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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA JÚLIA THAÍS VIEIRA DIAS RAIMUNDA FLÁVIA SOUSA MARTINS PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO CARVÃO ATIVADO A PARTIR DA BIOMASSA DA PIMENTA-DO-REINO (Piper nigrum L.) CAPANEMA 2019

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1282/1...química, e como resultado pode-se observar que o rendimento do carvão da pimenta-do-reino

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  • MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

    JÚLIA THAÍS VIEIRA DIAS

    RAIMUNDA FLÁVIA SOUSA MARTINS

    PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO CARVÃO ATIVADO A PARTIR DA

    BIOMASSA DA PIMENTA-DO-REINO (Piper nigrum L.)

    CAPANEMA

    2019

  • JÚLIA THAÍS VIEIRA DIAS

    RAIMUNDA FLÁVIA SOUSA MARTINS

    PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO CARVÃO ATIVADO A PARTIR DA

    BIOMASSA DA PIMENTA-DO-REINO (Piper nigrum L.)

    Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de

    Bacharelado em Engenharia Ambiental e Energias

    Renováveis da Universidade Federal Rural da Amazônia

    (UFRA) como requisito para obtenção do grau de

    Bacharelado em Engenharia Ambiental.

    Área de Concentração: Adsorção

    Orientadora: Dra. Erika Milene Pinto de Sousa

    Coorientadora: Dra. Edna Santos de Souza

    CAPANEMA

    2019

  • DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA CAMPUS CAPANEMA

    Dias, Júlia Thaís Vieira

    Produção e caracterização do carvão ativado a partir da biomassa da pimenta-do-reino (Piper

    nigrum L.) / Júlia Thaís Vieira Dias, Raimunda Flávia Sousa Martins. - Capanema, 2019

    68 f.

    Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Ambiental) – Universidade

    Federal Rural da Amazônia, Capanema, 2019. Orientadora: Erika Milene Pinto de Sousa

    1. Carvão ativado 2. Carbonização 3. Ativação química 4. Hidróxido de sódio I. Martins,

    Raimunda Flávia Sousa II. Sousa, Erika Milene Pinto (Orient.) III. Título CDD – 662.74

    Bibliotecária-Documentalista: Cristiana Guerra Matos – CRB2/1143

  • A Deus, que nos proporcionou esta

    oportunidade única. A todos os familiares e

    amigos que nos ampararam nesta caminhada

    árdua, porém vitoriosa em busca da ampliação

    de nossos conhecimentos.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por sempre me guiar pelos caminhos do bem, verdade e justiça.

    Aos meus pais, Damião e Luzia Dias. Obrigado por acreditar e embarcar nos meus

    sonhos. Tudo o que sou e, tudo que conquistar é por vocês... É para vocês!

    A minha companheira nesta pesquisa, Flávia Martins. Ao transcender o campo do

    profissionalismo, nos tornamos amigas para a vida.

    As docentes Erika Sousa (orientadora) e Edna Souza (coorientadora) desta pesquisa. A

    vocês meu muito obrigada! Agradeço, também, pelas dicas, apoio incondicional, paciência e

    profissionalismo!

    Aos meus companheiros de curso. Juntos sempre demonstramos força, coragem,

    compaixão, companheirismo, mesmo quando discordávamos não hesitávamos em ajudar uns

    aos outros. Tenho certeza que grandes profissionais nos tornaremos. Robert Negrão, Marilza

    da Silva, Danielle Sousa, Diana Brasil, Cleyton C. Branco, Deyverson Freitas, Ana

    Lorraynny, Fernanda Gisele Quadros, Fernanda de Araujo, Leonardo Mendonça, Vitor

    Oliveira, Vanessa Queiroz (in memória). Amo vocês!

    A Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e a todos os docentes desta

    instituição, meu muito obrigada!

    Aos colaboradores desta pesquisa, em especial aos companheiros do Laboratório de

    Engenharia Química do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (LEQ -

    UFPA), Laboratório de Elementos Traços do Ambiente (LETAM - UFRA) e do Laboratório

    de Caracterização Mineral - Raio X (LCM - UFPA).

    A família que construí em Capanema, Ana Keyla Moraes, Carmen Victória Marques,

    Rubyrlane Falcão e Flávio de Sousa. Foram tantas aventuras, tantas histórias. Estaremos

    juntos nesta caminhada para a vida toda!

    Júlia Thaís Vieira Dias

  • AGRADECIMENTOS

    São muitas as pessoas que gostaria de agradecer neste momento ímpar de minha vida

    acadêmica e pessoal. Entretanto, considero algumas como fundamentais para o sucesso dessa

    jornada.

    A Deus pelos momentos de fé, força e superação;

    A meus pais, Ilton Martins (in memória) e Rosineide Lima, que são os grandes

    responsáveis pela formação do meu caráter e que sempre me apoiaram em momentos difíceis

    e me proporcionaram o suporte necessário;

    Ao meu amado irmão, Fábio Wilton pela motivação e por acreditar em meu sonho;

    A meu esposo Glauber Ranieri e a nossa amada filha Ana Luíza, pelo carinho,

    compreensão, companheirismo e muita paciência durante toda essa longa jornada;

    A minha grande amiga e companheira de pesquisa Júlia Dias que juntas ao longo desta

    jornada vivemos experiências enriquecedoras;

    À minha orientadora Profª. Dra. Erika Sousa e coorientadora Profª. Dra. Edna Souza,

    pelas cobranças, pela insuperável disciplina e pela competência ao me orientar sempre na

    direção correta;

    Ao Laboratório de Engenharia Química do Instituto de Tecnologia da Universidade

    Federal do Pará (LEQ-UFPA), Laboratório de Elementos Traços do Ambiente (LETAM-

    UFRA) e Laboratório de Caracterização Mineral - Raio X (LCM-UFPA) especialmente ao

    Yan Nunes, Samara Costa, Profa. Dra. Simone Aranha e Walber Pereira, uma pessoa

    maravilhosa que tive o privilégio de conhecer.

    A Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e a todos os meus professores

    que foram fundamentais ao longo desta jornada, especialmente aos professores Marcelo

    Santos, Geraldo Melo, Pedro Daniel, Mariane Furtado, Ana Karla Magalhães, Neuma Santos,

    Igor Gomide e Anderson Braz.

    Aos meus colegas de turma, seja pela contribuição acadêmica, seja pela descontração

    que me proporcionaram sempre que possível: Daniele Damasceno, Diana Dias, Marilza

    Bulhões, Vanessa Queiroz (in memória), Renan Rocha, Leonardo Melo, Gisele Quadro,

    Marcelo Augusto, Aldo Favacho, Mateus Lopes e Vitor Oliveira;

    E, a todos que, de algum modo, contribuíram para o sucesso desta jornada.

    Raimunda Flávia Sousa Martins

  • É muito nobre assumir o dever de cuidar da

    criação com pequenas ações diárias, e é

    maravilhoso que a educação seja capaz de

    motivar elas até dar forma a um estilo de vida

    Papa Francisco

  • RESUMO

    Carvão ativado (CA) é um material carbonáceo, com elevada área superficial, estrutura porosa, grande

    capacidade de adsorção e natureza química da superfície distinta, a qual pode ser apropriadamente

    modificada por tratamentos físicos e químicos a fim de melhorar a extensão dos processos de

    adsorção, sendo o tratamento químico o método de ativação mais utilizado na produção deste

    adsorvente, considerado um dos mais antigos utilizados nas industrias para remoção de poluentes

    orgânicos ou inorgânicos. Portanto, este trabalho teve como objetivo produzir carvão a partir da

    biomassa da semente da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), ativá-lo quimicamente, utilizando

    hidróxido de sódio (NaOH) e caracterizá-lo quanto suas propriedades físico-químicas e morfológicas.

    Para tanto, foi realizada a caracterização do material precursor após a carbonização e ativação

    química, e como resultado pode-se observar que o rendimento do carvão da pimenta-do-reino (CP) foi

    de 82,38% e, do carvão ativado quimicamente da pimenta-do-reino (CAQP) foi de 38,35%, logo o

    processo de ativação influenciou diretamente para um menor rendimento no CAQP, porém este valor é

    considerado satisfatório em comparação a pesquisas anteriores. Ao comparar o Ponto de Carga Zero

    (PCZ) das amostras e, os respectivos valores de pH’s em suspensão, foi possível observar que os

    valores de pH’s são superiores ao PCZ, o que implica que a superfícies destes carvões estão

    carregadas negativamente, favorecendo a adsorção de cátions. As observações alcançadas a partir da

    espectroscopia no infravermelho possivelmente corroboram a presença de compostos químicos

    oriundos da amostra in natura, mesmo após a carbonização e ativação. Com a utilização da

    Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), foi possível observar, ainda, que a ativação química

    produziu bons resultados quanto a estrutura porosa no CAQP, com ocorrência de poros de tamanhos

    variados e distribuídos de forma irregular em sua superfície.

    PALAVRAS-CHAVE: Carvão Ativado. Biomassa. Pimenta-do-Reino. Hidróxido de Sódio.

    Caracterização Físico-Química e Morfológica.

  • ABSTRACT

    Activated carbon is a carbonaceous material with high surface area, porous structure, high adsorption

    capacity, and distinct chemical surface nature, which can be appropriately modified by physical and

    chemical treatments to improve the extent of adsorption processes. The chemical activation treatment

    is the most used method in the production of this type of adsorbent, which is considered one of the

    oldest used to remove organic or inorganic pollutants in industries. Therefore, this work aimed to

    produce charcoal from the black pepper seed biomass (Piper nigrum L.), activate it chemically using

    sodium hydroxide (NaOH) and characterize its physicochemical and morphological properties. To

    achieve this goal, a characterization of the material, after carbonization and chemical activation, was

    conducted and, as a result, the black pepper returned a high yield of 82.38% and the Chemically

    Activated Black Pepper Carbon (CAQP) returned 38.35% yield. The activation process directly

    influenced a lower production in CAQP. Nonetheless, this value is considered satisfactory compared

    to previous research. By comparing the Zero Point of Charge (PCZ) of the samples and their pH

    values in suspension, it was possible to observe that the pH values are higher than the PCZ, which

    implies that the surfaces of these coals are negatively charged, favoring adsorption of cations. Infrared

    spectroscopy observations, possibly, corroborate the presence of chemical compounds present in the

    fresh samples, even after carbonization and activation. It was also observed, using Scanning Electron

    Microscopy, that chemical activation produced good results regarding the porous structure in the

    CAQP, with the occurrence of varying and irregularly distributed pore surface sizes.

