28
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS _______________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOIÁS O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República signatário no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro no art. 129, III da Constituição Federal, bem como nos dispositivos pertinentes da Lei n° 7.347/85 e da Lei Complementar n° 75/93, vem, perante Vossa Excelência, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face do MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno, tendo por seu representante legal o Prefeito Municipal o Sr. Antônio Cícero Alves, com sede na Av. Santos Dumont, nº 511, CEP 76.255-000, Montes Claros/GO. pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas. I - OBJETIVOS DA DEMANDA 1. O Ministério Público Federal, a partir das investigações realizadas no Procedimento Administrativo nº 1.18.000.001672/2014-56, objetiva obter provimento jurisdicional que condene o município réu em OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente em implementar o controle eletrônico de frequência para todos os servidores públicos vinculados ao Sistema Único de Saúde – SUS, em especial para os médicos e Ministério Público Federal – Procuradoria da República no Estado de Goiás Avenida Olinda, Quadra G, lote 02, Park Lozandes, Goiânia/GO, CEP 74.884-120 Fone (62) 3245-5456 - Fax (62) 3243-5238 Homepage: www.prgo.mpf.gov.br 1

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

_______________________________________________________________________EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA

DE GOIÁS

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República

signatário no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro no art. 129,

III da Constituição Federal, bem como nos dispositivos pertinentes da Lei n° 7.347/85

e da Lei Complementar n° 75/93, vem, perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face do

MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS DE GOIÁS, pessoa jurídica de

direito público interno, tendo por seu representante legal o Prefeito

Municipal o Sr. Antônio Cícero Alves, com sede na Av. Santos

Dumont, nº 511, CEP 76.255-000, Montes Claros/GO.

pelas razões de fato e de direito adiante aduzidas.

I - OBJETIVOS DA DEMANDA

1. O Ministério Público Federal, a partir das investigações realizadas no

Procedimento Administrativo nº 1.18.000.001672/2014-56, objetiva obter provimento

jurisdicional que condene o município réu em OBRIGAÇÃO DE FAZER consistente

em implementar o controle eletrônico de frequência para todos os servidores públicos

vinculados ao Sistema Único de Saúde – SUS, em especial para os médicos e

Ministério Público Federal – Procuradoria da República no Estado de GoiásAvenida Olinda, Quadra G, lote 02, Park Lozandes, Goiânia/GO, CEP 74.884-120

Fone (62) 3245-5456 - Fax (62) 3243-5238 Homepage: www.prgo.mpf.gov.br1

Page 2: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

odontólogos, com a disponibilização na internet do local e horário de atendimento dos

médicos e odontólogos que ocupem cargos públicos vinculados, de qualquer modo,

ao SUS.

2. Visa, sobretudo, garantir a existência de mecanismos de controle que

inibam irregularidades nos serviços executados pelo Sistema Único de Saúde com o

fim de propiciar aos seus usuários a efetiva fiscalização sobre a qualidade da

prestação dos serviços (cumprimento da jornada pelos médicos e odontólogos).

3. Com base nesses objetivos, busca-se o cumprimento das obrigações

dos agentes e servidores públicos da área da saúde, em especial, dos médicos e

odontólogos que prestam serviços para o SUS no município de Montes Claros de

Goiás, no que tange à pontualidade e à assiduidade.

4. A demanda também tem por objeto garantir o fornecimento a todos os

usuários do Sistema Único de Saúde não atendidos no serviço de saúde solicitado,

de certidão ou documento equivalente em que constem, no mínimo: nome do usuário,

unidade de saúde, data, hora e motivo da recusa de atendimento, sempre que assim

solicitarem.

II - DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

5. Quanto à legitimidade ativa do parquet, a Constituição Federal, em seu

art. 127, atribui ao Ministério Público, instituição essencial à função jurisdicional do

Estado, o dever de promover a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e

dos interesses sociais e individuais indisponíveis1. Estabelecido este vetor, dispõe,

logo em seguida:

1. “Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à funçãojurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regimedemocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

2

Page 3: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...)III – promover o inquérito civil público e a ação civil pública, para aproteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e outrosinteresses difusos e coletivos.”

6. Na mesma linha, está arrolado o Ministério Público, nos termos do art.

1º, I c/c art. 5º da Lei nº 7.347/85, como legitimado para mover a ação civil pública

para defesa dos direitos do cidadão.2.

7. Por outro lado, o art. 196 da CF/88 dispõe que a “a saúde é direito de

todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que

visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

8. Com efeito, o direito à fruição de um serviço de saúde de qualidade e

uma administração eficiente e voltada ao bem comum são interesses difusos, pois

afetos a toda a coletividade e difundidos entre número indeterminado de pessoas.

9. Da mesma forma, o direito de receber dos órgãos públicos informações

de interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, bem como o direito

de, independentemente do pagamento de taxas, peticionar aos Poderes Públicos em

defesa de direitos ou contra ilegalidade e obter certidões em repartições públicas para

defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal foram

consagrados pela Constituição Federal como direito fundamental.

2. “Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, asações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (…)IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.”

3

Page 4: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

10. Logo, é atribuição do Ministério Público promover as medidas

necessárias para que o Poder Público, por meio dos serviços de relevância pública,

respeite os direitos assegurados na Constituição Federal, como o direito à

informação, à saúde e ao irrestrito acesso a atendimentos e a tratamentos médicos

condizentes com a dignidade da pessoa humana. Não há, portanto, como contestar

a legitimidade do Ministério Público Federal para ajuizar a presente demanda.

III - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

11. A competência da Justiça Federal vem disciplinada no artigo 109 da

Constituição da República Federativa do Brasil:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:I – as causas em que a União, entidade ou empresa pública federalforem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ouopoentes, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e assujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;”

12. Os recursos que compõem o Sistema Único de Saúde são oriundos da

seguridade social, da União, dos Estados e dos Municípios, além de outras fontes,

conforme prevê o art. 198, § 1º, da CF/88, acrescentado pela Emenda Constitucional

nº 29, de 13 de setembro de 2000.

