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¦»¦ Lvsfr mjjtf Lre 2/11/941 SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA" publicado semanalmente, sob a direção de Múcio Leão (Da Academia Brasileira de Letras) Num. 12 JACKSON DE FIGUEIREDO J Ni. dia 3 de Novembro de I ..... iiiiiii noticia triste s. csi*~- Ihava, célere, ]~-la cidade: a de que linha morrido, no niar, quan- do pescava, na barra da Tijuca, i> escritor e "leader" católico Ja- cloon de Figueiredo. A notícia, sein dúvida, con,- terimu toda a gente: os amigo* d, lackson, qne conheciam as reservas profundas c maravilho- sas de seu coração, os simples leitores dos seus trabalhos, que na,, podiam fugir à admiração pela sua alma ardente, arreliata- da e tão sincera. * * « Jackson de Figueiredo teve es- ta qualidade magnífica: nunca permitiu que a indiferença exis- tisse em torno de sua pcrsonali- dade. Homem de idéias e lio mein de partido, marcando, fim- damente, o traço de suas opi- nim-s. ele soulie sempre fazer-se ainnr ou odiar, com igual inlen- siilade. nâo soube merecer dos contemiiorâneos a desdenho- sa atitude da aceitação indiic- reme... » * A noticia dizia que ele havia morrido no mar. E isso nâo dei x;iv;i dc provocar certa iniste riosa e indefinida inquietação nos que estavam habituados a leitora dos versos do autor de "Xingara»" e de "Crepúsculo Tn terior", dos que estavam habi- bsadiwa ver, de vez em quando, naquelas imagens e naquelas n- nas, associadas a idéia do mar e a i.lóijt da morte... Aqui mesmo, nas páginas de Jackson de Figueiredo transcri- tas neste suplemento, o leitor en- com rara vestígios dessa comei- dencia, que o sr. Tristão de Ataide tão fulgidamente pós em destaque. Leia-se, por exem- pio. a estranha poesia intitulada "Frio de um doido", escrita na adolescência do poeta. I-á esla dito, iiiiiii verso profético : La vem a morte minta on- [da... Não parece extrao-dinário, ou, pelo menos, misterioso ? "Autores e livros" dá. em presta, assim, a mais justa tia» comemoração aos cinqüenta au.*s homenagens a juna das figuras de Jackson de Figueiredo, o seu mais altas que ainila honraram número dc hoje certo de que a nossa civilização espiritual. SUMÁRIO PAGINA MU: Jackson de Fiuueired» A modernidade de ia.kson de Ft- Kiieired», de Gra»;» Aranha Sumário PAGINA 210: ²A* dita» ra»« de Jacksoa de Vi- Euelredo, de Tristão de Ataide (da Academia Brasileira» PAGINA 211: ²Poesias dc Jackson de Figueiredo: Arrependimento; Frio de um dei- do; Esperança maior; Lobo do Mar: Compara; Alma doentia; Ire- pois de ler a novela de Poe -. O homem, de Jacta-* de Hcuei- redo PAGINA 211: jackson de Ftc-ietred* Mário de Alencar. ²A Tida de Jacksot» de rmiien ed» Retraio' de Jackson (ie Fieiieiredo com a esposa t os íiltiuo PAGINA 213: ²Pensamentos de Jackson de Fiftuel- m)i>: A vida * »» ""«¦ * to"- cura; Identidades. Retratos de Jackson da Figu«n«- do PAGINA 314: "Pascal t > "««leu**- «aader- ma", de Jose Sombra Pensamentos de Jackson de Figueà- redo: Amar o «ue é Tivo; , Um horrível amMcloso; A Deeaocra- cia; O problema atual. nitrato* de Jackson da Fi_uewedo PAGINA 21»; ²Correspondência de escrttorea. Carta dc Jackson de Figueiredo a Xavier Marques (fac-slmlleí ²Da co.riispond-.ncia de Jactasor. de Figueiredo. Duas cartas i sua Cl- lha Regina PAGINA 2I«:. . o realihU. de Ronald de Canra- . Lembrai-vai de Jaeesa». * L«u- ra de Figueiredo. ²o des:*»» tf Mm»», po»»'» Jackson de Fie"*»*''» <«•»-••¦ mlle.) PlGlK.*i--;.. Fli-.lr.d.. . «d- tor, de Jonatas Serrano !.Af.c1»n"a;. ..,.«_-*. *»«;•»' (continuação da pasma ?nterto" _ Netos ae Renan, de Jackson dc Figueiredo __A2r™,c%dênc.. de £*•«* Figueiredo. Carta de Pedro Kll- _ÍSo íe ensaio, de Francisco Karam PASe'S.lmSi. «.«re Jac-son de FI- íí-íe--, de Augusto Frederico Schiiiiclt cnèorrdo (continuação da pâeLina - a"SÍ3- »'*"«•• * '«*»" * -B!Í*W- deFigu.ii-- PAGINA il»: ²Jare-on, romancista» de Trú-eJo de Ataide (da Academia Brasl- leira). PAGINA 227: ²O amigo, de Perito Gemes. ²Indiraçfto, de Sérgio Buarque Oi Holanda. PAGINA 32»: Jackson de FlKueiredto e seu* ami go*. Duas cartas a Alcides Ge** ti! . Triatto da Cunha MarglnáiU, PAGINA 2MIJ„k ²"Aevum", f—toado de Jaefc- son de Flcneired* (Transcrição dos capítulos prlmetro e animal. PAGINA MO: ²Poema, de torce dc Lima. ²Carta a Alceu A»oroae Lima, de Jackson de Figueiredo _ A artatocracl. de Xavier Har «•_* de Jackson de Figueiredo ²Um eleito das Mana, de Tcotilo de Albuquerque PAGINA 211:. _. ²Gloria, poema de M-Mlto Arauto ²tlaiU a Alce» Amor**» Lima. d. - Jackson de Figueiredo PAGINA Ü32:..... _ A coaversia da -ae-aen de FI euelredo O eo.*» de Berna. «ette. de Jackso» de Figueiredo. ²As duas fases de Jaekaoo de FI- gueirede (continuação (M pagina _ IV».„_>_»__* de Jaekwm ?<• FI- gueifdo: caeborrtomo individual. ²Jackson de Fl|«elre««. de Xavier Marque» tda Academia Bramlet- _S.ml.tea.cla. de A. J ¦ f**** da Silva (da Academia Brasrtlei- ²Um ant ll-atee o* Joio Ki-ai ro_ PAlilHA 234: ²Hr&~.ilianai, de Itoquete Pln*o ..1 Academia Brasileira)... ²A Ylda í de cakec. ».l«a. _e Al- var.» Moreyra. PAGINA 235; _ José Rí.le e Jaeé A«J». de João Gaspar Simões _.Ga!cria do» nome» ilustres PAGINA 238: .. Fretado Jl «.» edfcl-. Grande e Sentarta". d _ sòbie8 «ma detlnlção de voeab. de André Gide (Tradução de Vi nícius rte Moraisk. PAGINA 237: Resii.rU viva. de Antelor Naa- _ CÁ"\'iaa é de cakeça kalxa leonti- iiaçiV» da página 234» _ «in morto iln«t». (continuação da pãiíina 233> ²•Aevtim". o romance de Jaek- son do Figueiredo (continuação da i,l*«..>a 22»1. PACINA 23»: ²H_um. lilho da »éc«lo XX, de «r nesto Feder.. _ „,¦¦<nc!:. viva. de Anten.* Naa c-íiits icontinuaçio »la l>»gin* ^s^j~\t^B k. 1 ú Ih 411 ES I \M MÊÊm H ^a^J ^ílVCs? \ vs~.N5Í!S^^^^-aaaaaaaaaaaaa^^^B JACKSON DE FIGUEIREDO A modernidade de Jackson de Figueiredo GRAÇA ARANHA o "Cata Gilberto Passaram, já, 13 anos, solire a rmirte de Tacks»" ''<-' FiRitoirc- do. . O mundo muito caminhou du ranlc essv tcin|*i, e percclienios «jue. no terreno político e social, no terreno nacional e internado- nal, muito do que Jackson de Fi- gueiredn ensinou era » verdade pelo menos era a precária Terd:«le contingente da no**» cpnea... * * H* cinqüenta ano», nwot;l»r ¦wrlesto, mh Sergi|ie, nascia » *>soroM e combati»» eacritor Beiralo d. I-U. .*''*£"£. Marli"**. ic Jackson de .1 jueiredo. pA£S!í Ti~è.w.ci. .„ '--¦«* * Jackson de Figueiredo. -Trimulo de Jackaon de Fl.ueire LA,GJ2Í^«—Ul deB-reWF,- _ De°l~.lm..t.. _. J««« * "7-,.. Adens a Jackson dc Atoeu Amo roso Limo. lAS5.A.3-i * Jack- d. *«€«!- If^kU da J~»"« d. ra,.**** PAG»- *"»'• _¥M_,, , ¦___-, *e»-*— * FI_*Min*a__ uaiiiiii amieta ²«.ma Ui-IJa""'"lomde Mona. ( aumiildaa dk »>lill-« .r). PAGfNA 23»: ²Estiidn el-aa-M VM .•»••«•» cão inédita aokre remia Itodrlj»™ La-a Sonapita. de Joaquim IU- ²Pensainenlo» de Jactaon de FI- euelredo. O V t_» Tak»-: Artla- _ A «"«oc-seia d. Xavier ««.«a. (continuação da vagina »*)• _ Um aoneto. do Pa«lre Anton» 1»~ más (fac-swiH*). PAGINA Ml: _ Dtis. tradueoea <W ""«•"'d»* PÍnnatort: - I- "^t**"^: de Paul Verlato* aalamé. de Gvillwne Ar»l_»J>!« ²Faia. de Ribeir» Omita tdai _«• demi. »*M"«J3'M- . Sobre uma AHM&* ' de Vlnidua Para aquele- qúe libertaram a arte brasileira e procuram integrá-la tu atualidade nacional, Jackson de Figueiredo é escrito, da mais evidente modernidade. Pode a essência do seu pens»- mento i.sentar-~e tio tempo pela base religiosa, em que ae con- solidou. Esse pensamento reflete as angústias, as inquietajjde.. do nosso iustaiite e exprime altivamente unia doutrina de salvar ção. O nosso momento é de afirmações. Todos se livram ceticismo para proclamar unw liliertação dogmática. Jackson de Figueiredo toi destes afirmativos modernos. Combateu o ro- mantismo literário e político. Tomou resolutamente posição na partido da ordem, da hierarquia e da religião católica, como on- tros afirmativos tomaram posição no partido da ditadura prole- tária e da negação religiosa. São afirmações vivas, ardentes, dt» homem de boje, farto da dúvida e do sorriso reuaniano. Para esse combate, Jackson de Figueiredo armou-se de uma expres- são simples, enérgica, despojada de literatura. Dentro desta forma, desta armadura, caracteristicamentc moderna, ajustou-se um espírito desassombrado, magnífico de abnegação e sinceri- dade até o sacrificio. Foi uni exemplo edificante de fé, de va- lor transcendente c por isso gerador de entusiasmo. As esforçadas batalhas, em que se empenhou, não lhe esgo- taram a perene frescura espiritual. Como os grandes coiiilmtcn- les da sua classe, Jackson de Figueiredo possuia a suprema ale- gria de admirar. Este pródigo de emoções jamais teve a nus- quinhez de negar o testemunho da sua admiração aos escritorc- e artistas, de que estava separado pelos ideais. Entendia-se com eles em Unia inefável .ona de sensibilidade estética. _ Tal homem, tal pensador, tal escritor faz uma falta eonsi- deravel à inteligência brasileira. Era um ertraordinário estimil- lante intelectual. Os seus prosélitos perderam um chefe iiiaravr- Jhoso, iitcomparavel no fervor e tn ação. Os seus antagotiista*. nâo terão mais o encanto quotidiano dos seus escritos de circule, tincia, cm que se crmauhstanciava uma doutrina dogmática, for- te, esplwadMaiMute 0-gani.ada, a provocar a rénh-. e o perpi- too ddtate. Para os sen» amigM que i_efan«~«a na saudade de ta>» meidade, de tato» í«le». * _-*•«««*•.

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2/11/941SUPLEMENTO LITERÁRIO DE "A MANHA"publicado semanalmente, sob a direção de Múcio

Leão (Da Academia Brasileira de Letras) Num. 12

JACKSON DE FIGUEIREDO JNi. dia 3 de Novembro de

I ..... iiiiiii noticia triste s. csi*~-Ihava, célere, ]~-la cidade: a de

que linha morrido, no niar, quan-do pescava, na barra da Tijuca,i> escritor e "leader" católico Ja-cloon de Figueiredo.

A notícia, sein dúvida, con,-terimu toda a gente: os amigo*d, lackson, qne conheciam asreservas profundas c maravilho-sas de seu coração, os simplesleitores dos seus trabalhos, quena,, podiam fugir à admiraçãopela sua alma ardente, arreliata-da e tão sincera.

* * «

Jackson de Figueiredo teve es-ta qualidade magnífica: nuncapermitiu que a indiferença exis-tisse em torno de sua pcrsonali-dade. Homem de idéias e liomein de partido, marcando, fim-damente, o traço de suas opi-nim-s. ele soulie sempre fazer-seainnr ou odiar, com igual inlen-siilade. Só nâo soube merecerdos contemiiorâneos a desdenho-sa atitude da aceitação indiic-reme...

» • *A noticia dizia que ele havia

morrido no mar. E isso nâo deix;iv;i dc provocar certa inisteriosa e indefinida inquietaçãonos que estavam habituados aleitora dos versos do autor de"Xingara»" e de "Crepúsculo Tnterior", dos que estavam habi-bsadiwa ver, de vez em quando,naquelas imagens e naquelas n-nas, associadas a idéia do mar ea i.lóijt da morte...

Aqui mesmo, nas páginas deJackson de Figueiredo transcri-tas neste suplemento, o leitor en-com rara vestígios dessa comei-dencia, que o sr. Tristão deAtaide tão fulgidamente já pósem destaque. Leia-se, por exem-pio. a estranha poesia intitulada"Frio de um doido", escrita naadolescência do poeta. I-á esladito, iiiiiii verso profético :

— La vem a morte minta on-[da...

Não parece extrao-dinário,ou, pelo menos, misterioso ?

"Autores e livros" dá. em presta, assim, a mais justa tia»comemoração aos cinqüenta au.*s homenagens a juna das figurasde Jackson de Figueiredo, o seu mais altas que ainila honraramnúmero dc hoje — certo de que a nossa civilização espiritual.

SUMÁRIOPAGINA MU:

Jackson de Fiuueired»A modernidade de ia.kson de Ft-Kiieired», de Gra»;» AranhaSumário

PAGINA 210:A* dita» ra»« de Jacksoa de Vi-Euelredo, de Tristão de Ataide(da Academia Brasileira»

PAGINA 211:Poesias dc Jackson de Figueiredo:Arrependimento; Frio de um dei-do; Esperança maior; Lobo doMar: Compara; Alma doentia; Ire-pois de ler a novela de Poe

-. O homem, de Jacta-* de Hcuei-redo

PAGINA 211:jackson de Ftc-ietred* • Mário deAlencar .A Tida de Jacksot» de rmiien ed»Retraio' de Jackson (ie Fieiieiredocom a esposa t os íiltiuo

PAGINA 213:Pensamentos de Jackson de Fiftuel-

m)i>: A vida * »» ""«¦ * to"-cura; Identidades.Retratos de Jackson da Figu«n«-do

PAGINA 314:"Pascal t > "««leu**- «aader-ma", de Jose SombraPensamentos de Jackson de Figueà-redo: Amar o «ue é Tivo; , Umhorrível amMcloso; A Deeaocra-cia; O problema atual.nitrato* de Jackson da Fi_uewedo

PAGINA 21»;Correspondência de escrttorea.

Carta dc Jackson de Figueiredoa Xavier Marques (fac-slmlleíDa co.riispond-.ncia de Jactasor. deFigueiredo. Duas cartas i sua Cl-lha Regina

PAGINA 2I«: . „. o realihU. de Ronald de Canra-

. Lembrai-vai de Jaeesa». * L«u-ra de Figueiredo.o des:*»» tf Mm»», po»»'» *»Jackson de Fie"*»*''» <«•»-••¦mlle.)

PlGlK.*i--;.. Fli-.lr.d.. . «d-tor, de Jonatas Serrano

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_ Netos ae Renan, de Jackson dcFigueiredo

__A2r™,c%dênc.. de £*•«*Figueiredo. Carta de Pedro Kll-

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íí-íe--, de Augusto FredericoSchiiiiclt

cnèorrdo (continuação da pâeLina

- a"SÍ3- »'*"«•• * '«*»" *-B!Í*W- deFigu.ii--

PAGINA il»:Jare-on, romancista» de Trú-eJo

de Ataide (da Academia Brasl-leira).

PAGINA 227:O amigo, de Perito Gemes.Indiraçfto, de Sérgio Buarque OiHolanda.

PAGINA 32»:Jackson de FlKueiredto e seu* amigo*. Duas cartas a Alcides Ge**ti! . Triatto da CunhaMarglnáiU,

PAGINA 2MI J„k"Aevum", • f—toado de Jaefc-

son de Flcneired* (Transcriçãodos capítulos prlmetro e animal.

PAGINA MO:Poema, de torce dc Lima.Carta a Alceu A»oroae Lima, deJackson de Figueiredo

_ A artatocracl. de Xavier Har «•_*de Jackson de FigueiredoUm eleito das Mana, de Tcotilode Albuquerque

PAGINA 211: . _.Gloria, poema de M-Mlto ArautotlaiU a Alce» Amor**» Lima. d.

- Jackson de FigueiredoPAGINA Ü32: ....._ A coaversia da -ae-aen de FI

euelredo — O eo.*» de Berna.«ette. de Jackso» de Figueiredo.As duas fases de Jaekaoo de FI-gueirede (continuação (M pagina

_ IV».„_>_»__* de Jaekwm ?<• FI-gueifdo: caeborrtomo individual.

Jackson de Fl|«elre««. de XavierMarque» tda Academia Bramlet-

_S.ml.tea.cla. de A. J ¦ f****da Silva (da Academia Brasrtlei-

Um ant ll-atee o* Joio Ki-airo_

PAlilHA 234:Hr&~.ilianai, de Itoquete Pln*o ..1Academia Brasileira) ...A Ylda í de cakec. ».l«a. _e Al-var.» Moreyra.

PAGINA 235;_ José Rí.le e Jaeé • • A«J». de

João Gaspar Simões_.Ga!cria do» nome» ilustres

PAGINA 238:.. Fretado Jl «.» edfcl-.

Grande e Sentarta". d

_ sòbie8 «ma detlnlção de voeab.de André Gide (Tradução de Vinícius rte Moraisk.

PAGINA 237:— Resii.rU viva. de Antelor Naa-

_ CÁ"\'iaa

é de cakeça kalxa leonti-iiaçiV» da página 234»

_ «in morto iln«t». (continuaçãoda pãiíina 233>

•Aevtim". o romance de Jaek-son do Figueiredo (continuação dai,l*«..>a 22»1.

PACINA 23»:H_um. lilho da »éc«lo XX, de «rnesto Feder. .

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JACKSON DE FIGUEIREDO

A modernidade deJackson de Figueiredo

GRAÇA ARANHA

o "CataGilberto

Passaram, já, 13 anos, solirea rmirte de Tacks»" ''<-' FiRitoirc-do. .

O mundo muito caminhou duranlc essv tcin|*i, e percclienios«jue. no terreno político e social,no terreno nacional e internado-nal, muito do que Jackson de Fi-gueiredn ensinou era » verdade— pelo menos era a precáriaTerd:«le contingente da no**»cpnea...

* * •H* cinqüenta ano», nwot;l»r

¦wrlesto, mh Sergi|ie, nascia »*>soroM e combati»» eacritor

Beiralo d. I-U. .*''*£"£.Marli"**. P« ic Jackson de .1

jueiredo.pA£S!í Ti~è.w.ci. .„ '--¦«* *

Jackson de Figueiredo .-Trimulo de Jackaon de Fl.ueire

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.r).PAGfNA 23»:

Estiidn el-aa-M VM .•»••«•»cão inédita aokre remia Itodrlj»™

La-a Sonapita. de Joaquim IU-

Pensainenlo» de Jactaon de FI-euelredo. O V t_» Tak»-: Artla-

_ A «"«oc-seia d. Xavier ««.«a.(continuação da vagina »*)•

_ Um aoneto. do Pa«lre Anton» 1»~más (fac-swiH*).

PAGINA Ml:_ Dtis. tradueoea <W ""«•"'d»*

PÍnnatort: - I- "^t**"^:de Paul Verlato* aalamé. deGvillwne Ar»l_»J>!«Faia. de Ribeir» Omita tdai _«•demi. »*M"«J3'M- .Sobre uma AHM&* '

de Vlnidua

Para aquele- qúe libertaram a arte brasileira e procuram

integrá-la tu atualidade nacional, Jackson de Figueiredo é escrito,

da mais evidente modernidade. Pode a essência do seu pens»-

mento i.sentar-~e tio tempo pela base religiosa, em que ae con-

solidou. Esse pensamento reflete as angústias, as inquietajjde..

do nosso iustaiite e exprime altivamente unia doutrina de salvar

ção. O nosso momento é de afirmações. Todos se livram d»

ceticismo para proclamar unw liliertação dogmática. Jackson de

Figueiredo toi destes afirmativos modernos. Combateu o ro-

mantismo literário e político. Tomou resolutamente posição na

partido da ordem, da hierarquia e da religião católica, como on-

tros afirmativos tomaram posição no partido da ditadura prole-

tária e da negação religiosa. São afirmações vivas, ardentes, dt»

homem de boje, farto da dúvida e do sorriso reuaniano. Para

esse combate, Jackson de Figueiredo armou-se de uma expres-

são simples, enérgica, despojada de literatura. Dentro desta

forma, desta armadura, caracteristicamentc moderna, ajustou-se

um espírito desassombrado, magnífico de abnegação e sinceri-

dade até o sacrificio. Foi uni exemplo edificante de fé, de va-

lor transcendente c por isso gerador de entusiasmo.

As esforçadas batalhas, em que se empenhou, não lhe esgo-

taram a perene frescura espiritual. Como os grandes coiiilmtcn-

les da sua classe, Jackson de Figueiredo possuia a suprema ale-

gria de admirar. Este pródigo de emoções jamais teve a nus-

quinhez de negar o testemunho da sua admiração aos escritorc-

e artistas, de que estava separado pelos ideais. Entendia-se com

eles em Unia inefável .ona de sensibilidade estética. _Tal homem, tal pensador, tal escritor faz uma falta eonsi-

deravel à inteligência brasileira. Era um ertraordinário estimil-

lante intelectual. Os seus prosélitos perderam um chefe iiiaravr-

Jhoso, iitcomparavel no fervor e tn ação. Os seus antagotiista*.

nâo terão mais o encanto quotidiano dos seus escritos de circule,

tincia, cm que se crmauhstanciava uma doutrina dogmática, for-

te, esplwadMaiMute 0-gani.ada, a provocar a rénh-. e o perpi-

too ddtate.Para os sen» amigM que i_efan«~«a na saudade de ta>»

meidade, de tato» í«le». * _-*•«««*•.

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mnu nr - iwtjwwpw uim in. »-» «mana

^mm fases.m jm®mMFiGm%Em(Escrito especialmente pdrd

"Autores e Idv^Jackson de Figueiredo, como (Aracaju, 18"0B). Para a Idade llcldade de um povo que vive púseulo Interior",» em. que a» bem do ponte de vista poi-a-

todos sabem, JoTsergipano, co- amo positivamente fora do eo- arrastar na lama, no despre» reflete, toda a evolução eofruta mento amerlcanof (pag. II).mo ioblas Ôarreto ou Silvio Bo- mum. Superlore» à maior par- de todo», ao paaso que" no (eh) por «u etpMto. que Iria neaw Terminava o prefácio a ia» en-me. o «orno Fausto Cardoso, Ou- te do que nana Idade escreve- acalento o grande sonho, to- fim de ano panar pela cru» 11* aato dixendo: "Iu ejeto no Bra-nu rclrtdo Beasa ou João Ribeiro nm nossos maior» poeta*. O nho alitda maior, quando é de nal, quando a (ripe quase o ie- sü. eu creio que o Brasil pode-eomo tantos outro* homens de que houve é que, nele,* a *etva um Ahasverus, sujeito is raiva* vou deato mundo. Desse Uno, ri aer amanhã o campo *m quetalento, de cultura, e de entu- poéUca nao chegou a dar vida da* populações, o de esperar eom que encena a «ua primai- a* desenvolvam praticamenteaiasmo combativo, que SorU- a uma grande arvore. Ficou desse Deu* que eomo um pouco ra década Intelectual, quero algum doa multo* ideais doram desse pequenino recanto sempre latente, em tudo o qu* de areia o* espalhou, — o Me»- transcrever esto poemeto da Cristianismo, ato boja abando-do pais. par» se espalharem por escreveu, e íol alimentar outro* slaa de braço forte e guerreiro "Madrugada triste", em que se nado* pela maioria do* homens,todo ele, levando aempre a'gu- frutos. Falando «obre Jactam, que lhe» hi-Ue conquistou- reflete a vida de Jackson nes- ma* guardado* • ctotamentema coisa ae iorte, de original na Academia, tive ocasião de mundo e novamente levantar se> anos duro» dc revisor d* definido* peto *»Wdorla dae de Irredutível. A marca aer- mostrar como o.tema do Ma:, trono de David e de.Salomão" Jornais i noite e a Inquietação Igreja Católica (pig.. JOi.«inana o acompanhou, sempre, tio dolorosamente ligado ã (Ua ("Correio de Aracaju". 18-3- tllceofloa que o angustiava * Essa dupla preocupação, deate á morte. ' " morto, ni barra da Tljuca. nu- isosi. ; , . #.JP»,M* f* PV* " S?* oj»dem imlve^è de ordem da-

Foi em 8 de outubro de 1891, ma pescaria aventureira e tra- o temperarhento _ messiânico da segunda Jase de «ua vida, elonal, la desde então encherha melo -século pela, qae ele glca, eomo tudo-: o que farta, de Jackson Ji ae esboçava nes- de 1Í18 a .1828nasceu em Aracaju. Era o mo- esteve unido a toda a sua vida tez esquecidos escrito* da ado- „-.__„_._. _-,-_» ,mento em que aparentemente literária, desde o primeiro *o- lescéncla, hoje perdidos em ve-- MADRUGADA tubiscomeçava a lègallzár-se a pri- neto de Aracaju ato á piyina lhas folha* amareleelda* pelo . ^^ „„.„.„«.meira República. Era o mu- final do rorr.ance que deixou tempo. O que o futuro nao de*- ohi triste »^^"r,™»J™'.mento em que a figura estra- Inédito. Transcrevo aqui ene mereceu fola ardor que Ja n y»* ¦?J^j*-.'^*.gff>*>nha de um filho da geração primeiro fruto publicado de sua contem nela* e que a despeito A tua *"™^*/"*•*"•anterior i sua, marcava pelo vocação poética ao* 18 ano», da forma hesitante edescuidada Fala-me come ™J»"™™--¦eu estilo diferente e pelo «eu eomo expressão de uma preço- já revela a extraordinária for- **>K!*Z*™m'. "*?*• ?nm»na0temperamento, ao mesmo tem- cidade que o aparentou aos ça Intelectual desse quase me- «Ju*_""T*0po fogoso, Intolerante e *utSl, grandes românticos de hi um nino. -„ veem-te os

• - ¦ século e eomo que foi um do* Da Baia trouxe no ano •*¦

a «ua vida * constituir o. nervode sua obra . militante. Entra1918 e 1998 a", vida brasileira foiagitada por toda* a» corrente*de Idéias, que em 1922 começa-ram a repercutir diretamenteno plano da ação politlco-re-volucloniria. Fql entio queJackson empreendeu as sua*'

de ts penaandof grande* campanha* Jornaustl-Véem-te os flancos Iluminam» ea* • que te Jogou novamente

i. mm es um verme-de cor escura... contra a desordem, no conclén-Tens a triste» nos teus eosteam.. ela lúcida de que empreendia"lelt-mottven" central» dc sua «ulnte novp volume de verão*, Tms* vmtm nos ««>«>>,. cia mcioa m que cmiroena»

ohr» literária. m»u neátiala e vivos lá toca- D» ««'O «o - «lim" »• d» altum? uma campanha contra o lm-obra literária. ^%S^ «nexTde .lmbol Tlr- Mi— *• «*»»do«• W* PO-lvel. quando sentiu * ma*-

ao mas Z..T.... rinri. rin (ml ateu- Como m utoa»» tudu amea- sa Invencível das água* revo-

tun novo estado de espirito emnossas letras, que Iria tambemter vinte anos mais tarde o es-

rRef^eTRaílWíi: AO MA» ^ ^n^V&&7ZSÍ2£&'Z

-—-to -h. -, mar. oh,. %££$ ? ?$%*£&?. O. -tro. *-+-£?- SSSÇ"," SS£gpTwa o «^'cíepúicuto - o de-

^^ fmar gigante, cwtfiio. do ano ngulnte' as Vêem-te. « flancos ««"d^mom. ,hu» Come.Raul Pompto, no

fSnsor ^sintoessado e nobre guando olhando teu dor» pra- c^iewMiteraria» do "Dlirlo ¦ vendo «ratas que «»>dea bran- Inicio da ««P^^iL**™;da Ordem contra a anarquia. J* lt***> da Manha" de Aracaju, sob oRaul Pompéia e Jackson d* FI- Pelo doce luar. beijo mandado uhl)0 «A volfipla de diser", en-gueiredo pertenceram a gera- Dá lua tua linda e meiga amante, <« ____ quais se destacam aque-çôes distintas. Não se conhece-" le admirável tríptico as "Água*"

lar. Como Raul Pompéia, noinicio da, Republica, ele defen-

Idindk dia uma causa qu* o povo nao86 te eompanun eom os namorado», compreendia. Se hoje, aquelesTriste aparência, ameaçadores, , próprios que então o atacavamE o coração aberto em flore». falam em antl-llberallsmo, no

££ lISSã^JSTSi. ««and. ouç. teu «nt» «uuç-ito ^7 "oíteTreTrío"

d«*toda Ohl S^todM. madrid.. memento era em nome do llbe-^ksoT^m™ criança sino? D. haimanTo» vibmr, tAo ma- ^81» vida, tó formular aquela V* eomo o. «tro. sabem. Julgar, ralismo exaltado que se empre-quando a tragédia se abateusobre a jovem cabeça do ardo-roso defensor de Florlano. Pug-naram por Ideais completa-mente opostos, pois Raul Pom-pela foi a expressão do atelsmomilitante, na primeira geração Minhalmarepublicana, e Jackson de FI-

Vejo em tl, velho mar, um mea1 irmão!

tu tambem é(grande,

endia a revolta contra as ins-tituíções. E Jackson as defendia

«,» « Mar» <mê talvez'tenha Consigo leva todo o fulgor por amor da Autoridade, davoítaVfsúa^atooS- A lu. Intensa de um srande aiaort Ordj^.d. Hierarquia, da Tra-daTencharcadanto hora *u- E tu, que di*», vo* •"«*««•',mema da despedida, em luta Ohl bonde triste da madrugada!

[geada- péiim ítienueclvel-no -Tenho Minha camas» desengonçadaOu quando te contemplo extasiado J paixão das águas... Tenta- P»>* triste— que ando a penar,No teu furar altivo e delirante.

gueiredo a figura mais ardente Sujeito ao goso ou dor meu coração.e expressiva da recristtanizaçãomilitante da inteligência na- As veses ele rt, canta e suspira.

eom o velho Atlântico.Ji nessa época, seu pensa-

mento, até entio entregue to-do i poesia, e pouco Interessa-do pelos estudos Jurídicos, vol-

dlção. da Unidade nacional, daRealidade Brasileira, de tudo oque mais tarde velo a constl-

elonal. na segunda década do outras ves» a dor em raiva es- ta-se'pera as idéia», para o

Despedia-se desse período inl- tuir o troco barato do* novo»ciai de sua existência olhando rumo» políticos, posteriores apara os amigos — esses amigos 1930, depois da sua morte. Oque sempre foram a sua "se- colapso da 1.* República foigunda igreja". E sobre eles es? previsto por Jackson de Flguel-

novo século e no fim da 1.' Re- IP»*, probleína do universal, para o* crevçndo longos «nsaioede redo taúmera. ^-«>™*

pública que Pompéia ajudara E eomo tu. ohl «lho mar. deUra!» £„„,.„ temas que desde ado- admirável compreeiisíp,^cofnai o «»f P»**»-n?jT^ * tom?eonso'ida>. AmbíT operaram fescente o interessavam na* artigo sobre Kai\Q Alenàu- no que a• "^£XM.d«mal^'£reconciliação entre a política Já aos 10 ano», contestando interminável» leitura» do "Er- "Jornal * Comércio" (Í5-12- bem nele

^°£°"» £»¦?.'*;as letras, cuja dissociação tl- ao pai sobre a carreira que mai* mo» Atío nos arredores de 191**: primeh» t«^ho de viü- cido do» vnten. J*®»"™^nha sido marcada, acima de lhe agradava, respondeu por AnM.alé em que se refugiava to Sue publicou noRto aochj. jra

'""Jo.1^ ™" "ff1^tudo, pelo estado de espirito, escrito, num bilhete que Ole- ,»„ í»r. gar do Norte e depol* «longo ^^^^™'*f.e"t™^í.^não unânime, sem dúvida, ms» gário alva divulgou, nas Inte- "Vfcixara-se dominar comple- ensaio sobre "Oarcia ltosa» ««^efa

ç^bndí e inatato-

tão pouco solitário nos fins do íessante. notas que escreveu, tamente pela onda de natura- U»15>, o homem que se«ura- »el e pela' ?«^~?«1í?TeI.nI?:«éculo XIX, do nosso grande «bre sua Infância: "a melhor llan0 MoSflco. que desde To- mente Jackson mal» Admire» J«

*"»™ ""^SJ^Lfe 1«-:. Ambos per- é a carreira da marinha" (In bto» Barreto se assenhoreara d* em vida e a que se referiu r»^e"^^,rty.c'l1^in!:

68). O Mar foi todas as novas gerações do de modo inesquecível no ro- eeltavel*. Datam de entio o*Machado de Assis.tenceram ao espírito da

per-"arte«enceram ao espiriio na ar»e- nmonan, n. oo,. v/ m». .». tonas as novas gernyu» », -- •—-- —-—• -Tr-,"-J r,^, ii™™ _t_. ,<nn»li«ma nolitico«ela vida" e não ao espirito,da «empre a sua constante pre- Morte. A leitura de.alguns pen- »«i« V«' «»^S-^S. 1S^ «^S^nteu cmrSocupação. E voltava continua-aidores alemães do século XDJ <^'^»)-to ,M\^J?-R^J-n?S^"ÍL^|Smente em seus verso», muitos. 0 «„,», em 1909 - "matéria- plena,evolução para o eatollcto- panfletário na «-™,»h«2fA™»™tte geração parnasiana.oa geração purnasiana. mente em st-u» iwouo, «•«««».. 0 mera. em ti«w — m*%xxi*- •««-»,*»«.-,«. ,— —~-™- *L-i_- _~mMI,in_t_nm a» hi«tArio m

Em duas décadas bem distin- dos quais ainda Jaaem inéditos, itet*. evoluclonlsto, mecanlcls- mo. publicava essa deUclOi» beto» ^1^^d*L_£?°J™LJtaa podemos dividir a vida In- <m cadernos . carinhosamente „, um candidatoxlnho ao »»laq»etto Mnçenso e Ouro", qo» como naclrairio «Wil o «s-telectual do autor de "Pascal e guardado* por sua esposa e por .'mandarlnato cientifico"., como era. uma página de »»»*•<>** «**» i^SonáVio^A^Soa Inquietação Moderna". A .ua mie. em cuja* velas corre m m( 0 contava no artigo adolescência, sobre oujeu aml- "JV^^S1^, VSíS!

eimelra. que vai doa sonetos o sangue de Castro Alves e cuia p escrevia na "Revista Ame- go «Jucá MagalMes. companhel- do bom senso (WM>, utera

Iclals, os inéditos de 1907 e os Inteligência vivíssima é até ho- rtcana" sobre Faria Brito. Mos- ro dos tempo* de mocidade ar-publicados em Aracaju, em je um encanto para quem ten. trava ai como so voltara a ler dente, na Bala.1908 ate i 'sua conversão aocatolicismo em fins de 1918. B¦ segunda, que se estende dai,•té * morte trágica, em novem-fera de 1928.

Mo duas décadas bem distin

a felicidade de a conhecer. Faria* Brito depois de o rejei-Foi, portanto, ao terminar o» tar nesse período inicial do seu .'»¦'

preparatório* e ante» de In- pensamento, depois de ter so- Se a primeira década de suagressar na Faculdade de Dl- frido, através de Oarcia Roca obra intelectual foi toda marca-relto da Baia, que Jackson co- e de Xavier, Marques, a* pri- da pelo lirismo e pela meditação

. . mecou a sua vida literária. E»- meira* revelações sobre a filo- metafísica, na segunda la ten-«as. que. marcam agudamente rjevla entio versos e crônicas, sofia do Espirito e da Bondade, çar-ae francamente nd Jomalls-a evolução do aeu espirito, oue publicava noa Jornal* de o pragmatismo religioso d* mo político e no aposnajado rs-•empre solicitado pelos quatro Aracaju e de Macei*, onde foi willlam James, corrigiu-o do* ligloso, de qua Iriam resultar aponto» cardials de sua obra — terminar o seu curso secunda- waa preconceitos antl-reügto- fundação da revista "A Ordem"• literatura, a politica, a filo- rio em 1908, e de onde datam „, t 0 f« reler Faria* Brito e do "Centro D. Vital", ambosaofia e a religião. Naprlmeira os seu» primeiros trabalho* lor- e compreender o pensamento em 1921

tura Reacoinsrla" (1924); "Acoluna de fogo" (1928) ;"*AfIr-macoes" (1985) — sio livros d*combate em que seu penaamen-to poitlco-social se desenvolvocom o mixlmo vigor. Num de-tes, "A coluna de fogo", escritono mais aceso da luta contra-revolucionária, encontro a se-guinto dedicatória: "Ao querl-do T, mais este. testemunho denma revolta Irreprimível con-tra a Revolução, ainda maiaque contra aa revoluçoe**-. Eramenos p fato ravenetonirto«tocada, que vai de 1908 a 1918. nallstlco*. Nas féria» de ISO». mfultsKo que terminava, se- A publicação, em 1918. da JS1? *JL? «.JSSSSaÍS o

predominaram a literatura e a anto* de seguir para a Baia, nto numa volta i Fé. ao me- Pastoral de D. Sebastião Leme, JJ" %2SzS: «K^iTíha A.-«Tinnfla n. iminK, de 1918 encetou no "Correio de Araca- „, numa revelação de outro* entio Arcebispo de Olinda, qu* KJ^^ «itamrfeT^iili£s religião, jú" uma «fcçAo literária "No- nrundea e oulras verdade*, qoe soava como um toque de rebato JS n»m um. nJ^lci enve-» segunda la* de uma carteira", que nio » M«ura de Pascal lhe iria ao catolicismo adormecido do Sf:1?^," ?£! ^SÍÍ^aJlitades.o as pre- passou altas do segundo artigo, desvendar. Brasil, Jackson respondeu ten- ggiTinesíno^olSr^e^eaNonea n pois teve de seguir para os es- Sao desse tempo, deste pe- to por artigos - em qo* Já n !Í^^TdZ2!SSa. de-e m-ma ai ta- tudo* Jurídicos. Já neles se no- rlodo final da fase primeira de manifestava a sus marcha crês- £"Tde luta^^oS «STobra. tudo nm tam algun* traços earaeterts- «,» vida literária, o* doto B- cento para a Fé _ eomo por S^ eu trisr^mUria e es-tico. de sua feição literária, m, em que nos contou as suu umâ correcpondêncla privada. „_JrtL , JSSíTom «conte-«empre direta e ardente, «par- primeiras experienclu fito*»- cuja divulgação ««ria do mai* 2JI!„S -f^inllM oue _ticularmento ao primeiro, dedi- ficas - o ensaio sobre "Xavier alto Interesse para a hUtorta -25J2"l „ SSím pessoa

¦ejamo* apenas eorislgnar o* cado ao* judeu* • aos cigano*. Marques" de 1918, reeditado cas daa Idéia* no Brasil. No primei- Zz£r. ' Ãrtú?

prato* culminante* de aua obra ena palxi* >eta aventara, pe- mo eom um prefacio muito ro livro dt «ua nova faae, "A ãaremceentom

o sr. Bpttaelo PessoaBernardes na-

da representam para mim eo»propriamente.tnrrMf*^ la» viaa* nomaaes, prws non- imponente para a comprem- questão aocuu ns inoaona oe _ arMinentca.• —. sonte* «rm fim qoe sempre foi aio d* marcha de mu perua- Farias Brito" H9I9), Ji * apre- 7? £z°£? fSLbu-. nina.a»

tf* primeira fa*e de su* vida on* ds* notas mal» expreatt- mento, e o* estados «obre Fa- tento como católeo perfeito- « »VeonIo^*M») em M.«terirto r-lioesto * * medita, vae de sua alma arrebatada rias Brito qa* terminaram na mente Integrado oa Fé e pro- XnWa «mo - -be de nó-Sm eardrito o* «wiinfli» O»- o pensar-te ns dtfereoea sem- esgéittoallsta de "Alguma* r*- procuravam, no terreno da m* (1-. r»<aaZwa* e*ereT*r nSo cada pra terrível em qu* vtvemoa. flexOe* «obr* a nioaotla d* Fa- -questio *ociaJ". desviar o Bra- »" • '«^ '""

ZaiM* «rnsân^TatotoMA entre o nosso modo d* vivar * rtoa Brito" •» 1918. sü dt sus tradição verd.detra. A« .j—aoat, a* «strutora*tZwTJSMSm. 2L+ÍT» rSial de vida que deeejamca. Encerrou •*** prtnetra fase -A' Igreja devmnc., •.asam jeWjjUa.

aWaa togBda-Z—TL—LrTliiMHultai iiniinili bit • estmpto de de ata «Ma sstetort»*! ema un pr^itr^Oidaaej listo si «to »mn. 4. a* irtaaos* adquirida*

• .•aatotoiSJlr 1* J»aM"-a»a»a «sairia, liqiip • bato- mm llvt»-d» p*rAii«. "01*- ta 4» vtoto «atívenal, an* toa*- tCmmm a* «im«* aa»

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tOMINaO. Z/1I/1MI nmaainD litmauo b'a manha — pagina ui

POESIAS DE JACKSON DE FIGUEIREDOArrependimentoHá «alma humana, às veses, a sombriaPlacidez dágua morta, a água enchatcadmEm terra podre, água lodosa t jria,E onde erra a liu do sol desconfiai*.

A estas almas assim, quem nas espiã,E ai revê, no pântano espelhada,Sna humana feição, que se revi»Na perfeição humana desejada.

Fica, súbito, olhando-as, desp%edosm\£ atira pedras sobre a face calmaDo negro abismo plácido, asqueroso...

Mas quem sacode a pedra sente a máguaVe ver tremer também, ferida, na ágmmA imagem agressiva de sua alma.

(O Crepúsculo Interior)

Frio de uni doido

A voz do sino diz tristezas.Diz seis horas... crepusculaf...£ a treva e luz das incertezas...Ai quanto frio de matar!

E como está gritando ao longe;Tasso no cárcere sombrio...Seis horas são' barbas de um monge..Ao ! quanto frio ! Ai ! quanto frio 1

Tu«do o que eu vejo sem querer... ,(.Venus surgir fresca de um banho,E um feio l>ode atrás correr...E' na verdade bem estranho.

E este sonho que não cansa fQuanta banal transformação !Em Santa Helena — Sancho Pança..Onde estará Napoleão ?

E no meu sonho me aparetseJudas pregado numa cruz..,Piá dois mil anos que padece^Este melhor do que Jesus t...

Perto de mim de braço «dado,Voltaire, Loyola... é de espantar tOlho meu pai... um enforcado...Ai ! quanto frio de matar 1

Eu. Leonardo e a GiocondaVamos ao polo em um navio...Lá vem a morte numa onda...Ai ! quanto frio ! Ai quanto frio !

E' mesmo estranho este meu sonho.Eternidade de sonhar... •Edgar Poe negro e tristonho,Num gato negro a galopar I

Passa sem mais seu cavaleira,O Rocinante emagrecido...E D. Quixote ante um brazeiro,Come e parece um convencido 1

Vejo Camões acocorado,{''limando um bom cachimbo inglês..Cantando un. palmo, coiiipassadu,Bocage, um bonzo japonês...

Quisera um ninho de andorinha,Como um Qiinês para jantar...Si.ieiro para a voz daninha...Ai ! nuanto frio de matar !

Dante me mostra um rubro manto,Eu sinto um gélido arrepio...Há quanto tempo choro e «canto fEu sei que morro deste frio !

fZomp<

{ZINGAROS).

Quando reflito sobre a minha vidaE vejo-a cheia de arrependimentos,B sonho a minha tétrica ferida...Desejos de não ser, desprendimento*.

Ânsias de me calar t achar guaridaDo nada nos sombrios mandamentos...Os meus nojos de tudo, a arremetidaContra ciências e conhecimentos...

Ironias ao mundo, ódios, rancores.;.Quem sabe, digo, se isio tudo acasoSão são desejos fruslros, dissabores.

De quem ama lambem o torveUnho,£ assim se afunda num cinzento ocas*Por que caiu sem forças no cominhof

(O Crepúsculo Interior).

Esperdnçd maiorA FELIX PACHECO

Espirito sutil do desalento. Horas inteiras por que assim me fitas?Eu sei que após o esforço — é o «esqu-ecimento.;E que todas as glórias são malditas.

Nada me hás de dizer, do que meditas,Que seja novo para o meu tormento,Eu sei destas estradas infinitasE o inútil caminhar do pensamento.Mas se o caminho é sempre assim, vaziotSem árvore, sem sombra, ou água pura,Nem sempre a luta é um simples des vario.... |A jornada é cruel, mas na jornadaFaz-se bondade a nossa desventuraE encontramos «em nós o fim da estra«Ía

(O Crepúsculo Interior)

Lobo do mdrA AMINTAS J. JORGE

Quem me dera beber a saudade marinha,Que em teus olhos se vê, velho lobo do mor t...._£ um poema talves fosse uma glorio minha.Cheios de céus azues, de estrelas e luar t

Gargalhadas do sol, horisontes jatscamtes.Asas brancas lembrando o brancuro io bem...Saudações de bandeira e "adeus" de navega».

[tes.Velhos marujos bons, de olhos fitos no alem t.

Choros de um furacão, ventanias io norte,Um dorso que se vê lueindo aparecer...Monstro que se esqueceu de buscá-los a mort*,E parece que os deixou mortos no seu viver t

Quem me dera beber a saudade marinha,Que em teus olhos se vê, sempre, sempre a pai-

[rar...Conhecer da saudade a mais forte t daninha,£ a ave que sabe mais do infinita e io mar I

(ZÍNGAROS).

õrdVolta para ti mesmo o olhar piedoso,Tem piedade de ti, como tens tidoDe tanta gente oh! pobre, «oh! destütoa»Coração de si mesmo perseguido.

Como que existe um desgra«çado goa»Nos males que procuras insofrido,Desconfias de ti, não tens repouso,Que crime poderás ter «cometido?

À virtude «dos outros como a tuaTamlfrm tem falhas: pelo mundo aforaSó a aparência sobre o olhar flutua...

Deus bem sabe que és bom; vive e confia.Também tem prantos o nascer «da aurora,{Tu, nasces para a Fé, e hás de ser dia!

(O Crepúsculo Interior)

Aímd doentioEstes meus olhos são olhos de olhar doente,A luz do meu olhar ê um luar doentio...Tudo tem, que ele dá, um riso decadente,E o sol, o próprio sol, tem-lhe o brilho sombrio!

^Ontefn que os os tinha bons, via as flores cot*-[tentes

Hoje vivo a lhes ver no brilho um desvarto...Ai! que os meus olhos são olhos de demente,Onde brilha talves o terror do vasio t...

£ra bom meu olhar, disso estou bem lembrado,Vias sorrisos bons no lábio mais malvadoA bondade no mal, brilhos na noite escura...

E hoje nem bem nem mal, o meu olhar enxer-[g<>:

Aos meus olhos judeus nem mesmo a dor ai-[berga,

Doudos que assim se vão nutna extranha pro*[curai...

(ZINGAROS).

Depois de ler anovela de Põe

' Meu ideal o que ele é ? E alguma «mis* existe^Que eu saiba certamente o qne longe n.e acenai"Não será que me vou em busca de uma pena tEssa «coisa será o que me faz tão triste ?

Brilha no meu pensar, como ali onde assisteUm bezoiro no escuro, o fulgor de unia antena..E 'uma idéia, bem sei, e sei que há muito

[tem-na,O meu crânio, a queimar, e alma lhe não resis-

[t«

Meu ideal, que ele é ? E que serei «eu mesmo ?Não é que nesta vida eu vou perdidamente ?Os meus passos serão passos dados ao esmo ?

Qual será o ideal com que os meus dias doiro ?Ou será que me vou na vida eternamente«Como um doido a buscar um escaravelho doiro?

(ZiNGAROS).

O HOMEM- Jackson de Figueiredo

A minha convicção, ou me-thor, a minha intuição segre-da-me que não hà contradiçãoentre uma filosofia racional dodiscurso humano, toda funda-da no que se resolve em con-ceito, e vem por sensação, eesta base, por assim dizer, do-gmática da nossa natureza.{Dogmática, quando-já a te-mos reduzido a conceito, di-vína, na sua realidade). Nãopodemos po rem dúvida que,guando nos sentimos, ii nos

sentimos um todo, como umfeixe de idéias, com um con-junto de faces dando cada umapara uma dada direção, cujapaisagem reflete e ai temos oespaço, o tempo, e, nas dire-ções morais, todas as afirma-ções que vão de encontro ao quesó a naturesa, nas suas relaçõesmateriais, nos ensinaria.

A teoria stoendenbórguiana,que Balzac esboçou no seu mis-terloso "Seraphita-Seráphitus?explicar* com jacü argumenta-

ção a diferença entre Deus e ohomem assim concebido, e expli-ca-la-á pela diferença entre anatureza da unidade e a do nu-mero. "A existência do numero depende da unidade qué, semser um número, a todos engen-dra.

Deus ê uma unidade que na-da tem de comum com as suascriações e que, «o entanto, asengendra".

Mas ás engendra a sua semi-Ihança.

B o que vive no homem vtvetambém à semelhança do quevive em Deus. Heste caso esta-rão as idéias. A diferença es-sondai estaria somente nas leispróprias â vida criada, isto é,d submissão a espaço e tempo,que são a semelhança da éter-nidade — o homem "vê" da suaprópria condição, ao passo queDeus vê em si mesmo, vê semcondição. JT dai parecer um

lento acordar o nosso conheci-mento, e no qual a força que nosdesperta nos é exterior, quan-áo realmente ê um lento açor'dar em nós mesmos, para den-tro de nós mesmos, como umpouco de barro que por um pro-cesso interno adquirisse Umaface espelhante e passasse arefletir o que lhe ficasse amfrente.

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PAGINA 212 — SUPLEMENTO LITERÁRIO D*A MANHA DOMINGO, t/ll/IMI

Jaekson de Figueiredo e Mário de AlencarJaekson de Figueiredo deixou a bem. Eis porque, & hora da morte,

melhor dc suas obras em sua cor- o cantor da Jerusalém libertada,Tccponãència. Era um infatigavel resumiu assim o poema da nossaautor de cartas, e nelas vasava, com triste heroicidade: **se nfto hou-as suas idéias ágeis e claras, o seu vesse a morte, nfto existiria noimenso carinho dc amigo. Sua cor- mundo nada de mais miserável dorespondência com o sr. Alceu Amo- que o homem". Nfto parece umreso Lima deu azo à publicação símbolo ?de vm volume de mais de duzentos Mas, Santo Deus, V. poderia es-páginas, das mais interessantes que perar tudo menos esta linguagemele escreveu. saida de nm coração de noivo, em

Dc sua variada correspondência vésperas de realizar o seu ideal.tom Mario ác Alencar — que loi N&o se aborreça com isto, meu ami-«ííí ürs seus amigos mais chegados go, mesmo porque, deste modo, v.e carinhosos — escolhemos meia sò me daria mais amarguras, e odúzia de cartas que aqui reprodu- arrependimento de ser tal comogimos: sou. Ademais estou absolutamente

Rio. 18-2-916 convicto de que ainda mais destra-Mario çado seria o meu viver se eu náoRecebi hoje, pela manhã, a sua me ligasse à criatura que Deus pós

Carta datada de ontem, e. pelo que no meu caminho. Com Laura euvejo. é melhor ser carta do que ho- tenho a certeza de que o meu es-mem, Para que fosse vê-lo ai, ava-lie quanto trabalho, quanta cousaa fazer e peso a carregar, que nüoseria o de um simples selo de cemréis...

Você tem o dom de consolar-me;peto menoáí quando o ouço ou leio,esqueço-me na ilusão de que valhomesmo qualquer esforço para afelicidade... Se um dia alguémque, de tão alto. não compreendes-ie o ridículo, me perguntasse qualo meu fim na vida, penso que lheresponderia: o dc ser consolado...Por ai V. pode bem avaliar comoo tenho no coração, o que vale naminha existência.

Eu mesmo, a mim mesmo, naofaço outra cousa. Como Você sabearranjei, do fundo do meu sofri-mento, esta filosofia do exílio, deum divino que se resigna na misé-ria... O que, na verdade, existe 6a estranheza da minha angústiamais ou menos dominada, mais oumenos sufocada pela bondade dosoutros e algumas convicções queme fortalecem. Desta bondade fazVocê parte, e tão grande, que eunão farei comparações para nãocometer Injustiça, de que aliás sôteria culpa a sinceridade do meu•entir.

Mas, meu Amigo, eu sou, de ai-guma forma, um estrangeiro naterra. Creia, eu tenho vergonha deconfessar, mas certas horas, se meInterrogo e consigo escutar o quede mais verdadeiro há em mimmesmo, chego a esta conclusão que.antes de tudo, me espanta: se euvm dia me sentisse de todo feliz,sentiria remorsos da felicidade.Por que ? Como sabê-lo ? Será aconvicção de que não a mereceria ?Não creio, porque quem não se Jui-ga merecedor ante a eternidade /Não é isto mesmo que nos engana«té o fim ?

Uma outra cousa me martirlsa,às vezes: o desejo de calar, de não

Èroferir uma queixa. Mas não será

to também uma vaidade ? Eugosto imensamente de Marco Au-íélio, leio-o quase sempre. Masquantas vezes, ao ver tal ou tal dos¦eus conselhos, resolvo negativa-mente todo o seu admirável estol-cismo ? Em verdade, quando elediz — não te lamentes, não te re-voltes — não está fazendo umaqueixa ainda mais dolorosa, não es-tá gemendo também... e de queaUura ! ? Afinal de contas só háUma palavra certa — ela é ainda ado mesmo Marco Aurélio, fora a doEclesiaste, é de toda a filosofia queadormeceu a Ásia e se arrasta noOcidente, de alma em alma, daImitação do Cristo ao leito dc Tas-¦o moribundo: tudo passa, a mesmador não é vencedora, morre tam-

no Eio até hoje, apesar-de só o tervisto uma vez. Fala em V., desejamesmo de todo o coraç&o fazer asua intimidade.

Laura leu a sua carta e manda-lhe lembranças. Ela tem se sentidomelhor ultimamente, mas o que épreciso é que ela saia da casa deFarias, mude de vida — eéo quese fará por todo o mês de março— sem barulho, mansamente, talcomo um dia atrás do outro. E' as-.sim que casarei.

Poderia lhe falar de muitas cou-sas mais — mas nfto valem a pena.O "Garcia Rosa" foi feliz apezarde certas injustiças feitas ao poeta,como a do Osório e a do G. Bous-quet no "Correio da Manhã".

Todavia nunca pensei que um fo-lheto de 40 páginas merecesse tan-ta atenção pois são muitos os tra-

tudo Isto, e até lhe mostrarei o queé a boa intenção de um maníaco.

Algumas noticias:minha irmã Já embarcou para

Sta. Catarina.Oscar Lopes é candidato fr

Academia e o mais cotado ao quese diz. Dè a sua demiss&o destacoisa. Terá graça ficar no lugar deJosé Veríssimo o idiota de quemeste disse numa frase que vale S.Beuve:— O sr. Oscar-Lopes é a maisformosa negação literária que te-nho conhecido. Saia disto, meu ca-ro Mario — nfto deixe que, ao seulado, insultem a memória de Ma-chado de Assis e Joaquim Nabuco.

Felix Pacheco fez ontem se-cretário do **J. Comércio" o Se-basti&o Sampaio — Avalie V. a quevamos chegando.

Adeus, Mario ! Lembre-me a to-

A VIDAFalar a linguagem da lu-

ta, a linguagem da guerra,tornar bem clara a necessidr.dedela, nem é mesmo atrair quema pode esquivar, mas dizer demaneira digna do homem, doler decaido mas vivificado pelapalavra de ordem de Jesus Cris-to — ide, pregai — dizer de ma-ncira digna de quem crê .emJesus Cristo que a vida conti-nua triste e assaltada de ma-les, e que é preciso combate-Ios, porque ela, tão triste e tãoassaltada de males, vale esseesforço, merece o sangue queBe derrame, pois é evidente quese foi possivel florescer umaalegria em meio de tanta des-graça; se foi possivel ver-se umaflor em meio deste paul; sefoi possive] corporizar-se umceitil de beleza em face de tan-ta deformação, é evidente, re-pito. que a verdadeira vida nãopede senão o senso da desço-berta e o vigor do braço quedesbast*' os blocos rudes e gros-tetros.

JACKSON DE FIGUEIREDO

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Jaekson de Figueiredo, com sua esposa, d. Lauro, sua JÜha Regina e seu filho Luiz

pfrito terá o seu máximo desenvol-vimento, Ela carregará comigo estapesada cruz, e, sinto-o, com bemmais energia e bondade do que eu.Da minha Noiva, meu caro Mario,basta que lhe diga, e isto como sea mim mesmo estivesse falando:tenho-a por uma criatura excepclo-nal — não conheço caráter maiselevado, coração mais bondoso einteligência que me espantassemais, Tudo Isto fá-la triste, escon-dida, dificil de ser vista, mas a doisolhos como os seus, ela ainda apa-recerá e V. me dirá do que lhedigo.

Farias, coitado continua sob aação terrível da sua doença, mastem passado melhor estes dias. Eupenso çue depois de mim, é V. apessoa que melhor o Impressionou

balhos apreciados e quase todos _exceção do Osório — são bondosospara comigo.

Al vai uma noticia que gosteimuito, saida na "Gazeta". Disse-ram-me que é de um rapaz dc no-me Breno Arruda, a quem não co-nheço. Penso que ele poderá darum critico sério e capaz de Ir mui-to longe. V. me volte esta notícia.

Recebi um cartão do Pujol e aúltima conferência dele. V. a*On-selhe-o a publicar um livro.

Al vai o tiabalho sobre Xavier —emende-o à vontade e volte-o omais depressa possivel.

Sofri ultimamente um aborreci-mento bem grande de um amigo,mas desculpei, como já o tenhodesculpado de outros, tende-o porum pobre doente. Depois lhe direi

dos, abrace o Jorge, e deixe que oabrace saudosamente o seu

JACKBONP.S. — Mandei o "Garcia" ao"Estado de S. Paulo''. Se vir

qualquer noticia me mande.

Bio, l.«-3-916MarioNão sei se porque uma família

dc cegos entendeu dc fazer pontohoje defronte da minha casa, can-tando e tocando com o ar maistriste deste mundo, não sei se poristo, estou num terrível estado deonervamento, tendo necessidade desair não o fiz, nem fiz barba, nemalmocei direito — afinal vou ven-eendo um dia medonho. Ora suacarta, recebida agora, aumentouesta desolaj&o interior, e se lhe dl-

go Isto, é justamente para desfa-zer-me de qualquer peso a maisnesta arquitetura da minha vida.V. se ilude quando fala de um pos-filvel pessimismo literário da minhaparte. Esta tem sido a acusação dotodos os que me querem bem, naminha familia, isto desde eu crian-ça. Que eles o façam, meu amigo,é natural, mas V. está bem maiaalto do que eu, pois abrange todosos horizontes de minha vida, podejulgá-la. V. sabe que se os meussofrimentos fossem filhos de umasimples atitude literária, eu nãoprocuraria derramá-los no coraçãode um amigo tão querido como V.e sim arrastaria a minha pose en-tre outras elegâncias do jornalts-mo, etc. O caso é talvez que o seuconstante desejo de me ver fell^gerou esta idéia de que é jà umarealidade este mesmo desejo, In-sincero sou eu talvez, quando cer-tas horas em exaltações que não seide onde me vêem, faço em redor damim a ilusão de grandes criançasem mim mesmo. Repreendo-me lo-go — basta que me afaste do cena-rio primitivo. Digo a mim mesmoque talvez a voz do interesse melevou a procurar iludir alguém quequeira jngaT em mim. A felicidadeque hoje em "dia possuo, incontes-tavel, V. também possue e há mui-to tempo que assim é. Entanto jAse livrou V. das amarguras ?

