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GRUPO I A Lê com atenção o texto. Regressa à realidade. O seu tom tem a tristeza de quem sabe que não esperança possível. Diz por dizer. Sabe que não há nada a fazer, mas não deseja reconhecê-lo em frente de Matilde. Com a energia possível a quem chegou ao fim das suas forças. MATILDE (Depois duns instantes de silêncio) Não sei como agradecer-lhe tudo o que foi para nós, António: o amigo das coisas importantes e das pequenas coisas – essas pequenas coisas que só os verdadeiros amigos compreendem. Assistiu à morte do nosso filho e… agora, finge acreditar que vou ter ocasião de vestir a saia verde! Ainda que o não creia, fico-lhe igualmente grata por ambas as coisas. (Afasta-se. Fica de costas para Sousa Falcão) Ambos sabemos que ele não sairá vivo de S. Julião da Barra. Não o podem deixar sair, António. Onde quer que o encontrassem lembrar-se-iam do que são, e nenhum deles pode correr o risco de encontrar a sua própria consciência ao dobrar uma esquina. SOUSA FALCÃO Talvez ainda haja esperança… MATILDE Obrigada, meu amigo. Obrigada por ma querer dar, mas não: nesta terra, a esperança é uma palavra vã. (Pausa) Eu é que tenho de continuar como se a tivesse. Sou a mulher dele, António… e ele… é o meu homem. Enquanto nos não matarem, aquele de nós que estiver livre tem de lutar. SOUSA FALCÃO Mas como, Matilde? Como é que se pode lutar contra a noite? MATILDE Vamos falar com o D. Miguel Forjaz SOUSA FALCÃO Nem nos receberá! Conheço-o há muitos anos. É frio, desumano e calculista. Odeia Gomes Freire com um ódio que vem de longe, um ódio total, que não perdoa nada! Módulo | 11 | | Teste de Avaliação – Felizmente Há Nome: N.ºTurma: Classificação: Professor:Enc. de educação: 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

Mod 11 Teste Ava Felizmente Ha Luar Teste 1 Seq3

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GRUPO I

A

Lê com atenção o texto.

Regressa à realidade. O seu tom tem a tristeza de quem sabe que não há esperança possível.

Diz por dizer. Sabe que não há nada a fazer, mas não deseja reconhecê-lo em frente de Matilde.

Com a energia possível a quem chegou ao fim das suas forças.

MATILDE(Depois duns instantes de silêncio)

Não sei como agradecer-lhe tudo o que foi para nós, António: o amigo das coisas importantes e das pequenas coisas – essas pequenas coisas que só os verdadeiros amigos compreendem. Assistiu à morte do nosso filho e… agora, finge acreditar que vou ter ocasião de vestir a saia verde!Ainda que o não creia, fico-lhe igualmente grata por ambas as coisas.

(Afasta-se. Fica de costas para Sousa Falcão)Ambos sabemos que ele não sairá vivo de S. Julião da Barra. Não o podem deixar sair, António. Onde quer que o encontrassem lembrar-se-iam do que são, e nenhum deles pode correr o risco de encontrar a sua própria consciência ao dobrar uma esquina.

SOUSA FALCÃOTalvez ainda haja esperança…

MATILDEObrigada, meu amigo. Obrigada por ma querer dar, mas não: nesta terra, a esperança é uma palavra vã.

(Pausa)Eu é que tenho de continuar como se a tivesse. Sou a mulher dele, António… e ele… é o meu homem.Enquanto nos não matarem, aquele de nós que estiver livre tem de lutar.

SOUSA FALCÃOMas como, Matilde? Como é que se pode lutar contra a noite?

MATILDEVamos falar com o D. Miguel Forjaz

SOUSA FALCÃONem nos receberá! Conheço-o há muitos anos. É frio, desumano e calculista. Odeia Gomes Freire com um ódio que vem de longe, um ódio total, que não perdoa nada!Lembre-se de que são primos, e antigos camaradas de armas…Um é franco, aberto, leal.O outro é a personificação de mediocridade consciente e rancorosa.Gomes Freire perdoaria a D. Miguel Forjaz, mas D. Miguel Forjaz vai enforcar Gomes Freire d’Andrade.É inútil bater-lhe à porta.

Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar!, Areal Editores (texto adaptado e com supressões)

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Nome: ____________________________________________ N.º________ Turma:_________Classificação:_______________________________________________________________________________________________________________________________________________Professor:_________________________ Enc. de educação:_____________________________

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Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Explicita os argumentos de Matilde para considerar António de Sousa Falcão seu amigo.

2. Interpreta a frase proferida por Matilde (“Onde quer que o encontrassem lembrar-se-iam do que são, e nenhum deles pode correr o risco de encontrar a sua própria consciência ao dobrar uma esquina.”), inserida na sua primeira intervenção.

3. Apresenta o valor simbólico da “saia verde” (primeira réplica de Matilde) e da “noite” (segunda réplica de António de Sousa Falcão).

4. Indica as funções das didascálias inseridas no texto e das laterais, tendo em conta o excerto apresentado.

B

Felizmente Há Luar! apresenta factos históricos remanescentes ou antecedentes da Revolução Liberal de 1820, com o claro objetivo de levar o espetador a uma análise crítica da situação político-social do Portugal da década de 1960.

Márcia Regina Rodrigues, Traços Épico-Brechtianos na Dramaturgia Portuguesa…,Editora UNESP, 2010

Num texto de 80 a 130 palavras, e convocando o estudo da obra supracitada, comenta a afirmação acima transcrita.

GRUPO II

Lê com atenção o seguinte texto.

Se muita coisa era proibida à mulher, à diferença do homem, antes de 1974, o trabalho não só o era com certeza, embora a mulher casada só pudesse ter emprego com autorização do marido, o chefe de família, que, em qualquer momento, podia chegar junto do empregador da sua mulher e dizer-lhe: “– Despeça-ma, se faz favor”.

A Nação de Salazar não podia, por muito que lhe apetecesse, prescindir da mão de obra feminina, mais que não fosse por pressão dos empregadores, que necessitavam de braços mais baratos, e da realidade – mais um ordenado em casa, por pequeno que fosse, e era, significava não ter de optar entre comer e pagar a renda de casa.

Nos campos, o braço da mulher sempre foi usado – e nem sempre nas tarefas mais leves, que não dava aqui jeito algum aplicar a, de outro modo omnipresente, teoria do sexo fraco. A mulher do lavrador lavrava como o marido, ordenhava, arrancava batata, mondava arroz, ceifava, e empurrava o arado, com a mesma energia que os varões de Portugal. Talvez não rachasse lenha e abatesse pinheiros, talvez, mas, no trabalho assalariado, a camponesa era figura tão comum como a do operário agrícola e, na economia familiar, se diferença houvesse era mesmo a favor do trabalho feminino.

Na indústria, também não cabia na cabeça dos guardadores da moral proibir a esmagadora maioria feminina nos têxteis, por exemplo, desde que não chegassem muito alto nas chefias, ficando reservada para o empregador a tarefa de evitar o acesso da mulher a atividades consideradas masculinas.

António Costa Santos, in Proibido, Editora Guerra & Paz, 2007 [texto adaptado e com supressões]

1. Seleciona a opção correta.

1.1. No primeiro parágrafo do texto, o enunciador destaca...a) a igualdade de géneros em termos laborais.b) a hierarquia de poder face à empregabilidade da mulher.c) a emancipação da mulher em termos laborais.d) o poder patronal face à mão-de-obra feminina.

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1.2. O segmento textual, após o travessão (linha 7) até ao final do segundo parágrafo, apresenta como ideia principal uma realidade presente em Portugal durante a ditadura salazarista...a) a inferioridade da mulher relativamente ao homem.b) o contributo do ordenado da mulher para pagar a renda de casa.

c) a importância da presença da mulher em casa para cumprimento dos afazeres domésticos.d) as dificuldades económicas das famílias.

1.3. O enunciado “ – Despeça-ma, se faz favor.” (linha 4) ilustra um ato ilocutório...a) assertivo.b) expressivo.c) diretivo.d) compromissivo.

1.4. Na expressão “Nação de Salazar” (linha 5), o autor utiliza uma...a) perífrase.b) comparação.c) hipálage.d) metáfora.

1.5. O vocábulo “empregador” (linha 3) é...a) um composto morfológico.b) um composto morfossintático.c) uma palavra derivada por prefixação.d) uma palavra derivada por sufixação.