    KEY WORDS: Activated carbon. Biomass. Black pepper. Sodium hydroxide. Physicochemical and

    morphological characterization.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Pimenta-do-reino: ramo de floração; 1 - parte total do cacho; 2 - ovário, com

    estame; 3 - estame; 4 - fruto jovem, ainda verde, seção longitudinal; 5, 6 - fruto

    maduro; 7 - fruto sem casca; 8 - fruto sem casca, seção longitudinal ................... 19

    Figura 2 - Grupos funcionais encontrados na superfície de um carvão .................................... 22

    Figura 3 - Esquema geral de produção de carvão ativado ....................................................... 23

    Figura 4 - Principais reações que ocorrem durante o processo de ativação física .................... 25

    Figura 5 - Distribuição diferencial de tamanhos de poros em diferentes tipos de carvão

    ativado.................................................................................................................... 26

    Figura 6 - Esquema dos diferentes tipos de poros em um sólido quanto à forma: (T) poro de

    transporte, (A) aberto, (F) fechado e, (G) gaiola ................................................... 29

    Figura 7 - Vista esquemática da estrutura interna de uma partícula de carvão ativado ........... 29

    Figura 8 - Representação dos poros do carvão ativado saturado com soluto ........................... 33

    Figura 9 - Fluxograma do processo experimental ................................................................... 34

    Figura 10 - Sementes da pimenta-do-reino utilizadas na obtenção do CA ............................. 35

    Figura 11 - Material carbonizado: 1 - material separado para pirólise; 2 - material macerado 36

    Figura 12 - Material impregnado com NaOH, após secagem em estufa .................................. 37

    Figura 13 - Material impregnado levado à carbonização para ativação química ..................... 37

    Figura 14 - CA da pimenta-do-reino ........................................................................................ 38

    Figura 15 - Comparação dos resultados do Teor de materiais voláteis e rendimento em carvão

    do CP e CAQP ....................................................................................................... 47

    Figura 16 - Determinação do PCZ do CP ................................................................................. 50

    Figura 17 - Determinação do PCZ do CAQP ........................................................................... 50

    Figura 18 - Espectro do FTIR do CP ........................................................................................ 52

    Figura 19 - Espectro do FTIR do CAQP .................................................................................. 52

    Figura 20 - Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) do CP realizada em áreas distintas

    na mesma amostra de carvão. Condições: (a) - ampliação de 200x; (b) - ampliação

    de 400x................................................................................................................... 55

    Figura 21 - Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) do CAQP realizada em áreas

    distintas da mesma amostra de carvão. Condições: (a) - ampliação de 200x; (b) -

    ampliação de 400x ................................................................................................. 56

  • LISTA DE SIGLAS E SIMBOLOS

    AlCl3 Cloreto de Alumínio

    ASTM American Society for Testing and Materials

    CA Carvão Ativado

    CaCl2 Cloreto de Cálcio

    CAP Carvão Ativado em Pó

    CAG Carvão Ativado Granular

    CAQP Carvão Ativado Quimicamente da Pimenta-do-Reino

    CP Carvão da Pimenta-do-Reino

    CH3COONa Acetato de Sódio

    cm-1 Centímetros

    cm³ Centímetro Cúbico

    CO Monóxido de Carbono

    CO2 Dióxido de Carbono

    DA Densidade Aparente

    DR Densidade Real ou Relativa

    ES Elétrons Secundários

    FTIR Espectroscopia no Infravermelho por Transformada de Fourier

    G Massa da Amostra em Gramas

    H Hora

    ha Hectare

    H+ Íon Hidrogênio

    H2 Hidrogênio

    HCl Ácido Clorídrico

    HNO3 Ácido Nítrico

    H2SO4 Ácido Sulfúrico

    H3PO4 Ácido Fosfórico

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    ITEC Instituto de Tecnologia

    IUPAC União Internacional de Química Pura e Aplicada

    K Kelvin

    Kg Quilograma

  • Kg/ha Quilograma por Hectare

    KOH Hidróxido de Potássio

    K2CO3 Carbonato de Potássio

    KV Quilovolt

    LABMEV-IG Laboratório de Microscopia de Varredura do Instituto de Geociências

    LCM Laboratório de Caracterização Mineral

    LETAM Laboratório de Elementos Traços do Ambiente

    LEQ Laboratório de Engenharia Quimica

    m Massa da Substância

    M Molar

    MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

    MgCl2 Cloreto de Magnésio

    ml Mililitros

    mm Milímetros

    m2.g-1 Metro Quadrado por Grama

    NaOH Hidróxido de Sódio

    Na2CO3 Carbonato de Sódio

    NBR Norma Técnica

    O2 Oxigênio

    OH- Hidroxila

    PCS Poder Calorífico Superior

    PCZ Ponto de Carga Zero

    pH Potencial Hidrogeniônico

    t Tonelada

    UFPA Universidade Federal do Pará

    UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia

    v Volume

    ZnCl2 Cloreto de Zinco

    µA Microampere

    % CF Teor de Carbono Fixo

    % MV Conteúdo de Materiais Voláteis

    % RC Rendimento em Carvão

    % P Porosidade

  • % TC Teor de Cinzas

    % U Teor de Umidade

    º C graus Celsius

    º C/min graus Celsius por minuto

    ” Polegadas

    - COOH Grupos Carboxílicos

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15

    2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 17

    2.1 Objetivo Geral................................................................................................................... 17

    2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 17

    3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 18

    3.1 Material Precursor ........................................................................................................... 18

    3.1.1 Pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) ................................................................................ 18

    3.1.1.1 A Pipericultura no Nordeste Paraense .......................................................................... 19

    3.2 Carvão Ativado: características e propriedades............................................................ 20

    3.3 Produção de Carvão Ativado .......................................................................................... 22

    3.3.1 Processos de Ativação ..................................................................................................... 24

    3.3.1.1 Ativação Física ............................................................................................................. 24

    3.3.1.2 Ativação Química ......................................................................................................... 25

    3.3.1.2.1 Solução de Impregnação: Hidróxido de Sódio (NaOH) ............................................ 26

    3.3.2 Propriedades Físico-Químicas dos Carvões Ativados ..................................................... 28

    3.3.2.1 Porosidade .................................................................................................................... 28

    3.3.2.2 Área Superficial ............................................................................................................ 29

    3.3.2.3 pH e o Ponto de Carga Zero (PCZ) .............................................................................. 30

    3.4 Adsorção ............................................................................................................................ 30

    3.4.1 Tipos de Adsorção ........................................................................................................... 31

    3.4.2 Capacidade Adsortiva ...................................................................................................... 32

    4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 34

    4.1 Fluxograma do Processo Experimental .......................................................................... 34

    4.2 Coleta do Material ............................................................................................................ 35

    4.3 Produção do Carvão Ativado .......................................................................................... 35

    4.4 Caracterização físico-química do material..................................................................... 38

    4.4.1 Teor de Umidade ............................................................................................................. 38

    4.4.2 Teor de Cinzas ................................................................................................................. 39

    4.4.3 Teor de Materiais Voláteis .............................................................................................. 39

    4.4.4 Teor de Carbono Fixo ...................................................................................................... 40

    4.4.5 Densidade Aparente ......................................................................................................... 40

    4.4.6 Densidade Real ................................................................................................................ 41

  • 4.4.7 Porosidade ....................................................................................................................... 41

    4.5 Moagem e Peneiramento .................................................................................................. 42

    4.6 Determinação do pH em suspensão ................................................................................ 42

    4.7 Determinação do Ponto de Carga Zero (pHPCZ) ............................................................ 42

    4.8 Espectroscopia do Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) ................. 43

    4.9 Caracterização morfológica do material por Microscopia Eletrônica de Varredura

    (MEV) ...................................................................................................................................... 43

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 44

    5.1 Determinação do Teor de Umidade ................................................................................ 44

    5.2 Caracterização físico-química da pimenta-do-reino ..................................................... 44

    5.2.1 Determinação do Teor de Cinzas..................................................................................... 45

    5.2.2 Determinação do Índice de Carbono Fixo ....................................................................... 45

    5.2.3 Determinação da Densidade Aparente e Real ................................................................. 46

    5.2.4 Determinação da Porosidade ........................................................................................... 46

    5.2.5 Determinação do Conteúdo de Material Volátil e Rendimento em Carvão .................... 46

    5.3 Determinação do pH em suspensão ................................................................................ 48

    5.4 Determinação do Ponto de Carga Zero (pHPCZ) ............................................................ 49

    5.5 Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) ................. 51

    5.6 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ............................................................... 54

    6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 58

    REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60

  • 15

    1 INTRODUÇÃO

    O carvão ativado (CA) é um material carbonáceo, com uma porosidade bastante

    desenvolvida, e capacidade para adsorver seletivamente gases, líquidos ou impurezas em seus

    poros, além de apresentar boa resistência mecânica devido suas características físico-químicas

    e seletividade. Os usos mais comuns para o CA são a produção de filtros para adsorção de

    gases e para o tratamento da água, onde o carvão se destaca por reter elementos poluentes em

    seus poros (DIAS, 2013; FREITAS; BUENO, 2014; MELO, 2012).

    Para a produção do CA faz-se necessário a utilização de um material precursor com

    alto teor de carbono em sua composição, sendo geralmente empregados materiais orgânicos e

    inorgânicos diversos, tais como: resíduos e biomassa vegetais, ossos, entre outros, uma vez

    que estes representam alternativas práticas, eficientes e de baixo custo (CLAUDINO, 2003;

    MELO, 2012). Após verificação inicial de diversos produtos, escolheu-se testar a eficiência

    da biomassa da semente da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), na produção de CA, pois a

    mesma consiste em uma cultura abundante na região Nordeste do estado do Pará, inclusive

    com grande expressão econômica e social. No estado do Pará, por exemplo, a pimenta (e suas

    diversas cultivares) lidera o ranking de produção gerando milhões de dólares ao ano,

    empregando mais de 70 mil pessoas, no período de safra (EMBRAPA, 2014).

