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Corpo Nacional de Escutas MÍSTICA E SIMBOLOGIA

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Corpo Nacional de Escutas

MÍSTICA ESIMBOLOGIA

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Mística e Simbologiado Corpo Nacional de Escutas

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Ficha Técnica:

Título: Mística e Simbologia do Corpo Nacional de EscutasAutor: Secretaria Nacional Pedagógica - Corpo Nacional de EscutasPaginação: Gonçalo Vieira

Impressão: Depósito Legal: ISBN: 978-972-740-191-8

Edição:

Corpo Nacional de Escutas Escutismo Católico Português

Ano: 2014

Apoio:

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IntroduçãoO Escutismo proposto no Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português assenta num rico e vasto património transmitido desde a fundação. Esse património foi, desde sempre, com-plementado e enriquecido com o melhor contributo daqueles que ao longo dos anos se entre-garam especificamente ao desenvolvimento e condução do CNE. Houve, certamente, períodos de maior esclarecimento e decisão, tal como outros terá havido de menor lucidez nas propostas efetuadas. Uma coisa afigura-se como clara: o movimento soube sempre, de uma forma ou de outra, manter a sua pertinência na educação de crianças e jovens segundo o método escutista.

A matriz essencial que deu corpo à proposta escutista do CNE, o elemento que lhe permitiu sub-sistir e que, inclusive, lhe deu notoriedade, deriva da sua condição católica. É Escutismo, sim; é português, sim; mas é essencialmente Escutismo Católico.

Por ser Escutismo Católico, a sua proposta é informada por uma visão cristã do Escutismo, assente sobre uma mais concreta base católica. Não se trata de nada de extraordinário, pois o Escutismo nasceu sobre uma sólida base espiritual e religiosa. Extraordinária será qualquer proposta escu-tista que ignore essa dimensão ou que a remeta meramente a um dever de reflexão sobre a Lei e os Princípios do Escutismo, repetido fastidiosamente. De facto, partir do pressuposto de que a base sobre a qual se desenvolve o Escutismo é religiosa católica, faz toda a diferença e define uma forma única de propor o Escutismo.

Para além de outros aspetos que podem ser referidos, nomeadamente as questões orgânicas e institucionais – onde a vertente eclesial do CNE está patente de forma inequívoca –, o que marca verdadeiramente o “tom” do Escutismo Católico Português é aquilo a que se chama “Mística”, mais até do que a “Simbologia”.

Por esse motivo, na mais recente revisão do Programa Educativo, deu-se um relevo muito acen-tuado à “mística”, conforme é entendida em ambiente escutista (e como vem explicitado nesta publicação). Considerando o excelente trabalho já efetuado nessa área, procurou-se agora encon-trar uma maneira mais clara de os conteúdos religiosos, acentuadamente bíblicos, darem forma às atividades escutistas e, mais ainda, moldarem toda a ação pedagógica, mesmo que muitas vezes isso não aconteça de forma explícita. O objetivo não foi o de confundir Escutismo com catequese, embora a catequese de infância, adolescência e idade adulta seja fundamental no viver cristão. O objetivo foi o de complementar o itinerário proposto nas catequeses paroquiais, fornecendo uma base para desenvolver, em chave escutista, grandes temas bíblicos.

A definição de uma “mística”, da qual deriva, e para a qual simultaneamente aponta, uma “simbo-logia”, e em perfeita articulação com um “imaginário” escutista, caracteriza a proposta agora feita ao Escutismo Católico Português. Estou em crer que vem em boa hora, e espero que possa ajudar a contribuir para a melhoria sempre desejada do nível, já elevado, da ação do CNE.

Aqui fica o convite a todos os adultos encarregados da ação educativa no CNE no sentido de ler e aprofundar a “mística e simbologia” agora propostas, para bem da sua ação e para bem do Escutismo católico.

Padre Rui Jorge de Sousa Silva(Assistente Nacional - Junho 2013)

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MíSTICA E SIMBoLogIA Do CNEA mística e simbologia, expressão portuguesa adaptada da expressão anglo-saxónica symbolic framework, é um dos sete elementos constituintes do método escutista.

> Método EscutistaO método escutista, elemento pedagógico original e identitário do Escutismo, criado por Lord Baden-Powell of Gilwell, é um sistema de autoeducação progressiva, baseado em sete elementos igualmente relevantes, conforme a figura abaixo.

Lei e Promessa

A Lei e a Promessa constituem o ideário fundacional e fundamental do Escutismo, agre-gando e apresentando os valores por este preconizados em toda a fraternidade mundial.

Mística e Simbologia

A mística e simbologia consubstancia-se na existência de um enquadramento espiritual, temático e simbólico que serve de fundo à vida e vivência das atividades escutistas, po-dendo estar presente – em termos macro – associada a uma secção, a qual se organiza em seu torno, bem como – em termos micro – em atividades particulares que o têm como elemento temático.

Lei e Promessa

Mística e Simbologia

Relação Educativa

Vida na Natureza

Sistema de Progresso

Aprender Fazendo

Sistema de Patrulhas

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Vida na Natureza

A Vida na Natureza é, desde a sua génese, um dos elementos mais marcadamente identi-ficadores do método escutista enquanto proposta pedagógica.

Aprender Fazendo

O Escutismo tem como objetivo ajudar as crianças e os jovens a desenvolver integral-mente as suas capacidades, para que se tornem membros ativos e responsáveis na sua comunidade. Esse desenvolvimento deve resultar progressivamente em maior autono-mia da criança ou do jovem. Para tal, este não pode apenas ouvir dizer “como é que se deve fazer” ou ver os outros a atuar. Para aprender é necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um processo dinâmico e ativo. O jogo – num sentido amplo – é onde, de diversas formas, por excelência se criam ou geram as situações de experiência e aprendizagem que desafiam as crianças e jovens, sendo pois o elemento essencial do Escutismo. Nele, a criança ou o jovem encontram desafios e obs-táculos, desenvolvem capacidades e solidariedades, aprendem e crescem com os outros e uns com os outros.

Sistema de Patrulhas

O Sistema de Patrulhas, tal como idealizado por Lord Baden-Powell of Gilwell, pelo qual as crianças e jovens de um grupo se organizam em pequenos grupos com uma identidade e vida própria, uma liderança e organização interna, constitui um dos elementos mais marcantes e distintivos do Escutismo enquanto pedagogia educativa.

Sistema de Progresso

Sendo o autodesenvolvimento de cada criança e jovem a finalidade do Escutismo, a pro-gressão pessoal, que se concretiza nos objetivos educativos, constitui a métrica proposta para cada faixa etária. O Sistema de Progresso, que procura envolver – de forma conscien-te – cada criança e jovem no seu próprio desenvolvimento, é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal, assentando numa perspetiva personalista, considerando as características individuais de cada um, e baseando-se num conjunto de objetivos edu-cativos.

No Corpo Nacional de Escutas, o método escutista encontra-se – naturalmente – estruturado da forma acima descrita, designadamente quanto à mística e simbologia, sendo realçadas, quando existam, as especificidades de cada secção.

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MíSTICA E SIMBoLogIA Do CNENo Corpo Nacional de Escutas, a vivência escutista, independentemente do escalão etário, baseia--se sempre num ambiente simbólico forte que lhe dá enquadramento, coerência e consistência.

> MísticaConsiderando que a expressão “mística” é hoje, em geral, extremamente ambígua, é compreen-sível que também no Escutismo o seu uso tenha suscitado (e suscite ainda) confusões. Referindo--se à dita ambiguidade do termo, afirma o padre Luís Rocha e Melo: «No seu sentido original, mystérion ou mystikós são palavras que expressam a ideia “de uma comunicação de Deus feita ao homem e de uma iniciação do homem nos desígnios de Deus, na sua ação e no seu próprio ser”1. Mystérion, usado inicialmente na literatura profana, tem o sentido de coisa escondida e secreta para além da experiência empírica. Myô ou mystés significam esconder ou escondido. Usado nas religiões mistéricas da Grécia, o verbo significava também fechar a boca: “Os mistéricos foram assim chamados, porque os que eram iniciados deviam fechar a boca e não explicar a ninguém estas coisas.”2 A palavra mística também não se encontra na Escritura; surge na linguagem cristã, mais tarde, na escola de Alexandria e designa um conhecimento mais profundo das verdades da fé não comunicável a todos.»3

Continua o mesmo autor, dizendo: «É o Pseudo-Dionísio4 quem emprega pela primeira vez a ex-pressão Teologia Mística. Essa é para o autor um conhecimento mais íntimo e secreto de Deus, que nasce na união com Ele e na experiência dessa mesma união. É um conhecimento de nature-za experimental, imediato e intuitivo, superior ao que nos dá a especulação sobre a fé. Este sen-tido conservou-se na tradição e conserva-se ainda nos dias de hoje.»5 Em suma, a noção cristã de mística concentra em si o sentido de «unidade – comunhão – presença» presente na expressão paulina: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Gl 2,20).»6

É de sublinhar que a palavra mística continua hoje a não ser unívoca, sendo também aplicada, por exemplo, para designar os fenómenos extraordinários com alteração dos estados de consciência e ainda, na forma substantiva7, para designar os instruídos em determinados mistérios, geralmen-te de cariz esotérico. Só o respetivo contexto permitirá identificar o sentido pretendido e tornar claro o uso da expressão.

No caso escutista, segundo o uso do Corpo Nacional de Escutas, a palavra mística é utilizada para caracterizar um «enquadramento temático religioso ou uma vivência espiritual sugerida como base ou fundamento da ação pedagógica escutista». Não tendo propriamente uma ligação exata

1 A. Solignac, Mystique, em Dictionnaire de la Spiritualité Ascétique et Mystique, T. X, V. 2, Col. 1861.2 C. A. Bernard, Le Dieu des Mystiques, Cerf, Paris, 1994, p. 188. O autor cita um estudo de G. Sfameni Gasparro.3 Luís Rocha e Melo, O vento sopra onde quer – notas de espiritualidade, Editorial A.O., p. 76s.4 Pseudo-Dionísio, ou Areopagita, é o nome por que é conhecido o autor de um conjunto de textos provavelmente dos séculos

V e VI d. C.5 Luís Rocha e Melo, O vento sopra onde quer – notas de espiritualidade, Editorial A.O., p. 77.6 Ibidem.7 Ibidem, 78.

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à «experiência de Deus» em sentido teológico, no uso dessa definição está presente uma das ideias mais originais do termo, que é a de um caminho de descoberta do que não é totalmente conhecido a priori. Além disso, como se verá mais facilmente na explicação da mística atualmen-te proposta a cada secção escutista, também aqui reside a ideia da comunicação de Deus ao Homem, e do acolhimento da parte deste ou, pelo menos, da procura de uma resposta a Deus.

O referido enquadramento temático religioso – a mística – visa o aprofundamento da relação com Deus em comunhão com a Igreja sendo, por isso, um aspeto central da pedagogia escutista no seio do Escutismo Católico Português. É precisamente esse objetivo final, comum a todas as crianças, jovens e adultos, de acordo com a fase em que se encontram, que justifica a escolha da Mística de cada secção. Não é demais sublinhar tratar-se de um dos aspetos basilares de toda a ação escutista no CNE, sendo a sua proposta imprescindível na perspetiva da educação integral dos jovens.

> Mística no CNEA mística do Programa Educativo do Corpo Nacional de Escutas assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se [nenhuma vale por si mesma], na medida em que estão interligadas e adqui-rem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada Escuteiro. Há aqui um desejo explícito de seguimento da História da Salvação, em etapas que se interpenetram e complementam, sendo que, como é geralmente feita a abordagem da História da Salvação, esta é lida e apresentada numa perspetiva sempre cristológica, iluminada à luz da fé pascal da ressurreição de Cristo. O percurso sugerido ao longo de quatro etapas tem como meta a maturidade da fé cristã e define os seguintes objetivos para cada uma das secções:

o louvor ao CriadorO Lobito louva Deus Criador, descobrindo-O no que o rodeia.

A descoberta da Terra PrometidaO Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida.

A Igreja em construçãoO Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo.

A vida no Homem NovoO Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.

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O Lobito louvaDeus-Criador,

descobrindo-Ono que o rodeia.