Laura é o repouso, é a sombra,mas quantas vezes tenho que le-vantar a cabeça, tenho que .andarao sol ? Fique V. ciente de que euera capaz de querer bem a estamenina de longe, sem procurar ca-samento. Se não faço isto é por-que, vendo a minha vida como umaperegrinação moral, e não tendo oheroísmo do asceta, penso e sintoque só a moralizarei de todo com-pletando o circulo das minhas obrl-gações, como indivíduo social. Btal é a minha convicção, e ta' é aconfiança que tenho em minhaNoiva, que eu mesmo ignoro deonde veiu a coragem para um pas-so como este, arrastando como ar-rasto uma situação tão precáriaque é quase miséria. V. sabe tudoisto, meu bom amigo, porque nãohá segredos meus para V., e vádesculpando as eclesiásticas do seuJaekson.

Recebo os papéis e. a revista;muito obrigado. Li também seu ad-miravel artigo sobre J. Veríssimo.E o Arinos coitado, lá se foi tam-bem.

As suas emendas são todas ra-zoaveis, algumas, todavia poucas —nfto as fiz porque esta é a últimaprova e assim é um nunca acabar,e estou cançado.

V. tem razão também quandome diz que eu não devera tocar emcertas cousas da nossa literatura— mas assim quiz Deus que fosse.pois fui levado sem querer a esteterreno. Quanto a refundir o Xa-vier primitivo, não. Assim nasceu eassim deve morrer, como morreiase o Severiano Marques não o le-vantasse com bondade, talvez malempregada.

Como vão todos ~t seus ? E vromance ? O Farias vai melhor,

b anda muito devagar e o meu livro" sobre ele deve aparecer nestes 15dias. Os papéis do meu casaman-to estão em movimento e está mar-cado para o dia 25

Adeus! Mario.Lembre-me a todos e deixe queo abrace o seu pelo coração

JACKSON

Bua Abílio 14 I-S. CristovSo.Eu ia mudar-me mas resolvi a

ContrárioBilhete apenso à presente carta:Mario: — Estive relendo esta

carta e quasi resolvi não t'a en-viar, mas não faz mal, vai assimmesmo, c tu saberás ver que nãohá mágua no que te digo, que en-tendi muito bem a tua intenção,mas sentirás melhor, pelo tom mes-mo de que se reveste a minha lin-guagem, num dia assim de dor decabeça e cantilena de cegos, quan-to cm mim falha r equilíbrio ne-cessárlo para esquecer a cabeça enão ouvir a voz dos que pedem es-mola.

Teu JACKSONRio, 26-4-916Mario: um abraço —Tenho tido saudade e mesmo ne-

cessidade de conversar com V. Nãoposso fazer porem, de tal formaando atrapalhado.

Este cartâozinho é para o seguin-te: Vi no "Imparcial" de hoje(26) a noticia de oue vai haver con-curso para auditores dc guerra.Será possivel que V. conheça ai-guem capaz dr me informar bf>msobro isto ? Eu lhe digo que o fa-ria porque afinal de contas necs-sito, mas dói-me imaginar assimtodo o espírito que me anima dehá doi sanos. Que pensa Você ?

V. viu a critica do "J. do Co-mercio". dia 21 ? e a da "Gaze-

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SUn.KMENTO I.ITRRARIO ft'\ MANHA — PAGINA 2»

Pensamentosde Jackson . Ide Figueiredo

A VIDA E UM CON*VITE A' LOUCURA

A vida é mesmo um cipoalanimado, uma tremenda degra-dação ou um violento processode depuração. Sinto que a féme ampara a conciência, e sin-to mais que vela por mimcomo uma sentinela, fora ducampo em que a inteligênciafaz os seus cálculos. Mas se fos-se es*:a quem fosse olhar sózl-nha a escuridão da noite, e assombras* que se agitam na tre-va, creio que eu enlouqueceria.Porque tenho a paixão da vi-da, gosto de segui-la, de pene-trar os seus segredos, mas a vi-da c um perpétuo convite àloucura.

IDENTIDADESTudo o .mais não vale nada

para mim. E' lógico que quan-do adivinho ou sinto ou obser-vo quc um dado escritor, umdado homem não é capaz deelevar-se à verdade cristã —deixo-o de lado; quando muitodefenderei dele, dos seus ata-quês, a sociedade em que vivo:ele em si é como a raiz torta,que não posso endireitar. Nãosou santo, não faço milagres, etais homens só Deus pode comeles e só os santos lhes devemcaridade especial. Eu só meatrevo a chegar-me àqueles quenaturalmente se podem irmã-nar a mim, pelos mesmos pro-cessos a que cheguei aonde es-tou feliz,na pobreza, segurodo meu destino, apesar do in-

Vitimo retrato üe Jackson de Figueiredo, tirado no ano de sua morte, fe\\z temperamento e dos eslra-BO ila 14 de julho. O escritor está ao lado f »t«i senhora, D. Laura, g0s e a pessjma educação me

e tem no braço sua /ilftinfta deixou na alma.

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ta cie Noticias", 24 1 O dr. Lacer-da de Almeida no dia 9 fez pela"União", jornal católico, um bomartigo Aurora Consurgena. Hoje a"Época" trás um artigo sobre oGarcia Rosa. AfinaL tem apareci-do mais benevolência do que eu es-perava.

Laura vai bem, e penso que paraa semana que vem nós iremos atéai.

Eu tenho escrito alguma cousa elido. mas quase desesperançado deconseguir qualquer migalha parameu equilíbrio financeiro. Agoraseria o hiomento de agir lá peloSenado. V. tem esperança de fa-aer alguma cousa ?

Adeus ! Mario ! Recomende-meaos seus e aceite mais uma vez oabraço do seu

JACKSON

Rio. 2-5-81SMario —Recebi sua carta. Virei aqui a BI-

blioteca, conversar com V. esta se-mana, e, com a Laura talvez váSábado à sua casa.

Entregue este envelope ao Jor-ge e veja se lhe é possivel fazerchegar, na Academia, estes livrosde R. Otávio, que estão encalhadospor não saber a morada deste seucolega. Repare como estou escre-vendo com frases deslocadas, o dia-bo — produto ruim de uma dor decabeça com que amanheci. Lauranào tem passado muito bem, der * ium pequeno resfriamento que apa-nhou sexta-feira ao pagarmos umavisita à noite. Ela se recomenda eeu o abraço.

Teu JÍ.CKSON

Rio. 29-5-918Mario —Acabo de ler duas poesias suas

no 5." n." da "Revista do Brasil".Em ambas a bondade que conlra-ria o seu ceticismo aparece viva,vestindo a harmonia suavíssima.Pluma ou folha... que importa ? —pluma ou folha que duvida, que so-íre, que existe afinal e leva con-sigo todas as forças da vida, todosos mistérios do passado e vai embusca determinada de um indeter-minado... E não é assim da folhaou da pluma — uma lei que atrai

- fatamlente para o chão ? Mas nomundo moral há duas leis tem-veis: a do ma] e a do bem. O ca-niço que pensa de Pascal só severga ao peso do Ideal que é esseBem longínquo, absoluto, porque asua presença é eterna nos coraçõese se afirma até no seu contrário.A do mal não intereása um almacomo a sua que a venceu a forçade melancollas e sorrisos doloro-aos.

Queria dizer-lhe duas palavras e

vou assim rolando como semprepor esta curva, a que não possoíugir, das minhas preocupações. A2.a e a 3." estrofes da primeira poe-sia, "Cigarras" são de uma belezaextraordinária, digna de figurarentre as mais belas da lingua.

Laura leu-as comigo e gostoumulto também.

Eu não posso ir até ai amanhapois ando atrapalhado.

Assim esta leva um abraço doseu

JACKSpN

Muzámbinho. 26-11-916Já llie escrevi uma vez e náo tive

resposta. V. estará doente ? Eu ti-ve quatro dias de febre depois queaqui cheguei e penso que vou aban-donar em meio da viagem a co-missão. Aliás nós fomos logrados ecinco ou seis, sem doença mesmo,Já o fizeram. Penso que estarei atpara o dia 10 ou 15.

Se V. me escrever escreva-mepara o Liceu Municipal de Muzam-binho. Adeus ! Lembre-me a to-dos. Um saudoso abraço do sei*

JACKSON

Muzámbinho, 27-1-919Mario —Há dias recebi uma carta sua da-

tnda de Teresópolis e se lhe n»respondi até agora é que tenho medebatido numa roda viva de ml-sérrimas cousas. Vim para cá do-ente, como V. sabe, mas sem di-nheiro e devendo muito. Aceitei oencargo de uma liquidação supon-do qüe me seria fácil vencer alábia da caipiragem, mas é, istomuito mais difícil do que se pensa.Assim é que tenho trabalhado mui-to e sei que até o dia 5 de feverei-

¦ ro este trabalho será cada vezmaior. Ainda assim tenho feitoumas leituras que há muito dese-jara fazer de uma coleção de li-vros sobre problemas sul-amerlCa-nos. Bom seria que o trabalho meroubasse ás preocupações que daltrouxe. Infelizmente nâo aconteceassim. Avalio o que passou o seucoração de Pai extremoso nessa vi-são do inferno que foi a epidemia.Desde aquelas horas sombrias* emque pensei perder tudo, meu cora-ção, minha conciência, todo o meuinquieto e desolado pensamentovoltou-se com muito maior ànciapara as cousas divinas, para o mun-do da-fé. Se eu não morrer, digo-lhe sem vaidade porque não se tra-ta de literatura, se viver mais deaanos. deixarei ao . meu país umahistória singular, o que se poderáchamar uma Suma Sentimentalraciocinada. Nesta esperança estouagarrado. Você dirá talvez que ain-da é vaidade e grande supor-se agente capaz de dteer algum» ver-

dade e influir nos destinos huma-nos... maximé no Brasil. Mesmoque tudo seja assim inútil, não seise maior não será a vaidade do quese quizer furtar ao que nesta vidaé "necessário", quero dizer con-dição eterna, condição de sempreentre os homens. Todos, em maiorou menor círculo, procuram influirbenéfica ou maleficamente. E eu,apesar da fatalidade Rui Barbosa etodas as outras fatalidades que nosameaçam, creio, creio no Brasil.Toda a minha cruel análise destemomento, se esvai, não vale nadaante o que sinto, ante a minha fé-que, por ser fé, não é clara nemse define. Seus artigos, de que jálhe falei, e dois outros que a Laurame enviou foram um consolo paramim. Quando V. principiou a du-vidar de todo o esplendor artificialque parece iluminar este mundo, seaproximou muito da convicção deum cético deste mundo.

Seu renovado "conselho à respei-to das minhas ligações à impren-sa carioca — ah ! se eu o pudesseaceitar ! No dia que o puÜer creiaque muito alcancei do que desejona vida.

Quanto ao trabalho que eu de-veria fazer, este para colocar-meem situação mais estável — infe-lizmente o tenho feito, e com ar-dor. nestes últimos tempos, sem re-sultado de qualquer espécie. Olhe:descobri um lugar que me servia,fiz intervir altos e poderosos ami-gos (Chico Sá etc*, chegou-seme garantir que o lugar era meue. após tudo isto. me substituíramsem satisfação nenhuma. Emfimeu tenho fé em Deus, e adoro aminha Laura. e tenho duas filhl-nhas. Não será com facilidade queme reduzirão a pó. E hás de verse eu cair, vencido, enfim, que heide morrer ao menos combatendo !E não sairei do Rio. Há de ser aí,no coração do pais. que espírará omeu. Tenho fé em Deus !

Você recebeu uma carta em quetranscrevi um trecho do Xavier aseu respeito ? O endereço dele naBaía é rua Almeida Couto 33. Nãosei onde li que o Mag. de Azeredoestava de viagem para o Brasil. E'verdade? Afinal tomei um con-selho seu já muito antigo: resolvipublicar o Pascal aos pedaços, epara isto já tratei com a "Rev. doBrasil".

Bem, adeus ! Mande-me dizerse o Jorge já está de todo bom. Re-comende-me a todos os seus.

Aqui ficarei até Março _ dia 5a 10. O Camilo Paolielo pede-melhe lembre sempre que é um dosseus mais sinceros admiradores.

Adeus. Mario.Receba o coração do seu

JACKSON

Em 1909. Jackson de Figueiredo e seu amigo Camilo Caotietlo

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Em 7 de Setembro de 191S

O escritor em companhia do seu confrade português, sr. Fidelino deFigueiredo. Fotografia feita no dia 9 de novembro de 1920

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PAGINA 214 — SUPLEMENTO LITEKAHIO D'A MANHA DOMINGO, M1/1M1

jaclisuT, i..' Fismíiríoo t.;i outubrode im

pos- -yr/s'"•—»'i '"W"'"»! '"'¦ ' ' ilW^

Outro reiroto de JJ2J

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Jackson de Figueiredo em 1926O escritor em 191S. çuOJiiio /azia o

seu serrtço militar

PASCAL E A INQUIETA-CÃO MODERNA - ^ «,ombro

A literatura brasileira ainda é«ma literatura de poetas. Nela•dificilmente se encontra este no-bre tipo intelectual que é o pen-sador. O brasileiro é amigo doidealismo vago, é apaixonado daçUltura verbal e de artificies deretórica. Foge rias questões con-cretas e tem horror ao esforço de-morado e continuo. Fascina-o odiletantismo.

Felizmente, já há um surto deTida nova. há uma renovação emnosso ambiente intelectual. Asquestões sociológicas, os proble-mas morais, os temas filosófico, acritica religiosa, já encontram espí-ritos pacientes e investigadores.Dentre pies se destaca, pela sinceri-dade cie suas convicções, pela intre-pidez de sua ação e pelo vigor mo-ral das idéias, esse admirável Jack-ton de Figueiredo, que com o mes-mo brilho e competência é críticoliterário, filosófico e jornalista mi-Btante.

Mais uma prova de sua capa-elriade acaba de nos dar o ilustreescritor com a publicação de umvalioso estudo sobre Pascal, con-ilderando-o símbolo da época mo-derna, no que ela tem de agitado,Indeciso e • doloroso no seu pen-¦amento, época que considera co-mo sendo uma fase crepuscularde que há de surgir uma profup-

da e radical reação espiritualista.O tema escolhido por Jackson

de Figueiredo, foi sem duvida, ou-¦ado. Pascal, essa figura gran-tlfosa e perturbadora, Hamlet dosfilósofos e pensadores, conformewt exprimiu Philarete Chasles, ecuja psicologia tem desafiado aargúcia dos críticos, dos filósofos,dos ensaístas e do teólogo, Pas-eal ainda hoje é um problema de¦olução delicada.

Porem o autor soube vencer to-idas a,s dificuldades e deu-nos, defato, um livro digno do genial as-ceta de Port-Royal, estudando-oeom a plenitude do seu coração,tal como Platão aconselhava que¦e procurasse à verdade — com aalma toda inteira.

Para essa obra estava Jackson¦fhgúlarmente preparado, pois, pa-ra bem compreender e sentir to-d» a extensão e profundeza dosPensées, níio se faz mister somen-te o espirito critico, apurado e ho-nesta julgamento; torna-se indis-pensavel o sentimento religioso,que, só ele, pode aferir devidamen-te a transcendência e a delicadezade certas passagens daquela obraImortal, que Albalat considera aobra prima da literatura france-

Alem disso, creio não avançar¦nu heresia, afirmando que Jack-•on possue uma «Ima pascaliana.Caracterlza-o a mesma mentall-•Ut mística, a mesma Inquieta-

ção, o mesmo ceticismo intclec- Cristianismo e de Deus. O ceti-tual, a mesma fé ardente. cismo de Pascal tinha um caráter

Basta reler-se esla passagem provisório, para simples efeito-de•Jas Reflexões sobre a Filosofia de argumentação. Em apoio dt suaFarias Brito, em que procura de- tese cita este pensamento de Pas-tinir seu próprio pensamento: cal: A razão jamais se submeteria-Meu pensamento é o pensamento se não julgasse que há ocasiõesde um pobre cético. de um pobre em que deve submeter-se. Nadapessimista,' cujo único refúgio há mais conforme ã razão que es-a fé, e se compraz em demons- ta negação da razão.trá-la algumas vezes com maior Nessa parte, o autor partirha in-ou menor absurdo". teiramente o julgamento do Pa-

Bem sei que o autor é hoje um dre Gratry, exposto na sua cé-católico prático, mais do que isso, lebre obra: La connaissance deé um infatigavel campeão do es- Dieu.piritualismo católico, mas nãocreio que, em se tornando ortodo-xo, se tenha transformado inte-gralmente o seu complexo psico-lógico

Sinto divergir de Jackson nesseponto; a meu ver íoi Pasa leuniverdadeiro cético, nem outra jcoi-

sa seria de esperar de um filho es-piritual de Montaigne. cujos en:

Jackson, cujo traço moral mais saios tanto leu e assimilou queacentuado é a força de caráter, é alguns críticos chegaram a acusa-por isso mesmo um extremado, lo de plagiárío. Dessa opiniãonáo conhece iubiedades, vacila- ?=ão Charles Nodier e Joubert. Eções. Sua linguagem não tem Albalat adianta que se podemeias tintas, é simples e enérgica; acompanhar Montaigne página asuas afirmações são límpidas e ca- página nos Pensamentos.tegôricas. Logo nas primeiras 11- Em relação à sua posição deilhas do prefácio tio Pascal e »¦pensador entre os jansenistas deinquietação moderna — que me- Port-Royal, nenhuma duvida élhor se poderia denominar Pastai possível quanto à sua independên-e a inquietação humana, por- cia intelectual, a despeito de al-quanto as questões agitadas pelo eumas ligações doutrinárias,doloroso filósofo sâo eternas, de Port-Royal era cartesiano. Pas-todos os tempos da hitória, pois Cal combatia Descartes, comotratam da vida e da morte — lo- combatia a filosofia em geral,go nas primeiras linhas do pre- Entretanto, Arnaud e Niooie seíácio como dizia, ele declara: picavam de filósofos."Sou um católico na mais rlgo- procurando numa imagem Incl-rosa significação do nobilissimo slva significar o papel representa-termo, um homem que, eonclen- ào por Pascal, assim se exprimetemente, abdicou do seu iniividua- Jackson: -Pascal foi > voz pode-lismo intelectual nas mãos aman- rosa e triste da humanidade quetissimas da Igreja". desejava refazer-se, após os de-

Esse individualismo Intelectual, sastres da Reforma e os primeirosque não souberam evitar os soli- ensaios e desilusões da filosofiatârios de Port-Royal, por um con- individualista".denavel sentimento de orgulho, foi, .Em todo o livro de Jacksonna opinião do nosso autor, o mo- transparece uma mal contida ine-tivo que os afastou do seio da lancolia por ver separado da eo-Igreja. munhão católica o poderoso espí-

Realmente, repugna à essência rito de Pascal, em que havia, nodo catolicismo a exegese indivi- dizer do filósofo Boutroux, nndual, porque os princípios da Igre- savant, un chrétien et un homme.

jã são imutáveis e rigorosamente E Boutroux acrescenta: '•Pascaldefinidos. ¦ oferece o exemplo fulgurante da

Achando justa a condenação possibilidade de _reunir e conciliarque a Igreja fez recair sobre eles. a mais alta razão com a fé maisJackson de Figueiredo não escon- dócil e a mais humilde".de, entretanto, sua simpatia por Asiim foi esse grande mártir doaquele escol de moralistas e teó- pensamento,logos, cujo erro, afirma, foi me- Espirito ávido de maldade abso-nos fruto de más intenções do que luta, cedo desiludiu-se da capacl-do excesso de boas intenções. àaüe da azão humana e buscou

Expondo a filosofia de Pascal, nas inspirações da fé e do cora-que tem por base o dogma da Çao a explicação da natureza hu-queda, Jackson se esforça por pro- mana e os meios de conduzi-la àvar que é injusta e ilegítima a perfeição.opinião que a considera céticá e As verdades da ciência só se re-tra a filosofia que ia se tornando ferem às causas materiais; as pro-

Ao «mtrário da maior parto posições filosóficas são abstraçõesdos intérpretes, que julgaram Pas- vãs, sâo filhas da vaidade. Só ocal um verdadeiro cético, jackson Amor de Deus é capaz de nos ele-pensa que o que se convencionou w da nossa mesquinha condiçãochamar o ceticismo de Pascal foi át ser miserável e contraditório.apenas uma violenta reação con- Nisso «e resumia a lógica mis-tra a filosofia que ia te formando tica de Pascal, que escreveu auapouco s pouco ama tntaolf» 4o moloilo «Ma oom o fervor o>

O escritor em 30 áe dezembrode IS»

Pensamentosde Jackson^e FioueiredoAMAR O QUE E VIVO

Resrra simples de apreender asimplicidade de minhas atitu-des: amo tudo quanto é vivv..-porque o que vive pode sempreaspirar ao perfeito. O que cunão suporto é o morto, o arti-ficial, os cristais de palavras.Tudo isto sop critérios natu-rais: leio uma página de Amiel.Tudo o que ela representa deerro objetivo, de erro quanto àVerdade integral, externa etc.,eu lhe perdôo, ou simplesmen-te lastimo, mas amo o que essapágina contem de verdade Inte-rior, subjetiva, de vida indivi-dual sincera, real, de miséria,de ilusão, de ponho, de desejo,de desespero, de angústia.

UM HORRÍVELAMBICIOSO

JVáo há em mim (oue eu sejaconciente) o menor espirito derenúncia ou de esquecimento demim próprio, infelizmente, tu*do em mim desmente o meuardente cristianismo intelectual,e nâo sei até hoje como se for-mou no meu coração algo deuma luz outra de sentimentocristão. Mas "naturalmente"eu sou um horrível ambicioso,,incapaz áa menor renúncia eincapaz de se esquecer um sóinstante. O que há, sim, é uma"idéia," um sentimento de mimmesmo absolutamente nietzs-cheano mas em relação a uma-taboa de valores" tanto unt-versais coma pariculares inver-sà da que Nietzsche "parecia"aceitar ou »eri/icar. Poro »nima vida se apresenta como umahierarquia de sentido cristão —no alto a Cruz e os mundos ilu-minados for Ela. Pois bem: omeu "eu" só st sente bem, sóse sente crescer, e subir quan-do iàs vezes, ou quase) ven-cenão a ji mesmo) toma aqueladireção.

A DEMOCRACIANão creio que estejamos con-

denados à democracia. Ela naose realizou na Europa, e já /oiultrapassada no sentido daanarquização. O homem nâoquer desaparecer do planeta eé um ser racional, isto é, um sercapaz de vencer-se nas suaspaixões mais brutais, pelo me-nos, por interesse de viver.

Creio firmemente que acerta-remos de novo, mais tarde oumais cedo, com o nosso leito na-tural, ou melhor, com o traça-do hierárquico que Deus nos in-tíicoií ao fundir o paganismo eo mundo bárbaro numa socie-dad:- com fins espirituais taobem definidos.

O PROBLEMA ATUALNão há no mundo moderno

problema moral e econômico aresolver, mas, sim, penso eu, umproblema político. A politica" é,de fato, "a arte de criar e de-fender a estrutura social" 'com-promisso externo, e, por isto. eudiria somente: defender). Oproblema moral <que abranjetodos os mais e. por conseguiu-te, o econômico) está resolvidohá vinte séculos. O que é pre-ciso é ser cristão realmente.

Jackson de Figueiredo em 1921

um apóstolo e a iluminação deum vidente.

Para vencer, totalmente a suafragilidade humana. Pascal con-centrava-se, morti ficava-se, hu-milhava-se, na ambição de purifi-car-se, de espiritualizar-se...

Quem nfto conhece a vida alnaaBelo lodo 4o yosiUvidaik *• in-

teresses grosseiros e das necessi-dades quotidianas. talvez nãocompreenda a delicadeza, a su-blimidade desse ideal e ria-se...como se riu Voltaire. O mundosempre foi feito de contrastes —ao lado das montanhas se esten-dem as planícies...

(O Nardeste — U-Í-D22).

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w.

DOMINGO. i/ll/lMI HvnnmtMTO uimtuii iva manha — paoiwa mi-

CORRESPONDÊNCIA DE ESCRITORES

Carta de Jackson de Figueiredo aXavier MarquesflL , U/t/fn

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^'T1' (oa-wfr, ^ ^/l- ^^^ /fc -

Rio, 2C-9-9I9.Xavier — Não sei liem como

principie esta carta.No dia 17 do corrente perdi

a miiilia nobre Maria Luiza,

quando justamente estava mais

linda e aparentemente mais

forte. Minlias convicções religio-

sas muito concorrem para quenão dcsessspere, mas — ali! meu

amigo — nunca mais esquecereio som da chuva e do vento na-

quela primeira noite, após i» en-

terro de minha filhinha! CJue

pensamentos õs que me assalta-

ram! Avalie como vae passandoLaura, Laura que tem a mesmavocação do Ceará, nasceu parasofrer mais duramente, e cala-da, pelos cantos. E some si um

golpe desta ordem as diiiculda-des materiais, as veixações dc

to'la ordem. Penso que já lhe

mandei dizer que perdi o log-u-zínho do M. do Exterior. Ha

dois meses e meio que trabalho

na Esc. W. Bisiü (dou aula lo-

dos os disis) e ainda nãii recebi

uni vintém. Para salvar as ca-

sinhas de minhas cunhadas l- tJa

Laura, tirei um empréstimo ue

dois coutos a um hanco e pu^u200$ por mês. Já sião lisi medo,

penso, de suicídio. Eu, católico,não devo nem pensar nisto. l)è

o destino que entender ao.i volu-mes.

E^tc livreco tem provocadomuita critica. Só Üincica ju e»-

creveu 1»^ artigos contra. Leu 9

meu tralialho sobre Bilac? (J. <Ii>

Com. 7 de sc-t).Não pos*-o mais escrever.

Eslivo doente seis diaí. Hoje es-

tou é cansado. Sevcriano esíá

no Rio. Aqui tem havido umaü

conferências sobre Farias Biit»»

liem interessantes. O confere»-

cista, sr. Albino Monteiro, tam-Iksiu fez uma coiif. em S. Paulu.Então, o Farias?! Está em au-ilaniento o trahallio para a se-

pultura dele.

Adeus! Xavier. Não ligue idesordem destas linlias. Deussabe como llie escrevo e ás .< 'tamanhã apôs escrever um artig»»

paia tuna revista comercial.

Seu IACKSOM.

Dd correspondência deJõckson de Figueiredo Duas cartas a sua filha Regina

18 /»/• JV\'HO DE 1928

Regina: Minha benção e mui-tos beijos, Itttlo pura regar alembrança que você teve do f*a-p.ii. Por tiifuí Iodos rão 'pus-

samlo bem. A Sulamila chegoucom sonde e muilo alegre. Ago-ra o coração do papai vire sus-

pitando' com saudade da Regi-nu. Mus deixa que a -mifimieresolva eslas coisas, e a mamãe,acha qne, para a sua saúde, êmelhor voei', ficar por aí até as

férias do jint do ano. O Riotem sido alaeado peta gripe e

feia jel>re amarela. Enjim, •

iii.tntCit é quem sabe destas cot-sus. O papai sil sabe ter sau-tliitle.

Seus iriHiiiizinhos estão muitointeressantes. O Luiz, como llietliffo sempre, é um enffeiiheiromecânico tfite sabe quebrar lu-do quanto lhe eui u.is «iiíus.A TCioliio c umu nutriposu quesabe fular como uni periquito e

já pensa como uma abelha.Realmente eltt parece ittiui abe-lha nos cabelos da mamãe. F.ii peqttenin'mha — esla é aindanm pinlinho mal stiitlo tia ras-ra ilo ovo. Voei quando chegarvai ter muito que faser com

ela, pais sei que você i notamenina muilo boa e ajttisadii,

que vui ajttil.tr muito a mamãe.l'ocè i/é um abraço na Irmã

Helena e outro na Luri. Peçaà Irmã Superiora que semprereze pelo papai. E você rezesempre lambem por ele.

E conto paga, não'si vou lheiiutiul.tr tis doces, mas tambémaq»í lhe envio mais um beijoJo coração cotn muita saudade.

Do papai

JACKSONRio. 1.1-9-28. *

Minha Rerjim — Detu ie

abençoe. Aproveito um tempi-ttho para le agradecer a carlt*nha gue me escrevesle. Aquiestão todos passando bem desaúde. Mesmo a mamãe, gueesteve doente e jora de easa, jáestá muilo melhor, e ao nossolado, o que é uma ajuda deDeus pois bem sobes que só elasabe levar a bom caminho oscansaços e os aborrecimentos dopapai e as traquinagens dos tenstnaninhos. 0 Luis eslá ummecânico de jorça maior, mas

por enquanto sabe mais quebrarque consertar. O Botão de Ro-sa ê uma pintora. A maninfkt

que ainda quase não é gente, es-tá gordmha, forte e, graças flDeus, já deixa mamãe dormirum pouco, fila já dis papá, •que faz inveja a muita gente.

Quando eu mandar pagar *Colégio mandarei à Irmã Supe-hora um diiiheirinho para vocêcomprar doces, etc.

Você abrace a Irmã It eleita eas priminhas e diga à Irmã Sa-periora que não esqueça o pa*pai nas suas preces.

Você receba com a benção dm

papai uma porção de beijos mui-Io iau.lj.as. do seu papai

JACKSOlf

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PAGINA 216 — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA DOMINGO, t/ll/IMl _S#fc.

O REALISTARonald de Carvalho

A personalidade dc Jdcksonde Figueiredo é uma soma fie.Valores íão concretos que rests-te ainda, por falta do necessa-rio recuo no tempo, às gencra-Iica ções dc uma análise perfei-ta. O que espanta desde logo,no caráter desse homem supd-rior c a extrema simplicidade aque chegou depois dos mais va-rios e inesperados caldcatnen-tos, a sua substância moral. Es-sa, maravilhosa simplicidade eraa sua força, força calalítica, feitade imponderáveis, que lhe per-mitiu decompor a realidade nasimponderáveis, que lhe per mi-tiu decompor a realidade nasluas series mais complexas.

Todo o drama de sua vida seinscreve neste axiovia: Jacksonàe figueiredo fui um homem àprocura da verdade. Seu pen-dor para as cxtremasi ora para• negativismo integral, durantem formação de sua inteligência,ara para o dogmatismo absolu-to, no ponto de equilíbrio dasua madureza, são um índúeloro daquele asserto. Era-lhefundamental o horror a quaiquer relativismo. Por isso ne-uhum dos seus contemporâneosrevelou como ele, um tão apu-rado grau, as qualidades de cite-je de parlido, a energia do co-mando, a faculdade instou-tática de situar os obstáculosPara os vencer melhor.

Possuindo um espírito espe-tulativo capaz de conceber umaobra dc condensação como "Pas-eal e a Inquietação Moderna",Jackson dc Figueiredo, pela dis-ciplina da sua fé católica, foium realista em todas as cons-trtíÇÕcs do seu talento. Desejousempre, e com ânimo seguro,num período triste dc

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plasticidade moral e mental, os todos nós.

postos difíceis e atrevidos: foiamigo exemplar, entre distrai-dos, dogmático, entre pragnui-cas, brasileiro entre melrccas.

Pela riqueza dc sua herança.Jackson dc Figueiredo estará

infinita sempre entre os mais vivos àe

Amigos tu os tinhíis e dosmais dedicados e leais. E é ain-A obra é imensa, e dc certo nãocaberá na bitola tle uma ge-ração. Alem do que, dadas amaneira e a hora em que morreuJackson, é bem de crer-se que nasua obra colabore o drama cmque ele tão subitamente se se-pilhou".

Lembrdi-vos de JdcksonLâurõ de Figueiredo

E' raro que a morte nãoconfirme, de modo ostensi-vo, o valor de cada vida.

II. de F.)

transcrevo, a palavra sincera,ainda quente da dor dos quemais intimamente compreende-

Vives em mim, alma querida,identificada ao meu ser na mes-ma intensidade de vida, na mes-ma exaltação com que me des-lumbraste a alma de criança.

E eu não sei, não saberei ja-mais descrever-te. Sinto-ic co-mo luz e sombra dentro de mi-nhalma. E é tal a projeção des-te foco de vida, desta força mis-teriosa, que eu não sei onde co-meça a realidade ou acaba o so-nho desde a hora em que unimosos nossos destinos.

Tu me disseste um dia : —"Quem

já viu o que anima oscorpos ? Queni já penetrou oporque da existência ? E, entre-tanto, somos afirmações desse in-dizivel que cria, engrandece,transforma e chama a si as múl-tiplas formas que nos rodeiam esomos nós próprios. Não morrea estrela de cuja luz se vive. Tubem sabes que a luz de certos as-tros, mortos há mil anos, aindanos fere o olhar que levantamospara o céu".

Que poderia dizer de ti, queri-do Jackson, eu que fui a teste-munha ocular desse milagre con-tinuo que foi o da tua vida coti-

E Mendes Fradique diana. da tua vida de soírimen-"Não fora possivel traçar-se to e de glória !

timos, uma espécie de estupefa- hoje a biografia de Jackson de Falarei apenas dc teu coração,ção, forma-se uma como lenda, Figueiredo. Apontamentos do Era pequenino o teu peito paraparecendo irreal a sua passagem registo público, informe sobre a contê-lo. Bem se pode dizer quepela terra: sem falar no que a carreira, relato da tragédia que era um coração onde vibrava eMu respeito se tem publicado c o arrebatou — eis quanto se po- palpitava o ritmo mesmo da bon-discutido em jornal, revista, e de obter por enquanto. dade divina. Abria-se como umaté jornaleco de todo o pais. Falar-se, porem, de Jackson Sacrário para todos os sofrimen-

O elogio de Jackson será a re- de Figueiredo, obra e não lio- tos. Era o templo da dor — o

percussão mesma da soa obra. mem, eis uma tarefa que requer refúgio consobdor e lambem o

Melhor do que eu dirá etn tre- o fumeiro do tempo, se bem que túmulo de muitas tragédias si-

dag «üsuersea, que a seguir de um tempo não muito remoto, lenciosas. Como ao redor de ti

*Mr** tft *£&* tm Mut^M.^rUftJLnit^ti...

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Jackson continua a viver pa- ram o grande espírito que ele toi,lü os que souberam nele admirar Dele disse Afrânio Peixoto —• espírito do coração, a fé, a von- "lira uma alma heróica. Tantotade — o homem, enfim, na mais que se me afigurava fora doelevada acepção da palavra, co- tempo. A época era mesquinhamo expressão dc inteligência, para ele.cultura e caráter, — a afirmar- Ele era grande de mais parase, a revelar-se a todo o momen- a mediocridade circunstante".to, na sua obra, na sua vida EA. Lima :nos seus atos. "Era a todas as luzes, uma

Outros disseram e dirão ainda personalidade. Para ser combati-do valor intelectual de Jackson. do ou seguido, mas a todos osDe minha parte, seria apenas in- tituIos uma afirmação concienteíantil tentar qualquer espécie dc (,a vontade esclarecida, de cul-perfil de tão extraordinária ",ra s<,li,la- |™ homem, um ca-Complexa personalidade. Penas ra'er> uma fe .autorizadas, e das melhores d<* E Lara Rezende :nossa elite intelectual já lhe ii- "Querer-lhe com ardor, ouleram cm vida, a justiça mereci- a1>orrece-lo fortemente, eis o di-da. Aos 34 anos de idade, nada lema Para 1mm <">« que Mmenos de cinco estudos, que for- acercasse daquele homem,mam outros tantos livros. Afora .Era ° resultado de comprecn-a riqueza imensa da sua corres- ae"'° ou "?" •

ponaência particular, há ainda4o seu convívio com os mais ín

v «*t^» cJLo«a«*x í «w «*j**.uJ* iWf,.,

Ui* - wo

mendigavam sofrimentos! E aocalor de tua fé, de tua palavrasempre amiga e leal. ou buscan-do no gozo espiritual as aspira-ções de tua alma iluminada, tutinhas genuflexa, uma multidãode corações e de almas sedentasde conforto e de carinho. Tufoste a luz para a noite sombriade muita dor. E um incansávelsemeador do bem c da verdade.

Não queria o céu egoistamen-te para si; queria o ganhassemos outros e quase os forçava, naindiferença, e na pusilanimidadediante da opinião: "O céu à for-ça-".

De onde irradiava o prestígiodesta personalidade, que a todosse impunha, perturbadora ? Esteo mistério do teu coração.

.....¦.-¦;¦/.-,¦:a- r.-;-^,»-:-;¦*,»_ .-««ttiiwaaB*

da ao calor destes corações quea chama de tua bondade aqueceu,que dormem felizes os teus ino-centes filhinhos, e que sem maisprovações te chora a saudosacompanheira.

Não se perderá jamais o ecodaquela voz amiga, quando ja-zias inerte. *' Descansa agoraamigo. Eu séí que você nao nosfaltará de hora em diante, comonunca em vida nos faltou. E pormais desvastadas que estejam asnossas almas, bem sei que nâodevemos desesperar.

A obra de sua morte que ago-ra começa, não será menor doque foi a obra dc tua vida. Dor-me tranqüilo, Jackson, pois tudofaremos para mostrar que sua vi-da não foi vivida em vão"*

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. DOMINGO, 8/11/1M1 SDPLRMeNTO UTCRARIO D'A MANHA — PAGINA t»

Jackson de Figueiredo, o escritor — J°n*« Serrân°Emílio Hannequin expôs, fan interior para a expressão, a co- O anacronismo constitue de

alguns anos já, com grande en- municação, a Ação imediata fato um dos grandes perigostusiasmo e algum fundamento eficaz. Ê o segredo do seu en- de quem estuda história, quercientifico, o método maisrigo- canto de escritor não reside em se apresente, sob a forma deroso destinado a reconstituir louçanias de estilo, cm anití- metacronismo, quer sob a dointegralmente, do ponto de vis- cios extrínsecos de forma: procronismo... A glória de Ja-ta critico, "um destes grandes brota, exala-se, irradia do po- ckson tem suficiente substãn-seres intelectuais, que sâo na tencial humano da sua própria cia e solidez, para que não pre-ordem do pensamento puro substância. cisemos de hipérboles e injus-da sensibilidade pura. como Notável escritor porque "ho- tiças, aliás contraproducentes,que os grandes iniciadores dc mem singular, de vida singular ao querer pô-la em relevo. Se-uma espécie moral; que con- e morte singularíssima". ria até contradição intrínseca ecentram e em si exaltam toda Continuo i pensar, como em contra a qual se levantaria, ema emoção e a reflexão excitada 1928, que a evolução espiritual primeiro lugar, o próprio sensona confusa multidão dos seus de Jackson de Figueiredo é, rio crítico de Jackson,admiradores... (1) E para Brasil, das mais dignas datanto mostra que cumpre apro- atenção dos verdadeiros critl-veitarmos o que há de exato na cos- E, como naquela época,

Ainda me lembra a expansãode Ironia cristã (assim a quali-fie-, afim de que não se lhe

inquirição minuciosa caracte-risticg. do método biográfico deSainte-Beuve, na análise sócio

acentuo: o critico de veruade veJa traço siquer de ázedume"desce a profundezas psicoló-gicas, inquire, perquire, clsse*

ou de inveja), coir. que,Gaúcho, me disse ele, uma tar-lógica da obra do escritor ou ca, analisa até onde lhe é dado de> sentados ambos a uma me-artista consoante a teoria so- c, ao terminar o seu labor con- sa- corn aquela franqueza en-ciológica exposta por Vaine e ciencioso, exalta ou condena cantadora de que tinha segre-ainda o realismo humano dos sem favoritismos nem ranço- do:melhores biógrafos ingleses. res".

Ter-se-á assim "uma ima- Assim procedia o próprio Ja-gem aparente do homem e do ckson, a quem a defesa daseu ambiente; ter-se-ão assim !Sreja, quando já convertido,os processos necessários para nunca levou a elogiar nulida-penetrar de realidade, de ver- des, nem a desconhecer os va- -dade, de vida, para galvanizar lore'5 reais da outra margem. ckson, a respeito do seu pro-e animar o ser cuja alma tiver Mesmo a respeito do seu pró- P™ pas°-parecido morta e repartida P"° easo, da sua própria obra, ..Me'h°r d0 5ue ninguém, sa-btos o trabalho da análl- desdenhava exagerações. ?la Jackson de Figueiredo áu-sé" (2) Em trabalho recente e da tlnSUir o seu case do de Farias

Assim estamos nós fazendo; autoria de um professor cie =rlto- Este. slf". Pode com .'us-pelo menos assim procuramos Seminário, lemos, a propósito "S,a ?er considerado * o -lionós fazer. Jackson, "o nossa da evolução da crítica literá- "'" *"•">*•'" '¦"¦'¦Jackson", revive ante a nossa ria n0 Brasil, palavras que Ja- .... ...admiração e a nossa funda <*son, se vivo ainda fora, não Bnlí1I;ativo rigoroso e restritosaudade como Homem, como deixaria passar sem protesto no ^'n»v„!d"'dlcr,J^°',ln0 ter"Católico e como Político. E só sentido de uma imse-au-poini: F?n0 dos mandes e velhos pro

— Imagine Você: até fi.óso-fo já dizem que eu sou...

E riu gostosamente.De fato nem a monografia

de Roberto Paterson (6) logrouperturbar o senso crítico de Ja-

sofo brasileiro" desde que nàodemos ao termo filósofo o si-

assimtentar

que podemos melhoravaliação exata

blemas que torturam nossa rsi-zão; origens, realidade objeti-va, finalidades humanas e cós-micas.

Farias Brito, desde o seu pri-Até aqui estaria Jackson. e meiro volume, que é de 1894-

estamos todos nós, de perfeito 1895, em Fortaleza, jà se pro

crítica verdadeiramentsed0 útil, a mais forte, a mais só-

seu lugar em nossas letras co- "da, a mais sincera, a mais lealmo escritor. enfim, é a critica genuinamen-

Que injúria fora á sua memó- te católica... " (4)ria gloriosa, e que teste lamen-tavel de incapacidade critica operdei- tempo em analisar-lhe acordo. Essa crítica de absoluta ocupava com a Finalidade do

lealdade, sem cabotinismo, sem Mundo, e com a filosofia, quearrière-pensée, sem moveis nem para ele era atividade perma-motivos subalternos, porque nente do espirito humano. An-visa só e só a verdade, — essa, tes, até, desde 1889, no prefacio

da "—

por nugas de puristas. Já "ão há dúvida, não a pode pie- dos Cantos Modernos, quandoo escrevi, a propósito de namente fazer senão quem a indaga se a poesia ainda tem^Evum, esse admirável grande considere, no sentido ético da razão de ser. O volume de ver-livro que não teve o êxito me- expressão, "um caso de con- sos é fraco; o poeta se afigurarecido (ah! o nosso mercado ciência". E o ser católico inte- medíocre, em quase todas asliterário...): 'Seria até imper- Sral. sincero, sem reticências, composições; mas o prefáciotinência censurável, determo- constitue uma das condições já revela o filósofo,nos em simples questiúnculas mals favoráveis, para não dizer Jackson também escreveu

os desuses gramaticais de orto-grafia, a predileção acaso ceu-suravel por certas formas, adespreocupação, — aliás fecun-

de vocabulário e sintaxe tapreferência excessiva por certas palavras: ademais» frusta,

logo das mais necessárias. Nâo versos (que intelectual os nãoé, todavia, condição por si terá leito no Brasil?) começou

suficiente. Há mister outra, mesmo por aí: os Zingaros sãoêndolorida, por ex.: certo abu- absolutamente indispensáveis de 1910. Poderiam os recuar atéso de adjetivação etc.). Lamen- competência critica, a qual su- o Bater de asas, livro de estréia,temos todavia alguns lapsos de P?e P°r sua vez» cultura huma- Mas o próprio Jackson, em umrevisão (athmosféra, com th e nística, leitura vasta e procun- dos seus livros mais represen-outros). (3). da, bom gosto, senso das pro- tativos, Literatura Reaiioná

Jackson — escritor não pode porções e, ainda, certo quid inabsolutamente ser dissociado, definivel, difícil de explica.' iem análise superficial, de Jack- Que. na falta de melhor termo

ria de 1924 ao fazer a listados seus trabalhos para a pá-gina de ante-rosto, não inclu*

gon político (no sentido su- chamaremos de dom natural, dos volumes de poesia, senãoperior, aristotélico, do vocibu- Não é crítico quem quer... «——-.—¦- ,-»—«— —- - ¦>»lo) de Jackson — católico, da Penso, ao escrever esta págl-

Crepúsculo, interior que é de,u, uo ,»»»,.. — ,.«..,<.,..„, ..„ ••-,- I918. e cuia publicação, por-Jackson — homem, enfim, vivo na, em algumas das magistrais tanto, já pertence à sua fasee integral. críticas literárias que tenho 11- crítica e espiritualista, revê-

Há os qúe escrevem só com o do em E'tudes. E' uma revista lando, desde o título, a pre-cérebro e não raro são grandes de jesuitas. Penso também em ocupação introspectiva e reli-e admiráveis; há os que mo- outras, que por vezes saem "ir. glosa.lham a pena no próprio .-ira- folhas católicas, aliás bem In- Mas, por essa própria lis*ação e quase sempre logram co- tenetonadas: como fora pre- de obras se pode facilmentemover também o nosso; há os ferivel que não saíssem... verificar que Jackson não seque se julgam já de posse na Quero apenas lembrar estas ocupou, ex-professo, de Droble-verdade absoluta e definitiva verdades elementares, mas -lão mas filosóficos, à maneira deem qualquer assunto e dogma- raro olvidadas: o ser alguém Farias Brito. A sua grande sintizam para a nossa humilde católico, em rigor, não o inibe ceridade, a sua força espiritualignorância- há os que escrevem de fazer critica, se tiver a ou- à procura de uma causa a quepor prazer voluptuosos das le- trás qualidades insupriveis; servisse, se exercitou sobretu-trás epicuristas do léxico- há Pelo contrário, dar-lhe-á ele- do na critica, nos problemasos que aspiram nome. leitores e mentos, que falecem em geral sociais da hora e só passou pelatalvez poltrona acadêmica; hâ aos indiferentes, agnósticos, e filosofia para chegar à Reli-os que escrevem principalmente aos fanáticos gião. Ai, enfim, encontrou a

A série é variada e tediosa, da irreligião. Causa a que poderia plenamen-Importa-nos apenas reconhe- Ora bem, até aqui estamos te servir. E a consagrou, até acer que Jackson — escritor es- todos em perfeita harmonia, morte, toda a sua 4nesgotavelcrevia por imoulso irresistível Onde acredito que Jackson dis- riqueza de espírito e de coração,do seu eu total coração -é-e- cordasse, e fio até que tivesse Farias Brito, este, foi maisbro e vontade para comunicar uma daquelas suas explosões de propriamente filósofo do queo seu drama interior de homem bom humor, que tanto div sr- qualquer outro (ele mesmo es-faminto de verdade sedento de tiam os seus. Íntimos, é -leste creveu: "a filosofia foi. sempre.uma palavra redentora, e que passo curioso do livro precita- a paixão da minha vida") (7).— tendo-a enfim descoberto, a do: "Foi Jackson que i criou e Jackson, se se ocupa de Pascal,

generoso, exerceu primeiro no Bra- o faz, e sem rebuço o declara,sil". (5). comp "um católico, na mais

E, mais ainda, nas linhas se- rigorosa significação do nobl-guintes, numa enumeração doa líssimo termo, um homem que,"discípulos de Jackson" a qual concientemente abdicou do seuinclue alem de Tristão de Ata- individualismo intelectual nas

Porque Jackson não foi um Ide, Perito Gomes e Hamilton mãos amantíssimas da Igrejasimples contemplativo da ver- Nogueira e outros nomej, o de Católica" (8) E por que? "Emdado ou da Beleza Não era Carlos Magalhães de Azeredo, verdade foi Pascal o homemum introvertido, nem um stc- Lúcio dos Santos e... o dc que, sem ter conciência talveziü. Unha o Irresistível impulso Leonel Franca. do que fazia, peto força mes-

queria comunicar,dispartindo o seu tesour.agitação dos que teem grandeobra por erguer e sabem que otempo foge, efêmero e irrever-sivel

ma da sua alma, se fez símboloda alma moderna, no que temesta de propriamente universal,alma crepuscular e em cujofundo de melancolia se agitamtantas forças contrárias, a pon-to de desorientar o mais argutoobservador que, de boa fé, nàopode dizer, se tal crepúsculo éo de uma esplêndida manhã,ou se estamos nos limites deuma tremenda e horrível noi-te" (9).

O entusiasmo de Jackson porFarias mostra bem que ,. jo-vem sergipano não se conside-rava filósofo e mostra tambémquanto era aberto o seu largoespírito para poder admirarsem inveja, elogiar sem reti-cências calculadas, divergir en-fim, já' quando católico Inte-gral, mas sem intolerâncias ir-ritadas, e irritantes, e, ao cabo.prejudiciais à causa mesma daIgreja.

O que sentimos em tudoquanto Jackson escreveu —poesia, romance, crítica, artl-gos, cartas — é o seu coração,é a sua alma, e daí a força dassuas palavras e o encanto dassuas páginas.

Os que o conhecemos de per-to sabemos que ali está o nossoJackson, em carne e osso, coma sua sensibilidade de nortista,a despreocupação do seu trajo,o seu chapéu não raro de ladoou no alto da cabeça, a fraseíacil, de sotaque característico(e na intimidade, às vezes devocabulário bocageano), gos-tando de falar e de ouvir falar,comunicativo e pronto a es-cutar e auxiliar, homem real,bem humano, da categoria dosAgostinhos...

Não nos cabe dizer do Ami-go; queremos só significar que,através da sua obra de escrl-tor, soube fazer amigos, e nãoapenas admiradores. Não noscompete analisar o apologista,tão somente acentuaremos quonão teve a maciez de pluma deum Afonso Celso, nem a resis-tência de arame farpado de umLaet; mas, talvez por isso mes-mo, teve maior influência nageração atual. Não nos in. uu-be examinar o político; afirma-remos só que a sua Reação dobom senso corresponde, efeti-vãmente, ao seu título: "Vigorde mocidade não nos falta. Epreciso somente que corrija-mos os erros da nossa educaçãosocial de cinqüenta anos a estaparte... A conciência jurídicado país já poude afirmar .(ue anossa própria "magna carta"política não é, nem pode serinstrumento de descristianiza-ção do pais. E' preciso, porem,que ela venha a ser a garan-tia mesma do nosso cristianis-mo, do amor que, como povo,como coletividade, como nacio-nalidade, devemos à Igreja Ca-tólica, vínculo moral e sobre-natural da vida de todas as gé-rações brasileiras, hoje aindacomo ontem, como sempre ati-nal, refúgio de toda a huma-na dignidade, de toda concién-cia verdaieiramente li-vre..." (10)

Pela sua sinceridade comu-nicativa, pela sua generosidadepara com os transviados, peloseu entusiasmo de ação nocampo da imprensa, houvemais pontos de contato e afl-nidade entre Jackson e Feliciodos Santos, do que entre o fun-dador do Centro D. Vital e ou-tros próceres do nosso laicato.

E de todos os nossos católi-cos de grande valor militantefoi Jackson indubitavelmente oque melhor logrou conservar,dentro da sua, ortodoxia e dasua atividade apologética, amaior capacidade de compre-ensão dos autores não católicos,em qualquer setor das let:-.si,poesia, romance, erudição. Lí-cita me seja ainda uma repe-tição:"O bom gosto de Jacksonraro se enganava. Fora do cam-po católico admirava, com asdevidas restrições, qualquermanifestação de sentimento.Não lhe perturbavam a serem-

dade de Julgamento sobre umBilac ou um Roniain Rollandnem as demasias sensuais dapoesia de um, nem o individua-lismo orgulhosa do autor deJean Cristoplie" (11)

Ele, de fato, praticava aque-Ia recomendação de Guyau, dsque devemos, inicialmente, pro-curar simpatizar com o autorda obra que nos cumpre julgar.E não deixa de ser um tantoparadoxal que se encontremno livro de um crítico e filo-sofo sem fé, qual foi o autor deL'Art au point de vue sócio-logique, uma atitude que ceve-ria ser a de todos os críticoscristãos. "Celui qui traite unlivre comme un paissant, avecPindifférence distraite et mal-veillante du premier coupd'ceil, ne Ie comprendra /rai-ment point; car la-pensée hu-maine, comme 1'individualitémême d'un être, a besoiild'être aimée pous être com-prise". E por isso mesmo: "Lacritique des beautés est et serátoujours plus complexe quecelle des défauts. Cesfc un butbeaucoup plus eleve; on peutsans doute tomber plus lour-dement encore en cherchant ãatteindre, mais ou ne peut pasdonreer cette raison de ne paspoursuivre un but, qu'il esttrop haut".

E, para resumir:"La seule utilité de Ia critl-que des défauts, c'est de pré-sorver le goüt public contrecertains engouements fâcheux,et peut-être de préserver le gé-nie même contre certainse'carts. Le dernier point est leplus difficile. Pour atteindre codouble but, ce n'est pas Ia cri-tique sistematique et irritée de3défauts qui convient, c'est Iacritique impartiale et calme desbeautés et des défauts <12).

Jackson possuía esse domrarissimo de compreender eadmirar, mesmo quando náopodia concordar e tinha que dl-verglr.

Tendo passado pelos estéreisareais da descrença, avaliavamelhor o que se passava emoutras almas, ainda à procurade um roteiro: "A minha me-ninice andara mergulhada emtodos os monismos, evolucionis-mos e mecanismos que vinhamaparecendo em edições bara-tas" 113).

Tendo, enfim, encontrado oCaminho, a Verdade e a yida,não se arrogava ares de mes-tre infalível, nem escrevia eraforma pretenciosa ou dagma-tizante.

Simples, sem o pedantismudos que se empertigam e nadapodem afirmar sem referênciase citações de autores estrangei-ros, Jackson não procura simu-lar conhecimentos para efeitosde vaidade. "Agora, no Brasil,

. como, alias, em toda a parte,se fala muito na questão 90-ciai... já, em todos os tons, oamais desencontrados mestresde doutrinas sociais vão sendocitados pela turba-multa dosnossos pseudo-orientadores...E não se quer saber do funda-mento das doutrinas; quer-se acitação da frase feita e, comtâo pouco, tem-se o bastantepara fazer figura e ter-se aatenção geral. A cada nome es-trangeiro que é citado se ligao nome de quem o cita, numaespécie de fraternidade espi-ritual, que é, às vezes, tão na-tural como a de uma carrapetacom os monumentos egípcios".

E, logo após essa observaçãoexata na sua ironia, uma de-claração que só um espíritoqual o seu faria tão simples esem falsa modéstia, nem dissi-mulada vaidade:"Eu porem, que muito poucosei da língua em que escrevi-nho e nada quase de qualqueroutra, sinto-me mais à vontadeem meio da nossa gente;só o aguilhão da necessidadepoderá levar-me a procuraraqueles a que pouco compreen-do e me compreendem .'.indamenos" (14).

(Continua na vacina JífflrfnW

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PACilNA 211 — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA DOMINGO, 2/ll/IMI

Jâckson de Figueiredo-O escritor NETOS DE REN AN{Continuação da pág. anterior)

E. num exemplo frisam*;"Penso que em matéria de or-

ganização política, por maisque se discorde neste ou naqueleponto, ainda o brasileiro lucra-rá mais lendo Alberto Torresque aqui nasceu, viveu, sofreue morreu, do que a todos ossociólogos geniais ou não, quejamais pensaram em nós e bri-Iharam de sabedoria que dãooutros meios..."

Nacionalista, b.-asiliero até amedula, não deixava todaviade entender e admirar to:osos valores estrangeiros autén-ticos. E o seu programa nacio-nalista jamais incluiu -uma sópalavra de ódio a nenhum povodo mundo" (15).

Nem pareça que há contradi-ção entre essa atitude e outrasdo próprio Jackson. Exatamen-te o que mais admiro no íun-dador do Centro D. Vital é o•enso católico de equilíbrio eharmonia, de serena posse aiaTerdade, sem os extremismo*,aem as predileções ou aversõ'.sunilaterais, injustas e contra-producentes.

No seu livro Coluna de Fo-go, que desde o título pareçao de tom mais quente, Jacksoniazia o elogio da intolerância,ele que soube tão bem compre-ender os que pensavam de ou-tro modo e noutros campos. E'nma página que define o ho-mem, e por isso mesmo o escií-tor, e digna de transcrição.

"... No Brasil o desapareci-mento dos partidos foi a causamais séria do enfraquecimentogeral dos caracteres dados apolítica, e, por isso, das nào pe-quenas misérias de que já t>s-mos sido vítimas, assim comodo aplainamento do terrenopara misérias ainda maiores.Ora nunca os partidos forampossíveis sem a intolerância aosprincípios e a relativa intransl-cência dos homens, sem asquais não é possível vida moral,amor tia verdade e de tudo omais que é sua conseqüência.í'oi justamente o desapareci-mento dessas condições de vidamoral que, entregando cadaum a si mesmo, fez a escravidãoda maioria e nem sempre asiamass dignos desses bastariljlendo. Não seja pois a toleràn-cia o ideal das novas geraçõesbrasileiras. Se estas te encon-tram no grau de inferioridade«ocial em que estão, devem-no«obretudo à inépcia com que asgel ações anteriores se e5c-/a'Ti-raiam a dogmas da imaginação

e do orgulho traindo, manus, osdo bom senso e do patriotismo.A intolerância não é estupidezou lúria cega. Não é mesmo di-gno de ser intolerante quemnão sabe porque deve sê-lo,quem não sabe porque o é. In-tolerância é amor da verdade,tonto da suprema verdade, co-mo de qualquer verdade. E' aíace exterior da convicção, quepor sua vez é a face interior daTerdade, que, se nao dependede nós para ser, só o é para nósquando a procuramos, e ama-mos e sabemo-la defender" <16>-

Belas e nobres palavras, di-sgnas de meditação de quantosíc ufanem de ser homens. Re-trato moral do próprio autor.Intolerante quanto aos princi-pios, embora lembrado das pa-lavras imortais: -InterficitJ er-rores, dllígite peccatures. In-tolerante por amor, não só daSuprema Verdade — que é omesmo Deus — mas de toda equalquer verdade, que é d'Eleum reflexo. Intolerante como otem de ser o geômetra, cor.ven-eido da exatidão dos seus teo-remas. Intolerante por amor daJustiça, pois, como o queriaFarias Brito, a verdade, e nãoa mentira ou o erro, ou a indi-íerenca irracional, tem que sera regra das ações. Não há con-tradição nessa atitude, comonão existe também na formosaantítese ciceroniana que não teleduz apenas a um jogo de vo-tábulos, pois encerra um senti-

do profundo: Omnes legum Hã uma passagem, no prefá-servi sumus, ut liberi esse pos- cio de Humilhados e Luminosos,

JACKSON DE FIGUEIREDO

shnus em que Jackson escreveu de si A v„ meu caro amigo, parece que impressionou a frase, que„ , DróDiio- "Náo sendo romancis- Ioi oo escol aos intelectuais do munuo inteiro e v. ja ouviu aosBela pagina, ainda, porque PJ°P|»-

d^ndo mesmo de aueustos lábios do jornalista de Timboré... "Somos neto, deimaginação, tem o autor a pai- Benan"... Que mal íaz isto? Nenhum, creia v. Somos bisnetosxão das almas, maxime daque- dc Voltaire, letaianetos de muitos outros desgraçados... íc pre-Ias que viu e vê passarem des- lerimos tais ascendentes entre, tantos, bem mais nobres, que apercebidas da grande maioria historia nos apresenta.

Mas enfim, netos de Kenan... Creia, meu amigo, o jorna-lista ae Timboré não sabe o que disse. Foi um puro instrumen-to, um instrumento da providência! Pequena tiotia, já se vé,para o cure tor-proprietário do "Progresso Timboreense", masnão pouco proveitosa para nos... Porque foi após a leitura dasua carta que, pela primeira vez em minha vkta, pensei na la-

bem típica e representativaestilo de Jackson: clara, semevasivas, subterfúgios pu suben-tendidos esotéricos tão ao sa-bor hoje de certos apologistasda verdade em claro-escuio;claras e fortes, não por artifi

dos homens"./Evum desmente as primei-

cios verbais, mas pela forçi ras linhas desse trecho. Hamesma da sinceridade-, contri- nas páginas desse livro pòstu-buição do sentimento, e mais mo surpreendente revelação deainda pela substância da pró- um romancista. Primeira pari* milja <je Renan... Sim, aquele homem, que tão suave e sorri-pria verdade, contribuição da de um tríptico idealizado e qu-inteligência, daquela razão na- a Morte prematura reduziu atural que para 6 grande Aqui- um só painel. AEvtim é, sem hi-natense é o reflexo da divina pérbole, um livro admirável.

cientemente envenenou tanto^ corações, arrancou a fé de tantasalmas frágeis; entregou fria e despiedosamente tantas concien-cias, ardentes e generosas, às misérias da dúvida, sim, aquelenoiiiem também íizera uma lamilia, tivera filhos, talvez,

claridade: ¦ Nihil aljud est ratio Já fiz, há seis anos, com abso- cnala e educaia sabe Deus como... Que fins terá tido aquelanaturalis hominis, nisi reful- luta sinceridade, o exame cri- gentei que sel.a da, hoje em dia, la, naquela revoavida teriagentia divinae claritatis in ani- tico desse derradeiro trabalho européia! eis o que a mim próprio peiguntava, tomado, acredit*ma". de Jackson. Com a honestida- v., ae verdadeira piedade. Pois bem: não só a mim inteiro-

Coração e cérebro Jackson- de 'ue a memóri? do seu autor suej j-j_j0 também a um padre francês, meu amigo, e que é lioieescritor como Jacksón-homem exi6e de todos nós- "z »,8umas exemplo de dedicação e carinho á nossa rude gente do sertão«abia conquistar amizades restrições. (24). Mas pus tam- mineiro, após ter-se batido quatro anos, como soldado, nasnão apcias admirações bem em relev0 as qualidades meiras do glorioso exército de sua terra. A resposta não se les™^„™.innoiaa ,.,>«<;„ iivrn que esperar muito tempo. E, veja v., não é que aquele excelenteexcepcionais desse livro.¦Através de todas as suas n05 revela toda a riqueza psiaventuras no mundo da ação, cológica daquele que o escre-por entre ob seus assomos dc veu_violência um pouco rude, a ge- _', ,„ „„, „„„ „ _.,_nerosidade manava como írjn- «f lendo, apôs »'»««*o quete refrescant*. Nesse pomo ?n »° manifestei sobre esse tra-ninguém escapava ã confiança, Xa°de jlck" n -T Jackson «osso Humberto de Campos.ate os adversários: a bondade _ & fle Jackson _ ensais. Sim, v. verá, meu amigo, que já não nos pode molestar, a

ta de Jackson — panfletário. nos católicos, a nós, crentes, que sc diga das gerações que en-de Jackson — critico, e agora Uam agora na plenitude da açào, que são netas do homem quelez de Jesus Cristo protagonista de um dos mais vi3 romanees

das letras modernas, pela açucarada perfídia com que quis ves-tir de inconciência o mesnio tipo — que, para nós, é o Filho tíe

sacerdote se desse ao trabalho de escrever, ele pióprio, uma hlstona dos Eenans... Nâo. Enviou-me simplesmente um livro,que veiu a calhar. Avalie, que é, justamente, a bibliografia deLrnesto Psichari, um neio de Renan!...

