Mobilizações, Protestos e Ciberativismo _ Larissa G. de Magalhães (1)

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Mobilizações, Protestos e Ciberativismo _ Larissa G. de Magalhães (1)

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  • Seediscussions,stats,andauthorprofilesforthispublicationat:http://www.researchgate.net/publication/277555559

    Janeladeoportunidademediada:dasmudanasnonimodasdemonstraesderuaaoativismoonlineCONFERENCEPAPERAPRIL2015

    1AUTHOR:

    LarissaGaldinodeMagalhesUniversityofCampinas5PUBLICATIONS0CITATIONS

    SEEPROFILE

    Availablefrom:LarissaGaldinodeMagalhesRetrievedon:22August2015

  • II Encontro Internacional Participao,

    Democracia e Polticas Pblicas

    27 a 30 de abril de 2015

    UNICAMP, Campinas (SP)

    Janela de oportunidade mediada: das mudanas no

    nimo das demonstraes de rua ao ativismo online

    Larissa Galdino de Magalhes Santos1

    1 Doutoranda pelo Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica IFCH- Unicamp. Contato:

    [email protected].

  • Resumo: O artigo prope reflexes sobre as estruturas e oportunidades polticas do Ciclo de Confrontos iniciado nas Jornadas de Junho em 2013, com as manifestaes do Movimento Passe Livre sobre aumento da passagem do transporte pblico em So Paulo, e a represso violenta da Polcia Militar sobre os manifestantes, e o uso da internet como oportunidade poltica mediada. No decorrer do processo poltico, outros eventos, tais como a Copa do Mundo da Fifa e Eleies Presidenciais estabeleceram conexo com a politizao da vida social e as manifestaes via internet, dando substncia ao conflito de discursos na rede. Dada conjuntura cclica, o incio do ano 2015 foi marcado por novas manifestaes e o efetivo aumento da passagem do transporte pblico. Assim, o que mudou sobre a oportunidade poltica de mediao? Qual a dinmica da estrutura de oportunidades polticas entre manifestantes e autoridades nesta nova onda de protesto? As redes sociais mais uma vez despontam como palco de batalha para discurso do conflito.

    Introduo

    O ciclo de protestos iniciado em junho de 2013, impulsionado pelo

    aumento das tarifas no transporte pblico, e que ganhou adeptos, e

    notoriedade, a partir dos atos de violncia e represso da Poltica Militar de

    So Paulo, ainda esta inconcluso. Ilustra Tatagiba (2014) que os saldos ainda

    so indefinidos, dos impactos s possveis reformas.

    Propondo a anlise sobre os diferentes atores que participam da

    dinmica do conflito, este artigo, focaliza o contexto de oportunidades polticas,

    limites e constrangimentos ao coletiva, dois anos aps o incio do ciclo de

    protestos. Isto porque, as tarifas do transporte pblico foram aumentadas em

    So Paulo, e em outras capitais, concomitante as mobilizaes pela Tarifa Zero

    organizadas pelo Movimento Passe Livre. Assim, diante deste cenrio,

    presume que as relaes entre os movimentos sociais e o Estado, no contexto

    do ciclo de protestos, tem impulsionado a mobilizao de repertrios

    complexos, do discurso do conflito, as ameaas da ao coletiva.

    Especificamente prope-se a anlise sobre a estrutura de oportunidades

    polticas para os movimentos sociais no fluxo (2013-2015), priorizando as

    oportunidades de mediao, atravs das redes, do uso de tecnologias de

    informao e comunicao, da dinmica contenciosa, novas tticas e

    estratgias de manifestaes combinadas e inovadoras, dos enquadramentos,

    da visibilidade e mudanas no repertrio.

    Para destacar a relao entre as janelas de oportunidades polticas, e

    ativismo online, conectando conceitos propostos pela Teoria do Processo

  • Poltico e Ciberativismo, com base na conjuntura estrutural, poltico e social,

    das Manifestaes de Junho, da Copa do Mundo de 2014, e as Eleies

    Presidenciais, ou ciclo de protestos (TATAGIBA, 2014), orientamos a anlise,

    refletindo sobre a ampliao da pauta dos movimentos relacionados ao

    transporte pblico, mudana de repertrio e a visibilidade na internet.

    O artigo est organizado com base nas trs dimenses precisamente

    propostas para anlise. Primeiramente, discutimos sobre a ideia de

    oportunidade poltica de mediao como conectada s formas de ciberativismo,

    ilustrando que a base da conjuntura poltica e as inovaes de repertrio em

    meio virtual permitem maior visibilidade aos movimentos, viabilizando janelas

    de oportunidades, novos enquadramentos interpretativos e movimentos

    multiformes. Posteriormente propomos a reflexo sobre a estrutura de

    oportunidades polticas para os movimentos sociais neste binio, do contexto

    aos eventos, enfatizando o ciclo de protestos. Ainda, destacamos a ampliao

    da pauta dos movimentos, a apropriao do repertrio, o conflito do discurso, a

    legitimao do discurso online, e a formao de contrapblicos e

    contradiscursos. Finalizamos o ensaio com o tempo de reverberao sobre a

    dinmica contenciosa entre movimentos sociais e o Estado, outros atores, da

    relao entre o ciberativismo e novos repertrios, e da visibilidade e mediao,

    como que uma caixa acstica, que aparentemente, soa diferente, conforme o

    ambiente e as dimenses.

    Entendendo o ciberativismo enquanto mecanismo de ao coletiva

    Os movimentos sociais emergentes na dcada de 60 guardam intrnseca

    relao com o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao,

    modificando a forma de ser fazer ativismo, atravs da emergncia de novas

    pautas (e.g.direitos civis, ecologia e meio ambiente, feminismo), estabelecendo

    dilogos na direo do Estado, mas tambm da prpria sociedade civil, atravs

    da mediao das novas formas de comunicao, em redes, horizontais e no-

    institucionais, produzindo novos repertrios de ao inovadores.

    Com o benefcio da memria, temos que ondas de desenvolvimento

    passadas, podem ser situadas em determinadas lgicas, e estas fases podem

    ser aproveitadas para ilustrar a compreenso do metamorfismo ciberntico.

    Mudanas ocorreram com a o aumento da produo txtil, marcando

  • Revoluo Industrial; novamente com a energia inanimada para mover os

    veculos; ainda a eletricidade, o ao, as ferrovias e outras formas de transporte;

    j na primeira metade do sculo 20, o petrleo e os automveis, e na segunda

    metade destacam-se os primrdios da informtica.

    O reconhecimento do ciberespao depende de seu desenvolvimento e

    maturidade, como de outras ondas, como acima ilustrado, portanto tecnologias

    movidas em estgios semelhantes, em pocas diferentes, servem de espcime

    para a anlise. O roteiro caracterizado da seguinte forma: existe uma fase de

    implantao, depois experimentao, o que operacionaliza mudanas, ento

    seguem as especulaes, e amplo uso das tecnologias, oportunizando o

    amadurecimento das organizaes e das instituies, normas e regras criadas

    para viabilizar as novas infraestruturas, domnios, dinmicas, poderes,

    interesses e incentivos.2

    (...) Basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo de comunicao, e todo o equilbrio das representaes e das imagens ser transformado, como vimos no caso da escrita, do alfabeto, da impresso, ou dos meios de comunicao e transporte modernos (LVY, 1993, p. 16).

    Este histrico, entre movimentos sociais e uso de tecnologias e ativismo,

    pauta situar o ciberativismo como produto de desenvolvimento das formas de

    organizao, ao coletiva, manifestaes, polticas e culturais, numa relao

    de simbiose. A investigao sobre ciberativismo apresenta marcos para a

    dinmica de lutas, tais como o Zapatismo (1994), Batalha de Seattle (1999),

    queda do presidente das Filipinas (2001) e as revoltas que emergiram no

    mundo desde as manifestaes na Tunsia (2010) ou Primavera rabe,

    Occupy, os Anonymous.

    Carrol e Hackett (2006) procuram estabelecer anlises, lanando mo

    da Teoria da Mobilizao de Recursos e a Teoria dos Novos Movimentos

    Sociais, com relao mdia e formas de ativismos, ou ainda para

    compreenso das mudanas nos repertrios a partir do uso da internet, assim,

    indicam que os processos de difuso de repertrios de ao coletiva

    2 Percebe-se que nestas etapas, cada governo, organizao, setor privado e sociedade civil

    enfrentam consequncias de alterao, e formulam padres de resposta a cada uma delas. Segundo Mike McConnell (2010) estas ondas tecnolgicas, possuem um ciclo de vida previsvel, definido como: incubao, irrupo, frenesi, a sinergia, maturidade e declnio. Em conformidade, cada ator social, supracitado, segue um padro de ao diante da evoluo das fases. McCONNELL ,BOOZ; ALLEN; HAMILTON. The road to cyber power Seizing opportunity while managing risk in the Digital Age, 2010.

  • (TARROW, 2010) no cenrio transnacional so modificados e impulsionados

    pelas novas tecnologias.

