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Ml dez2010

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Mensageiro | DezeMbro 2010 3

Dezembro2010

SERVIÇO DE CAPELANIA

Hospital: umlugar diferente e desafiador

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VIDA EM FAMÍLIAA comunhão horizontal

05 MENSAGEM DO PRESIDENTE

06 VIDA COM DEUS

08 MEDITAÇãO

11 EM FOCO

12 CAPA

15 MÚSICA NA IGREJA

23 IELB 2011

28 SERVIÇO SOCIAL

30 EDUCAÇãO TEOLÓGICA

31 PERGUNTA

34 TESTEMUNHO

41 RESPINGOS DA HISTÓRIA

46 IELB NO MUNDO

47 DIA DA BÍBLIA

48 BÍBLIA HOJE

50 VIRANDO A PÁGINA

07ADORAÇãO E LOUVOR

Os elementos da Santa Ceia

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Leia nesta eDição

16A complexa questão do cânone. Num certo sentido, é chocante ver que os cristãos não conseguem concordar quanto à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo Testamento. Por que isso é assim?

IGREJAS PELO MUNDO

St Paul, Des Peres 44

Mens aGeiRo LUteRano | ano 94 | nº 1.154

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Mensageiro Luterano

Filiada a associação de editores cristãos (asec) EndErEço av. são Pedro, 633, Bairro são Geraldo, ceP 90230-120, Porto alegre, rsFonE/Fax (51) 3272 3456SitE www.editoraconcordia.com.brtwittEr twitter.com/edconcordiaEmail [email protected] [email protected]

dirEtoria ExECutiva Henry J. rheinheimer (presidente), clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg GErEntE Nilson Krick - [email protected] FinanCEiro Joel Weber Editor Nilo Wachholz - [email protected] ComiSSão Editorial adilson schünke, célia M. Bündchen, clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg

Vivemos dias de mudanças muito rápi-das em todos os lugares e setores da vida. A velocidade das mudanças nas tecnologias da informação e do conhecimento humano ultrapassam as previsões mais otimistas que alguém poderia fazer. E estas atingem não só as formas e os meios, mas os próprios valo-res do relacionamento humano, em todas as esferas: familiar, social, cultural, profissional e religioso.

Se, sob alguns aspectos, isso é motivo para preocupações e que nos colocam diante de muitas dificuldades, por outros, estamos diante de desafios, ferramentas e oportuni-dades nunca antes imaginadas.

Portanto, cabe-nos buscar discernimento, conselhos e sabedoria do Alto, para fazer o me-lhor ao nosso alcance, com os melhores meios e formas que pudermos usar, para preservar e divulgar os valores éticos, morais e religiosos que herdamos e nos quais acreditamos. E aci-ma de tudo, proclamando ao mundo de hoje, o Cristo que veio para acolher a todos no seu

amor, no seu gracioso perdão, na salvação e na vida que dura para sempre.

Neste contexto e nesta visão, o Mensagei-ro Luterano, que, com esta edição completa 93 anos de existência, chega ao número de circulação 1.154 e abre o ano 94 de sua his-tória, também traz algumas mudanças para apreciação dos nossos leitores.

O objetivo é facilitar a leitura, interagir mais com o nosso leitor, oferecer um visual mais leve e arejado, valorizar mais textos e imagens, entre outros benefícios.

Acreditamos que o Caderno de Notícias da IELB, o Caderno da LLLB (nesta edição) e o Mensageiro das Crianças, encartados, mas não grampeados no miolo, dão mais flexibilidade e mobilidade no uso do ML como um todo. Pois, dependendo do contexto e das pessoas com quem o leitor quer repartir o conteúdo do miolo, de um ou mais encartes, é possível usá-los em separado, sem prejuízo das demais informações. Além disso, se uma congregação, distrito ou região, quiser mais exemplares de

determinado caderno de seu interesse, fica mais fácil atender a esse pedido.

Portanto, está aí o Mensageiro Luterano em edição especial de aniversário. Agradecemos a todas as pessoas e instituições que nos ajuda-ram a fazer este número histórico.

Com gratidão e alegria, se Deus o permi-tir, voltamos com a edição dupla de janeiro e fevereiro 2011!

Um feliz e abençoado Natal!

4 Mensageiro | DezeMbro 2010

ConcórdiaE d i t o r a

EndErEço rua cel. lucas de oliveira, 894Bairro Mont’serrat, ceP 90440-010 Porto alegre, rs, BrasilFonE (51) 3332 2111 / Fax: (51) 3332 8145SitE www.ielb.org.brtwittEr twitter.com/ielB_BrasilE-mail [email protected]

dirEtoria naCional 2010/2014 prESidEntE egon Kopereck 1º viCE-prESidEntE arnildo schneider 2º viCE-prESidEntE Geraldo Walmir schüler SECrEtário rubens José ogg tESourEiro renato Bauermann a ielB crê, confessa e ensina que os livros canônicos das escrituras sagradas, do antigo e do Novo testamento, são a Palavra infalível revelada por deus e aceita, como exposição correta dessa Palavra, os livros simbólicos da igreja evangélica luterana, reunidos no livro de concórdia do ano 1580.

IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL

| AO LEITOR |

Nilo WachholzEditor-Redator | [email protected]

Tempos de mudanças

Nilo WachholzEditor-Redator | [email protected]

iSSn 1679-0243

Órgão oficial da igreja evangélica luterana do Brasil (ielB) de periodicidade mensal (exceto janeiro e fevereiro - edição única). registrado sob nº 249, livro M, nº 1, em dezembro de 1935, no registro de títulos e documentos do rio de Janeiro, conforme o decreto-lei de imprensa nº 24776 de 14/07/1934.

projEto E produção GráFiCa editora concórdia ltda.rEdação [email protected] Nilo Wachholz - Mtb 42140/sP aSSiStEntE Editorial daiene Bauer Kühl - Mtb 14623/rs rEviSão aline lorentz sabka jornaliSta-diaGramador leandro da rosa camaratta dESiGnEr christian schünkeColaboradorES FixoS Bruno ries, carlos W. Winterle, luisivan V. strelow, Marcos schmidt, Mona liza Fuhrmann, rosemarie K. lange, Vitor radünz, Waldyr HoffmannaSSinaturaS lianete schneider de souzaloGíStiCa Marcelo azambuja

aSSinatura no braSil anual r$ 49,00; Bianual r$ 92,00 aSSinatura para outroS paíSES anual Us$ 52,00; Bianual Us$ 100,00

tiraGEm dESta Edição 12 mil exemplares

a redação reserva-se o direito de publicar ou não o material a enviado, bem como editá-lo para fins de publicação. Matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da redação ou da administração Nacional da ielB. o conteúdo do Mensageiro pode ser reproduzido, mencionados o autor e a fonte.

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Mensageiro | DezeMbro 2010 5

Feliz Natal a todos! O Natal do meu, do teu, do nosso Salvador Jesus!

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Egon KopereckPastor Presidente da IELB| [email protected]

| MENSAGEM DO PRESIDENTE |

A Bíblia é fundamental para a vida cristã

A cabo de voltar de uma viagem pela Europa. Tive o privilégio de me encontrar, rapidamente, com os pastores e alguns congrega-

dos da Igreja em Portugal e, pude participar da reunião do Comitê Executivo do Interna-tional Lutheran Council (ILC), na Alemanha, cidade de Wittenberg. Foi uma emoção muito grande andar pelas ruas, ver coisas, igrejas, a universidade onde o reformador Martinho Lutero andou, viveu e lutou pela “Verdade que liberta”. Nesta reunião da ILC, mais uma vez destacamos a importância da Bíblia, a Palavra de Deus na vida da Igreja.

BíBliA SAgrADAQuando Martinho Lutero iniciou a sua

luta, todo o seu labor, a sua defesa e os seus argumentos estavam sempre fundamentados, firmados e alicerçados na Bíblia Sagrada. Ela era e é fonte de toda a doutrina, verdade, fé e vida. Não é diferente em nossos dias. Muito mais importante do que discutirmos e pole-mizarmos qual a melhor tradução da Bíblia é incentivarmos, lutarmos e nos empenharmos no sentido de que os cristãos leiam a Bíblia, usem as Sagradas Escrituras, busquem nelas a força, o fundamento, a luz para iluminar seus caminhos e argumentos.

Neste mês de dezembro, lembramos o “Dia da Bíblia”. Nós cantamos com tanta força, com tanto orgulho: “Santa Bíblia meu prazer, meu tesouro deves ser. Tu me dizes o que sou, donde vim e aonde vou” (HL 247). Nós repetimos mui-tas vezes a bela definição do salmista, dizendo: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, e luz para os meus caminhos” (SL 119.105). Porém, será que esse tesouro é devidamente valorizado por nós? De fato temos usado esta lâmpada para iluminar nosso caminho rumo à vida eterna? Onde está a nossa Bíblia? Ela é usada diariamente por nós?

Queridos irmãos, queridas irmãs! Não menosprezemos este tesouro que Deus deixou a nossa disposição. Não andemos no escuro. Usemos a luz que quer clarear os nossos caminhos. Busquemos nela o consolo, o conforto, o guia e a bênção. Pratiquemos o que ela diz. E como Deus disse para Josué, também na nossa vida há de se revelar: “Medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem suce-dido” (Js 1.8).

é NAtAlE assim nos preparamos para festejar o

Natal. Nestes dias de tanta correria, não permi-tamos que as coisas do mundo, os preparativos, a festa, os presentes e os enfeites, encubram o verdadeiro sentido, o verdadeiro motivo – o aniversariante. Deixemos, acima de tudo, Jesus Cristo brilhar, sobressair e ser lembrado.

Jesus é e deve ser o centro da nossa festa, dos nossos preparativos. Se não for assim, o nosso Natal estará cheio de futilidades, correria e preocupações, mas vazio do seu verdadeiro significado para esta vida e para a eternidade.

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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| VIDA COM DEUS |

6 Mensageiro | DezeMbro 2010

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Luisivan Vellar StrelowPastor da IELB | [email protected]

“Os idosos que amam a Deus brilham como o sol no amanhecer, porque aguardam não tanto o entardecer

da vida terrena como, muito mais, o amanhecer da vida celestial”.

Idosos: honra, bênção e glória

Diante dos cabelos grisalhos te levantarás, e honrarás a face do ancião, e temerás o teu Deus. Lv 19.32

Os que te amam brilham como o sol quando se levanta no seu esplendor. Jz 5.31

Os cabelos grisalhos, para os que confiam nas promessas do Senhor, antecipam a coroa de glória eterna. O profeta Daniel

descreveu Deus como “o Ancião de dias” (Dn 7.9,13), uma expressão poética para referir-se ao Eterno em termos da experiência humana, com relação à passagem do tempo. Também muitos pintores retrataram o Criador como um homem grisalho. Ao honrar os idosos, honramos ao Deus Eterno.

Os cabelos grisalhos são, por um lado, sinal da brevidade da vida na terra. O cin-za dos cabelos nos lembra que somos criaturas feitas de pó, que a morte tudo reduz a cinzas. Por outro lado, os cabelos grisalhos são símbolo da longevidade e da eternidade. A cor prata dos cabelos antecipa a coroa da salvação (Hb 11.6). Os idosos são um sinal para os jovens, tanto da brevidade da vida terrena quanto da longevidade da vida eterna. Os cabelos grisalhos nos ensinam que a nossa vida é como a das flores do campo, mas que Deus é eterno e seus dias e a sua misericórdia não têm fim. Separados de Deus, já perdemos a vida. Em comunhão com Deus, já vencemos a morte, pois nada poderá nos separar do amor de Deus em Cristo.

Os cabelos grisalhos nos chamam à reflexão sobre a vida terrena, que passa rapidamente, e sobre a vida com Deus, que

jamais passará. Os idosos que amam a Deus brilham como o sol no amanhecer, porque aguardam não tanto o entardecer da vida terrena como, muito mais, o amanhecer da vida celestial.

Na Bahia, ainda hoje, os mais novos dizem aos mais velhos: “a bênção, meu vô”, “a bênção, minha vó”. Os mais velhos, por sua vez, respondem “Deus te abençoe, meu filho”, “Deus te abençoe, minha filha”. Hon-rar os idosos é agradável a Deus, porque o Criador quis ser honrado por intermédio da honra que damos aos mais velhos. E estes,

por não terem outros mais idosos do que eles aos quais honrar, dão honra e glória ao Deus Eterno. Da mesma forma, os mais velhos abençoam os mais novos, até que os bebês que não têm a quem abençoar, são eles mesmos, para cada família, a mais preciosa bênção do Criador e Doador da vida.

O Natal é a notícia da bênção mais preciosa que não alegra uma, mas todas as famílias

da terra: “Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10,11). Pela fé que temos em Jesus, a Palavra criadora de Deus que se fez carne (Jo 1.14), vemos a glória de Deus: “um menino nos nasceu, um filho se nos deu [...] e o seu nome será [...] Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6). Nasceu o menino que é o Pai da Eternidade, que nos traz a maior de todas as bênçãos – o perdão, a ressurreição para a vida e a imortalidade – o qual recebe a mais elevada

honra (2 Tm 1.10; Fp 2.9-11). Quem crê em Jesus Cristo agrada a Deus; é aprovado por Deus; recebe de Deus o bom testemu-nho – o testemunho de ser justo e de se tornar herdeiro da justiça que vem da fé, herdeiro da pátria celestial, herdeiro da ressurreição; para contemplar a Jesus, o Filho do Homem, assentado no Trono de Deus (Hb 11.1-12.2).

A vida terrena se conta por dias que amanhecem e se perdem no anoitecer. A vida com Deus se conta pelo amanhecer da fé, quando brilha para nós o Sol da Graça de Deus, Jesus Cristo, Filho de Deus, misericor-dioso com todos os pecadores (Lm 3.22; Hb 4.14-16). O brilho de cada dia logo passa, o brilho do dia da salvação é eterno, e os que aguardam o amanhecer da glória eterna tam-bém brilharão por toda a eternidade.

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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| ADORAÇãO E LOUVOR |

Os elementos da Santa Ceia

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DaviD KarnoppMembro da Comissão de Culto da IELBPastor em Vacaria, RS

N o Catecismo Menor, aprendemos que “a Santa Ceia é o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, para ser comido e

bebido, sob o pão e o vinho...”. Pão e vinho são os elementos visíveis da Santa Ceia. Porém, as igrejas que proíbem qualquer bebida alcoólica usam vários motivos para justificar o uso do suco em vez do vinho. Há também os que justifi-cam outros elementos em lugar do pão. A seguir, vamos conhecer os principais argumentos.

FrUtO DA viDeirAQuando o Senhor Jesus instituiu a Santa

Ceia, usou a expressão: “deste fruto da videira” (Mt 26.29). Esta era uma expressão usada pelos judeus para designar o vinho usado em festas solenes e casamentos. Muitos alegam que esta é uma expressão genérica que se refere a todos os derivados da uva, como o suco e até mesmo o refrigerante a base de uva.

SUCO De UvAHá os que alegam que a palavra grega para

vinho, oinos, teria o significado tanto de vinho, como de suco de uva, este também chamado de mosto ou vinho novo. Com isso, querem dizer que Jesus teria usado suco e não vinho. Porém, em Israel, a colheita da uva acontece por volta de setembro e outubro, e a Páscoa em março e abril. Assim, não havia como impedir a fermentação do vinho durante esse espaço de tempo. Além disso, o mosto era armazenado em odres feitos de couro de cabrito, ou em vazilhas de barro, onde naturalmente fermentava. O sacolejo do transporte e a alta temperatura não evitava o processo de fermentação.

A CONServAçãOOutros alegam que os judeus tinham téc-

nicas de conservação do suco de uva. Eles o

guardavam em re-cipientes lacrados e depois o coloca-vam submersos em poços de água em temperatura abaixo de 10ºC, que o conservava por vários meses. Esta seria mais uma comprovação de que Jesus teria usado o suco. No entanto, ainda que o mosto fosse consumi-do, o vinho velho, chamado de vinho bom, sempre era preferido (Lc 2.1-10).

A FermeNtAçãOJesus instituiu a Ceia durante a Páscoa.

A lei da Páscoa (Ex 12.14-20; 13.7) proibia o uso do fermento durante o evento. A fermen-tação era símbolo da corrupção pecaminosa (Mt 16.6,12; 1Co 5.7,8). Apenas o pão asmo, ou seja, o pão sem fermento, era permitido. Muitos alegam que o vinho, sendo bebida fermentada, também era proibido. Porém, o fermento citado é o do pão acrescentado à fa-rinha, e não o do vinho que é natural dele.

CUltUrA JUDAiCAHá também os que alegam que o pão e o

vinho eram ingredientes da cultura judaica. Logo, Jesus teria usado elementos ligados a uma cultura, mas não teria atrelado a Santa Ceia a elementos daquela cultura. Os adeptos desta interpretação dizem que pode-se usar elementos de qualquer cultura. Assim, numa região produtora de cana de açúcar, poderia então se usar cachaça e rapadura na Santa Ceia – os mineiros poderiam usar leite e pãozinho de queijo.