    Em suma, à obtenção de CA prediz dois processos distintos de ativação: física e

    química. A ativação física, diz respeito ao emprego de altas temperaturas sobre o material

    precursor, sendo mais indicada a processos de adsorção gasosa (SOARES, A., 2001). Já a

    ativação química, utilizada nesta pesquisa, se utiliza da impregnação do material precursor

    por um agente ativante desidratante (neste caso utilizou-se o hidróxido de sódio (NaOH)), e

    posterior queima deste material. Segundo Nascimento et al. (2014) e Soares, A. (2001), este

    método de ativação é o mais utilizado na produção de CA, sendo comumente empregado para

    adsorventes em fase líquida.

    A adsorção em carvão ativado segundo Nascimento et al. (2014) e Rocha (2006) é

    influenciada por vários fatores, como: propriedades distintas do adsorvente (área superficial,

    área especifica, tamanho dos poros, densidade, grupos funcionais presentes na superficie do

    material e hidrofobicidade do mesmo), propriedades do adsorvato (polaridade, tamanho da

    molécula, solubilidade e potencial hidrogeniônico (pH)), temperatura e pH do meio, além da

    natureza do solvente. Vale destacar ainda que as propriedades eletroforéticas e acidez

    superficial de um CA estão condicionadas ao tipo de material carbonáceo precursor e ao

    método de ativação utilizado (DIAS, 2013).

  • 16

    Assim, a adsorção em CA se configura como um dos processos mais eficientes para

    reduzir os níveis de compostos tóxicos no meio ambiente (MOREIRA, 2008). Com base na

    afirmação do autor, é importante ressaltar que cientistas, nacionais e estrangeiros, buscam o

    aperfeiçoamento do processo de adsorção, no sentido de se obter novas tecnologias e

    materiais precursores diversos, a fim de melhorar esta técnica, e posteriormente aplicá-la em

    indústrias e na proteção ambiental (SOARES, A., 2001). Portanto, o presente trabalho

    objetivou, preliminarmente produzir e caracterizar o carvão ativado a partir da semente da

    pimenta-do-reino (Piper nigrum L.), buscando compreender suas características físico-

    químicas e morfológicas e com isso, futuramente, propor testes de adsorção frente a

    contaminantes da água ou do solo, uma vez que as características observadas do CA obtido se

    mostraram satisfatórias.

  • 17

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo Geral

    Produzir e caracterizar o carvão ativado obtido a partir da biomassa da semente da pimenta-

    do-reino (Piper nigrum L.) pelo método de ativação química com hidróxido de sódio (NaOH),

    comparando as características físico-químicas e morfológicas da pimenta carbonizada e

    ativada quimicamente.

    2.2 Objetivos Específicos

    • Produzir o carvão carbonizado a partir da semente da pimenta-do-reino;

    • Produzir o carvão ativado quimicamente com hidróxido de sódio (NaOH) a partir da

    semente da pimenta-do-reino;

    • Realizar a caracterização físico-química do carvão e do carvão ativado;

    • Comparar as propriedades físico-químicas dos carvões carbonizado e ativado

    quimicamente a partir da obtenção de rendimento em carvão, conteúdo de carbono

    volátil, pH e ponto de carga zero;

    • Comparar a morfologia entre o carvão e o carvão ativado utilizando métodos de

    Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia no Infravermelho por

    Transformada de Fourier (FTIR).

  • 18

    3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

    3.1 Material Precursor

    O uso de biomassa como material precursor na produção de CA tem sido alvo

    constante nas pesquisas que buscam tecnologias alternativas e ambientalmente corretas diante

    as tecnologias atualmente empregadas. Em sua maioria, os estudos sobre a utilização de

    biomassa na produção de CA visa a utilização da mesma devido aos baixos custos de

    produção, uma vez o material (na maioria dos casos) é proveniente de resíduos agrícolas ou

    rejeitos industriais, tais como: endocarpo do coco seco, caroço de azeitona, sementes de

    goiaba, ossos de animais, fibra de juta, entre outros (NERES et al., 2014; ROCHA, 2006;

    WERLANG, 2013).

    No entanto, tais materiais devem apresentar características propícias à sua

    transformação em CA. Melo (2012) e Oda (2017) especificam que a proporção da

    composição quimica de um CA depende de seu percursor, devendo este ser rico em carbono,

    não sofrer grande degradação quando carbonizado, apresentar alta densidade e dureza,

    apresentar níveis baixos de matéria inorgânica, baixa degradação na estocagem e alto

    rendimento. Linhares, Marcílio, Melo (2016) e Santos, C. (2014) ainda destacam que um

    material precursor apresenta em sua composição materiais lignocelulósicos (formados por

    pectinas, ligninas (10-25%), hemicelulose (20-35%) e celulose (35-50%)), e que estes quando

    ativados quimicamente conferem ao CA alta porosidade. Dias (2013), especifica que a

    maioria dos materiais carbonáceos utilizados na produção de CA apresentam naturalmente

    certo grau de porosidade, com variação da área superficial na ordem de 10-15 metro quadrado

    por grama (m2.g1-).

    3.1.1 Pimenta-do-Reino (Piper nigrum L.)

    A pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) é originária das florestas úmidas da Índia e,

    uma das especiarias mais utilizadas no mundo, produzida comercialmente por 26 países,

    sendo o Brasil um dos maiores produtores mundiais.

    As primeiras cultivares chegaram no Brasil, na cidade de Tomé-açu/PA, por

    imigrantes japoneses. Pertencente a classe Eudicotiledônea, família Piperacea, é uma planta

    perene, semi lenhosa e trepadeira, obtendo maturação de seu fruto entre os meses de junho a

    setembro, no estado do Pará. Entre suas características fitoquimicas pode-se destacar uma

    grande variedade de metabólitos entre eles: amidas e alcalóides, propenilfenóis, lignanas,

    neolignanas, terpenos, flavonas, flavanonas, esteroides, kayapironas, piperolídeos,

  • 19

    chalconas/dihidrochalconas e miscelâneas de compostos (ALMEIDA, 2017; D’ADDAZIO,

    2017; FIGURA 1).

    Figura 1 - Pimenta-do-reino: ramo de floração; 1 - parte total

    do cacho; 2 - ovário, com estame; 3 - estame; 4 - fruto jovem,

    ainda verde, seção longitudinal; 5, 6 - fruto maduro; 7 - fruto

    sem casca; 8 - fruto sem casca, seção longitudinal

    Fonte: D’Addazio (2017, p. 28)

    3.1.1.1 A Pipericultura no Nordeste Paraense

    A área cultivada aproximada reservada à pipericultura no estado do Pará foi de

    aproximadamente 21 mil hectares (ha), com produção de cerca de 30 mil toneladas (t) ao ano,

    representando mais da metade da produção brasileira para o mesmo período, que foi de quase

    53 mil t (D’ADDAZIO, 2017; IBGE, 2018). Almeida (2017) destaca que subprodutos como a

    piperina (amida que confere pungência ao fruto), e oleorresina (extraídos dos grãos chochos

    da pimenta) são largamente utilizados na indústria alimentícia, farmacêutica e perfumaria

    agregando valor a produção deste fruto.

    Especificamente no estado do Pará, a principal região produtora é a mesorregião do

    Nordeste do estado. Em consonância com as outras regiões produtoras do país, a

    comercialização deste fruto pelos produtores paraenses se apresenta em três frentes: a

    pimenta-preta, pimenta-branca, e a pimenta-verde, sendo a agricultura familiar contribuinte de

  • 20

    cerca de 88% da produção deste insumo no estado do Pará (DESER, 2008; EMBRAPA,

    2014).

    Dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Panorama

    Agrícola Municipal (IBGE, 2018), mostra que a pipericultura sofreu uma queda de -0,94%

    (no ano de 2017) sobre a quantidade produzida (t), -2,69% sobre a área colhida (ha), e 1,80%

    sobre os rendimentos médios (quilograma por hectare – kg/ha). Cabe ressaltar, a participação

    dos municípios de Capanema e Santa Maria do Pará na produção deste insumo. Estes não se

    enquadram entre os dez municípios maiores produtores do estado, e no ano de 2015 estes

    municípios produziram 200 e 250 t de pimenta-do-reino, respectivamente (FAPESPA, 2016;

    2017).

    Carneiro Junior et al. (2017), imprimem esta diminuição da área colhida em função de

    fatores, como: deficiência no escoamento da produção, estocagem, e oscilação de preços,

    levando esta atividade a não desenvolver um retorno esperado pelos produtores. Assim,

    conclui-se que esta desvalorização da atividade abre espaço para formas não convencionais de

    comercialização deste insumo, como por exemplo, a utilização do mesmo como material

    precursor para produção de CA.

    3.2 Carvão Ativado: Características e Propriedades

    Os carvões ativados (CA) possuem inúmeras utilidades e benefícios, e são

    considerados um dos adsorventes mais antigos utilizados nas indústrias. Estes, estão sendo

    empregados cada vez mais no tratamento de água residual e de efluentes industriais, além de

    servirem como catalizadores e de suporte para catalizadores (SCHNEIDER, 2008).

    Ao longo dos anos, as investigações acerca deste tema auxiliaram para o

    desenvolvimento de um CA, com capacidade e área superficial cada vez maiores, que após

    saturação e remoção de contaminantes orgânicos dissolvidos, poderia ser reativado. A prática

    de reativar os carvões é uma habilidade que possibilita uma estrutura adequada e preserva os

    poros originais (MACHADO, L., 2013). Neste sentido, a adsorção em CA está entre as mais

    eficientes tecnologias utilizadas na remoção de sabor, odor, cor e compostos orgânicos

    recalcitrantes, além de possibilitar a reutilização deste carvão após sua saturação (DIAS,

    2013).