    Para Downing (2008) o enfoque sobre os movimentos sociais no

    contexto da internet essencial para entender a mobilizao como um

    processo que transforma preocupaes coletivas em aes, atravs de

    mudanas sociais e mediticas, mobilizaes, frames, repertrios, redes e

    performances.

    Portanto as manifestaes a partir de Junho de 2013 no pas ilustram o

    uso articulado da internet, e a conjuntura poltico e social (como uma janela de

    oportunidade poltica), atravs de uma srie de oportunidades e

    constrangimentos estruturais, para desafiantes e desafiadores, forjando

    inovaes estratgicas e tticas para os movimentos.

    Ademais, movimentos sociais j utilizavam tticas de ciberativismo,

    entretanto o diferencial foi o impacto e as influncias do contexto e das

    relaes entre os atores, ou seja, as oportunidades polticas.

    Os movimentos sociais se desenvolvem dentro de limites colocados por estruturas prevalecentes de oportunidade poltica: as organizaes formais de governo e de polticas pblicas; a facilitao e a represso das reivindicaes dos grupos desafiantes por parte das autoridades e a presena de aliados potenciais, rivais ou inimigos afetam, de forma significativa, qualquer padro de confronto do sistema poltico (MCADAM, TARROW & TILLY, 2009, p.26).

    Logo o ciberativismo deve ser compreendido como beneficirio do

    processo de luta anterior a internet, mas tambm concomitante ao seu prprio

    desenvolvimento, ainda, o ativismo como fenmeno social imanente s redes

    telemticas como a internet (ARAUJO; FREITAS; MONTARDO, 2012).3 O

    desenvolvimento da internet e as transformaes nos mecanismos de protestos

    e nas formas de ao coletiva so abordados como que espelhos.4

    O desenvolvimento do ciberativismo foi influenciado por um discurso

    metamorfoseado para distribuio do poder, acesso s informaes,

    emancipao social, engajamento e mobilizao, influenciando (...)

    decisivamente grande parte da dinmica e das definies sobre os principais

    3 Os autores estabelecem fases de associao entre ativismo e internet, so elas: surgimento

    enquanto uma propriedade tecnosocial; a pr-web enquanto ambiente comunicativo de troca de mensagens; da popularizao e expanso da web proporcionando sites e organizaes ativistas pela rede e aes de hacktivismo; e web 2.0 de carter interativo facilitando a organizao com outras mdias e dispositivos. 4 Arajo (2012) enfatiza que o carter de novidade est relacionado a visibilidade miditica de

    aes recentes, tais como a Primavera rabe.

  • protocolos de comunicao utilizados na conformao da Internet (SILVEIRA,

    2010, p.31) (SILVEIRA, 2010; ANTOUN, MALLINI, 2010; LIEVROUW, 2011).

    Portanto, os novos movimentos sociais, em toda sua diversidade, reagem contra a globalizao e seus agentes polticos, atuando com base em processo contnuo de informacionalizao por meio da mudana nos cdigos culturais no cerne das novas instituies sociais. Nesse sentido, no obstante surgirem das profundezas de formas sociais historicamente esgotadas, afetam de modo decisivo a sociedade atualmente em formao, seguindo um padro bastante complexo (CASTELLS, 1999, p.135).

    Diante do potencial democratizante de discurso e articulao da esfera

    pblica interconectada, este espao tornou-se palco para prticas

    comunicativas e de ao coletiva entre os membros da rede social, e

    indiretamente de toda a sociedade para disseminar e debater questes que

    eles entendiam ser de interesse pblico e que, portanto requerem o

    reconhecimento coletivo para ao coordenada no mundo online e offline

    (BENKLER, 2006).

    Segundo McCaughey e Ayers (2003), o ciberativismo pode ser

    entendido como a presena para o ativismo poltico atravs da internet; e

    ainda, o uso ampliado e complexo da internet, como e para amplificao das

    formas e possibilidades de atuao em rede (SILVEIRA, 2010). Apontam

    Antoun e Malini (2010, 2012), a rede um entre lugar, um campo de disputas

    sociais, em que so negociadas a atuao, a mobilizao e as formas de

    engajamento como mecanismos operacionalizveis em rede.

    As novas tecnologias de comunicao despontam como

    impulsionadoras para mudanas na estrutura de poder cuja comunicao no

    meio virtual cria um espao global de comunicao em contraposio ao

    gatekeeper da mass media (UGARTE, 2008).

    Tomando como base o ativismo poltico em rede, Ugarte define o ciberativismo como:

    (...) uma estratgia para formar coalizes temporais de pessoas que utilizando ferramentas dessa rede, geram a massa crtica suficiente de informao e debate, para que este debate transcenda blogosfera e saia a rua, ou modifique, de forma perceptvel o comportamento de um nmero amplo de pessoas (UGARTE, 2008, p. 111).

    O ciberativista define-se como aquele que difundi (...) um discurso e...

    coloca disposio pblica ferramentas que devolvam s pessoas poder e a

  • visibilidade que hoje so monopolizadas pelas instituies (UGARTE, 2008, p.

    58).

    Os protagonistas nas redes virtuais estabelecem formas de organizao,

    estratgia, comunicao e doutrinas diferentes. Ativismo computadorizado,

    desobedincia eletrnica civil e hackeamento politizado so formas de

    classificar o ativismo na internet (WRAY, 1998). O ativismo computadorizado

    utilizado para incitar a ao em escalas, possibilitando a comunicao e

    articulao entre ativistas de diversas partes; j a desobedincia civil e o

    hackeamento so aes mais pontuais e diretas, mas inovaes tticas para o

    ambiente virtual para alm das ruas.

    Em sntese sobre a relao intrnseca entre ativismo e mdia, por meio

    do hibridismo das tecnologias e da arquitetura em rede, Lievrouw (2011, p.11-

    19) aponta atribuies sobre as novas mdias que abarcam as novas mdias

    ativistas e alternativas em: cultura jamming pela critica aos prprios materiais e

    desfigurao; computao alternativa aplica-se sobre a infraestrutura da

    computao, criao e hackeamento; jornalismo participativo que

    proporciona meios de subverso da lgica da mass media; mobilizao

    mediada que agrega as relaes e interaes online e off-line, organizado os

    movimentos sociais; conhecimento compartilhado que aplica mtodos para

    produo, organizao, avaliao, classificao e colaborao de informaes

    e saberes.5

    Relacionando a definio de ciberativismo dimenso miditica, Ugarte (2008) atribui:

    (...) como toda estratgia que persegue a mudana da agenda pblica, a incluso de um novo tema na ordem do dia da grande discusso social, mediante a difuso de uma determinada mensagem e sua propagao atravs do boca a boca multiplicado pelos meios de comunicao e publicao eletrnica pessoal (UGARTE, 2008, p.55).

    A dimenso de desenvolvimento da internet relacionada com as

    transformaes sofridas pelos movimentos sociais e a mdia, so um desafio

    dinmico e constante (DOWNING, 2008). Ademais, a escolha por desta

    abordagem uma tentativa de no isolar os eventos que permitem a criao de

    5 Em recente trabalho, Castells (2012) atenta para a capacidade de comunicao autnoma

    dos movimentos sociais contemporneos, relacionando a ideia de poder e contrapoder, operveis sobre a chave do controle da comunicao. A rede de autonomia comunicativa substanciar as discusses sobre as oportunidades e estratgias de mediao.

  • uma narrativa sobre os protestos, em que surgem novos conceitos, repertrios,

    enquadramentos e discusses.

    Entendemos o ativismo real (virtual e tradicional) como meio e fim da

    luta, e como promotor para transformao do poder (CARROLL; HACKETT,

    2006), como instrumento de participao, mobilizao e criao de identidade

    (BRINGEL; MUOZ, 2010, p. 30).

    Pois A culminncia na mobilizao de rua de um processo de discusso social, levado a cabo por meios eletrnicos de comunicao e publicaes pessoais, na qual deixa de existir a diviso entre ciberativistas e mobilizados (UGARTE, 2008, p. 47).

    Portanto, a compreenso de um novo ciclo de protestos perpassa a

    compreenso das sequncias, da conjuntura e dos eventos dos dois ltimos

    anos, e que ainda est em andamento. Pois o ciclo de protestos, que tomou

    corpo nas Jornadas de Junho de 2013 (TATAGIBA, 2014), intensificando

    conflitos, mobilizando setor, envolve todo o conjunto da sociedade, logo, exige

    uma correspondncia das autoridades, seja incorporando demandas, por meio

    da represso, ou inovando o repertrio de ao. A dinmica do ciclo

    resultado da interao entre os atores, pares, dentre de tais perodos.

    Como a dinmica do ciclo de protestos influenciada pela interao

    entre o Estado e os movimentos sociais, e estas se modificam ao longo do jogo

    poltico, novos discursos e atores podem surgir, bem como os impactos sobre a

    poltica institucionalizada. As tecnologias de informao e comunicao,

    principalmente as redes sociais funcionam como dinmica de mobilizao

    provocando mudanas na relao entre desafiados e autoridades.

