessivamente reiterado por meio

dos ofícios 022/11 e 039/11, protocolados na Prefeitura em 01/02/2011 e 04/02/2011, bem

como pelo ofício 060/2011, recebido pessoalmente pelo denunciado DEMERVAL, em

09/02/2011, alertando que o retardamento ou a omissão no atendimento às requisições

configuram em tese ato de improbidade e violação do art. 10 da Lei nº 7.347/85.

No mesmo dia 09 de fevereiro de 2011 em que foi colhida ciência do

denunciado DEMERVAL das requisições que estavam sendo desconsideradas o denunciado

HAMILTON dirigiu ofício ao MPF limitando-se a alegar que o Termo de Compromisso

ainda não tinha sido assinado, dado que dizia respeito apenas ao primeiro dos três tópicos da

requisição ministerial. Posteriormente o órgão de atuação local obteve da Secretaria Nacional

de Defesa Civil a informação de que nas circunstâncias a assinatura do termo de

compromisso e plano de trabalho eram dispensáveis, portanto, remanesceu interesse somente

quanto ao terceiro tópico, isto é, a apresentação por cópia do processo administrativo de

acompanhamento da execução do termo firmado com o Governo Federal para socorro em

face da catástrofe.

Por meio do ofício nº 77/11, também recebido pessoalmente pelo

denunciado DEMERVAL NETO, isto em 11/02/2011, foi reiterada a requisição das

informações e assinalado o prazo de 48 horas para resposta ou justificativa do não

atendimento aos ofícios anteriores, considerando as sucessivas reiterações e a notória

urgência em fiscalizar os gastos realizados com os recursos repassados.

Em razão da ausência de resposta satisfatória e como outros órgãos

igualmente incumbidos de zelar pela probidade da administração encontravam dificuldade de

acesso a dados o Ministério Público Federal e o Ministério Púbico do Estado do Rio de

Janeiro expediram Recomendação Conjunta reforçando os critérios legais para contração

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direta e requisitando, no prazo de dez dias, cópias dos processos de dispensa de licitação,

dirigida por meio do Ofício Conjunto 03/011, recebido pelo denunciado DEMERVAL em

18/02/2011. Foram também dirigidos ofícios aos denunciados RICARDO CARVALHO,

HAMILTON SAMPAIO, FRANCISCO BARBOSA, HÉLIO CORREA e LUIZ CLAUDIO

LUZ FERREIRA, sendo este último o único que apresentou resposta.

Como não houve atendimento e foi constatado, no jornal A VOZ DA

SERRA, que serve de diário oficial para o município, publicações relativas a 09 processos de

contratação de empresas relacionados ao socorro diante da catástrofe, com dispensa de

licitação, foi expedido o Ofício 187/11, cobrando a remessa dos processos administrativos

(0818/2011, 0820/11, 0821/11, 0821/11, 0822/11, 0823/11, 0848/11, 0850/11, 0854/11 e

0857/11) bem como de todos os processos com dispensa de licitação eventualmente

decorrentes do Termo de Compromisso firmado com a União várias vezes mencionado

acima. Novamente não houve atendimento.

Evidenciam o dolo de frustrar o acesso por parte do Ministério Público

Federal de dados técnicos essenciais ao ajuizamento de ação civil pública, além do

sistemático retardamento nas repostas e da imposição de dificuldades práticas para acesso aos

processos administrativos, publicações retroativas nas edições de 12 a 14 de março de 2011

do Jornal A VOZ DA SERRA, de inúmeros expedientes administrativos relacionados com a

execução do Termo de Compromisso com informação de “omitido da publicação do dia

25/01/2011” ou de “omitido da publicação do dia 26/01/2011”. Além do mais há razões para

crer que a formalização dos contratos foi forjada em data posterior às primeiras requisições

de informação do Ministério Público Federal.