13. O reformador constituinte também acrescentou os §§ 2º e 3º ao

mencionado dispositivo constitucional, que disciplinam o seguinte:

“Art. 198. (…)§ 2º. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão,anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursosmínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre:I – no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercíciofinanceiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por cento); (...)§ 3º. Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cincoanos, estabelecerá: (…)

4

Page 5: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúdedestinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dosEstados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando aprogressiva redução das disparidades regionais;”

14. A Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012, foi editada para

regulamentar o § 3º do referido dispositivo constitucional e, em seu art. 18, dispõe

que “os recursos do Fundo Nacional de Saúde, destinados a despesas com as

ações e serviços públicos de saúde, de custeio e capital, a serem executados pelos

Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios serão transferidos diretamente

aos respectivos fundos de saúde, de forma regular e automática, dispensada a

celebração de convênios ou outros instrumentos jurídicos”.

15. Assim, a transferência dos recursos para despesas com ações e

serviços da saúde ocorrem ordinariamente por meio de repasses automáticos fundo a

fundo, sendo excepcionais as transferências de recursos pela via voluntária de

celebração de convênio para finalidades específicas, tais como, por exemplo, a

aquisição de ambulâncias ou equipamentos hospitalares.

16. Quanto à fiscalização da aplicação correta dos recursos, o art. 33, § 4º,

da Lei nº 8.080/90 estabelece, expressamente, a competência do Ministério da Saúde

para acompanhar, por meio de seu sistema de auditoria, a conformidade à

programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e

Municípios, sendo que, em hipótese de malversação, desvio ou não aplicação dos

recursos, caberá ao Ministério da Saúde a aplicação das medidas legais.

17. O art. 3º do Decreto nº 1.233/94 também prevê a fiscalização exercida

pelos órgãos de controle interno do Poder Executivo e do Tribunal de Contas da

União sobre os recursos transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde aos fundos

estaduais e municipais de saúde3.

3. “Art. 3º. Os recursos transferidos pelo Fundo Nacional de Saúde serão movimentados,em cada esfera de governo, sob a fiscalização do respectivo Conselho de Saúde, semprejuízo da fiscalização exercida pelos órgãos de Controle Interno do Poder Executivo e

5

Page 6: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

18. A Lei Complementar nº 141/12 manteve esse sistema de auditoria

federal nas hipóteses de transferências automáticas do Fundo Nacional de Saúde

aos fundos estaduais e municipais, conforme se depreende do teor do seu art. 39, §

5º4.

19. Conforme já dito, a presente ação tem por objetivo principal

implementar no Município de Montes Claros de Goiás mecanismo de controle de

horário eletrônico para todos os profissionais da área de saúde que prestem serviços

no âmbito do SUS, o qual se mostra mais eficiente e menos suscetível a fraudes.

Portanto, é evidente o interesse federal em evitar a malversação dos recursos

investidos na área de saúde, que são, em parte, provenientes do Fundo Nacional de

Saúde.

20. Inclusive, os tribunais superiores têm sufragado o entendimento no

sentido de que, em havendo aplicação de recursos federais, seja por meio de

transferência automática via repasse fundo a fundo, seja por convênio, há

possibilidade de fiscalização do TCU e do Ministério da Saúde, sendo assim hipótese

de competência da Justiça Federal, como se pode perceber, v.g., do seguinte

julgado:

“HABEAS CORPUS.DESVIO DE VERBAS DO SISTEMA ÚNICO DESAÚDE – SUS. INTERESSE DA UNIÃO. ARTIGO 109, IV DACONSTITUIÇÃO DO BRASIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇAFEDERAL. SECRETÁRIO DE ESTADO. PRERROGATIVA DEFORO. ATRIBUIÇÃO DA PROCURADORIA REGIONAL DAREPÚBLICA. Procedimentos administrativos criminais – PACs –

do Tribunal de Contas da União.”

4. “Art. 39. (…)§ 5º. O Ministério da Saúde, sempre que verificar o descumprimento das disposiçõesprevistas nesta Lei Complementar, dará ciência à direção local do SUS e ao respectivoConselho de Saúde, bem como aos órgãos de auditoria do SUS, ao Ministério Público eaos órgãos de controle interno e externo do respectivo ente da Federação, observada aorigem do recurso para a adoção das medidas cabíveis.”

6

Page 7: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

instaurados para apurar supostos desvios de verbas do SistemaÚnico de Saúde – SUS. Verbas federais sujeitas à fiscalização doTribunal de Contas da União. Nítido interesse da União, a teor doartigo 109, IV da Constituição do Brasil. Envolvimento do Secretário deSaúde do Estado do Piauí, a atrair a competência do TribunalRegional Federal da Primeira Região, bem assim a atribuição daProcuradoria Regional da República. Ordem denegada.” (STF, RHC 98564, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma,julgado em 15/9/2009, DJe: 6/11/2009).

21. Por outro lado, conforme será minudenciado a seguir, o Ministério da

Saúde, no exercício de sua competência de direção nacional do Sistema Único de

Saúde, editou norma de caráter geral, a qual vincula todos os entes integrantes do

sistema, a saber, a Portaria nº 587, de 20 de maio de 2015, a qual redefine as regras

de controle eletrônico de frequência para registro de assiduidade e pontualidade dos

servidores públicos lotados e em exercício nos órgãos do Ministério da Saúde.

22. Em face do descumprimento pelo Município de Montes Claros de

Goiás de normas de caráter geral, especialmente as editadas pelo Ministério da

Saúde5., evidente se mostra a violação a interesse federal a justificar a competência

da Justiça Federal para processamento da presente ação.

23. Por fim, cabe-nos reforçar que, para configurar o interesse federal de

que trata o inciso I do art. 109 da CF/88, não é necessário que os entes nele referidos

figurem formalmente nos polos ativo ou passivo, bastando que interesses por eles

titularizados (interesses federais) estejam sendo defendidos pelo MPF em razão de

uma coincidência total ou parcial desses interesses com aqueles de cuja defesa é

incumbido o Ministério Público.