    Assim, sobre o ciclo de protestos de Junho de 2013,

    Na ausncia dos atores polticos tradicionais, com seus recursos e expertise na ativao da ao coletiva, o papel de mobilizao e recrutamento nos protestos contra o aumento da tarifa foram desempenhados principalmente pelas redes sociais. O ciclo de protestos de Junho no foi construdo nas redes sociais. Mas, sem dvida a mobilizao nas redes foi um fator decisivo para a conformao de suas caractersticas. As redes sociais foram um espao essencial para a produo e difuso de informao alternativa s veiculadas pela mdia tradicional, principalmente a partir dos vdeos feitos pelo celular. Os debates realizados nas redes repercutiam o clima da rua; a mobilizao gerada na rede construa o desejo de ir para a rua (TATAGIBA, 2014, p.15).

  • Assinalamos que a organizao da ao coletiva contempornea est

    relacionada comunicao alternativa e as mdias digitais (BENNETT,

    SEGERBERG, 2012). Neste cenrio, analisamos a partir de tais dimenses:

    estruturas e oportunidades polticas das novas mdias, da lgica e das

    dinmicas de organizao das manifestaes e dos repertrios de ao

    coletiva.6

    Estruturas e oportunidades polticas: potenciais e limites

    O contexto poltico-institucional exerce papel decisivo na emergncia da

    ao coletiva. Conforme o pressuposto da Teoria do Processo Poltico existe

    uma estrutura de incentivos e/ou constrangimentos a partir do qual os atores

    decidem ou no se engajar no confronto. Estruturas de oportunidades polticas

    favorveis viabilizam o surgimento do movimento social, somadas a estrutura

    de mobilizao (MAcADAM, TARROW, TILLY, 2001).

    Assim,

    A poltica do confronto produzida quando as oportunidades polticas se ampliam, quando demonstram potencial para alianas e quando revelam a vulnerabilidade dos oponentes. O confronto se cristaliza em movimento social quando ele toca em redes sociais e estruturas conectivas embutidas e produz quadros interpretativos de ao coletiva e identidades de apoio capazes de sustentar o confronto com oponentes poderosos (TARROW, 2009, p.43).

    Nascimento (2012, p.46) reflete com propriedade que a teoria dos

    movimentos sociais, seja na perspectiva do Processo Poltico ou sobre os

    Novos Movimentos Sociais, cada qual oferece chaves interpretativas eficientes,

    mas (...) as evidncias empricas demonstram que o movimento mais

    complexo e que essas correlaes no so to diretas e inequvocas. Em

    outras palavras, em vez de caracterizar formas puras e coerentes de ao,

    muitos movimentos combinam modalidades aparentemente contraditrias,

    como a extrainstitucional e intrainstitucional, ou a contestao e a cooperao.

    Esclarece, portanto que operacionalizar os conceitos propostos pela Teoria do

    Processo Poltico neste artigo pensar sob quais condies, uso de novas

    6 Para fins deste artigo no iremos tratar das questes especficas sobre a conjuntura do ciclo

    de protestos iniciado com as Jornadas de Junho em 2013. Aqui, cabe destacar a analisar as imbricaes do uso das tecnologias de informao e comunicao na dinmica contenciosa.

  • tecnologias de informao e comunicao combinadas aos repertrios de ao

    tradicionais, assumem determinadas caractersticas.

    A varivel ambiental o fator contexto e que exige a abordagem

    relacional. Portanto so as condies operadas nas estruturas de

    oportunidades e restries polticas, so dimenses consistentes de

    encorajamento e desencorajamento ao coletiva, que estabelecem as

    condies nas quais o confronto tende ou no a se manifestar.

    Mudanas na estrutura de oportunidades e restries politicas produzem

    alteraes no nvel da agncia coletiva.

    Oportunidades polticas so

    dimenses consistentes mas no necessariamente formais ou permanentes do ambiente poltico que fornecem incentivos para a ao coletiva ao afetarem as expectativas das pessoas quanto ao sucesso ou fracasso (TARROW, 2009, p. 105).

    So as estruturas de oportunidades que delimitam a possibilidade de

    escolha dos agentes entre os melhores cursos de ao para poltica de

    confronto. Quando h mudanas nas estruturas, seja nas dimenses formais e

    informais, se abrem ou se criam novos canais para expresso de

    reivindicaes para aqueles grupos sociais que esto fora da esfera poltica

    (TARROW, 1998, p.20).

    Mas para Tarrow (2009) as oportunidades nas so aproveitadas

    somente pelos mobilizados, mas tambm para seus oponentes, ao

    especularem e informarem suas aes, resultando na criao do espao

    poltico para o movimento e para o contra movimento, produzindo incentivos e

    provocando a reao dos oponentes.

    Deste modo a forma com que o par, Movimento Passe Livre e Polcia

    Militar (considerando o governo municipal e estadual), atuam na dinmica do

    conflito, das Jornadas de Junho at as recentes manifestaes de 2015 pela

    Tarifa Zero, modificaram-se, pois, os mobilizadores, mobilizados e as

    autoridades, incorporaram outras estratgias de ao ao longo do jogo poltico,

    aproveitando diferencialmente as oportunidades polticas, como a mediao

    atravs do uso das redes sociais (que foco analtico aqui proposto), coalizes

    e formas de protesto e represso.

  • A interao e confronto disseminado atravs do ciclo de protestos

    produz uma determinada vantagem aos desafiantes, e exige que o Estado

    organize estratgias de reao (TARROW, 2009, p.182). As estratgias do

    Estado perante o Movimento Passe Livre, bem como a pauta do movimento,

    modificaram-se desde 2013. A vantagem temporria da novidade, seja pela

    organizao nas redes sociais, seja pela veiculao, atravs do jornalismo

    participativo das estratgias de violncia e represso da polcia, da visibilidade,

    denotam novos quadros interpretativos, conflitos pelo discurso, em que o

    Estado combinou estratgias, influenciando no desenrolar das manifestaes

    sobre o transporte pblico (esta questo ser mais bem tratada adiante).

    A atuao dos movimentos sociais que operam por meio das tecnologias

    em ambiente virtual para organizar, mobilizar, recrutar, coordenar e disseminar

    suas prprias lgicas tem sido enfatizado por vrios estudos (KECK e

    SIKKINK, 1998; DIANI, 2001; SURMAN e REILLY, 2003; VAN de DONK, et al.,

    2004; BENNETT, et al., 2008).

    Argumentamos que o ciberativismo (UGARTE, 2008) seja por via de

    ativssimo computadorizado (WRAY, 1998), seja como computao

    alternativa, jornalismo participativo ou mobilizao mediada (LIEVROUW,

    2011), compem estratgias para incluso de demandas na agenda pblica,

    por meio de tticas que utilizam novas tecnologias de informao e

    comunicao, principalmente a internet, como forma de mobilizao na

    dinmica contenciosa.

    O ciberativismo e o uso de outras tecnologias em outros eventos que

    marcaram os o atual ciclo de protestos so parte da estrutura de

    oportunidades que facilitaram o curso da ao coletiva, mas tambm

    como parte do repertrio de confronto.

    Disponibiliza uma srie de ferramentas, advindas do legado de cultura

    hacker, e que prope o desenvolvimento de outras para dinamizao de aes

    virtuais; visibilidade e circulao de informao descentralizada; etapas de

    deliberao para um novo consenso social ou ciberturba (UGARTE, 2008,

    p.57); desenvolvimento de ferramentas que potencializam a interao

    instantnea (Web 2.0); desenvolvimento de dispositivos mveis e ampliao

    das redes de conexo sem fio; articulao transnacional de redes de ativistas e

    mobilizveis; disperso da noo de tempo e espaos e agilidades nas

  • interaes coordenadas; mdia alternativa com a produo de informao

    cooperativa, de forma livre e pblica (ANTOUN, MALLINI, 2010, p.9)7; redes

    sociais virtuais para organizao e articulao de coletivos personalizados;

    ubiquidade (LEMOS, 2009)8.

    E ainda, Gomes (2005) sumariza algumas vantagens democrticas

    advindas da internet como meio de participao poltica: as limitaes de

    espao e tempo para participao so ultrapassadas; ampliao da proviso de

    informaes e da qualidade das mesmas; diminuio dos filtros de interesse e

    controle; interatividade; oportunidade de visibilidades para vozes minoritrias

    ou excludas.

    As formas mais expressivas de articulaes polticas na atualidade,

    considerando a estrutura de oportunidades polticas, incorporaram tticas

    virtuais e lgicas mediadas de ao coletiva para o confronto. Operam, pois

    como estruturas de oportunidades polticas de mediao, atuando

    internamente por meio de formas de ativismo online e externamente como

    mdia alternativa.

    Mas os ciclos de confronto

    (...) so produtos de uma difuso mais ampla de oportunidades polticas que transformam o potencial para a mobilizao em ao. Nesses cadinhos de conflito e inovao, os desafiantes e seus opositores no apenas tiram vantagem de oportunidades disponveis, eles as criam para outros ao produzir novas formas de ao, elaborando novos quadros interpretativos principais e fazendo coalizes que foram o Estado a reagir desordem em volta dela (TARROW, 2009, p.251).

