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Manual para Atendimento Integrado às Vítimas de Violência Junho, 2012 Serviços Integrados para Atendimento às Vitimas de Violência Ministério da Saúde Direcção Nacional de Assistência Médica

Ministério da Saúde Direcção Nacional de Assistência ...resources.jhpiego.org/system/files/resources/GBV_Manual_Pt.pdfcoragem de lutar contra a violação dos seus direitos humanos

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Manual para Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Junho, 2012

Serviços Integrados para Atendimentoàs Vitimas de Violência

Ministério da SaúdeDirecção Nacional de Assistência Médica

de Atendimento Integrado às Vítimas

de Género

Manual

Ministério da Saúde

Direcção Nacional de Assistência Médica

Junho, 2012

Serviços Integrados para Atendimentoàs Vitimas de Violência

Esta publicação é dedicada a todas as

crianças e mulheres sobreviventes da

violência para que mantenham a

coragem de lutar contra a violação dos

seus direitos humanos.

DEDICATÓRIA

de Atendimento Integrado às Vítimas

de Género

Manual

Ministério da Saúde

Direcção Nacional de Assistência Médica

Junho, 2012

Serviços Integrados para Atendimentoàs Vitimas de Violência

Esta publicação é dedicada a todas as

crianças e mulheres sobreviventes da

violência para que mantenham a

coragem de lutar contra a violação dos

seus direitos humanos.

DEDICATÓRIA

Autores

Francelina Pinto Romão, MISAU

Ana Baptista, Jhpiego

Micó Polana, Jhpiego

Sidónia Fiosse, Associação Moçambicana de Ginecologistas e Obstetras

Raquel Mahoque, OMS

Eliassara Antunes, Embaixada dos Países baixos

Revisores

Rosa Marlene, MISAU

Grupo PRESWAP de Género

Virgílio Ceia, MISAU

Rómulo Muthemba, MISAU

Armando Bucuane, MISAU

Fátima Souto, MISAU

Aleny Couto,MISAU

Lídia Gouveia, MISAU

Natércia Fernandes, Jhpiego

Colaboradores:

Amélia Kaufman, Consultora Jhpiego

Débora Bossemeyer, Jhpiego

Agradecimentos

A todos quanto directa ou indirectamente contribuíram para que este manual fosse desenvolvido.

Agradecimentos especiais aos médicos e médicas, psicólogos e psicólogas da Direcção Nacional de

Saúde Púlbica e Direcção Nacional de Assistência Médica, ao Grupo Pré-SWAP, OMS, Jhpiego, WLSA

Moçambique, Programa Nacional de Medicina Legal e os profissionais de saúde da DPS Gaza.

©Esta publicação do Ministério da Saúde da República de Moçambique (MISAU) foi realizada com o apoio técnico da

Jhpiego/CDC e com os fundos do povo dos Estados Unidos da América, disponibilizados por meio do Plano de

Emergência do Presidente para o Alívio do SIDA através dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC).

FICHA TÉCNICAÍNDICE

Prefácio

Abreviaturas

MÓDULO I

Introdução

MÓDULO II

Conceito de género

Conceito de violência e a natureza estrutural da violência de género

Ciclo da violência e mitos que legitimam a violência e a dificuldade de denunciar

MÓDULO III

Impacto da Violência no Estado de Saúde da Mulher

Consequências fatais

Consequências não fatais

Problemas físicos de saúde

Problemas mentais e comportamentais

Problemas de saúde sexual e reprodutiva da mulher

A violência na mulher grávida

Relação entre violência e o HIV e SIDA

MÓDULO IV

A importância da violência como assunto de saúde pública

Mecanismos legais existentes para a protecção das mulheres

Convenções internacionais

Legislação Moçambicana

Lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher ( Lei nº29/2009)

Principais mecanismos à disposição para denúncia e processos de justiça subsequentes

MÓDULO V

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde: provisão do pacote integrado de saúde

Papel da Unidade Sanitária e dos profissionais de Saúde

Protocolo de atendimento nas Unidades Sanitárias

Admissão

Material nos locais de atendimento

Algumas notas sobre o Atendimento

5

18

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MOÇAMBICANOS E AMERICANOSJUNTOS NA LUTA CONTRA O HIV/SIDA

Autores

Francelina Pinto Romão, MISAU

Ana Baptista, Jhpiego

Micó Polana, Jhpiego

Sidónia Fiosse, Associação Moçambicana de Ginecologistas e Obstetras

Raquel Mahoque, OMS

Eliassara Antunes, Embaixada dos Países baixos

Revisores

Rosa Marlene, MISAU

Grupo PRESWAP de Género

Virgílio Ceia, MISAU

Rómulo Muthemba, MISAU

Armando Bucuane, MISAU

Fátima Souto, MISAU

Aleny Couto,MISAU

Lídia Gouveia, MISAU

Natércia Fernandes, Jhpiego

Colaboradores:

Amélia Kaufman, Consultora Jhpiego

Débora Bossemeyer, Jhpiego

Agradecimentos

A todos quanto directa ou indirectamente contribuíram para que este manual fosse desenvolvido.

Agradecimentos especiais aos médicos e médicas, psicólogos e psicólogas da Direcção Nacional de

Saúde Púlbica e Direcção Nacional de Assistência Médica, ao Grupo Pré-SWAP, OMS, Jhpiego, WLSA

Moçambique, Programa Nacional de Medicina Legal e os profissionais de saúde da DPS Gaza.

©Esta publicação do Ministério da Saúde da República de Moçambique (MISAU) foi realizada com o apoio técnico da

Jhpiego/CDC e com os fundos do povo dos Estados Unidos da América, disponibilizados por meio do Plano de

Emergência do Presidente para o Alívio do SIDA através dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC).

FICHA TÉCNICAÍNDICE

Prefácio

Abreviaturas

MÓDULO I

Introdução

MÓDULO II

Conceito de género

Conceito de violência e a natureza estrutural da violência de género

Ciclo da violência e mitos que legitimam a violência e a dificuldade de denunciar

MÓDULO III

Impacto da Violência no Estado de Saúde da Mulher

Consequências fatais

Consequências não fatais

Problemas físicos de saúde

Problemas mentais e comportamentais

Problemas de saúde sexual e reprodutiva da mulher

A violência na mulher grávida

Relação entre violência e o HIV e SIDA

MÓDULO IV

A importância da violência como assunto de saúde pública

Mecanismos legais existentes para a protecção das mulheres

Convenções internacionais

Legislação Moçambicana

Lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher ( Lei nº29/2009)

Principais mecanismos à disposição para denúncia e processos de justiça subsequentes

MÓDULO V

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde: provisão do pacote integrado de saúde

Papel da Unidade Sanitária e dos profissionais de Saúde

Protocolo de atendimento nas Unidades Sanitárias

Admissão

Material nos locais de atendimento

Algumas notas sobre o Atendimento

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18

6

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MOÇAMBICANOS E AMERICANOSJUNTOS NA LUTA CONTRA O HIV/SIDA

A violência baseada no género é uma violação dos direitos fundamentais do ser

humano e constitui um problema sério de saúde pública. Tem impacto profundo

na saúde física, sexual e mental da vítima, tanto no momento do acontecimento,

como na sua vida futura.

A violência, incluindo a sexual, ocorre em todos os cenários culturais e níveis

sociais e é uma triste realidade que as mulheres e crianças têm vivido no nosso

país. O controlo da violência não é tarefa exclusiva das esferas jurídica, policial e

social, mas também da saúde, pois a maioria das vítimas procura estes serviços.

Estudos feitos no nosso país mostram que cerca de 54% das mulheres já foram

ou são vitimas de violência física e ou sexual. Não se conhece cabalmente a

prevalência da violência na criança, mas todos os profissionais de saúde são

unanimes na afirmação de haver cada vez mais crianças violentadas procurando

os nossos serviços.

Implementar serviços de atendimento integrado às vítimas de violência é zelar

pelos Direitos Humanos e, valorizar no espaço de saúde, a realização desses

Direitos é, neste caso, a melhor forma de garantir a saúde e, os profissionais de

saúde estão numa posição privilegiada para a realização desta tarefa.

Este manual prático tem como objectivo apoiar os quadros de saúde na

organização e gestão dos serviços de saúde de modo que as vitimas recebam os

cuidados que precisam, quando precisam, de forma amigável, obtenham os

resultados desejados, sem desperdício de recursos, assegurando a

uniformização da assistência, tendo em conta não só o trauma físico mas

também o trauma psicológico e os aspectos legais. A oferta destes serviços deve

ser sensível ao género de modo a reduzir o impacto físico e mental desta

experiência traumática, e, ser baseada na aplicação de princípios éticos e de

respeito aos direitos das pessoas atingidas por violência.

Maputo, aos 21 de Dezembro de 2011

O Ministério da Saúde

Alexandre L. Jaime Manguele

PREFÁCIO

4 5Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

MÓDULO VI

Apoio Psicológico

Suspeita da existência de violência ocorrida no passado ou a oorrer actualmente

Orientar o Diálogo

Alguns exemplos de como ouvir e perguntar sobre violência doméstica contra as mulheres

MÓDULO VII

Perícia médico-legal

Traumatologia forense

Sexologia forense

Perícia médico-legal

MÓDULO VIII

Coordenação intersectorial e ligação com a comunidade

O atendimento integrado

Como envolver a comunidade na prevenção e apoio das mulheres vítimas de violência

Outros aspectos a ter em conta

ANEXOS

ANEXO A - Crimes previstos no código penal e respectivas penas

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

49

57

51

57

51

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52

58

63

63

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71

69

53

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A violência baseada no género é uma violação dos direitos fundamentais do ser

humano e constitui um problema sério de saúde pública. Tem impacto profundo

na saúde física, sexual e mental da vítima, tanto no momento do acontecimento,

como na sua vida futura.

A violência, incluindo a sexual, ocorre em todos os cenários culturais e níveis

sociais e é uma triste realidade que as mulheres e crianças têm vivido no nosso

país. O controlo da violência não é tarefa exclusiva das esferas jurídica, policial e

social, mas também da saúde, pois a maioria das vítimas procura estes serviços.

Estudos feitos no nosso país mostram que cerca de 54% das mulheres já foram

ou são vitimas de violência física e ou sexual. Não se conhece cabalmente a

prevalência da violência na criança, mas todos os profissionais de saúde são

unanimes na afirmação de haver cada vez mais crianças violentadas procurando

os nossos serviços.

Implementar serviços de atendimento integrado às vítimas de violência é zelar

pelos Direitos Humanos e, valorizar no espaço de saúde, a realização desses

Direitos é, neste caso, a melhor forma de garantir a saúde e, os profissionais de

saúde estão numa posição privilegiada para a realização desta tarefa.

Este manual prático tem como objectivo apoiar os quadros de saúde na

organização e gestão dos serviços de saúde de modo que as vitimas recebam os

cuidados que precisam, quando precisam, de forma amigável, obtenham os

resultados desejados, sem desperdício de recursos, assegurando a

uniformização da assistência, tendo em conta não só o trauma físico mas

também o trauma psicológico e os aspectos legais. A oferta destes serviços deve

ser sensível ao género de modo a reduzir o impacto físico e mental desta

experiência traumática, e, ser baseada na aplicação de princípios éticos e de

respeito aos direitos das pessoas atingidas por violência.

Maputo, aos 21 de Dezembro de 2011

O Ministério da Saúde

Alexandre L. Jaime Manguele

PREFÁCIO

4 5Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

MÓDULO VI

Apoio Psicológico

Suspeita da existência de violência ocorrida no passado ou a oorrer actualmente

Orientar o Diálogo

Alguns exemplos de como ouvir e perguntar sobre violência doméstica contra as mulheres

MÓDULO VII

Perícia médico-legal

Traumatologia forense

Sexologia forense

Perícia médico-legal

MÓDULO VIII

Coordenação intersectorial e ligação com a comunidade

O atendimento integrado

Como envolver a comunidade na prevenção e apoio das mulheres vítimas de violência

Outros aspectos a ter em conta

ANEXOS

ANEXO A - Crimes previstos no código penal e respectivas penas

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

49

57

51

57

51

57

52

58

63

63

64

64

67

71

69

53

55

61

Introdução

Módulo I

Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência6

AZT - Zidovudina

CE - Contracepção de Emergência

CSCS - Centro de Saúde

D4T - Stavudina

LPV/r - Lopinavir combinado com ritonavir

HIV - Vírus de Imunodeficiência Humana

IP - Inibidor de Protease

ITS - Infecção de Transmissão Sexual

PPE - Profilaxia Pós Exposição Não Ocupacional ao HIV

SIAVV - Serviços Integrados para Atendimento às Vítimas de Violência Sexual

SIDA - Síndrome de Imunodeficiência Humana

SMI - Saúde Materno Infantil

3TC - Lamivudina

US - Unidade Sanitária

VS - Violência Sexual

VVS - Vítimas de Violência Sexual

ABREVIATURAS

Introdução

Módulo I

Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência6

AZT - Zidovudina

CE - Contracepção de Emergência

CSCS - Centro de Saúde

D4T - Stavudina

LPV/r - Lopinavir combinado com ritonavir

HIV - Vírus de Imunodeficiência Humana

IP - Inibidor de Protease

ITS - Infecção de Transmissão Sexual

PPE - Profilaxia Pós Exposição Não Ocupacional ao HIV

SIAVV - Serviços Integrados para Atendimento às Vítimas de Violência Sexual

SIDA - Síndrome de Imunodeficiência Humana

SMI - Saúde Materno Infantil

3TC - Lamivudina

US - Unidade Sanitária

VS - Violência Sexual

VVS - Vítimas de Violência Sexual

ABREVIATURAS

A violência, especialmente a doméstica é um tema que vem sendo a cada dia mais abordado

como uma questão de saúde. Entretanto alguns profissionais desta área têm sérias dúvidas

sobre a oportunidade de trabalhar num problema desta natureza numa rede de serviços de

saúde já bastante sobrecarregada.

Realmente, muitas vezes os profissionais têm pouco conhecimento sobre o que fazer nestes

casos, já que a sua formação raramente inclui o tema na sua globalidade.

Intervir em situações de violência não é tarefa exclusiva das esferas jurídica, policial e psico-

social, mas é também da área de saúde, pois há sofrimentos e doenças que acometem às

vítimas de violência, alterando o seu estado de saúde. Se este estado de doença não for ime-

diatamente tratado ou prevenido, pode levar ao aparecimento de outras doenças ainda mais

graves, muitas delas crónicas.

Além disso, devido ao papel da mulher, ainda hoje quase que exclusivo na educação e pres-

tação de cuidados às crianças, idosos e enfermos no âmbito doméstico, a mulher ocupa uma

posição também central para lidar com a saúde dos membros da família. As mulheres víti-

mas de violência, devido à sua situação de stress tendem a ser menos efectivas na presta-

ção de cuidados a si próprias e aos demais familiares sob a sua responsabilidade.

Há diversas propostas no plano internacional e também em Moçambique, para estabelecer

protocolos de atenção específica para a violência contra a mulher e/ou intra familiar, já que

esta forma de violência é uma situação muito frequente e tem importantes repercussões nos

direitos humanos e na saúde das pessoas.

Existem várias acções simples que os profissionais da saúde podem realizar para apoiar a

reposição dos direitos humanos violados e colocar-se contra a violência, de modo a prevenir

episódios futuros, para além de tratar os episódios actuais.

Este manual tem por objectivo ajudar a preencher as lacunas de conhecimento que impe-

dem os profissionais de providenciarem uma melhor assistência às vítimas de violência nos

serviços de saúde.

A violência, em especial a doméstica, é uma triste realidade que necessita de uma aborda-

gem global e integrada. O foco neste manual será colocado principalmente nas mulheres e

nas crianças que sofrem de violência doméstica, mas os procedimentos também se aplicam

aos demais grupos etários e ao sexo masculino, incluindo a violência contra as mulheres nou-

tro ambiente que não o doméstico. A violência doméstica é a forma mais frequente de vio-

lência sofrida pelas mulheres, ao contrário dos homens, cuja principal forma é a cometida no

espaço público por conhecidos ou estranhos. As mulheres são também as principais usuári-

as dos serviços de saúde, especialmente os de atenção primária, na componenete de saúde

reprodutiva. Estar-se-á portanto, tratando principalmente da violência contra a mulher e da

violência doméstica contra as mulheres e crianças que procuram os serviços de saúde.

Atender essas mulheres e crianças que sofrem de violência é zelar pelo gozo dos seus Direi-

tos Humanos e valorizar, no espaço da Saúde, a realização desses Direitos. Promover os Dire-

itos Humanos é neste caso, a melhor forma de garantir a saúde, e os profissionais de saúde

estão numa posição privilegiada para esta tarefa.

Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência8 9

Introdução

A violência, especialmente a doméstica é um tema que vem sendo a cada dia mais abordado

como uma questão de saúde. Entretanto alguns profissionais desta área têm sérias dúvidas

sobre a oportunidade de trabalhar num problema desta natureza numa rede de serviços de

saúde já bastante sobrecarregada.

Realmente, muitas vezes os profissionais têm pouco conhecimento sobre o que fazer nestes

casos, já que a sua formação raramente inclui o tema na sua globalidade.

Intervir em situações de violência não é tarefa exclusiva das esferas jurídica, policial e psico-

social, mas é também da área de saúde, pois há sofrimentos e doenças que acometem às

vítimas de violência, alterando o seu estado de saúde. Se este estado de doença não for ime-

diatamente tratado ou prevenido, pode levar ao aparecimento de outras doenças ainda mais

graves, muitas delas crónicas.

Além disso, devido ao papel da mulher, ainda hoje quase que exclusivo na educação e pres-

tação de cuidados às crianças, idosos e enfermos no âmbito doméstico, a mulher ocupa uma

posição também central para lidar com a saúde dos membros da família. As mulheres víti-

mas de violência, devido à sua situação de stress tendem a ser menos efectivas na presta-

ção de cuidados a si próprias e aos demais familiares sob a sua responsabilidade.

Há diversas propostas no plano internacional e também em Moçambique, para estabelecer

protocolos de atenção específica para a violência contra a mulher e/ou intra familiar, já que

esta forma de violência é uma situação muito frequente e tem importantes repercussões nos

direitos humanos e na saúde das pessoas.

Existem várias acções simples que os profissionais da saúde podem realizar para apoiar a

reposição dos direitos humanos violados e colocar-se contra a violência, de modo a prevenir

episódios futuros, para além de tratar os episódios actuais.

Este manual tem por objectivo ajudar a preencher as lacunas de conhecimento que impe-

dem os profissionais de providenciarem uma melhor assistência às vítimas de violência nos

serviços de saúde.

A violência, em especial a doméstica, é uma triste realidade que necessita de uma aborda-

gem global e integrada. O foco neste manual será colocado principalmente nas mulheres e

nas crianças que sofrem de violência doméstica, mas os procedimentos também se aplicam

aos demais grupos etários e ao sexo masculino, incluindo a violência contra as mulheres nou-

tro ambiente que não o doméstico. A violência doméstica é a forma mais frequente de vio-

lência sofrida pelas mulheres, ao contrário dos homens, cuja principal forma é a cometida no

espaço público por conhecidos ou estranhos. As mulheres são também as principais usuári-

as dos serviços de saúde, especialmente os de atenção primária, na componenete de saúde

reprodutiva. Estar-se-á portanto, tratando principalmente da violência contra a mulher e da

violência doméstica contra as mulheres e crianças que procuram os serviços de saúde.

Atender essas mulheres e crianças que sofrem de violência é zelar pelo gozo dos seus Direi-

tos Humanos e valorizar, no espaço da Saúde, a realização desses Direitos. Promover os Dire-

itos Humanos é neste caso, a melhor forma de garantir a saúde, e os profissionais de saúde

estão numa posição privilegiada para esta tarefa.

Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência8 9

Introdução

CONCEITO DE VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO

Módulo II

10 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

CONCEITO DE VIOLÊNCIA BASEADA NO GÉNERO

Módulo II

10 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Conceito de género

Quando se fala sobre género refere-se às relações socialmente construídas sobre os papéis

de mulheres e homens. Estas relações têm a ver com o que uma determinada sociedade esta-

belece sobre o que deve ser um homem e o que deve ser uma mulher para serem socialmen-

te aceites: quais os papéis que cada um desempenha, qual o seu comportamento, os seus

deveres, atitudes, responsabilidades, obrigações e direitos.

O conceito de género é diferente de sexo. O sexo refere-se às características biológicas de

mulheres e homens, isto é, a especificidade dos seus aparelhos reprodutores, o seu funciona-

mento e caracteres sexuais secundários decorrentes das hormonas de cada um deles. Estas

características são naturais e não podem ser mudadas.

Quanto ao género, desde o nascimento de uma criança, inicia-se o processo de socialização

(educação para a vida social) a partir de regras, provérbios, mitos, usos e costumes, ensina-

dos nas diversas instituições em que se inserem as pessoas: na família, na escola, na comuni-

dade, na igreja e mais tarde no local de trabalho, incluindo as instituições do Governo a partir

dos programas, das políticas, dos planos de acção, das leis e da aplicação da justiça. Estas

instituições espelham a imagem do que deve ser o comportamento e atitude, deveres e direi-

tos de uma mulher e de um homem no seu contexto social. São as normas, usos e costumes

de uma determinada sociedade que determinam uma forma de estar diferente para homens

e mulheres. O mais importante é que ao mesmo tempo que a sociedade estabelece o que

deve ser um homem e uma mulher, define também que papéis são mais importantes, quem

deve ter o controlo, a autoridade e o poder. Determina também quem tem acesso aos recur-

sos, à educação, ao emprego e quem toma as decisões, ou seja, como devem ser as relações

entre os homens e as mulheres.

Observa-se que os homens são os mais valorizados nas suas tarefas: muitas sociedades con-

sideram que é mais importante o trabalho dos homens e, o trabalho doméstico de cuidar da

família é considerado menos importante, passando a um segundo plano. Mesmo se a mulher

tem um trabalho remunerado, ela tem que "apresentar" o seu salário ao marido e é ele que

deve autorizar a sua aplicação. Até o trabalho dentro do lar é controlado pelo marido.

Isto é denominado "modelo patriarcal", onde o homem tem direitos e privilégios, autoridade

e poder. Este poder faz com que a mulher se torne dependente, subordinada, dominada e mui-

tas vezes discriminada ou excluída. Este modelo patriarcal é o modelo dominante na nossa

sociedade, onde as "relações de poder" não são iguais, pois determinam quem é o dominador

e quem é o dominado.

Quando acima se fala de "relações entre homens e mulheres" refere-se portanto a relações

de desigualdade construídas pela sociedade. Não é por natureza que a mulher é subordina-

da, é porque a sociedade assim entendeu e educou os seus cidadãos. A esta hierarquia social

entre mulheres e homens se chama desigualdade de género ou discriminação de género.

Quando se fala em mudar as relações de género o que se quer é a igualdade de direitos e de

oportunidades entre as mulheres e os homens. Quando se diz que se deve lutar pela igualda-

de entre a mulher e o homem é porque se pretende mudar o que foi socialmente construído, e

que, portanto, pode ser mudado. Não é uma luta fácil, pois existe muita resistência à mudan-

ça: por um lado os que detêm o "poder dominador" não o querem perder e por outro lado as

subordinadas, as mulheres, foram educadas para aceitar esta ordem. Pode-se encontrar

mulheres que dizem: "A vida é assim, paciência". No fundo, elas têm medo de lutar porque a

sua subordinação cria-lhe extrema insegurança. Quando se fala em trabalhar numa "pers-

pectiva de género", quer dizer que se vai trabalhar pela igualdade entre homens e mulheres:

igualdade de direitos e oportunidades. A isto se também se designa de "justiça social".

12 13Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Conceito de género

Quando se fala sobre género refere-se às relações socialmente construídas sobre os papéis

de mulheres e homens. Estas relações têm a ver com o que uma determinada sociedade esta-

belece sobre o que deve ser um homem e o que deve ser uma mulher para serem socialmen-

te aceites: quais os papéis que cada um desempenha, qual o seu comportamento, os seus

deveres, atitudes, responsabilidades, obrigações e direitos.

O conceito de género é diferente de sexo. O sexo refere-se às características biológicas de

mulheres e homens, isto é, a especificidade dos seus aparelhos reprodutores, o seu funciona-

mento e caracteres sexuais secundários decorrentes das hormonas de cada um deles. Estas

características são naturais e não podem ser mudadas.

Quanto ao género, desde o nascimento de uma criança, inicia-se o processo de socialização

(educação para a vida social) a partir de regras, provérbios, mitos, usos e costumes, ensina-

dos nas diversas instituições em que se inserem as pessoas: na família, na escola, na comuni-

dade, na igreja e mais tarde no local de trabalho, incluindo as instituições do Governo a partir

dos programas, das políticas, dos planos de acção, das leis e da aplicação da justiça. Estas

instituições espelham a imagem do que deve ser o comportamento e atitude, deveres e direi-

tos de uma mulher e de um homem no seu contexto social. São as normas, usos e costumes

de uma determinada sociedade que determinam uma forma de estar diferente para homens

e mulheres. O mais importante é que ao mesmo tempo que a sociedade estabelece o que

deve ser um homem e uma mulher, define também que papéis são mais importantes, quem

deve ter o controlo, a autoridade e o poder. Determina também quem tem acesso aos recur-

sos, à educação, ao emprego e quem toma as decisões, ou seja, como devem ser as relações

entre os homens e as mulheres.

Observa-se que os homens são os mais valorizados nas suas tarefas: muitas sociedades con-

sideram que é mais importante o trabalho dos homens e, o trabalho doméstico de cuidar da

família é considerado menos importante, passando a um segundo plano. Mesmo se a mulher

tem um trabalho remunerado, ela tem que "apresentar" o seu salário ao marido e é ele que

deve autorizar a sua aplicação. Até o trabalho dentro do lar é controlado pelo marido.

Isto é denominado "modelo patriarcal", onde o homem tem direitos e privilégios, autoridade

e poder. Este poder faz com que a mulher se torne dependente, subordinada, dominada e mui-

tas vezes discriminada ou excluída. Este modelo patriarcal é o modelo dominante na nossa

sociedade, onde as "relações de poder" não são iguais, pois determinam quem é o dominador

e quem é o dominado.

Quando acima se fala de "relações entre homens e mulheres" refere-se portanto a relações

de desigualdade construídas pela sociedade. Não é por natureza que a mulher é subordina-

da, é porque a sociedade assim entendeu e educou os seus cidadãos. A esta hierarquia social

entre mulheres e homens se chama desigualdade de género ou discriminação de género.

Quando se fala em mudar as relações de género o que se quer é a igualdade de direitos e de

oportunidades entre as mulheres e os homens. Quando se diz que se deve lutar pela igualda-

de entre a mulher e o homem é porque se pretende mudar o que foi socialmente construído, e

que, portanto, pode ser mudado. Não é uma luta fácil, pois existe muita resistência à mudan-

ça: por um lado os que detêm o "poder dominador" não o querem perder e por outro lado as

subordinadas, as mulheres, foram educadas para aceitar esta ordem. Pode-se encontrar

mulheres que dizem: "A vida é assim, paciência". No fundo, elas têm medo de lutar porque a

sua subordinação cria-lhe extrema insegurança. Quando se fala em trabalhar numa "pers-

pectiva de género", quer dizer que se vai trabalhar pela igualdade entre homens e mulheres:

igualdade de direitos e oportunidades. A isto se também se designa de "justiça social".

12 13Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Toda a violência que pretende conservar as relações de género estabelecidas pelo

poder patriarcal (do homem sobre a mulher) é denominada violência de género ou vio-

lência baseada no género.

A violência de género é, portanto, no contexto social de Moçambique, violência contra a

mulher. Quando isto acontece dentro do lar, chama-se de violência doméstica. A violência

de género não acontece só no lar e no espaço privado, mas também na comunidade e no

local de trabalho.

A violência doméstica manifesta-se através de um comportamento depreciativo

em relação à esposa ou parceira, ataques verbais persistentes contra a sua auto-

estima, a limitação ou proibição do seu relacionamento com familiares e amigos, o

controlo do acesso ao dinheiro e outros recursos familiares, as acusações repeti-

das de infidelidade e de culpabilidade, conjuntamente com agressões contra a sua

integridade física e a dos seus filhos, frustrando-lhe o seu projecto de vida, o que

constitui em essência uma violação explícita dos direitos humanos.

Na violência de género, o objectivo geral do perpetrador da VG é controlar e dominar. A VG

geralmente envolve um padrão de abuso. Isto é particularmente verdade quando o perpe-

trador conhece a vítima, o que foi documentado na maioria dos casos de VG (Russell, 1986).

As vítimas de VG afirmam que quanto mais íntimo o relacionamento, mais traumático o

abuso (Zierler et al., 1991). O padrão do abuso pode ser episódico, recorrente ou crónico.

Muda com o tempo, situação económica, política, geográfica, social e cultural. . .

Não se modifica

Diferença entre…

Género

nÉ social

nA pessoa é ensinada

nÉ composto por:

lAtitudes

lComportamento

lCultura

lRelacionamento

nNasce-se com ele (natural, biológico)

nÉ composto por:

lCromossomas

lHormonas

lFisionomia

lOrgãos reprodutivos

Sexo

Socialmente definido

Conjunto de características biológicas que identificam as diferenças entre as mulheres e os homens

Genéticamente determinado

Género Sexo

Conjunto de característi-cas, responsabilidades, papéis e padrões de com-portamento que diferenci-am as mulheres e os homens

Diferença entre…

O que é então a

violência

doméstica?

Conceito de violência e a natureza estrutural da violência de género

A OMS define Violência como "o uso intencional da força física ou do poder, sob a forma

de ameaça ou real, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunida-

de, que resulta ou tem uma grande probabilidade em resultar em lesão, morte, dano psicoló-

gico, alterações no desenvolvimento ou privações". Ainda segundo a OMS, a violência con-

tra a mulher, é qualquer conduta ou acto - acção ou omissão - de discriminação, agressão ou

coerção, ocasionada pelo simples facto de a vítima ser mulher.