O Exploradoraceita a Aliançaque conduz àdescoberta da

Terra Prometida.

O Pioneiroassume o seu

papel na construção da

Igreja de Cristo.

O Caminheirovive cristãmente

em todas as dimensões do

seu ser.

o louvor ao Criador

A descoberta da Terra

Prometida

A Igreja emconstrução

A Vida noHomem Novo

J E S U S C R I S T O

J E S U S C R I S T O

No percurso sugerido, procura-se que o Escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimen-sões fundamentais, uma sobrenatural e uma natural, e que ambas se relacionam intimamente: Cristo, Senhor da Vida, não se reduz à vivência espiritual e mística do Homem; Ele está presente na vida do dia-a-dia e ao longo de toda a existência humana. É, por isso, presença constante na vida de um Escuteiro.

Nesta perspetiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro e fonte de irradiação de sentido.

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> Patronos, Modelos de Vida e grandes FigurasO Programa Educativo do Corpo Nacional de Escutas propõe um aprofundamento da mística espi-ritual com recurso à figura de patronos e modelos de vida. Como complemento, apresenta ainda grandes figuras ligadas ao imaginário de cada secção.

PatronosA escolha de patronos para o Escutismo remonta às origens do próprio Escutismo, com a de-signação de São Jorge para patrono mundial, por motivos históricos, culturais, pedagógicos e, naturalmente, religiosos.

Afirmava Baden-Powell, começando por se referir aos «Cavaleiros da Távola Redonda»: «Tinham a São Jorge por padroeiro8, porque entre os santos era o único cavaleiro. É o padroeiro da cava-laria e santo especial da Inglaterra. É também o padroeiro dos escuteiros em todo o mundo. Por isso todos lhe devem conhecer a história. [...] São Jorge foi o que o escuteiro deve ser. [...] São Jorge comemora-se a 23 de abril. Nesse dia todos os bons escuteiros se lembram de meditar sobre a sua promessa e lei. Recordai-vos disto no próximo dia 23 de abril e saudai os vossos ir-mãos escuteiros espalhados pelo mundo.»9

Na frase «São Jorge foi o que o escuteiro deve ser» está sintetizado o valor pedagógico dos pa-tronos no Escutismo e a sua razão de ser. De facto, a vida dos santos, sendo inspiradora para qualquer crente, é-o também para qualquer escuteiro, com especial destaque para os Católicos (em comunhão com Roma) e os Ortodoxos, visto serem estes a valorizar mais o papel dos santos como estímulo à santidade.

Note-se ainda que «santos» era um dos nomes primitivos dado aos cristãos (cf. At 9.13.32.41; Rm 12.15.16; 1Cor 6.16; etc.). O Concílio Vaticano II, ao sublinhar a vocação universal de todos à santidade (Lumem Gentium 39), relaciona-a com a santidade da Igreja, esposa do único «Santo», Cristo Jesus. É, pois, na medida em que se vive em Cristo (Gl 2,20) que se é santo, razão pela qual os batizados, mergulhados com Cristo na morte para com Ele ressuscitarem e, portanto, consti-tuídos membros do Seu Corpo Místico, são efetivamente chamados «santos».

Não obstante, e porque este Povo de Deus constituído organicamente no Corpo de Cristo ainda peregrina na terra (com o que de limitação, finitude e pecado isso implica), o seu caminho carece de estímulos e exemplos que ajudem a seguir o caminho certo. Os santos e os beatos, reconheci-dos oficialmente pela Igreja por via da canonização e beatificação, são pequenos faróis colocados sobre a falésia das nossas incertezas e dúvidas que nos ajudam a encontrar o caminho certo, longe do perigo de rochedos e outros obstáculos. Eles não são a Luz, mas fazem-nos chegar a ela, tal como São João Batista não era a luz mas veio para dar testemunho da luz (Jo 1,7): a Luz dos Povos é Cristo (Lumen Gentium 1) e só Cristo!

8 Patron no original inglês (cf. Robert Baden- Powell, Scouting for Boys – The original 1908 Edition, p. 241).9 Robert Baden-Powell, Escutismo para Rapazes, ed. 1998, p. 237-238.

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Como na animação espiritual no Escutismo nenhum elemento surge isoladamente nem desligado das outras dimensões pedagógicas, a escolha dos patronos de secção encontra-se intimamente relacionada com a mística e imaginário respetivos.

Convencionou-se considerar os patronos «santos ou beatos da Igreja que, no decurso da sua vida, encarnaram na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da mística e do imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhidos como protetores e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção».

Surge nessa definição um outro aspeto muito importante que se prende com a chamada «comu-nhão dos santos», ou seja, «a comunhão entre as pessoas santas (sancti), isto é, entre os que, pela graça, estão unidos a Cristo morto e ressuscitado. Alguns são peregrinos na terra; outros, que já partiram desta vida, estão a purificar-se, ajudados também pelas nossas orações; outros, enfim, gozam já da glória de Deus e intercedem por nós. Todos juntos formam, em Cristo, uma só família, a Igreja, para louvor e glória da Trindade.»10

A respeito da intercessão dos santos, ensina ainda o Catecismo da Igreja Católica, citando o Con-cílio Vaticano II: «Os bem-aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade [...]. Eles não cessam de interceder a nosso favor, diante do Pai, apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao Mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo [...]. A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude fraterna.»11

Em síntese, há dois motivos principais pelos quais se apresentam diversos patronos no CNE:

- por serem exemplo, referência e testemunhas de Cristo ressuscitado;

- para intercederem por todos os Escuteiros e Dirigentes.

O patrono é exemplo de vida, uma referência singular, um estímulo para uma vida pautada pelos valores perenes e, simultaneamente, é um intercessor junto de Deus, razão pela qual é invocada a sua proteção.

No Escutismo Católico Português, Nossa Senhora foi desde sempre invocada como Mãe dos Escu-tas e continua hoje a ser assim considerada. São Jorge, por motivos históricos, é invocado na qua-lidade de Patrono Mundial do Escutismo. E São Nuno de Santa Maria, que desde o nascimento do Corpo Nacional de Escutas foi invocado na qualidade de patrono, ainda que até 2009 enquanto beato da Igreja, é o santo patrono de todo o CNE.

10 Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 195.11 Catecismo da Igreja Católica, 956 (cf. Lumen Gentium 49).

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Notas Biográficas

Maria, ou «Miriam», em hebraico, foi uma jovem judia esco-

lhida por Deus para ser mãe de Jesus, o Salvador do Mundo.

Tradicionalmente, é considerada da família do rei David,

embora não haja certezas sobre se o seria diretamente ou

por ter casado com José. Também não se sabe ao certo nada

de seguro sobre os seus pais ou o local de nascimento. Há

apenas alguns dados da tradição que apontam no sentido

de Joaquim e Ana serem os seus pais. Lc 1,26 e Lc 2,4 indi-

cam que Maria morava em Nazaré da Galileia.

Significado de Santa Maria para a Igreja

O Concílio Vaticano II ensina que «o culto a Maria faz com

que, ao honrarmos a Mãe, seja bem conhecido, amado e glo-

rificado o Filho» (LG 66-67). O ponto mais elevado da vida

de Nossa Senhora foi o acolhimento da Anunciação que lhe

dirigiu o anjo Gabriel, enviado por Deus. Vendo no anjo a

vontade divina, Maria colocou-se por inteiro nas mãos de

Deus com confiança, dizendo: «Faça-se em mim segundo a

Vossa palavra.» (Lc 1,38) Por isso, Santa Maria é exemplo

de vida de fé e de pleno acolhimento do querer de Deus.

Nossa Senhora é invocada pelos fiéis de muitas formas,

entre as quais está a invocação de «Mãe de Deus». Por ser

«Mãe de Deus» e «nossa Mãe», Maria é apoio seguro a quem

sempre podemos recorrer, e singular intercessora junto de

Deus. Maria ocupa ainda um lugar singular na devoção

cristã em Portugal, desde os tempos mais remotos da nacio-

nalidade, sendo mesmo a característica mais vincada da

religiosidade popular no nosso país.

Santa Maria é invocada no CNE como «Nossa Senhora, Mãe dos Escutas».

Santa Maria, Mãe dos Escutas

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Notas Biográficas

São Jorge (séculos III-IV) é um dos mais conhecidos santos

da Igreja, e a sua reputação continua viva, em especial no

Oriente, mas também um pouco por todo o mundo. Não há

quaisquer pormenores históricos exatos sobre a vida deste

santo da Igreja, sabendo-se, contudo, que o seu culto se es-

palhou rapidamente a partir da Palestina.

As lendas em torno desta figura insigne descrevem-no,

geralmente, como cavaleiro da Capadócia (atual Turquia)

que resgatou uma donzela de um dragão, gesto esse que

levou ao batismo de milhares de pessoas. É de referir que

o pormenor lendário sobre a existência de um «dragão» foi

um acrescento medieval à lenda já existente sobre São Jorge.

Mais tarde, vítima da perseguição do imperador Diocleciano

(244-311 d.C.), terá sido torturado e decapitado devido à

fé que sempre e destemidamente defendeu. O seu martírio

é celebrado liturgicamente pela Igreja no dia 23 de abril.

São Jorge e o Escutismo

Persistem algumas dúvidas relativamente à origem da de-

voção a São Jorge em Inglaterra, mas há dados que apon-

tam no sentido de ter sido considerado protetor, da Ordem

da Jarreteira, já no reinado de Eduardo III, no século XIV.

Tendo o Escutismo nascido em Inglaterra, Baden-Powell

confiou, ao mesmo santo protector, o Movimento Escutista

Mundial. Por isso, São Jorge é o Patrono Mundial do Escu-

tismo, representando a unidade dos Escuteiros do mundo

inteiro e, simultaneamente, o desejo de uma vida fiel e

corajosa no cumprimento da vontade de Deus.

Atualmente, São Jorge é o patrono de Inglaterra, dos solda-

dos e dos Escuteiros, havendo numerosas igrejas em todo o

mundo a ele dedicadas.

São Jorge

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Notas Biográficas

Nuno Álvares Pereira nasceu em 1360 no Castelo do Bon-

jardim. Na juventude integrou o séquito de D. Fernando,

sendo armado Cavaleiro. Casou, por obediência a seu pai,

com D. Leonor de Alvim, de quem teve uma filha.

Estando ameaçada a independência nacional, após a morte

do rei, Nuno abraça a causa do Mestre de Avis, nomeado

pelo povo Regedor e Defensor do Reino, lutando contra Cas-

tela, encabeçando exércitos, sendo nomeado Condestável e

vencendo sucessivas batalhas até à consolidação da nova

dinastia.

Profundamente religioso, e devoto de Nossa Senhora, leva

uma vida de profunda oração mesmo no campo de batalha,

sendo audaz na contenção dos excessos usuais à época nos

períodos pós-batalha. Ganha, assim, fama de santidade,

fazendo que mesmo os inimigos o admirassem e procuras-

sem conhecer nos períodos de tréguas. Em 1415, participou

ainda na Tomada de Ceuta.

Triunfador no campo de batalha e na construção política

de uma nova dinastia que assegurava a independência de

Portugal, acumula riquezas imensas, tornando-se na pes-

soa mais rica do Reino.

Após enviuvar, dedica-se à construção do Convento do Car-

mo em Lisboa, onde em 1422 recolhe como irmão donato,

após partilhar todos os seus bens, tomando o nome de Nuno

de Santa Maria e entregando-se fervorosamente à oração e

à caridade, sendo visto pela cidade a pedir esmola e a acudir

aos mais necessitados, seja na doença, seja na subsistência.

Morre em 1431, na sua pobre cela, rodeado pelo rei e pelos

príncipes.

São Nuno de Santa Maria

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Cada secção tem, por sua vez, o seu patrono próprio:

São Francisco de Assis;Alcateia

São Tiago [Maior]Expedição

São PedroComunidade

São PauloClã

Modelos de Vida Os modelos de vida definidos no programa educativo do CNE estão intimamente ligados aos «pa-tronos» sendo que, ao contrário destes (que são definidos nacionalmente), aqueles podem ser complementados localmente de acordo com a tradição religiosa e a cultura de cada local (sendo apenas sugeridos nacionalmente possíveis modelos). Aplica-se, pois, aos «modelos de vida» tudo o que atrás foi referido sobre os «patronos».