    A disseminao das novas tecnologias de informao de comunicao

    na politizao da vida uma janela de oportunidade poltica? A mudana na

    estrutura de oportunidades polticas gerou espao e inovaes para

    mobilizao coletiva, mas tambm para as respostas das autoridades.

    A internet como uma habilidade temporria que pega desprevenidos

    seus oponentes, pois interfere nas estruturas de mobilizao, mas passa a

    exigir no oponente, um desempenho correspondente inovao.

    7 Antoun e Mallini (2010, p.6) intensificam a discusso ao definirem estas mdias como uma

    forma de liberdade positiva ou biopoltica na rede. 8 Lemos (2009, p.29) esclarece no podemos dissociar comunicao, mobilidade, espao e

    lugar. A comunicao uma forma de mover informao de um lugar para outro, produzindo sentido, subjetividade, espacializao.

  • Desde Junho de 2013 o Movimento Passe Livre utiliza a internet como

    inovao para mobilizao, criando uma nova forma de ao; entretanto,

    considerando o ciclo de protestos, outro pico de manifestaes em 2015,

    demonstra que o conflito entre o movimento e a Polcia Militar passou das ruas

    tambm para as redes. As autoridades produzem novas formas de ao,

    realiza coalizes com outros movimentos que defendem a causa do transporte

    pblico, e utiliza as redes para elaborao de um quadro interpretativo,

    viabilizando um conflito de discursos, , pois uma oportunidade poltica de

    mediao.

    O confronto poltico expande as oportunidades que encorajam o

    engajamento das pessoas no confronto, mas essas aes circunscrevem

    ameaas e constrangimentos. As restries so como a capacidade das

    autoridades em desencorajar o confronto (TARROW, 2009, p.39).

    preciso estar em movimento: sobre oportunidades convencionais e

    janela virtual

    As oportunidades polticas fazem referncia a sinais contnuos, embora

    no permanentes, so percebidos pelos atores. Na medida em que o ciclo de

    oportunidades se estreita, movimentos e autoridades se modificam. Os sinais

    so conjunturais, mediaes e percepes por parte dos agentes sociais ou

    polticos, logo as oportunidades so dinmicas. Neste sentido temos que

    considerar o contexto, ler e considerar os recursos disponveis para anlise.

    Portanto observar o grau de institucionalidade formal e informal, e as

    correlaes de fora e alianas flutuantes.

    Para compreender a forma com que os movimentos sociais utilizam as

    oportunidades polticas necessrio analisar o contexto e as estruturas,

    destaca-se a capacidade ou propenso do Estado em utilizar de violncia

    poltica. Os confrontos polticos ocorridos a partir das manifestaes de Junho

    de 2013, e as tticas de represso s manifestaes adotadas pelo Estado

    tornou-se o estopim para a introduo de outros grupos e pautas nas

    manifestaes. Tambm, utilizando das capacidades, j citadas, ofertadas

    pelas tecnologias as mobilizaes ampliou-se a visibilidade do par de atores

  • em conflito, oferecendo informaes alternativas mass media e expondo a

    dinmica do confronto.9

    A transformao na estrutura de oportunidades e ameaas polticas

    e o uso das tecnologias virtuais que patrocinaram uma nova onda de

    mobilizaes inovadoras (histrico sequenciado de eventos e marcos de

    ciberativismo supracitados; e manifestaes recentes, principalmente pela

    pauta urbana), dito que

    (...) as pessoas se engajam em confrontos polticos quando mudam os padres de oportunidades e restries polticas e, ento, empregando estrategicamente um repertrio de ao coletiva (inovador), criam novas oportunidades que so usadas por outros, em ciclos mais amplos de confronto (TARROW, 2009, p.38).

    a janela de oportunidades que possibilita o surgimento de ao

    coletiva como renovao de repertrio. Isto porque num ciclo de protestos, o

    repertrio pode aparecer como tradicional e inovador. As novas tecnologias de

    informao e comunicao, em especial a internet so incorporadas ao

    repertrio de ao, dando substncia a janela de oportunidade poltica de

    mediao.

    O Movimento Passe Livre e outros setores mobilizados incorporam o uso

    das redes sociais como tcnica para o repertrio de ao, o que lhe promove o

    carter de inovao. Assim, ao mesmo tempo, cabe destacar que o ciclo de

    protestos e a intensa mobilizao facilita o foco das autoridades, que

    procuram respondem efetivamente s manifestaes. Em 2013, as autoridades

    responderam com represso efetiva, exacerbando a polarizao reacionria,

    para depois ceder s reinvindicaes dos manifestantes (TARROW, 2009,

    p.190-191). J em 2015, diante de manifestaes baseadas em repertrios de

    ao j reconhecidos, as autoridades inversamente, utiliza a janela de

    oportunidade poltica para a desmobilizao.

    9 As manifestaes tambm criam estruturas de oportunidades para sua ao futura, para

    outros movimentos (que nem sempre compartilham dos mesmos valores e pautas). Logo, o cenrio atual, ps Junho de 2013, reflete a maior visibilidade dos movimentos relacionados s urbanidades, como o MPL, MSTS, mas tambm para movimentos que vo contramo do cenrio. Mas a relao entre movimentos sociais e oportunidades polticas fluda, imprevisvel e recproca, por isso a adeso de outros atores aos protestos e a extenso da dinmica, encabeados pelo MPL foi observado como surpresa pelos militantes e pela prpria populao, em 2013.

  • Salienta Tarrow (2009) sobre as possibilidades de potencializar as

    oportunidades polticas a partir: ampliao e facilidades de acesso de

    protestos; modificaes nos alinhamentos na coalizo de poderes envolvidas;

    na diviso entre as elites mantenedoras do status quo; da aproximao com

    aliados influentes; e nos constrangimentos para obteno de demandas.

    A conjuntura poltico e social desde 2013 incitou novas formas de

    protestos, principalmente pelo uso das tecnologias; modificou o alinhamento de

    poderes envolvidos, j que a midializao da violncia exacerbada do Estado

    culminou na adeso de outros grupos aos movimentos; a diviso entre as elites

    que compem o status quo perpassa pela perspectiva de nova onda de direita

    (que tambm utilizam tticas e lgicas de protesto virtuais, mdia alternativa e

    contrainformao); e sobre o constrangimento para obteno de demandas,

    destacam-se o Marco Civil da Internet, as discusses sobre a Poltica Nacional

    de Participao Social e as discusses sobre as telecomunicaes no pas.

    A conjuntura fomentou as estruturas e oportunidades polticas, num

    sentindo amplo, mas o uso e incorporao das novas tecnologias como tticas

    e lgicas de ativismos, so entendidos como janelas de oportunidades polticas

    de mediao.

    O que procuramos enfatizar que os recentes movimentos no pas no

    comearam na internet, embora em nossa interpretao, o ciberativismo

    essencial para o debate, mas efetivamente para as formas de mobilizao. Em

    seu conjunto, este processo, evidencia que o universo comunicacional, de

    mediao, visibilidade e discurso, ganharam expressividade e fora quando

    incorporados como formas de ativismo, mas tambm como capacidade de

    democratizao, politizao da vida social, empoderamento e transparncia,

    sem contundo, descartar as formas tradicionais de ao coletiva, so parte de

    repertrio de ao.

    Oportunidade poltica de mediao

    Cammaerts (2013) promovendo a discusso sobre a lgica de protesto e

    a estrutura de oportunidade de mediao procurou alinhar a teoria dos

    movimentos sociais e a mdia para anlise das manifestaes

    contemporneas. Recuperando o conceito de estrutura de oportunidades como

    da dimenso de incentivos e constrangimentos, e estabelecendo conexes

  • com o conceito de mediao, reflete sobre a dinmica das mdias, do ativismo,

    e dos discursos em rede, como constitutivas dos recentes movimentos. Esta

    uma discusso cara para nossa anlise.

    Argumenta que a mediao um conceito eficiente para abranger uma

    grande variedade de maneiras nas quais a mdia e os meios de

    comunicao so relevantes para os protestos e movimentos

    (CAMMAERTS, 2013, p.13). Integrando conceitualmente as teorias, o autor

    alerta que a estrutura de oportunidade de mediao, ao mesmo tempo,

    fortalece ativistas, mas tambm os limita, pois, ainda que a mediao seja

    assimtrica (...) equilibrando oportunidades potenciais e limitaes

    estruturais (...) alguns atores so mais iguais do que outros (SILVERSTONE,

    2002: 762) (CAMMAERTS, 2013, p.14).10

    Justamente a mediao dialtica que permite abordar a mdia, e os

    contedos produzidos informaes, narrativas e discursos- em conjunto com

    as novas tecnologias, como estratgias de comunicao e prticas miditicas

    de cidados e ativistas (CAMMAERTS, 2013, p.14).

