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O QUE DEVE SER FEITO

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  • O QUE DEVE SER FEITO

  • Hans-Hermann Hoppe

    1 Edio

    Mises Brasil2013

    O QUE DEVE SER FEITO

  • [Palestra dada na conferncia A falncia da poltica americana, realizada pelo Instituto Mises em Newport Beach, Califrnia; dias 24 e 25 janeiro de 1997.]

    Ttulo original em ingls What Must Be Bone

    Ttulo O que deve ser feito

    Autor Hans-Hermann Hoppe

    Esta obra foi editada por:Instituto Ludwig Von Mises Brasil

    Rua Iguatemi, 448, conj. 405 Itaim BibiSo Paulo SP

    Tel: (11) 3704-3782

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    ISBN: 978-85-8119-069-3

    1 Edio

    Traduo Fernando Fiori Chiocca

    RevisoTatiana Villas Boas Gabbi

    CapaNeuen Design

    Imagem da CapaSolovyova Lyudmyla /Shutterstock

    Sky Designs / Shutterstock HAKKI ARSLAN / Shutterstock

    Projeto grficoEstdio Zebra

    Ficha Catalogrfica elaborada pelo bibliotecrioPedro Anizio Gomes CRB/8 8846

    ISBN: 978-85-8119-069-3

  • 5[Palestra dada na conferncia A falncia da poltica americana, realizada pelo Instituto Mises em Newport Beach, Califrnia; dias 24 e 25 janeiro de 1997.]

    Ttulo original em ingls What Must Be Bone

    Ttulo O que deve ser feito

    Autor Hans-Hermann Hoppe

    Esta obra foi editada por:Instituto Ludwig Von Mises Brasil

    Rua Iguatemi, 448, conj. 405 Itaim BibiSo Paulo SP

    Tel: (11) 3704-3782

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    ISBN: 978-85-8119-069-3

    1 Edio

    Traduo Fernando Fiori Chiocca

    RevisoTatiana Villas Boas Gabbi

    CapaNeuen Design

    Imagem da CapaSolovyova Lyudmyla /Shutterstock

    Sky Designs / Shutterstock HAKKI ARSLAN / Shutterstock

    Projeto grficoEstdio Zebra

    Sumrio

    o que deve Ser feito ................................................................... 7

    Sociedade e cooperao ............................................................. 9

    proteo e o eStado ................................................................. 11

    a impoSSibilidade de um governo limitado ............................ 15

    monarquia vS. democracia ..................................................... 17

    condieS atuaiS ....................................................................... 21

    eStratgia: deter a doena eStatal ....................................... 25

    reforma de cima para baixo: convertendo o rei .................. 27

    o deSaparecimento daS eliteS naturaiS ................................. 35

    o papel doS intelectuaiS ......................................................... 39

    uma revoluo de baixo para cima ......................................... 43

  • 7o que deve Ser feito

    Um ttulo1 um pouco melhor seria Sociedade, estado e liberdade: a estratgia austro-libertria de revoluo social. Assim sendo, pretendo intensificar um pouco as coisas aps todas estas palestras moderadas que vocs ouviram at agora. Quero finalizar com uma recomendao estratgica mais concreta, mas para que possa chegar nela, primeiro necessrio diagnosticar qual o problema, caso contrrio a cura pode ser ainda pior que a doena. E este diagnstico envolve certo tipo de reconstruo sistemtica ou explicao terica da histria da humanidade.

    1 Vladimir Lenin, em 1902, intitulou um livro como Que fazer?, onde descrevia seus planos para implantar o comunismo na Rssia. Hoppe utiliza quase o mesmo ttulo para descrever seus planos de como implantar o Libertarianismo.

  • 9Sociedade e cooperao

    Permita-me comear com algumas palavras sobre a sociedade. Por que existe a sociedade? Por que as pessoas cooperam? Por que existe cooperao pacfica ao invs de guerra permanente entre os seres humanos? Os austracos, em particular os misesianos, enfatizam o fato de que no precisamos admitir a existncia de coisas como empatia ou amor entre as pessoas para explicar isto. Interesse prprio ou seja, preferir mais ao invs de menos totalmente suficiente para explicar este fenmeno de cooperao. Os homens cooperam porque so capazes de reconhecer que a produo sob a diviso do trabalho mais produtiva do que no isolamento autossuficiente. Apenas imagine se no mais tivssemos a diviso do trabalho, e voc imediatamente consegue perceber que nos tornaramos extremamente pobres e a maior parte da humanidade iria imediatamente se extinguir.

    Por enquanto, repare apenas na importncia de um ponto, e eu o retomarei depois. O que essa explanao implica e o que ela no implica: No implica logicamente que sempre e sem nenhuma exceo ou perturbaes, haver apenas paz entre os homens. Sempre h ladres e assassinos por a, e todas as sociedades tero que lidar de alguma forma com estes tipos. Porm, o que ela implica, de fato, que a descrio hobbesiana do surgimento da cooperao pacfica fundamentalmente mal concebida.

    Thomas Hobbes assumiu que as pessoas estariam se esgoelando permanentemente se no fosse por uma terceira parte independente e esta o estado, claro para trazer paz entre elas. Neste ponto, percebe-se imediatamente que tipo curioso de construo esta. Assume-se que as

  • 10 Hans-Hermann Hoppe

    pessoas so lobos maus, e que podem ser transformadas em ovelhas caso um terceiro lobo se torne o soberano. Se esta terceira parte tambm um lobo, como obviamente ela deve ser, ento mesmo se ela trouxer paz entre dois indivduos, isto obviamente implica que haveria uma guerra permanente entre o lobo governante e os dois lobos que agora esto cooperando pacificamente entre si.

    O que isto implica algo de grande importncia. No precisa haver nenhum estado, ou no precisa haver nenhuma terceira parte independente, para que haja cooperao entre dois indivduos. Coisa que voc pode perceber imediatamente apenas olhando, por exemplo, para o cenrio internacional. No existe algo como um governo mundial ao menos por enquanto e ainda assim, pessoas de pases diferentes ainda cooperam pacificamente entre si. Ou, mesmo a partir do mais catico ambiente social, a cooperao sempre emerge novamente.

    O que isto quer dizer simplesmente que a cooperao pacfica entre seres humanos um fenmeno perfeitamente natural e que ressurge constantemente; e ento, a partir desta cooperao, igualmente de forma natural e igualmente motivada pelo interesse prprio, surge a formao de capital, e o dinheiro o meio de troca , e ento a diviso do trabalho acaba por se espalhar por todo o mundo, e do mesmo modo o dinheiro o dinheiro mercadoria tambm se torna um dinheiro mercadoria usado por todo o mundo. Os padres de vida em termos materiais se elevam de forma geral para todos, e estabelecida sobre padres de vida materiais mais altos, uma superestrutura ainda mais elaborada de bens no materiais, isto , a civilizao cincia, artes, literatura etc. pode ser desenvolvida e mantida.

  • 11

    proteo e o eStado

    Mas pode acontecer algo e obviamente este algo aconteceu que rompa e distora ou at sabote este desenvolvimento normal, impulsionado pelo interesse prprio. E este algo, certamente, o estado, o qual eu irei definir inicialmente como um monopolista territorial de proteo financiado compulsoriamente. Ou seja, um monopolista da defesa e do fornecimento e aplicao da lei e da ordem.

