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34 ANO V / Nº 8 Jonas Correia Neto Missão Militar Francesa, que aqui funcionou, conosco e para nós, entre 1920 e 1940, é hoje quase desconhecida. Está meio esqueci- da. Porém, em certo período axial de nos- sa História Militar, teve presença e ação destacadas. A Missão (MMF) era integrada por militares do Exército francês, na maioria oficiais superiores, meticulosamente escolhidos pela sua alta chefia para realizar trabalho exigente e importantíssimo no nosso país, sobre o qual pouco ou nada sabiam. Veio a MMF para cá no cumprimento de um contrato que possibilitou o intercâmbio cultural e militar entre Brasil e França com muito sucesso du- rante vinte anos. Foram anos atarefados, afanosos. Houve cons- tante progresso na busca dos fins colimados, com resultados gradualmente mais recompensadores, tanto para os militares franceses, que foram se am- bientando e se revezando na Missão, quanto para a instituição Exército Brasileiro. Não fora fácil, anteriormente, superarem-se as querelas e firulas no tocante à vinda de uma mis- são militar estrangeira, para nos assessorar e ensinar, tirando-nos de um atraso debilitante e desanimador. Questões essenciais umas, irrelevantes outras, foram todas levantadas, utilizadas e remexidas pelos A Missão Militar Francesa interesses e opiniões que se debatiam em uma por- ção de foros. Em posição central nos debates, estava o Exército, carente de lufada de modernização pre- tendida e consciente da urgência. O quadro geral visível era preocupante. Vul- tos ilustres, esclarecidos e patriotas insistiam na pron- ta recuperação do Exército, cujo ministro civil, Ca- lógeras, chegou a lançar ao Parlamento esta capital pergunta: “O Brasil quer possuir um exército? Se quer, é porque reconhece sua necessidade. Então, tem-se de lhe assegurar as condições para realizar o papel que lhe compete – e isso não pode ser mais postergado.” Afinal, entre a Alemanha (vencedora da dis- tante guerra de 1870) e a França, vencedora da Pri- meira Guerra Mundial e culturalmente muito mais aproximada do Brasil, optou-se por trazer os franceses. Afirma um historiador francês atual (nosso amigo Jean Pierre Blay) que “a Missão era necessária

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Jonas Correia Neto

Missão Militar Francesa, que aqui funcionou,conosco e para nós, entre 1920 e 1940, éhoje quase desconhecida. Está meio esqueci-da. Porém, em certo período axial de nos-

sa História Militar, teve presença e ação destacadas.A Missão (MMF) era integrada por militares

do Exército francês, na maioria oficiais superiores,meticulosamente escolhidos pela sua alta chefia pararealizar trabalho exigente e importantíssimo no nossopaís, sobre o qual pouco ou nada sabiam.

Veio a MMF para cá no cumprimento de umcontrato que possibilitou o intercâmbio cultural emilitar entre Brasil e França com muito sucesso du-rante vinte anos.

Foram anos atarefados, afanosos. Houve cons-tante progresso na busca dos fins colimados, comresultados gradualmente mais recompensadores,tanto para os militares franceses, que foram se am-bientando e se revezando na Missão, quanto para ainstituição Exército Brasileiro.

Não fora fácil, anteriormente, superarem-seas querelas e firulas no tocante à vinda de uma mis-são militar estrangeira, para nos assessorar e ensinar,tirando-nos de um atraso debilitante e desanimador.

Questões essenciais umas, irrelevantes outras,foram todas levantadas, utilizadas e remexidas pelos

A

Missão MilitarFrancesa

interesses e opiniões que se debatiam em uma por-ção de foros. Em posição central nos debates, estavao Exército, carente de lufada de modernização pre-tendida e consciente da urgência.

O quadro geral visível era preocupante. Vul-tos ilustres, esclarecidos e patriotas insistiam na pron-ta recuperação do Exército, cujo ministro civil, Ca-lógeras, chegou a lançar ao Parlamento esta capitalpergunta: “O Brasil quer possuir um exército? Se quer,é porque reconhece sua necessidade. Então, tem-sede lhe assegurar as condições para realizar o papel quelhe compete – e isso não pode ser mais postergado.”