    Para Gohn (2010) as formas de organizao e das aes so

    reconfiguradas pela apropriao de ferramentas de comunicao

    diversificadas, j que favorece a articulao e as estratgias de visibilidade dos

    movimentos sociais. As oportunidades potenciais, diante das limitaes

    estruturais retratam a proposta de novas formas de organizao da sociedade,

    enquanto inovaes para mudana social (GOHN, 2004), ou seja, as novas

    tecnologias, e a conjuntura poltico-institucional so mantenedoras do

    enquadramento dos movimentos sociais recentes, principalmente no que tange

    o aperfeioamento das formas de mediao.

    A oportunidade de mediao poltica composta por outras trs

    estruturas: estrutura de oportunidade mdia, estrutura de oportunidade

    discursiva e a oportunidade em rede. Numa aproximao com os

    movimentos sociais, as oportunidades de mdia referem-se a ampliao do

    coletivo alternativo, das ferramentas e da lgica de rede; A estrutura de

    discursos corroborada pela circulao e do espelhamento do contedo

    10

    Vale-se da dupla articulao de proposta por Silverstone (1994) em que os processos de mediao se aplicam tanto mdia como a um objeto material em referncia tecnologia e ao cotidiano quanto o simblico, o discursivo com referncia guerra ideolgica de posio (CAMMAERTS, 2013, p.14).

  • elaborado para o meio e a partir do meio virtual; da oportunidade de rede, das

    formas de circulao, fluxo, troca, compartilhamento, colaborao e

    descentralizao (CAMMAERTS, 2013).

    A estrutura de oportunidade de mdia serve ao desempenho e

    representao, com a finalidade da mobilizao, da legitimao, da validao

    das demandas, expanso do conflito para alm do compartilhamento de

    opinies (GAMSON, WOLFSFELD, 1993). Estrutura de oportunidade de

    discurso esta relacionado luta simblica, interna e externa do conflito, na

    medida em as aes so produtoras de novas ideias e agentes de contestao

    de formas e ideais retrgadas, logo contribuem para formao de identidades

    coletivas (MELUCCI, 1996). J a estrutura de oportunidade em rede, como

    instrumental e constituinte, contribuem para as estratgias de planejamento

    (BENFORD e SNOW, 2000), bem como nas formas de organizao e

    mobilizao autnomas. Inevitavelmente, a relao entre essas trs estruturas

    de oportunidades inter-relacionadas circular cada uma delas tem impacto

    nas outras de diferentes formas (CAMMAERTS, 2013, p.17).

    Apontadas abordagens conceituais, os conceitos sero esmiuados com

    base em fontes documentais. Para tanto foram feitas pesquisas em sites,

    revistas e jornais sobre a atuao dos movimentos sociais no binio (2013-

    2015) tomando como base os movimentos relacionados ao transporte pblico,

    ou mobilidade, e as autoridades. O intuito perceber de que forma a estrutura

    de oportunidades de mediao permite a apreenso sobre diferentes atores de

    mdia, diferentes formas de organizao, estratgias e lgicas de comunicao,

    pelos atores na dinmica do confronto.11

    11

    Entre os dias 01/01/2015 e 31/01/2015 foram feitas buscas sobre notcias, reportagens e artigos sobre os recentes movimentos, especificamente, relacionados as Manifestaes de Junho de 2013, Copa do Mundo de 2014 da Fifa, Eleies Presidenciais de 2014. As fontes para as anlises so: 1. A esquerda oportunista se apropria dos rolezinhos para sua narrativa ideolgica tacanha. Colunista: Rodrigo Constantino. VEJA.com. 2. A politizao do cotidiano, a classe mdia e a esquerda. Revista Carta Maior. 3. MPL repete frmula de 2013, mas promete levar protestos do centro para a periferia. Ricardo Senra. BBC Brasil.com. 4. Ariano Suassuna: Esquerda e Direita. Ariano Suassuna. Revista Pragmatismo Poltico. 5. As esquerdas e a ditadura militar brasileira. Brevssimas reflexes sobre as esquerdas brasileiras, nos 21 anos de ditadura militar (19641985). Carlos Vianna. Esquerda.net. 6. As hashtags esto nas ruas e o internauta levantou do sof. Humantech. Blog do Conhecimento. 7. 'As ruas no esto pedindo um novo salvador'. Estado de So Paulo. 8. Ativistas somos ns, nossa fora e nossa voz. Antonio Lassancee. Revista Carta Maior. 9. Atos ps-eleio estimulam movimentos sociais a articularem 'frente de esquerda'. O Povo Online. 10. Dobradinha entre movimentos sociais e grevistas do novo perfil a protestos. BBC Brasil.com. 11. As ruas se encheram de classes sociais da esquerda direita. Daniela Alarcon. Revista Adusp. 12. Movimentos sociais

  • Estrutura de oportunidade de mdia

    Refere-se a representao da mdia sobre as manifestaes, cuja lgica

    tradicional tende a receber menos ateno da mdia, a no ser que exista algo

    de espetacular nisso. A ateno da mdia pode ser conquistada pela lgica dos

    nmeros atravs de manifestaes de massa, da lgica do dano, atravs da

    destruio de propriedade (ttica black bloc), e da lgica do testemunho, pela

    exibio pblica (DELLA PORTA e DIANI, 2006, p.170).

    Sobre os nmeros, quando das manifestaes organizadas pelo

    Movimento Passe Livre, nas primeiras semana de janeiro de 2015, os

    organizadores relatam aglomeraes de at 30 mil pessoas, enquanto,

    segundo a Polcia Militar no passam de 5 mil mobilizados.

    Para desafiar os discursos hegemnicos, e os movimentos fazem isto,

    com o benefcio das tecnologias, usando imagens, msicas, transmisses

    simultneas, produes artsticas, que busquem fazer com que as pessoas

    repensem seu entendimento sobre a ao e tambm sobre a relevncia em

    defender as demandas em espaos pblicos. um processo de legitimao

    interna, de uma mdia coletiva e alternativa, com blogueiros de rua, e outras

    formas que diversificam das formas da mdia tradicional.

    convocam marcha por reformas e 'contra a direita'. Rede Brasil Atual. 13. Movimentos sociais prometem pulverizar atos contra tarifa pelas periferias. Carolina Scorce. Rede Brasil Atual. 14. MPL acredita em forte mobilizao contra aumento de tarifas. Carolina Scorce. Rede Brasil Atual. 15. MPL faz aula pblica para protestar contra aumento da tarifa do transporte em SP. JULIANNA GRANJEIA. Jornal O Globo. 16. O ativismo online para preguiosos. Mauricio Meirelles. Mundo Notcias. poca.G1. 17. 'No sou contra o ativismo de sof', afirma o filsofo francs Pierre Lvy. BRUNO LUPION - O ESTADO DE S. PAULO. 18. Os protestos no Brasil e o desafio s Cincias Sociais. Revista Carta Maior.19. Os protestos se transformam, mas os brasileiros no vo sair das ruas. PEDRO MARCONDES DE MOURA. TALITA BEDINELLI. Edio Brasil no EL PAS. 20. Pesquisadores e ativistas analisam a relao e a importncia dos protestos nas ruas e a internet. Shirley Pacelli. Tecnologia Estado de Minas. 21. Quem pretende parar o Brasil em 2014? Movimentos sociais que partem de premissas corretas, ladeados por anarquistas, black blocs e os reacionrios de sempre, integram a fauna diversa e barulhenta que promete agitar as ruas no Mundial. Piero Locatelli e Rodrigo Martins. Revista Carta Capital. 22. Tecnologia Para Qu? Democracia e Autoritarismo em Tempos de Manifestaes. Luiz Fernando Moncau. Revista Interesse Nacional.Uol. 23. Gritos contra abusos da PM ofuscam tarifa em protesto do MPL. Wanderley Preite Sobrinho. Revista Carta Capital. 24. Gritos contra abusos da PM ofuscam tarifa em protesto do MPL. Wanderley Preite Sobrinho. Revista Carta Capital. 25. Polcia Militar X militantes: uma batalha tambm nas redes sociais. T. BEDINELLI. EL PAS Brasil. 26. Haddad manobra para esvaziar os protestos do MPL em So Paulo. MARA MARTN / TALITA BEDINELLI. EL PAS Brasil. 27. Manobra de Haddad lamentvel, diz Movimento Passe Livre. EL PAS Brasil. 28. Para onde vai o MPL?. MARINA ROSSI. EL PAS Brasil.

  • Mdia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ao), coletivo

    que foi formado em 2011, que se tornou notrio por transmitir pela internet, os

    protestos de Junho de 2013, utilizando celulares, outros dispositivos e laptops,

    destaca-se como um coletivo alternativo que opera em vrias lgicas e

    estruturas de oportunidade de mediao. Nomeiam-se enquanto mdia radical

    dedicada mdia livrismo, estabelecido na luta anticapitalista.

    Com o tempo, comeamos a colocar disposio das agendas de outros movimentos sociais as ferramentas que tnhamos desenvolvido no circuito da cultura, a tecnologia social que tinha sido acumulada, para usar a internet para dar visibilidade a essas narrativas, conta. E, com ele, um impactante aumento na audincia dos canais da Mdia NINJA, que passaram a transmitir as narrativas de indignaes comuns que tomaram as ruas (ALARCON, 2013, p.41).