    Mas como que o estado surge? Embora a resposta seja geralmente e eu acredito que intencionalmente confusa, deve ser esclarecido logo de cara que a lei e a ordem, ou a proteo da propriedade e a lei estatal, e a ordem estatal e a proteo estatal no so uma nica e mesma coisa; elas no so coisas idnticas. Assim como a propriedade e a cooperao social baseada na diviso do trabalho so naturais, tambm o desejo humano de ter sua propriedade protegida contra desastres naturais ou sociais como crimes um desejo completamente natural. E a fim de satisfazer este desejo, existe acima de tudo a defesa prpria. Preveno, seguro (individual ou cooperativo), vigilncia, autodefesa e punio.

    E que no reste absolutamente nenhuma dvida sobre a eficcia de um sistema de proteo baseado na disposio que as pessoas tm de se defenderem. Foi assim que a lei e a ordem foram mantidas pela maior parte da histria da humanidade. Em cada vila, mesmo nos dias de hoje, a lei e a ordem so mantidas basicamente desta forma. No Velho Oeste americano o qual no pode ser considerado exatamente selvagem quando comparado com a situao atual esta era a forma que a lei e a ordem eram mantidas, por pessoas propensas a se defenderem.

  • 12 Hans-Hermann Hoppe

    Alm disso, a diviso do trabalho ir ento naturalmente afetar a produo da segurana e os servios de segurana. Quanto mais aumenta o padro de vida, mais as pessoas iro, alm de contarem com as medidas de defesa-prpria, tambm querer participar das vantagens da diviso do trabalho, e buscar por proteo se vinculando a um protetor especializado, a fornecedores de lei e ordem, justia e proteo. E naturalmente, todas as pessoas iro procurar para desempenhar esta tarefa pessoas ou instituies que tambm tenham algo delas prprias a ser protegido que possuam os meios para assegurar proteo eficaz e possuam uma reputao de serem juzes justos e imparciais. Em toda sociedade que tenha passado de um grau mnimo de complexidade, ir rapidamente emergir indivduos especficos, que por possurem propriedades para defender, por terem uma boa reputao etc., iro assumir o papel de juzes, reconciliadores e protetores. E novamente, toda e qualquer vila at os dias de hoje, cada pequena comunidade, e mesmo o Velho Oeste, ilustram a validade desta concluso.

    Tambm possvel haver proteo sem um estado. Isto deveria ser totalmente bvio, mas em uma era de confuso e ofuscao estatista, se faz cada vez mais necessrio enfatizar esta percepo elementar e, ainda assim, como veremos a seguir, muito perigosa. O passo decisivo que desviou a histria da humanidade de seu curso natural o pecado original da raa humana, por assim dizer ocorre com a monopolizao do fornecimento de proteo, defesa, segurana e ordem: a monopolizao destas tarefas por apenas um dos numerosos protetores iniciais, com a excluso de todos os outros. Um monoplio de proteo passa a existir assim que uma nica agncia ou uma nica pessoa pode efetivamente exigir que todas as pessoas de um determinado territrio devam se dirigir exclusivamente a ela para receber justia e proteo. Ou seja, que ningum

  • 13Proteo e o estado

    possa depender exclusivamente ou apenas da autodefesa, ou associar-se a alguma outra pessoa para receber proteo. Uma vez que este monoplio obtido, ento o financiamento deste protetor no mais totalmente voluntrio, mas em parte se torna compulsrio.

    E, conforme previsto pela economia austraca convencional, uma vez que deixe de existir a livre entrada no segmento de proteo de propriedade ou em qualquer outro segmento que seja o preo da proteo ir subir, e a qualidade da proteo ir cair. O monopolista se tornar cada vez menos um protetor de nossa propriedade, e cada vez mais uma mfia, ou mesmo um explorador sistemtico dos proprietrios. Ele se tornar um agressor e um destruidor das pessoas e de suas propriedades, que ele inicialmente deveria proteger.

    Agora o que facilmente descrito em termos abstratos (monoplio) consiste na prtica de uma tarefa meticulosa e demorada. Como algum pode se safar ao barrar da competio todos os outros protetores? E por que as pessoas e, em especial, os outros potenciais reconciliadores e juzes excludos, permitiriam que uma coisa dessas acontecesse, que um indivduo monopolizasse este servio? A resposta sobre a origem do estado deveras complicada em seus detalhes, mas em termos gerais muito simples de ser identificada.

    Em primeiro lugar, todo estado, ou seja, toda agncia de proteo monopolista, deve comear, ou s pode se originar, em um territrio extremamente pequeno, como uma vila. praticamente inconcebvel que um estado mundial, ou um monoplio de proteo abrangendo toda a populao do mundo possa vir a existir do zero.

    A segunda coisa que devemos levar em conta que no qualquer um que consegue chegar sequer a um monoplio

  • 14 Hans-Hermann Hoppe

    de proteo local. De preferncia, os monopolistas de proteo local so inicialmente membros da elite social natural. Ou seja, eles so inicialmente membros realizados e conhecidos pela sociedade. Eles tambm eram, antes de alcanarem a posio de um monopolista, previamente escolhidos voluntariamente como protetores. Somente como elites bem estabelecidas e reconhecidas, cuja autoridade seja essencialmente voluntria, se torna possvel para eles darem o passo decisivo em direo monopolizao e se safarem com isso.

    Isto que dizer que todo governo ou estado local inicial se origina na forma de nobreza pessoal ou privada ou na forma de domnio principesco. Ningum iria confiar a manuteno da lei, ordem e justia a qualquer um, ainda mais se esta pessoa ou agncia possusse um monoplio para esta tarefa especfica. Ao invs disso, as pessoas obviamente iriam buscar proteo com algum conhecido, e conhecido por ser uma pessoa sbia, e somente uma pessoa assim, um nobre ou um aristocrata, conseguiria adquirir uma posio monopolista inicialmente.

    Historicamente, por sinal, se olharmos a histria moderna ou antiga, os estados em toda parte so basicamente primeiro estados principescos, e apenas depois eles se tornam estados democrticos. E mesmo sendo verdade que os estados devam comear apenas localmente, e geralmente como estados principescos, ainda assim centenas de anos se passaram at que qualquer coisa semelhante ao estado moderno passasse a existir.

  • 15

    a impoSSibilidade de um governo limitado

    Nessas circunstncias, assim que o monoplio de proteo esteja instaurado, uma lgica prpria desencadeada. Todo monopolista tira vantagem de sua posio. O preo da proteo ir aumentar, e, o que mais importante, o contedo da lei isto , a qualidade do produto ser alterado em benefcio do monopolista e custa dos outros. A justia ser pervertida, e o protetor se torna cada vez mais um explorador e um expropriador. Mais especificamente, como resultado da monopolizao territorial da proteo, duas tendncias so geradas. Primeiro, uma tendncia em direo extensificao da explorao, e segundo, uma tendncia em direo intensificao da explorao.

    Originalmente instituies locais, os estados possuem uma tendncia inerente, estimulada pelo interesse prprio, de querer mais rendimentos ao invs de menos em direo expanso territorial. Quanto mais sditos um estado protege ou melhor, explora melhor para ele. A competio entre estados isto , monopolistas territoriais uma competio eliminatria: ou sou eu o monopolista do roubo ou voc o monopolista do roubo.