Neste sentido está-se de acordo com a definição que aparece na Convenção para a Elimin-

ção de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW em Inglês) adoptada

pelas Nações Unidas em 1993: "A violência contra as mulheres é uma manifestação das his-

tóricas relações desiguais de poder entre homens e mulheres, levando à dominação e à dis-

criminação contra as mulheres pelos homens. Esta violência é um dos mecanismos sociais

cruciais através dos quais as mulheres são forçadas a uma posição de subordinação em com-

paração aos homens".

14 15Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Toda a violência que pretende conservar as relações de género estabelecidas pelo

poder patriarcal (do homem sobre a mulher) é denominada violência de género ou vio-

lência baseada no género.

A violência de género é, portanto, no contexto social de Moçambique, violência contra a

mulher. Quando isto acontece dentro do lar, chama-se de violência doméstica. A violência

de género não acontece só no lar e no espaço privado, mas também na comunidade e no

local de trabalho.

A violência doméstica manifesta-se através de um comportamento depreciativo

em relação à esposa ou parceira, ataques verbais persistentes contra a sua auto-

estima, a limitação ou proibição do seu relacionamento com familiares e amigos, o

controlo do acesso ao dinheiro e outros recursos familiares, as acusações repeti-

das de infidelidade e de culpabilidade, conjuntamente com agressões contra a sua

integridade física e a dos seus filhos, frustrando-lhe o seu projecto de vida, o que

constitui em essência uma violação explícita dos direitos humanos.

Na violência de género, o objectivo geral do perpetrador da VG é controlar e dominar. A VG

geralmente envolve um padrão de abuso. Isto é particularmente verdade quando o perpe-

trador conhece a vítima, o que foi documentado na maioria dos casos de VG (Russell, 1986).

As vítimas de VG afirmam que quanto mais íntimo o relacionamento, mais traumático o

abuso (Zierler et al., 1991). O padrão do abuso pode ser episódico, recorrente ou crónico.

Muda com o tempo, situação económica, política, geográfica, social e cultural. . .

Não se modifica

Diferença entre…

Género

nÉ social

nA pessoa é ensinada

nÉ composto por:

lAtitudes

lComportamento

lCultura

lRelacionamento

nNasce-se com ele (natural, biológico)

nÉ composto por:

lCromossomas

lHormonas

lFisionomia

lOrgãos reprodutivos

Sexo

Socialmente definido

Conjunto de características biológicas que identificam as diferenças entre as mulheres e os homens

Genéticamente determinado

Género Sexo

Conjunto de característi-cas, responsabilidades, papéis e padrões de com-portamento que diferenci-am as mulheres e os homens

Diferença entre…

O que é então a

violência

doméstica?

Conceito de violência e a natureza estrutural da violência de género

A OMS define Violência como "o uso intencional da força física ou do poder, sob a forma

de ameaça ou real, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunida-

de, que resulta ou tem uma grande probabilidade em resultar em lesão, morte, dano psicoló-

gico, alterações no desenvolvimento ou privações". Ainda segundo a OMS, a violência con-

tra a mulher, é qualquer conduta ou acto - acção ou omissão - de discriminação, agressão ou

coerção, ocasionada pelo simples facto de a vítima ser mulher.

Neste sentido está-se de acordo com a definição que aparece na Convenção para a Elimin-

ção de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW em Inglês) adoptada

pelas Nações Unidas em 1993: "A violência contra as mulheres é uma manifestação das his-

tóricas relações desiguais de poder entre homens e mulheres, levando à dominação e à dis-

criminação contra as mulheres pelos homens. Esta violência é um dos mecanismos sociais

cruciais através dos quais as mulheres são forçadas a uma posição de subordinação em com-

paração aos homens".

14 15Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Os perpetradores usam algumas tácticas como parte do abuso e assim podem abusar a víti-

ma não só sexualmente como também física, psicológica, e emocional/verbalmente. Isto

pode ter graves consequências na vítima, causando lesão física, dor psicológica e medo

constante.

A Violência de Género pode ser classificada como:

Segundo a OMS, o abuso sexual infantil é "um abuso de poder que acompanha muitas for-

mas de actividade sexual entre uma criança ou adolescente (maior parte das vezes uma

menina) e uma pessoa mais velha," a maior parte das vezes um homem ou um rapaz mais

velho, conhecidos da vítima.

Este abuso pode ser fisicamente forçado ou conseguido através de tácticas coercivas tais

como oferta de dinheiro para pagamento das despesas da escola ou ameaças para manter o

segredo. Algumas vezes, pode tomar a forma de quebra de confiança na qual um indivíduo,

que goza da confiança da criança usa essa confiança para assegurar os favores sexuais.

"O incesto, abuso sexual que ocorre na família, embora na maior parte das vezes perpetrada

por um pai, padrasto, avô, tio, irmão ou outro indivíduo do sexo masculino, pode também vir

de um parente do sexo feminino. O incesto tem acima de tudo, uma dimensão psicológica de

traição, por ser praticado por um membro da família que deveria tomar conta e proteger a

criança" (OMS, 1997).

O abuso sexual pode envolver carícias, masturbação, contacto oral, vaginal ou anal. Não é

necessário que o acto sexual ocorra para ser considerado abuso sexual. O abuso sexual é

também o uso da criança para prostituição, pornografia e exibicionismo.

A violência doméstica é a agressão física, verbal, emocional, psicológica e/ou sexual de uma

mulher pelo seu esposo ou parceiro (ou ex-esposo ou ex-parceiro). Este tipo de VIOLÊNCIA

pode envolver o uso de palavras ou actos ameaçadores ou intimidantes, espancamento, uso

de arma, violação sexual, aprisionamento, controlo financeiro, crueldade em relação à

mulher ou em relação a outras pessoas ou coisas que ela estima e linguagem abusiva e nega-

tivamente crítica.

O abuso físico precisa de acontecer só uma vez para deixar a vítima com medo. Depois de

experimentar um episódio de pancada, a vítima tem medo de uma reocorrência. O agressor

só precisa agora de ameaçá-la verbalmente ou de olhar para ela de uma maneira intimidan-

te para forçá-la a obedecer.

Violência física envolve um padrão de assaltos e ameaças físicas usados para controlar a

mulher. Inclui dar murros, bater, estrangular, morder e atirar objectos, dar pontapés e arras-

tar e usar uma arma como uma pistola ou faca. O abuso físico geralmente vai aumentando

de intensidade ao longo do tempo e pode terminar com a morte da mulher.

Violência sexual no contexto doméstico envolve o mau trato ou o controlo sexual da parce-

ira. Pode incluir a demanda de sexo usando coerção ou a realização de certos actos sexuais,

forçando-a a ter relações com outras pessoas, tratando-a de uma maneira derrogatória e/ou

insistindo em sexo não seguro.

Violência emocional e verbal é o mau tratamento e rebaixamento da personalidade da

parceira. Pode incluir criticismo, ameaças, insultos, comentários para rebaixar e manipula-

ção por parte do agressor. A violência emocional acompanha todas as outras formas de vio-

lência.

Abuso Sexual Infantil

Violência doméstica

Violência psicológica é toda a acção ou omissão cujo propósito seja degradar ou controlar

as acções, comportamentos, crenças, direitos ou decisões das mulheres, através de intimi-

dação, manipulação, ameaça directa ou indirecta, humilhação, isolamento, encerramento

ou qualquer outra conduta ou omissão que implique um dano à saúde psicológica, ao desen-

volvimento integral ou à sua autodeterminação. Traduz-se no uso de várias tácticas para iso-

lar e rebaixar a auto-estima da parceira, para torná-la mais dependente e com mais medo do

agressor. Pode incluir actos como:

nImpedir que a mulher trabalhe fora de casa

nRetirar dinheiro ou acesso ao dinheiro

nIsolá-la da sua família e amigos

nAmeaçar e magoar as pessoas e coisas que ela ama

nControlá-la constantemente.

Este tipo de violência também acompanha todas as outras formas de violência.

Violência sexual é o uso da força física, ou ameaça de força ou coerção emocional para

penetrar na vagina de uma mulher, orifício oral ou anal sem o seu consentimento. Na maioria

dos casos, o perpetrador é alguém que a mulher conhece. A violência pode ser uma ocorrên-

cia única ou pode acontecer várias vezes. Também pode envolver o uso de álcool e drogas,

tornando deste modo a mulher mais vulnerável. Muitas vítimas de violação sexual sofrem

ferimentos graves e/ou perda de consciência, incluindo doença mental e morte a seguir à vio-

lação; muitas tentam o suicídio. As crianças do sexo feminino violadas, quando se tornam

adultas, correm maior risco de prática de sexo sem protecção e consumo de drogas.

Assalto Sexual é o contacto sexual não consensual que não inclui penetração.

Consiste na conduta de carácter sexual não desejada para quem a recebe. As mulheres são

as principais vítimas de assédio sexual devido à discriminação a que são sujeitas. Os homens

pensam que têm o direito a pedir favores sexuais porque é da "natureza" masculina desejar a

mulher. As jovens estudantes e as jovens trabalhadoras, principalmente no escalão laboral

mais baixo, são as maiores vítimas por serem mais vulneráveis às pressões masculinas e

mais dependentes. Este tipo de violência é comum nos locais de trabalho e nas escolas.

Outros tipos de violência com efeitos directos e indirectos na saúde da mulher:

a) Violência social é todo o acto que envolve a distribuição rígida de papéis e carga de traba-

lho, em que a mulher é a única reponsavel pela manutenção da família (produção e trans-

porte de alimentos, transporte dos utensilios para a machamba/casa, carregar água, lavar

roupa, lavar louça, varrer, cozinhar, etc., impossibilitando-a de construir o seu projecto de

vida. O acto de não permitir que mulheres e meninas estudem constitui também um acto

de violência social. Este tipo de violência é o mais comum nas nos lares e nas comunida-

des.

b) Violência económica é toda a conduta que envolva retenção, subtracção e/ou, destruição

parcial ou total dos objectos ou recursos económicos. Exemplos comuns no nosso País

tomam diversas formas como por exemplo: a esposa não conhecer o salário auferido pelo

marido ou a esposa trabalhar na produção agrícola e o marido efectuar a venda dos produ-

tos no mercado usando o dinheiro da venda a seu belprazer. O espólio dos bens da viúva

constitui também violência económica, para além de patrimonial.

Violência ou Assalto Sexual

Assédio sexual

16 17Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Os perpetradores usam algumas tácticas como parte do abuso e assim podem abusar a víti-

ma não só sexualmente como também física, psicológica, e emocional/verbalmente. Isto

pode ter graves consequências na vítima, causando lesão física, dor psicológica e medo

constante.

A Violência de Género pode ser classificada como:

Segundo a OMS, o abuso sexual infantil é "um abuso de poder que acompanha muitas for-

mas de actividade sexual entre uma criança ou adolescente (maior parte das vezes uma

menina) e uma pessoa mais velha," a maior parte das vezes um homem ou um rapaz mais

velho, conhecidos da vítima.

Este abuso pode ser fisicamente forçado ou conseguido através de tácticas coercivas tais

como oferta de dinheiro para pagamento das despesas da escola ou ameaças para manter o

segredo. Algumas vezes, pode tomar a forma de quebra de confiança na qual um indivíduo,

que goza da confiança da criança usa essa confiança para assegurar os favores sexuais.

"O incesto, abuso sexual que ocorre na família, embora na maior parte das vezes perpetrada

por um pai, padrasto, avô, tio, irmão ou outro indivíduo do sexo masculino, pode também vir

de um parente do sexo feminino. O incesto tem acima de tudo, uma dimensão psicológica de

traição, por ser praticado por um membro da família que deveria tomar conta e proteger a

criança" (OMS, 1997).

O abuso sexual pode envolver carícias, masturbação, contacto oral, vaginal ou anal. Não é

necessário que o acto sexual ocorra para ser considerado abuso sexual. O abuso sexual é

também o uso da criança para prostituição, pornografia e exibicionismo.

A violência doméstica é a agressão física, verbal, emocional, psicológica e/ou sexual de uma

mulher pelo seu esposo ou parceiro (ou ex-esposo ou ex-parceiro). Este tipo de VIOLÊNCIA

pode envolver o uso de palavras ou actos ameaçadores ou intimidantes, espancamento, uso

de arma, violação sexual, aprisionamento, controlo financeiro, crueldade em relação à

mulher ou em relação a outras pessoas ou coisas que ela estima e linguagem abusiva e nega-

tivamente crítica.

O abuso físico precisa de acontecer só uma vez para deixar a vítima com medo. Depois de

experimentar um episódio de pancada, a vítima tem medo de uma reocorrência. O agressor

só precisa agora de ameaçá-la verbalmente ou de olhar para ela de uma maneira intimidan-

te para forçá-la a obedecer.

Violência física envolve um padrão de assaltos e ameaças físicas usados para controlar a

mulher. Inclui dar murros, bater, estrangular, morder e atirar objectos, dar pontapés e arras-

tar e usar uma arma como uma pistola ou faca. O abuso físico geralmente vai aumentando

de intensidade ao longo do tempo e pode terminar com a morte da mulher.

Violência sexual no contexto doméstico envolve o mau trato ou o controlo sexual da parce-

ira. Pode incluir a demanda de sexo usando coerção ou a realização de certos actos sexuais,

forçando-a a ter relações com outras pessoas, tratando-a de uma maneira derrogatória e/ou

insistindo em sexo não seguro.

Violência emocional e verbal é o mau tratamento e rebaixamento da personalidade da

parceira. Pode incluir criticismo, ameaças, insultos, comentários para rebaixar e manipula-

ção por parte do agressor. A violência emocional acompanha todas as outras formas de vio-

lência.

Abuso Sexual Infantil

Violência doméstica

Violência psicológica é toda a acção ou omissão cujo propósito seja degradar ou controlar

as acções, comportamentos, crenças, direitos ou decisões das mulheres, através de intimi-

dação, manipulação, ameaça directa ou indirecta, humilhação, isolamento, encerramento

ou qualquer outra conduta ou omissão que implique um dano à saúde psicológica, ao desen-

volvimento integral ou à sua autodeterminação. Traduz-se no uso de várias tácticas para iso-

lar e rebaixar a auto-estima da parceira, para torná-la mais dependente e com mais medo do

agressor. Pode incluir actos como:

nImpedir que a mulher trabalhe fora de casa

nRetirar dinheiro ou acesso ao dinheiro

nIsolá-la da sua família e amigos

nAmeaçar e magoar as pessoas e coisas que ela ama

nControlá-la constantemente.

Este tipo de violência também acompanha todas as outras formas de violência.

Violência sexual é o uso da força física, ou ameaça de força ou coerção emocional para

penetrar na vagina de uma mulher, orifício oral ou anal sem o seu consentimento. Na maioria

dos casos, o perpetrador é alguém que a mulher conhece. A violência pode ser uma ocorrên-

cia única ou pode acontecer várias vezes. Também pode envolver o uso de álcool e drogas,

tornando deste modo a mulher mais vulnerável. Muitas vítimas de violação sexual sofrem

ferimentos graves e/ou perda de consciência, incluindo doença mental e morte a seguir à vio-

lação; muitas tentam o suicídio. As crianças do sexo feminino violadas, quando se tornam

adultas, correm maior risco de prática de sexo sem protecção e consumo de drogas.

Assalto Sexual é o contacto sexual não consensual que não inclui penetração.

Consiste na conduta de carácter sexual não desejada para quem a recebe. As mulheres são

as principais vítimas de assédio sexual devido à discriminação a que são sujeitas. Os homens

pensam que têm o direito a pedir favores sexuais porque é da "natureza" masculina desejar a

mulher. As jovens estudantes e as jovens trabalhadoras, principalmente no escalão laboral

mais baixo, são as maiores vítimas por serem mais vulneráveis às pressões masculinas e

mais dependentes. Este tipo de violência é comum nos locais de trabalho e nas escolas.

Outros tipos de violência com efeitos directos e indirectos na saúde da mulher:

a) Violência social é todo o acto que envolve a distribuição rígida de papéis e carga de traba-

lho, em que a mulher é a única reponsavel pela manutenção da família (produção e trans-

porte de alimentos, transporte dos utensilios para a machamba/casa, carregar água, lavar

roupa, lavar louça, varrer, cozinhar, etc., impossibilitando-a de construir o seu projecto de

vida. O acto de não permitir que mulheres e meninas estudem constitui também um acto

de violência social. Este tipo de violência é o mais comum nas nos lares e nas comunida-

des.

b) Violência económica é toda a conduta que envolva retenção, subtracção e/ou, destruição

parcial ou total dos objectos ou recursos económicos. Exemplos comuns no nosso País

tomam diversas formas como por exemplo: a esposa não conhecer o salário auferido pelo

marido ou a esposa trabalhar na produção agrícola e o marido efectuar a venda dos produ-

tos no mercado usando o dinheiro da venda a seu belprazer. O espólio dos bens da viúva

constitui também violência económica, para além de patrimonial.

Violência ou Assalto Sexual

Assédio sexual

16 17Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

c) Violência política é toda a conduta que discrimina a mulher, excluindo-a dos processos

políticos. Em Moçambique o poder político ainda é gozado por uma minoria de mulheres.

d) Violência patrimonial é toda a violência que cause deterioração ou perda de objectos, ani-

mais ou bens materiais da mulher ou do seu nucleo familiar.

Embora a mulher, muitas vezes actue segundo o modelo exigido pela sociedade (subordina-

ção ao homem), ela reage a esta situação, sobretudo quando acha que o homem está a "pas-

sar da medida". Esta reacção foi constatada em pesquisas sobre a violência doméstica.

Sempre que o homem percebe que de uma ou outra forma, a mulher pretende sair da "nor-

ma", seja porque ela decide tomar uma iniciativa própria como estudar, trabalhar, ou porque

simplesmente pergunta porque é que o marido chega tarde a casa, ou ela diz que nesse dia

está muito cansada, o seu marido ou companheiro acha-se no direito de a punir. Ele sente

que não pode perder a sua autoridade e os seus privilégios. Não existe espaço para a negoci-

ação nem para explicações. Utiliza a violência porque acha que está no seu direito.

Porque é que se afirma que a violência de género que acontece no lar (violência doméstica)

tem "um carácter estrutural"? Um exemplo prático para uma maior compreensão: Quando

se vai construir um prédio, para ele não cair precisa-se de uma estrutura em ferro com força

suficiente para o suster. Assim, para que a construção social da desigualdade dentro do lar

possa ser mantida, para que aquele que tem a autoridade e o poder de subordinar a sua

mulher possa manter os seus privilégios, ele utiliza como instrumento, como estrutura, a vio-

lência.

Se se pretende lutar pela igualdade de direitos e oportunidades para homens e mulheres,

tem de se lutar contra esse instrumento, contra essa estrutura que mantém as relações de

género que subordinam a mulher dentro do lar.

Uma das diferenças da violência doméstica em comparação com outros tipos de violência é

que na violência doméstica, o agressor está em contínuo contacto com a vítima. Isto quer

dizer que existe a possibilidade de que esta violência se repita frequentemente.

Segundo o observado em diversas pesquisas e confirmado por vários autores dedicados ao

estudo do fenómeno, a forma como é exercida a violência doméstica apresenta um ciclo

específico. É importante conhecer este ciclo para identificar a fase em que se encontram as

mulheres violentadas e poder fazer um melhor atendimento. Falando no contexto da saúde

poderia-se dizer que é um mal crónico com fases agudas.

Numa primeira fase da relação, existe o que pode ser chamado de lua-de-mel, em que as

relações do casal são, no geral, relativamente pacíficas. É portanto, uma fase de adaptação

à convivência: o controlo do marido (um papel socialmente imposto) exerce-se de forma

moderada (normal, dizem muitas das entrevistadas), e a paciência da mulher (qualidade

socialmente estimulada) ainda consegue suportar as exigências.

Os desencontros (também normais neste tipo de relacionamento muito hierárquico, em que

o marido é o chefe e a mulher obedece em silêncio) não demoram a aparecer a partir de situ-

ações muito simples que, no geral, o marido chama de falta de respeito. Alguns exemplos:

quando a mulher quer saber porque é que o marido chega a altas horas da noite; se ela tenta

justificar quando ele a chama à atenção; se ela é encontrada a conversar com a vizinhança;

A natureza estrutural da violência doméstica

O ciclo da violência e mitos que legitimam a violência

e a dificuldade de denunciar

se não fez alguma tarefa do lar a tempo e horas. O tipo de punição pode ser diferente, mas

sempre se faz questão de repisar que a culpada da situação é a mulher, o que justifica sem-

pre a actuação do marido "ofendido".

A mulher acaba desenvolvendo um sentimento de culpa ao qual se junta por um lado o des-

conhecimento que ela tem sobre os seus direitos e por outro, a uma série de "mitos" que jus-

tificam a violência e obrigam a mulher a ficar calada: "quem bate ama", ou "em briga de mari-

do e mulher não se mete a colher", ou "uma boa esposa não fala lá fora sobre o que acontece

no lar", só para citar algumas das posições mais frequentes. Isto faz com que a escalada da

violência continue ao longo do tempo e se consolide cada vez mais a subordinação da

mulher.

Dois factores podem contribuir para que o fenómeno da violência passe de uma fase excessi-

va a uma fase onde não se manifesta com intensidade. Isto acontece quase sempre, depois

de agressões muito fortes: o primeiro factor pode ser de conveniência para o marido, "o mari-

do ainda precisa da sua mulher", sendo muitas as tarefas que ela realiza para facilitar a sua

vida e, para não perder estes benefícios, o marido entra na fase de um "remorso conciliató-

rio" e promessas de mudança. As situações violentas conhecem um intervalo, uma outra lua-

de-mel, que em muitos casos pode ser passageira. O segundo factor: quando a mulher acha

que está no limite e sente que o seu marido está a ultrapassar o socialmente aceite, ela

reage e procura alguém para a apoiar a solucionar o problema. Tradicionalmente, para expôr

um problema deste tipo, a via utilizada é uma reunião familiar, principalmente com a família

do marido, mas frequentemente também é convidada a família da mulher.

Estes encontros têm como pano de fundo o senso comum, ou seja, estão baseados nas nor-

mas e nos costumes que norteiam a resolução de conflitos na família. Normalmente, o princi-

pal em todos os casos é a reconciliação do casal. Isto faz com que muitas vezes, sobretudo a

família do marido, procure culpar a mulher, e justificar os actos do marido. Contudo, muitas

vezes também se recomenda para ele não exagerar, e isto faz com que o casal aceite o acon-

selhamento e uma paz superficial se instala de novo no lar.

Algumas vezes, a esposa, desesperada em parar com a violência, pede ajuda às estruturas

do bairro. Apesar de todas as formas de violência serem consideradas crime no Código Penal

e na Lei sobre a violência doméstica praticada contra a mulher, as estruturas do bairro consi-

deram os problemas dentro do lar como "casos sociais". A sua resolução não dista muito dos

critérios utilizados na família: o principal objectivo é sempre a reconciliação do casal. Portan-

to, os resultados são os mesmos: depois de um certo tempo a violência continua.

Estas duas instâncias (a família e as estruturas do bairro) dificilmente reconhecem à mulher

os seus direitos e, pelo contrário, reforçam muitas vezes a posição de chefia do marido e de

subordinação da mulher. Ou seja, contribuem para perpetuar e silenciar o ciclo da violência

no lar.

Como contribuir para que o ciclo da violência seja quebrado?

Em primeiro lugar é preciso tornar a violência de género um assunto público, tanto

em termos de problema de saúde como de justiça.

Para isto é necessário seguir os seguintes passos:

1. Identificar as utentes nos serviços de saúde que sofrem de violência (mesmo quando a vio-

lência não é mencionada como a causa que leva a mulher à consulta).

2. Registar nos livros de registo o diagnóstico de violência, para que esta comece a aparecer

nas estatísticas. Isto constitui um passo muito importante para tornar este fenómeno visível.

18 19Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

c) Violência política é toda a conduta que discrimina a mulher, excluindo-a dos processos

políticos. Em Moçambique o poder político ainda é gozado por uma minoria de mulheres.

d) Violência patrimonial é toda a violência que cause deterioração ou perda de objectos, ani-

mais ou bens materiais da mulher ou do seu nucleo familiar.

Embora a mulher, muitas vezes actue segundo o modelo exigido pela sociedade (subordina-

ção ao homem), ela reage a esta situação, sobretudo quando acha que o homem está a "pas-

sar da medida". Esta reacção foi constatada em pesquisas sobre a violência doméstica.

Sempre que o homem percebe que de uma ou outra forma, a mulher pretende sair da "nor-

ma", seja porque ela decide tomar uma iniciativa própria como estudar, trabalhar, ou porque

simplesmente pergunta porque é que o marido chega tarde a casa, ou ela diz que nesse dia

está muito cansada, o seu marido ou companheiro acha-se no direito de a punir. Ele sente

que não pode perder a sua autoridade e os seus privilégios. Não existe espaço para a negoci-

ação nem para explicações. Utiliza a violência porque acha que está no seu direito.

Porque é que se afirma que a violência de género que acontece no lar (violência doméstica)

tem "um carácter estrutural"? Um exemplo prático para uma maior compreensão: Quando

se vai construir um prédio, para ele não cair precisa-se de uma estrutura em ferro com força

suficiente para o suster. Assim, para que a construção social da desigualdade dentro do lar

possa ser mantida, para que aquele que tem a autoridade e o poder de subordinar a sua

mulher possa manter os seus privilégios, ele utiliza como instrumento, como estrutura, a vio-

lência.

Se se pretende lutar pela igualdade de direitos e oportunidades para homens e mulheres,

tem de se lutar contra esse instrumento, contra essa estrutura que mantém as relações de

género que subordinam a mulher dentro do lar.

Uma das diferenças da violência doméstica em comparação com outros tipos de violência é

que na violência doméstica, o agressor está em contínuo contacto com a vítima. Isto quer

dizer que existe a possibilidade de que esta violência se repita frequentemente.

Segundo o observado em diversas pesquisas e confirmado por vários autores dedicados ao

estudo do fenómeno, a forma como é exercida a violência doméstica apresenta um ciclo

específico. É importante conhecer este ciclo para identificar a fase em que se encontram as

mulheres violentadas e poder fazer um melhor atendimento. Falando no contexto da saúde

poderia-se dizer que é um mal crónico com fases agudas.

Numa primeira fase da relação, existe o que pode ser chamado de lua-de-mel, em que as

relações do casal são, no geral, relativamente pacíficas. É portanto, uma fase de adaptação

à convivência: o controlo do marido (um papel socialmente imposto) exerce-se de forma

moderada (normal, dizem muitas das entrevistadas), e a paciência da mulher (qualidade

socialmente estimulada) ainda consegue suportar as exigências.

Os desencontros (também normais neste tipo de relacionamento muito hierárquico, em que

o marido é o chefe e a mulher obedece em silêncio) não demoram a aparecer a partir de situ-

ações muito simples que, no geral, o marido chama de falta de respeito. Alguns exemplos:

quando a mulher quer saber porque é que o marido chega a altas horas da noite; se ela tenta

justificar quando ele a chama à atenção; se ela é encontrada a conversar com a vizinhança;

A natureza estrutural da violência doméstica

O ciclo da violência e mitos que legitimam a violência

e a dificuldade de denunciar

se não fez alguma tarefa do lar a tempo e horas. O tipo de punição pode ser diferente, mas

sempre se faz questão de repisar que a culpada da situação é a mulher, o que justifica sem-

pre a actuação do marido "ofendido".

A mulher acaba desenvolvendo um sentimento de culpa ao qual se junta por um lado o des-

conhecimento que ela tem sobre os seus direitos e por outro, a uma série de "mitos" que jus-

tificam a violência e obrigam a mulher a ficar calada: "quem bate ama", ou "em briga de mari-

do e mulher não se mete a colher", ou "uma boa esposa não fala lá fora sobre o que acontece

no lar", só para citar algumas das posições mais frequentes. Isto faz com que a escalada da

violência continue ao longo do tempo e se consolide cada vez mais a subordinação da

mulher.

Dois factores podem contribuir para que o fenómeno da violência passe de uma fase excessi-

va a uma fase onde não se manifesta com intensidade. Isto acontece quase sempre, depois

de agressões muito fortes: o primeiro factor pode ser de conveniência para o marido, "o mari-

do ainda precisa da sua mulher", sendo muitas as tarefas que ela realiza para facilitar a sua

vida e, para não perder estes benefícios, o marido entra na fase de um "remorso conciliató-

rio" e promessas de mudança. As situações violentas conhecem um intervalo, uma outra lua-

de-mel, que em muitos casos pode ser passageira. O segundo factor: quando a mulher acha

que está no limite e sente que o seu marido está a ultrapassar o socialmente aceite, ela

reage e procura alguém para a apoiar a solucionar o problema. Tradicionalmente, para expôr

um problema deste tipo, a via utilizada é uma reunião familiar, principalmente com a família

do marido, mas frequentemente também é convidada a família da mulher.

Estes encontros têm como pano de fundo o senso comum, ou seja, estão baseados nas nor-

mas e nos costumes que norteiam a resolução de conflitos na família. Normalmente, o princi-

pal em todos os casos é a reconciliação do casal. Isto faz com que muitas vezes, sobretudo a

família do marido, procure culpar a mulher, e justificar os actos do marido. Contudo, muitas

vezes também se recomenda para ele não exagerar, e isto faz com que o casal aceite o acon-

selhamento e uma paz superficial se instala de novo no lar.

Algumas vezes, a esposa, desesperada em parar com a violência, pede ajuda às estruturas

do bairro. Apesar de todas as formas de violência serem consideradas crime no Código Penal

e na Lei sobre a violência doméstica praticada contra a mulher, as estruturas do bairro consi-

deram os problemas dentro do lar como "casos sociais". A sua resolução não dista muito dos

critérios utilizados na família: o principal objectivo é sempre a reconciliação do casal. Portan-

to, os resultados são os mesmos: depois de um certo tempo a violência continua.