    12

    Estrutura de oportunidade de discurso

    Como mdia alternativa, os movimentos investem em recursos para ser a

    mdia capaz de formar ou influenciar a opinio pblica e do pblico, assim

    investem na produo de contranarrativas, novos enquadramentos, artefatos

    de protestos, constroem identidades coletivas, promovem novas identidades,

    ridicularizam as elites, atravs das lutas simblicas.

    A natureza material e permanente desses artefatos de protesto permite que smbolos e discursos sejam inseridos neles para serem culturalmente transmitidos no longo prazo, alimentando o embate e contribuindo para a construo da memria coletiva de protesto. Com isso, eles efetivamente se tornam comunidades epistmicas (Lipschutz, 2005), transferindo o conhecimento e potencialmente influenciando outros movimentos atravs do que chamado transbordamento de movimento (Meyer e Whittir, 1994) (CAMMAERTS, 2013, p. 24).

    Aps as manifestaes de junho de 2013, a ttica black bloc de

    desobedincia civil atravs da violncia patrimonial foi identificada como o

    prprio Movimento Passe Livre, a estrutura de oportunidade de discurso age

    interna e externamente, para lograr a identidade de um movimento com lgicas

    para o dilogo e outra ttica confrontacional e muitas vezes relacionado

    criminalizao.

    12

    As ruas se encheram de classes sociais da esquerda direita. Daniela Alarcon. Revista Adusp.

  • Sobre as tecnologias, surgiram as multides inteligentes, formadas por

    agrupamentos de pessoas capazes de agir de forma coordenada mesmo sem

    se conhecerem previamente, mas mobilizadas pela sinergia da interconexo

    pela computao mvel, redes sem fio e telefonia. a identificao pela

    solidariedade.

    Para Lasn e Albniz (2008) os recentes movimentos possuem carter

    ldico e performtico, com nfase na sociabilidade, com base numa

    comunicao computacional, mas tambm emocional, tecnologicamente

    mediadas, e compartilhadas, expondo a narrao das aes na rede.

    Em reportagem na revista Carta Maior, sobre os protestos no pas e o

    posicionamento das Cincias Sociais (15/02/2014), Luciana Ballestrin relata

    Muito se tem dito sobre a presena de milhares de jovens nas ruas deste Brasil. Trata-se de uma nova gerao, com outras referncias, cdigos, sociabilidades, identidades e desejos que a maioria ou a velha guarda no consegue captar talvez algo desde o incio e em essncia j desmanchado no ar. Na rua, lutas, ideologias, discursos, aes, sentidos, performances, teatralizaes e desobedincia civil em direes diversas, opostas e semelhantes, que acabam por se aglutinar em torno de uma nica noo identificada: protesto (BALLESTRIN, 2013).

    13

    Estrutura de oportunidades em rede

    As oportunidades em rede vo de encontro a ideia estrutura

    descentralizada e ponto a ponto disseminada na rede, internet. As tecnologias

    facilitam as aes coletivas atravs do recrutamento, mobilizao, coordenao

    da ao militante, e as caractersticas de associao e interao da rede de

    mundial de computadores.

    As prticas de comunicao dos ativistas no so, entretanto, meramente limitadas pelo uso da mdia e comunicao como armas discursivas, nem tampouco pode o uso das TICs por ativistas ser reduzido a meros facilitadores de protesto no mundo offline. As TICs tambm tornaram-se instrumentos de ao direta por conta prpria, com tticas de hacktivismo ou at mesmo como os movimentos de Software Livre e Cdigo Aberto demonstram (Jordan e Taylor, 2004; Sderberg, 2007). O coletivo de hackers Anonymous um exemplo muito recente disso (CAMMAERTS, 2013, p.28).

    As redes legitimam as ruas, e as ruas por sua vez legitimam a rede. Os

    movimentos sociais so um poder em movimento, e a relao rede, tecnologias

    13

    Os protestos no Brasil e o desafio s Cincias Sociais. Luciana Ballestrin Coordenadora do Curso de Relaes Internacionais da UFPel. Revista Carta Maior.

  • e aes coletivas so cada vez mais hbridas. Ainda que a rua seja o elemento

    chave, o palco, o discurso, a narrativa, a notcia, a performance, o inesperado

    construdo com as contribuies da rede, a que o ativista online constri

    suas ideias e afeta as pessoas.

    A rede um espao de autonomia para os movimentos sociais em rede

    (...) interao do espao de fluxos na internet e as redes de comunicao sem fio com o espao dos lugares ocupados (...)e assim (...) o espao da autonomia a nova forma espacial dos movimentos sociais em rede (CASTELLS, 2013, p. 160-161).

    As comunidades virtuais e mobilizveis dispersos, que formam uma

    multido, comeam a se estruturar e a experimentar suas formas singulares de

    luta e organizao na rede. A multido s existe na luta e existe,

    significativamente, porque luta.

    Dahlberg (2011) supe a interpretao de contrapblico, como modelo

    para pensar a democracia e as novas tecnologias, com base em duas

    suposies: as formaes sociais envolvem relaes de contestao discursiva

    e prtica; justamente o antagonismo que favorece a formao de

    contrapblicos expressivos, caracterizado por espaos comunicacionais de

    interatividade e reflexo que proporcionam contradiscursos que contestam o

    hegemnico e o dominante (p.187).

    A mdia digital pode incluir discursos minoritrios e excludos, linkando

    diferentes vozes e contradiscursos, constrangendo e limitando a esfera pblica.

    So, portanto, cidados ativos, no mais atravs dos canais tradicionais, nem

    necessariamente dos representantes oportunidade poltica de mediao

    mas utilizando as tecnologias como expresso alternativa e providenciando

    visibilidades, ou ainda, agendando novas discusses pblicas (PIVRINTA,

    SB, 2006).

    Incluem-se novas formas de ativismo online, utilizando sites prprios,

    redes sociais, e outras mdias alternativas, destacando-se aes de

    desobedincia civil eletrnica, e at mesmo o ativismo presencial, facilitado e

    coordenador atravs do apoio da comunicao digital (DAHLBERG, 2011, p.

    862).

    A estrutura de oportunidades em rede amplia as chances para os

    ativistas comunicarem para alm daqueles que se identificam, ampliam, pois, a

  • solidariedade social, distribuindo discursos alternativos contribuindo para

    construo de identidades coletivas, mas tambm facilitando as aes,

    construindo outras redes e conexes, por meio da arquitetura da prpria rede.

    Oportunidades polticas e as instituies

    A tenso discursiva justifica o conflito instaurado por diferentes

    posicionamentos, como oportunidade politica de mediao, o que incita ou no

    o confronto.

    A transferncia de repertrios , ento, processo relacional e disputado (pelos agentes em interaes conflituosas), histrica e culturalmente enraizado (o peso da tradio) e condicionado pelo ambiente poltico nacional (as estruturas de oportunidade). Experincias sociais especficas requisitam as transferncias e condicionam a adoo, pois que os atores em litgio lidam com o repertrio como os msicos de jazz com suas partituras: triam, mitigam, acentuam, exageram, conforme seus parceiros e seu pblico. Longe de espontneo e solipsista, o improviso calculado e orquestrado entre os membros da banda, para produzir certo efeito. O jogo entre a frmula e a circunstncia d s performances duas caras, simultaneamente modular e singular (ALONSO, 2012, p.31, grifo nosso).

    Oportunidades polticas exigem novas formas e estratgias de ao

    coletiva, ou seja, repertrios de ao. Segundo McAdam, Tarrow e Tilly (2009,

    p.25), os repertrios emergem a partir da dinmica conflitiva e no pertencem

    especificamente a um movimento, cuja eficcia deriva da novidade temporria.

    A ideia de oportunidade poltica mediada enquanto dinmica de conflito, esta

    baseada na interao, na medida em que os movimentos constituem estas

    estruturas de oportunidades, para suas causas, para outros, e at mesmo para

    seus oponentes. Logo o Movimento Passe Livre, com o ciclo de protestos

    iniciado em 2013, possibilitou a constituio de oportunidades polticas de

    mediao, principalmente via internet, incorporando tticas e estratgias ao seu

    repertrio de ao, mas estas mesmas estruturas incitaram possibilidades para

    as autoridades, responderem e incorporarem novas formas de ao diante as

    manifestaes recentes em 2015.14

    14

    A polcia militar de So Paulo, ou seja, as autoridades modificaram seu repertrio de ao, por meio da estrutura de oportunidades, como destacaremos abaixo. Ademais o foco do artigo, preconiza as novas estratgias de comunicao, oportunidade poltica de mediao, como grande diferencial entre as Manifestaes de Junho de 2013 e as Manifestaes de 2015 sobre o aumento da passagem do transporte pblico.