Consta às fls. 33 do procedimento administrativo que informa e acompanha

a presente denúncia resposta do denunciado HAMILTON ao último ofício enviado, em que

este procura justificar a dificuldade no atendimento da requisição de cópias dos processos

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administrativos ao argumento de expirara contrato com prestadora de serviço de cópia. Das

justificativas merece destaque o seguinte trecho:

“Importante esclarecer a Vossa Excelência, que não temos permissão, de nossos superiores hierárquicos, par fornecer os Processos Administrativos originais da

prefeitura, vez que como os fatos socorreram recentemente, vários órgãos deste Município estão precisando tanto da obtenção das informações dos referidos processos, como fazer

eventuais acréscimos de dados novos que chegam a cada momento, até pela extensão da tragédia”.

Além disso, no ofício resposta do procurador denunciado também consta

que as cópias estariam disponíveis no dia seguinte, todavia, como se pode ver pela certidão

lavrada pelo servidor da PRM Ricardo Martin, o compromisso não só não foi honrado como a

recusa da parte do denunciado se deu de modo expresso, explícito e ofensivo.

“Em 31 de março de 2011, por volta das treze horas, o Sr. Magno, sgurança da PRM, recebeu um telefonema de voz feminina informando: 'Ricardo, aqui é da

Procuradoria da Prefeitura, já está pronto'. Como esperava um retorno da Dra. Ana Paula, com o pronto das cópias em questão, dirigi-me à Prefeitura, chegando lá por volta das 13:50

e lá fui informado que o Dr. Hamilton proibira a retirada também das cópias da procuradoria da prefeitura. Solicitei então falar pessoalmente com ele e antes de entrar em

sua sala, na presença de diversos funcionários da Procuradoria da prefeitura, inclusive o Subprocurador, fui recebido com diversos desaforos, incluindo palavras de baixo calão ('não

vou entregar p... de processo nenhum, manda o Marcelo tomar no c...'), direcionadas ao Dr. Marcelo Medina, procurador desta PRM. Ele informou ainda, aos berros, que se 'o Marcelo

quisesse os processos, que processasse a prefeitura e mandasse fazer busca e apreensão dos mesmos', que as 'cópias ainda não estavam prontas'. Argumentei então que estava ali devido

a uma ligação informando que as mesmas estavam prontas e mais uma vez foi dito 'que as cópias não seriam liberadas”.

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O dolo de obstruir é evidente também diante do fato de que, após o

ocorrido, sobreveio novo ofício da PGM (fls. 41), no qual o denunciado HAMILTON afirma

que o MPF não teria atribuições para controle prévio dos atos da administração, e que a

fiscalização, por força de dispositivo constitucional, no caso, caberia ao TCU e à CGU.

Ressalva, entretanto, que nada impede que o Município entregue as cópias, desde que

assinalado prazo razoável. Anexa ofícios em que diz encaminhar os processos em andamento

ao TCU. No entanto, o órgão fiscalizador afirmou que as cópias dos procedimentos

administrativos relativos à catástrofe foram fornecidas pela municipalidade apenas 60 dias

mais tarde e de forma incompleta.

Por fim o Ministério Público Federal acabou tendo acesso aos dados

técnicos que constavam dos processos administrativos e estavam sendo dolosamente

ocultados com amparo em Medida Cautelar ajuizada sob nº 0000521-75.2011.4.02.5105.

Vale assinalar que o ofício nº 79/2011, da lavra do denunciado

HAMILTON, agindo, segundo admitiu e era de se esperar, por ordem do Prefeito

denunciado, protocolado em 09.02.2011 como suposto atendimento aos ofícios 15, 22 e

39/2011 (sempre do 2º Ofício do MPF de Nova Friburgo) revela o dolo de desobedecer e

obstruir, pois apenas afirmou que o termo de compromisso 001/2011 não fora assinado,

quando mais tarde se soube que a natureza do ajuste dispensava assinatura. Havia, porém já

naquela data, 29 processos instaurados, como foi possível verificar com a relação dos que

foram apreendidos por força da ordem judicial:

Proc. Adm. Data da instauração818/2011 25/01/11819/2011 25/01/11820/2011 25/01/11821/2011 25/01/11822/2011 25/01/11823/2011 25/01/11