Estas duas instâncias (a família e as estruturas do bairro) dificilmente reconhecem à mulher

os seus direitos e, pelo contrário, reforçam muitas vezes a posição de chefia do marido e de

subordinação da mulher. Ou seja, contribuem para perpetuar e silenciar o ciclo da violência

no lar.

Como contribuir para que o ciclo da violência seja quebrado?

Em primeiro lugar é preciso tornar a violência de género um assunto público, tanto

em termos de problema de saúde como de justiça.

Para isto é necessário seguir os seguintes passos:

1. Identificar as utentes nos serviços de saúde que sofrem de violência (mesmo quando a vio-

lência não é mencionada como a causa que leva a mulher à consulta).

2. Registar nos livros de registo o diagnóstico de violência, para que esta comece a aparecer

nas estatísticas. Isto constitui um passo muito importante para tornar este fenómeno visível.

18 19Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

3. Disponibillizar tratamento integrado:

(i) Tratamento médico (nas Unidades Sanitárias: tratamento físico, psicológico e médico-

legal);

(ii) Aconselhamento (provido nas diversas instituições do Estado e Associações);

(iii) Administrar a justiça (nos gabinetes de atendimento dos casos de violência contra a

mulher e da criança nas esquadras da Polícia).

Segundo um estudo realizado pelo Ministério da Mulher e Acção Social, (2004) só 10 em cada

100 mulheres denunciam que sofrem de violência. Isto acontece principalmente porque social-

mente a mulher que denuncia o seu marido é desprezada. Além do mais, a construção social

da mulher como dependente cria insegurança, mesmo que ela seja a principal provedora do

lar e com capacidades para resolver a sua situação económica.

Outros factores impedem a mulher de denunciar, entre eles o desconhecimento da lei e dos

seus direitos, assim como o medo da reacção do marido. Este sente-se ofendido e justifica-se

dizendo "eu não te casei na polícia". A mulher tem de voltar a morar com o agressor e pode

aumentar a violência.

A violência de género no lar constitui a forma mais perniciosa de violência. No entanto, como

os profissionais de saúde atendem todos os tipos de violência, ao longo dos próximos módulos

far-se-à referência aos demais.

Recapitulando, a violência doméstica ocorre dentro do foro doméstico (casa, lar e ambiente

familiar) e é na maioria dos casos perpetrada por parceiros íntimos da mulher. Este facto, asso-

ciado por um lado, às questões sociais, culturais e económicas e por outro lado à vergonha sen-

tida pela vítima, dificulta a capacidade da mulher vítima de violência de falar abertamente

sobre ela e principalmente faz com que os casos de violência não sejam denunciados às autori-

dades competentes.

A família desempenha em muitos casos um papel preponderante na mediação de conflitos

entre os casais. Nos casos em que a mulher vítima de violência recorre à família para denunci-

ar o acto e procurar ajuda, geralmente a família sugere que a vítima permaneça com o perpe-

trador, salvaguardando deste modo o núcleo familiar. Existem também casos em que a vítima

recorre aos líderes locais para apoio e regra geral o conselho é o mesmo.

Esta abordagem é determinada pelas normas sociais que regem e determinam as relações

sociais, especialmente no que tange à construção da sexualidade masculina e feminina e dos

papéis sociais atribuídos a homens e mulheres.

As normas sociais vigentes esperam que as mulheres sejam submissas e obedeçam aos seus

parceiros. A mulher deverá ser capaz de suportar, sem reclamar, todos os contratempos da

vida do casal. Enquanto o homem tem determinadas regalias, nele se concentra o poder de

tomada de decisão e controlo dos recursos do agregado familiar, incluindo o controlo sobre a

mulher.

Estes factores "legitimam" a violência do homem contra a mulher, e contribuem para a sua per-

petuação. É importante não ignorar o impacto que a conquista de cada vez mais espaço pela

mulher tem sobre as relações de género e pode por outro lado também constituir motivo para

despoletar os episódios de violência. Por exemplo, o processo de socialização prepara o

homem para ser o chefe de família, o principal responsável por prover os recursos incluindo os

financeiros, para sustentar a família. Contudo, existe uma tendência para o aparecimento de

agregados familiares onde a condição financeira da mulher é superior ou se equipara à do

homem, invertendo desta forma os papeis tradicionalmente atribuídos ao homem e à mulher.

Esta mudança das relações de género causa em muitos casais fricções que acabam em violên-

cia.

Como se pode ver a violência é despoletada por vários factores que a tornam complexa e espe-

cífica e com características particulares a regiões, comunidades, países, etc.

IMPACTO DA VIOLÊNCIA NO ESTADO DE SAÚDE

DA MULHER

Módulo III

20 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

3. Disponibillizar tratamento integrado:

(i) Tratamento médico (nas Unidades Sanitárias: tratamento físico, psicológico e médico-

legal);

(ii) Aconselhamento (provido nas diversas instituições do Estado e Associações);

(iii) Administrar a justiça (nos gabinetes de atendimento dos casos de violência contra a

mulher e da criança nas esquadras da Polícia).

Segundo um estudo realizado pelo Ministério da Mulher e Acção Social, (2004) só 10 em cada

100 mulheres denunciam que sofrem de violência. Isto acontece principalmente porque social-

mente a mulher que denuncia o seu marido é desprezada. Além do mais, a construção social

da mulher como dependente cria insegurança, mesmo que ela seja a principal provedora do

lar e com capacidades para resolver a sua situação económica.

Outros factores impedem a mulher de denunciar, entre eles o desconhecimento da lei e dos

seus direitos, assim como o medo da reacção do marido. Este sente-se ofendido e justifica-se

dizendo "eu não te casei na polícia". A mulher tem de voltar a morar com o agressor e pode

aumentar a violência.

A violência de género no lar constitui a forma mais perniciosa de violência. No entanto, como

os profissionais de saúde atendem todos os tipos de violência, ao longo dos próximos módulos

far-se-à referência aos demais.

Recapitulando, a violência doméstica ocorre dentro do foro doméstico (casa, lar e ambiente

familiar) e é na maioria dos casos perpetrada por parceiros íntimos da mulher. Este facto, asso-

ciado por um lado, às questões sociais, culturais e económicas e por outro lado à vergonha sen-

tida pela vítima, dificulta a capacidade da mulher vítima de violência de falar abertamente

sobre ela e principalmente faz com que os casos de violência não sejam denunciados às autori-

dades competentes.

A família desempenha em muitos casos um papel preponderante na mediação de conflitos

entre os casais. Nos casos em que a mulher vítima de violência recorre à família para denunci-

ar o acto e procurar ajuda, geralmente a família sugere que a vítima permaneça com o perpe-

trador, salvaguardando deste modo o núcleo familiar. Existem também casos em que a vítima

recorre aos líderes locais para apoio e regra geral o conselho é o mesmo.

Esta abordagem é determinada pelas normas sociais que regem e determinam as relações

sociais, especialmente no que tange à construção da sexualidade masculina e feminina e dos

papéis sociais atribuídos a homens e mulheres.

As normas sociais vigentes esperam que as mulheres sejam submissas e obedeçam aos seus

parceiros. A mulher deverá ser capaz de suportar, sem reclamar, todos os contratempos da

vida do casal. Enquanto o homem tem determinadas regalias, nele se concentra o poder de

tomada de decisão e controlo dos recursos do agregado familiar, incluindo o controlo sobre a

mulher.

Estes factores "legitimam" a violência do homem contra a mulher, e contribuem para a sua per-

petuação. É importante não ignorar o impacto que a conquista de cada vez mais espaço pela

mulher tem sobre as relações de género e pode por outro lado também constituir motivo para

despoletar os episódios de violência. Por exemplo, o processo de socialização prepara o

homem para ser o chefe de família, o principal responsável por prover os recursos incluindo os

financeiros, para sustentar a família. Contudo, existe uma tendência para o aparecimento de

agregados familiares onde a condição financeira da mulher é superior ou se equipara à do

homem, invertendo desta forma os papeis tradicionalmente atribuídos ao homem e à mulher.

Esta mudança das relações de género causa em muitos casais fricções que acabam em violên-

cia.

Como se pode ver a violência é despoletada por vários factores que a tornam complexa e espe-

cífica e com características particulares a regiões, comunidades, países, etc.

IMPACTO DA VIOLÊNCIA NO ESTADO DE SAÚDE

DA MULHER

Módulo III

20 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

O principal objectivo do presente capítulo é o de estabelecer a ligação entre a violência e a saúde da mulher, com especial atenção à saúde sexual e reprodutiva e saúde mental.

'E de referir que a violência não se abate só sobre a mulher adulta, mas sim ao longo do seu

ciclo de vida, desde o momento da concepção. Eis alguns exemplos:

n Na fase pré-natal – sexo selectivo, aborto selectivo e violência contra a mulher grávida

afectando o feto;

n Na infância – infanticídio feminino, acesso desigual a alimentos e cuidados médicos,

negligência, mutilação genital, abuso sexual e incesto;

n Na criança – mutilação genital, incesto e abuso sexual, acesso desigual a alimentos, cui-

dados médicos e educação, trabalho infantil, prostituição infantil e tráfico;

n Na adolescência e idade adulta – Incesto e abuso sexual na família, sexo coercivo (econó-

mico), casamento forçado, violência sexual e violação marital, assédio e abuso sexual na

comunidade, na escola e no local de trabalho, proibição do uso de contraceptivos e outras

formas de planeamento familiar, proibição de sexo seguro e prevenção das ITS/HIV e

SIDA, prostituição forçada e tráfico, abuso psicológico por parceiro íntimo ou familiar,

abuso físico por parceiro ou familiar, crime e assassinato contra a viúva, assassinatos de

"honra", esterilização forçada, abuso e violação de mulheres deficientes, perseguição,

abuso e exploração de jovens viúvas, repetição da mutilação genital depois do parto;

n Na terceira idade – abuso, acusação de feitiçaria, suicídio forçado ou homicídio da viúva

por razões económicas, negligência, abuso psicológico por parceiro íntimo ou familiar,

abuso físico por parceiro ou familiar, violência sexual e assédio sexual.

Influência da violência na saúde da mulher

Gravidezes

indesejadas ITS/HIV

Distúrbios

ginecológicos

Abortos Inseguros

Abortos, Doenças

Inflamatórios da

Pélvis

Fumar,

Álcool e Drogas,

Comportamentos

sexuais de risco

Inactividade física

Distúrbios

alimentares

Stress pós

traumático

Depressão

Ansiedade

Fobia/Pânico

Síndrome de

Dores Crónicas

Sindroma de

Intestinos

irritáveis

Distúrbios

gastrointestinais

Ferimentos

Incapacidade

Permanente

Estado de

saúde geral

debilitado

Físicos Crónicos MentalComportamento

prejudicial à saúdeSaúde

reprodutiva

Homicídios, Suicídios, Mortalidade Materna, HIV e SIDA

Impacto da Violência no Estado de Saúde da Mulher

Consequências fatais Consequências fatais

IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DA MULHER

22 23Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

O principal objectivo do presente capítulo é o de estabelecer a ligação entre a violência e a saúde da mulher, com especial atenção à saúde sexual e reprodutiva e saúde mental.

'E de referir que a violência não se abate só sobre a mulher adulta, mas sim ao longo do seu

ciclo de vida, desde o momento da concepção. Eis alguns exemplos:

n Na fase pré-natal – sexo selectivo, aborto selectivo e violência contra a mulher grávida

afectando o feto;

n Na infância – infanticídio feminino, acesso desigual a alimentos e cuidados médicos,

negligência, mutilação genital, abuso sexual e incesto;

n Na criança – mutilação genital, incesto e abuso sexual, acesso desigual a alimentos, cui-

dados médicos e educação, trabalho infantil, prostituição infantil e tráfico;

n Na adolescência e idade adulta – Incesto e abuso sexual na família, sexo coercivo (econó-

mico), casamento forçado, violência sexual e violação marital, assédio e abuso sexual na

comunidade, na escola e no local de trabalho, proibição do uso de contraceptivos e outras

formas de planeamento familiar, proibição de sexo seguro e prevenção das ITS/HIV e

SIDA, prostituição forçada e tráfico, abuso psicológico por parceiro íntimo ou familiar,

abuso físico por parceiro ou familiar, crime e assassinato contra a viúva, assassinatos de

"honra", esterilização forçada, abuso e violação de mulheres deficientes, perseguição,

abuso e exploração de jovens viúvas, repetição da mutilação genital depois do parto;

n Na terceira idade – abuso, acusação de feitiçaria, suicídio forçado ou homicídio da viúva

por razões económicas, negligência, abuso psicológico por parceiro íntimo ou familiar,

abuso físico por parceiro ou familiar, violência sexual e assédio sexual.

Influência da violência na saúde da mulher

Gravidezes

indesejadas ITS/HIV

Distúrbios

ginecológicos

Abortos Inseguros

Abortos, Doenças

Inflamatórios da

Pélvis

Fumar,

Álcool e Drogas,

Comportamentos

sexuais de risco

Inactividade física

Distúrbios

alimentares

Stress pós

traumático

Depressão

Ansiedade

Fobia/Pânico

Síndrome de

Dores Crónicas

Sindroma de

Intestinos

irritáveis

Distúrbios

gastrointestinais

Ferimentos

Incapacidade

Permanente

Estado de

saúde geral

debilitado

Físicos Crónicos MentalComportamento

prejudicial à saúdeSaúde

reprodutiva

Homicídios, Suicídios, Mortalidade Materna, HIV e SIDA

Impacto da Violência no Estado de Saúde da Mulher

Consequências fatais Consequências fatais

IMPACTO DA VIOLÊNCIA NA SAÚDE DA MULHER

22 23Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

De uma forma resumida, e de acordo com o esquema acima exposto, pode-se agrupar o

impacto da violência na saúde da mulher em 2 grandes categorias:

1) Consequências fatais

2) Consequências não fatais

Entre as consequências fatais encontram-se os homicídios (ou femicidios), suicídios, grande

percentagem dos casos de mortalidade materna e o SIDA.

Os homicídios acontecem quando as mulheres são espancadas ou estranguladas até a mor-

te, ou de agredidas de qualquer outra forma sendo o resultado final a morte.

Os suicídios e tentativas de suicídio acontecem quando as vítimas, cansadas de sofrer, atin-

gem um estado mental de depressão ou instabilidade mental extrema, terminando com a

sua própria vida. Em muitos casos, comportamentos auto-agressivos como auto-agredir-se

ou condução perigosa, alteração súbita do comportamento alimentar, consumo de substân-

cias nocivas e pensamentos de morte podem indicar risco de suicídio em mulheres vítimas

de violência.

A mortalidade materna surge nos casos em que a adolescente ou a mulher engravida contra

a sua vontade e/ou não recebe nenhuma assistência durante a gravidez ou o parto. É comum

em muitas regiões do nosso País, que uma mulher em trabalho de parto considerado "arrasta-

do" pelos familiares que a cercam e apoiam no trabalho do parto, ela seja por este facto consi-

derada infiel (há a crença - errada- de que o parto é arrastado porque o bebé não é do marido

ou a mulher envolveu-se sexualmente com outro homem que não o marido durante a gravi-

dez). Assim os mesmos familiares só a levam à unidade sanitária se ela confessar a sua infedi-

lidade e informar o nome do homem. Esta situação inevitavelmente leva a que muitas mulhe-

res não sejam atempadamente assistidas por pessoal competente na unidade sanitária, aca-

bando por morrer por complicações diversas. Noutras regiões, quando o marido se encontra

ausente, noutra província ou noutro país, a mulher só se pode dirigir à maternidade para o par-

to, depois de pedir autorização ao esposo. Com o estado actual das comunicações, também

inevitavelmente, a mulher não tem parto assistido. Também há relatos de muitas mulheres

que são agredidas psicológica e fisicamente durante a gravidez, acabando por desencadear

um quadro de complicações que podem levar à morte. Ainda há exemplos que situações em

que a mulher entrando em trabalho de parto, é levada aos praticantes de medicina tradicio-

nal para este "abrir o caminho" ou adivinhar se o parto vai correr bem, o que concorre para o

atraso na assistência devida. Resumidamente pode-se dizer que a falta de poder de decisão

sobre o seu próprio corpo e sobre a sua saúde, especialmente nos momentos cruciais da

maternidade, acoplados a uma vida prenhe de discriminação, que se estende desde o acesso

aos alimentos, à educação, práticas saudáveis de vida, etc., que a seguem desde a mais

tenra idade, contribuem para o triste quadro de altíssimas taxas de mortalidade materna.

Por último, o SIDA pode acabar sendo uma ameaça de morte para as mulheres que como se

viu em relação à mortalidade materna, vivem numa sociedade que as explora e não respeita

os seus direitos sexuais e reprodutivos.

Consequeências Fatais

Consequências não Fatais

Problemas físicos de saúde

Problemas mentais e comportamentais

Entre as consequências não fatais encontramos 3 grandes grupos de situações ou proble-

mas de saúde:

1) Físicos (agudos ou crónicos)

2) Mentais e comportamentais

3) Na saúde sexual e reprodutiva

Estes são os problemas geralmente mais abertamente visíveis e que podem levar a mulher a

procurar os serviços de urgência das unidades sanitárias. A vítima pode sofrer de escoria-

ções, hematomas, fracturas, etc. O agressor pode fazer tentativas (com ou sem sucesso) de

estrangular, puxar os cabelos, envenenar, ou decepar membros, etc. Este tipo de agressões

pode conduzir à morte ou pode ocasionar incapacidades transitórias ou permanentes.

Algums destas incapacidades podem exigir que a vítima tenha de fazer uma ou varias cirurgi-

as para tratamento. Algumas doenças físicas podem aparecer em consequência das agres-

sões, devidas ao mau funcionamento dos órgãos afectados. Embora os agressores possam

atacar qualquer parte do corpo da mulher, em muitos casos eles agridem partes específicas

como a face, a cabeça (para embaraçá-la perante os amigos, familiares e colegas), os seios, o

abdómen e o baixo-ventre (sinais de feminilidade) e as coxas e pernas, para imobilizá-la.

Como se verá mais adiante, para além das lesões traumáticas, a vítima pode contrair

ITS/HV/SIDA, doença inflamatória pélvica, gravidez indesejada, aborto espontâneo, dor pélvi-

ca crónica e um consumo abusivo de drogas e álcool. A DOR física é u sintoma muito comum.

Como referido anteriormente, vários tipos de violência se abatem contra a mulher e têm um

impacto muito negativo sobre a sua saúde. Por isso, os serviços de saúde ficam sobrecarre-

gados com muitas mulheres com doenças psicossomáticas que os profissionais de saúde

não conseguem diagnosticar devidamente e tratar.

As mulheres violentadas vivem em depressão e ansiedade, sem vontade de viver, com

diversos graus de incapacidades físicas e emocionais. Elas desenvolvem primeiro uma auto-

estima muito baixa, deixando de cuidar de si e da sua saúde. Ao mesmo tempo desenvolvem

medo permanente. A sua saúde fica alterada com sintomas de doenças sem sinais

físicos evidentes. Estas mulheres aparecem nas unidades sanitárias a pedir socorro silen-

cioso (antecipam as datas das consultas seguintes, fazem testes laboratoriais repetidos

cujos resultados são negativos, etc.) mas nem elas e muitas vezes nem os profissionais de

saúde relacionam os seus sintomas com a violência que sofrem.

Muitos trabalhadores de saúde ignoram os sintomas de depressão e ansiedade, desespero

ou outros sintomas que acompanham as mulheres (ou crianças) violentadas e por isso não

diagnosticam.

Estas mulheres têm um sofrimento crónico que parece debilitar as possibilidades de cuida-

rem de si mesmas e dos familaires. A negligência de cuidados é reconhecida nos estudos,

através da medida de comportamentos e uso de serviços, mostrando que estas mulheres

são mais propensas a abuso de álcool, tabaco e drogas, sexo inseguro, entrada tardia no

atendimento pré-natal e pior adesão aos cuidados de prevenção de saúde.

A invisibilidade por parte dos serviços de saúde só piora a situação. Estas mulheres acabam

24 25Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

De uma forma resumida, e de acordo com o esquema acima exposto, pode-se agrupar o

impacto da violência na saúde da mulher em 2 grandes categorias:

1) Consequências fatais

2) Consequências não fatais

Entre as consequências fatais encontram-se os homicídios (ou femicidios), suicídios, grande

percentagem dos casos de mortalidade materna e o SIDA.

Os homicídios acontecem quando as mulheres são espancadas ou estranguladas até a mor-

te, ou de agredidas de qualquer outra forma sendo o resultado final a morte.

Os suicídios e tentativas de suicídio acontecem quando as vítimas, cansadas de sofrer, atin-

gem um estado mental de depressão ou instabilidade mental extrema, terminando com a

sua própria vida. Em muitos casos, comportamentos auto-agressivos como auto-agredir-se

ou condução perigosa, alteração súbita do comportamento alimentar, consumo de substân-

cias nocivas e pensamentos de morte podem indicar risco de suicídio em mulheres vítimas

de violência.

A mortalidade materna surge nos casos em que a adolescente ou a mulher engravida contra

a sua vontade e/ou não recebe nenhuma assistência durante a gravidez ou o parto. É comum

em muitas regiões do nosso País, que uma mulher em trabalho de parto considerado "arrasta-

do" pelos familiares que a cercam e apoiam no trabalho do parto, ela seja por este facto consi-

derada infiel (há a crença - errada- de que o parto é arrastado porque o bebé não é do marido

ou a mulher envolveu-se sexualmente com outro homem que não o marido durante a gravi-

dez). Assim os mesmos familiares só a levam à unidade sanitária se ela confessar a sua infedi-

lidade e informar o nome do homem. Esta situação inevitavelmente leva a que muitas mulhe-

res não sejam atempadamente assistidas por pessoal competente na unidade sanitária, aca-

bando por morrer por complicações diversas. Noutras regiões, quando o marido se encontra

ausente, noutra província ou noutro país, a mulher só se pode dirigir à maternidade para o par-

to, depois de pedir autorização ao esposo. Com o estado actual das comunicações, também

inevitavelmente, a mulher não tem parto assistido. Também há relatos de muitas mulheres

que são agredidas psicológica e fisicamente durante a gravidez, acabando por desencadear

um quadro de complicações que podem levar à morte. Ainda há exemplos que situações em

que a mulher entrando em trabalho de parto, é levada aos praticantes de medicina tradicio-

nal para este "abrir o caminho" ou adivinhar se o parto vai correr bem, o que concorre para o

atraso na assistência devida. Resumidamente pode-se dizer que a falta de poder de decisão

sobre o seu próprio corpo e sobre a sua saúde, especialmente nos momentos cruciais da

maternidade, acoplados a uma vida prenhe de discriminação, que se estende desde o acesso

aos alimentos, à educação, práticas saudáveis de vida, etc., que a seguem desde a mais

tenra idade, contribuem para o triste quadro de altíssimas taxas de mortalidade materna.

Por último, o SIDA pode acabar sendo uma ameaça de morte para as mulheres que como se

viu em relação à mortalidade materna, vivem numa sociedade que as explora e não respeita

os seus direitos sexuais e reprodutivos.

Consequeências Fatais

Consequências não Fatais

Problemas físicos de saúde

Problemas mentais e comportamentais

Entre as consequências não fatais encontramos 3 grandes grupos de situações ou proble-

mas de saúde:

1) Físicos (agudos ou crónicos)

2) Mentais e comportamentais

3) Na saúde sexual e reprodutiva

Estes são os problemas geralmente mais abertamente visíveis e que podem levar a mulher a

procurar os serviços de urgência das unidades sanitárias. A vítima pode sofrer de escoria-

ções, hematomas, fracturas, etc. O agressor pode fazer tentativas (com ou sem sucesso) de

estrangular, puxar os cabelos, envenenar, ou decepar membros, etc. Este tipo de agressões

pode conduzir à morte ou pode ocasionar incapacidades transitórias ou permanentes.

Algums destas incapacidades podem exigir que a vítima tenha de fazer uma ou varias cirurgi-

as para tratamento. Algumas doenças físicas podem aparecer em consequência das agres-

sões, devidas ao mau funcionamento dos órgãos afectados. Embora os agressores possam

atacar qualquer parte do corpo da mulher, em muitos casos eles agridem partes específicas

como a face, a cabeça (para embaraçá-la perante os amigos, familiares e colegas), os seios, o

abdómen e o baixo-ventre (sinais de feminilidade) e as coxas e pernas, para imobilizá-la.

Como se verá mais adiante, para além das lesões traumáticas, a vítima pode contrair

ITS/HV/SIDA, doença inflamatória pélvica, gravidez indesejada, aborto espontâneo, dor pélvi-

ca crónica e um consumo abusivo de drogas e álcool. A DOR física é u sintoma muito comum.

Como referido anteriormente, vários tipos de violência se abatem contra a mulher e têm um

impacto muito negativo sobre a sua saúde. Por isso, os serviços de saúde ficam sobrecarre-

gados com muitas mulheres com doenças psicossomáticas que os profissionais de saúde

não conseguem diagnosticar devidamente e tratar.

As mulheres violentadas vivem em depressão e ansiedade, sem vontade de viver, com

diversos graus de incapacidades físicas e emocionais. Elas desenvolvem primeiro uma auto-

estima muito baixa, deixando de cuidar de si e da sua saúde. Ao mesmo tempo desenvolvem

medo permanente. A sua saúde fica alterada com sintomas de doenças sem sinais

físicos evidentes. Estas mulheres aparecem nas unidades sanitárias a pedir socorro silen-

cioso (antecipam as datas das consultas seguintes, fazem testes laboratoriais repetidos

cujos resultados são negativos, etc.) mas nem elas e muitas vezes nem os profissionais de

saúde relacionam os seus sintomas com a violência que sofrem.

Muitos trabalhadores de saúde ignoram os sintomas de depressão e ansiedade, desespero

ou outros sintomas que acompanham as mulheres (ou crianças) violentadas e por isso não

diagnosticam.

Estas mulheres têm um sofrimento crónico que parece debilitar as possibilidades de cuida-

rem de si mesmas e dos familaires. A negligência de cuidados é reconhecida nos estudos,

através da medida de comportamentos e uso de serviços, mostrando que estas mulheres

são mais propensas a abuso de álcool, tabaco e drogas, sexo inseguro, entrada tardia no

atendimento pré-natal e pior adesão aos cuidados de prevenção de saúde.

A invisibilidade por parte dos serviços de saúde só piora a situação. Estas mulheres acabam

24 25Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

por ser rotuladas de poliqueixosas, somatizadoras, portadoras de distúrbios neuro-

vegetativos, etc.. Os processos patológicos que surgem associados à violência e ao sofrimen-

to psico-emocional, se não forem abordados de forma integrada, resultam em casos de difícil

solução, mesmo quando se trata de patologias mais simples e bem conhecidas.

De uma forma geral, estas mulheres sofrem de depressão, ansiedade, disfunção sexual,

desordens de alimentação, problemas múltiplos de personalidade e comportamento obessi-

vo/compulsivo, dores crónicas, fadiga, tentativa de suicídio e stress pós-traumático.

A saúde sexual e reprodutiva da mulher é claramente afectada pela violência. Mulheres que

são vítimas de violência têm maiores probabilidades de apresentarem um problema ginecoló-

gico do que as mulheres que nunca sofreram nenhum tipo de violência. As principais queixas

destas mulheres incluem dor pélvica crónica, sangramento ou corrimento vaginal, infecção

vaginal, desmenorreia, disfunção sexual, doença inflamatória pélvica, dor na relação sexual,

infecção urinária e infertilidade.

O HIV e Sida pode resultar de uma violação sexual, mas resulta geralmente das várias formas

de violência combinadas. A violência social e a económica são agentes poderosos na origem

da infecção e a mesma infecção pode ser um factor que despoleta a violência contra a mulher.

A violência limita a capacidade da mulher controlar e decidir sobre a sua saúde sexual e repro-

dutiva. As mulheres que sofrem de violência física, psicológica e sexual têm muito mais pro-

babilidade de utilizar métodos anticoncepcionais clandestinamente ou de interromper a sua

utilização por imposição do parceiro e incorrer em relações sexuais sem o uso do preservativo.

As sobreviventes de actos violentos têm maior probabilidade de adoptarem comportamentos

sexuais de alto risco, gravidez indesejada e de sofrerem de disfunção sexual do que mulheres

que nunca foram agredidas. Muitas mulheres violentadas acabam sendo atendidas nos servi-

ços de saúde reprodutiva.

Problemas na Saúde Sexual e Reprodutiva da Mulher

A violência na mulher grávida

Mulheres que são vítimas de violência também relatam que a violência

inicia e/ou escala durante a gravidez. A violência neste período tem

impacto directo na saúde da mulher pois é um dos principais responsáveis

por abortos voluntários e involuntários, a procura tardia de cuidados pré-

natais, o crescimento lento do feto devido ao stress, baixo peso do bebé à

nascença e contribui para os altos índices de mortalidade materna.

A violência sobre a menina, na forma de "casamentos" prematuros: as

meninas com idade inferior a 15 anos têm uma maior probabilidade de

morrer por complicações de parto, do que as mulheres. Existe também

nesta faixa etária um maior risco de desenvolver a fístula obstétrica como

resultado do parto prolongado e obstruído.

As mulheres que sofrem de violência física, sexual ou psicológica podem ter uma série de pro-

blemas de saúde, muitas vezes em silêncio. São menos saudáveis física e mentalmente, sofrem

mais lesões e utilizam mais os serviços de saúde do que as mulheres que não passaram por situ-

ações de violência.