  • Considerando a tipologia de oportunidades polticas, as autoridades,

    diferentemente da atuao para com as manifestaes de Junho de 2013,

    mudaram suas tticas e estratgias de ao. Na tentativa de enfraquecer o

    movimento, o prefeito de So Paulo, reuniu-se com outros representantes dos

    movimentos sociais, sindicais e relacionados causa da moradia, com o

    objetivo de enfraquecer as manifestaes do MPL, e fomentando a articulao

    de passeatas de movimentos paralelos, ou seja, o governo estabeleceu

    alianas com outras elites, enfraquecendo os aliados ao movimento,

    desestabilizando as coalizes. Viabilizando relativa abertura do sistema

    poltico formal, o governo convocou sua base aliada, procurando assumir a

    posio de dilogo quanto do prprio partido aos movimentos sociais.

    Perante a insatisfao dos tradicionais movimentos sociais com o

    protagonismo do MPL principalmente no que tange as discusses de Tarifa

    Zero, o governo explorou o descontentamento, promovendo a formao de um

    dilogo permanente com outros movimentos estudantis, que passaram a

    desapoiar a ao do MPL. Apoiando-se na articulao com a agenda de

    esquerda, as autoridades e o grupo aliado, formado pelo movimento de

    moradia, estudantis e sindicais, criaram uma pauta prpria e paralela ao MPL,

    cuja bandeira do Tarifa zero desconsidera as demais finanas da prefeitura, e

    ainda o fato de que a o passe livre excluiria o benefcio do vale-transporte,

    enquanto direito do trabalhador subsidiado pelas empresas. A propenso do

    Estado s prticas de represso mudou desde as manifestaes de 2013,

    para 2015, a Polcia evitou as agresses impresso, e procurou promover a

    visibilidade de seu prprio discurso (oportunidade poltica mediada). Logo, se

    em 2013, a polcia foi incitada pela guerra nas mdias, tradicionais e virtuais,

    em 2015, a corporao evidenciou sua perspectiva sobre os fatos e

    mobilizaes.

    Ainda, para os prprios integrantes do MPL, reconhecem que as

    autoridades prepararam-se para tentativa do movimento em barrar o aumento

    da passagem.15

    15

    Para maiores detalhes sobre as negociaes ver a reportagem: Manobra de Haddad lamentvel, diz Movimento Passe Livre. Publicada em 22/03/2015. Em verso online no EL PAS Brasil. Disponvel em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/16/politica/1421426817_946974.html. Sobre a relao entre a Polcia Militar e os manifestantes nas redes sociais, mais informaes: Polcia Militar X

  • O prefeito Haddad neste ano se preparou para que o movimento no barrasse o aumento. Ele anunciou o reajuste no final do ano e juntamente com o passe livre estudantil, fazendo com que os alunos no se mobilizassem (Heudes de Oliveira Integrante do MPL).

    Por fim, valendo-se do modelo para compreenso das estruturas de

    oportunidades polticas idealizado por Kriese (1992) a partir de Tarrow,

    contemplamos a abordagem dos aspectos institucionais e governamentais no

    aperfeioamento dos processos de mobilizao, bem como atribumos a

    importncia das mudanas para caracterizao dos movimentos sociais,

    priorizando os recursos e estratgias dos atores envolvidos na disputa (leiam-

    se, desafiadores e autoridades).

    A anlise de Kriese (1992) contribui substancialmente para as hipteses

    e argumentos deste artigo, j que compreende a estrutura institucional geral

    do Estado, contemplando seus procedimentos formais e informais, e

    como estes definiro diferentes estratgias frente aos desafiadores

    (MACHADO, 2013, p.72, grifo nosso).

    Explorar e compreender os clculos estratgicos requer considerar que

    diferentes contextos polticos (ainda que no ciclo de confrontos) produzem

    relaes polticas diversas (entre o par em conflito) levando em considerao o

    tipo de movimento social e sua interpelao ao sistema poltico (KRIESE,

    1992).

    Atenta-se que o sistema poltico contm propriedades em sua estrutura

    formal, procedimentos informais e estratgias vlidas perante seus

    desafiadores; e a ainda a configurao de poder de coalizes e associaes

    de interesses (KRIESE, 1992).

    As propriedades do sistema poltico balizam a mobilizao da ao

    coletiva e condicionam a dinmica do conflito. Logo,

    Estas trs sries de propriedades definiro as estratgias das autoridades com relao aos seus desafiadores. As estratgias das autoridades, juntamente com a estrutura formal, os procedimentos informais e a configurao de poder vo determinar se as estratgias se materializaram de forma repressiva ou facilitadora da mobilizao dos movimentos sociais, bem como as possibilidades de xito ou reforma daquilo que demandam (MACHADO, 2013, p.73).

    militantes: uma batalha tambm nas redes sociais. Em verso online no EL PAS Brasil. Disponvel em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/19/politica/1421692700_662910.html. Sobre os dez anos de Movimento Passe Livre, maiores detalhes em: Para onde vai o MPL?. Em verso online no EL PAS Brasil. Disponvel em:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/20/politica/1424467991_388982.htmle.

  • O argumento do modelo de Kriese (1992) fundamenta a perspectiva

    apontada de que a forma com que se configura a dinmica do conflito entre

    desafiantes e autoridades, MPL e Governo de So Paulo, limitam ou viabilizam

    as estratgias dos desafiadores, isto porque as autoridades e desafiadores

    so interdependentes e interagem contextualmente.16

    A compreenso aqui salientada, das dinmicas interacionais e o conflito

    entre os atores, no processo poltico, procura evidenciar a operacionalizao

    das oportunidades polticas (e tambm janela de oportunidade poltica

    mediada) para as estratgias das autoridades.

    Militantes x autoridades: um conflito tambm nas redes sociais

    O conflito de discursos na arena pblica, s transformaes culturais,

    construes e reconstrues, como oportunidades polticas de mediao e de

    visibilidades to importante quanto as oportunidades polticas num sentido

    geral. Gamson e Meyer (2006) ilustram em fase na dinmica do discurso pela

    conquista de reconhecimento da sociedade. A oportunidade poltica de

    mediao um processo fundamental na construo pblica do discurso que

    alimenta a sociedade.

    Deste modo, a internet, que contribui para notoriedade e articulao das

    manifestaes contrrias tarifa do transporte pblico, exibindo a batalha

    entre a Poltica Militar de So Paulo e os estudantes, em Junho de 2013,

    tornou-se objeto de disputa durante as manifestaes de 2015.

    Aps ter sua imagem relacionada violncia e represso nos atos de

    2013, a Polcia Militar decidiu utilizar a internet para divulgar a sua verso dos

    fatos e mobilizar a opinio pblica. Realizando a cobertura instantnea das

    manifestaes, a polcia uso sua conta no Twitter (mais de 78.000 seguidores)

    para transmisso dos vdeos, explicando os motivos de suas aes como

    resposta aos manifestantes. A polcia publicou vdeos com atos de 16

    Kriese (1992) ressalta, por exemplo, a importncia dos procedimentos informais que influenciam ou determinam as estratgias das autoridades frente aos desafiadores as estratgias podem assumir carter variados diante da permeabilidade ou inclusividade do Estado. Assim, o fato da Prefeitura de So Paulo convocar o dilogo com somente alguns dos grupos e movimentos sociais interessados, tangencialmente, na questo do transporte pblico, portas fechadas, excluindo o MPL, caracteriza um tipo de procedimento informal e estratgico das autoridades.

  • vandalismo a fim de justificar sua represso durante a marcha. Por sua vez o

    Movimento Passe Livre tambm utilizou sua conta no Twitter (2.100

    seguidores) para expor sua verso sobre a organizao e realizao das

    manifestaes.

    Conforme professor Fbio Malini, do Laboratrio de Estudos Sobre

    Imagem e Cibercultura Universidade Federal do Esprito Santo, sobre a rede

    Twitter e as manifestaes ocorridas no incio de 2015 em So Paulo.

    uma guerra em rede, que tem um efeito imediato na opinio pblica (...) PM e MPL perceberam a importncia de se ter esse posicionamento nas redes. Essa interao reduz a verdade dos outros (MALINI, 2015).

    17

    O conflito discursivo mais presente na e sobre as manifestaes de 2015

    evidenciam a oportunidade para conquista de visibilidade e espao para defesa

    dos movimentos sociais, so, pois oportunidades polticas de mediao. Mas

    as tticas e estratgias empregadas no conflito discursivo nas manifestaes

    em 2013, e que foram um diferencial atravs das redes sociais, j no so

    imprevisveis para as autoridades. Como resposta s manifestaes de 2013,

    considerando o ciclo de protestos em aberto, a Polcia Militar de So Paulo e a

    prefeitura, utilizaram tipos de oportunidades polticas a seu favor (como vimos

    acima), destacando-se a apropriao da oportunidade poltica de mediao no

    conflito discursivo, e que nos parece relevante para anlise dos processos

    polticos.

    Os apontamentos tornam evidente o grau de ambiguidades dos

    resultados do ciclo de confrontos iniciado em 2013, isto porque so as

    oportunidades e restries polticas que induzem a ao, em que todo

    momento o controle social est sendo testado ou reafirmado.

    Assim vale lembrar que a interveno poltica em mbitos sociais e

    institucionais perpassam a visibilidade e o discurso, ou seja, a oportunidade

    poltica de mediao.