Chega a parecer resposta direta ao jornalista de Timboré.e v. vai ver como acertou o fino ironista, o rival sertanejo do

de lei, maciça e doce.Os homens confiavam em Ja-

ckson de Figueiredo". (17)Hamilton, Perilo, Alceu são

grandes demonstrações concre-tas desse poder extraordináriode Jackson. Eu mesmo, — casototalmente diverso, pela dife-reiiça de idade e poi- jamais

também Jackson — romancis-ta, — não me arrependo e In-sisto nas afirmações.

"O que mais admiro no ro-mance é o sopro divino que opercorre desde o início até a

^regiinadopclo^ese^-da Formosíssima derradeira pági-incredulidade — eu mesmo jadei o meu depoimento pessoal

Deus vivo — mas para ele era também o mais alto, o mais per-feito, da humanidade!!Até já podemos proclamar bem alto que somos neto.s desse

nomem, para maior glória do Deus invencível e único."Dios non muere", disse o grande Garcia Moreno, respon-dendo á punhalada do infernal setário... Sim, Deus nào morre,_ Luta entre cérebro e coração, nem mesmo no sangue dos que blasfemaram de seu nome, dos

quanto à sua extraordinária Ascensão lenta, por entre que- que repudiaram o amor de seu Filho e apunhalaram o seio üaenergia '.radiante, — uma -as das, de uma alma nascida para sua Esposa.mais poderosas do renascimen- o Amor c que se emaranha en- Nem de leve suponha que exagero se lhe digo que este livro.to espiritual do Brasil (18). tre viscosos amores. Alma da que venho de ler, me arrancou lágrimas. Somente não lhe se!

Clareza, sincerdade, força e família espiritual do ardente dizer se foram elas de tristeza ou de alegria. Sei que as chorei,afinal beleza real, viya e palpi- filho de Mõnica. Alma, como No silêncio da noite, em que, uma a uma, fui voltando as fúlgidastante, não marmórea e fria -- a de Agostinho, envenenada paginas de Henri Massis, como que vi levantar-se, mais do nueeis o que se nos depara na obra pela literatura e que se resgu- nunca, formosa, digna de adoração, a figura da excelsa majesia-de Jackson como escritor, ain- ta pelo sofrimento, sem deixar de do espírito da Igreja, sustentáculo do mundo, todos os diasda que a Morte o haja arreba- de ser. nn sua essência, a de um crucificado, todos os dias exaltado, gloriíicado, vencedor de todotado tão cedo, em plena febre amante da beleza e da expres-

são. Alma bem brasileira, afi-nal, generosa e capaz de sacri-fício.

Exemplo comovedor e elo-quentíssimo, que continuará aarrastar após si outras alma.*,carregadas de -sua mísera cruzde incertezas", na treva e.ivol-ven te, mas cheia de estre-Ias..."

Rio, outubro, 1938.

ll) Ernesto Henncquin ¦

o mal!Ouvi a prece que a todas as horas sobe aos céus e abranda a

justiça do Criador, sofri também de todos os silenciosos saenfi-cios, que se lazem no altar da renúncia às vaidades do mundo,e eomu que, dentro em mim, ecoavam também — tao grande erao silêncio lá por fora — os cânticos felizes de todos 05 que, ar-dentes de fé, na paz dos cláustros ou nos perigos da catequese,bemdizem Jesus Cristo, aquele que deu sentido à nossa peregri-nação sobre a terra.

Mas, se eu pudesse nestas poucas linhas dar-lhe a biogra-fia desse neto de Renan, certo v. compreenderia a minha eivai-lação.

Dele já se disse até que "a França cristã pode invocá-lo nussuas preces". E por que não? Que vida mais gloriosa, que lim

Crju_ mais sublime e mais ardentemente santificado? Quem se co-«a cien.iiiea urad. pon.) Lisboa nhece ai vencedor de mais temerosas vaidades?1910, pgs. 113-11!». Avalie v. que educação poderia ter tido um neto de Renan,

íl! ""òifci"."^

Junho dc 1932. respirando a atmosfera'mesma da mais orgulhosa idolatria :.ps. 441. tudo quanto falava daquele homem, que ousara contrapor a sua

ao còneeo peairosaa — compêndio pérfida palavra ao sangue dos mártires! Ademais tudo pareciaindicar que cia Ernest Psichari um digno herdeiro do nome trls-temente glorioso: o mesmo pensador para as letras, o mesmoindomável inteleetualismo, e fluidès de expressão...

Mas que pode o mal quando Deus não quer? Que é que tocouo coiaçãu du jüveii príncipe da inteligência?

Ernest Psichari, diz o seu biógrafo, conheceu todas as te-bres, todas as perturbações da sua geração, mas sempre adeanie

- dos seus companheiros, -nele se exaitava a moeidade de França".Ainda foi com assombro que o viram abandonar os cursos

da Sorbona para fazer-.se soldado e partir para a África, a uma1 rude guerra de conquista, /das se o entusiasmo das suas primei-

ras obras, nascidas do contato com a barbaria e a religiosidadedo deserto, a muitos pareceu ainda entusiasmo de diletante, nãotardou que se compreendesse o idealista que se revelava comlorça invencível. E não é nunca demais esperar-se de um so!-dado que se faça apóstolo. O entusiasmo pela guerra não é i^entusiasmo pelo sacrifício?

Ernest Psichari em poucos anos de guerra, de "vida perl-menos'estraUíTcIdo." Só"ela~tem ",",„?,"£"¦ V,*."^" "pi"!' "",»- BOsa", se fizera um apóstolo da desforra francesa, e Deus é comoo movimento da música aliado J,"" Deus dos exércitos que, pela primeira vez, fulge na sua con-

de produção.Que admirável exemplo o do

católico integral, intolerante deprincípios, e que todavia podiaescrever sem faltar à verdade:"... graças a Deus. simpatizocom todo' esforço intelectual le-gítimo..." '19>.

Poeta, tendo escrito versos, ealguns de real inspiração, nàr.ficará em nossa história lite-rãria nesse capítulo da Poesia.Mas como a prezava e como aexalça, em expressões de entu-siasmo que surpreenderiamhoje a muito jovem desta gera-ção que parece preferir o Feio,o Absurdo, o Anormal!

Examina qual seja das artes ^rlV~Ai"t,"reÍ'p,á«IJv- "° Òl°*°*

a mais alta e mais nobre: "A °^ op.ec-t , pg/42.'

meu ver cabe à.poesia, à arte „> Dos F,itóofos braslie(i„, (pu.do Verso, propriamente, esta bllcado em dois artigos em La Na-primasia. Ela é a manifestação <H°» "t" Buenos AIrajs, a 15 de Janel-íratai. nsa-frit» ria Fnpsia rm si "> ' ' 19 de Fevereiro dc 1917. e re-mais pericna oa toesia em 51, unldos em opuscuio de 20 pags pelada Poesia tal COmO a defm.; ela nr,Wlla, com a devida aulorizaçf-o —é a coroa de todas as artes, pois, nio, Bcvista dos -riibaiaiais, 1917. —

. j„ „„„ „„„i„,.„« „.,»>.« No 1.° artigo, Roberto Paterson s*mais do que qualquer outra, wupa dc «farl3S Brlto . m ,. dresume em si todas as energias jackson de Figueiredo,sensuais e intelectuais que se (?) Finalidade do Mundo, voi.encontram no vasto domínio da pe ura.Arte — aproximando-se da mú- <a> psscai e a inquietação Moder-sica pelo ritmo e das demais °%,mi'"- 'Jff1 •*" J-,0artes por exprimir de cada )10) A Reação do Bom Senso, Rio,uma, na sua linguagem mais 1922, m- 2«.intelectual, o fundo de senti- <"> Homens e idéias, mo. 1931. pemento, em todas elas mais ou 222,

:9is)ciência.

Ele encarna, dentro em pouco, a ação intensa, mesmo a vio-lêncla, para responder ao ceticismo do avô."Nossa geração, escrevia ele, a dos que começaram a vidacom o século, é importante. Nela, sabemos, estão todas as es-

(15) o Nacionalismo na Hora pre- peranças. E' dela que depende a salvação da Franca e assima do mundo, a da civilização. Parece-me que os moços sentem

16) a coluna dc Fofo, (Rio, 192) obscuramente que verão grandes coisas, que grandes coisas se,P°.r p%?2toàiiit Murici a Nova Mie- Iarâo for eles. Não serão nem amadores nem céticos. Não serio

exemplo (21), o poeta paupern- rallira nraS|lei„_ Porl<) Alegre, 19261 turistas através da vida. Sabem o que se espera deles." Estavamn o desconhecido do grande — pg. 269. mudado aos seus olhos o cenário do mundo. Estava delineado opúblico, a vegetar lá na longin- na» Homem e idéias, p<. 220 seu programa, não havia mais escolher: prendre contre son pire¦¦ ' 119) Afirmações (Rio, 1924) pg. 69. - - ¦

à disciplina severa em que se ,13) Aienmas reflexões sobreamortecem as suas irmãS". (20) losofia de Farias Brito — (Rio,

Já desde outros trabalhos ¦*•,"• „ soclal „, ||losolio

anteriores insistia Jackson na „•„ FarUs Btllo (B)o ,919) pg. u.sua alta e nobre nianelra deencarar a poeeia. E com que sente (Rio, i«i> pe. 57.delicadezas o vemos analisar ocaso de Uriel Tavares,

qua Muzambinho. E consagrouum dos seus volumes da cole-cão Eduardo Prado, em 1924, àpoetisa do Horto <22) e um dosde 1925 aos poetas que canta- *' Noss» senhora.ram a Virgem corredento- Jgj rSrti. juní.o de iw »„.ra. <23). «s-«o.

|20) Afirmações, pg121) Humilhados e Luminosos, pgs.

1-59.(22) Durval ic Morais e os poetas

le parti de ses pères.Ainda era, quem assim palava, um homem que não tinha Por

si as armas de uma fé positiva.Mas, como ele mesmo disse: Dés qu'on fait un pas hora de Ia

médtocrité, on est sauvè... On est embarque dans fabsolu...Dai em dir,nte, rcus livros assim como a asua vida são a .-es-

poaita mais lúcida, mais Tibrante e mais séria que o espirito de

..ósík™--/-^--;---";-...

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DOMINGA, i/ll/lMI SIIPI «MINTO UrtHMiril »•.» MANHA -PAGIHA M»

Da correspondência deJackson de Figueiredo

(Carta de

PEDRO KILKERRY)Trecho de ensaio

FRANCISCO KARAM

O homem s sempre uma itnagettt de Deus. Imagem e se-idém era como o chão, sobre o qual.

Estou em cata, • que par» r»ros nSo pertence aa Rbanha ae «nu Sao versos em que, nio obstan- . , , _. .. , ¦amigos não é avia rara e wu reler, academia, à imortalidade de uma te a forma e a expressão um tan- Dentro ia comuna espiritual de Jackson 4e figueiretl» 11-em tua psique ou antes o teu livro. jrei. to criança, sinto um vago de so- vem os seus amiaos, iimn milagre de harmonia e de felicidade.

A Janela rasgada para fora que O Inconciente aqui, Jaclcson, não nha e te creio sincero, porque de- r imdènrix t a tua marca ttesioal E cadadefronta a mesa em que escrevo, sãoostnconcientes que farpeias cora pois da muito bela Andorinha fe- Laaa "m <em " sua ™fll""« € a lua marca pessuui. c

dá-me a ver a oscilação de uma um verso ligeiro, mas o que ad- rida e outros cantos, como o Meu amigo, com a sua tendência e a sua marca pessoal representavaasa de sombra, moleza ferruginosa miras. Já imagino que te estou a Vingador e as estranheza» do Prio aos seus „(/|W ,,,-„„, f bercucientes uma classe humana de espirito.m. descer ao recolhimento voluptuo- ouvir: relê o meu livro logo, diae de um Doido, tu lhes fazes com- ¦ ' .so de cubos brancacendos, que a sobre o seu respeito e eu a rra- plemento no último terceto de iU. O circulo dos seus amigos era como um pequeno muuao,distância talvez sensibiliza: não ponder com uma frase de latim 0nde todos os tipos mentais estivessem representados.aei. aquelas casas parecem-me tão rotulàrio de vinho que bebi um E „uanta coisa má hoje saudosanervosas, mas nem um passo, um dia:,primo abslinentia ulendum. Pra nlim que indo plor votl ca.«inal volitivo... Contudo, a verdade é esta: ago- * [mínhando *

E a sombra desce mais Algu- ra é que ua mão, tu conheças, Nesta estra(la de vida dolorosa. *mas aves, porem frecham, para seca, como borboleta morta entrearbustos e ninhos, a vontade fais- as folhas de um livro, treme viu-cante de plumas e procuram Iam- teu eu, por quanta besta verse- . í3e ° continuas petn quanto vber o resíduo imaginário de um lizada que é encanto, e faz abrir ™aÊ<!,'s. e ld**li*s. f***-*» ° «" "vro ,. , ,, ...raio uma caricia de sol, cuja in- a rosa de luz de um castiçal que é 5™>. consoante sentimento e verda- me.lhani.tl lie Ul us. Itensidade — repara bem, — não é um magro companheiro cor de de dentro da rima; seremos, então, pouso„ toda a humanidade de Jackson.. que já foi para hindus, persas ê bronze da^noites^que^Iberto,

¦»"£¦*»*£• l£g£ £ £%£ A criatura nào vale pelas suas qualidades positivas. A bon-

Anda rezando tudo o pássaro da guns'novos coritlgo como Alcides «¦"¦• se a mesma incerteza de hoje dade, a inteligência, o sentimento, a razão, nao melhoram o mu-aombra: apaga o variado e o mui- e outros sacodem os pétalos dos "• 0""ro aspecto nao nos houvea- f<,r^j humano. As qualidades negativas, por suu vez, não pio-

tSVoZTSi tiSrl^l SeS^e ™,'S SSS. "° «.STE?rÜU r

fp. ™« . criatura. O pecado, a vaidade, o rancor, a nu, fé, «ão d,

SES» e redonda. Ah! coa, «¦ Urr. tara, ». to Sff "°* ullrai"m! ~ ,lta- *«««» » w- . _..

Assim, no nosso mundo literário, página de versos, o nosso senti- oxalá que todos, como' tu pu- ° <lue ha ie rea! m crM'1*''0 <* « semelhança do Criador, r>meu caro Jackson, és outra von- mento influe vida apaixonada dessem tirar proveito desses'sedi- reflexo c o calor das mãos e do hálito divino. F. enquanto atade faiscante de talento, outra numa fotografia, numa recorda- mentos metafísicos de amor e sau- _A_ _ ¦ , : . ara,a j, /)...„, _ „thsisle há oportunidade dolingua como as folhas glaucas pa- çao do autor e temo-lo vivo, ouvi- dade redourando-os, com uma maa 3 stwmie, „a o, o,,„,m,u„e ura os resquícios de fantasia e so- mo-lo arpa ou lira em punho, era cultura nova e um espirito de de-nhos da humanidade que em mui- atenção simpática; que é a noa zenove anos experimentados!

SrlginauS ^S^T^ê STÜàS. *"*" °" "* ** " ¦«*

fizmente ou não, 0 fcu

vtTStSadeon/afca^nque-, gulní ItSZSafT&«& do T» «VeS 'q-fS

K a missão de Deus-Pai. Só Dcus-Pai é que pode julgar. An-

aproximadas teem a estupidez pa- convencionamento verbal, ò ritmo «ata a porta com as manoplas e, ,„ io ntlgamento, Dcus-Filho desceu para redimir a I erra ecata'dos seus habitantes das sua» J"Jj**™~

^nsô?WdQue°'ô S? £?& Tuanta ^-""v"' encaminhar Deus-EspWito Santo.•"ôSTVfiSS.

Uos e0'e"n,ne rS!?*prS?d? anaTgia' SSíaZ J«f? *»* l»*- *«*- ^ra. A ,,lreja, que é Cristo, não julga. Condena . pecado ,

Janela... amorteceu, decompôs! «ao e real. absolve o pecador.a sombra já distingui tudo, tu- Abro-te a livro e e como se can- Bem que é. Leio-te, ponho-me fí ¦ ,.,- t,„tt\x0 confessa os seus pecados t aproxima-se

do mas está picada de um brilho tasse a um instrumento que vale a ouvir-te na autdpsicologia amo- u caiotiip viijtruu.i»»/""» UJ ....^ ' ¦ .de'estrelas fui vas que se parecem a pena ouvir. rosa, que borboleteia, que volita dos demais irmãos para leva-tos a Igreja. í: entre estes irmãoscorresponder aqui e ali dentro da Soa o teu primeiro canto no So- sobre as taças frescas de um colo, 7 ; ..-, .„,,„ t,iorcs nem melhores, mas apenas, criaturas denoiiP neto da Saudade, horas recordati- no âmbar undoso de uma juba, /' nrwí^ia vas> era cujas vibrações finais, ve- que nfio trocarias por todos os Pa- Deus, que precisam ae Deus.

O inconciente sera um poeta rospecçáo lacrimosa de etolos: porque ouro da tura harpa. xiimbolistó? Hartmai n nao o di.se • *naquela secura filosófica tua co- QmQ da tuR rimaconcietrte K^Rtobaud* admira'- Aos sons do teu instrumento es- ^kson era o católico perfeito. Nele. as palavras da Divinovel trabalha todo esse inanimado vultos ã luz de um sol saudoso, treante, noto que poderás chegar Mestre viviam como o sanr/ue nas veias. Amou ao próximouniversal. Minha mãe e meus pais que os ã^afi^^os^mestres^ sabes „,„„ „ „• „; f ;nl c fc!m sn<! s„„eUlmles hlllls.

en«»."a oue"! o tetf canto como Meu velho avó curvado e tão bon- gem ás vezes, de um realismo ver- hnlamenle. Viveu uma oblata pela Terra e pelo Céu.

rr voz'de qualquer sapo I"080--- n,e'h0* As suas pupilas verdes e límpidas como duas crianças,

O certo, porem, é que os poemas , ce™ ^d» Snc^T' neí^ona""- "^'"l""''"'"'"'" ""'»-¦ °* ''«"''"' ''"manos, com o amor e »

ImbohcosTo grande inconciente Alguma prima, que se foi mocl- çeber-te

a nuança de per^nal^ ^^ rf(> _(m ^^

60»» e do mau, trotarem de condições, perdendo-se a hom e sal-vando-se o ma*u,

O julgamento dos homens ' a mais terrível das missões.

simbólicossão momentâneos como fenômeno;

Setor! E a tinta nova de uma dor infinda, das. influências recebidas de An- Aroí longos passeios noturnos da rua Pedro Ivo ou pelas.Se,.a,gumas vezes, duram aei»- „ »- ^,-—^-^J to^obre, Baudelahe estante meni<hs da

~Esplanada do c [elo> de CMtii„m gar{ quemando-se na nossa subjeti

vale algum deus ao seu autor, que

ordem podia dar à- anarquia contemporânea, e a sua figura deherói e de artista, de homem de ação e de sábio vai pouco a

pouco aproximando-se e por fim surge, duplamente envolvida,de entre as fileiras dos que, a esta hora, cristãos e franceses, jasalvaram as grandes tradições da sua pátria do completo anl-«luilamento. A Igreja podia gloriar-se de mais um filho, um ver-dadeiro filho, amante e fiel.

E é comovente ler estas palavras do neto de um Renan...-Toda a tentativa por nos libertarmos do catolicismo e umabsurdo pois, queiramos ou não, somos cristãos; e e uma mal-dade visto que, quanto temos de belo e grande no coração nosvem do catolicismo. Não apagaremos vinte séculos de historia,

precedidos de toda uma eternidade. E como a ciência foi fun-dada por crentes, nossa moral, no que tem de nobre e de eleva-do, também vem dessa grande e única fonte do cristianismo,de cujo abandono decorre a falsa moral assim como a falsaciência".

No dia 8 de fevereiro de 1913Í Ernest Psichari, o neto de Re-nan, "foi confirmado por mons. Gibier, na capela do pequenoseminário de Grandchamp.

Com a vol a tremer de ardor contido, recitou o "Credo", deque uma a uma, acentuou as sílabas latinas. Apos » confirma-çio o bispo de Versailes lhe perguntou a sua idade: — Vinte enove anos! Muito tempo perdido! foi a sua resposta.

E porque, assim, tanto tempo perdera foi que desde, então,o viram seus soldados e toda a Franga intelectual arder na febrede reparar, em cada livro, em cada ato, as injúrias que seu avolizera à Franca cristã, e, humilimo, ou melhor, possuído desanto orgulho,' servir a missa e ser aquele mesmo ser — sacris-Uo, que Louis Veuillot também quisera ser... E loi deste modo.entre os rigores da vida militar e os rigores de uma exaltada pra-tlca cristã, que a Grihde Guerra surgiu. Foi dos primeiros quemarcharam contra o Inimigo de sua pátria, foi dos primeirosque cairam fulminados no campo de honra.

"Os que o viram mais tarde ficaram impressionados ante acalma dc seu rosto; tinha nas mãos o rosário que pudera se-

gurar".Eis ai meu amigo, como soube morrer um neto de Renan.

Felicito o jornalista de Timboré pelas suas Ironias. Ja podemosser bons netos de Renan. E v. há de concordar comigo: ErnestPsichari foi. de fato, uma dessas naturezas que sao privilegiodaquela nação a quem, nem as desgraças nem os erros, tiraramainda o que José de Maistre, então insuspeito de lhe ser favo-ravel, pôde observar no seu destino: o exercício de uma verdadeira magistratura sobre a Europa e, por conseguinte sobre omundo.

Quando uma dessas naturezas aparece como uma estrela«obre os céus borrascosos daquela grande pátria, não há con-ciência cristã que não veia claramente alguma coisa de mais pro-fundo e de mais forte, que o que prende todas as mais nações,ligando os destinos da França aos destinos da Igreja Católica.

E tem-se o desejo de dizer que sejam quais forem a* «pa-léncias, sempre a causa da França é a causa da Igreja.

Rio, í—1921. *I

Mas em ti o amor é tudo. Tudo passava ou o carroceiro, que lá ia, arrastando a alimana pelosestá feito, feito o estudo da tua freios e perguntava: — Oi«r diferença pode haver entre nós tpaixão amorosa, em que a ânsia , , „ .. .de ser compreendido em refina- «'« homens, se todos somos semelhantes a Deus.'mentos,, se te livras nas asas da ^um ligeiro sorriso feminino para ~*um mundo real dentro de convul-sas futilidades cambiantes, quateem o seu quadro de valores.

E eis em teus versos ressoa comouma voz negra, uma desesperançaafeleada:

Não acharei jamais a que tanto(procuro,

Este tão grande amor que há tan-

A sua intuição andava pelos tempos futuros, como se -fi-livesse Undo crônicas do passado. Foi Joseph De Maistre e foia cura DArs. Indicara os caminhos políticos para o mundâ,como uu; de nós mostra os caminhos c-obertos de musgos de mmpresépio.

Sempre acertou, porque sempre falou de dentro da Igreja.[to tempo canto, poucas rezes, na literatura universal, se encontra uma expres-

são tão forte para caracterizar o erro. Mas, também, poucasE chegas a querer a senhora dos .. .. - jteus poemas — "suprema e má, vezes se encontram expressões mais suaves, na compreensão aosainda rainha branca, séria e ge- que erravam e sofriam. Aquela fortaleza medieval, cheia de se-

q^quanto *

a5e« .YeíreZ «™- «« M'"«d« v°* «« fe" "»enso e delicioso.amar: Se escreveu poucos versos, comprazia-se em se rever hos

versos dos seus irmãos poetas, que eíe recitava de cor, noites...Tenha no olhar a chama dia- jnteiras, com um sentimento e uma sensibilidade que eu nunu[mantina. ..... 'Bem torie e fria. tal a de una vt ninguém dar a poesia.

[olhos de morta* **

Ape-sar da maneira vagabundapor que estão dispostos, os verso» ..*.,•«•no teu livro, o que justifica o seu O maior dese/o ae Jackson era escrever a historia de Cas?titulo, Zingaros, linhas e formas ,„ £/t. afjnmva que escrever a história do nossa Redentor eratangíveis, o vago do irreal por que .te fizeste poeira, serás todo um * gloria maior que podia ambicionar um Homem.gesto de benção para a Natureza Deus atendeu-lhe o desejo ardente. Jackson escreveu a his-e com as lágrimas do teu coração ,*. . fr:,t. ..K m;jf»/ir^r j, rornrõrt brasileirostransbordado de si mesmo, tu que ,õna " <¦"-'«> **"• mtinares ae corações orasneiros.supões, ante a mágua capaz da or- " . E não há livro melhor ao que o coração da criatura, parmquestraçao de um Wagner de do- se escrever a vida do Criador, que se fez criatura e teceu a maitres, faras a mais bela canção da .,,.-,- -vida mansa, como um rebanho á» belas das historias.sonhos que um olhar de mulher *pode ir tangendo, guiando. *,

São palavras de alguém, diantsde cuja memória uão pesa apa- £m 4raraqHarai eu não compreendi a telegrama que me••«rpaCi°õesBrprtP?LUrSo hÕmem°« comunicava ter o Senhor levada . Jackson de entre nós. Fiqueique muitas outras encerram são o como Um sdnâmbulo ou um autômato.

To ^eV^Ztog.STu.-es- Lembro-me, apenas, de minha Mãe, que dizia: - Felizes

tua, o amor é energia e querer; os que põem o seu destina nas mãos de Deus, porque esses naoquerer, causa primária da revolta, morrem"'vauTe

SE» "

JS3E? P»r. E. 'senti

que morria qualquer coisa em mim e que o mundouma moço. Vales. morria, em parte, perdendo o seu comentador maravilhoso. Ti-

das^ocaTpo? "ütidST.

TtaSua « « «M» Perfeita de que o drama da existência despia-se mui-

ianque, tudo isso, tudo isso... nio fo de sua gravidade, porque lhe faltava aquele cérebro tntirantttem cheiro a ciência econômica, onje e]c „-,,,-„ (,;„ intensamente.

rTprlãTdfum ZtTS SS Uos nio aqueci, nunc. mais, « palavras de minha sanflá falar... E' a outra magia. mãe:

Do amigo,

PEDRO KILKERRY.— Felizes as que põem,» seu destitui mu maus it Deut,

porque esses uão morrem.

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PAGINA 22« — SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA DOMINGO, I II 1X1 S

DEPOIMENTO SOBRE JACKSONDez anos iá se passaram sobre mesmo e contra o seu ambiente, o amigo para quem nos voltamos ne»- uma prova terrivel, a que so os delendia tão caloroaamene gover-

a ínorte de Jackson de Figueiredo, seu meio. o mundo. te instante. grandes seres resistem. Dez anos nos e mantinha mesmo nessa tare-nublicista ardoroso pensador, po- No tendo deixado Uma obra que Veio como um sinal contra no», passados sobre uma ausência, dez Ia tâo dltinl, um lom de digmoa-liiirn doutrinador

' critico homem o revelasse integralmente, que desse disse eu. Ein lugar das acrabacias anos de afastamento e que resta de de e de altivez, um tom que, mesmo

dp nariido homem humano asi- um testemunho completo do que literárias, em lugar das formas, que um ser que viveu alguns breves na injustiça e na violência, era dcErftíriie idéias chefe dc fila cem- ele foi, porque ele foi bem maior pretendíamos originais, de uma ar- instantes, alguns pobres momentos pureza, um tom que nao o desme-S e amiio

do que as coisas que fez, será por ie que busca redescobrir o mundo, e silenciou? recia mesmo quando não o podia-

níí, anos uassados sobre o escu- isso, talvez, bem dificil explicar em lugar das experiência surrealis- Ah! Nós sabemos, que quase na- mos compreender e aceitar? Entrem dw ,mni. o mar roubo u des- aos que o não viram e ouviram, aos tas, em lugar, numa palavra, do da resta; ás vezes uma vaga som- os que aplaudiam os governos porS mundo o coraioso e inconfun- que não conheceram o segredo da velno modernismo, a posição de bra nas memórias e isto, em ver- puro interesse material, entre osiivp Hrkson sua influência, o mistério da admi- Jackson era a de um homem que dade, é excepcional. Jackson, po- eternos admiradores das magnlfl-

nrá anos e a morte de Jackson ração que inspirou e que a sua andava ás voltas com os temas aus- rem, tu, ainda insistes e, mesmo cencias do poder no tempo, cure¦mrO, a nós oue estivemos com morte, dez anos depois, ainda não teros, ás voltas com as idéias fun- ainda existes, porque existir e estar a falsa indignação, o falso aposlo-ií.Oim marco entre duas éuocas pôde apagar nem diminuir. damentais. Quando procurávamos de fora e tu não desapareceste lado do oposicionismo descabela-íííire dins' enocas em oue o Bra- Eu quisera poder transmitir, aos apenas uma arte sem relação com nas imóveis e escuras águas do es- do, a figura, a voz de Jackson soa-siido noío temi» em que o Bra- que o não conheceram, essa im- coisa alguma, livre, solta, gralui- quecimento. va dc maneira justa, precisa, Uile-S da minha geração está dividido pressão que a sua presença causa- Ia como um jogo, Jackson já an- Ainda te podemos sentir, ainda rente. Sentíamos bem que ele nãoD,as éoocas dois tempos .dois va, estranha impressão que não era siava, já lutava para conduzir a ln- te sentimos, ainda ha alguma col- era um louvador profissional, quemomentos irreconheciveis impôs- jamais de vaga simpatia ou de va- teligência do seu país á meditação sa tua, Jackson, nos que te encon- nao era um entusiasta dos coíi-esíúveisde serem compreendidos, ga Indiferença. Imprerafto que, des- dos problemas mais angustiosos e liamos, nos que 1 oram teus amigos, públicos e dos favores governamen-níias éoocas S Brasis duas al- de logo. o fixava para sempre na mais sérios. em todos que, como eu sofreram a tais. Sentíamos bem que estávamosmlt E nl centro um sinal para admiração ou num impossível an- tua influencia, os que foram mar- diante de um homem que possuíaS* amort deSe JàclSon desse tagonismo. E preciso, realmente, té- * cados pelo teu contado, pelo teu um interesse profundo, um interessehomem tão diferente dos outros lo visto viver um instante, parti- Éramos espectadores da vida po- olhar que sabia olhar, ou pela pre- Je ordem humana e nacional arnSférido nor Doucos desconheci- cipando dos seus sentimentos ou litica no Brasil. Jackson porem, sença violenta do teu espirito Am- defender, sentimos os que naquelerio nor mitos e tão ma iulgado das suas idéias, para compreende- representava essa vida política e da existe em nós no fundo de nos tempo éramos de boa fe, em jack-™ tVntVO lo na sua pereonalidade poderosa, vivia o drama nacional brasileiro, todos que te conhecemos, algo que son, um homem que participava da

í- m si* Imoossivel imairiná-lo Que importa nao ler sido participando das suas crises agu- sempre nos indica a tua presença, luta, com uma nobre intenção, comeomo ete foi Kluase impossível, Jackson de Figueiredo um grande das, crises que silenciaram e se algo que nos lembra a tua voz que e uma convicção, pelo menos, pro-hoTe Sue ele ae transformou nuni pensador? Que importa terem, de- confundiram no caos da revolução uma voz de comando e de prece, funda sincera e solitária,nome compreendei*o segredo da pois dele. sobre os seus pensamen- de 30. ,. essa tua voz que sabia falar aspe- Sendo um homem livre até a«uT influência a sedução da sua tos. muitos dito, com maior clarl- Ocupando, então, postos abaixo ramente, mas que sabia também se selvageria sendo um homem queíta.rn «í mistériodama forca d**s- dade, coisas talvez mais exatas ou do seu valor, escrevendo artigos em dirigir ao Eterno num abandono amava, antes de tudo, a sua indeLk lorcâ oue a raia ou distanciava mais belas? Sobre os seus julga- jornais, defendendo, com um sole- agostiniano. pendência, sendo um cultor apaiMira sempre Impossível falar mentos. nestes dez anos decorridos, ne desdém pela opinião pública,¦áiim exatidão'de Jackson para os outros julgamentos lá foram acres- esta coisa perigosa e que tem ser-Z o não conheceram pS S centadcV A experiência, o eonhe- vido para esconder tantas coisas,nue não o sentiram um dia cheio cimento vivido das coisas, já modi- que é a ordem, Jackson de Figuei-de vida na Dlenitude de seus en- ficaram porventura alguns ensi- redo era um personagem. E foi co-tusiasmos e de suas indignações, namentos e algumas idéias de mo personagem que ele nos apare-Impossivel quase explicar como Jackson. Mas e preciso nao esque- ceu e nos conquistou

xonado dos sentimentos.mais al-* tlvos, porque se fizera Jackson o

Eu não quero falar de Jackson defensor, o campeão de uma si-para náo dizer nada, para ficar nopuro jogo das palavras, para fazeruma simples evocação literária quevenha, quem sabe, diminuir a sua

tenticidade. Eu nào pretendo•ie foi "e'

oòrõüè a"süã" "imagem

cer que ele esteve alerta na hora A sua sinceridade, a sua bravu — ...não se apagou em nós depoi? de do sono, na hora escura, sem idéias ra, quotidianamente provada, o seu adoçar ou alterar os traçada fttanto tempo. e sem pensamentos amor pelo Brasil, o sei' ódio contra gura jacksoniana, a ponto de rea-

Dez anos de separação, dez mi- para falar de Jackson de Figueimerosos, intensos anos decorridos, redo, para falar da sua ação, íRecordar, descrever as formas que pois, necessário, antes de tudo, sicontiveram a sua alma, dizer da tuá-lo no seu tempo que foi e yexpressão de energia, e doçura ao não é o nosso tempo. Para falar

nítidos da sua personalidade dehomem, as direções da sua natu-reza. relembrar a coragem das suasatitudes, a decisão e, tantas vezes,o heroísmo do seu espírito comba-tivo. historiar e analisar as reali-sarões do áspero trabalhador inte-lectual que ele foi; avivar nas me-mórias o esforço do homem queveio da desordem para a definição;•do tumulto e do escuro para oequilíbrio e a claridade; tudo isto.todo esse '

tuação política, da situação úeum grupo de homens que deti-nha o poder?

Ai està uma pergunta que mui-tos entre os jovens destes dias cie-vem formular no seu espirito, aítslá uma pergunta realmente jus-ta para os que não participaram

ção de homens piedosos. Eu não da vida brasileira, no temijo emdesejo fazer uma simples máscara que se realizou a ação de Jackson.melancólica em que se esconda Temos que nos deter, pois, nestaface verdadeira e humana do nosso interrogação. Ela nâo pode ficaramigo ausente. Dizer o que ele não sem resposta.

os que' desejavam destruir as eoi- lizã-la própria para uso e edificasas que ele amava, tudo isso, tor-nava esse homem um estranho e,ao mesmo tempo, um sedutor.Uma figura que era realmente ex-

KÍmo tempo do seu olhar, evocar de Jackson é pois preci-so lâlar"do <-ePC*°^ n0 ^'pigSèdí^quein foi,

"descrevê-lo como um homem Jackson, realmente, náo delen-- sua vida, fixando o traços mais seu meio, da atmosfera em que ele ch*ã™oua™|^„ £ detantos de nó,s pacificado pela fé ou conformado dia governos que estivessem deaglli ¦ para problemas cuja existência não na sua perfeita resignação das eoi- acordo com a sua doutrina c* os

Conheci Jackson de Figueiredo estava sequer na nossa imaginação sas do mundo, dar a tudo o que ele seus ideais, ele defendia apenaspouco depois da minha adolescén- obrigou-nos, com a sua maneira fez uma explicação transcendental, algumas situações e alguns gover-cia. Estava eu nessa fase da vida mn tanto ríspida, a pensar sobre é tarefa impossivel para mim, e de nos. Acontecia, porem, que essasem que tudo é ainda pura curiosi- incerto destino do Brasil. certo, tâo desejada pelos que medade, puro desejo de conhecer as Lembro-me bem de como luta- quiseram nesta hora de saudadecoisas de fora, ainda. Nessa fase m0s para o aceitar. Lutamos con- e de confiança.da vida em que nos contentamos tra ele, reagimos muito contra es- Ele não foi um santo, ele foi umcom o superficial. Conheci Jack- se homem, que nos parecia tâo homem. Como homem teve defei-son num momento de plena moci- pouco seguro no seu bom gosto li- tos, teve ambições, desejou domi-dade, momento em que mal prin- terário, tão demasiadamente afir- nar, foi. às vezes, excessivo e cate-

+ a*,Cihn wne'if"UU tnrfn cipiamos a tomar contacto com nós mativo nas suas convicções, tão górico por demais; íoi áspero; vio-trabalho mogranco, ioqo _.psmns_ pm one buscamos :" .....mesmos, em que buscamos ainda exagerado em julgar figuras e eoi- lento no seu combate. Não foi na

situações e esses governos comu-tuiam tão somente, o que restavade uma ordem que ele. Jacksonde Figueiredo, julgava, e com lan-ta razão, conforme a experiênciademonstrou, depois, preciosa e in-dispensável: atrás desses homensefêmeros, mas que incarnavam aordem. havia alguma coisa em

Sífe«s?i2Sí^f .a7n«Hme»«.Mseslm a nossa Pr°Pria definição, em que sas"ora louvando" num" entusiasmo vida um ser frágil e lirial, 'uma flor verdade, "digna *'dè"sêr

conservada'1° P*ís«f^oni",d ™m

Dorem me somos se r!>?',a a ,oda a llora «ue nos Parecia excessivo eu mes- celeste; era um homem de bata- havia alguma coisa ameaçada.,„ n,« fnnminram. ourem. e sempre constitue surpresa para mo errado, ora negando, de forma lhas e de combates e, por isso mes-nós. Conheci Jackson numa hora rUde, coisas que, precisamente, jul- mo, um ardente, alguém que seinicial da minha vida, numa hora gavamos dignas de louvor. Jackson deixou possuir pelo ódio e pela pai-de ineênua vontade de realizar era maior do que as suas opiniões, xão.uma obra literária, de revelar me- porem, e na verdade, diante da Para falarmos de Jackson, temosritos ilusórios, mas que julgamos força da sua grande natureza, pois de falar a sua linguagem e

Dez anos passados! Ainda parece imensos. bem pouco significava o seu bom ciscutí-Io livremente, sinceramente,A vida do espírito, então, -só ou mau gosto, a sua exatidão ou como ele merece ser tratado.

nos aparecia no seu aspecto pura- inexatidão no condenar ou no lou- Jackson de Figueiredo íoi um

dúvida, não conseguiriam, poremtransmitir o segredo de Jackson, <negredo da sua influência, da gran-de atração ou do ódio que ele ins-pirava, que ele soube e desejou pro-vocar.

ontem e está tão distante. Aindaparece ontem e como tudo no en'tanto se transformou Como tudo mente iiteràrlo e exterior. Queria- var.mudou! Como se concluíram tanta';coisas, como se realizaram tantas

homem político. Teve uma ação

ameaçada,que era necessário defender, epreservar. Foi, pois, o defensorde governos. Mas com que altivez,com que compreensão do seu pró-prlo valor o foi coin que respeitoa si mesmo! Não havia nenhuminteresse pessoal capaz de o fazercalar na hora do protesto e nahora da indignação.

Quando um presidente da Repú-blica que Jackson defendeu con-tra as ameaças revolucionárias

desdenhados e abandonadosDez anos passados sobre a morte

•de Jackson. Dze anos passados so-bre a sua morte e sobre a nossa vi-da. Sobre a nossa vida e sobre asua morte. Dez longos anos. Umaexistência quase, Um longo tempo,

refuga vamJack- Permitam-me pois, deter-me um com razão, das suas representa-

tava tão somente o sinai a marca son, a quem tantas vezes julga- pouco mais nesta direção. Ções. quando, para esse golpe demodernista. Parecia-nos, nesses mos, em virtude da tua feição re- Não creio ter sido apenas o de- prepotência o presidente emtempos quê as coisas tinham prin- acionária, um homem perdido no sejo de servir à Igreja que tenha questão escolheu o pequenino Es-

mo- literatura, buscávamos apenas Grande Jackson de Figueiredo, política. Ação de pouco realcea exnressâo mais inédita, mais sin- que, segundo uma frase caricatura ação mesmo humilde, se a tomar-

coisas que os tempos não anuncia- euiar mais original mais nova nas da época, -andava coinprometen- mos na medida da sua poderosavam sequer, mas que vieram e que jmagéns que a vida* nos apresenta- do Pascal"! Grande e querido personalidade. Mas, o fato é que contra uma onda de impopular**fomos obrigados a aceitar e rece- va

B olhávamos tão somente pa- Jackson, mestre da contra-revolu- tle agiu e viveu politicamente du- ü&dc nunca vista, quis colocar

ber! Ainda parece ontem, e ele es- raag coisas que traziam o aspecto ção, da reação do bom senso, da de- rante um certo tempo e que esta na extinta Câmara Alta, a todo otava conosco e tinha sempre uma ^ pura n0vidade Amávamos os íesa da ordem! Como foste, real- íace de político em Jackson nos in- custo, um homem da politica queatitude qualquer e tinha sempre últimos poetas do tempo, as últi- mente, um aviso à nossa descuida- teressa profundamente. todos os Estadosum Idéia certa ou errada, impru- mas inovações, enfim o que osten- da disponibilidade, grandedente ou serena, sobre as coisas, so- ... „__ _ ....,••.bre as acontecimentos, sobre ossentimentos em triunfo na hora. ou „ ,„.,„„ .„...„.... - _„ ... ,.,.,„ . ¦ - ., ,

piado conosco que as gerações passado! Como eras, com teu amor orientado Jackson para o plano po- tado de Sergipe, terra natal demais recentes tinham tido elas às idéias eternas, com o teu co- lítico. Em primeiro lugar, entre- Jackson, o nosso doutrinário daapenas a graça natural de saber nhecimento dos valores tradiclo- gando-se à ação social, Jackson ordem, então com todos os seustudo de fazer tudo mais perfeito, nais e vivos, como eras bem mais obedeceu à sua natureza e ao seu interesses políticos dependendo dode conhecer a vida mais intima- do que nós modernistas fixados, um temperamento. Em seguida, é que seu prestigio governamental, nãomente de compreender melhor t homem que participava da vida ele serviu as suas idéias, a sua vacilou em enviar ao chefe do

..... de uma maneira mais profunda to- moderna, e como era integralmente Igreja, as coisas eternas que ele governo uma carta, verdadeiroUm tempo suficiente para olhar dos os problemas do pensamento e am espírito do nosso tempo esse tanto amava. documento de coragem, de desin-esse morto que nâo é possível di- da arte esquecidos, como estava- teu espírito que procurava numa Foi um político porem, em todo teresse e de altivez. Se o pre-si-rer que é um morto, um longo tem- mos 0lj majS exatamente, igno- hora incerta, entre as horas incer- o caso. Mas que político loi ele? dente desejava à viva força a en-po para examinar esse homem de- rantes como éramos, de todos as tas. realizar uma personalidade qual a sua doutrina? O que pen- trada para o Senado desse politi-«aparecido e julgá-lo, se tivermos *

i através dos séculos, criaram afirmativa e nítida para servir a sava ele do Brasil? Que lições, que co, escreveu Jackson na sua car-forças para isso. este mundo de pensamento, de in- um ideal alto e eterno. Dentro da ensinamentos nos ficaram dele, ta, porque não o presenteava à

A primeira afirmação que pode- tell^éncia e de beleza que. apenas pobreza, dentro do clima espiritual qual foi a sua mensagem na vida bancada do seu próprio Estado?mos fazer de Jackson de Figueire- ai ge n0g< e ^e maneira tão rude do Brasil, dentro da nossa tão té- politica? São perguntas estas que Exemplos, assim, de renúncia ado, é que ele não conheceu a ter- e imperfeita, copiamos e repeti- «ue e tão diluida atmosfera, como a geração que o não conheceu for- toda a hora, a um prestígio ira-rivel doença das almas, esse terri- mos ^ preocupações mais sérias, eras um participante do mundo, co- mula constantemente e deseja sa- co. porque nobremente conquista-»el frio que é o clima desolador do a inquietação fecunda diante dos mo eras um ser realmente univer- ber. cio, exemplos assim, de domínioInferno. Ele era um ser caloroso, problemas da existência, o sentido sal! Tentarei sobre isso dizer alguma dos sentimentos pessoais sobre osQuando no seu tempo de negar, trágico do destino humano, o in- Lembravas um pouco Charles coisa que um pouco o explique e re- interesses** militantes e partida-«oube negar com uma força e uma teresse pela vida nacional, tudo is- Peguy, pela tua penetração total vele.decisão apaixonadas. to todo esse sentimento grave do em certos problemas e pelo senti- No meio da demagogia do ambl-

Quando pôde afirmar alguma mundo toda essa procura de um do humano, ousarei mesmo dizer, ente do seu tempo, no meio da ti-coisa, soube afirmar com fogo, de mentido para a vida foi o que Jack- carnal, que sabias imprimir às rania de um oposicionismo cego,uma maneira total, a que não es- 'son

^e Figueiredo', o conhecimen- coisas do espirito. Lembravas tam- ditado pelos ressentimentos e ali-tâvamos acostumados a assistir, to de Jackson um dia nos revelou bem, um pouco o neto de Renan, mentado pela incultura dos eternosPafticipou da vida brasileira. a:ei- Ele veio como um sinal de re- esse sempre jovem Ernesto Psycha- envenenadores e dos supérfluos, atando o lugar de luta que o destino ação contra nós, contra a no^sa ri, pela tua dramática impulsão ação social de Jackson se destaca

rios, exemplos, assim, que afir-mam um homem, que as convenl-ências não podem sufocar, pode-riamos citar sem conta, indicaçãoVerdadeira de uma personalidadeque vivia sempre intensamentetodas as coisas.

O pensamento político de umlhe assinara. Não foi maior x>r- ^^ inquietude, contra a nossa in- para o absoluto, pela tua fé numa va de maneira original. Era ele, hemem é. de maneira geral, sem-que teve de ser uma semente, um génua suficiência """" **-*"¦""- - ""*"• ¦"* -"™™"* —>¦¦> ~.....-,«"n~ *° í-.™- .,.»-- ....thiciador. Não foi maior porque a«ua missão não era propriamenterealizar, mas advertir os que esta-

Alguns compreenderam esse si-nal. Eram os da sua família e que¦ZU ™,S l».,r-Z andavam ainda transviados nas 11-adormecidos, aquecer coisas .-_,,„ A. ,5. d„„ morid„d.

lição preciosa e firme de cora-rem, para enunciarmos de forma sim- pre 0 resultado de um tempera-pelo amor à autoridade, à discipli- pies a sua posição, um homem que mento e de uma naturezana. tão próprio do homem da mi- pregou, mesmo no plano político, alicia, do soldado. subordinação do efêmero ao *5ter. Jackson não se falsificava. Era,

Eras alguém, Jackson de Figuei- no. Era um homem que defendia a "e fato, naturalmente um auto-redo. Conhecemos tantos homens autoridade constituída contra a ritário. Nascera com a vocação,em série, tantos homens que se "pousse" anarquisante, contra o com o instinto do comando. Eraconfundem na indefinição, que a demagogismo feroz, contra o siste- um chefe. Aonde estivesse eratua figura, Jackson. constituiu pa- ma da indefinição, contra o ro- um chefe. Seus amigos, os que sera nós um encontro preciso e uma mantismo em conflito com as ira- aproximavam dele sofriam, insen-lição que nos é impossível desço- lidades. Era em matéria politicv sivelmente. a sua influência e

um realista e um autoritário E, procuravam a sua orientação e osendo assim, ele falava uma lin- seu conselho, o amor pela cuto-imagem nova para nós, quer c no ridade, tão arraigado e profundo

SoKo'uè Tio "í*l

ateiem que iniciou taram e sentiram, foram esses mes- doutrinário, quer como polemista em Jackson, era de resto, a meuUma luta sozinho e incompreendi- mos como que revelados a si mes- * indignado. «3ue voz era aquela, nos ver. um pouco o amor de si mes-Sn tendo de vencer no seu comba- mos por ele, pelo antagonismo Ir- Dez anos passados sobre a morte perguntávamos antes de conhecê-lo mo e muito o sentimento de al-Se batalha» que travou contra at redutlvel que lhes despertou • de alguém 4 uma prova dfflcll, • de perto. C*tie voz era aquela que piem que trazia Indelevelmente a

geladas, ensinar com rudezamie só rudemente poderiam apren-der.

Não foi. é possível que se diga,«ao IUl. e [nwaivci m»1- ¦"- «**e»> tf.nriil.lYl t\™ srande realizador no terreno %££™J[

herdades da tão dura mocidadeque, ao ouvir a sua voz, reconhece-ram o timbre da grande voz de Ca-sa. Outros não o aceitaram. Per-

uma outra família, ti-da politica. Não foi talvez umgrande escritor, um mágico da ex-pressão, um estilista, um artista ex-eepcional. Pol. porem, multo mais

nham um outro fogo no coração aconservar, tinhamoutro destino.

nascido

Mas,

para nhecer. Poucos, quantos homens,assim como tu, Jackson, encontra-

mesmo os que o não acel- mos na vidat

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. DOMINGO, I/ll/lMl ¦OPLKMENTO LIIEIU1IIO D'A MANHA - PAOIWA ttl

DE FIGUEIREDO - /W*° Fre^/co ScL/ádesesperada experiência da desor- roismo e de amor á pátria, ser- com a ação política, onde esse se- últimas palavras em que a sua In-dem O amor de Jackson pela au- viam os interesses dos políticos In- riador de idéias recolheu e experi- teligência se manifestou, numai, .3 nao será tacll explicar concientes, que, ao trabalharem mentou tantos desenganos, a ação longa conversa sobre o tempo fu-dos dias de hoje. Era, porem, favor do advento revolucionário, católica lhe reservou também a sua turo, sobre o tempo presente, sobreesse e o nosso testemunho ás não sabiam que estavam traba- parte triste, o seu amargo pedaço o destino do Brasil e de nós mes-mais novas gerações, um senti- lhando também contra si mesmos; de pão. Encontrou nos seus compa- mos..m( > dte,no altivo e nobre, que se estavam condenando a mor- nheiros de campanha algumas na- j,jâo sentiremos nós, nos que vãoJackson adquirira um conheci- te, ao total desprestigio, ao com- turezas que o repelliram, algumas deixar-nos em breve, e que estãomena.0 exato, perfeito do valoi das pleto aniquilamento. almas que lhe ficaram indiferentes, conosco, e ignoram que o fim decoisas definidas. Sua experiência a revolução brasileira, que Jack- Mas a sua ação não foi Inútil, .ü- sem destinos está préximo; nãoInterior lhe ensinara que, tanto son adivinhou, que os pequenos «"¦ vieram de multo longe, cha- sentiremos nós, noa que v&o partirnos paises como nos homens, ó surtos de revolta já estavam no seu niados pela sua voz. Outros apren- aio 0 sabem ainda, algo queé possivel avançar numa determi- tempo claramente assinalando; deram Pel° men08' o caminho da fembre, que Indique a presença danada e segura direção, dentro de grande revolução que Jackson sa- ™a ,f„

salí;?! ""íib"™ JÍ!..* . morte? E' Possivel «ue eu estela

um sistema em que todos os con- bia bem que fatalmente teria de ™.q estará para BDnr a tumultuando os dois tempos — otràrios se harmonizem e encon1 seguir as pequenas rebeliões, aos P°na- do meu encontro com Jackson e o

pronunciamentos, ás diversas quar- Dez anos depois da sua morte e da sua morte, mas estou certo, deteladas; essa revolução não era já é tempo de olharmos os seus que na hora de me apertar a maoobra de um pensamento político, atos e- dizermos o que foi a sua pela ultima vez, expenmentelumanão trazia um ritmo preciso, não obra que, antes de tudo, é a reali- secreta sensação ue uespeaiaa,representava uma aspiração con- zaça0 da própria figura que ele uma sensação de que o nao encon-ciente. A revolução era um desaba- nos legou. '"»?» mais no tempo, de que elefo de ressentimentos; era um de- <,_t SJ_ ,. ^_ se ia ausentar.

trem os seus limitesO seu desprezo pela extra-liml-

tação no mundo moral e no mun-do político era completo e inven-eivei.

Os que exploravam de má féeu mesmo de boa fé as sentimen-tos da falsa popularidade, os que seio indefinido de transformação ."fíjJSfS ™

tooit Aquela grande alma, certamen-exploravam em proveito próprio* a <"¦" V°™£ ° "^;"jí »*£: Jackson nãp conheceu a muitos doà te. não estaria na véspera de aban-tacfídulidade dPas massV não ™ra' ffi™- »»?P'!*?^™" que estãõTqui. e muitos que estão </°™J°*™T$Í..a?,™£,-.T.

B;:*SI'-::':íI^k: sH

O escritor, aos três anos de idade,1894

encontravam nenhum trégua;nhuma tolerância, no lutador in-

da revolução brasileira em germi- suas lutas constantes, o mundo dasnação, influências capazes.dé dar! fi?lnJVucâ*Í^Tur^zre'; = amo™s;"o mundo em quejhe

quebrantavel, no* polemista Vte- *e uma direção, um sentido c uma ^'^Xra, a sua estraX dcçu- fora revelada a existência do Cri,-Sn-raaM ™ hnm„m d» mi„n» h» mistiça. Sentíamos que o pais > „„ hnmom ,„rtB iw», nâo hâ to, sem sentir alguma coto, semmerato, no homem da coluna defogo e' da reação dõ boínsenà

*™rchava para um destino, mas, "n^^tenós que não reconheça ter a angústia da viagem inespe-

ÍS ?dealista oue desei.ii emníeSír' sentíamos também que era cega- 'j!Zu0™ „„„ não teSha sentido ">da, dessa viagem, que á estava

Snht"SUS F3KtEK"£ Trseo„qUemeemaorm™ean*IfaAareE S da^ímíTinfen^Wade *>•«*•» ~££*S?£t&

STt£ fofaSo^f retóTÍHe ~ n^r.^uTda* cíltura *»• Q—%* a t$£ da* tt» ££?£ SHSL\

Kí,- hLSÍ 'tííííí? „t PO""™ de uma geração, mas um SSSiSüS Ete ésti níSente no instante, em que nos separamosgestos dramáticos tinham nele fnsopitavel amel« popular. No ??™Çinn!a-. Jí? Jsíat£r<;f?t!' „J nela última vez. ouem sabe se náoí"f„I'"La,í°,r* ií" .'?'S„ie"y.el meie? de uma ignorância total doíleíCHaKa„Vl*mS^nrtiní?nt0 \ft- ™e"é uma^voTüiãor^nhi;™ o ^hVno!í™ 2 .^'ttooSS. SÍSTA Sfte^berdkdttico da ordem militar nao o dei- Brasil para a rCvolução. poi este £L™ ?eToie uma palavra incompreensível de

ímpeto desordenado e perigoso que J '. adeus, que foi a origem da melan-

Jackson adivinhou e que combateu. Deus parece que o retirou do „,[[,, da tristeza, imprecisa e in-, .. , . , . E isto o explica integralmente; e mundo para que a sua mensagem, definida QUe me envolveu naquela

po, um Indicio de nobre ansleda- ist0 0 justificará aos que o julga- entre nós, se revestisse de uma elo- hora de adeus _ hora que dez anos

fenômeno denominado o " tenentismo" e que era. ao mesmo tem-

de patriótica, como tambémAusência nos jovens oficiaisverdadeiro espirito militar.

Defendendo o poder legal.

da brasileira, ariscando-se dia-riamente, Jackson de Figueiredo se'mantinha numa posição perigosa.A esse grande espírito, de resto, aesse homem sinfíular pela for-ça inouebrantnvel da sua perso-

em

fêtWs \\\\m •'!