1.6. Na frase “que necessitavam de braços mais baratos” (linha 6), com a palavra sublinhada o enunciador recorre a um processo de coesão...a) referencial (anáfora).b) lexical (meronímia).c) lexical (hiponímia).d) referencial (catáfora).

1.7. O conector “desde que” (linha 16) introduz uma ideia de...a) condição.b) consequência.c) tempo.d) causa.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Classifica a oração “por muito que lhe apetecesse”. (linha 5)

2.2. Indica a modalidade presente na frase “Talvez não rachasse lenha e abatesse pinheiros”. (linhas 12-13)

2.3. Identifica a figura de estilo presente na expressão “guardadores da moral”. (linha 15)

GRUPO III

Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, apresenta uma reflexão sobre a importância das relações interpessoais na vida em sociedade.

Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.

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COTAÇÃO

GRUPO IA1. ......................................................................................................................................... 20 pontos2. ......................................................................................................................................... 15 pontos3. ......................................................................................................................................... 20 pontos4. ......................................................................................................................................... 15 pontos

__________70 pontos

B .......................................................................................................................................... 30 pontos

__________30 pontos

GRUPO II1.1. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.2. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.3. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.4. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.5. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.6. ...................................................................................................................................... 5 pontos1.7. ...................................................................................................................................... 5 pontos2.1. ...................................................................................................................................... 5 pontos2.2. ...................................................................................................................................... 5 pontos2.3. ...................................................................................................................................... 5 pontos

__________ 50 pontos

GRUPO III ........................................................................................................................ 50 pontos

__________ 50 pontos

Total ________________ 200 pontos

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GRUPO I

A

1. Matilde argumenta que Sousa Falcão é daqueles amigos que está sempre presente, nos bons e nos maus momentos. Acompanhou Matilde num momento de dor aquando da morte do seu filho e acompanha-a, agora, numa fase marcada também pelo sofrimento devido à consciência que tem da execução do seu companheiro. Para além disso, António, ainda que perfeitamente lúcido da tragédia que se abate na família de Matilde, tenta encorajá-la, transmitindo-lhe o sentimento de esperança. Enfim, Sousa Falcão é “o amigo das coisas importantes e das pequenas coisas”.)

2. A frase proferida por Matilde realça o mau caráter dos governadores do reino, que, em prol das suas conveniências, abatem todos aqueles que ousem desafiá-los.

3. No contexto em que surge, a “saia verde” simboliza a esperança de Matilde em reencontrar com vida Gomes Freire de Andrade. Por sua vez, a “noite”, nas palavras de Sousa Falcão, remete para a ideia de um regime opressor que não aceita a opinião contrária da sua.

4. No excerto apresentado, a didascália inserida no texto dá informações relativamente à passagem do tempo – “(Depois de uns instantes de silêncio)” – e à movimentação, gestualidade das personagens – “(Afasta-se. Fica de costas para Sousa Falcão)”. Quanto às notas laterais, elas servem de complemento ao texto, pois funcionam como notas explicativas. Neste sentido, o dramaturgo explica o comportamento das personagens, como exemplificam as duas primeiras didascália laterais.

B

Felizmente Há Luar! é uma das obras que, na esteira de Brecht, traduz a preocupação social do autor que nela apresenta um acontecimento historicamente situado no período pré-liberal.

Na verdade, todo o ato I deste texto dramático se desenvolve em torno do modo como a conspiração de 1817 foi sufocada, destacando as ações que levam à prisão do seu líder e à sua posterior execução. Contudo, a realidade retratada é apenas pretexto para denunciar a situação político-social em que o autor estava inserido, a época salazarista, que se assemelhava à descrita.

Pelo exposto, facilmente se depreende que perpassa na obra uma forte vertente histórica, muito embora a emotividade impere no ato II, perante a manifestação de dor de Matilde de Melo.

121 palavras

GRUPO II

1.1. b); 1.2. d); 1.3. c); 1.4. a); 1.5. d); 1.6. b); 1.7. a).2.1. Oração subordinada (adverbial) concessiva.2.2. Epistémica / de probabilidade.2.3. Ironia.

GRUPO III

(Resposta de caráter pessoal.)

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