    Segundo Fernandes (2005, p. 22) “carvão ativado são materiais carbonáceos porosos

    que apresentam uma forma microcristalina, não grafítica, que sofreram um processamento

    para aumentar a porosidade interna”. Já Schneider (2008), afirma em seus escritos que existe

  • 21

    uma quantidade significativa, na superfície do carvão, de radicais ácidos e básicos. O autor

    completa que os “ácidos estão associados a superfícies com grandes quantidades de oxigênio

    e possuem a propriedade de troca de ânions, ao passo que, superfícies com baixas quantidades

    de oxigênio são responsáveis por características básicas e efetuam trocas de cátions”

    (SCHNEIDER, 2008, p. 27).

    Neste sentido, Fernandes (2005), afirma que na maioria das situações, à produção de

    CA são empregados métodos com gases oxidantes de percursores carbonizados, ou até mesmo

    através da carbonização de materiais carbonosos, adicionando produtos químicos

    desidratantes, em condições adequadas para desenvolver porosidade. Claudino (2003),

    esclarece acerca do desempenho e estrutura dos poros e composição do CA:

    O desempenho de um carvão ativado está relacionado com a sua estrutura de

    poros que gera uma enorme área superficial. Outro fator, muito importante,

    que deve ser considerado na avaliação de um CA é a sua superfície química.

    O carvão ativado está invariavelmente associado com uma quantidade

    apreciável de heteroátomos, como o oxigênio e o hidrogênio, que são

    quimicamente ligados à sua estrutura, e componentes inorgânicos (cinzas).

    Os grupos de oxigênio são o mais importante fator que influencia as

    características da superfície de um carvão. Nos planos basais da estrutura

    encontram-se átomos de carbono insaturados, formando sítios que estão

    associados com altas concentrações de pares de elétrons e exercem um papel

    significativo na quimissorção do oxigênio (CLAUDINO, 2003, p. 25-26).

    Neste seguimento, o autor ainda conclui seu pensamento declarando que “quando as

    moléculas de oxigênio são introduzidas na superfície de um carvão, podem ser adsorvidas

    fisicamente (reversivelmente) ou quimicamente (irreversivelmente) pela superfície”

    (CLAUDINO, 2003, p. 27).

    Morais (2014), ainda corrobora as afirmações supracitadas ao assegurar que além da

    superfície física de um CA, existe outro fator muito importante na sua caracterização, que é a

    química da superfície deste, que confere ao carvão um alto número de compostos químicos

    em sua superfície, conforme ilustra a Figura 2.

  • 22

    Figura 2 - Grupos funcionais encontrados

    na superfície de um carvão

    Fonte: Schneider (2008, p. 27)

    Resende (2013), declara que entre as diversas substâncias adsorventes presentes no

    mercado, o CA apresenta características distintas que o torna adequado para uso, em escala

    laboratorial e industrial. Tal fato é possível, devido ao CA ser um ótimo adsorvente de

    molécula, principalmente na fase gasosa ou até mesmo na fase líquida, visto que, o mesmo

    além de apresentar uma alta capacidade de adsorção, possui baixa reatividade térmica,

    resistência a grandes variações de pH no meio e, capacidade de regeneração.

    A capacidade de adsorção do CA depende de características como “polaridade,

    solubilidade, pH do meio, área superficial, distribuição e tamanho dos poros, grupamentos

    funcionais superficiais, presença de outros íons no meio, além do adsorvato e tamanho da

    molécula do adsorvato” (FURLAN, 2008, p. 49). Estas características fazem com que este

    material seja largamente estudado e utilizado para aplicações em tecnologias de controle de

    poluição (NUNES, 2008).

    3.3 Produção de Carvão Ativado

    “Carvões ativados são obtidos através de duas etapas básicas: a carbonização pela

    pirólise do precursor e a ativação propriamente dita” (CLAUDINO, 2003, p. 7), em processos

    industriais estas etapas são realizadas simultaneamente (SOARES, A., 2001). À produção de

    CA geralmente são utilizados materiais com alto teor de carbono, como: osso, casca de coco,

  • 23

    sementes e casca de frutas, madeira, carvão mineral, polímeros sintéticos, entre outros

    (CLAUDINO, 2003).

    O CA possui um desempenho que está diretamente relacionado a sua superfície

    química e a estrutura de seus poros, que consequentemente, gera uma enorme área superficial.

    Apesar de que as condições de processamento do CA possam exercer alguma influência sobre

    sua estrutura e propriedades finais, estas são determinadas principalmente pela natureza do

    material precursor (SOARES, A., 2001).

    Neste sentido, Claudino (2003), faz um breve comentário sobre o processo de

    carbonização:

    A carbonização consiste no tratamento térmico (pirólise) do precursor em

    atmosfera inerte a temperatura superior a 473 K. É uma etapa de preparação

    do material, onde se removem componentes voláteis e gases leves (CO, H2,

    CO2 e CH4), produzindo uma massa de carbono fixo e uma estrutura porosa

    primária que favorece a ativação posterior. Os parâmetros importantes que

    irão determinar a qualidade e o rendimento do produto carbonizado são a

    taxa de aquecimento, a temperatura final, o fluxo de gás de arraste e natureza

    da matéria prima (CLAUDINO, 2003, p. 7-8).

    A macroporosidade é um fator relevante no processo de carbonização, pois após a

    remoção dos compostos voláteis do precursor, o material dispõe de um alto teor de carbono.

    Assim, “a origem da macroporosidade em carvões originados de madeira deve-se à

    manutenção das formas estruturais do material precursor a despeito de substancial redução

    dimensional e implícitas alterações químicas” (SOARES, A., 2001, p. 10).

    A Figura 3 mostra o esquema geral de produção de CA. É importante ressaltar que as

    condições iniciais da pirólise e os procedimentos de ativação podem afetar diretamente a

    distribuição e o volume total dos poros, associados as faixas de tamanho dos mesmos

    (MACHADO, L., 2013).

    Figura 3 - Esquema geral de produção de carvão ativado

    Fonte: Crittenden et al. (2012) apud Machado, L., (2013, p. 19)

  • 24

    Após a etapa de carbonização e ativação são gerados dois tipos de carvões: Carvão

    Ativado em Pó (CAP): que possui “diâmetro menor que 0,1 milimetros (mm), grande área

    superficial, estrutura porosa bem distribuída, predominando médios e macroporos e

    geralmente é utilizado em processos de filtração descontínuos” (MACHADO, L., 2013, p.

    20); e Carvão Ativado Granular (CAG): com diâmetro “maior que 0,1 mm, possui dureza para

    evitar perdas por fricção e é utilizado em processos de filtração contínua como as colunas de

    leito fixo ou móvel por onde o fluido é filtrado e purificado” (MACHADO, L., 2013, p. 20-

    21).

    Ressalta-se que carvões ativados granulares são extremamente utilizados nos

    processos de tratamento de água, efluentes, purificação de gases, entre outras utilidades,

    todavia, uma das maiores vantagens da utilização de carvões ativados na forma granular é o

    seu poder de regeneração, ou seja, quando sua capacidade de adsorção for atingida é possível

    fazer o reuso do material.

    3.3.1 Processos de Ativação

    De acordo com a literatura há dois processos que são aplicados na obtenção do CA:

    ativação física, que consiste na reação entre o carvão e gases oxidantes na presença de altas

    temperaturas; e a ativação química. Esta por sua vez, leva a formação de sítios eletricamente

    insaturados, com alta capacidade adsortiva (PIZA, 2008; ROCHA et al. 2016).

    3.3.1.1 Ativação Física

    De acordo com Melo (2012, p. 48), “na ativação física o CA é produzido a partir do

    material já carbonizado, ou seja, de um percursor já tratado termicamente”. Assim, a

    “ativação física consiste na reação do carvão obtido na pirólise com gases oxidantes como

    CO2 e vapor de d’água ou uma mistura dos dois, a temperaturas entre 600-1000 °C”

    (SANTOS, X., 2016, p. 21). Neste sentido, Mangueira (2014), afirma que a estrutura dos

    poros formada durante o processo de ativação física será resultante da quantidade de vapor e

    da temperatura empregada durante a queima. SOARES, A. (2001, p. 12), completa que a

    “ativação física produz uma estrutura de poro tipo fenda bastante fina, tornando os carvões

    assim obtidos apropriados para o uso em processo de adsorção gasosa”.

    No processo de pirólise ocorre a remoção na forma gasosa dos elementos hidrogênio e

    oxigênio dando início à formação da estrutura cristalina do carvão. Em seguida, “os átomos

  • 25

    de carbono elementar são liberados e agrupados em formações semelhantes à estrutura do

    grafite, porém contendo alguns desvios” (MELO, 2012, p. 53).

    É importante compreender, que o processo de carbonização envolve a remoção de

    algumas espécies presentes no carvão, que não são carbonáceas e a produção de massa

    carbônica. Neste estágio, Melo (2012, p. 48), afirma que o “material carbonáceo possui uma

    estrutura de poros rudimentar, poros cheios de produtos de decomposição do próprio carvão e

    obstruído por um carvão amorfo”. A autora ainda afirma que, o material amorfo presente no

    carvão reage durante a etapa de ativação, esse processo tem como resultado a abertura dos

    poros obstruídos e criação de novos poros. Durante o processo de ativação física, ocorrem

    algumas reações endotérmicas que se processam simultaneamente. A Figura 4 dispõe as

    principais reações, onde “os gases de ativação e agentes oxidantes se comportam em faixas de

    temperaturas que variam entre 1073-1273 Kelvin (K)” (CLAUDINO, 2003, p. 49).

    Figura 4 - Principais reações que ocorrem durante o

    processo de ativação física

    Fonte: CLAUDINO, 2003, p. 49

    3.3.1.2 Ativação Química

    No processo de ativação química o carvão passa por impregnação a partir de um

    agente químico que, na maioria das vezes, é um composto com propriedades desidratantes que

    influencia a decomposição do percursor na calcinação, inibindo a formação de alcatrão, de

    ácido acético, metanol, entre outros, melhorando assim a disponibilidade dos poros. O

    impregnamento químico é o método mais utilizado para a produção de CA (NASCIMENTO,

    et al., 2014; SILVA, 2013; SOARES, A., 2001; SCHETTINO JUNIOR, 2004).

    De modo geral, “a ativação química gera carvões com poros grandes mais apropriados

    a aplicações de adsorção de fase líquida” (SOARES, A., 2001, p. 12). A Figura 5 mostra o

    volume específico para os dois métodos de ativação (física e química).