Oufro retrato de Í924

IGREJA CATÓLICAA Igreja Católica não tem

rem devedor de uma explicação. quencla mais forte, de uma pureza passaaos não foram suficientes pa-Não creio que eu tenha revelado, maior. Deus quis sacrificar a sua ra apagar da minha lembrança? i

cm termos lógicos e inteligíveis, o semente ao nosso florescimento fu- jackson seguiu nobremente o seu \ko, c pensamento político jacksonlano, turo. Morto Jackson. falou ele an- caminho até o fim. até o momento r

num tempo em que essa defesi mas, creio, pelo menos, que abordei da mais fortemente em nós. A sua cm que se abandonou ãs ãguas ter- |importava num duro sacrifício, o seu tremor, o seu temor, a sua çueda nas ãguas selvagens e livres, rivelSi em que se entre^u de bra- Snum gçsto de renúncia a toda a angústia política. I.?l^T.T.nííS„0Sm™!!í?.'S.Í" "» cruzados aos elementos, até osimoitia oúbllca defendendo o mado que ° ,sll6nc'° da morte ">r- momento em que aceitou a morte, rèoverno e nesse' momentoa da vi- Nào poderei ocultar os enganos, nou impressionante na sua nudez que era na verdade a vida. Deus igoverno e, nes.« momento aa vi ^ err0Si 0s faiSos juízos de Jackson essencial. quis que ele tivesse morte bela. i

sobre os homens d*i seu tempo. Es- Era um homem livre. E^a uma Partiu deste mundo levado peloses erros esses enganos, esses f0rca humana. Era um homem mar misterioso, pelo mar que èfalsos juizos, porem, a meu ver, intenso e singular. testemunha viva do Princípio: le- iainda enobrecem mais o nosso revolucionário e nreea. vado por esse mal por onde o \

au. amigo ausente. Não poderei negar va o iTdSSna ã nK£ EsPirlto de ^^ e™ Ievad0- tam'fa1IO.de. a esse defensor que va- <•«= 0-?°2?^í*"SLS5?^"SS ^ d7íaL, dò bomlinso da bem - mar qu e de.|0 Verte. ajsHa por uma legião, os defendidos »ue"alexf£"aní- %£"*£ T£y££. volta aos quatbos eternos. Gra um homens perdidos no escuro silênco -.

não se mostravam evcepcionalmen- era™' » '"£»¦ " ">"' ^SJSS'™JL rebelde e sua ação de doutrinador hilcial, mar que tem uma voz,^^que ¦

te matos pela defesa não pare- °» l"?afiS!™ 2? "SS^,™ Â foi toda no sentido de uma sub- é a memóriado mundo mw aciam compreender o justo

'valor 0o?2,.r"açaíi ~rt.™ T^hrfS mlssSo total "• ensinamentos da primeiros momentos, na sua auro-das palavras de Jacksoi tão des- ™rHSri^n.^SSim?ito

ÍS^ "^J» CatóUca. » primeira,

assombradas e coralosas. Uma trl- T^^fàJ! S»^H«Xví l J. » . u - ,ackson reaUam 'n<«Kralmente »buna no Parlamento o único tal- rlto autoritário que ele exaltava e gja um romântico, um sonhador, Sua missão de homem-semente, en-«£ «oi^Mtrtnadores poítd do oue bravamente .reagiam contra o um vlajante imaginário, e pregou

™uS-nos a todos, dignificou-

à^u t°Vo não obteve E isto avan«° *» «™'»íao «sses homeru violentamente a necessidade de nos „^ a todos, lembrou-nos os maisman™ne»Sl>ar]amènto 5 Sn- 1m incarnavam- princípios, nos integrarmos ua reaUdade, de aban- .it,» problemas do nosso destino,tavam M^ldKTdeaTm?ls™b- h°Je' *"» Ia?mís,'ue ^'"SS donarmos ts fantasias, de voltar- N^Tfâ apenas . pequena alma a .^,-, ^„„...„ .._rürrir sMíK lassrssrt.t.íar srar&asrjrassfi ssur^ssus: tzSmud^èr ouando ere oaradoxál! Converteram-se em heróis da re- « climas e de todos os homens. {K^que estariam eonSenadas ao homen, conservadores. Estesnmntebnaderoue anaròuisaOTi aa volução e a revolução os utilizou pelo amor de todos os homens e mo, sem a sua presença generosa podem se agarrar mais ou me-coisas SuandoI era oToróorio nod™ P"1' em s^ulà*. apagá-los e, pa- mnguem foi mais enraizado no seu e magnífica. nos a estes ou àqueles hábito»Sue se abandonara à deSaeorta *"* que fiara sempre, da vida po.I- pais, mais desesperadamente da Que a memória desse homem, mentals e resistirem mais ou

Pertolm-m? õTmora™ Un- tic» do BrasU* í?0^" errou "^ sua terr» e da sua Kente *> 1ue desU homem de fogo que o mar „™„, 1 „,„» hioótese Cientí-»„ „I™T.^ítn £,^KI™ nrfítl bre eles. Mas. adivinhou os acon- jackson, do que esse Jackson que um dia apagou, seja para nós uma menos. aT ""f -lp0 „K.-™ .m S1^5a ^rsonaSr^I '«ãmentos. Acontecimentos que procura™ nol livros de viagemM o ^deira! umaTfonte de resistência "ca. A Igreja nao os obriga aSnj»^f ZJSSLiSt^SSSS! ™í ™rala e 1ue 1* ¦""• encontraram consolo melancóUco à perdida li- e de ânimo para este duro tempo nada a este resnelto.ponde e responderá sempre por mals na ^na o soldado, o cons- herdade de poder partir para as nosso JACKSON DE PIOUEtREDOorna atituae vaunea. trator, o defensor, o doutrinador, distâncias sonhadas. Em JacksonA«i mais novos, ami w.mai n0 mei0 ^ ignorancla, nomeio temos, enfim, um exempl-. dos mais«mnnhecem para a vlda pW«, da imprecisão da vida brasUeira raros entre nos de um homem queJark-on aparece '™"'",™n,adf- sabia querer e sabia exatamente o abandonando o seu individualls-terromaaida colocação política e«ta realizou plenamente a suaçolc-acão reclama um entendlmen- piIU-iredo orocurou personalidade. Não perdeu, no dc-to e uma explicação, o ™»° b.™- rtlJac«^°dde a S «raStó Tm ""Ho d<> 1™ ers, preferência, ten-Bilelro. as nerepectlvas brosl-eiras dar sen tido a uma g«ação em lncqilnaçâo "-y,

indivíduo, ne-mudaram mmtoM coisas estão tão marcha. Mas a «"JJ^L* íaoK nhuma das virtudes, nenhuma dasdiferentes, oue é imnpsshieV deiwr »™J«» dfSt8dé^ta

caLta- características, nenhuma qualida-de esclarecer com Insistência a no- Ortega y o^t oelinm M" personalida-sbaalo ds nosso amigo, do homem fieis a si mesmas, mne» a nmsao . • ..„„._.„„.„ „ ,i mea„,u fi-«tn-ortinârio que nos abandonou 2^ ~ 5» Jj**5S »u-ÍT^fro„«ir« que a

"ui Péaaaassaassg S.1SHSS •.-jrjwsvssas:

r=,re numerosa, maritima «S^S

5jtW?3ÜBft -"

Berel talvez excessivo, explican- "SãHo falar Mas, foi por isso Ainda parece que o estou vendodo. ainda, o pensamento político ££mtT Uma voz solitária. No en- aqui, nesta hora, em que sentimosdesse homem que nós conhecemos , t

' miIagre da Sua persona- 1«e a saudade e alguma cok- co-

no melo das suas lutas, multas ve- Kg£S múltipla fez com que a mo o ar que respiramos ainda pa-ces odiado, mas sempre cercado do Sipto e apenw em tomo dele rece que o estou vendo tal como oresnelto dos seus próprios Iniml- J^Ssem homem, que depois conheci pela prime ira vez eu, jo-«m Idolrtm as suas idéi« . a quem Srtada e de D?Sc'eitSs ele

Jackson de Figueiredo conhecia e|e comunicou a sua chama, a sua gtíJJSL" SÓmem fo^> e tóSo Brasil Sabia da fragilidade das crença e a sua bandeira. SeXolo

*de tud™o q^era pTsuas instituições. Conhecia de per- ^ UKOa a reunir, procurando ra mim gdmlravel, sublime, for-

to a nossa vida. Sabia bem que fa,ar uma iinguagem de bom sen- mldavel. incomparavel. Ainda onão Unhamos para resistir aos em- m chamando á realidade os que ^to,, vendo aqui, também, na suabates e surpresa» de uma revolu- cstavam transviados ou adormeci- ultima imagem, no nosso ultimoífto. que no seu tempo jã se anun- d08 Afirmou, em primeiro lugar, a passeio, companheiro que fui, porciava violentamente, uma estrutu- agente necessidade de nos voltar- acas0, da última noite desse ho-ra rígida, um fundamento firme, m(Jg para nós mesmos, a necessl- mem que tanto amava as caminha-«ma revolução séria, na opinião ne dade de contemplarmos e meditar- das noturnas onde tudo como queJackson, o próprio advento do mM sobre a nossa yida taterior. ^ conserta para que a alma, paracaos. O seu apego a legalidade po- primejr0 ^0 que nenhum outro, ele que 0 espírito das coisas se reveledera ser compreendido de uma ma- ^ntiu angustlosamente o deserto melhor e de maneira mais visívelnelra. escolar nelo seu horror pro- espiritual brasileiro. ao nosso entendimento,fundo e Invencível a ese espectro fa . Quisera poder evocar, nesta salaque era para ele a Revolução. De "™jBXL" tão cheia dele neste Instante, estatodos os lado», no entanto, o pen- "^"gSbctamo

brasileiro precisa- derradeira visão de Jackson, -.taaador político, o observador e o

^- ° ™™'™™ad0

da intefigêncla última noite da sua vida de quedente que ele era, se ia apercebeu- IJaíudA O negativismo presun- fui testemunha. Eu que chegarado de que toda a ordem publica do í^"e'r%tteisSio herdado do sé- tão tarde ao seu conhecimento, jáBrasil, principiara a ser minada As S°XIX a desmoralização e bea- em seus últimos tempos, eu que oforcas capazes de, conter a onda «""jjfij

^ ciência, ou, en- tivera por tão pouco tempo, eu quecrescente e indefinida da revolução **™$^-fi^-tacl. da Igreja não dissera, talvez, nada de maiorprincipiavam, ou melhor entravam "r»»;1^

Jackson encon- ao seu coração e ao seu espirito,em plena atmosfera de perturbação, f J™1"!

'°A,mm^a sua ação de lu- fora no entanto, o escolhido para

eorrupção nolltlca e de desordem. ^L^tão dí ^tetlaSor d. me despedir dele de maneira mais

^f^SwÊSic^P*Pbe* ^tot^tafolo«ont««. demorada ouvlndo-ll. Ulve. -

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Luiz de Figueiredo Marttns. mi it Jtekstm it M-peiMdo

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SUPLEMENTO UTEKAMO D'A MANHA POM1NGO, St/11/IMl :Vil.

Sobre inteligência e instinto - jacksondef.guf.redo

Pergunta-me v'. se concordocom as definições de Inteligên-çia e Razão que acaba de ler nonotável volume de "Ensaios",ultimamente publicado pelo sr.Antônio Sérgio, de quem se po-de dizer qüe è; neste momento,o chefe da reação intelectualis-te, ultra-racionalista, nos domi-nios ãa pedagogia e da políticaportuguesas,.. E talvez por istovive hoje entre nós e se decla-ra quase incompatível com avida gostosamente revoluciona-ria dos que por lá derrubaramo velho trono, porque não eranem inteligente, nem racionalna secular orientação politica¦e paáagôgica...

Quem sabe, meu bom amigote o sr. Antônio Sérgio não é.ele próprio, um bom exemplodo 7/ielhor e jiiais alto que podefazer a. inteligência desligadada tradição?

Olhe: poucos escritores temtido o Brasil tão pouco amantesdas questões de linguagemquanto eu, e certo nisto se re-flcte uma insuficiência da mi-nha cultura, que jamais escon-di e que, sinceramente, me es-torço por fazer desaparecer..Mas sem resultado notável, tan-to c certo que papagaio velhonão aprende a falar.

Sou assim muito desapaixona-do em questões de técnica filo-sófica e científica, mas riem porisso deixo de compreender omql imenso que resulta para aeullura geral dos povos moãer-nos ào absoluto abandono dastradições da linguagem, maxi-mè em certos domínios, em queas palavras já adquiriram no-breza histórica e universalmen-te reconhecida de quantos, comreal saber, as trabalham.

Ora, basta ler o livro que v.me indicou, para ficar-se con-Vicio dc que o autor, o sr. An-tônio Sérgio, não peca nestascoisas por ignorância. Não nosficará, pois, o direito de descon-fiar dn sua feição "positiva'"?

Creio, men caro Camilo, que.no caso ão sr. Sérgio, o que sevê é um negaãor que receia asconseqüências da negação, etudo quanto não pode esconderdesse doloroso estado de espíri-to é a desordem de que está im-•preznaáa a sua linguagem, lin-guagem de bom revolucionário,çuc tudo quer reduzir a umafórmula intelectual, animadaAo mais profundo individualiS'mo.

Assim, meu amigo, não estra-fihe v. que um pensador dota-Ao dc tão grande poder de di-ferenciação, se atire à aventuraAe confundir a inteligência e arazão com o instinto. <-Pág120). E deixo de lado tudo omais nas subdivisões que esta-"belece, tanto teóricas como pra-ttcas, nestes domínios da inte-ligêvcía.

O que é do saber comum é queA inteligência muitos _ nomestem sido aplicados mas nenhumque a confunãa com o instinto

Vem dai, talvez, a sua admira-ção... Realmente o sr. Sérgionão ligou muita importância,em tal caso, a algumas regrasa que lodo o pedagogo, princi-pal-mente, deve cingir-se, "pordever de disciplina, e assimitem a sua definição tem os ca-rateres de uma boa definição,,tòbrieãade e clareza, nem aClassificação <que o trecho indtretamente revela) firma o queé essencial a uma classificação.jtois é claro que ali não se es-tabelecè a ausência da confu-ido entre os objetos da analise.

Üis como /ala o sr. Sérgio:' "A i?iteligência é ò pendor, —

• instinto, digamos assim,que nos leva a estabelecer umaunidade, etc."; "a Razão é omesmo pendor a estabeleceruma harmonia, etc."

No que ai se lê ficam desres-peitadas as regras da classifica-ção tanto geral como particular.O mai, materialista dos mate-rkUiatat considerará o instinto

Piais útil ao homem do que a in-ceiigência, dando- caráter demaior certeza às suas operações,mas somente porque esquece queestas operações só se referem aomundo material, e qüe a inteli-gc7icia, dependendo, das facul-dades sensitivas, não resta dú-vida, só extrinsecamenie depen-de, e é, em si mesma, a faculrdade pela qual o homem perce-be as verdades universais, ne-cessárias, a que ninguém çhe-garia pelos sentidos.

Mesmo na diferença que es-tabelecè o sr. Sértíio entre in-teligência* e razão, se não hácompleta .arbitrariedade, há.pelo menos, muito obscura de-terminação dos seus principios,coisa de que se ressentem osdois mais importantes ensaiosdo seu livro — os que trazem ostítulos de '¦Ciência e educação"e "Educação e filosofia".

Porque a certas coisas não émais possivel mudar o sentido,tradicional, sem que a contra-ãicão tome conta de nós.

Melhor do que tudo quantonos diz ali o sr. Sérgio está emqualquer compêndio com a for-ca enorme da simplicidade: uainteligência é a faculdade espi-ritual quando percebe imeâia-tamente; esta mesma faculda-dc é razão quando deduz umaverdade de outra verdade jáconhecida".

Emfim, o que, como v. tam-bem não comprendo, é que seditame inteligência, razão, omesmo que instinto — termoeste que se opõe aos. dois pri'metros e cuja universal defini-cão. mesmo entre os místicosindividualistas; dentro do qua-dro que fazem da hierarquiados instintos, ê: foi sempre a de"uma tendência inata e "cega"a biiscar certos fins por meios"não premeditados".

Eu creio firmemente que ainteligência da Revolução nãose limita, a ser uma purae ce-ga tendência, pelo menos nosseus mais altos representantes,maximé naqueles que, como e

sr. Antônio Sérgio, já com tan- ignorância do escritor, mas éto cuidado refletem sobre esta sim a inevitável contradição decoisa horrível que é querer fa- todos os pensadores que, porzer a vida vasia de idéias. injustificável capricho inãivi-

dualista, despresam os critériosII clássicos da psicologia.

Não compreendeu, v., talvez,meu bom amigo, o porque sehavia de mostrar-lhe que o sr-Antônio Sérgio dava à inteli-gência a mesma significação deinstinto (c, de fato, alem deempregar, a própria palavra, jáa antecedera ão termo "pen-dor");- disse-lhe eu, no prin-cipio da minha primeira cartaque aquele vigoroso escritor secaracteriza por um ultra-racio-nalismo, úm ultra-intelectualis-mo, que é o sinal do mais dolo-rosa individualismo, tsto é, da-quele em que o indivíduo reagecom todas as sitas forças con-tra as paixões, os "instiníos,'tos "pendores", as forças obs-curas gue também fazem a "to-talidade humana", e. é misteriluminar com a inteligência pa-ra governar com a vontade.

Mas também não lhe disse euque o sr. Sérgio não podia ex-primir-se daquele modo . porignorância e que é ele até umapaixonado pelo culto das idéiase da objetividade?

Nada de " sentimentalismos,insttntivismos, etc., para osr.Antônio Sérgio.

Quando, pelo contrário, . selhe depara um saudosista, umsentimental ou um puro verba-lista como o sr. Junqueiro, emsua terra, o que logo lhe atiraàs faces é aquela pergunta usa-da pelo grande Antero. , numadas shas discussões: " Mas,exmo. senhor, será possivel vi-ver sem idéias? — Esta c agrande questão".

Eu, meu caro Camilo, tantoao excelso Quental como aoilustre escritor que lhe inleres-sa, diria, sem medo de errar,que a grande questão não será¦talvez a de ser ou não possívelção na obra do sr. Sérgio, essacontradição hão se origina da

Assim .é que em toda estaquestão, de que trato, o que seevidencia, após um certo esfor-ço da nossa parte, é que o sr.Antônio Sérgio nos seus "En-sáios" de pedagogia não querempregar jamais a palavra "fa-culdade", palavra que tem con-tra si algu7is séculos de bonsserviços à causa da ordem e daInteligência, e ç, por isto mes-nio, nestes tempos de desordeme desinteligência, palavra, su-premamente desprezível.

Felizmente, porem, já os mes-mos individualistas, comg o sr.Sérgio, — individualistas nosentido em que nós, católicos,vulgarmente empregamos estapalavra — já os mesmos indivi-dualistas, como o sr. Sérgio, es-tão absolutamente desconten-tes com os resultados da suaprópria vitória, contra as me-didas impostas pela Igreja, emtodos os tempos, aos que se dãoà perigosissima função de pen-sar para os demais homens,isto é, de os guiar, em nome darazão. E' que, como dizia Joséde Maistre, o veneno é pelassuas conseqüências que se dei-xa conhecer...

Eu bem compreendo o quequis exprimir o sr. Sérgio —veja lá, meu caro Camilo! —no sincero desejo de defenderos direitos da razão neste pan-âe?nÔ7iio âe semi-ídéias, que é oem que se debatem os dignosfilhos ãa Reforma, ou melhor,da renascença ão paganismo,sem mais o senso da beleza...

Se v. quiser ver claramentequal é o pensamento do sr.Sérgio, volte á página 125 dosseus "Ensaios" e então veráque o qúe ele quer dizer, comchamar dè instinto à Inteligên-cia, é que nâo está em nós odeixar de pensar, se somos ho-

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TÚMULO DE JXCKSON DE FIGUEIREDO — No cemitério de São Francisco Xavier, osomigos do esseritor ergueram o túmulo em qm ele havia de dormir o último sono. Monu-mento austero, construído de granito, protegido ppr dois leões, aquele túmulo está de plena

harmonia com o homem destemido, o lutador incansável, que em toda a vida foiJackson da Figueiredo

mens, é que não está em nós ei-¦.'ermos sei» iiicios. Eis, expostoo seu pensamento: "a inteligt-bilidade do tmiiwso não c ninaconclusão tía ciéncio, mas apressuposição que a fez nascer,achamos o universo inteligívelporque partimos da preconcei-to de que ele o era, filho donosso instinto de írtfeíiolbisiida-de, etc".

E este7ide-se uma página paraamparar uma tal exposição aoque nós diríamos em poucas pa-lavras, isto é, que o homem êum ser racional, ou que a es-séncia do homem è ser racio-nal, ou ainda, como Pascal a característica do homem c orazão, é o pensamento.

Não é isto, porem, de modoalgum, equivalente, pelo menoscm filosofia, aa que diz o sr.Sérgio, à página 126 do seu for-moso livro: que "a razão, porsua vez, é um sentimento e êum instinto".

Q não ultrapassar-se o ho-mem ou a inteligência humana,o ter ela limites naturais, não eser sujeita a nenhuma fatalida-dc, pois se não compreende umser ultrapassando a sua pro-pria essência, o que eqüivaleriaa deixar de ser o que é. O quecaracteriza a inteligência hu-mana é ser livre rios limites quelhe deu Deus. O instinto é jus-tamente mais "certo'' porquenão escolhe, executa aquilo pa-ra que foi feito sem vacilaçõesde critério.

O admitir-se, mesmo só de umponto de vista filosófico, racio-nal, o Deus Criador, das almascomo das coisas, é o bastantepara resolver e esclarecer todaesta questão, tão obscura e com-plicada sè, na própria inteli-gência, se na própria razão, tãosomente, se quer encontrar ofundamento da vida racional,tal como faz o sr. Antônio Sèr-cio.

QMü-ído em outro ponto deseu livro, pág. 201, o ir. Sérgio,discutindo o que dissera Fer-rero, isto è, que "o regime an-tigó áo racionalismo não é con-viver sem idéias. O determinaras idéias sem as quais não sepode viver é que será talvez amagna questão.

Mas não divaguemos, poispreciso, em rigorosa justiça, dt'zer-lhe que, de fato, se existe,a meu vert uma real contradi-trário à natureza humana",mais uma vez comete, nâo direijá um absurdo mas um dessesseus comuns ataques ao que éuniversal e historicamente re-conhecido no domínio da filo-Sofia, pois esta é a pergunta qúeformula: "mas a qual das hu-manas naturezas?" E continua:Releva-nos aqui distinguir duas:a animal e a espiritual, a dosinstintos e a da razão".

Ora, o certo è que não há"duas naturezas humanas". Osr. Sérgio poderia falar da na-tureza da -razão, da.natureza doinstinto, etc, mas jamais di-zer o que disse, porque quandonão se quer inovar pelo simplesgosto de inovar — diz-se sim-plcsmente que a natureza hu-mana se nos apresenta comocomposta de razão, $e instintos,de espiritualidade, de animãli-dade, etc.

Enfim, meu caro'Camilo, co-mo x-ê v., o sr. Sérgio é dos queerram por orgulho. Ele amauma regra, quer que- Ps-homensa reconheçam,-, tanto no domi-nio moral como ito do puro co-nhecimento, mas... eis a ver-daãeira grande questão.i. —ele, o sr. Sérgio, é quem temque a determinar, apontá-la,etc

Assim é sempre, assim foisempre-no pandemônio filosó-fico. desde o que ele próprio, oautor dos *'Ensáios", chamoude "disciplina hèlênica".

Disciplina hèlênica! meu ca-ro Camilo!

Deus tenha piedade de nós,se é certo que nos degradamos,tal como diz o sr. Sérgio, todasas veies'que a exorbitamos, oque, a meu ver, quer dizer cria-mos alouma coisa do nada.

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5Í/AM SENTIMENTAL - barreto filho"Suma Sentimental raclool-

BraÃil não poderia mais ser çío politica nu mesmo material"congelado", para aguardar. Imo- do que um mosquito. Nela só es-

rol uma lenta c segura transligu- tou porque nüo há coisa mais sé-ração volta a atormenta-lo ia ria do que um passo dado paraa«ura com', uma afirmação mo- quem teu» collciência. Nela só es-lan-oltca, aquele problema que ja tou porque a concléncla me obri-anteriormente cie abordava, co- tia a qualquer coisa a que chama-mo uma questão a ser resolvida. ' ' ¦"*** Níio vitá aí uma nova Idade Mo-

dilatacio da vida, como a aua In-tenstflcação. O mal é ah-oluva-mente ilusório, nao pevisue nalimi-

, ,1Ilm..,„, . „..*,„ „„ f»...m, .. _-„., — ma substância real, e nó» nos aU-cie resto sempre «ns- cobrir as suas ligações com os va- mentamos deie, por j»fl«r» aUlcl^*-

Mo último ano de sua vida, Irlnaç&o politica, usaria do ferro • "tradição da dor humana", «mlil- uma«.M.idíi ele percebeu que ns ooleti- do loco para consaivar o que ai ente natural «tí ma »'t».. •"•*• :' nada".SS eitínat» encerram era aí está. .alves sem ra*>. o ueosar d», fi- durante este tempo que • A sua ambição era condusirum urinei,io cie aiiimadvereao assim neste momento (momento problema ao umvci,..,, forcas da paUto. analisá-las, dc*-«mira a v-esso- quando ele 63 que começou em 1925) me tira to- eternos, que de resto sempre «ns- cobrir as suas ligações com os v* ...„_..._ -rr--.-^

«.tamos ab-cVfrontim coItTe nacional (ia his* do e qualquer entusiasmo psra a titulu a base de Ioda a sua stivi- ores eternos, fornecer ao homem çâo; na;^'^-A^J^utri-toíiH u™ndo se convenceu de que lula, e c». hoje tenho menos atubl- dade, começa . dominar, absorven- Instmtoa que seguramente o d«* f»™-m*> ço

aa ateuma de n«M^wxm. M"""*.;> «= .,*_,. ¦*.__ „„. „,,..„ „. —.— „,»„„,, temente, as bum pretKiupaçoei. viassem do erro moral, e lato pi* ente, que tenna saoor ou_ próprio-

-O erro mais comum, dia ele, e amor á vida em toda a sua Inten- dades reais. Para que o ato do lio-supor que teern tanto valor assim sldade e, isso porque aquele erro mem crie alguma coisa oo novocs 90 ou 80 anos que o homem vi- "onde toca paralisa a vida". que ae lhe acrescente, e necessa-vc nesta luta. NSo. O que teia Não era sem razão que o pro- rio que esse ato possua um caraiervalor é o a!o de criação da alma. blema da beleza humana foi "um» específico do ato determ.naao porDe onde sò ter valor o que ela é das suas conatantes preocupações, uma qualidade livre: e necessário

rei devera tie estado. È Isto já a para alem do tempo. Dc onde "E a imaginação, dis ele, talvei que ele seja revestido ao caráterhora ern quc, com o mamo ardor imaginar-se. qu<. um instante só dc simplesmente amorosa, «rica, tal- do ato moral,

dia aniiT de Carlos Magno (onde e o mesmo entustamo que levei contacto com a eternidade possa ves a mais profundamente rellgin- A ética tle J»Ç*"-»"* e£,hf5e"KJ«Mk«Srforte áf V a aoucl-a luU eu me sinto de todo valer tudo o mais que imagina- sa, me leva a pensar que, navio», cialmente dinâmica a unna un»Sf", "nV*

írantará alSnli* TOltado ?«a 2 Salema do uni- mos-. (Carta a Alceu.de SS-W de só a Beleza, e talves só a Belc» sentido de criação: agir, so e per-

burgo contra burgo, famIUa con- versai, do católico, do eterno, do setembro do IM»). Há aqui enun- humana, merecera uni olhar ime-tra familia na decadência cada que tanto pode existir existindo o ciada uma idéia que nío re deve dltattvo, e so ela contem o provra maior do sentido social* A Brasil como não existindo (carta deixar despercebida, porque e oaquem cr* na Igreja ainda resta a > Alceu de 2-J de outubro de pa« de esclarecer de muito as noJ)iix'it«fte de uma crise finai, ante- 1938). ... .*„„,,«.ripando üfelliores dias, e a outra Existem, ao longo de toda a cor- na, dc eomiinidade entre I*esf*oas.dé que, como já se tem visto, um respoiidêucia de 1»», uma serie que foi o núcleo simples de ura-

r» outro lado, deixará, mais uma O seu espirito ingressa,veai. a Europa e vizinhança tia tre- mo ano de sua vida terrena, ro-va e na ruína. Ter» ehegsdo pois deada dc sombras, e tocado aoo momento em que a salvação in- mesmo tempo de un. vago «tre-dlvitlual somente «e impõe? O» no- mecimento, de uma espectativa

tnitido para criar, e nada se cria„ com o ato sem revestimento mu-

blema da felicidade". (Carta oe ral, apenas se distila uma va ag»-15-16 de dezembro de 1927». Uma taç&o que sc perde no vácuo.

ções de amlzide, de pessoa huma- carta posterior, de 6-7 de agosto O grande drama porem, do des*-de 193B. repete o mesmo motivo: tino, para esse filosofo dos alos

"A não ser uma pescaria quase humanes, é que o ato moral, se* -*--'--j- como a adequação am>uma finalidade tntnnse-,

-« ..™, ........ - — -*0*- a su* especificação '

Umamentê üm" lento trãbãüiõ de fica a depender em Ultima anal»-escavação interna, a ver se na car- se. da inteligência, que conheço

formando, por assim diser, a sua t» a você consigo explicar, pelo essa finalidade. Eiitre.anto. "ncin

própria imorrolldade, na medida menos, o problema que mala me sempre o conhecimento eorrespou-em que se terna mais espiritual, tem atormentado desde «ue me en- •"- • ¦¦"¦ >'-.*.»™e..t-, ri.i meada .

tSmen™ í»o eixo™ nX°i Ta 1FS£^~*iSÍZ^«S& E*TÍ lSS~»jS ativdjd,, . uágies que fui tW ontem * -r definindo ,

£ra a cTvM«»çao que avança pa- ciando no Jackson essa decepção, também de sua singular li.llu6.i- ra a gargantai oue barra da Tljuca, '»"'»*'•''ra outro lado, deixará, mais uma O seu espirito Ingressa, nesse ÚIU- ca. A alina a pasoa. se eria, e odo na minha vWa, tetoi sido ul- ««mente ta

um oniívaismo espiritualforma e cresce durante

quevida,

de a um afastamento do pecado"«•--"fcarín SZ fSJZTu: íecSilS toílÜs"^ KiasTue^elí Ã"crlição"dá aima"^Tomem e KrTdtT.TNÕIc"H^ü 1&"íntima* B ieao ele considerava "<%»%<»¦

»crã, dentro em pouco, senão om>me de uma coisa atwolutamentedtvci-sa. Ora. eu se pudesse con-¦ervar intactos or princípios mo-rato qne informam a minha dou-

(Carta de 26-3. da

-o"clsma ele" um'"valor "aVtêntico,~"não'po-

B' por Isso que a sua teoria do

tuiain i

arnisoa de c*«mc"e"(>^7mas"todo« reflete a sua meditação.

ser "raciocinada"fnm asTiMaa outras aue coiuti- mo um crime ontologlco, . _.-. _.~ „.~ .com aquelas ™>™*Jlue ™ "* do „•- , marcha pai-a o nada, dia deixar de aer um alto dado homem deviasus Come„m

somente os mistério' sobre qual. a cada passo, metafísico, de ter uma significa- porque importava revestir a «JJ»eram sou»..™ *» , .'!J1...-. çüo universa| e tranücendente de um caráter racional, conforme(carta de 20-31 "de outubro de 271 à finalidade, mas seria an-.es de

cs seus escritores, os seus poetas,oa seus filósofos, depositários d*» por Isso também que ele re-

DEPOIMENTOF.m 1909 <ni era estudante de preparatórios no Colégio nio-

crsano, cm Alagoas. Co.no este colísto dirigido )ior Irmãos Ma-rislas ainda não sc oficializara, nós tínhamos quc prestar examesoo Liceu Alagoano — único estabclcdmento legal, no Estado.

Na primeira prova escrita de História Geral, sentou-se -jun-

to a mim o cstu.laule Jackson de Figueiredo, que fora a Maceió

finalizar os preparatórios cujos exames facilinws, então atraiam

pela sua lienevolõncia extrema, iniimcros rapazes dc todo o Nor-

te <lo p.»is. mie durante alguns dias de provas ontiiiliam certifi-

cado somtnlc possíveis dc obter durante vários anos dc labuta

Nem Jackson nem eu, ji na quinta série do curso de Madureza

precisávamos da condescendência dos examinadoras, quase cri-

niinnsa daquela fase do ensino em Alag.tas. Pi.reni, graças a

triste fama quc o velho «Wicandário de minha terra gozava na-

quclcs longíiit|iios tempos, conheci um cimipanliciro cujos cn-

contros c reencontros iriam agir profundamente cm muilia ado-

fcsccncia. Jackson n»c surpreendera em plena fase de foi inação

escolar, sol. a orientação religiosa quc meus pais e meus mestres

mc haviam por felicidade gravado no meu sub-conciente (le ma-

neiia indelével. Tão indelével que cie com a sedução de sua eul-

tu.a então racionalista, não conseguira arruzá-la dc todo; e quan-

do eu tempos depois, soubera da conversão <lo amigo, a impres-

lão .-xperinic-nlada já no declívit» mais forte de minhas crenças

abaladas profundamente pela podridão racionalista da época, lo.

«ue o companheiro que sem querer, por convicção as abalara,

encarregara-se ele próprio, com a sua entrada para a Igreja, de

restaurá-las com mais força, agora escudadas iu experiência que

o .k-sencaminl-ador houvera adquirido depois de atravessar a ado-

lescéncia, sem Fé e sem Deus. O bem que Jackson me fez des

»i»nrlo-n,r da lereia «W. meus |«is e meus mestres me haviam

acostumado, e com'a sua conversão rcco.itiliando-me novamente

con. ela, foi enornte. Atribuo a isto eu. parle as minhas con-'vicções atuais nas verdades do Cristo. Cou. a sua repentina en-

trada pira o corpo (mico de fieis da maior comunhão do mundo,

Jackson se me figurava um irmão desconhecido e aventuroso

criado fora do lar que me fizera acidentalmente fugitivo da casa

<l«. ,k»; .- que fora correr mundo ]»ara adquirir uma expepenca

«ra lucrei, convencendo-me da minha predestinação de filho

pródigo, tia cerlez-a de que a verdadeira pátria ora aquela de que

me afastara deviao » ele, ou mcllior. devido a num pela tib.cza

de minha Fé. Ele n-gressara un. dia, depois de sua vagabunda-

gem inquieta pelos desertos, pelas outras pátrias iniclizes

vastatlas, com a noticia dc que -

JL SrífíS ri urÂTml- d»"» » «*» P«<« Perturbante e tudo uma "Suma sentlmcnta ,"uítaSfa. íiSÍ^ m«nTMe5Sõ hibridismo de seus efeitos que, se Uto é, um mergulho experimentalSi<<!S3^ Í..SÍ i.^?f em íSn- *« «"» ••*'. * «"»¦ transpíreiicla no mundt, afetivo nos sulHerrí-í11^~' ítaum-t «ST rZ Sodí l»ra *» Personalidade, é uma es- neos obscuros onde estão aquelas?C% ^iriS™.^ m?m ySm P^âo espiritual talves a mau, forças cegas da naturesa humana

humana, o conflito entre a pessoa Ias, simplesmente, seria, para o lio-t o Indivíduo se agrava, e, poi mem moderno, em quc elas se en-conseguinte o Eroí e o poder fu- centram exasperadas, as mais dasnesto e ao mesmo tempo purifica vezes inutil e comportando «" ou-dor da belexa que o desperta, de- pio perigo: o de que elas. mal do-ve ser o primeiro objeto de uma minadas venham a perturbar

sinais verdadeiros da morte morai-Regra simples de apreender asimplicidade das minhas atitudes.amo tudo quanto é viva ¦.. porqueo vivo pode aspirar ao perfeito. Oque eu não suporto é o morto, oartifical. os cristais de palavras' .(Carta a Alceu de K-M de agosto de-iS^SmSaYiaitTnrmcSS aiiiilae que pretenda revelar a eco- finltivamente a personaUdatie es-1928». Kom^/™n,tó-3r?4t0mf,^n; norma Mitre o espirito e o corpo, plritual; ou o de que, extirpadas,

A ambiçf.0 do Jackson era re* carreguem também consigo poda-«"/líi rt.ve' <ier renetldo infinitas A amoiçío ao jacxson era re* am»™ e»n.u™. ™,..„»., „.~--L"e"ed»rJSaTSuí pT vejfr qub o «rro moral deve aer J" •"-***££&&&**'que b«rciai«: ent»-»r Pe'» vida «'tado nâo como uma negação da r* vitoriosa porem derormaoadentro? eompreendí-la, senti-U «a vida, mu precisamente como uma (Contimul m pag. 225»todOS OS modOS, Ora lutando (CM- .MMMMM^^MaaMaaMMaaMMM^aMM-M»-eofceando) ora sofrendo resignada-mente (Pai, se é possivel. afastade mim ert-.

desespera (Me*

dc-verdade eslava nas terras que

«'ri»n¥nãra"i.;ext»ericuteu.ei.te. Que felizmente «««*»"£

distanciara inteiramente dos limites que ele, sem »<*£**»*

minha rtS|»o«sal.i1i.lade, atravessara e conhecera. Então o meu

dever era regressar, e o dele .m.ito mais heróico e concente era

-conhecer o que eu impensadamente desprezara. De qualquerforma a ro.a de Jnckson Ira mais nobre -Io que a mm ha covarde

peregrinação. Regressei com ele. Fo, ele quem disse ao Pai que

w aLla existia E que eu me conseguira perder como o n,.-i.s

tolo dos mortais, mal havia franqueado o limiar da casa, «n per-der nem de vista os al.os cimos da mansão eterna; eu era o piorL filhos pr.idigos. K o regresso a que Jackson me obngou fm

mais festivo, porque o Pai da Eterna Parábola encontrou de uma

vez dois fillms errattios.DB C I ra Si1 O R 3 2

do até quase oPai, meu pai p*.r..u- ... * *¦raste?), ora sorrindo às criançasora amparando a beltsa, ora pro-metendo a espada e o fogo, orasustando a violência".

Pode-se dizer que Jackson eum-priu lealmente esse programa, vi-vendo essa variedade de momentoshumanos cujos paradigmas foramwopcatos por Cristo, e cujo con-unto constitue uma como qua•Imitação de Jesus" para os ho-

mens de um certo -estado e de umacerta época.

S' uma via, entre tantas outraspossíveis, de desenvolver o oisa-númo espiritual da pessoa, via deinler-açâo intensiva entre pessoashumanas, afim de realizar aquelaproposição Que nós encontramosno último livro de Bcrdiaeff: "To-da a vida do homem deve ser em*.regada em preparar Hgaçoss, eon-;actos com os outros homens, <universo e Deus, tais quc possamvencer a absoluta solidão da mor-te". (Cinco meditações, pag. 110»

Jackson, no ano de sua morte,sente-se tomado da urgência deativar esaaa lijacoes. A aua pe»,sonalidade viveu sempre empe-nhada em vencer a própria soli-d&o. e o fenômeno da morte 6 asuprema experiência do despoja-mento, do silencio, da perda dscontacto, um at» qut, pelo menosnum instante adimensional dotempo, deve ser realltado pelo «-•pírito soatnho, em face da e«ternl-dade. A aproximação desse mo-mento como que Jackson o pres-sente. As sua.% imagens, de quandoem vck. traem em alusões misle-rtosas, a sensaçSo do fa11© in^^lito.que o obriga a interiorizar-se,escutar dentro de si, a merguinarainda mala na sua comunidade,onde estão as ligações mais fortesque a morte, com os seus amigos ecom os seus,livros. E sobretudo,com una pessoa que insto do quetodas é susceptível de um comer-cio íntimo e consolador — a pes-5CA de Jesus Cristo.

Nos podemos agora ter unaproximação dos motivos porqueJackíon nâo se propôs a escreveruma obra de filosofia técnica, elei,que foi uma das maiores c~*"~ -.. ¦"«ceculativas que o Brasil t-i [j«-.-:|

mas sim alg«ma ec* -J- wÁanos atrás, «Ta» definia ou-.w|

ADEUS A JACKSONJackson:

Os sem amigos do Centro D. Vital aqui estãopara se despedirem de você. Quis Devs que apôs asangústias dessa semana, o seu corpo nos fosse restútuido. E aqui estamos todos, em torno dele, como emtorno de seu espírito havemos de viver. Você foi o la-ço de união de tanta gente dispersa, você conseguiu,com esse prodígio de coração que atendia a todas asinquietações, atrair tantas almas penadas a quemfaltava uma razão de viver, que a sua morte seráapenas uma imensa saudade e os laços que a sua vidacriou nunca se desatarão.

Você representou para cada um de nós uma pe-rene salvação. Fomos todas como você gostava de di-zer, repetindo a frase do poeta, náufragos "desta

costa d'África da vida".E um por um você nos foi buscar de dentro das

ondas para trazer à praia segura ainda quando de-serta e árida por vezes. E foram ainda as o>ndtog quelevaram a sua vida, sempre diferente' da de todos,sempre singular em seu destino.

— Descansa agora amigo. Eu sei que você nâonos faltará de ora em diante como em vida nimea nosfaltou. E por mais devastadas que estejam em nossasalmas, bem sei que não daremos desesperos. A obrada sua morte, que agora começa, não será menos do

que foi a obra da sua vida. Dorme, tmnquilo, Jack-son, pois tsich faremos para mostrar que sua vida

m.

|d«'aeCiU AmoROSQ ciiha

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PAGINA »» — SUPMiMRNTO 1.1TKKARIO D'A MANHA DOMINGO, 2/ll/IHI .

MELO LEITE— jackson de figueiredo

)

Este nome que ai fica no alto,e será a saudade destas linhas,não é dc todo estranho à vidaliterária de Sergipe. Há algunsanos, eom José Barreto e ou-tros, andou cantando a graçadas nossas patrícias, aplaudidoe querido em nosso melo. En-tão. Melo Leite era uma daamaiores esperanças intelectuaisda Baia, e o preguiçoso queaqui viera para a conquista ia-eil de uns preparatórios, talvezainda não suspeitasse do mal,new tivesse preocupações devontade, tão manso corria apoesia da vida, descuido e ju-ventude!

As páginas do "Estado deSergipe" estão cheias de seusversos, líricos e apaixonados,fivos e atrevidos.

Quanta vez me falou desse pe-riodo do seu passado, de Araca-Jú, a sua maior saudade, de oue«õ aqui fora verdadeiramentefeliz... E dizia-me por que ofora, a ociosidade a que se dera,f»s amigos, os gastos exagera-dos. as reclamações da familia,a sua surdez absoluta a essesrogos longínquos, e a paixãoque levara... Esquecia o pre-lente falando dessas cousas. esorria contente e remoçado,quase vaidoso, quase desconhe-eJdo.

Náo o conheci desse tempo.Quando Pedro Kilkerry, seu

maior amigo, mo mostrou co-ino uma cousa exquesita, umente raro, e nos falamos pelavez primeira, já descia os últl-«ias degraus da sua lastima,era uma sombra infeliz, um pá-ria. um deserdado, vagabun-deando mais do que pedindouma proteção que ele própriorão desejava, ainda orgulhosocomo um príncipe, mas somen-te nos momentos mais desdito-eos e que lembrava o que vale-ra, o que fora. Já era o re-conhecida mente incapaz, queabandonava os empregos, oaborrecimento dos poderosos,amigos de outrora. e mesmo,por que negá-lo? a troça, o es-pinto forçado dos que com elehaviam lidado no campo este-ri] das nossas letras.

Melo Leite é um tipo comumtt iodas as literaturas; é a sen-¦Jbilidade doentia das raças,condensada num ,«ó esnécimedoloroso. Os românticos domundo (11, foram, quase todos,nm bando de fisiologias estra-padas e desarmônicas, em re-levo, porque ao lado do povomais sadio e anmônico do mun-do. Os poetas malditos daFrança ainda fazem o honorda mediocracia — Max Nor-dau à frente — e são o pastoincxgotavel dos psiquiatras detodos as calibres, grasnando,em derredor de Gerard Nerval,semi-louco e suicida, ou can-tando as extravagâncias d eVerlaine, Rimbaud e tantos ou-tros. Fialho de Almeida disse-nus a vida de um desess nege-nera-dos, deu-nos o Manoel, in-compreendido, à parte, insub-xnisso, forte na sua lástima Ir-redutivel , organieamente inca-paz de lutar e adaptar-se.

Melo era o Manoel sem o ladorepugnante do alcoolismo. Ul-tlmamente, tísico e esfomeado,era o idealista decaído do tro-no augusto para as fantasiasridículas, os impossíveis peque-limos. Ora queria ser mascate,ora tinha esperanças de enrl--quecer jogando. Não tinha uoiasó palavra pessimista, amava aTida que lhe negava tndo,•continuava a crer na felicidade,árvore sob cuja sombra indadescansaria.

E' verdade que tudo lhe ser-Tin...

A sua lucidez otimista, emmeio de tantas ínfel iei dades,era a prova real do embota-mento do seu espirito, ondemorrera a afetividade e só ores-ela o desprendimento. Poi odesarmõnico perfeito na pri-melra fase da sua queda; de-pois ficou esquecido de si pro-prio, dado à morte.

Ninguém avalia até onde che-lou a «ua inação, a aua

Os últimos meses que viveu temo caso que por si só o caracterl-za. Abandonado um empregoque fora arranjar no Rio, ondesofrerá fome e toda espécie dedesventura, exgotado o queajuntara apesar das extrava-gáncias, Melo viveu uns mesesde desespero, aqui e ali atrásdos que podiam. Poi o seu úl-timo esforço. Houve dia, taisos empenhos, alguém, alguémde coração bondoso procuroucolocar o poeta muito alem doque ele mesmo aspirava. Era,numa cidade do interior, ra!-ma, colonial, silenciosa, umaTerra Santa para quem foratao maltratado — no turbilhãodos Xortes e maleaveis. Melo Lei-te aceitou a sombra protetora.partiu para o seu refúgio, masnos apareceu quatro dias de-pois.. E confessou: não sabiaenganar. O trabalho exigia asquatro operações e ele nâo iaalem do diminuir.

Agora, recordando, sinto no-vãmente a dor com que entãoolhava, curvado ante a K>iif'"-*>de quem lhe ensinava tão mes-quinhas cousas, desejando es-forçar-se para aprender, ele, olírico admirável de Rosa More-na, os versos que o Diário in-sere na sua edição de hoje.

Melo definiu-se numa só es-trofe que vale a confissão deum santo, merece a benção dosinteligentes e o despreso de to-da a imbecilidade atarefada.

Ttmho-a diante de mim, ouço-lhe a voz:"Angústia indefinidaEsl.-i de extintas hoi-re recordar !Ah! pontue leis fatais vim à festa d»

[viria,Se tor, i Mu sA pura sofrer e amar!"

A carta de um amigo trouxe-me a notícia da sua morte. Nãosei suo certo se morreu de fome.Não sei. Eu sei apenas que vi-ven eom fome, e isto, talvez,não seja menos aflitivo e cruel.

Lembro, por isto, as palavrasde Carlyle ante a falta de sen-so que protege os celerados edeixa morrer de fome os qui-nhoados de inteligência e fra-queza. Mas a ciência tem pro-fecias singulares! Tarde vê nofuturo um cárcere para cadapoeta e uma pena para canadelicadeza de sentimento. E' ociclo eterno da História, a ins-piração de Viço. Também nasépocas primitivas "o tipo criml-noso era o do artista, do deli-cado. das mulheres sensuais esensíveis, gente imprópria paraa pilhagem das tribus vizinhase nascida muito cedo". A pilha-gem de hoje tem só a diferençade ser melhor organizada emais conciente, para falar co-mo Sighele. de ser intelectual epoderosa em vez de muscular eselvagem. Tem os seus conde-nados e amanhã codificará osseus costumes... Felizmpnteesta mesma ciência é maltu-siana, e terá menos in felizespara a sua frieza.

Não direi nunca positivaoien-te que isto vale ou não vale. E'uma política que aprendi naPolítica de Comte. A ú nica fépositiva em que vivo é essen-cialmente relativista. Não direicomo H. R. Brewster que a fi-losofia é "une non valeur fia-gran te", nem terei como Tols-toi ou Nietzsche palavras con-denadoras da ciência, Não háaqui necessidade de Ilusões. Na-da poderá sustar a marcha doProgresso, para nosso bem ounosso mal. Entretanto, há afir-mativas que desorientam e saouma espécie doentia de íé. Al-guem já disse: "Nosso séculoresponde vitoriosamente aosque o atacam, imitando aquelefilósofo da antigüidade diantede quem negavam o movimen-to, caminhando, avançando lai-gamente em todos os aperfei-çoamentos de que a vida mate-rial e a existência moral daanações suscetíveis". Quem falaassim só quer ouvir a própriavoz e ninguém deve combate-Ia. Só, silenciosamente, temos

o direito de duvidar um pou-co. Na verdade, a ciência temresolvido algumas vezes certosproblemas de modo estranho,tem tido soluções inesperadas.

Ninguém esqueça que foi pro-curando o elixir de 1 nga vidaque ela encontrou e nos deu oálcool apura dor da moral ida-rie...

O Ideal, todavia, não aban-dona a humanidade; o homemrie espirito continua a sonhar.

Há sempre a esperança do bo-verno dos bons, da idade deouro a vir antes do dia de jui-a»... Vede a sabedoria dc Fran-cisco Grierson, que, como Amielsó vè na natureza uma forca"sensual "destituída de pudor eprobidade", a Ilusão de voejarna visão de utn futuro "con-quistado e governado pela aris-tocracia intelectual". E' ques-tão de crença e eu não creioMelo Leite nem mesmo ocompreenderia.

Entretanto, sentiria comigose eu lhe dissesse uma cousaamarga, porem muito mais real,a convicção que tenho de quehá um grande triunfo em cer-tas derrotas. E não direi pa-lavras de Maeterlick, reunireioutras muito mais velhas emais temperadas na chama vi-va do sofrimento. Direi as pa-lavras de Tertuliano. arrogan-te e amargurado, dizendo a•Glória das perseguições:"E nós temos o direito detriunfar porque preferimos acondensação à infidelidade pe-rante Deus; os nossos inimigosdevem antes afKgir-se que ale-grar-se, pois obtivemos o que ti-nhamos escolhido.

Nem todos conhecemos oDeus que adoramos — é esta sóa diferença, mas em todas es-tas vidas há uma crença qual-quer, inconciente como todas,dentro mesmo da Dor que é so-berana, mas firme, inquebran-tavel e segura.

A VIDA de JACKSONNasceu Jackson de Figueiredo a 9 de outubro de 1891, em

Aracaju. Seu pai, Luiz de Figueiredo Martins, estudara na Es-cola de Medicina da Baía e era nesse tempo farmacêutico, vindoa ser mais tarde professor no Ginásio. Sua mãe, Regina Jorgede Figueiredo Martins, era de importante família baiana, nota-vel por sua inclinação para a poesia; e foi dela que herdouJackson o talento poético que desde cedo manifestou.

Jackson recebeu de seus pais a primeira educação. Sua mãeera muito religiosa e freqüentemente reunia o pessoal de casapara a oração em comum. Mas sua influência religiosa sobreo filho não pode ser grande, e desde criança Jackson se rebe-lava contra esse costume. Sua ambição era tornar-se escritor,e com a idade de nove anos começou a escrever versas. Comopreparação para sua carreira, tinha a intenção de entrar paraa Marinha, onde tinha vários parentes em posições elevadas.Este plano ele nunca realizou.

Depois de reeber alguma instrução doméstica, Jacksonentrou para um colégio dirigido por um pastor" americano daIgreja Episcopal. Ai perdeu ele o pouco de lé que ainda possuia.Pois, como ele próprio confessa,

eu tinha que estudar a Bíblia com o mesmo espíritocom que estudava aritmética. Fazia dúzias de pergun-tas. sem alcançar resposta satisfatória, na idade emque um homem, apesar de ainda criança, começa a ava -liar o mundo por meio dos princípios utilitários darazão (11.

Soltou-se então para aqueles que "falavam em nome dalazâo". Tinha apenas quatorze anos e já conhecia e seguia osprincípios do agnosticiesmo. Sua regra de ação era o conceitopositivista dc que "rien est vrai, tout est permis". Depois defreqüentar algumas outras escolas, formou-se finalmente pelaEscola de Direito da Baía em 1915

Sua vida foi tempestuosa desde o começo. Iracivel e vio-lento por temperamento, era muito difícil na escolha de amigos.Para estes só era muito leal; e os outros desprezava. Esse des-dem por aqueles que não pertenciam à sua roda íntima, pielevava-o até a própria classe. Não era capaz de respeitar umprofessor apenas por sua posição de professor, sendo, portanto,pouco respeitoso e mesmo insolente para com os mestres. Co-locava a justiça acima de tudo, e não hesitaria em tomar opartido dos empregados contra seus próprios pais, se estes es-tivessem errados. Nada tinha dc "snob", como se prova pelo fatode ter trazido uma vez para o interior da família e contra avontade dos pais, um rapazote indolente e descuidado, em quedescobrira certas qualidades de coração e de espírito.

Sua vida de estudante foi bastante movimentada. Isto eramais que natural, desde que baseava os seus atos no axiomaacima mencionado. Esteve envolvido em várias brigas e ques-toes com a polícia, e recebeu em uma destas uma ferida queainda aparecia quando deixou de existir 'ÍI. Devido a essa agi-tação de vida que levava, foi Jackson obrigado a mudar de umavez de escola. E' preciso notar porem que. em todas elas. sem-pre foi o "leader". Não sendo um caráter muito atraente, comoseu próprio primo o reconhece 13), o que o salvava era essa le-aldade a toda prova para com os amigos, traço de caráter quenunca desmentiu. -,

Esta violência e braveza de caráter manifestava-se em suavida intelectual por uma incessante inquietação intelectual.Nesse ponto mostrava-se ele um produto do seu tempo. Aquelesde seus contemporâneos que tinham algum principio filosóficodefinido eram materialistas ou espiritualistas. Muitos dos"leaders" da vida intelectual brasileira eram céticos e positivis-tas. Jackson fora uma criança precoce e permanecera um leitorvoraz. Mas raramente suaa leituras incluíam compêndios, poistinha uma inteligência brilhante e era capaz de seguir o cursoeom o mínimo de estudo necessário. Ao lado (Umo Ua vorazmente

e sobre todos os assuntos, pois sua curiosidade intelectual erailimitada.Quando Jackson rejeitou formalmente o Cristianismo comoír.lho dc uma base racional, tornou-se um materialista de pen-samento. Aqui, como em tudo mais. seu interesse não era me-lamente impessoal; vivia aquilo que acreditava e vivia-o míli-tan temente. Começou a combater tudo aquilo que considerava

anti-materialist-a, sobretudo as crenças religiosas daqueles queviviam à roda dele. £' sabido que tanto atormentava, com seussarcasmos, os seminaristas que costumavam passar por sua casa,que o itinerário destes teve que ser oficialmente modificado(4). Mas o materialismo não satisfez a sua pesquisa incansávelna verdade. Rejeitou-o do terreno filosófico quando tinha ape-nas quinze anos de idade 15).

Esta fase de materialismo agressivo íoi substituída peloceticismo. Não era um ceticismo inerte, mas um ceticismo do-loroso. Encontrava-se agora em plena crise espiritual, inten-sificada pela leitura de Carlyle e Pascal Foi nesta épooa, en»principio do ano de 1914, logo depois de formado, que veio parao Rio de Janeiro, capital e centro de vida intelectual do Brasil.Sofria então de uma moléstia da pele e estava neurastênico.O primeiro período de sua vida na capital foi bastante diti-cll. Estava sozinho e quase desesperado. Mas não ficou só pormuilo tempo. O primeiro emprego que arranjou foi o de re-visor de provas dos documentos parlamentares. O trabalho eramodesto; mas era só o que ele desejava, introduzir-se no meiojornalístico. Apesar de que sua carreira jornalística começarajã em 1908, quando constribuia para um jornal diário de Ara-caju. Aqui teve logo fortes contatos com círculos literários, efoi rápido seu caminho para a popularidade. Começaram seusartigos a aparecer em jornais de norte a sul do Brasil <6). Pu-blicara já várias volumes de popsia e voltava agora seus esforçospara a filosofia e a critica literária.

Foi durante esse período que Jackson teve o primeiro eimportante contato com Farias Brito, com cuja cunhada secasou. Farias Brito era uni filósofo espiritualista, isto é, anti-materialista. Sua obra de reação contra o materialismo vinhajá de 1894, mas não fizera por enquanto impressão alguma noBrasil filosoficamente materializado. Foi grande a sua influèn-cia sobre Jackson. apesar de nunca ter sido este seu discípulo;tiniram divergências radicais sobre certos assuntos. No entantosua influência foi inegável, visto como fez Jackson voltar-separa a filosofia espiritual, e incitou-o num momento em quoestava disponível. E apesar de terem suas crenças se toma-do, nessa época, quase panteistas, Jackson libertou-se de uma,grande angústia intelectual, desde que estava agora ligado aqualquer coisa de definido. Acreditava agora em Deus. Criadore Senhor do Universo, e na existência e imortalidade da alma.Seu espírito estava preparado para o último passo a dar nestamovimentada busca da verdade.

Neste estado de espírito conservou-se Jackson por mais oumenos dois anos. Mas a paz não era completa. 'Sua alma in-quieta..., sua grande alma nascida para a verdade, sentia quelhe faltava qualquer coisa, qualquer certeza, definitiva que ani-rna-sse a terrível angústia que há tantos anos não o abandona-va" <7). Procurando o complemento à filosofia de Farias Brito,achou-o na Igreja Católica Mas negava-se ainda a submeter-seintegralmente a ela. "O individualismo, este terrível mal dosnossos tempos, dominava ainda o seu pensamento, que às vezessecretamente se revoltava interiormente contra a autoridadeensinante da Igreja" '8). Apareceu então a primeira pastoralde. D. Sebastião Leme, arcebispo de Olinda, convocando os ca-tólicos à ação. Movido de admiração pelo único homem queousara levantar a voz contra as condições ambientes, e mara-vilhado pelo «eu desafio destemido à razão e à ciência para quereprovassem • Cristianismo, Jackson proclamou publicamente

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DOMINGO, S/I1/IM1 SUPLEMENTO LITERÁRIO D*A MANHA - PAOINA ttü

VERSOS A LAURA- Jechon de FigueiredoSou eu que devo os hinos do olegrioA' tua olmo, é o símbolo puríssimoDa minha redenção, Laura querida!

Sou eu quem deve desfolhor as rosasDa primavera, que floresce ogoroNo triste coração que sofreu tonto.

E hoje oqui estão; destolho-os docementeNa tua fronte onde irradia o gênioA' luz do amor em que me glorificos!

Por móis que o luz do espirito te ocloreE o amor que me consagras te esclareça,Nunco tu sentirás todo a verdode,A verdade tristíssima do AbismoEm que me debati quose descrendoDa Verdode e do Bem que vejo agora.

Blofemei como um bárbaro furioso,Desprezando o conselho indesmentidoDo minha própria mãe piedosa e boa.

Outros vezes fui pó, pó que se oboteA lodo pé que quer calcá-lo, e tiveA ánsio de me humilhar eternamente..

Viajei, Ashaverus do omorgura,Todos os climas do paixão e estive

Tentei viver no túmulo do olvido!

Quis sepultar-me no silêncio heróico,t ousei dizer à conciencia: dorme!Mas tudo embolde! 0 espírito não cansa,E a ânsia de amar quebrara no meu peitoOndos e ondas de desejo ordente!

Mas todo o omor que hovia neste abismoNo abismo em que vivi, negro e sombrio,Do descrença infeliz que me «assaltava,Tinha o oporato fúnebre e terrívelDo mesma treva em que nascido havia,E a alma vertiginosa do insondavel.Ardia em choma lúgubre e assassino.Abria cioros de onde eu via oo longe,O outro abismo maior do Mal eterno!

Tive vertigens escutando a falaDesso serpente lúbrica, e os olhosQuase os ceguei olhando a luz das trevas..

Mos resistiu meu coração que soubeFozer-se forte na tortura e ormor-sePara o combate em que nõo descansava..,

Contudo, se eu vencesse, o que forioDos troféus dessa luta glorioso?Que fozer? aonde ir? que mãos piedososGelariam o febre em que de certoArderia eu depois, longe o perigo?

E então tristonho oo levantar do glódio,Ou quando em torno um círculo troçava,

Com que ofostova os tentações daninhos,Eu alongava os olhos quose cegosE interrogava o obóbacta de trevos,Que descansava sobre o cavo abismo,Do minha mocidade acobmnhoda!

Oh! mocidade que te vais! — dizia.Oh! triste mocidade sonhadora,Que só provoste o fel e o omor nõo vist».Presa que toste de paixões motditas!

Mas de repente a luz de que te cercosJorrou por sobre mim como umo auroroE me inundou o coração tristonho!

E o milagre db amor se fez tão vivo,Que um só minuto duvidar não pudeDe que tu eras o Enviada ExcelsoDo próprio Bem que é Deus suspenso sobraAs misérios do exílio em que vivemos!

Eu sou quem deve lágrimas, e bênçãos,Hinos e flores ò bondode imensaCom que me envolves, respondendo oo gritoDe um pobre coração incompreendido,Sabendo ser a Irmã que as mãos estendeSobre o minha cabeça atormentado,Onde arde a febre do Ideal SupremoDe ser bom, bom somente e nodo móis.

Rio, 9/101915.

de FIGUEIREDO ~ *>»¦**<*»seu entusiasmo por esse chamado. Mas alguma dúvida sobre-vivente nâo lhe permitiu ainda unir-se formalmente à Igreja.

Apareceu então no Rio a epidemia de gripe de 1918. Jacksonesteve às portas da morte. Isto ioi o ponto culminante em suabusca da verdade. Confessou-se pela primeira vez, e pela pri-meira vez recebeu a Comunhão. Jackson de Figueiredo era ago-ra membro integral da Igreja Católica.

Esta não foi uma conversão de hora da morte; mas umaconversão verdadeira e integral. 'Erraria grosseiramente qnemo julgasse católico por conveniência, oportunismo, interesse ouvaidades do momento", disse D. Sebastião Leme por ocasiãode sua morte '9). E provam isto algumas palavras pronunciada*-ptur Jackson na sua convalescência da gripe:

"Só vejo no mundo um ideal ã altura de uma ver-dadeira conciencia: servir ã Igreja, defendê-la, espalharcada vez mais o seu espirito, apontá-lo como único re-fúgio da bondade e do amor, como única lorça contraa Força, como amparo único, realmente seguro, à in-teligência e à sensibilidade" (10).

E finalmente houve a inegável evidência de sua vida, desdee restabelecimento até a hora da morte. Jackson foi um cato-lico de convicção.

A atividade de Jackson de Figueiredo de 1818 a 1928, datade sua morte, será devidamente considerada nos capitules se-gulntes. De uma coisa temos ainda a tratar aqui: sua mortetrágica. Poi tão prosaica, tão estúpida: alogou-se durante umapescaria. E, no entanto, correspondeu a circunstâncias tãocaracterísticas do homem, que desconhecê-las é desconhecerJackson e não ser capaz de compreender sua intluência pós-tuma. Em vida loi grande; na morte loi heróico.

O diã 4 ue nuvfiubiu üt 1S2G, era um i.c__*ingc. j&cKson,seu filho Luiz de oito anos de idade, e um amigo, loram la-aer uma pescaria. Depois de almoçar, voltou-se para o filho:

"Meu filho, estás vendo aquelas montanhas, o Cor-eovado lá longe, aquelas montanhas todas, e esse mor-ro alto. todo de pedra, aqui ao pé? Estás vendo essemar grande, que vai até onde a gente não vê mais,porque rodeia a terra e envolve o mundo todo? Poistudo isso foi feito por Deus, o nasso Pai do Céu, aquem rezamos todos os dias. Quer ver uma coisa ?Comparados com Deus, os homens são tão pequeninos,que, enquanto Deus fez tudo isso e muita_ coisa mais,nós não fazemos nem uma folhinha destas".

Bsta prova de fé profunda e real são as suas últimas pa-lavras. Deixando o filho, dirige-se com o anzol para a ponta deum rochedo alto. E voltando-sc para apanhar uma isca, perdeo equilíbrio e cai no oceano. Nadava muito bem, mas as cor-rentes fortíssimas daquele ponto puderam mais do que ele. Du-rante quinze longos minutos lula cie contra a fúria das ondas.Não hi pânico, nem apelos desesperados por socorro. Era umabatalha a travar, e vai para diante fazendo o que pode, deli-beradamente. Afinal percebe que a batalha é desigual. Naoha mais esperança. Acenando com a mão para o filho e o ami-eo que da praia rezavam desesperadamente, levanta os olhospara o céu, cruza os braços sobre o peito e afunda. Mais oumenos uma semana mais tarde, quando a Catedral do Rio esta-va repleta de amigas, seu corpo deu ã praia pouco adiante dolugar onde desaparecera. Deixou quatro crianças pequeninas,alem das quatro filhas de Parlas Brito, que adotara. Tao pobreera ele que uma subscrição teve que ser feita para »m auxiliofinanceiro à família. .