    Alm disso, existindo inmeros estados, as pessoas podem facilmente se mudar. No entanto, uma perda de populao um problema incmodo do ponto de vista do estado. Portanto, estados quase que automaticamente entram em conflito uns com os outros, e uma maneira de se resolver este conflito, do ponto de vista estatista, com a expanso territorial: ou atravs de guerra ou de

  • 16 Hans-Hermann Hoppe

    casamento entre cortes, e s vezes por compra direta. Em ltima instncia, esta tendncia s iria cessar com o estabelecimento de um nico estado mundial.

    A segunda tendncia a intensificao da explorao. Extensificar a explorao assaltando as pessoas de um monoplio estatal, implica por si s uma intensificao, porque quanto menor o nmero de estados concorrentes isto , quanto maior o territrio do estado fica menores so as oportunidades de se votar com os prprios ps, ou seja, migrar. E sob o cenrio de um estado mundial, aonde quer que uma pessoa v, a estrutura de impostos e regulamentaes a mesma. Ou seja, com a ameaa de imigrao eliminada, a explorao monopolstica ir naturalmente aumentar quer dizer, o preo da proteo subir e a qualidade cair.

  • 17

    monarquia vS. democracia

    Todavia, mesmo sem considerar tudo isto, to logo um monoplio de proteo passe a existir, qualquer que seja o tamanho do territrio, o monopolista tentar intensificar sua explorao e aumentar seu rendimento e riqueza o mximo possvel custa dos sditos protegidos. Enquanto o monoplio estiver nas mos de uma nica pessoa, como um prncipe ou um rei, e principalmente quando ele for um monoplio hereditrio, ento ser do interesse do monopolista porque ele possui o monoplio e o seu valor capitalizado preservar o valor de sua propriedade. Ele ir explorar pouco hoje para que possa explorar mais amanh.

    A resistncia popular contra a expanso do poder do estado ser muito grande se existir uma nica pessoa no comando, pois obviamente no existe nenhuma livre entrada no aparato estatal, e os benefcios do monoplio convergem para um nico homem e sua famlia estendida isto , a nobreza hereditria. Consequentemente, a vigilncia e o ressentimento pblico so intensificados, e tentativas de aumentar a explorao encontram rpidas e graves limitaes. O povo odiava o rei, pois sabem que ele o governante e ns somos governados por ele.

    Como era de se esperar, um grande avano no desejo estatal de intensificar a explorao ocorreu somente em conjunto com a reforma do estado ao longo de sculos passando de um estado principesco para um democrtico. Sob a democracia majoritria moderna ou seja, o tipo de estado que veio se concretizar ao redor do mundo aps a Primeira Guerra Mundial o monoplio e a explorao no desaparecem. A democracia majoritria no um sistema de autogoverno e autodefesa. Estado e povo no

  • 18 Hans-Hermann Hoppe

    so uma nica e mesma coisa. Com a substituio por um parlamento e presidentes eleitos no lugar de um prncipe ou rei no eleitos, a proteo permanece um monoplio do mesmo modo que era antes. O que ocorre apenas isso: o monoplio territorial de proteo agora se torna propriedade pblica ao invs de privada. Ao invs de um prncipe que o considera sua propriedade privada, um zelador temporrio e efmero colocado no comando do esquema mafioso de extorso. O zelador no o dono da mfia. Ao invs disso, apenas se permite que ele use os recursos atuais para sua prpria vantagem. Ele o dono do usufruto, mas ele no o dono do valor do capital agregado. Isto no elimina a tendncia, estimulada pelo interesse prprio, de aumentar a explorao. Ao contrrio, isto apenas torna a explorao menos racional e menos calculada, e mais imediatista e mais destrutiva.

    Alm disso, devido ao fato de que a entrada em um governo democrtico livre todo mundo pode se tornar presidente a resistncia contra as invases de propriedade perpetradas pelo estado reduzida. Isto leva ao mesmo resultado: progressivamente sob condies democrticas, os piores chegam ao topo do comando do estado em livre competio. A competio no sempre algo bom. A competio para ver quem se torna o mais sagaz agressor da propriedade privada no para ser louvada. E isto precisamente ao que a democracia equivale.

    Prncipes e reis eram soberanos diletantes, e normalmente eram dotados de uma boa dose da educao proveniente de uma criao de elite natural e do sistema de valores que a acompanha, de modo que frequentemente acabavam agindo simplesmente apenas como um bom pai de famlia agiria. Por outro lado, polticos democrticos so e s podem ser demagogos profissionais, constantemente apelando mesmo para os mais bsicos

  • 19

    instintos tipicamente igualitrios medida que cada voto obviamente to bom quanto qualquer outro. E devido ao fato de que polticos publicamente eleitos jamais so responsabilizados pessoalmente por servios pblicos oficiais, eles so muito mais perigosos, do ponto de vista daqueles que querem que suas propriedades sejam protegidas e querem segurana, do que qualquer rei possa ter sido.

    Se voc combinar estas duas tendncias que mencionei, inerentes a um estado: intensificao explorao da populao domstica, e extensificao; ento voc obtm uma democracia mundial, com uma moeda de papel mundial emitida por um banco central mundial.

    Monarquia Vs. Democracia

  • 21

    condieS atuaiS

    Neste ponto, vou apenas fazer uma reflexo. Aqui estamos ns, no fim do sculo XX, mais perto do que nunca do estgio final de um nico estado mundial, ao menos o mais prximo do que j se chegou antes, em toda histria. Os Estados Unidos so a nica superpotncia e a principal polcia mundial. Ao mesmo tempo, a democracia se tornou praticamente universal, e a maior potncia mundial, os Estados Unidos, a maior liderana mundial na defesa da democracia.

    Alguns neoconservadores, como Francis Fukuyama, salientaram que este deve ser o fim da histria. Uma democracia mundial est praticamente consolidada. No entanto, do ponto de vista austro-libertrio, a questo vista de uma forma bem diferente. Sob a democracia altamente centralizada, ou podemos dizer domnio de uma mfia altamente centralizada, a segurana da propriedade privada praticamente desapareceu por completo. O preo da proteo enorme, e a qualidade da justia fornecida tem constantemente caminhado ladeira abaixo. Ela se deteriorou ao ponto em que a ideia de leis de justia imutveis, ou a lei natural, desapareceu quase totalmente da conscincia do povo. Considera-se que a lei no nada alm daquela feita pelo estado lei positiva. A lei e a justia so aquilo que o estado diz que so. Ainda existe propriedade privada no nome, mas na prtica os donos de propriedade privada foram quase que completamente expropriados. Ao invs de proteger as pessoas de invasores e invases de suas pessoas e propriedades, o estado tem cada vez mais desarmado seu prprio povo e o privado de seu mais elementar direito de autodefesa.

  • 22 Hans-Hermann Hoppe

    Alm disso, os donos de propriedade privada no so mais livres para aceitar ou excluir outras pessoas de suas propriedades como acharem melhor. Este o direito de incluir, se voc quiser, ou expulsar se voc quiser, e um componente fundamental da propriedade privada. E isto confere um mecanismo de defesa; um mtodo contra a invaso voc poder colocar pessoas para fora de sua propriedade. Porm, este direito de expulsar pessoas de sua propriedade, especialmente de propriedades comerciais, foi inteiramente retirado de voc. E sem este direito e hoje em dia ningum pode contratar ou demitir, comprar ou vender, aceitar ou expulsar de sua propriedade como quiser junto com tudo isso, tambm se foi outro mtodo de defesa contra invases.