  • 26

    Figura 5 - Distribuição diferencial de tamanhos de poros em

    diferentes tipos de carvão ativado

    Fonte: Soares, A. (2001, p. 12)

    Existem algumas vantagens significativas no método de ativação química, que são: o

    “maior rendimento, temperatura mais baixa de ativação (menor gasto de energia), menor

    tempo de ativação e, geralmente, maior desenvolvimento de porosidade” (DIAS, 2013, p. 49).

    Entretanto, também é possível contabilizar as desvantagens neste processo, como os gastos

    com ativantes e a necessidade de realizar um estágio adicional de lavagem para remover deste

    agente químico (CLAUDINO, 2003; DIAS, et al., 2007; DIAS, 2013; SOARES, A., 2001).

    3.3.1.2.1 Solução de Impregnação: Hidróxido de Sódio (NaOH)

    Atualmente são vários os compostos utilizados como materiais de impregnação

    (ativantes químicos) no processo de ativação química de materiais carbonáceos à viabilização

    de CA. O contato do material precursor com um agente de ativação acarretará mudanças

    significativas na caracterização da área superficial do material, bem como na distribuição

    espacial dos poros e sítios de ativação (DIAS, 2013). Segundo Linhares, Marcílio, Melo

    (2016), Rocha (2006), Teles e Furtado (2016), todos os ativantes químicos são agentes

    desidratantes. Tal característica implica na formação de ligações químicas cruzadas quando na

    decomposição do material em pirólise, inibindo assim, a formação de alcatrão na entrada dos

    poros do CA e volatização do mesmo.

  • 27

    Entre os diversos ativantes químicos existentes destacam-se: Hidróxido de potássio

    (KOH), Carbonato de potássio (K2CO3), Acetato de sódio (CH3COONa), Carbonato de sódio

    (Na2CO3), Cloreto de magnésio (MgCl2), Ácido fosfórico (H3PO4), Cloreto de alumínio

    (AlCl3), Cloreto de Zinco (ZnCl2), Ácido nítrico (HNO3), Hidróxido de sódio (NaOH), e

    Ácido sulfúrico (H2SO4), ambos caracterizados como agentes inorgânicos atuantes na

    degradação, desidratação ou oxidação do CA (DIAS, 2013; MORAIS, 2014; SANTOS, C.,

    2014).

    Morais (2014), ainda destaca que pesquisas já desenvolvidas revelaram que o KOH é

    efetivo em materiais precursores que apresentam estrutura ordenada, sendo assim, bastante

    seletivo quanto aos tipos de reações que ocorrem nas superfícies do CA. Por sua vez, o H3PO4

    auxilia no aumento das áreas superficiais, ocasionando mudanças físicas e químicas

    expressivas na estrutura do CA, além de atuarem da liberação de água, furanos e reações de

    clivagem (MELO, 2012). Já o CH3COONa aumenta a formação de microporos no material

    precursor. Santos, C. (2014), classifica o ZnCl2 como altamente desidratante ao transformar

    átomos de hidrogênio (H2) e oxigênio (O2) em água ao invés de transformá-los em

    hidrocarbonetos e compostos orgânicos oxigenados. Tal ação eleva o rendimento do CA.

    Já a utilização do NaOH auxilia na neutralização dos grupos carboxílicos, lactônicos e

    fenólicos que porventura estão presentes no material precursor, além de aumentar a

    capacidade do CA em realizar trocas aniônicas quando em contato com um adsorvato

    (GUIMARÃES, 2006; VALENCIA, 2007). Para Meireles, de Paula (2018), o NaOH ao se

    fundir com o material precursor reage com o dióxido de carbono (CO2) oriundo da

    degradação da celulose e hemicelulose produzindo então Na2CO3, provocando a separação

    das lamelas, aumentando, assim, a área superficial do CA. Logo quanto maior a produção de

    Na2CO3 maior a área superficial de um CA.

    Por se tratar de um agente desidratante, o NaOH influencia diretamente na

    decomposição pirolítica, inibindo a formação de alcatrão, e atuando diretamente no

    rendimento do CA (DE COSTA, FURMANSKI, DOMINGUINI, 2015). Por fim, Oda (2017),

    afirma que hidróxidos alcalinos como o NaOH ajudam na produção de materiais bastante

    porosos, combinando micro e mesoporos e área superficial em torno de 1700 m2.g1-.

  • 28

    3.3.2 Propriedades Físico-Químicas dos Carvões Ativados

    3.3.2.1 Porosidade

    A porosidade do CA é considerada como um dos mais importantes aspectos para a

    avaliação de seu desempenho. “A superfície porosa do carvão ativado é capaz de adsorver

    grandes quantidades de solutos e gases por causa da sua grande superfície interna a qual está

    relacionada diretamente com a estrutura dos poros do material” (MACHADO, L., 2013, p. 20-

    21).

    Quanto a distribuição do tamanho dos poros, baseado nas propriedades de adsorção, a

    União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, 1982), propõe a seguinte

    classificação para os diâmetros dos poros onde os mesmos são usualmente classificados por

    conveniência conforma demostrado no Quadro 1 (FERNANDES, 2005; MACHADO, L.,

    2013).

    Quadro 1 - Classificação dos poros segundo a IUPAC

    TIPO DE POROS DIÂMETRO MÉDIO FUNÇÃO PRINCIPAL

    Microporos

    θ m < 2 nm

    Contribuem para a maioria da área

    superficial que proporciona alta capacidade

    de adsorção para moléculas de dimensões

    pequenas, tais como gases e solventes

    comuns.

    Mesoporos

    2 nm < θ m < 50nm

    São importantes para a adsorção de

    moléculas

    grandes tais como corantes e proporcionam

    a maioria da área superficial para carvões

    impregnados com produtos químicos.

    Macroporos θ m > 50 nm

    São normalmente considerados sem

    importância para a adsorção e sua função é

    servir como meio de transporte para as

    moléculas gasosas.

    Fonte: IUPAC (1982, p. 2204-2205)

    Outro aspecto relevante dos carvões ativados é o formato de seus poros, que possuem

    a expressão comumente denominada de poros abertos ou poros fechados, para designar

    buracos em materiais sólidos, conforme representado no Quadro 2 e, nas Figuras 6 e 7. Todos

    os carvões ativados contêm micro, meso e macroporos dentro de sua estrutura, mas a

    proporção relativa varia consideravelmente de acordo com a matéria-prima. (CLAUDINO,

    2003; MELO, 2012; MORAIS, 2014; SOARES, A., 2001).

  • 29

    Quadro 2 - Classificação de alguns dos vários tipos de poros existentes na superfície de um

    material carbonáceo

    POROS FUNÇÃO

    Abertos Orifícios que se comunicam com a superfície externa

    Fechados Orifício isolado

    Transporte Poro aberto que permite o fluxo de fluido

    Gaiola Braço presente no poro de transporte, mas que não contribuem para

    o fenômeno de transporte

    Fonte: Morais (2014, p. 11)

    Figura 6 - Esquema dos diferentes tipos de poros em um sólido

    quanto à forma: (T) poro de transporte, (A) aberto, (F) fechado e,

    (G) gaiola

    Fonte: Gregg, Sing (1982) apud Melo (2012, p. 23)

    Figura 7 - Vista esquemática da estrutura interna de uma partícula

    de carvão ativado

    Fonte: Machado, C. (2010, p. 33)

    3.3.2.2 Área Superficial

    Blanco (2001) reforça que o uso do carvão como adsorvente de poluentes orgânicos e

    inorgânicos na água é devido a sua versatilidade única resultante da sua elevada área

    superficial, estrutura porosa, grande capacidade de adsorção e natureza química da superfície

    a qual pode ser apropriadamente modificada por tratamentos físicos e químicos a fim de

    realçarem a extensão dos processos de adsorção (ORTIZ, 2000; ROCHA et al., 2006;

    SOARES, A., 2001).

  • 30

    3.3.2.3 pH e o Ponto de Carga Zero (PCZ)

    O pH afeta a adsorção na medida em que determina o grau de distribuição das espécies

    químicas. “A intensidade desse efeito pode ser maior ou menor conforme o adsorvente, uma

    vez que as cargas da superfície do adsorvente dependem da sua composição e das

    características da superfície” (NASCIMENTO, et al., 2014, p. 18).

    Conhecendo o PCZ do adsorvente, ou seja, o valor de pH do carvão, é possível

    determinar a “medida de acidez ou basicidade da superfície pelos grupos que possuem

    oxigênio, permitindo predizer a capacidade hidrófila, e adsorção aniônica ou catiônica

    preferida pelo carvão. Sendo o pH da solução capaz de controlar o carregamento superficial

    do adsorvente” (RESENDE, 2013, p. 20).

    Nunes (2008), afirma que o pH possui uma relação com o PCZ no sentido de que, se o

    pH de uma solução estiver abaixo do PCZ, o reagente terá um carregamento catiônico,

    entretanto, se o pH estiver acima do PCZ o carregamento será aniônico. “Adsorventes com

    alto número de sítios negativos possuem grande número de grupamentos hidroxílicos em sua

    superfície o que os torna bons adsorventes de moléculas catiônicas” (RESENDE, 2013, p.

    20).

    3.4 Adsorção

    A adsorção é uma “operação unitária que envolve o contato entre uma fase fluida e

    uma sólida, originando uma transferência de massa da fase fluida para a superfície do sólido,

    ocorrendo uma tendência de acumulação de uma substância sobre a superfície da outra”

    (FRANCISCHETTI, 2004, p. 20). Na adsorção em solução, “o sólido é chamado de

    adsorvente, e o gás, vapor ou líquido de adsorvato[...] esse método viabiliza muitos processos

    de separação de gases, purificação e reação” (ROCHA, 2006, p. 5).

    É importante ressaltar que existem outros aspectos relevantes referentes a adsorção,

    tais aspectos podem ser compreendidos da seguinte forma: moléculas adsorvidas possuem a

    sua própria forma de organização, que ocorre normalmente em mono ou multicamadas; existe

    uma estrutura molecular e existe a natureza do adsorvente; além da conformação e a

    localização dos grupos funcionais responsáveis pela adsorção propriamente dita (CIOLA,

    1981). Além, da forma organizacional das moléculas é relevante destacar que para se estudar

    a adsorção, deve-se levar em conta fatores importantes que interferem na sua efetividade,

    como: “temperatura, polaridades das substâncias, pH do meio, pressão e área da superfície do

    adsorvente” (FURLAN, 2008, p. 48).