24. Nesse ponto, a jurisprudência tem decidido que é competente a Justiça

Federal quando Ministério Público Federal for legitimado para promover a ação:

5. Segundo o Procurador da República Edilson Vitorelli Diniz Lima, em “Atribuição do MinistérioPúblico Federal em matéria de Saúde”, “as regras do SUS se encontram regulamentadas não sópela Constituição e por leis, mas também por atos normativos expedidos pelo Ministério daSaúde – as portarias”.

7

Page 8: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

“CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVISPÚBLICAS PROPOSTAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALE ESTADUAL. CONSUMIDOR. CONTINÊNCIA ENTRE AS AÇÕES.POSSIBILIDADE DE PROVIMENTOS JURISDICIONAISCONFLITANTES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Apresença do Ministério Público Federal, órgão da União, na relaçãojurídica processual como autor faz competente a Justiça Federal parao processo e julgamento da ação (competência ‘ratione personae’)consoante o art. 109, inciso I, da CF/88. 2. Evidenciada a continênciaentre a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal emrelação a outra ação civil pública ajuizada na Justiça Estadual, impõe-se a reunião dos feitos no Juízo Federal. 3. Precedentes do STJ: CC90.722/BA, Rel. Ministro José Delgado, Relator p/ Acórdão MinistroTeori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ de 12.08.2008; CC90.106/ES, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ de10.03.2008 e CC 56.460/RS, Relator Ministro José Delgado, DJ de19.03.2007. 4. DECLARAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO JUÍZOFEDERAL DA 15ª VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DOESTADO DE SÃO PAULO PARA O JULGAMENTO DE AMBASAÇÕES CIVIS PÚBLICAS. 5. CONFLITO DE COMPETÊNCIAJULGADO PROCEDENTE.” (STJ, CC 201000897487, Relator: Ministro PAULO DE TARSOSANSEVERINO, Segunda Seção, DJE: 1/12/2010).

25. Verificado, assim, o interesse federal, demonstrada está a competência

da Justiça Federal para processar e julgar a presente demanda, nos termos do art.

109, I, da CF/88.

IV - DOS FATOS

26. Por meio do Ofício Circular nº 4/2014/PGR/5ªCCR/MPF, a 5ª Câmara

de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal solicitou às diversas

unidades do MPF cooperação na busca pela melhoria da qualidade do serviço público

de saúde prestado à população dos municípios não só do Estado de Goiás, como do

país inteiro.

8

Page 9: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

27. Buscava-se com isso a implementação de ações sobre o direito à

saúde, bem como metas de coordenação nacionais, que permitissem que ações

bem-sucedidas no âmbito local fossem reproduzidas nacionalmente.

28. Assim, foram expedidas diversas recomendações a todos os

municípios inseridos em nossa área de atuação, dentre elas as Recomendações

nºs 266/2014, 267/20146 e 268/2014 – MPF/PRGO, dirigidas especificamente ao

Município de Arenópolis, nas pessoas do Prefeito e do Secretário Municipal de Saúde

em 05.09.2014, para que:

Recomendação nº 266/2014 – MPF/PRGO:

“(...)(a) garantam, a todos os usuários do Sistema Único de Saúde nãoatendidos no serviço de saúde solicitado, o fornecimento de certidãoou documento equivalente, em que constem, no mínimo: nome dousuário, unidade de saúde, data, hora e motivo da recusa deatendimento, sempre que assim solicitarem; (b) assegurem o cumprimento do dever de fornecer certidão oudocumento equivalente por servidor público da unidade, ainda que osserviços de recepção sejam terceirizados; e(c) estabeleçam rotinas destinadas a fiscalizar o cumprimento dodisposto na presente recomendação.”

Recomendação nº 267/2014 – MPF/PRGO:

“(...)(a) providenciem, no prazo de 60 (sessenta) dias, a inserção dosdados de todas as aquisições de insumos de saúde doravante feitaspor todos os seus diversos centros de compras e unidades gestoras,no Banco de Preços em Saúde, disponível no portal eletrônico doMinistério da Saúde, mantendo tais dados atualizados emperiodicidade mínima bimensal;(b) consulte o Banco de Preços em Saúde, para orientar seusprocessos de aquisição de insumos em saúde, verificando

6. A recomendação nº 468/2014 é aqui mencionada para fins de registro histórico. AComissão Intergestores Tripartite do SUS, por meio da Resolução nº 18, de 20 de junhode 2017, tornou obrigatória a alimentação do Banco de Preços em Saúde por Estados,Distrito Federal, e Municípios a partir de 01 de dezembro de 2017, razão pela qualentendemos desnecessário tratar do tema na presente ação civil pública.

9

Page 10: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

atentamente se os preços praticados nas licitações para aquisição demedicamentos estão de acordo com aqueles constantes do referidoregistro; e(c) represente à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos– CMED sempre que em uma aquisição de medicamentos houver aprática de preços abusivos por fornecedores.”

Recomendação nº 268/2014 – MPF/PRGO:

“(...)(a) providenciem, no prazo de 60 (sessenta) dias, a instalação e oregular funcionamento de registro eletrônico de frequência dosservidores públicos vinculados ao Sistema Único de Saúde, inclusivemédicos e odontólogos;(b) determinem, no mesmo prazo, a instalação, em local visível dassalas de recepção de todas as unidades públicas de saúde, inclusivehospitais públicos, unidades de pronto atendimento, postos de saúde,postos do Programa “Saúde da Família” e outras eventualmenteexistentes, de quadros que informem ao usuário, de forma clara eobjetiva, o nome de todos os médicos e odontólogos em exercício naunidade naquele dia, sua especialidade e o horário de início e términoda jornada de trabalho de cada um deles, bem assim que o registro defrequência dos profissionais estará disponível para consulta dequalquer cidadão;(c) determinem às unidades públicas de saúde que sejadisponibilizado, para consulta de qualquer cidadão, o registro defrequência dos profissionais que ocupam cargos públicos vinculados,de qualquer modo, ao Sistema Único de Saúde;(d) providenciem, no prazo de 60 (sessenta) dias, a disponibilização,em seu sítio na rede mundial de computadores, de informações sobreo local e horário de atendimento dos médicos e odontólogos queocupem cargos públicos vinculados, de qualquer modo, ao SistemaÚnico de Saúde;(e) estabeleçam rotinas destinadas a fiscalizar o cumprimento dodisposto na presente recomendação.”