Afinal, entre a Alemanha (vencedora da dis-tante guerra de 1870) e a França, vencedora da Pri-meira Guerra Mundial e culturalmente muito maisaproximada do Brasil, optou-se por trazer os franceses.

Afirma um historiador francês atual (nossoamigo Jean Pierre Blay) que “a Missão era necessária

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ao Brasil, e era essencial para a frágil liderança da Fran-ça”. Para a França pós-Versalhes, era coisa muito sé-ria, cuja importância estratégica e diplomática se des-vela na composição inicial da MMF, pois o GeneralGamelin – seu instalador – era uma das personalida-des símbolos da vitória de 1918.

Via-se, na programação que regulava os pri-meiros relacionamentos, que os profissionais quecompunham a Missão viriam para revolucionar oestilo, os conhecimentos, a capacidade de ação donosso Exército. Em linguagem chã, viriam paradesestagná-lo. As mudanças introduzidas nele seriamimpulsionadoras de notável evolução. Começariampelas medidas documentais e organizacionais, des-

de logo estabelecidas e aos poucos postas em execu-ção; e alcançariam, em curto prazo, um efetivo pri-mordial ao êxito: a alteração positiva da mentalida-de militar imperante.

O fator preponderante para os bons resulta-dos encontra-se nos próprios locais de aplicação dos

esforços: a Escola de Estado-Maior e a nova Escolade Aperfeiçoamento de Oficiais. Fazendo que a MMFatuasse logo nas escolas mais importantes para o apri-moramento cadenciado do oficialato, do capitão aocoronel, a Força Terrestre confirmava sua intençãoreformadora, que também era soerguidora.

Quanto à Escola Militar, o berço da prepara-ção para o oficialato, uma inexplicável decisão fezque ficasse fora da ação direta da Missão. Receio eprevenções neutralizadoras, pruridos exageradosseriam causadores dessa discriminação. Entretanto,naquela Escola já vinham-se impondo, desde o co-meço de 1919, uma nata de oficiais selecionadospor concurso prático: eram os instrutores da cha-

mada “missão indíge-na”. Eles eram idealis-tas e pragmáticos; che-gada a MMF, busca-ram conhecer as novida-des trazidas por ela epassaram a usá-las, den-tro das limitações do seuescalão – menor, porémbásico. Pode-se dizerque já estava aí uma par-te do “efetivo MMF”afirmando-se.

Em 1924, corrigiu-se a anomalia e ao Rea-lengo também acorre-ram os mestres franceses,

dando aos jovens alunos um suporte profissional ricoem ensinamentos, dos melhores da época no mundo.

Outras escolas foram abarcadas, ou criadas,como as de Aviação Militar (que já vinha funcionan-do, em moldes próprios, havia alguns anos, com ins-trutores também franceses), de Intendência, de Ad-

Chegada da Missão Militar Francesa ao Brasil: impulso à reformado Exército. À esquerda, primeiro plano,o Gen Maurice Gamelin. Ao seu lado, o Gen Durandin.

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ministração Militar, de Vete-rinária. Projetava-se paulatina-mente o trabalho da MMF,que transcorreria sempre commuito vigor e enorme sucesso.

A partir das escolas, osconhecimentos, após absorvi-dos e adequados à realidadebrasileira, iam sendo apresen-tados – pelos assessores daMissão e pelos brasileiros porela instruídos – aos altos ór-gãos militares (notadamenteo Estado-Maior do Exército)aos grandes comandos de áreae operacionais e às demais or-ganizações militares, de tro-pa e de serviços.

Sob a orientação, a condução, a supervisão(até a direção, em alguns casos) dos oficiais france-ses, verificou-se revigorante guinada nas condiçõesde funcionamento do Exército, seja nas atividades-fim, seja nas atividades-meio, como seria de se espe-rar. O ensino militar e a administração militar, emtodos os níveis, rapidamente deram saltos de quali-dade. Foram criados alguns órgãos específicos parao atendimento das novas recomendações do surtode mudanças; outros, existentes, foram reformu-lados ou extintos.