.lackson. como veremos em pouco, atraíra a ri nm grupo oepela torta de iua pecMnalidade. Mas nada poderia tor

sido mais decisivo no propósito que fizeram seus amigos dclevar avante o trabalho qne ele eomeçara do que as circuns-táncias em que morreu:

"Arrebatou-o terrível catástrofe; mas se a sua for-ma terrena desapareceu, não triunfou o aniquilamento;ha de perdurar o seu espírito nos livros que escreveu,nas lições e nos exemplos com que iluminou o seu tem-po, nos afetos e admiração que largamente inspirou" (12).

Bua morte foi tão característica de sua vida, sua vida tãode acordo com sua morte.

"Viveu conforme se finou, debatendo-se... contraondas misteriosas e formidáveis: as ondas procelosas daimpiedade; as ondas paludosas da indiferença; as ondasamargas das decepções" 413)."Em luta com a fúria dos elementos, com o marrevolto a seus pés, o grande escritor nunca deu provasde covardia. Lutou com as ondas revoltas da opiniãoquando tomou a si a causa da legalidade; lutou com ofuror da onda que lhe levou de torvelinho, e sucumbiuporque já não lhe era dado lutar. O seu fim trágicodá a síntese e o resumo de uma vida pura, sincera eforte como a dos que são fortes de verdade*' (14).

O amor e a admiração em que era tido são evidentes eprovam-se pela sugestão de Alceu .Amoroso Lima, para quefossem permanentemente incluidas, nos exercícios religiosos doCentro D. Vidal, orações especiais pelo descanço de sua alma."Não sei se devemos pedir por ele ou a ele" '15).

Nem foi essa homenagem meramente local; pois houve umaespecial em sua honra, no Instituto Cristovam Colombo

dc Roma, cr.de, 2 25 de maio de 1028, c embaixador brasileiro,Magalhães de Azeredo, tomou a palavra "diante de uma au-diêncla de intelectuais, diplomatas, altas dignidades civis e re-ligiosas, alem de vários membros da aristocracia italiana"(16). Nâo foi táo pouco um sentimento temporário, pois existeaté hoje e parece tão forte como antes. Pois em 1930 AlceuAmoroso Lima dedicou um dos seus livros "à inesquecível me-mória de Jackson de Figueiredo" (17). E em 1937 estava sendoelaborado o plano de um monumento digno dele, erigido porsubscrição popular (18).

Foi este Jackson, o homem. Vamos considerar agora suasteorias sociais e sua obra, da época de sua conversão k de suamorte.

(Da "A Ordem" — novembro, 1938),

(1) Jackson dc Figueiredo, Algumas renex-ões «obre a filosofia de FariasBrit-n. Rio, Tip. Revista dos Tribunais, 1917, p. 15, Citação de H. Nogueira,«p. rit., ps. 24/25.(2) Olegário Silva — ln Mernorum, 65/63,(3) Olegário Silva, op. rit, p. 63,(4) A. Lima. op eit, p. 359(5) A. Lima. "Um realista", ln Mem orlam, p. 30.(fi) Para uma lista dos jornais e revistas para -us quais Jackson escreveu,cf. ln Memoriam, ps. 368/369.

1) H. Nogueira, op. ett. p. 100.8) Ibid. |i. 103.

(9) D. Sebastião Leme, Arcebispo Auxiliar do Rio:do", In Memoriam, p. 1.(10) Citado por H. Nogueira, op. cit., p. 113.(11) Xavier de Souza: --Jackson pescador",

"Jack-son dc Pigueirc-

412 Afonso -Celso: "O Paladino da Fé" ia Mei

113),14),19)<¦•)nn«a,

Afonso Celso. Mem.Lacerda de Almeida:

, Ano VIU,Ano VII, n

Jackson de Figueiredo", In M.WMilaw, ».I. 1. <M. 1», M. Ií.>, Junhe IS». p. MS.

9~ÍSmi, «»U-fcu_ tt, am. HU. ha» W, . I, H M. ta.

Suma sentimental[Continuação d& pag. '223)

Não, Jackson procurava fundaruma Rica em que toda acese pos-suisse um valor criador, e fossesempre um movimento tle supera-..ão, de mudança dè plano, mati-m-do a vida com n própria vida eesse encanto era que obscuramen-te estabelecia entre ele e os seuscontemporâneos uma simpatia mis-teriosa, ao primeiro contacto.

Esse encanto, nós esperamos quoaquele.*- que não o conhecerampessoalmente possam ainda pres-senti-lo através de sua coirespon-dència. Os extratos que agora pu-blicamos constituem uma pequenaparte da mais bela aventura inte-lectual que já ocorreu entre nós:

meditação dos problemas maisgraves de homem moderno, feitapor dois gran-rles espíritos, com umresultado positivo, isto é, a lentaaproximação de um deles para oponto de vista do outro, per meiode uma atração em que entraramem jogo todas as torças que cons-tituem o homem integral.

Muitos dos nossos contemporà-neos encontrarão ai um pouco desuas angústias, de .seus conflito*; ehão de sentir ao ler alguma des-sas páginas em horas de sofrimen-to agudo, de solidão interior, queentraram em contacto com um ti-po de humanidade superior, e seadmirarão talvez que o Brasil játenha podido produzi-lo .

Compreenderão, também, comessa ilustração viva, o que pode sera comunhão intima entre duaspersonalidades, como ela permiteüiitit .úi.tuiii.BÇttü que vence de W>-do o isolamento e que, nos perio-dos inquietos como o nosvo, emque a pessoa humana, com os seusprivilégios inalienáveis de liberria-de, autonomia e poder criador jAnâo tem mais guarida, constitue oúnico tipo de sociedade que nospermitirá suportar um pouco acompressão exterior.

SM DE OUTUBRO1888 — Falecimento de Joaquim

Maria Serra Sobrinho,patrono da cadeira n. 21*

1911 — Falecimento de Tristãode Alencar Araripe Ju-nior,30 DE OUTUBRO

1878 — Nascimento de Luiz Gui-marães Filho.31 DE OUTUBRO

1905 —Mário de Alencar é ele,-to acadéynico. na vagade José do Patrocínio.

1 DE NOVEMBRO1880 —- Falecimento de José Ma'

ria da Silva Paranhos,visconde do Rio Branco.

It90 — Falecimento de Julio Ri-beiro.

SS DE NOVEMBROlt(4 — Falecimento de ^«Ifina»

Gonçalvtt Diai. -.

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V.\t*m\ 2** — SUPT-CMKMTIk MTUtABIO W\ MANHA '"'. "''"''' '_2_[\_____ "

'"' "'' POMW«HO, t/H/IMI '^\

JACKSON, ROMANCISTA-^^wCumpro religiosamente, como desde logo, acentuar: as dúvl- nue cie, a principio, nào pudera mãtlca das apóstrofes, esse 11- bra" o angustiava. Ou coninele pruprio me determinou, uni das que ele teve cm inquietar definir, mas que o atraiam po- vro em que nenhuma |»gina me escrevia em carta posteriordoa últimos a mais ardentes de- ainda mais as almas, com o ea- derosamente: Plutarco, Emer- se desvia da sua finalidade e — "Aliás, ele (o romance, (.»Iaejns de Jackson de Figueiredo, petáculo de seus próprias erros son, Carlyle, Augusto Comte, nenhuma deixa de vir imprc- tá me horrorizando, ogre' to-

publicando-lhe o romance que e sofrimentos e também o ca- todoí os que lhe pareciam aflr- gnada da chama interior de nei, set eu lá de tantas mise-deixou inédito. rater vivido do romance, que e madores de alguma coisa... uma alma em que toda a trage rias mal disfarçadas CreioNão sei ao certo quando oo- sob certo ponto de vista, uma Mas a sua alma. onde tais ían- dia espiritual de uma época st mesmo que você, por fim vaioieçou a escrevê-lo. Pode-se confissão, mas que "não repro- tasmas se degladiavam, que era reflete. Só nós, que passamos horrorizar-se também. El' noniísmo dizer que é obra de toda duz fatos passados consigo mes- «Ia suu adma? Que destino fora pelos mesmos transes de Jack- entanto, não penso que isto saa sua vida. desde a adolescén- mo". Como diz em um dos tre- o dela quando, por fim, como son, que vivemos esses momen- possa dar com um homem co-cia, _ pois inclue fragmentos chos de carta, que adiante para suavisar as leituras for- tos dolorosos de uma completa -num. Para este o romance eer-de páginas escritas quando es- transcrevo: — "aquilo é a foto- çadas da profissão, deixara cair subversão no espírito, com tuuo tament» não parecerá nada" ttudante de direito, na Baía, ao grafia do fantasma interior, sobre o mar oceano das suas o que arrasta consige na vida, < 17 _ jun,0 __ 1928).passo que dois meses antes dc nas suas investidas até as jane- indefinidas tendências o lençol de sofrimentos e dificuldades, Mauriac, no seu ensaio sobre umorrer escrevia ainda um "no- ias da vida". de brumas do ceticismo pura- é que podemos viver como Ja- romance toca no mesmo pontovo" capitulo do livro, como me Ele mesmo, portanto, define o mente literário ? ckson viveu o drama intimo nessa insensibilidade ao bem idizia em carta de 19 de Setem- que é o livro, "fotografia do E comeca então oara Antô- 1ue Antônio Severo observa e a0 mal de uma gera<.àobro de 1828 : - "Eu estou es- fantasma interior". E todo o nlJ severo 0 exame angustia- »"• nos mau recondltos reíu" perdeu os critérios de distinçãodevendo um capítulo a mais, seu interesse se concentra exa- d0 de sua

'V|d., interior do ca- 8tos de si mesmu- e que já nem mais emprega *horrível, do meu romance. Is- tamente na intensidade drama- minho percorrido do sentido de Porque o que torna esse ro- palavra — "pecado",

to mt levará a uma demora tica dessa vida interior de An- todos ^ ^,,5 gestas E atra- mance diferente é que nele na - Pois bem. nesse mundo de qusmaior em lho enviar. Mas vi tônio Severo, que ele nos mos- vjs dos chosques da paixão que da é exterior, nada visa o efel- Bernard Shaw diz que tudo »que é necessário. Em nada ai- tra, depois de muitos anos de 0 domina- da ternura só multo «-o literário, nada exprime qual- 'um pouco bom e um poucotera o plano. Completa-o, existência socialmente vitorio- tarde compreendida de um ve- ,Ufr som'lr» de pesquisa mera- mau", em que a essência daameu ver". so, no Rio, bruscamente desper- ino tfo que morre figura idmi- monte estética ou intelectual, coisas, como diz outro apologia-

E' assim a obra dc toda a sua tado Para " sentido profundo ravel de PieEancla moral 1De. E' ">*> • ímpeto de uma- vida ta dos nossos tempos. Bertrand,Tida. Será o melhor documento da Tlda P°r «™» Paixão amoro- nas entrevista, mas que deixa 3ue M revcla- E> tlKl0 • <,ram* R»""!. é nao ^rera nem tsv"que nos terá deixado de si »: <»ne Ihc dom">a todo ° ** uma emoção profunda; do tra- Ae uma ee^ao sacrificada , rito nem matem, mas "neu-mesmo, depois de sua corras- c a 1«,»1 sacrifica todo o curso ,,ico desUno de Maria Llicia „ iue se regista nestas paginas de trás , - e que os homens quopondência quase toda inédita. '>.°™al « ordenado dc sua ex.s- da convenci,, d0 3CU „ru|w de uma "humanidade" intensa. teem viva a noção do pecado.

E um grande passo para que ^i"&. "boêmios": e sobretudo através •"»<*«»> ™» deixou, nesse II- como Jackson, ou Mauriac, so-dele se faca um juizo mais jus- Ess« é » choque apenas, que dl) trabal)l0 interlor, dc medita- Tro'. ". breviano da dignidade li- frem violentamente o dramato, dando-se-lhe, em nossa his- P™voca todo o deslocamento da âo dolorosa _uc ê ^^ a nls_ terana. Que e que em sua «da das coisas, inclusive o do ro-tória literária, o posto de relevo °rdem exterior que enquadrara Wria de nossa gf,rafa0 em pg. nao tinha origem literária-, mancista católico,que até hoje não lhe foi dado. ° nortista Antônio Severo nos ,nM d(. intensidade „ dc „. pergunta a si mesmo Antônio Jackson viu lucidamente que

Não que seja uma obra com- moldes comuns da vida do Rio, br_ào espiritam, _ através de Sevcro Ioe° de inicio. E essa para a massa, e mesmo para apleta ou perfeita. Deixou-nos com ,Kna vitoriosa carreira de tlldo 4ssn é que Antònio Severo ''««atura, como expressão da maioria dos homens cultos eapenas o primeiro romance dos advogado, uma sltuacao «oclal ch à „yeIa(,ao _ ..d0 ^ vida em sua maior intensidade, dos próprios romancistas, essatrês que tinha em mente. respeitável, um noivado honesto tremeMdo destlno crlstao 0 des. este no extremo oposto ao efei- livro que ele escreveu eom o«noite o colheu em pleno início em Perspectiva, enfim tudo u,m Hno embalde tentara ilu- *°. » descrição, ao estudo de sangue mais quente de sua mo-da "vida de expressão", e quan- H"e sonham de estável os que d,r„ g m aMJ1!n o cnamB. casos curiosos, às paginas de es- cidade, e so autorizou a publi-do experiência.de uma n<™ d° apagament» provm- n a v|(|a Q de5tinu tüo, que enchem em regra os mr depois de dúvidas cruéis, _totensísshna "vida de sensação" ?iano Para " cap h,™»

"« leií integral do homem: quem o sal- romances. Neste não há nada esse livro — "não parecerá na-

Já lhe dera ao pensamento cria- *,t,moa' M ""^"tf™ ZJ£ vara, diz ele, de todos os «ían- «'«to. E «. evidentemente, nao daj.do: a intensidade de comunica- ldeal a "¦"* sltua«?a0 na socle^ tasmas interiores", de todas podemos restringir a literatura Será, creio eu também, o ve-ção que sc revela na.s paginas dade- aquelas "almas tendentes ao a espressao do próprio autor, ar- rédito da maioria daquele,desse primeiro painel * tríptico Bruscamente, como uma tro- nada e ao delírio'"; que lhe re- rancando-lhe o que possue de que tiverem perdido a noção doem que ia contar a sua vida vi- "oada de vera°. rompe essa tra- veiara afinal o seu "tremendo impessoal e objetivo, não hà pecado ou do demônio.* »tda ma Prevista e lentamente con- destlno cristão" fora um am'- duv,da «t<le ° autor precisa vi- Essa obra só poderá encon.

R,iim.mm.np»{,™»hra ouistada, a sedução embrlagan- go "que nunca' pertencera ã Ter, «x>m0 se fosse "seu, mes- trar repercussão profunda, na-fc wriftatX^eto e totónto a* ?-" ^1* LÚCia' "ue arrasta >8™Ja alguma", mas que "pare- m0 «luand<' nao «". » <«™- J"",1'» P»« quem a vida espiri-S-v?ro á ò nSio laíkTn Antônio Severo, ma» nio o am- cia ter do bem a visão direta «™ da5 ™" personagens para tual representa a mau verda-"4 MotomudSnàS. qulla moralmente, pois do cho- dos anjos". No romance se cha- 3ue nelas transfunda a chama deira das realidades. A esses é

I intensidade de, «^fa ou ^re- 2"" ãe*T mvasao irr'slistivel e ma Cristóvão Garcia, mas na da sua ProPr,a ***• 1ue « ¦ Q"e se dirigem casas página*I «ma cada neriod. de« livio ?ruMa d0 mal é 1»-; "^Cf jus- realidade sabemos que é Garcia alm» da arte- af 1««" d"» »" titulo mlste-i lleé e^rito «deVSr sèm tamef,te- <"", 3Ua alma. *> **' Rosa. "enterrado naquela» Jackson, nesse romance, fei rloso, que signihes em lüigua-

! irdnhna níur. de retórica ra do P*eado- areias luminosas, ás praias da de Antônio Severo a expressão gem teolog.ca, " o tempo", a da-com o sangue de^uma vidaTtoda' Ne!iS<! homem que aceitara, adolescência. Shelle7 sem raios do seu próprio eu. Mas colo- ração, tal como decorre «par»

E é isto justamente que torna c0™o a maioria, uma noção pu- nem tempestades". cou-o em circunstãclas que os anjos'.esse romance diferente E' um rament« social do problema Toda a ,1,1a interior de An- nada teem de autobiográficas. Pois esse liTra é uma in^rt^documento "humano" como moral e construíra a sua vida tônio Severo, portanto, tal co- Posso mesmo adiantar que o ca- ça0 do demônio, e uma revela-poucos tem conhecido a nossa dentro desses moldes que a so- mo ^ desenrola no romance, "> passional, que no romance ça0 da angelitude. E só assimliteratura de ficção. Pois histo- c,cdade impõe à generalidade c a própria vida interior de M Passa com a »eura de Ma- amado e compreendido poderá

ria ai lutas intimas da aima da» eonclínclas, — vem a ex- Jackson até o momento em que ria Lúcia, passou-se em circuns- ,«,,. xaives o documento maiamais viva e mais trágica da Per|encia pessoal de um caso neie irrompeu a luz do seu "tre- tanciaa amda muito mais tra- humano de nossa geração.nossa geração. E' a expressão d? Pai!ta0- l"" ele vê revolu- roendo destino cristão". A pri- Bicas, com pessoas totalmente P s. — A titulo de doeame»-literária menos -literária" de eionar wda a sua existência, meira parte do seu tríptico ter- estranhas a Jackson, em Ser- taíio transcrevo aqui algunsnm espirito que amou a litera- despertar as energias espirituais m|nava ai e só ela é que pos- 8'Pe. tópicos, da correspondênciatura com ardor, a gravidade, adormecidas. Encontra-se di- guimos. Só ela constitue o ro- Essa distinção deve ser feita, que mantinhamos, relativos aodádiva arrebatada com que só ftntc d'! uma «W*0 inevitável. mance que agora sai a lume. deSde logo, para se evitar mal- romance hoje publicada. Porae amam as coisas humanas e Come«;a a volta as indagações Termina a obra quando An- entendidos» eles poderá o leiter acompa-que detestava, mais que tudo mals profundas do mistério da ^t,ni0 severo, depois do suicídio E outro mnto M . . nhar, melhor que em qaaqaectalvez, o artificio das coisas fal- vida ate então, completamente de Maria Lúcia e de todas as lu- Vo chamara atenção 4 ntr». comentário, • estado de espiri-cas e insinceras, da literatura abafadas pelo esforço de con- tas interiores que lhe iam revê- hesitação de Jackson en. ™,hi. *• *• J»el"on, ao completar ea-pela literatura. Bis. por exem- ?ulstar ufla Possaõ e pela iando a finalidade transcenden- car essa obra Balancm ln„»L s» Primeira parte do seu ro-pio. os termos com que esti- "">nsa dispersão interior das ta, da vida parte ^^ a ^0. „Tazõra dê não divm" n,ance' » i«»erpretação que ele«matizava, cm carta, um des- Mto™ desordenadas a que se pa , „ver 0 Telho camp0 de gaf ^0 tStalho tatorior dê pripri'' *"» à sua ttbn ' * '"'«es autores, nos quais a preo- entregara E ai aparece todo , t crLstã! ver as cidades bru- sua alma n reconnnuta ri. quietação com que a Ia revelaieupacão literária exterior, de o desequilíbrio literário da nos- ,d , sangue dos sacrifí- verdadTe do bem e nlronul» » Publico.«feito, abafara toda a humant- f Seraçao, em que ele evoca a, ^°eltaM, que poderiam à mediocridadf oralmente df T. de A.dade: _ "So fundo é um In- "?» d" *"** P">P»M elturas e ser éonio rios de sangue, sc não Bla „0'"que a mSoriT do« íõfeliz. Não tem quase humani- «*"<*** da inteligência. fora . ^taM

da terra». mensTsaüsf^Temía cÔm ul Rio. Junho. U-1Hdade. E' pura literatura. Nao. — "E da pagina ia emergln- E diante do oceano insonda- m causar um ma, j,^™ Jacksonnão suporto esses tipos. Daria do o mundoide sombras... An- vel, das constelações IWm ..Você nào ava,^ ^ Teu romance é reaiment«de chicote, num sujeito que en- tero, o triste e misterioso An- da ultima ffcnbria branc» de em ^ míamg uma colga r o Wne_trasse dansando e cantando na tero, e, encobertos, mal se dei- terra brasileira pouco *"«? en- nào aãmlU) em minha y^in. rarl0 dc nosw seração. Qual-casa de quem estivesse chorai.- xando apreender no ritmo de trerlsta. abre-se para Antonio htoctm|,> ^^ nâo ^^ er coiw „e ^^y^^^ »iu.do A vida, para quem tem certas confissões, tudo de mis- Severo, nesse limiar d? sua con orientaçio católica 0ra „u cmanle. extra-terrena e ao mes-desgraça de pensar, requer, se- tura todos fundidos na vida versa0 mique, ^'^"lí: romance é uma monstruosa ver- mo tempo infra-humana. Ar-riedade E- preciso, Quando se unitlva de uma «nsibU.dade te para nos, a morte forçou Ja- dade e não sei se deve mos- rançado do fundo de uma ai-pensa, rir com gravidade, rir. exasperada, mas ativa, no cadi- ckson «deixa-lo - abro-je trar o que é moastruoso. S' eer- ma que não é apenas a sua. Brir mesmo, mas como quem sa- nho de^ uma memória moral para eje. o livro d"

^""SJ to que até, como elemento real. que é também a sua toda ela.be rir perigosamente Ora, eu eminentemente dominado- definitivas, das »»!»«¦«*• existente, inevitável da vida numa violência incrível. Nãonão suporto esse ar de moleca- ra, Schopenhauer e JoaoBar- con, qUe se iila"«»;.**0üttlm" surge dali em diante como... a conheço, no gênero, nada de se-gem literária". (17-9-28). reira, Cruz e Souza eStendhal... opções do seu camlnno. outra atmosfera". (Carta de melhante em nossa Uteratura.E todo o seu romance e o con- uns vistos através dos críticos, -oh! minha mísera cruz de 13-14 de Junho — 1928) Desde já lhe previno- "não vaitrárlo disso. O defeito que po- outros, nas chagas vivas, nas incertezas, de obscuro, de vacl- Infelizmente, o ponto em aue agradar" Estou certo disso To-deremos notar-lhe e Justamen- supurações dos seus martírios.. iante, de dubltatlvo amor!... nos deixou a sua obra o ori- do o mundo vai criticar Unate o descaso pela expressão, Chateaubriand e Hall Carne... Ainda mais pesada que a dos meiro volume dos três de que se acharão confuso. Outros semdeselegáncia, ou apagamento Sim, sim. seria capaz de fazer meus egoismos, que a dos meus comporia, nos larga Justamen- ação Outros sem estilo Outro»de estilo. Mas, de certo.modo. a exegese de cada uma daque- lúcidos e agressivos Instintos, te no limiar dessa "outra atmos- romântico demais. Outros for-não será esse desleixo a forma Ias frases e ate do ritmo que as qUe a dos meus erros a mim fera". E por isso mesmo lão cado Outros louco Não é pa-necessária que devia assumir animava. Fora, após aquele pe- mesmo mai» evidentes. Eu abro tanto mais necessárias estas ra o'nosso meio. E'grande de-ama confissão dramática, in- rlodo. que Ibsen e Nietzsche, OT braços a U, treva envolvente explicações para que se leia es- mais para o nosso meio. Mas,

tensa, angustiada, de quem re- Novahs e Ruskin, Montaigne e d0 mar. treva cheia de estre- te livro, humaníssimo e admi- se for todo assim vai ser o pri-volve um passado de torturas Amiel e sugestões de umMaii- las . a, na0 penso que o fu- raveir mas imperfeito e mutila- meiro grande romance "inte-c lutas e hesita em dar aos ho- lander vagamente percebido e turo seja como o passado... do, com a devida compreensão rior" de nossa literatura. Nun-mens o espetáculo dessa labo- mais as revelações de Baude- Eu quero que se arroje do teu do que representa de sofrimen- ca ninguém ousou rasgar assimriosa gestação da verdade, des- lalre e de Verlaine, uma nova seio sobre mim um vento de to. de luta Interior, de ascen- o coração com essa violência.¦a dolorosa depuração de erro» multidão, pois, de almas ten- tempestade e me lance no abis- são para a verdade. Essa pri- com essa paixão com essec paixões que Jackson nos tra- dentes ao nada, e ao delírio, te m0 ou me faça ver a face da meira parte é justamente o la- impeto Eu o considero o pri-fa, em caractere» de fogo, ao havia neutralizado, por assim eternidade,, a face mesma da do da sombra, que ele precisa- meiro Não me lembro de ou-longo dessa primeira parte de dizer, na lica Interior de sua vida, da vida eterna, do amor va contar para que todo o seu tro Poesia sim Mas em prosa•na obra? conciéncia de encontro a uma mais forte do que a morte". doloroso caminho se Iluminasse, naõ velo. B depoi», essa au-

roto duai coisas a preciso, cerrada fileira da outras alma* Assim termina, na mai» dra- ma» aue por ser ainda "som- séncia de composição, esse jat»

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DOMINnO, S/U/IM1 SUPLEMENTO UTERAKIO D'A MANHA ¦

O AMIGO- Peçilo Gomes

Todos os flwe de perto conheceram Jackson de Figueiredosâo unânimes em afirmar que ninguém mais do que ele se mos-trou fiel ao culto da Amizade. Vivendo em uma época de des-

. crença em nossas faculdades afetivas, de negação mesmo daAmizade, ele se fazia rodear de amigos numerosos que conside-rava como membros, segundo costumava dizer, de uma "segun-da família"' *

Como o seu coração náo se sujeitasse a nenhuma exigênciarestritiva, nem mesmo a das conveniências sociais, daí resuliavague os seus amigos, por sua origem, por sua educação, por suacultura, por seu meio de vida e mesmo por sua fé e suas vir-tudes, constituíram um pequeno microcosmo; havia de tudo.: As amizades, portanto, ocupavam um grande lugar na vidadé Jackson. Ele tinha perfeita conciência deste fato, em vez delastimar-se, ao contrário, tirava dai motivos de júbilo. Escreveu-do-mè em 22 de janeiro de 1920 dizia então: "Considero como"'grande recompensa do quanto hei sofrido nesta vida, o amor dealguns corações que hei inspirado, nem sei mesmo porque, dadoàite othó com tristeza o que sou — uma pequena luz agitada porutti vendàvàl ventos contrários".

A nota do apreço pelas suas afeições foi por ele várias ve-ZCs ferida na correspondência que comigo manteve durante osdois anos de minha permanência no Sul de Minas. Não resistoa transcrever um trecho de uma carta em que deu àquela notaum avento verdadeiramente patético:.

"No fundo das minhas angústias há hoje em dia um grandelastro de fé, direi mesmo de paz. No dia em que eu morrer po-der-se-á dizer ãe mim que sofri muito, mas fui feliz, pois ameimuito e Se desejei mais de uma vez, por vaidade, romantismo,bobagens, odiar tambem, não me lembro àe que deveras tenhaodiado*'.

Jackson era grande, leal, constante, desinteressado, sobretu-do inegunlãvel na delicadeza e na generosidade do seu afeto, Enão raras vezes, para atrai-los, tomava contato pelo ponto fracoie sud natureza-

Nãõ tinha ele nada de comum com d casta farisàica dos puri-tanos qué repelem a companhia dos imperfeitos... Ao contrário,como o eminente diretor ãe almas de Mareásous, "diante dos pe-cadores repelaya a clariviâência da bondade, a que em face davisão dolorosa do mal sabe distinguir na humanidade mais baixae mais. degradada, o resto ainda não contaminado, o's detritosainãa subsistentes, a mechq que ainda fumega — e o remédioainda possivel, e a esperança e o recurso supremo, pois, onde nadamais existe, ainda -existe Deus".

Bis por que era tambem "amigo dos publicanos e pecadores".Da generosidade do seu afetoyem uma palavra tudo se diz e

ê tambem o máximo que se pode dizer da Amizade: ele vivia avida dos amigos, tantas vezes mais do que a própria. Não via em-baraço nem media sacrifícios quando se tratava ãe os servir.

\ Nem esperava, sequer, a solicitação dos necessitados.' Vm episódio entre muitos que poderia citar, mostra bem atéque ponto se identificava ele coni os que estimava: Certa vez, emque se sentia profundamente abatido por sofrimentos físicos emorais, bastou receber uma feliz noticia ãe pessoa a quem muitoprezava, para levantar-se da sua prostração e recobrar a habi-tual jovialidade. "•¦¦¦*

Èm outra ocasião, ao "ter

conhecimento ãe que um velho ami-go se encontrava em situação econômica aflitiva, desistiu em fa-vor dele, espontaneamente e sem que o soubesse, o beneficiado,de umü colocação qúe lhe fora prometiãa. E isto não obstanteencovirar-se ele próprio em conáições ãe vida não menos em-tàraçòsa- ' • '

Gestos como este, ieve-os sem conta, e muito naturalmente,tem se gloriar do que.fazia nem cobrar gratidão de quem querque fosse-.. .

¦ Certo dia entregou-lhe a esposa uma soma — produto dastuas economias — para que adquirisse um sobretudo com que seObrigasse do frio tia estação invernosa que então fazia. Muito

contente com a lembrança da sua companheira ie destino, foi icidade para fazer-lhe a vontade. Ao chegar porem à Avenida, en-controu-se com um amigue-conterrâneo chegado há pouco paratentar a vida no Sio, sem recursos e como ele necessitado deabrigo. Tomou-lhe do braço; entrou com ele no "magazin" maispróximo e comprou o sobretudo... para o amigo.Nunca lhe ocorria pensar em si próprio. Em compensação obem-estar dos seus e dos amigos constituía para ele uma preo-cupaçuo absorvente. E era principalmente pela repercussão so-ore a felicidade dos outros, que lhe acontecia uma vez ou outralastimar-se dos insucessos áo lado prático de sua vida. Ouçamosessa confidencia de sua carta de S de novembro e vejamos queespécie de amargura existe no fundo do seu intimo desabafo:"Quanto a mim, meu caro, pomo mais espero fazer nestavida. Aqui ficarei cumprindo risorosamente o dever que a mimmesmo me impús e certo de que muito pouco ou quase nada po-derei fazer no domínio da vida propriamente prática. Esta cer-i-eza me acarreta pesar imenso. Não pelo que a mim próprio falta.qiie eu, para mim, não quisera muito, mas porque muito amo edesejaria fazer aos que amo algum bem palpável, que eu própriome convencesse de que era um bem".Tenão tomado interesse por tanta gente, tendo espalhado

lantos_ favores nn torno de si, fora tmpossivel que mais de umavez não deparasse no seu caminho com a ingratidão.

Nem assim a sua vocação afetiva se entibiava- Não chegava,sequer, a mostrar indignação contra o irreconhecido. Narrando-me um desses casos que mais o chocou por partir de pessoa açiiem muito se prendera pelo coração, dizia-me em carta de 22ãe maio ãe 1919:

"Depois que V. saiu daqui recebi em troca de muito carinho,uma grande ingratidão. Antes tivesse eu o signo das lágrimas,signo ãe Jesus Cristo — esplendor do perdão*'.

Assim, diante de um ato que enche ãe azedume e revolta ocoração dos demais, a ele não ocorre senão uma idéia: a do per-dão. E não um perdão qualquer, pois quer perdoar com abun-dância, com magnificência, como perdoa o próprio Jesus CristOl

E por que? .Por piedade para com o culpado, visto como, segundo ele

próprio dizia, "não é menor a ruindade da vida para os que sãoruins", e principalmente porque em face dá maldade humana,diz. ele ainda, o que tiá a fazer "é persistir cada qual em ser maisagradável a Deus que ao mundo".

Jackson teve sempre um grande horror aos meios sentimen-tos- Não tolerava fraqueza nem hipocrisia nas afeições.O que mais lhe pesava na vida era ter. de corresponder às

relações de uma cortesia que nenhum homem de sociedade podeetiiíar.Limitava, por isto, ao indispensável o circulo- dessas amiza-

des. E evitava, quanto possivel, novos conhecimentos com almasincapazes ãe aprofundar e conhecer à sua*

Ele realmente muito amou e, por isto, sofreu muito. Foi pen-sanão em si próprio que disse do personagem central do"Aevum", que "nunca fora* o homem ãe um só sofrimento ou umsó amor".

Se porem Jackson muito amou, foi igualmente muito amado,pelo menos de todos nós que vivemos ao seu lado, sentindo tãode perto o influxo de sua amizade e què sabemos o que é ter tidotia vida, graças a ele, momentos de esplendor.

Por isto jamais o esqueceremos; jamais arrefecerá em nossojoração o entusiasmo pelo Grande Amigo a quem Deus, além daInteligência, concedeu a glória mais alta, mais nobre e mais rara— a da Bondade.

Depois de dez anos de ausência, quando tudo mudou emvolta ãe nós, e quando nós próprios nos sentimos tão mudados, asua lembrança no entanto permanece viva, igual, envolta nasaudade, na emoção e na pungente melancolia dos primeiros mo-mentos ãe sua súbita e dramática áesapariçâo do meio ãe nós.

INDICAÇÃONão é difícil situar e destacar

a personalidade dç Jackson dcFigueiredo entre as mais rtle-vantes de. sua geração. Sobra-vam-lhe traços de espirito bas-tante acusados para que pare-cesse fácil esta empresa. Exeni-pio disso é que se criou semcusto uma opinião quase unam-me a seu respeito.

Em traços ligeiros, sua ati-tude espiritual poderia ser dc-tinida como um esforço tenaz econciente para a afirmação daordem e para exaltação do bomsenso. Aceitou solenemente, asconvenções e os padrões tradi-cionais. Nunca o atormentou opensamento dc que nossa exis-téncia neste mundo possa serum sonho ou unia comédia.

São esses aspectos os maisevidentes, posto que os mais su-perficiais, de sua personalidade.Para se fazer justiça a Jacksonde Figueiredo í indispensável,porem, uma revisão dessa Ímã-geni demasiado simplista c, cer-tamente, pouco amável. Ele per-tenceu a essa casta de homenscheios de um heroísmo nobre,designados naturalmente paraestimular, para orientar, paracomandar e para combater. Es-sa predestinação dissimulou sa-bíamente — eu ir dizer lainen-tavelmente — qualquer coisa dcmais profundo sombrio e dedc mais profundo, qne não con-vinha aparecer a muitos ho-mens. "Elã inclina e até impu-nha uma extrema simplificaçãodas questões mais importantes,uma exclusão ^premeditada dodiscutível e do problemático.Não é sem que o -interessaramPascal e a inquietação íuódernaC "esses humilhados e luminososque evocou em um livro onde seencontram ;is primeiras influ-éncias e as primeiras impressõesde seu espirito. Ele nos insi-nua, pelo menos, que sua.atitudenão deve ter sido anestesiadacontra as vacilações espirituais,contra o ni^l e contra a tlesor-dem. Ai está, com certeza, o qnelhe assegurou a possibilidade depor em constante tensão os seuscsforc,os para vencer a atraçãoda anarquia e superar o conhe-cimento dissolvente.

constante, esse lirismo comoque enraivecido, é alguma coisaque sacode com a gente. Estou,repito, certo de que não vai sercompreendido. Talvez a novagente, a gente muito nova, que«ente o desejo de se interrogaríuriosamente, a gente que leuProust, a nossa geração essasim.. Esses hão de ver nessaspáginas a primeira imagem ar-dente dos seus próprios sofri*mentos. .

. -Eu o .li, com uma. espécie dealuUnuçãu. E a figura que meevocou.foi a de Bernanos. Kapositivamente muita coisa decomum fi-sei. perfeitamente queesse seu-Uvró.ç anterior ã Ber-nonos. Mais, uma razão, parayer. como é curioso esse çnçon-tro de, Ímpetos, de "fúrias". Poisfrá no seu estilo qualquer coisade "enfurecido?, como no deBernanos.

, É depois, alguns quadros ma-ravilhosos, como a visão deNossa Senhora sobre a íoguei-ra, a despedida da família, ochoro com a cartinha da Ondi-na, a estrela que despertou aIdéia do destino, e outros. E tu-do, e é o maior, mérito talvez,nascido como que por necessi-dade. Nada composto. Nadapreparado. A gente lê como seTivesse. Sem saber onde vai«tar, Como a obra de "um ho-aem que não. sabe fazer roman-,ees", Que joga, apenas sobre opapel o que vai sentindo e que

não sabe bem o que é tudoaquilo. Por isso, os romancistasprofissionais e os críticos aca-dêmicos achariam mil coisinhasa dizer. Mas a mim, o que agra-da na literatura, são essasobras justamente arrancadasdo fundo da vida, como pedraspreciosas, ou antes, como ani-mais um pouco monstruosos dofundo das lapas, ou peixes dofundo dós mares, qualquer, coi-sa que não está bem habituada4 luz do sol.

E depois o sentimento que ti-ve de que essa primeira parte' écemó que uma preparação para

a "explosão" de Deus. Em tudo,o que se sente é o inicio de umarevolução. Qualquer coisa detão "tenso", que não pode dil-rar por muito tempo. Ha umaexpectativa angustiosa. De umarealidade "maior" que vai esta-lar com essa realidade cotidia-na, a qual, aliás, você concedetão pouco, nesse ardor, de ar-rançar os sentimentos do fun-do da alma, em análises fmis-simas, mas ao inverso das deProust. "Análise de estados demovimento", ao passo que emProust, há a "análise dosestados de imobilidade .Penso que é a distinção entre oromance proustiano e o roman-ce bernanosiano, ao qual o seuse assemelha. Considero umaobra notável. Defeitos? O esti-lo espesso, muitas vezes, emer-gindo de vez em quando em Uo-

res, em figuras, claras e delicio-sas. Podendo talvez ser podadode adjetivos, por vezes um pou-co banais. Correção multo de-licada a fazer, para não arran-,car a espontaneidade da narra-líva. Ficíiiu uuu ü eaLílu fiqueespesso ou confuso, como estápor vezes (frases longas demaisou com preposições excessivas,incidentes, cortes, etc.), do quefique correto. O grande valor detudo é o movimento,, e é.precisonão suprimir mesmo as imper-feições, se essa supressão.vier aprejudicar o movimento, a chá-ma, a violência.

Devolvo as páginas recebidase aguardo o resto.-

uma explosão, como V. supõe,porque o "fato vivido" foi dife-rente: há invasão, terrível, sim,

porque combatida passo a pas-so, linha a Unha, invasão deum sofrimento novo, irreme-diüvêl, iiiuõ ôOÍi i'-iicljtü Oiiciitiu-dor e revelador, senão da razãode tudo (que seria razão do por-que vivemos), pelo menos darazão do porque não é do la-do do sofrimento que a vida sediminue. Enfim, você lera aobra toda na sua dolorosa rea-lidade terrena e transcendeu-tal". ......

mem comum. Para este, o ro*mance certamente não parece-rá nada".

Eio, 13-14-6-28.Alceu: Sua carta sobre o meu

romance me fez um mal dana-dor porque me deixou numa ter-rivel confusão. Você adivinhouo livro, todo, caracterizou tudoadmiravelmente. Mas não é ocaso, pot isto mesmo, de. nãopublicá-lo eu ? Você não avaliaa dúvida em que estou, mesmoporque não admito, em minhavida intelectual, passo que nãotenha orientação católica. Ora,este romante é uma monstruosaverdade e não sei se se deve-mostrar o que é monstruoso. E'certo que a fé, como elementoreal, existente, inevitável da vi-da, surge dali em diante, como.»a outra atmosfera. Mas não hft

17-7-28. ""O meu romance me deu uma

série de desgostos mortais, deque só agora me vòu refazèn-

-do. A menina, a quem dei oencargo.de cópia, perdeu-se nolabirinto dos pedaços de papel efez um jiorrQr impo-ssivel de ex-plicar em carta. E só ontem,após mais de 4 horas de traba-lho atento e seguido, para nãoperder o grande esforço já fel-to, pude me orientar de novo.Estou crente mesmo que até ofim desta semana ou principioda outra lho mandarei com-pleto. Aliás ele está me borro-rizando. Ogre, tonei, ..sei eu láde tantas misérias mal distar-çadas. Creio mesmo que V-, porfim, vai horrorizar-se tambem.E, no entanto, não creio queisto se possa dar com um ho-

22-23-7-28."Ademais, só agora veto jeito

de lhe enviar o romance. Que-ro aliás, que você fique comuma cópia para você. Se eumorrer, você publica-lo-a . ..Aquilo é a fotografia do f ant ai-ma Interior, nas suas investidasaté as janelas da vida. E', pois,um documento de valor históri-co. .

Mande-mè dizer o seguinte,ípois preciso talvez fazer uniapequena alteração* nò fim dacópia): quando se viaja dàqüipara aEuropa, dp navio, algu-ma vez, se pode avistar costado .Norte ou, desde aqui ganhao largo e nunca mais Vê terra?"

27-28-7-27."O romance, cujo titulo agora

lhe confio AEVUM, está positl-vãmente acabado. Tenho, po-rem, gue ler tudo antes de lheenviar".

18-19-9-28."Estou escrevendo um capl*

tulo a mais, Ijprrivel, do meu ro-mance. Isto me levará a umademor-a maior em lho enviar,Mas vi que é necessário. Emnada altera o plano. Comple-ta-o a meu ver".

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PAGINA g» _ SUPLEMENTO LITERÁRIO D>A MANHA DOMINGO. t/ll/IMI jjüfc.

JACKSON DE FIGUEIREDOE SEUS AMIGOS

I

«Rio 16-3-917 (10 da noite)Caro Alcides —Escrevo-te da redação da "Bra-

Blléa", aproveitando um momentode doscanço na vida aflitiva e cruelque tenho vivido desde a morte demeu querido Farias. Ainda hoje, atarde, conversando com CarlosPontes, ambos queixavamo-nos dafalta de cartas tuas — maS ele medisse que tinha lido um telegramaem que se anunciava a tua nomea-«ção para lente de Lógica no Gim-násio daí. Eis porque

* te escrevoesta; para te abraçar contente. Acadeira não poderia estar em me-lhores mãos — a tua cabeça foifeita para esta terrivel gitnnásticade idéias.

Ultimamente tenho também medado quase que exclusivamente aoestudo desta matéria, mas especla-lizando-me na lógica tomista oucatólica, e, com certeza, contraria-mente ao que fazer, cada vez maisme afastando da adoração com que8e cultuam hoje em dia, em certosmeios, os processos puramente in-dutivos. Pensei que faria o con-curso para substituir Farias...mas, meu amigo, o Brasil vai con-tlnuando unicamente Brasil, e a leiUrbano Fontes (feita para a pro-teção de um «jenro deste granuehomem) deu a cadeira, ao que pa-rece, definitivamente, a um pobrerapaz que de Lógica jamais cogi-tou, tanto que se fez substituto dacadfira, por acaso, porque não ha-?Ia outra, no momento em que pro-curou ficar em contacto com o"Pedro ¦*.¦>•*.

E é isto, meu caro Alcides, vejo•quase com terror o meu futuro. Seaté hoje tenho lutado e me manti-do de pé.,. até uma doença dequinze dias poderá determinar aminha derrota no Rio de Janeiro.A morte, ultimamente, segue-me«os passos com assiduidade, e, emredor de mim, tenho visto uma se-rle de desgraças. Perdi ultimamen-te dois tios (um aqui, quase de re-pente) quatro amigos e. ainda maiscomo sabes, culminando estes so-frimentos. o de ter perdido aquelehomem que me foi como um anjode guarda, enquanto vivi a seu La-do... Agora tenho a Laura bemdoente e grávida — tão doente que,a conselho do médico, estou comela em Petropolis desde o princi-pio. de janeiro. Avalia tu que Pa-rias ao morrer tinha, como era deesperar, 5$000 no bolsso. Pois bem:fiquei eu sozinho, tomando em-prestado, empenhando o que tinha,perdendo noites para ganhar ml-sérias, com o firme propósito denao deixar cair em maior prostra-Çfio a família de quem foi o maioramigo que tive nesta vida. Luteihorrivelmente, mas eram 15 pessoas* sustentar e afinal me vali dosamigos. Barbosa Lima, Nestor, am-

pararam-me. Fi-los agir e Já háaqui telegramas de que o Laurodeu mais uma prova de ser homemde coração. Gosto de reconhecerestas qualidades nos homens dequem me separam credos irreduti-vela.

E' a maior homenagem que possoprestar à própria vida de que tan-to descreio, certas horas. Ainda ho-Je tive lágrimas nos olhos quandorecebi de um velho, o dr. EusébioSilveira da Mota, do Paraná (quecom Farias conversara uma só vezna vida) 300$ que espontaneamen-te mandou, para a Família domorto, que sabia necessitada,..

Ah ! meu caro Alcides ! cadavez mais mergulho no oceano tris-tíssimo da Fé — pigo tristíssimoporque o meu cristianismo é assim -sem abeinaventurança dos que tl-veram por si a Graça da Deus.Eu até hoje tenho tido o sofrimen-to e a ãncia de ser melhor do queo sou na realidade.

Agora vou tratar também de in-teresses. Abri aqui uma subscriçãopara publicar a obra de Farias. Te-nho já em meu poder uns 500$ —dos quais 300$ me vieram de umacidade de Minas, Muzambinho, on-de tenho um amigo Camilo CabralPaolielo. Este dinheiro vai para asmãos do Laudelino Freire, que setem mostrado grande amigo de Fa-rias, e a que fiz tutor de Mena e in-ventariante. Com o que ele preten-de apurar em uma conferência queserá seguida de outras — e com omais que arranjarei, — quero ver sepublico o que há de inédito do nos-so grande amigo e também os 3primeiros volumes esgotados. Quepoderás fazer em bem deste nos-so fito ?

O que puderes me comunique,pois falarei imediatamente ao dr.Laudelino. Outrossim, preciso de tuaajuda para,a "Braziléia". Ajudamaterial e intelectual. Já te man-dei pedir colaboração e até hojenão a mandaste. Entretanto a re-vista tem feição nacionalista e es-tá nos teus moldes, exceto no queeu escrever... como monarquista ecatólico, que o sou cada vez mais,convencidamente.

Deves mandar esta colaboraçãoque seja qual for será publicadacom alegria de todos nós. Serás dosque nos honram. Ajuda materialpreciso também. Uma revista quecombate o portuguesismo açambar-cador precisa da ajuda brasileira.Espero que me arranjes umas 20ou 30 assinaturas pagas. A assina-tura é de 5$ por ano. A revista vi-ve de anúncios e da proteção dehomens como o Homero Batista,Afonso Celso e outros que compre-enderam quanto é ela necessáriaao nosso meio. O dinheiro dela meenvlarás com o endereço da revistamesmo: Rua do Carmo 55. Os re-eibos te enviarei imediatamente,

Duas cartas aALCIDES GENTIL

assim como 3 números ou os jásaídos para cada assinante de queme mandares o endereço. Peço-temais Que nos arranjes a mensagemdo governador do Pará, se te forpossível. Penso que teremos de ou-tros, mas para Isto só um amigocomo tu — e dos outros que se en-carregaram de tal cousa náo te-nho certeza do interesse que toma-ram nisto. Envio-te os 3 númerosjá saídos, mais umi vez, porque oetinha enviado para Alenquer e nftosei se te chegaram ás mãos.

Os teus livros continuam comi-go (não recebi nenhum exemplardo 2.° dos Novos Horizontes). Seainda não os enviei foi por faltade recursos. Adeus ! Já é tarde eestou em casa da minha irmã, deempréstimo.

Adeus !Um abraço do seu

JACKSON"

"Muzambinho, 24-11-16.Um abraço.

Eu poderia chamar-me um aml-go do sofrimento, se isto não im-pticasse a suposição de que tenhoa vaidade de procurar parecer umestoteo.

Não; quando digo que sou uraamigo do sofrimento, quero so-mente render justiça ao melhor demim mesmo — quero dizer: sú*quando sofro, alem dos aborreci-mentos quotidianos, só quando mesinto aterrado pelo mistério detudo, e a vida me castiga cruel-mente, só então, meu jovem com-panheiro, me encontro cara a caracom o verdadeiro homem que exis-te em mim, só então experimentoa alegria de conhecer a bondadaque está no fundo de todos nós 3,em mim, sob um montão de ân-cias egoisticas, desejos mórbidos,valdades tristes...

Ando, desde que deixei o Rio,numa destas crises de sentimenta-lismo e de análise, que se con-trariam, mas fazem, por fim, umaterrivel harmonia de desalento, detédio, de quase horror ã vida. Mas.veja lá o que lhe digo: só assim,só nestas crises terríveis, esmaga-doras, já humilhado em todo meuorgulho, quando sinto, ao vivo, afraqueza, a miséria do coração hu-mano, eu sou capaz de amar estamesma existência, que me apavora,porque, deste inferno de vida peloabsurdo que ela seria assim, soltano espaço, sem ligação com o To-do, advinho flnp mais altos, umalem tenebroso que é entretanto aluz do meu espirito.

Penso que lhe estou a falar In-compreensivelmente. Mas assimsou e, pelo menos, são em mim, ver-dades puras, estas sombras em tur-bilhão em que procurei definir-meante a sua inteligência, para expll-car o porque escolhi para escrever-

Hf ;»;|H v9¦ti i-yfsPtjM BP ajB

sslRJKM mr* MmmmÉ^MjLJtÊJM ssEJ-á'«H

D. Regina Jorge de Figueiredo Martins, mãe de Jackson de Figueiredo)

HJNMmi HfejttMgj|i .^^»M; - S

Em 1925. Retrato de Jackson de Figueiredo e Perilo Comeslhe justamente agora, quando odevia fazer mais tarde, já descan-çado desta viagem penosísslma, queo foi, para mim.

A saudade que me assaltou comuma força irresistível, desde quedeixei o meu lar, deu-me a medidada incrível fraqueza que represen-to.

Tenho lutado com mil misériasnesta vida de atormentado moral— misérias do meu próprio tem-peramento — mas o que me espan-ta é que, todas as vezes que achoum carinho que me suavisa o malInterior, ainda se me fas mais do-

loroso qualquer maltrato da vida,e fico dependente deste carinho,como uma criança que tem pavorda solidão. Hoje em dia, ao ladoda minha Laura, tenho uma certaconfiança em mim mesmo e vejoas cousas com o tamanho vulgar,que lhes é próprio, mas estou assimcomo que tolhido na minha liber-dade de-agir, pelo receio de qual-quer solidão moral, como esta emque me encontro: as cousas crês-cem, os horizontes são infinitos dolado do mal, e me temo de tudo, •me arrependo de tudo.

JACKSON* •

MARGINALIA - tristão da cunhaEu tinha prometido ao meu

«ro diretor umas notas sobre onosso caro amigo morto. Masa produção é vagarosa, a vidaapressada, a gripe insofismável.Tudo qüíinto consett! foi rs-Unir palavras esparsas, sumáriase informes, a que nem tenhotempo de dar jeito aceitável.Entretanto aqui estão. Nietzs-che recomendou que nas coisasgrandes não tivéssemos receiode balbuciar.

Forte espírito é o que fazpensar. Jackson de ¦ Figueiredofoi dos que pensam e dos quefazem pensar. Foi um motivoirresistível, uma força natural,liem diversa dos pensadoresconclusos e livrescos. .

Pascal e a Inquietação Mo-derna, chama-se o seu livromais característico. Não vejomuito a inquietação moderna,«nu a inquietação antigo. Vej'o al-E também as há quietas. Umasmas inquietas. Sempre as houve,

perpetuamente, num sono ante-

rior e elementar da intetigên-cia. Outras, superior e trágica-mente, tendo atravessado o marda inquietação, vieram ou cui-daram vir ao repouso na cò-munhão cósmica, pelo misticis-mo religioso ou pelo pensamen-to estético.

Nossa alma é dupla, não ra-ro múltipla. Pode-se pensar ecrer ao mesmo tempo. Mas sãooperações distintas, paralelas.Seus últimos termos talvez seencontrem no infinito metafisi-co, o qual não tem nome tiein,tor i na.

homem firmou-se na noção dodivino como o geômctra na dalinha rela: — para poder mediro Universo. Depois vieram ou-tras geonietrias.

Tragédia humana. Buscar re-duzir a termos de lógica o quea lógica não comporta. Dar avolta ao pensamento, e refugiar-se outra vez na noite visionáriada imaginação, como aum so*-nho.

Os sistemas religiosos são mo-dos escadas de Jacó que subis-sem bem alto no céu, mas a quefaltassem os degraus lógicos decomunicação com a terra. Ora,uma escada é uma construçãológica, e não se pode construirno ar. Há aquí um hiato que osmísticos atravessam voando, nasasas do Credo quia absurdum.

^ O sonho religioso como o so-nho da arte, é composto de res.-duos do pensamento transfígu-rados pela noite misteriosa quereina em nosso sub-conejente.

Ao tempo que a teologia eraa suprema e universal ciência, o

Há os quietos, os inquietos,e os alternados. Jackson de Fi-gueiredo foi destes. Tanta vezagitado e atormentado, tinhamomentos de ternura eucaris-tica verdadeiramente angélica.

Foi muita vez colérico. Mas% cólera desses espíritos é uma

cólera criadora, lírica, uma có-lera de amor.

Cético, e resspeitando o seuSentimento, nunca lhe quia ía-lar de coisas defesas segundo asua disciplina. Mas não raropensei no abismo atormentadoque o devia separar do espiritode sacrlstia que ainda governao homem.

O homem habituou-se a dizeruma coisa e a fazer outra que ocaráter inteiro já nos vai apa-recendo como coisa anormal,anti-social, retrataria. Dos ho-mens dobrados uns o são con-cientemente, por propósito de-liberado. São os fortes, de al-gum modo os honestos. Conhe-cem-se a si mesmos e puderamser sinceros. Os outros o sãoinferiormente, por abdicação, ejá não se podem olhar a si mes-mos à face da vida. Jackson foidos bravos refratários irredu-tiveis.

Encontro em uma revista oseu retrato. E a minha impres-

são de contraste se confirma.Este lutador fisico e moral, ami-go de pescarias e de conflitospoliciais, não menos que dcdisputas doutrinárias, tem ainái-iuai a de uma criança, a uu-ca puerittnente dolorosa, de umadoçura impressionante.

Lutador de litígios temporais,tinha ele o que falta à infinitamaioria dos homens de igreja,meros amanuenses da fé codiíi-cada — tinha misticismo.

Com a sua cabeça regular,discreta, quase pelada, comouma cabeça de oblato, os olho»dele indicavam bem o destinodo missionário militante, cha-mado pelo magnetismo miste-rioso do sacrifício.

Seu fim foi lógico. Ele eravisivelmente um homem trági-co. Tinha em grau não comuma vocação da morte antecipada,não da morte negativa, omissãoda vida, mas da morte expio-são da vida, e iluminação.

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DOMINGO, Ml/IMl SUPLEMENTO MTEUBIO D'A MANHA — PAGINA 2»

AlVUM, o romance de jackson de figueiredo. Que ao amor, ao seu domínio, para les pontos escuros, aqueles cantores das emboladas... Etinha fundir-se tudo, enfim, num lei- mesquinhos vultos... Eram au um recanto aqui, ainda mais

origem literária? to natural de despersonalização que lhe diziam, os navios re- sombreado e convidativo àEis em que pensavam, à meia quase absoluta. Ele agora se es- voltados, meio escondidos por meia luz da saudade: a Rosa

voz, dentro dalma, àquela alta tava vendo como a outrem, e ao trás de uma das ilhas... do Severão, a Rosa com a suahora da noite, os trinta e dois seu anseio expansionista, e à E ele, um homem capaz, um rosa nos cabelos... Np últimoanos de Antônio Severo, ante sua dor que, se o prevenia, era. homem que deveria ter lutado domingo, em Santa Éngrácla,uma ruma de autos, sobre a ela própria, inevitável.-. Ao sempre pela sua pátria, arma- lembrava-se bem.,. Ele e omesa em desordem, o retrato da fim de tudo, como a caminhar- do de inteligência, com a con- Valentim, o filho do Lixandre...noiva bem em frente, na moldu- paralelamente ao traçado de ciência do que valia, jamais fl- Tinham ido os dois até Barro

(fos desse romance, e ssrão os seus ra de um branco enfaticamen- sangue que ia deixando o seu zera nada por ela, não soubera Vermelho... Havia funções nacapítulos extremos — o primeiro e te nupcial, e pensar nâo ela coração, um outro Antônio Se- mesmo nem ser um desses or- choça do velho pescador doo úiíimo. bem o que era, pois, nessas ho- vero" levava pelo braço aquela nameritos de cultura e de arte Poxim... Sim, a Rosa só a ele

CArllULO ras de compressão do silêncio, outra pobre criatura... Era como os há em toda a parte... dera atenção.conversar consigo mesmo não é mais possivel pensar em casar? Fora um bacharel venturoso, E muito mais depois que lhequase exercício de razão, mas Correntes formidáveis de dor, parasitário, um sibarita dos 11- disse, que era a última vez quede todo o ser, uma espécie de como que de repente, se forma- vros e, por fim, como um me- o veria, que la viajar, que iasurdo clamor de todas as células vam no seio mesmo do seu des- nino de colégio ou um ator para os estudos...nervosas, de todos os glóbulos amparo sentimental, e iam tal- vulgar, a vítima de uma trage- 0 valentim voltara mofino

eniastènria se lhe do sanSue. e <*<* todo o instinto, vez sufocá-lo sob ondas vertigi- dia passional quase reles, t de ciumes. E ele tivera umaé de toda a espiritualidade... nosas... quase reles, não pela mulher sau(jatie enorme da moreninha,.Árin definitiva ra>i-f.pitimenti> Antônio Severo olhava agora, Saiu dali o homem robusto, que se lhe sacrificara, mas pela alnda mais viva do que tiveraSanh'., I árv!. tintar J tàntíS atrayes a ianela baixa. Irontel- quase cambaleando, e cinco mi- usura do seu próprio coração, depois da sua_ Bem mals vl.SE* intal rnnsiln miSím ra a sua mesa de trabalho, «""t** depois dormia como um misérrimo coração incapaz de va> mais natural aquela sau-!™„ „Jnervosde anio on olhaTa a noite' na nolte' M es" brut0- aniar' >™apaz de errar ou de dade. E por isto talvez passaraí w S Lhi, h»™

ou trelas sobre o céu escuro, mas aceitar energicamente... mais depressa...ífi ™„ o 7aiv!n ^nroiT.,,7. vla' a0 mesm0 t<!mp0' via men" CAPITULO XIX E os seus olhos fitaram ao E ali ia ele, sempre perdidoJaJ * Jniffan ,mSa í. "taellle' ** ' lu,el11' " lu!B «nBDC rt MA D TCWC lonBe ©horizonte cheio de n0 devaneio sentimental, sobre?n»*ÍSSÍÍÍÜ t"S_c3* das duras lâmpadas elétricas, SOBRE O MAR TENE- sol... Uma vasta fogueira - aqueie mar imenso, condutore^ío esforço inteligente "a- r.Ua mais ?° ,?"e "un?a "?" BROSO, EM FACE DOS P^sou - entre o que fui e o antig0 de amblções mais save-

lia não surareendera uma 2Uleta' s0 Palmllhada. .aouela ASTROS MISTFRinSOS que sere1*** Se£ ° ouf.íor**, ras... Mais úteis? Mais dignasEla nao surpreendera uma hora por 5^5 necessariamen- AaiK«J3 Mia 1 E.KHJSUO E volveu os olhos, então mais da vida.> Que saberia ele' Nacriança, um inexperiente, ou te violentos, guardas da lei ou demoradamente, para a multl- t^de que esmorecia os astros

Ns bibliografia ie Jackson ãe de toda a tranqüilidadeFigueiredo, um livro existe que tem é que em sua vida não«mo siflni/icaçõo poriiculor: é romance "Aevum", o único que Ja-tkson produziu. Livro de densaanálise, nele encontramos a psico-logia atormentada do escritor, nadefesa de suas idéias, e também emluta com o seu tempo e a genten que pertencia.

Oferecemos ao leitor duas amos

O OUTRO EU QUERESSURGE E E'RECONHECIDO

Quandoapresentava com feição de

mesmo um homem a quem fos- j„imj,jOS da lei, amantes, mari- Esperou que o navio largas- da0 heterogênea que volteava principiavam a assinalar comfiem nCSCOnheCldOS tOtíOS OS ri«~ t^nnitn^l^ ««.»«««:.,»» « SP ri« r*5»i<c nora coir rin r>oma_ ... *-_i jíii,„ -«„ «.iwolrne tf ...sem desconhecidos todostranses da vida passional.

Pelo contrário.À sua rara robustez física, _

correspondera sempre, desde a empurrou umaprimeira juventude, uma ro- jUnto da ja„ela

dos tresnoitados, apreensivos, e *e do cais para sair do cama- n0 tombadilho, nos primeiros a ma' presença misteriosa oos fantasmas da imaginação de rote. Estiveram ao seu lado, contatos erradios da camarada- cgu endolorido O Cruzeirotodos eles... até o último momento, o For- gem forcada. E não foi capaz d0 Sul vei0 por fim COroarDeu uma volta pelo quarto, tunato Fiúza. Fortunato,cadeira para silencioso, compreensivo. Fiu-mas não se z«. como sempre,_. „..___„, u , , na descon-

busta compleição interior, força sentou Fincou os cotovelos no solada atitude, de João da Ega.enorme de eloqüência e viva- para-peito de mármore frio, — Ah! meu velho! Paris? Sim!cidade, que ele, se bem que des- íá se dejXou ficar, olhando, des- Você vai esquecer esta chol-coníiadamente, chamava, às ta vez, mas . com olhos ainda dra! Você vai remoçar vintevezes, a sua alma lírica. Mas,vencidos os primeiros senti-xnentalismos da adolescência,extintos, pelo tempo a fóra enem sempre com limpesa e fi-dalguia, múltiplos ardores dacarne que, todos, a principio,lhe pareceram fortes paixões,a verdade é que atravessara,por último, longos anos de re-íativa calma, e em que o queniais lhe doia era mesmo o sen-timento de sua incapacidade,da sua absoluta incapacidadede amar.