29. As recomendações foram entregues na Prefeitura de Arenópolis e na

Secretaria Municipal de Saúde no dia 14 de outubro de 2014, mediante aviso de

recebimento (A.R.), com prazo de 30 (trinta) dias para resposta pertinente ao

acatamento e comprovação das providências adotadas (Ofícios nºs 7644/2014 e

7645/2014).

10

Page 11: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

30. Em razão da completa falta de resposta, o MPF reiterou as

recomendações por diversas vezes entre os anos de 2015 e 2016 (Ofícios nºs

5737/2015, 5738/2015, 7589/2015, 1430/2016), sendo que este último ofício foi

respondido, ocasião em que foi juntada documentação (fls. 32/42). Contudo,

remanesceram pendências a serem atendidas. Finalmente, houve a notificação do

Prefeito e do Secretário Municipal de Saúde para comparecimento pessoal à PR/GO

(Ofícios nº 2973/2017 e 2974/2017), para esclarecimentos pessoais.

31. No dia 21.06.2017, houve a realização de audiência na sede do MPF,

sendo reforçada a necessidade de atendimento às recomendações do Parquet para

assegurar os direitos dos usuários do SUS na referida municipalidade. As

autoridades do Município manifestaram sua concordância, assumindo os

seguintes compromissos:

“1. O Município, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, encaminharáofício ao PA 1.18.000.001672/2014-56, com documentos quecomprovem o cumprimento das recomendações ministeriais nºs 266,267 e 268, de 08/08/2014, especialmente: a) modelo de certidão derecusa de atendimento SUS, fornecida nas unidades de saúde; b)cópia da folha de cadastro no Banco de Preços em Saúde, bem comocertidão, do gestor municipal, informando, sob as penas da lei, oefetivo uso do Banco e a inserção dos dados de todas as aquisiçõesde insumos de saúde; d) fotos dos pontos eletrônicos instalados nasunidades de saúde e prints do site do Município, contendo os dadossobre os médicos e odontólogos (nome, horário de atendimento,especialidade e endereço da unidade de atendimento; e e) fotos dosmurais que informem que o registro de frequência está disponível paraconsulta;”7.

32. Contudo, apesar da aparente disposição manifestada pelas autoridades

locais em assegurar os direitos da população atendida pelo SUS, o prazo assumido

voluntariamente pelo Município foi descumprido. Após a realização da reunião

7. v. Ata de reunião, fls. 47/48 do PA 1.18.000.001672/2014-56, assinada pelo PrefeitoAntônio Cícero Alves e pela Gestora do Fundo Municipal, Flávia Rejane Machado.

11

Page 12: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

mencionada, citada audiência, todos os pedidos de informação e requisições do MPF

foram solenemente ignorados (Ofícios 261/2018 e 1507/2018), o que tornou

necessário o ajuizamento da presente ação.

33. Diante desse quadro, tem-se caracterizada a omissão da

Administração Pública municipal em implantar o ponto eletrônico a fim de viabilizar o

registro eletrônico da frequência dos servidores públicos vinculados ao SUS, em

especial os médicos e odontólogos, além de disponibilizar informações sobre o local e

horário de atendimento de tais profissionais de saúde via internet.

34. Cumpre registrar, ainda, ser notório o descontentamento da população

pelo serviço de saúde prestado pelo SUS, sendo as principais queixas relacionadas

ao longo tempo de espera para o agendamento de consultas, à curta duração das

consultas – que às vezes não chegam a cinco minutos – e à ausência de médicos

nas emergências.

35. Tais reclamações da população se devem, em parte, à adoção

desarrazoada de um controle absolutamente deficiente por parte do ente público

(ponto manual). Além disso, é sabido que, num geral, médicos e odontólogos não

costumam se dedicar exclusivamente ao serviço público, desempenhando outras

ocupações privadas, o que expõe o serviço público ao risco de que a carga horária de

trabalho não seja cumprida, ao menos em sua totalidade.

36. O modelo de controle de frequência manual não é adequado para

grandes estruturas, como a saúde, pois favorece a existência de fraudes. De fato, a

folha de ponto permite irregularidades, como preenchimentos retroativos e

inconsistentes com a realidade, e descredibiliza o controle de frequência em si, sendo

imprescindível, pois, a implantação do ponto eletrônico para o fiel cumprimento da

jornada dos servidores, bem com para proporcionar transparência a bem de interesse

público e igualdade com os demais municípios em que já é adotado o sistema.

12

Page 13: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

37. Para além disso, também é essencial garantir a divulgação de

informações referentes aos locais e horários de atendimento dos médicos e

odontólogos, inclusive na rede mundial de computadores, a fim de garantir o acesso à

informação pela população e, consequentemente, ela exercer o controle social na

prestação desse serviço público.

38. No intento de proporcionar o cumprimento dessas medidas e, por

consectário, a satisfação dos interesses da população diretamente afetada,

deliberações foram tomadas pelo MPF, como o alargamento de prazo para o

oferecimento de respostas e para a adoção das orientações manifestadas

(transcorrendo quase quatro anos desde a expedição das recomendações acima

citadas), sem que os gestores municipais tenham adotado as medidas necessárias

para dar-lhes cumprimento integral.