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824/2011 25/01/11828/2011 25/01/11832/2011 25/01/11833/2011 25/01/11834/2011 25/01/11835/2011 25/01/11836/2011 25/01/11848/2011 26/01/11849/2011 26/01/11850/2011 26/01/11851/2011 26/01/11852/2011 26/01/11853/2011 26/01/11854/2011 26/01/11856/2011 26/01/11857/2011 26/01/111300/2011 02/02/111301/2011 02/02/111302/2011 02/02/111304/2011 02/02/111305/2011 02/02/111306/2011 02/02/111307/2011 02/02/112504/2011 23/02/112506/2011 23/02/112751/2011 25/02/113130/2011 03/03/113235/2011 04/03/115138/2011 30/03/116916/2011 15/04/116918/2011 15/04/116920/2011 15/04/117063/2011 19/04/118774/2011 12/05/1111877/2011 20/06/1112595/2011 04/07/11

Ademais, o dinheiro já estava na conta do Município há muito, e segundo

os documentos agora examinados pelo MPF, já havia até reconhecimentos de dívida ou

contratos diretos prontos, os quais não foram encaminhados pelo mencionado ofício, apesar

da explícita requisição.

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Vantagem pessoal indevida – Corrupção ativa e passiva.

Ainda no calor da catástrofe, isto é, em 23 de março de 2011, o denunciado

DEMERVAL, empreendeu viagem aos Estados Unidos da América do Norte pelo voo

AA250 do Rio de Janeiro a Dallas, onde fez conexão no dia 24 de março com o voo AA

1887, para Las Vegas, retornando em 31 de março no voo AA1772 de Las Vegas a Dallas e

no voo AA251 de Dallas para o Rio de Janeiro, na companhia da própria esposa Adriana

Porto Lynch Moreira, do denunciado, sócio e gestor da Formato SAVIO OLIVEIRA, da

esposa deste Monique Carvalho, além da cunhada de SAVIO, Rubiane, que por sua vez foi

acompanhada de Felipe Lima Carestiato.

Evidenciam que o passeio do gestor municipal a Las Vegas foi

proporcionado pelo beneficiário do desvio dos recursos públicos o fato de ter sido ajustado

conjuntamente e custeado por fonte comum; as reservas em bloco; a indicação do telefone do

denunciado SAVIO na reserva dos assentos do denunciado DEMERVAL e de sua esposa; o

pagamento das passagens com um mesmo cartão de crédito e dos custos da alteração de data

com cartões diferentes do mesmo titular, o agente de viagens Jorge Abelardo Barbosa de

Medeiros; a realização conjunta do controle de imigração no AIRJ; e a modificação uniforme

da data de regresso, antecipada para todos esses passageiros.

Vale igualmente destacar que DEMERVAL teve acréscimo patrimonial

significativo no exato período do desvio das verbas em favor dos empresários denunciados,

fato que pode ser comprovado pelo registro em seu nome da propriedade do veículo

MERCEDES, Modelo CLC 200K, Ano 2009, placa KYF 2880 em 2012, muito embora o

veículo tenha sido fotografado ainda em 2011 estacionado no local reservado à direção da

Clínica privada que pertence a DEMERVAL.

IV – DA IMPUTAÇÃO.

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Para melhor compreensão das fundadas razões pelas quais se imputa aos

gestores municipais a prática delituosa faz-se necessária uma breve digressão sobre a autoria

de crimes praticados por Chefes de Executivo.

Toda estrutura governamental de entes públicos personalizados como um

Município, um Governo de Estado ou o Governo Federal materializa sua atuação por meio de

um corpo burocrático administrativo especializado, com segmentos temáticos. Na tradição do

direito brasileiro estes segmentos temáticos ou “pastas” são usualmente denominados

Ministérios, no Governo Federal, e Secretarias, nos Estados e Municípios Federados, mas

podem ainda exprimir outras unidades gestoras como Procuradorias, Delegacias ou

Superintendências, por exemplo.