    O campo no qual a palavra dos movimentos pode ser ouvida o discurso pblico. Esse campo visto, frequentemente, como produto das mdias, entendidas como aparatos impessoais aos quais se atribui o papel da manipulao. O discurso pblico no um dado, mas um

    17

    Trecho da entrevista concedida T. BEDINELLI, reprter do EL PAS Brasil, no dia 19/01/2015. Disponvel em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/19/politica/1421692700_662910.html

  • produto resultante de um complexo jogo de interaes no qual intervm, certamente, os objetivos e os interesses dos grupos de poder e dos aparatos polticos, e para o qual contribuem com um papel no subalterno seja as competncias profissionais e as dinmicas organizativas dos adeptos aos trabalhos, seja as escolhas dos consumidores da comunicao (MELUCCI, 2001, p.144).

    Tempo de Reverberao

    Como que as fontes sonoras, os movimentos sociais, seu par

    institucional, os opositores e desafiantes, nesse tempo de intervalo, neste

    binio, emitem novas ondas que combinam com as anteriores.

    Progressivamente, as vibraes sonoras aumentam ou se dispersam de forma

    diferenciada, a intensidade da vibrao que mantem o som em movimento.

    As novas tecnologias de informao e comunicao tornaram-se estruturas de

    oportunidades e limitaes para as ondas de aes coletivas. Atualmente,

    vivemos a reverberao, os ecos, das mobilizaes impulsionadas por aes

    de ciberativismo, e que neste contexto ganham notoriedade com ciclo de

    confronto a partir de Junho de 2013.

    As mdias, e outras narrativas alternativas, num contexto incomum e

    sequenciado de eventos, como Jornadas de Junho, Copa do Mundo de Futebol

    da Fifa, eleies presidenciais, anunciam um cenrio imprevisvel e indito. O

    leviat ou a ideia do grande mito trata-se, pois de encontrar repeties

    histricas e padres que fomentam este novo repertorio de ao na dinmica

    do conflito. J que as mudanas tratam das oportunidades e limites estruturais

    de mediao e dos repertrios inovadores, a relao movimentos sociais e

    autoridades no novidade, o diferencial a interpretao disto a partir do uso

    modular do repertrio de ao por ambos atores e a dinmica do conflito nas

    redes sociais.

    Assim rearticulam-se discursos transvestidos como que um caldeiro em

    (des) favor da real poltica, da discusso sobre o aporte institucional, sobre as

    polticas de participao, sobre os sistemas eleitorais, sobre a dinmica

    legislativa. O discurso vulnervel e fica preso a narrativas do tipo :

    Claro que no iria demorar para a esquerda radical se apropriar dos rolezinhos para sua narrativa marxista ultrapassada. Para quem tem apenas um martelo, tudo se parece prego. Essa gente enxerga luta de classes em todo lugar. Dividir para conquistar. Brancos contra negros,

  • ricos contra pobres, homens contra mulheres, heteros contra gays: o que seria dessa turma sem isso? Todo abutre precisa de carnia.

    18

    Pois, no limite, foi essa velha classe mdia, e no a classe trabalhadora mais prxima faixa de renda C, que saiu s ruas em junho. Segundo pesquisa do Datafolha de 20/6, 78% dos manifestantes tinham ensino superior completo. (...) As manifestaes de rua do ltimo ms so expresses das contradies imanentes desse arranjo poltico. A classe mdia que saiu de casa no o fez na defesa de qualquer direito que se encontrava em xeque. Tampouco porque j sente na pele os supostos limites de um modelo econmico que a grande imprensa, h anos, insiste em afirmar que se tornou insustentvel. A variedade de reivindicaes difusas e abstratas , antes, correlata dessa orfandade poltica a que ela, a classe mdia, foi relegada nos ltimos anos. No de se estranhar, portanto, que, na falta de um discurso estruturado, ela apenas repita certas palavras de ordem vazias veiculadas pela imprensa ou por setores da direita.

    19

    Cerca de 40 lderes de movimentos sociais, centrais sindicais e partidos como PT, PSOL, PC do B e PSTU comearam a articular a criao de uma frente nacional de esquerda e j preparam uma srie de atos e manifestaes para 2015. O objetivo dessa mobilizao o de se contrapor ao avano de grupos conservadores e de direita no s nas ruas, mas no Congresso e no governo federal. (...) Segundo eles, a frente popular de esquerda (ainda sem nome definido) vai agir em duas linhas. A primeira atuar como contraponto ao avano da direita nas ruas e no Congresso. Aps os protestos contra a reeleio da presidente Dilma Rousseff, esses grupos tambm preparam maior articulao.

    20

    Um ano e meio depois de trazer dor de cabea para governos em todo o pas, a "frmula MPL de protestos" com foco em compartilhamentos em massa, grandes eventos online e frases de efeito nas redes sociais est de volta. O movimento que prega gratuidade nos transportes, entretanto, diz que o vero de 2015 ser diferente da primavera que o tornou conhecido Brasil afora. A principal mudana o deslocamento das atividades para regies perifricas. "Vimos vrios atos acontecendo no centro em 2013. Agora entendemos que isso deve ir alm. A luta tem que estar na periferia, de baixo para cima", diz a estudante de Letras Andreza Delgado, porta voz do MPL. A mudana no s geogrfica: se em junho de 2013 a internet foi o principal eixo de discusses sobre os protestos, agora a mobilizao offline deve ganhar mais fora. "Dizem que o MPL saiu das ruas. No saiu. Fomos consolidar nosso trabalho nos bairros, junto populao", diz Delgado. "Neste ano, vamos ter mais atividades (na periferia) do que protestos", completa.

    21

    Contudo, alerta Almeida, no se trata de um processo de que participam apenas setores da esquerda. Os neoliberais esto na ofensiva bom deixar claro isso. Ns estamos nas ruas, s vezes em maior nmero, s vezes em menor nmero, mas bom saber que as ruas so ocupadas pela direita tambm, pelo centro, por setores de alta classe mdia neoliberal, adverte. A capacidade de mobilizao desse setor, porm, seria muito limitada, como demonstrou o fracassado movimento Cansei, lanado em 2007. Agora, tentaram

    18

    A esquerda oportunista se apropria dos rolezinhos para sua narrativa ideolgica tacanha. Colunista: Rodrigo Constantino. VEJA.com. 19

    A politizao do cotidiano, a classe mdia e a esquerda. Revista Carta Maior. 20

    Atos ps eleio estimulam movimentos sociais a articularem 'frente de esquerda'. O Povo Online. 21

    MPL repete frmula de 2013, mas promete levar protestos do centro para a periferia. Ricardo Senra. BBC Brasil em So Paulo.

  • pegar carona nas manifestaes de junho, fazer aquilo que sozinhos no tinham conseguido fazer. Nesse processo, comenta Altenfelder, os meios de comunicao hegemnicos atuaram no sentido de alterar a pauta das manifestaes e criminalizar alguns dos setores que estavam nas ruas, como os adeptos da ttica conhecida como black bloc.

    22

    Os recortes ilustrados acima reiteram nosso argumento de que a

    estrutura de oportunidade de mediao dos deve ser compreendida a partir das

    oportunidades polticas na dinmica de interao, ou seja, a conjuntura est

    posta para o par de atores, movimentos sociais e autoridades, reafirmadas

    pelas estratgias e tticas de confronto, iluminadas pelo discurso do conflito.

    Ressalta que, a natureza constitutiva da ao coletiva da estrutura de

    oportunidade de mediao, limita, facilita e encerra oportunidades de

    resistncia, operar mdias alternativas, discursos no hegemnicos e organizar

    redes, incorpora novidades ao repertrio de ao contenciosa.

    Da mesma forma, se argumenta aqui que ativistas avaliaro a estrutura de oportunidades de mediao em relao s tticas que empregam e, at certo ponto, escolhem a ttica para qual a estrutura de oportunidade de mediao favorvel, ou pelo menos conscientemente escolhem contestar os limites que ela impe. Em outras palavras, a estrutura de oportunidade de mediao tambm tem um impacto no repertrio disponvel e imaginvel de ao contenciosa, podendo at ser tornar constituinte do protesto (CAMMAERTS, 2013, p.18).

    A Internet pode servir mltiplas funes. Tarrow (1998) ilustra que os

    repertrios so ao mesmo tempo um conceito estrutural e cultural, que envolve

    no somente o que as pessoas fazem enquanto envolvidas no conflito com

    outros, mas tambm aquilo que aprenderam pela experincia e aquilo que

    esperar fazer.

    Esta dimenso explica porque os repertrios de ao modificam-se com

    o tempo, seja pelas mudanas tecnolgicas, seja por outros constrangimentos

    e facilitadores conjunturais das oportunidades, pelo discurso do conflito, mas

    tambm, em funo da expectativa que os outros atores sociais tero em

    relao s aes e decises que iro tomar.

    22

    As ruas se encheram de classes sociais da esquerda direita. Daniela Alarcon. Revista Adusp.

  • Os prximos anseios analticos ficam por conta do ambiente em que as

    novas tecnologias despontam como oportunidades de mediao, num ciclo de

    protestos iniciado nas Jornadas de 2013 e que est em aberto.

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