Sinteticamente, definimos os «modelos de vida» como «figuras da Igreja Católica que, à semelhan-ça dos patronos, também encarnam os valores e ideais da mística e do imaginário da secção a que estão ligados e que exprimem a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver».

Considerando a natureza dos patronos e dos modelos de vida, entende-se por «figuras da Igreja» somente santos ou beatos da Igreja (isto é, reconhecidos oficialmente pelo Magistério oficial da Igreja mediante a canonização ou beatificação).

O principal motivo para a apresentação de modelos de vida encontra-se na referência aos diferen-tes carismas eclesiais. Pode ser pedagogicamente benéfico sublinhar que a vocação à santidade é universal e se concretiza em pessoas de todos os tempos e lugares, homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. Na medida em que os escuteiros se sentirem identificados com os «mo-delos» apresentados, maior pertinência estes terão na implementação do Programa Educativo, constituindo um estímulo real e efetivo para a vida de santidade.

É de evitar a profusão de propostas e exemplos nesta área. Se não for benéfica a sua introdução, pode até vir a ser localmente omitida. O que verdadeiramente importa é que as crianças e jovens revejam na vida concreta de tantas pessoas o eco da Santidade de Cristo, ou o seu esplendor. Esse é o critério derradeiro de aferição da pertinência dos «modelos» a apresentar.

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grandes FigurasAo contrário dos «patronos» e dos «modelos de vida», as grandes figuras não estão propria-mente associadas à mística de cada secção, mas ao respetivo “imaginário”. A sua indicação, que nas sugestões apresentadas é meramente ilustrativa, visa estimular os escuteiros a desenvolver qualidades e talentos em ordem ao seu desenvolvimento integral.

Não se trata de sublinhar todas as dimensões da vida de cada personalidade, nem tão-pouco a vida no seu todo, mas alguma característica em que esta se notabilizou. São escolhidas pessoas de diferentes quadrantes, culturas e religiões, bem como de diversas áreas de intervenção no espectro das múltiplas atividades humanas, procurando com isso fazer despertar em cada jovem o desejo de trilhar o seu próprio caminho, de acordo com os dons que Deus lhe deu.

Definimos as grandes figuras como figuras que na sua vida realizaram grandes feitos, associados ao imaginário da secção, que marcaram a história da humanidade.

ImaginárioCada secção possui e vive um imaginário próprio, isto é, um ambiente que a envolve e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios, uma história com heróis e símbolos, induzindo a um sentimento de pertença em relação ao grupo e permitindo a transmissão de determinados valores:

• O Livro da Selva, escrito por Rudyard Kipling [em dois volumes] é o ambiente onde o Lobito vive as suas atividades.

• Para o Explorador/Moço, o imaginário desenvolve-se em torno da figura do próprio Explora-dor – aquele que vai mais longe, mais além, aquele que descobre.

• Para o Pioneiro/Marinheiro, o imaginário desenvolve-se em torno da figura do próprio Pio-neiro – aquele que desbrava, que se instala, que constrói, que desenvolve.

• Já o Caminheiro/Companheiro não possui imaginário formal permanente, pois como jovem adulto já perspetiva as suas ações em prática no terreno real, na vida do dia-a-dia, sem pre-juízo de poder ter e usar imaginários nas atividades específicas.12

Tal como no caso da “mística”, também a expressão “imaginário” designa diferentes realidades conso-ante o contexto. No entanto, o sentido dado no CNE a esta última não difere muito significativamente do sentido mais comum do termo. Em todo o caso, importa clarificar também este conceito.

Os “imaginários” podem ser preciosos no desenvolvimento da ação educativa na medida em que, dando um enquadramento temático sugestivo, permitem veicular a transmissão de valores fundamentais de maneira informal, didática e atraente.

Em virtude de ter sido edificado um novo Programa Educativo, foram também identificados os imaginários de secção (apesar de não terem sofrido alterações relativamente ao programa edu-cativo anteriormente em vigor) que são fixos e que servem de base para a criação dos imaginários das atividades (a escolher localmente em cada caso). Isto é, do imaginário geral de uma secção

12 Doravante, sempre que se referir Explorador (elemento da II Secção), entenda-se igualmente Moço; o mesmo é válido para Pioneiro/Marinheiro e Caminheiro/Companheiro.

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derivam os diferentes imaginários, pontuais, de atividade sendo que, ao contrário destes últimos, o imaginário geral é proposto previamente pelo CNE de acordo com as características das crianças e jovens de cada secção.

Os imaginários de atividades são escolhidos na preparação das mesmas, segundo a pedagogia es-cutista, onde tudo deve concorrer para que cada elemento do grupo se sinta envolvido e estimu-lado a participar. Por esse motivo, na escolha de imaginários de atividade os escuteiros (crianças e jovens) têm importante e mesmo determinante voz ativa, cabendo aos respetivos Dirigentes o papel de enquadrar e enriquecer a proposta previamente escolhida pelos escuteiros. No fundo, esta dinâmica aplica a interessante nota sugestiva de Baden-Powell: «Ask the Boy!», verdadeira chave de “sucesso” pedagógico porquanto promove níveis de motivação muito elevados por par-te dos participantes na atividade.

SímbolosPara que toda esta vivência seja completa, existe um conjunto de símbolos – elementos/objetos representativos de realidades, características ou atitudes que materializam o ideal proposto na mís-tica de cada secção – que ajudam a transmitir e reforçar o ideal presente no imaginário e na mística.

No Programa Educativo do Corpo Nacional de Escutas, todas as secções têm o seu símbolo identi-ficativo, podendo este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.

É possível encontrar muitas definições de «símbolo» consoante os contextos. Segundo a conce-ção do teólogo belga Johan Vloet (da Universidade Católica de Lovaina), os símbolos são formas de expressão tipicamente humanas que, recorrendo a imagens, «estabelecem uma ligação com uma realidade mais profunda dentro de nós» 13.

Segundo o mesmo autor, «é impossível ao ser humano viver sem símbolos» pois estes «expres-sam algo daquilo que o ser humano é, pensa, sente, e daquilo que não consegue exprimir por palavras»14. Isto traduz o facto de os símbolos perpassarem toda a vida humana nas suas múl-tiplas dimensões e, por isso, estarem também envolvidos na componente educativa diretriz do desenvolvimento de cada indivíduo.

Contudo, apesar de possuírem evidentes qualidades pedagógicas, os símbolos não são meros ins-trumentos ou realidades de segunda categoria, pois uma imagem tem o singular poder de exprimir o nível de realidade que se quer expressar, de tal forma que, na linha de Romano Guardini, se pode até dizer que «a imagem é de algum modo essa realidade»15. Na verdade, o símbolo é um real agente transformador e «a linguagem simbólica, antes de ser uma linguagem de explicação, é uma linguagem de tentação que nos conduz para um outro comportamento mental e emocional»16.

13 J. Vloet, O símbolo e a nossa linguagem acerca de Deus, in Communio VI (1989) 6, p. 499-508.14 Ibidem.15 Ibidem, p. 500.16 J.-M. Gaudron, in L’Éducateur confronté a l’image, citado por C. Capucho em Communio VI (1989) 6, p. 490.

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Uma segunda dimensão presente no “simbólico” é a sua qualidade reconciliadora ou unitiva, em contraposição com o “diabólico”, que é precisamente o que divide. Como escrevia o padre António Rego: «O simbólico é a cura harmónica da cisão humana, o caminho mais certo que nos conduz à saudável incerteza do mistério.»17

Por fim, além do uso mais formal dos símbolos de acordo com o que atrás foi dito, toda a vida escutista está cheia da linguagem simbólica em todas as suas expressões: bastaria pensar nos ges-tos de saudação, no uniforme, nas atividades escutistas (jogos, raides, fogos de conselho, etc.)... Em tudo está presente a linguagem simbólica e, de certa forma, esse é um dos aspetos que mais contribui para a transmissão do chamado «espírito escutista» aos mais novos e, mais importante, a transmissão de valores.

I Secção II Secção III Secção IV Secção

Explorador[o que descobre]

Pioneiro[o que constrói]

sem imaginário formal

O Louvor ao Criador A descoberta da Terra Prometida

A Igreja em construção

A vida no Homem Novo

Livro da SelvaImaginário

Mística

Flor de LisVara

ChapéuCantilEstrela

Rosa-dos-VentosMachada

Gota de ÁguaIcthus

Vara BifurcadaTenda

MochilaEvangelho

PãoFogo

Cabeça de LoboSímbolos

São Tiago Maior São Pedro São PauloSão Francisco de Assis

Patrono

AbraãoMoisésDavid

Santo AntónioSanta Isabel de Portugal

São João de BritoSanta Teresinha do

Menino JesusSanta Catarina de Sena

São João de DeusBeata Teresa de CalcutáSanta Teresa Benedita

da CruzSão João Paulo II

Santo Inácio de Loyola

Santa Clara de AssisBeatos Francisco e Jacinta Marto

Modelos de Vida

Grandes Exploradores

Grandes Pioneiros

Grandes Personalidades

---grandesFiguras

17António Rego, Símbolo, um Salmo sem palavras, in Communio VI (1989) 6, p. 562.

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MísticaQuando um Lobito chegar ao final da passagem pela I Secção, pretende-se que tenha descoberto Deus-Pai enquanto Criador. Utilizando uma linguagem adequada à idade dos Lobitos, transmite--se que Deus é a fonte de todas as coisas boas, procurando, assim, fazer despertar sentimentos religiosos de gratidão e de louvor.

Deus criou tudo o que faz do Lobito uma criança feliz e contente – ou seja, a natureza, com todos os animais, mares, rios, florestas, montanhas, etc. e, muito especialmente, todos os meninos e meninas que vivem ao seu lado, bem como a sua família. Quando o Lobito descobre as maravilhas da Natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebendo que Este o ama, aprende a louvar o Criador. Pretende-se que o Lobito, olhando para a realidade criada, aprenda a ver nela o Amor de Deus e se volte para o Criador.

Naturalmente, o Lobito será mais sensível a um discurso centrado em Jesus – nestas idades fre-quentemente chamado «Menino Jesus» –, pelo que será essa a via mais adequada para enca-minhar para o início da descoberta de Deus. É importante que a descoberta de Deus seja acom-panhada pela descoberta da família, dos amigos, de todos os meninos e meninas e de todas as pessoas, para que o Lobito encontre na relação com os outros um caminho privilegiado para fazer a vontade de Deus.

Grata a Deus por tudo o que de bom tem na sua vida, a criança aprenderá a dizer «obrigado» a Deus, e irá despertando para a necessidade de corresponder ao Amor de Deus através do louvor.

> Mística e Simbologia da I Secção

O Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia.

Quando o Lobito descobre as maravilhas da Natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebendo que Este o ama, aprende a louvar o Criador.

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Notas Biográficas

Francisco nasceu em Assis, na Itália, no ano de 1182.

O seu pai era um rico comerciante de tecidos, o que permitiu

a Francisco ter uma infância e juventude abastada e feliz.

Devido às desigualdades sociais, ocorreu uma revolta do

povo contra os nobres da cidade de Assis. Francisco, como

muitos jovens da sua época, tomaram partido na causa so-

cial do povo. Só que Perugia, uma cidade vizinha, man-

dou um exército bem preparado para defender os nobres. Na

luta sangrenta, Francisco foi preso (assim como os seus

jovens companheiros), tendo sido libertado ao fim de um

ano, quando o seu pai pagou pela sua libertação.

De volta a Assis, doente, enfraquecido e sem projeto de vida,

Francisco entregou-se a outra causa: a Igreja procurava

voluntários para a defesa dos seus territórios. Francis-

co, inspirado nas histórias de heróis e valentes cavaleiros,

alistou-se e preparou-se com a melhor armadura de cava-

leiro. Após a partida, na primeira noite em que o exército se

reuniu junto a uma cidade chamada Espoleto, Francisco,

doente, ouviu Deus a perguntar-lhe: «Francisco, a quem de-

ves servir, ao Senhor ou ao servo?» «Ao Senhor», respondeu

Francisco. Disse Deus: «Então, porque trocas o Senhor pelo

servo?» Francisco compreendeu, então, que deveria servir a

Deus. Abandonou o seu ideal de cavaleiro e retornou a Assis

humilhado, sendo gozado por muitos.