POr qUe USAmOS PãO e viNHO?Quanto ao uso do pão

Está claro nas palavras da instituição: “tomou o pão” (Mt 26.26). Portanto não é possível usar outro elemento em lugar do pão. Jesus usou pães que estavam à disposição, ou seja, o pão sem fermento, pois era festa dos pães asmos (Lc 22.7). O pão com fermento era proibido só na Páscoa; em outras épocas, ele era usado. E os discípulos continuaram cele-brando a Santa Ceia com os pães que tinham à disposição, entre eles, o pão fermentado. Assim, não está errado usar pão com fermen-to, mas, por coerência, é bom usar sempre a hóstia que é um pão sem fermento.

Quanto ao uso do vinhoNas festas sagradas e nos casamentos, os

judeus usavam vinho fermentado. A Bíblia o cita como “bebida forte” (Lv 10.9; Lc 1.15), ou seja, vinho mesmo, não suco. A Bíblia condena a embriaguez, mas não o uso do vinho. Além disso, em Coríntio, os cristãos usaram vinho na Santa Ceia com teor alcoólico, o que até gerou casos de embriaguez (1Co 11.21).

Assim, pela tradição da Igreja e crença lute-rana, na Santa Ceia, usamos o pão e o vinho, de preferência um vinho de boa qualidade.

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FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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| MEDITAÇãO |

8 Mensageiro | DezeMbro 2010

É Natal...ELTon JUnGESPastor em Cosmópolis, SP

O Natal das multidões é uma vez por ano. O Natal dos Cristãos é todos os dias. Quando o Natal chega em nossos corações e lares, um sentimento terno e emotivo toma conta de grandes e pequenos.

Como é bonita esta época de final de ano. Como é bonita esta época de Natal. É maravilhoso andar pelas ruas e ver praças e casas enfeitadas, cheias de luzes brilhantes; ver as pessoas mais compreensivas e solidárias. Todos

querem e fazem questão de estar com a família, com os amigos… É um corre-corre para todo o lado: compra de presentes, comidas e bebidas para que a família possa passar um bom Natal. Nesse corre-corre, a maioria das pessoas acabam por esquecer o verdadeiro sentido do Natal e o verdadeiro preparo para celebrar o Natal. Muitos ficam chateados, e lamentam-se porque o seu Natal será pobre. Há também quem pense que, se não sair o 13º, não tiver pinheiro, não tiver presente e não puder comer e beber à vontade, não é Natal.

A princípio, o Natal não requer sofisticação e fartura em co-midas e bebidas, e nem gastos exagerados em presentes. Pois o Natal aconteceu de uma forma bem simples… É um tesouro que veio revestido de humildade.

“A virgem ficará grávida e terá um filho que receberá o nome de Emanuel, que quer dizer ‘Deus está conosco’” (Mateus 1.23). Natal é Deus Conosco! Que maravilhoso saber que Deus veio morar conosco!

tODOS OS DiASO Natal é a paz vinda para ficar com a humanidade. Jesus, o

príncipe da paz, quer estar conosco todos os dias, quer fortalecer e confortar nosso coração diariamente. Um dia é muito pouco para o Senhor do tempo. Um templo é muito pequeno para o Senhor da imensidão. Como é maravilhoso o Natal! Como é maravilhoso o nosso Deus!

Emanuel é Deus conosco, para sempre, durante todo o ano, todos os dias, todas as horas – perdoando, salvando, socorrendo, amparando e confortando. O Natal das multidões é uma vez por ano. O Natal dos Cristãos é todos os dias. Quando o Natal chega em nossos corações e lares, um sentimento terno e emotivo toma conta de grandes e pequenos.

“Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês – o Messias, o Senhor” (Lucas 2.11).

Acima de tudo, o Natal é uma festa de fé e confiança na vinda humilde do nosso Salvador, e na certeza de que ele virá novamente em glória. Por isso, prepare o seu coração para o Natal. É Natal mais uma vez!

Mostremos que Jesus não nasceu em vão. Pois, ainda que Cristo nasça mil vezes, se não nascer em seu coração, o seu Natal será ilusão, será vazio, e a sua festa será uma festa pagã. Jesus é e deve ser sempre o motivo de nossa festa. Jesus quer que nos alegremos por sua vinda.

Neste Natal, festeje você também a vinda de Cristo ao mundo e ao seu coração. Festeje a vitória que Jesus lhe trouxe. Festeje a salvação. Festeje a vida.

FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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Mensageiro | DezeMbro 2010 9

Nes-te Natal,

permita que o amor de Cris-

to faça com que você perdoe aquela mágoa, aquele ressentimento, aquele aborrecimento que alguém lhe causou. Deixe o orgulho de lado e ofereça desculpas ou peça desculpas caso tenha magoado alguém. Isso é Natal! Pois Natal é a festa do amor e do perdão recebidos de Deus e compartilhados com as pessoas. Este é o maior presente que podemos dar às pessoas, repartir o amor de Jesus com elas.

A CHegADA DO AmOrO Natal chegou. O Natal é o cumprimento

da maior e mais confortadora promessa. Deus prometeu e Deus cumpriu... Natal é a chegada

O verDADeirO PreSeNteBatam os sinos, cantem, dancem de alegria,

pois nasceu o seu Salvador, Jesus, o Senhor! Com Jesus, a festa da vida é para sempre!

E mesmo que você não possa dar presentes caros e nem venha a receber presentes caros, lembre-se que o verdadeiro presente de Natal não é aquele que nós trocamos uns com os outros. O verdadeiro presente de Natal é dado por Deus: Jesus a cada coração. Junto com ele, vem paz, amor, perdão, esperança, comunhão, felicidade e vida eterna.

Assim como Jesus, o Deus Filho, está co-nosco, nos ajuda em nossas fraquezas, nossas atribulações, e diariamente nos abençoa com toda a sorte de bênçãos, vamos também compartilhar a alegria do Natal diariamente: auxiliando o próximo em suas fraquezas e di-ficuldades, perdoando e cooperando para que caminhe com Jesus – o Deus conosco.

É Natal! É hora de repensar sobre a nossa vida, deixar as coisas insignificantes de lado e valorizar a fé, a vida com Jesus.

do amor; é a chegada do Filho de Deus! E sua vinda deve ser festejada e compartilhada.

O Natal é a renovação da esperança. O Natal é a festa da Salvação. O Natal é a festa dos salvos, dos que creem que Jesus é o único Senhor e Sal-vador de sua vida. É muito mais emocionante, empolgante e confortante comemorar o Natal na certeza de que Jesus é o nosso Salvador.

Acenda as luzes como manifestação de fé e alegria em Deus, o Salvador. O Natal é a luz que se acende e brilha em meio à escuridão da nossa vida. “Eu sou a Luz do mundo”, disse Jesus. O Natal é a certeza de que a Luz de Cristo brilha em nossos corações. É um convite para sermos luz para o mundo em todas as ocasiões. Alegre-se com a vinda do seu Salvador e festeje o Natal em grande estilo; festeje com Cristo no coração, e per-mita a ele guiá-lo pelo caminho da paz, pelo caminho da luz. Alegre-se, filho de Deus, pois em Jesus a sua glória está garantida. É Natal, vamos dar as mãos e festejar com alegria no coração. Feliz Natal! m

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FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

10 Mensageiro | DezeMbro 2010

O Natal é a filantropia

de DeusELmEr TEoDoro JaGnowPastor em Marechal Candido Rondon, PR

Ouve-se falar de entidade filantró-pica. Mas o que é uma entidade filantrópica? A origem da palavra pode ajudar a entender o sentido.

Filantropia tem a sua origem na língua grega e é formada por duas palavras: filos (amigo) e antropos (ser humano, pessoa). Literalmente, o sentido seria “amigo do ser humano” ou “ami-go das pessoas”. Ela era usada para expressar a bondade de alguém (At 28.2).

No Brasil, o termo passou a ser usado para entidades que prestam serviços à sociedade e não cobram por estes serviços. Por exemplo: entidades que ajudam as pessoas carentes ou ajudam na recuperação de pessoas dependen-tes de drogas, etc. Estas têm incentivo gover-namental com isenção de alguns impostos.

A FilANtrOPiA De DeUSPode-se afirmar que o Natal é a demons-

tração da filantropia de Deus. O apóstolo Paulo afirma em sua carta a Tito: “Os outros tinham ódio de nós, e nós tínhamos ódio deles. Porém, quando Deus, o nosso Salvador, mostrou a sua bondade e o seu amor por todos (filantropia), ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e não porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma nova vida. Deus der-

ramou com generosidade o seu Espírito Santo sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso Salvador. E fez isso para que, pela sua graça, nós sejamos aceitos por Deus e recebamos a vida eterna que esperamos”(Tt 3.3a-7). Os anjos em seu cântico expressam isto: “Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!”(Lc 2.14). Deus enviou Jesus ao mundo porque “quer bem” às pessoas. Importante perceber que a iniciativa é de Deus.

Ele envia Jesus para trazer perdão para nossos erros. Deus não pede nada em troca. É um gesto de puro amor pela humanidade.

A FilANtrOPiA DOS HOmeNSOs seres humanos não são dados à filan-

tropia. Nos dias atuais, as pessoas estão num corre-corre interminável e o individualismo está cada vez maior. Ninguém tem tempo para o próximo. As pessoas estão em seu mundinho pessoal, onde nem se tem tempo para uma palavra de conforto para o semelhante, muito menos dispor tempo ou dinheiro para ajudar alguém. Porém, pode-se mudar sendo tocados pela filantropia de Deus.

Que esta filantropia de Deus nos faça mais amigos de nosso semelhante e dispostos a ajudar nosso próximo com gestos de amor autêntico.

“Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!” Deus enviou Jesus ao mundo

porque “quer bem” às pessoas.

| MEDITAÇãO |

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Marcos SchmidtPastor em Novo Hamburgo, RS| [email protected]

| EM FOCO |

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Quinquilharias do Natal

E xiste uma explicação para este sentimento de melancolia nes-ta época do ano. É que somos bombardeados por votos de paz,

felicidade, esperança, mas, que na realidade, não é o que experimentamos. O Natal e o fim de ano, apesar das festas, confraternizações, família reunida, presentes, comida e bebida, carregam um sentimento de velório, solidão, perda, fome e sede. Por isso, é zona de alto risco ao suicídio.

“Eu quero paz”, suplicou Leila Lopes, uma artista de novela que tirou a própria vida às vésperas do Natal passado. Numa carta de despedida, ela desabafou:

– Estou cansada, cansada da cabeça! Não aguento mais pensar, pagar contas, resolver problemas.

Na verdade, esse é um sentimento co-mum neste período do calendário, bem dife-rente das mensagens nos cartões natalinos.

Mas, pensando bem, o Natal só tem sen-tido onde a vida está sem sentido. Ou então acontece aquilo que disse um teólogo: “O Senhor Jesus veio a uma humanidade tão acostumada com a miséria e a desgraça, e feliz numa situação na qual ninguém pode ser feliz – a menos que não esteja certo da cabeça”. Este é o problema na Terra. Não é o aquecimento global pela fumaça que vai para cima, é o esfriamento espiritual que impede o amor para baixo. Problema antigo já no primeiro Natal, pois “aquele que é a Palavra veio para o seu próprio país, mas o seu povo não o recebeu” (João 1.11).

Por isso, Jesus afirmou que bem-aven-turados, felizes, são os pobres de espírito, os que choram, os humildes, os que têm fome e sede.

Certa vez, encontrei a seguinte dica de uma consultora de organização: “Seu

O Natal e o fim de ano carregam este sentimento

contraditório... “Jesus está no mundo. Está nos braços de Simeão. Está no caminho de todo ser humano. Não pode ser ignorado. Não pode ser contornado. Qual rocha no meio da corrente que faz as

águas se partirem – correm à direita, correm à esquerda –

assim Jesus divide as pessoas, os séculos, os pensamentos, os

destinos eternos”.

armário anda abarrotado e, apesar disso, você tem sempre a impressão de que não há nada adequado à ocasião para vestir? Com a chegada do Natal e do fim de ano, é uma boa hora de dar uma reciclada em tudo. Doe todas as peças que não usou nenhuma vez no ano...”.

Deveríamos fazer algo parecido no coração, sempre entulhado com coisas que nunca usa-mos, ou que não deveríamos usar. Começando com aquilo que recomenda Paulo: “Livrem-se de tudo isto: da raiva, da paixão e dos senti-mentos de ódio [...] Vistam-se de misericórdia, de bondade, de humildade, de delicadeza e de paciência” (Colossenses 3.8,12).

Contudo, isso não é fácil. Aliás, é impossível quando se busca dentro do próprio armário o poder da decisão e a coragem para a arrumação. O milagre vem de fora. Ou como diz a Bíblia: “Pensem nas coisas lá do alto e não nas que são aqui da terra. Porque vocês já morreram, e a vida de vocês está escondida com Cristo, que está unido com Deus. Cristo é a verdadeira vida de vocês” (Colossenses 3.2-4). “Pensar nas coisas lá do alto” é deixar de lado os badulaques deste mundo e priorizar o presente do Natal. Algo parecido com a história dos 33 mineiros chilenos que só queriam sair daquele buraco.

Por isso, o Natal e o fim de ano carregam este sentimento contraditório. Ou como escre-veu o meu professor no Seminário, Otto Goerl: “Jesus está no mundo. Está nos braços de Simeão. Está no caminho de todo ser humano. Não pode ser ignorado. Não pode ser contorna-do. Qual rocha no meio da corrente que faz as águas se partirem – correm à direita, correm à esquerda – assim Jesus divide as pessoas, os sé-culos, os pensamentos, os destinos eternos”.

Não é por nada todo este sentimento no Natal... É Deus mexendo intensamente no coração das pessoas.

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No Natal, Deus veio habitar entre nós

E ra uma vez, um rei muito cari-doso que procurava governar o seu país da melhor maneira possível. Porém, apesar de todos os seus esforços, ele

não conseguia agradar o povo. Sempre havia muita reclamação entre os seus súditos.

Ele, então, procurou conselho junto aos sábios da corte, a fim de saber o que fazer para conseguir agradar a população. Os sábios se reuniram e chegaram à conclusão que para o rei entender os anseios do povo e fazer um governo que os agradasse só haveria uma maneira: ele tinha que descer do trono, se juntar ao povo e se tornar igual a eles.

O rei fez conforme lhe aconselharam. Saiu do palácio, vestiu-se como um colono e foi morar entre as pessoas comuns. Assim, começou a sentir o que o povo sentia e ouvir as reclamações que o povo tinha a fazer. Ele viu que o que povo queria não era grandes obras, mas, sim, boas estradas, saúde, educa-ção e segurança. Segundo a lenda, depois de um ano, ele voltou novamente ao palácio e, a partir de então, fez um grande governo.

Em Cristo, DEus assumE a naturEza humana

Foi isso o que Deus fez na pessoa de Jesus, por ocasião do primeiro Natal. Ele assumiu a identidade humana; renunciou ao trono da glória para conquistar o co-ração dos seres humanos. Diz o apóstolo Paulo na carta aos Filipenses: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, sub-sistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem; e, reconhecido em figura huma-na, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2.5-8).

E o autor da carta aos Hebreus escreve, dizendo: “Porque não temos um sumo sacer-dote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; antes, ele [Jesus] foi tentado em todas as coisas, a nossa semelhança, mas sem pecado. Aproximemo-nos, portanto, confiantemente junto ao trono da graça a fim de recebermos misericórdia e acharmos

graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.15-16).

No Natal, lembramos a humanação de Jesus, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Neste dia, o rei Jesus deixou o trono da glória para se fazer um ser humano como cada um de nós, a fim de cumprir a Lei em nosso lugar, evangelizar os povos e morrer pelos pecados de todos.

Durante o tempo em que Jesus esteve aqui na terra, ele, embora fosse o Emanuel, o Deus encarnado, se comportou como um simples ser humano, mostrando a sua divin-dade apenas algumas vezes quando realizava os seus milagres e fazia os seus discursos.

Se nós formos olhar para a vida de Je-sus, parece que tudo deu errado. Primeiro, ele nasceu numa estrebaria, num curral de gado. Era de se esperar que Jesus nascesse num palácio, afinal, ele era o Filho de Deus, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Foi por isso que os magos do oriente, quando vieram adorar o Menino Jesus, o procuraram no palácio do rei Herodes em Jerusalém. Porém, lá não havia ninguém. O rei Herodes nem sabia do seu nascimento,

| CAPA |

LinDoLfo piEpErPastor emérito, Jaru, RO

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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No Natal, Deus veio habitar entre nós

tampouco o povo de Jerusalém.Depois, no seu ministério, ele foi rejei-

tado e desprezado. Ele não foi bem aceito pelos homens. Diz o apóstolo João: “Ele veio para os seus, mas os seus não o recebe-ram” (João 1.11).

Às vezes, ele não tinha nem lugar para dormir, para descansar o corpo. Por isso, num certo lugar dos Evangelhos, ele recla-ma, dizendo: “As raposas têm os seus covis, as aves dos céus, ninhos; mas o Filho do homem não tem nem onde reclinar a sua cabeça” (Mateus 8.20).

E, no fim de sua vida, ele foi humilhado, desprezado e colocado numa cruz, como um criminoso, como um marginal, como um bandido. Parecia que ele estava sozinho, que até o próprio Deus o havia abandonado. Por isso, como que desesperado, ele clama no alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” (Mateus 27.46).