    O estado, que supostamente deveria nos proteger, na verdade nos deixou completamente indefesos. Ele rouba mais da metade dos rendimentos de seus sditos, para distribuir de acordo com o sentimento pblico, e no de acordo com princpios de justia. Ele sujeita nossa propriedade a milhares de regulamentaes arbitrrias e invasivas. No podemos mais contratar e demitir livremente qualquer pessoa que quisermos, por qualquer razo que julgarmos boa ou necessria. No podemos comprar ou vender o que quisermos, de quem ou para quem quisermos, e aonde quisermos. No podemos determinar livremente os preos que queremos cobrar, no podemos nos associar e desassociar, interromper relaes com qualquer pessoa que quisermos, ou que no quisermos.

    Ao invs de nos proteger, portanto, o estado nos entregou e entregou nossas propriedades turba e aos seus instintos. Ao invs de nos preservar, ele nos empobrece, ele destri nossas famlias, organizaes locais, fundaes privadas, clubes e associaes, ao atra-los cada vez mais

  • 23

    para sua prpria rbita. E como resultado de tudo isto, o estado perverteu a noo de justia e de responsabilidade individual das pessoas, e tem alimentado e atrado um nmero cada vez maior de monstros e monstruosidades morais e econmicas.

    Condies atuais

  • 25

    eStratgia: deter a doena eStatal

    Como o estado e a doena estatista podem ser detidos? Darei incio agora s minhas consideraes estratgicas. Em primeiro lugar, trs princpios norteadores ou insights fundamentais devem ser identificados. Primeiro: que a proteo da propriedade privada e a lei, justia e a imposio da lei, so essenciais para qualquer sociedade humana. Mas no existe absolutamente nenhuma razo para que esta tarefa deva ser assumida por uma nica agncia, por um monopolista. Na verdade, o que ocorre precisamente que to logo se tenha um monopolista se encarregando desta tarefa, ele ir necessariamente destruir a justia e nos deixar indefesos contra invasores e agressores estrangeiros e domsticos.

    Ento o objetivo supremo que devemos ter sempre em mente o da desmonopolizao da proteo e da justia. Proteo, segurana, defesa, lei, ordem e arbitragem de conflitos podem e devem ser fornecidos competitivamente isto , a entrada na rea de julgamentos deve ser livre.

    Segundo, sendo um monoplio de proteo a raiz de todos os males, qualquer expanso territorial de um monoplio como este per se um mal tambm. Toda centralizao poltica deve ser rejeitada por uma questo de princpios. Por sua vez, toda tentativa de descentralizao poltica separao, secesso etc. deve ser apoiada.

    O terceiro insight bsico que um monoplio de proteo democrtico, especialmente, deve ser rejeitado como uma perversidade moral e econmica. O poder da maioria e a proteo da propriedade privada so incompatveis. A ideia

  • 26 Hans-Hermann Hoppe

    da democracia deve ser ridicularizada: ela no nada alm da dominao de uma turba posando como justia. Ser chamado de democrata deve ser considerado a pior de todas as ofensas! Isto no significa que no se pode tomar parte em polticas democrticas; mas abordarei este ponto depois.

    No entanto, deve-se usar os meios democrticos apenas com propsitos defensivos; ou seja, deve-se fazer uso de uma plataforma antidemocrtica para ser eleito por um eleitorado antidemocrtico para implementar polticas antidemocrticas isto , anti-igualitrias e pr-propriedade privada. Ou, colocando de outra forma, uma pessoa no decente por ter sido eleita democraticamente. Isto faz dela no mximo um suspeito. Apesar de uma pessoa ter sido eleita democraticamente, ela ainda pode ser uma pessoa decente e honrvel; j ouvimos falar de uma que tenha sido.

    Partindo destes princpios chegamos agora ao problema da aplicao. Apesar dos insights bsicos ou seja: proteo monopolizada, um estado, ir inevitavelmente se tornar um agressor e acarretar em vulnerabilidade; e centralizao politica e democracia so meios de extensificar e intensificar a explorao e a agresso nos darem uma noo da direo que devemos seguir para atingir nosso objetivo, eles obviamente ainda no so suficientes para definir nossas aes e nos dizer como chegar l.

    Como possvel que o objetivo de desmonopolizar a proteo e a justia seja implementado, dada a presente circunstncia de uma democracia centralizada e praticamente mundial como sendo, pelo menos temporariamente, nosso ponto de partida. Vou tentar desenvolver uma resposta a esta questo primeiro elaborando sobre como e o quanto o problema, e tambm sua soluo, mudaram no decorrer dos ltimos 150 anos ou seja, desde aproximadamente a metade do sculo XIX.

  • 27

    reforma de cima para baixo: convertendo o rei

    O problema at 1914 era comparativamente pequeno e a possvel soluo era ento comparativamente fcil; e hoje como veremos, as questes so mais difceis e a soluo muito mais complicada. Na metade do sculo XIX, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, no somente o grau de centralizao poltica era muito menor do que agora; a Guerra de Independncia Sulista ainda no havia ocorrido, e nem a Alemanha ou a Itlia existiam como estados unificados.

    Mas especialmente, a era da democracia em massa mal havia se iniciado nesta poca. Na Europa, aps a derrota de Napoleo, os pases ainda eram governados por reis e prncipes, e eleies e parlamentos desempenhavam papis secundrios e, alm disso, eram restritas a nmeros extremamente pequenos de grandes proprietrios. Similarmente, nos Estados Unidos, o governo era gerido por pequenas elites aristocrticas, e o voto era restrito por rigorosos requerimentos de propriedade. Afinal, apenas aquelas pessoas que possuem algo a ser protegido deveriam gerir aquelas agncias que desempenham a proteo.

    H 150 anos, ou mesmo h 100 anos, apenas as seguintes coisas eram essenciais para resolver o problema. Teria sido necessrio apenas forar o rei a declarar que dali em diante, todo cidado seria livre para escolher seu prprio protetor, e jurar lealdade a qualquer governo que ele quisesse. Ou seja, o rei no mais presumiria ser o protetor de algum, a menos que esta pessoa solicitasse a ele, e concordasse com o valor que o rei cobrasse por tal servio.

  • 28 Hans-Hermann Hoppe

    O que teria acontecido neste caso? O que teria acontecido se, digamos, o imperador da ustria tivesse feito tal declarao em 1900? Tentarei dar um cenrio ou rascunho resumido do que eu acho que provavelmente teria acontecido nesta situao.

    Primeiro, todo mundo, diante desta declarao, teria reassegurado seu direito irrestrito a autodefesa, e teria sido liberado para decidir se ele queria mais ou melhor proteo do que a proporcionada pela autodefesa, e se quisesse, onde e de quem adquirir esta proteo. A maioria das pessoas nesta situao indubitavelmente teria escolhido tirar proveito da diviso do trabalho, e contar, alm da autodefesa, tambm com protetores especializados.