São Francisco de Assis

Esta etapa será eminentemente prática, não estando dependente de discursos ou transmissões orais de conteúdos. O desafio que é colocado aos animadores desta secção é o de encontrar for-mas cativantes e dinâmicas de, através do jogo, educar no sentido descrito.

PatronoNesta etapa da vida das crianças, o exemplo de São Francisco de Assis, com a sua vida de simplici-dade e de comunhão com a obra criada por Deus, é apontado como referência a seguir.

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Em Francisco foi-se operando uma transformação. Pas-

sava muitas horas sozinho, buscava lugares isolados no

campo e quando encontrava um mendigo, doava o que dis-

punha no momento. Certo dia, estava a rezar na Igreja de

São Damião – uma capelinha quase destruída – e olhan-

do um crucifixo e examinando as paredes caídas ao redor,

compreendeu o pedido que tinha ouvido de Deus: «Francis-

co, reconstrói a minha Igreja!» Para empreender o projeto de

reconstruir a Igreja, Francisco utilizou bens do pai. Este, já

enfurecido pelas atitudes de Francisco e prevendo o risco de

perder o património nas mãos do filho, abriu um processo

perante o bispo para o deserdar. Diante das acusações do pai,

na frente do bispo e de todos, Francisco tirou as próprias

vestes e, nu, devolveu-as ao pai dizendo: «Daqui em diante

tenho apenas um pai: O Pai-nosso do céu!» Depois de ter re-

construído a Igreja de São Damião, restaurou também uma

outra conhecida como Porciúncula, onde decidiu permanecer.

Com o tempo, Francisco compreendeu que deveria recons-

truir a Igreja dos fiéis e não somente as igrejas de pedra,

marcando a sua vida pela obediência, pela paz, pela con-

versão, pelo anúncio da Boa Nova e pela “senhora pobreza”,

como gostava de dizer. Aos poucos, o seu estilo de vida e as

suas palavras começaram a tocar os corações de alguns que

o quiseram seguir (o primeiro foi Bernardo, um nobre e rico

amigo seu). Os que o seguiram na altura, tal como acon-

tece hoje entre os diferentes ramos da Ordem Franciscana,

doaram tudo o que tinham aos pobres...

Orando, ajudando os pobres, cuidando dos leprosos, pre-

gando e dedicando-se a atividades missionárias, Francis-

co assistiu ao crescimento da “sua” Ordem, denominada

dos Frades Menores, que se espalhou por diversas partes

do mundo. Embora a velhice ainda não tivesse chegado, o

seu corpo tornou-se frágil, agravado por um problema na

vista que o deixou quase cego. Ainda que espiritualmente

forte, nunca mais recuperou fisicamente, até que no dia 3

de outubro de 1226, junto à Porciúncula, Francisco pede

aos irmãos que o coloquem no chão, despojado. Recitando

o Salmo 142, que os irmãos acompanhavam lentamente,

Francisco partiu rumo ao céu.

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São Francisco viveu os valores evangélicos com grande radicalidade. Depois do encontro pro-fundo com Cristo, a sua vida foi inteiramente colocada ao serviço da vontade divina, para bem da Igreja. Na harmonia com as criaturas, São Francisco encontrou (ou, melhor, foi encontrado) e deixou-se cativar pelo Criador. Por isso, tudo lhe falava de Deus. O seu exemplo de vida contagiou imensos homens e mulheres, e continua ainda a contagiar, a ponto de ser uma figura notável da falange venerável dos santos da Igreja. Com São Francisco aprende-se a alegria, a simplicidade, a entrega de vida, a fidelidade, a amizade, a fraternidade mas, sobretudo, o Amor a Jesus Cristo.

Considerando a mística proposta para esta secção, e a vida deste santo da Igreja, reconhecemos que esta é ícone daquela. Ou seja, conhecendo a vida de São Francisco, e observando o seu percurso de santidade, reconhecemos no Santo de Assis os principais traços que constituem os Objetivos Educativos para os Lobitos, na Área Espiritual, que é como que o “substrato” das demais. Por esse motivo, e não por qualquer motivo de ordem exclusiva ou prioritariamente devocional, a escolha do patrono recaiu sobre São Francisco.

Modelos de VidaAlém do patrono são ainda propostos aos Lobitos outros modelos de vida, que evidenciam a diversidade de personalidades e carismas que conduzem à santidade e apresentam modelos que cativem os Lobitos e neles façam despertar o desejo de caminhar para a santidade.

Os modelos de vida propostos para os Lobitos são Santa Clara de Assis e os Beatos Francisco e Jacinta Marto.

Notas Biográficas

Clara nasceu em Assis, em Itália, em 1194. A vida sorria-

-lhe mas, aos dezoito anos, preferiu deixar tudo para se en-

tregar Àquele que a fascinara: Jesus Cristo. Abandonando

secretamente a sua casa na noite de Domingo de Ramos

de 1211, sem que a família disso suspeitasse, Clara inicia

uma aventura que a elevará à santidade, pelos caminhos

da simplicidade, da caridade e da pobreza. Tudo abando-

nou, a exemplo de São Francisco, seu profundo amigo, para

se entregar ao Amor de Jesus no pequeno Mosteiro de São

Damião, em Assis. Foi tal o impacto causado pela original

aventura de Clara que, em breve, grande número de jovens

seguiu o seu exemplo, como aconteceu com a sua irmã Inês.

Partiu para o céu a 11 de agosto de 1253.

Santa Clara de Assis

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Notas Biográficas

Francisco Marto nasceu em Aljustrel a 11 de junho de 1908

e a sua irmã, Jacinta Marto, a 11 de março de 1910. Ti-

nham uma prima chamada Lúcia, um pouco mais velha,

que com eles cresceu e com eles partilhou a infância.

A 13 de maio de 1917, estas três crianças apascentavam

um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Fátima.

Lúcia tinha 10 anos, Francisco 9 anos e Jacinta 7 anos.

Por volta do meio-dia, depois de rezarem o terço, viram

uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidi-

ram ir-se embora, mas outro clarão iluminou o céu e vi-

ram, em cima de uma pequena azinheira, uma “Senhora

mais brilhante que o sol” de cujas mãos pendia um terço

branco.

A Senhora disse aos três pastorinhos que era necessário

rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria du-

rante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela

hora. Lúcia, Francisco e Jacinta assim fizeram, apesar de

alguns percalços. Na última aparição, a 13 de outubro,

a Senhora disse-lhes que era a “Senhora do Rosário” e

que fizessem ali uma capela em Sua honra. Estes acon-

tecimentos foram muito importantes para Lúcia, Fran-

cisco e Jacinta. Amavam tanto Jesus que o maior desejo

de Francisco era “consolar Nosso Senhor”, de tal maneira

que passava horas a consolar “Jesus escondido” no Sacrá-

rio, enquanto Jacinta fazia muitos sacrifícios por amor

ao Coração de Maria, pelo Papa e pelos pecadores, para que

se arrependessem.

Francisco e Jacinta morreram ainda pequeninos. Fran-

cisco partiu para o céu no dia 4 de abril de 1919 e Ja-

cinta no dia 20 de fevereiro de 1920. A 13 de maio de

2000, no Santuário de Fátima, o Papa João Paulo II

beatificou-os. São celebrados liturgicamente a 20 de

fevereiro.

Beatos Francisco e Jacinta Marto

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Imaginário O imaginário dos Lobitos tem por base a história de Máugli de O Livro da Selva. Esta história encontra-se nos dois volumes da célebre obra de Ru-dyard Kipling, e tem um sentido claramente alegórico. As diferentes per-sonagens que compõem o enredo dos maravilhosos episódios do Menino--Lobo representam alguns aspetos característicos da sociedade em que viveu o autor, e que estão igualmente presentes na sociedade hodierna. Trata-se, por isso, de uma obra de grande atualidade e, sobretudo, de um precioso instrumento pedagógico que permite, através do jogo, ajudar a conhecer o mundo e transmitir valores essenciais.

Ali, na Selva, todos vivem vinculados à Lei, sendo cada figura a personifi-cação de determinados tipos de carácter e personalidade, os quais ajudam os Lobitos a perceberem as diferentes personalidades e atitudes, e o dife-rente valor destas, e a construírem a sua própria personalidade, eviden-ciada nas atitudes quotidianas.

SímboloA Cabeça de Lobo, que encima o Mastro Totem da Alcateia, é o símbolo máxi-mo da Unidade e de cada Lobito. Considerando as características psicológicas das crianças desta idade, e considerando que os símbolos têm, por definição, uma função unificadora, propõe-se um símbolo único para as crianças desta faixa etária.

A cabeça de Lobo evoca o imaginário da secção e, simultaneamente, remete para a mística dos Lobitos, que tem por base o tema da Criação. O Lobo per-sonifica todos os animais que Deus criou – que embelezam terra, céus, mares e rios –, trazendo ao espírito a ideia de que tudo é dom da sua bondade e de que, por isso, Deus deve ser sempre louvado.

Ao mesmo tempo, a cabeça de Lobo representa o processo evolutivo do Me-nino-Lobo, no seio da Alcateia, aludindo à caminhada que todo o ser humano deve procurar realizar.

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> Mística e Simbologia da II Secção

O Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra Prometida.

O Explorador reconhece Deus na sua vida e aceita a Aliança que este lhe propõe, pondo-se a caminho tal como o Povo do Antigo Testamento.

A descoberta da Terra Prometida

MísticaQuando um Explorador chegar ao final da passagem pela secção, pretende-se que tenha desco-berto a importância de acolher a Aliança que Deus lhe propõe.

Depois da descoberta do Criador através da obra criada – muito em especial da Humanidade, criada à imagem e semelhança de Deus –, segue-se o acolhimento da relação de Deus com os Homens. Esta relação tem em Deus a sua origem, e materializa-se no firmamento de uma Alian-ça. A Aliança que Deus propõe aos homens é, num certo sentido, desigual, na medida em que, por exemplo, não obstante a eventual infidelidade do Homem, Deus não deixa de ser fiel à Sua Aliança. Deus oferece à Humanidade a possibilidade de viver em paz e felicidade, com uma des-cendência incontável, na Terra Prometida. Essa é a grande promessa do Antigo Testamento.

Ao longo da história de Israel, Deus estabeleceu várias vezes uma Aliança com o Seu Povo, mas só Jesus Cristo vem estabelecer a Nova e Eterna Aliança.

O Explorador ainda não entende, naturalmente, todo o alcance desta Aliança em Cristo, mas sente-se motivado a fazer caminho de descoberta. Por isso, começa por acolher o desafio que Deus lhe coloca e, tal como o povo hebreu fez ao caminhar pelo deserto, aceita partir em busca do cumprimento das promessas de Deus, isto é, da Terra Prometida onde «mana leite e mel», sinal da vida em abundância.

A Terra Prometida é uma imagem da vida em abundância prometida por Cristo (Jo 10,10).

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Para um Explorador, a Terra Prometida personifica a realização de tudo aquilo que o faz feliz. À medida que for crescendo, irá perceber que tudo depende da relação pessoal com Cristo, o Salvador de todo o género humano. O Explorador tem – como não podia deixar de ser – Cristo Jesus como modelo supremo e como meta a alcançar. Cristo adquire, também nesta faixa etária, obviamente um lugar central na Pedagogia da Fé.

Todo o imaginário sobre os heróis do Povo de Deus pode ser um ótimo elemento para ajudar a dinamizar as atividades desta secção, à luz da mística proposta. O Explorador que se identifica com o Povo peregrino através do deserto começa também a descobrir a dimensão comunitária da sua vida. A noção de Povo escolhido, chamado e enviado por Deus é-lhe apresentada, primei-ro através da vivência em patrulha e, numa segunda fase, através de uma progressiva abertura aos outros, em diferentes instâncias. Isso remete para a descoberta da Igreja que, sobretudo na secção seguinte, será já mais concreta.

PatronoO patrono proposto para a II Secção é São Tiago [Maior], que viveu os principais valores que se pretende transmitir para os escuteiros nesta faixa etária.