Dai a pensar-se também In-capaz, não indigno (ele prote-gia-se ainda por traz destanuança) incapaz de ser amado,distava pouco, e Antônio Severo,.de todo entregue à luta profis-eional, só. uma ou outra vez.quase que voluntária e concien-temente, é que procurava o con-vívio de certas melancolias, far-tando-se então de recompor os to ,seus romances passados, e de P^fJ.„„„.,Imaginar outros, todos, porem.

de-mais sobrenaturais, a ruaserta.

De realidade, só um càozinhomedroso rosnava, grania comogemendo, a arranhar, „esesperjadamente, a porta da casafronteira, muito mais baixa dooue a sua. Aquele telhado emfrente era comopara o firmamento. Antônio Se-vero pensava terraterramente:que bom ser tão baixa a casaem frente! E os olhos de An-tònio Severo fundiram-se denovo aos mistérios do céu...Céu escuro, estrelas brilhan-tes

mais possivel

porde sentir com mais intensida- simbolicamente aqueles hori-de nada mais, nada mais... ZOntes de melancolia... ASeria uma vitória, enfim, so- Cruz suspensa sobre a ampll-bre si mesmo? Seria a morte tude da terra generosa, a quedefinitiva do seu coração? aquele mar abria tantos caml-

Mas certa noite, cansado da- nn0S; enfileirava tantos destl-quele convívio morno e enjoa- nos Mas nem era pequeno otivo, quase recaiu de novo na aviso... A Cruz sobre a mora-

ro da casa paterna, ecom seu pai

pela caatinga árida, e, no pri-meiro broto de água, sobre fo-

anos! E naoum romance tenebroso como Sua miséria... E, sozinho, com da mais ãmpia7sõbrê"a moradaeste seu, após se ter visto Pa- a sua velha mania de interru- mais rica dos homens .. Nâoris, a grande vida, o boule- gar os astros, olhando bem fi- na fuglr ac.ueie sinal de re-vard! Sim, eu hei de acabar to uma estrela de "iuz azíaga, dencão... Porque não há comono boulevard! — E ja enter- pínSou naquele sereníssimo esquecer a escravidão e a trls-necido consigo mesmo: — Pois fjm ae Martim Éden e nos ver- teza, a insatisfação e a misê-

ju cm V* acha que acaDarei Profes- sos de Suwinburne, mordentesjia as paixões, *e

os erros...seu balcão sor m>imclPal? Você pensa que como pontas de aço... por toda a parte o sinal da-vou fazer economias? Minha Mas a companheira gentil quela mjsteriosa destinação,

que a vida de bordo ja lhe im- daquela finalidade, " a contrapusera, veio arastá-lo dali, gosto aceita e sempre incom-mais uma vez, para o salão de preendida...daDeSmís'foi,

no terceiro dia da ltPara ° alt°: «'¦". ">a= Para «sua Xgem aquele sobressalto alt0. sofrimento, para a purjfi-au* vi»6c.,i •"í""

fjmbria ca?a0 nos cravos, no sangue agotejar, no círculo de espinhos.sobre a fronte cismativa... Eos campos de batalha em der-redor da cruz, e a cruz no cora-ção de cada homem, e as cru-cificações silenciosas no des*gosto de si mesmo...

E ele ia ver o velho campoda luta cristã! ver as cidades

irmã? Que se case... E vocêtão calado, meu velho! Que éisto? Deixe de bobagem! Ve-nha de lá este abraço.

Antônio Severo que, realmen-te, se conservara silencioso du-rante todo aquele dia, abraçou indefinivel.

Parecia já não viver o seu ca- »» ™°.ça0 °f_feul. *>¦» .aml- g* £ „te"a„"?,rt,i^último contato da vista com aterra brasileira... Sim, a me-lancolia abriu naquele dia assuas mais formidáveis asas pa-ra dar sombra à sua alma devagabundo, de desertor de si

aquele <iI'a revoltados... E Antônio mesmoSevero pensara a sério no sui-cídio... Se este navio não sair,dou um tiro na cabeça. Mas

so passional, e. ao sabor da ima- |os- E "* deixara ficar na caginação, foram-se-lhe avivan- •»¦"*•¦¦ Ainda ao sair, voltarado cenas da longinqua infância, ° Fortunato e lhe dissera en-o velho preto que se enforcara *Te temeroso e inquieto: —no pé de imbauba, a descoberta 2lzen? 9U? 9 naVK? na0 salra--de Venus. certa noite, do terrei- Qae ha d01s navios oa esqua.

seus olhos viram, e logo a açãomagnética sobre o$ seus nervns...'

dificuldades do mo-SiSSn^S»**^ harverd^brlh^ês ümias", »•«¦. -O navio era inglês e o

XI acraedU«CO'A0™daelsérta a «™» *™ a ^^ ->« £2^^^!!,JÍSÍ'^^.'assim como um jardim por en-tre árvores de um vergel: fru-tos e flores... Saboreie 05 fru-tos quem possa; isto não des

Q oue ele deveria ter feito .era voltar à gleba paterna, à brunidas pelo sangue dos sa-vida humilde aa província na- críticos, as estradas que pode-tal E masinava o que se riam ser como rios de sangue,

e ia dado em seu espirito ao « não fora a sede imensa daconteto com aquela experiên- ^;a. .^E.no ast™ quejolava

manchará a beleza das flores, pulsa entre o homem e a ser

todas íi» uiiiuuiuaues uo mu- i-uhwwj <-«•" «*h«^*" —i'- „__ hificmrivpi-s pcnafn^mento... Nem as autoridades cia, que nem lhe passara pelo P°rDli;"Ígurf'"snsaevsep,aç0** „„tinham sossego para atentar espírito tentar, na hora do seu a™g'tud^ ™pecn0Xenté

m-num caso como aquele... E jâ naufrágio passional... Nada! jestno ae um c""""énjf PaE porque este instintiva re- se achava para alem das forte- Não era mais capaz nem de ™ outro vas io de determ.naçSo

„. . . tezas da barra quando se fize- idear aquela volta ao ninho «*^dnre* frustra ,t m li-nem as fará menos perfumo- pente? E porque a mulher foi a ram ouvir os primeiros tiros antigo... Somente, as cenas da ™""™ „i?it„«í „„„ S?v,„.«as... O noivado... ah! o primeira aliada da serpente? da revolta ou do governo. An- infância e da adolescência se gaÇa° «pirituai como boinasseu bureuezissimo noivado. Ah! não lhe esquecera Maria tonio Severo, oorem. desde mie levantavam ainda mais rápidas ae ar numa toaina ae aguaarranjado quase a sorrir, Lúcia! Ela a!í estava presente 0 navio largara a amurada'do e fulgentes que aquelas ondas iiioi**uoa o

^ aesuno, na-

sem nenhuma inquietação, àquele divagar entre nuvens, lá cais, sentira a garra da curlo- do Atlântico no mar interior... J,"ela,"aj.™"a „qí„ '"!' Pa™"

quase como um bilhete de ida às estava, entre elas, por detrás sidade levantá-lo do marasma- Uns versos dos seus quinze „„ *'«,„ ,^„ ° ™f", a

águas, por simples desejo de delas como uma lua de fogo, d0 pav0r de si mesmo e de to- anos. SuaUe^ dameles outro: as-conformar-se aos hábitos do uma lua bem mais escaldante dos, em que estivera tantos _, KJtal"E»™ *«L. «meio em que vivia... O seu noi- que o sol do meio dia. dias... E seus pensamentos não Eu quisera, beber a saudade .wob ramoem 1suspensos sobre ovado a bem dizer, só agora Como que uma mão invisível tinham tomado logo o rumo Imánnha ™smo misterioso aoismo_..pensava nele a sério, mas ain- riscara a ponta romba de um fúnebre das suas últimas desl- Que em teus olhos se ve, velho ^' 2. ™ ,„í_7 Si Z„„Lda como em coisa secundária, lápis frígido sobre a sua cansa- hisões e amarguras... Real- [lobo do mar... J aque_era asam. No mundoe ainda porque a paixão, a sem- da fronte. Repugnava-lhe qual- mente Maria Lúcia, no seu cal- ÍJ?dc.°' cpract?rizar a dife?enra¦pre esperada e descrita, ali es- quer «capitulação daquela hls- xão, hirta e gelada, atravessa- E estava a ver, na praia hu- J™ „ Stamenl. erande eLa, £rrotoando-o.... om, que no entanto estava da na sua cabeça. _. ^Pesava mil ma, _à_ porta da ca^hola enre o ntotamene grande e

se de acima da sua razão como uma cena dramática, em tela dc sava também sobre o coração, de pesca, a figuraque lhe segredava, com mais cores vivas, ou talvez, não hâ E no coração também aquela português, um dos

do velho llue na mesmo ae comnresnsi-raro-? na- V&1 nas duas exnressões? No

que ine segreaava, vvm mais v«v.0 ,a.«w, ^„ ™..—, .— „ »,u v,u.aV«u «o»'""" »m"«*. hv*v«i,»v-, «... — lr,m m,mrin i*,rtroT t>r\iãn nnmn -ça^força convincente do que se a «capitular onde tudo é presen- mancha alvacenta: Constança, quela industria primitiva da ^nSfs,^°X 0

"ra^de do S^razão somente lhe falasse, que te. pois que a imaginação ver- a quem nao vira mais... E a sua.terra E os coqueirais do °%n°ls"ng"'r„l? |rJ, (,.,sório Eera ela, a esperada, a descrita, dadeiramente amorosa e assim sua vida como uma nebulosa bairro sobre o mar... E dos <!|™°. ° ™ra'«e'lf0.™*,e„

a desejada, a temida, a irreme- eomo a sombra de um per.sa- que se desfazia aos molambos coqueirais como que a vista se "a0, fA13™ a'

?™ d„roWado-- «- " ¦>*• »¦¦- " ""— "-¦-- *'— - lhe alongava pela caatinga esnínio aqueia cruz oommaoo-dentro, pira o interior das ter- ra? P°r «™ (se a ciência naoras mal aradas da sua gente., "a de todo mentirosa) sobreAs lagoas tristes... A poesia Jfte astr2,,,"l*sq"inh?,°JaS;discreta dos cajueiros... O tom ««o «° Fllh0. t,e Deus? Por

<jiavel mento mais vivo do que o nos- numa amplidão negativa eE ele que tanto se precatara so, e onde tudo é unidade. Mas morta...

dos pés de seda contra os quais, riscara-lhe a ponta do lápis de Mas, em ondas, como aquecom tão subidas razões, o ama- selo. queimando-lhe a fronte, e Ias que estava a ver do tomvel Francisco de Sales o prevê- o cansaço, por fim, da visão de- badiiho. o que rolava agora so

marcial dos grandes canaviais, que entre tantas constelaçõesnira! Mas talvez aqueles pés de masiado clara, criou as sombras, bre um novo plano de resistên- ,„«lt,o. u>~ „.„,...„ _,...<...<„.>, ¦

olaneta a luzseda tivessem ficado a bailar no os intervalos de treva, as; solu- cia de sua alma era uma an- que dominavam, como exerci- f„ "acrifítío

suoremo por queseu espirito, como uma espe- eoes de continuidade na vida da gustia de caráter diferente... tos, várzeas e morros E os J^flI^y "^Tdrama

rança singular, a última, con- paixão. Esta principiou a ter Ei-lo que deixava o Brasil no areiais hostis... E a terra ver- ™£ a ,C,L*™ 5Eria 0 ur.iverso

traTaridez do seu coração, jus- historia, epiíodios cenas e, momento em que, mais uma me'ha que parecia clamar por ™"jataensa adoração do h™

to desde o momento em que ordem dos seus sobressaltos, das vez, se agitava, na incerteza tabas e caboclos... E os gados aqeu„ à™ru"da mística

"wen-aquela leitura, quase de acaso, suas surpresas, das suas espe: do seu destino, a alma na- mansos dos currais... E as d™Lreuepna? «esta horalhe revelara essa espécie mais ranças, dos seus desejos, foi cional... rezes surpresas nos atalhos da Marta S?será algíta

"oímsutil mais delicada da mesma po»é<> a pouco contrapondo-se, Olhava, na formosura, na mataria rala, bravias e ágeis, ""'r"1 "¦"-""* tC"* "'t'

Intransigente força' destruidora na atividade vital, o teu horror majeMade da Guanabara, aque- como a desafiarem os rudes

mem à cruz da mística f-wen-hora,eoisa

(Continua m pág. SB3)

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rir.INA 2M — stiei.aaiMrn MIMAM» B'A manha oominos, tru/tm -j

POEMA(A MEMÓRIA DE JACKSON!

Nossa Senhora, minha madrinha,fu vês as coisas verdes, não ê?Meus olhos pretos, coitados deles!Teus othos verdes, felizes deles,minha madrinha, Nossa Senhora da Conceição!

Nossa Senhora, dá-me teus olhospara eu ver com eles meus pobres olhos.

Coitados deles, minha madrinha,só vêem as coisas como elas são.

Nossa Senhora, minha madrinha,pinta meus olhos, que eu quero ververdes os dias que inda virão.Nossa Senhora, minha madrinha,Tu vês as coisas verdes, não ér*

Teus olhos verdes, felizes deles1Meus olhos pretos, cor de carvão!Nossa Senhora, minha madrinha,

tu vês meus olhos como eles são'Maceió — Marca de 1929.

JORGE DE LIMA

Carta a Alceu Amoroso Lima

1

Rio. 3-9-1920Meu caro Alceu

O Afranio U> aqui esteve,Veio conversar com o pobre eirritavel doente e me trouxe asua carta. Certo a que lhe fiznão tinha a pretensão de fa-zê-lo voltai* atrás do tudo quan-to externou em relação à "Ci-dade encantada". Já me satis-íaz a honra da resposta. Algu-ma palavra mais áspera paraeom V. deev ser perdoada pois.na verdade, estou entre os seusmais sinceros admiradores. Ehá mais o seguinte: muito aocontrário de V. jamais separo ohomem do livro ou o que sejaque haja escrito, a ponto quese a "Divina Comédia" fossepublicada agora peia primeiravez, sob a rubrica do sr. Joãodo Rio, eu, de antemão, diriaque o livro náo era dele. Pre-firo também ver o livro comolhos de simpatia e suponhoque a sua regra de imparcia-lidade é um pouco deshumana.Nós todos, mais do que imagi-liamos, somos presas de paixõesmais ou menos definidas. Di-go-Ihe até: a paixão é a verda-deira, a REAL atmosfera daTida social — e as letras aí seinovem.

Enfim, apesar do seu quaseconvite para uma discussão,onde eu quizesse, sobre a suaúltima crônica, devo repetir-lhe o que escrevi na minha pri-meira carta: não posso, nestemomento, aceitar qualquer de-bate prolongado. Continuo ajulgar injustíssima a sua criti-ca sobre "A Cidade encantada"C lhe digo que, a meu ver, fciou-Te da sua parte, senão, comolhe disse, "a escolha de um ai-to para fazer figura", umacerta e humaníssima vaidadeno desfazer de um nome feito.

Quando eu lhe disse do livrodo sr. Gustavo Barroso não quis•ignificar que ele tem a pompacomo principal qualidade. Podereler a minha carta. Que o ti-tulo é pastiche o é não porqueSe pareça com o de um livro deV. Hugo — é pela pretenciosi-dade. O título "Cidade encanta-da" <2>, pelo contrário, não éfeito pelo autor — "cidade en-cantada" é lenda de todo o Est.da Baía, crianças falam em•cidades encantadas", homensmais ou menos cultos creemnelas. O personagem de Xavierfoi. até certo ponto, desenhado«obre a vida de um padre ilus-tre que acabara às voltas comaquela fantasia.

Meu valente sertanejo! —Ja se vê que V. nunca viajoueom tiquele homem do nosso«ertão — e, como lhe disse, V.esqueceu que o sertanist» re-presenta um tipo de aluado,tomado por uma idéia lua. ho-

UM ELEITO DAS

mem, * é evidente, de grande ee desordenada imaginação. Nãoii seu artigo com má vontadee dai a surpresa. E o li bemmeditadamente. Não só estecomo o sobre a Ronda — e mi-nha surpresa foi tal, ante acomparação, que cheguei a duvidar da sua realidade. Aliajá lhe disse que leio sempre coma maior atenção o que V. escrcve e até tenho aqui guardadagrande maioria das suas eróni-cas. "A Cidade encantada" tema sua unidade justamente noelemento de maravilhoso queXavier bebeu na vida do seuEstado natal. V. com o seuamor ao real. levado a tal ex-tremo, faz taboa rasa de mui-to boa literatura universal.Aliás que critério adota V. pa-ra assim montar-se na tão lar-ga e tão vaga noção do real?Que pode ser o real, não já di-rei para sua filosofia, mas pa-ra o exercício da sua critica —que será o real em matéria li-terária? Já lhe não direi quea pura idealidade, a pura ima-ginacão seja a única rea-lidade verdadeira na obra deficção mas V. há de concor-dar comigo que o que há demais difícil e sutil em arte éjustamente a fixação do quehá de imaginário, de sugestivo,de ideal na vida morta das coi-sas. .Enfim, meu caro Alceu —não posso discutir e não tenhoo menor desejo de tornar ina-ceitavel para V. o meu acata-mento.

Digo-lhe iiicSiiiú níé'. a»*» nu»-sas relações sociais e de ami-zade, propriamente, teem sidotão pequenas que o seu desapa-recimento, que eu sentiria,aliás, profundamente, pois meudesejo é que se façam mais ín-timas e mais confiantes —pouco alterariam o juizo quefaço de V. como critico, o juizoque tenho feito e continuo afazer do papel que vai V. exer-cendo. Julgo que ninguém tem-se apresentado com qualida-des de caráter mais própriaís doque as que V. possue, neste es-tragadíssimo domínio das nos-sas letras, Prefiro mesmo osseus pecados de rigor, aos pe-cados de quase todos, de con-descendência excessiva. V. tem,a meu ver, feito obra de sanea-mento. Quando peço a um ho-mem olhos de simpatia no exer-cício da crítica, nem de leve de-sejo malabarismos e arranjoscom o que não presta. Simpatiaé puro elemento de humanidadeque, por isto mesmo que é in-clinação para julgar com bon-dade, muitas vezes se transfor-ma em revolta e indignaçãoante o que é indigno. Em mimtem sido. mais de uma rei, ca-minha mai* curta pon aquelas

As musas, que Hesiodo aflr-ma que são nove, ainda nãodeixaram de viver na terra.Digo — ainda não deixaram deviver na terra, ao envez de —ainda não morreram, porqueelas tiveram o berço, na imor-talidade do Olimpo, fecunda-das que foram por Júpiter emMnemozine, a memória, que éa única expressão mais ou me-nos possível da eternidade.Certo, neste momento de uni-versai angústia, de inquietaçãogeral, quando, na Europa, queé o mundo, a Guerra da Civili-zação, tudo devasta e apavora,não e tarefa realizável reco-nhecer, assinalar, nas terrassemi-barbaras do Oriente, oPierio, o Pindo, o Hoelicon, oParnaso, e descobrir, em algumdesses' montes sagrados, assempre belas, as sempre jovens,as doces e amadas Piérides, ge-nerosas inspiradoras invisíveis,que levavam aos festins, ou-trora, a harmonia e o esplen-dor, e á frente de cujo cortejo,Apoio, o divino, coroado de lou-ro, resplendente de graça, abriaa marcha da beleza e do en-canto para as jornadas deslum-bradorãs. Também não será pormeio de Pégaso. cujo formosodestino era pastar, dia a dia,em torno das residências dasPiérides, que à ventura nos po-derá ser dado de ver, ao menosde longe, a configuração des-ses cimos iluminados, e, maisdo que isto, de surpreender, nadelicia perfeita desses lugares,algumas das gentis inspirado-ras dos homens. Pégaso senteou deve ver que os espaços, nes-te momento, estão cheios de na-vc.s guerreiras, mais destruidorasque as de Marte, mais pavorosasque as de JYpiter e sabe que seso dispuzesse, embora com asmaiores precauções, a cruzar,um instante, a Macedonia, oua atravessar o Egeu, correria orisco de perder as asas e rolarna terra para sempre, o queeqüivaleria deixar sem maistransporte para as paragensda fantasia e do sonho, a mui-

tas almas que suavizam o mun-do com as doçuras que vão bu*-car a essas paragens encanta-doras. Assim, na hora amargaatual, possível não é descobriras moradas das musas magtú-ficas, e, por conseguinte, avia-tar aquelas de cujas mãos da-divosas e meigas tanto nos temvindo de maravilha e de graça.Esta circunstancia, porem, nãonos pode levar a dizer que asmusas deixaram de habitar aterra. Porque se é verdade queos lugares de suas residênciasestão perdidos, ou transforma-dos, na paisagem trágica daguerra, também é certo que oshomens nascidos para a belezae para a sabedoria, ainda nãodeixaram de sentir de perto ainfluência fecunda das suasinspiradoras. Não, as musasainda não deixaram de viverna terra. O que o mundo aindaapresenta de melhor, o que nomundo continua a haver desuperior e de suave, é ainda de-vido à presença delas, é aindapor efeito da carícia em queelas envolvem os homens, éainda porque alguns homenscontinuam a ser eleitos por elaspara reproduzirem em palavras,em obras, em ações — a bon-dade, a sabedoria e a beleza,que constituem a face divinada existência.

Jackson de Figueiredo, jovembrasileiro nascido em Sergipe,está incluído entre esses ho-mens felizes sobre cujos om-bros se distendem, suave e en-cantadoramente, tão formososdestinos. E' possível que a suaeleição não tenha sido unâni-me; de Euterpe a Terpsichorenão se pode afirmar com segu-rança que lhe tenham dadovotos, visto que o jovem eleitonão manifesta disposições paraac artes entontecedoras, ou pa-ra as inebriantes modalidadesartísticas, a que essas duasmusas voluptuosas deram ori-gem e triunfo. Mas isso nãochegará a fazer crer que possater sido menos belo e menosvasto o contentamento com que

as musas a elegeram, oa «tMpossa ter sitio menor, peranteos homens, o alcance dessaeleição divina. Deve penaar-sa,aa contrário, que essa quebrade unanimidade, ae é que talaconteceu, só pode ter concor-rido, ao menos pela significa-ção de um dos dois votos qúe adeterminaram — o de Terpsi-chore, para que a eleição do jo-vem sergipano apresentasse,aos olhos de quem sabe ver su-periormente, uma beleza e umaelevação perfeitas. E tanto issoé verdade, que no mundo In-telectual da sua geração o se»prestígio nunca deixou de crês-cer, nunca cessou de se mos-trar compreensível e belo, oque ainda quer dizer que nãodeixaram de se descortinar ja-mais com o mesmo brilho e Ür-meza, as qualidades de talentoe caráter que fizeram dele umsingular eleito das musas, oaseja — um escolhido da inteli-gència e da dignidade para asobras que aproveitam e aaações que confortam. De umjovem cuja história apresentaaspectos semelhantes, certo queé um consolo e uma alegria es-tar-se em estado de espírito •de graça para dizer, ainda quede relance, dos predicados evirtudes que o levantam acimado nivel comum dos homens.Compreende-se, assim, porqueora aqui descubro o estado dealma em que me encontro.

A história intelectual deJackson de Figueiredo, na qualse resume, aiiás, toda sua his-tória, tão perfeito é o casamen-to do seu espírito com o seu ca-rater — destingue-se singu'ar-mente, logo nos primeiros tra-ços, pela ânsia, que está emtoda ela, de chegar, o mais ce-do possível, a uma situação se-gura de atingir, sem mais de-mora, a um destino certo. Des-de o início de sua formação,que o espírito de Jackson ma-nifesta, acima de tudo, esse de-sejo forte, que já é uma revela-ção de grandeza, de se firmarnuma orientação de aspectos su-

A dristocrdcid de XõvierEm meio de todas essas pre-

ocupações lia arte moderna, erameto da aluvião de teorias, dos ne-felibatas, de tudo isso que em nos-t>a terra vem mostrar somente assuas piores qualidades. XavierMarques é um homem ã parte.Toda essa agitação o deixa indi-ferente, enfarado, talvez. O meioprovinciano ajudou de certo a suanatureza retraída. Nunca ele va-lorizará a obra de ninguém, nemmuito menos um produto seu, peloescândalo produzido. Esta teoriade sucesso escandalizante será sem-pre aos seus olhos um absurdo cri-minoso. Na verdade todo o livroítfiUí neste ariitidü ucVEriS. SO.rc",ante a justiça dos sensatos, dos ho-mens de gosto, uma pena na pro-porção do alarma. Isto se houves-se um tribunal literário, Mas aqui,no Brasil, nem o Estado suportariaa manutenção dos criminosos...Sergi não admite a evolução daArte; para o pensador italiano elafoi sempre superior ou inferior —e pelo tempo adiante apenas temvariado de tema e conteúdo. Nàodeu a filosofia esse caráter, nao seise diga estacionário (porque nãoevoluir não é imobilidade, como in-voluir é movimento) mas disseque ela é ainda a primitiva, a de

"cóleras racionais" de que falade Mais tre.

Vou fazer ponto aqui, poisestou realmente cansado.

E aceite v. sem o menorconstrangimento, o testemunhodo meu acatamento.

Seu amigo e admirador queo abraça

JACKSON.

<I) — Afranio Peixoto.(2) — Livro de Xavier Marques,

uma velha amizade do Jackson,adquirida nos seus tempos de es-tudante na Baia, e conservada atéã sua morte, eom aquele carinhoexcepcional com que ele cultivavatodas as'suas relações.

todos os tempos, pelos mesmos ca-minhos, solitária e indagadora. As-sim as aristocratizou, maximé aprimeira, à Arte, que ele fez a pri-mogênita entre as mais elevadasmanifestações da atividade huma*na. Este modo de ver desclassificaem questão de Arte os mercantil!"zadores, quem quer que a veja emcada novidade. Sobre este pontode vista Xavier Marques é o artis-ta perfeito — é um aristocrata,sóbrio, delicado, arredio. Nuncafoi homem das multidões; o ar-tista é sem vizinhos numa cidadeenorme. Os olhos da sua observa-ção passeiam por toda a parte ksua própria custa. Dentro do meioera que vive é como a ilha em quenasceu, olhando silenciosamente acidade distante. Separa-as a águaesmeralda, a água abençoada deTodos os Santas.

Isto tem para mim as proporçõesde um símbolo. O espirito sutilissl-mo de Pedro Kilkerry já o definiu:"Tem a alma do seu berço: é ohomem da sua ilha". O autor deJoana e Josi tem um pouco a fei-ção do autor de Braz Cubas. Nãotem o ceticismo deste, a sua ai-gidez, e está muito mais perto danatureza, Mas como Machado deAssis, é um clássico escrevendo, éum romântico-realista, é uma in-dividualidade inconfundível pelaharmonia de cores, pela serenída-de admirável. E tão admirável éna verdade este Ultimo componenteda sua - sicologia, que eu não vejo osseus livros como produtos da irrl-tação, da amargura do seu tempe-ramento contrariado. Xavier escre-ve para objetivar uma saudada in-definida, uma saudade que o possuedesde a sua infância, de insular epraieiro, rodeado de horizontes, deadeuses e viagens. E é assim que ovejo, que o advinho, um homemque tem sauáades daquilo mesmoque o rodeia, saudade do que pos-sue e tem nas mãos. Idealiza decontinuo uma partida, um adeus,um nunca mais ! E' ai que eu voubuscar a meia-tinta romântica queilumina a realidade humilde e he-róica dos seus tipos. Emprego o ter-mo romântico na sua vulgar acep-

ção, oposta quase sempre ao rea-lismo crú e pornográfico. Nadatem ele com o romantismo falsiíi-cador de paixões, deformador desentimentos, repulsivamente ir-real, de que Pierre Lasserre noedeu um quadro tão poderoso- d*verdade e indignação. Do Roman-tlsmo Xavier só tem o aprofunda-do amor da natureza, mas esteamor foi talvez o estimulo de todosos verdadeiros artistas. Isto, repito,nem sempre dá o caráter de irai-tação ao que eles fazem.

O Artista vê à natureza e a ai-ma da Natureza, que é a sua pro-pria, entre ela e ele; e o produtobafejado de s ubcoi.ciência, talvezde mais alto que a conciéncia, deuma força mística, da adoração —aparece superior ã inspiradora. Co-mo nota Metchnikoff, que voz éesta da Natureza que se comparoà excelência da música? A arte édor e insubmissão e muito amortambém, o artista entretanto sósabe afliar à distância, com o des-maio que esta empresta às ruinda-des e pequenezas. A insubmissão doXavier é fisiológica — não precisade gestos, não tem gritos, pode-sodizer que é timidez, mas é podero-so na- sua timidez. Também nãotem a vaidade do isolamento com-pleto. esse que Remy de Gourmontridiculariza com a simples observa-ção de que os solitários o que maiadesejam é a curiosidade dos de-mais homens. Xavier vive no meiodos outros, aperta a mão de todos.Não se comunica a sua ilha com aterra toda ? Nem por isso deixa daser ilha. Ele está dentro dos domi-nios da necessidade, lida com todaa espécie de gente, é burocrata.Nem passeia entre os homens ãmaneira de Descartes, que só avis-tava árvores. Na vida cotidiana asua vida é cotidiana. Só o artistaé o ser à parte. Este não toca o»pés em terra, olha-a do alto, ob-serva-a. Ama-a também muitomais religiosamente, porque a faiamante dos homens, e, como jfcdisse, a sua maior dor 6 uma grau-de saudade.

Para Taine otimismo e pessünjs-mo é uma questto de ótica. Quem

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/Vi U J /\ J - 7"eóf/7o c/e /./íóuquerquepriores e definitivos. A .ua his-tuna. por isso mesmo, tao uiíe-rente de tantas outras, tão di-versa da história de tantos mo-ços que nunca se firmam numaoireçao, nunca se apegam aum destino, a sua historia, senão revela a mesma serenidadetianquila, a mesma igualdadede aspectos suaves, de um rioa descer pela planície, apresen-ia, entretanto, em essência, noIundo, nas suas linhas princi-pais, um mesmo ritmo eato,uma firmeza que se não modi-cJillca, uma harmonia que senão altera. Isso explica, semmais nada, o segredo da sua¦vitória limpa, a razão do seuformoso triunfo, num meio emque os jovens de sua geração,styihores igualmente de talentoe cultura, só muito raramente,muito dificilmente, conseguemdespertar uma consideração queseja sincera ou um aplauso que«eja conciente.

A vida literária de Jacksoncomeçou aos dezoito anos, comu publicação do seu segundoJivro de versos, tão elogiosa-mente recebido aqui como naprovíncia. Antes, na idade dequinze anos, já o novo escritorhavia publicado um volume demenos valor, com as suas pri-meiras poesias, ainda jmperfei-tas e obscuras. Fora apenas um"Bater de asas", como dissera«le próprio, através do nome do-volume, e ao qual não é lícitoreferir num traba^o que é ape-nas uma impressão de como oformoso espírito chegou à situa-ção por que ansiara desde queo seu pensamento se libertou,límpido e forte, das semi-obs-curidades dos primeiros tempos.E' certo que no seu primeiro vo-lume de poesias, Jackson aindanão manifesta haver alcançadoa orientação que pouco depoisteria de ser o seu destino dearte; mas também é verdadeque os vôos de que esse livroestá cheio e o seu fundo todoigual de pensamento, já deno-Iam claramente uma imagina-ção e uma conciência bem apro-

ximadas, bem unidas, e comouue pi\^eut-,iüo por um mesmounpuiso. Nao e nada cu o ei ente¦nisso., ao contrário, e isso mes-mo mais acentuaao, mais ior-te, mais claro, o que logo seoüíKrva nas suas outras piodu-Soes, no livro sobre XavierMarques, nos trabalhos sobreMaiiU ae Alencar e Nestor Vi-tor, no estudo sobre Uarcia Ro-sa, que vem agora de ser pu-bnt-auo, e na oura, que está noprelo, sobre Farias brito.

Insoírido, ansioso por se en-contrai" nos horizontes paraque se saoia nascido, mas de_que nâo adivinhava os aspectos,'jackson

abandona, por agumtempo a poesia e se lança apai-xonadamente a fazer livros deprosa. Vem-lhe o desejo de es-crever trabalhos de critica, eo seu espirito se volve imedia-tamente para esses trabalhos.Essa resolução tem um grandealcance na sua história. Por-que o jovem escritor chegaramenos por ela ao que Unha ti-do em vista, do que ao que atendência de seu espírito deter-terminara. Jackson pretendiaser um critico literário e veioa ser um psicólogo; ambiciona-va criticar literatos, e viu-se acriticar homens; desejava revê-lar escritores e encontrou-se,por fim, um revelador de almas.No seu ensaio sobre XavierMarques não há somente o es-tudo da obra perfeita de tãogrande vulto das nossas letras;há igualdade e principalmentea exposição, límpida e vasta,de uma alma belíssima. Falan-do da figura profundamentesimpática de Mario de Alen-car, Jackson realiza a mesmacoisa: diz muito do poeta paramelhor dizer da sua alma. Otrabalho sobre Nestor Vitortem a mesma feição: Nestorencontra em Jackson um ex-positor tão eloqüente e sincerodas suas grandes qualidades deescritor ã inglesa, como da suaalma generosa. Do estudo so-bre Garcia Rosa, um contem-poráneo e irmão de Tomás

Uonzaga, que se deixou ficarem Sergipe para melhor en-cher de cioçuras as suas ende-chás e canções, nada há de di-ferente ou de estranho queassinalar. Ainda aí, ainda aoescudar esse poeta tão encan-tador e tão simples, Jacksonnâo se descuida de mostrar,antes de tudo, as dimensões ea beleza da alma pura do so-nhador..

Mas é no livro sobre FariasBrito, prestes a ser dado aopúblico, que Jackson de Figuei-redo cnega, completamente, aodestino intelectual para que foiescolhido. Nessa obra, que éuma teoria do conhecimento, eonde se prova, com largos re-cursos, a grandeza de pensa-mento da filosofia de FariasBrito, nessa obra é que se en-contra, completamente, a re-velação do que é o jovem eleitodas musas. Jackson de Figuei-redo é, em todo sentido, umfilósofo. Foi isso o que o seusegundo livro disse que ele vi-ria a ser; foi isso o que os seustrabalhos posteriores acentuaram que ele seria; é isso o quenos diz agora o seu livro sobrea grande personalidade de Fa-rias Brito. Temos, assim, a ex-plicação que nos faltava, a ex-plicação de como Jackson ene-gou a ser tão bom e tão religioso. Jackson é filósofo, eistudo. Porque a filosofia é abondade e a metafísica. Semmetafísica não se faz filosofia,faz-se ciência; sem a alma dePlatão ou de Aristóteles não seé filósofo, é-se pensador oucientista.

Jackson de Figueiredo seráum homem utii ao seu pais?Com certeza, que sim. Umaterra sem filósofos é uma terrasem sabedoria. E, além disso,nós precisamos de alguém quecontinue Farias Brito, que con-tinue a nos ensinar a aprendera morrer, que eqüivale a bemsaber a vida.

(•'Imparcial*' — 2-3-19161.

GLORIAA JACKSON DE FIGUEIREDO. SUBLIME ESPIRITO

A glória enorme! a glória de epopéiasa glória astral de aplauso* • de loato clomor jrfe mil olmos nas platéiaso fulgor des clarões a das coroas!

a glória de altas-soberanas pompasà lu* do rompa-eterno evocatória!a um clangor de cem tront, ao clangm de cem trompM

de vitória! — vitória!A glória de contar ao clovicórdio um coro

de voies da aSma (como eu cantarei!)a glória de pendões e de estandartes de oura

na retumbante sagração do rei!

a glória de ser deus entre aras e tripódios— toda a glória do mundo, imortal — imortal!

não vale a glória só de — insensível aos ódios,impassível à mógua, intangível ao malver o Destino coma um réu da Idade-Médiavê, calmo, um Inquisidor que jamais se condóitc viver e morrer escondendo • tragédiacom um olhar de rebelde e um sorriso de herói

MURILO ARAÚJO

Carta â Alceu Amoroso Lima

Modiques — Jackson de Figueiredo

ftlhar o conjunto só verá harmonia,Ao contrário, o detalhe só deixaver imperfeição, limite, insuficiên-cia. Nada porem é mais falso queas classificações, mais perigoso queas fronteiras. São pura imagina-ção, onde somente existem. O Ar-lista pode sorrir ao detalhe, amaro limitado, ver a perfeição relativade um quadro. O Filósofo pode vero Universo como a maior Desar-mon ia, como uma coisa imperfeita,que o é, pelo menos para a visuali-dade humana, antropomorfizadorade tudo. Porque é muito fácil con-den ar a razão, mas será ainda emnome da raz&o. O místico nega-lo-á e poderá fazer sentir a suaveiüiide, mua hiligUêlil *> compre-enderá. Nós, afinal, náo sairemosnunca de nós mesmos, e é prefe-ri vel que nos amemos. Narciso étalvez um símbolo eterno.

Xavier Marques é o artista queTé a harmonia por toda a parte,harmonia que é a sua. de sua alma;ou é aquele que só objetiva a de-Meia dos seus olhos, o que se nãodá ao trabalho de passeiar o espe-lho de Stendhal por uma estradasuja. E' analista, mas analistacuave ou poderoso de almas fei-tas de limpidez e nobreza, de almashumildes e religiosas.

O romance analista de hoje équase sempre um neto doente deLe Rouge et le Noir. Não nego quea Arte pode habitar as suas pá-Ei nas mais sujas e que o artista éaquele que adora o seu próprio tem-peramento; mas isto não me impe-tis dc vêr que há artistas crimino-«os. como tem existido criminosos«rtiütas. Quincey não fez vêr o as-sassinlo considerado como uma dasbelas-artes ? O crime nâo ofendea arte e sim o pudor aparente ounfto de uma sociedade, como seriacriminoso quem forçasse uma mu-lher a aparecer despida -uma rua.como é crime tudo o que se con-venciona chamar imoralidade.

Xavier, eu já disse, é um finissi-mo analista, mas sem perversida-des. Só uma vez o vi na pinturade uma cena anormal aos olhos dc«un civilizado. Poi este o earater daanormalidade. Digo assim porque

numa sociedade mdimentar fôranaturalíssimo. Trata-se de umacena de feitiçaria, um candombléna Baia, estranho culto transplan-tado da Costa da África. Ele nãoprocurou mesmo a degradação deum branco dado também tle corpoe alma à adoração daquela histeriabárbara, daquele iluminisino pri-mitivo. Pinta-nos alguns um tantoimpressionados, entre a dúvida e acuriosidade, espiando... Resumin-tio: não faz patologia, não faz psi-copatia, — faz íisiologia, faz psi-cologia. Aos seus doentes, dos quaissó um é um caso complicado — edr. Lauro, em Holocausto — aosseus criminosos, ws seus anormais

poder se-á aplicar o pírncípio deBroussais: não diferem da ordemnormal s:não pela intensidade.

Nos seus livros a Natureza, quan-do n&o é alegre, quando não ri, seé triste, é bela, pelo menos, e pá-dica.

Este caráter temperado, sem ar-rebata men tos, este homem de gos-to e de sinceridade, é de estranharque fosse e continue a ser o jorna-lista emérito, reconhecidamente,entre os primeiros de sua terra, nu-ma imprensa onde hà personalida-des como a de Virgílio de Lemos.Severino Vieira, Basilio Pereira, eesta nova e forte de Aurelino Leal.Esta posição feliz de Xavier vemdo seu profundo amor pela terrabaiana, amor que o fez um dos nos-sos maiores escritores de costumes,amor que ele transplantou tambéminteiramente para as páginas ensl-nadoras da imprensa. Ali o seuperíodo de mais atividade foi o de88 a 96, porque o Jornal o possuiucompletamente.

Todavia o jornalismo não cons-títioia a sua aspiração maior. Tal-vez só tivesse chegado até lá por-que o tangesse a mão da necessl-dade, até hoje a mais certa com-panheira dos nossos intelectuais,Conheee-sc facilmente.

Em 1907. por ocasií > da sua re-tirada da -Gazeta do Povo", diziaem editorial esta folha, entre mui-tas palavras de saudades e profun-da veneração, que a sua insistén-cia fôra grande por mais de uma

vez. queria que lhe permitissem"voltar aos labores calmos, per ti-nazes e fecundissimos do seu gabl-nete de romancista exímio e de es-tilista de escol e primor'*. São aspalavras do órgão baiano. Con-ti nua ainda hoje a colaborar commais ou menos assiduidade em jor-nais e revistas da sua terra e doRio. Foi e ainda é um polemistaque honrou sempre os seus contra-rios. Penso que raro os provocou enunca se deixou macular com aviolência e a mentira. Por isso temsido sempre uma criatura excetua-da, um poupado nas lutas maisdesabridas do partidarismo emação. Aríida em fins de 1912 umdos espíritos mais honestos da Bataintelectual e política, monsenhorBasilio Pereira, numa troca de ar-gumentações, cobriu dos mais fran-cos elogios a sua inteligência e oseu caráter. Conheço mesmr ad-versários antigos que hoje são dasua amizade e o admirar. Isto,mesmo no campo literário, onde oressentimento é quase sempre éter-no, entre as pessoas de caráter.Mas é que a sua'probidade se im-põe por foiça a quem quer que de-«ore os olhos sobre a sua vida. Amocidade de sua terra, a gentemais limpa e culta da Baia, adorao homem comedido e valente, oherói silencioso que é o maior vul-to intelectual entre os que vivemna terra de Castro Alves e RuiBarbosa, e que forçosamente as»sim aparecerá aos olhos de quemestudar acuradamente aquele meio.

Provas deste amor tem tido vá-rias vezes. Os moços da Nova Cru»zuda. a associação literária de maisdestaque naquela terra, já uma veaa cobriram de flores, a essa cabe-ça trabalhadora e privilegiada. t'o\uma festa de espontaneidade e m-teligência, que reuniu para a co-roação de um triunfo a gente demais responsabilidade intelectualem S. Salvador. Uin dos discursospronunciados naquele dia. o de Pe-tion de Vilar, tem períodos que va-lem ser transcritos. Depois de ana-Üzar naquele sonho de um congra-

IConlinua *• págmo 113»)

Que finalidade tem o dramada paixão no grande, no infin-davel drama da vida? Foi osexo a causa da queda ou asua mais monstruosa conse-quência? Lembra-me esta tre-menda palavra que ií num li-vro de Roizic: de que o amor,a paixão puramente sexual ain-da é a última porta por ondecomunicam com o não eu, como alem de si mesmas certas ai-mas de todo em todo fechadasno egoismo. Mas figure: entãoeste carninho pode ser um ca-minh-o dc salvação? E a salva-ção implicará sempre a comu-nhão das almas? O só não podesalvar-se?

Estas agressivas interroga-ções e mais outros pezares daminha vida me estavam tor-nando esta noite uma noite demartírio. Lembrei-me da suacarta de hoje, e é uma alegriavoltar a conversar com você,urna satisfação séria e profun-da. Nao resta dàvida, meucaro Alceu, se o isolamento nãoimplica perdição, o certo é que,dentro dele, o homem perde osseus melhores recursos para aluta contra a invasão do nada.

A sua explicação da 2.a partedo oferecimento é tão digna dasua bondade e tão natural, quetem força de evidência. Nãoposso duvidar dele. Entretanto,nâo tem razão de ser. Não sou,em coisa alguma, um homemque V. devesse ser. Pelo con-trário. Imagine com a ajudada fé um coração como o seu,um caráter como o seu. A fé,uma vtiva lé me sustenta na vi-da, e. no entanto, atente bemem tudo quanto lhe tenho ditoque sou. Atente neste absurdo,neste incrível poço de insatis-facão e melancolia. E' melhornem fa'ar. Creia, Alceu, eu soupor temperamento um anar-quista ou um barão da baixafeudalidade, e aquele vago tiode Jean Christophe, e Roudine,e Tonio Kroger, e Gosta Ber-ling, e todos os vagabundos, etodos os violentos deste mundo,mas jamais um católico, umhomem de bom senso, livre sópara o bem, amando a Deus eaos seus deveres. Mas Deus medeu uma conciência que e comouma canga chinesa ou comochumbo nestas asas demonía-cas. Toda a Jncompréensibili-dade da vida não me impede decrer na inteligibilidade domundo. Besta o fato da inteli-gência tender sempre a fundarem si mesma o critério da suaatividade, isto é, basta a suaconstante interiorização. Isto jáé de si uma ordem, mas que nãose poderia distender sobre onada ou a desordem, mas sim,sobre um plano, uma ordemexterna. Logo: há uma ordem.

£ como não é possivel negar ofato do perpétuo alerta mora',esta ordem se completa em fl-nalídade moral. Eis o tormento.O vagabundo, o sensual, o ima-ginoso estaca ante si mesmo.E as horas de luta se sucedem.Eu pareço lutar com os homens.Mas é um engano. Eu iria can-tando e dansando, no meio de-les, às profundas do inferno. Aluta é comigo mesmo, que merevejo multiplicado no descui-do, na animalidade, na selva-geria dos outros. Juro, Alceu,que, no dia em que a fé visitarseu coração, coração "natural-mente", cristão, você poderáser-me exemplo e espelho. E eusó poderei ser exemplo para ovulgar, que me conheça de lon-ge, e nunca para aqueles a quemfale como falo a mim mesmo.

As tentações, que avalio orodeiam, não me fazem medo.Um homem que chegou à acui-dade de que V. hoje goza, istoé, que é o seu martírio, não caimais nunca, a não ser por umadestas impulsões que quase in-,-dependem da vontade e levamlogo ao aniquilamento. Querodizer: queda num homem coma sua capacidade de sofrer évizinha da morte, e destas sóDeus é juiz, e aos homens sófica o direito de medirem a ai-tura de onde ro'ou o que caiu.Porque esta é a verdade: nâohá nada que proteja mais doerro vulgar que a verdadeira, alegitima agudez de sensibili-dade. Eu ainda não me reben-tei completamente pela graçaí*t D^US -qué, c üirtiü, iné pei-mite ir, antecipadamente, coma sede dos lábios, à cinza queestá sob toda ilusão de ven-tura.

Bem, adeus!Mande, sem falta, o seu livro

a Almeida Magalhães (Dr.)(Advogado! em S. José do RioPardo, S- Paulo. Já mandou aPlínio Barreto?

Al vai o Gison que princi-piava a ler. Mas não tenho amenor pressa de acabar a sualeitura. Só a recomeçarei apósfindar o Lpforet. velho livromas digno de atenção, dado oque procuro neste momento.

Sei que o Pinto está comvontade que V. tome a si a"Terra de Sol". Não faça isto.Se quer chefiar uma publica-ção, funde-a. E imprima-lheimediatamente a sua persona-lidade. Parta para esta campa-nha certo de que vai ter osmaiores aborrecimentos. Masestes nâo impedirão que V. sasinta bem, ao fim de tudo.

Bem, adeus, de verdade!Vou ler um pouco e tentar

dormir.Um abraço do sen

JACK80W

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PAGINA S.12 - SIIPLKMKNTO IITKRARIO D'A MANHA DOMINGO, I/11/IM1 ,

A conversão de Jdckson de FigueiredoJackson de Figueiredo conver-

teu-ye ao catolicismo — ele quefora até então livre pensador —em 1918. Sobre a historia dessaconversão, aqui oferecemos ao lei-tor civis depoimentos muito interes-saníes: uma carta dc Jackson asua irmã Julicta, escrita em (j deabril de Ií!19. em que ele. anta co-mo deveu à sua esposa, d. Laura,o ter penetrado na vida cristã; cuma curta da própria dona Laura,diriyida ao sr. Alceu de AmorosoLima, cm 3 de outubro passado.

Eis os dois documentos, tao pre-ciosis para a historia do pensa-

, mento e da atuação ae Jacksonde Fiaueireão:"Riu, 6 de abril dr 1919 — Jnlie-ta: Tenho tida muito desejo de es-crever-lhe desde que vi tão de per-to a morte. Mas depois disto a mi-nha vida tem sião muito agitada equase já não me resta tetnpj paracorresponder-me eom as pessoas aqur rr.finm. Tambem v. nunca viaijvie escreveu uma linha, e eu seique tem muitas ocupações. Aindanâo faz um mês que cheguei deMinis. mas falta pouco. Entretan-to, pode crer. ainda não tenlio na-da em ordem em derredor de mim.

Lá trabalhei muito. Em dois mesesdc advocacia ganhei quase cincocontos de reis. Pois bem: dois diasdepois que aqui cheguei tinha t»5no bolso. E' que paguei as dividasque fiz no período ,da gripe que mecustou quase isto.'.' Enfim, tenho técm Deus e d'Ele espero merecer,pelo menos, que, em caso de mor-te, nào deixe os meus de todo de-pendentes da caridade dos bons. Navida cristã penetrei ao lado da ;;n-nha Laura e dela hei de obter agraça de nãn esmorecer nunca cmlace das dificuldades. Ainda no dia23 do passado conseguiu Laura demim o r/ii" ;c.'""i nensci: que meconfessasse e comungasse peta pri-meira vez v.a minha vida. E a mi-nha querida Laura, a ela só, devoo que sou em face Ue Deus, isto ê,devo o que sou no sentido do Bem.Quando aqui cheguei já a nossaClca (tão digna! tão edificante nasua mocidade! I tinha seguido o seusanto destino. Tambem encontreinovidades outras, mas delas me ex-cluiram de tal forma que nâo de-vo falar senão muito pouco e ain-da assim pedindo-lhe reserva cris-fã sobre as minhas palavras Enfim, Deus sabe do futuro e Ele

só conhece o que presta e o quenão presta. Passo a falar-lhe dedois assuntos outros:

1". Acha v. bom vender as ca-sintias de Andarai? Digo-lhe gueIàlá e a Clea e Laura desejamvende-las. Se v, assim tambem en-tender me mande uma procuração,pois penso que acho negócio. Tam-bem me mande dizer qual o menorpreço que v. iiüga dever pedir 2".Eu preciso muito de um livro deFarias llrito — "Contos Modcr-nos''. Poderá v, me arranjar porai? Compre-o mesmo seja porquepreço for. Nesta data escrevo aoB, de Studart. V. poderá falar tam-bem cem ele. Eu preciso muito des-te livro.

Adeusf Julieta. Como vão todos?Abrace a i,.u-..< cs parentes, espe-cialmcnte a d. Fitoca. A Maria temestado conosco. Vai bem, muitocontente com o noivado e, comosempre, muito concienciosa, muitocriteriosa e boa. Minha Laura, ml-nhas filhinhas c todos mais vãobem de saúde. Eu. para aue falardc m'm? Vou sendo ajwlado pelocarinho de Lauro: eis tudo: vouvivendo com muitos embaraços,

mas, no fundo, feliz, contente como que Deus vie deu.

Adeus!Deixe que a abrace o cunhado

verdadeiro amigofa.) Jackson

Endereço permanente: LivrariaCatólica, Rodrigo Silva, 7."

ikDr. Alceu. — Desde a pinturada casa, deixou de estar sob asminhas vistas o arquivo do Jack-son. Dai, a demora da carta pro-metida.

Foi em outubro de 1918 que es-toe'do ele muito doente, recebeu unisacerdote em confissão.

Fez porem a sua "primara co-munhão" no dia 23 de marco de1919.

Fê-la solene na Matriz de SãoCristóvão, entre paroqnianos e pes-soüs da família.

Nesta ocasião, renovando as ben-caos de matrimônio, recebemostambem novas alianças, diante domesmo altar, onda três anos an-tes, havíamo-nos desposado. 191G.

Reminiscrncia puxa reminiscên-cia.

E por isso ainda envio-lhe outraspáginas. Caíram as minJias mãos

por coincidência, ou, por forçamesmo das evocações?Não sei.Aí vão. Falam bem alto do seu

culto a Nossa Senhora, da sua vi-da e, do agitado mundo que traziaem si.

Neste mês de outubro, da come-moração das milagrosas apariçõesde Nossa Senhora cm. Lourdes, é idesvenlurada França gue maisproslrada vemos aos seus pês. Aela unidos, com. que dor, mas c ique fundadas esperanças, a evoca-mos tambem!

Vão para as suas mãos, para seucarinho e para que tambem sobre-naturalmente se renove no cultofiel e cada vez mais vivo, que temdedicado à memória do amigo, Cul-to permitido por Deus e do qual,tem feito santa, abnegada e gene-rosamente, uma das mais conheci-das. ou mesmo, a bandeira favori-ta do seu intenso apostolado. •

Relembro-lhe o "Aanus Dei"*Pode deixá-lo com Julieta.

Agradece.Sua velha amiga em J. c.

LauraEm 3-10-1941."

Jackson Je Figueiredo e o culto Je BerndJetteJackson de Figueiredo foi um ar-

dente crente em Bcrnadette, cuioculto procurou difundir no Brasil.Eis a esse respeito um documentomuito característico, que encontra-mos numa carta escrita por ele àirmã Helena:

"Kio. 24-9-1924Irmã Helena.

Há muito tempo quo não Hieescrevo, e realmente quase nemtenho tempo para as cousas dccoração.

Aqui, no Kio, as cousas poli-tica? e>tão muito agitadas ecreio que ainda não chegou o fimdos ikl-,sus males. Enfim, seráo que Deus quiser, c ti-nlio fé

que salierei manter-me firme-menti.' nn posto que julgueie julgo de honra e de verdade.

Esta é para lhe falar em duascousas :

1." — Tudo quanto se rela-cioiiar com as meninas resolve-rei dentro cm breve, pagamentos,etc. Avalie que, até lioje, nãoconsegui despacho solire a casa,e nâo recebi senão uma parte dosmontepios"; nada. absolutamentenada, das apólices,

Diga a Madalena que vouabrir para ela uma caderneta,pondo nela, por mês, tiniu quan-to ajuisar de justiça.'

2." — Estou muito interessa-do em espalhar no Brasil o cultode Bernadettc, a confidente deNossa Senhora, pois tenho já acontar graças especiais e uma sé-ric de coincidências em minha vi-

da, que muito me impressionam,Estou em constante orrespon-déncia eom o convento ou Casadas Irmãs de Caridade de Ne-vers, em França, onde ela pro-fessou, c já iniciei tia "Gazeta deNoticias'' uma forte propaganda.Mas preciso que me ajudem mui-t**s corações. IVrn.'l(U'ttc já í"ideclarada beata c a sua canoui-zação está a realizar-se. Comodesejo ajudar as Trmãs estou atraduzir o livro que sohre a suavida escreveu a Madre Geral, li-vrn que é admirável. Para lá eu-viei agora algumas centenas defrancos, que consegui angariarno Centro O. Vital, c pedi li-vros, relíquias, etc. A V. envioalgumas lembranças para Mada-

lena, T.ucí, Suíamita e quemmais V. quiser, mas quero su-her o segui ti te : Deverá chegarde França, brevemente, grandequantidade de objetos. Minhaintenção é trocá-los por preçomínimo, que é o do custo lá. Comisto desejo somente perfazeruma quantia maior para enviaràs irmãs, pois o processo ile ca-nonização é cousa que pesa mui-to a uma Congregação. V. po-dera ai ajudar-me junto à Ir-mã Monteiro, ilasta (pie.ela an-garie alguma cousa com as reli-quias que enviarei e estampas,etc. O custo de cada uma é de200 réis. 300 réis, e pouco mais.Julgo que dos santinhos <\o sé-culo XIX, é Bcrnadette a que

mais deverá penetrar o coraçãodo lirasil, pois foi a Confidentede Nossa Senhora, padroeira daNação brasileira, c Lourdes re-presenla no mundo moderno aafirmação do milagre, a vitóriacontra o ceticismo de que tantosmales tem resultado para nossaPátria.

Hem, espero resposta sua.Adeus !Recoiuende-nie u Irmã Mon-

Urro e a todos daí.Lembranças às meninas.Um abraço de seu irmão

em J . C.Jackson.

P. S. — Requeiram os ol>-jetos de pintura para Madale-na. /.

AS DUAS FASES DE. JACKSON DE FIGUEIREDO{Continuação da página 210)

— nada disso o interes-sava. O que lhe interessa-va era a inconsistência de ins-tituições sem princípio, semtradições, era a debilidade doscaracteres, era a ausência dequalquer solidez profunda emtudo o que via vacilar em tor-no de si. E defendia então o"governo" como "um mal me-nor". até que o país reentrassede novo na conciència de suaestrutura profunda, moldadasécu'os antes pela Coroa e pelaCruz, em planos diversos, masõGcial £ politicanãeiiiíÊ cnegari-do ao mesmo resultado — oBrasil unido.

Essa paixão combativa, po-rem, que levava esse poeta,esse leitor insaciável, esse filo-aofo que vivia preocupado comos mais altos problemas dosdestinos humanos, esse amigoque pensava a cada hora nasalrpas dos seus amigos, esse paie esposo apaixonado, esse cren-te que se entregara de corpo ealma à sua Fé dolorosamenteconquistada — essa paixão peloBem e pela Verdade, que leva-va Jackson a sacrificar tudoIsso à luta contra a Desordem,não apagava, entretanto, em«eu espirito o amor e a conciên-cia de tudo aquilo que verda-deiramente amava. No índicedesses livros da fase panfletà-ria encontramos sempre, ao la-do do artigos puramente poli-tiros c polêmicos, páginas deliteratura, de amizade, de fé. demetafísica. O título de um des-ses artigos dessa fase terrível,"A negrada dos quartéis e apalavra de José de Maistre", ébem sintomático do sistema deJackson, unindo sempre osprincípios mais supremos e oa

* maia elevados às leali-

dades mais cotidianas e vulga-res. Esse realista implacável -*no tempo em que o Realismoainda não se tinha desacredi-tado no sangue e no iodo — erasempre um doutrinário lúcidoe sereno, que não titubeava emface do perigo nem se perdiaem divagações. São desses anosde luta dois livros de carátercompletamente distinto, quedemonstram como esse grandelutador jamais se deixou en-volver pelo combate a ponto deesquecer as suas altas respon-sabilidades em face das con-ciências e das letras puras."Pascal e a Inquietação moder-na" (19241, livro de a!t« medi-taçâo filosófica, em que nos dáa súmula do seu pensamento,que hoje chamaríamos existen-cialista, ou "Durval de Moraise os poetas de Nossa Senhora"(1925) em cuja folha de rostoencontro' essa outra- dedicató-ria bem expressiva: "Ao queri-do A., este pequeno desafio àSPnsibilidade revolucionária* denossa querida Pátria", são atestemunho dessa presença pe-rene do Espírito em plena luta.

Em 1921, antes de entrar narefrega, e na hora em que sédespedia do nacionalismo puroe do anti-luzitanismo efêmeroque cultivou, em conseqüênciade sua conversão religiosa, nofolheto — "Do nacionalismo dahora presente" (1921) — em1921 publicava outros dois vo-lumes de pura meditação lite-rária. Num deles, que é dasproduções mais delicadas de suasensibilidade, "Humilhados eLuminosos" (1921), estuda ai-guns desses poetas e boêmiosque encontrou na vida e emcujo coração de va<gal>undossentimentais ele sentia pulsar oque de mais nostálgico e aven-

tuioso havia no seu própriocoração. No outro, "Auta deSouza", estuda a figura místicae dolorosa dessa alma impreg-nada de poesia e de amor aDeus que tão cedo fugiu domundo, deixando uma delica-díssima memória em nosso li-rismo contemporâneo. Era avoz da amizade e da poesia quesempre se fazia ouvir em tudoo que fazia.

Nos últimos anos da vida, jãdesenganado das lutas políticasque empreendera, como no-lorevela a sua precioso, corres-pondência (publicada em parteno livro póstumo "Correspon-déncia", (1928), preparava-separa "escrever a sua obra", co-mo várias vezes mo disse. Con-siderava como insignificante edisperso tudo o que até entãotinha feito. Contava retirar-seda luta para meditar o que ti-nha em mente. Mas, simulta-neamente sonhava com novaslutas, como se vê nas entreli-nhas dessas cartas ou de ou-trás confidencias diretas. Jácomeçava então a voltar, comnostalgia, aos tempos de suamocidade ardente. Sempre quesentimos aproximar-se o fimde qualquer coisa, dá-se em nósuma volta melancólica a tudoo que passou. Essa volta aopassado, Jackson a sentiu vi-vãmente antes de morrer. Ti-nha, positivamente, o pressen-timento da morte. Sentia quevivera já o seu destino na terrae alguma coisa de muito maisalto ocupava as suas horas demeditação interior, pelas ruasdesertas e pelas noites silen-ciosas, de volta para o lar. Da-tam de então suas páginas der-radeiras, as páginas desse ro-mance que só começou a escre-ver no meio das mais crucian-

tes dores morais, como um re-fúgio e um testamento; que se-ria o romance de sua própriavida e de que nos deixou ape-nas o primeiro, mas trágica-mente impressionante, painel.Data de então aquele extraor-dinário capítulo XIX, que in-titulou profeticamente — "So-bre o mar tenebroso, em facedos astros misteriosos", e quecontem o seu canto de cisne, omais sombrio e ao mesmo tem-po o mais luminoso canto desua obra, e que coroa toda elacom os raios de uma Luz que jánão é deste mundo.