    Segundo, na procura por protetores, praticamente todo mundo recorreria a pessoas ou agncias que possussem, ou fossem capazes de adquirir, os meios de assegurar a tarefa de proteo isto , que tivessem elas prprias um interesse no territrio a ser protegido na forma de investimentos substanciais em propriedades e que possussem uma estabelecida reputao de confiveis, prudentes, honrosos e justos.

    seguro dizer que ningum teria escolhido um parlamento eleito para desempenhar esta tarefa. Ao invs disso, quase todos teriam procurado ajuda em um ou mais destes trs locais: ou o prprio rei, que neste ponto no mais um monopolista; ou um nobre, magnata ou aristocrata regional ou local; ou mesmo uma companhia internacional de seguros em atuao.

    Obviamente, o prprio rei iria satisfazer estes requerimentos que acabei de mencionar, e muitas pessoas o teriam escolhido voluntariamente como seu protetor. Ao mesmo tempo, porm, muitas pessoas tambm iriam

  • 29

    apartar-se do rei; destas, uma grande parte provavelmente iria se voltar a vrios nobres e magnatas regionais, que seriam neste momento a nobreza natural, ao invs de hereditria. E em uma escala territorial menor estes nobres locais teriam sido capazes de oferecer as mesmas vantagens como protetores que o prprio rei seria capaz de oferecer. E esta mudana para protetores regionais teria acarretado em uma descentralizao significativa na organizao e na estrutura da indstria de segurana. E esta descentralizao teria sido apenas um reflexo dos interesses de proteo privados ou subjetivos, e estariam de acordo com eles ou seja, a tendncia de centralizao que mencionei anteriormente tambm levou a uma centralizao excessiva dos negcios de proteo.

    Por ltimo, praticamente todas as outras pessoas, especialmente nas cidades, teriam buscado proteo nas companhias de seguros comerciais, tipo as de seguro contra incndios. Seguro e proteo de propriedade privada so obviamente assuntos intimamente ligados. Melhor proteo acarreta em menores compensaes de seguro. E com seguradores entrando no mercado de proteo, rapidamente os contratos de proteo, ao invs de promessas indefinidas, teriam se tornado o produto padro pelo qual a proteo seria ofertada.

    Alm disso, em virtude da natureza do seguro, a competio e a cooperao entre vrias seguradoras protetoras promoveriam o desenvolvimento de regras universais de procedimento, evidncia, resoluo de conflito e arbitragem. Igualmente, promoveriam a homogeneizao e heterogeneizao simultneas da populao em diversas classes de indivduos com diferentes grupos de risco relativos proteo de suas propriedades, e correspondentemente, diferentes prmios de seguro de proteo. Toda a distribuio sistemtica e

    Reforma de cima para baixo: convertendo o rei

  • 30 Hans-Hermann Hoppe

    previsvel de riqueza e rendimento entre os diferentes grupos dentro da populao como existiam sob condies monopolsticas seria imediatamente eliminada. E isto logicamente promoveria a paz.

    E o que ainda mais importante, a natureza da proteo e da defesa teriam sido fundamentalmente alteradas. Sob condies monopolsticas, existe somente um protetor; sendo ele monrquico ou democrtico no faz diferena neste ponto, um governo invariavelmente concebido como um defensor e protetor de um territrio fixo e contnuo. Todavia, esta caracterstica resultado de um monoplio de proteo compulsrio. Com a abolio de um monoplio, esta caracterstica iria desaparecer imediatamente por ser extremamente anormal e at artificial. Poderia vir a existir uns poucos protetores locais que defendessem apenas um territrio contnuo. Mas tambm existiriam outros protetores, como o rei ou as agncias de seguro, cujo territrio protegido consistisse de pedaos, partes e trechos remedados descontnuos. E as fronteiras de todo governo estariam num fluxo constante. Particularmente nas cidades, no seria mais incomum dois vizinhos terem agncias de proteo diferentes, do que terem diferentes seguradoras contra incndio.

    Esta estrutura retalhada de proteo e defesa aprimora a proteo. A defesa monopolstica contnua presume que os interesses em segurana de toda a populao de determinado territrio sejam de certa forma homogneos. Isto , que todas as pessoas em um determinado territrio possuam o mesmo tipo de interesse em defesa. Porm, esta uma suposio extremamente irrealista; na verdade falsa. Na verdade, as necessidades de segurana das pessoas so altamente heterogneas. As pessoas podem simplesmente possuir propriedades em um local, ou em

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    diversos locais espalhados territorialmente, ou elas podem ser praticamente autossuficientes, ou apenas dependentes de poucas pessoas nos seus afazeres econmicos; ou, por outro lado, elas podem estar profundamente integradas no mercado e dependentes economicamente de milhares e milhares de pessoas espalhadas por enormes territrios.

    A estrutura em retalhos da indstria de segurana iria apenas refletir esta realidade de necessidades extremamente diversificadas em segurana que existe em pessoas variadas. Igualmente, esta estrutura iria por sua vez estimular o desenvolvimento de um armamento de proteo correspondente. Ao invs de produzir e desenvolver armas e instrumentos de bombardeio em larga escala, instrumentos seriam desenvolvidos para a proteo de territrios de pequena escala sem danos colaterais.

    Alm disso, porque toda redistribuio de renda e de riqueza inter-regional seria eliminada em um sistema competitivo, a estrutura retalhada tambm iria oferecer as melhores garantias de paz inter-regional. A probabilidade e as extenses de conflitos inter-regionais seriam reduzidas se houvesse retalhos. E porque todo invasor estrangeiro, por assim dizer, iria quase que instantaneamente, mesmo se ele invadisse apenas um pequeno pedao de terra, se deparar com a oposio e contra-ataques militares e econmicos vindos de vrias agncias de proteo independentes, da mesma forma, o perigo de invases estrangeiras seria reduzido.

    Indiretamente, j est claro ao menos parcialmente como e por que ficou muito mais difcil alcanar esta soluo no decorrer dos ltimos 150 anos. Deixe-me apontar algumas das mudanas fundamentais que ocorreram que tornaram todos esses problemas muito maiores. Primeiro, no mais possvel realizar as reformas

    Reforma de cima para baixo: convertendo o rei

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    de cima para baixo. Os liberais clssicos, durante a poca das antigas monarquias, poderiam ter achado, e de fato frequentemente achavam, e poderiam ter realmente acreditado em simplesmente convencer o rei de seus pontos de vista, e pedido para ele abdicar de seu poder, e todo o resto estaria automaticamente resolvido.

    Hoje em dia, o monoplio de proteo do estado considerado pblico, ao invs de propriedade privada, e o poder do governo no est mais atrelado a nenhum indivduo em particular, e sim a funes especficas, exercidas por indivduos annimos ou ocultos representados como membros de um governo democrtico. Portanto, a estratgia de converso de apenas um homem ou de poucos homens no mais se aplica. No importa se alguns membros do alto escalo do governo sejam convencidos o presidente e alguns senadores porque, dentro das regras do governo democrtico, nenhum indivduo isolado possui o poder pessoal de abdicar do monoplio governamental de proteo. Os reis tinham esse poder; o presidente no.