Notas Biográficas

Por vezes designado como São Tiago Maior (para distin-

guir do outro Apóstolo chamado Tiago), este santo da Igre-

ja, filho de Zebedeu e de Salomé, e irmão de João, foi escolhi-

do por Jesus Cristo para ser um dos Doze Apóstolos. Os dois

irmãos, provavelmente por causa do seu carácter colérico,

eram chamados «Boanerges», isto é, «Filhos do Trovão». Tal

como o seu pai, eram pescadores no mar da Galileia, origi-

nários de Cafarnaum, onde também André e Pedro traba-

lhavam.

Sabe-se também, pelos próprios dados evangélicos, que foi

um dos mais próximos de Jesus, mesmo dentro do grupo

mais restrito dos Doze, já que esteve na ressurreição da fi-

lha de Jairo, na Transfiguração e na Agonia no Horto das

Oliveiras de forma peculiar.

Testemunha das aparições do Senhor Ressuscitado e da

Sua Ascensão, recebe o Espírito no dia de Pentecostes. Na

São Tiago [Maior]

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Sagrada Escritura, a última referência que se faz a Tiago

é justamente a da sua prisão e morte, às mãos de Herodes

Agripa, novo rei da Judeia, que o mandou passar à espada,

provavelmente no ano 44 da nossa era, em Jerusalém.

Tanto quanto se sabe até ao momento, os relatos dos atos con-

cretos da sua vida e atividade enquanto Apóstolo encontram-

-se relatados fora da Sagrada Escritura e são apenas parte da

Tradição da Igreja, com posteriores adições lendárias.

Nesses relatos, conta-se que Tiago, saindo de Jope, na Ju-

deia, teria vindo até à Hispânia, para evangelizar, tendo

desenvolvido atividade sobretudo na Galaecia (Galiza) e

na zona hoje correspondente a Aragão. Aqui teria deixa-

do, segundo a lenda, estabelecidos alguns bispos, e teria

também tido uma visão da Virgem Maria, em cima de um

pilar, em Caesaraugusta (Saragoça) e que lhe teria pedido

para ali lhe fazer uma capela. Na Galaecia, a sua pregação

teria deixado muitos cristãos. A Igreja de Braga, capital da-

quela província romana, reclama-se de fundação apostóli-

ca, por o seu primeiro bispo, mais ou menos lendário, Pedro

de Rates, ter sido discípulo de Tiago.

Da Galaecia, Tiago teria regressado à Judeia, tendo sido

morto da forma que vem relatada nos Atos dos Apóstolos,

ao «fio da espada».

Lenda Hispânica

De acordo com a forma mais conhecida de uma lenda his-

pânica, Atanásio e Teodoro, hispânicos de origem, teriam

levado o corpo de Jerusalém, numa barca, até Padrón, a pou-

cos quilómetros do local onde hoje se ergue a cidade de Com-

postela. Ali, teriam pedido à rainha Lupa, uma chefe tribal

mais ou menos romanizada, um local para o sepultarem, e

esta, tendo-lhes dado uma parelha de touros selvagens para

puxarem o carro com o corpo do Apóstolo, tentando gozar

com o esforço dos dois, apercebeu-se que os dois animais se

comportavam como bois mansos. Onde estes pararam, aí o

sepultaram, tendo a própria Lupa, agora convertida, ofere-

cido o mausoléu.

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A Peregrinação Jacobeia

Com a fama, e com os favores pontifícios, os peregrinos co-

meçam a afluir, em verdadeiras multidões, à Galiza, criando

assim o primeiro itinerário verdadeiramente europeu, onde a

Europa se fez, espiritual e culturalmente. Ali acudiam pe-

nitentes em busca do perdão das suas faltas, ou cavaleiros em

busca de aventuras (como o pai do nosso primeiro rei, Henri-

que de Borgonha) ou viajantes ilustres ávidos de conhecimen-

to. Os itinerários principais acabaram por ficar mais ou me-

nos cristalizados a partir de uma certa época, e as estruturas

de apoio a tantos peregrinos dariam modelos às albergarias,

hospitais e hospedarias do resto da Idade Média e Moderna.

O Caminho de Santiago ficou como o caminho de peregrina-

ção por excelência, mais até que a própria ida a Jerusalém ou a

Roma em certas alturas da Idade Média.

ordem de São Tiago da Espada

Para proteger os peregrinos que iam a Santiago de Composte-

la, surgiu em Leão, em 1171, uma milícia de cavaleiros, que

viviam comunitariamente segundo a regra de Santo Agosti-

nho, e cuja função foi depois redefinida para reconquista das

terras hispânicas aos muçulmanos e sua defesa posterior.

Esta Ordem, chamada primeiro dos Cavaleiros de Cáceres (a

segunda sede) e depois de Uclés (a segunda e definitiva), colo-

cou-se debaixo do patrocínio do Apóstolo São Tiago, tomando

poucos anos depois o nome de Ordem de São Tiago (nos reinos

espanhóis) e de Ordem de Santiago da Espada (em Portugal).

Por causa da sua faceta guerreira, a insígnia da Ordem, pre-

sente na representação heráldica da maior parte dos municí-

pios e outras autarquias do sul do Tejo, que foram até ao século

XIX terras de posse da Ordem, é uma cruz-espada púrpura.

Em Portugal, a devoção medieval ao santo, sobretudo em zo-

nas de Reconquista ou de Caminho de Peregrinação, era enor-

me, comparável à que hoje podemos verificar para os chamados

santos populares.

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O encontro pessoal com Cristo foi decisivo na vida de São Tiago, tornando-se o fundamento da sua vida.

Acolhendo o plano de Deus a seu respeito, e fortalecido pelo Espírito Santo, aceitou fazer parte da comunidade cristã nascente. O mesmo Espírito enviou-o em missão, para levar o Evangelho a outros povos.

Batizado no sangue de Cristo, acolheu a Nova e Eterna Aliança que o fez aspirar aos bens do Alto e viver inteiramente para os outros.

A Terra Prometida foi, para si, uma realidade: reconheceu, em Cristo, a instauração do Reino de Deus, e dedicou a sua vida a anunciar ao mundo a presença do Reino entre os homens.

Com o exemplo de São Tiago, pretende-se motivar cada Explorador para uma vida de acolhimen-to de Deus e de partilha da Fé, mesmo que, para isso, seja necessário percorrer um longo e, por vezes, árduo caminho.

Modelos de VidaOutros modelos de vida, entre Heróis do Povo de Deus e santos da Igreja, são, para além do pa-trono, propostos aos Exploradores, mostrando formas diversas de se caminhar em direção à Terra Prometida, de forma a motivá-los a também caminhar nessa direção.

Os modelos de vida propostos para os Exploradores são Abraão, Moisés, David – figuras da Bíblia –, Santo António de Lisboa e Santa Isabel de Portugal – figuras da Igreja.

Notas Biográficas

Abraão foi o primeiro dos patriarcas do Antigo Testamento.

Pertenceu provavelmente a uma comunidade imigrante que,

entre 2000 e 1700 a.C. se deslocou do deserto siro-arábico e

da Mesopotâmia em direção ao território de Canaã. Há refe-

rências que apontam no sentido de Abraão ser originário de

Ur da Caldeia, e outras de Haran. Em Canaã, Abraão fixou-

-se sobretudo em Siquém, Betel e Bersabé. Segundo o relato

biblico, também esteve no Egito. Sara foi a sua esposa.

O Senhor fez com ele uma Aliança, em que lhe prometeu a

posse futura de toda a terra de Canaã e uma descendência

infindável, sinal da bênção de Deus. Abraão é considerado

nosso “pai” na fé.

Como Abraão, também os Exploradores são convidados a fazer

caminho, no acolhimento da Aliança e da vontade de Deus.

Abraão

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Notas Biográficas

Há poucas informações certas sobre Moisés, embora a sua

existência seja inegável. Para o Judaísmo posterior, Moisés é

visto como a principal figura da História da Salvação. Se-

gundo a leitura do Novo Testamento, Moisés é, em primeiro

lugar, o mediador da Lei que recebeu de Deus no monte Si-

nai. É também considerado um “profeta”, isto é, alguém que

anuncia Cristo. Segundo Ex 2, Moisés terá sido casado com

Séfora, filha de Raguel (ou Jetro, segundo Ex 3,1), e pai de

Gersam.

O momento determinante da sua vida aconteceu quando

o Senhor lhe apareceu na sarça-ardente, escolhendo-o para

fazer sair o povo hebreu do Egito, conduzindo-o à Terra Pro-

metida.

Como Moisés, os Exploradores aceitam pôr-se a caminho, cer-

tos de que Deus cumpre sempre as Suas promessas.

Moisés

Notas Biográficas

David, natural de Belém, na Judeia, foi o filho mais novo de

Isaí ou Jessé. Depois de ter sido escudeiro do rei Saul – com

quem veio a ter graves contendas –, e ter adquirido nessa

função grande popularidade, David foi ungido rei de Israel

e Judá, entre 1010 e 970 a.C. Segundo 1 Sam 16, David

teria jeito para a música. Era ainda um excelente guerreiro.

A sua importância prende-se essencialmente com o facto de

ter sido o fundador de um Estado unificado e independen-

te, que englobava todo o Israel (Norte e Sul), Estado esse

que, apesar de ter subsistido pouco tempo, ficou para sempre

na memória dos israelitas como um tempo ideal.

Como David, os Exploradores começam a descobrir que são

parte de um Povo que reconhece Deus como único Senhor.

David

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Notas Biográficas

António nasceu em Lisboa em 1195, tendo sido batizado como

Fernando de Bulhões. Morreu perto de Pádua, em Itália, a 13 de

junho de 1231. Até aos 20 anos, António foi cónego regular, ten-

do prosseguido em Coimbra os estudos que iniciou em Lisboa.

Motivado pelo desejo de ser missionário, juntou-se aos frades

franciscanos e foi enviado, em missão, para Marrocos, num meio

dominado pelo Islamismo. Por motivos de saúde, regressou à

Europa, tendo vivido algum tempo num eremitério em Itália.

Pouco tempo depois, descobriu o seu invulgar dom de pregar,

ministério que passou a exercer com extrema eloquência. O seu

conhecimento bíblico era notável, e os seus sermões chegavam a

todo o tipo de destinatário.

De tal forma a sua fama de santidade se espalhou, que foi cano-

nizado logo um ano depois da sua morte.

Como Santo António, os Exploradores procuram encontrar a sua

vocação, sabendo que têm de percorrer etapas para a descobrir.

Santo António de Lisboa

Notas Biográficas

D. Isabel nasceu em 1271, em Aragão, e faleceu em Estremoz a 8 de

julho de 1336. Com 12 anos de idade, casou-se com o rei D. Dinis de

Portugal. Enquanto esteve casada, D. Isabel procurou apoiar sem-

pre as iniciativas de ajuda aos mais necessitados, nomeadamente

a criação de um hospital, uma “casa de refúgio” para mulheres e

um orfanato. Procurou sempre ser instrumento de concórdia entre

todos, e revelou exemplar perseverança e capacidade de sofrimento

num casamento que não a fez feliz. Depois de enviuvar, em 1325,

D. Isabel dedicou-se inteiramente ao serviço de Deus e de todos os

que dela precisaram, ficando conhecida como Rainha Santa.

Como Santa Isabel, os Exploradores descobrem que o caminho em

direção à Terra Prometida se encontra mais facilmente quando se

faz o bem aos outros.

Santa Isabel de Portugal

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grandes ExploradoresCom o intuito de estimular para a vida ativa e empenhada na construção do mundo, apresentam-se, a título de exemplo, alguns exploradores notáveis:

• Fernão de Magalhães, navegador português que comandou a primeira viagem de circum-navegação;

• Ernst Shackleton, figura notável da exploração da Antártida;

• Neil Armstrong, primeiro homem a pisar o solo lunar;

• Gago Coutinho, herói da primeira travessia aérea do Atlântico Sul;

• …

Fernão de Magalhães Ernst Shackleton Neil Armstrong gago Coutinho

ImaginárioO Explorador, aquele que parte à descoberta do desconhecido.

Este imaginário é muito genérico, podendo dar azo a muitas e diversas interpretações, mas a sua aplicação no Escutismo dever-se-á cingir às dimensões que podem contribuir para o verdadeiro desenvolvimento e educação dos escuteiros, na linha dos valores e princípios do movimento. Ou seja, a descoberta do desconhecido tem como grande objetivo proporcionar uma descoberta de si próprio e dos outros, que conduza à descoberta do amor de Deus.