Tais unidades organizacionais detêm competências estabelecidas por Lei ou

Ato Regulamentar do Chefe do Executivo, ou seja, sua área de atuação, e geralmente o

critério de distribuição obedece a uma divisão do trabalho a priori racional, por grupos de

políticas públicas a serem formuladas, executadas e fiscalizadas, bem como grupos de

funções de gestão e coordenação, seja de rotina administrativa, seja relativas às políticas

públicas. Estas unidades organizacionais podem se dividir internamente em sub-unidades. No

topo da estrutura está situado o representante investido de poder e autoridade pelo voto

popular e, exatamente por isso, responsável pela condução das rotinas e políticas públicas

(indirizzo politico-amministrativo) e pelas consequências das decisões que adota no

desempenho deste papel, sejam materializadas em ação ou por omissão.

Ora, esta divisão racional, típica tanto dos Estados Burocráticos como dos

Estados Gerenciais (entre os dois modelos varia tão-somente o grau de intervenção estatal na

sociedade, algo que não tem reflexo do ponto de vista das responsabilidades, quer sejam na

órbita política, quer sejam na esfera do direito), tem sua origem nas teorias da administração

aplicadas ao Poder Público, com escopo de “profissionalização” da máquina estatal. De outro

lado, as teorias defensoras da divisão de uma sociedade empresária em setores com funções

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especializadas (diretoria financeira, diretoria jurídica, gerência operacional, etc.) têm

fundamento histórico e epistemológico semelhante à divisão do Poder Executivo em “pastas”.

Daí se infere que existe uma grande semelhança, em certos casos até uma

identidade, entre um sócio-administrador, um Diretor Presidente, ou um presidente de

conselho administrativo de sociedades empresárias e os Chefes de Executivo, nas suas

funções, poderes e graus de responsabilidades. Diferenças quando há são no sentido de se

reconhecer ainda mais forte a cobrança da responsabilidade do gestor público, que é investido

em mandato para patrocinar o interesse geral.

Tal similitude, que denota uma mesma ratio, autoriza a conclusão de que a

estrutura e modus operandi de um crime societário e de um crime praticado no bojo de uma

Prefeitura Municipal (como a de Nova Friburgo/RJ) guardam uma relação de identidade em

suas características vertebrais, ou seja, ambos se enquadram na categoria de crimes de autoria

coletiva. Se assim o é, para a imputação de crime em face de Chefe de Executivo (no caso

concreto, Prefeito Municipal), aplicável a teoria do domínio da organização.

Conforme é de conhecimento difundido com suporte na teoria do domínio

do fato será considerado autor ou partícipe (dependendo do grau e da qualidade da

participação na obtenção do resultado) aquele que detém o controle subjetivo e funcional do

fato e atua no exercício desse controle. Quem, como o denunciado, tenha controle da

estrutura, ascendência sobre os servidores e titulares de funções comissionadas e de confiança

executores das ordens da direção, disponibilidade sobre os meios materiais e dever de agir

para impedir o resultado, domina a realização do fato típico e é, portanto, autor.

Registre-se, por oportuno, que a aplicabilidade da teoria do domínio da

organização no campo dos crimes de empresa é largamente admitida neste Eg. Tribunal

Regional Federal da 2ª Região de forma amplamente majoritária e foi examinada na doutrina

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por Bruna Martins Amorim Dutra no Aplicabilidade da Teoria do Domínio da Organização

no Âmbito da Criminalidade Empresarial Brasileira (In Inovações no Direito Penal

Econômico, Brasília, ESMPU, Org. Artur Gueiros Souza, p. 223-265). As razões esposadas

nos reiterados acórdãos que acolheram a tese e as considerações doutrinárias acima expostas

aplicam-se, como foi salientado alhures, a Chefes de Poder Executivo.

Dessa forma, em situações tais como as que aqui são denunciadas somente é

necessário que a peça acusatória descreva os fatos imputados e os correlacione à prefeitura, já

que os poderes de administrador, por óbvio, estão precipuamente nas mãos do prefeito, ou

seja, é desnecessário indicar atos materiais de execução da conduta por parte do gestor que

induvidosamente domina a organização, muito embora, segundo o que foi narrado acima,

parte significativa dos atos de execução, tais como movimentação da conta vinculada,

assinatura de contratos, requisições de serviço e de notas de autorização de despesa em favor

das firmas irregularmente beneficiadas tenha sido praticada diretamente pelo Prefeito em

exercício ou por integrantes da cúpula da gestão co-denunciados.