De 4 a 11 de novembro de1928, ao longo das praias bran-cas é dos rochedos negros dascostas fluminenses, levado poressas correntes do Atlântico queo viram menino brincar naapraias do Norte, evocou o seucorpo inerte, sobre o mar te-nebroso, em face dos astrosmisteriosos. Sua morte deveriaser diferente de tudo e de to-dos, como fora sua vida. Oitodias e oito noites, boiaram nasondas azues membros que tãobravamente tinham levado, portrês decênios que valeram porum século — pois Jackson foio guia que levou do século XIXao século XX a nossa geração— essa alma vulcânica e insa-tisfeita. Oito dias e oito noites,o mar tenebroso aconchegou,em seus braços líquidos, essepequeno corpo sem vida. Oitodias e oito noites os astros mis-teriosos contemplaram essa pe-quenina sombra indistinta quea seus raios valia o mesmo queum tronco decepado das flores-tas ou o cadáver de um animal.

Terrível imagem da vida.Terrível mas grandiosa e cer-ta. Dessa última viagem do quefora o nosso Jackson, dos roche-

dos do Joá às praias brancas deMaricá, que ia seíar com o maistrágico dos fechos uma vida quenascera sob o signo do drama»ia ressurgir purificado para aglória, esse grande espírito queos homens em vida tinham, qua-se sempre, desconhecido ou mes-mo caluniado, e que, morto, co-meça a jer reconhecido comoum dos grandes momentos hu-manos por que tem passado ainteligência e o caráter em ter-ras do Brasil.

Pensamentosde Jacksonde Figueiredo

CACHORRISMOINDIVIDUAL

Creio profundamente em Je-sus Cristo e na Igreja. E quaseque só me importo comigo nosmomentos de egoísmo e de nii-séria. Mas os venço facilmente.Creio nos fundamentos da ter-ra. Creio que a Cruz está bemfirmada sobre ela. Basta-meisto. Sei que a minha ruinda-de e a ruindade dos homens náoa abalarão, e sinto como queuma alegria específica, umaalegria da humanidade toda. Omeu pequenino cachorrismo in-diviâual não me impressiona.Vivo aqui, gano ali, cóço-meacolá, mas tudo isto é passagei-ro. Vou para a frente atiradono dorso da grande onda da vi-da — para onde Deus quiserl

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DOMINGO, 2/11/1M1 SUPLEMENTO I.1TF.RAHIO D'A MANHA — PAGINA 2.13

JACKSON DE FIGUEIREDO- XAVIERMARQUES(Da Academia Brasileira)

O fim trágico e altamentecomovedor que teve a vida deJackson de Figueiredo fez-nossentir, como poucas veses, nomesmo grau de evidência teri-i-vel a continuidade da morte.

A vida, a mais longa vida, ca-be em uma ruga do tempo. Ai,nessa margem estreitíssima,onde lutamos e devaneamos.tanta vez esquecidos do eternoque nos circunda, estamos, po-bres creaturas, sempre na emi-nência dc resvalar e imergir.

Muitos há que, zelando o domda vida, como avaiento guardao tesouro, sabem reprimir aveemência dos sentimentos, daspróprias paixões menos egois-tas. e moderar esses grandesgestos em que a cada instantese compromete o equilíbrio daexistência. Comportando -secom essa tática, conseguem di-ferir o momento fatal de reen-trar e fundir-se no oceano deonde emergimos sob esta formaefêmera de humanidade.

Jackson de Figueiredo, nuncaesperdiçou comsigo, e por amorde si, tais precauções. Não fa-zia economia da alma. Ao queele considerava o dever, a ver-dade, a boa causa, dava-se comírenezi, sem olhar ao derredoros precipícios ou os desvias pe-rigosos em que ação, mui»apoiada, nos pode atraicoar.

Sua atividade não tinha gei-to ou maneira de exercitar-se¦em parecer combate. Nada desubterfúgios, sinuosidade; ma-labarismos, reticências. A tudoisso ch.amava cruamente capi-tulações, quer de conciência,quer de ato; menos prudênciaque covardia e convenções hipú-cri tas.

Em todas as pugnas, as maisImpessoais, sustentando doutri-na, dogma ou opinião, havia-mos de vè-lo de peito descober-to e arfante, com a face ilumi-nada pela irradiação da luzInterior: uma conciência sem-pre alerta e inquebrantavel.Estava ali em toda a verdadee beleza de seu natural, como oferreiro banhado pelos clarõesda forja, sob o chuveiro de cen-telhas, a bater e afeiçoar osargumentos da controvérsia.

Era o seu modo de ser e deagir, o seu temperamento, emsuma, tão vivo, tão dominante,que não sei em que medida nospoderia interessar, sem estevéu incandescente, o grande ta-lento que possuía. E daí a im-pressão inevitável de quem oconhecia, desde o primeiro en-con tro, a impressão forte, in-cisiva de um caráter, antes dequaisquer dos traços, intele-ctuais ou sentimentais, compo-rentes da sua bem marcada in-dividualidade.

Como certos loucos, todo ho-mem normal percorre o seu

ciclo de exaltação e depressão.Jackson obedecia a este ritmooscilatório, vivendo, porem, maislongas horas exaltadas do queem geral os portadores, que to-dos somos de tendências con-traditórias. Os seus estados de-pressivos manifestavam-se poruma funda amargura da alma,aparentemente exagerada emrelação às cousas, mas muitoreal, Todo o exagero lhe vinha,na figuração dos fatos como naexpressão, de uma sensibilida-de alarmada. De alarmista ou-viamos mesmo tacharem-nopor causa do seu profetismo In-quietante e da agudeza auditl-va com que capturava os - -aislongínquos rumores de previs-tas catástrofes.

O autor de Pascal e a Inquie-tação Moderna deixou na cor-respondência particular comos amigos copiosa documenta-ção psicológica.

O homem sensível, a alma,ora dolorosa, ora caridosa,que apenas se adivinharia na-quele lutador de rosto fechadoe agressivo, se derramava aicom ilimitada confiança. Aamizade tinha para ele o cara-ter sagrado de uma religião, epor isso via em cada amigo, ede cada amigo fazia um confes-sor. Suas cartas são espelhosde uma conciência atormenta-da pelos mistérios da vida uni-ver.sal e do destino humano,por todos os problemas moraisque, apesar de ancorado na fécatólica, lhe abalavam o espi-rito insaciável de certezas everdades absurdas.

Martirizado^cruelmente pelosestímulos ¦ que" lhe viessem oudo mundo exterior ou da concí-ência, com aquela propriedadeque tinha de extrair o fel davida. enquanto outros são asabelhas diligentes que lhe re-colhem o mel, Jackson de Fi-gueiredo desenvolveu-se emuma série de experiências todaaangustiosas.

Foi poeta, sentindo, porem,com vibração demasiada, cor-respondente ao seu dinamismonervoso, incapaz de disciplinara inspiração e reduzir a suaheperestesia à medida e às pro-porções da arte, deixou a ati-tude contemplativa pelo exer-cícip da razão filosófica. Comopensador, nunca chegou a pos-se tranqüila de nenhuma certe-za. Descria da razão. A filoso-fia lhe exarcebava o prurido deanálise e lhe aumentava o so-frimento, deixando-o sempresedento de verdade. Por essetempo leu Pascal e sentiu, comoele disse, '"0 frio terror daque-les abismos que apacoraram ohomem de gênio". No seu pri-meiro ensaio escrito em 1913 ereeditado em 1916, confessa:"foi a dúvida que escreveu es-

tas primeiras páginas que que-rem exprimir todos os tormen-tos da minha conciência, osci-lante entre a redação e a afir-mação moral do mundo, entreo materialismo utilitário e imo-ral que eu professara arrastan-do pela turba-multa dos seusproclamadores, e o espiritua-lismo que me elevava até Deus,um supremo Bem que será ofim dos que sabem sofrer". Eai já provia o momento em que,acossado de dúvidas e contradi-ções, correria para 'o asilo sal-vador do dogma".

Tudo a começar pelo tempe-ramento, o encaminhava paraa ação. Nem a contemplaçãoou a poesia, nem o conheci-mento puro ou a filosofia: masa ação, que sucedendo a am-bas, sem a substituir, lhe depa-raria uma forma das mais con-corda n tes com o seu caráter,com as influências, imagens esugestões que lhe cercaram ainfância. Essa forma de açãoera a religião. Definira-a umdos seus mais velhos amigos;Farias Brito, a própria fileso-fia passando da ordem teóricapara a ordem prática, da abs-tração para a realidade, dopensamento para a vida, e rea-lizando-se como governo ou di-reção moral da sociedade. Idéaa que Jackson de alguma sorteaderiu, adimitindo com : iorlargueza o elemento racionalnos fundamentos de sua cren-ça e partilhando com a inteli-gência e eficácia que ele pare-cia dar toda ao sentimento,quando repetia Pascal: "é ocoração que sente Deus e nãoa razão".

O Jackson que o Rio e afinalo Brasil conheceu e admiroufoi esse poeta devorado peloincêndio da própria alma, es-sencialmente ativa, e esse filo-sofo arrancado por si mesmo,com esforço heróico aos braçosdo ceticismo, um e outro inte-grados no católico doutrinantee militante, secundariamentepolítico, por nacionalismo ecoerência com o príncipe daautoridade e o conceito da or-dem, segundo o ensinamentoda .igreja.

Eu o conheci com algunsanos de precedência, na aura-ra de sua vida espiritual. Estu-dava direito na Baía. As idéiasmorais, as correntes do pensa-mento filosófico, os problemasda estética ocupavam-lhe maisum lugar no espírito do que asciências do curso. Muita leitu-ra, muita discussão, extraordi-nária vivacidade: o tumultoem pessoa.

Visitou-me trazido por ou-tro, a quem se ligara por fortesimpatia, apesar dos contras-tes, e com a mesma avidez decultura, fora dos programas es-

colares. Ambos muito moços,irreverentes, tocados da ambi-ção literária e irmanados pelacomunidade das idéias.

Pedro Kilkerry, poeta dt ex-pressão requintada, polido devigílias sobre os livros, malpode encetar a vida prática:abateu-se logo, como cái umaárvore nova vestida de brilhan-te floração, com alguns rarosfrutos ainda em agraço.

Tinha cada um deles umtraço diferencial que lhe su-blinhava o caráter. Kilkerryera cerebralmente irônico, Ja-ckson organicamente trágico.

Bastante cético a respeito decertas curiosidades que so re-tiram apenas satisfeitas, per-maneei em observação ante asefusões do meu futuro e since-ro amigo, até ver se eram ilo-res caidiças ou deviam mesmovingar üm fruto. Só não me fl-cou remorso dessa reserva porser ela uma regra de procederfundada em minha experién-cia do mundo; de outra sortenunca me absolveria de haverdemorado em abraçá-lo ii.teri-ormente, porque, de fato, .sabiahonrar o sentimento da amiza-de e entrctê-lo sem a mais levesombra de ceticismo ou pessi-mismo, ainda sofrendo dece-pções.

A chama sagrada não se lheextinguia na alma. Cria naamizade, quando mesmo tinhamotivo para descrer deste judaquele a quem a dedicava.

Repeleria como uma mAxl-ma imoral, caluniosa para anatureza humana o conselho

malicioso: "Nunca digas mal doti, os teus amigos se incubirãodisto".

Ter amigos era, para ele,como o ter dinheiro é para ou-tros, condição de felicidade ter-rena. E ao instinto eletivo comque os congregava só se com ¦para o carinho e o zelo postosem conservá-los. Aos que julga-va retraídos, por inércia ouapatia natural, achava modosde estimular, comunicando-lhesas sobras do seu ardor afetivo.Queria mais, — que os seusamigos fossem amigos entre si.Para isso preparava aproxima-ções, descobrir-lhes afinidades,forçava-os quase a permuta deatenções e deferencias.

Creio que a sua morte, talqual sucedeu a Mário de Alen-car, libertará, pela volta à in-diferença recíproca, muitasdessas almas que ele pensouagremiar, como bons fiéis, ca- «pazes do seu favor, no temploda amizade.

Nobre, saudosa mocidade!Há dias por desafogo do co-

ração, puz-me a reunir e a re-ler algumas das suas cartas deum período de quinze anos.Em uma das mais longas, aque-la em que chorava o malogradoKilkerry, leio estas palavrasque prefiguravam, como uniavisão telepática, o quadro fina'do drama de sua tormentosa -vida"... "E será melhor o qui-nhão dos que continuam a lu-tar com o oceano sobre o cimodas vagas loucas e ferozes?

Não será melhor o seio doabismo?..,*'

UM MORTO ILUSTRE-*»A morte de Jackson dc Fi-

gueiredo causou dolorosa, im-pressão nos núcleos literáriosentre jornalistas e políticos,peio seu fim trágico e surpre-endente .

E' para mim um dever de re-ciprocidade escrever sob/c- asua morte, pois que ele eàcre-veu sobre a minha.

Ainda muito jovem, vivendoem Sergipe, sua terra natal,Jackson de Figueiredo teve, co-mo outras pessoas, a notícia aemuiha morte.

Eu não tinha morrido de to-do: mas, um "repórter" da'•Noticia" de nome igual «o meuhavia falecido na ocasião e otelégrafo laconizou tanto quenão deixou perceber que se tra-tava de outra pessoa. Morripois.

A verdade é que Jackson deFigueiredo, lá de longe ("majoret longínquo reverentia"), ad-míraflor de minhas frioleiras.

REMINISCENCIAJ. A PEREIRA DA SILVA

(Da Academia Brasileira)

Recordar é viver... Por isso mesmo, enquanto vivemos, nãodesaparecem de nossa memória as paisagens que já uma vezrefletimos, e as figuras que se fixaram em nosso coração. Aqui,tambem, neste mundo interior, nada se perde. A memória é adepositária sagrada de todas as horas que o destino nos conee-deu. E' graças a ela que se estabelece essa corrente de idéias e«ntlmentos, cujos primeiros elos se perdem nas origens dostempos, porem se tornam cada vez mais fortes, à maneira queas gerações se vão sucedendo em sua marcha para o Futuro.Pouco importa a morte. A memória só lhe permite o que é pe-reclvel, o que não afeta a nossa finalidade. O espirito e as suascriações a morte não absorve. O espírito tem as suas leis, igual-mente eternas, como as da morte. Elas se dirigem, as da mortee as do espirito, através da Realidade e do Sonho, paralelamente,Indefinidamente... E todos nós, que temos, por fortuna ou des-fortuna, a vocação intelectual, mais fortemente sentimos estaverdade. O trato com os sábios, os poetas, os escritores, os ho-mens de ação ou de pensamento, nos deixa muita vez lmpres-soes imorredouras. Constituímos como que uma família à parte.Nela como na família natural, verificam-se Os mesmos contras-tes mas tambem as mesmas harmonias. Não pode deixar deKr assim.

'A rida l tâo álferente•e ns almas filo desiguais"...

Mu desigualdade nio quer dlser desinteligência, senlo «ml-Abrio de torças morais que chegam, afinal, pela lei dai cem-peiu»{jões, à Ranão «m à M-

Uma das figuras mais interessantes que encontrei nas mi-nhas tertúlias literárias foi Jackson de Figueiredo.

Não me lembra quem nos aproximou. Sei que, quando oconheci, era ele ainda muito jovem e já conseguira, apesar derecentemente chegado ao Rio, exultante grupo de admiradoresda coragem e da beleza de sua inteligência e de suas faculdadesespeculativas. Certa noite, à mesa de um café da Avenida RioBranco, palestramos longamente e eu compreendi porque, aindatão novo, era tão vivo o fascínio de Jackson de Figueiredo. Há,realmente, um prestigio espiritual, inherente a certas criaturas.A voz e o olhar, tanto ou mais que a própria mentalidade, im-primem aos seus conceitos e afirmações, alguma coisa que nosatrai irresistivelmente ás suas idéias e aos seus sentimentos.Jackson de Figueiredo possuía esse dom. E' bem um dom essavlrtualidade profundamente humana; pois se exerce sempre nosentido de bem compreender e servir os outros. E foi, talvez, aternura que lhe despertara algum dos meus livros de verso, acausa imediata da efusão comovida com que me falou da Poesia,naquela noite. Não seria possivel viver, neste simples comen-tário, a vibração rítmica e colorida de sua pronúncia. Nela es-tava toda a sua alma. Com ela queria ele que eu não me dei-xasse perdido na noite da dúvida, — dúvida que era a atmosferamoral dominante no espírito da sua e da minha geração. Eatravés dessa pronúncia tão espontânea e tão viva quanto achama Inflexível da Fé, como pude admirar a sua cultura fl-losófica, o seu mlssionismo inato e os tumultos interiores que olevaram à realiz^ão do ku livro "Pascal e a Inquietação mo-derna"!

A homenagem que há dias lhe prestou a Academia Brasi-leira de Letras, consagrando toda uma quinta-feira à sua me-mória, lmpressiva e expressivamente evocada pela sensibilidadee aculdade critica do sr. Amoroso Lima, foi das mais justas;porque se a vida de Jackson de Figueiredo passou tão rápida-mente, nem por Isso a morte conseguiu que fosse menos efl-ciente e indelével a influência que tere a «ua té absoluta» obnossa deetkiação «Knlea.

compoz um esplêndido necrolo-gio tanto mais lisongeiro quan-to eu me sentia ainda capaz deoutro um pouco mais tarde.

Nâo teve infelizmente o eõcrl-tor o ensejo de confirmar asua antiga atitude.

Jackson de Figueiredo naogosava de muita simpatia: Go-sava, porém, de poucas, sinceras e profundas.

Nos últimos tempos se fizeraultraenontano não sem certaincoerência com os seus antece-dentes. Pareceu-me então, q;ipfora um convertido á fé cato-Uca e romana.

Comtudo, era meio jansenis-ta, admirava Pascal e frerjuen-tava a roda suspeita de heresiaqual é a do jornalismo miü-«ante.

O que restringiu sobremanel-«a as simpatias que lhe forafácil conquistar não foi o ui-tramontanismo religioso, masa sua dedicação incondicionalà legalidade nos governos deEpitácio e principalmente node Artur Bernardes.

Fui como ele um legalista, massem expressão. Não me convi-nha assoalhar o meu legalis-moquando esse era uma indúnriaevidente de muitos esperta-Ihões.

Jackson colocou-se acima detodas as calúnias provaveiacontra o seu caráter e demons-trou que nenhum resquício deambição podia movê-lo: pôrque. era certo que tudo pode-ria obter dos governos aquem servia desinteressada-mente. Foram-lhe apontadas eindicadas vantagens políticas eadministrativas, que recusaraKm pre.

Podia ter sido, se o quizesse,deputado, governador ou ga-nhar uma dessas comissões defavoritismo tão freqüentes nadistribuição das graças do po-der.

N,ãda quiz, e, desgraçada-mente, por obséquio que estavaacima de suas forças aceitou ohumilde lugar de censor da loi-prensa. Aceitou o secrifício queo impopularlzou, fazendo-secen-sor policial do jornalismoonde fizera nome e reputaçãode escritor.

IW um passo errado que de*(CooUihw M fáçn» »*»

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POEMASEM NHEENGATU'

Nestas breves e leves brasi-Uanas. apressadas notas ou co-menti rios anódinos de coisasda terra e da gente, hei de ani-nhar o que for possível, de tu-do quanto me vem aos olhosem publicação menos acessíveis«os leitores eventuais destacoluna.

Repartirei irmãmente a co-lheita; que do meu só terá, defato, o resumo e o comentário.B será tanto melhor...

• ? •

Guardo do Barão de Studart> — um grande estudioso, cons-

trutor, cheio de otimismo, amelhor das lembranças. E delasempre me recordo quando re-cebo a 'Revista do Institutodo Ceará", sempre interessan-te e útil. No tomo 50-1940, veioassunto dos melhores para aprimeira brasiliana.

A poesia dos Tupis, como a^de todos os primitivos, esta'sempre

muito mais no con teu-do, simbólico ou declarado, tíoque mesmo na maneira de di-ser as coisas. Basta percorrer,por exemplo, a opulenta e r.j-tavel coletânea de lendas reco-lhidas por Antônio Brandão deAmorim; a emoção poética re-ponta forte, em todas, ou qua-se todas — mas está, princi-palmente, nos episódios da lá-bula. Não quero dizer — lon^edisíío... — que a maneira r»etraduzir o pensamento sejasempre rude, sem brilho, diretae até grosseira. Ao contrário.Numa das lendas da ColeçãoAmorim, encontro esta tma-gem. criada para definir a st-tuação de certa índia que aiti-da não era moça: "a Lua ~r.cUnào a tinha ferido..."

Convenhamos que a imagemé digna de Manuel Bandeira,Ribeiro Couto ou Cassiano Ri-tardo.

Ma "Revista do Instituto duCeará" encontro dois pequenospoemas em nheengatú do Ama-fonas, enviados pelo dr. Noguei-

ra e traduzidos pelo sr. Fran-cisco de Assis Tavares. Tenhoa impressão de que o índio quecompôs as duas poesias já estámuito longe de ser o dono in-gênuo de uma alma tupi bemprimitiva... Mais parece umíndio da categoria daquele que,segundo afirmam, pediu aoPresidente Vargas, um cartó-rio... Seja como for, acheirealmente bonitos os dois poc-mas, graciosos e emotivos:

Ct CtffSCATD (Minha 9a«Sa4«l

Mairamén yacy ucínio caretánwIchê amamluãti iierecACuire engáre ce cuecatúTi uquáu iché acaiçú Uidí

Quaènto ivfaé unamú saurj -Engate (W rêira purãngaIti-h*-ha ce rúca miry

Ce cuec*tú ne çuhjrTi uquáu iclií avaiçú mdê...

Quando a Lua sai na minha terraEu me lem bi» (le ti

Agora canto a minha saudadeNão sei porque te quero bem

ftatão morrerei alegrwcantando o teu nome bonita,

na minha caia pequena

cora iandad? de tiNSo sei porque te quero txjrn..*

O final do segundo ê assim:

São Paulo. Ri muitos anos...O Lobato publicou os sonetos:mas me mandou um cartãdcom estas palavras: "AcéVocç!..."

II

A COBRA CEGANo Dicionário dos Animais do

Brasil, edição de 1M0, o meupranteado amigo Rodolfo vonIhering deslindou, em termosacessíveis a qualquer leitor aconfusão que o povo em gera)costuma fazer entre a "cobra deduas cabeças", a cobra de ri-dro" e a ''cobra cega".

Nenhuma das três é coora,mas todas parecem...

A cobra dc duas cabeças, queafinal, como é razoável, temuma só, chamada nalguns lu-gares 'Mãe-de-sauva", é co-mensal ou simbiota dos formi-gueiros. Os tupis deram-lhe onome de Ibijara, que eu, salvoerro, penso quer dizer "Senho-ra da Terra". Para os zoólogosé réptil lacertHIo — «AmphLs-baenidio». Outro réptil lacer-tílio — (Anguidio) é a cobrade vidro, que em Portugal é "li-cranço" e figura no Moraes:cobri ilha mais longa que a mi-nhoca, sem olhos, parda escura,mui dura e venenosa (que in-justiça!».

A cobra cega é um batrã-quio ou anfíbio como dizia ou-trora, e hoje voltou a ser usa-do. íCaecilídio da ordem dosGymnophionos).

límcu yrssoenèn.

Rodolfo von Ihering diz quepouro a única coisa interessante daTeupá cobra cega é ser anfíbio. No

uhi tm entanto, há ma;s; há mesmo,Qua yra. muito mais.

No Departamento de Zoolo-Tua boca gja da Faculdade de Filosofia

tem tiwi aa Universidade de São Paulochüitü*» __ onde o professor .Ernesto

Marcus vai criando uma asco-* Ia de alto prestigio cientifico.

o professor Paulo Sawaya cj^s-Deixa-me cobriu muita coisa interessau-

da fi»r te na humilde cobra cega. Tra-ik'x«- balhou o ilustre naturalista

««« mel... principalmente, com exempla-ies de gen. Siphonops.

+ Sawaya encontrou peconhaativa na secreção daa glându-

Certo dia mandei uns versos Ias da pele do animal, couuao meu amigo Monteiro Loba- comum nos batraquios; mast<». na "Revista do Brasil", em verificou duas espécies de ve-

neno: veneno granuloso, pro-duaido na pele da cauda, o ve-neno mucoso, formado no res-to da superfície cutânea.

A substância ativa do rena-no mucoso, descoberta do noa-so ilustre amigo, recebeu a de-noininação de " Siphonopsina.Paralisia dos membros, tremo-res, midriase, diminuição donúmero de pulsações cardíacase da energia de contração viomiocárdio — são as principaisverificações nos envenenamen-tos pela sifonopéina.

A monografia de Paulo fja-waya é um modelo de clareza,método, segurança técnica.

Afinal, a cobra cega, batrá-quio disfarçado em serpente,não é tão inofensiva como pa-rece. Guardou alguma coisa doseu parentesco com os sapos:poreja veneno...

III

AS TRIBUS NEGRASE AS MOEDASDO TRAFEGO

Dos "Subsídios para a Histó-ria do Tráfico Africano no Bra-sil" — volume que Taunay pu-blicou este ano em São PauloU941) — divulgando em pri-meira mão alguns velhos do-cumentos importantes, o quemais me interessou foram oscapítulos consagrados às tribusnegras importada-? e às moedasempregadas no comércio dasescravos.

Quanto às tribus, ele resumeo que está publicado. Só vejomotivas para manter a suges-tâo que fiz no prefácio do vo-lume consagrado ao Congressode Recife, superiormente orga-nizado por Gilberto Freire.Aproveitando a presença doprof. Melville Herskovits, queatualmente nos visita e já es-teve na África estudando an-tropologia dos negros, o entu-siasmo e a competência de Gil-berto Freire, de Artur Ramose tantos outros, seria talvez obom. momento de organizar umprojeto de expedição aos rtn-tios principais de origem dosque foram trazidos para oBrasil.

Quanta coisa da "nossa antro-pologia cultural não seria es-clarecido pela Expedição?

Questões de antropologia fl.sica, de flsiologia aplicada, cur-vas de crescimento, resistênciaàs doenças carenclals ou infec-ciosas, pesquisas de psicologiacomparada de lingüística...

As moedas de compra e ven-da dos negros, em África, erammuito curiosas. Dinheiro meta.llco era raro. Moeda corrent*eram caracóis: limbos ou 1«-ni»chM. Os mais apreciado*eram os zimbos de Luanda, qu*as mulheres pescavam.

Não sei, na verdade, se dainão provem a expressão portu-guesa:- '*isao não vale dois ca-racóis"...

Ainda assim, os zimbos ti-nham pouco valor; muito maiavaliam os tecidos.

Macula — peça de roupa dsfibra indígena, valia des réis s«tinha uma jarda de comprt-mento; Birama — valia duzen-tos réis — era uma peça de al-godão com 5 varas (5m,50). Aavezes gente servia também damoeda: cinqüenta cruzados erao valor de uma peça da Índia,moleque forte e sadio de unavinte anos de idade. A peça daíndia correspondia a 100 Bira-mas ou 2.000 Macutas.

No Reino de Ardra — GuinéMeridional — comprava-se umhomem por trinta quilos d*ferro, cerca de 15 barras. Va-liam as mulheres moças, eraNovo Calabar, 6 barras.

No Congo preferiam pano aoferro. As moedas em panaeram; a peça, a fathom e **slick -7- (nomenclatura ingle-sa... et pour cause).

Três sticks valiam um fa-thom; quatro fat horns. umapeça.

Ó stk-k correspondia, maisou menos, a dois palmos dopano.

O nome peça da Índia — de-rivou também de um tecido: achita ou marata-chit do Indus-tão. Uma peca de chita — aiorde um bom moleque — tinha 9jardas.

Crianças de peito iam "do

quebra"; homens acima dequarenta anos — não tinhamcotação. Só a preço de ene a-lhe..'.

Parei nesta última nota. E*deprimente... para os da mi-nha turma.

A vida é de cabeça be caoeça oaixa-^varo Mo reyra

UMBKANÇAS...

Lembranças de um homem«ue passetou pela* idé!?.s e pe-los sentimentos dos outros ho-mens. Não trouxe notas. Trou-xe imagens. Conta as alegrasdos seus sentidos. Recorda ascomoções que teve. E' ele -sem-pre, através de todas as memó-rias. de todas as coisas, de to-dajs as criaturas, irremediável-mente ele... Mas que resumo!Jib ESPAÇO E NO TEMPO

Quando Jules Renard mor-reu, e foram publicados algunspedaços do "dl-rio" dele, Remyde Gourmont se espantou:

"Acreditava-se que Jules Re-nard tivesse saúde, e era doen-te; acreditava-se que fossse rico,e era pobre; acreditava-se quefosse feliz, e tentara se matar;acreditava-se que fosse filósofo^c não suportava a aparência deuma crítica: acreditava-se quefosse incapaz de qualquer pre-tensão política, e era um par-tidário violento; acreditava-seque fosse parisiense, e tinha seconservado profundamen-te camponês; acreditava-se queíosse naturalista, e punhaVitor Hugo acima de tudo;acreditava-sse que fosse cético,c lia Pascal; acreditava-se, en-fim, que íosse alegre, e era trls-te. Desse geito. mais ou menos,conhecemos os nossos contem-

poràneos, — o que nko nos im-pede de os julgar, de lhes atri-buir intenções, avaliar o seuespirito, qualificar a sua ai-ma".

Pirandello. depois, iria ctis-mar a isso: construção:

Ninguém é. Todos parecem.Somas tantos quantos são osque nos vêem, inclusive cadaum de nós quando se olha." O "diário" é o melhor com-panheiro para conversar. Agente fala. Ele nâo responde.Mas, um dia, conta tudo o queouviu. Então se descobre muitainocência, muito engano, muitacontradição. Coisas imagina-das, coisas perdidas, coisas comformas tão diversas, em dataspróximas e remotas, que ficamtonteando no ar. A vida...Quem sabe se, acabar conven-cido dessa verdade, não é ilu-são também? Talvez o certoseja, de um lado. a desconfian-ça dos outros lados. Pode ser asolidão em que todas as cria-turas permanecem na intir.ii-dade geral do mundo. Até osgêmeos são diferentíssimos. "Osnossos semelhantes" continuamassim, por fora. A primeira o;:i-nião iniciou a desigualdade hu-mana. O grande erro foi espa-lhar que "o sol nasce para to-dos". Os que não conseguiramsair da sombra não perdoaramos que se achavam aborrecidos

na luz. Nenhum, nos respecti-vos lugares, meditou que a fe-licidade estava em atravessara rua.

Eu, graças a Deus, prefiro asestrelas. Para fazer um céu.basta uma estrela. Abandonei aterra, de vez. Dava muito tra-balho. Não há nada como umapequena astronomia pessoal.Concordo para sempre que nãoconvém contrariar. A chamadirazão é um defeito orgânico.sem culpa dos possuidores. Go-to mais do sentimento do quedo pensamento. As boas pala-vias são as que o vento leva.No bem e no mal que não con-servo, nesta carência de vícioe de virtude, ao longo do meudestino cheio de pecados ve-niais. o que nunca desperdicei,por instinto e por experiência,foi uma escandalosa quantida-de de perdões. O perdão afãs-ta, conclue o assunto, evita atubagem, enche de alegria acara e a alma. A distância es-tiliza maravilhosamente...OS FARRAPOS

Desde que comecei a ouvirouvi falar nos Farrapos. Maisde cinqüenta anos haviam pas-sado depois da guerra que elesfizeram pelo bem dos outros. E.apesar disso, todos os amavam.Foi porque os Farrapos não ti-veram ódios, — tiveram ilusões.Muitos dos chefes lutaram pe-

lo Brasil nos combates de ondesaiu independente a RepúblicaOriental do Uruguai. E os queos chamavam de 'anarquistas,salteadores, assassinos", andi-ram dizendo que. de combina,ção com o tirano Rosas, • quequeriam era anexar o RioGrande do Sul à Argentina.Ora, quando o tirano Rosas lhesofereceu tropas para a vitóriacontra a reação do governoimperial, a resposta partiu ime-diata:

"Senhor, v primeiro soldadode vossas tropas que atravessara fronteira fornecerá o sanguecom que será assinada a paz dePiratiní com os imperiais. Aci-ma do nosso amor à Repúblí-ca, colocamos o nosso brio, aintegridade da pátria. Se pu-zerdes agora os vossos soldadosna fronteira, encontrareis om-bro a ombro os soldados de PI-ratini e os soldados do senhorD. Pedro II".

O Rio Grande do Sul estevemuitos anos separado do Brasil.Sem in tensão. Por fatalidade.Com tristeza. A República, pro-clamada lá, não conseguiu serproclamada no resto do país.em estado de semi-colônia. De-pois de 20 de setembro de 1835.quatorsse "presidentes e coman-dantes das armas da Provin-cia", enviados pelo governo do"Império Luso-Brasileiro". ten-

taram vencer a Guerra dosFarrapos e destruir a RepúblicaRio-Grandense. Entre eles, umacendeu mais o desejo de tn-unfar e mais fixou a Idéia doregime novo: Antônio filizláriode Miranda e Brito. A essecoube pór em execução a "or-dem do Regente em nome d»Imperador", assinada por Ber-nardo Pereira de Vasconcelos,— "a respeito dos escravos queos rebeldes teem armado, e comos quais também hostilizam asForças Imperiais":"Todo escravo que for presoe tiver feito parte das forçasrebeldes, será logo ai, ou no 1--gar mais próximo em que possater lugar, correcionalmente pu-nido com duzentos a mil açoi-tes. por ordem da AutoridadeMilitar ou Civil, independente-mente de processos. Depois ddassim castigados, serão remeti-dos para esta capital, publican-do-se seus nomes e senhores,afim de que saibam o destinode seus escravos, e possam dis-pôr deles como lhes convier,contanto que não revertam aProvíncia do Rio Grande, cn-quanto não estiver plenamentepacificada, ao que por s'> °upor seus Procuradores, se obri-garão por termos perante oJuiz de Direito da Chefia daPolícia, encarregado de fazer a

{Continua na página 217)

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¦. DOMINGO, t/ll/lMli«i'l|_ II i. ¦ „¦ ,.

¦IIPUHRNTO UIEKARIO D'A MANHA - fAGINA MU

José Resto Je Jaco e o Anio - JoãoGaspari Simões

líia jr nomes iroNo post-Fácio do seu Primeiro ções ou explicltações", como di- é que Jacob e o Anjo não cor- uma progressão fislea, chame-

Volume de Teatro: Jacob e o ria José Regio, "de ordem místi- reponde exatamente àqu?la ca- mos-lhe assim de um conflitoAnjo e as 'Tres Máscaras, põe Jo- ca, metafísica, psicológica ou so- tegbria de obràA qtie no pVlèo que nada impede que seja psl-se Regio um problema de impof- ciai" que melhor se "revelarão a atingem toda a plenitude das" cológlco Ou intelectual nas suastãncia capital para a boa apre- uma leitura vagarosa". Dé fato, suas virtualidades. origens. ¦ ¦¦- " ¦

ciaçáo da sua obra de dramatur- a comédia,de Garrett não resis- . fião o nego. E' fállvel o jrieu Que se passa- então com Jacobeo Eis como ele apresenta as tiu à minha "leitura vagarosa", parecer. Em todo caso direi as e o Arijo? Assente que literária'--suas obras teatrais: "Nãò são as E' pensei: representar esta peça minhas razões dele. Diz3ndo-as, mente o seu texto é de primeiraduas tentativas teatrais hoje da- é prestar iimài mau serviço a não pretendo de maneira algu- ordem, a (Jue conclusões cnega-das a público senão o texto li- Garrett. íóistive dc alterar o ma desanimar o empresário que mos quanto à sUa quilidàde pu-terário do que só num palco terá meu juizò quando vi tal peça re- quisesse prestar ao tatro na- ramente teatral? Há em Jacobplena realização. Se o autor as presehtada no Nacional. Evi- cional o alto serviço de pôr em e o Anjo uma ação dramática,publica é por julgar que, só por denlemente que a ingenuidade cena a mais bela obra de teatro uma progressão de' conflito e desi. aleUIIÍ interesse poderão oíe- da situação amorosa e o peque- que nos últimos anos se esere-- situações? De certo. No primei-recer como obra literária: b que no vulto das figuras principais veú em Portugal. As virtudes ro ato o Bobo (ouoAnfoi aoà-não deve fazer crer ao leitor que não se modificaram. À ausência cênicas de Jacob e o Anjo são rece ao Rei (Jacob), Principia ao próprio àutóf classifica o séu de "lmplicitações ou explicita- incontestáveis. A beleza plástica luta. O Bobo quer cliamarteatro de teatr» para ser lido. Ções de ordem mística, metafisi- dos seus movimentos cênicos — Rei a Deus. No segundo ato, aBis uíh gêílerò que, pelo contra- ca. psicológica, social" mante-. desde o bailado do prólogo ate a Rainha còrijuràJsecdm b Duçiiério, élè cliegia a pôr em dúvida vé-se. Embora se represente em presença invisível do Anjo no contra o Rei. a.quem destronaque exista." • ' A Sobrinha do Marquês um con- Epilogo — seriam só por si ga- No terceiro ato. d Rèi, destro a

Assente fica, pois, que Jose "j'o de classes — foi isso que rantia bastante para dominar o do implora do sucessor a vida doRegio duvida da existência de apaixonou alguns críticos — a espectador. E nem é prec so fa- Bobo. O Epilogjo é • reijüiçfo j, sebastião LEME — O Car-um teatro para ser lido. 'Assente verdade é que esse conflito é ti- lar na beleza do diálogo, no pa- do Rei pela morte. Estamos pòr-1 ai„i t0 rio áe Janeiro: éuma áasfica que, embora duíide da exis- mido: tem uma exposição pue-*tétismo da simbólica luta bbll- tanto diante dé,uma.ação dra-r""" ">'»'-»• «"¦'«¦ ««» <»<™ténciíi dè úm teatro para ser li- riI- El" todo caso, a verdade é CEl **e Jacob com q ,Anjò do 5,e- mátiea. Não se pode acu.sar ado, José Regió admite que o tex- iue o texto literário de Garrett nhor. Meramente especulativo, peça de José Regio.de ser estáti-tu literário que o teatro por de- era um autêntico texto teatral. este meu ensaio crítico pretende ca. Pergunta-se, contudo: comofinição é pode ser lido. Mais Por 1ue? Aqui está o problema apenas,, graças à leitura de um e que o Rei desce da sua glóriaadiante, noutro passo do seu capitai. Qual o quid que anima texto literário teatral de exce- terrena até á morte? Densenrp-Post-Fácio, admite mesmo que Ruelas .páginas pobres à leitu- pcionaís qualidade — pretende lou-se diante de nós,uma verdi-haja um certo teatro que pode ra? Que é que faz daqueles ca- aPenas, dizia, perserutar o mis- delta batalha entre o Anjo e obeneficiar sendo lido. Nào como racteres s™ transcendência, e téri0 daquilo a que poderemos Rei? Teremos nós vivido na an-teatro, evidentemente, mas co- daqueles diálogos sem largas <*amar a essência do teatro, o sledade vendo-os lutir. Quemmo texto literário. E' aí que Perspectivas cenas animadas? 1nia teatral. vencerá: o Bobo ou o Rei? Não.chega mesmo a admitir que o <"le é iue nos leva a seguir sem Se formos à Grécia e lermos A luta não se torna corpórea; ateatro dele, José Regio, não se- enfado e quase com paixão os os seus trágicos, s; formos a luta não nos apaixona. Não vira apoucado pela le tura. Pe.o Pass°s daqueles seres que à lri- Jclade Média e lermos os seus vemos com a nrssa vida o duelocontrário, lido, o seu teatro lal- tlm se n°s Unham desenhado mist™*s, se formos ao Renas- que José Regio nos quis mis rarvez possa ser melhor entendido r>morfos e frios? cimento e lermos os seusautos, Não nos podemos apaixonar porvisto pertencer à segunda dai Todo um lar^o estudo sobre a se formos ao Século XVIII e ler- situações em que não estão emtendências por ele desenhadas natureza do t°atro se r.os depa- mos os seus dramas realistas, se Jogo vidas humanas como a nos-em todo o. teatro: a tendência ra aqui Não nos arriscaremos a torm°s ao século XX e lermos sa. E' certo que a luta é bela ,épara ser "principalmente um abordá-lo em tão pouco espaço. a? sllas Peças Int lectuais e poé- certo que é feroz. Mas náo etexto literário", sendo a p.ifnei- José Regio. se o abordou, não o

*'"""

nais ilustres figuras que teemhonrado o história da Igreja erri

ra a tendência do teatro paia resolveu. Ponhamo-lo de \•"principalmente ser um espeta- pois. ermo problema abstratoeulo. Isso porque, diz ele, "ns e vejamo-lo em função das pe-varias idéias concomitantes nó cas cie José Regio agora publica-texto, do pensamento central, das. E" om função de Jacob e ogerador, como as suas vár as im- Anio que nos interessa pô-lo.phdtaçoes ou explcitações de Realmente, que text-i 1 terá-ordem mística, metafísica, psl- rio extrro diná'io este Jacob ecolosiea, social, _ melhor se re- o Anio. Ter-se-á escrito em por-velarão a uma leitura vagarosa üiguês texto mais profundo,do que a uma visão e audição de mais vasto, mais poéteo, maisespectador." vlbrant- de inteligência

ticas — que vemos? Uma coisa uma luta corpo a corpo — é un-averemos: todas estas peç.-s se luta dialéfica, é uma luta de es-jdesenrolam segundo uma • pro- piritos. E' certo que a vitória dogressão dramática — uma ação Bobo se vai traduzindo por uma|— concretizada num plano ex- quebra material da glória db1terior às piópr as personagens Rei. O Rei é' destronado. Mas eque nela interveem. Ve amos destronado sem luta. Toda auma tragédia de Sotocles: E'e- pait" física do conflito dramát..ctra, por exemplo. Há primeiro Co decorre por assim dizer sen-- abreviadamente — uma mu- acidentes. Há qualquer coisa deIher casada com o assassino do convencional nas situações dra-marido, uma filha que espe"'a a máticas de Jacob e o Anjo. Sen-

de v'ngança personificada no ir- te-se que a Rainha destrora omão que desapareceu. Regresso Rei para que o Bobo

¦— nosso . jmjs

LUIZ GUIMARÃES FILHC —Poeta, prosador e diplomata. A se-mana passada transcorreu a data— — tío seu nascimento _ —

„, . „+m j„ Tí1,,a D^^in .qmoijnria mpt-ífí-íifn míiUrps- i,utu ^UK "t-aupareceu. negresso Kei para que o booo vença mr.is

naEoPP nlão To ?uto . 'S^SS

oT e^re™ lolídàde Tde "l

%*£&íSn£>ab?l"\ fC0" "V^-

..«alet camente -

pode w-lido, mas. nasua opi-cologia? Creio bem que não. Tris- "f,^nto„df°1,lrmao,Pela ir.ma- e com que diaktica com quepooe s;r""°\-'"r-"^, . „.H,.„ . b , .... recebe com si- Vllleança: o filho mata a mae e espantosa dialética! — dlaleti-

SSdoé parase reptsentadÓ taílo encolher de' o°mbròs o*™»f> que lhe matou o pai. ermente o Bobo continua a suaquando e para ser represeniauo. ™ ¦ t <• cat„0.01'ai

Es- Els a tra8edia. Que se passou tarefa. Não intervém, contudo,

no°P tVáSoTo™ mZ Vofu° Z mo^qu o utuíolale' dela ^ *>« houve aqui? Uma se- nos acontecimentos que levam o

. J . ",

í - d„,i„ *nmn rf» ,,m> k,« nh-a-s mi>ls rle de acontecimentos imprevls- Rei a abdicação. E' mesmo jus-me de Teatro, de Jose Reslo. como de uma_das oba* ™» tos e determinados pelos pro- to dizer-se que ninguém inter-Cabe-nos agora a nos pergun- extraordinárias que se publica. acontecimentos. E' claro vem dramaticamente nesse de-tar: quais os elementos funda ram em P°r'»Bu« ™ P"melr0 que a tragédia nâo é só isto.. O sideratum, Esse aspecto de Ja.mentais de uma obra de teatro? quartel do século XX. pensamento que a rege, esta pa- cob e o Anjo, que me parece de-Tem o teatro de Jose Regio es- J°sf ReP° "a0

ps'te'S a ra alem d0 ^"'^ dramático, via ser primâcial numa peça de•es elementos fundamentais? ^.'at°;,«™"^i"0-Pv°0sIt'^cio^ assiste a ele, é o seu comentário teatro, decorre com facilidadeAfigura-se-me que José Re- «te seu Pun e.ro Vo'ume «• invisível. Mas isto - esta série desprovida de angústia drama-

íio, nao obstante toda a rica « Teatro d-P» eu tea ro era dc a4smUx)mmtos concretos, fi- tiea. O espectador não tem an-variada argumentação de que daquele^ que po, em er lido slcos, obJetlvos _ eia „ ^ siedades "erantt

destln0 __,„•e serviu no s:u Post-Facio pa- çom

benefuo. A 1itu ia este t;tue o nfeleo d4 i o ^^ ^ra mostrar que o teatro e antes texto litera rio é simP^nte Se pegarmos „ miu . •

, " f traduzir um con-de mais nada teatro: espetáculo espantoso:!M«*."!*" sf. »í«e dieval, num auto do Renasci- flito dialético ou exprimir umpara ser animado num palco, e singutar e que , eitura deste mentoounum do no conf]ito dramàtic0? ^0 devlaafigura-se-me, dizia, que se es-, texto l.te„ro e to ta «n cond - temp0 reconhéceremos em ter sido a vfdá'do Rei, desde ãqueceude abordar um dos lado» «Xinhnu

K â sua^eca eôm todas elas hã a mesma progres- glória à abjeçãó, o verdadeiromais importantes do problema, sublinhou toda a sua peça eom _ , - .. ^ J?'., f _ ri .ià,0h r ó »ni«» tiin HeQue não há teatro sem um autor rubricas e intenções tão minu- sao objetiva de um açontecl- tema de Jacob e o Anjo. Nao de-.!,!.! .-kiT, -'--- tão su-tas tão buc«'1"«s mento. n mesmo desenrolar oro- veria o dramaturgo ter posto no«^«^.^«^^te^^^^^^to;»^-^^,^^

de um ^«nito.concre. primeiro plano o drama físicoeste texto literário de Jaeob e «to, corpóreo, físico, por assim, das pet-sonaÈens, embora mos-

damental oara oue u-n texto 11- ^nj» deixa de ser um leitor pa- dizer. A isto «hamaremos nos a trando-no-lo como uma )jro)e-teSrto ad«Sh ?4Ttexto tea-ra se converter num espectador.-aÇão dramática. O mistério ou. ÇW do drama espiritual ou psl-tr™"q„c Tque i™ o tex- Sim: a leitura da peca de José o quia teatral baseia-se nisto,

f°f<*f f<^erto due José Rè-

t^ iii«íi.i» Z. S,,,,;,? Reeio de-Jarob e o Anio in- E' preciso que num texto teatral g'o pretenda mostrar simboli-Estepolé parece d fi- SSS é m"!"Idêi* ?es£- Iuja uma ação dramática . - «ugmt*- n5s m*Ç entre ,

ell NuíSH estuidem-ftn% o tàeulo. Tão minuciosa, e-ara e uma progressão de aconteomen- Bobo e p R«, a luta entre o esdoCt:-o'ttnh1o1sWdadòem teatral é a marcação literária ^.sociais, deixem chamar-lhe

^Í"^«*J *»

£.W,5ars--ST2í- queS^ert&r svassrssris g«fHa%e,Ka,:M°querS,ç:a me «-.«-£-«. -.^«sTIe

= 7r tB^èW^marcação dó autor'- que o homem é sempre o mes- ™<:a0.no teatro de um conflito

Que quer isto dizer? Nada mo _ hoje e há dois mil anc». ^ nao chegou a ser tratafloni-* nada menos mie José Rc- Se o teatro é ao mesmo tempo com.° 'eatT°? Na0 haveria ne,

S tem ™ a"udo°sentidoit a- um texto literário e um espeta- ^'^tole^Te" ™'

"T'trai. José Regio não só escreve culo - é bom que nesse espe- 5ra^™'ca.„™ a„ a?aoo toxt-r lit-rárío das suas peças, táculo os homens encontrem ex- «™™tca? ^

^ra havido ummas vé-a, reDresentadas Estou plicitado um conflito, uma pio- «ansboidamento da ação diale."ertodemieas

vê admirável gressão, uma espectativa capaz "ea sobre a açao. dramática?mente1 Não duvido de que a re- de manter a sua atenção des- Deixo estas interrogações empresentação de Jacob e o Anjo peita, o seu coração vigilante e branco. Oxalá aparecesse em

triunfo cê- sua sensibilidade alerta. Escrl- Portugal ou no Brasil quem ou-to para ser rep?resentado, como sasse levar à cena esta obradiz Regio, um texto literário prima da literatura portuguesa

alegremente me comprometo

unidade, de acordo; mas,íunto; qual é o elemento-

a narração ao plano do român-ce. Um"quid1 existe que eleva ot"xto literário ao plano do tra-tro. Qual é ele?

Quando há temp s se anun-eiou para o Teatro Nacional arepresentação de A Sobrinha doMarquês, d? Almeida Garrett.fui reler o texto liteáriu de tacomédia. Drvo confessar que :leitura foi prnosa e dec?pjionante. A par da ingenuidade aa constituíssem u»nsituação amorosa a o peqirnu nlco-vulto das fítfuras mincipais o Mas... Sim: ha uma duvida -...,, . ^ ..Marquês e ojesuíta ent?inuem assaltar-me o espírito. Conquan- teatral so representado da a me-se não trava um Sálog s2Sc™ to se me afigure quase impossi- dida do seu valor intrínseco desde já a renunciar as objeentemente agiTo e significa vo. vel dizer quando é que um texto Ora representar uaia peça « çoes que me embrel de lazerenvolvidas ambas numa ntriBa literário escrito para o teatro aceitar a existência de uma a peça de Jose Regio, caso, nocaseira e sentimental1 - fazem possue o quid teatral - é o caso Platéia de homens que vSo ao palco, Jacob e o Anjo se vier ada p ca «5 S I». árk^5? * comédia de Almeida Garrett teatro para ver realiar-^ dian- revelar una obra pruna do Ua-bte. desprovido do "taplicíuí. - • «««o. «uer «" «"<*«* te deles «ma ajao -..—t-». tm.

fjfil^

¦m k*Y& Wi\

fVííl.wo W MORAIS — So-ciòlogo, jurista 'è historiador:'" A 'semana passada' viu iransàòrrerãêata do seu nascimento. --- >¦ ¦¦

dramática tro»

VISCONDE DE MAOA- — IrivjiuEvangelista de Sousa é uma datfiguras máximas da vida brasileirano Segundo Rèitàân. a data 'iasu norte mwm mta» -

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1'VfílNA 2_« — SUPLEMKNTO IITKR.ÃRIO D'A MANHA DOMINGO, S/11/131!

Prefacio á 4- edição de "Casa-Grande & Senzala"- GILBERTO FREYRE

A u. I.' c-lic um livroaparecido ja liá quase dez auo^,u u.lilui- Jij-íc Olímpio desejadur n cui-.-iiur ile definitiva. Dc-fiuitiva dentro di) rclativismoqu. condiciona uni ensaio danatureza des tu, cuja objetivida-<l. depende de novos avançosn;i.- \ árias ciências e estudos emqu. >e baseia. Istu sem falarii. *v a>pcctos porventura aindamai- flutuantes, de sua subjeti-vida*!.-. As idéias e atitudes doautor. Seus pontos de vista.

Relendo agora, à distância jáde mu decênio, um trabalhoctija^ raízes estão nos seus es-tti'l"-> universitários e nas suaspreocupações de adolescente, oautor se surpreende de se en-entrar tão de acordo cum tij<loque escreveu em 19XV \*ào háne-aa etlic.au acréscimo tiu alte-ração que alcance idéia ou mo-do de dizei' essencial. Xem mes-nio esforço ou tentativa de rc-forma no sentido tle eliminar re-petições e reduzir um materialp*>r natureza desordenado ea^re-r-te — tal a rapidez com quefoi escrito uni livro tão próxi-ni**, prio assunto, da vicia e danatureza tropical — a rigoresde ordem francesa e de correçãocomo que militar.

Já em notas escritas há doisou três anos e publicadas naMi\evi>ta do Brasil", o autorprocu: ou esclarecer algumas dasidéias ou expressões mais obs-curas cio ensaio que se segue.Tai-* notas deveriam toi* acom-punhado a 3* edição. São in-cluidas na atual.

C) autor acrescenta-lhes ago-ra alguns reparos animado domesmo desejo cie esclarecer as-pectos mais turvos tio plano doüvro e da apresentação dcterial. De unia deficiência develogo desculpar-se: do fato denão ter procurado atualizar a bi-bliograíia. K' que se encontroudiante de tarefa impossível dser realizada no Brasil (ondetem permanecido nos últindois .mos1! por maior uso quepudesse e quisesse fazer de cs-tudo. valiosos produzidos ulti-mamei ite em nosso pais sobreassuntos de história e an tropo-Iogiu sociais. Basta-lhe recordarlivros e artigos dos professoresRoquetc Pinto, Artur Ramos tPedro Calmou, dos historiado-res Afonso dc Taunav e Rodol-fo Mareia, dos ensaístas SérgioBuarque de Holanda, AfonsoAri:;-¦-. dc Melo I7rance;, Robcrto Simon.cn,. Cassiano Ricardo,Sérgio Milict. Visconde de Car-naxide. It ainda: as excelentestraduções anotadas, publicada»pelo editor Martins, de S. Pau-Io. as reedições da Kditora Xa-cional. o "Diário", de Reboliças(anotadas pelo coronel InácioJosé Veríssimo) e outras pubh-cações do editor José Olímpio,várias publicações recentes dcinteresse histórico ou socioló-gíco. do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística e doInstituto de Açúcar e do Álcool.Entre as últimas a tradução por-tuguesa — trabalho do sr. Ro-dolío Coutinho — da ohra clá.s-sica de Edmundo von Lippmansobre o açúcar e sua história.Sob o aspecto bibliográfico, aedição á ser publicada agora cs-tá longe dc pretender ser com-

pleta ou definitiva. Aliás, só es-crito e publicado o último volu-me da série de estudos dc que"Casa Grande * Senzala" foi o

primeiro, poderá ser verdadeira-

mente organizada a bibliografiaque o autor pretende fazer aom-panliat* da publicarão de váriosMSS c documentos raros uu defamília de que se serviu.

Uma critica ou restrição aeste trabalho, de que o autor de-sejaria poder ocupar-se com aamplitude tpie merece, é a queinsiste, ora dc boa ic. ora ma-liciosamente. no caráter regnvnal — "nortista*" ou "peruam-

bucano" — tio material reunidonas i.agidas (pie se seguem. Ca-rater regional que prejudicariaas conclusões — aliás poucas —e as interpretações — estas nu-merosas —¦ baseadas sobre o es-tudo do mesmo material e asevidências e sugestões por eleoferecidas.

A verdade é que na colheitade dados para este ensaio, o au-tor não seguiu critério rigorosa-mente geográfico ou histórico,embora sempre fiel ao regional,de área dc formação histórico-social cio Brasil. Dentro destecritério -— ao mesmo tempo ge-nético e regional — c que não

poude esquivar-se a dar relevo,às vezes grande, ao açúcar econsequentemente aos agrupa-

nienlos nortistas, no desenvolvi-nlento da família patriarcal —agrária e escravocrata — nonosso pais. A influência daque-Ia técnica de produção e das so-ciedades que se desenvolveramsobre ela — no Maranhão, uaHaia, em Pernambuco, no Rio deJaneiro — foi tãò forte, que du-rante longo tempo n açúcar éque deu à sociedade brasileiratomada no seu conjunto, ou con-siderada sem maiores fluxos dcdiscernimento, seus traços maiscaracterísticos, suas condiçõesmais fortes dc estabilidade eco-nôniíca e social, e cie vida orga-nizada. dé família. Traços quedepois se transmitiriam, ás ve-zes com uma pureza que nossurpreende — como o autor pro-curará demonstrar ou. antes, su-gerir no seu próximo ensaio,"Ordem e Progresso" — a cou-nom ia do café (São Paulo e Riode janeiro principalmente) e ãordem social estabelecida sobrea mesma economia. As duas eco-nomias — a do açúcar e a docale — condicionaram o desen-volvimento do nosso patriarca-lisino agrário. Pelo menos o queo patriarcalismo agrário, no

Brasil, apresenta'de essencial. Kdesse pat ria realismo parece ao.autor impossivel separar qual-quer estudo sério da formaçãosocial brasileira. Esta se vemprocessando ou dentro daquelainfluência ou contra ela: 'a! ocaso do movimento bandeirante,ao qual talvez se possa ligar aformação não só da sociedadebaseada solire a exploração doouro — Minas Gerais — comode agrupamento:, pastoris, aiu-da lioje antagônicos nos seus in-teresses e nos seus estilos cie vi-da e de cultura aos de origemmaciçamente agrária. Interesses— os agrários — por tanto tem-po econômica e politicamentepredominantes no.llrasil. Dai ocaráter brasileiro — e não ape-nas pernambucano, baiano ounortista — de interpretações ba-seadas sobre material colhido noscentros de formação agrária epatriarcal do Brasil. Colhidosnesses centros, é certo, mas semexclusivismo geográfico nem in-diferença pelas áreas margi-nais ou antagônicas às do açu-car e do café: pastoris ou poii*cultoras ou de mineração. Asviagens tle estudo ou observa-

ção do autor por áreas brasilei-ras menos agrárias na sua for-mação do que o Xordeste — ouinteiramente pastoris ou quaseindustriais, como certas áreasneo-brasileiras do Sul do pais —só teem feito confirmar nele as*interpretações esboçadas nestelivro. Do assunto pretende ocu-par-se com. mais atenção no _.upróximo trabalho, "Ordem eProgrcsr-o".

?Ao interesse que o editor

José Olímpio tomou pela 4.*edição desle livro, deve-se a suanova apresentação, dentro docritério tle unidade artística,sem sacrifício de exatidão e_-séncial das ilustrações. Critériopelo qual se orientou o ilustra-dor, de acordo com o autor. Ooutor agradece a colaboraçãovaliosa do editor c do artista.Também a do seu amigo Rodri-'go Melo Franco tle Andrade,

-diretor tio Serviço do Patrimô-nío Histórico e Artístico Nacio-nal, pelas novas fotografias tlecasas-grandes de várias área»brasileiras (pie lhe forneceu pa-ra serem utilizadas ua presenteedição.

SOBRE UMA DEFINIÇÃO DA POESIA - André GideEsse ello encantador, um pouco escarninho, mas que con-

serva um oue de alado na própria zombaria, Theodore de Ban-viUe danos incidentemente, e como a se divertir, uma defini-cão

'da poesia que me parece bem notável. Nao se, que-tenha

sido nunca levantada, e a estimo pouco conhecida, pois pode-selê-la não no seu "Tratado de Versilicaçao," (1) vias na miro-dução a Ronsard, escrita para a grande antologia de PoetasFranceses- em quatro volumes, hoje em dia ranssima, e que mHonrar em bem poucas bibliotecas. Tenho-a preciosamente'transcrita

e conto colocá-la em epígrafe ao prefacio da antolo-gia muito diferente que me foi pedida para a coleção da • Pleia-de" e que preparo indolentemente desde longos anos. As difi-cuúades ocasionadas pela guerra retardaram-lhe deplorável-mente a publicação. Nenhum livro, a não ser o Evangelho, il-zta-me eu, teria sido de maior socorro ao combatente que umauoleção dê nossos melhores poemas, nenhum o teria requisitadoe fortificado tanto, dando-lhe mais ânimo e consola. Nao nossurpreenderemos se, com o tédio do "front", para começar, porquerer escapar aos horrores que os cercam; ou por necessidadede comunhão, de reconforto, mais twde, sem falar no imensoamargar, como para recobrar uma pa'te íntegra de França,tantos mocos, assim como outros "entram para a religião", en-trem, eles.para a poesia, se tantos mais velhos os precederam eacompanharam nesse clericato. Uns e outros teriam encontradonessa compilação, de Villon te porque não remontar ao grande

esquecido Rutebeuf?) a Apollinaire (eu tinha decidido nâoapelar senão para os mortos) — nas mil e duzentas páginas aque o papel leve da coleção me dava direito — de que satisfazeras aspirações, estancar as sedes mais variadas; pois, a um tem-po que bania tudo o que não é puramente lírico, guardava-meo direito, na minha seleção, de fazer prevalecer meu gosto pes.soai, se bem que favorecendo {impossível de outro modo) ml-nhas preferências. Mas a questão colocava-se de início: que sedeve entender por "puramente lírico"? Precisamente a frase deBanville (e eis porque eu a colocava em epígrafe) oferecia a res-posta. Aqui a teem, definição perfeita, me parece, da Poesia:"... essa magia, que consiste em despertar sensações por melode uma eombhiaçãu ue sous... es.sa feiticaria graças à quai asidéias nos são necessariamente comunicadas, de uma maneiracerta, por palavras que no entanto não as exprimem."