Tudo era plano de deus, nada foi improvisado

No entanto, Deus não o havia desam-parado. Tudo o que acontecia com ele estava

nos planos de Deus: desde o seu humilde nascimento, até a sua morte na cruz. Isso tudo havia sido predito pelos profetas. Esse era o plano de Deus para salvar o mundo. O profeta Isaías, por exemplo, depois de des-crever em minúcias o seu sofrimento e morte no capítulo 53 do seu livro, conclui dizendo: “Quando ele [Jesus] olhou para trás e viu o fruto do seu trabalho, ficou satisfeito”.

Jesus, segundo o plano de Deus, veio na plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade de Belém, de acordo com o que Deus plane-jara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, tudo segundo a santa vontade de Deus. E, de acordo com o plano de Deus, Jesus um dia voltará. Isso vai acontecer quando o Evangelho for pregado em todo o mundo… Então virá o fim.

Ele não virá mais como um bebê inde-feso, mas em glória e majestade. Virá para julgar os vivos e os mortos, quando “ao nome de Jesus se dobrará todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2.10,11).

No Natal, lembramos a humanação de Jesus, quando o Verbo se fez carne e habitou entre

nós. Neste dia, o rei Jesus deixou o trono da glória

para se fazer um ser humano como cada um

de nós, a fim de cumprir a Lei em nosso lugar, evangelizar os povos

e morrer pelos pecados de todos.

No plano de Deus, a nossa salvação passa pela humanação de seu único Filho Jesus Cristo, o qual não deixou de ser Deus,

mas assumiu também a natureza humana

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Estamos esperando, portanto, a sua vinda em glória, para julgar os vivos e os mortos, para levar junto consigo os que nele creem e se preparam para a sua vinda.

o naTal foi desfigurado

Hoje, muitas pessoas, em vez de se prepararem para celebrar o Natal de Jesus, estão se preocupando com coisas externas, que nada tem a ver com o nascimento de Jesus. Enfeitam a casa, mas não adornam o seu coração. Compram presentes para os seus filhos, mas não reconhecem em Jesus um presente de Deus. Chamam um velhinho inexistente de Papai Noel quando o nosso verdadeiro Pai é Deus.

O comércio tem se aproveitando deste dia

“Jesus, segundo o plano de Deus, veio na plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade de Belém, segundo o que Deus

planejara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, tudo segundo a santa vontade de Deus. E, segundo o plano de Deus,

Jesus um dia voltará. Isso vai acontecer quando o Evangelho for pregado em todo mundo. Então virá o fim”.

“”

para aumentar os seus lucros através de gran-des vendas, fazendo com que muitas pessoas gastem mais do que podem. Depois, elas ficam quase o ano todo pagando prestações.

Precisamos novamente recuperar o verdadeiro sentido do Natal. Precisamos nos conscientizar do que é realmente im-portante no Natal e do que é secundário. Do contrário, podemos ser surpreendidos como o povo de Israel, que se esqueceu de tal modo do Messias Prometido que, em vez de recebê-lo como um rei, o receberam como um mendigo, deixando-o nascer numa estrebaria, num curral de gado.

Quando Cristo veio pela primeira vez, ele pôde ser desprezado e morto. Porém, quando

ele vier na segunda vez, em majestade e glória, quem o desprezar será condenado ao fogo do inferno. Para que isso não aconteça, Deus envia mensageiros, à semelhança de João Batista, a fim de que prepara o nosso coração mediante a pregação do Evangelho, dizendo: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 3.2).

É necessário que nos arrependamos dos nossos pecados para que o Rei da Glória entre, conforme o Salmo 24. Apenas quem tem o seu coração purificado mediante o sangue de Cristo derramado na cruz é que pode receber com dignidade o Rei Jesus vindo em glória. O povo de Jerusalém, ao ver Jesus entrando na cidade, estendeu as suas vestes e ramos de árvores pelo cami-nho por onde ele passava, dizendo: “Ho-sana, ao filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” (Mateus 21.9).

Na Santa Ceia, quando lembramos a morte de Jesus, cantamos: “É verdadeira-mente digno, justo e do nosso dever, que em todos os tempos e em todos os lugares te de-mos graças, ó Senhor, santo Pai, onipotente, eterno Deus. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Portanto, com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltan-do-te sempre, dizendo: santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos. Os céus e a terra estão cheios de sua glória. Hosana, ho-sana, hosana nas alturas! Bendito, bendito,

| CAPA |

bendito aquele que vem em nome do Senhor. Hosana, hosana, hosana nas alturas!” (Hi-nário Luterano, página 39).

a súplica de naTalO livro de Apocalipse é o que mais fala

do retorno de Cristo. Por isso, o saudoso professor Dr. Johannes H. Rottmann intitu-lou o livro que escreveu sobre o Apocalipse de Vem, Senhor Jesus. Pois, no capítulo 5 de Apocalipse, encontramos o conhecido Cântico do Cordeiro, onde toda criatura, no céu e na terra, exalta a Cristo, dizendo: “Digno é o Cordeiro que foi morto de rece-ber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor”. E o apóstolo João conclui, dizendo: “Então ouvi toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Aquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, será o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 5.12,13).

Por isso, neste Natal, como em todos os dias da nossa vida, preparemos o nosso coração, orando como o poeta sacro: “Enche os nossos corações com o teu real poder. De pecados e tentações, vem, Jesus, nos defen-der. Pois nós somos tua grei. Glória, glória a ti, ó Rei!” (Hinário Luterano 124.1).

Então, um dia na eternidade, poderemos cantar junto com o grande coro dos anjos: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz [...] entre os homens, a quem ele quer bem”. m

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| MÚSICA NA IGREJA |

Música, também uma forma de orar

A ssim como hoje as pessoas não pensaram sempre da mesma forma. A visão que o ser humano possui do mundo, e de seu lugar

dentro dele, tem variado em função do avanço nas diversas áreas do conhecimento. Ao longo da história, muitos foram os conceitos e as funções atribuídas à Música. A proposta deste texto é lembrar algumas das abordagens feitas para a Música Sacra.

Para os gregos antigos, a Música era compreendida como uma manifestação divi-na entre os mortais, e, por sua ausência ou qualidade de presença, era possível descobrir a natureza do caráter dos seres humanos. Durante as épocas de tendência racionalista (Século XVII), a Música nada mais era do que o resultado de uma elaboração estética, cuja matéria-prima era o som. Por outro lado, nas épocas mais românticas (século XIX), a Música era en-tendida como algo etéreo, poderoso e que não se submetia à ra-zão. Essas tendências de natureza filosófica conflitante convivem com o sentido utili-tarista da Música no século XX.

A Música também tem sido envolvida nas diversas áreas do conhecimento, como a Sociologia, a Psicologia e a Teologia, além dos domínios científicos ditos exatos, como a Física, por exemplo.

Na Sociologia, a Música é encarada como um elemento de encadeamento social, isto é, como ela é e pode ser usada nas relações entre os diversos agrupamentos humanos.

A propaganda a ser-viço do consumismo, o condicionamento à alienação social, política e religiosa, e outras doutrinações de toda ordem são a grande exploração negativa das possi-bilidades da Música. A Sociologia estuda tais fenômenos que muito teriam a cola-borar com a Música se usados de forma positiva.

Na Psicologia, a Música é estudada com o objetivo de chegar às estruturas do pensamento hu-

mano, a fim de compreender como as pessoas sentem e pensam. A partir daí já tem surgido algumas descobertas, que tanto podem ser

paULo BrUm Membro da Comissão de Culto da IELBPastor e capelão de música da ULBRA

“O cântico congregacional e o convívio musical são indispensáveis e

insubstituíveis para a união entre as pessoas de uma

comunidade. Não apenas como divertimento ou fator

de instrução, mas como processo de aproximação de Deus. Cantar ou tocar

com alegria e simplicidade também é uma forma

de orar”.

usadas para o mal como para o bem. A Mu-sicoterapia, por exemplo, dedica-se a curar distúrbios psicológicos e doenças mentais pela utilização adequada da Música. Tais fenômenos, da mesma forma, tem grande relação com a Música Sacra.

Na Teologia, o assunto tem sido descuida-do. Grandes teólogos têm reconhecido o valor da Música no desenvolvimento da fé e do louvor. Entretanto, na maioria das vezes, as reflexões permanecem superficiais. O cântico congregacional e o convívio musical, de uma forma geral, são indispensáveis e insubsti-tuíveis para a união entre as pessoas de uma comunidade. Não apenas como divertimento ou fator de instrução, mas como processo de aproximação de Deus. Cantar ou tocar com alegria e simplicidade também é uma forma de orar. A execução musical em conjunto promove comunhão no louvor a Deus e é uma experiência que transcende a ostentação que costuma determinar o clima na maioria das salas de espetáculo.

O cultivo musical das igrejas não só deve-ria ter maiores responsabilidades artísticas, como deveria superar tais meras experiências estéticas na busca de algo muito mais profun-do: a dimensão da fé.

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| ESCRITURAS SAGRADAS |

I magine-se na situação de um líder da Sociedade Bíblica, num país como a Turquia, com a tarefa de publicar uma nova tradução da Bíblia que possa ser

aceita por evangélicos, pela Igreja Católica Romana, e pelas várias igrejas da tradição ortodoxa, entre elas a Igreja Ortodoxa Grega. O que você faria? Como é sabido, esses três grupos de cristãos não publicam a Bíblia com a mesma configuração, ou o mesmo número de livros, especialmente no que diz respeito ao Antigo Testamento.

Uma saída fácil seria dizer: publique-se uma Bíblia para cada confissão ou igreja! No entanto, os cristãos são minoria absoluta na Turquia, formando um por cento da popula-ção. Três edições diferentes da Bíblia seriam inviáveis do ponto de vista econômico. O que fazer?

Um consultor de traduções das Socieda-des Bíblicas Unidas encontrou uma solução, em diálogo com as igrejas envolvidas e, por fim, com a concordância delas. A primeira decisão foi colocar os livros que os pro-testantes chamam de apócrifos e que os católicos denominam de deuterocanônicos (Tobias, Sabedoria, Judite, etc.) numa seção à parte, entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Tal procedimento, que já havia sido adotado por Martinho Lutero, no século 16, é aceitável à Igreja Católica Romana, em se tratando de edições interconfessionais. Há um documento, assinado conjuntamente pelas Sociedades Bíblicas Unidas e o Vatica-no, datado de 1987, que trata desta questão. Mas o que fazer com aqueles livros a mais, fora da lista dos apócrifos, que são aceitos apenas pelas igrejas ortodoxas? Sim, livros como 3 Macabeus, 4 Macabeus, e um salmo

adicional, o Salmo 151? A solução encontrada foi colocá-los na mesma seção de livros entre os dois testamentos, só que depois daqueles

que são aceitos tanto por católicos quanto por ortodoxos. A ordem dos livros ficou assim: Tobias, Judite, Ester (grego), Sabedoria, Siraque, Baruque, Carta de Jeremias, A oração de Azarias e o Cântico dos três jovens, Susana, Bel e o dragão, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 1 Esdras (3 Esdras, na Vulga-

ta), 4 Esdras, A oração de Manassés, Salmo 151 e 4 Macabeus.

A colocação dos livros apócrifos num bloco à parte é aceitável a (muitos) protes-tantes; a colocação de livros como Tobias, Judite, Sabedoria, Siraque no topo da lista agrada a católicos-romanos; e a inclusão de outros livros, ainda que ao final, atende aos anseios das igrejas ortodoxas. E, na prática, cada Igreja lê os livros que quiser.

Claro, tal solução para um problema bem concreto num país de maioria muçulmana e minoria cristã seria totalmente inaceitável para, quem sabe, a maioria dos evangélicos no Brasil. Mas ela coloca diante de nossos olhos a complexa questão do cânone.

A HiStóriA DOS CâNONeSEm se tratando de cânone, existem duas

histórias que precisam ser contadas: a do cânone do Antigo Testamento, e a do câno-ne do Novo Testamento. O cânone do Novo Testamento é, de modo geral, o mesmo em todas as denominações cristãs: são aqueles 27 livros e ponto final. Porém, no caso do Antigo Testamento, as opiniões se dividem.

Num certo sentido, é chocante ver que os cristãos não conseguem concordar quanto

A complexa questão do

cânoneDr. viLSon SchoLzProfessor de Teologia Exegética Consultor de Traduções da SBB

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo Testamento. Por que isso é assim? Essencial-mente, porque a própria Bíblia não fecha esta questão. Ela não nos dá a extensão do cânone. E por que a Bíblia não define essa questão, quem aceita o princípio do “somente a Escritura” precisa conviver com essa indefinição. Para quem aceita a autoridade de concílios, como é o caso da Igreja Católica Romana, a questão está definida, pelo menos desde o Concílio de Trento, em 1546. Para quem se norteia pela Confissão

de Westminster, de 1647, a questão também está resolvida na medida em que esta confissão cita os livros aceitos como canônicos, e que são os livros que hoje, de modo geral, aparecem em todas as edições protestantes da Bíblia. Outros evangélicos, quando perguntados sobre a extensão do cânone, só podem responder que “os livros canônicos são os livros inspirados por Deus, e que os livros inspirados por Deus são os livros canônicos”. Eles se abstêm de serem mais específicos, porque a Bíblia silencia a respeito desta questão.

Se a Bíblia não define a questão, uma alter-nativa é aceitar o que tem sido a prática das

igrejas, ou, então, da Igreja em que se é mem-bro. O cânone que se aceita é o cânone usado na Igreja. Na realidade, foi isso o que aconteceu ao longo da história do povo de Deus. Quando pessoas e concílios se pronunciaram, em geral, ratificaram o que vinha sendo a prática da Igreja em sua vida de culto.

Se a Escritura não delimita o cânone, e os concílios e teólogos não são suficientes para suprir essa “lacuna”, quem poderia nos auxiliar nesta questão? Em outras palavras,

se o cânone não é uma questão de doutrina, o que seria então?

Normalmente, afirma-se que o cânone é uma questão histórica. Em outras palavras, olha-se para a história em busca de alguma pista ou orientação. No entanto, ao fazermos uma investigação histórica, temos mais pergun-tas do que respostas. Temos algumas supostas verdades que não passam de hipóteses. Outras respostas que vêm da história são incompletas ou incertas. E existem fatos que ainda não co-nhecemos. Vejamos alguns exemplos.

Geralmente se afirma que a canonização do Antigo Testamento se deu conforme as três

divisões da Bíblia Hebraica. Em outras palavras, a primeira parte a ser reconhecida como canôni-ca teria sido a Lei ou o Pentateuco, seguida dos Profetas e dos Escritos. Segundo esta teoria, Da-niel e Crônicas, que, na Bíblia Hebraica, fazem parte dos Escritos, teriam sido “canonizados” num período mais recente ou próximo a nós. No entanto, isto não passa de hipótese. Não há nenhum registro histórico de que isto tenha, de fato, acontecido assim.

Em busca de uma pista, muitos olham para a comunidade essênia dos arredores de Qumran e para os manuscritos que ali foram descobertos entre 1947 e 1956. No entanto, aquela comunidade judaica dissidente não nos deixou nenhuma declaração a respeito dos livros que eram considerados sagrados. Entre os manuscritos ou rolos do mar Morto, como vieram a ser conhecidos, foram encontrados fragmentos de Tobias, que é um livro apócrifo ou deuterocanônico, e também dos livros de Enoque e de Jubileus, entre outros, que não fazem parte de nenhum cânone bíblico hoje em dia. Significa isto que esses livros também eram vistos como canônicos? Não temos uma respos-ta, embora tudo indique que os essênios tinham essencialmente o mesmo cânone dos fariseus e saduceus, ou seja, o cânone da Bíblia Hebraica, que é também o cânone protestante.

livrOS DeUterOCâNONiCOSPor vezes, também se afirma ou se dá a

entender que os livros apócrifos ou deuteroca-nônicos, escritos originalmente em grego ou preservados em tradução grega, faziam parte de um cânone dos judeus de Alexandria que falavam grego. Alexandria, é bom lembrar,

O cânone que se aceita é o cânone usado na Igreja. Na realidade, foi isso o que aconteceu ao longo da história do povo de Deus. Quando pessoas

e concílios se pronunciaram, em geral, ratificaram o que vinha sendo a prática da Igreja

em sua vida de culto.

Parabéns, , pelos93 anos de circulação ininterrupta!

Mensageiro Luterano

Visite-nos na Internet: www.horaluterana.org.br ou blog.horaluterana.org.br

Parceira da Igreja no evangelismo

A Hora Luterana se alegra porfazer parte desta edição especial,

e parabeniza a todos que participamda produção do Mensageiro, um dos

principais meios de comunicação da nossaIgreja Evangélica Luterana do Brasil.

HORA LUTERANA

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18 Mensageiro | DezeMbro 2010

foi o contexto em que surgiu a Septuaginta ou tradução grega do Antigo Testamento. No entanto, não se tem notícia concreta de que os judeus de Alexandria tivessem um cânone mais amplo do que a Bíblia Hebraica. O simples fato de que a Septuaginta acabou tendo um grupo adicional de livros, que não fazem parte da Bíblia Hebraica, não significa que essa já era a situação verificada na comunidade judaica. Filo de Alexandria, um filósofo judeu que viveu mais ou menos na mesma época do apóstolo Paulo, não dá indícios de que aceitasse a autoridade dos livros que denominamos de apócrifos.