A noção de caminho a percorrer está presente neste imaginário, de forma central, e pode cons-tituir o elemento decisivo das atividades dos Exploradores, à imagem e semelhança dos grandes exploradores de mares e desertos, selvas e cordilheiras, zonas polares e espaço estelar...

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Ao falar de caminho, aborda-se o tema da meta a alcançar, assunto que permite uma abordagem das questões centrais da vida humana, sem perder de vista o horizonte de eternidade que norteia a vida dos crentes em Cristo. Reflete-se, igualmente, sobre aquilo que é verdadeiramente útil e imprescindível para uma caminhada – a caminhada da vida –, o que proporciona uma reflexão sobre os bens materiais, sobre os valores e sobre as grandes opções de vida.

SímbolosO símbolo que identifica a II Secção é a Flor-de-Lis, não significando isso uma superior importân-cia desse símbolo face aos demais. Todos têm a sua importância no encaminhamento para uma melhor vivência da mística e do imaginário.

Flor de LisIndicando o norte nas cartas topográficas e de marear, a Flor de Lis é símbolo de rumo, um auxiliar básico do Explorador que pretende descobrir o mundo. Símbolo original do Escutismo, nas suas três folhas reconhecemos e recor-damos os três Princípios do Escutismo e os três compromissos assumidos na fórmula da Promessa.

De certa forma, sendo símbolo do caminho a seguir, a Flor de Lis pode tam-bém ser utilizada como símbolo da Fé que guia a vida do crente (recordando que o verdadeiro “Símbolo da fé” é o que conhecemos por “Credo”). A Fé é, geralmente, representada por uma Cruz, pois nesta, despojada de Cristo, antes morto e agora ressuscitado, assenta a fé cristã. Contudo, e sem deixar de considerar a Cruz, esta associação da Flor de Lis à Fé pode permitir abor-dar o tema da relação do Escutismo com a Espiritualidade e com a Religião, de maneira adequada à respetiva faixa etária, recordando que geralmente a “Profissão de Fé” integrada no percurso da catequese de infância e adoles-cência é realizada por volta da idade dos Exploradores e Moços.

ChapéuSímbolo da proteção, da proteção do sol, mas também do frio e da chuva, o Chapéu representa a preparação e o planeamento do Explorador que parte à aventura.

Aquele que parte em busca da “Terra Prometida” tem de se preparar para a caminhada. Nem tudo são facilidades, pois o percurso é por vezes árido e sinuoso. É Deus quem dá a proteção, mas é requerida, da nossa parte, a abertura aos Seus dons. Através do símbolo do chapéu podemos trabalhar o tema do auxílio que de Deus recebemos quando para Ele nos voltamos com fé e confiança. Contar com a proteção para a caminhada traduz a confiança na presença de Deus no caminhar.

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CantilSímbolo da responsabilidade e da preparação do Explorador que guarda água para saciar a sua sede nas dificuldades do caminho, sede que é tam-bém de conhecimento, de descoberta e de ação. A água guardada no Cantil simboliza igualmente o seu Batismo, água que dá sentido à sua exploração.

O Cantil é o que nos permite saciar na “Água Viva” que é Cristo. Este símbolo está intrinsecamente ligado à Eucaristia e permite ver o tema numa perspetiva ad intra mas também ad extra. Saciamo-nos nesta Água e recebemos a missão de a levar aos outros. Não se pode deixar de dar aos outros o que nos sacia verdadeiramente para a vida eterna, que é o Senhor Jesus, prefigurado profe-ticamente na água que brotava no rochedo pelas mãos de Moisés (cf. Ex 17,6).

VaraA Vara auxilia o Explorador na caminhada, na progressão da marcha, na na-vegação e na ultrapassagem de obstáculos, perigos e adversidades. Simboliza também a solidariedade e o progresso, e evoca ainda a vara de Moisés e o que Deus realizou através dela.

A Vara pode evocar também aquela no cimo da qual Moisés construiu uma serpente de bronze para salvação de todos os que eram afligidos pelo flagelo da mordedura venenosa das serpentes (cf. Nm 21,9). Essa vara com a serpen-te é imagem de Cristo elevado na Cruz.

EstrelaSímbolo da orientação, as estrelas são pilares da imensidão no céu, que transmitem ao Explorador a segurança da Fé, e a certeza do sucesso. A Estre-la recorda a Promessa de Deus a Abraão, de lhe dar uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu.

A estrela é também a última fronteira das explorações – a descoberta de Je-sus – «quando descobriram onde parou a estrela, os magos descobriram-n’O».

Cristo é a Estrela Polar que guia o nosso caminho.

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> Mística e Simbologia da III Secção

O Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo.

O Pioneiro é chamado a colocar os seus talentos ao serviço da Comu-nidade e a assumir a tarefa de ser construtor de comunhão.

A Igreja em construção

MísticaQuando um Pioneiro chegar ao final da passagem pela secção, deverá ter assumido o seu papel na construção da Igreja de Cristo.

Pressupondo o reconhecimento de que o Criador é a fonte de todos os dons, considerando que Deus nos colocou neste mundo para realizar um projeto de felicidade para toda a Humanidade, e tendo por base, ainda, que a nossa participação nesse projeto tem origem na Aliança que Deus firmou com os Homens, o Pioneiro começa a descobrir as consequências de ter caminhado em direção à Terra Prometida. Ou seja, é hora de amadurecer a Fé que professa, e é altura para re-descobrir o significado do seu Batismo, mediante o qual foi configurado com Cristo. O Pioneiro descobre que ser membro de Cristo faz dele artífice da Nova Humanidade. Descobre ainda que é parte de um todo mais vasto e que, no respeito absoluto pela sua individualidade, ele é membro da Igreja, Corpo Místico de Cristo.

Provavelmente, será mais imediato o reconhecimento do valor da comunidade, numa escala me-nor, isto é, na equipa. Depois desse reconhecimento, seguir-se-á a abertura aos outros e, num nível mais amadurecido, a consciência de que cada batizado é membro ativo da Igreja e que, portanto, tem um papel útil, necessário e insubstituível na comunidade cristã.

Esta mística sugere ao Pioneiro que ele é chamado a colocar os seus talentos ao serviço da Comunidade e a assumir a tarefa de ser construtor de comunhão. Tem, por isso, um sentido profundamente eclesiológico.

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PatronoO patrono proposto para a III Secção é São Pedro, com quem os Pioneiros, apesar das normais dúvidas humanas, aprendem a firmeza da Fé.

Notas Biográficas

Não se conhece com exatidão a data do nascimento de

Pedro, mas com toda a certeza nasceu no século I a. C., em

Betsaida da Galileia. Segundo a tradição, terá sofrido o mar-

tírio em Roma, por volta dos anos 64-67 d. C., no tempo do

imperador Nero. Era pescador no mar da Galileia, casado, ir-

mão de André, e residia em Cafarnaum. Foi precisamente o seu

irmão André que o desafiou a seguir Jesus de Nazaré. Ambos

foram escolhidos por Cristo para fazer parte do grupo dos Doze

Apóstolos. O Senhor disse que queria fazer dele, não apenas

pescador de peixes, mas «pescador de Homens». Depois de pregar

às multidões, a partir do barco de Pedro, Jesus disse-lhe: «Faz-te

ao largo; lança as tuas redes para a pesca.» (Lc 5,4-7). Depois

disso, ante a incredulidade de Pedro, que trabalhara toda a noite

na faina sem nada apanhar, o Senhor fez diante deles o mila-

gre de uma pesca abundante, sinal da pesca para a qual dora-

vante Pedro e os companheiros iriam ser convocados, e sinal da

presença do Reino de Deus entre os homens.

O seu nome de nascimento era Simão, mas Jesus deu-lhe o

nome aramaico de Cefas, que significa rocha, pedra, do qual

vem a derivar o nome português – Pedro.

Pedro foi escolhido para ser a coluna base da construção da Igre-

ja de Cristo. A ele o Senhor disse: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra

edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevale-

cerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus e tudo o

que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na

terra será desligado nos céus.» (Mt 16,18s)

O Novo Testamento coloca Pedro em grande destaque. A pre-

ponderância do seu lugar no seio dos Apóstolos é inquestio-

nável, apesar de a sua inicial incompreensão da dimensão

São Pedro

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messiânica de Jesus ser igualmente bem realçada. É conhecido o

seu carácter impetuoso, que o faz ter afirmações como: «Jamais

me lavarás os pés!» (Jo 13,8) Simultaneamente, tem um

coração suficientemente grande para exclamar vencido, depois

de ouvir a explicação do gesto do Mestre: «Senhor, não apenas os

pés, mas também as mãos e a cabeça.» (Jo 13, 9)

A tríplice negação de Pedro a respeito de Jesus (Jo 18,17-26)

representa a sua dimensão profundamente humana, falível,

insegura e receosa; mas a confissão de fé em Cristo, e o amor

que por Ele manifesta, igualmente por três vezes, mostram um

homem aberto ao Espírito Santo, digno de ser escolhido para

conduzir na Terra a Igreja de Cristo (Jo 21,15-17).

Pedro foi o primeiro a entrar no sepulcro vazio onde o Senhor

tinha sido deposto (Jo 20,6).

Pedro foi, por isso, o líder da comunidade cristã primitiva. Agiu

como cabeça do colégio apostólico, por exemplo, ao nomear Ma-

tias como substituto de Judas Iscariotes, ao falar à multidão no

dia de Pentecostes e ao fazer milagres em nome de Cristo.

Pedro foi preso por Herodes Agripa, mas logo foi libertado pela ação

de Deus. Em Antioquia, Pedro é repreendido por Paulo por não

querer estar à mesa com os gentios, com receio da opinião dos ju-

deus (Gl 2,11-21). Contudo, em At 15,7-11, Pedro defende a abo-

lição da obrigatoriedade de aplicação dos costumes judaicos aos

gentios convertidos, dizendo que também os gentios receberam o

Espírito Santo e que, portanto, o seu coração já está puro.

Parece não haver grandes motivos para duvidar que Pedro te-

nha sido o autor da primeira epístola de São Pedro do Novo

Testamento, mas subsistem maiores dúvidas relativamente à

segunda carta que, provavelmente, terá sido escrita por um seu

discípulo.

Para a Igreja, Pedro é considerado o primeiro Papa, sobretudo pelo

ministério que Cristo lhe confiou de apascentar o Seu rebanho,

mais do que por motivos estritamente históricos. É reconhecido,

pois, o Primado de Pedro no seio da Igreja, e ainda hoje se chama

ao Sumo Pontífice Sucessor de Pedro.

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O motivo pelo qual São Pedro é escolhido para patrono da III Secção prende-se com o facto de a sua vida representar um exemplo excelente de uma vida humana colocada ao serviço de um projeto divino: Pedro é, eminentemente, construtor da Igreja! Por isso, o seu exemplo é estímulo a uma caminhada de construção da Comunidade, nas suas diferentes aceções.

Modelos de VidaOutros modelos de vida, entre os santos da Igreja, são, para além do patrono, propostos aos Pio-neiros, ilustrando diversos carismas e formas de construir Igreja.

Os modelos de vida propostos para os Pioneiros vêm a ser São João de Brito, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa do Menino Jesus.

Notas Biográficas

João de Brito nasceu em Lisboa em 1647 e sofreu o martírio

na Índia a 4 de fevereiro de 1693. Este ilustre sacerdote

jesuíta foi até à Índia em missão, onde ficou como

responsável da comunidade de Madura e de Madrasta. O seu

esforço de adaptação cultural aos costumes locais foi acen-

tuado, mas sempre sem abdicar em nada dos princípios da fé

cristã.

Devido à sua firmeza, João de Brito encontrou o martírio,

pois a novidade do Evangelho, com as consequências mo-

rais e éticas daí resultantes, fez deste missionário portu-

guês uma figura muito incómoda.

João de Brito foi decapitado em Oriur, a mando do Rajá de

Marava por subverter a religião local.