    O presidente pode somente renunciar, apenas para ser substitudo por outra pessoa. Mas ele no pode dissolver o monoplio de proteo do governo, porque teoricamente o povo o dono do governo, e no o prprio presidente. Ento, sob o governo democrtico, a abolio do monoplio governamental de justia e proteo requer ou que uma maioria do pblico e de seus representantes eleitos declarasse a abolio do monoplio de proteo governamental e correspondentemente de todos os impostos, ou de forma ainda mais restritiva, que literalmente ningum fosse votar e o eleitorado fosse zero. Somente neste caso poderamos dizer que o monoplio de proteo do governo foi efetivamente abolido. Mas essencialmente isso significaria que seria impossvel algum

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    dia nos livrarmos de uma perverso moral e econmica. Porque hoje em dia um fato consumado que todo mundo, incluindo a turba, toma parte da poltica, e inconcebvel que a turba iria algum dia, em sua maioria ou mesmo plenamente, renunciar ou se abster de exercer seu direito de voto, que no nada alm de exercer a oportunidade de pilhar a propriedade alheia.

    Alm do mais, mesmo se assumssemos contra todas as chances que isso possa ser alcanado, os problemas no acabariam. Porque outra verdade sociolgica fundamental da era da democracia de massa igualitria moderna a quase completa destruio das elites naturais. O rei poderia abdicar de seu monoplio e as necessidades de segurana do povo ainda teriam sido quase que automaticamente atendidas porque existia para a maioria o prprio rei, e tambm nobres locais e regionais e as principais personalidades do mundo dos negcios, uma elite natural, claramente visvel, estabelecida e voluntariamente reconhecida e uma estrutura complexa de hierarquias, e ordens de classificao que as pessoas poderiam se voltar para satisfazer seus desejos de serem protegidas.

    Reforma de cima para baixo: convertendo o rei

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    o deSaparecimento daS eliteS naturaiS

    Hoje em dia, depois de menos de um sculo de democracia de massa, no existem essas elites naturais e hierarquias sociais nas quais se poderia imediatamente buscar proteo. Organizaes e ordens hierrquicas sociais e de elites naturais, ou seja, pessoas e instituies com autoridade de comando e respeito, independentes do estado, so ainda mais intolerveis e inaceitveis para um democrata e mais incompatveis com o espirito democrtico do igualitarismo do que eram uma ameaa a qualquer rei e a qualquer prncipe. E por causa disso, sob as regras democrticas do jogo, toda autoridade independente, todas as instituies independentes, foram sistematicamente apagadas ou reduzidas insignificncia atravs de medidas econmicas. Hoje em dia, nenhuma pessoa ou instituio fora do prprio governo possui autoridade genuna, nacional e nem mesmo regional. No lugar de pessoas de autoridade independente agora temos meramente uma abundncia de pessoas que so proeminentes: as estrelas do esporte e do cinema, as estrelas pop, e, logicamente, os polticos. Mas essas pessoas, embora sejam capazes de lanar tendncias e estabelecer modas, no possuem nada parecido com a autoridade social pessoal natural.

    E quando falamos particularmente de polticos, isto ainda mais verdadeiro: eles podem ser grandes estrelas hoje em dia, todos os dias eles aparecem na TV e so o assunto do debate pblico, mas isto quase que totalmente devido ao fato de que eles so uma parte do atual aparato estatal com seus poderes monopolsticos.

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    Uma vez que esse monoplio seja desfeito, estas estrelas da poltica se tornariam nulidades, porque na vida real praticamente todos eles so zeros esquerda, picaretas e dbeis mentais. E s mesmo a democracia que permite que eles cheguem a posies elevadas. Dependendo de suas prprias capacidades, de suas prprias realizaes pessoais, eles so, quase sem nenhuma exceo, completamente insignificantes. Sem meias palavras, assim que o governo democrtico o congresso declarasse que de agora em diante todos estariam livres para escolher seu prprio juiz e protetor, de modo que ainda pudessem, mas no fossem mais obrigados a escolher o governo como protetor, quem em seu juzo perfeito iria ser capaz de escolh-los?! Ou seja, os atuais membros do congresso e do governo federal: quem os escolheria voluntariamente como seus juzes e protetores? A resposta j est explcita na pergunta. Reis e prncipes possuem autoridade real; havia coero envolvida, no tenha dvida, mas eles recebiam uma poro significativa de apoio voluntrio.

    Em contraste, polticos democrticos so geralmente desprezados, mesmo por sua prpria base eleitoral. Mas ento tambm no h nenhuma outra pessoa para a qual se voltar para buscar proteo. Polticos locais e regionais apresentam basicamente o mesmo tipo de problema, e com a abolio de seus poderes monopolsticos, eles obviamente tambm no oferecem uma alternativa atrativa. Tambm no h nenhuma grande personalidade do mundo empreendedor esperando por essa oportunidade, e as companhias de seguro, tendo se tornado quase que completamente criaturas do estado democrtico igualitrio, mostram-se to pouco confiveis quanto qualquer outro para assumir esta particularmente importante tarefa de proteo e justia.

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    Portanto, se algum fizesse hoje o que o rei poderia ter feito 100 anos atrs, haveria o perigo imediato de ocorrer de fato o caos social, ou a anarquia no mal sentido. As pessoas realmente iriam, ao menos temporariamente, ficar muito vulnerveis e indefesas. Ento a questo muda: no h nenhuma sada? Deixe-me resumir a resposta antecipadamente: Sim, mas ao invs de por meios de uma reforma de cima para baixo, a estratgia deve agora ser de uma revoluo de baixo para cima. E ao invs de uma nica batalha, em um nico front, uma revoluo liberal-libertria agora deve envolver muitas batalhas em muitos fronts. Isto , queremos uma guerra de guerrilha ao invs de uma guerra convencional.

    O desaparecimento das elites naturais

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    o papel doS intelectuaiS

    Antes de explicar esta resposta como outro passo em direo ao objetivo, um segundo fato sociolgico deve ser reconhecido: a mudana do papel dos intelectuais, da educao e da ideologia. To logo uma agncia de proteo se torna um monopolista territorial ou seja, um estado ela deixa de ser um protetor genuno e se transforma numa mfia de extorso. E em considerao resistncia da parte das vtimas deste esquema de extorso, um estado necessita de legitimidade, de justificao intelectual para o que ele faz. Quanto mais vai aumentando o esquema de extorso do estado isto , com cada aumento adicional em impostos e regulamentaes maior se torna essa necessidade de legitimao.

    Para assegurar a predominncia do correto pensamento estatista, um monopolista de proteo ir utilizar sua posio privilegiada de operador de um esquema de extorso para estabelecer rapidamente um monoplio da educao. Mesmo durante o sculo XIX sob condies monrquicas decididamente antidemocrticas, a educao, ao menos no nvel da educao bsica e universitria, j era em grande parte organizada monopolisticamente e financiada compulsoriamente. E foi em grande parte dos postos de professores e educadores do governo real, isto , daquelas pessoas que tinham sido empregadas para serem os guarda costas intelectuais dos reis e prncipes, de onde o poder monrquico e os privilgios de reis e nobres foram ideologicamente questionados e em seus lugares ideias igualitaristas foram promovidas, nas formas da democracia e do socialismo.

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    E do ponto de vista dos intelectuais, isso se deu por uma boa razo. Porque democracia e socialismo de fato multiplicam o nmero de educadores e intelectuais, e esta expanso do sistema de educao pblica estatal por sua vez levou a uma inundao ainda maior de lixo e poluio intelectuais. O preo da educao, assim como o preo da proteo e da justia, aumentou dramaticamente sob a administrao monopolstica, ao mesmo tempo em que a qualidade da educao, assim como a qualidade da justia, declinaram sem parar. Hoje em dia, somos to mal protegidos quanto mal educados.