A instrução da tropa, sim, teve uma reviravol-ta, transformando-se, pouco a pouco, de monóto-na, nada prática (quando havia...) em dinâmica, ob-jetiva; passou da inércia à movimentação, emboraainda não à sonhada eficiência, que dependia deoutras condicionantes, a maioria alheia à Missão.

Os exercícios em campanha – nome pompo-so para o que se fazia – procuraram sair dos terre-

nos próximos aos quartéispara outros melhores, capa-zes de proporcionar os espa-ços e aspectos topográficos re-queridos. Alguns campos deinstrução, disponíveis, (Saicã,Gericinó e poucos mais) co-meçaram a ser utilizados compercepção do seu valor paraa instrução e, sobretudo, parao adestramento.

O que se fazia ainda erapouco, mas criavam-se hábi-tos que permaneceriam. Tra-dicionais exercícios, sabida-mente ultrapassados, por inó-cuos, foram cedendo lugar amanobras mais objetivas, com

ênfase na ação de comando, no fogo e no movi-mento, na segurança, no emprego útil do materialbélico, no funcionamento azeitado e oportuno dosapoios e serviços.

O empirismo, a cópia servil de planos e or-dens foram naturalmente abolidos. Privilegiou-se oestudo de situação, cujo mérito era ressaltado e quese tornou relevante nos estudos militares, como pon-to essencial da arte de comandar.

É evidente que tudo isso não aconteceu de-pressa, nem certinho, nem em toda parte. Os tra-balhos foram sendo realizados aos poucos, com per-sistência e esforço, com devotamento. Seus produ-tos foram aparecendo, ora mais ostensivos, ora maismodestos; já era muito no lugar de quase nada.Muitíssimo foi feito. O principal foi a sacudidela nanossa mentalidade, afrouxada por anos e anos dedesatenção com as coisas castrenses e de despreparoprofissional reconhecido e não corrigido. Agora, o

General MauriceGamelin,

organizadore 1º chefe.

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compromisso recíproco coma MMF nos impunha quehouvesse energia para a su-peração dos óbices.

Havia questões que le-vavam a discussões homé-ricas e a posições irredutí-veis. A mais gritante, poróbvio, era a doutrina. Cus-tou, até ficar claro que nãonos seria imposta uma dou-trina militar francesa, masque iríamos, isto sim, apro-veitá-la para reajustar a nos-sa (se é que realmente tínha-mos uma consagrada, me-recedora do título). Os fran-ceses mesmos tiveram a cor-reção e a iniciativa de discutir conosco as colocaçõesque pareciam melhores, em face das condiçõesbrasileiras – geográficas, geopolíticas, sociológicas,econômicas, históricas...

Foi a Missão que nos despertou para a rele-vância de pensarmos competentemente na guer-ra, de estabelecermos uma concepção plausível danossa guerra. Guerra essa que – podemos concluir– não seria uma rígida defensiva à outrance, nãoseria uma atitude passiva; ao invés, seria uma pos-tura dinâmica, desgastante do inimigo, prepara-tória de uma contra-ofensiva pronta, bem monta-da e desencadeada, decisiva. Portanto, uma dispo-sição ofensiva.

Ao contrário do que geralmente é acreditadoe repetido, ao se engalfinharem na Primeira Guer-ra Mundial, tanto a Alemanha quanto a França es-tavam imbuídas da mesma idéia básica: ofensiva. NaAlemanha, era antigo posicionamento, decorrente

da crença exaltada nas van-tagens da iniciativa do ata-que, com surpresa e potên-cia. Na França, devia-se àteimosa pregação, por anosa fio, do General Foch aosseus alunos e comandados:“A vontade de conquistar éa primeira condição da vitó-ria”. Os instrutores francesesnão estavam amarrados auma prioridade defensiva. Asexcelentes aulas de HistóriaMilitar, a qual estava nos cur-rículos das escolas, expu-nham as campanhas de cam-peões da guerra (Napoleãoà frente, como devido), on-

de a única constante era a consecução da vitória.Agressividade, não tibieza.