E a teoria do domínio da organização é ainda mais aplicável ao Prefeito de

Nova Friburgo. Dados extraídos do sítio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE (em anexo) – informam que o Município tem população de 182.082 (cento e oitenta e

dois mil e oitenta e dois) habitantes em 2010, 1.659 (um mil seiscentos e cinquenta e nove)

professores na rede pública de ensino fundamental, distribuídos em 91 escolas municipais e

83 estabelecimentos de ensino pré-escolar, 43 estabelecimentos de saúde e uma receita de R$

223.858.854,60 (duzentos e vinte e três milhões, oitocentos e cinquenta e oito mil, oitocentos

e cinquenta e quarto reais e sessenta centavos), sendo que o valor a ele vinculado do Fundo

de Participação dos Municípios é da ordem de R$ 32.273.529,85 (trinta e dois milhões,

duzentos e setenta e três mil, quinhentos e vinte e nove reais e oitenta e cinco centavos).

Trata-se de uma estrutura organizativa de médio porte, comparável ao de uma sociedade

empresária de porte médio para grande. Comparativamente o orçamento do Município do Rio

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de Janeiro é (R$ 11.089.715.255,20) e o valor referente ao Fundo de Participação dos

Municípios é (R$ 141.386.677,39).

Para que o programa de governo proposto pelo Prefeito ao se candidatar ao

cargo se concretize, em um ente de pequeno ou de médio porte, como é caso, a gestão

orçamentária depende em muito de sua ingerência e controle de seus secretários. Acrescente-

se o fato de que DEMERVAL NETO integra família com envolvimento na política local por

várias gerações, circunstância que reforça a conclusão sobre sua posição de comando e a

suspeita fundada de sua autoria para fins de oferecimento da denúncia.

Ademais, como responsável pela concretização das políticas públicas às

quais se comprometeu a executar durante o mandato, enquanto no exercício da chefia do

Executivo, também tinha o poder e o dever de evitar o resultado, de modo além das condutas

nas quais se observa dolo direto comissivo, como na contratação dirigida, na obtenção de

vantagem e na desobediência, também é imputado, nos atos em que deixou de agir

diretamente, no mínimo, dolo eventual comissivo por omissão, pela conduta omissiva

penalmente relevante, na forma do art. 13, § 2º, do CP.

Todas as considerações acima sobre a teoria do domínio da organização são,

por óbvio, extensíveis ao ambiente empresarial, fonte originária da sua formulação, portanto,

valem igualmente para justificar a imputação do delito aos denunciados que comandam

sociedades empresárias e foram diretamente beneficiados pela contratação dirigida e pelo

desvio que decorre dos pagamentos efetuados, muitos dos quais, como se pode deduzir das

circunstâncias apuradas, sequer correspondem a serviços prestados; especialmente às

condutas de SAVIO OLIVEIRA e de ALEXANDRE RESENDE, que detinham controle da

Formato Engenharia, de ALFREDO MOURA, com controle sobre a Terraplano, de

ROBERTO FRANÇA, com controle da Vital e de SERGIO VIEIRA, com controle sobre a

Nativa. Isto sem falar no envolvimento pessoal e direito do denunciado SAVIO OLIVEIRA

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na vantagem ilicitamente dispensada ao denunciado DEMERVAL mediante promoção da

viagem que fizeram juntos aos EUA.

De tudo o quanto foi narrado decorre que DEMERVAL NETO, JOSÉ

RICARDO CARVALHO e HAMILTON, realizaram em concurso de agentes e com divisão

de tarefas o delito previsto no art. 89 da Lei 8.6666/93 em cada uma das doze contratações

dirigidas, contando com o concurso de JEFFERSON seis vezes (Vital, Terrapleno e Nativa),

de HÉLIO nove vezes (Cheinara, Formato e Vital), de VANOR três vezes (Terrapleno e

Nativa) e de MARECELO VERLY cinco vezes (Cheinara), sendo as condutas entre si

praticadas em concurso material, e em concurso formal com os delitos de falso;

Praticaram falsidade ideológica (art. 299 do CP) em concurso formal com a

dispensa indevida de licitação e com o desvio de verbas DEMERVAL, JOSÉ RICARDO e

HAMILTON, doze vezes; JEFFERSON seis vezes; HÉLIO nove vezes; VANOR, três vezes;