Os/as profissionais de saúde tem a oportunidade e a obrigação de identificar, tratar e educar as

mulheres em situação de violência. (in Outlook)

Relação entre violência e o HIV e SIDA

No início do aparecimento da doença (década de 1980), a maioria das pessoas com HIV/SIDA

eram homens. No entanto, a proporção de mulheres infectadas tem vindo a aumentar cons-

tantemente: até 2004, as mulheres e meninas correspondiam a cerca de 50% de todas as

pessoas que viviam com HIV/SIDA, e na África Subsahariana, as mulheres e meninas repre-

sentavam 57% das pessoas infectadas. Neste sentido, segundo a OMS, actualmente 15

milhões de mulheres padecem de SIDA; 80% delas foram contagiadas pelos seus parceiros

(2008).

Estima-se que do total de 1.6 milhões de Moçambicanos infectados pelo HIV/SIDA, cerca de

870.000 sejam do sexo feminino, ou seja 58%. A prevalência é mais alta no grupo etário dos

15 aos 29 anos (INSIDA, 2009).

As razões que explicam a maior vulnerabilidade das meninas e mulheres ao HIV devem-se às

suas relações de subordinação relativamente aos homens e os vários tipos de violência exer-

cida sobre elas. De forma resumida, são as seguintes razões:

nAs esposas, noivas, namoradas continuam pensando que uma relação estável as man-

tém imunes ao HIV;

nÉ muito difícil para as mulheres negociar o uso do preservativo com os seus parceiros,

sem ser objecto de suspeita ou maus-tratos.

nSer a juventude, specialmente do sexo feminino a mais exposta, pelo facto da sua inicia-

ção sexual ser muito precoce.

nCultura de silêncio em torno da sexualidade, que dita a norma de que as "boas" mulheres

e meninas devem ser passivas e ignorantes sobre sexo. Isto impossibilita que elas se

informem sobre como reduzir o risco da infecção. Contudo, mesmo quando informadas, é

difícil tomar a iniciativa para negociar sexo seguro.

nA "tradicional" norma da virgindade, paradoxalmente, aumenta o risco de infecção da

menina e da mulher, porque limita as suas habilidades em conhecer a sexualidade, além

do medo de que pensem que "ela já faz sexo". A virgindade também coloca as meninas

em risco de serem violadas ou sofrerem coerção sexual em função das crenças comuns

de que "sexo com virgem limpa o homem", ou que não se contrai SIDA ou também se cura

SIDA mantendo relações sexuais com uma virgem. Sendo assim, esta coerção e/ou viola-

ção não é considerada infracção. Paralelamente a "virgindade" pode estar na origem do

maior risco que as mulheres e meninas têm, pois como acontece em algumas partes da

África do Sul, elas acabam realizando sexo anal que facilita ainda mais a transmissão do

HIV que a relação vaginal.

nVárias obras consultadas (INJAD, 2001; PSI Jeito, 2001, 2002, 2003; Osório e Artur, 2003,

entre outras) demonstram que a dependência económica aumenta a vulnerabilidade das

mulheres, particularmente das mulheres jovens, ao HIV (sexo por dinheiro, dependência

económica numa relação estável, menor poder de negociar sexo seguro e diminuição da

percepção de risco).

nA forma mais perturbadora do poder masculino, a violência contra a mulher, contribui

directa e indirectamente para a vulnerabilidade das mulheres ao HIV. Pesquisas mostram

que entre 16 a 50% das mulheres em várias partes do mundo referem o abuso sexual por

um parceiro íntimo (OMS, 2004), ou em inúmeros casos, por uma pessoa muito próxima

delas. Um quarto das jovens universitárias tanto na cidade de Maputo como de Quelima-

ne, respondeu que a sua primeira relação sexual foi forçada.

nA violência física ou a simples ameaça de violência física ou mesmo o medo de ser aban-

Dados do Inquérito Demográfico e de Saúde de 2003 indicam que 18% de mulheres jovens, com idade compreendida entre os 20 e os 24 anos, já eram "casadas" antes dos 15 anos de idade e 56% antes dos 17 anos. (IDS 2007)

26 27Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

por ser rotuladas de poliqueixosas, somatizadoras, portadoras de distúrbios neuro-

vegetativos, etc.. Os processos patológicos que surgem associados à violência e ao sofrimen-

to psico-emocional, se não forem abordados de forma integrada, resultam em casos de difícil

solução, mesmo quando se trata de patologias mais simples e bem conhecidas.

De uma forma geral, estas mulheres sofrem de depressão, ansiedade, disfunção sexual,

desordens de alimentação, problemas múltiplos de personalidade e comportamento obessi-

vo/compulsivo, dores crónicas, fadiga, tentativa de suicídio e stress pós-traumático.

A saúde sexual e reprodutiva da mulher é claramente afectada pela violência. Mulheres que

são vítimas de violência têm maiores probabilidades de apresentarem um problema ginecoló-

gico do que as mulheres que nunca sofreram nenhum tipo de violência. As principais queixas

destas mulheres incluem dor pélvica crónica, sangramento ou corrimento vaginal, infecção

vaginal, desmenorreia, disfunção sexual, doença inflamatória pélvica, dor na relação sexual,

infecção urinária e infertilidade.

O HIV e Sida pode resultar de uma violação sexual, mas resulta geralmente das várias formas

de violência combinadas. A violência social e a económica são agentes poderosos na origem

da infecção e a mesma infecção pode ser um factor que despoleta a violência contra a mulher.

A violência limita a capacidade da mulher controlar e decidir sobre a sua saúde sexual e repro-

dutiva. As mulheres que sofrem de violência física, psicológica e sexual têm muito mais pro-

babilidade de utilizar métodos anticoncepcionais clandestinamente ou de interromper a sua

utilização por imposição do parceiro e incorrer em relações sexuais sem o uso do preservativo.

As sobreviventes de actos violentos têm maior probabilidade de adoptarem comportamentos

sexuais de alto risco, gravidez indesejada e de sofrerem de disfunção sexual do que mulheres

que nunca foram agredidas. Muitas mulheres violentadas acabam sendo atendidas nos servi-

ços de saúde reprodutiva.

Problemas na Saúde Sexual e Reprodutiva da Mulher

A violência na mulher grávida

Mulheres que são vítimas de violência também relatam que a violência

inicia e/ou escala durante a gravidez. A violência neste período tem

impacto directo na saúde da mulher pois é um dos principais responsáveis

por abortos voluntários e involuntários, a procura tardia de cuidados pré-

natais, o crescimento lento do feto devido ao stress, baixo peso do bebé à

nascença e contribui para os altos índices de mortalidade materna.

A violência sobre a menina, na forma de "casamentos" prematuros: as

meninas com idade inferior a 15 anos têm uma maior probabilidade de

morrer por complicações de parto, do que as mulheres. Existe também

nesta faixa etária um maior risco de desenvolver a fístula obstétrica como

resultado do parto prolongado e obstruído.

As mulheres que sofrem de violência física, sexual ou psicológica podem ter uma série de pro-

blemas de saúde, muitas vezes em silêncio. São menos saudáveis física e mentalmente, sofrem

mais lesões e utilizam mais os serviços de saúde do que as mulheres que não passaram por situ-

ações de violência.

Os/as profissionais de saúde tem a oportunidade e a obrigação de identificar, tratar e educar as

mulheres em situação de violência. (in Outlook)

Relação entre violência e o HIV e SIDA

No início do aparecimento da doença (década de 1980), a maioria das pessoas com HIV/SIDA

eram homens. No entanto, a proporção de mulheres infectadas tem vindo a aumentar cons-

tantemente: até 2004, as mulheres e meninas correspondiam a cerca de 50% de todas as

pessoas que viviam com HIV/SIDA, e na África Subsahariana, as mulheres e meninas repre-

sentavam 57% das pessoas infectadas. Neste sentido, segundo a OMS, actualmente 15

milhões de mulheres padecem de SIDA; 80% delas foram contagiadas pelos seus parceiros

(2008).

Estima-se que do total de 1.6 milhões de Moçambicanos infectados pelo HIV/SIDA, cerca de

870.000 sejam do sexo feminino, ou seja 58%. A prevalência é mais alta no grupo etário dos

15 aos 29 anos (INSIDA, 2009).

As razões que explicam a maior vulnerabilidade das meninas e mulheres ao HIV devem-se às

suas relações de subordinação relativamente aos homens e os vários tipos de violência exer-

cida sobre elas. De forma resumida, são as seguintes razões:

nAs esposas, noivas, namoradas continuam pensando que uma relação estável as man-

tém imunes ao HIV;

nÉ muito difícil para as mulheres negociar o uso do preservativo com os seus parceiros,

sem ser objecto de suspeita ou maus-tratos.

nSer a juventude, specialmente do sexo feminino a mais exposta, pelo facto da sua inicia-

ção sexual ser muito precoce.

nCultura de silêncio em torno da sexualidade, que dita a norma de que as "boas" mulheres

e meninas devem ser passivas e ignorantes sobre sexo. Isto impossibilita que elas se

informem sobre como reduzir o risco da infecção. Contudo, mesmo quando informadas, é

difícil tomar a iniciativa para negociar sexo seguro.

nA "tradicional" norma da virgindade, paradoxalmente, aumenta o risco de infecção da

menina e da mulher, porque limita as suas habilidades em conhecer a sexualidade, além

do medo de que pensem que "ela já faz sexo". A virgindade também coloca as meninas

em risco de serem violadas ou sofrerem coerção sexual em função das crenças comuns

de que "sexo com virgem limpa o homem", ou que não se contrai SIDA ou também se cura

SIDA mantendo relações sexuais com uma virgem. Sendo assim, esta coerção e/ou viola-

ção não é considerada infracção. Paralelamente a "virgindade" pode estar na origem do

maior risco que as mulheres e meninas têm, pois como acontece em algumas partes da

África do Sul, elas acabam realizando sexo anal que facilita ainda mais a transmissão do

HIV que a relação vaginal.

nVárias obras consultadas (INJAD, 2001; PSI Jeito, 2001, 2002, 2003; Osório e Artur, 2003,

entre outras) demonstram que a dependência económica aumenta a vulnerabilidade das

mulheres, particularmente das mulheres jovens, ao HIV (sexo por dinheiro, dependência

económica numa relação estável, menor poder de negociar sexo seguro e diminuição da

percepção de risco).

nA forma mais perturbadora do poder masculino, a violência contra a mulher, contribui

directa e indirectamente para a vulnerabilidade das mulheres ao HIV. Pesquisas mostram

que entre 16 a 50% das mulheres em várias partes do mundo referem o abuso sexual por

um parceiro íntimo (OMS, 2004), ou em inúmeros casos, por uma pessoa muito próxima

delas. Um quarto das jovens universitárias tanto na cidade de Maputo como de Quelima-

ne, respondeu que a sua primeira relação sexual foi forçada.

nA violência física ou a simples ameaça de violência física ou mesmo o medo de ser aban-

Dados do Inquérito Demográfico e de Saúde de 2003 indicam que 18% de mulheres jovens, com idade compreendida entre os 20 e os 24 anos, já eram "casadas" antes dos 15 anos de idade e 56% antes dos 17 anos. (IDS 2007)

26 27Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

A vítima de violência doméstica não costuma ser vítima só na área física, ou sexual ou psicológi-

ca ou eonómica, costumando sofrer as várias formas de violência combinadas. Por isso, quando a

vítima se dirige à US, não se pode tratar só a parte física ou sexual, devendo tratar a pessoa vio-

lentada com muita empatia e prestar apoio psicológico.

É muito importante para as Unidades Sanitárias que têm possibilidade fazer tratamento psicoló-

gico ao agressor.

Módulo IVVIOLÊNCIA COMO ASSUNTO

DE SAÚDE PÚBLICA E DE DIREITOS HUMANOS

donada, constitui uma verdadeira barreira para as mulheres ou raparigas que queiram

negociar o uso do preservativo, discutir a fidelidade com o parceiro ou interromper a rela-

ções, quando percebem que estão em risco.

nComportamento de risco, por parte do homem, que o leva inclusive a não procurar cuida-

dos de saúde, em busca de informação, aconselhamento e tratamento, colocando em

risco a/s sua/s parceiras;

nOs homens têm mais parceiras sexuais do que as mulheres, consequentemente uma

maior probabilidade de "espalhar" as doenças de transmissão sexual incluindo o HIV e

SIDA;

nA masculinidade leva a que os homens não gostem de discutir/questionar assuntos rela-

cionados com a sexualidade e os riscos das relações sexuais desprotegidas, apesar de

terem muitas vezes consciência desses mesmos riscos.

O HIV e SIDA são considerados como causa e efeito da violência. Vários estudos argumen-

tam que as violações sexuais principalmente por parceiros íntimos reduzem a possibilidade

de negociação do uso de preservativos. Existem mulheres que se sentem intimidadas em

propor aos seus parceiros o uso de preservativo porque estes podem interpretar como sinal

de desconfiança (pensar que o parceiro está envolvido com outras mulheres) ou o mesmo

pode argumentar que ela está a ter uma relação extra conjugal. Por qualquer um destes moti-

vos o homem pode agredi-la. Neste caso, se o homem estiver infectado poderá infectá-la, ou

vice-versa. É de enfatisar que a infecção pelo HIV deve-se às várias formas de violência soci-

al, psicológica, económica, física e política que transformam a mulher num objecto sexual.

Regra geral, a mulher é a primeira a saber sobre o seu estado serológico através das consul-

tas pré-natais. Ao tomar conhecimento do facto de ser HIV positiva, a mulher sente que não

pode partilhar esta informação com o seu parceiro pois tal resulta em estigmatização, exclu-

são social e violência contra ela.

Por não revelar o seu estado de sero-prevalencia a mulher acaba ficando numa situação difí-

cil para explicar e negociar o uso de preservativo entre o casal, incorrendo assim em reinfec-

ções múltiplas que prejudicam a eficácia do tratamento, se ela já estiver em tratamento anti-

retroviral. Adicionalmente, a prática de relações sexuais desprotegidas resulta na infecção

do seu parceiro para o caso de casais discordantes.

Mulheres grávidas seropositivas que não partilham o seu estado de seropositividade têm

maiores dificuldades em cumprir com os cuidados que devem dispensar ao bebé, nomeada-

mente a utilização do aleitamento artificial e o seguimento médico necessário para o bebé.

28 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

A vítima de violência doméstica não costuma ser vítima só na área física, ou sexual ou psicológi-

ca ou eonómica, costumando sofrer as várias formas de violência combinadas. Por isso, quando a

vítima se dirige à US, não se pode tratar só a parte física ou sexual, devendo tratar a pessoa vio-

lentada com muita empatia e prestar apoio psicológico.

É muito importante para as Unidades Sanitárias que têm possibilidade fazer tratamento psicoló-

gico ao agressor.

Módulo IVVIOLÊNCIA COMO ASSUNTO

DE SAÚDE PÚBLICA E DE DIREITOS HUMANOS

donada, constitui uma verdadeira barreira para as mulheres ou raparigas que queiram

negociar o uso do preservativo, discutir a fidelidade com o parceiro ou interromper a rela-

ções, quando percebem que estão em risco.

nComportamento de risco, por parte do homem, que o leva inclusive a não procurar cuida-

dos de saúde, em busca de informação, aconselhamento e tratamento, colocando em

risco a/s sua/s parceiras;

nOs homens têm mais parceiras sexuais do que as mulheres, consequentemente uma

maior probabilidade de "espalhar" as doenças de transmissão sexual incluindo o HIV e

SIDA;

nA masculinidade leva a que os homens não gostem de discutir/questionar assuntos rela-

cionados com a sexualidade e os riscos das relações sexuais desprotegidas, apesar de

terem muitas vezes consciência desses mesmos riscos.

O HIV e SIDA são considerados como causa e efeito da violência. Vários estudos argumen-

tam que as violações sexuais principalmente por parceiros íntimos reduzem a possibilidade

de negociação do uso de preservativos. Existem mulheres que se sentem intimidadas em

propor aos seus parceiros o uso de preservativo porque estes podem interpretar como sinal

de desconfiança (pensar que o parceiro está envolvido com outras mulheres) ou o mesmo

pode argumentar que ela está a ter uma relação extra conjugal. Por qualquer um destes moti-

vos o homem pode agredi-la. Neste caso, se o homem estiver infectado poderá infectá-la, ou

vice-versa. É de enfatisar que a infecção pelo HIV deve-se às várias formas de violência soci-

al, psicológica, económica, física e política que transformam a mulher num objecto sexual.

Regra geral, a mulher é a primeira a saber sobre o seu estado serológico através das consul-

tas pré-natais. Ao tomar conhecimento do facto de ser HIV positiva, a mulher sente que não

pode partilhar esta informação com o seu parceiro pois tal resulta em estigmatização, exclu-

são social e violência contra ela.

Por não revelar o seu estado de sero-prevalencia a mulher acaba ficando numa situação difí-

cil para explicar e negociar o uso de preservativo entre o casal, incorrendo assim em reinfec-

ções múltiplas que prejudicam a eficácia do tratamento, se ela já estiver em tratamento anti-

retroviral. Adicionalmente, a prática de relações sexuais desprotegidas resulta na infecção

do seu parceiro para o caso de casais discordantes.

Mulheres grávidas seropositivas que não partilham o seu estado de seropositividade têm

maiores dificuldades em cumprir com os cuidados que devem dispensar ao bebé, nomeada-

mente a utilização do aleitamento artificial e o seguimento médico necessário para o bebé.

28 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Importância da violência como assunto de saúde pública

Um estudo feito pela OMS em 2005 em 10 países (2006) identifica que tanto as mulheres que

já foram vítimas de violência, como aquelas que eram vítimas no momento da pesquisa

demonstravam problemas de saúde similares. Estes problemas equiparavam-se aos apre-

sentados por mulheres que vivem em países em guerra. A violência doméstica é classificada

como trauma intencional, por ser infligido deliberadamente. Um estudo nacional feito e

publicado em 2004 pelo Ministério da Mulher e da Acção Social concluiu que 54% das

mulheres Moçambicanas são ou foram vítimas de violência física e sexual.

Por esta razão a VG é um problema de saúde pública importante e uma violação grave dos

direitos humanos. As graves implicações na saúde das vítimas são ignoradas na maioria das

vezes.

Este tipo de violência é frequentemente invisivel uma vez que acontece por detrás de portas

fechadas e efectivamente quando o sistema legal e as normas culturais não o consideram

crime, mas sim um assunto de caracter "privado" familiar e parte da vida normal.

Por todas estas razões, a comunidade deve ser informada sobre o conceito de violência e o

seu impacto na saúde das mulheres (e das crianças).

Em África:

nA mulher está marginalizada na tomada de decisões referentes à sua vida sexual e repro-

dutiva, social/económica e politica e é considerada muitas vezes como sendo proprieda-

de do homem, e a violência é vista como sendo um castigo físico.

nMuitas mulheres, devido à forma como foram socializadas, acreditam ainda que os seus

parceiros têm o direito de abusar delas.

nEm países onde existe legislação sobre a Violência de Género, a fraca capacidade institu-

cional dos Órgãos da Administração da Justiça e de outras Instituições, leva ao insucesso

da protecção da mulher contra a violência. O sector da Saúde é um órgão primordial na

recolha das provas para as Instâncias da Justiça poderem aplicar a lei.

A Violência de Género afecta todos os grupos sociais e além de constituir um problema políti-

co, cultural, policial e jurídico, é fundamentalmente um problema de saúde pública.

Muitas mulheres adoecem devido à violência a que são sujeitas principalmente em casa mas

também noutros locais como por exemplo, no local de trabalho (barracas, mercados, etc.),

na via pública, escola, etc..

Existem várias acções simples que os profissionais podem tomar para apoiar os direitos

humanos das pessoas e colocar-se contra a violência.

A violência não é um assunto individual pois as consequências deste acto têm um impacto

directo na vida do agregado familiar envolvido bem como nas instituições que tem que lidar

com as vítimas de violência como unidades sanitárias, polícia, tribunais, etc.

A vítima de violência é privada de um dos direitos fundamentais do ser humano, o direito a

uma vida segura. É muito importante fazer notar que as sobreviventes de violência não

estão desprotegidas pelo Estado. Existem leis nacionais e internacionais que as protegem

dos abusos e prevêem sanções aos perpetradores.

NADA JUSTIFICA A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES!

30 31Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Importância da violência como assunto de saúde pública

Um estudo feito pela OMS em 2005 em 10 países (2006) identifica que tanto as mulheres que

já foram vítimas de violência, como aquelas que eram vítimas no momento da pesquisa

demonstravam problemas de saúde similares. Estes problemas equiparavam-se aos apre-

sentados por mulheres que vivem em países em guerra. A violência doméstica é classificada

como trauma intencional, por ser infligido deliberadamente. Um estudo nacional feito e

publicado em 2004 pelo Ministério da Mulher e da Acção Social concluiu que 54% das

mulheres Moçambicanas são ou foram vítimas de violência física e sexual.

Por esta razão a VG é um problema de saúde pública importante e uma violação grave dos

direitos humanos. As graves implicações na saúde das vítimas são ignoradas na maioria das

vezes.

Este tipo de violência é frequentemente invisivel uma vez que acontece por detrás de portas

fechadas e efectivamente quando o sistema legal e as normas culturais não o consideram

crime, mas sim um assunto de caracter "privado" familiar e parte da vida normal.

Por todas estas razões, a comunidade deve ser informada sobre o conceito de violência e o

seu impacto na saúde das mulheres (e das crianças).

Em África:

nA mulher está marginalizada na tomada de decisões referentes à sua vida sexual e repro-

dutiva, social/económica e politica e é considerada muitas vezes como sendo proprieda-

de do homem, e a violência é vista como sendo um castigo físico.

nMuitas mulheres, devido à forma como foram socializadas, acreditam ainda que os seus

parceiros têm o direito de abusar delas.

nEm países onde existe legislação sobre a Violência de Género, a fraca capacidade institu-

cional dos Órgãos da Administração da Justiça e de outras Instituições, leva ao insucesso

da protecção da mulher contra a violência. O sector da Saúde é um órgão primordial na

recolha das provas para as Instâncias da Justiça poderem aplicar a lei.

A Violência de Género afecta todos os grupos sociais e além de constituir um problema políti-

co, cultural, policial e jurídico, é fundamentalmente um problema de saúde pública.

Muitas mulheres adoecem devido à violência a que são sujeitas principalmente em casa mas

também noutros locais como por exemplo, no local de trabalho (barracas, mercados, etc.),

na via pública, escola, etc..

Existem várias acções simples que os profissionais podem tomar para apoiar os direitos

humanos das pessoas e colocar-se contra a violência.

A violência não é um assunto individual pois as consequências deste acto têm um impacto

directo na vida do agregado familiar envolvido bem como nas instituições que tem que lidar

com as vítimas de violência como unidades sanitárias, polícia, tribunais, etc.

A vítima de violência é privada de um dos direitos fundamentais do ser humano, o direito a

uma vida segura. É muito importante fazer notar que as sobreviventes de violência não

estão desprotegidas pelo Estado. Existem leis nacionais e internacionais que as protegem

dos abusos e prevêem sanções aos perpetradores.

NADA JUSTIFICA A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES!

30 31Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

nDireito à vida

nDireito à Igualdade

nDireito à Liberdade e Segurança

nDireito a não ser objecto de tortura, ou outro tipo de acto cruel ou desumano, ou degradante;

nDireito à igualdade de protecção perante a lei

Convenções Internacionais

Declaração universal sobre os Direitos Humanos

A violência é uma clara violação aos Direitos Humanos da Mulher, nos seus artigos 1, 3, 4 e 5

que referem que todo o indivíduo tem direito à vida, igualdade e segurança. Moçambique é

signatário da Declaração dos Direitos Humanos adoptada pelas Nações Unidas em 1948.

A declaração das Nações Unidas não é um instrumento legal, mas é um instrumento que

reflecte o compromisso dos países signatários em respeitar normas de convivência interna-

cionais.

Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de discriminação Contra a Mulher (CEDAW)

A Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher

(CEDAW) é um instrumento jurídico de carácter universal relativo aos direitos da mulher. A

CEDAW articula múltiplas disposições e declarações das Nações Unidas sobre os direitos huma-

nos no geral e da mulher em particular, anteriormente aprovadas, tais como a Declaração Uni-

versal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis, Políticos e Económicos,

Culturais e Sociais e a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, apro-

vada pela Assembleia Geral 2263, de 7 de Novembro de 1967. A Assembleia da República de

Moçambique ratificou a CEDAW a 2 de Junho de 1993, através da Resolução 4/93 .

Ao ratificar a convenção, os Estados-Membros comprometem-se a adoptar uma série de medi-

das, incluindo legislação e medidas especiais temporárias, para acabar com todas as formas

de discriminação contra a mulher, para que as mulheres possam usufruir dos seus direitos

humanos e liberdades fundamentais. Os países que ratificaram a convenção estão legalmente

vinculados à aplicação das provisões contidas neste instrumento jurídico.

Ainda no seu artigo nº 3, esta Convenção instrui os países membros para que tomem medidas

em todas as esferas políticas, sociais e culturais, inclusive formulando leis, para assegurar e

garantir às mulheres todos os direitos humanos e as liberdades fundamentais em igualdade

de condições com os homens.

O artigo 5º da CEDAW salienta que estas medidas têm que modificar os padrões socioculturais

de conduta de homens e mulheres, com vista a eliminar prejuízos e práticas culturais de qual-

quer índole, que estejam baseados na ideia de inferioridade ou superioridade de qualquer dos

sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres.

O Governo aprovou instrumentos legais importantes que protegem os direitos da mulher

nomeadamente a Lei da Família, a Lei da Violência Doméstica contra a Mulher, a Lei contra o

Tráfico e Abuso de Mulheres e Crianças, a Lei Anti-discriminação contra pessoas vivendo com o

HIV e SIDA e o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (Lei n° 14/2009).

Plataforma de Acção de Beijing

Em 1995 realizou-se em Beijing uma conferência que reuniu governos e organizações da Soci-

edade civil que lutam pelos direitos da Mulher. A conferência da Mulher teve como resultado

principal a adopção da Plataforma de Acção de Beijing que define áreas prioritárias para a pro-

moção da igualdade e empoderamento da mulher a nível mundial. Entre as áreas considera-

das prioritárias consta a implementação de acções de prevenção, combate e mitigação da vio-

lência doméstica. Vários países assumiram o compromisso de desenvolver planos nacionais

que definem áreas prioritárias para cada país de acordo com as suas especificidades locais.

Moçambique foi um dos signatários deste compromisso e tem submetido relatórios às Nações

Unidas para reportar o grau de desempenho da implementação das áreas prioritárias no país.

Como se pode depreender pelos diferentes instrumentos acima mencionados, Moçambique

assumiu compromissos internacionais que lhe obrigam a tomar medidas internas para garan-

tir que estes instrumentos sejam implementados na íntegra. A lei sobre a violência doméstica

contra a mulher é por exemplo um dos instrumentos que permite assegurar a protecção (e pre-

venção) das vítimas de violência. O programa de Atendimento Integrado às Vitimas de Violên-

cia é também mais um instrumento que permite a provisão do atendimento e acompanha-

mento adequado às vítimas de violência, como define um dos objectivos da Plataforma de

Acção de Beijing no pilar sobre violência doméstica.No País existem uma série de documentos,

ou leis que protegem os direitos da cidadã e do cidadão:

1 Boletim da República, I Série, Nº 22, de Junho de 1993. 2 Normas e regras da sociedade que estão baseados nos factores culturais.

Legislação Moçambicana

A Constituição da República de Moçambique aprovada em 1990, no artigo 35, defende o prin-cípio de universalidade da igualdade. Pode-se ler neste artigo:

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mes-mos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.

Está também claramente definido na constituição o princípio de igualdade de género: o artigo 36 defende que perante a lei, homens e mulheres são iguais. Ou seja homens e mulheres têm os mesmos direitos e responsabilidades. Eles nunca poderão ser descriminados, ou de algum modo prejudicados pelo facto de serem homem ou mulher. A implicação directa desta afirma-

nPromover a revisão e adopção da nova legislação para combater as diversas formas de

discriminação contra a mulher.

nPromover a adopção de medidas integradas e coordenadas para prevenir e eliminar a

violência contra a mulher e a rapariga.

nPromover a maior participação da mulher no Sistema da Administração da Justiça (SAJ)

nPromover assistência às vítimas da violência;

nPromover o estudo das causas e consequências da violência contra a mulher e a rapa-

riga de modo avaliar a eficácia das medidas preventivas.

Então quais

direitos são

Violados?

Mecanismos legais existentes para proteção das mulheres

32 33Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

nDireito à vida

nDireito à Igualdade

nDireito à Liberdade e Segurança

nDireito a não ser objecto de tortura, ou outro tipo de acto cruel ou desumano, ou degradante;

nDireito à igualdade de protecção perante a lei

Convenções Internacionais

Declaração universal sobre os Direitos Humanos

A violência é uma clara violação aos Direitos Humanos da Mulher, nos seus artigos 1, 3, 4 e 5

que referem que todo o indivíduo tem direito à vida, igualdade e segurança. Moçambique é

signatário da Declaração dos Direitos Humanos adoptada pelas Nações Unidas em 1948.

A declaração das Nações Unidas não é um instrumento legal, mas é um instrumento que

reflecte o compromisso dos países signatários em respeitar normas de convivência interna-

cionais.

Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de discriminação Contra a Mulher (CEDAW)

A Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher

(CEDAW) é um instrumento jurídico de carácter universal relativo aos direitos da mulher. A

CEDAW articula múltiplas disposições e declarações das Nações Unidas sobre os direitos huma-

nos no geral e da mulher em particular, anteriormente aprovadas, tais como a Declaração Uni-

versal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis, Políticos e Económicos,

Culturais e Sociais e a Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, apro-

vada pela Assembleia Geral 2263, de 7 de Novembro de 1967. A Assembleia da República de

Moçambique ratificou a CEDAW a 2 de Junho de 1993, através da Resolução 4/93 .

Ao ratificar a convenção, os Estados-Membros comprometem-se a adoptar uma série de medi-

das, incluindo legislação e medidas especiais temporárias, para acabar com todas as formas

de discriminação contra a mulher, para que as mulheres possam usufruir dos seus direitos

humanos e liberdades fundamentais. Os países que ratificaram a convenção estão legalmente

vinculados à aplicação das provisões contidas neste instrumento jurídico.