Às vezes, pensa-se que os Pais da Igreja eram todos ardorosos defensores dos apócrifos ou deuterocanônicos. É verdade que homens como Orígenes, Atanásio e Jerônimo conheciam os apócrifos. No entanto, também é verdade que faziam distinção entre os canônicos e os

apócrifos, mesmo que não fizessem campanha em prol da supressão dos apócrifos. Atanásio pensava que estes livros não fazem parte do cânone, mas que foram indicados, desde os tempos antigos, como leitura para recém-con-vertidos que, nas palavras de Atanásio, “querem ser instruídos na religião verdadeira”. A maioria dos eruditos das igrejas ortodoxas (orientais) segue Atanásio, colocando os livros que a Septu-aginta tem a mais em relação à Bíblia Hebraica num nível inferior de autoridade.

Jerônimo, que prezava aquilo que chamou de veritas hebraica (verdade hebraica), traduziu o Antigo Testamento do original hebraico. No entanto, isto não significou que ele deu início a uma “cruzada” contra os apócrifos. Entendia que esses livros podiam ser lidos para a edificação do povo, embora não devessem ser usados para estabelecer doutrinas ou dogmas eclesiásticos.

Outro dado pouco conhecido é que durante a Idade Média, mesmo no Ocidente, houve teólogos que sustentavam o ponto de vista de Jerônimo, ou seja, faziam distinção entre livros canônicos e outros livros. Isto significa que Lutero não tirou esta distinção do ar. O cardeal Cajetano, encarregado pelas autorida-des de Roma a dialogar com Lutero, pensava exatamente como Jerônimo.

É verdade que Lutero colocou os apócrifos numa seção à parte, depois de Malaquias e an-tes de Mateus, mas ele não foi o único a fazer isso. A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução feita por teólogos reformados que haviam se refugiado em Genebra, era idêntica à Bíblia de Lutero na questão dos apócrifos. Contudo, a exemplo de Lutero, os editores deixaram claro que esses livros não podiam ser usados para confirmar doutrina.

A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução feita por teólogos reformados que haviam se refugiado em Genebra, era idêntica

à Bíblia de Lutero, na questão dos apócrifos. Contudo, a exemplo de Lutero, os editores deixaram claro que esses livros

não podiam ser usados para confirmar doutrina.

| ESCRITURAS SAGRADAS |FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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nota da rEdaçãoPublicado originalmente na revista a Bíblia no Brasil, nº 229 - Outubro a Dezembro de 2010 – Ano 62

A renomada tradução inglesa co-nhecida como King James Version, de 1611, incluía os apócrifos. Na época, o arcebispo de Cantuária proibiu a publicação e venda de Bíblias sem os apócrifos. A pena prevista para os in-fratores era um ano de prisão. Depois, é claro, os apócrifos foram tirados da King James.

E que dizer da famosa Bíblia de Mary Jones, a menina galesa que inspirou o movimento das Sociedades Bíblicas? Essa Bíblia que Mary Jones adquiriu com tanto sacrifício foi preservada. E ela traz os apócrifos, pois a assinatura de Mary Jones aparece na última página dos livros de Macabeus. Aliás, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, fundada em 1804, só deixou de publicar Bíblias com os apócrifos em 1826, ou seja, 22 anos depois de sua fundação. Já a Bíblia de Almeida, que teve o Antigo Testamento publicado em 1748 (o Novo Testamento havia sido lançado em 1681), nunca incluiu os apócrifos.

ler PArA CONHeCerCom respeito aos apócrifos, muitos pre-

ferem a atitude do “não li e não gostei”. Uma maior disponibilidade e familiaridade com estes livros poderiam ajudar o leitor a avaliar estes textos e, quem sabe, ter uma compreensão mais adequada das questões envolvidas na delimita-ção do cânone do Antigo Testamento.

Nesse sentido, é interessante uma página da vida de John Bunyan, o famoso autor de O Peregrino. Por volta de 1652, num tempo de profunda depressão, Bunyan encontrou consolo num texto que lhe veio à mente: “Pensem nas gerações passadas e reparem bem: será que alguém que confiou no Senhor ficou desiludi-do?” Passada a crise, Bunyan não conseguia se lembrar de onde vinha esse texto, não con-seguiu localizá-lo em sua Bíblia, e não houve quem pudesse lhe indicar a referência. Um ano depois, ele escreve: “Voltando meus olhos para os apócrifos, encontrei o texto em Siraque (ou Eclesiástico) 2.10. A princípio, isto me deixou um pouco perplexo, pois não fazia parte dos textos que chamamos de santos e canônicos; entretanto, como essa frase era o resumo e conteúdo de muitas das promessas, era meu dever tirar consolo dela. E eu agradeço a Deus por essa palavra, pois foi boa para mim”.

Em conclusão, cabe relembrar que, em se tratando do cânone do Antigo Testamento, a diferença entre católicos e protestantes se explica pelo fato de terem os protestantes, no tempo da Reforma do século 16, entendido que os livros canônicos eram, a rigor, os que es-tavam na Bíblia Hebraica. Em resposta, a Igreja Católica Romana canonizou livros que tinham aceitação na Igreja desde tempos antigos. Esta é a situação que, provavelmente, permanecerá inalterada no futuro próximo.

Entretanto, também precisa ser dito que a diferença fundamental entre as confissões religiosas ou igrejas não reside no cânone. As reais diferenças de-correm de interpretações divergentes de textos que, sem sombra de dúvida, são canônicos, como, por exemplo, Mateus 16.18, as palavras da instituição da ceia do Senhor, e textos que tratam da relação entre fé e obras.

Além disso, por mais importante que seja a questão do cânone, a pergunta fundamental ainda é a do próprio Jesus, em Mateus 16.15: “Quem vocês dizem que eu sou?” Esta pergunta não pode ficar sem resposta. As perguntas mais complexas relacionadas com o cânone podem ficar para depois, para o dia em que, como diz Paulo em 1 Co 13.12, “veremos face a face” e “conheceremos perfeitamente”.

A diferença entre católicos e protestantes se explica pelo fato de terem os protestantes,

no tempo da Reforma do século 16, entendido que os livros canônicos eram,

a rigor, os que estavam na Bíblia Hebraica.

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FOTO: leAnDrO r. CAMArATTA

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Lutero e a

tradução da

Bíblia

Lutero traduziu as Sagradas Es-

crituras para a língua do povo

“por amor de meu Senhor Jesus

Cristo”. Sabendo que o “Espírito

Santo age através da Palavra de Deus e dos

sacramentos”, o Reformador queria que o

povo pudesse ler e examinar a Bíblia em

sua própria língua.

Convicto de que iria fazer “uma

obra conforme a vontade de seu Deus e

Salvador”, Lutero iniciou o seu trabalho.

Retornando da Dieta de Worms, em 1521,

Frederico, o Sábio, mandou que Lutero

fosse “sequestrado” e posto em segurança

no Castelo de Wartburgo.

E aqui Lutero realizou a grande pro-

eza, traduzindo o Novo Testamento num

tempo humanamente impossível - de

dezembro de 1521 a março de 1522.

MOnTAGeM sOBre FOTO ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

| ESCRITURAS SAGRADAS |

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Mensageiro | DezeMbro 2010 21

O Antigo Testamento foi traduzido ao longo dos anos. Enquanto o Novo Testamento foi tra-duzido apenas por Lutero – o Antigo Testamento foi traduzido com o apoio de Melanchthon, Bu-genhagen, Justus Jonas, Cruciger, Aurogallus e Roerer. Dada a sua extensão, os livros do Antigo Testamento foram publicados em quatro volu-mes, assim que iam sendo traduzidos.

Porém, foi em 1534 que a tradução com-pleta da Bíblia foi impressa. Esta é considerada a impressão mais fina do Século XVI, realizada pelo editor Hans Luft, de Wittenberg. Neste ano de 1984, pois, a Igreja Cristã “comemora os 450 anos da impressão da Bíblia, tradução de Lutero, considerada ‘a mais perfeita e completa até hoje’”.

Não foi obra pequena, nem fácil, traduzir a Bíblia para a língua do povo. Em sua Carta Aberta sobre a Tradução, Lutero elabora e defende sete princípios básicos para fazer uma boa tradução.

O professor Arnaldo Schüller traduziu e comenta estes princípios de tradução de Lu-tero, num estudo apresentado no Congresso Luterano de Comunicação em São Leopoldo. Eis o estudo:

PriNCíPiOS De trADUçãOCresce o número de pessoas que se mos-

tram conscientes da necessidade de tornar a Escritura Sagrada inteligível ao homem comum. A reflexão sobre essa necessidade nos leva aos problemas da arte de traduzir. Lutero é uma das figuras que logo nos acodem à memória quan-do pensamos sobre a arte de traduzir a Bíblia. Homens como Oskar Thulin, Heinz Bluhm e E.G. Schwiebert entendem que a tradução da Bíblia foi a realização máxima, o magnum opus de sua vida. Outros, como, por exemplo, Wilhelm Sche-

rer, consideram a tradução de Lutero o maior acontecimento literário do século XVI.

Lutero tinha consciência aguda dos proble-mas envolvidos na tarefa de traduzir e do que é necessário para traduzir bem. Não basta o dom linguístico para traduzir bem, disse ele. Traduzir bem é graça e dom especial de Deus. Depois de iniciar a empresa de traduzir a Bíblia em alemão, escreveu que, se não o tivesse tentado, poderia ter morrido com a ideia errônea de que era um erudito, acrescentando que deveriam fazer algum trabalho dessa natureza todos os que se julgam eruditos. Com referência ao livro de Jó, informa que Melanchthon, Aurogallus e ele algumas vezes mal conseguiram traduzir três linhas em quatro dias. Muitas vezes ficavam du-rante um mês inteiro à procura de uma palavra e nem sempre a encontravam. Por outro lado, uma das muitas evidências da extraordinária capacidade de Lutero para traduzir a Bíblia é o fato dele haver traduzido o Novo Testamento em menos de três meses.

Os princípios de tradução defendidos e seguidos por Lutero estão sendo adotados ainda hoje. Serão o objeto de nossos breves comentários os princípios de que ele fala em sua Carta Aberta Sobre Tradução, escrita em 1530, na Coburg, de onde acompanhava os acontecimen-

tos da Dieta de Augsburgo. Na época em que escreveu a carta, estava empenhado na tradução dos livros proféticos do Antigo Testamento e já tinha mais de dez anos de experiência em maté-ria de traduzir. Seu primeiro ensaio de tradução de textos bíblicos é de 1517, em seu primeiro escrito, Os Sete Salmos Penitenciais. Nessa primei-ra tentativa já se afasta da Vulgata, conforme se lê no prefácio ao escrito mencionado, onde diz que ultrapassou nostra translatio.

A parte da carta que interessa ao nosso tema é a resposta de Lutero a uma crítica feita a sua tradução de Rm 3.28. Em vez de traduzir: “... o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei”, Lutero traduziu: “sem as obras da lei, somente pela fé” (“ohne des Gesetzes Werke, allein durch den Glauben”). É na defesa de sua tradução desse texto que Lutero enuncia os princípios a que aludimos. Nosso objeto não é analisar os argumentos de Lutero a favor de sua tradução de Rm 3.28, mas sublinhar os princípios de tradução que ele estabelece ao longo da defesa de sua tradução e acrescentar ilustrações, dele ou de outros.

PrimeirO PriNCíPiOO tradutor deve atender a natureza da língua receptora, isto é, da língua para a qual traduz.

Lutero observa que no texto grego nenhu-ma palavra corresponde ao “somente” de sua tradução, acrescentando, no estilo polêmico da época, que seus críticos olhavam a palavra allein como a vaca olha para um portão novo. Quando falamos de duas coisas, uma das quais é afirmada e a outra negada, é próprio da língua alemã, argumenta ele, acrescentar a palavra allein, para que fique tanto mais completa e clara a negativa ou exclusiva anterior.

Não basta o dom linguístico para traduzir

bem, disse Lutero. Traduzir bem é graça e dom especial

de Deus.

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o exigem. O apóstolo exclui as obras comple-tamente da justificação. De sorte que dizer “pela fé somente” é a maneira de expressar o seu pensamento de forma clara.

SétimO PriNCíPiOÉ justo e necessário expressar o sentido do

original da maneira mais clara e plena.Por entender que Paulo exclui da justifica-

ção toda e qualquer obra de toda e qualquer lei, Lutero observa, no fim de sua resposta à crítica, lamentar o fato de não haver acrescen-tado ainda as palavras alle e aller e traduzido: “sem quaisquer obras de quaisquer leis”, para expressar o sentido do apóstolo com clareza total.

CONClUSãOÉ evidente que muitas traduções de nossos

dias procuram aplicar os princípios acima. Um dos membros do departamento de tradução da Sociedade Bíblica Americana, depois de falar dos princípios de Lutero, comenta que hoje, em algumas traduções, parece haver consciência crescente da necessidade de co-municação vital.

Os princípios de Lutero são atuais e importantes. Refletimos sobre eles, porque nenhuma coisa merece mais atenção de um comunicador cristão de nossos dias do que a tarefa de transmitir a mensagem da salvação em Cristo, ao homem de hoje, em linguagem ao alcance do leitor comum.

FOnTE: Lar cristão, Ano 1984, págs. 65 a 68, Editora Concórdia

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SegUNDO PriNCíPiODeve-se verificar como o homem

comum usa a língua. Para saber como se deve dizer a coisa em

alemão, comenta Lutero, cumpre observar como fala a dona de casa, a criança na rua, o homem comum na feira, no mercado, na praça. Por eles, devemos orientar-nos em nossa tradução. É então que eles nos vão entender.

Essa recomendação importante lembra um diálogo entre o grande estilista português Eça de Queirós e o autor da série de romances intitulada Comédia do Campo. Conta-se que Eça perguntou a Teixeira de Queirós como é que ele encontrava, para escrever os seus livros, uma linguagem tão caracteristicamente portuguesa. “Qual é o seu mestre preferido?” perguntou Eça. Teixeira de Queirós respondeu: “O meu mestre é aquele que ali vai”. E apontou para um homem do povo, que estava passando.

terCeirO PriNCíPiOO tradutor deve ter o cuidado de evitar

traduções literais infelizes.Uma das ilustrações traduzidas por Lutero

são as palavras que o anjo dirige a Daniel (Dn 10.19): “Não temas, ish chamudoth, vir deside-riorum”. Lutero traduz: “querido Daniel”. Uma tradução literal, observa ele, o levaria a escrever “homem dos desejos”, Mann der Begierungen, acrescentando que um alemão, ao ler isso, pen-saria que Daniel esteve cheio de maus desejos.

Buscamos outra ilustração nas explicações que precedem seu comentário aos Salmos. Diz ele que no Sl 92.15, uma tradução do verbo ad verbum o teria levado a escrever que ainda na velhice os justos serão gordos e verdes, em vez de fecundos e viçosos, o que levaria o leitor alemão a pensar num velho barrigudo.

Pode-se observar, nas sucessivas edições de sua tradução da Bíblia, o esforço de Lutero no sentido de aplicar esse princípio. Afasta-se da reprodução literal, procurando expressar o sentido. É a preocupação de garantir que seja bem comunicada a mensagem do original, a preocupação de impedir que o texto perca a sua função, a busca da equivalência dinâmica, em vez da escravização à equivalência verbal. Num livro publicado em 1533, e no qual fala das revisões a que submeteu sua tradução dos Salmos, Lutero lembra que as palavras devem estar a serviço do sentido, e diz pensar que uma tradução do Saltério em alemão, que ignore o que ele fez, resultará em peça na qual vai sobrar pouco alemão e pouco hebraico.

qUArtO PriNCíPiOHá casos em que a tradução literal de uma

palavra pode ser a solução acertada.Lutero ilustra com as palavras de Cristo

registradas em João 6.27, onde traduz esphrá-gisen como “hat versiegelt” (selou). Lembra traduções que, em seu entender, seriam alemão melhor e acrescenta que neste caso preferiu prejudicar a língua alemã a afastar-se da palavra.

qUiNtO PriNCíPiOO tradutor deve ser dono de uma grande reserva de palavras, a fim de que possa escolher a que fica melhor no contexto.Para ilustrar a aplicação desse princípio

por Lutero, valemo-nos de um exemplo não citado por ele ao enunciar o princípio: o uso das palavras Pferd, Ross e Gaul (respectivamen-te, cavalo, corcel e cavalo-boi, cavalo forte). Em Tg 3.3, onde se lê que pomos freios na boca dos cavalos de fogo que levam Elias ao céu são Rosse.

E os cavalos que rincham em Jr 50.11 são fortes Gâulle. Outra ilustração poderia ser o fato para o qual chama a atenção o erudito pesquisador M. Reu: Lutero usa nada menos de dez sinônimos da palavra Leid (pesar).

SextO PriNCíPiOO tradutor deve determinar o sentido de um

texto (para poder traduzi-lo bem), no contexto do original.

Comenta Lutero que em Rm 3.28 acres-centou a palavra allein (somente) não apenas em obediência ao princípio que manda seguir a natureza das línguas na tradução, mas também porque o texto e o sentido de Paulo

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Advento comunica a vida

| IELB 2011 |

Acolhendo e integrando – Jesus, o Bom Pastor

N a época do Advento, as quatro semanas que antecedem o Natal, a IELB inicia, além do novo ano litúrgico, o quadriênio

2011-2014 com o novo lema geral: A IGREJA COMUNICA A VIDA.