O corpo de doutrina consolidada na docu-mentação de base, elaborada sem demora, definia eexplicitava, em seu conjunto fracionário mas integra-do, nossa nova formulação doutrinária. Ligado a isso,apareceram os regulamentos e instruções para: Servi-ço em Campanha; Serviço de Estado-Maior em Cam-panha; Comando e Emprego das Grandes Unida-des; os Exercícios e o Combate da Infantaria; os Exer-cícios e o Combate da Cavalaria; os Exercícios, Em-prego e o Tiro da Artilharia; Observação Aérea; Re-gulação do Tiro de Artilharia; Inspeções, Revistas eDesfiles; Emprego dos Meios de Transmissões; Ali-mentação em Campanha; Serviço de Retaguarda;Instrução Física Militar; Minas; Pontes; Manobras(com atenção para as armas e os engenhos especiais) etc.

Houve uma massa de trabalho e de produ-ção que surpreende pela rapidez do apronto (em

General de Lavalade,o último chefe.

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dois anos, a maior parte estava terminada, por tra-dução adequada ou por elaboração integral), alémdo cuidadoso e exato conteúdo; e a seguir, pela suadifusão escalonada – escolas, estados-maiores, tro-pa – para que fosse evitado alimentar qualquer cho-que, Brasil a fora, entre oficiais desnivelados na cul-tura profissional.

Quanto ao material bélico, a sugestão apre-sentada no programa de aquisições foi conseqüentea um primeiro contato feito pelo chefe da MMFcom organizações mili-tares brasileiras (na capi-tal e no sul), ainda antese logo no início do fun-cionamento da Missão.Ali se mostrava a neces-sidade de se obteremcanhões e obuseiros pa-ra a Artilharia, petre-chos leves e pesados pa-ra a Infantaria, carros deassaltos para a Cavalaria,equipamentos de pon-tes (de pontões) para aEngenharia, material detransmissões, aeronavesde caças, de reconhecimento e observação e de bom-bardeio etc. O Brasil encomendou o que nos foipossível. Recebemos muita coisa, mas a aproxima-ção da Segunda Guerra Mundial entravou os ne-gócios em andamento.

As “grandes manobras” em Saicã (RS), no pri-meiro quadrimestre de 1922, constituíram-se naprova concreta do aproveitamento dos quadros di-rigentes e executantes. Da tropa é fato que aindanão tanto. Outros exercícios e manobras, em diver-sas áreas, cada vez mais volumosos, complexos e com-

pensadores, porque plenos de ensinamentos, foramexecutados enquanto aqui permaneceu a Missão.

Diversos exercícios de quadros foram realiza-dos, em salas e no terreno; eventualmente, com fra-ções de tropa, sendo visado o treinamento dos ofici-ais. Para esse fim, organizaram-se jogos de guerra,de muita valia, embora rudimentares, se compara-dos aos sofisticados de hoje.

Seria bom que pudéssemos nos deter em comen-tários acerca do pessoal engajado, componente da

Missão. Durante a vigência dos sucessivos contratos,com renovações e alterações textuais, mais de cem ofi-ciais franceses, além de uns poucos suboficiais e espe-cialistas, preencheram os efetivos funcionais. E cabelembrar que, à chegada do primeiro escalão da MMF,havia mais de um ano que já se encontravam noBrasil os membros da missão aeronáutica, instruto-res e cooperadores da Escola de Aviação Militar (doExército), que iria ser absorvida no conjunto MMF.

Nesses dois decênios, houve muitas movimen-tações. Uns iam-se embora daqui, por tempo findo

Instrutores franceses e auxiliares brasileiros de Infantaria: em péCap Octávio da S. Paranhos, Cap Lamartine P. Paes Leme e Floriano de Lima Brayner.Sentados: Maj Raymond Dumay, Ten Cel René Corbé eHenri Pauchaud e Cap Rodolpho G. da Paixão Filho. EsAO – 10 junho de 1929.

Instrutores franceses e auxiliares brasileiros de Infantaria: em péCap Octávio da S. Paranhos, Cap Lamartine P. Paes Leme e Floriano de Lima Brayner.Sentados: Maj Raymond Dumay, Ten Cel René Corbé eHenri Pauchaud e Cap Rodolpho G. da Paixão Filho. EsAO – 10 junho de 1929.