  • 31

    De acordo com Rodrigues et al. (2006, p. 23) o “fenômeno de adsorção ocorre devido

    a presença de diversos grupos funcionais que constituem a biomassa, tais como celulose,

    proteínas e lignina”. Neste sentido, a biomassa corresponde a interações eletrostáticas e a

    formação de complexos entre íons metálicos e grupos funcionais presentes em sua superfície

    celular (FURLAN, 2008; RODRIGUES et al., 2006; SOARES, A., 2001).

    Dentre os principais fatores que podem afetam as cavidades da adsorção e sua cinética,

    estão: “velocidade de agitação, relação sólido-líquido, tamanho das partículas, concentração

    inicial, natureza do adsorvente, área da superfície e temperatura” (FERNANDES, 2005, p.

    21). Assim, a operação de adsorção sólido-líquido explora algumas habilidades que certos

    sólidos têm em concentrar em sua superfície substâncias específicas, separando-as de

    soluções aquosas (FERNANDES, 2005; TREYBAL, 1980).

    3.4.1 Tipos de Adsorção

    De forma geral, se identificam dois tipos de adsorção: “fisiossorção ou adsorção física

    e, quimiossorção ou adsorção química. Contudo, não é fácil diferenciar entre os dois tipos de

    adsorção, em certos casos os dois tipos podem ocorrer simultaneamente e pode se ter

    situações intermediárias” (SOARES, R., 1996, p. 29).

    A diferença entre adsorção física e química vai depender da força com que as

    moléculas estão sendo adsorvidas. Para alguns autores na adsorção física ou fisissorção, o

    adsorvato está ligado à superfície do carvão por forças de Van Der Walls as quais são

    relativamente fracas e semelhantes às forças moleculares de coesão e estão envolvidas na

    condensação de vapor ou precipitação líquida (DIAS, 2013; MOREIRA, 2008; SOARES, A.,

    2001). Esse mecanismo de adsorção possui uma maior frequência por ser mais comum.

    Na adsorção “química, ou quimissorção, há o envolvimento de interações químicas

    entre o fluido adsorvido e o sólido adsorvente, onde há a transferência de elétrons, equivalente

    à formação de ligações químicas entre o adsorvato e a superfície do sólido” (MEZZARI,

    2002, p. 27). Devido a esse processo, as moléculas ficam sobrepostas na superfície do

    adsorvente formando multicamadas, o que difere da adsorção física, que possui apenas uma

    camada sobreposta. Partindo desse princípio a adsorção química pode ser ativada ou não-

    ativada. É dita “ativada quando a taxa de adsorção varia com a temperatura segundo equação

    semelhante à de Arrhenius e não ativada quando a taxa de ativação é muito pequena e a

    adsorção ocorre rapidamente” (PERUCH, 1997, p. 29). O Quadro 3 retrata as diferenças

    existentes entre os dois tipos de adsorção.

  • 32

    Quadro 3 - Principais diferenças existentes entre adsorção física (fisissorção) e adsorção

    química (quimissorção)

    PARÂMETROS FISISSORÇÃO QUIMISSORÇÃO

    Tratamento de água Tipo mais comum de

    mecanismo de adsorção Tipo raro no tratamento de água

    Velocidade do processo Limitado pela transferência

    de massa Variável

    Tipo de ligação Causada por forças de Van

    der Waals

    Causada por forças fortes da

    mesma ordem de grandeza de

    uma reação química

    Calor de adsorção 2 - 6 Kcal/mol 10 - 200 Kcal/mol

    Cobertura Adsorção em multicamadas Adsorção em monocamada

    Tipo de reação Reversível e exotérmica Tipicamente não reversível e

    exotérmica

    Dessorção Fácil por pressão reduzida

    ou temperatura elevada

    Difícil por elevada temperatura, é

    necessária para quebrar ligações

    Espécies dessorvidas Adsorvato inalterado Adsorvato pode mudar

    Fonte: Machado, L. (2013, p. 27)

    A “capacidade de um sólido em adsorver um adsorvato tanto na adsorção física

    quanto na adsorção química depende de diversos fatores inerentes ao método de

    preparação e utilização do adsorvente e do adsorvato” (DIAS, 2013, p. 37).

    Nascimento et al. (2014), salienta a importância da interação entre as moléculas na

    adsorção química e as forças provocadas por esse tipo de adsorção, uma vez que para a

    ocorrência da mesma, é necessária uma combinação entre as forças envolvidas tanto na

    adsorção física como na adsorção química.

    3.4.2 Capacidade Adsortiva

    A capacidade adsortiva de um sólido depende de alguns fatores, tais como, “a natureza

    do adsorvente e seu modo de ativação, a natureza do adsorvato, condições do processo de

    adsorção como temperatura, pH e a relação existente entre adsorvente/adsorvato”

    (SCHNEIDER 2008, p. 6). Os adsorventes são classificados conforme o tamanho dos poros e

    sua polaridade (MELO, 2012). O tamanho dos poros na superfície do carvão determina a

    acessibilidade das moléculas de adsorvato ao interior dos adsorventes (BRANDÃO, 2006).

    O “carvão ativado possui uma capacidade de adsorção limitada que corresponde ao

    número total de poros ativos para adsorver o soluto” (MACHADO, L., 2013, p. 45). Assim,

    quando a capacidade desse carvão está em estágio de equilíbrio, o autor afirma que o mesmo

    atingiu a saturação ou exaustão. O autor ainda completa afirmando que o carvão quando está

  • 33

    saturado não consegue adsorver os solutos presentes em uma determinada solução e,

    consequentemente a concentração de saída aumenta com o decorrer do tempo até a saturação,

    conforme é possível observar na Figura 8, que ilustra uma partícula de carvão com seus poros

    sendo preenchidos com solutos ao longo dos canais de adsorção (MACHADO, L., 2013).

    Figura 8 - Representação dos poros do carvão ativado saturado

    com soluto

    Fonte: http://www.naturaltec.com.br/filtro-carvao-ativado/

    A capacidade adsortiva dos carvões ativados está diretamente relacionada com a

    superfície total do adsorvente. Logo, quanto maior a superfície, maior será a intensidade das

    forças não balanceadas disponíveis para adsorção (RAMALHO, 1977). Neste sentido, o

    Quadro 4 relaciona os principais fatores que influenciam a capacidade de adsorção de um CA.

    Quadro 4 - Principais fatores que afetam a capacidade de adsorção e sua cinética

    PARÂMETROS INFLUÊNCIA NA ADSORÇÃO

    Temperatura

    Quanto menor for a temperatura, maior a quantidade

    adsorvida.

    Área superficial do sólido

    Quanto maior a área superficial disponível para a

    adsorção, maior será a quantidade de metal adsorvida.

    Concentração inicial

    A velocidade de adsorção é proporcional à concentração

    inicial, uma vez que esta modifica o coeficiente de

    difusão.

    Tamanho das partículas

    Quanto menor o tamanho das partículas, maior é a área

    disponível, ou superfície de contato, para a adsorção,

    resultando em maior adsorção.

    Velocidade de agitação

    Quando a agitação se faz presente, esta faz com que a

    espessura da camada limite diminua, aumentando assim o

    coeficiente de transferência de massa.

    Fonte: Barros (2001, 30-31); Francischetti (2004, p. 20-21)

    http://www.naturaltec.com.br/filtro-carvao-ativado/

  • 34

    4 MATERIAL E MÉTODOS

    4.1 Fluxograma do Processo Experimental

    Na Figura 9 é possível observar o fluxograma do processo experimental realizado no

    presente trabalho para a obtenção do carvão e, posterior ativação química do mesmo.

    Figura 9 - Fluxograma do processo experimental

    Fonte: Autoras

  • 35

    4.2 Coleta do Material

    A matéria-prima utilizada na produção de carvão ativado (CA) foi a semente da

    pimenta-do-reino (Piper nigrum L.) da variedade Tira Cota. Esta especiaria foi adquirida

    junto ao Sítio São José, propriedade localizada na Travessa São Domingos II, a 12

    quilômetros da sede do Município de Santa Maria do Pará, nordeste paraense.

    Para a realização das análises, as sementes da pimenta-do-reino encontravam-se

    completamente desenvolvidas, em estágio semimaduro, apresentando coloração verde clara a

    vermelho-amarelado, com endosperma apresentando-se esbranquiçado (FIGURA 10). Para

    tanto, utilizou-se três quilogramas (Kg) da matéria-prima. Em seguida, a amostra foi seca ao

    sol por três dias, visando a perda de umidade. Após este pré-tratamento, foi dado início a

    produção do CA.

    Figura 10 - Sementes da pimenta-do-reino utilizadas na obtenção do

    CA

    Fonte: Autoras

    4.3 Produção do Carvão Ativado

    Foram realizados dois ensaios a partir das sementes de pimenta-do-reino a fim de

    caracterizar a superfície do material precursor antes e depois da ativação química. O primeiro

    ensaio foi realizado no Laboratório de Engenharia Quimica (LEQ) do Instituto de Tecnologia

    (ITEC) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Neste, o material depois de exposto ao sol

    por três dias, foi disposto em estufa ODONTOBRÁS modelo EL 1.4, a 105 graus Celsius (ºC)

  • 36

    por 5 horas (h). Após retirado da estufa e colocado em dessecador, o material foi separado em

    quatro vasos cerâmicos tampados (método aplicado pelo LEQ-ITEC/UFPA), contendo cada

    vaso em média 162,45 gramas (g) de material. A pirólise foi realizada em forno mufla

    QUIMIS modelo M25097 a 600 ºC por 1h, com taxa de aquecimento de 3 graus Celsius por

    minuto (ºC/min). É de suma importância ressaltar, que a taxa de aquecimento utilizada para

    esta pesquisa foi adaptada a partir das observações alçadas por Ladeira, Sandi e Puget (2016),

    na produção de CA a partir de sementes de goiaba.