No Advento, esperamos alguém muito especial, o que requer de nossa parte uma cuidadosa e alegre preparação, pois é neste momento que nos preparamos para acolher o Senhor que vem, e queremos, de forma toda especial, motivar a Igreja para o compromis-so com a comunicação desta grande notícia. O Senhor que veio um dia e entrou na nossa história, que vem a cada dia e nos encontra

por meio da Palavra, e que virá no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos é o grande motivo da nossa celebração no Natal e em todos os dias da nossa vida.

ÊNFASe 2011Em 2011, nossa temática

transversal a este Lema Geral é Acolhendo e integrando – Je-sus, o Bom Pastor! Ele nos aco-lhe em sua graça e, com isso, objetivamente, recomenda que acolhamos todas as pessoas. Que esta temática nos leve a tomar decisões e iniciativas que realmente implementem o que se quer com as reflexões por ela sugeridas. Sigamos firmes com amor e alegria, vivamos intensamente este tempo abençoado de Advento e Natal, cele-brando, experimentando

e comunicando a graça da Vida que temos em Cristo! Motivados pelo Espírito de Deus e por este tempo natalino, possamos a cada dia dizer SIM à Vida Plena que só temos em Jesus, o Bom Pastor!

Sendo instrumentos que levem o mundo, ao nosso redor, a escutar essa voz, como voz de alguém que nos chama pelo nosso nome, nos acolhe e integra na sua Família Especial – de Filhos de Deus!

O cartaz procura retratar esta mensagem em forma de imagem. Na verdade, é uma co-leção, para este quadriênio, onde as imagens menores apontam para os próximos cartazes.

O texto base desta temática é: “O bom pas-tor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). A ênfase focaliza nossa ação como Igreja. A Palavra de

Deus, base para este tema, por sua vez, foca-liza, em primeiro lugar, a ação de Jesus.

O BOm PAStOrJesus, o Bom Pastor (Jo 10.1-18). Após uma

discussão com os fariseus (Jo 9.35-41), que não aceitaram Jesus como o Messias, Jesus se apresenta à multidão como o Bom Pastor. Ele não se apresentou como o construtor de um novo Israel político, nem como um político ou líder que tem novos planos; ele se apresentou como o Bom Pastor.

O termo “pastor” era conhecido entre os judeus, tanto a profissão de pastor como o uso do termo conforme as profecias. Até os reis gostavam de denominar-se de “pastores”, como guias e protetores do povo.

Jesus é o Bom Pastor. Não há similares. Ele veio para salvar o que estava perdido (Mt 18.11). Como o Bom Pastor, ele não se impõe, nem força alguém a segui-lo. Ele se oferece, ele chama e atrai a si.

Jesus, o Bom Pastor. Jesus está falando aos judeus que conheciam as profecias do Anti-go Testamento. Este Bom Pastor prometido, disse Jesus, sou eu. Eu sou o Bom Pastor. Ele veio para libertar, consolar, fortalecer, guiar e reunir seu rebanho.

As ovelhas são suas, por isso, o seguem. Porém, Satanás enganou Adão e Eva que caíram em pecado e foram expulsos da presença de Deus. O pecado os corrompeu totalmente. Tornaram-se réus da eterna condenação. Toda a raça humana é como um rebanho desgarrado de ovelhas. Elas não conseguem se orientar, nem livrar desta situação de escravos de Satanás, da perdição e da condenação eterna, por isso a Escritura afirma: “O Filho do homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Veio para o que lhe pertencia. Veio no Natal, – “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).

aDiLSon DErLY SchÜnKE * Coordenador nacional do PEM

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Se ele governa, ele não o faz como um estranho, nem como um intruso. Ele é o Bom Pastor, o legítimo. Se ele governa sobre nós, isto é seu direito. Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1.11). Isto mostra o quanto o pecado corrompeu a humanidade. O ser humano não gosta de ser guiado. Ele quer ser seu próprio pastor e guia.

O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas. Jesus veio para salvar (Jo 1.14). O eterno Filho de Deus deixou a sua glória e tornou-se nosso irmão na carne, a fim de salvar a humanidade (Jo 3.16). Como substituto de toda a humani-dade, cumpriu a Lei de Deus. Tomou sobre si os pecados de toda a humanidade. Foi castigado pelo Pai, que derramou sobre ele a ira dos nossos pecados. Ele lutou contra o pecado, a morte e Satanás. E, como verdadeiro homem e verdadeiro Deus, morreu na cruz. Se ali, na cruz, tivesse morrido somente um homem, não teríamos a salvação. Porém, ali morreu o Filho de Deus. Ele derramou seu santo e precioso sangue pelos nossos pecados. Ele é o único Salvador – fora dele não há salvação.

As ovelhas ouvem sua voz. Quem são suas ovelhas? Os fariseus e escribas julgavam-se

| IELB 2011 |

boas ovelhas do rebanho de Deus. Eram filhos de Abraão (Lc 3.8) e, por isso, consideravam-se filhos de Deus.

Quem são os verdadeiros filhos de Deus? Jesus o indica: as minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da

minha mão (Jo 10.27,28). É pela Palavra que o Filho se dá a conhecer a elas. É pela Pa-lavra que o Espírito Santo chama, ilumina, santifica e congrega. É pela Palavra que ele opera a fé, santifica e congrega, guia, consola e fortalece.

O BOm PAStOr CONHeCe e PrOtege AS SUAS OvelHASEle as conhece e, por isso, as chama pelo

nome (Jo 10.3). A palavra conhecer, no sen-tido bíblico, indica íntima comunhão com o Salvador. Ele conhece suas ovelhas e elas conhecem a ele, isto é, ele ama e é amado por elas. Assim como o chamar pelo nome foi pessoal, o conhecer também é pessoal, mas não individual, pois você foi chamado para dentro da comunhão com o Salvador e com isto na família de Deus (1 Jo 1.3). Fomos acolhidos e integrados em Cristo e sua grande família, a santa Igreja Cristã, a comunhão dos santos.

Não podemos mais viver nenhum mo-mento neste rebanho sem o Bom Pastor; sem ouvir, relembrar, mover sua Palavra em nosso coração; sem transpirar sua Palavra em nosso dia a dia. Por isso, temos algo a dizer às pessoas em nosso derredor na alegria e na dor, no trabalho e na recreação, procurando acolher e integrar na família de Deus, a co-munhão dos santos.

“Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco, a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor”. Jesus estava falando aos judeus e afirma: “Ainda tenho outras ovelhas”, isto é, pessoas que não são judeus, a saber, os gentios.

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Não podemos mais viver nenhum momento neste rebanho sem o Bom Pastor; sem ouvir, relembrar, mover

sua Palavra em nosso coração; sem transpirar sua Palavra em nosso

dia a dia.

Jesus não veio salvar somente os judeus. Ele salvou a humanidade. Muitos gentios ouvirão sua voz, pois Jesus deu a ordem aos discípulos: “Ide fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). Muitos gentios darão ouvidos ao Evangelho e crerão, serão enxertados (acolhidos e integrados) na família de Deus. Eles formam o novo Israel, a santa Igreja Cristã, a família de Deus.

A Igreja cresce tão somente pela pregação da Palavra de Deus e a admi-nistração dos santos sacramentos.

O tema “um só rebanho” é um tema difícil diante da terrível divisão da Igreja cris-tã. Porém, importa lembrar: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz”.

Também é preciso lembrar a advertência de Jesus com respeito aos mercenários e lo-bos que não apascentam corretamente, mas destroem o rebanho. Ali onde se dá ouvidos à voz de Cristo e se permanece fiel à mesma pela fé na graça de Cristo, é ali que está o rebanho de Cristo que é um só. Invisível aos

nossos olhos, mas com claros sinais ou mar-cas de sua presença: a pregação da Palavra e a administração dos santos sacramentos, conforme instituídos por Cristo. As pessoas que se congregam em torno da Palavra e sa-cramentos formam a Igreja visível, na qual há também hipócritas; mas, o Senhor conhece os que lhe pertencem (2 Tm 2.19).

As ovelhas são animais que não sabem se orientar, não sabem como e onde encontrar a

fonte de água e as melhores pastagens, nem sabem se defender dos predadores. Elas precisam de um guia e protetor.

Jesus é nosso Bom Pastor que bus-ca a ovelha perdida e a resgata. Ele acolhe e integra no rebanho. Ele guia, ampara, fortalece suas ovelhas. E elas o conhecem.

Lutero o expressou na quarta par-te do Batismo no Catecismo Menor, explicando o que significa ser aco-lhido e integrado na comunhão com Jesus: “Que significa este batizar com água? - Significa que o velho homem em nós, por contrição e arrependi-

mento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente.”

Baseado no texto da temática preparado pelo pastor Horst Kuchenbecker. Texto original completo no Preciso Falar, Editora Concórdia.

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Fórum de Ação Social

O 2º Fórum de Ação Social da IELB se realizou em Toledo, PR, nos dias 24 e 25 de setembro. Partici-param da cerimônia de abertura

os pastores Nelson Kissler, presidente da AESI; Geraldo Schuler, 2º vice-presidente da IELB; Mário Lehenbauer, assessor de Ação Social da IELB; Gerhard Grasel, capelão geral da Univer-sidade Luterana do Brasil (Ulbra); Arnildo Figur, coordenador do Departamento de Ação Social da IELB; e José Daniel Steimetz, capelão da As-sociação Evangélica Luterana de Caridade (AEL-CA). Também estavam presentes Ires Damian Scuziato, secretária municipal de Assistência Social de Toledo, e Rejane Neumann, assistente social do Centro Comunitário Dorcas.

O evento reuniu 107 participantes de dife-rentes regiões, e teve como objetivo oferecer fundamentação bíblica para a ação diacônica na Igreja, capacitação teórica para aqueles que estão envolvidos em ações concretas através de instituições sociais, e socializar aspectos práticos encontrados nas diferentes formas de ação praticados por congregações e intuições.

A Perspectiva Bíblica da Ação Social foi apresentada pelo pastor Gerhard Grasel, que salientou que é em Cristo que encontramos o modelo para a nossa ação e só nele encontra-

mos a verdadeira motivação para atuarmos concretamente para com o próximo, no contexto social em que estamos inseridos. A assistente social Rejane Neumann enfocou a Perspectiva Prática, dissertando sobre os Direitos sociais e a humanização dos serviços. Na capacitação teórica do evento, também participou Simone Beatriz Ferrari, assistente social e professora universitária, enfocando a Perspectiva Legal – onde apresentou aos participantes a legislação atual e mostrou a importância de se ter um olhar gerencial consciente ao se atuar na ação social institu-cional. O pastor José Daniel Steimetz, capelão da AELCA, mostrou a Perspectiva Missionária – sempre presente quando se compartilha experiências da vida que provém da nossa vida de fé com Deus e com o próximo.

Os participantes também tiveram a opor-tunidade de visitar um dos projetos desenvol-vidos pelo Centro Comunitário e Social Dorcas. Esta instituição foi fundada oficialmente em 1992, e acolhe meninas menores, considera-das em risco pessoal e social, moradoras das proximidades, em regime de contra-turno escolar. Atualmente, o centro atende 220 me-ninas com idades entre 7 a 17 anos, através de programas sócio-educativos, atividades de reforço escolar ou extracurricular e cursos

semiprofissionalizantes (artesanato, costura e massas caseiras). Em março de 2007, foi inaugurado o Centro de Apoio à Família, onde são atendidas 280 crianças. No total, o Centro Comunitário e Social Dorcas atende mais de 500 meninos e meninas de rua.

O encerramento das atividades deste dia foi marcado por um culto de louvor a Deus, que teve como liturgistas os pastores locais, Nelson Kissler, Eliseu Krummenauer e Naação Luiz da Silva. Também houve participação do coral e conjunto da congregação, sendo pregador o pastor Gerhard Grasel.

O primeiro dia do fórum foi voltado para a legislação, motivação e capacitação. O segundo dia primou pelo compartilhar de experiências e desafios. O pastor José Daniel Steimetz compartilhou a Perspectiva Missionária, sempre presente em toda a ação desenvolvida por uma entidade mantida por uma congregação. O segundo vice-presidente da IELB, pastor Geraldo Schüller, os pastores Nelson Kissler e Tealmo Percheron (presidente e vice presidente da AESI) e o assistente social e pastor Mario Lehenbauer apresentaram um Relato da AESI e Desafios no Planejamento da IELB, dialogando sobre o processo atual de organização da AESI, os procedimentos para filiação, os desafios da AESI e da IELB e a inclusão do planejamento da área social no planejamento da IELB (congregações, distritos, nacional).

Também para o segundo dia, foi reservada uma atividade em grupo, momento no qual foram formuladas propostas referentes à área social, apresentadas a todo o grupo, debatidas e homologadas pelo 2º Fórum. As propostas serão encaminhadas às instâncias a que se referem (congregação/distrito/departamen-tos da IELB) como sugestão para inclusão no planejamento. As propostas também foram incluídas no documento final do Fórum.

A realização e conteúdo deste 2º Fórum Nacional marcaram e deram maior visibilidade à visão da IELB de “sermos uma Igreja Confes-sional que vai ao encontro das necessidades das pessoas”.

mario LEhEnBaUEr | Pastor Coordenador de Projetos e Assessor do DEM/DAS

| SERVIÇO SOCIAL |

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FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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| EDUCAÇãO TEOLÓGICA |

O pastor na estrebariaNossos presépios de Natal sempre incluem

estrebaria e manjedoura. Se não fosse Jesus, nem pensar num presépio assim. Aliás, ele disse uma vez que todos têm seu lugar – até as aves e os animais. Porém, ele, o Filho do Homem, não tinha onde reclinar sua cabeça. O Pai planejou o seu nascimento numa estre-baria, e isso não significa na promiscuidade com animais. No entanto, o fato de Jesus ter nascido numa estrebaria é a suprema condição de humildade. Foi assim que ele nos ganhou, abrindo mão de tudo o que era seu e assumin-do nossa condição de miséria e culpa.

JeSUS, A FigUrA PerFeitA PArA PAStOreS

Ir em busca do perdido e salvá-lo, essa é a missão do pastor. É abrir mão de mui-ta coisa. Descer os penhascos e desafiar os perigos. Carregar a ovelha, na subida,

nos ombros. Ir por ruas e becos escuros à procura de pessoas. É quase arrastar-se, mesmo já estando machucado. Essa tarefa só se faz com Jesus e como Jesus. Ele veio como Pastor. Nós pastores vemos em Jesus nosso Salvador e também nosso exemplo, especialmente, na humildade. É como estar na estrebaria e na manjedoura. É decisivo sermos como Jesus, humildes.

Uma vez chamaram um pastor de quase anormal por passar o dia de Natal, à tarde, visitando e ouvindo uma pessoa difícil e ado-entada. Mas Jesus também não fez caso da sua situação humilde de não ter onde reclinar a cabeça e de ter nascido numa estrebaria.

DA eStreBAriA PArA A glóriATodos quantos conhecem a Jesus, e o

amam, sabem como ele nos ganhou. Ele esvaziou-se a si mesmo, totalmente. Muitos

nem o reconheceram em tudo o que ele é – Deus e homem. Foi obediente até a morte, e morte de cruz. Mas foi assim que nos ganhou, nascendo numa estrebaria e morrendo numa cruz. Por isso, ganhou um nome que está acima de todo o nome: Senhor. Da estrebaria para a glória.

Os crentes amam a Jesus, e desmancham e gastam sua vida por Jesus. Aqui é, muitas vezes, como na estrebaria e no momento em que car-regava sua cruz. Porém, estamos caminhando no rumo de Jesus, para a glória. Nenhum ser humano pode compreender isso pela razão. Contudo, a fé nos assegura a vitória. Esta é a vitória que vence o mundo:a nossa fé.

Com Jesus na estrebaria e nós junto dele, é Natal feliz!

BEnJamin JanDT | Provedor do Seminário Concórdia

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Mensageiro | DezeMbro 2010 31

| PERGUNTA |

Estimado Luiz Martins,Ensinamos que o destino da alma ao

morrer o corpo, sempre será Céu ou Inferno, dependendo se, em vida até a morte, a pessoa confiou em Deus (creu em Deus), mais detalha-damente no Salvador Jesus Cristo, ou não.

Quando isto acontece? Tomando por base a Palavra de Jesus proferida na cruz no momento anterior a sua morte: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Vemos que a passagem para Deus se deu no momento de sua morte, enquanto o corpo permaneceu na cruz até sua retirada para ser sepultado. Quando ressuscitou, a alma tornou a se reunir ao corpo, e Jesus reviveu.

É isto que cremos que acontece quando morre um cristão: no momento da morte, a alma vai para Deus, e o corpo à sepultura. No dia da ressurreição final, a alma retorna ao corpo, e este ressuscita glorioso voltando para Deus.

No caso da morte de pessoas descrentes, acontece o mesmo, com a diferença de que a alma no momento da morte vai para a conde-nação (inferno) e o corpo para a sepultura. No dia da ressurreição final, a alma se reúne ao corpo ressuscitado, e alma e corpo receberão a sentença e voltarão para a condenação.

No dia da ressurreição final, todos os vivos e todos os mortos ressuscitados comparecerão

diante do trono de Cristo para receberem o ve-redito final. Isto está descrito no Evangelho de Mateus 27.31-46. Além disso, o capítulo 15 da Primeira Carta do apóstolo Paulo aos Coríntios é uma detalhada descrição e comprovação da ressurreição dos mortos.

Eu gostaria de esclarecimento sobre onde fica realmente a nossa alma depois da morte até o dia do julgamento.