MARCELO VERLY cinco vezes. A falsidade ideológica, sete vezes, ANTONIO

MESQUITA e ANTONIO PRATTI. Praticaram uso de documento falso DEMERVAL,

RICARDO, VERLY, HÉLIO, HAMILTON e JEFFERSON, nas contratações da Cheinara e

DEMERVAL, RICARDO, HÉLIO e RONALD MAKENZIE nas contratações da Formato;

Realizaram o delito de desvio de verbas públicas, descrito nos incisos I e III

do Decreto- Lei nº 201/67 em concurso com DEMERVAL, JOSÉ RICARDO, HAMILTON e

LUIS CLAUDIO, doze vezes; JEFERSON seis vezes; HÉLIO nove vezes; VANOR, três

vezes; MARCELO VERLY cinco vezes; ADÃO DE PAULA e ALAN CARDECK, cinco

vezes; SÁVIO OLIVEIRA e ALEXANDRE RESENDE, três vezes; ROBERTO AVELAR

uma vez; ALFREDO CHRYSOSTOMO uma vez; SERGIO VIERIA três vezes.

Contribuíram com participação de menor importância no desvio ANTONIO MESQUITA e

ANTONIO PRATTI, sete vezes, RONALD MAKENZIE três vezes, ALAN DE FREITAS

FERREIRA e IRAN FERREIRA duas vezes;

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ALAN FERREIRA e ILAN FERREIRA contribuíram de forma acessória

para o crime de ocultação de ativos, descrito no inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98, com a

redação na época dos fatos, praticado por ADÃO DE PAULA e ALAN CARDECK quando

da retirada em espécie, em concurso e sob o comando de DEMERVAL, o qual também

contribuiu de forma decisiva para a prática de igual delito, isto é, para a ocultação de ativos

praticada por SAVIO OLIVERIA e por ALEXANDRE RESENDE em circunstâncias

semelhantes e já narradas;

SAVIO também praticou corrupção ativa (art. 333 do CP) promovendo a

fruição de vantagem indevida por DEMERVAL e sua esposa, consistente na viagem ao

exterior como contrapartida da atuação do prefeito em exercício na contração irregular da

Formato de Friburgo, dos desvios de verbas públicas que o favoreciam e do pagamento em

cheque que propiciou a ocultação de ativos, incidindo DEMERVAL na prática da corrupção

passiva (art. 317 do CP);

DEMERVAL em concurso e comandando as ações e omissões intencionais

de RICARDO CARVALHO, HAMILTON SAMPAIO, FRANCISCO BARBOSA e HÉLIO

CORREA ocultaram dados essenciais à instrução de ação civil pública, requisitados pelo

órgão do ministério público federal que oficia em primeiro grau em Nova Friburgo, incidindo

no delito descrito no art. 10 da Lei n° 7.347/86.

A materialidade da dispensa ilegal da licitação, das falsidades ideológicas e

do desvio das verbas públicas pode ser aferida nos processos nº. 0850/11 - R$ 224.073,78 -,

0854/11 - R$72.000,00 -, 0857/11 - R$100.654,84 -, 8774/11 - R$36.000,00 -, 8775/11 -

R$173889,00 (Adão); 0848/11 e 012/2011 - R$2.059.894,53 (Terrapleno); 0818/11 e

001/2011 - R$4.320.136,08 (Vital); 0822/11 - R$47.461,20 -, 0851/11 R$17.376,26 e

11877/11 R$17.625,68 (Nativa); 0819/11 - R$352.419,55 -, 7063/11 - R$551.588,95 -,

12595/11 - R$262.711,19 (Formato). A materialidade da recusa em fornecer elementos

técnicos pode ser aferida nas peças que reproduzem o procedimento administrativo de n°

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1.30.0006.000001/2011-71. A materialidade da oferta e obtenção da vantagem indevida por

meio da viagem do Prefeito ao exterior pode ser aferida nas peças que compõem o Anexo V,

vol. 04. A materialidade da lavagem de capitais está demonstrada no PA nº

1.30.006.000114/2011-76 (Anexo II, vol. 03 e Anexo V, vol. 03).