Ainda no seu artigo nº 3, esta Convenção instrui os países membros para que tomem medidas

em todas as esferas políticas, sociais e culturais, inclusive formulando leis, para assegurar e

garantir às mulheres todos os direitos humanos e as liberdades fundamentais em igualdade

de condições com os homens.

O artigo 5º da CEDAW salienta que estas medidas têm que modificar os padrões socioculturais

de conduta de homens e mulheres, com vista a eliminar prejuízos e práticas culturais de qual-

quer índole, que estejam baseados na ideia de inferioridade ou superioridade de qualquer dos

sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres.

O Governo aprovou instrumentos legais importantes que protegem os direitos da mulher

nomeadamente a Lei da Família, a Lei da Violência Doméstica contra a Mulher, a Lei contra o

Tráfico e Abuso de Mulheres e Crianças, a Lei Anti-discriminação contra pessoas vivendo com o

HIV e SIDA e o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (Lei n° 14/2009).

Plataforma de Acção de Beijing

Em 1995 realizou-se em Beijing uma conferência que reuniu governos e organizações da Soci-

edade civil que lutam pelos direitos da Mulher. A conferência da Mulher teve como resultado

principal a adopção da Plataforma de Acção de Beijing que define áreas prioritárias para a pro-

moção da igualdade e empoderamento da mulher a nível mundial. Entre as áreas considera-

das prioritárias consta a implementação de acções de prevenção, combate e mitigação da vio-

lência doméstica. Vários países assumiram o compromisso de desenvolver planos nacionais

que definem áreas prioritárias para cada país de acordo com as suas especificidades locais.

Moçambique foi um dos signatários deste compromisso e tem submetido relatórios às Nações

Unidas para reportar o grau de desempenho da implementação das áreas prioritárias no país.

Como se pode depreender pelos diferentes instrumentos acima mencionados, Moçambique

assumiu compromissos internacionais que lhe obrigam a tomar medidas internas para garan-

tir que estes instrumentos sejam implementados na íntegra. A lei sobre a violência doméstica

contra a mulher é por exemplo um dos instrumentos que permite assegurar a protecção (e pre-

venção) das vítimas de violência. O programa de Atendimento Integrado às Vitimas de Violên-

cia é também mais um instrumento que permite a provisão do atendimento e acompanha-

mento adequado às vítimas de violência, como define um dos objectivos da Plataforma de

Acção de Beijing no pilar sobre violência doméstica.No País existem uma série de documentos,

ou leis que protegem os direitos da cidadã e do cidadão:

1 Boletim da República, I Série, Nº 22, de Junho de 1993. 2 Normas e regras da sociedade que estão baseados nos factores culturais.

Legislação Moçambicana

A Constituição da República de Moçambique aprovada em 1990, no artigo 35, defende o prin-cípio de universalidade da igualdade. Pode-se ler neste artigo:

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mes-mos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.

Está também claramente definido na constituição o princípio de igualdade de género: o artigo 36 defende que perante a lei, homens e mulheres são iguais. Ou seja homens e mulheres têm os mesmos direitos e responsabilidades. Eles nunca poderão ser descriminados, ou de algum modo prejudicados pelo facto de serem homem ou mulher. A implicação directa desta afirma-

nPromover a revisão e adopção da nova legislação para combater as diversas formas de

discriminação contra a mulher.

nPromover a adopção de medidas integradas e coordenadas para prevenir e eliminar a

violência contra a mulher e a rapariga.

nPromover a maior participação da mulher no Sistema da Administração da Justiça (SAJ)

nPromover assistência às vítimas da violência;

nPromover o estudo das causas e consequências da violência contra a mulher e a rapa-

riga de modo avaliar a eficácia das medidas preventivas.

Então quais

direitos são

Violados?

Mecanismos legais existentes para proteção das mulheres

32 33Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ção é que, apesar de a sociedade moçambicana ser regida em muitas situações pelo direito costumeiro , este nunca se poderá sobrepor aos direitos constitucionais do indivíduo.

Portanto aqueles que alegam que a violência doméstica é um legado cultural, não estão impu-

nes à lei, pois a lei define que a violência doméstica é um crime.

A lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher foi aprovada em 2009. O processo

para a elaboração da lei foi iniciado em 2001 pela sociedade civil Moçambicana, em 2007 a

proposta de lei foi submetida á Assembleia da República que a aprovou em 2009.

É importante referir que o processo de aprovação da lei não foi um processo pacífico, várias

vozes se levantaram para procurar perceber a necessidade de haver uma lei que criminaliza

especificamente a violência contra a mulher. Homens e mulheres sentiram que de certo modo

a proposta de lei submetida pela sociedade civil ia contra os princípios culturais da sociedade

Moçambicana. Este processo demonstrou quão enraizados os preconceitos em relação ao

género está na nossa sociedade, e acima de tudo revelou a necessidade de um esforço adicio-

nal para actividades de informação e conhecimento sobre o género.

Lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher (Lei n°29/2009)

A presente lei visa proteger a integridade física, moral, psicológica, patrimonial e sexual da mulher, contra qualquer forma de violência exercida pelo seu cônjuge, ex-cônjuge, parceiro, ex-parceiro, namorado, ex-namorado e familiares

Circunstâncias agravantes:a) Praticado na presença dos filhos ou outros menores;b) Haver ciclo de violência;c) Haver antecedentes de violência;d) For praticado contra uma mulher grávida;e) A mulher for portadora de deficiência;f) For praticado em espaço público;g) A impossibilidade da vítima pedir e obter socorro no momento da agressão.

Tipificação da violência:

a) Violência física simples;b) Violência psicológica;c) Violência moral;d) Cópula não consentida;e) Cópula com transmissão de doença;f) Violência patrimonial;g) Violência social.

A denúncia pode, também, ser feita pelos membros da família, agentes de saúde, agentes de segurança social, membro da organização da sociedade civil ou qual-quer outra pessoa que tenha conhecimento do facto

Os processos relacionados com a violência doméstica contra as mulheres têm carácter urgente e prioridade sobre os demais.

Afinal o que diz a lei nº 29/2009?

Capítulo I

Artigo 3

Artigo 11

Capítulo II

Artigos

13 a 20

Artigo 23

Artigo 35

Segundo a lei, qualquer pessoa que tenha conhecimento de algum caso de violência, deverá

denunciá-lo à polícia, incluindo o pessoal de saúde. Toda a vítima de violência tem o direito a

atendimento adequado. Em relação ao atendimento médico, a lei no seu artigo 22, refere que

a vítima deve ser informada sobre a necessidade, o tipo, o modo de execução do exame e ser

esclarecida sobre o resultado deste.

A Lei sobre a violência doméstica contra a mulher prevê o tratamento das vítimas de violência,

incluindo a violência sexual. Este instrumento representa um avanço importante em relação

ao Código Penal que não tipifica a violência baseada no género como um crime. A lei preconiza

ainda que o crime de violência contra a mulher é crime público, podendo pois ser denunciado

por outras pessoas que não sejam as vítimas. Os desafios são assegurar a regulamentação e

disseminação da lei para garantir a sua aplicação e fortalecer os mecanismos de denúncia e

encaminhamento dos casos assim como a provisão dos serviços de atendimento preconiza-

dos na lei.

Uma das formas de garantir a implementação plena desta lei é assegurar que as mulheres víti-

mas de violência tenham conhecimento sobre os seus direitos, e, nos casos em que não há

denúncia, elas tenham a possibilidade ser identificadas e aconselhadas sobre os instrumentos

ao seu dispôr para se protegerem da violência. Como já foi mencionado antes, os serviços de

saúde materno infantil, constituem um dos principais, senão o principal ponto de entrada para

mulheres vítimas de violência.

Consoante a gravidade da situação, a vítima pode denunciar a situação nos serviços de saúde

ou nos gabinetes de atendimento da mulher e criança vítimas de violência na Polícia.

Também pode fazer a denúncia na Procuradoria da República (Provincial e Distrital).

A lei sobre a Violência Doméstica praticada contra a Mulher preconiza no seu artigo 21 que

este tipo de violência constitui um crime público: qualquer pessoa PODE e DEVE denunciar às

autoridades. Profissionais de saúde e professores/as têm uma responsabilidade especial nesta

área.

Principais mecanismos à disposição para denúncia e processos de justiça subsequentes

34 35Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ção é que, apesar de a sociedade moçambicana ser regida em muitas situações pelo direito costumeiro , este nunca se poderá sobrepor aos direitos constitucionais do indivíduo.

Portanto aqueles que alegam que a violência doméstica é um legado cultural, não estão impu-

nes à lei, pois a lei define que a violência doméstica é um crime.

A lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher foi aprovada em 2009. O processo

para a elaboração da lei foi iniciado em 2001 pela sociedade civil Moçambicana, em 2007 a

proposta de lei foi submetida á Assembleia da República que a aprovou em 2009.

É importante referir que o processo de aprovação da lei não foi um processo pacífico, várias

vozes se levantaram para procurar perceber a necessidade de haver uma lei que criminaliza

especificamente a violência contra a mulher. Homens e mulheres sentiram que de certo modo

a proposta de lei submetida pela sociedade civil ia contra os princípios culturais da sociedade

Moçambicana. Este processo demonstrou quão enraizados os preconceitos em relação ao

género está na nossa sociedade, e acima de tudo revelou a necessidade de um esforço adicio-

nal para actividades de informação e conhecimento sobre o género.

Lei sobre a violência doméstica praticada contra a Mulher (Lei n°29/2009)

A presente lei visa proteger a integridade física, moral, psicológica, patrimonial e sexual da mulher, contra qualquer forma de violência exercida pelo seu cônjuge, ex-cônjuge, parceiro, ex-parceiro, namorado, ex-namorado e familiares

Circunstâncias agravantes:a) Praticado na presença dos filhos ou outros menores;b) Haver ciclo de violência;c) Haver antecedentes de violência;d) For praticado contra uma mulher grávida;e) A mulher for portadora de deficiência;f) For praticado em espaço público;g) A impossibilidade da vítima pedir e obter socorro no momento da agressão.

Tipificação da violência:

a) Violência física simples;b) Violência psicológica;c) Violência moral;d) Cópula não consentida;e) Cópula com transmissão de doença;f) Violência patrimonial;g) Violência social.

A denúncia pode, também, ser feita pelos membros da família, agentes de saúde, agentes de segurança social, membro da organização da sociedade civil ou qual-quer outra pessoa que tenha conhecimento do facto

Os processos relacionados com a violência doméstica contra as mulheres têm carácter urgente e prioridade sobre os demais.

Afinal o que diz a lei nº 29/2009?

Capítulo I

Artigo 3

Artigo 11

Capítulo II

Artigos

13 a 20

Artigo 23

Artigo 35

Segundo a lei, qualquer pessoa que tenha conhecimento de algum caso de violência, deverá

denunciá-lo à polícia, incluindo o pessoal de saúde. Toda a vítima de violência tem o direito a

atendimento adequado. Em relação ao atendimento médico, a lei no seu artigo 22, refere que

a vítima deve ser informada sobre a necessidade, o tipo, o modo de execução do exame e ser

esclarecida sobre o resultado deste.

A Lei sobre a violência doméstica contra a mulher prevê o tratamento das vítimas de violência,

incluindo a violência sexual. Este instrumento representa um avanço importante em relação

ao Código Penal que não tipifica a violência baseada no género como um crime. A lei preconiza

ainda que o crime de violência contra a mulher é crime público, podendo pois ser denunciado

por outras pessoas que não sejam as vítimas. Os desafios são assegurar a regulamentação e

disseminação da lei para garantir a sua aplicação e fortalecer os mecanismos de denúncia e

encaminhamento dos casos assim como a provisão dos serviços de atendimento preconiza-

dos na lei.

Uma das formas de garantir a implementação plena desta lei é assegurar que as mulheres víti-

mas de violência tenham conhecimento sobre os seus direitos, e, nos casos em que não há

denúncia, elas tenham a possibilidade ser identificadas e aconselhadas sobre os instrumentos

ao seu dispôr para se protegerem da violência. Como já foi mencionado antes, os serviços de

saúde materno infantil, constituem um dos principais, senão o principal ponto de entrada para

mulheres vítimas de violência.

Consoante a gravidade da situação, a vítima pode denunciar a situação nos serviços de saúde

ou nos gabinetes de atendimento da mulher e criança vítimas de violência na Polícia.

Também pode fazer a denúncia na Procuradoria da República (Provincial e Distrital).

A lei sobre a Violência Doméstica praticada contra a Mulher preconiza no seu artigo 21 que

este tipo de violência constitui um crime público: qualquer pessoa PODE e DEVE denunciar às

autoridades. Profissionais de saúde e professores/as têm uma responsabilidade especial nesta

área.

Principais mecanismos à disposição para denúncia e processos de justiça subsequentes

34 35Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VPapel da Unidade Sanitária

e dos Profissionais de Saúde: Provisão do pacote

integrado de serviços

36 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VPapel da Unidade Sanitária

e dos Profissionais de Saúde: Provisão do pacote

integrado de serviços

36 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Os profissionais de saúde encontram-se na linha da frente, no que toca ao atendimento das

vítimas de violência. Muitas destas dirigem-se directamente às Unidades Sanitárias e outras

dirigem-se primeiro aos Gabinetes de Atendimento da Mulher e da Criança na Policia e daqui

são encaminhadas às unidades sanitárias. Seja qual for a primeira instituição onde elas se

dirigem, pelo já exposto, elas desenvolvem problemas sérios de saúde, os quais cronificam

se o atendimento não for integrado, isto é, se não incluir as três dimensões: tratamento físi-

co, emocional/psicológico e médico-legal.

a) Advocar, Criar uma Rede e Coordenar a provisão de cuidados

É importante criar uma rede com outros sectores e associações que também lidam com as

vítimas de VG. Montar coligações entre estes diferentes grupos pode aumentar a possibilida-

de de mudança. Esta mudança pode precisar de ocorrer na legislação de tal modo que as leis

podem ser implementadas ou alteradas relativamente à VG, para obter o apoio do governo

para a prestação de serviços básicos na assistência às vítimas e/ou criar ou expandir as ONGs

na comunidade. Não só esses grupos coligados podem ser fontes potenciais de referência,

mas também há a possibilidade de as utentes serem referidas de e para a US. Trabalhar jun-

tos pode também ajudar a evitar a duplicação dos serviços. Esses grupos podem também ter

material que pode ser usado como protótipo para o desenvolvimento de materiais a serem

usados na unidade sanitária.

b) Garantir Privacidade e Segurança

De modo a perguntar às utentes sobre a VG deve haver um gabinete privado, com uma porta,

onde essas discussões podem ter lugar. Para facilitar que as mulheres se sintam seguras ao

relatar os episódios de violência, deve haver uma política claramente delineada que assegu-

re a privacidade. Isso significa que não pode ser permitida a entrada do parceiro da vítima no

gabinete de consulta enquanto decorre a conversa. Só a vítima e a pessoa que lhe está a aten-

der podem estar no gabinete. Perguntar a uma vítima de violência doméstica àcerca da VG

em frente ao seu parceiro, pode colocá-la em perigo. A unidade sanitária precisa de criar tal

política, no caso de ainda não haver uma. Se necessário, deve ser então explicado ao parcei-

ro que existe uma política na unidade sanitária que refere que cada utente deve ser vista sózi-

nha durante a consulta.

c) Garantir Confidencialidade

Pode haver graves consequências para a saúde e bem-estar das vítimas se o que ela conta

sobre a VG for tornado público. Deve haver também uma política sobre confidencialidade, na

unidade sanitária, que seja clara tanto para o pessoal como para as utentes. Tal como aconte-

ce com outros problemas de saúde como HIV/SIDA, ITSs etc., esta é uma informação que pre-

cisa de se manter confidencial, devendo pensar-se como evitar que haja brechas na confi-

dencialidade. Assim, se não houver um armário com fechadura para manter os registos, a

unidade sanitária deve pensar cuidadosamente em como será capaz de fazer perguntas,

registar as respostas e manter esta informação confidencial.

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde:

Provisão do pacote integrado de serviços

38 39Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Os profissionais de saúde encontram-se na linha da frente, no que toca ao atendimento das

vítimas de violência. Muitas destas dirigem-se directamente às Unidades Sanitárias e outras

dirigem-se primeiro aos Gabinetes de Atendimento da Mulher e da Criança na Policia e daqui

são encaminhadas às unidades sanitárias. Seja qual for a primeira instituição onde elas se

dirigem, pelo já exposto, elas desenvolvem problemas sérios de saúde, os quais cronificam

se o atendimento não for integrado, isto é, se não incluir as três dimensões: tratamento físi-

co, emocional/psicológico e médico-legal.

a) Advocar, Criar uma Rede e Coordenar a provisão de cuidados

É importante criar uma rede com outros sectores e associações que também lidam com as

vítimas de VG. Montar coligações entre estes diferentes grupos pode aumentar a possibilida-

de de mudança. Esta mudança pode precisar de ocorrer na legislação de tal modo que as leis

podem ser implementadas ou alteradas relativamente à VG, para obter o apoio do governo

para a prestação de serviços básicos na assistência às vítimas e/ou criar ou expandir as ONGs

na comunidade. Não só esses grupos coligados podem ser fontes potenciais de referência,

mas também há a possibilidade de as utentes serem referidas de e para a US. Trabalhar jun-

tos pode também ajudar a evitar a duplicação dos serviços. Esses grupos podem também ter

material que pode ser usado como protótipo para o desenvolvimento de materiais a serem

usados na unidade sanitária.

b) Garantir Privacidade e Segurança

De modo a perguntar às utentes sobre a VG deve haver um gabinete privado, com uma porta,

onde essas discussões podem ter lugar. Para facilitar que as mulheres se sintam seguras ao

relatar os episódios de violência, deve haver uma política claramente delineada que assegu-

re a privacidade. Isso significa que não pode ser permitida a entrada do parceiro da vítima no

gabinete de consulta enquanto decorre a conversa. Só a vítima e a pessoa que lhe está a aten-

der podem estar no gabinete. Perguntar a uma vítima de violência doméstica àcerca da VG

em frente ao seu parceiro, pode colocá-la em perigo. A unidade sanitária precisa de criar tal

política, no caso de ainda não haver uma. Se necessário, deve ser então explicado ao parcei-

ro que existe uma política na unidade sanitária que refere que cada utente deve ser vista sózi-

nha durante a consulta.

c) Garantir Confidencialidade

Pode haver graves consequências para a saúde e bem-estar das vítimas se o que ela conta

sobre a VG for tornado público. Deve haver também uma política sobre confidencialidade, na

unidade sanitária, que seja clara tanto para o pessoal como para as utentes. Tal como aconte-

ce com outros problemas de saúde como HIV/SIDA, ITSs etc., esta é uma informação que pre-

cisa de se manter confidencial, devendo pensar-se como evitar que haja brechas na confi-

dencialidade. Assim, se não houver um armário com fechadura para manter os registos, a

unidade sanitária deve pensar cuidadosamente em como será capaz de fazer perguntas,

registar as respostas e manter esta informação confidencial.

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde

Papel da Unidade Sanitária e dos Profissionais de Saúde:

Provisão do pacote integrado de serviços

38 39Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

i. Testemunhar

A maioria das mulheres que viveu ou vive a situação de violência nunca contou o seu segredo

a ninguém. Tendo a coragem para o fazer agora, vai permiti-la provávelmente pela primeira

vez, dizer a alguém a sua dor privada. Ela pode agora colocar em palavras o que nunca antes

foi ouvido por nenhum outro ser humano. O profissional de saúde não precisa de ouvir toda a

história, mas precisa de entender a injustiça do que está a ouvir e comunicar isto à sua uten-

te. A par disto, o profissional de saúde pode e deve ajudar esta mulher a obter a assistência

que ela necessita.

ii. Ouvir e Validar

Muitas vítimas dizem que a experiência de ser ouvida pelo clínico é por si só muito benéfica

(Fundo da Prevenção da Violência na Família, 2000). Se a sobrevivente responde afirmativa-

mente às questões sobre a violência, o provedor deve responder não com sugestões ou pres-

crições mas com compreensão. A sobrevivente precisa do apoio do clínico, mostrando à uten-

te simpatia, sensibilidade e acreditar no que a utente lhe conta.

iii. Educar

Quando a mulher conta a sua história sobre as experiências de violência, o provedor deve

ajudar a educar a utente acerca da ligação existente entre os seus sintomas e a violência,

modos de cuidar melhor de si própria e mais importante ainda, que ela não está sózinha.

Conhecer é poder e esta pode ser uma informação nova e importante para a utente pois ela

nunca pode ter estabelecido a relação entre os seus sintomas e a violência ou nunca tenha

conhecido alguém que tenha passado o que ela passou.

iv. Documentar

Quando se pergunta à utente sobre a violência, é importante para o clínico que a assiste docu-

mente as respostas na sua ficha.

Esta documentação pode incluir a colocação de informação na ficha sobre o tipo de violência

que ela sofreu, quando ocorreu, registo da avaliação feita, as referências que foram feitas, e,

no caso de evidência física como escoriações ou cicatrizes preenchidas no desenho de um

corpo humano.

Se há uma política de confidencialidade na unidade sanitária e, se for possível documentar

as respostas das utentes às perguntas sobre a violência, registe o termo violência na parte

interna da capa do processo da utente para se tornar visível a qualquer membro do pessoal.

Outra informação sobre violência, as respostas às questões sobre quem é o abusador,

impressos com a avaliação do perigo, e a avaliação detalhada podem ficar na parte interna

do processo.

v. Apoiar

Os provedores precisam de ser capazes de reagir adequadamente quando as mulheres con-

tam os seus segredos sobre a violência. O provedor precisa de se mostrar não crítico, sensí-

vel e compreensivo. Isto significa não dizer à utente o que ela deve fazer mas sim assisti-la a

pensar sobre as várias opções e o que é que ela está preparada para fazer agora. Apoiar as

O nível de confidencialidade na clínica irá sem dúvida afectar as suas respostas às perguntas

sobre a violência.

A confidencialidade também significa que as respostas das utentes às perguntas sobre VG

não devem ser discutidas profissionalmente em espaços públicos da clínica, porque pode ser

ouvido por alguém, e nenhuma desta informação confidencial deve ser comentada entre o

pessoal.

d) Manifestar Sensibilidade à Pessoa e ao Problema

É também importante para o pessoal conhecer as leis sobre a violência. Esta informação

pode ser útil para a percepção do problema e para a disseminação desta informação às uten-

tes na clínica.

Precisam de estar disponíveis materiais básicos em linguagem apropriada e para diferentes

níveis de leitura, nas salas de espera, nos gabinetes de consulta e nas casas de banho, tanto

para as mulheres lerem enquanto permanecem na unidade como também para levar para

casa. Um aparelho de vídeo na sala de espera pode mostrar cassetes sobre a violência,

focando tanto nos seus efeitos como nas soluções. As paredes devem ser cobertas com pos-

ters contendo fotos e mensagens escritas comunicando que a violência não é aceitável, que

as mulheres não merecem este tipo de tratamento e que não é culpa das mulheres se isto

acontece. Estes posters e material escrito podem apresentar a informação sobre como elas

podem obter ajuda se estão presentemente ou foram no passado vítimas de violência. É

muito útil desenvolver um pequeno cartão que contenha tanto informação educacional

como a descrição de que tipo de comportamento constitui abuso, com endereços e números

de telefone dos locais que elas podem chamar para conseguir assistência. Isto vai permiti-

las ter informação importante que pode ser escondida do agressor.

Para as mulheres que não sabem ler nem escrever, os meios alternativos para transmitir

esta informação são os vídeos mencionados acima ou então livros em banda desenhada

e/ou posters com mensagens claras sobre a violência. Também, se for possível, manter gru-

pos na sala de espera onde uma pessoa da US pode facilitar uma discussão educativa com as

utentes sobre a violência nas vidas das mulheres, seria outra forma para educar tanto as alfa-

betizadas como as que não sabem ler nem escrever.

e) Responsabilidades do Pessoal

A maioria da educação e prática dos provedores de cuidados de saúde são baseados num

modelo médico, que procura diagnosticar e "curar" os utentes. Mas há outras questões na

violência a serem consideradas no tratamento médico. A prática da medicina deve ao invés,

ser definida como "diagnosticar, curar, tratar, prevenir, prescrever ou remover qualquer per-

turbação física, mental ou emocional de um indivíduo". (Instituto de Pesquisa Cívica, 2000).

O pessoal precisa de aprender um modelo diferente que acompanhe uma percepção dos mui-

tos factores psicosociais que afectam a saúde e a vida de alguém, tais como a cultura, o géne-

ro, família, religião, pobreza, drogas, álcool e educação. Há muitos benefícios neste modelo

mais amplo. Se os prestadores de saúde podem usar este modelo e oferecer às vítimas o que

elas precisam, (i.e compreensão, apoio, abertuta e respeito), eles podem realmente oferecer

às vítimas a ajuda que elas precisam.

Com o apoio da unidade sanitária, o pessoal precisa de examinar e expandir os seus papéis.

O papel do profissional de saúde é identificar e avaliar a violência e assistir a sobrevivente a

obter a ajuda que ela necessita para lidar com os seus efeitos. Os papéis específicos do pes-

soal são:

40 41Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

i. Testemunhar

A maioria das mulheres que viveu ou vive a situação de violência nunca contou o seu segredo

a ninguém. Tendo a coragem para o fazer agora, vai permiti-la provávelmente pela primeira

vez, dizer a alguém a sua dor privada. Ela pode agora colocar em palavras o que nunca antes

foi ouvido por nenhum outro ser humano. O profissional de saúde não precisa de ouvir toda a

história, mas precisa de entender a injustiça do que está a ouvir e comunicar isto à sua uten-

te. A par disto, o profissional de saúde pode e deve ajudar esta mulher a obter a assistência

que ela necessita.

ii. Ouvir e Validar

Muitas vítimas dizem que a experiência de ser ouvida pelo clínico é por si só muito benéfica

(Fundo da Prevenção da Violência na Família, 2000). Se a sobrevivente responde afirmativa-

mente às questões sobre a violência, o provedor deve responder não com sugestões ou pres-

crições mas com compreensão. A sobrevivente precisa do apoio do clínico, mostrando à uten-

te simpatia, sensibilidade e acreditar no que a utente lhe conta.

iii. Educar

Quando a mulher conta a sua história sobre as experiências de violência, o provedor deve

ajudar a educar a utente acerca da ligação existente entre os seus sintomas e a violência,

modos de cuidar melhor de si própria e mais importante ainda, que ela não está sózinha.

Conhecer é poder e esta pode ser uma informação nova e importante para a utente pois ela

nunca pode ter estabelecido a relação entre os seus sintomas e a violência ou nunca tenha

conhecido alguém que tenha passado o que ela passou.

iv. Documentar

Quando se pergunta à utente sobre a violência, é importante para o clínico que a assiste docu-

mente as respostas na sua ficha.

Esta documentação pode incluir a colocação de informação na ficha sobre o tipo de violência

que ela sofreu, quando ocorreu, registo da avaliação feita, as referências que foram feitas, e,

no caso de evidência física como escoriações ou cicatrizes preenchidas no desenho de um

corpo humano.

Se há uma política de confidencialidade na unidade sanitária e, se for possível documentar

as respostas das utentes às perguntas sobre a violência, registe o termo violência na parte

interna da capa do processo da utente para se tornar visível a qualquer membro do pessoal.

Outra informação sobre violência, as respostas às questões sobre quem é o abusador,

impressos com a avaliação do perigo, e a avaliação detalhada podem ficar na parte interna

do processo.

v. Apoiar

Os provedores precisam de ser capazes de reagir adequadamente quando as mulheres con-

tam os seus segredos sobre a violência. O provedor precisa de se mostrar não crítico, sensí-

vel e compreensivo. Isto significa não dizer à utente o que ela deve fazer mas sim assisti-la a

pensar sobre as várias opções e o que é que ela está preparada para fazer agora. Apoiar as

O nível de confidencialidade na clínica irá sem dúvida afectar as suas respostas às perguntas

sobre a violência.

A confidencialidade também significa que as respostas das utentes às perguntas sobre VG

não devem ser discutidas profissionalmente em espaços públicos da clínica, porque pode ser

ouvido por alguém, e nenhuma desta informação confidencial deve ser comentada entre o

pessoal.

d) Manifestar Sensibilidade à Pessoa e ao Problema

É também importante para o pessoal conhecer as leis sobre a violência. Esta informação

pode ser útil para a percepção do problema e para a disseminação desta informação às uten-

tes na clínica.

Precisam de estar disponíveis materiais básicos em linguagem apropriada e para diferentes

níveis de leitura, nas salas de espera, nos gabinetes de consulta e nas casas de banho, tanto

para as mulheres lerem enquanto permanecem na unidade como também para levar para

casa. Um aparelho de vídeo na sala de espera pode mostrar cassetes sobre a violência,

focando tanto nos seus efeitos como nas soluções. As paredes devem ser cobertas com pos-

ters contendo fotos e mensagens escritas comunicando que a violência não é aceitável, que

as mulheres não merecem este tipo de tratamento e que não é culpa das mulheres se isto

acontece. Estes posters e material escrito podem apresentar a informação sobre como elas

podem obter ajuda se estão presentemente ou foram no passado vítimas de violência. É

muito útil desenvolver um pequeno cartão que contenha tanto informação educacional

como a descrição de que tipo de comportamento constitui abuso, com endereços e números

de telefone dos locais que elas podem chamar para conseguir assistência. Isto vai permiti-

las ter informação importante que pode ser escondida do agressor.