39. Sendo assim, é patente a recalcitrância da Administração Pública

municipal em adotar providências no sentido de adquirir e instalar equipamento de

registro eletrônico de frequência para os servidores públicos vinculados ao SUS, bem

como disponibilizar informações sobre os locais e horários de atendimento dos

médicos e odontólogos na rede mundial de computadores, sendo, portanto,

indispensável a intervenção do Poder Judiciário para garantir a proteção aos preceitos

constitucionais e o interesse público.

V - DO DIREITO

1. DO REGISTRO ELETRÔNICO DE FREQUÊNCIA

40. Ao definir a saúde como direito social, a Constituição Federal erigiu-a à

categoria de direito fundamental, acrescentando, em seu art. 196, que:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantidomediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco

13

Page 14: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário àsações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

41. A competência para legislar sobre a proteção e defesa da saúde,

conforme estabelece o art. 24, XII, da CF/88, é concorrente entre os entes políticos

da federação, cabendo à União estabelecer normas gerais.

42. O art. 198 da CF/88, por sua vez, dispõe que as ações e serviços

públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem

um sistema único.

43. Assim, todas as esferas da federação – União, Estados, Distrito

Federal e Municípios, participam, de forma coordenada, do sistema de saúde

implantado, com direção única, por meio de rede descentralizada, regionalizada e

hierarquizada.

44. Logo, com o advento da Carta Magna de 1988, o sistema público de

saúde passou a ser unificado e não mais difundido por vários órgãos e ministérios,

mas com direção única, gerida, em nível federal, pelo Ministério da Saúde, a quem

compete a direção de política nacional, e nos Estados e Municípios pelas

respectivas Secretarias de Saúde.

45. Entre as normas gerais estabelecidas pela União, encontram-se a Lei

nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que regula, em todo o território nacional, as

ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter

permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou

privado.

46. O citado diploma legal dispôs em seu art. 4º, o qual constitui o Sistema

Único de Saúde – SUS, o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por

órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração

14

Page 15: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, podendo a iniciativa

privada participar do sistema, em caráter complementar.

47. Já seu art. 27, caput, estabelece que a política de recursos humanos

na área de saúde será formalizada e executada, articuladamente, pelas diferentes

esferas de governo, em cumprimento, entre outros, ao objetivo de “valorização da

dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Único de Saúde – SUS”.

48. Na linha de tal princípio, o Ministério da Saúde, no âmbito da direção de

política de recursos humanos, previu na Portaria nº 587/2015 o uso do controle

eletrônico de ponto para registro de assiduidade e pontualidade dos servidores

públicos lotados e em exercício nos órgãos do Ministério da Saúde em todo o

território nacional, sendo evidente que constitui norma de caráter geral de

observância obrigatória por todos os profissionais que prestem serviços no

âmbito do SUS8.

49. Isso porque não seria coerente admitir que o controle de frequência dos

servidores em nível federal fosse realizado de forma diferenciada à dos municípios.

Também não se mostra razoável que um município realize controle eletrônico,

seguindo os parâmetros traçados pelo Ministério da Saúde, enquanto outro adote

sistema de controle manual, mais arcaico e sujeito a fraudes.

50. O intuito do Ministério da Saúde foi justamente o de padronizar os

métodos de controle de recursos humanos de todos os entes integrantes do SUS,

sendo o registro eletrônico de frequência regra de observância obrigatória à União,

aos Estados e aos Municípios.

8. Segundo o Procurador da República Edilson Vitorelli Diniz Lima, em “Atribuição doMinistério Público Federal em matéria de Saúde”, “as regras do SUS se encontramregulamentadas não só pela Constituição e por leis, mas também por atos normativosexpedidos pelo Ministério da Saúde – as portarias”.

15

Page 16: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

51. Assim, nesse ponto, não há discricionariedade por parte das esferas de

governo integrantes do sistema, mas sim estrita observância à mencionada regra

geral e cogente editada pelo Ministério da Saúde, não cabendo aqui afirmar que a

discricionariedade do Chefe do Poder Executivo Municipal estaria conservada no

sentido de autorizar que apenas parte de determinada classe de servidores

continuasse, sem qualquer explicação plausível ou razoável, a ter sua jornada de

trabalho controlada por meio de ponto manual.

52. A instalação de pontos eletrônicos, além de não atrair gastos

excessivos para o ente municipal, tendo em vista o baixo custo do equipamento, é

mecanismo que a longo prazo tende a beneficiar não só a sociedade, principal

interessada, mas também os profissionais da área – notadamente médicos e

odontólogos –, que terão mais segurança quanto ao tempo de serviço efetivamente

prestado ao ente público.

53. Em verdade, qualquer posicionamento que fuja desse ideal é intolerável

e injustificado, sendo, inclusive, violador de preceito normativo.

54. Com efeito, além de haver normas no sentido de que o controle seja por

meio eletrônico (Portaria nº 2.571/2012 do Ministério da Saúde) – de modo que sua

inobservância fere o princípio da legalidade –, a conduta da edilidade de autorizar que

parte dos servidores tenha sua assiduidade verificada por meio de ponto manual

ofende os princípios constitucionais da impessoalidade e da eficiência, além dos

princípios da razoabilidade e da máxima efetividade dos direitos fundamentais

sociais, implícitos na Constituição Federal.

55. Tais princípios são vetores da conduta administrativa, conferem

legitimidade às suas decisões e propugnam pela higidez do sistema de gestão

estatal, de modo que devem, sim, ser observados na consolidação dos mecanismos

de controle da jornada dos profissionais vinculados ao SUS, como veremos a seguir.

16

Page 17: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

2. DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

56. Conforme já citado, o Ministério da Saúde estabeleceu, por meio da

Portaria nº 2.571/2012, o uso do ponto eletrônico para registro da frequência dos

servidores públicos lotados e em exercício nos órgãos do referido Ministério em todo

o território nacional.