A justa causa para acusação decorre do conjunto de peças informativas que

formam o PA em epígrafe com merecido destaque para a reprodução em mídia (DVD) dos

PAs 1.30.006.000114/2011-76 – seis discos -, 1.30.006.000115/2011-11 e

1.30.006.000117/2011-18, dos autos da ação de improbidade nº 2011.51.05.000521-9, e do

Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da ALERJ – Resolução nº 247/2011,

além da reprodução por cópias do Relatório de Fiscalização da Controladoria Geral da União

nº 2011/118971 (Anexo VI), do Relatório do Tribunal de Contas da União TC 000.919/2011-

0 e do Relatório, CPI da Câmara dos Vereadores de Nova Friburgo (Anexo VII).

V – DA CLASSIFICAÇÃO LEGAL.

DEMERVAL BARBOZA MOREIRA NETO, nos fatos anteriormente

narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, doze vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art.

299 do CP, também doze vezes, e do art. 304 do CP, duas vezes, praticados para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também praticou doze vezes o deleito descrito

nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98, três vezes, o delito do art. 317 do CP uma vez e do art. 10 da Lei nº

7.347/86 uma vez, sempre dirigindo as ações em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j e art. 62, I do CP.

JOSÉ RICARDO CARVALHO DE LIMA, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da

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Lei nº 8.666/93, doze vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também doze vezes, e do art. 304 do CP, duas vezes, praticados para ocultar

outros delitos; e, em concurso material, também praticou doze vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do art. 10 da Lei nº

7.347/86 uma vez, sempre em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

FRANCISCO DE ASSIS CORREA BARBOSA, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo, em período de calamidade,

infringiu e para assegurar a impunidade de outros crimes praticou o delito descrito no art. 10 da Lei nº 7.347/86, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

HÉLIO GOLÇALVES CORREA, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº

8.666/93, nove vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também nove vezes, e do art. 304 do CP, duas vezes, praticados para ocultar outros

delitos; e, em concurso material, também praticou nove vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do art. 10 da Lei nº

7.347/86 sempre em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

VANOR BRENDER PACHECO, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº

8.666/93, três vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também três vezes, praticados para ocultar outros delitos; e, em concurso material,

também praticou três vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; sempre em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do

CP.

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HAMILTON SAMPAIO DA SILVA, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da

Lei nº 8.666/93, doze vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também doze vezes, e do art. 304 do CP, duas vezes, praticados para ocultar

outros delitos; e, em concurso material, também praticou doze vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do art. 10 da Lei nº

7.347/86 uma vez, sempre em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

MARCELO VERLY DE LEMOS, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº

8.666/93, cinco vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também cinco vezes, e do art. 304 do CP, uma vez, praticados para ocultar outros

delitos; e, em concurso material, também praticou cinco vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do art. 10 da Lei nº

7.347/86 uma vez, sempre dirigindo as ações em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

JEFFERSON MARTINS CORDEIRO, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 89 da

Lei nº 8.666/93, seis vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também seis vezes, e do art. 304 do CP, uma vez, praticados para ocultar

outros delitos; e, em concurso material, também praticou seis vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67, sempre em concurso de pessoas, aplicando-

se o disposto no art. 61, II, b, g e j do CP.

ANTONIO CARLOS MARTINS MESQUITA, nos fatos anteriormente

narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 299 do CP, também sete vezes, para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também

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contribuiu com participação de menor importância sete vezes para o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67.

ANTONIO AUGUSTO DUARTE PRATTI, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres do cargo e em período de calamidade, infringiu o art. 299 do

CP, também sete vezes, para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também contribuiu com participação de menor importância sete vezes para o deleito descrito nos

incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67.

ALAN DE FREITAS FERREIRA, nos fatos anteriormente narrados,

em período de calamidade, contribuiu com participação de menor importância três vezes para o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67e para o delito do

inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98 .

IRAN FERREIRA, nos fatos anteriormente narrados, violando deveres

inerentes ao cargo e em período de calamidade, contribuiu com participação de menor importância três vezes para o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n.