    Quando retirado da mufla, o material carbonizado e macerado, conforme apresentado

    na Figura 11, foi armazenado para posterior caracterização e análise.

    Figura 11 - Material carbonizado: 1 - material separado para pirólise; 2 - material

    macerado

    Fonte: Autoras

    O segundo ensaio foi realizado nos laboratórios da Universidade Federal Rural da

    Amazônia (UFRA), nos Campi de Capanema e Belém, respectivamente. A primeira parte da

    produção foi realizada no Laboratório de Engenharia e Meio Ambiente da UFRA-Campus

    Capanema. Em suma, 200 g do material seco foi pesado em uma balança semi-analítica

    MARTE modelo UX6200H, com auxílio de um béquer, e levado a estufa LUCADEMA a 105

    ºC por 5h. Após ser retirado da estufa, o material foi colocado em contato com uma solução

    de impregnação a base de água destilada (500 ml) e NaOH (40 g), com concentração de 2:1

    Molar (M) , e deixado em repouso por 24h. Passado este intervalo, a amostra impregnada com

    o agente ativante NaOH foi separada em duas bandejas de plástico e disposta novamente em

    estufa para a secagem do material (FIGURA 12). Esta etapa compreendeu um período de 17h

    a temperatura média de 65 ºC, até o material apresentar peso constante. Após pesagem final, o

    1 2

  • 37

    material foi disposto em saco de papel e transportados ao Laboratório de Elementos Traços do

    Ambiente (LETAM/UFRA-Belém).

    Figura 12 - Material impregnado com NaOH, após secagem

    em estufa

    Fonte: Autoras

    No LETAM/UFRA-Belém, o material foi disposto em três cadinhos de porcelana,

    pesados, posteriormente fechados e levados ao forno mufla QUIMIS modelo Q318M 24, a

    temperatura de 600 ºC por 1 h, a uma taxa de aquecimento de 3 ºC/min (FIGURA 13). Este

    procedimento foi realizado na ausência de O2 a fim de evitar perdas da amostra.

    Figura 13 - Material impregnado levado à carbonização para ativação

    química

    Fonte: Autoras

    Ao ser retirado da mufla e resfriado naturalmente, o CA foi lavado em água destilada

    corrente afim de retirar o excesso do agente ativante, assim, neutralizando o pH do mesmo

    que foi medido até se manter constante. Para medir o pH utilizou-se o medidor de pH PHOX

    modelo P50. Após este processo de lavagem o CA foi levado a estufa TECNAL modelo TE-

    394/1 a 80 ºC por 24 h. A Figura 14 retrata o CA seco.

  • 38

    Figura 14 - CA da pimenta-do-reino

    Fonte - Autoras

    4.4 Caracterização Físico-Química do Material

    A análise do teor de umidade descrita abaixo foi realizada a partir da semente da

    pimenta-do-reino antes de realizado o processo de carbonização. No entanto, as análises de

    teor de cinzas, carbono fixo, densidade aparente e real, e porosidade foram realizadas quando

    na obtenção da amostra carbonizada.

    A partir destas, as amostras foram intituladas de carvão da pimenta-do-reino (CP) e

    carvão ativado quimicamente da pimenta-do-reino (CAQP). Ressalta-se que as análises de

    conteúdo do material volátil e rendimento em carvão foram empregados para ambos os casos

    (CP e CAQP).

    4.4.1 Teor de Umidade

    O teor de umidade (% U) foi determinado de acordo com a Norma Técnica (NBR)

    16508 (ABNT, 2016). Baseia-se na perda por dessecação com a utilização de uma estufa

    visando determinar somente a água como substância volátil contida nas amostras. Foram

    utilizadas 5 g de amostras de sementes de pimenta-do-reino in natura e parcialmente

    desidratadas em placas de Petri. Posteriormente, foram colocadas em uma estufa

    ODONTOBRÁS modelo EL 1.4, a uma temperatura de 105 °C por 24h. Após este período, as

    placas com as amostras foram retiradas da estufa e colocadas em dessecador, até que as

    mesmas atingissem a temperatura ambiente, sendo submetidas a pesagem até a obtenção do

    seu peso constante. Os ensaios foram realizados em triplicata e o teor de umidade foi obtido

    por meio da Equação (1).

  • 39

    Onde:

    mA é a massa da amostra pesada[g];

    mA seca é a massa da amostra seca (após estufa) [g].

    4.4.2 Teor de Cinzas

    As amostras secas oriundas da análise do teor de umidade foram utilizadas para a

    determinação do teor de cinzas, sendo este a fração inorgânica remanescente após a completa

    destruição da matriz orgânica. Para tanto, as amostras foram colocadas em cadinhos e

    dispostas em forno mufla QUIMIS modelo M25097 a uma temperatura de 550 °C por 5 h,

    com taxa de aquecimento de 1,6 ºC/min (adaptado de DIAS, 2013), para que fosse possível

    realizar a calcinação das mesmas. Posteriormente, foram resfriadas em dessecador até que se

    atingisse a temperatura ambiente, sendo realizada pesagem. O percentual de cinzas (% TC) foi

    determinado a partir da Equação (2), onde é possível obter a relação entre as massas inicial e

    calcinada.

    Onde:

    mca é a última massa calcinada pesada (estabelecida entre a massa do resíduo +

    cadinho, subtraindo a massa inicial do cadinho vazio), [g];

    mc é a massa inicial do carvão [g].

    4.4.3 Teor de Materiais Voláteis

    Se refere aos produtos da decomposição térmica liberados no aquecimento da matéria-

    prima, na ausência de ar (ZHU, 2014). Inicialmente, a amostra foi pesada em cadinhos, sendo

    esta análise realizada em triplicata. A especificação do teor de materiais voláteis consistiu no

    estabelecimento da perda de peso resultante do aquecimento da amostra do carvão em cadinho

    tampado, em forno mufla QUIMIS modelo M25097 a uma temperatura de 600 °C por 1 h,

    com taxa de aquecimento de 3 ºC/min (adaptado de DIAS, 2013). Ao serem retirados da

    mufla, os cadinhos foram colocados no dessecador, para resfriamento. Por fim, determinou-se

    (1)

    (2)

  • 40

    a massa final. Porém, primeiramente foi discriminado o rendimento em carvão (% RC) a

    partir da Equação (3), que relaciona a massa da amostra do carvão pela massa da amostra

    seca. Com o valor encontrado em % RC, calculou-se a partir da Equação (4) o teor de

    carbonos ou materiais voláteis (% MV).

    Onde:

    MPC é a massa da pimenta-do-reino carbonizada (média da triplicata);

    MPS é a massa da pimenta-do-reino seca (média da triplicata).

    Onde:

    RC é o rendimento em carvão.

    4.4.4 Teor de Carbono Fixo

    O teor de carbono fixo (% CF) foi determinado a partir das resultantes do teor de

    umidade, teor de materiais voláteis e teor de cinza, sendo o valor desta soma, subtraído de 100

    (valor final dado em percentual). Assim, o percentual encontrado no final desta operação faz

    referência ao carbono que permanece na amostra de carvão, após a retirada do material volátil

    por aquecimento em mufla (ZHU, 2014). Sendo determinado pela Equação (5) abaixo:

    Onde:

    U é o teor de umidade;

    MV é o conteúdo de material volátil e;

    TC é o teor de cinzas.

    4.4.5 Densidade Aparente

    Este parâmetro é dado pela a razão entre a massa de uma substância (m) e seu volume

    (v) (ATKINS; JONES, 2001). Portanto, para a determinação da densidade aparente (DA) das

    amostras foi necessário fazer a relação da massa (g) da amostra pelo seu volume (cm³). Foram

    (3)

    (4)

    (5)

  • 41

    realizadas três repetições para este ensaio a fim de determinar a massa da amostra. A Equação

    (6) retrata o cálculo da densidade aparente de acordo com a norma da American Society for

    Testing and Materials (ASTM) D2854-09 (1996).

    Onde:

    m é a massa [g];

    v é o volume [cm³].

    4.4.6 Densidade Real

    A densidade real ou relativa (DR) de uma substância é obtida através da razão entre a

    sua própria densidade e a densidade de uma substância estabelecida como padrão, conforme

    observado na Equação (7). Para esta análise a água foi utilizada como substância padrão (ρ

    água ≅ 1,0 g/ cm3) para uma temperatura ambiente de 25 °C (EXPERIÊNCIA..., 2018).

    % 𝐷𝑅 =𝜌1

    𝜌2

    Onde:

    ρ1 é a substância em que se quer comparar;

    ρ2 é a densidade escolhida como padrão.

    4.4.7 Porosidade

    A porosidade (% P), também designada por volume de vazios, é a fração do volume

    aparente que corresponde aos poros (MATTANA, 2010). Neste sentido, para determinar o

    percentual de poros nas amostras foi necessário fazer a relação da densidade aparente pela

    densidade real, conforme mostra a Equação (8) (MELO, 2012).

    (6)

    (7)

    (8)

  • 42

    4.5 Moagem e Peneiramento

    A fim de diminuir a granulometria das partículas de carvão das amostras CP e CAQP

    respectivamente, estas foram submetidas a moagem e peneiramento de acordo com a Norma

    ASTM D-2862 (1997). Este procedimento foi realizado no LETAM/UFRA-Belém. Foram

    adotados 100 g de cada carvão (CP e CAQP) pesados em balança analítica BEL

    ENGINEERING modelo M214A1. Em seguida, as amostras foram maceradas em um

    almofariz com auxílio de um pistilo de cerâmica e, finalmente submetidas a separação através

    de uma peneira de aço inox, com o objetivo de se obter uma granulometria menor que 100

    mesh (0,149 mm), diâmetro escolhido para a caracterização dos carvões junta as análises

    especificadas abaixo.

    4.6 Determinação do pH em Suspensão

    A determinação do pH em suspensão foi realizada no Laboratório de Engenharia e

    Meio Ambiente da UFRA-Capanema. Realizou-se análise em triplicata, onde 5 ml de água

    ultrapura foi disposta em béqueres de 50 ml. Nesta, foi adicionado 0,05 g de carvão (CP e

    CAQP), medidos em balança semi-analítica WEBLABORSP modelo M214A1. Esta mistura

    foi aquecida a 100 ºC em aparelho THELGA. Após aquecimento e resfriamento, até atingir a

    temperatura ambiente, foi adicionado a mistura mais 5 ml de água ultrapura (adaptado de

    DIAS, 2013). Por fim, realizou-se a medição do pH em suspensão com o auxílio do medidor

    multiparâmetro portátil 900P.

    4.7 Determinação do Ponto de Carga Zero (pHPCZ)

    O pHPCZ foi mensurado a partir da adição de 0,06 g da amostra de CA em 20 ml de

    solução de cloreto de cálcio (CaCl2) 0,01 M, com pH titulado em cinco ensaios de diferentes

    escalas (2, 4, 6, 8, 10). Os ensaios tiveram o pH ajustado a partir das soluções de ácido

    clorídrico (HCl) e NaOH a 0,1 M. Os mesmos permaneceram em agitação por 24h em mesa

    agitadora com inversor LUCADEMA. Por fim, as soluções foram filtradas e o pHPCZ

    mensurado a partir do cruzamento das curvas de titulação, refletindo a condição de adsorção

    dos íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH-), em igualdade. Este método foi baseado nos

    estudos de Uchimiya, Chang, Klasson (2011). As análises foram realizadas nos LETAM

    /UFRA-Belém e no LEQ-ITEC/UFPA-Belém.

  • 43

    4.8 Espectroscopia do Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR)

    Primeiramente, as amostras do CP e CAQP foram secas em estufa ODONTOBRÁS

    modelo EL 1.4, a 105 ºC por 24h, como pré-tratamento para a realização da FTIR.

    Posteriormente, utilizando um espectrômetro da marca THERMO modelo NICOLET iS50

    FT-IR, obteve-se os espectros das amostras na região espectral de 4000-500 centímetros (cm-

    1), a 100 scans, com resolução de 4 cm-1. Os dados foram adquiridos através do software

    OMNIC (adaptado MELO, 2012). As análises foram realizadas no Laboratório de

    Caracterização Mineral (LCM) - Laboratório de Raio X, da UFPA-Belém.

    4.9 Caracterização Morfológica do material por Microscopia Eletrônica de Varredura

    (MEV)

    A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) é uma análise qualitativa que permite a

    visualização das amostras estudadas devido a ampliação de suas imagens. Assim, o

    procedimento para a análise da MEV foi realizado no Laboratório de Microscopia Eletrônica

    de Varredura (LABMEV) do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ-

    UFPA-Belém). Utilizou-se o microscópio eletrônico de varredura da marca HITACHI,

    modelo T3000, onde as amostras de CP e CAQP foram colocadas em fita adesiva e

    posicionadas em um suporte metálico, para realização das análises. Para cada amostra foram

    realizadas três leituras de áreas distintas do carvão. Por meio deste procedimento, as imagens

    foram geradas com aumento de 200 e 400 vezes respectivamente, do seu tamanho real. As

    condições de análise para imagem de elétrons secundários (ES) foram: corrente de feixe de

    elétrons a 90 Microampere (µA), voltagem de aceleração constante de 20 Quilovolts (kV) e

    distância de trabalho de 15 mm (MELO, 2012).

  • 44

    5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A pesquisa teve início com a produção e caracterização do carvão proveniente da

    semente da pimenta-do-reino (Piper nigrum L.). Posteriormente, esta biomassa passou pelos

    processos de carbonização e ativação química (com impregnação por NaOH). Para melhor

    exemplificar as distintas características apresentadas pelos carvões, estes serão tratados nos

    resultados desta pesquisa por carvão da pimenta-do-reino (CP) e carvão ativado quimicamente

    da pimenta-do-reino (CAQP).

    5.1 Caracterização Físico-Química da Pimenta-do-Reino

    5.1.1 Determinação do Teor de Umidade

    Segundo as literaturas abordadas há uma certa discrepância em relação ao teor de

    umidade a ser levado em consideração quando na especificação de um CA. Segundo a

    Embrapa (2008), durante a combustão de uma determinada biomassa, a quantificação de

    umidade não deve ultrapassar a taxa máxima de 25%. Porém, Cruz Junior (2010, p. 63), reduz

    esta taxa ao valor máximo de 8%. No entanto, se sabe que a umidade elevada influência

    diretamente nos valores de calor de combustão, diminuindo assim a eficiência energética do

    material. Mangueira (2014) ainda especifica que para carvões ativados comerciais a taxa de

    indicação de umidade máxima responde ao valor de 10%. No entanto, a umidade encontrada

    para esta pesquisa foi da ordem de 27,13%.

    Para Mangueira (2014), a umidade presente em uma determinada biomassa responde

    à umidade da sua superfície e a umidade inerente da mesma, sendo que a incorporação desta

    responde a três fatores: fabricação, transporte e armazenamento. Piza (2008), ainda

    complementa que carvões que apresentam alto teor de umidade geralmente comportam em

    sua superfície uma grande quantidade de compostos químicos oxidados.

    5.2 Caracterização do Material Carbonizado

    Os resultados obtidos a partir da carbonização da semente da pimenta-do-reino estão

    especificados na Tabela 1, que mostra o teor de cinzas, carbono fixo, porosidade, densidade

    aparente e densidade real.

  • 45

    Tabela 1 - Caracterização físico-química do carvão da semente da pimenta-do-reino

    Teor de Cinzas Carbono Fixo Densidade Aparente Densidade Real Porosidade

    4,21% 51,03% 0,7633 g cm-3 0,8979 g cm-3 14,99%

    Fonte: Autoras

    5.2.1 Determinação do Teor de Cinzas

    Vale et al. (2011), aponta que teor de cinzas está relacionado a presença de minerais

    contidos na biomassa (orgânicos e inorgânicos), como: cálcio, potássio, fósforo, ferro, sódio,

    entre outros. E a presença destes influencia a quantificação das cinzas que por sua vez,

    influencia diretamente no processo de combustão, pois provoca perda de energia,

    prejudicando, assim, a transferência de calor entre o meio e a biomassa carbonizada.

    Nesta pesquisa, o teor de cinzas encontrado foi da ordem de 4,21%, percentual este

    considerado dentro da faixa dita favorável, que corresponde a valores abaixo de 7%. Vale

    ressaltar que o teor de cinzas de carvões ativados comerciais responde a taxa de até 15%.

    Este parâmetro é um indicador de qualidade para carvões ativados, sendo que a

    maioria dos carvões apresentam baixo teor de cinzas, o que influencia no alto número de

    poros e alta taxa de adsorção destes (PIZA, 2008). Furtado et al. (2012), listam que a

    umidade, teor de cinzas e poder calorífico superior (PCS) são parâmetros utilizados para

    qualificar energeticamente um material.

    5.2.2 Determinação do Índice de Carbono Fixo

    Em relação ao índice de carbono fixo, Vale, et al. (2011), indicam que materiais com

    alto índice de carbono fixo apresentam queima lenta, o que corresponde a um maior tempo de

    combustão. Para o carvão da semente da pimenta-do-reino este valor correspondeu a 51,03%,

    encontrando-se este percentual na média de outras pesquisas já realizadas a partir de materiais

    precursores distintos. De acordo com Róz et al. (2015), a proporção do carbono fixo em uma

    matéria-prima está diretamente relacionada a temperatura de pirólise a que este material foi

    submetido, uma vez que a altas temperaturas, além da perda de água higroscópica, materiais

    não condensáveis também são volatilizados, tais como: monóxido de carbono (CO), dióxido

    de carbono (CO2), celulose, lignina.

  • 46

    5.2.3 Determinação da Densidade Aparente e Real

    Segundo Neusatz Guilhen (2018), quanto maior a densidade do material precursor,

    maior a densidade do carvão a ser produzido, além de responder diretamente ao aumento da

    temperatura de ativação (quanto maior a temperatura, maior será a densidade do carvão). Para

    Mangueira (2014), a densidade aparente está diretamente ligada a natureza do material

    precursor e de sua manufatura.

    No carvão produzido, a densidade aparente foi de 0,76 g.cm-3, e a densidade real

    encontrada foi de 0,90 g.cm-3, resultado aproximado a outras pesquisas realizadas

    anteriormente, como: densidade real de 0,88 g cm-³ para o endocarpo de macaúba (Acrocomia

    aculeata), citado por Neusatz Guilhen (2018) em sua pesquisa sobre a síntese e caracterização

    de biocarvão a partir do coco da macaúba. Além dos resultados dispostos por Melo (2012),

    que encontrou para o CA da biomassa residual da castanha do Brasil (Bertholletia excelsa L.),

    a densidade aparente de a 0,47 g cm-³, e densidade real de 0,96 g cm-³.

    5.2.4 Determinação da Porosidade

    A porosidade (volume de poros por grama do adsorvente) obtida nesta pesquisa

    apresentou o percentual de 14,99%, o que representa o volume total de todos os poros

    presentes na superficie do carvão, que se tornam aparentes devido ao desprendimento de

    materiais voláteis durante a pirólise. Em sua pesquisa Melo (2012), especifica uma média de

    50,52% de porosidade para o carvão ativado a partir da casca da castanha do Brasil

    (Bertholletia excelsa L.), e afirma que percentuais baixos de porosidade estão ligados a baixa

    densidade do carvão, assim quanto menos denso o carvão maior a quantidade de poros

    presentes em sua superfície. Vale ressaltar que o carvão pode sofrer modificações de acordo

    com o tipo de ativação a ser utilizada, elevando ou não a quantificação de poros em sua

    superfície. Este fator pode ser observado nas imagens obtidas pelo MEV dispostas no decorrer

    deste trabalho.

    5.2.5 Determinação do Teor de Materiais Voláteis e Rendimento em Carvão

    Em relação ao teor de materiais voláteis e do rendimento, as análises foram atribuídas

    ao CP e CAQP, representados na Figura 15.

  • 47

    Figura 15 - Comparação dos resultados do Teor de materiais voláteis e

    rendimento em carvão do CP e CAQP

    Fonte: Autoras

    Os percentuais de teor de materiais voláteis (CP = 17,63% e CAQP = 61,66%) e

    rendimento em carvão (CP = 82,38%, e CAQP = 38,35%), representam os compostos

    remanescentes do alcatrão que permaneceram na superfície do carvão