    No entanto, sem a existncia continuada do sistema democrtico e da educao e pesquisa financiadas publicamente, a maioria dos atuais professores e intelectuais estaria desempregada ou seus rendimentos cairiam a uma pequena frao do que so hoje. Ao invs de pesquisas sobre a sintaxe dos povos afros, a vida amorosa dos mosquitos, ou a relao entre pobreza e crime por US$100.000 por ano, eles estariam pesquisando a cincia do cultivo de batatas ou a tecnologia da operao de uma bomba de gasolina por US$20.000.

    O sistema monopolizado de educao a esta altura um problema to grande quanto o sistema monopolizado de proteo e justia. Na verdade, a educao, pesquisa e desenvolvimento governamentais so o instrumento central pelo qual o estado protege a si prprio da resistncia do povo. Hoje em dia, intelectuais so to, ou at mais, importantes, do ponto de vista do governo, para a preservao de seu status quo, do que juzes, policiais e soldados.

    E assim como ningum pode converter o sistema democrtico a partir do topo poltico para baixo, tambm no se pode esperar que esta converso venha

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    de dentro do sistema estabelecido de educao pblica e de universidades pblicas. Este sistema no pode ser reformado. impossvel os liberas-libertrios se infiltrarem e tomarem conta do sistema de educao pblica, como os democratas e socialistas puderam quando substituram os monarquistas.

    Do ponto de vista do liberalismo clssico, todo o sistema de educao financiado publicamente, ou atravs de impostos, deve sumir, inteira e completamente. E com essa convico, obviamente impossvel para qualquer um construir uma carreira dentro dessas condies. Eu nunca serei sequer capaz de me tornar o presidente da universidade. Minhas opinies me impedem de construir uma carreira deste tipo. Porm isso no quer dizer que a educao e os intelectuais no tenham uma parte a desempenhar na consecuo de uma revoluo libertria. Pelo contrrio, como expliquei anteriormente, em ltima anlise tudo depende da questo de se conseguiremos ou no deslegitimar e expor como uma perversidade moral e econmica, a democracia e o monoplio democrtico da justia e proteo.

    Isto obviamente no nada alm de uma batalha ideolgica. Porm seria teimosia assumir que o meio acadmico pblico seria de alguma ajuda neste desafio. Na folha de pagamento do estado, os educadores e intelectuais tendero a ser estatistas. Munio intelectual e direcionamento e coordenao ideolgica s podem vir de fora do meio acadmico estabelecido, de centros de resistncia intelectual de uma contracultura intelectual externa e independente, e em oposio fundamental ao monoplio governamental de proteo assim como de educao, como o Instituto Mises.

    O papel dos intelectuais

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    uma revoluo de baixo para cima

    Por fim vamos explicao detalhada do significado desta estratgia revolucionria de baixo para cima. Para isto, deixe-me voltar aos meus primeiros comentrios sobre o uso defensivo da democracia, isto , o uso dos meios democrticos para fins libertrios no-democrticos, pr propriedade privada. Dois insights preliminares j foram estabelecidos aqui.

    Primeiro, da impossibilidade de uma estratgia de cima para baixo, segue-se que no se deve gastar muita (ou nenhuma) energia, tempo e dinheiro em disputas polticas nacionais, como eleies presidenciais. E, particularmente, tambm nem em disputas pelo governo central, como por exemplo, menos esforos em disputas pelo senado do que pela cmara dos deputados.

    Segundo, do insight sobre o papel dos intelectuais na preservao do atual sistema, da atual mfia de extorso, segue-se que igualmente no se deve gastar muita (ou nenhuma) energia, tempo ou dinheiro tentando reformar a educao e o meio acadmico a partir de sua prpria estrutura. Patrocinar cadeiras de livre empresa ou propriedade privada no sistema universitrio estabelecido, por exemplo, s ajuda a emprestar legitimidade prpria ideia que se quer combater. As verbas e fontes de financiamento das instituies oficiais de educao e pesquisa devem ser sistematicamente retiradas e estancadas. E para que isso seja feito, todo o apoio de trabalho intelectual, como uma parte essencial da tarefa geral que temos pela frente, deveria logicamente ser dado a instituies e centros determinados a fazer precisamente isto.

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    As razes para estes dois conselhos so claras: Nem a populao como um todo, e particularmente nem todos os educadores e intelectuais, so completamente homogneos ideologicamente. E mesmo que seja impossvel conquistar uma maioria que apoie uma plataforma decididamente antidemocrtica em uma escala nacional, parece no haver uma dificuldade insupervel para se conquistar esta maioria em distritos suficientemente pequenos, e para funes locais e regionais dentro da estrutura governamental democrtica geral. Na verdade, parece no ser nada fora da realidade esperar que essa maioria exista em milhares de localidades. Ou seja, localidades dispersas por todo o pas, mas no dispersas uniformemente. Igualmente, mesmo que a classe intelectual deva ser de modo geral considerada como inimiga natural da justia e da proteo, existem em diversas localidades intelectuais anti-intelectuais isolados, e como o Instituto Mises prova, totalmente possvel reunir estes sujeitos isolados em torno de um centro intelectual, e dar a eles unidade e fora, e uma audincia nacional ou at internacional.

    Mas ento o que fazer? Todo o resto desprende-se quase que automaticamente do objetivo supremo, que deve ser mantido sempre em mente, em todas as atividades desenvolvidas: a restaurao de baixo para cima da propriedade privada e do direito de proteo a propriedade; o direito de autodefesa, de expulsar ou aceitar, e de liberdade contratual. E a resposta pode ser dividida em duas partes.

    Primeiro, o que fazer nestes pequenos distritos, onde um candidato pr-propriedade privada e personalidade antimajoritria possa vencer. E segundo, como lidar com os nveis mais elevados do governo, e, especialmente, com o governo federal centralizado. Primeiramente, como um passo inicial, e me refiro agora a o que deveria ser feito

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    em nvel local, o primeiro alicerce central da plataforma deveria ser: deve-se tentar limitar o direito de voto sobre impostos locais, particularmente sobre impostos sobre propriedades e regulamentaes, aos donos de imveis e propriedades. Somente donos de propriedades devem poder votar, e seus votos no devem ter pesos iguais, e sim de acordo com o valor do patrimnio lquido possudo, e o total de impostos pago. Ou seja, parecido com o que Lew Rockwell explicou que tem acontecido em algumas partes da Califrnia.

    Alm disso, todos os funcionrios pblicos professores, juzes, policiais e todos os recebedores de ajuda social do estado devem ser excludos de votaes que tratem de impostos locais e regulamentaes locais. Estas pessoas esto sendo pagas pelos impostos e no deveriam poder dizer nada a respeito do valor dos impostos. Logicamente que com esta plataforma no se consegue ganhar em todo lugar; voc no consegue vencer na capital do pas com uma plataforma como esta, mas eu arriscaria dizer que em muitas localidades isto poderia facilmente acontecer. As localidades tm que ser pequenas o suficiente e tm que ter um bom nmero de pessoas decentes.