São João de Brito

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Notas Biográficas

Catarina nasceu em Sena, Itália, provavelmente em 1347,

tendo falecido em Roma a 29 de abril de 1380. Foi sempre

uma jovem alegre e cheia de vida, tendo conseguido resistir

às tentativas dos pais de a fazer casar.

Por volta de 1367, tornou-se membro da Ordem Terceira de

São Domingos, vivendo em casa e dedicando grande parte do

seu tempo à oração. A sua experiência orante foi sempre muito

intensa, havendo inclusive registo de vários arrebatamentos

e experiências místicas. A sua forte experiência religiosa fez

dela uma incansável construtora de comunhão e paz dentro

da Igreja, tendo mesmo sido conselheira do Santo Padre.

Santa Catarina é considerada Doutora da Igreja.

Santa Catarina de Sena

Notas Biográficas

Teresa nasceu em Alençon, França, em 1873, e faleceu em

Lisieux, vítima de tuberculose, a 30 de setembro de 1897,

sendo celebrada a sua memória a 1 de outubro. Teresa en-

trou para o convento carmelita de Lisieux, na Normandia,

em 1888, onde já duas das suas irmãs se encontravam

(sendo outras duas igualmente freiras).

Tendo vivido muito poucos anos (apenas 24), Teresa esfor-

çou-se sempre por agradar e amar a Deus. A edição das suas

memórias(«História de uma Alma») produziu um enorme

impacto na Igreja espalhada por todo o mundo, tendo tornado

Teresa numa das santas mais populares da época moderna,

padroeira universal das missões católicas e Doutora da Igreja.

Ficou conhecida como Santa Teresa de Lisieux, Santa Te-

resa do Menino Jesus e da Sagrada Face ou, simplesmente,

como Santa Teresinha.

Santa Teresa do Menino Jesus

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grandes PioneirosCom o intuito de estimular para o arrojo e empreendedorismo de quem se desprende para cons-truir sonhos, apresentam-se, a título de exemplo, alguns Pioneiros notáveis:

• Padre António Vieira, padre jesuíta português, notável escritor e orador, pioneiro na defesa dos Índios brasileiros;

• Albert Einstein, físico alemão radicado nos Estados Unidos, autor da teoria da relatividade e pioneiro da física atómica;

• Marie e Pierre Curie, casal de químicos franceses, pioneiros do estudo da radioatividade;

• Florence Nightingale, enfermeira britânica, pioneira no tratamento a feridos de guerra;

• Isadora Duncan, bailarina norte-americana, considerada pioneira da dança moderna;

• …

Padre António Vieira

Albert Einstein Marie e Pierre Curie

Florence Nightingale

Isadora Duncan

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ImaginárioO Pioneiro, depois da descoberta do mundo que o rodeia, solta-se do supérfluo e põe mãos à obra na concretização do seu sonho.

A reflexão sobre o supérfluo faz centrar o horizonte de vida naquilo que é essencial e ajuda a discernir os diferentes caminhos e atitudes com que uma pessoa se depara. Num mundo amiúde inebriado com as capacidades da tecnologia e da ciência, é fundamental transmitir valores que conduzam a uma vida livre, plena e feliz: esse é o objetivo do trabalho pedagógico realizado. Qua-se tudo pode ser bom, se usado em favor de um verdadeiro desenvolvimento da pessoa humana: de todas as pessoas e da pessoa toda.

Se o Escutismo contribuir para que os sonhos legítimos se tornem realidade, se ajudar a viver em torno dos bens eternos, se proporcionar um melhor conhecimento de cada um e do mundo, estará seguramente a desempenhar bem o seu papel na sociedade!

SímbolosO símbolo identificativo da III Secção é a Rosa dos Ventos, não significando isso uma superior importância desse símbolo face aos demais. Todos têm a sua importância no encaminhamento para uma melhor vivência da mística e do imaginário.

Rosa dos VentosSímbolo do rumo certo, da boa escolha e da decisão ponderada, daquela que encontramos quando seguimos a projeto de Deus, é o símbolo daquilo que é a vida do Pioneiro, nas suas escolhas, na sua atitude, no que quer dos outros. Portador de vontades, agregador de desejos e de disponibilidade, o Pioneiro tem a vontade de, ele próprio, arriscar e mudar o mundo.

A Rosa dos Ventos, com os diferentes pontos cardeais, recorda a universali-dade da Igreja. “Católico” significa “universal” e assumir a tarefa de acolher a construção da Igreja, sendo nesse processo participante ativo, implica a consci-ência das diferentes “periferias”, das muitas pessoas que ainda não conhecem Cristo e a Sua Igreja. Construir a Igreja, por graça de Deus, é ser missionário.

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gota de ÁguaSímbolo da pureza que vem de Deus, símbolo do Pioneiro, do jovem enquan-to pessoa, indivíduo, que é transparente – consigo próprio e com os outros; que é alento e alimento para os que o rodeiam; que faz parte de um grupo juntando-se a outras gotas e tornando-se torrente.

A gota de água pode ser também símbolo da Graça. Sem Deus não somos nada; com Ele podemos ser tudo, segundo o Seu desígnio.

MachadaSímbolo da construção e da ação, da transformação do mundo segundo a vontade de Deus, representa aquilo que é o potencial do Pioneiro, das suas capacidades, da sua energia transformadora, do resultado final da combina-ção do que quer com o que sabe….

A fé sem obras está morta (cf.Tg 2,17). A machada recorda a importância das obras segundo a fé e a partir desta.

Icthus

O peixe simboliza Jesus Cristo. A palavra peixe, em grego, escreve-se icthus e, esse símbolo foi adotado pelos primeiros cristãos perseguidos como acróstico de Iesus Christos Theou Uios Soter – Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador (em-bora a transliteração do grego pudesse sugerir, mais exactamente, icthys) –e símbolo secreto de identificação mútua. Para o Pioneiro, o Icthus é simbolo de fé, mas também de lógica e racionalidade assente na encarnação do Ver-bo de Deus, na “materialização” de Deus em Cristo, pois a fé e razão não se contrapõem.

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> Mística e Simbologia da IV Secção

O Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.

O Caminheiro é chamado a viver integralmente em Cristo, o “Ho-mem Novo”, assumindo um lugar ativo na construção dos “novos céus e da nova terra”.

A vida no Homem Novo

MísticaQuando um Caminheiro chegar ao final do seu percurso na secção e, portanto, tiver chegado ao fim do projeto educativo proposto pelo CNE, deverá ter, como objetivo permanente de vida, a identificação integral com Cristo, em todas as dimensões da sua existência.

Com a contemplação de Deus através da Criação, com o acolhimento da Aliança que Deus propõe, com o envolvimento ativo na construção da Igreja de Cristo, o Caminheiro atinge a maturidade da Fé. Esta fá-lo viver integralmente em Cristo, o «Homem Novo», assumindo um lugar ativo na construção dos «novos céus e da nova terra» e, consequentemente, um lugar igualmente ativo na construção da sociedade hodierna, tornando-se assim construtor do Reino de Deus, cuja lei está sintetizada nas Bem-Aventuranças.

A vida no «Homem Novo» ou, na expressão típica de São Paulo, a vida «em Cristo», é o objetivo de cada cristão. Por esse motivo, é também a proposta feita aos Caminheiros, chamados cada dia a escolher o serviço em detrimento do egoísmo.

Viver em Cristo é a meta de todo o Cristão.

PatronoO patrono proposto para a IV Secção é São Paulo, cuja radicalidade no abraço da novidade evan-gélica, a obediência no acolhimento da Palavra de Deus e o ardor no anúncio da Boa Nova da ressurreição de Cristo aos gentios são exemplo e estímulo de vida cristã para os Caminheiros.

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Notas Biográficas

Paulo nasceu em Tarso (At 22,3), capital da província roma-

na da Cilícia (Ásia Menor – atual Turquia), possivelmente

entre os anos 5 e 10 da nossa era cristã. Foi aí que Paulo

adquiriu conhecimentos da língua grega e da arte e normas

da retórica das diversas escolas de filosofia existentes na

sua cidade. Descendia de uma família de hebreus da tribo de

Benjamin, que tinha obtido a cidadania romana (Fl 3,5-6).

Tinha, o que era comum à época, dois nomes: Paulo (nome

romano) e Saul (nome hebraico, às vezes aparece numa

adaptação para o grego como Saulo), o que talvez tivesse a

ver com o facto de ter nascido na Diáspora. Este duplo nome

permitiu-lhe, com mais facilidade, estabelecer pontes entre o

mundo judaico e o mundo pagão.

Em Tarso terá aprendido a fazer tendas, uma profissão que

lhe irá permitir dedicar-se, posteriormente, ao serviço gratui-

to do Evangelho.

Os seus pais, sendo fiéis à lei mosaica, mandaram Paulo

para Jerusalém com a finalidade de ser educado aí. Fariseu,

fervoroso, recebeu a circuncisão e teve como precetor um dos

mais sábios e notáveis rabinos daquele tempo, o grande Ga-

maliel, neto do ainda mais famoso Hilel, de quem recebeu as

lições sobre os ensinos do Antigo Testamento.

Já em Jerusalém, aparece no martírio do diácono Estêvão (pe-

los anos 36 ou 37), que foi o primeiro mártir da Igreja. Os

que apedrejaram até à morte este diácono levaram as suas

vestes até aos pés de Paulo que estava a assistir (ac 7, 58), o

que sugere que estaria de acordo com esta execução.

Como judeu exigente e zeloso pelas tradições dos antepas-

sados, não concordava com esta nova “seita” que começava

a surgir… Estava disposto a tudo, em defesa da fidelidade

a Deus (tão importante para a vida do seu povo). Ele con-

siderava os discípulos de Jesus como um elemento perigoso,

tanto para a religião como para o Estado. Quando, precisa-

São Paulo

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mente, perseguindo os cristãos, ele e os seus companheiros

se dirigiam para Damasco (atual Síria), uma luz vinda do

céu, mais brilhante que a luz do sol, caiu sobre ele. Ouviu-se

então uma voz que dizia em língua hebraica: «Saul, Saul,

porque me persegues?» Respondeu ele então: «Quem és tu Se-

nhor?» E veio a resposta: «Eu sou Jesus a quem tu persegues.

Levanta-te e vai à cidade e aí se te dirá o que te convém fa-

zer.»

Os companheiros que o seguiam ouviam a voz sem nada

ver, nem entender. Ofuscado pelo intenso clarão da luz, foi

conduzido pela mão dos companheiros. Entrou em Damasco

e hospedou-se na casa de Judas. Guiado pelo Senhor, o ju-

deu convertido Ananias foi visitá-lo e ao encontrar-se com

o grande perseguidor, recebeu a confissão da sua nova Fé.

Certo da sua conversão, Ananias impôs-lhe as mãos, Paulo

recuperou a vista e foi batizado.

Depois disto foi para o deserto da Arábia, onde esteve três anos.

A partir de então, começou a pregar nas sinagogas que Jesus

era o Cristo, Filho de Deus vivo. Regressou a Jerusalém, onde

sofreu a desconfiança dos que não acreditavam na sua repen-

tina conversão e instalou-se em Antioquia, na Síria, de onde

fez três grandes viagens missionárias, de 46 a 58 da nossa

era. Nestas viagens passou por vários sítios como Chipre, Pan-

fília, Licaónica, Filipos, Tessalónica, Atenas, Galácia, Éfeso,

Macedónia, Mileto e Judeia até ser preso em Cesaréia.

Levado para Roma (numa viagem muito atribulada que

contou com um naufrágio junto à ilha de Malta), permane-

ceu dois anos sob custódia militar, em liberdade condiciona-

da. A liberdade suficiente para receber os cristãos e converter

os pagãos. Por ordem de Nero foi condenado à morte, mas

por ser um cidadão romano não foi crucificado, antes deca-

pitado.

Além de alguns discursos a ele atribuídos, mencionados

nos Atos dos Apóstolos, deixou 13 cartas dirigidas a várias

comunidades e a pessoas individuais (embora a autenticida-

de paulina de algumas dessas cartas seja fortemente ques-

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tionável e haja indícios de que terá escrito outras cartas que

hoje não conhecemos). Nas suas cartas encontramos imen-

sas frases e palavras que retratam bem a sua paixão e entre-

ga ao Amor de Deus.