57. Ao editar-se esse instrumento normativo, houve a vinculação dos

administradores de todos os entes federados integrantes do sistema para seguirem o

modelo por ele adotado, estipulando uma política de eficiência na fiscalização dos

horários dos profissionais do SUS, seguindo os ditames da valorização da dedicação

exclusiva ao SUS (art. 27, IV, da Lei nº 8.080/90), bem como da atuação coordenada

e harmônica entre os entes federados.

58. Eventuais alegações quanto à ausência de recursos para custear a

aquisição do equipamento do ponto eletrônico não justificam o descumprimento dos

preceitos normativos, com destaque para a Portaria nº 587/2015, que, ao revogar a

Portaria nº 2.571/2012 e redefinir as regras do controle eletrônico de frequência para

registro de assiduidade e pontualidade dos servidores públicos lotados e em exercício

nos órgãos do Ministério da Saúde, incisivamente determina a imediata instalação do

dispositivo biométrico:

“PRT GM/MS 587/2015Art. 2º. O controle eletrônico de frequência será realizado por meio doSistema de Registro Eletrônico de Frequência (SIREF), medianteidentificação biométrica.§ 1º O controle eletrônico de frequência será aplicado em todos osórgãos do Ministério da Saúde em território nacional.§ 2º O SIREF é o sistema informatizado por meio do qual seráprocessado o controle de frequência dos servidores do Ministério daSaúde.”

17

Page 18: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

59. Ratificando o entendimento ora explanado, merece destaque a

exposição doutrinária mais abalizada. Nesse sentido:

“(…) Por mais que os poderes públicos como destinatários precípuosde um direito à saúde, venham a opor – além da já clássica alegaçãode que o direito à saúde (a exemplo dos direitos sociais prestacionaisem geral) foi positivado como norma de eficácia limitada – os habituaisargumentos das ausências de recursos e da incompetência dosórgãos judiciários para decidirem sobre a alocação e destinação derecursos públicos, não nos parece que esta solução possa prevalecer,ainda mais nas hipóteses em que está em jogo a preservação do bemmaior da vida humana. O que se pretende realçar, por ora, é que,principalmente no caso do direito à saúde, o reconhecimento de umdireito originário a prestações, no sentido de um direito subjetivo(individual ou mesmo coletivo, a depender do caso) a prestaçõesmateriais (ainda que limitadas ao estritamente necessário para apreservação da vida humana), diretamente deduzido do texto daConstituição, constitui exigência inarredável da própria condição dodireito à saúde como direito fundamental, ou seja, como trunfo contraa maioria.”(SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme;)

60. A violação de disposições legais, seja de âmbito constitucional, legal ou

infralegal, é prática que deve ser rechaçada, já que incompatível com a própria noção

de ordem no sistema público, capaz de lesar o princípio da legalidade.

3. DO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

61. Atento à necessidade de conferir direitos aos usuários dos diversos

serviços prestados pela Administração ou por seus delegados e estabelecer

obrigações efetivas aos prestadores, o constituinte reformador, por meio da EC nº

19/98, acrescentou ao caput do art. 37 o princípio da eficiência9.

9. No esteio de tal princípio, o Decreto nº 1.867, de 17 de abril de 1996, dispõe sobre osinstrumentos de registro de assiduidade e pontualidade dos servidores públicos federaisda Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional. Neste diplomaNormativo, há a expressa menção da obrigatoriedade do controle de frequência por meioeletrônico. Observe-se seu art. 1º: “O registro de assiduidade e pontualidade dosservidores públicos federais da Administração Pública Federal direta, autárquica e

18

Page 19: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

62. Assim, é dever constitucional de todos os agentes públicos fazer o

melhor uso possível de sua competência, ou seja, o maior número de atividades no

interesse público com o menor empenho de recursos possível.

63. O Município de Montes de Claros de Goiás, pelo que até então

apurado, não implementou controle adequado do cumprimento da jornada de trabalho

dos profissionais de saúde, não obstante o seu controle efeito proporcione melhor

resultado na qualidade do serviço ofertado à população ao tempo em que possibilita o

uso mais adequado de recursos humanos disponíveis.

64. A partir do momento em que não há mecanismos aptos a aferir com

presteza o cumprimento da jornada semanal e diária dos servidores públicos, tem-se,

portanto, prejudicada a qualidade dos serviços prestados à população, em total

afronta ao princípio da eficiência.

65. A Administração Pública não pode estar isenta à evolução tecnológica

contemporânea, sob pena de, ante a discrepância entre os mecanismos de gerência

utilizados pelo Estado e o desenvolvimento da sociedade, deixar de cumprir o

mandamento da eficiência e, no caso em concreto, subjugar-se a interesses

corporativos e privados.

66. Assim, é importante destacar que, mesmo que se entendesse que há

discricionariedade no estabelecimento do ponto eletrônico por parte da administração

municipal, ela deixou de existir na exata medida da sua ineficiência.

67. Quando constatado, como se viu acima, que essa liberdade do

administrador tem sido utilizada em evidente prejuízo ao efetivo cumprimento das

obrigações dos servidores e em detrimento da comunidade local, adentra-se em

fundacional será realizado mediante controle eletrônico de frequência”.

19

Page 20: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

desrespeito à própria constitucionalidade do ato por ferir frontalmente o princípio da

eficiência.

4. DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

68. O princípio da razoabilidade refere-se à adequação da conduta diante

de padrões racionais de comportamento, levando-se em consideração a finalidade

para a qual foi outorgada a competência do agente público.

69. No dizer de Maria Sylvia Zanella di Pietro (15ª ed., p. 80/81), “trata-se

de mecanismo de controle dos atos discricionários do administrador público,

ampliando-se o âmbito de apreciação do ato administrativo pelo Poder Judiciário”.

70. Eis que, em atenção ao primado difundido pelo princípio da

razoabilidade, forçoso concluir que a inércia dos gestores municipais em adquirir e

por em funcionamento os instrumentos de controle biométrico de frequência, uma vez

interpretada como verdadeira negativa ao desiderato perseguido pela lei, não encontra

resguardo em qualquer princípio orientador do sistema jurídico, indo de encontro ao

primado da razoabilidade.