    Consequentemente, os impostos e taxas locais, bem como a arrecadao fiscal, iriam inevitavelmente diminuir. O valor das propriedades e a maioria dos rendimentos locais iriam aumentar enquanto que o nmero de funcionrios pblicos e seus salrios iriam cair. Neste momento, e este o passo mais decisivo, o seguinte deve ser feito e sempre mantenha em mente que estou falando sobre distritos territoriais muito pequenos, como vilas.

    Nesta crise de financiamento do governo, que surge assim que o direito de votar tirado da turba, um modo de sair desta crise seria a privatizao de todos os ativos

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    do governo. Um inventrio de todos os prdios pblicos, e em um nvel local no so tantos assim escolas, corpo de bombeiros, delegacia de polcia, tribunais, ruas e assim por diante e ento aes ou ttulos parciais de propriedade deveriam ser distribudos aos donos de propriedade privada locais de acordo com o total de impostos impostos sobre propriedade que estas pessoas pagaram durante suas vidas. Afinal, deles, eles pagaram por estas coisas.

    As aes deveriam ser livremente negociveis, vendidas e compradas, e com isto este governo local seria essencialmente abolido. Se os nveis mais elevados do governo deixassem de existir, esta vila ou cidade seria agora um territrio livre ou libertado. O que iria acontecer com a educao e, mais importante, o que iria acontecer com a proteo da propriedade e a justia?

    Quando se trata de localidades pequenas, podemos ter tanta certeza, ou at mais certeza de que poderamos ter tido 100 anos atrs sobre o que teria acontecido se o rei abdicasse, de que o que iria acontecer seria praticamente isto: todos os recursos materiais que antes eram destinados a estas funes escolas, delegacias de polcia, tribunais ainda existiriam, e do mesmo modo existiriam os recursos humanos. A nica diferena que eles agora pertenceriam a donos privados, ou, no caso de funcionrios pblicos, estariam temporariamente desempregados. Levando-se em conta a realista hiptese de que continuaria existindo uma demanda local por educao e proteo e justia, as escolas, delegacias e tribunais ainda seriam usados para os mesmos propsitos. E muitos ex-professores, ex-policiais e ex-juzes seriam recontratados ou reassumiriam suas antigas ocupaes por conta prpria como indivduos autnomos, a menos que eles fossem empregados pela elite ou por figures locais que seriam proprietrios

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    dessas coisas, os quais seriam todos figuras pblicas conhecidas. Ou como iniciativas em busca de lucro, ou como, e o que parece ser mais provvel, uma mistura de organizao beneficente e econmica. Figures locais frequentemente fornecem bens pblicos de seus prprios bolsos; e eles obviamente tm o maior dos interesses na preservao da justia e da paz local.

    E bastante simples ver isso funcionar para escolas e policiais, mas e quanto a juzes e a justia? Lembre-se que a raiz de todos os males a monopolizao compulsria da justia, que uma pessoa dizer o que certo. Assim sendo, juzes deveriam ser financiados livremente, e a livre entrada na profisso de juiz deveria ser assegurada. Juzes no seriam eleitos atravs de votos, mas escolhidos pela demanda efetiva de pessoas em busca de justia. Tambm no se esquea que nas localidades pequenas que estamos considerando, falamos verdadeiramente sobre uma demanda por apenas um ou bem poucos juzes. Se este ou estes juzes seriam empregados por uma associao privada de justia ou uma companhia com acionistas, ou se seriam indivduos autnomos que alugariam estas instalaes ou escritrios, o que deveria estar claro que somente um punhado de pessoas locais, e somente personalidades locais respeitadas e muito conhecidas isto , membros da elite natural local teriam alguma chance de serem escolhidas como juzes da paz local.

    Somente como membros da elite natural suas decises possuiriam alguma autoridade e se tornariam executveis. E se eles viessem baila com julgamentos que fossem considerados ridculos, eles seriam imediatamente substitudos por autoridades locais que fossem mais respeitveis. Se prosseguirmos neste sentido no nvel local, logicamente no se poderia evitar que se entrasse em conflito direto com o nvel de poder governamental mais

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    elevado, especialmente o federal. Como lidar com este problema? Os federais no iriam simplesmente destruir qualquer tentativa destas?

    Eles certamente iriam querer, mas se eles realmente podem ou no faz-lo uma questo completamente diferente, e para perceber isto basta perceber que os membros do aparato governamental sempre representam, mesmo sob condies democrticas, meramente uma minscula poro da populao total. E ainda menor a poro de funcionrios pblicos do governo central.

    Isto significa que um governo central no pode executar sua determinao legislativa, ou lei pervertida, sobre toda a populao a menos que ele encontre cooperao e apoio predominantes locais ao tentar. Isto fica bvio se imaginarmos um grande nmero de cidades ou vilas livres como descrevi anteriormente. praticamente impossvel, considerando o potencial humano e de conhecimento, bem como de um ponto de vista de relaes pblicas, dominar milhares de localidades vastamente dispersas em um territrio e impor o poder federal direto sobre elas.

    Sem imposio local, atravs da complacncia das autoridades locais, as determinaes do governo central no so muito mais do que palavras ao vento. Todavia, este apoio e cooperao locais so exatamente o que precisa estar faltando. Sem dvida, enquanto o nmero de comunidades liberadas ainda for pequeno, o assunto parece ser um tanto quanto perigoso. No entanto, mesmo durante esta fase inicial da luta pela libertao, podemos ficar bem confiantes.

    Seria aconselhvel durante esta fase evitar confrontos diretos com o governo central e no condenar publicamente sua autoridade ou nem mesmo renunciar solenemente ao reino. Preferencialmente, seria aconselhvel praticar

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    uma poltica de no cooperao e resistncia passiva. Simplesmente para-se de ajudar na execuo de toda e qualquer lei federal. Pode-se assumir a seguinte atitude: Estas so as suas regras, e voc que as imponha. No posso te impedir, mas tambm no vou te ajudar, pois meu nico compromisso com meu eleitorado local.

    Se aplicado com consistncia, com nenhuma cooperao, nenhuma ajuda em nenhum nvel, o poder do governo central diminuiria drasticamente ou at evaporaria. E levando em considerao a opinio pblica geral, seria extremamente improvvel que o governo federal ousasse ocupar um territrio em que os habitantes no fizessem nada alm de tentar cuidar da prpria vida. O caso Waco, um pequeno grupo de lunticos no Texas, uma coisa. Mas ocupar, ou exterminar um grupo consideravelmente grande de cidados normais, educados e honrados outra coisa completamente diferente, e bem mais difcil.

    Uma vez que o nmero de territrios implicitamente separados atingisse uma massa crtica e cada ao bem sucedida em uma pequena localidade promoveria e alimentaria a prxima o movimento seria inevitavelmente mais radicalizado em um movimento de municipalizao espalhado por toda a nao, com polticas locais explicitamente de secesso e pblica e insolentemente demonstrando desobedincia autoridade federal.

    E ento, ser em uma situao como esta quando o governo central for obrigado a abdicar de seu monoplio da violncia e da tomada suprema de decises judiciais, e quando a relao entre as autoridades locais (em ressurgimento) e as autoridades centrais (prestes a perder seus poderes) puderem ser colocadas em um nvel puramente contratual que recuperaremos o poder de defender nossa prpria propriedade novamente.

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