201/67e para o delito do inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98 .

ADÃO DE PAULA, nos fatos anteriormente narrados, em período de

calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, cinco vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também cinco vezes, para ocultar outros

delitos; e, em concurso material, também praticou cinco vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do inciso IV do art. 1º da

Lei nº 9.613/98, duas vezes, sempre em concurso de pessoas, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA – 2ª REGIÃO

ALAN CARDECK MIRANDA DE PAULA, nos fatos anteriormente narrados, em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, cinco vezes

na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também cinco vezes, para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também praticou cinco vezes

o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98, duas vezes, sempre em concurso de pessoas,

aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

SÁVIO SILVA OLIVEIRA, nos fatos anteriormente narrados, em

período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, três vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também três vezes e o art. 304 do

CP, uma vez, ambos para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também praticou três vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67;

praticou ainda o delito do inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98 e o do art. 333 do CP, uma vez cada, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

ALEXANDRE TEIXEIRA DE REZENDE, nos fatos anteriormente narrados, em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, três vezes na

forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também três vezes e o art. 304 do CP, uma vez, ambos para ocultar outros delitos; e, em concurso material,

também praticou três vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67; praticou ainda o delito do inciso IV do art. 1º da Lei nº 9.613/98, aplicando-se o

disposto no art. 61, II, b e j do CP.

RONALD RAMOS MACKENZIE, nos fatos anteriormente narrados,

em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, três vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também três vezes e o art. 304

do CP, uma vez, ambos para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também

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contribuiu três vezes com participação de menor importância no deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67.

ALFREDO CHRYSOSTOMO DE MOURA, nos fatos anteriormente narrados, em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, duas vezes

na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também duas vezes para ocultar outro delito; e, em concurso material, também praticou duas vezes o

deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67, aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

ROBERTO AVELAR FRANÇA, nos fatos anteriormente narrados, em período de calamidade, infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, na forma do art. 69 do CP

e em concurso formal com o art. 299 do CP, para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também praticou o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67,

aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

SERGIO FERNADES VIEIRA. nos fatos anteriormente narrados em

período de calamidade infringiu o art. 89 da Lei nº 8.666/93, três vezes na forma do art. 69 do CP e em concurso formal com o art. 299 do CP, também três vezes e o art. 304 do

CP, uma vez, ambos para ocultar outros delitos; e, em concurso material, também praticou três vezes o deleito descrito nos incisos I e III do Decreto-Lei n. 201/67,

aplicando-se o disposto no art. 61, II, b e j do CP.

VI – DO PEDIDO.

Por tais razões, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denuncia DEMER-

VAL BARBOSA MOREIRA NETO, JOSÉ RICARDO CARVALHO DE LIMA, FRAN-

CISCO DE ASSIS CORREA BARBOSA, HELIO GOLÇALVES CORREA, VANOR BRE-

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DER PACHECO, HAMILTON SAMPAIO DA SILVA, MARCELO VERLY DE LEMOS,

JEFFERSON MARTINS CORDEIRO, ANTONIO CARLOS MARTINS MESQUITA, AN-

TONIO AUGUSTO DUARTE PRATTI, ALNA DE FREITAS FERREIRA, IRAM FERREI-

RA, ADÃO DE PAULA, ALAN CARDECK MIRANDA DE PAULA, SÁVIO SILVA OLI-

VEIRA, ALEXANDRE TEIXEIRA DE REZENDE, RONALD RAMOS MACHENZIE,

ALFREDO CHRYSOSTOMO DE MOURA, ROBERTO AVELAR FRANÇA e SERVIO

FERNADES VIEIRA, pelos crimes acima descritos e classificados.

Requer que os denunciados sejam notificados, na forma do artigo 4º da Lei

nº 8.038/90, e, recebida a denúncia, citados, interrogados e legalmente processados, ouvindo-

se as testemunhas abaixo arroladas, para, ao final, provada a acusação, vir a ser condenado ao

cumprimento das penas a serem fixadas por este Egrégio Tribunal Regional Federal.

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2012.

ROGÉRIO SOARES DO NASCIMENTOProcurador Regional da República

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