Luiz Martins

Destino da alma

paulo KErtE junG | Pastor emérito

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| SERVIÇO DE CAPELANIA |

Hospital: um lugar diferente e desafiador

A região Sul do Rio Grande do Sul, tem cerca de 15 mil luteranos, membros da IELB, espalhados em diversos municípios: Rio Grande,

Santa Vitória do Palmar, Pelotas, Turuçu, Mor-ro Redondo, São Lourenço, Cerrito, Pedro Osó-rio, Canguçu, Piratini, Arroio do Padre e outros. Muitos irmãos e irmãs na fé necessitam de atendimento médico especializado na cidade de Pelotas: cirurgias, exames, tratamentos prolongados, UTI neonatal, etc.

Em 2008, as paróquias dos Distritos Sul 1 e Sul 2 da Igreja Evangélica Luterana do Brasil juntaram forças com o objetivo de oferecer atendimento espiritual hospitalar na cidade de Pelotas - que possui sete hospitais e cerca de 350 mil habitantes. Esse cuidado e assistência

espiritual hospitalar não se destina apenas aos membros da IELB. É também para os familia-res, colegas de trabalho, vizinhos e amigos que precisam de uma palavra e um ombro amigo num momento de dor, crise e dificuldade. A Igreja precisa ir onde o povo está e, diaria-mente, passam mais pessoas pelos hospitais do que pelas nossas igrejas locais.

Cada paróquia dos Distritos Sul 1 e Sul 2 definiu um percentual de um salário mínimo nacional para mensalmente apoiar o projeto.

viSitAS DOmiCiliAreS A PACieNteS ONCOlógiCOS

O trabalho da Capelania Hospitalar atua em conjunto com o Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar - PIDI, do Hospital

Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Coordenado pela Dra. Julieta Carri-conde Fripp, o objetivo deste Programa é o atendimento domiciliar a pacientes oncológi-cos (câncer) que necessitam de atendimento das diversas áreas da saúde: fisioterapia, nu-trição, enfermagem, odontologia, assistência social, psicologia e medicina. Desde junho de 2008, o PIDI conta também com o cuidado espiritual sob minha responsabilidade como pastor capelão.

Além das dores físicas e emocionais há a preocupação com os dilemas e dores es-pirituais. Auxiliar no preparo espiritual do paciente e da família, para enfrentar a morte e encontrar-se com Deus, é um grande desafio, pois o índice de óbitos é elevado.

adElar muniEwEG

capelão Hospitalar da ielB em Pelotas, rs

1 Entrega de Castelo Forte aos funcionários do Hospital2 Visita Domiciliar com o PIDI – Programa de Internação Domiciliar3 Grupo Vocal Soli Deo levando consolo no Hospital4 Visita Hospitalar. Entrega de devocionário no Dia dos Pais

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FOTOs: ArquivO PessOAl

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Mensageiro | DezeMbro 2010 33

Eu acompanho essa equipe multiprofissio-nal duas vezes na semana (uma manhã e uma tarde). Também participo quinzenalmente de encontros com os familiares dos pacientes internados. Além das conversas, leituras bíbli-cas e momentos de oração durante as visitas, faço a distribuição de bíblias, devocionários, livretos, mensagens e folhetos. Seguidamente é solicitada minha participação em sepulta-mentos e visitas para as famílias enlutadas.

grAtiDãO A tODOSAlém do envolvimento e comprometimento

de cada Paróquia dos Distritos Sul 1 e Sul 2, dos conselheiros, dos pastores e lideranças, convém destacar o apoio fundamental dos Departamen-tos de Servas da região que não medem esforços, com gestos concretos de amor ao próximo, au-xiliando para que o período de enfermidade nas casas e hospitais seja menos difícil. As servas nos enviam seguidamente alguns presentes que são distribuídos aos enfermos e seus familiares: imãs de geladeira com texto bíblico, vidros em-belezados com crochê, pacotinhos de doces e bolachas (distribuídos no Natal, Páscoa, Dia das Crianças), panos de prato com versículo bíblico, sabonetes enfeitados, flores de E.V.A., toalhinhas bordadas (distribuídas aos doentes e às crianças recém nascidas). Cabe destacar ainda que, desde 2008, as famílias luteranas da região entregaram mais de oito mil fraldas para adultos, mais de duas mil fraldas infantis e centenas de peças de roupas e calçados aos hospitais. A escola bíblica, os leigos e os jovens da região também apoiam o projeto, doando recursos financeiros para a compra de material missionário.

vAliOSOS PArCeirOSQueremos destacar com muita alegria as

diversas doações de material missionário da Hora Luterana. A Liga de Servas Luteranas do Brasil (LSLB) bondosamente nos ajudou nestes dois anos e meio, enviando gratuitamente diversos exemplares dos livretos: Mensagens para Enfermos e Ser Mãe. A Universidade Lu-terana do Brasil (Ulbra), através da Pastoral Universitária, enviou milhares de folhetos que são extremamente úteis no consolo as dezenas de pessoas que conhecemos e encontramos diariamente. A Editora Concórdia nos remete preciosos exemplares da revista Boas Novas.

Graças a esses apoios, nenhuma pessoa que contatamos diariamente fica sem algo para meditar sobre a Palavra de Deus. Também agradecemos profundamente à IELB (COOPO-GRAD e FAPI) e às paróquias dos distritos Sul 1 e Sul 2 pelo apoio fundamental para a reali-zação de cursos de capacitação com o objetivo de melhor desenvolvermos esta tarefa de representarmos a IELB e sermos embaixadores de Cristo, nos diversos hospitais, quartos, UTIs e residências em Pelotas. Um agradecimento especial aos pastores Mário Sonntag e Renato Hoerlle, grandes incentivadores do trabalho

da Capelania Hospitalar em nossa igreja e professores de muitos cursos e congressos.

DeSAFiO e iNCeNtivOQue mais distritos da nossa IELB se unam

e, juntos, coloquem mais pastores Capelães neste trabalho tão difícil, mas tão gratificante de levar o amor, o consolo, o perdão e a salvação que há em Cristo para muitos enfermos e suas famílias. E não apenas pastores, mas senhoras, homens e jovens podem se envolver mais no ambiente hospitalar. Corais, grupos vocais, gru-pos de teatro e de visita e professoras de Escola Bíblica podem fazer uma grande diferença na vida de muitas famílias. Quem sabe o seu dis-trito possa promover um curso de capacitação para visitas nos lares e nos hospitais?

Tivemos essa experiência no dia 1º de agosto em Pelotas. Quatro palestrantes de São Paulo, da Associação de Capelania Evangélica Hospitalar (ACEH) nos ensinaram durante 8 horas. Cerca de 180 pessoas de toda a região Sul do RS, participaram de um curso breve, e iniciativas bonitas já surgiram: jovens con-tando histórias bíblicas na pediatria de um hospital, grupo musical cantando no hospital, líderes visitando doentes num hospital de uma cidade em que existe um ponto de missão.

Há centros maiores em cada estado, onde diariamente circulam milhares de pessoas em busca de auxílio para seu corpo e também para sua alma aflita e angustiada. Os hospitais são excelentes locais para levarmos e vivermos nosso lema: Cristo Para Todos! Também para pensarmos nas palavras de Jesus: “Estava doente e cuidaram de mim” Mt 25.36. m

A Igreja precisa ir onde o povo está e, diariamente, passam mais pessoas pelos

hospitais do que pelas nossas igrejas locais.

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Respingos de um resgate

E u nunca sei quando a emoção vai me pegar mais intensamente. Gosto de vibrar, de acompanhar, de sentir com o outro o que lhe vai

no coração. No entanto, esqueço o quanto a situação do outro se mistura com a minha, principalmente com uma situação que eu já vivi.

A situação dos mineiros soterrados em uma mina no Chile e suas famílias era uma

situação real para mim e o meu marido. Nós oramos por eles, pedindo a Deus o milagre do resgate. O Mike, engenheiro de minas em Charqueadas, RS, foi responsável pela manutenção da mina de carvão e, por um pe-ríodo, pela mina toda. Sob os seus cuidados, estavam 800 homens, sendo que 400 desciam os 300 metros para dentro da terra com ele. Esta experiência durou sete anos.

Quero compartilhar os meus sentimentos

com você, leitor, não para colocar o Mike e eu como pessoas fora do comum, mas para repartir a alegria e emoção que senti ao ver o milagre do resgate acontecer.

“Eles não tinham chance, nunca houve resgate de uma profundidade assim antes, mas se conservaram na esperança por 69 dias e foram resgata-dos...” foi a expressão de um repórter ali presente.

Na manhã do dia 13 de outubro, eu vi uma cena que abriu na minha memória uma “gaveta” e me fez voltar e reviver os sete anos de esposa de mineiro. Eu chorava sem poder parar, mistura de alegria e expectativa pelos outros que ainda se encontravam na escuridão da mina.

Resolvi escrever para os nossos três filhos e compartilhar com eles o que sentia. Só então consegui parar de chorar. Neste sentido, eu repasso aqui a mensagem que escrevi a eles:

“Meus queridos filhos!

Amanhecemos com a boa notícia dos mi-neiros sendo salvos um a um da mina no Chile. Eu não fiquei acordada, precisava desta noite de sono, mas hoje, ao ver o primeiro resgate na TV, meu coração voltou há quarenta e tantos anos. Eu recordei, ao vivo, na minha memória, os momentos de expectativa sempre que havia um caimento na mina. O que mais me emocio-nou foi o menino que aparece na tela (antes chorando) rindo, indo ao encontro do seu pai. Cada dia, ao nos despedirmos, e eu grávida de um de vocês, nos fortalecíamos na confiança de que Deus cuida de nós todos, seus filhos por Jesus Cristo. Eu sabia que não estava sozinha, mas sempre nos alegrávamos muito quando nos reencontrávamos depois de cada descida do Mike. A gente aprende a confiar em Deus mais do que em tempos de “tudo vai bem”, a gente sabe que nada pode fazer e que tudo depende dele, da sua graça.

Na manhã do dia 13 de outubro, eu vi uma cena que abriu na minha memória uma “gaveta” e me fez voltar e reviver os sete anos de esposa de mineiro.

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| TESTEMUNHO |

roSEmariE KUnSTmann LanGE

Colaboradora do ML, Porto Alegre, RS

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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Como responsável pela manutenção da mina, o Mike tomava todas as providências, mas ele também sabia que a mão de Deus se-gurava o teto das galerias onde ele não via as falhas. Eram 800 homens na mina, sendo que 400 homens trabalhavam há 300m em baixo da terra. Talvez isso tenha fortalecido muito a nossa fé em Jesus, nos deixou humildes sempre em qualquer situação, principalmente nos períodos de bonança, e estes momentos foram alternados por períodos de muita ansiedade para que conservássemos os nossos olhos no Senhor e não nas nossas forças, possibilidades e inteligência.

Sempre acreditamos que Deus ainda faz milagres hoje, vivemos isso com a Karin, a boa saúde do pai hoje e agora o milagre do resgate desses mineiros, nunca antes acontecido. Talvez esta situação nos faça compreender melhor nosso resgate por Jesus, resgate de uma situ-ação sem perspectiva. Mike estava sempre a 300m embaixo da terra, aqueles a 700m... qual a diferença? Nenhuma!!!

Mike e eu pudemos ver crescer os nossos fi-lhos, vimos os netos... que mais nós queremos?

Lembrem sempre de agradecer por todas as dádivas de Deus para com cada um de vocês. Se examinarem, verão milagres na vida de vocês também...”

Você, leitor, o que sentiu ao ver renas-cerem 33 homens, pais de família, pessoas sem possibilidade de fazerem algo por si mesmas para se salvarem? Assim é a situa-ção das pessoas sem Jesus. Nada, nenhuma ideia, atitude, obra... nada pode resgatá-las da situação de perdidos, afastados de Deus para sempre. O resgate é Jesus, que deu a sua vida para que “...todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Não há paralelo melhor, uma maneira mais eficaz de mostrar a obra salvadora em Jesus. Deus tem propósito em tudo o que ele faz, também no resgate dos mineiros que ele permitiu serem devolvidos às suas famílias.

Sejamos famílias agradecidas e atuantes para mostrarmos aos outros o caminho do resgate, da salvação eterna.

Deus abençoe você, leitor!

Lembrem sempre de agradecer por todas as dádivas de Deus para

com cada um de vocês. Se examinarem, verão

milagres na vida de vocês também...

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”m

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Cristãos na alegria e na tristeza

T oda vez que minha sobrinha de 5 anos fala do enterro de sua mãe, ela repete esta frase: “tinha tanta gente na Igreja”.

Ainda estávamos no mês de março, e este já era o meu terceiro enterro no ano de 2010: em ja-neiro, meu melhor amigo perdeu seu avô, um de-voto cristão católico; em fevereiro foi outro grande amigo que sepultou seu pai, um político; e agora, minha querida irmã, uma cristã luterana...

Era um fim de noite de janeiro quando soube do falecimento do Sr. Herculano. Imediatamente, me dirigi à Capela do Cemitério Municipal, onde o corpo estava sendo velado, ávido por dar um abraço em meu amigo que chorava a morte de seu avô, e me deparei com as portas fechadas. A família havia deixado o corpo ali para ir descan-sar em casa. Saí obviamente frustrado...

Na manhã seguinte, voltei à Capela e soube que o Padre acabara de passar por lá para “fazer uma reza”. “E que horas será a cerimônia?”, perguntei. “Cerimônia?” Não ha-veria cerimônia, o padre sequer acompanhou o cortejo de poucas pessoas cujo silêncio só foi interrompido pelas angustiantes badaladas do sino no cemitério... Percebi que ficaríamos nisto mesmo quando começaram a selar o túmulo, e perguntei ao meu amigo se gosta-ria que eu dissesse alguma coisa. Enquanto ele recusava, um dos presentes propôs que orassem um Pai-Nosso e uma Ave Maria… e assim foi sepultado o Sr. Herculano.

O enterro do Sr. Paulo foi bem diferente. Nunca soube sobre sua religiosidade, mas ele era um pioneiro da cidade, caridoso, muito querido por todos. Na capela ao lado do Cemitério, havia dezenas de coroas de flores: Câmara Municipal, entidades e associações diversas, e políticos co-nhecidos assinavam algumas das que li. Muitas pessoas da comunidade, que aparentemente nem tinham contato com ele, choravam. “Ah,

se as boas obras salvassem”, pensei. Sua des-pedida, embora com muitas homenagens, foi igualmente fria, silenciosa, vazia... Sem padre, sem cerimônia, sem conforto.

Jucielli faleceu ao final da noite de sábado. Embora no domingo de manhã tivesse culto, seu corpo mesmo assim foi velado na igreja, como era sua vontade: local onde viveu seus momentos mais felizes – se casou e batizou seus dois filhos... O pastor local, Elton Luithardt, iniciou o culto dizendo: “nós estamos chorando, mas hoje há grande festa no Céu!”.

Passados alguns meses, minha sobrinha de 5 anos lembra o quanto a igreja estava cheia, e ainda sabe citar trechos da mensa-gem do pastor que marcariam nossas vidas para sempre. As centenas de pessoas que compareceram no culto presenciaram uma solenidade com hinos, orações, mensagem, e assim foram confortadas.

Já vi muitos descrentes dizerem que diante da morte “sentem inveja” dos cristãos... Vi isso ainda no cemitério quando meu amigo, ateu por hereditariedade, neto do Sr. Herculano, me disse que estava cogitando fazer as pazes com Deus. Ao longo de uma vida, ouvimos algumas dezenas de vezes as palavras “pó ao pó, terra à terra (...)”, mas foi nas duas vezes em que não as ouvi que sua relevância ficou mais evidente.

| TESTEMUNHO |

ivES roGEr möLLEr | Curitiba, PR

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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A comunhão horizontal

A s necessidades básicas de todos os seres humanos, de qualquer faixa etária e/ou cultura social, são: ar, água, alimento e afeto (ou amor).

Os quatro ‘As’ (em português) são o fundamen-to para a sobrevivência humana. Sem algum deles, o indivíduo morre em segundos (falta de ar), dias (carência de água e alimento) ou meses (ausência de relações afetivas).

Casos extremos de pessoas que sobrevive-ram, por mais de um ano, sem nenhum tipo de contato afetivo (por exemplo, náufragos solitários) dão conta de que, ao serem rein-tegradas ao convívio social, apresentavam maior déficit em sua saúde psicológica do que na saúde física, mesmo quando esta última estava fragilizada por uma alimen-tação precária.

Acredito que Deus tinha em mente as necessidades afetivas do ser humano quando instituiu a família, como desdobramento da

parelha homem-mulher. O núcleo familiar apresenta outras vantagens, sob o prisma econômico e social, principalmente em de-terminadas culturas, mas o ganho afetivo é, sem sombra de dúvida, o principal benefício que a família proporciona aos seus membros. E quanto maior o número e a diversidade de influências sobre o processo de desenvolvi-mento de um novo indivíduo, mais robusta e equilibrada será a personalidade do mesmo. Portanto, é no seio de um clã familiar nume-roso, incluindo avós, tios, primos e/ou outros parentes, que uma criança encontrará maiores chances de se transformar em um adulto reali-zado, desde que as relações entre os membros dessa família sejam apoiadas em respeito, compromisso emocional e afeto genuíno.

FAmíliA AmPliADANo entanto, as famílias também não estão

totalmente protegidas de abalos emocionais.