Instrutores franceses e auxiliares brasileiros de Infantaria: em péCap Octávio da S. Paranhos, Cap Lamartine P. Paes Leme e Floriano de Lima Brayner.Sentados: Maj Raymond Dumay, Ten Cel René Corbé eHenri Pauchaud e Cap Rodolpho G. da Paixão Filho. EsAO – 10 junho de 1929.

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ou para nova comissão; outros chegavam para ser-vir entre nós. Seus nomes estão registrados, aindaque existam muitas lacunas, inexplicáveis e lamen-táveis. Somos gratíssimos a eles. Traziam considerávelcredenciamento profissional, ilustrado por doiscunhos insignes: a primorosa formação (a maioria erasaída da escola de Saint-Cyr, outros da politécnica,de Versalhes, de Saumur) e a aplicação incomparávelna guerra. Nesta, todos eles haviam participado; qua-se todos entraram diretamente em combate; muitosforam feridos em ação. A Cruz de Guerra e a Legiãode Honra eram condecorações que portavam orgu-lhosamente. Tudo isso era motivo de confiança. Al-guns deixaram renome bastante saliente, no meiomilitar brasileiro, não só pela capacidade como pelapersonalidade cordial, gerando admiração e amiza-des duradouras. Certo de cometer injustas omissões,citamos: os infantes Dérougement, Corbé, Carpen-tier; os cavalarianos Gloria, Dalmassy, DurosoyBattisteli; o engenheiro (pontoneiro) Gueriot; os ar-tilheiros Pascal, Weller. Mas não nos contemos emainda pôr mais um foco de luz nas figuras emble-máticas dos comandantes Battisteli, o esplêndido ca-valeiro, e Weller, o virtuoso do tiro de Artilharia,padrão de “capitão de GA Cav”.

Resta-nos falar daqueles que suportaram opeso da chefia, muito solicitada, que tiveram a tare-fa permanente de conduzir os trabalhos a cargo daMissão, otimizando o planejamento e o desenvolvi-mento, e que o fizeram com responsabilidade, com-petência, profissionalismo, firmeza e habilidade.Não é uma qualificação vã; é um rol de característi-cas fundamentais ao exercício correto e proficientedo elevado cargo.

Começamos pelo General Maurice Gamelin,o sério, entusiasmado e ativo instalador da MMF,autor do primeiro programa-sugestão a ser cumpri-

do e que foi o farol a iluminar todo o período. Depassagem, convém acentuar que o ostracismo emque depois caiu – engolfado, inerte, perplexo – natragédia francesa de 1940 não invalida, nem sequermancha, sua estrutura de chefe.

Depois dele, que atuou durante quase cincoanos, estiveram à testa da Missão, em seqüência e porperíodos diferenciados, os generais Frédéric Coffec,Joseph Spire, Charles Huntzinger, Paul Noel e GeorgesChadebec de Lavalade. Nos intervalos, chefiaraminterinamente os generais Eugène Durandin e JacquesBaudoin, antigos integrantes da MMF. Todos elesfizeram jus, com seus comandos, aos encômios e aosagradecimentos dos colegas brasileiros – alunos, ins-trutores colaboradores.

Tem-se de afirmar: o legado da Missão Mi-litar Francesa ao nosso Exército foi extraordinário!

Ainda nos valemos dele. Foi aquilo que pôdeser, em vista da situação em que se debatia o Exército,lá por 1918/19, e da problemática interna do Paísjustamente em 1922 e 1938. Ainda assim, foi muito.Porém, o melhor comprovante da excelência do tra-balho da Missão está em que o desenvolvimento al-cançado pela nossa Força Terrestre, graças ao influxoda sua ação, permitiu que, ao entrarmos na SegundaGuerra Mundial, possuíssemos quadros de oficiaisaptos a agir bem na resposta corajosa aos graves desa-fios militares, como é exemplo grandioso a epopéiada FEB, para honra da nossa Pátria.

Somente essa distinta participação bélica se-ria suficiente para o reconhecimento dos magnífi-cos serviços prestados pela Missão.

Jonas Correia Neto – General-de-Exército, natural da Cidade do Rio de Janeiro. FoiMinistro Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.É Aspirante-a-oficial da arma de Cavalaria, da turma de 1945, Turma Escola Militar do Realen-go. Atualmente, é 1º Vice-Presidente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.