5. DO PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE DOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS SOCIAIS

71. O princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais consiste

em atribuir, na interpretação das normas protetivas de tais direitos, o sentido de maior

eficácia, utilizando todas as suas potencialidades.

72. Em situações concretas, o intérprete deve fazer uma interpretação

expansiva de tais normas, de forma a lhes conferir uma maior eficácia, tornando-as

mais densas e fortalecidas.

20

Page 21: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

73. Tendo a saúde sido alçada pela Constituição Federal a direito social de

todos, dúvida não há que a Administração deve, sempre, adotar a conduta que melhor

garanta tal direito à população. Relativizar a importância desse direito social é, em

verdade, desconsiderar a magnitude do direito à vida, que, independentemente de

previsão constitucional, é premissa inerente ao jus naturalis.

74. Logo, é imperioso que todos os Poderes, em especial o Executivo –

haja vista sua atividade típica de administrar e executar – ponham em prática os

preceitos programáticos previstos na Constituição, de forma imediata e mediata,

como é o caso da instalação de pontos eletrônicos de frequência, adotando, assim, a

conduta que melhor garanta o direito à saúde para toda a população.

6. DO DIREITO À INFORMAÇÃO

75. A Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXIII e XXXIV, elevou a direito

fundamental o direito à informação, da seguinte forma:

“Art. 5º. (…)XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informaçõesde seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, queserão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança dasociedade e do Estado;

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamentode taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos oucontra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa dedireitos e esclarecimento de situação de interesse pessoal;”

76. Também restou assentado no art. 37, § 3º, II, da Lei Maior que todos os

21

Page 22: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

usuários dos serviços públicos, sejam esses desempenhados pela Administração

Pública direta ou indireta, gozam do direito de obter informações e ter acesso

especial aos registros administrativos que retratem o desempenho dessas funções.

77. A União, com o objetivo de regular tais dispositivos, editou a Lei nº

12.527, de 18 de novembro de 2011, dispondo sobre os procedimentos a serem

observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir

o acesso a informações acima previsto. Com efeito, tal diploma legal prevê, em seu

artigo 11, que “o órgão ou a entidade pública deve autorizar ou conceder o

acesso imediato à informação disponível”.

78. Quando o cidadão busca o serviço público de saúde e tem atendimento

negado, tal negativa ordinariamente é transmitida por atendentes do SUS de forma

verbal e lacônica, sem esclarecimentos quanto às razões da negativa, do prazo de

agendamento do atendimento solicitado, do tempo de espera para serviços de

urgência e emergência, da previsão de contratação da especialidade médica

requerida ou apresentação de justificativas para o indeferimento de exames, entrega

de medicamentos prescritos e outras ocorrências.

79. A ausência de fornecimento de informações escritas acerca dos

motivos da recusa do atendimento, quando solicitadas pelos usuários, constitui

violação à Lei de Acesso à Informação e inviabiliza a aferição da legalidade das

decisões dos prestadores de serviços do SUS, bem como eventual adoção de

providências corretivas pelos órgãos de controle e do próprio Poder Judiciário.

80. Por outro lado, o seu art. 7º da Lei 12.527/2011 afirma que o acesso à

informação compreende “informação contida em registros ou documentos,

produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a

arquivos públicos”, bem como “informação sobre atividade exercida pelos órgãos e

entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviço”.

22

Page 23: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

81. O art. 198, III, da CF/88 erige como diretriz do SUS a participação da

comunidade.

82. Na mesma linha, o art. 7º da Lei nº 8.080/90, em seus incisos VI e VIII,

estatui como princípios do SUS a “divulgação de informações quanto ao

potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelos usuários” e a

“participação da comunidade”.

83. Assim, como dito anteriormente, a atitude da Administração de não

publicar clara e precisamente informações como os nomes de todos os médicos e

odontólogos em exercício nas unidades, bem como sua especialidade e o horário de

início e de término da jornada de trabalho de cada um deles nas unidades de saúde e

na internet, assim como de obstar o acesso ao registro de frequência dos

profissionais por qualquer cidadão torna impossível a fiscalização dos usuários

quanto à regularidade da prestação dos serviços públicos.

VI - DA NECESSIDADE DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

84. O novo Código de Processo Civil, no seu artigo 311, incisos I ao IV,

institui a tutela de evidência, a qual será concedida, entre outras hipóteses,

independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil

do processo, quando, dentre outras hipóteses, a petição inicial for instruída com

prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu

não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável10.

10. “Artigo 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente dademonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatórioda parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houvertese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada docontrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto

23

Page 24: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

85. Repise-se, outrossim: “O legislador procurou caracterizar a evidência

do direito postulado em juízo capaz de justificar a prestação de “tutela provisória” a

partir das quatro situações arroladas no artigo 311, CPC. O denominador comum

capaz das de amalgamá-las é a noção de defesa inconsistente. A tutela pode ser

antecipada porque a defesa articulada pelo réu é inconsistente ou provavelmente o

será.”11

86. A inovação legal veio, pois, em boa hora, uma vez que distribuiu o ônus

do tempo do processo entre as partes, fazendo com que o litigante que não tenha

razão suporte o fardo da duração do processo. Noutras palavras, o objetivo da tutela

de evidência: “é distribuir o ônus que advém do tempo necessário para transcurso

de um processo e a concessão de tutela definitiva. Isso é feito mediante a

concessão de uma tutela imediata e provisória para a parte que revela o elevado

grau de reprovabilidade de suas alegações (devidamente provadas), em detrimento

da parte adversa e a improbabilidade de êxito em sua resistência – mesmo após

instrução processual”. 12

87. Eis o caso concreto. Esta petição inicial acha-se instruída com

substancial prova documental que revela a flagrante violação das normas aludidas

nos tópicos retro. Não existindo nenhuma contraposição hábil a ser oposta pelo réu

para se escusar do descumprimento dos seus deveres poderes pertinentes ao

resguardo do serviço de educação, aos demais direitos fundamentais envolvidos e

guarda e zelo pelo patrimônio público.

custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivosdo direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente. “11. LUIZ GUILHERME MARI NONI, SÉRGIO CRUZ ARENHART, DANIEL MITIDI ERO. Novo Código de Processo Civil Comentado, Editora Revista dos Tribunais, 2015 , página 322. 12. FREDIE DIDIER JR, PAULA SARNO BRAGA, RAFAEL ALEXANDRIA OLIVEIRA.Curso de Direito Processual Civil, Volume 2, Editora Jus Podivm, 10ª Edição, 2015,página 618.