As dificuldades financeiras, as doenças graves, o divórcio ou o luto são algumas das muitas dificuldades que podem atingir núcleos fami-liares, privando seus membros do necessário amparo afetivo e inserindo-os em um angus-tioso turbilhão emocional.

Para esses momentos – e para as pessoas que, como eu, não constituíram um novo núcleo familiar depois de perder o ancestral – Deus proveu uma família maior, muito mais estável e resistente frente às eventuais con-vulsões circunstanciais: a família da fé! Esse grupamento humano, apesar de ser formado a partir de relações geralmente menos íntimas, oferece um leque de influências mais diversi-ficado e um “guarda-chuva” bem mais amplo e eficaz nas situações difíceis. É, portanto, um excelente substituto, para os clãs sociais da antiguidade – banidos da nova vida cotidiana, nas cidades do século XXI.

Ou, ao menos, deveria ser!...O que vemos mais comumente, em nosso

dia a dia, é a priorização de tarefas e com-promissos que tragam algum tipo de retorno financeiro ou de reconhecimento social, em detrimento das necessidades psicológicas – espirituais e emocionais, nossas e das pessoas que nos cercam. Para essas, não reservamos “agenda” e as atendemos, precariamente, com o tempo “que sobrar”... (E, por isso, a cada dia fica mais difícil nos depararmos com indivídu-os realmente felizes e realizados...)

OS relACiONAmeNtOS, COmO eStãO?

Como Igreja, uma urgente e importan-tíssima reflexão se faz necessária em relação ao nosso contexto afetivo. Como está nosso relacionamento humano, no seio de nossas congregações? Nossos membros sentem-se abraçados pelo interesse e pela preocupação dos irmãos? Nossos visitantes sentem-se

| VIDA EM FAMÍLIA |

mona Liza fUhrmann Psicóloga e consultora organizacional

“Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1 Jo 3.18)

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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bem-vindos e acolhidos carinhosamente? Será que no aspecto da comunhão horizontal, nós, luteranos da IELB, não estamos deixando muito a desejar?

Na instrução doutrinária, aprendemos que a comunhão vertical entre nós e Deus é estabelecida por obra e graça do Espírito Santo, ao termos a fé na redenção de Cristo implantada em nossos corações e sermos mo-vidos ao contrito arrependimento de nossos pecados diários. Aprendemos também que, a partir dessa conexão com o Deus Triúno, somos capazes de estabelecer a comunhão horizontal com outros indivíduos que com-partilham nossas crenças e percepções em relação a essa conexão. Comunhão essa que atinge seu ponto alto nos aspectos vertical e horizontal, na celebração do sacramento do altar, a Santa Ceia.

Sabemos que no aspecto vertical nossas crenças estão corretas à luz da Bíblia e nossas práticas satisfatórias, apesar de imperfeitas, se considerarmos a natureza pecadora do ser humano que briga diariamente com nossa conversão. Porém, em relação ao aspecto horizontal, estou convicta, temos atitudes e comportamentos bem distantes do ideal e, frequentemente, perdemos irmãos para outras denominações por não conseguirmos evidenciar nosso amor por eles.

miNHA exPeriÊNCiAParticularmente, tenho uma vivência

afetiva muito gratificante no seio da Igreja. Guardo com carinho a lembrança de como a Congregação Cruz, do bairro Petrópolis, em Porto Alegre, me envolveu em seu amor solidário quando perdi, no espaço de um ano, minha avó e minha mãe, que constituíam meu núcleo familiar mais próximo. Com apenas 23 anos, não me senti em nenhum momento sozinha ou desamparada, porque sentia a força e a companhia da família maior me cercando e me amparando em todas as eventuais necessidades.

Em seguida, aceitando um convite pro-fissional, mudei-me para Vitória – onde não conhecia ninguém. E, novamente, a família da fé ielbiana cumpriu cabalmente seu papel. Encontrei na Congregação Redentor, onde sou membro até hoje, todo o interesse e o envol-vimento afetivo necessários à adaptação em uma cidade desconhecida. Contudo, apesar desta experiência pessoal tão positiva, creio que precisamos aprimorar muito nosso rela-

cionamento afetivo no ambiente da igreja, considerando inúmeros depoimentos magoa-dos de irmãos e ex-irmãos que já escutei.

AçõeS De ACOlHimeNtO gerAm COmUNHãO

É necessário que tracemos estratégias concretas de integração aos visitantes e de procura pelos afastados, bem como plane-jemos atividades sociais, que possibilitem uma maior proximidade emocional entre os irmãos. Além disso, é imprescindível que de-diquemos mais tempo e um esforço genuíno nas demonstrações de carinho e preocupação pelas pessoas que nos cercam.

Esta é a principal finalidade dos grupa-mentos humanos: apoiar-se e proteger-se mu-tuamente. Na antiguidade, o tipo de proteção mais necessário à sobrevivência era a física; hoje, é a afetiva. As dificuldades e frustrações inerentes ao mundo atual precisam ser com-

pensadas, ou ao menos minimizadas, em um ambiente emocional caloroso e verdadeiro.

E a igreja local (a congregação ou a pa-róquia) é o ambiente por excelência para promover as práticas gregárias e a interação social, incentivando as relações de amizade em um nível mais intimista e deixando do lado de fora de suas portas, o máximo possível, as fofocas, a maledicência, a inveja, o ciúmes, a competição acirrada e os conflitos, tão perti-nentes à vida humana.

À medida que um concreto e profícuo interesse pelo próximo permear de forma mais visível no nosso dia a dia congregacio-nal, estaremos transformando a família da fé no necessário e suficiente “muro de arrimo” para as dificuldades pessoais e familiares de seus membros, bem como vivenciando a recomendação do apóstolo João: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1 Jo 3.18). m

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PuBliCiDADe

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Primeiro periódico luterano no Brasil

E m 25 de dezembro, o Mensageiro Lute-rano completa 93 anos de circulação. Por isso, nesta edição, vamos contar um pouco da sua trajetória. Este é o

veículo oficial da Igreja e sua história se confunde com a história da IELB.

Até o ano de 1917, o Kirchenblatt – Evangelisch Lutherisches Kirchenbaltt fuer Suedamerica (Jornal da Igreja Evangélica Luterana para a América do Sul) – era o periódico da Igreja Luterana para a América Latina. Ele foi criado pelo pastor Wilhelm Mahler em 1903. Como os missourianos foram acusados de intrusos pelo Sínodo Riograndense, o objetivo de Mahler era defender o trabalho do Sínodo de Missouri no Brasil de ataques injustos e calúnias. Outra função do periódico foi aproximar as diferentes congregações deste Sínodo no Rio Grande do Sul e fazê-las sentir que eram uma só Igreja e que confessavam a mesma fé.

No lugar do periódico em alemão que parou de circular em função da 1ª Guerra Mundial, passou a ser publicado, em 1917, o Mensageiro Christão que na 15ª edição pas-sou a chamar-se Mensageiro Lutherano. Era dividido em duas partes: uma em português e outra em inglês. Em língua portuguesa, a revista era editada pelo pastor e professor L.C. Rehfeldt e T. Strieter e em língua inglesa,

| RESPINGOS DA HISTÓRIA |

pelo pastor e professor J. F. Kunstmann.O primeiro número foi impresso em preto

e branco, tendo diagramação mais formal, com duas colunas e sem fotos.

Em 1921, Rodolpho Hasse assumiu como Diretor responsável e redator. Ele exerceu a função por mais de 40 anos.

A eDitOrA CONCórDiAEm 13 de agosto de 1923, foi fundada a

Casa Publicadora Concórdia. Na época, gráfica e editora. Hoje, só editora, pois toda a impressão é terceirizada.

Em 1926, já estava sendo impresso o Kirchen-blatt, o Mensageiro Luterano, o Luther-Kalender (um anuário para a família que começou a ser publicado em 1925), os documentos do Distrito Brasileiro, livros-texto para escolas paroquiais, hinários, folhetos e outros materiais.

A Casa Publicadora Concórdia foi um dos fatores mais importantes para que a transição do uso da língua alemã para a língua portugue-sa fosse tão eficaz, amenizando o impacto que a rápida mudança de língua causou na vida da Igreja. Porém, durante a 2ª Guerra Mundial, por aproximadamente dois anos, todas as publicações em língua alemã tiveram de ser interrompidas.

O Kirchenblatt voltou a circular em janeiro de

1947. Pouco tempo depois, passou a ter maior número de assinantes do que qualquer outro peri-ódico brasileiro. Neste período, o Mensageiro Lute-rano continuou a ser publicado regularmente.

O número de assinantes do Kirchenblatt, em 1958, era de 3.770 assinantes, enquanto que o Mensageiro Luterano registrava 1.966 assinaturas.

No início da década de 1960, apenas 10% das famílias luteranas recebiam esses periódicos. O Mensageiro Luterano, órgão oficial da Igreja, tinha uma tiragem de 2.500 exemplares. Em 1964, a Convenção da Igreja decidiu investir nas revistas da Igreja para que melhorassem, substancial-mente, seus conteúdos e apresentações.

Em 1966, o periódico começa a ser impresso totalmente em duas cores. Foi a partir daí tam-bém que o pastor Leopoldo Heimann passou a atuar como editor-chefe.

A primeira vez que uma publicação saiu com a capa totalmente colorida foi na edição de janeiro e fevereiro de 1970. É desta data também o primeiro Mensageiro das Crianças.

No fim da década de 70, o jornal Mensageiro Luterano foi transformando em revista. Além de contar com mais colaboradores na sua produ-ção, recebeu nova apresentação gráfica, passou a apresentar maior número de reportagens e

DaiEnE BaUEr KÜhL * Equipe Editorial Concórdia

o

Novembro 2010 | N 11 | Ano 93

ISS

N 1

679-0

243

Exemplar avulsoR$ 4,90

9771679

024000

Doutrina e praxe Fundamentalismo religioso EméritosHá 70 anos unidos no amor e na fé

Do leitorMedula Óssea

pág. 14

pág. 23

pág. 26

A vida e o pote

Ambos só tem sentido pelo seu conteúdo

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42 Mensageiro | DezeMbro 2010

entrevistas, retratando assim a dinâmica do trabalho na Igreja, no país e no mundo.

Foi na mesma época também que os leitores passaram a interagir com seu conteúdo, enviando comentários, sugestões, críticas e perguntas.

CONtextUAlizAçãOEntre 1984 e 1995 foram responsáveis pelo

Mensageiro, os pastores Nilo Figur, Astomiro Romais, Oscar Lehenbauer e Paulo Weirich. Na década de 80, o Mensageiro Luterano continuou a levar notícias às famílias luteranas de todo o Brasil. Muitos assuntos foram abordados, tais como: ecumenismo, a Teologia da Libertação e o surgimento da Aids.

A Guerra Fria também mereceu algumas referências em edições do periódico nessa época. A preocupação com o perigo de armas nucleares e um eventual conflito entre os blocos capitalista e socialista, por exemplo, tiveram destaque nas páginas da revista.

Durante a formação da Assembleia Consti-tuinte e a elaboração de uma nova Constituição brasileira, no momento em que o país passava por uma redemocratização, o Mensageiro Luterano publicou diversos artigos sobre o relacionamento entre Igreja e Estado, e a responsabilidade e atu-

ação do cristão nas duas instituições. O direito à greve, a reforma agrária e o processo eleitoral também foram temas abordados.

Oitenta e sete anos após a publicação da primeira edição, em dezembro de 1990, o Kir-chenblatt circulou pela última vez. A decisão de encerrar sua publicação foi tomada em vista do número, cada vez menor, de assinantes.

PeríODO De mUDANçASNa década de 1990, foram muitas as mudan-

ças no Mensageiro Luterano. A publicação oficial da IELB passou por várias modificações. No perí-odo de julho a dezembro de 1992, o Mensageiro circulou com novo projeto gráfico. No entanto, visando reduzir custos, as capas coloridas e o for-mato de revista foram deixados de lado. A partir de 1993, o periódico passou a ser publicado em tamanho maior e com o uso de papel jornal.

Porém, três anos mais tarde, voltou a ser impresso em papel branco e de melhor qualidade. Ainda no ano de 1996, o jornal voltou a incluir o periódico Mensageiro das Crianças, um encarte de quatro páginas. Assim, novas alterações no visual, com novas colunas, foram incorporadas.

Em 1996 o pastor Dieter Joel Jagnow passou a exercer a função de redator-chefe. Em 1998, a

primeira e a quarta capas do jornal Mensageiro Luterano passam a ser completamente colori-das. Em 2003, o formato volta a ser de revista e o miolo também recebe uma segunda cor. A partir da edição de julho de 2006, a revista passa a ser impressa inteiramente colorida. Em março de 2008, o pastor e jornalista Nilo Wach-holz assume a função de redator-chefe.

A publicação hoje conta com o apoio de pastores e colaboradores que, mensalmente, mandam material para ser publicado. Além disso, recebe artigos e notícias dos leigos, de-vidamente enviados para a sua redação.

Atualmente, a média da revista é de 48 pági-nas de miolo, e conta com diversas editorias que são variadas conforme a pauta mensal. A revista tem uma tiragem de nove mil exemplares, sendo que a maioria é distribuída por assinaturas.

Desde a primeira edição, o periódico é im-presso sem interrupção e hoje circula por todos os estados brasileiros, inclusive para outros pa-íses. Estima-se que o Mensageiro Luterano tenha cerca de 25 mil leitores, o que representa 10% do público da IELB. Esta é a edição 1.154.

* Colaborou paULo UDo KUnSTman Instituto Histórico da IELB

| RESPINGOS DA HISTÓRIA |

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44 Mensageiro | DezeMbro 2010

St Paul, Des Peres

É membro desta igreja o casal pastor Ellis e Joyce Rottmann, ex-missionários americanos no Brasil, grandes amigos e apoiadores de todos os brasileiros que vão a St. Louis. Fomos hospedados por Ellis e Joyce diversas vezes em nossas passagens por St. Louis e visitamos esta igreja. O atual Presidente da LCMS, Rev. Matthew C. Harrison, também é membro desta congregação. Dr. Ellis escreve:

riais. Isto inclui tanto apoio financeiro como mão de obra para construções e reparos.

Nossa “Samaria” inclui atividades que atingem outras culturas, seja ao nosso redor e em outras partes do mundo. Isto inclui uma congregação de vietnamitas em St. Louis e o apoio à Sociedade Missionária Apple of His Eyes, dedicada à missão entre judeus nos EUA, na Rússia e em Israel.

A congregação também procura atingir “os confins da terra”. Anualmente é dado apoio a diversos missionários no exterior.

Deus tem abençoado a igreja St. Paul, Des Peres, de muitas maneiras. Hoje, 2.500 membros formam a comunidade, com uma frequência média de 1.200 pessoas por final de semana nos cinco cultos que oferece”, finaliza o casal Ellis e Joyce Rottmann.

Conheça mais a comunidade St. Paul: www.stpaulsdesperes.org

carLoS waLTEr winTErLE | Pastor em nairoibi, Quênia

nota da rEdação: a partir desta edição, este espaço é coordenado pelo pastor carlos Walter Winterle. colaborações devem ser enviadas para: [email protected]

“É sempre uma alegria relembrar o nosso tempo no Brasil! Fomos mandados para lá logo após a minha formatura no Concordia Seminary, de St. Louis, em 1956. O Senhor sabia que não conhe-cíamos nada da cultura brasileira, nem sabíamos falar alemão ou português, mas ele nos conduziu a um povo muito acolhedor que nos aceitou como parte da sua família em Linha 8 Oeste, Ijuí, RS. Voltamos depois ao Brasil diversas vezes e culti-vamos muitas amizades que perduram até hoje. O Brasil e, especialmente, a IELB têm um lugar muito especial em nosso coração.

Retornamos aos Estados Unidos em 1962, onde atendi diversas paróquias por 12 anos. De l973 a l996 trabalhei em Illinois e nos Distritos de Missouri, na área de Evangelismo e Mordomia. Desde l996, tenho trabalhado em tempo parcial

em várias atividades. Atualmente, sou editor da revista online Evangelgram, da LCMS.

Somos membros da igreja St. Paul, Des Peres desde 1979. A congregação começou em l849 e fundou um orfanato em l868. O orfanato fechou nos anos l960. Em l998, Dr. David Smith, ex-deão (dignitário ou responsável máximo de um orgão colegial da Igreja) do Concordia Seminary, foi chamado como pastor administrativo. Ele tem sido um forte líder na área de Evangelismo, um bom administrador, e tem o dom da pregação. Sob sua liderança, a congregação organizou o seu ministério sob o lema de Atos 1.8: “E sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”.

“Jerusalém” reflete toda a ação da congrega-ção em prol da vizinhança. Temos uma escola, uma pré-escola e uma creche. Temos um progra-ma em que mães podem deixar os seus filhos durante algumas horas, para que elas possam atender outros compromissos. Estas atividades atingem cerca de 400 crianças, muitas das quais não têm igreja. É desnecessário dizer, mas este é um forte braço missionário. Outras atividades incluem aconselhamento para enlutados, desem-pregados e divorciados nas suas crises.