Para as mulheres que não sabem ler nem escrever, os meios alternativos para transmitir

esta informação são os vídeos mencionados acima ou então livros em banda desenhada

e/ou posters com mensagens claras sobre a violência. Também, se for possível, manter gru-

pos na sala de espera onde uma pessoa da US pode facilitar uma discussão educativa com as

utentes sobre a violência nas vidas das mulheres, seria outra forma para educar tanto as alfa-

betizadas como as que não sabem ler nem escrever.

e) Responsabilidades do Pessoal

A maioria da educação e prática dos provedores de cuidados de saúde são baseados num

modelo médico, que procura diagnosticar e "curar" os utentes. Mas há outras questões na

violência a serem consideradas no tratamento médico. A prática da medicina deve ao invés,

ser definida como "diagnosticar, curar, tratar, prevenir, prescrever ou remover qualquer per-

turbação física, mental ou emocional de um indivíduo". (Instituto de Pesquisa Cívica, 2000).

O pessoal precisa de aprender um modelo diferente que acompanhe uma percepção dos mui-

tos factores psicosociais que afectam a saúde e a vida de alguém, tais como a cultura, o géne-

ro, família, religião, pobreza, drogas, álcool e educação. Há muitos benefícios neste modelo

mais amplo. Se os prestadores de saúde podem usar este modelo e oferecer às vítimas o que

elas precisam, (i.e compreensão, apoio, abertuta e respeito), eles podem realmente oferecer

às vítimas a ajuda que elas precisam.

Com o apoio da unidade sanitária, o pessoal precisa de examinar e expandir os seus papéis.

O papel do profissional de saúde é identificar e avaliar a violência e assistir a sobrevivente a

obter a ajuda que ela necessita para lidar com os seus efeitos. Os papéis específicos do pes-

soal são:

40 41Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

No entanto, chama-se a atenção para o facto de as vítimas de violência de facto usarem todos os

serviços e consultas como porta de entrada, tanto em episódios recentes como crónicos. As con-

sultas preventivas de Saúde Materno-Infantil e da Criança (nos Centros de Saúde) constituem os

locais com maior proporção de vítimas de violência.

Nos hospitais, as vítimas de violência também usam como porta de entrada os serviços de medi-

cina, cirurgia, ortopedia, otorrinolaringologia, oftalmologia, estomatologia, ginecologia-

obstetricia, etc.

vii. Referir

As vítimas de violência precisam de ser referidas aos vários tipos de serviços de acordo com

as suas necessidades específicas. O pessoal precisa de ser treinado em como e quando fazer a

referência da sobrevivente de violência. Os provedores devem assistir as utentes a obter os

serviços que elas precisam. É importante o conhecimento sobre que recursos há disponíveis,

como ajudar as utentes a fazerem a ligação com esses recursos e fazer o seguimento das uten-

tes ou se elas usaram a referência, a respectiva retro-informação sobre o serviço prestado.

viii. Prestar Serviços Relacionados

Se a unidade oferece serviços no local - como por exemplo aconselhamento psicológico, grupos

de apoio, aconselhamento e assistência legal - o pessoal precisa de saber como é que as víti-

mas podem ter acesso a esses serviços na unidade sanitária, assisti-las a fazê-lo e ter contacto

com os outros membros do pessoal que tratam as vítimas de violência na unidade sanitária.

O Atendimento às vítimas de violência, no SNS, tem sido concentrado principalmente no trau-

ma físico. Este tratamento pode ser suficiente, quando se trata de violência "da rua". Da

mesma forma, este atendimento não é geralmente realizado de forma confortável para a pes-

soa agredida, que é referida sucessivamente de gabinete em gabinete ou de serviço em ser-

viço, o que termina muitas vezes em abandono ao tratamento.

Quando se trata de violência doméstica, o tratamento físico exclusivo é absolutamente insu-

ficiente, pois está-se perante um caso em que a violência emocional e psicológica é mais

grave que a física, e de duração mais longa. E, como se trata de uma violação de direitos, o

profissional de saúde dever fazer um registo pormenorizado das lesões e aconselhamento

sobre como a vítima gerir o relacionamento com o agressor, com quem a vítima convive (mai-

or parte das vezes diariamente), com base na lei.

Devido ao facto destas sobreviventes de violência doméstica sofrerem concomitantemente

de vários tipos de violência (social, económica, verbal, emocional, psicológica e sexual para

além da física) e não terem sofrido de um único acto isolado de violência, mas viverem

numa relação violenta, não têm a possibilidade e a liberdade de se dirigirem à Unidade

Protocolos de atendimento nas unidades sanitárias

Sanitária de acordo com a necessidade. Quanto mais vezes ou dias ela for solicitada a dirigir-

se à Unidade Sanitária, maior o risco de interromper/abandonar o tratamento.

As normas que se apresentam a seguir têm o objectivo de organizar o atendimento, tendo

em mente os constrangimentos acima referidos.

a) Centros de Saúde

nServiço de Urgências

nConsulta médica

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa.

b) Hospitais Distritais, Rurais, Gerais ou Provinciais

Dependendo do sexo, idade, tipo de violência e estado clínico da vítima, a sua admissão ao

hospital poderá ser feita nos seguintes serviços:

nServiço de Urgências

nUrgências de Ginecologia/Obstetricia

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa ou por inter-consulta.

c) Hospitais Centrais

Dependendo igualmente do sexo, idade, tipo de violência e estado clínico da vítima, a sua

admissão ao hospital poderá ser feita nos seguintes serviços:

nDepartamento de Urgências

nUrgências de Ginecologia

nUrgências de Pediatria

nMedicina Legal

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa ou por inter-consulta (Psicologia, Medicina Legal).

Admissão

utentes significa respeitar o seu poder de decisão e acreditar que elas melhor que ninguém

sabem o que precisam. As utentes depois de se abrirem sobre a violência podem recear um

julgamento negativo por parte do provedor e seria útil deixar as vítimas saberem que elas

não estã a ser julgadas mas que, por exemplo, o facto de contarem o seu segredo é um gesto

de bravura e corajem da sua parte.

vi. Ser Membro da Equipa

Os clínicos precisam de trabalhar com outro pessoal na unidade sanitária que também está

envolvido com a utente. O pessoal precisa de trabalhar como equipa, coordenando os cuida-

dos da sobrevivente e depois de ter permissão da utente, partilhar a informação sobre ela.

42 43Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

No entanto, chama-se a atenção para o facto de as vítimas de violência de facto usarem todos os

serviços e consultas como porta de entrada, tanto em episódios recentes como crónicos. As con-

sultas preventivas de Saúde Materno-Infantil e da Criança (nos Centros de Saúde) constituem os

locais com maior proporção de vítimas de violência.

Nos hospitais, as vítimas de violência também usam como porta de entrada os serviços de medi-

cina, cirurgia, ortopedia, otorrinolaringologia, oftalmologia, estomatologia, ginecologia-

obstetricia, etc.

vii. Referir

As vítimas de violência precisam de ser referidas aos vários tipos de serviços de acordo com

as suas necessidades específicas. O pessoal precisa de ser treinado em como e quando fazer a

referência da sobrevivente de violência. Os provedores devem assistir as utentes a obter os

serviços que elas precisam. É importante o conhecimento sobre que recursos há disponíveis,

como ajudar as utentes a fazerem a ligação com esses recursos e fazer o seguimento das uten-

tes ou se elas usaram a referência, a respectiva retro-informação sobre o serviço prestado.

viii. Prestar Serviços Relacionados

Se a unidade oferece serviços no local - como por exemplo aconselhamento psicológico, grupos

de apoio, aconselhamento e assistência legal - o pessoal precisa de saber como é que as víti-

mas podem ter acesso a esses serviços na unidade sanitária, assisti-las a fazê-lo e ter contacto

com os outros membros do pessoal que tratam as vítimas de violência na unidade sanitária.

O Atendimento às vítimas de violência, no SNS, tem sido concentrado principalmente no trau-

ma físico. Este tratamento pode ser suficiente, quando se trata de violência "da rua". Da

mesma forma, este atendimento não é geralmente realizado de forma confortável para a pes-

soa agredida, que é referida sucessivamente de gabinete em gabinete ou de serviço em ser-

viço, o que termina muitas vezes em abandono ao tratamento.

Quando se trata de violência doméstica, o tratamento físico exclusivo é absolutamente insu-

ficiente, pois está-se perante um caso em que a violência emocional e psicológica é mais

grave que a física, e de duração mais longa. E, como se trata de uma violação de direitos, o

profissional de saúde dever fazer um registo pormenorizado das lesões e aconselhamento

sobre como a vítima gerir o relacionamento com o agressor, com quem a vítima convive (mai-

or parte das vezes diariamente), com base na lei.

Devido ao facto destas sobreviventes de violência doméstica sofrerem concomitantemente

de vários tipos de violência (social, económica, verbal, emocional, psicológica e sexual para

além da física) e não terem sofrido de um único acto isolado de violência, mas viverem

numa relação violenta, não têm a possibilidade e a liberdade de se dirigirem à Unidade

Protocolos de atendimento nas unidades sanitárias

Sanitária de acordo com a necessidade. Quanto mais vezes ou dias ela for solicitada a dirigir-

se à Unidade Sanitária, maior o risco de interromper/abandonar o tratamento.

As normas que se apresentam a seguir têm o objectivo de organizar o atendimento, tendo

em mente os constrangimentos acima referidos.

a) Centros de Saúde

nServiço de Urgências

nConsulta médica

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa.

b) Hospitais Distritais, Rurais, Gerais ou Provinciais

Dependendo do sexo, idade, tipo de violência e estado clínico da vítima, a sua admissão ao

hospital poderá ser feita nos seguintes serviços:

nServiço de Urgências

nUrgências de Ginecologia/Obstetricia

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa ou por inter-consulta.

c) Hospitais Centrais

Dependendo igualmente do sexo, idade, tipo de violência e estado clínico da vítima, a sua

admissão ao hospital poderá ser feita nos seguintes serviços:

nDepartamento de Urgências

nUrgências de Ginecologia

nUrgências de Pediatria

nMedicina Legal

As vítimas devem receber o pacote completo de serviços, no mesmo dia, pela mesma

equipa ou por inter-consulta (Psicologia, Medicina Legal).

Admissão

utentes significa respeitar o seu poder de decisão e acreditar que elas melhor que ninguém

sabem o que precisam. As utentes depois de se abrirem sobre a violência podem recear um

julgamento negativo por parte do provedor e seria útil deixar as vítimas saberem que elas

não estã a ser julgadas mas que, por exemplo, o facto de contarem o seu segredo é um gesto

de bravura e corajem da sua parte.

vi. Ser Membro da Equipa

Os clínicos precisam de trabalhar com outro pessoal na unidade sanitária que também está

envolvido com a utente. O pessoal precisa de trabalhar como equipa, coordenando os cuida-

dos da sobrevivente e depois de ter permissão da utente, partilhar a informação sobre ela.

42 43Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Abuso Sexual Infantil

1. Encaminhar a vítima à consulta médica;

2. Dar apoio emocional/psicológico, acompanhado de explicação sobre os direitos que a víti-

ma tem;

3. Instituir o tratamento físico e mental de acordo com o diagnóstico;

4. Comunicar o evento às autoridades policiais;

5. Se se tratar de violação sexual deve-se seguir as instruções da violação sexual descritas

abaixo.

Violência Doméstica

1. Instituir o tratamento físico de acordo com o diagnóstico;

2. Encorajar a vítima a participar nas sessões terapêuticas e outros serviços de apoio psicoló-

gico na US ou nas organizações/serviços que prestam apoio à comunidade durante os seis

(6) meses seguintes;

3. Denunciar o caso às autoridades policiais, pois a agressão é um crime público punido por

lei;

4. Elaborar relatório médico-legal destinado às autoridades policiais;

5. Estabelecer comunicação regular com as autoridades policiais para fazer o seguimento dos

casos.

6. Marcar consultas de seguimento.

Violação ou Assalto Sexual

1. Encaminhar urgentemente a vítima à consulta médica;

2. A vítima não deve lavar-se após o acto da violação. Também não deve mudar de roupa,

antes de ser observada na US (pode cobrir-se com uma capulana ou casaco para se dirigir à

US);

3. Fazer aconselhamento e testagem do HIV/SIDA; caso o resultado seja negativo, a vítima

deve repetir o teste ao fim de 3 (meses);

4. Administrar anti-retrovirais de emergência nas primeiras 24h;

5. Administrar antibióticos para prevenir as ITS;

6. Administrar vacina contra a Hepatite B;

7. Administrar medicamentos para tratamento da depressão, insónia e/ou ansiedade;

8. Encorajar a vítima a participar nas sessões terapêuticas e outros serviços de apoio psicoló-

gico ou nas organizações/serviços que prestam apoio à comunidade durante os 6 meses

seguintes;

9. Guardar o processo clínico em local seguro;

10. Denunciar o crime às autoridades policiais;

11. Marcar consultas de seguimento;

12. Para as vítimas do sexo feminino, com 11 anos de idade ou mais: instituir contracepção de

emergência a qual deve ser feita tomando lofemenal/microgenon o mais cedo possível, não

depois de 72 h após a violação. Se ela aparecer depois de 72h mas antes de completar 5

dias, insere-se DIU. Se ela aparecer depois de 5 dias, já não há nada a fazer senão aguardar

até o início do período menstrual. Se a menstruação não aparecer até ao dia esperado,

deve voltar ao CS para avaliar se está grávida.

Conselhos Gerais

Nos gabinetes médicos (e policiais) deve haver

nConfidencialidade;

nMuita sensibilidade e empatia;

O pessoal de saúde deve

nTestemunhar sempre que chamado ao tribunal;

nEducar as vítimas para que denunciem a agressão/violação, pois segundo a lei a

violência é um crime público, punido por lei;

nDocumentar as respostas no processo clínico e guardar em local seguro e regis-

tar o diagnóstico de Violência, para além do diagnóstico biomédico;

nApoiar, isto é, não ser crítico, ser sensível e compreensivo;

nTrabalhar em coordenação com outros parceiros envolvidos na assistência das

vítimas, tanto do governo como da sociedade civil.

Tendo em conta as consequências da violência na saúde e o actual padrão de atendimento,

foram definidas as seguintes prioridades:

1) Melhorar a qualidade de serviços

nGarantir a disponibilidade de equipamento básico e exigências de exames, incluindo um

gabinete com privacidade e segurança.

nMelhorar a qualidade dos cuidados prestados nos diversos serviços, incluindo nas Urgên-

cias, tendo em atenção o pacote de cuidados, com especial referência a:

lDisponibilidade de contraceptivos de emergência

lAcesso à interrupção voluntária de gravidez

2) Desenvolvimento de capacidades

nOrientar os trabalhadores da saúde em assuntos de género, direitos humanos e violência.

nOrganizar formação específica para médicos e outros quadros que estão directamente

envolvidos na prestação de cuidados às vítimas de violência, especialmente a violência

sexual.

nInvestir num centro ou instituição médica para ser desenvolvido como um centro de exce-

Material Necessário nos Locais de Atendimento

Algumas notas sobre o Atendimento

Organizar Kits com todo o material e medicação necessários. O conteudo dos kits é apresen-

tado em anexo.

44 45Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Abuso Sexual Infantil

1. Encaminhar a vítima à consulta médica;

2. Dar apoio emocional/psicológico, acompanhado de explicação sobre os direitos que a víti-

ma tem;

3. Instituir o tratamento físico e mental de acordo com o diagnóstico;

4. Comunicar o evento às autoridades policiais;

5. Se se tratar de violação sexual deve-se seguir as instruções da violação sexual descritas

abaixo.

Violência Doméstica

1. Instituir o tratamento físico de acordo com o diagnóstico;

2. Encorajar a vítima a participar nas sessões terapêuticas e outros serviços de apoio psicoló-

gico na US ou nas organizações/serviços que prestam apoio à comunidade durante os seis

(6) meses seguintes;

3. Denunciar o caso às autoridades policiais, pois a agressão é um crime público punido por

lei;

4. Elaborar relatório médico-legal destinado às autoridades policiais;

5. Estabelecer comunicação regular com as autoridades policiais para fazer o seguimento dos

casos.

6. Marcar consultas de seguimento.

Violação ou Assalto Sexual

1. Encaminhar urgentemente a vítima à consulta médica;

2. A vítima não deve lavar-se após o acto da violação. Também não deve mudar de roupa,

antes de ser observada na US (pode cobrir-se com uma capulana ou casaco para se dirigir à

US);

3. Fazer aconselhamento e testagem do HIV/SIDA; caso o resultado seja negativo, a vítima

deve repetir o teste ao fim de 3 (meses);

4. Administrar anti-retrovirais de emergência nas primeiras 24h;

5. Administrar antibióticos para prevenir as ITS;

6. Administrar vacina contra a Hepatite B;

7. Administrar medicamentos para tratamento da depressão, insónia e/ou ansiedade;

8. Encorajar a vítima a participar nas sessões terapêuticas e outros serviços de apoio psicoló-

gico ou nas organizações/serviços que prestam apoio à comunidade durante os 6 meses

seguintes;

9. Guardar o processo clínico em local seguro;

10. Denunciar o crime às autoridades policiais;

11. Marcar consultas de seguimento;

12. Para as vítimas do sexo feminino, com 11 anos de idade ou mais: instituir contracepção de

emergência a qual deve ser feita tomando lofemenal/microgenon o mais cedo possível, não

depois de 72 h após a violação. Se ela aparecer depois de 72h mas antes de completar 5

dias, insere-se DIU. Se ela aparecer depois de 5 dias, já não há nada a fazer senão aguardar

até o início do período menstrual. Se a menstruação não aparecer até ao dia esperado,

deve voltar ao CS para avaliar se está grávida.

Conselhos Gerais

Nos gabinetes médicos (e policiais) deve haver

nConfidencialidade;

nMuita sensibilidade e empatia;

O pessoal de saúde deve

nTestemunhar sempre que chamado ao tribunal;

nEducar as vítimas para que denunciem a agressão/violação, pois segundo a lei a

violência é um crime público, punido por lei;

nDocumentar as respostas no processo clínico e guardar em local seguro e regis-

tar o diagnóstico de Violência, para além do diagnóstico biomédico;

nApoiar, isto é, não ser crítico, ser sensível e compreensivo;

nTrabalhar em coordenação com outros parceiros envolvidos na assistência das

vítimas, tanto do governo como da sociedade civil.

Tendo em conta as consequências da violência na saúde e o actual padrão de atendimento,

foram definidas as seguintes prioridades:

1) Melhorar a qualidade de serviços

nGarantir a disponibilidade de equipamento básico e exigências de exames, incluindo um

gabinete com privacidade e segurança.

nMelhorar a qualidade dos cuidados prestados nos diversos serviços, incluindo nas Urgên-

cias, tendo em atenção o pacote de cuidados, com especial referência a:

lDisponibilidade de contraceptivos de emergência

lAcesso à interrupção voluntária de gravidez

2) Desenvolvimento de capacidades

nOrientar os trabalhadores da saúde em assuntos de género, direitos humanos e violência.

nOrganizar formação específica para médicos e outros quadros que estão directamente

envolvidos na prestação de cuidados às vítimas de violência, especialmente a violência

sexual.

nInvestir num centro ou instituição médica para ser desenvolvido como um centro de exce-

Material Necessário nos Locais de Atendimento

Algumas notas sobre o Atendimento

Organizar Kits com todo o material e medicação necessários. O conteudo dos kits é apresen-

tado em anexo.

44 45Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

lência. Isso facilita a expansão de conhecimentos, formação e cria oportunidades para

pesquisa e estudos experimentais.

nIntegrar questões da violência no currículo dos institutos de ciências de saúde, centros de

formação e faculdades de medicina, bem como academias da polícia.

3) Melhorar o sistema de referência

nOs serviços devem ser coordenados de tal forma que o número de exames e entrevistas

para vítimas sejam minimizadas, para impedir a revictimização .

nA interacção e o estabelecimento de redes funcionais entre as diferentes entidades, em

primeiro lugar entre a Polícia, ONGs e Unidades Sanitárias, o que permitirá não só o uso

máximo dos recursos financeiros e humanos disponíveis a nível local mas beneficiará de

uma abordagem mais abrangente das necessidades das vítimas.

4) Serviços médicos-legais

nUm bom serviço de medicina legal reforça o processo de investigação e um compromisso

para melhorar a justiça e a reposição dos direitos humanos violados. As unidades foren-

ses praticamente não existem e a especialização na medicina legal é escassa. Neste

aspecto, os investimentos necessários para criar serviços funcionais no País constituem

um desafio.

nUm ponto de partida poderia ser o desenvolvimento de normas mínimas para exame e

registo de resultados. Isso envolve a identificação e formação dos quadros certos nos exa-

mes elementares médico-legais, elaboração do relatório e comparência no tribunal bem

como o desenvolvimento de um formato de relatório médico legal padronizado.

5) Advocacia

nO sector da saúde tem um papel na missão de quebrar o silêncio em volta da violência em

geral e da sexual em especial. Ainda existe pouca sensibilidade sobre a questão daí a

necessidade de aumentar a advocacia.

6) Registo correcto do diagnostico da violência no processo clínico e no livro de

registos

nA violência tornou-se um problema de saúde muito grave mas invisivel, tanto a nível

internacional como no nosso País. Uma das razões que explicam esta invisibilidade é o

registo inadequado do diagnóstico, o qual costuma ser biomedico em vez de causal.

Assim uma mulher que é violentada e fica com hematoma ocular como resultado da

agressão costuma ser diagnosticada e registada como tendo hematoma ocular, sem men-

ção da violência. Por outro lado, nos casos de violência crónica, quando a mulher se apre-

senta com problemas de saúde mental, ela é catalogada de "depressão" sem menção à

situação violência. Este subregisto acontece em praticamente todos os serviços e todas

as unidades sanitárias. O diagnóstico causal de violência é registado só por um pequeno

número de profissionais de saúde.

1) Registar o diagnóstico de violência em todas as situações em que a mulher refere ter

sido violentada, com ou sem sinais físicos comprovativos.

2) Registar o diganóstico de violência sempre que suspeitar da sua existência. As vítimas

de violência têm um comportamento mais ou menos típico que precisa de ser analisa-

do. Muitas vítimas confirmam a existência do fenomeno quando inquiridas logo à pri-

meira vez, mas outras precisam de mais tempo para confiar no profissional. O esque-

ma que a seguir se apresenta pode servir de modelo para registo das lesões físicas no

processo clínico.

O registo detalhado dos casos de violência no processo clínico, é necessário para:

nA avaliação do programa

nServir como documento para a justiça.

nVisualizar o problema nas estatísticas da saúde

nAprofundar o fenómeno da violência doméstica e os seus efeitos na saúde da população

nTomar medidas em políticas públicas para garantir medidas de prevenção, e atendimen-

to integrado em condições.

Deve-se registar todas as informações prestadas pela mulher e aquelas encontradas no

exame físico, pois podem ter valor no futuro, inclusive em processos judiciais.

Pode-se pensar que é muito difícil introduzir ou modificar os instrumentos de registo, mas

isto faz parte da luta para erradicar a violência. Cada serviço pode decidir o que deve ser

registado até estabelecer um instrumento que satisfaz a todos. A seguir, oferecemos como

exemplo alguns itens que podem constar num registro sistemático:

nDados socio-demográficos (idade, profissão, escolaridade, número de filhos, tipo de

união, endereço, etc).

nServiços a que já recorreu (Gabinetes da Polícia, Bairro, Família, tribunal comunitário, pro-

vincial, distrital, etc.) e nível de satisfação.

nTipo e história da violência sofrida, incluindo a duração e implicação de menores.

nPresença de lesões no exame físico.

nRede de apoio social existente (na família, na vizinhança).

nRisco e presença de arma em casa.

nExpectativas quanto ao atendimento.

nExpectativas e planos de vida expressos pela mulher.

nPlano assistencial traçado e instituições para onde é referida.

nAvaliação da mulher e do profissional sobre o processo.

46 47Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

lência. Isso facilita a expansão de conhecimentos, formação e cria oportunidades para

pesquisa e estudos experimentais.

nIntegrar questões da violência no currículo dos institutos de ciências de saúde, centros de

formação e faculdades de medicina, bem como academias da polícia.

3) Melhorar o sistema de referência

nOs serviços devem ser coordenados de tal forma que o número de exames e entrevistas

para vítimas sejam minimizadas, para impedir a revictimização .

nA interacção e o estabelecimento de redes funcionais entre as diferentes entidades, em

primeiro lugar entre a Polícia, ONGs e Unidades Sanitárias, o que permitirá não só o uso

máximo dos recursos financeiros e humanos disponíveis a nível local mas beneficiará de

uma abordagem mais abrangente das necessidades das vítimas.

4) Serviços médicos-legais

nUm bom serviço de medicina legal reforça o processo de investigação e um compromisso

para melhorar a justiça e a reposição dos direitos humanos violados. As unidades foren-

ses praticamente não existem e a especialização na medicina legal é escassa. Neste

aspecto, os investimentos necessários para criar serviços funcionais no País constituem

um desafio.

nUm ponto de partida poderia ser o desenvolvimento de normas mínimas para exame e

registo de resultados. Isso envolve a identificação e formação dos quadros certos nos exa-

mes elementares médico-legais, elaboração do relatório e comparência no tribunal bem

como o desenvolvimento de um formato de relatório médico legal padronizado.

5) Advocacia

nO sector da saúde tem um papel na missão de quebrar o silêncio em volta da violência em

geral e da sexual em especial. Ainda existe pouca sensibilidade sobre a questão daí a

necessidade de aumentar a advocacia.

6) Registo correcto do diagnostico da violência no processo clínico e no livro de

registos

nA violência tornou-se um problema de saúde muito grave mas invisivel, tanto a nível

internacional como no nosso País. Uma das razões que explicam esta invisibilidade é o

registo inadequado do diagnóstico, o qual costuma ser biomedico em vez de causal.

Assim uma mulher que é violentada e fica com hematoma ocular como resultado da

agressão costuma ser diagnosticada e registada como tendo hematoma ocular, sem men-

ção da violência. Por outro lado, nos casos de violência crónica, quando a mulher se apre-

senta com problemas de saúde mental, ela é catalogada de "depressão" sem menção à

situação violência. Este subregisto acontece em praticamente todos os serviços e todas

as unidades sanitárias. O diagnóstico causal de violência é registado só por um pequeno

número de profissionais de saúde.

1) Registar o diagnóstico de violência em todas as situações em que a mulher refere ter

sido violentada, com ou sem sinais físicos comprovativos.

2) Registar o diganóstico de violência sempre que suspeitar da sua existência. As vítimas

de violência têm um comportamento mais ou menos típico que precisa de ser analisa-

do. Muitas vítimas confirmam a existência do fenomeno quando inquiridas logo à pri-

meira vez, mas outras precisam de mais tempo para confiar no profissional. O esque-

ma que a seguir se apresenta pode servir de modelo para registo das lesões físicas no

processo clínico.

O registo detalhado dos casos de violência no processo clínico, é necessário para:

nA avaliação do programa

nServir como documento para a justiça.

nVisualizar o problema nas estatísticas da saúde

nAprofundar o fenómeno da violência doméstica e os seus efeitos na saúde da população

nTomar medidas em políticas públicas para garantir medidas de prevenção, e atendimen-

to integrado em condições.

Deve-se registar todas as informações prestadas pela mulher e aquelas encontradas no

exame físico, pois podem ter valor no futuro, inclusive em processos judiciais.

Pode-se pensar que é muito difícil introduzir ou modificar os instrumentos de registo, mas

isto faz parte da luta para erradicar a violência. Cada serviço pode decidir o que deve ser

registado até estabelecer um instrumento que satisfaz a todos. A seguir, oferecemos como

exemplo alguns itens que podem constar num registro sistemático:

nDados socio-demográficos (idade, profissão, escolaridade, número de filhos, tipo de

união, endereço, etc).

nServiços a que já recorreu (Gabinetes da Polícia, Bairro, Família, tribunal comunitário, pro-

vincial, distrital, etc.) e nível de satisfação.

nTipo e história da violência sofrida, incluindo a duração e implicação de menores.

nPresença de lesões no exame físico.

nRede de apoio social existente (na família, na vizinhança).

nRisco e presença de arma em casa.

nExpectativas quanto ao atendimento.

nExpectativas e planos de vida expressos pela mulher.

nPlano assistencial traçado e instituições para onde é referida.

nAvaliação da mulher e do profissional sobre o processo.

46 47Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIApoio Psicológico

48 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIApoio Psicológico

48 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Apoio Psicológico

Suspeita da existência de violência ocorrida no passado ou a ocorrer actualmente

As situações de violência contra a mulher repercutem-se nos serviços de saúde de forma

paradoxal. Ao mesmo tempo em que há um uso aumentado dos serviços, a assistência médi-

ca de facto prestada tem um baixo poder resolutivo e as mulheres em situação de violência

têm mais queixas e sintomas do que aquelas que não sofrem de violência. Por outro lado, os

serviços de saúde não estão preparados para o atendimento e reconhecimento das situa-

ções de violência, especialmente a doméstica.

As mulheres que sofrem de violência normalmente sofrem também pressões sócio-culturais

e familiares que as colocam numa situação de omissão da denúncia. São poucas as mulheres

que procuram os serviços de saúde por serem vítimas de violência doméstica e as pou-

cas que os usam é devido a lesões físicas sérias e que precisam de um atendimento médico

urgente. No entanto muitas mulheres vítimas de violência frequentam os serviços de saúde,

nas diversas consultas gerais ou de especialidade, incluindo as consultas de Saúde Reprodu-

tiva (Saúde Materno-Infantil, Ginecologia e Obstetricia), Medicina, Cirurgia, Psiquiatria, Orto-

pedia, Pediatria, Otorrinolaringologia, Estomatologia, Oftalmologia, Fisioterapia, Cardiolo-

gia, etc., com sintomatologia diversa muitas vezes causada ou associada à situaçao de vio-

lência.

Os serviços de SMI são os mais usados pelas mulheres, quer para si próprias quer levando os

seus filhos menores. Existe portanto uma certa confiança da mulher nas enfermeiras que as

atendem e conhecem uma parte da sua vida íntima.