Não era apóstolo (uma vez que não fez parte dos Doze), mas

considerou-se apóstolo e foi mesmo considerado o Apóstolo

dos Gentios por causa da sua grande obra missionária nos

ambientes fora do judaísmo.

A Igreja celebra a sua conversão a 25 de janeiro e a sua festa

a 29 de junho, junto com São Pedro.

Notas Biográficas

João Cidade nasceu em Montemor-o-Novo em 1495. Aos

8 anos foi para Espanha. Em 1523, alistou-se no exérci-

to, combatendo no estrangeiro até 1538. Reza a lenda

que lhe apareceu um menino com uma romã (granada,

em castelhano) na mão e lhe disse: «João, Granada será a

tua cruz.» João partiu para a cidade desse nome e aí viria

a dar-se a grande transformação da sua vida: começou

a percorrer as ruas de Granada ajudando e transportan-

do os que não conseguiam valer-se sozinhos e levando-os

para o hospital que fundou. Na dedicação aos outros, aca-

bou por adoecer, tendo falecido a 8 de março de 1550 com

fama de santidade. Fundou a congregação dos Irmãos

de São João de Deus e é protetor dos doentes, bombeiros e

enfermeiros.

São João de Deus

Modelos de VidaOutros modelos de vida, entre os santos da Igreja, são, para além do patrono, propostos aos Ca-minheiros, ilustrando diversos carismas e formas de viver cristãmente.

Os modelos de vida propostos para os Caminheiros vêm a ser São João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa Benedita da Cruz e São João Paulo II.

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Notas Biográficas

Agnes Gonxha Bojaxhiu, nasceu em 1910 na república da

Macedónia e faleceu a 5 de setembro de 1997, em Calcutá,

na Índia. Madre Teresa, de etnia albanesa, foi missionária

e desenvolveu uma admirável obra de apoio aos mais pobres

dos pobres, na Índia. Fundou a congregação dos Missioná-

rios e das Missionárias da Caridade e foi beatificada pela

Igreja em 2003.

No rito da beatificação de Madre Teresa, o Papa João Paulo II

citou a palavra do Evangelho: «Quem quiser ser o primeiro

entre vós, faça-se servo de todos.» (Mc 10,44) O exemplo de

vida desta missionária da caridade fala por si.

Beata Teresa de Calcutá

Notas Biográficas

Karol Wojtyla nasceu no dia 18 de maio de 1920 em Wa-

dowice. Durante a Segunda Guerra Mundial esteve numa

mina em Zakrzowek, trabalhou numa fábrica e manteve

uma intensa atividade ligada ao teatro, antes de começar

clandestinamente a sua formação de seminarista. Durante

estes anos teve de viver oculto, junto com outros seminaris-

tas, que foram acolhidos pelo cardeal de Cracóvia. Foi orde-

nado sacerdote em 1946, e veio a doutorar-se em Teologia.

Mais tarde foi ordenado bispo. Participou no Concílio Vati-

cano II, onde colaborou ativamente. Aos 47 anos, tornou-se

cardeal, por nomeação do Papa Paulo VI. No dia 16 de

outubro de 1978, o cardeal Karol Wojtyla foi eleito Papa,

tomando o nome de João Paulo II e exercendo o seu minis-

tério petrino com um forte espírito missionário que o levou

a viajar por todo o mundo, naquele que foi o terceiro mais

longo pontificado da história, tendo introduzido a Igreja no

terceiro milénio. Foi beatificado a 1 de maio de 2011 e foi

canonizado a 27 de abril de 2014.

São João Paulo II

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Notas Biográficas

Inácio nasceu em 1491, em Loyola (Espanha) e faleceu a

31 de julho de 1556, em Roma.

Depois de uma permanência juvenil no ambiente da corte

em Castela e depois de uma juventude inquieta, dedicou-

-se ao serviço militar, onde acabou gravemente ferido. Com

tempo para leituras acabou por se converter. Foi a Jerusalém

em peregrinação, e veio mais tarde a estudar em Barcelona

e Paris. Foi ordenado padre em 1538. Em Roma, o grupo

da Companhia de Jesus, abençoado por Paulo III, começou a

pregar e a confessar.

No imenso património espiritual que deixou sobressai o li-

vro dos Exercícios Espirituais e o famoso lema da Compa-

nhia: ad maiorem Dei gloriam – para maior glória de Deus.

Santo Inácio de Loyola

Notas Biográficas

Edith Theresa Hedwing Stein nasceu em 1891 e faleceu

em Auschwitz, um campo de concentração nazi, no sul da

Polónia, a 9 de agosto de 1942. Foi professora de Filoso-

fia e, apesar de ser de família judia, considerava-se ateia.

Estimulada pelo exemplo de Santa Teresa de Ávila, Edith

Stein veio a abraçar a Fé cristã, recebendo o batismo com 31

anos de idade. Com 42 anos comunicou à família o seu in-

gresso na Ordem Carmelita Descalça, recebendo aí o nome

de Teresa Benedita da Cruz. Procurando fugir à persegui-

ção nazi, deslocou-se em 1940 para a Holanda, mas sem

sucesso, pois veio a ser feita prisioneira. No campo de con-

centração usou sempre o seu hábito de carmelita. Foi morta

na câmara de gás.

Santa Teresa Benedita da Cruz

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grandes HomensCom o intuito de ilustrar caminhos diversificados de entrega e trabalho em prol da humanidade, apresentam-se, a título de exemplo, alguns Homens notáveis:

• Aristides Sousa Mendes, diplomata português que, na Segunda Guerra Mundial, salvou deze-nas de milhares de pessoas do holocausto;

• Mahatma Gandhi, pensador e fundador do Estado moderno indiano, acérrimo defensor do princípio da não-violência;

• Martin Luther King, pastor protestante norte-americano, um dos mais importantes líderes do ativismo pelos direitos civis e defensor da não-violência;

• Nelson Mandela, principal elemento do movimento antiapartheid na África do Sul, foi presi-dente da República e promotor da reconciliação nacional;

• Aung San Suu Kyi, ativista dos direitos humanos birmanesa, vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1991;

• Wangari Maathai, ativista política do meio ambiente queniana, vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2004;

• …

Aristides Sousa Mendes

Mahatma Gandhi

Martin Luther King

Nelson Mandela

Aung San Suu Kyi

Wangari Maathai

ImaginárioOs Caminheiros, não obstante poderem – e frequentemente fazerem-no – usar imaginários em atividades específicas, não têm definido imaginário “formal” para a secção, pois como jovens adultos já põem as suas ações em prática no terreno real, na vida do dia-a-dia...

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SímbolosO Símbolo identificativo da IV Secção é a Vara Bifurcada, não significando isso uma superior im-portância desse símbolo face aos demais. Todos têm a sua importância no encaminhamento para uma melhor vivência da mística.

Vara Bifurcada

Apoio e companheira no caminho, ao ser bifurcada a vara torna-se símbolo da necessidade constante de o Caminheiro fazer ou renovar opções, expres-são das encruzilhadas do caminho, das decisões a tomar, da rota pretendida rumo ao projeto sintetizado nas Bem-Aventuranças.

Na origem escutista do uso da vara bifurcada está a opção entre o egoísmo e o serviço. O Caminheiro e Companheiro é desafiado a tirar todas as conse-quências da sua opção fundamental pelo serviço, à maneira de Cristo e dos Apóstolos, na sua vida moral, cívica e social.

MochilaConvida o Caminheiro a pôr-se a caminho, a arriscar, a decidir se quer em-preender ou não uma viagem que o pode levar longe. Caminhar de mochila às costas leva à descoberta e distinção do que é útil e do que é supérfluo, o que o faz pensar e impele para a frente; permite discernir a diferença entre o essencial e o acessório.A mochila é imagem da própria pessoa humana e remete para a reflexão pro-funda sobre a própria existência humana ao convidar a colocar as questões: O que levo deste mundo? De que necessito realmente? A que dedico a minha existência? Esta reflexão só encontra o seu devido enquadramento diante de Deus, contemplando Jesus Cristo e a Sua vida terrena.

Tenda

Transportada na mochila, é sinal da mobilidade e da prontidão do Caminhei-ro para iniciar marcha, da sua capacidade para se fazer ao largo. Montada, é sinal da necessidade de paragem temporária, de descanso e de acolhimento aos outros. Na Bíblia, é um sinal da presença de Deus no meio do Seu povo.

«O Verbo de Deus acampou entre nós.» (Jo 1,14)

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«De facto, sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá outra morada no céu, que não é obra de mãos huma-nas e que é eterna. Aliás, é por isso que gememos, suspirando por ser reves-tidos com a nossa habitação celeste. [...] Sim, nós que moramos na tenda do corpo estamos oprimidos e gememos, porque, na verdade, não queremos ser despojados, mas sim revestidos, de modo que o que é mortal em nós seja absorvido pela vida. E quem nos preparou para isto é Deus, que nos deu Seu o Espírito como garantia. Estamos sempre cheios de confiança sabendo que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos, longe do Senhor; pois caminhamos pela fé e não pela visão. Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a morada do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor. Por isso, também, nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado esta morada.» (2Cor 5,1-9)

PãoFruto do trabalho e da vida do homem, é o alimento do corpo, de que o Caminheiro se alimenta para ter a energia necessária à jornada, e dá a seus irmãos em partilha e em comunhão.Naturalmente, o Pão é um símbolo preferencial da Eucaristia.«Dai-lhes vós mesmos de comer» (Lc 9,13) afirmava Jesus aos Apóstolos. Alimentamos-nos do Pão que nos coloca ao serviço dos irmãos. Cristo é o Pão que desceu do céu. (Jo 6)

EvangelhoO Evangelho representa a fome e sede de eternidade presentes na vida do Ca-minheiro: a Boa Nova anunciada e oferecida a toda a Humanidade é a referência máxima do amor que se dá até ao fim numa Cruz. Nessa Cruz podemos ver o sinal «mais» onde acontece a Nova Aliança entre o Céu e a Terra, entre o Divino e o Humano... Sempre que a nossa vida se transfigura à luz desta Vida, o Reino de Deus torna-se mais visível. O Evangelho é o pão do espírito, anúncio da Boa Nova de Cristo – a nova Aliança, fonte que inspira o Caminheiro nas suas opções, alimento espiritual que fortalece para o caminho e, simultaneamente, a meta a alcançar.

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Fogo

Sinal da descida do Espírito Santo, é o fogo que ilumina e aquece o Caminhei-ro durante a sua caminhada, e é a motivação para ir mais além fazendo-se ao largo.

O fogo ilumina e aquece, mas também purifica. Sem uma atitude de conver-são permanente não é possível ser fiéis discípulos do Senhor. Este fogo que nos julga é o Amor que nos queima o coração e faz sentir como podíamos ter dado mais de nós aos outros. Ser conduzidos pelo fogo do Amor divino faz de nós membros vivos, carismáticos, do Corpo do Senhor que é a Igreja.

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> glossário

grande Figura

Personalidade que na sua vida realizou grandes feitos, associados ao imaginário da sec-ção, que marcou a História da Humanidade.

Imaginário

Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos. Induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a transmissão de deter-minados valores.

Mística

Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma das secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.

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Modelo de Vida

Figura da Igreja Católica que, à semelhança do patrono, também encarnou os valores e ideais da mística e do imaginário da secção e que exprime a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.

Patrono

Santo ou beato da Igreja que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da mística e do imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhido como protetor e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção.

Símbolo

Elemento / objeto representativo de realidade, característica ou atitude que materializa o ideal proposto na mística de cada secção.

Todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.

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APoNTAMENToS

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APoNTAMENToS

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IntroduçãoMística e Simbologia do CNE

Método EscutistaMísticaMística no CNEPatronos, Modelos de Vida e Grandes Figuras

Mística e Simbologia da I SecçãoMísticaPatronoModelos de VidaImaginárioSímbolo

Mística e Simbologia da II SecçãoMísticaPatronoModelos de VidaGrandes ExploradoresImaginárioSímbolos

Mística e Simbologia da III SecçãoMísticaPatronoModelos de VidaGrandes PioneirosImaginárioSímbolos

Mística e Simbologia da IV SecçãoMísticaPatronoModelos de VidaGrandes HomensImaginárioSímbolos

glossário

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> índice

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