Nossa “Judéia” inclui as congregações vizi-nhas com suas necessidades espirituais e mate-

| IGREJAS PELO MUNDO |

FOTOs: CArlOs wAlTer winTerle

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Mensageiro | DezeMbro 2010 45

| COMUNICADOS |

Caros agentes de literatura e pastores

A Editora Concórdia, para melhor aten-dê-los, está trabalhando na reorganização do cadastro de seus clientes. Este trabalho vem sendo desenvolvido, há três meses, pela Sra. Carla Schüler, pois é importante para a Editora Concórdia saber quem são e onde estão os agentes de literatura de nossas comunidades. Os contatos foram realizados através de telefonemas e de e-mails, nos quais enviamos uma ficha de cadastro para preenchimento de dados.

Queremos agradecer aos pastores e agentes que prontamente nos atenderam, bem como pedir, para aqueles que ainda não o fizeram, que entrem em contato com a editora para atualização de seus dados. Lembrando que os cadastros que não forem atualizados serão cancelados no sistema da Editora.

ContatoSFone/Fax: (51) 3272-3456e-mail: [email protected]

Cultos na praiaCAPãO DA CANOA, rS - Fone: (51) 3625-3153Dezembro: Domingo – 9 horasDia 19 – Programa de Natal – 20h30Janeiro e Fevereiro: Sábados – 20 horas e Do-mingos – 9 horas xANgri-lÁ, rS - Fone: (51) 3689-1213 (Loja Xik-Xik)1º e 3º Domingo – 20 horas

livrAmeNtO (BR 101, km 86), Osório, RS – Fone: (51) 3683-8202Janeiro e Fevereiro: 2º Sábado – 17 horas e 4º Domingo – 9 horas

Contato: pastor Ismael [email protected] (51) 9402-0506

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46 Mensageiro | DezeMbro 2010

International Lutheran Council

Entre os dias 25 e 27 de outubro, aconteceu a reunião do Comitê Executivo da Internatio-nal Lutheran Council (ILC), em Wittenberg, Alemanha. Participaram desta reunião os representantes da ILC no mundo: Hans Jörg Voigt, bispo da Alemanha, representando a Europa; pastor Robert Bugbee, presidente da Igreja Luterana do Canadá, representando a América do Norte; pastor Christian Ekong, presidente da Igreja da Nigéria, representando a África; pastor James D. Cerdeñola, presidente da Igreja Luterana das Filipinas, representando a Ásia; pastor Egon Kopereck representando a América Latina. Também estiveram presentes os pastores dr. Samuel H. Nafzger, secretário executivo da ILC; Gijsbertus van Hatten, presi-dente da Igreja Luterana da Bélgica, servindo como secretário da ILC; e ainda o dr. Matthew C. Harrison, novo presidente da LCMS, e o seu assessor dr. Albert Collver.

A reunião foi muito boa. Ouvimos os relató-rios sobre as atividades da Igreja Luterana em cada continente, e começamos os preparativos para a reunião plena do Concílio em setembro de 2012, no Canadá. Além disso, tivemos um momento solene e de grande significado no dia 27 de outubro, quando nos dirigimos ao Jardim de Lutero, onde serão plantadas 500 árvores em comemoração aos 500 anos da Reforma. Ali, fize-mos um momento devocional, destacando que “estamos conectados em Cristo”. Depois, cada

representante plantou uma árvore nesse Jardim. A árvore de número 145 é da IELB, conforme o certificado que podemos ver ao lado.

Todos os preparativos agora caminham para os 500 anos da Reforma. Os temas de estudo giram em torno disso.

Entre os dias 24 e 27 de agosto de 2011, acontecerá o encontro da ILC da América Latina, no Chile. Estamos en-carregados e provi-denciando a organi-zação do mesmo.

Um dos grandes objetivos da ILC é manter a unidade confessional da Igreja Luterana no mundo. Temos mui-tos desafios – pen-samos e planejamos como levar mais e melhor o Evangelho de Cristo ao mundo. Temos dificuldades, em alguns continentes, nas nossas igrejas, mas isto também nada mais é do que a prova de que ainda estamos na Igreja militante.

Que Deus abençoe, oriente e proteja a nossa

| IELB NO MUNDO |

querida IELB, para que sempre, com fidelidade às Sagradas Escrituras, vivamos, pratiquemos e proclamemos Cristo para Todos.

EGon KopErEcK | Presidente da IELB

FOTOs: ArquivO PessOAl

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Mensageiro | DezeMbro 2010 47

A Bíblia de meu paiAqui, diante de mim, está a Bíblia que

meu pai costumava ler para mim ao brilho amarelado de uma lamparina de petróleo; sob cuja luz atenuada as expressões de minha mãe adquiriam um resplendor de que ainda tão bem me recordo.

Mas meu pai se foi para o seu lar, lá no céu, há mais de 30 anos. Minha mãe, que tem quase 86, ainda vive conosco. Frequen-temente, leio este velho livro que apresenta os estragos do tempo, e, ao lê-lo, vejo man-chas amareladas em suas páginas – lágrimas que caíram dos olhos de meus pais. Ambos tiravam um momento dos seus afazeres e das ocupações diárias para ler a Palavra de Deus em companhia de seus filhos. Nunca deixaram de implorar as bênçãos de Deus sobre cada um de nós, depois de já haverem dado graças a Ele pelas bênçãos recebidas

no decorrer do dia.Por muitos anos, esteve a

Bíblia sobre uma mesinha na sala de nossa casa. Este livro deu aos meus piedosos pais a fonte principal de valor e de es-perança, mesmo nas situações mais difíceis, permitindo-lhes cimentar na vida de seus filhos a norma das Leis de Deus.

Oh, velho livro! Tu és meu melhor companheiro, minha melhor fonte de alegria, o melhor presente para uma criança nesta terra; és a Palavra viva de Deus. Que o Senhor me conceda, nestes dias atarefados, nunca deixar de ler as suas preciosas páginas.

Amado livro: na vida de meu pai e de

minha mãe, vi a tradução mais convincente de tuas verdades!

aUTor DESconhEciDo | Lar Cristão 1984, pág. 97, Editora Concórdia

| DIA DA BÍBLIA |

FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

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48 Mensageiro | DezeMbro 2010

Bíblia na tela do computador

S erá que um dia aquelas “pessoas ins-piradas por Deus” imaginaram que o livro por elas escrito e transcrito chegaria onde está hoje? Será que

chegaram a vislumbrar que a Bíblia seria o livro mais vendido do mundo? Poderiam acreditar se alguém, naquela época, dissesse a elas que a Bíblia estaria na tela de um computador? Talvez, o mais perto disso que puderam chegar foi o fato de terem vontade de que esta Palavra chegasse muito, muito longe.

Os avanços tecnológicos chegam rapida-mente à casa das pessoas. Podem ser usados para benefício ou malefício. E Nelson Saba, idealizador do projeto que vamos apresentar aqui, soube utilizá-los, muito bem, para be-nefício de milhares de pessoas e proclamação ainda maior da Palavra de Deus.

A BíBliA glOwSão necessários apenas dois cliques do

mouse para o universo do Livro Sagrado se desenhar na tela de seu computador. É a tec-nologia a serviço da Palavra de Deus. A Bíblia Digital Glow é um lançamento inovador e

interativo, resultado de uma parceria entre a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) e a Immersion Digital, e já está disponível no Brasil para com-pra. “Queremos oferecer para todos os cristãos a experiência de explorar e aprender de forma única e completa o mundo bíblico”, destaca Saba que, além de idealizador do Glow, é diretor executivo e fundador da Immersion Digital.

São diversos os recursos para que o usuário do Glow possa fazer uma viagem no tempo e mergulhar onde determinados fatos ou pas-sagens bíblicas aconteceram. O Glow é uma plataforma multimídia, com visual moderno e tecnologia de ponta, que oferece uma navega-ção simples e intuitiva. Ou seja, o usuário, pelo mouse ou pelo toque – no caso de aparelhos móveis com tela touch screen –, percorre facil-mente todo o conteúdo bíblico.

No Glow, cinco lentes servem de acesso à Bí-blia e seus recursos. As lentes são chamadas de:

- Bíblia, apresenta o texto bíblico em sua forma tradicional, com o diferencial de poder ser pesquisado e selecionado de acordo com a necessidade do usuário.

- Atlas é a segunda lente, que apresenta even-tos bíblicos representados geograficamente. Mais do que isso, com apenas dois cliques é possível acessar qualquer parte das Escrituras Sagradas.

- Na linha do tempo os acontecimentos da Bíblia estão organizados cronologicamente.

- tópicos, apresenta itens relacionados à vida das pessoas, além de passagens que contri-buem para enfrentar os desafios do dia a dia.

- mídia, reúne uma seleção de vídeos e fotos, entre outros recursos audiovisuais.

Graças à tecnologia de ponta, o Glow pos-sibilita fazer passeios virtuais. Desta forma, é possível visitar a Jerusalém dos tempos de Cristo e conhecer como ela está nos dias de hoje, além de explorar, por exemplo, a Capela Sistina ou o Tabernáculo. Em uma seção de conteúdo pessoal, o usuário pode até personalizar um plano de lei-tura bíblica de acordo com sua área de interesse e disponibilidade de tempo, além de adicionar notas e marcadores bíblicos de própria autoria.

PArA leigOS e eSPeCiAliStASO Glow foi concebido para ser utilizado

pelo público cristão em geral. “Por causa da fácil navegação, não há barreiras para usar e qualquer um pode experimentá-lo, tanto pessoas leigas quanto pastores e estudiosos”, observa Elismar Vilvock, um dos técnicos da SBB que trabalhou na adaptação da versão original americana do Glow para o português. “A vantagem é navegar na Bíblia de diferentes

| BÍBLIA HOJE |

iMAGens DivulGAçãO sBB

DaiEnE BaUEr KÜhL * Equipe Editorial Concórdia

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Mensageiro | DezeMbro 2010 49

* fonTE: Revista A Bíblia no Brasil, nº228, Julho a Setembro de 2010, págs 10-13 e 16-17. SiTES: www.sbb.org.br e www.bibliaglow.com.br

modos, em contextos temporais, geográficos e temáticos, com todo o conteúdo agrupado em um só ambiente”, resume.

Em formato DVD-ROM, o Glow requer com-putadores com processador Dual Core, placa de vídeo (ATI ou NVIDEA), com no mínimo 256 MB, conexão à Internet, memória RAM mínima de 2 GB e espaço livre de 18 GB no disco rígido. Uma versão simplificada da Bíblia Glow também está sendo preparada para aparelhos móveis portáteis, como iPads (computador de mão) e celulares do tipo iPhone e Smartphones.

O preço do Glow no Brasil é de R$ 119,00, e ele já se encontra disponível na Editora Concórdia.

gerAçãO iNterNetA ideia de criar a Bíblia Digital Glow surgiu

da necessidade de conectar o texto bíblico com uma nova geração nascida na era da Internet, além de usufruir o poder da mídia interativa em prol da difusão da Palavra de Deus. O trabalho de mídia digital interativa para comunicar a Bíblia começou nos anos 80, nos EUA. De lá para cá, fo-ram criados alguns formatos bíblicos consagra-dos do gênero, como a Bíblia Online, o iLumina e o Libronix (Biblioteca Digital da Bíblia).

Paralelamente ao desenvolvimento do Glow, projeto iniciado em 2007, recentes pesquisas feitas por instituições cristãs norte-americanas mostraram como os fiéis intera-giam e quais eram os seus desejos em relação à Bíblia nos dias atuais. “Percebemos, assim, a necessidade de uma Bíblia mais atrativa para conectar as novas gerações digitais com a Pa-lavra de Deus”, atentou Nelson Saba.

Segundo Saba, “a existência da Bíblia em formato digital nos parece um passo necessá-rio para que a Bíblia permaneça sendo o livro mais lido do mundo”. Apesar dos avanços, os desafios para manter a Bíblia em evidência em meio à era da Internet ainda são grandes. “Precisamos tornar a Bíblia relevante à vida destas pessoas, conectando suas necessida-des, bem como comunicando a Palavra de Deus na linguagem destas gerações, tanto no nível do texto escrito como no da experiência interativa, que o meio digital pode oferecer”, afirma Saba.

• Cerca de 500 tours virtuais (em 3D e 360 graus) em ambientes da época.• 2h30 de vídeo em alta resolução, dividido em 26 capítulos de documentário sobre a vida de Jesus.• Atlas geográfico com cerca de 140 mapas navegáveis (espécie de Google Earth bíblico).

• Cerca de 700 imagens de trabalhos de arte da época.• Cerca de 2.300 fotos em alta resolução.• Texto bíblico nas traduções de Almeida Revista e Atualizada (RA), Almeida Revista e Corrigida (RC), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e Tradução Brasileira.

• Notas e introduções aos livros da Bíblia de Estudo Almeida e da Bíblia de Estudo NTLH.• Concordância Exaustiva de Conhecimento Bíblico (CECB).• Artigos e quadros da Bíblia da Família.• Dicionário da Bíblia de Almeida.• Formato: 3 DVDs-ROM

Recursos da Bíblia Digital Glow

São necessários apenas dois cliques do mouse

para o universo do Livro Sagrado se desenhar na tela de seu computador.

iMAGens DivulGAçãO sBB

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Sabemos que o Mensageiro Luterano, desde o começo, sempre quis ser a revista das famílias luteranas. Além de

notícias sobre as atividades da IELB, nele se publicam artigos voltados para os pais, para os jovens, para as crian-ças, enfim, para as pessoas de todas as idades. O Mensageiro quer até mais: através das famílias luteranas, ele quer chegar também a outras famí-lias, levando-lhes, além e acima das informações, a boa notícia do amor de Deus em Cristo Jesus.

Lema da SBBA Sociedade Bíblica do Brasil

(SBB) escolheu o lema A Bíblia na Família para o Dia da Bíblia em 2010. Ela visa com isso chamar a atenção das igrejas e dos cristãos brasileiros para a importância da leitura da Bíblia em família. Assim, neste Virando a página da edição do Mensageiro que celebra mais um aniversário de sua publicação, creio ser apropriado abordar o tema da Bíblia na família, para que também as famílias da IELB sejam lembradas da importância da Bíblia ser realmente lida todos os dias.

a diferença...Não é preciso muito para levar

uma família, um grupo social ou mesmo um povo todo à desgraça. O livro de Juízes ilustra isso muito bem. Ali, fica claro que basta uma geração “esquecer-se” do Senhor e

das coisas que ele fez, e o resultado será a desgraça.

Em Juízes 2, é relatado que, depois do povo ter tomado posse da terra prometida e cada família ter o seu pedaço de terra, “O povo de Israel serviu a Deus, o Senhor, enquanto Josué viveu. Depois que ele morreu, eles ainda continuaram a servir o Senhor enquanto viveram os líderes que tinham visto tudo o que o Senhor havia feito por Israel” (Js 2.7, NTLH). Porém, depois que aquela geração morreu, “os seus filhos esqueceram o Senhor e as coisas que ele havia feito pelo povo de Israel” (Js 2.10, NTLH). E assim começa um dos períodos mais escuros da história do povo de Israel, o período dos Juízes.

aS conSequênciaS...O que esteve na base do “esqueci-

mento” dos filhos de Israel, que lhes trouxe a desgraça? Tanto os pais, nas famílias, como os líderes, nas várias comunidades, deixaram de “lembrar” os feitos de Deus aos seus filhos. Foi isto! Em outras palavras, embora a “Bíblia” dos filhos de Israel, naquela época, só possuísse alguns livros ou rolos, a partir dos quais se poderia conhe-

cer “o Senhor e as coisas que ele havia feito pelo povo de Israel”, mesmo isto deixou de ser lembrado. Como resulta-do, a desgraça caiu sobre as famílias, as comunidades e todo o povo de Israel, a ponto de se dizer: “Eles deixaram de adorar o Senhor, o Deus dos seus antepassados, que os havia tirado do Egito. Começaram a seguir outros deuses...” (Js 2.12, NTLH) e passa-ram a praticar as imoralidades ineren-tes a este desvio, chamando sobre si a ira de Deus.

Você, caro leitor, provavelmente conhece famílias em que os filhos não querem mais saber da fé cristã e seguem por caminhos da imoralidade e da perversão, que certamente levarão à desgraça. Talvez sua própria fa-mília esteja próximo disso. Por que será? Qual é o lugar da Bíblia nestas famílias, ou em sua própria família?

rEv. Dr. rUDi zimmEr Diretor Executivo da SBB

50 Mensageiro | DezeMbro 2010

“a tua palavra é lâmpada para guiar os

meus passos, é luz que ilumina o meu

caminho” salmos 119.105.

| VIRANDO A PÁGINA |

a Bíblia na famíliaQue tal voltar à bíblia! não conheço nada melhor do que abrir a bíblia e lê-la em família. a sua leitura abrirá as portas do céu e derramará o amor de jesus para dentro do lar, e isso, certamente, será vital para refazer relacionamentos rompidos e para impedir que a desgraça recaia sobre a próxima geração. Eis uma decisão recomendável para o ano novo!

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A Goldsztein Patrimonial, uma empresa do Grupo Goldsztein que conta com a experiência de mais de 35 anos no mercado imobiliário, trouxe para Porto Alegre um conceito inovador que vai transformar

a maneira com que as pessoas se relacionam com os shopping centers. Esse novo conceito é o Paseo,um shopping que combina a elegância das galerias comerciais com a liberdade do comércio de rua.

A zona sul de Porto Alegre já está vivendo esta experiência. Venha conhecer o Paseo Zona Sul.

www.paseozonasu l . com.br

Uma nova tendênciaem shopping center chegou

a Porto Alegre.

Foto

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ocal.