Não há ai muito de que meditar?E de saida parece haver uma contradição qualquer entre a

primeira proposição e a sequnda; trata-se de despertar "sensa-

ções", ou "idéias"? Sem dúvida as segundas em conseqüência ecomo continuação das primeiras. Nil in intellectu quod nonera. primum in sensu- O qut eu noto sobretudo, é que aqui aquestão são sensações e idéias, e nunca sentimentos; e isso êtanto mais notável quando se pensa no tempo em que essas li-nhas foram escritas. Em todas as épocas, mas nesta em es-pecial, reinava e reina uma propensão, uma disposição para fazerda Poesia um caso sobretudo e quase unicamente sentimental.Louvemos a Banville por se ter desviado deste escolho.— Güdã-ttru—ãos termos empregados por ele parece-me mara-lilhosamente em concerto; a começar pelas palavras "magia" e"feiticaria". Valèry, de um modo voluntariamente ambíguo,dirá: "Charme..." O verdadeiro poeta é vm mágico. Para ele acoisa nâo c tanto se comover, mas levar seu leitor a isso; "pormeio de uma combinação de sons", que são palavras. E que asignificação dessas palavras é importante, não é preciso dizer;mas não independentemente de sua sonoridade. O adorável ver-so de Racine, tão comumente citado como exemplo de harmo-niosa encantação:

Vous mourütes aux bords oü vous frites laiséeMudem-se as palavras: diga-se:Vous ètes morte sur le rivage oú Thésée vous avalt abandon*

née. O significado conserva-se o mesmo, mas rompeu-se o "en-canto".

A segunda proposição do texto que cito é bem mais ousada;por conseguinte, muito mais importante; singularmente avan-cada para sua época. Duvido tenham os contemporâneos deBanville (nem mesmo talvez o próprio Banville) podido prever

o quanto esta proposição nos iria parecer iniciadora, ou para quaextremos promontórios arrastaria ela a Poesia. A encantação(nos poemas de Ehtard por exemplo — cito em plena razão) éobtida de fora, e como a despeito da significação das palavras.

Rose paieille aii parricideDescend de Ia toile du fonttEt tout en flammes s'évapore.

Esses versos que eu tia ontem no seu último Blason desrleurs et des 1'ruits {-'V.0 de fevereiro da _V. R. F.), ess.es versosme encantam, e eu não sei porque.

Seringa masque de 1'aveugleEcorce de Ia nuit d'été.

Uma tal "combinação de sons" escapa à compreensão dainteligência, à critica, ao bom senso comum. Eluard não guardaidas, palavras senão o seu poder encantatório; poder que, aliás,nâo vem, jora a sua sonoridade, senão da lembrança do seu em-prego precedente, quando ainda guardavam significação maisou menos precisa. Forma-se assim, em torno das palavras, umaespécie de auréola difusa; seus contornos e irisam, e o poetaobtém seu sortilégio justapondo essas gradações <2). Ao leitor,nâo de precisamente, compreender, mais de se empregar. 0$sons ritmados evocar-lhe-ão nâo sei que enjeixamento de sensa"ções que nada teem a ver com a rasão, a razão arrazoadora; nãoobstante o que,, ou melhor, devido ao que uma tal poesia torna-se extraordinariamente espiritual, emancipada de toda a rela-ção com o mundo das transações. Pois o abalo do paciente nãoíc conserva acantonado no sensível.

Gloiredu long désir, Idées,Tout en moi s'exalait de volrLa famille des iridéesSurgir à ce nouveau devoir

álzta Mallarmê. Não há como negá-lo, esse "novo dever*é de ordem ideológica. Banville o diz muito bem: "as idéiasnos são necessariamente comunicadas de uma maneira certa".Cada palavra tem, aqui, seu peso. E de início, quando ele dia)"idéius", compreende-se que não se trata de conceitos suscetíveisde formar silogismos; que por essa palavra ele entende todaemanação, eu ia escrever: toda fosforeseêneia, por mais impre-cisa que fosse, do intelecto. "Comunicadas" — o fim mesmo dapoesia é uma sutil e misteriosa comunicação, um recurso a sim-patia espiritual. "Necessariamente"; "de uma maneira certa" —ioda o arte esta em inventar, em descobrir tal relação das pa-lavras entre si, dessas palavras com o espirito do leitor de modaa que a emoção do poeta, de modo a que suas "idéias" se tor-nem comunicáveis."... Por palavras que no entanto não as exprimem..." Ficocm admiração diante desse pequeno membro de frase... Não épossível falar de progresso quando se trata de arte, pretenderque a poesia de Apollinaire seja superior á de seus predecessorespelo umeoJato de ser mais recente; mas o exemplo dos contem-poruneos de Banville não o convidava especialmente a se pro-nunciar assim: faltava ainda um pressentimento, uma espera, aintuição ão gemo.

Significa isso dizer que a poesia, de agora em diante deva^Z?fTmento.mcrtficar apenas á encantação verbal toda apa-SM^T

"?,""""' Por minha "arte- «bsolutamentecômnorta :J„

"? T'° <"""t'"!e-i<> sustentar que toda poesiacomporta uma parte de encantação que a ra-ão nâo exvlica-

IfrsoTrfmâd^Z^0' Sem «*""<*«"»«-. T>o7em7xisTnêlks.s,trrnT,znaa poesia- áo rmés- **«-" -

.« réVnãuítóS "nd° '"^ "Vr° * mAo- n5° "°s'° """• 1"' *'» "1° » »*.

Q..C m. a.w«ur «4ulte ímb.a™ «ÜÍSém^t...(Continua na pág. 240)

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DOMINGO, I/U/1M1 SUPLEMENTO LITERÁRIO D'A MANHA — PAGINA UM

REGÊNCIA VIVA- Antenor Nascentes

tiPara n&o quebrar a continuida-

dc da doutrina que está sendo £X-uosta, vamos ocupar-nos agora,embora ligeiramente, com a i-Kjên-cia arcaica c com a clássica, em-bora fiquem ambas fora do quadroda regência viva.

Nesta conformidade, apenas a ti-tulo de exemplifcaçâo e para nãonos alongarmos demais, citamos«penas alguns casos:

acertar de — E acertando eu nes-bc comeHOS de chamar o China <P.Mendes, Peregrinação, c. 214).

allcrcar contra — Porque se pu-geram a altercar contra ele (Vieí-ra, I, 825, apud Epifànio, SintaxeHistórica, 1G4).

atrever-se de — ... não avia oi-gum que se atrevesse de o levar aíndia <J. de Barros, I, 4, 5).

uumeçar de — Começou de cha-mar por Galatea (Bernardes, OLima, egl. II).

conforme a — Conforme aostempos (Fr. Luis de Souza, Vidado Arcebispo, 3, 13).

crer — Creed' est' ami ICancio-neiro da Vaticana, 1013).

cuidar a — E o comde cuydoulogo a ser morto (Livro de Linha-gens).

desejar a — Deseja a morrer(Cancioneiro da Vaticana, 357).

desejar do — Deseja de com-prar-voB para genro (Lusíadas, I,16, 8).

determinar de — Determina dcdar a doce vida (Lusíadas, III, 37,7).

dever a — E outro algum dequalquer estado, e condiçom c„ucseja, non o deve a fazer (Ordcnn-cões Afonsinas, L. I, Tit, 65, 911).

haver — Nom has tu entrar enela I Coleção de Inéditos Portusue-«es, II, 166). «

igual com — Se vystes aoresygoays com as minhas (Cancionei-ro Geral, III, 480).

incorrer — Incorrer nota de m-grato (Vieira, Cartas, II, carta 52).

inferior de — Gente tanto inEe-rlor da Romana lAndrada, Misce-lança, 105, apud Epifànio, 110).

joirar a — Epifànio, op. cit. 117.louvar de — Quem te louva do

benefício outorgado (Virtuosa Ben-leitoria, 259).

ousar a — Ousou alguém a ver áomar profundo (Lusíadas, V, 86, 5).

ousar dc — Como ousar de blas-femar nossos deuses (Ho Fios San-Ctorum em lingoage português).

soer E — Sota elle a diier IFr.Heitor Pinto, I, 345).

tenu de — Homem tenaclsslmodo que mandava (Vieira, Sermõw,XII, 34, apud Bluteau).

vestir em — E vestlo-sse em a»

vestiduraa daquello que com ellevivia (Virtuosa Benfeitoria, 71).

Passemos, agora, à, regência vivaem nossa época,

ii,fim português, semelhantemente

ao que se passava em latim com osregimens, cinco categorias de pala-vras exigem regência: o substanti-vo, o adjetivo, o verbo, o advéroioe a interjeição.

No caso do substantivo, a regôn-cia o liga por meio de uma prepo-sição a complemento que tem ri*-cobido dos autores vários nomes:objeto nominal (Maximino Maciel),adjunto restritivo (Alfredo Gomes),complemento restritivo (CarlosGóis), complemento terminativo(E. O. Pereira).

Com o adjetivo dá-se o mesmo.Dos verbos, não se constróem

com preposição os transitivos «llre-tos nem os intransitivos puros esim apenas os transitivos indiretos(que exigem objeto indireto) e osbitransitivos (que exigem objetodireto e objeto indireto).

Às ve zes preposições vêem de-pois de verbos com os quais nãoformam construção, e sim com aspalavras seguintes; é o caso dosadjuntos circunstanciais. Isto nadatem que ver com a regência.

Tratando-se de verbos intransl-tivos de movimento, o complemen-to de direção não pode ser consl-derado elemento meramente acces-sório, razão pela qual E. C. Perel-ra o chamou complemento objell-vo-terminativo porque participa danatureza do objeto e da do com-plemento terminativo.

Certos advérbios de modo, dert-vados de adjetivo, exigem compíe-mentos a que se ligam por melo depreposições.

Poucas interjeições exigem re-gência e em nada se ligam a in-terjeições latinas; tudo com elasse passa dentro do domínio do ver-náculo.

A regência dos substantivos e pe-ralmenle a dos verbos que lhe sãocognatos. Ex.: condenação ã mor-te (condenar à morte).

A dos adjetivos se prende aossubstantivos ou verbos cognatos.Ex.: desejoso de (desejo de); con-Nante em Deus (confiar em Deus);morador em Paris (morar em Fa-ris).

A das advérbios se liga á dos ad-Jetivos de que proveem. Ex.: rela-tivamente a (relativo a).

Dai se vé que a palavra que do-mina em matéria de regência é overbo. O substantivo e o adjetivosc prendem diretamente a ele e oadvérbio indiretamente.

Cumpre n&o confundir, no casodo substantivo, o adjunto atribu-tivo ou o limitativo, ligados pelapreposição de, com o complementoque exigiu a regência de.

Os adjuntos estabelecem relaçõesde posse, inerência, pertença, orl-gem, restrição, ao passo que o com-plemento apresenta valor objetivoou circunstancial.

Ex.: — A chegada do carteiro *ansiosamente esperada (adjunto 11-mitativo).

Palavra de rei não volta atrito(adjunto atributivo).

Minha chegada do Pará foi nodia 4: minha partida para SãoPaulo, no dia 5 (complemento).

Peito este indispensável preãin-bulo, estudemos agora as preposi-ções que aparecem na regência oanossa língua, com as respectivasaplicações.

Ninguém até hoje tratou do as-sunto melhor do que Epifànio Dia\quer naquele prodígio de sintetis-mo c clareza que é a GramáticaElementar, quer na coluna mestrada sintaxe portuguesa, a SintaxeHistórica, que a moléstia e a mor-te impediram de chegar ao capi-tel.

Consolidemos a doutrina de Epi-fftnio, procurando para não trair,conservar o mais possivel as pró-prias palavras dele.

Vamos tratar das preposições a,para, de, em, com, por, contra, en-tre e sobre.

A preposição a, diz Epifànio, tíe-signando objeto a que vai referir-se a ação de um verbo e os prono-mes nas formas átonas correspon-dentes, juntam-se em primeiro lu-gar aos verbos que representam(como dar) ou que substituíram(como pagar que substituiu pen-der, solverc) verbos latinos que pe-dem dativo ou ad.

Exemplifiquemos abundantemen-te:

acomodar, aconselhar, acontecer,acostumar, acrescentar, acrescer,acudlr, adaptar, aderir, adjudicar,afazer, agradar, ajnntar, aludir,antepor, anunciar, aparecer, apor,assentar, assinar, assistir, associar,atribuir avezar, bastar, ceder, co-meter, comparar, competir, conce-der, confiar, conquistar, consagrar,convir, dar, declarar, dedicar, dei-xar, desejar, dever, dizer, doar, en-cobrir, entregar, equiparar, expor,extorquir, faltar, furtar, ganhar,igualar, imolar, Imputar, ligar, mi-nistrar, mostrar, negar, obedecer,obstar, obviar, ocorrer, ocultar, ofe-recer, opor, pagar, parecer, perten-cer, pospor, prazer, preferir, pies-

tar, prometer, propor, quadrar, re-césar, repugnar, resistir, restituir,revelar, roubar, sacrificar, servir,«obrar, sobrevir, sobreviver, sub-trair, suceder, sucumbir, sugerir, ti-rar, tocar, tomar, tornar, tributar,unir, vender.

Em segundo lugar, junta-se averbos que, embora representem ousubstituam verbos latinos que ceconstróem com dativo, seguem, to-davia, a sintaxe de verbos de signi-ficação análoga, que se constróemcom dativo.

Tais são, por exmplo:proibir, vedar (como Intcrdice-

re); tolerar (como permittere); pe-dir, rogar (como supplicarej; re-cordar (como suggerere); .fugir(como se subtrahere); ensinar (quesubstituiu docere e monstrare).

Em terceiro lugar, junta-se averbos que representam ou substi-tuiram verbos latinos que se cons-troem com ad.

Tal é pertencer, por exemplo.Constroem-se mais com a: ex:>r-

tar, incitar e verbos de significa-ção semelhante:

obrigar e verbos de significaçãosemelhante;

condenar, sentenciar para indicartermo de um movimento no semi-do próprio ou no translato, comoagarrar-se, apertar, pendurar, apro-ximar-se, avizinhar-se (os dois úl-timos também com de).

Para indicar referência a coisaque serve de tipo, com os verboscheirar, feder, saber (ter gosto),soar, toar.

A mesma preposição a junta-sea substantivos abstratos correspon-dentes a verbos intransitivos ou re*flexos que se constróem com ela.

Ex.: obediência, submissão, sujei-ção.

Junta-se também a substantivosabstratos que entram (como objetodireto) em locuções que se cons-troem com ela.

Ex.: guerra, ataque, horror, pre-tensão, aterro. (Fazer guerra a, terhorror a, etc.).

Finalmente, junta-se aos nomesde ação correspondentes aos ver-bos acima indicados.

Ex.: exortação, incitação, conde-nação, etc.

Constroem-se com a os adjetivos(e substantivos tomados adjetiva-mente) que exprimem qualidadesque vão referir-se a um objeto ecorrespondem, ou etimologicamen-te, ou na significação, a adjetivoslatinos que se constróem com da-tivo ou com ad,

Exemplifiquemos com abundân*cia:

agradável, atento, avesso, caro,cego, circunvizinho, contrário, de-«agradável, desatento, desfavora-

vel, dessemelhante) dócil, equlva-lente, favorável, fiel, hostil, ídôn-tico, igual, indtbito, indecente, in-diferente, indócil, inexorável, in-fiel, insensível, intermédio, nocivo,otediente, paralelo, prejudicial, pro-pinquo, próximo, rebelde, seme-lhante, sensível, surdo, traidor, útil,vizinho.

Muitos adjetivos em — nte aeconstróem com a.

Ex.: concernente, referente, etc.Cs adjetivos anterior, posterior,

superior, inferior, também.Advérbios derivados de adjetivos

que se constróem com a, manteema regência.

Ex.: contrariamente, paralela-mente, perpendicularmente, contra*riamente.

PARA

A preposição para junta-se msubstantivos que exprimam dispo-sição ile ânimo com relação a ai-guem ou a alguma coisa.

Indica também fim, destino,Ex.: indulgência, preparação.Junta-se a adjetivos nas mesmas

condições.Ex.: indulgente, pronto,Modernamente usa-se de prefe-

rência, no primeiro caso, a prepo-sição com: indulgente com.

Junta-se também a adjetivos quedesignam coisa que redunda embem ou mal de alguém e que nAofazem parte daqueles que se cons-troem com a.

Ex.: honroso, dsehonroso, deoo-roso, odiosa

D*

Emprega-se com verbos que tott •Jam complemnto que exprima se-paração, origem de um movimen-to, proveniência.

Ex.: abster-se, sair, exigir.Usa-se maisT'com verbos que apresentem Idéia

de proximidade, ex.: aproximar,avizinhar (que também aceitam»);

com padecer, sofrer, etc.;com triunfar;com vingar-se;com verbos que signifiquem des-

canso, cessação: descansar, aliviar*se, acabar, cessar;

com indenizar, ressarcir-se;'com verbos que indiquem a cons-

tituicão de um todo: compor-se,constar;

com verbos intransitivos que ca-volvem a idéia de ser diferente oumudar: melhorar, piorar, redobrar,trocar;

com verbos que exprimem a Idéiab encher e, em geral, de prover,(Continua na página seguinte)

fl vida g de cabeça baixa(Continuação da página 234.1

entrega aos que se legitima-rem."

Bento Gonçalves se opôs comnm decreto:"Tendo o tirânico governo doBrasil determinado ao intrusoe intitulado presidente da Pro-vincia de S. Pedro do Rio Gran-de do Sul a aplicação de duzen-tos a mil açoites á todo homemde cor que, livre do cativeiro,êüi conformidade uãa Lciõ destaRepública, tiver Jeito parte datua Força Armada e vier a cairprisioneiro das tropas chama-das legais, desprezando aqueleimoral governo toda espécie deprocesso e formalidade judicia-lia para qualificação daquelesuposto crime, quando, em obe-diência às sagradas Leis daHumanidade, às luzes do pre-«ente século e aos verdadeirosinteresses dos cidadãos do Es-tado, foi que o governo domesmo passou a libertar os ca-tivos, aptos para-as armas; ofi-cinas e colonização, afim deacelerar a pronta emancipaçãodessa parte infeliz do gênerohumano, e Isso com grave sa-crifício da Fazenda Pública,pois que todos os proprietáriosque teem exigido a importân-cia de tais cativos ou hão sidosatisfeitos de pronto ou hão re-cebido documentos para o se-rem oportunamente: presiden-te da República, para reivin-dicar os direitos inalienáveis dahumanidade, não consentindoque o livre Rio Grandense, -tequalquer cor com que os aci-dentes da natureza o tenhamdtetinguido, sofra, impune enão vingado, o Indigno, barba-

ro, aviltante e afrontoso trata-mento, que lhe prepara o Infa-me governo Imperial, em re-presália, a que é provocado, de-creta:"Artigo único. — Desde o mo-mento em que houver notíciacerta de ter sido açoitado umhomem de cor a soldo da Repú-blica, pelas autoridades do go-verno do Brasil, o general co-mandante em chefe do exerci-to, ou os comandantes das di-versas divisões do mesmo, tira-rão a sorte aos oficiais de qual-quer grau que sejam, das tro-pas imperiais, nossos prisionâi-ros, c farão passar pelas armasaquele que a mesma sorte de-signar".

Está claro que o decreto deBento Gonçalves apenas sedestinava a efeito moral. Com-tudo, nas condições impostaspelos Farrapos, para a paz, eque foram aceitas, a 4." diziaassim:"Ficam livres e como taisreconhecidos os cativos queserviram na Revolução".NEM MAIS NEM MENOS

Para que se diferençar, terorgulho, brigar, perseguir, pôra opinião que formamos cobrenós, a/úma de todas as opi-niões? Para que? Não valemosmais de 3$(520! Foi o que revê-lou o professor Joe Mars, deregresso de Tetsan. Apenas ..3$620. Nem mais nem menos.Sabida a quantidade de substâncias que entram na compo-sição dos micro-organismos in-tegrantes do organismo huma-no — cal, carbono, hldrogc-nio, oxigênio, fósforo, açúcar,ferro _ não é difícil calcularo custo total, o valor específi-co do homem na praça comer-ciai. Tinham, antes, nos ensi-

nado que éramos pó e que aopó havíamos de voltar. 3)620 depó...POLÍTICA INTERIOR

Estou com o espírito num es-tado totalitário de inocência ..CRIAÇÃO

Eu também criei um mundo.E vi também que era bom.. „ANDANDO

Caminhamos, ao longo dotempo, da simplicidade para asimplicidade. Mas, durante aviagem, quantas complica-ções!... No fim, restam emnós, com um pouco de fadiga,algumas palavras... Palavrasvelhas Outras bocas, emoutras dias, as disseram. Re-petidas sempre, parecem cadavez mais novas e teem uma do-cura maior, pelo que guar-dam...

O INSTANTENão há homens maus. Hâ

homens desharmoniosos e de-sesperados. E todos teem o seuinstante dc poesia. Se ela nãodesperta completamente, aomenos sorri na alma, comonum sonho, e esse sorriso per-doa tudo, consola de tudo...

SIA ISABEL E OS ANJOSOs cabelos mulot brancos. Ma-

gra. Feia. Triste. Sempre comlágrimas nos olhos. Sempre comestas palavras na boca: — Deuste ajude. — Para os pequenos:sia Isabel. Para os grandes:Bébé Chorona. Quntos mlsté-rios a voz de.a me explicou! Osanjos andavam em todos. Novento, feito por eles, voando.Nas flores, pedaços de r.sas.Nos pássaros, sementes de an-jos. Na chuva, água que cá! docéu quando os anjos levam océu...

UM MORTO ILUSTRE "Aevum", o romancede Jackson de Figuei-

redo

(Continuação ãa página 233.)Inteiramente com a pnr»-, --suas opiniões, como o daria deser soldado raso em qualquermilícia patriótica.

Obedeceu ainda aí ao seutemperamento de inflexib ilida-de, desdenhoso de tudo quantodele se poderia dizer. Sob aque-le corpo franzino havia um es-pirito forte, heróico e impassl-vel.

Pessoalmente, não fui seuamigo e dele mesmo me sepa-rei por uma intriga literáriaque não deixou em mim (nemdeixou nele) nenhum rancor.

Pareceu-me sempre um ho-mem retrógrado, embora degrande talento e eloqüência.

Sempre o ü e procurei ler.Dlssentir e discordar dos seus

excessos era sempre o frutoinevitável do contacto com oescritor.

Muitos não o' compreende-ram. Eu julgo que o compreen-di; mas sem nenhuma simpatiaintelectual.

Diziam-no um filósofo; masa verdade é que era muitoapaixonado para o ser.

Era, e sempre foi, um políti-co conservador e reacionário demesquinha r— -"dade paraos seus adversários.

Havia, eiiiver . um ermn-de espírito de justiça que parvezes temperavadesordenada das suas tiraniasespirituais.

Queria sempre argumentarpara convencer, expediente cos-tumeiro dos temperamentos ir-redutlveis.

Confesso que en esperava

(Continuação ãa pág. 229Jmais que esta saudade no mencoração? E lembrou mais umavez o amigo íncomparavel, nosversos que lhe decorara hámais de vinte anos:

Não sei se ainda a verei, nãoEsei se o céu existe,

Para a turva conciência emo-tcional do triste

Toda a noção do real se lhe[restringe à dor...

Oh! minha mísera cruz deincerteza, de obscuro, de vaci-lante, de dubitnt.lvo amor!...Ainda mais pesada que a dosmeus egolsmos, que a dos meuslúcidos e agressivos instintos,que a dos meus erros a mimmesmo mais evidentes. Eu abroos braços a ti, treva envolventedo mar, treva cheia de estre-Ias... Eu não penso que o fu-turo seja como o passado...Eu quero que se arroje do teuseio sobre mim um vento detempestade, e me lance no abis-mo ou me faça ver a face da**rnidade. a face mesma da'Ia, da vida eterna, do amor

mais forte do que a morte.

vê-lo com o correr dos anos,desengarjs^n. envelhecido édescrente dos seus esforços.

Não o quiz a fatalidade.

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RAPINA iit — SUPLKHKNTO LITRRAWO D'A MANHA DOMINGO, S/M/1M1

HENf, F/LHO DO SÉCULO XX - ernesto . federEnrique Heine. Em que século

nosceu? Ele mesmo o diz numa cumoque autobiografia. "Nasci a 1 .* dejaneiro de 1 800. Sou, assim, um dosprimeiros homens deste século". Comesta feição gaiata é que se apresen-Io como filho do século XIX, sémnenhum liame com o precedente,berço da grande literatura clássicados alemães. Muito tempo se discu-«iu a questão do ano de seu nasci-mento. 1797? ! 799? O própria poe-ta e os membros de sua familia olu-dem aa ano de 1799. Outras fontesapontam • de 1797. Em verdadenasceu em 1797. De algum tempo• esta porte já se conhece o motivopor que a familia Heine tentara,cuidadosamente, ocultar a data pre-cisa de seu nascimento. Os pais dopoeta só se casaram em 1798 e quisocultar-se o fato de a pequena Heineter vindo ao mundo antes da cere-¦nònia religiosa, zombando das con-vençòes sociais desde e primeiro ins-fonte em que descerrou os olhos àluz.

Eis uma Ironia verdadeiramenteheineana: tendo nascido, por assimdizer, duos vezes, morreu, também,•luas vezes.

Quando, em 1846, numa estaçãobalneário dos Pirineus, procuravarestabelecer-se de grave enfermida-de, a imprensa estampou a noticiade sua morte. Extremamente curioso,sempre, de tudo quanto a seu respei-to sa falava ou escrevia, teve destaffeita, o goso insólito de ler seus ne-erológios, antecipados de um decè-pio. Bem certo é que esses derradet-tos* dez anos de vida, época, aliás,em que a inspiração lhe ditou as maisfortes poesias, outra coisa não foramque uma morte lento. Em 1846 Frie-drich Engels que o encontrara emParis, escrevia a Karl Marx: "Ele émagro como um esqueleto. Que pename dá ver, um homem tão notável,morrer desse modo, aos pedaços!"

Nega, assim, Heíne, tivesse tidorelações com a século XVIII. Suavida, historicamente, se estende pelaprimeira metade do século XIX.

Travando-se, porém; de perto oassunto, o que século ofinal, perten-ce o poeto? Gerações e gerações ovêem reclamando. Faz-nos isto lem-brar, um pouco, esses retratos cujosolhos parece que seguem o observa-dor fitondo-o em qualquer recantode galeria em que ele esteia. O jo-vem Heine era de seu tempo, poetaromântico nos albores do romantis-mo europeu, que deveria, bem cedo,alastrar-se pela literatura america-no. Quando esse romantismo cedeuo seu posto a um realismo mau crúe cruel, Heine, "romântico exonera-do" como tie mesmo se <i»>elidava,se fez porta-voz da nova poesia, da"Alemanha Moça", como a chama-vam, não por derivar na corrente daépoca, e, sim, para desenvolver oselementos de seu próprio ver. Mude-va de acordo com sua própria lei. As-sim é que se conservou "vivo" todaa vida. Nunca fazia "literatura".

Exprimia-se, simplesmente. Semprejulgado

"interessante" pelos contem-poràneos porque lhes falava, sem-pre, dos assuntos que, no momento,o preocupavam, na língua viva dequem discutia, sem, nunca visar ao"classicismo". Dirigindo-se, tão so-mente, aos coevos, falava à posteri-dade, sem nunca pensar nela e nãopensando, nunca, noutra coisa.

O poeta, jovem de 25 anos, tive-ra a impertinência de compor o ver-so célebre que assim pode ser, poli-damente, posto em vernáculo:

Poeta sou, alemão,Da Alemanha assós sabido.De ilustres na comunhãoMeu nome é sempre incluído.

E este moço, estudante de Goe-

tfngen, ousou anunciar sua visitao Goethe que não respondera ao en-vio do "Intermezzo" em carta quedizia, simplesmente: "Também eusou poeta • venho aprensentar mi-nha homenagem a vossa excelência",Goethe, habitualmente correto, ano-ta em seu canhenho, essa visita: "A

20 de outubro de 1824, Heine, deGoettingen". De que teriam poles-trado? Heine se mostrava sempre,assós encabulado, quondo aludia aesse encontro. Refugiava-se em gra-cejos. "Ao ver-lbe o porte olímpico,pouco faltou porá que eu lhe falasseem grego. Percebendo, porém, queele sabia olemõe, disse-lhe, nessalíngua, que as ameixas por mim re-colhidas na estrada que de Una vaiter a Weimor, eram muito saborosas.Goethe sorriu".

Quando, mais tarde, disseram aHeine (provavelmente sem razão),que Goethe • julgara com desfavor,escreveu, irritada, ao seu amiga Var-nhagen: "Nâo poderá Goethe obstara que, um dia, seu nome famoso se-jo, a miude, citado juntamente como de Heine".

Tinha razão nessas tmpertinências.Não somente ne mundo inteiro seunome anda sempre, par a par, com odo maior gênio alemão, senão que,em certas épocas, como que se avan-taja ao de Goethe, cuja luz tão cia-ra e pura parece, por vezes, dizercom as próprios palavras dele: "As

estréias, não as desejámos. Conten-tamo-nos em gosar-lhes * esplen-dor".

Heine é mais chegado à terra.Mistura-se conosco. Secunda-nos nosério e no jocoso, nos risos e nosprantos. Goethe ê imortal. Heinemorre e ressuscita com as épocas uque corresponde e que dele core"cem. E' sincero ao seu próprio país,que sempre foi a Alemanha, nãoobstante haver passado a metade d»vida em Paris. E*. igualmente, sin-

cero para o estrangeiro. A Alemã-nha de hoje silencia-lhe o nome, moknão o será mais na aparência qua narealidade? Um eclipsa a não um pôrde sol? Simularam a queima de seuslivros. As livrarias não os franqueiama venda. Não ê menos exato que •secretário de Estado, Koerner, fnti-mo amigo de Goering, po&sue a maiscomplete coleção das obras da Hei-na a de quanto, sobre o poeto, sa es-creveu. Dizem que seu túmulo nacemitério de Montmartre, em Paris,enguirlandado pelos Contoras de Vie-na, foi maltrotodo pelos tropas daocupação. Não a creio. Estou, oocontrário, convicto da qua a visitomclandestina mas piedosamente e saem sua lápida modesto não mais savêem cartões de visitas, a qua imhábito fazerem os viajantes alemães,esses visitantes furtivos, não manoscomovidamenta. lêem os versos do

Onda será, por fhn, a derradeira[abrigo

Do exausto viajor? Sab as. sulinasIptlln,.!»,

Sab as tiiias do Reno?...

No estrangeiro a glória' do poetobem cedo se espalhou.

Em suas Etegias de Roma, Goethealude à mão hábil do chinês quapinta, na porcelana, Werther a suabem-amada Carloto.

Citando esse passo pôde Heine go-bar-se da mesma glória exótica, ouseja, de uma tradução japonesa >íesuas poesias mencionada pela "Ca1-

cutta Revtew".No século seguinte ao de sua mor-

te ele continuava a ser, com inter-regnos, oo lado de Goethe o mais no-tável poeta alemão a o de maior In-fluência no estrangeiro. Provam-noas bibliotecas de todas as capitais domundo. Mas essas provas não saadiam somente nos institutos, que

conservam o literatura do pasmadoEncontramo-las, tombem, na níero-tura vtvd.

Foz dois anos palestrava eu comLaxness, o maior romancista da I*»lândia, país literário por excelôiic.j.

Disse-me Laxness qua o poetoalemão de maior prestígio em &t*aterra, o que fóra traduzido peloemaiores poetas da ilha, por melhorcorresponder oa temperamento e àstendências da poesia hadierna, éHeine. Indagando au de un poetobrasileiro moço se ala gostava doHeine, respondeu-me com uma par-gunta:

"Haverá quam nõ* qtutmdele?"

Um outro, do giraçõo nova, modisso: "Parece-ma qua na otnwsfé-ra espiritual de Brasil há qualo>«e*coisa da Heine".

Quando o erudito dr. Max F'eius^há meio sécuio menos um ano, pu-*blicavo na sua "Semana" umo t -a-

duçõo do "Intermezzo" da Heine, naqual colaboraram Machado de Assis,c João Ribeiro, Lúcio da Mendonça •Gonçalves Crespo, Fontoura Xóv er,Rodrigo Otávio a muitos outros, não.pretendia fazer a obra da literaturahistórica mas de literatura viva. \geração dos poetas de hoje que trou-ke novos ritmos e novos formas daexpressão i poesia brasíero, ela.também, revela íntimas afinidadescom Heine.

Qual a segreda dessa influência dsum poeta de pois longínquo, da umaépoca longínqua? Por oue. oomo •sentiu um de seus tradutores itolia-nos "0 morto Enrique poetava atnr"da"?.

Quais, de sua poesia, os eiemen-tos sobreviventes? Quà jogo da fo-tores divergentes lhe dá i obra essacaracter que dura sempre a semprsse renova? Responder a esse questio-nório é, talvez, dar conta das ten"dências dominante» da nos» tampa.

REGÊNCIA V IV A - Menor N„tÇontinuaçâo da páç. anterior)

cx.: atulhar (muitos ae constróemeom cotnj ;eom verbos que tragam idéia deencargo: encarregar, incumbir;

com verbos usar (também tran-tftivo), guiar (idem), lograr-se, va-ler-se, ajudar-se, socorrer-se, sua-tentar-se, apascentar-se;

quando rege o objeto a respeitodo qual se dá uma ação, nos se-guintes casos:

com verbos intransitlvoa ou em-pregados intransitivamente, taissoma: duvidar, desconfiar, desespe-far, queixar-te, julgar, falar, tra-tar, sindicar, entender, saber (ter¦oticia);

com informar, eertificar;som acusar, srguir, culpar;

com convencer, persuadir;com preiar-se, jactar-se, vangfo-

liar-se;com verbos equivalentes e to-

ouções em que entra um substan-ttvo seguido da preposição de em-pregada em sentido epexegêtico,«ir.: alcunhar (dar alcunha de),apelidar, tachar, qualificar, cha-mar (dar nome);

com verbos em certas combina-f6es, provavelmente em consequèn-Cia de elipse: servir de;

com verbos em certos sentidossm que é obscura a origem da cons-trução, ex.: fiar de;

Quando designa pessoa ou coisasomo objeto de uma ação ou sen-tlménto, de um conheimento ouCapacidade, nos seguintes casos:

com os verbos lembrar-se, esque-ser-se, compadecer-se, doer-se,condoer-se, amercear-se. apledar-se, arrepender-se;

com os verbos agradar-s^, ena-

tlvos cognatos de verbos que a ext-jam, ex.:

acusação de traição.Constrói-se com adjetivos que si-

gnificam aproximação ou vizlnhan-ça: próximo, vizinho. (Também aeusa a).

Com adjetivos cognatos de ver-bos que a exigem, ex.: dependente.

Com adjetivos ou parücipios re-ferentes a qualidades físicas oumorais ou a condições em que pes-soa ou coisa está. Tem valor limi-tativo neste caso.

Ex.: armênia de nação, limpa decoração, sutil de entendimento.

Com adjetivo» que Indiquem poe-•a em abundância: eheio, repleta.

Junta-se ainda a adjetivos (es-pecialmente os lormados com ossufixos — dor e tlvo), quando de-signa pessoa ou oolsa como objetode unia ação ou sentimento (oumanifestação de sentimento), deum eonhícimento ou capacidade,ex.:

com os verbos admirar-se, ma-fsvtlhar-se;

com os verbos escarnecer, moto-Jsr, rir, nimbar;

com os verbos apoderar-se, asse-¦horear-se;

em sentido partitivo,- com verbosde participar.

A preposição de junta-se a subs-tantivos para designar pessoa oucoisa como objeto de uma ação ousentimento (ou manifestação delentimento), de um conhecimentoOii capacidade;

ambição de reinar, desejo de vi-«ria.

Alguns designativos de sentimen-t&.constroem-se com a» como Jáfimo». .,. ¦. .

, Junta-se ela também a substan-

da compra.Alguns designativos de senti-

mento ae constróem com a, comovimos.

A esta categoria de adjetivopertencem digna e Indigno.

Por analogia com o emprego jun-to da interjeição ai, aparece comfelix, infeliz e seus sinônimos, In-terjelcionalmente empregados: eat-tado, pobre, triste.

Junta-se ainda a preposição dea advérbios cognatos de adjetivosque a exijam, ex.: independente-mente de.

Aos advérbios perto, longe, atra-vés; formando locuções pretwsiti-vas.

Finalmente. Junta-se ã interjel-ção ai, ex.: ai de miml

Significando, em sentido próprioou figurado, o lugar onde umacoisa está ou se põe, junta-se, aosverbos bolir, mexer, pegar, tocar(por analogia com a locução por amão em);

aos verbos que exprimem idéia deentrar, deixar ou fazer entrar, porproíepse que considera, não o mo-vimento, mas o estado que a ele sesegue: entrar, admitir, receber,deitar, meter, lançar, saltar;

a expressão dar cm (resultado deuma ação); .J

em sentido . íimitativo, a verbosdc competência: compelir, tivatt-

asar, etc.; enganar-se, abundar, na-dar, esvair-se, arder;

a verbos que indiquem preço, va-lor: avaliar, taxar;

a verbos com idéia de divisão,ex.: dividir;

a verbos com idéia de conversão,disfarce, desfazer, ex.: converter,disfarçar, desfazer (reduzir-seconstrói-se com a);

a prorromper;a incorrer;a confiar, fiar-se;a pensar, cuidar, imaginar e seus

semelhantes;a crer;a oonsenttr, convir, ooaeardar;a oansistir, elfrar-se;a verbos que completam sua pre-

dicação com palavra que indiquequalidade em que uma pessoa cscoisa é Igual, superior ou Inferior aoutra, ex.: igualar, exceder, min-fuar.

Junta-se a mesma preposição asubstantivos cognatos dos verbasque a exigem, ex.: confiança eatDeus.

Junta-se a adjetivos cognatos daverbos que também a exijam, ex.-eenflante, erent* Incursa, parais-tente.

E mais aos adjetivos fértil. fa>perilnaa.

truidos, ex. conjuntamente, can-etc.

Aparece com a interjeição (asa:tora caat —te aatlfel

ro*Emprega-se:por seu valor dlstrlbutlvo, com os

vterbos que dão idéia de divisão,para designar quem recebe o qui-nhão: dividir, repartir, distribuir;

com Jurar afim de designar a en-Udade invocada para firmar o ju-ramento;

oom certos verbos, para Indicara causa qus opera Internamente,ex.:

Junta-se a substantivos que dêemidéia de mediação, ex.:aoerd<N har-mania, tratado, convênio, ooncer*data, média, e a adjetivos nas mes-mas condições, ex

almejar, aaamr, suspirar, memr,snelar, chorar;

apaixonar-ae;chamar, gritar, tni dar, eauaarii-alarperguntar;esperar;trocar, subetttalr a seus seu»-

COM

Significando companhia. Junção,comunidade, slnini^neidade, Jun-ta-se a verbos como!

a juntar-se, acompanhar-se, aea-modar-se, associar-se, casar-se,conversar, discutir, etc.;

comparar, parecer-se;poder;os que exprimem a qualidade das

relações entre seres: precayer-seiacautelar-se;

cumprir (também transitivo);romper;acabar;contar;repartir, dividir.A mesma junta-se a substantt-

vas cognatos destes verbos e a ou-tros que çfiío dentro da significa-ção dela. ex.: sociedade, casamen-to, discussão, conversa, intimidade,pacto.

Junta-se a adjetivos nas mesmascondições e a outros que exprimemdisposição de ânimo com relação aalguém ou auguma coisa, ex.: In-dulgente, injusto. , .

Aparece junto dê advérbios? co-«natos dos odjetlvos com ela cons-

Ihantes (prs, em lugar de);deiiar;pedir, interceder, suplicar, regar,

arar, resar, velar pleitear, afim dedesignar a pessoa em favor dequem ae faz a lntercess&o.

A mesma preposição junta-se aossubstantivos cognatos destes ver-boa e mais aqueles que significamdisposição de ânimo em relação aum objeto, ex.: distribuição, jura-mento, paixão, veneração, predile-çae.

No último emprego os puristascondenam o uso desta preposição,mas a língua viva segue seu canil-nho sem fazer o menor caso de-les.

Nas conclusões, justificaremos oemprego de por com esta espécie desubstantivos.

Junta-se ainda a preposição pora adjetivos nas mesmas condiçõesacima Indicadas para os substan-tivos, ex.: ansioso.

Finalmente, aparece com a inter-jeição burra: Hum» pelo Brasil!

ENTRE

Esta preposição, assim como asduas seguintes, é de emprego maisrestrito que o das antecedentes.

Significando posição intermedia-ria aparece com verbos que dêemidéia de mediação, ex.: Intervir, In-terpor, tnterpolar.

Emprega-se com distribuir, re*.partir (que aceitam par), dividir.

CONTBA

Aparece Junto a verbos que dêemidéia da oposlçio: combater, laia*investir, protestar, reclamar, e jun*to a substantivas e adjetivas nasmesmas condições, ex.: eembat%lata, prataato, reclama«ãa; rebeM*revoltada.

SOBBC

Aparece para Indicar • objetacm cima do qual recai a ação, juur»to a verbos e a substantivos, ex.:providenciar, discorrer, discursas;tripadlar; diacur», providência.

A regência, como tudo na língua»a pronúncia, a acentuação, a signft-Ucaçio, etc, n&o é imutável.

Cada época tem sua regência, doacordo cora o sentimento do pov<_bo qual varia, de acordo com as caa-^dições novas da vida.

N&o podemos seguir, hoje, exata-mento a mesma regência que se-guiam oa cliaSIcos; em muito. ca.sos teremos mudado.

Por este motivo falharam com-pletamente todos aqueles que, seossenso lingüístico, estudaram o pro-blema somente à lua dos hábitosclássicos de regência.

A época atual sente a vida dsmodo diferente do tempo de Ca-mões, de frei Luis de Sousa, doVieira.

Como é que a regência há de serforçosamente a msmaf

Devemos auscultar a lingua viva,espontânea, natural, e não procu-rar o qu é passado, o que é forçar-do. o que é artificial.

Vou mais longe ainda.A regência tem um quê de indl-

vldual.Como diz G. Bertoni, Program-

ma di filologia romanza comasclenza idealistica, pg. 12, tantosono le lingue, insomma, qnanttsono i parlanti.

Cada pessoa, na hora de escrever,escolhe, segundo o seu sentimento,a preposição que lhe parece con-veniente.

Assim, quer-se empregar o verbòapertar. Que regência empregar, aou contra? Escolhe-se a preposiçãoque no momento pareceu mais ade-quada.

.. v (Cmtim*, ,¦

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pnMiwnn, t/ll/IMl

Estudmnjeasxssxo urauuuo p-a mm» — faoima w

l/mu observação meditanobre Fernão Rodrigues05 C/a55/COS — ^ ««"«j»^

I IM SONETO DO PADREU ANTÔNIO TOMAZ

Há um clássico f-ernõo Rodri-

oues Laatao Saarajpilu - qtae leve o

Jkk, foalua,» de ealitaa as "Rimos riu

Ciiavaaaes e de ser editado por Caam'o

Castelo Branco.0 eslaido que Camilo lei ale saao

bi.waali.i, arilém de hreve, atauito p,,.-

c revelou de soa vida. E muito coisa

que o trudilo porlugn'.". ti-jii-i ,a; é

coojeturai e impreciso.Hai, coaaludo, ajrai P*'" 1UE ,!<i're-

naa servir de base para aarraa pilo es-

to pesaiaaisa e (oi esque. do pororiude profundo conhecedor dí.b te-

i,,h, voiniículas.RctifO-me ao cognorr>e "ioropi-

to", qué, a meu ver,1 é a ch.ive de•jin curioso detalhe do o_>c.o"aÍidJ-dc do poeta seiscentista, ou melhor,

qumlientista.A

"esse respeito Camilo apcis co-

íriç--.toú:"Voriadamente encontro e-iCt^o"Soro'pítà"i "Surroptta",. "Suia^pltc" c•Zíir.ipi!a". Adoto o formo con- quetk- propriomente escrevia -ia sue .«-imatura tàc-simite, dado qje no pró-k*io dós "Rinn»s" encontremos "Sur-

lopito".Ora, tenho para mim que um es-

tuíio mais acurada desse cug*".oivte,levará o pesquisador a re-uUntlosmni5 significativos.

Sc se trota de um "cog-ums.", nâohii duvida alguma. No .açser-ta.Tjenmdü livro de Motriculas na U'-*'eisi-dade de Coimbra, descoberto por jc-K Silvesfre Ribeiro, não no refarei*ci-s alguma a "Soropita". -\í*g$, d,Francisco Manoel dá teslerrui^a no"Hospital dos letros", sem duteda-•"» r

"Fernão Rodrigues Lobo, * "quem

disseram o Zatapita t etc".Esse texto de d. Francisco Ma--.oe!

de Melo, que adiante mais por ex-tenso transcrevmos, confirmará umahipótese, que opresenlamos oos es-tufiiosos.

Que significa "Sorop.ta" e iuasvariantes "Zaropita", "Suropita" e"Surropèía"'?

Os cognomes, dc regra, tào mo-tivodos por farõe-i sugestivas.

Vejamos.Há na lingua popular portuguesa

o vocábulo "zarapeiho", um dos •*• ¦nònimos do diabo.

Dada a aproximação de "Zdra

pita" e "zarapelho" e como, óa *e-

flra, se apódo o diobo por seus st.'postos defitos fisicos nâo será desar-rozoado admitir que ombos vocábuloseütejam ligados ao espanhol,

"Jorobeto"¦qtie no "Diceionario de Ia lengua es-panais", dirigido por d. José Alemã-rty y Bolufer está registrado como'mote

poço culto con que se desig-nã una persono joroboda", isto é,torcund.1. "Joraba" é "corcova" emespanhol.

'.'Saropita" pode, pois, ser expli-

todo como corruptela de "jorobeto.''.

Nõo há absurdo.No tempo em que Fernão Rodrr-

0ues Loba. o Soropita, viveu — Por-tugal estava sob a dominação cos-telhnna cios Feltpes e,' nesse temp-),os espanholamos eram de usa co*muni.

Do ponto de vista fonético, a cor-luptela nada tem que, infrinja àstransformações dos vocábulos popu-Ures.

Por certo íi razoável conjeturorl*5oropitg" no época designava o

Vortunda" I "iorobeta" em espo-Hhol I .

Surge, aí, a indagação: seria Fer-não Podngues Lobo, o Soropita ejr-Ç.:>- 'o

Neste ponto o texto já aludida, dcd. Francisco Manoel de Melo é umdocumento valtosíssimo, pois, hánele referência, clara e nítido a umdefeito físico do editor das "Rimas"

Pensamentosde Jacksonde FigueiredoO QUE TEM VALOR

"O que tem valor" é o alvda criação da alma. De onde sóter valor o que ela é "oara alemit> tempo. De onde imaginar-seque um ivstante ie eontaetvtom a cternidtiie possa ratatado c «mú que imaginemos

JOAQUIM RIBEIRO

camonianos. Lá está no "Hospital dasletras".

"Autor — Dous Rodrigues estãojuntos ao primeiro, ombos poetas ti-sitos, segundo sóo diminuídos seusvolumes.

Quevedo — Quqís se nomeom?Autor —- Fernão Rodrigues Lobo,

3 quem disseram o "Zorapita", e Es-tevão Rodrigues de Castro, aquetecom um pequeno manuscrito, estou-tro cam um breve volume, estampo-do em Florença.

Lipsio - Do primeiro posso afir-mar que se "podece alguma paixãoextrinsecc", bem pode ser; mos queno espirito poélico, que o in formou,está "süo dos quatro costados". FoiPoeta Mestre; e c>uondo náo escre-vero mais que- os seus desváríos. bemse vê que quem acertava por oqueiemodo, quanto acertaria atinado".

(Obro cit. p. 376).

0 texto é claro. Não deixa dúvi-das. Diz sem rodeios que Fcrnoo Ro-drigues Lobo "padecia alguma poi-xòo extrinseca".

"Paixão" Ido iotim "passionem"i,

na suo acepção pura, indico o tor-menlo físico por excelência. A ex*pressão

"paixão de Crislo" conservacindo esse sentido clássico. O texto,porém, foi incisivo no adjetivaçõo:"paixào extrinseca".

Aliando esse testemunho do-cumento! à hipótese de "Soropita"

ser mera variante do espanhol "jo-

robeta", temos como plausível 0 fatode Fernão Rodrigues Lobo ter sido'corcunda,

Isso, porém, não basta.Vejamos se há na obro do poeta

vestígios de sua condição.Na poesia

"A' morte de um con-

tentamento" parece confessar o seudefeito:

Se de "tamanho mat" ouso queimar-Ime

Os qufcixumes dos ventos incitadosSe tornam contra mim o otormen-

[taf-me!

Onde, porém, revela, maior espoti-toncidade é nas poesias satíricas e énuma delas, referente a dois protes-sores dt Coimbra, Figueiredo, queero "torto de um olho" t Correia,que ero judeu, que parece testemu-nhar a própria disfòrmidadp;

Ah que del-rei, que morreuo nosso Pero dos ReisPor que vem a ensinar leisUm "tortoles" com um "judeu"!

Acuda-me o povo meu,Que necessário "gran

peito"PcrO ver que sen respeitoAndam jogando as pancadas.Um judeu com leis sagradasUm torto com o Direito.

Nüo há na expressão "gron peito"a explicita confissão de seu defeitofísico, que deveria ser, por esse dc-poimonto, c:rTJ*a dianteiro?

Creio que o documentação, ckiui,reunida nos permite concluir pelaveracidade da hipótese.

Agora surge umo out.a indaga-çâò: que interesse hó, para os i-ítresclássicas, esse detalhe físico do po-bre Soropita?

Talvez, aí, se encontre a raiõode ser do seu espírito satírico, de teuazedume e de sua amarga s sarros-tica atitude em face do vida.

POST-SCRIPTUM — Creio que"uma

questão de mito!6g»a nos Ca'-tos Chilenas" já foi sufieicntemnledebatida e merece ser encerra-Ja ptlopena ilustríssima de Afonso PenaJunior, a quem rendo, mais uma vc*z,as minhas homenagens.

J. (!.

O podre Aní-twiío Tomas, que hápouco faleceu kc Ceard, era, comosc sabe, um dos mat* reputados so-netuttas brasileiras.

Dele publicamos hoje, em auto-grafo, o soneto intitulado — Noenterro de tim anjinho. Devemosesse original a gentileza do sr. Mo-reira dos Santos, agente fiscal doimposto do consumo, ora em exer-tido nesta copilái. O sr. Moreirados Santos servia na fiscalizaçãodo Ceará, quando, certo dia, emconversa com o padre Anlonio To-nuiz, lhe perguntou qual o soneto

qu# reputava melhor, em sua nu-merosa obra. O poeta respondeuque era. o intitulado No enterro deum anjinho, e acrescentou que poretse soneto viera a acreditar </««era de fato poeta... Vira o seu Irarbalho, certo dia, publicado com onome dc um outro autor — autorçu-e ele presava muito e em cujotalento poético acreditava — e $óassim fumara conrencido do seu mé-rito...

Aqui está, pois, paru a (ntriost-1dade dos leitores, o autógrafo dopadre Antônio Tomas:

Mf Ín<uUZ OMm.1 t. tussais'MW. .

¦<'

POEMA NU'

\ \ I <t fy~jot ív/

Amor sinônimo de pobresaAmor sinônimo de poesiaA grande odeClama no deserto:0 poeta meu servoE' pobre como um sinoPobre como um gramofone de 1910A poesia é a pobresaE o amor sobe para o espaçoSem ajuda!

1941

i «un. d+- ItiiU* .{U~!,. /AtAr^-.-4tL- *t> t/mu

l... (Ó* H4>..ltsrtssUs rti Í«nL-.:Á jf.JluJy**

£«.«..«». itirxJr-i.tsUàU**.*** j. uaiec

g> -titu Jí*s*nt.ét\s kt-iu- Uyu.U<tu o ***.*.

\,'sA-éuta»M*-.... jd-jLté'/j^^U. *.u* éa„.%í- -

y& th» &Ot$eZ. fUrsutl^M. (I^s JU*.' Vr-a-l^y"JajJLív

Ulâ>' (TU*.)*, r^SLA, » LSMA* U

fejW»j*^ „.,&»««*. €&ftw,ttí> Jttl fati- ÍA*Í*- Í*£~ fíty^í.

%Ju /J f~ , f , 4-. &*»«*. ¦

A aristocracia de Xavier Marques

MURILO MENDES

{Continuação da página 331)çameuto de escritores para a glo-riflcaçao a% um escritor, -brasi-ieiros reunidos para a apoteose deum brn-sUeiro", ele retpete: "Pare-ce um sonho !", e, adiante; "Etudo isto s«n que o gudanho pe-ludo da polilica mareasse o com-passo da música: sem £tuc o olharvesgo do Interesse tisnasse as (lo-res antes dc oferecê-las; sem que oarehot-e da Adulaçáo acendesse oturfbulo da Hipocrisia o incensolios aplausos comprados no balcãoda Vaidade humana". Depois ain-da este outro, uue é certamente atradu-ç&o ásc Ecatim.cr.tos gsraiada intelectualidade baiana dianteda vida jornalística do autor deVinãoiama:"Como Jornalista, notabiliza-seXavier Marques pelo critério comque sonda aa questões, nunca trans-formando a polêmica cm entrudodc lama e sabendo conservar, sem-pre, a correção do epiteto e anobreza da atitude — o que cons-tltue, só por si. r«rlíislma virtude,na atmosfera histérica em que res-piramos". E' isto mesmo: crité-rio e nobreza, porque Xavier é so-bretudo um caráter, uma persona-lidade igual, e. por iaso. lim estl-lista. Como Joilo Ribeiro, eu tam-bem subscrevo a opinião dc LuísBoerne, com uma ad&triçao, porem.O estilo è o espelho do caráter, mashôo verei em todo o estillsva tuahomem rude, avesso ao trato ama*vel. HA caracteres afaveis. há ca-racteree mansos, caracteres de ex-cesso e violência, caracteres de.melo termo e ponderação, caracte-res melancólicos. Fazem-se reco-nhecer pela persistência, pela igual-dade, pela identidade no decorrerdo tempo.

Assim o delinqüente nato é umhomem de caráter, até mesmo olouco moral, cuja debilidade é con-Cénlta. Há© o sfto: o tipo de de-mrmonko, w delinqüentes passio-nais t w temperamentos arrast*-doe a extrfBK-K opostos. Compre-endcHR qufe influCnete poderotM

podem modificar o caráter, mas asiia grandeza está em relaçào a ro-sistêneia. Xavier Marques é umcaráter com a fisionomia «ue vp-nho retratando. Um jornalist* dasua terra assim o gravou, assim oviu dt-*ade a meninice, na sua Ilhade Itaparlcn, bondotso, observador,e diferente. As Uhaa silo pátriaòférteis de caracteres. Souza MaiLinsjá o notava na sua Nosografia tieAntero, e aí estão os exemplos pai-pitant.es dc povos inteiros, de cara-ter unido, inamoldavcl, ilessc-mi-lhantes dos povos continentais qnese misturam facilmente t náo semuram de todo_ no orgulho salva-dor das raças. Sao exemplo a Intjta-terra, a Córsega sobretudo, r o Ja-páo que al se está patenteando.

Este s-rntimento de amor spm li-mites pela sua terra lem-no Xa-vier não só na inconciéncia dosseus nervos; tem-no concientetambém, porque trabalha t-m btmdele, «bjetiva-o caprichosa mente.Também nenhum momento the íi-cou mais gravado no coração doque aquele em que o suu povo sereuniu para coroá-lo de louros ccomove-lo para semore com © bii-lho de algumas lágrimas...

Pensamentosde Jacksonde Fioueiredo

ASHAVER1SMO .. Desejava vlrtr

uma ostfa, não me mover mais.só viver em mlm mesmo. Ma»não posso. E' uma iatali&i-Jede um temperamente de Atíia-verteirao. e«se perpétuo eamhnhar <do ponto de vlsU prttt-eo, tóo W Pax aonde).

ri.'=!,,V ri :' ¦ - ,:/ÍW,LSí'-fi*Jr.;J:ík>-rÍ.Ci

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DUAS TRADUÇÕES DEOnestaldo de Pènnafort

LA BONNE CHANSON de Paul VerlaineO ruído dos cafés; a lama das calçadas;os piátanos pelo ar des folhando as ramadas;o ônibus, — furacão de rodas e engrenagens»

enlameado, a ranger num rumor de ferragensc girando o olho verde e rubro das lanternas;os operários a caminho das tabernas,com os cachimbos à boca, a afrontarem os guardas;paredes a ruir; telhados de mansardas;sargetas pelo chão esburacado e imundo. . .

Tal meu caminho — mas com o paraíso ao fundo.

FUGA

SALOME' - (de GU1LLAUME/\POLLlNAIRE)

í

Para que uma ves mais loãti Batista sorria.Senhor, eu Cansarei'melhor que um serafim.Á-lãc. pur que estais imersa em lal melancolia.Vestida de condessa e ao lado do delfim t

M-*u coração, só de escutá-lo, quando eu vinhaaansor junto ao funchal, batia angustiado.ku lhe bordara lírios numa bandeirinhaéestmada a flutuar no alto do seu cajado:

E agora par* quem farei lírios bordados ?Seu bordão refloresce às margens do Jordão.Vieram prende'lo, ó Rei Her odes, teus soldados9 os lírios na jardim murcharam desde então.

V,~u.fr todos comigo, alem, sob os quincôncios... ,Xào chores mais, lindo Imfão de reis !

Em ves do ceiro, empunha esta cabeça e dans* ( jMãe, swi fronte fria está. Não lhe toqueis.

Senhor, i,ie na frente. F. que a guarda nos siga.Atrriremos mn fosso e nele a enterraremosentre fl&res, e, em roda, em torno dansaremos,dansaremos até que eu perca a minha liga,o rei a tabaqueira. a infanta seu rosário

e í» cura seu breviário.

' RIBEIRO COUTO(Da AcadKiiiia Brasileira)

A tua ausênaa começou a pe-sor quando embarquei para bus-car-le. Jates, davas-me aimpressão de estar perto, noa-ira rua; bastava que eu passas-sc, que batesse ti tua porta, quetelefonasse. Senti quanto esta-vas longe no momento em queo trem rompeu a estação notar-na e caminhou pela treva su-burbana, entre jaguíhas. EraPreciso viajar toda a noite e to-do o dia seguinte. Ao fim dotrem, ao fim da viagem! lista-vas longe demais. Ii os vales, osrios, as montanha., cresceramna noite longa: acumulavam-seincessantes, renovavam-se parafacer-fe mais longe ainda.

1'ela manhã, foi a mensageminocente; fitas cor de rosa nohorizonte, a luz que nascia so-bre os campos orvalhados. Ca-xinhas rústicas, do mísero pau-a-pique, lusindo nas telhas dezinco, entre os talhões de mt-lho, os terreiros varridos ondesempre late um cão. O tremsuína, subui...

Alegria simples de te encon-trar. ao termo do dia. Enfim, atorre da igreja, os telhados...Choveu na cidadesinha. Todasas ruas estão lavadas e escorri-das. Tua alma lambem é assim,limpa de aguaceiros de ontem,que agora esqueces ao brilharda bom tempo...

lira longe, a wUutezinha^Aqui estou.

Aqui estás.Abençoada seja a nossa per-

feita pa3f a voluptuosidade danossa presença sem sobressai-tos.

Surpresa de te achar junto aomeu corpo, esta manhã! De

HK^^SM IBiHlll^^^mmmmmY^mfS.

SOBRE UMA DEFINIÇÃO DA POESIA(Continuação da pás. 2S6»

Esse começo do monólogo de Emilia. maravilha anfigúrica, aparece, pa»o ouvinte não preparado, de tal modo incompreensível, que. muitas rezes •representado o escamoteia; e procedendo inuito mai, me parece. Quem •iscuta sem o ter previamente estudado, não pode. por certo descobrirnele nenhum senso preciso; assim também, na hora da repre-sentação. nào se trata para o ouvinte^, de o compreender. Mas, alemde toda significação razoável, o ouvinte atônito sofre o "charme" destoaversos admiráveis. Uma espécie de estupor o ganha, semelhante ao ator-doamento que sente, di/cni, ufna pessoa sobre quem se abate a pata aitea»lesiva de um anima! fero/.. Assim fica ele, depois, o espirito como eniba»tado por esse brusco assalto do gênio; em estado de receptividade passiva.Pouco importa o encadeaniento lógico das frases, inas tão somente o quabasta para o seu sorlitegio: esta fulgurnção deslumbrante que surge da pra-¦unidade das palavras: "impatient désirs; illustre vengeance: enfantfi im—pétueux. ressentimenl; douteur séduíte; embrasse avcuglément; etc" cujaespirito não pode reter senão a radiosa sonoridade evocadora.

(Tradução *• VINKJIU* ! MCMMM».

olhos abertos, acordada primei- um som isolado; talvez um ca*f*ro, sorrias. ro de bois que se afastava.

Ao quarto em p/ttuml.r* che- Saltaste lépida. Sorrias seu*-gavam nos Ua inda que princi- Prf- misteriosa e feliz,piava lá fora: diálogos de pas- Parecia que tinhas pressa thsarinhos, trago som de conver- sair para m naturesa: ias contarsas distantes, o fio infinito de tudo A manhã.

Soneto de fidelidadeEm tudo. ao meu amor serei atento

Ajntea, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele ae encante mais meu pensamento. .

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angustia de quem vive

Quem sabe a solidão, (im de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

VINÍCIUS DE MORAIS

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