No entanto, a abordagem do problema da violência doméstica e sexual requer uma técnica

específica de conversa e um bom conhecimento das organizações que prestam apoio psicó-

logico para que o profissional possa apoiar a mulher a tomar a decisão sobre as melhores

alternativas no seu caso.

Para que relatos das situações de violência possam emergir, algumas condições institucio-

nais são importantes. A falta destas condições não significa que não há nada a fazer, pelo

contrário: a construção destas condições institucionais é em si um trabalho contra a violên-

cia e a favor de uma melhor qualidade de serviços de saúde:

nO serviço tenha uma cultura institucional de respeito aos usuários, propiciando aos pro-

fissionais tempo e condições de escutar a mulher e estabelecer um diálogo com ela;

nExistam indicações claras no serviço de que este é um lugar aberto e preocupado com

estas questões (cartazes, folhetos e uma recepção informada sobre o problema);

nExistam espaços educativos e atenção a dimensões psicossociais nos atendimentos,

onde a emergência de temas como esses pode ser facilitada;

nExista compromisso institucional, especialmente das Direcções, em implantar e apoiar o

trabalho;

nOs profissionais conheçam a relação da violência com a saúde, saibam detectar o proble-

ma e tenham alternativas assistenciais disponíveis para oferecer às mulheres;

nAs pessoas sejam acolhidas e respeitadas quando têm vergonha do problema;

nAs pessoas saibam que os profissionais se importam com as situações de violência e

podem oferecer recursos e não desvalorizarão o seu relato ou farão julgamentos sobre as

suas escolhas e situação de vida;

50 51Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Apoio Psicológico

Suspeita da existência de violência ocorrida no passado ou a ocorrer actualmente

As situações de violência contra a mulher repercutem-se nos serviços de saúde de forma

paradoxal. Ao mesmo tempo em que há um uso aumentado dos serviços, a assistência médi-

ca de facto prestada tem um baixo poder resolutivo e as mulheres em situação de violência

têm mais queixas e sintomas do que aquelas que não sofrem de violência. Por outro lado, os

serviços de saúde não estão preparados para o atendimento e reconhecimento das situa-

ções de violência, especialmente a doméstica.

As mulheres que sofrem de violência normalmente sofrem também pressões sócio-culturais

e familiares que as colocam numa situação de omissão da denúncia. São poucas as mulheres

que procuram os serviços de saúde por serem vítimas de violência doméstica e as pou-

cas que os usam é devido a lesões físicas sérias e que precisam de um atendimento médico

urgente. No entanto muitas mulheres vítimas de violência frequentam os serviços de saúde,

nas diversas consultas gerais ou de especialidade, incluindo as consultas de Saúde Reprodu-

tiva (Saúde Materno-Infantil, Ginecologia e Obstetricia), Medicina, Cirurgia, Psiquiatria, Orto-

pedia, Pediatria, Otorrinolaringologia, Estomatologia, Oftalmologia, Fisioterapia, Cardiolo-

gia, etc., com sintomatologia diversa muitas vezes causada ou associada à situaçao de vio-

lência.

Os serviços de SMI são os mais usados pelas mulheres, quer para si próprias quer levando os

seus filhos menores. Existe portanto uma certa confiança da mulher nas enfermeiras que as

atendem e conhecem uma parte da sua vida íntima.

No entanto, a abordagem do problema da violência doméstica e sexual requer uma técnica

específica de conversa e um bom conhecimento das organizações que prestam apoio psicó-

logico para que o profissional possa apoiar a mulher a tomar a decisão sobre as melhores

alternativas no seu caso.

Para que relatos das situações de violência possam emergir, algumas condições institucio-

nais são importantes. A falta destas condições não significa que não há nada a fazer, pelo

contrário: a construção destas condições institucionais é em si um trabalho contra a violên-

cia e a favor de uma melhor qualidade de serviços de saúde:

nO serviço tenha uma cultura institucional de respeito aos usuários, propiciando aos pro-

fissionais tempo e condições de escutar a mulher e estabelecer um diálogo com ela;

nExistam indicações claras no serviço de que este é um lugar aberto e preocupado com

estas questões (cartazes, folhetos e uma recepção informada sobre o problema);

nExistam espaços educativos e atenção a dimensões psicossociais nos atendimentos,

onde a emergência de temas como esses pode ser facilitada;

nExista compromisso institucional, especialmente das Direcções, em implantar e apoiar o

trabalho;

nOs profissionais conheçam a relação da violência com a saúde, saibam detectar o proble-

ma e tenham alternativas assistenciais disponíveis para oferecer às mulheres;

nAs pessoas sejam acolhidas e respeitadas quando têm vergonha do problema;

nAs pessoas saibam que os profissionais se importam com as situações de violência e

podem oferecer recursos e não desvalorizarão o seu relato ou farão julgamentos sobre as

suas escolhas e situação de vida;

50 51Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Alguns exemplos de como ouvir e perguntar sobre violência doméstica contra as

mulheres.

Para que se possam identificar as mulheres em situação de violência existem diversas pro-

postas:

a) Acolher o relato espontâneo

nA privacidade e a confidencialidade sejam garantidas.

nExista informação sobre a rede intersectorial (serviços jurídicos, policiais, de orientação

psicológica e social) no bairro, na vila ou na cidade.

A disponibilidade do profissional para ouvir os problemas da pessoa em atendimento e a sua

preocupação com as raízes do seu sofrimento também são importantes para a detecção do

problema.

Devemos lembrar sempre que a violência leva ao medo e à perda da auto estima

LEMBRAR:

O conhecimento da existência de serviços para apoiar as vítimas de violência, tais como os Gabi-

netes de Atendimento às Mulheres e Crianças Vítimas de violência nas esquadras da Polícia e as

ONGs que aconselham e dão assistência legal, são fundamentais para o trabalho dos profissionais

de saúde. Nunca se deve iniciar o trabalho de assistência sanitária sem este conhecimento, pois

isto vai garantir uma boa coordenação intersectorial.

Não apenas mulheres com o corpo cheio de hematomas podem nos lembrar situações de vio-

lência. Existem relatos não tão claros que podem significar um pedido de ajuda e devem cha-

mar a atenção do profissional, como por exemplo os seguintes:

nAtaques a entes queridos, principalmente aos filhos, familiares e amigos/as;

nRestrição da liberdade individual (impedimento de trabalhar fora, de estudar ou de sair

de casa, mesmo para visitar a família);

nPráticas que resultam em restrições de direitos ou liberdades: não disponibilizar dinheiro;

ameaças de agressão ou brigas verbais;

nHumilhação (maus tratos, desqualificações públicas ou privadas);

nDiscussões e brigas verbais frequentes;

nAmeaças de agressão, ameaças com armas ou instrumentos de agressão física;

nRelações sexuais forçadas;

nNão fazer planeamento familiar

nIniciar tarde a consulta pré-natal

nSubmissão a práticas sexuais indesejadas;

nAgressão física de qualquer espécie, incluindo envenenamento.

Estes relatos são mais comuns em alguns espaços da rede assistencial, menos presentes em

outros. Ainda assim são relativamente restritos em comparação com o universo de casos

existentes, de acordo com a literatura.Muitas mulheres têm vergonha ou medo de abordar o problema, ou não acreditam que pode-

rão encontrar alguma resposta nos serviços de saúde. Mas isto não significa que não se pode

ajudá-las, pelo contrário, pode-se abrir canais de comunicação para facilitar o relato.

b) Perguntar quando há suspeitas:

A melhor estratégia para lidar com esta recusa é a pergunta directa, que facilita às pessoas

que querem falar do problema a iniciar a abordagem do assunto. A disponibilidade do profis-

sional para ouvir os problemas da pessoa durante o atendimento e a sua preocupação com o

seu sofrimento, também são importantes para a detecção do problema.

n Perguntar indirectamente

As mulheres que frequentam o SMI muitas vezes têm problemas em casa. Por isto podemos

abordar o assunto nas consultas através de qualquer destas perguntas.

Orientar o Diálogo

Alguns sintomas mostram-se consistentemente associados com a violência, e podem servir

de critério suspeitar e identificar as vítimas:

nTranstornos crónicos, vagos e repetitivos;

nInício tardio no pré-natal;

nCompanheiro muito controlador; reage quando separado da mulher;

nInfecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada);

nDor pélvica crónica;

nSíndrome do intestino irritável;

nTranstornos na sexualidade;

nComplicações em gestações anteriores, abortos de repetição;

nDepressão;

nAnsiedade;

nHistória de tentativa de suicídio;

nLesões físicas que não se explicam de forma adequada

Quando houver algum destes sintomas ou sinais, deve-se suspeitar da existência de violên-

cia e iniciar o diálogo sobre o assunto, evitando ao máximo colocar questões directas, como

por exemplo, quem te fez mal? O seu marido bate-lhe? Deve-se recorrer a este tipo de per-

guntas em casos extremos de recusa, negativismo e medo paralisante. As questões exempli-

ficadas podem ser feitas também a outras pessoas que por um motivo ou outro nos pareçam

poder estar ou ter estado em situação de violência, já que o problema é frequente e o conjun-

to de sintomas aqui colocado não é definitivo. Quando há uma suspeita, diversos estudos sus-

tentam que a pergunta, directa ou indirecta, é a melhor estratégia. Se a pessoa não estiver

nesta situação, ela responderá com tranquilidade e perceberá a importância da pergunta

para as mulheres em geral, desde que suficientemente esclarecida. Se a mulher negar e o

profissional estiver convencido de que não é verdade, respeite! É bom que ela saiba que há

disposição para ajudá-la.

A queixa mais apresentada pelas mulheres que sofrem violência é a dor crónica em qualquer

parte do corpo ou mesmo sem localização precisa. É a dor que não tem nome ou lugar!

Deve-se assegurar à mulher que haverá sigilo no seu atendimento. Deve-se declarar que nin-

guém merece sofrer violência, que existem diversos caminhos para a saída de situações

deste tipo e que o profissional está disposto a auxiliá-la. Deve-se também avaliar o risco imi-

nente (perguntando se ela tem medo de voltar para casa e avaliando se há crianças menores

envolvidas). Em caso positivo, contactar alguma instituição de referência no momento, den-

tro ou fora do serviço de saúde. Atenção, no caso de violência, o profissional da saúde que

atende pode prestar apoio psicológico: contendo a vítima, confortando-a, orientando-a atra-

vés de técnicas simples como escutar e sobretudo, mostrar preocupação e empatia com o

problema da vítima.

52 53Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Alguns exemplos de como ouvir e perguntar sobre violência doméstica contra as

mulheres.

Para que se possam identificar as mulheres em situação de violência existem diversas pro-

postas:

a) Acolher o relato espontâneo

nA privacidade e a confidencialidade sejam garantidas.

nExista informação sobre a rede intersectorial (serviços jurídicos, policiais, de orientação

psicológica e social) no bairro, na vila ou na cidade.

A disponibilidade do profissional para ouvir os problemas da pessoa em atendimento e a sua

preocupação com as raízes do seu sofrimento também são importantes para a detecção do

problema.

Devemos lembrar sempre que a violência leva ao medo e à perda da auto estima

LEMBRAR:

O conhecimento da existência de serviços para apoiar as vítimas de violência, tais como os Gabi-

netes de Atendimento às Mulheres e Crianças Vítimas de violência nas esquadras da Polícia e as

ONGs que aconselham e dão assistência legal, são fundamentais para o trabalho dos profissionais

de saúde. Nunca se deve iniciar o trabalho de assistência sanitária sem este conhecimento, pois

isto vai garantir uma boa coordenação intersectorial.

Não apenas mulheres com o corpo cheio de hematomas podem nos lembrar situações de vio-

lência. Existem relatos não tão claros que podem significar um pedido de ajuda e devem cha-

mar a atenção do profissional, como por exemplo os seguintes:

nAtaques a entes queridos, principalmente aos filhos, familiares e amigos/as;

nRestrição da liberdade individual (impedimento de trabalhar fora, de estudar ou de sair

de casa, mesmo para visitar a família);

nPráticas que resultam em restrições de direitos ou liberdades: não disponibilizar dinheiro;

ameaças de agressão ou brigas verbais;

nHumilhação (maus tratos, desqualificações públicas ou privadas);

nDiscussões e brigas verbais frequentes;

nAmeaças de agressão, ameaças com armas ou instrumentos de agressão física;

nRelações sexuais forçadas;

nNão fazer planeamento familiar

nIniciar tarde a consulta pré-natal

nSubmissão a práticas sexuais indesejadas;

nAgressão física de qualquer espécie, incluindo envenenamento.

Estes relatos são mais comuns em alguns espaços da rede assistencial, menos presentes em

outros. Ainda assim são relativamente restritos em comparação com o universo de casos

existentes, de acordo com a literatura.Muitas mulheres têm vergonha ou medo de abordar o problema, ou não acreditam que pode-

rão encontrar alguma resposta nos serviços de saúde. Mas isto não significa que não se pode

ajudá-las, pelo contrário, pode-se abrir canais de comunicação para facilitar o relato.

b) Perguntar quando há suspeitas:

A melhor estratégia para lidar com esta recusa é a pergunta directa, que facilita às pessoas

que querem falar do problema a iniciar a abordagem do assunto. A disponibilidade do profis-

sional para ouvir os problemas da pessoa durante o atendimento e a sua preocupação com o

seu sofrimento, também são importantes para a detecção do problema.

n Perguntar indirectamente

As mulheres que frequentam o SMI muitas vezes têm problemas em casa. Por isto podemos

abordar o assunto nas consultas através de qualquer destas perguntas.

Orientar o Diálogo

Alguns sintomas mostram-se consistentemente associados com a violência, e podem servir

de critério suspeitar e identificar as vítimas:

nTranstornos crónicos, vagos e repetitivos;

nInício tardio no pré-natal;

nCompanheiro muito controlador; reage quando separado da mulher;

nInfecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada);

nDor pélvica crónica;

nSíndrome do intestino irritável;

nTranstornos na sexualidade;

nComplicações em gestações anteriores, abortos de repetição;

nDepressão;

nAnsiedade;

nHistória de tentativa de suicídio;

nLesões físicas que não se explicam de forma adequada

Quando houver algum destes sintomas ou sinais, deve-se suspeitar da existência de violên-

cia e iniciar o diálogo sobre o assunto, evitando ao máximo colocar questões directas, como

por exemplo, quem te fez mal? O seu marido bate-lhe? Deve-se recorrer a este tipo de per-

guntas em casos extremos de recusa, negativismo e medo paralisante. As questões exempli-

ficadas podem ser feitas também a outras pessoas que por um motivo ou outro nos pareçam

poder estar ou ter estado em situação de violência, já que o problema é frequente e o conjun-

to de sintomas aqui colocado não é definitivo. Quando há uma suspeita, diversos estudos sus-

tentam que a pergunta, directa ou indirecta, é a melhor estratégia. Se a pessoa não estiver

nesta situação, ela responderá com tranquilidade e perceberá a importância da pergunta

para as mulheres em geral, desde que suficientemente esclarecida. Se a mulher negar e o

profissional estiver convencido de que não é verdade, respeite! É bom que ela saiba que há

disposição para ajudá-la.

A queixa mais apresentada pelas mulheres que sofrem violência é a dor crónica em qualquer

parte do corpo ou mesmo sem localização precisa. É a dor que não tem nome ou lugar!

Deve-se assegurar à mulher que haverá sigilo no seu atendimento. Deve-se declarar que nin-

guém merece sofrer violência, que existem diversos caminhos para a saída de situações

deste tipo e que o profissional está disposto a auxiliá-la. Deve-se também avaliar o risco imi-

nente (perguntando se ela tem medo de voltar para casa e avaliando se há crianças menores

envolvidas). Em caso positivo, contactar alguma instituição de referência no momento, den-

tro ou fora do serviço de saúde. Atenção, no caso de violência, o profissional da saúde que

atende pode prestar apoio psicológico: contendo a vítima, confortando-a, orientando-a atra-

vés de técnicas simples como escutar e sobretudo, mostrar preocupação e empatia com o

problema da vítima.

52 53Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIIAssistência Médico-legal

lEstá tudo bem na sua casa, com o seu companheiro?

lTem problemas no relacionamento familiar?

lA senhora às vezes se sente humilhada ou agredida?

lAcha que os problemas em casa estão afectando a sua saúde?

lA senhora e o seu marido brigam, discutem muito?

lQuando discutem, ele fica muito zangado? Agressivo?

nPerguntar directamente

lComo você deve saber, hoje em dia não é estranho escutarmos sobre pessoas que

foram agredidas física, psicológica ou sexualmente ao longo das suas vidas, e sabe-

mos que isto pode afectar a saúde mesmo anos mais tarde. Isto aconteceu alguma

vez consigo?

lJá vi problemas como o seu em pessoas que são fisicamente agredidas. Isto aconteceu

consigo?

lAlguém lhe bate?

lVocê já foi forçada a ter relações sexuais com alguém?

Aconselhar e apoiar

Como foi dito no início, o papel do profissional de saúde é apresentar as várias opções que a

ajudem a vítima a tomar a decisão mais acertada. Estas opções devem ser identificadas

caso a caso, mas devem ser apresentadas com base no apoio emocional e psicológico bem

como nos direitos humanos das mulheres.

Por isso deve ser aplicado o postulado na Lei da violência doméstica, e, a vítima deve ser

informada que o Governo encarregou os serviços de saúde de apoiar a aplicação da justiça a

todos os criminosos que não respeitam os direitos humanos das mulheres, informando à Poli-

cia para que esta siga os procedimentos definidos nesse sentido.

No entanto, o apoio psicológico para ser efectivo deve ser longo e constitui a primeira priori-

dade do profissional, que deve informar a sua cliente sobre as consequências da violência no

âmbito mental e como preveni-las. A cliente deve ser também informada que o tratamento

psicológico vai requerer pelo menos 6 meses. Um dos aspectos fundamentais no apoio às

vítimas é a aceitação incondicional. Não interessa ao profissional de saúde a curiosidade em

relação aos aspectos de intimidade, mas apenas o apoio à vítima que sofre. Atenção: mesmo

que sem evidências físicas e às vezes psicológicas, a vítima de violência sofre.

54 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIIAssistência Médico-legal

lEstá tudo bem na sua casa, com o seu companheiro?

lTem problemas no relacionamento familiar?

lA senhora às vezes se sente humilhada ou agredida?

lAcha que os problemas em casa estão afectando a sua saúde?

lA senhora e o seu marido brigam, discutem muito?

lQuando discutem, ele fica muito zangado? Agressivo?

nPerguntar directamente

lComo você deve saber, hoje em dia não é estranho escutarmos sobre pessoas que

foram agredidas física, psicológica ou sexualmente ao longo das suas vidas, e sabe-

mos que isto pode afectar a saúde mesmo anos mais tarde. Isto aconteceu alguma

vez consigo?

lJá vi problemas como o seu em pessoas que são fisicamente agredidas. Isto aconteceu

consigo?

lAlguém lhe bate?

lVocê já foi forçada a ter relações sexuais com alguém?

Aconselhar e apoiar

Como foi dito no início, o papel do profissional de saúde é apresentar as várias opções que a

ajudem a vítima a tomar a decisão mais acertada. Estas opções devem ser identificadas

caso a caso, mas devem ser apresentadas com base no apoio emocional e psicológico bem

como nos direitos humanos das mulheres.

Por isso deve ser aplicado o postulado na Lei da violência doméstica, e, a vítima deve ser

informada que o Governo encarregou os serviços de saúde de apoiar a aplicação da justiça a

todos os criminosos que não respeitam os direitos humanos das mulheres, informando à Poli-

cia para que esta siga os procedimentos definidos nesse sentido.

No entanto, o apoio psicológico para ser efectivo deve ser longo e constitui a primeira priori-

dade do profissional, que deve informar a sua cliente sobre as consequências da violência no

âmbito mental e como preveni-las. A cliente deve ser também informada que o tratamento

psicológico vai requerer pelo menos 6 meses. Um dos aspectos fundamentais no apoio às

vítimas é a aceitação incondicional. Não interessa ao profissional de saúde a curiosidade em

relação aos aspectos de intimidade, mas apenas o apoio à vítima que sofre. Atenção: mesmo

que sem evidências físicas e às vezes psicológicas, a vítima de violência sofre.

54 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Perícia médico-legal é toda a actuação médica/paramédica mediante a qual se presta asses-

soria à administração da justiça em relação a um determinado problema de natureza médi-

co-biológica.

nPode ser efectuada em qualquer ramo de Direito (Penal, Civil, etc.), no ser vivo, cadáver,

objectos, animais, etc.

nEstá disciplinada na Legislação em vigor e deve ser realizada nas Instituições Médico-

Legais, Instituições de Saúde por Peritos Oficiais, Peritos Ocasionais e por outros Profissio-

nais de Saúde.

nTem como objectivo a produção de uma prova (é um elemento demonstrativo de um facto).

nEstuda as lesões e estados patológicos imediatos ou tardios, produzidos por violência

sobre o corpo humano.

nEstuda o diagnóstico, prognóstico, as implicações legais e socio-económicas da violên-

cia.

Ofensas Corporais: com base nos art. 359 e seguintes do Códido Penal. médico-

legalmente: "a perturbação ilícita da integridade corporal doutrem".

nEsta definição exclui as lesões traumáticas direccionadas para regiões anatómicas espe-

cíficas tais como: seios, vulva/vagina, útero, gonadas, etc. que seriam indicativos de

crime contra a honestidade, aborto criminoso e castração.

Crimes contra a honestidade

Os artigos relacionados com este capitulo vem contemplados no Codigo Penal., Livro 2º- dos

crimes em especial, Titulo 4º dos crimes contra as pessoas, capitulo 4º:dos crimes contra a

honestidade:

nSecção I – Ultraje público ao pudor: art. 390

nSecção II – Atentado ao pudor, Estupro e Violação: art. 391 atentado ao pudor; art.

392 estupro; art. 393 violação e art. 394 violação de menor de 12 anos; art. 395 rapto vio-

lento ou fraudulento; art.396 rapto consentido; art. 397 cárcere privado e ocultação de

menores; art. 398 agravação especial; art. 399 denúncia prévia; art. 400 dote da ofendida

e efeitos especiais do casamento.

nSecção II – Adultério - revogado.

nSecção IV – Lenocínio: art. 405 lenocínio, art.406 corrupção de menores.

Abordagem Médico-Legal

Cópula: é um tipo de manifestação sexual, provem da palavra latina União – acto ou efeito

de juntar ou ligar uma coisa a outra, acto ou união sexual, ligação carnal.

Do ponto de vista médico-legal a cópula pode ser efectuada em qualquer região anatómica

ou orifício natural em que é possível a consumação/ligação carnal.

Traumatologia Forense

Sexologia Forense

Perícia Médico-legal

56 57Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Perícia médico-legal é toda a actuação médica/paramédica mediante a qual se presta asses-

soria à administração da justiça em relação a um determinado problema de natureza médi-

co-biológica.

nPode ser efectuada em qualquer ramo de Direito (Penal, Civil, etc.), no ser vivo, cadáver,

objectos, animais, etc.

nEstá disciplinada na Legislação em vigor e deve ser realizada nas Instituições Médico-

Legais, Instituições de Saúde por Peritos Oficiais, Peritos Ocasionais e por outros Profissio-

nais de Saúde.

nTem como objectivo a produção de uma prova (é um elemento demonstrativo de um facto).

nEstuda as lesões e estados patológicos imediatos ou tardios, produzidos por violência

sobre o corpo humano.

nEstuda o diagnóstico, prognóstico, as implicações legais e socio-económicas da violên-

cia.

Ofensas Corporais: com base nos art. 359 e seguintes do Códido Penal. médico-

legalmente: "a perturbação ilícita da integridade corporal doutrem".

nEsta definição exclui as lesões traumáticas direccionadas para regiões anatómicas espe-

cíficas tais como: seios, vulva/vagina, útero, gonadas, etc. que seriam indicativos de

crime contra a honestidade, aborto criminoso e castração.

Crimes contra a honestidade

Os artigos relacionados com este capitulo vem contemplados no Codigo Penal., Livro 2º- dos

crimes em especial, Titulo 4º dos crimes contra as pessoas, capitulo 4º:dos crimes contra a

honestidade:

nSecção I – Ultraje público ao pudor: art. 390

nSecção II – Atentado ao pudor, Estupro e Violação: art. 391 atentado ao pudor; art.

392 estupro; art. 393 violação e art. 394 violação de menor de 12 anos; art. 395 rapto vio-

lento ou fraudulento; art.396 rapto consentido; art. 397 cárcere privado e ocultação de

menores; art. 398 agravação especial; art. 399 denúncia prévia; art. 400 dote da ofendida

e efeitos especiais do casamento.

nSecção II – Adultério - revogado.

nSecção IV – Lenocínio: art. 405 lenocínio, art.406 corrupção de menores.

Abordagem Médico-Legal

Cópula: é um tipo de manifestação sexual, provem da palavra latina União – acto ou efeito

de juntar ou ligar uma coisa a outra, acto ou união sexual, ligação carnal.

Do ponto de vista médico-legal a cópula pode ser efectuada em qualquer região anatómica

ou orifício natural em que é possível a consumação/ligação carnal.

Traumatologia Forense

Sexologia Forense

Perícia Médico-legal

56 57Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

1. Atentado ao pudor art. 391: médico-legalmente constitui "atentado ao pudor são todos os

actos impúdicos praticados em indivíduos de ambos os sexos, exceptuando estupro ou

violação (entidades bem definidas), exercidas em menores de 16 anos ou com violência

depois daquela idade, com o fim de satisfazer um prazer venéreo, lascivo, por curiosida-

de, depravação, vingança ou por padecer de um distúrbio de instinto sexual.

2. Estupro art. 392: médico-legalmente "é a cópula vaginal por meio de sedução com uma

mulher virgem menor de 18 e maior de 12 anos".

3. Hímen complacente/elástico é o hímen que permite o coito vaginal sem se lacerar.

4. Violação art. 393 e 394: os critérios médico-legais são:

nCópula vaginal com uma mulher com idade igual ou inferior a 12 anos, independente-

mente do consentimento ou não da vítima.

nNas mulheres com idade igual ou inferior a 12 anos não é imprescindível que a pene-

tração do pénis seja completa, basta que seja uma cópula vestibular ou vulvar.

nCópula vaginal com uma mulher com idade superior a 12 anos contra a sua vontade,

veemente intimidação, violência física ou de qualquer fraude.

nCópula com uma mulher que esteja com um quadro de perturbação mental, isto é,

com um quadro de Transtorno Mental Transitório.

Constitue uma Urgência Médico-Legal porque:

Permite

nEfectuar a profilaxia contra HIV/SIDA e ITS (até 72 horas após o facto).

nO tratamento médico e psicológico.

nColheita de todos os elementos de prova ou indícios (no corpo, vestuário, etc.) na vítima e no

perpetrador.

nEvidenciar os sinais de conjunção carnal e outro tipo de lesões na vítima e no perpetrador.

nEfectuar o teste de HIV/SIDA ao perpetrador.

No âmbito da história clínica e exame físico deve-se obter informações sobre:

nA data e a hora aproximada da agressão

nA história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, prá-

ticas sexuais)

n Antecedentes de ITS

nData da última menstruação

nAvaliar a possibilidade de gravidez prévia

O exame físico sempre deve incluir:

Inspecção da região genital: examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visuali-

zar o intróito vaginal, examinar a vagina. Avaliar sinais de penetração e a extensão das

lesões. Inspeccionar o períneo e o ânus e avaliar a evidência ou não de penetração.

Perícia Médico-Legal:

A – Se não houver sinais de penetração a vítima de ser orientada para apoio psicológico,

médico-legal e jurídico.

B – Se houver sinais de penetração Investigar o tempo decorrido desde a agressão. Se a

violação ocorreu a menos de 72h deve-se:

nDeve-se fazer a testagem rápida para o HIV e Sífilis e colheita de secreções vaginais

para avaliação médico-legal. Esta colheita deve ser feita na primeira observação e

inclui o exame vagina com espéculo e colheita de material com zaragatoa. Colocar a

zaragatoa num frasco para posterir envio ao laboratório análises clínicas, para pes-

quisa de ITS. A colheita de matéria de biológico do conteúdo vaginal também deve ser

realizada para a pesquisa de espermatozóides.

nProvidenciar quimio-profilaxia para o HIV por um mês e contracepção de emergência.

Se a violação ocorreu há mais de 72h apenas se deverá realizar a profilaxia para as ITS e tes-

tagem rápida para o HIV e Sífilis

A profilaxia das ITS, a quimioprofilaxia do HIV, a contracepção de emergência e a profilaxia

da Hepatite B, deverão ser realizadas de acordo com as normas nacionais, que é a aborda-

gem sindrómica.

58 59Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

1. Atentado ao pudor art. 391: médico-legalmente constitui "atentado ao pudor são todos os

actos impúdicos praticados em indivíduos de ambos os sexos, exceptuando estupro ou

violação (entidades bem definidas), exercidas em menores de 16 anos ou com violência

depois daquela idade, com o fim de satisfazer um prazer venéreo, lascivo, por curiosida-

de, depravação, vingança ou por padecer de um distúrbio de instinto sexual.

2. Estupro art. 392: médico-legalmente "é a cópula vaginal por meio de sedução com uma

mulher virgem menor de 18 e maior de 12 anos".

3. Hímen complacente/elástico é o hímen que permite o coito vaginal sem se lacerar.

4. Violação art. 393 e 394: os critérios médico-legais são:

nCópula vaginal com uma mulher com idade igual ou inferior a 12 anos, independente-

mente do consentimento ou não da vítima.

nNas mulheres com idade igual ou inferior a 12 anos não é imprescindível que a pene-

tração do pénis seja completa, basta que seja uma cópula vestibular ou vulvar.

nCópula vaginal com uma mulher com idade superior a 12 anos contra a sua vontade,

veemente intimidação, violência física ou de qualquer fraude.

nCópula com uma mulher que esteja com um quadro de perturbação mental, isto é,

com um quadro de Transtorno Mental Transitório.