24

Page 25: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

88. Destarte, consubstanciam técnicas processuais à disposição das

pretensões de direito material desta demanda aquelas instituídas pelo novo Código de

Processo Civil, artigo 311, inciso IV, integradas sistemicamente, para defesa de

direitos e interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos, à Lei federal nº

7.347/85, artigos 11, 12, caput, §§ 1º e 2º, 19 e 21, e à Lei federal nº 8.078/90,

artigos 81, parágrafo único, incisos I, II e III, 82, inciso I, 84, caput, §§ 3º, 4º e 5º, e

90. Referidas técnicas processuais são aptas a justificar, no caso específico, a

antecipação da tutela jurisdicional, com suporte na evidência.

89. Considerando-se a alta probabilidade de solução amigável da demanda,

seja em razão da justeza da pretensão deduzida, seja pela dificuldade que a parte Ré

encontrará para obstaculizar tal pretensão, entendemos adequado no presente caso

que a apreciação do pedido de tutela antecipada seja postergada para após a

audiência de conciliação.

VII - DOS PEDIDOS

Em face do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer a

Vossa Excelência:

1) o recebimento desta petição inicial, junto com os autos digitais do

procedimento administrativo que a acompanham e a designação de

audiência de conciliação nos termos do artigo 334 do CPC;

2) a citação do Réu, na pessoa de seu representante legal, para,

querendo, apresentar defesa, no prazo e na forma da lei, sob pena de

revelia;

25

Page 26: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

3) a intimação da União, a fim de que se manifeste sobre o interesse

de integrar o polo ativo da presente ação (art. 5º, § 2º, da Lei nº

7.347/85), tendo em vista a ofensa a bens e interesses do ente público

federal;

Pedido de antecipação de tutela de evidência

4) com fulcro no artigo 311, IV, do Código de Processo Civil, requer ao

douto Juízo que determine ao Município de Montes Claros/GO a

adoção das medidas administrativas bastantes à implementação de

instrumentos minimamente eficientes de controle interno e social do

cumprimento da carga horária de trabalho, pelos servidores lotados nos

estabelecimentos públicos de saúde municipais, especialmente através

das seguintes providências:

4.1) no prazo de 60 (sessenta) dias, a implantação de registro

eletrônico de frequência (biométrico) para todos os servidores públicos

vinculados ao Sistema Único de Saúde, inclusive médicos e

odontólogos, bem como sistema de responsabilização dos servidores

que não cumprirem a jornada de trabalho devida;

4.2) no prazo de 30 (trinta) dias, a disponibilização em seu sítio na rede

mundial de computadores, de informações sobre o local e horário de

atendimento dos médicos e odontólogos que ocupem cargos públicos

vinculados de qualquer modo ao SUS;

4.3) no prazo de 30 (trinta) dias, a disponibilização, para consulta de

qualquer cidadão, do registro de frequência dos profissionais que

ocupam cargos públicos vinculados, de qualquer modo, ao Sistema

Único de Saúde;

26

Page 27: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

4.4) no prazo de 30 (trinta) dias, a instalação, em local visível das salas

de recepção de todas as unidades públicas de saúde, inclusive

hospitais públicos, unidades de pronto atendimento, postos de saúde,

postos do Programa “Saúde da Família” e outras eventualmente

existentes, de quadros que informem ao usuário, de forma clara e

objetiva, o nome de todos os médicos e odontólogos em exercício na

unidade naquele dia, sua especialidade e o horário de início e término

da jornada de trabalho de cada um deles, bem assim que o registro de

frequência dos profissionais estará disponível para consulta de

qualquer cidadão;

4.5) no prazo de 30 (trinta) dias, o fornecimento a todos os usuários do

Sistema Único de Saúde não atendidos no serviço de saúde solicitado,

de certidão ou documento equivalente em que constem, no mínimo:

nome do usuário, unidade de saúde, data, hora e motivo da recusa de

atendimento, sempre que assim solicitarem;

5) a fixação de multa no caso de mora ou descumprimento das futuras

ordens judiciais, de forma pessoal ao Prefeito do Município, valendo-se

do disposto no art. 11 da Lei nº 7.347/85 c/c art. 537 do CPC;

Pedido de julgamento definitivo

Já em sede de tutela exauriente, o Parquet Federal requer:

6) a confirmação da tutela antecipada acima pleiteada e a procedência

da presente ação, condenando-se o Município de Montes Claros de

nas obrigações de fazer elencadas nos pedidos 4.1, 4.2, 4.3 4.4 e 4.5;

27

Page 28: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA …mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not2255-ACP-Montes Claros.pdf · Ministério Público Federal – Procuradoria da República

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE GOIÁS

7) o recolhimento das multas ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos

– FDD, criado pela Lei n. 7.347/85 e regulamentado pela Lei n.

9.008/95;

Protesta o Ministério Público Federal, outrossim, pela produção de

todos os meios de prova admissíveis pelo direito e dá à causa o valor simbólico de

R$ 1.000,00 (mil reais), por se tratar de direito difuso de valor inestimável.

Termos em que,

Pede deferimento.

Goiânia, 16 de maio de 2018.

MARCELLO SANTIAGO WOLFF

Procurador da República

28