Constitue uma Urgência Médico-Legal porque:

Permite

nEfectuar a profilaxia contra HIV/SIDA e ITS (até 72 horas após o facto).

nO tratamento médico e psicológico.

nColheita de todos os elementos de prova ou indícios (no corpo, vestuário, etc.) na vítima e no

perpetrador.

nEvidenciar os sinais de conjunção carnal e outro tipo de lesões na vítima e no perpetrador.

nEfectuar o teste de HIV/SIDA ao perpetrador.

No âmbito da história clínica e exame físico deve-se obter informações sobre:

nA data e a hora aproximada da agressão

nA história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, prá-

ticas sexuais)

n Antecedentes de ITS

nData da última menstruação

nAvaliar a possibilidade de gravidez prévia

O exame físico sempre deve incluir:

Inspecção da região genital: examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visuali-

zar o intróito vaginal, examinar a vagina. Avaliar sinais de penetração e a extensão das

lesões. Inspeccionar o períneo e o ânus e avaliar a evidência ou não de penetração.

Perícia Médico-Legal:

A – Se não houver sinais de penetração a vítima de ser orientada para apoio psicológico,

médico-legal e jurídico.

B – Se houver sinais de penetração Investigar o tempo decorrido desde a agressão. Se a

violação ocorreu a menos de 72h deve-se:

nDeve-se fazer a testagem rápida para o HIV e Sífilis e colheita de secreções vaginais

para avaliação médico-legal. Esta colheita deve ser feita na primeira observação e

inclui o exame vagina com espéculo e colheita de material com zaragatoa. Colocar a

zaragatoa num frasco para posterir envio ao laboratório análises clínicas, para pes-

quisa de ITS. A colheita de matéria de biológico do conteúdo vaginal também deve ser

realizada para a pesquisa de espermatozóides.

nProvidenciar quimio-profilaxia para o HIV por um mês e contracepção de emergência.

Se a violação ocorreu há mais de 72h apenas se deverá realizar a profilaxia para as ITS e tes-

tagem rápida para o HIV e Sífilis

A profilaxia das ITS, a quimioprofilaxia do HIV, a contracepção de emergência e a profilaxia

da Hepatite B, deverão ser realizadas de acordo com as normas nacionais, que é a aborda-

gem sindrómica.

58 59Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIIICoordenação Intersectorial e ligação com a comunidade

60 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Módulo VIIICoordenação Intersectorial e ligação com a comunidade

60 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Coordenação Intersectorial e ligação com a comunidade

O Atendimento Integrado funciona para:

Como anteriormente referido, a violência constitui uma violação dos direitos humanos das

mulheres (e das crianças) e, portanto o tratamento integral impõe que as sobreviventes da

violência sejam atendidas por uma multiplicidade de profissionais, não só na Saúde, mas

também na Assistência Social, na Polícia e nos Tribunais.

Foi aprovada a criação dos Centros de Atendimento Integrado (CAI), a qual procura respon-

der à preocupação da cooperação multissectorial entre entidades estatais e/ou da socieda-

de civil que lidam com conflitos de violência de género, para garantir que:

nAs pessoas atingidas por violência de género que ganham coragem de denunciar vejam

as suas necessidades respondidas;

nNão haja revitimização secundária, isto é, que os agentes sociais que atendem as mulhe-

res que denunciam respeitem os seus direitos, a sua dignidade e privacidade;

nHaja menos denunciantes a desistir da queixa e a interromper o processo de denúncia;

nMais mulheres sejam incentivadas a denunciar, motivadas pelo grau de eficácia dos ser-

viços.

Espera-se concretamente que o atendimento integrado, por ser disponibilizado num mesmo

espaço, diminua as despesas de transporte, tendo em conta a situação de pobreza em que

vivem a maior parte das mulheres que denunciam. Por outro lado, pela maior celeridade do

processo, conta-se com uma economia de tempo, que tão precioso é para quem vive do seu

trabalho, onde a ausência representa sempre menos oportunidades de obter rendimentos.

Para além disso, existe a expectativa de que serviços até agora quase inexistentes, como por

exemplo o atendimento psicossocial, possam ser acessíveis.

nMelhoria da qualidade no atendimento, a partir da definição de procedimentos básicos

que visem o respeito pela pessoa atingida por violência e uma melhor resposta aos seus

problemas e necessidades;

nElaboração de Guiões Únicos de Atendimento para todos os profissionais e instituições

envolvidas (Ministerio da Mulher e da Acção Social, Ministério do Interior, Ministério da

Saúde, Ministério da Justiça, ONGs, etc.);

nInstitucionalização da recolha e análise de dados, com base em fichas uniformizadas, e

de acordo com os indicadores definidos.

Este Centro deve começar a funcionar com base nas infra-estruturas já existentes nas unida-

des sanitárias que contam com a presença de Postos Policiais, unidades estas que devem

contar com assistentes sociais. A vítima beneficia-se de um atendimento que começa com o

tratamento médico, psicológico e médico-legal, o qual preenche a ficha única (em anexo),

referindo de seguida ao Posto Policial que inicia os procedimentos para abertura do processo

que é posteriormente enviado à Procuradoria. Esta deve requerer exames médicos adiciona-

is se necessário, e um relatório médico-legal circunstanciado com vista à instituição do julga-

mento que segundo a lei deve ser realizado até 3 dias após a recepção do processo.

A ficha única permite que a sobrevivente seja registada uma única vez e nas referências a

serem feitas apresente a informação sobre o seu caso, sem ter de contar a história a cada pro-

62 63Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Coordenação Intersectorial e ligação com a comunidade

O Atendimento Integrado funciona para:

Como anteriormente referido, a violência constitui uma violação dos direitos humanos das

mulheres (e das crianças) e, portanto o tratamento integral impõe que as sobreviventes da

violência sejam atendidas por uma multiplicidade de profissionais, não só na Saúde, mas

também na Assistência Social, na Polícia e nos Tribunais.

Foi aprovada a criação dos Centros de Atendimento Integrado (CAI), a qual procura respon-

der à preocupação da cooperação multissectorial entre entidades estatais e/ou da socieda-

de civil que lidam com conflitos de violência de género, para garantir que:

nAs pessoas atingidas por violência de género que ganham coragem de denunciar vejam

as suas necessidades respondidas;

nNão haja revitimização secundária, isto é, que os agentes sociais que atendem as mulhe-

res que denunciam respeitem os seus direitos, a sua dignidade e privacidade;

nHaja menos denunciantes a desistir da queixa e a interromper o processo de denúncia;

nMais mulheres sejam incentivadas a denunciar, motivadas pelo grau de eficácia dos ser-

viços.

Espera-se concretamente que o atendimento integrado, por ser disponibilizado num mesmo

espaço, diminua as despesas de transporte, tendo em conta a situação de pobreza em que

vivem a maior parte das mulheres que denunciam. Por outro lado, pela maior celeridade do

processo, conta-se com uma economia de tempo, que tão precioso é para quem vive do seu

trabalho, onde a ausência representa sempre menos oportunidades de obter rendimentos.

Para além disso, existe a expectativa de que serviços até agora quase inexistentes, como por

exemplo o atendimento psicossocial, possam ser acessíveis.

nMelhoria da qualidade no atendimento, a partir da definição de procedimentos básicos

que visem o respeito pela pessoa atingida por violência e uma melhor resposta aos seus

problemas e necessidades;

nElaboração de Guiões Únicos de Atendimento para todos os profissionais e instituições

envolvidas (Ministerio da Mulher e da Acção Social, Ministério do Interior, Ministério da

Saúde, Ministério da Justiça, ONGs, etc.);

nInstitucionalização da recolha e análise de dados, com base em fichas uniformizadas, e

de acordo com os indicadores definidos.

Este Centro deve começar a funcionar com base nas infra-estruturas já existentes nas unida-

des sanitárias que contam com a presença de Postos Policiais, unidades estas que devem

contar com assistentes sociais. A vítima beneficia-se de um atendimento que começa com o

tratamento médico, psicológico e médico-legal, o qual preenche a ficha única (em anexo),

referindo de seguida ao Posto Policial que inicia os procedimentos para abertura do processo

que é posteriormente enviado à Procuradoria. Esta deve requerer exames médicos adiciona-

is se necessário, e um relatório médico-legal circunstanciado com vista à instituição do julga-

mento que segundo a lei deve ser realizado até 3 dias após a recepção do processo.

A ficha única permite que a sobrevivente seja registada uma única vez e nas referências a

serem feitas apresente a informação sobre o seu caso, sem ter de contar a história a cada pro-

62 63Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

fissional que a atende. Esta ficha também permite seguir a evolução do caso e evitar sobre-

registos dos casos de violência.

Porquê envolver a Comunidade na prevenção e apoio das vítimas de violência?Na comunidade, as chefias e membros têm conhecimento sobre quem resolve as agressões

no lar. Conhecem vítimas e agressores e portanto têm capacidade para poder desempenhar

um papel mais eficaz ao nível da prevenção, do auxílio e do encaminhamento das vítimas.

nOs líderes da comunidade são quem tradicionalmente resolve conflitos dentro do lar.

nA forma de resolução dos conflitos na comunidade realiza-se com base no senso comum,

construído a partir das leis costumeiras e da tradição.

nSegundo a tradição o marido é o chefe da família.

nSegundo as leis do costume a mulher deve obedecer ao marido e este deve corrigir e edu-

car a sua mulher.

nTradicionalmente os casos de violência contra a mulher são tipificados como casos sociais.

nAs estruturas comunitárias não conhecem a Constituição e as leis do País.

n Homens e Mulheres, não sabem que os direitos humanos são iguais para todos e com

carácter universal, e que segundo a lei da família, a esposa e o esposo são os dois chefes

da família.

nLíderes e membros da comunidade não conhecem muitos dos efeitos da violência

doméstica na saúde das mulheres e dos seus bebés e crianças.nNos encontros comunitários pode-se encontrar muitos parceiros que geralmente não apa-

recem nos serviços de saúde.

Factores que tornam uma comunidade mais vulnerável à violência doméstica contra as

mulheres:

A violência de género no lar acontece sem distinção sócio-económica, dado que o modelo

patriarcal influencia a construção social de relações de género que subordinam a mulher em

todas as camadas sociais. Contudo, há condições sociais que podem criar situações que agu-

dizam o fenómeno da violência no lar, nomeadamente:

nMuito desemprego na comunidade

nDegradação do tecido social (roubo, criminalidade)

nAlta frequência de poligamia e "amantismo"

nIsolamento das mulheres e dos filhos

O que a comunidade (estruturas, homens e mulheres) deve saber?

Como envolver a Comunidade na Prevenção e Apoio das Mulheres Vítimas de Violência

Outros aspectos a ter em conta:

Se a violência doméstica é um assunto de saúde pública, é indispensável:

nInformar sobre os efeitos das diversas formas de violência doméstica na saúde das

mulheres em geral e das mulheres grávidas em particular.

nInformar sobre a importância de que as mulheres falem sobre a sua situação de sofrimen-

to na consulta de SMI.

nInformar sobre a igualdade de direitos de Homens e Mulheres na Constituição da Repúbli-

ca de Moçambique.

nInformar que toda a agressão contemplada na lei aplica-se ao casal e com agravamento

da pena.

nInformar sobre a obrigação de denunciar o crime (a violência doméstica é considerada

crime público e qualquer pessoa DEVE denunciar, não só a vítima).

nInformar sobre a importância de denunciar todo o tipo de violência no lar nos Gabinetes

de Atendimento da Mulher e da Criança, na polícia.

nInformar sobre o direito das vítimas serem aconselhadas e assistidas legalmente.

nInformar a igualdade de direitos e responsabilidades no casamento (Lei da Família).

nInformar sobre a obrigação de prestação de alimentos aos filhos, mesmo em situação de

união de facto.

nInformar sobre a necessidade/ obrigação de registo das crianças.

nInformar sobre a necessidade de registar os casamentos tradicionais (Lei da Família).

nEstruturas e vizinhos devem estar atentos para intervir e socorrer uma mulher vítima de

violência.

nCriar redes de apoio e protecção, para que a vítima não se sinta sozinha.

nFacilitar o encaminhamento da vítima, segundo o caso, a um local seguro, ao hospital ou

posto de saúde, e aos Gabinetes de Atendimento da polícia. Se está em estado de gravi-

dez deve ir ao SMI ou às urgências da maternidade.

nNunca re-vitimizar, nunca culpar a vítima pela agressão que sofreu: "O que você fez para

o seu marido fazer isto?"

nNão justificar a atitude do agressor: "De certeza você teve motivos".

Para prevenir a violência doméstica deve-se:

O que a comunidade (estruturas, vizinhos, homens e mulheres) pode e deve fazer:

64 65Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

fissional que a atende. Esta ficha também permite seguir a evolução do caso e evitar sobre-

registos dos casos de violência.

Porquê envolver a Comunidade na prevenção e apoio das vítimas de violência?Na comunidade, as chefias e membros têm conhecimento sobre quem resolve as agressões

no lar. Conhecem vítimas e agressores e portanto têm capacidade para poder desempenhar

um papel mais eficaz ao nível da prevenção, do auxílio e do encaminhamento das vítimas.

nOs líderes da comunidade são quem tradicionalmente resolve conflitos dentro do lar.

nA forma de resolução dos conflitos na comunidade realiza-se com base no senso comum,

construído a partir das leis costumeiras e da tradição.

nSegundo a tradição o marido é o chefe da família.

nSegundo as leis do costume a mulher deve obedecer ao marido e este deve corrigir e edu-

car a sua mulher.

nTradicionalmente os casos de violência contra a mulher são tipificados como casos sociais.

nAs estruturas comunitárias não conhecem a Constituição e as leis do País.

n Homens e Mulheres, não sabem que os direitos humanos são iguais para todos e com

carácter universal, e que segundo a lei da família, a esposa e o esposo são os dois chefes

da família.

nLíderes e membros da comunidade não conhecem muitos dos efeitos da violência

doméstica na saúde das mulheres e dos seus bebés e crianças.nNos encontros comunitários pode-se encontrar muitos parceiros que geralmente não apa-

recem nos serviços de saúde.

Factores que tornam uma comunidade mais vulnerável à violência doméstica contra as

mulheres:

A violência de género no lar acontece sem distinção sócio-económica, dado que o modelo

patriarcal influencia a construção social de relações de género que subordinam a mulher em

todas as camadas sociais. Contudo, há condições sociais que podem criar situações que agu-

dizam o fenómeno da violência no lar, nomeadamente:

nMuito desemprego na comunidade

nDegradação do tecido social (roubo, criminalidade)

nAlta frequência de poligamia e "amantismo"

nIsolamento das mulheres e dos filhos

O que a comunidade (estruturas, homens e mulheres) deve saber?

Como envolver a Comunidade na Prevenção e Apoio das Mulheres Vítimas de Violência

Outros aspectos a ter em conta:

Se a violência doméstica é um assunto de saúde pública, é indispensável:

nInformar sobre os efeitos das diversas formas de violência doméstica na saúde das

mulheres em geral e das mulheres grávidas em particular.

nInformar sobre a importância de que as mulheres falem sobre a sua situação de sofrimen-

to na consulta de SMI.

nInformar sobre a igualdade de direitos de Homens e Mulheres na Constituição da Repúbli-

ca de Moçambique.

nInformar que toda a agressão contemplada na lei aplica-se ao casal e com agravamento

da pena.

nInformar sobre a obrigação de denunciar o crime (a violência doméstica é considerada

crime público e qualquer pessoa DEVE denunciar, não só a vítima).

nInformar sobre a importância de denunciar todo o tipo de violência no lar nos Gabinetes

de Atendimento da Mulher e da Criança, na polícia.

nInformar sobre o direito das vítimas serem aconselhadas e assistidas legalmente.

nInformar a igualdade de direitos e responsabilidades no casamento (Lei da Família).

nInformar sobre a obrigação de prestação de alimentos aos filhos, mesmo em situação de

união de facto.

nInformar sobre a necessidade/ obrigação de registo das crianças.

nInformar sobre a necessidade de registar os casamentos tradicionais (Lei da Família).

nEstruturas e vizinhos devem estar atentos para intervir e socorrer uma mulher vítima de

violência.

nCriar redes de apoio e protecção, para que a vítima não se sinta sozinha.

nFacilitar o encaminhamento da vítima, segundo o caso, a um local seguro, ao hospital ou

posto de saúde, e aos Gabinetes de Atendimento da polícia. Se está em estado de gravi-

dez deve ir ao SMI ou às urgências da maternidade.

nNunca re-vitimizar, nunca culpar a vítima pela agressão que sofreu: "O que você fez para

o seu marido fazer isto?"

nNão justificar a atitude do agressor: "De certeza você teve motivos".

Para prevenir a violência doméstica deve-se:

O que a comunidade (estruturas, vizinhos, homens e mulheres) pode e deve fazer:

64 65Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ANEXOS

66 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ANEXOS

66 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ANEXO A - CRIMES PREVISTOS NO CÓDIGO PENAL E RESPECTIVAS PENAS

Artigo 391

Atentado ao pudor

Todo o atentado contra o pudor de uma pessoa de um ou outro sexo, que for cometido com

violência, quer seja para satisfazer paixões lascivas, quer seja por outro qualquer motivo,

será punido com prisão (entre 3 dias a 2 anos).

Único – se a pessoa ofendida for menor de 16 anos, a pena será em todo o caso a mesma.

Artigo 392

Estupro

Aquele que por meio de sedução, estuprar mulher virgem, maior de 12 anos e menor de dezo-

ito anos, terá a pena de prisão maior de dois a oito anos.

Artigo 393

Violação

Aquele que tiver cópula ilícita com qualquer mulher, contra sua vontade, por meio de violên-

cia física, de veemente intimidação, ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou

achando-se a mulher privada do uso da razão, ou dos sentidos, comete o crime de violação, e

terá a pena de prisão maior de dois a oitos anos.

Artigo 394

Violação de menor de 12 anos

Aquele que violar menor de 12 anos, posto que se não prove nenhuma das circunstâncias

declaradas no artigo antecedente, será condenado a prisão maior de oito a doze anos.

Artigo 395

Rapto violento ou fraudulento

O rapto de qualquer mulher com fim desonesto, por meio de violência física, de veemente

intimidação ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou achando-se a mulher pri-

vada do uso da razão, ou dos sentidos, será punido como atentado ao pudor com violência,

se não se consumou o estupro ou a violação; e será considerado como circunstância agra-

vante do crime consumado.

1° – O rapto de menor de doze anos com fim desonesto considera-se como violento

2° – Se por crime de cárcere privado ou de outro se deverem impor ao ciminoso penas mais

graves, serão estas aplicadas.

Artigo 396

Rapto consentido

Será considerado como circunstância agravante o estupro ou rapto de qualquer mulher vir-

gem, maior de 12 anos e menor de dezoito anos, da casa ou lugar em que com a devida auto-

rização ela estiver, que for cometido com o seu consentimento; se o estupro porém se não

68 69Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

ANEXO A - CRIMES PREVISTOS NO CÓDIGO PENAL E RESPECTIVAS PENAS

Artigo 391

Atentado ao pudor

Todo o atentado contra o pudor de uma pessoa de um ou outro sexo, que for cometido com

violência, quer seja para satisfazer paixões lascivas, quer seja por outro qualquer motivo,

será punido com prisão (entre 3 dias a 2 anos).

Único – se a pessoa ofendida for menor de 16 anos, a pena será em todo o caso a mesma.

Artigo 392

Estupro

Aquele que por meio de sedução, estuprar mulher virgem, maior de 12 anos e menor de dezo-

ito anos, terá a pena de prisão maior de dois a oito anos.

Artigo 393

Violação

Aquele que tiver cópula ilícita com qualquer mulher, contra sua vontade, por meio de violên-

cia física, de veemente intimidação, ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou

achando-se a mulher privada do uso da razão, ou dos sentidos, comete o crime de violação, e

terá a pena de prisão maior de dois a oitos anos.

Artigo 394

Violação de menor de 12 anos

Aquele que violar menor de 12 anos, posto que se não prove nenhuma das circunstâncias

declaradas no artigo antecedente, será condenado a prisão maior de oito a doze anos.

Artigo 395

Rapto violento ou fraudulento

O rapto de qualquer mulher com fim desonesto, por meio de violência física, de veemente

intimidação ou de qualquer fraude, que não constitua sedução, ou achando-se a mulher pri-

vada do uso da razão, ou dos sentidos, será punido como atentado ao pudor com violência,

se não se consumou o estupro ou a violação; e será considerado como circunstância agra-

vante do crime consumado.

1° – O rapto de menor de doze anos com fim desonesto considera-se como violento

2° – Se por crime de cárcere privado ou de outro se deverem impor ao ciminoso penas mais

graves, serão estas aplicadas.

Artigo 396

Rapto consentido

Será considerado como circunstância agravante o estupro ou rapto de qualquer mulher vir-

gem, maior de 12 anos e menor de dezoito anos, da casa ou lugar em que com a devida auto-

rização ela estiver, que for cometido com o seu consentimento; se o estupro porém se não

68 69Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

consumar, será punido o rapto por sedução com prisão até um ano.

Em todos os crimes desta secção, as penas serão substituídas pelas imediatamente superio-

res, se o criminoso for:A

lscendente ou irmão da pessoa ofendida

lSe for tutor, curador ou mestre dessa pessoa.

Artigo 359

Ofensas corporais voluntárias

Aquele que voluntariamente, com alguma ofensa corporal maltratar alguma pessoa, não

concorrendo qualquer das circunstâncias enunciadas nos artigos seguintes, será condenado

a prisão até 3 meses, mediante acusação do ofendido.

§ único - se o ofendido for menor de 16 anos ou incapaz, o procedimento criminal dependerá

de simples participação do ofendido ou seu representante legal.

Artigo 360

Ofensas corporais voluntárias de que resulta doença ou impossibilidade para o

trabalho

A ofensa corporal voluntária de que resultar, como efeito necessário da mesma ofensa, doen-

ça ou impossibilidade de trabalho profissional ou de qualquer outro, será punida:

1° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho não durar por mais de 10 dias, com prisão

até seis meses e multa até um mês

2° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de 10 dias, sem exce-

der a vinte, ou produzir deformidade pouco notável, com prisão até 1 ano e multa até

dois meses.

3° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de vinte dias, sem

exceder a trinta, ou produzir deformidade notável, com prisão e multa.

4° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de trinta dias, com pri-

são nunca inferior a dezoito meses e multa nunca inferior a 1 ano.

5° – Se da ofensa resultar corte, privação, aleijão ou inabilitação de algum membro ou órgão

do corpo, com prisão maior de dois a oito anos.

Artur, M. J. Osório, C (2009): Proposta para a criação do Atendimento Integrado no Com-

bate à Violência Contra a Mulher

Associação das Mulheres na Comunicação Social, et al, (2008): A violência Doméstica

não é amor! BASTA! Maputo.

Associação Moçambicana das Mulheres de Carreira Jurídica, (2001): Principais

Instrumentos Internacionais de Defesa dos Direitos da Mulher e da Criança. Maputo.

Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA, (2004): Plano Estratégico Nacional de

Combate ao HIV/SIDA. Livro I: Análise da Situação, Maputo.

Faculdade de Medicina USP (2003): o que devem saber os profissionais de saúde para

promover os direitos e a saúde das mulheres em situação de violência doméstica. Brasil.

Fórum Mulher, (2005): Para Além das Desigualdades: a Mulher em Moçambique, Maputo.

Fórum Mulher, (2007): A violência doméstica é uma violação dos direitos humanos das

mulheres. Anteprojecto de lei contra a violência doméstica. Maputo.

Graeve, Hilde de (OMS) (2006): O primeiro passo para uma Resposta de Saúde Pública

contra a Violência Sexual em Moçambique. Maputo.

Innocenti Digest (UNICEF) (2000): Violência Doméstica contra as Mulheres e Raparigas,

Número 6, Julho de 2000, p.7.

Ministério da Mulher e da Acção Social, (2004): Inquérito sobre violência contra a

mulher, Maputo.

Ministério da Saúde – Programa Nacional de Combate às ITS/HIV/SIDA (2006): Guia

para tratamento e controlo das Infecções de Transmissão Sexual (ITS), Vol II, Maputo.

Ministério da Saúde – Departamento de Prevenção e Controlo da Incapacidade e

Doenças não Transmissíveis (2007): Plano Estratégico para Prevenção e Controlo do Trau-

ma e Violência do Ministério da Saúde 2008-2014.

Moreno, Garcia (OMS) (2002) – Violência contra as Mulheres, Genebra.

Nações Unidas (1993) – Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência con-

tra as Mulheres, Resolução da Assembleia Geral, Dezembro de 1993.

Organização Mundial da Saúde (2002): Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra.

Organização Mundial da Saúde (2003): Guidelines for medical-legal care for victims of

sexual violence, Geneve.

Ministério da Mulher e da Acção Social, (2004): Inquérito sobre violência contra a

mulher, Maputo.

Ministério da Saúde – Departamento de Prevenção e Controlo da Incapacidade e

Doenças não Transmissíveis (2007): Plano Estratégico para Prevenção e Controlo do Trau-

ma e Violência do Ministério da Saúde 2008-2014.

Moreno, Garcia (OMS) (2002) - Violência contra as Mulheres. Generva.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

70 71Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

consumar, será punido o rapto por sedução com prisão até um ano.

Em todos os crimes desta secção, as penas serão substituídas pelas imediatamente superio-

res, se o criminoso for:A

lscendente ou irmão da pessoa ofendida

lSe for tutor, curador ou mestre dessa pessoa.

Artigo 359

Ofensas corporais voluntárias

Aquele que voluntariamente, com alguma ofensa corporal maltratar alguma pessoa, não

concorrendo qualquer das circunstâncias enunciadas nos artigos seguintes, será condenado

a prisão até 3 meses, mediante acusação do ofendido.

§ único - se o ofendido for menor de 16 anos ou incapaz, o procedimento criminal dependerá

de simples participação do ofendido ou seu representante legal.

Artigo 360

Ofensas corporais voluntárias de que resulta doença ou impossibilidade para o

trabalho

A ofensa corporal voluntária de que resultar, como efeito necessário da mesma ofensa, doen-

ça ou impossibilidade de trabalho profissional ou de qualquer outro, será punida:

1° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho não durar por mais de 10 dias, com prisão

até seis meses e multa até um mês

2° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de 10 dias, sem exce-

der a vinte, ou produzir deformidade pouco notável, com prisão até 1 ano e multa até

dois meses.

3° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de vinte dias, sem

exceder a trinta, ou produzir deformidade notável, com prisão e multa.

4° – Se a doença ou impossibilidade de trabalho se prolongar por mais de trinta dias, com pri-

são nunca inferior a dezoito meses e multa nunca inferior a 1 ano.

5° – Se da ofensa resultar corte, privação, aleijão ou inabilitação de algum membro ou órgão

do corpo, com prisão maior de dois a oito anos.

Artur, M. J. Osório, C (2009): Proposta para a criação do Atendimento Integrado no Com-

bate à Violência Contra a Mulher

Associação das Mulheres na Comunicação Social, et al, (2008): A violência Doméstica

não é amor! BASTA! Maputo.

Associação Moçambicana das Mulheres de Carreira Jurídica, (2001): Principais

Instrumentos Internacionais de Defesa dos Direitos da Mulher e da Criança. Maputo.

Conselho Nacional de Combate ao HIV/SIDA, (2004): Plano Estratégico Nacional de

Combate ao HIV/SIDA. Livro I: Análise da Situação, Maputo.

Faculdade de Medicina USP (2003): o que devem saber os profissionais de saúde para

promover os direitos e a saúde das mulheres em situação de violência doméstica. Brasil.

Fórum Mulher, (2005): Para Além das Desigualdades: a Mulher em Moçambique, Maputo.

Fórum Mulher, (2007): A violência doméstica é uma violação dos direitos humanos das

mulheres. Anteprojecto de lei contra a violência doméstica. Maputo.

Graeve, Hilde de (OMS) (2006): O primeiro passo para uma Resposta de Saúde Pública

contra a Violência Sexual em Moçambique. Maputo.

Innocenti Digest (UNICEF) (2000): Violência Doméstica contra as Mulheres e Raparigas,

Número 6, Julho de 2000, p.7.

Ministério da Mulher e da Acção Social, (2004): Inquérito sobre violência contra a

mulher, Maputo.

Ministério da Saúde – Programa Nacional de Combate às ITS/HIV/SIDA (2006): Guia

para tratamento e controlo das Infecções de Transmissão Sexual (ITS), Vol II, Maputo.

Ministério da Saúde – Departamento de Prevenção e Controlo da Incapacidade e

Doenças não Transmissíveis (2007): Plano Estratégico para Prevenção e Controlo do Trau-

ma e Violência do Ministério da Saúde 2008-2014.

Moreno, Garcia (OMS) (2002) – Violência contra as Mulheres, Genebra.

Nações Unidas (1993) – Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência con-

tra as Mulheres, Resolução da Assembleia Geral, Dezembro de 1993.

Organização Mundial da Saúde (2002): Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra.

Organização Mundial da Saúde (2003): Guidelines for medical-legal care for victims of

sexual violence, Geneve.

Ministério da Mulher e da Acção Social, (2004): Inquérito sobre violência contra a

mulher, Maputo.

Ministério da Saúde – Departamento de Prevenção e Controlo da Incapacidade e

Doenças não Transmissíveis (2007): Plano Estratégico para Prevenção e Controlo do Trau-

ma e Violência do Ministério da Saúde 2008-2014.

Moreno, Garcia (OMS) (2002) - Violência contra as Mulheres. Generva.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

70 71Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de ViolênciaManual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência

Nações Unidas (1993) - Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência con-

tra as Mulheres, Resolução da Assembleia Geral.

Organização Mundial da Saúde, (2002): Relatório mundial sobre violência e saúde. Gene-

bra.

UNFPA (2001): a Practical Approach to Gender-Baesd Violence: A Programme Guide for

Health Care Providers & Managers, New York.

72 Manual de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência