MODELO DE GESTÃO ECONÔMICO-AMBIENTAL POR … Alberto.pdf · obtenção do grau de Mestre em Ciências Ambientais. rea de Concentração: Economia Ambiental. ... Prof. Dr. Alfredo

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    Programa de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e

    Sustentabilidade na Amaznia PPG/CASA

    Mestrado Acadmico

    MODELO DE GESTO ECONMICO-AMBIENTAL POR

    REMUNERAO DE SERVIOS AMBIENTAIS POR

    CRDITOS DE CARBONO, NO MUNICPIO DE

    PRESIDENTE FIGUEIREDO/AM, COM SIMULAO DE

    SAFS

    LUIZ ALBERTO FAANHA FONSECA FILHO

    MANAUS AMAZONAS

    2012

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    Programa de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente e

    Sustentabilidade na Amaznia PPG/CASA

    Mestrado Acadmico

    MODELO DE GESTO ECONMICO-AMBIENTAL POR

    REMUNERAO DE SERVIOS AMBIENTAIS POR CRDITOS

    DE CARBONO, NO MUNICPIO DE PRESIDENTE

    FIGUEIREDO/AM, COM SIMULAO DE SAFS

    LUIZ ALBERTO FAANHA FONSECA FILHO

    Orientador: Prof. Dr. Alexandre Almir Ferreira Rivas

    MANAUS AMAZONAS

    2012

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao

    em Cincias do Ambiente e Sustentabilidade da Amaznia

    (PPG-CASA) do Centro de Cincias do Ambiente (CCA)

    da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para a

    obteno do grau de Mestre em Cincias Ambientais.

    rea de Concentrao: Economia Ambiental

  • Ficha Catalogrfica

    (Catalogao realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

    F676m

    Fonseca Filho, Luiz Alberto Faanha

    Modelo de gesto econmico-ambiental por remunerao de

    servios ambientais por crditos de carbono, no municpio de

    Presidente Figueiredo/AM, com simulao de SAFS / Luiz

    Alberto Faanha Fonseca Filho. - Manaus: UFAM, 2012.

    69 f.

    Dissertao (Mestrado em Cincias Ambientais)

    Universidade Federal do Amazonas, 2012.

    Orientador: Prof. Dr. Alexandre Almir Ferreira Rivas

    1. Poltica ambiental 2. Crditos de carbono 3. Servios

    ambientais 4. Gesto ambiental I. Rivas, Alexandre Almir

    Ferreira (Orient.) II. Universidade Federal do Amazonas III.

    Ttulo

    CDU 630*114(043.3)

  • LUIZ ALBERTO FAANHA FONSECA FILHO

    MODELO DE GESTO ECONMICO-AMBIENTAL POR

    REMUNERAO DE SERVIOS AMBIENTAIS POR

    CRDITOS DE CARBONO, NO MUNICPIO DE

    PRESIDENTE FIGUEIREDO/AM, COM SIMULAO

    DE SAFS

    Aprovado em 5 de outubro de 2012. BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dra. Therezinha de Jesus Pinto Fraxe - UFAM

    Prof. Dr. Alfredo Kingo Oyama Homma - UFAM

    Prof. Dr. Jos Alberto da Costa Machado - UFAM

    MANAUS AMAZONAS

    2012

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao

    em Cincias do Ambiente e Sustentabilidade da Amaznia

    (PPG-CASA) do Centro de Cincias do Ambiente (CCA)

    da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para a

    obteno do grau de Mestre em Cincias Ambientais.

    rea de Concentrao: Economia Ambiental

  • 5

    Agradeo

    A Deus e a meus familiares pelo incentivo e

    infindvel crena no meu trabalho e no meu

    potencial. Com especial agradecimento minha

    me, Maria de Lourdes; e a meu pai, Luiz Faanha.

    Coordenao do PPG-CASA, com sua equipe

    profissional, tica e profundamente comprometida

    com o crescimento do conhecimento cientifico.

    Ao meu Orientador, Professor Dr. Alexandre

    Rivas, por compartilhar de sua experincia e

    sagacidade na lapidao deste trabalho.

    Ao amigo, Joel Gadelha, pelo companheirismo e a

    incansvel vontade de contribuir para o

    aprimoramento do conhecimento cientfico.

    Ao Centro de Sementes Nativas do Amazonas,

    pelo Prof. Dr. Manuel Lima, que contribuiu

    enormemente para a concluso deste trabalho, no

    fornecimento dos dados de produo dos SAFs.

    Dedico

    minha av, Maria Rosa Costa Lima Gioia. Eterna

    incentivadora do crescimento profissional e

    intelectual de todos os seus descendentes.

  • 6

    RESUMO

    Crditos de carbono representam um importante instrumento de pagamentos por

    servios ambientais. Embora foquem no seqestro de carbono, as atividades sustentveis que

    recebem investimentos por crditos de carbono produzem inmeros outros servios

    ambientais, tais como: ciclo de chuvas, biodiversidade, fertilidade do solo, etc. Prope-se a

    criao de um modelo de gesto econmico-ambiental que d incentivos econmicos a

    pequenos produtores locais e a investidores, com o intuito de fomentar a produo de

    servios ambientais. A ferramenta para a gerao destes servios ser o SAF (Sistema

    Agroflorestal), embora este modelo possa ser aplicado em outras atividades sustentveis que

    objetivem tanto preservao de reas nativas, quanto recuperao de reas degradadas.

    So analisadas as condicionantes de risco de investimentos e gerao de servios ambientais.

    A simulao do modelo ser aplicada no municpio de Presidente Figueiredo, no interior do

    Estado brasileiro do Amazonas. Sero criados dois fundos de investimentos, gerenciados por

    um agente de custdia. O Fundo de Investimentos s Famlias visa a pagar aos produtores

    locais, valores pertinentes ao servio ambiental prestado, durante os primeiros anos de

    produo do SAF, enquanto os produtores locais no auferem renda alguma das culturas

    perenes. O Fundo de Segurana do Comprador visa a assegurar o retorno do investimento

    aplicado pelo comprador de servios ambientais. Pelo exerccio realizado, simulando um

    SAF de um hectare com 370 rvores (e/ou touceiras), possvel realizar 16 pagamentos

    trimestrais de R$78,05, por hectare, ou R$0,2109 por rvore. A partir do 5 ano, o

    pagamento por servios ambientais interrompido, dando lugar, somente, renda auferida

    com a comercializao dos produtos do SAF. A partir do 7 ano, os agricultores podero

    pagar pelo plantio de novas rvores em outros hectares. O modelo ter um ciclo de 18 anos.

    Ao final do ciclo ser pago, ao comprador de servios ambientais, ao valor presente, R$6,84

    oriundos do Fundo de Segurana do Comprador; mais o valor que fora investido

    inicialmente, oriundo da comercializao dos crditos de carbono, admitindo-se a variao

    dos preos dos crditos de carbono, no tempo.

    Palavras-chave: servios ambientais, crditos de carbono, investimentos, renda,

    SAF.

  • 7

    ABSTRACT

    Carbon Credits are an important instrument of payment for environmental services.

    Although sustainable activities generally focus on carbon sequestration, they produce

    numerous other environmental services, such as rainfall cycle, biodiversity, soil fertility, etc.

    A model of economic-environmental management is proposed in this dissertation to give

    economic incentives to local producers and investors, in order to promote the production of

    environmental services. The tool for the generation of these services will be the SAF

    (Agroforestry System), although this model can be applied to other sustainable activities that

    aim both to the preservation of native forests, or the recovery of degraded areas. The

    simulation of the model considers the city of Presidente Figueiredo, in the state of

    Amazonas, Brazil. Two investment funds, managed by an finance institution, will be

    created. The Investment Fund for Families aims to pay the local farmers, for the

    environmental services provided, during the first years of production of SAF, while local

    producers do not receive any income from perennial crops. The Buyers Security Fund aims

    to ensure the return of the investment paid by the buyers of environmental services. The

    exercise performed, simulating a SAF of an hectare with 370 trees, 16 quarterly payments of

    R$ 78.05 per hectare, or R$ 0.2109 per tree, can be made. From the 5th year on, no other

    payments for environmental services will be made, while local farmers will have only the

    income from their SAF. From the 7th

    year on, the local farmers will be able to pay for new

    trees, in new areas. The model will have a cycle of 18 years. At the end of the cycle the

    buyers, of environmental services, will receive the amount of R$6.84, from the Buyers

    Security Fund; and the amount from the sale of the carbon credits, after the mentioned 18

    years.

    Keywords: environmental services, carbon credits, investment, income, SAF

  • 8

    SUMRIO

    I INTRODUO pg. 12

    II REVISO DA LITERATURA pg. 14

    II.1 Tratado de Quioto e o Mercado de Servios Ambientais pg. 14

    II.2 Princpios de Economia e Relaes de Troca com Servios Ambientais pg. 16

    II. 3 Conhecendo o Agente Fornecedor de Servios Ambientais na

    Amaznia pg. 19

    II. 3.a Uma Histria de Explorao da Populao Amaznica pg. 19

    II. 3.b A Representatividade das Populaes Amaznicas nas Questes

    Ambientais pg. 20

    II. 4 Caractersticas das Populaes Amaznicas pg. 22

    II. 5 Os SAFs como Alternativa Sustentvel pg. 24

    III OBJETIVOS (Gerais e Especficos) pg. 27

    IV - MTODOS pg. 28

    IV.1 Delimitaes da rea da pesquisa pg. 28

    IV.2 Dos Fundamentos para Investimentos pg. 28

    IV.3 Dos Fundamentos para Servios Ambientais, Crditos de carbono

    e Sustentabilidade pg. 29

    IV.4 A Aplicao do Modelo Econmico Proposto pg. 31

    IV.4.a O Objetivo do Modelo pg. 31

    IV.4.b Da Atividade Sustentvel pg. 32

    IV.4.c As Variveis do Modelo pg. 32

    IV.4.c.i 1 Varivel: O Investimento (Ia) pg. 32

    IV.4.c.ii 2 Varivel: A Renda Marginal do SAF (RMgS) pg. 33

    IV.4.c.iii 3 Varivel: A Renda Marginal dos Servios Ambientais (RMgC) pg. 35

    IV.5 Da escolha do Mtodo de Valorao dos Crditos de carbono pg. 37

    IV.6 Dos Agentes do Modelo de Gesto Econmico-Ambiental pg. 39

    V VANTAGENS ANTECIPADAS DO MODELO pg. 41

    VI MATERIAIS pg. 42

    VI.1 Do Valor da Renda Marginal do Crdito de Carbono pg. 42

    VI.1.a Do preo do Crdito de Carbono pg. 42

  • 9

    VI.1.b Do Volume de Carbono pg. 43

    VI.1.c Da Renda Auferida com o Carbono Sequestrado pg. 46

    VI.1.d Da Quantidade de rvores por Hectare pg. 46

    VI.1.e Dos Valores de Renda Marginal de Crditos de carbono (RMgCn) pg. 47

    VI.1.f Do Risco para Sequestro de Carbono e o Fundo de Segurana do

    Comprador (FSC) pg. 49

    VI.2 Da Renda Marginal Auferida com a Produo do SAF (RMgS) pg. 50

    VI.3 Do Investimento para o Plantio do SAF pg. 56

    VII RESULTADOS ANALISADOS pg. 58

    VII.1 Dos Pagamentos de Servios Ambientais pg. 58

    VII.2 Pontos e pg. 59

    VII.3 Dos Rendimentos sobre os Servios Ambientais pg. 61

    VIII. CONSIDERAES FINAIS pg. 62

    BIBLIOGRAFIA pg. 64

  • 10

    NDICE DE TABELAS

    TABELA 01: Toneladas de Carbono Sequestradas ao ano, em um hectare pg. 46

    TABELA 02: Mximo de rvores para um hectare. pg. 47

    TABELA 03: Tabela de Clculo da Renda Marginal por Recebimentos

    de Servios Ambientais, com base na valorao por Crditos de carbono. pg. 48

    TABELA 04: Tabela de mximo de rvores por hectare; Preo de

    venda de produtos agrcolas e Faturamento Mdio no Trinio, por rvore. pg. 51

    TABELA 05: Receita auferida com a comercializao dos produtos

    agrcolas de cada rvore, por espcie, ao ano. pg. 55

    TABELA 06: Investimento para o plantio de uma rvore mdia

    para as espcies. pg. 56

    NDICE DE IMAGENS

    FIGURA 01: Mapa do Municpio de Presidente Figueiredo-AM. pg. 28

    FIGURA 02: Destino do valor pago pelos agentes compradores. Pg. 58

  • 11

    NDICE DE GRFICOS

    GRFICO 01: Investimento por rvore ilustrao do modelo de

    investimento para o plantio de uma rvore, ao longo do tempo. pg. 33

    GRFICO 02: Sistema Tradicional de Agricultura VS Sistema

    Sustentvel (Ex: SAF) ilustrao para diferenciar o desempenho de

    faturamento, no tempo, entre um modelo de produo tradicional e um

    modelo de produo sustentvel. pg. 34

    GRFICO 03: Investimento (Ia) por rvore e RMgs. pg. 34

    GRFICO 04: Investimento (Ia), RMgs e RMgc. pg. 36

    GRFICO 05: Grfico da Reduo Histrica do Preo Mdio dos

    Crditos de carbono. pg. 42

    GRFICO 06: Renda Marginal de Crditos de carbono - em anos. pg. 48

    GRFICO 07: Volumes de Produo do SAF, por rvore, ao ano. pg. 54

    GRFICO 08: Valores da Produo do SAF, por rvore, ao ano. pg. 54

    GRFICO 09: Renda Marginal do SAF ao ano. pg. 55

    GRFICO 10: RMgC, RMgS e Ia (t0-t18). pg. 56

    GRFICO 11: RMgC, RMgS e Ia (t0-t7). pg. 57

  • 12

    I - INTRODUO

    O desmatamento da Amaznia brasileira tema amplamente discutido desde as

    unidades familiares at as estncias mais altas dos planejadores governamentais; passando

    por ONGs, grandes grupos empresariais globais, etc. Dados do INSTITUTO NACIONAL

    DE PESQUISAS ESPACIAIS (2011) mostram que o desmatamento nesta regio tem

    diminudo substancialmente. Entre agosto de 2001 e agosto de 2002, a rea desmatada era de

    21.394km2. No mesmo perodo para 2009/2010, a rea de desmatamento foi de 6.451km

    2.

    Houve, pois, uma reduo de 70% da rea desmatada anual (PRODES, 2011). As principais

    presses para o desmatamento na regio veem da pecuria - responsvel por 75% do

    desmatamento na Amaznia - e do plantio de soja. Os principais Estados afetados so: Par,

    Mato Grosso, Tocantins, Rondnia e Roraima (BARRETO et al., 2010).

    O Estado do Amazonas ostenta 98% do seu territrio preservado (PRODES, 2011).

    Os principais motivos apontados para a reduo do desmatamento anual so o

    aperfeioamento das tecnologias de monitoramento e de fiscalizao, na regio. Entretanto,

    resta a dvida: a reduo do desflorestamento sustentvel ou ela recair sobre as reas do

    perodo de 2001/2002? A ferramenta de Comando e Controle parece ter atingido sua

    capacidade mxima para mitigar o desmatamento na Amaznia brasileira. Uma soluo

    possvel seria a de intensificar a fiscalizao sobre desmatamentos ilegais dos grandes

    proprietrios de terra e oferecer polticas de incentivo aos pequenos proprietrios -

    produtores locais (BARRETO id.). Tais medidas diminuiriam as presses polticas e

    econmicas para desmatamento na regio. Os incentivos poderiam vir na forma de crdito

    rural para o manejo florestal, ou de pagamento pelos servios ambientais, pelos Crditos de

    carbono gerados por REDD.

    As negociaes de Crditos de carbono so, oficialmente, restritas aos pases

    signatrios do Anexo 1 do Tratado de Quioto. Tais pases so aqueles que geraram grande

    degradao ambiental, no passado, e que no tem grandes extenses de vegetao nativa em

    seus respectivos territrios (KAHN, 2004). Desde a COP-15 houve esforos de incluso dos

    pases no-signatrios do Anexo-1 nas negociaes de crditos de carbono. O objetivo de

    que estes pases preservem suas reas nativas. Tais iniciativas, at o momento, se

  • 13

    concentraram em atos altrustas, onde o benefcio parte da percepo, de longo prazo, de que

    preciso preservar estas reas.

    Este trabalho tem o objetivo de desenvolver um modelo de ferramenta que gere

    incentivos de curto, mdio e longo prazo aos produtores locais para dirimir o desmatamento

    na Amaznia brasileira, preservando os servios ambientais advindos da mesma.

    Adicionalmente, este trabalho se prope a apresentar uma proposta conceitual sobre a

    construo de um fundo de investimentos para o financiamento de produtores locais

    envolvidos em atividades sustentveis, representando um pagamento por servios

    ambientais, envolvendo os seguintes agentes:

    1) Moradores das regies desmatadas Agentes Fornecedores;

    2) Investidores (qualquer pessoa ou grupo de pessoas) Agentes Compradores;

    3) Entidades Financeiras (Bancos, Corretoras, etc.) Agentes de Custdia.

    A proposta do modelo para que todos tenham um estmulo econmico de curto, mdio e

    longo prazo para preservar as reas nativas e recuperar as reas degradadas.

  • 14

    II REVISO DA LITERATURA

    II.1 Tratado de Quioto e o Mercado de Servios Ambientais

    O Tratado de Quioto (UN, 1998) nasceu de uma resposta ao crescente anseio para

    diminuio das aes humanas sobre o meio-ambiente. Desde o Relatrio de

    BRUNDTLAND (1987), o conceito de sustentabilidade se consolidou na prerrogativa de

    que as geraes presentes podem usufruir dos recursos naturais para lograr o seu

    desenvolvimento sem, porm, diminuir o potencial das geraes futuras de encontrarem o

    seu prprio desenvolvimento. Em Quioto, Japo, as naes desenvolvidas estabeleceram

    metas de reduo de emisses de Gases do Efeito Estufa (GEE). Houve, na ocasio, grande

    debate sobre as responsabilidades das naes desenvolvidas frente responsabilidade das

    naes em desenvolvimento, como o Brasil (e regies como a Amaznia). O argumento que

    tomou conta das discusses era o de que as naes em desenvolvimento deveriam ficar de

    fora das metas de reduo de emisses, posto que o atual acmulo de gases de efeito estufa

    (GEE) fora ocasionado, principalmente, pelas naes desenvolvidas. Tal discusso criou

    dois grupos de pases: 1) O grupo dos pases signatrios do Anexo-1, formado por naes

    desenvolvidas e que tinham metas de reduo de emisses de gases de efeito estufa; e 2) O

    grupo dos pases no-signatrios do Anexo-1, formados por naes como o Brasil e outros

    pases da Amaznia, por exemplo, que no tinham metas de reduo de emisses (UN,

    1998).

    O Tratado de Quioto usa como unidade representativa, dos servios ambientais, os

    crditos de carbono (onde 1 crdito de carbono equivale 1 tonelada de carbono). Segundo

    Kahn (2004), as negociaes de Crditos de carbono se encaixam na poltica de incentivos

    econmicos, para a diminuio de poluio, chamada de permisses negociveis de

    poluio (PNP). As PNPs consistem em estabelecer uma meta de poluio mnima. A partir

    desta meta, haver pases que a excedero e pases que ficaro abaixo dela. Dentro desta

    diferena de resultados com relao meta estabelecida, os pases podero negociar seus

    diferentes saldos, criando um mercado de permisses de poluio. Poluidores que

    excederem a meta podem negociar com os poluidores que ficarem abaixo dela. Na prtica,

    os pases iro comparar o preo das PNPs com os seus custos marginais de abatimento da

    poluio (CMA). Se o CMA for maior do que o custo da PNP, ento o poluidor pode poluir

  • 15

    e, ao invs de investir no abatimento da poluio, ele comprar permisses (PNPs). De outro

    modo, se o poluidor considerar que o preo da PNP muito mais caro do que o custo que ele

    teria para diminuir sua poluio (CMA), ele se sentiria mais motivado a diminuir a poluio

    e ainda vender os excedentes de PNP que ele geraria (KAHN, 2004).

    Em face ao exposto, pode-se concluir que o Tratado de Quioto criou um mercado

    de negociao de permisses de poluio, restrito aos pases signatrios do Anexo-1 e que

    usavam a tonelada de carbono (ou crdito de carbono) como uma unidade representativa

    dos inmeros servios ambientais. Neste acordo, no Anexo-1, os pases que excedessem

    suas metas poderiam negociar este excedente com os pases que no cumprissem com suas

    metas de reduo de emisses de gases de efeito estufa. A oportunidade de negociao dos

    crditos de carbono foi criada passando a comercializ-los como commodities. Para cada

    tonelada de carbono que no foi lanada na atmosfera h a incluso de um crdito de

    carbono que pode ser negociado com um pas que no atingiu sua meta de reduo degGases

    do efeito estufa (GEE). H ainda a equivalncia dos crditos de carbono para cada tipo de

    GEE, respeitando os efeitos destes mesmos gases para o aquecimento global, tais como: 1

    ton. de metano = 21 crditos de carbono, 1 ton. de xido nitroso = 310 crditos de carbono,

    etc. (UN, 1998).

    Os pases no-signatrios do Anexo-1 tiveram a opo de entrar neste mercado

    atravs do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (UN, 1998). Como os pases no-

    signatrios no tinham metas de reduo de emisses, no havia como participarem da

    compra e venda de Crditos de carbono. Porm, poderiam receber investimentos dos pases

    desenvolvidos a fim de que diminussem suas emisses e preservassem suas reas nativas.

    Entretanto, as regras do MDL e os limites impostos para a negociao desta ferramenta a

    tornaram economicamente invivel. Os pases no-signatrios do Anexo-1 alm de no

    terem nenhuma meta de reduo de emisses, tambm no tinham nenhum estmulo para

    diminuir as emisses por desmatamento.

    A partir da COP-15, o modelo de REDD (Reduo de Emisses por Degradao e

    Desmatamento) surge como alternativa que pode inserir os pases em desenvolvimento no

    mercado de crditos de carbono. O REDD consiste em pases desenvolvidos comprando

    crditos de carbono (ou toneladas de carbono) de reas ameaadas de desmatamento. Hoje,

  • 16

    este conceito ainda limitado s reas de fronteira - entre as reas nativas e as reas

    desmatadas (NEPSTAD, 2007).

    importante frisar a diferena conceitual entre recursos naturais e os recursos

    ambientais (ou servios ambientais). Recursos naturais so fceis de contabilizar, pois

    contam com unidades diretas e que so infinitamente divisveis. A gua, por exemplo, um

    recurso natural que pode ser medido em litros, centilitros, mililitros, etc. Os servios

    ambientais, porm, no podem ser medidos por uma unidade direta. Como se poderia medir

    o benefcio do ar puro, ou de um solo frtil? Os recursos ambientais (ou servios ambientais)

    devem ser medidos indiretamente, por unidades representativas, como os crditos de

    carbono (KAHN, 2004). Sabe-se que a manuteno das condies climticas apenas um

    dentre tantos servios ambientais que as florestas podem proporcionar. A biodiversidade, o

    controle de pragas, a gua potvel so outros exemplos de servios ambientais onde a

    sociedade se pauta para sua produo corrente de bens e servios. No obstante, hoje,

    somente os crditos de carbono tem um valor reconhecido no mercado. As valoraes aos

    demais servios ambientais no tem mercado expressivo que as deem suporte.

    II.2 Princpios de Economia e Relaes de Troca com Servios Ambientais

    Um dos dez princpios de economia, apontados por Mankiw (2009), de que as

    pessoas reagem a incentivos. Este , talvez, segundo alguns economistas, o princpio mais

    importante da cincia econmica. Todos fazemos escolhas movidos por um incentivo, seja

    ele social, poltico ou econmico. Em especial, os incentivos econmicos, ou monetrios,

    tem um fator catalisador, para tomada de decises, por serem de fcil assimilao e

    comparao. Se recebemos um desconto, ou se ganhamos um ticket de R$5,00 ao realizar

    uma compra, vamos ter melhores padres de comparao para completar nossas escolhas do

    que se tivssemos padres sociais ou polticos, os quais so subjetivos e abstratos. Como

    exemplos destes ltimos esto os critrios de gostos e costumes, fatores psicolgicos e

    sociais, preferncias ideolgicas, etc.

    Em reas ameaadas por desmatamento, em pases no-signatrios do Tratado de

    Quioto, os investimentos em crditos de carbono so pautados por decises onde o estmulo

    ao qual os investidores reagem meramente social ou poltico. Ou seja, o retorno (ou

  • 17

    benefcio) que cada investidor colher, pelo valor aplicado, subjetivo ou abstrato e no

    produzir nenhum benefcio de curto prazo. E para o longo prazo, h o risco de no atingir o

    objetivo desejado a preservao de reas nativas pois nas reas ameaadas h srios

    problemas quanto legalidade fundiria, a seriedade das instituies de monitoramento

    ambiental, o compromisso dos moradores locais, etc.

    No cenrio proposto atualmente, somente decises altrustas poderiam optar por

    transferir recursos para a preservao e/ou conservao de reas ameaadas de

    desmatamento, nestes pases. Os valores demandados so altos, o risco de insucesso

    igualmente elevado e as garantias de ganhos so abstratas. preciso reorganizar os agentes

    produtores e compradores de servios ambientais (BAGGETHUN, 2010). O 5 princpio da

    economia, proposto por Mankiw (2009), de que todos ganham com as trocas. Ou seja,

    no h vencidos ou vencedores, mas a troca de interesses convergentes.

    Para organizar produtores e compradores de servios ambientais importante,

    primeiramente, identific-los (KAHN, 2004). Os moradores de reas nativas, ou em

    recuperao, na Amaznia brasileira so responsveis pela preservao dos servios

    ambientais e podem, pois, ser considerados como os produtores destes servios. As pessoas

    que no tm nenhum interesse direto na explorao das reas nativas e que no vivem nelas,

    mas todos os dias usufruem dos servios advindos destas mesmas reas, so os potenciais

    compradores dos servios ambientais (BAGGETHUN, id.).

    O segundo passo seria reconhecer um ponto de convergncia de interesses. Se

    todos ganham com as trocas; e se assumimos que produtores e compradores podem,

    mutuamente, ganhar com o fornecimento de servios ambientais, importante identificar

    qual seria o ponto onde estes dois agentes teriam interesses individuais convergentes

    (MANKIW, id.). Todos querem preservar as matas nativas de pases no-signatrios do

    Anexo-1, como na Amaznia brasileira. Ambos os agentes, produtores e compradores,

    reconhecem que a preservao de matas nativas, ou at a recuperao de reas degradadas,

    pode manter ou at aumentar a qualidade do fornecimento de servios ambientais. Este,

    definitivamente, um ponto de convergncia. Tanto os que moram na regio como os que

    somente usufruem dos servios ambientais, distncia, tm este interesse mtuo

    (BAGGETHUN, id.).

  • 18

    O terceiro passo seria identificar os trade-offs que cada um dos agentes deve fazer

    com relao aos servios ambientais. Os agentes produtores devem escolher entre recuperar

    reas degradadas ou realizar plantios de monoculturas com uso intensivo de qumicos, ou

    para o uso de pastagens. Os agentes compradores podem escolher por no pagar nada pelos

    servios ambientais e v-los diminuir, ou podem decidir pagar pela manuteno ou

    recuperao destes servios (BAGGETHUN, 2010). importante observar que os pontos de

    escolha dos trade-offs no so binrios, como preto e branco. As escolhas ocorrem em uma

    escala de cinzas. Isto porque todos os indivduos racionais pensam na margem. Ou seja,

    haver um ponto onde o comprador estar disposto a pagar pela preservao ou recuperao

    de reas verdes e o produtor estar disposto a recuperar reas desmatadas e receber a

    compensao oferecida pelo comprador (MANKIW, 2009).

    O problema do Tratado de Quioto que ele exclua, do mercado de PNPs, os

    pases que no eram signatrios do Anexo-1. Estes pases ficaram sem nenhum

    compromisso. A nica ferramenta onde eles poderiam investir seria no MDL. Entretanto o

    trmite burocrtico e os complexos padres de monitoramento eram to altos que os pases

    poluidores no se sentiram estimulados a comprar permisses via MDL. Ou seja, o custo de

    abatimento (CMA) dos pases que eram signatrios do Anexo-1 era menor que o preo

    oferecido pelos crditos de carbono gerados pelos MDLs nos pases no-signatrios (KAHN,

    2004).

    Para o mercado de REDD, as prerrogativas so as mesmas. O custo marginal de

    abatimento ser comparado com o preo dos crditos de carbono gerados pelo REDD. As

    negociaes, via REDD, ainda no foram formalizadas, o que impede a expanso desta

    ferramenta que visa a inserir os pases no-sigantrios do Anexo-1, do Tratado de Quioto.

    Atualmente, na regio da Amaznia brasileira, foi criado o Fundo Amaznia que visa a

    recolher recursos medida em que h a reduo do desmatamento na regio (RIBENBOIM,

    2010). O governo da Noruega j se comprometeu com a transferncia de 1 bilho de dlares.

    O valor ser gerenciado pelo BNDES para aplicaes em investimentos que visem

    manuteno da floresta em p ou na recuperao de reas degradadas. O Programa do Bolsa-

    Floresta o que mais se assemelha ao modelo de dois agentes negociando servios

    ambientais (um produtor e outro comprador). Na prtica, o BNDES repassa um montante ao

  • 19

    Estado do Amazonas que o aplica em uma carteira de investimentos e remunera os

    moradores que preservam a floresta em p, com os rendimentos desta aplicao.

    II. 3 Conhecendo o Agente Fornecedor de Servios Ambientais na Amaznia

    Chico da Silva, renomado compositor amazonense, escreveu em versos O

    Amazonas fez mais guas com o choro dos caboclos. Se no fizer meu roado patro, no

    tem farinha pro po. Os versos, claramente, rogavam para que as discusses da ento Rio

    92 focassem nas populaes caboclas do Amazonas. Recentemente, na Rio+20 o apelo

    permaneceu inalterado por parte das populaes amaznicas. Os conceitos e os critrios de

    Incentivos Positivos e REDD (Reduo de Emisses por Desmatamento e Degradao da

    Floresta) comearam a ganhar corpo a partir das reunies de BALI, em 2007, e de

    Copenhagen, em 2010 (NEPSTAD, 2007). Tais conceitos trazem a noo de encaminhar

    solues antropocntricas, onde o uso sustentvel da Amaznia, por meio dos incentivos

    econmicos, traga uma compensao ao caboclo pela conservao da floresta em p.

    II. 3.a Uma Histria de Explorao da Populao Amaznica

    A colonizao da Amaznia comeou tardiamente, incentivada pela perda da

    supremacia portuguesa no Oriente e com o advento da explorao das drogas do serto na

    Amrica do Sul, as quais eram extradas at a exausto, visando ao enriquecimento fcil,

    com explorao da mo-de-obra indgena e ocupao do territrio por via fluvial. Tratava-se

    de uma ocupao violenta, predatria e sem nenhum controle social, exceto pelas iniciativas

    dos jesutas. Com o declnio dos mercados para as Drogas do Serto, na Amaznia, quando

    a produo de cacau migra para o litoral brasileiro, na Bahia; e com a expulso dos jesutas,

    h severa desestabilizao da economia regional. As iniciativas separatistas da Amaznia

    so violentamente reprimidas e a regio permanece esquecida at haver um novo ciclo

    econmico, o da Borracha, o qual retira a Amaznia de sua letargia (AUBERTIN, 2000).

    Os ciclos da borracha so incentivados pela indstria pneumtica. A colonizao,

    at ento realizada pela margem direita do rio, passam a ser realizadas pela margem

    esquerda, onde a populao de hveas mais comum. O sistema de trabalho concentra-se no

    modo de aviamento, um sistema onde o seringueiro um cliente do seringalista. O

  • 20

    seringueiro em sua incurso, geralmente do Nordeste, para a Amaznia, incentivada pelo

    sonho de enriquecimento, encontra um sistema cruel de trabalho, onde suas dvidas

    crescentes o deixam preso ao seringalista. No af de lograr mais lucro, os ganhos de

    produo em escala no so incentivados, ante ao sistema de aviamento. Se a rea de

    extrao da hvea precisava ser aumentada, no importavam os custos de deslocamento,

    uma vez que o sistema de aviamento poderia ser ampliado e o seringalista ganharia com

    isso, pois haveria mais seringueiros, clientes, com quem lucrar e explorar (AUBERTIN, id.).

    Com a competio da hvea da Malsia, que era mais barata, a economia da

    Borracha entra em declnio, na Amaznia. Na dcada de 70 existem novas incurses de

    colonizao da Amaznia pela ocupao do seu territrio, com a construo de novas

    estradas que facilitariam os acessos e ampliariam as fronteiras rurais e urbanas do Brasil

    para esta regio. Novamente, os ciclos migratrios so incentivados pelo Governo

    (AUBERTIN, id.). Especificamente no Estado do Amazonas, com a implantao da Zona

    Franca de Manaus, o crescimento econmico se concentra na cidade de Manaus1, com

    crescente decrscimo, relativo, das populaes rurais2.

    II. 3.b A Representatividade das Populaes Amaznicas nas Questes

    Ambientais

    As tradies e opinies das populaes amaznicas parecem sempre ficar em

    segundo plano. Forsberg e Fearnside, em 1993, j citavam que as polticas de

    desenvolvimento para estas populaes haviam falhado e que precisavam ser revistas, luz

    de suas culturas. Em especial quelas que traziam a herana das populaes indgenas.

    Freitas (2004) discorre quanto poltica de colonizao da regio amaznica onde

    existem citaes especficas para que houvesse o preo justo, evitando a diminuio dos

    negcios e recuperando a f pblica. A rigor, as relaes comerciais deveriam ser livres.

    Entretanto, considerando a relativa rusticidade das populaes indgenas, o Estado

    1 Segundo dados do DEPI-SEPLAN (Departamento de Estudos Pesquisas e Informaes da Secretaria Estadual

    de Planejamento do Amazonas) Manaus concentra 82% do Produto Interno Bruto do Estado do Amazonas, em

    2010. 2 Segundo IBGE 2010 a populao rural, relativa, do Estado do Amazonas caiu de 25,08% da populao para

    20,83%.

  • 21

    (portugus) poderia interferir para regular as relaes de troca. Havia, por exemplo,

    restries para o intercmbio de aguardente e os suprfluos (FREITAS, id.). Vale destacar,

    porm que, em tendo a Metrpole o interesse de auferir lucro nas relaes comerciais da

    colnia, no seria relativamente justo que ela prpria regulamentasse a tica do preo-

    justo nas relaes comerciais. Ou seja, em sendo o agente regulador distante dos

    interesses de ambos os agentes de troca, a regulamentao no seria, efetivamente, justa.

    Conforme citado por Freitas (2004), as despropores de valores, nas relaes de

    troca, no so recentes, mas iniciadas desde a colonizao da Amaznia. Hoje, fala-se em

    Pagamento por Servios Ambientais (PSA), e/ou por recursos ambientais. Novamente,

    porm, os pesos e medidas no so regulados pelos agentes que realizam as trocas, mas

    pelos Estados e/ou entidades representativas. As trocas iniciadas, sem esta regulamentao,

    parecem envolver novos valores que, ironicamente, so o novo aguardente ou o suprfluo

    para o sculo XXI. Ainda com alguma regulamentao, porm, deve-se entender quem so

    os agentes reguladores e quem so os agentes da troca, para se ter um melhor entendimento

    da justia nos preos praticados.

    No tocante aos preos de crditos de carbono, a configurao dos preos de

    toneladas de carbono havia sido realizada somente atravs de trocas entre as naes

    desenvolvidas, signatrias do Anexo-1, do Protocolo de Quioto. Como poderiam ter sucesso,

    nas relaes de troca com os pases em desenvolvimento, se a referncia de preo-justo

    no havia compreendido a dinmica das populaes brasileiras, mas a troca de permisses

    de poluio (PNPs) das naes desenvolvidas?

    Como exposto no exemplo dos crditos de carbono, a formao de preos utilizada

    para o pagamento de servios ambientais em regies como a Amaznia brasileira no leva

    em considerao a dinmica social regional, mas uma dinmica comercial de pases

    desenvolvidos, altamente industrializados. Nestes pases o homem, urbano, se sobrepe s

    condies naturais. Na Amaznia, porm, a natureza se sobrepe dinmica social.

  • 22

    II. 4 Caractersticas das Populaes Amaznicas

    Fraxe (2012), em seu livro Homens Anfbios, relata a dinmica das populaes

    das vrzeas amaznicas, onde as estaes de enchente, cheia, vazante e seca regulam

    severamente as relaes econmicas e sociais das populaes. A vazante e a seca so,

    ironicamente, as estaes de fartura, onde existe um elevado dinamismo econmico, quando

    as populaes exercem diversas atividades para colher o mximo de benefcio (produo).

    As cheias e as enchentes so as estaes de relativa escassez de alimentos.

    Pereira (2011), adicionalmente, concorda com a dinmica das populaes de

    carter anfbio, definindo seca como o perodo de menor nvel das guas dos rios; vazante

    como o perodo de descida das guas; cheia como o perodo de maior nvel das guas dos

    rios; e, finalmente, enchente como o perodo de subida do nvel das guas dos rios.

    A natureza impe o seu ritmo s populaes amaznicas, seguindo a dinmica das

    guas. As enchentes e cheias que duram cerca de 8 meses, contrastam com as secas e

    vazantes, que duram cerca de 4 meses (PEREIRA, id.). Normalmente, os excedentes

    produzidos na seca e na vazante, so comerciados por itens no perecveis, ou transformados

    em poupana para as estaes da cheia e da enchente.

    Pereira (2011) cita as estratgias preventivas e as estratgias compensatrias

    das populaes de vrzea. As estratgias preventivas cuidam para que haja a preservao e a

    armazenagem de recursos; bem como uma intensa diviso do trabalho para que haja o

    aproveitamento mximo dos recursos disponveis na seca e/ou na vazante. As estratgias

    compensatrias tratam de aes realizadas para corrigir o impacto das enchentes e cheias,

    quando ocorrem eventos inesperados de estrema escassez de recursos. Nestas situaes, a

    migrao, ainda que temporria, uma alternativa plausvel para estas populaes.

    dinmica de estratgias preventivas, citadas por Pereira (2011), h de se

    compreender melhor a diviso de trabalho que ocorre nos momentos de vazante e seca dos

    rios. Segundo Fraxe (2012), importante entender a dinmica familiar destas populaes.

    Segundo Wolf (1970 apud Fraxe, 2012), as famlias camponesas da Amaznia poderiam

    ser classificadas em dois grupos distintos: as famlias extensas, formadas por vrios casais,

  • 23

    de uma mesma famlia, com um chefe, macho; e as famlias nucleares, formadas

    essencialmente por um nico casal e sua prole. Segundo levantamento realizado por Fraxe

    (2012), entre 1992 e 1996 as famlias extensas so maioria no Mdio Amazonas e no Mdio

    Solimes, enquanto que as nucleares so maioria no Baixo Solimes e no Alto Amazonas.

    Nas famlias extensas, as tarefas so divididas entre os diferentes membros

    familiares para que possam produzir o mximo possvel, nas estaes de vazante e seca,

    dividindo os excedentes de produo, entre si. Nas famlias nucleares, as comunidades se

    organizam para que as famlias se concentrem em algumas atividades especficas e possam

    trocar os excedentes entre elas. As relaes de troca entre as famlias so muito comuns,

    quando envolvem produtos dos quintais e das roas das famlias (CASTRO et al., 2011).

    Segundo Castro (2011), existe uma substancial diferena entre as relaes de

    produo entre as famlias de terra firme, rea que no fica submersa; e as famlias de

    vrzea, em reas submersas por alguns perodos do ano. Os perodos de plantio em reas de

    terra firme se concentram, majoritariamente, entre agosto e novembro; enquanto que nas

    reas de vrzea, o plantio de concentra, majoritariamente, entre junho e setembro. Nas reas

    de terra firme existe pouca expressividade nas estratgias preventivas de intensificao da

    produo, com alta diviso do trabalho. Considerando que nas reas de terra firme no h

    elevado risco de reduo de recursos, as aes preventivas, com diviso de trabalho, se

    tornam menos importantes do que nas reas de vrzea.

    Conhecendo a dinmica social das populaes amaznicas, como seria justo

    estabelecer um preo pelos servios ambientais, tomando como referncia uma relao

    comercial transacionada entre naes industrializadas?

    O Bolsa Floresta, lanado pelo governo do Estado do Amazonas, levou em

    considerao preos externos realidade destas famlias. Existe um louvvel mrito no

    projeto por trazer, frente das discusses, a viabilidade de um projeto de Pagamentos por

    Servios Ambientais (PSA) no Estado do Amazonas. Entretanto, pagar R$50,00 por famlia,

    para que mantenham a floresta em p, parece pouco prtico, em considerando a dinmica

    das populaes anfbias, como denominadas por Fraxe (2012).

  • 24

    A Fundao Amaznia Sustentvel (FAS) capta recursos com o BNDES a fundo

    perdido e aplica o total captado. Os rendimentos obtidos com esta aplicao, que so fixos,

    so divididos entre as famlias de uma determinada rea. O valor de R$50,00 para cada uma

    das famlias, funciona como uma complementao renda. Entretanto, com o tempo, ser

    imperativo corrigir a inflao do total dos pagamentos a cada famlia (ou seja, ser preciso

    mais do que R$50,00 para se comprar em dez anos o que se comprava no incio do projeto).

    Como as remuneraes ao valor captado so fixas, ou seja, no acompanham a inflao, a

    FAS dever fazer novas captaes ao BNDES para continuar a remunerar as mesmas

    famlias de uma mesma rea, considerando as correes inflacionrias.

    Outro problema do Bolsa Floresta que as famlias no crescem e permanecem,

    majoritariamente, em uma mesma regio, ou dentro de um mesmo ncleo familiar. As

    famlias com aspectos nucleares vo se dividindo de gerao em gerao. Fazendo aluso

    aos cercamentos3 ocorridos na Inglaterra pr-revoluo industrial, os filhos das famlias

    beneficiadas com o Bolsa Floresta faro subdivises do presente territrio (ainda que sem a

    cerca propriamente dita) e tambm querero um Bolsa Floresta prprio. Mais uma vez, o

    Programa Bolsa Floresta dever fazer novas captaes para atender s subdivises

    territoriais (sem cerca), a fim de garantir a preservao da floresta em p.

    II. 5 Os SAFs como Alternativa Sustentvel

    Forsberg e Fearnside, em 1993, j citavam os insucessos dos programas de

    desenvolvimento estabelecidos para a Amaznia e rogavam para o uso do conhecimento das

    populaes tradicionais e indgenas como uma diretriz de novos programas de

    desenvolvimento. No seio deste pensamento, apresentaram os sucessos dos Sistemas

    Agroflorestais (SAFs) da regio como uma potencial medida de reflorestamento de reas

    desmatadas e a recuperao, ainda que parcial, das propriedades das florestas nativas,

    funcionando como corredores ecolgicos de elevada produtividade agrria e como boa

    alternativa de renda para as populaes amaznicas.

    Segundo Castro (et al, 2011), Sistemas Agroflorestais so sistemas de uso da terra

    que mesclam tanto os cultivos de ciclos curtos (espcies anuais ou bianuais), como os

    3 HUNT (1982)

  • 25

    cultivos de ciclos longos (espcies perenes). Os SAFs, portanto, so uma produo agrcola

    que reproduz a configurao de uma floresta. Segundo Barros (2011), as espcies,

    consorciadas, plantadas no SAF podem ser:

    1. Complementares: o crescimento de uma dada espcie A contribui para o

    crescimento de uma dada espcie B;

    2. Suplementares: o crescimento da espcie A no interfere no crescimento da

    espcie B;

    3. Competitivas: o crescimento da espcie A compete e, portanto, limita o

    crescimento da espcie B; e/ou

    4. Antagnicas: o crescimento da espcie A limita significativamente o

    crescimento da espcie B.

    As combinaes mais comuns de SAFs so de consrcio de espcies competitivas,

    posto que o crescimento de uma espcie (A), geralmente, limitar a disponibilidade de

    nutrientes para o crescimento de outras espcies (B).

    No estudo realizado por Barros (2011), em Tom-Au, no Estado do Par, as espcies

    mais comuns so: Cacaueiro, Pimenta-Do-Reino, Dendezeiro, Cupuauzeiro, Aceroleira,

    Seringueira, Teca, etc. Para o Amazonas, em publicao do PIATAM, por Castro (et al,

    2011), existem diferenas tpicas para a regio, com foco na produo da castanha-do-par,

    do cupuau, da andiroba, do tucum e etc. Em ambos os modelos, o aaizeiro est presente e

    predominante, em face ao crescimento substancial do preo da polpa no mercado. O tucum,

    no Estado do Amazonas, enfrenta escassez com importaes sendo realizadas de outros

    Estados, enquanto que a castanha-do-par caminha para sair de um modelo de produo

    extrativista, para um modelo de produo manejada, com consrcio com outras espcies,

    como nos modelos do SAF.

    Nos estudos realizados por Forsberg e Fearnside, em 1993, havia forte presena de

    plantaes em SAF, os quais se mostravam altamente produtivos, quando comparados com a

    mdia por hectare de outras regies do pas ou de outras regies do Norte brasileiro. Nos

    estudos realizados pelo PITAM, no Amazonas, segundo Castro (et al, 2011) as famlias

    continuam a realizar o mesmo uso da terra, atravs dos SAFs. As famlias, extensas ou

    nucleares, normalmente reservam uma rea para o quintal e outra para a roa. Os quintais

    so normalmente destinados para a subsistncia da prpria famlia, com pouca produo de

  • 26

    excedente. As espcies mais comuns dos quintais so olercolas como cebolinha, chicria,

    couve, jamb, etc. Nos quintais tambm muito comum a presena de alguns animais

    domsticos e de plantas ornamentais.

    Ainda segundo Castro (et al, 2011), algumas famlias reservam espao para uma

    pequena produo pecuria. mais comum a criao de aves e de mamferos de pequeno

    porte que funcionam como estoque proteico de subsistncia das famlias. A produo de

    gado, nestas pequenas comunidades, de agricultura familiar, muito pequena. O gado

    funciona como uma poupana destas famlias, compondo a caracterstica das estratgias

    preventivas de armazenamento, citadas por Pereira (2011). O gado pode ser consumido ou,

    rapidamente, vendido, a fim de reestabelecer os recursos alimentcios das famlias nas

    pocas de escassez, no perodo da enchente ou no perodo da cheia.

    No tocante s reas de roa, a finalidade de produo j mais focada na produo dos

    excedentes, os quais podem ser comerciados entre as prprias famlias, como tambm

    negociados nas sedes municipais para troca com produtos no perecveis, para compor o

    estoque de alimentos para as pocas de enchente e cheia dos rios. Nas reas de roa a

    produo mais comum a de mandioca e macaxeira. H ainda reas destinadas para banana,

    melancia, mamo, jerimum, cebolinha, cheiro-verde, etc. Existe ainda, especificamente nas

    reas de vrzea, produo de malva e juta, com uso intensivo de capital humano (CASTRO,

    id.).

    As reas de roa podem ser misturadas s demais espcies do SAF, aspecto pouco

    comum para as reas pesquisadas no projeto PIATAM. As roas tambm podem ser

    divididas, aproveitando o potencial de cada terreno; ou ainda, e com maior frequncia, as

    roas so consorciadas. As roas consorciadas envolvem duas ou trs culturas em reas

    definidas, prximas produo agroflorestal (CASTRO, id.).

    Em estudos realizados, medindo-se o sequestro de carbono em regies de SAF de

    Tom-Au-PA, constatou-se que a mdia de sequestro de carbono era relativamente inferior

    s medias de pesquisas realizadas anteriormente, posto que havia maior concentrao de

    espcies de pequeno porte, que sequestram menos carbono. No obstante, as mdias de

  • 27

    sequestro de carbono perfizeram o total de 145 toneladas de carbono, por hectare, nos SAFs

    analisados (BRANCHER, 2010).

    Estes volumes de carbono poderiam ser negociados no mercado e apresentar uma

    remunerao complementar s famlias que usam o meio de produo em SAF. Neste

    modelo, o Pagamento por Servios Ambientais (PSA) efetivamente funcionaria como um

    complemento de renda uma atividade econmica e no uma recompensa por no usar a

    floresta nativa.

    III OBJETIVOS

    III.1 Objetivo Geral

    Desenvolver um modelo de gesto econmico-ambiental que estimule a produo

    de servios ambientais, observando mais especificamente o sequestro de carbono. O modelo

    conceitual tem por base Rivas (2012), o qual prope a utilizao de instrumentos

    econmicos para a proteo da Amaznia e produo de servios ambientais.

    III.2 Objetivos Especficos

    a. Desenvolver uma proposta de gesto econmico-ambiental que leve

    em conta a composio de aspectos tecnolgicos e econmicos, para

    a produo de servios ambientais;

    b. Avaliar riscos, particularmente associados a investimentos,

    considerando a imperfeio das informaes, as quais so uma

    causa de fracasso de mercados.

  • 28

    IV - MTODOS

    IV.1 Delimitaes da rea da pesquisa

    A rea de pesquisa se concentra no municpio de Presidente Figueiredo, do Estado

    brasileiro do Amazonas, no Mdio Rio Negro, onde dever ser desenvolvido o projeto de

    Sistema de Produo de Servios Ambientais (SPSA): incentivos econmicos para a

    recuperao de servios ambientais e eco-uso da floresta amaznica.

    1) O local a ser utilizado est localizado no municpio de Presidente Figueiredo,

    em um assentamento do INCRA denominado de Comunidade Boa Esperana.

    A mesma fica situada ao longo do ramal do Pau-Rosa na BR-174, na altura do

    quilmetro 140, em direo cidade de Boa Vista-RR.

    FIGURA 01 Mapa do Municpio de Presidente Figueiredo-AM.

    Fonte: Biblioteca Virtual do Amazonas4

    IV.2 Dos Fundamentos para Investimentos

    Mankiw (2009) observa que existem trs caractersticas importantes para a tomada

    de deciso de investir. A primeira caracterstica seria o prazo. Ttulos de longo prazo

    pressupem maior risco ao investidor do que os ttulos de curto prazo, pois o tomador do

    investimento tem mais tempo para pagar o capital aplicado. Normalmente, o pagamento a

    ttulos de longo prazo maior do que o de ttulos de curto prazo. A segunda caracterstica

    seria o risco de crdito. Este critrio trata da probabilidade de o investidor no ter a

    4 Disponvel em: http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/municipios/presidentefigueiredo.php. Acessado

    em: 12 de setembro de 2012

    http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/municipios/presidentefigueiredo.php

  • 29

    remunerao de juros sobre o total aplicado, ou mesmo de no reaver o principal do capital

    aplicado. Quo maior a condio de risco, maior a remunerao sobre o total investido ou

    aplicado. A terceira caracterstica seria o tratamento tributrio. Normalmente, a renda sobre

    aplicaes passvel de tributao. Os governos podem, portanto, oferecer incentivos quanto

    a determinadas aplicaes para estimular a captao de investidores. o caso dos programas

    de investimento em previdncia social onde a remunerao tem percentuais decrescentes de

    Imposto de Renda para quo maiores forem os prazos de resgate do principal aplicado. No

    obstante, nos mesmos exemplos dos investimentos em previdncia social, o governo

    estabelece penalidades para aqueles aplicadores que desejarem resgatar as aplicaes antes

    dos prazos contratados.

    IV.3 Dos Fundamentos para Servios Ambientais, Crditos de carbono e

    Sustentabilidade

    Segundo Kahn (2004), a taxonomia das expresses recursos naturais e recursos

    ambientais difcil de ser definida, uma vez que as semnticas so arbitrrias e confusas.

    Entretanto, importante categorizar as expresses para que as propriedades dos recursos

    sejam devidamente identificadas. Recursos naturais tm a propriedade de serem

    infinitamente divididos em uma dada unidade, tais como: litros de gua potvel, metros

    cbicos de madeira, quilos de peixe, barris de petrleo, etc. Os Recursos ambientais so

    recursos providos pela natureza e que so indivisveis, tais como: a fertilidade do solo, a

    Camada de Oznio, o ciclo de chuvas, etc.

    A categorizao das expresses confusa, pois h aqueles recursos cuja

    classificao muda de um conceito para o outro (KAHN, id.). Por exemplo, as rvores na

    Amaznia podem ser classificadas como um recurso natural, por que podem ser divididas

    em uma quantidade infinita de metros, centmetros ou milmetros cbicos de madeira.

    Entretanto, quando analisamos todas as rvores de uma grande extenso da Amaznia, elas

    podem ser classificadas como um recurso ambiental, pelos servios ambientais que prestam

    ao bioma amaznico ou aos biomas vizinhos. Por exemplo, os fazendeiros do Estado de So

    Paulo precisam de um ciclo corrente de chuvas para uma boa colheita. Boa parte da umidade

    que proporciona as chuvas das fazendas paulistas vem da Amaznia. Sem sua cobertura

  • 30

    vegetal, a Amaznia no produziria a umidade que contribui ao ciclo de chuvas das fazendas

    paulistas. Por conseguinte, as rvores da Amaznia so, para os fazendeiros paulistas, um

    recurso ambiental que os abastece de um importante servio ambiental: o sistema de chuvas

    no Estado de So Paulo.

    Os crditos de carbono so uma ferramenta que visa a mitigar os efeitos da emisso

    de gases do efeito estufa (GEE). As reas nativas e/ou em recuperao fornecem um

    importante servio ambiental ao clima do planeta: sequestram o carbono da atmosfera e

    impedem que o planeta se aquea. O seqestro de uma tonelada de carbono equivalente a

    uma unidade de crdito de carbono. Esta tonelada certificada por uma agncia tcnica

    competente e pode ser negociada no mercado de crditos de carbono. Ou seja, crditos de

    carbono no so nem um recurso ambiental, nem um recurso natural, mas uma ferramenta

    tcnica que oferece incentivos para que as pessoas e as empresas consumam ou produzam

    bens e servios sustentveis que no emitam gases de efeito estufa.

    Bonevac (2010) cita vrios autores no debate quanto a uma questo intrigante:

    afinal, o que sustentabilidade? Dentre os autores citados est Giles Atkinson et al. que

    define desenvolvimento sustentvel como o desenvolvimento que dura. H citaes como

    a de Paul Ekins e de Les Newby que definem sustentabilidade como a capacidade de

    continuidade, mais ou menos indefinidamente, ao futuro. H ainda definies poticas

    como a de John R. Ehrenfeld: Eu defino sustentabilidade como a possibilidade de os

    humanos e de outros seres vivos de florescerem, na Terra, para sempre. Porm, a

    sustentabilidade s passou a ser tema central das discusses ambientais, a partir do Relatrio

    Brundtland, da Comisso Mundial para Meio-Ambiente e Desenvolvimento, da ONU em

    1983 que foi publicado pela Universidade de Oxford em 1987. O Relatrio de Brundtland

    definiu sustentabilidade como: O Desenvolvimento Sustentvel o desenvolvimento que

    supre as necessidades da gerao presente sem comprometer a capacidade das geraes

    futuras de suprir suas prprias necessidades. Ou seja, bens e servios sustentveis so

    aqueles que usam recursos naturais e/ou ambientais sem restringir a capacidade das futuras

    geraes de consumir ou produzir o mesmo bem ou servio.

  • 31

    IV.4 A Aplicao do Modelo Econmico Proposto

    IV.4.a O Objetivo do Modelo

    O objetivo do modelo de gesto econmico-ambiental de criar instrumentos

    financeiros que possibilitem o repasse das aplicaes de um Fundo de Investimentos para as

    Famlias (FIF) de produtores locais que utilizam processos produtivos sustentveis. O

    modelo proposto pode realizar captaes de quaisquer pessoas, jurdicas ou fsicas, e deve

    remunerar seus investidores com um rendimento fixo e outro varivel, no final do perodo.

    Paralelamente ao fundo de investimentos destinado ao pagamento das famlias de produtores

    locais (FIF), haver o Fundo de Segurana do Comprador (FSC), o qual destinar uma

    poro das aplicaes dos compradores de servios ambientais, para assegurar o retorno do

    investimento no longo prazo. medida que as aplicaes dos fundos aumentarem - seja pela

    chagada de novos investidores, ou pela manuteno dos investidores antigos - tambm

    aumentar a capacidade dos fundos de reinvestir em outras regies degradadas. Ou seja, o

    modelo tem trs caractersticas bsicas:

    1. Caracterstica de se retroalimentar: A manuteno das reas em

    recuperao no precisa de novas aplicaes para manter o custeio de sua

    preservao, pois o modelo de gesto econmico-ambiental se pauta em

    uma atividade produtiva sustentvel;

    2. Caracterstica de reproduo: Aps o sucesso do investimento em uma rea,

    o fundo de investimentos (FIF) pode aumentar a rea de recuperao, seja

    pela renovao das aplicaes dos investidores antigos, ou pela chegada de

    novos investidores que disponibilizariam mais recursos para a recuperao

    de novas reas degradadas;

    3. Caracterstica de expanso dos servios ambientais: Com o sucesso do

    modelo de gesto econmico-ambiental e a expanso das reas recuperadas,

    os servios ambientais aumentaro.

  • 32

    IV.4.b Da Atividade Sustentvel

    No modelo de gesto econmico-ambiental se considerar a atividade SAF

    (Sistema Agro-Florestal). O SAF um modelo de produo agrcola voltado para regies

    tropicais, que reproduz o sistema florestal. (SANTOS et al., 2004). Pode-se, porm,

    considerar qualquer atividade sustentvel, desde que ela interaja para a recuperao de reas

    degradadas ou de reas vizinhas as quais devem ser preservadas. Pode haver, por exemplo,

    atividades de pesca esportiva ou de explorao madeireira de reas de manejo florestal.

    IV.4.c As Variveis do Modelo

    O modelo tem as seguintes variveis:

    1) O Investimento (Ia) para incio da atividade sustentvel, ou seja, o

    investimento do plantio de cada rvore do SAF;

    2) A Renda Marginal auferida com a produo do SAF (RMgS), ou seja, a

    renda auferida com a produo de cada rvore plantada; e

    3) A Renda Marginal auferida pela venda dos Crditos de carbono

    (RMgC), ou seja, a renda auferida com o valor do Crdito de Carbono por

    rvore, a qual equivale remunerao pelos servios ambientais prestados

    pela rea em recuperao.

    IV.4.c.i 1 Varivel: O Investimento (Ia)

    O Investimento (Ia) considera o montante necessrio para criao e plantio das

    mudas. Todos os valores considerados, no estudo, sero unitrios, ou seja, no sero

    considerados valores totais do plantio, mas o valor pelo plantio de cada rvore. Este

    investimento ocorrer uma nica vez, mas, como demonstrado no GRFICO 01, ser

    desenhada uma reta (tracejada) no ponto em que o investimento est no eixo das ordenadas

    (percorrendo paralelamente o eixo das abscissas tempo). A razo de se manter a reta

    tracejada para que se tenha uma referncia do valor do investimento ao longo do tempo.

  • 33

    Deve-se observar, por fim, que h vrias espcies no modelo SAF. Trabalhar com

    um investimento por rvore traria, portanto, vrios valores de investimento que seccionariam

    o eixo das ordenadas. Para facilitar a compreenso do modelo, trabalhar-se- com um nico

    valor para todas as espcies do modelo de gesto econmico-ambiental proposto. Ou seja,

    cada varivel ter um nico valor representativo a todas as espcies, calculado pela mdia

    ponderada do exerccio de SAF proposto como um exemplo para testar o modelo

    econmico. Haver um nico valor de referncia para os investimentos, um nico valor de

    referncia para as rendas marginais do SAF e um nico valor de referncia para a

    remunerao dos servios ambientais. Estes valores de referncia atuam, didaticamente,

    como a mdia dos valores unitrios de todas as espcies. Logo, ao se referir ao investimento

    por rvore, para fins didticos, se considerar o valor mdio de todas as espcies. Veja

    GRFICO 01.

    IV.4.c.ii 2 Varivel: A Renda Marginal do SAF (RMgS)

    Quanto segunda varivel, deve-se considerar a renda auferida por rvore no SAF.

    Geralmente, o incio de colheita do SAF de 3 anos, para espcies como o aaizeiro, por

    exemplo. (SANTOS et al., 2004). Assumindo, pois, que a partir de trs anos haver renda

    marginal da produo SAF. Segundo Kahn (2004), a renda marginal de sistemas

    sustentveis de agricultura, como o SAF, tem um ponto mximo de produo que mantido

    ao longo do tempo. Os modelos tradicionais de agricultura em regies de florestas

    equatoriais tm um pico de produo no incio e uma queda acentuada, em seguida como

    demonstrado no GRFICO 02, (KAHN, id.).

    $

    t

    Ia

    tempo em anos

    Grfico 01: Investimento por rvore

    3 6 9 12 15 18

  • 34

    Fonte: Kahn (2004), alterado pelo autor.

    Ao se considerar a insero da curva em azul, da RMgS, com os investimentos,

    teremos o GRFICO 03, onde a rea em azul S representa a Receita Total (ou, RMgs

    acumulada no perodo t) com a comercializao dos bens produzidos no SAF. Note que,

    segundo Kahn (2004), a Receita Marginal dos SAFs (RMgs) se mantm constante, ao longo

    do tempo, por se tratar de um sistema de produo agrcola sustentvel. Assim sendo, a rea

    de S crescer para alm dos limites de 18 anos proposto no modelo de gesto econmico-

    ambiental.

    LEGENDA: Sistema Tradicional vs Sistema Sustentvel

    RM

    g (

    $)

    ttempo em anos

    Grfico 02: Sistema Tradicional de Agricultura

    versus

    Sistema Sustentvel (Ex: SAF)

    3 6 9 12 15 18

    LEGENDA: Sistema Tradicional vs Sistema Sustentvel

    RM

    g (

    $)

    ttempo em anos

    Grfico 02: Sistema Tradicional de Agricultura

    versus

    Sistema Sustentvel (Ex: SAF)

    3 6 9 12 15 18

  • 35

    Note que o ponto refere-se ao momento em que o produtor comea a ter

    receita com o SAF. J o ponto refere-se ao momento em que a renda auferida com uma

    rvore paga o plantio de outra. depois deste ltimo ponto que o sistema se retroalimenta,

    pois os produtores podero expandir os modelos de SAF para si ou para outras famlias,

    pagando pelo plantio de mais rvores. At o ponto , no existem rendimentos provenientes

    das atividades do SAF. Note que H representa o perodo de tempo onde os rendimentos

    com a produo de cada rvore no paga o plantio de mais outra rvore. neste hiato que o

    modelo proposto pretende trabalhar. No momento em que o produtor local (vendedor de

    servios ambientais) no ganha nada com a recuperao da rea degradada, o modelo visa a

    fornecer uma renda temporria, que perdurar at que os rendimentos do SAF possam

    substituir a remunerao realizada pelos servios ambientais prestados.

    importante salientar que: um SAF tradicional no poderia existir apenas com

    espcies perenes, levando em considerao os aspectos das comunidades regionais

    tradicionais do Amazonas. Existem as espcies anuais e bianuais que tambm acrescentam

    renda s famlias, como nos cultivos de feijo, mandioca, pimenta-do-reino, etc. Alm dos

    cultivos anuais, com produo de excedentes para a comercializao, existem as produes

    de roado que tem um propsito maior para a subsistncia da famlia ou a permuta com

    famlias vizinhas. Para estas culturas anuais ou bianuais, o modelo proposto considera os

    rendimentos como uma constante ao modelo, ou coeteris paribus. Ou seja, na prtica, os

    rendimentos com as culturas anuais ou bianuais (ou com os roados e quintais) so um

    rendimento extra ao modelo e que no impactar para a reduo do tempo de pagamento do

    auxlio, no perodo H.

    IV.4.c.iii 3 Varivel: A Renda Marginal dos Servios Ambientais (RMgC)

    Resta considerar a ltima varivel contemplada neste modelo. Trata-se da renda,

    por rvore, auferida pelos servios ambientais, RMgC. Segundo Kahn (2004), os servios

    ambientais so impossveis de serem medidos diretamente. Por esta razo, sero utilizados

    como referncias: a unidade (quantidade) e o valor (preo de mercado) dos crditos de

    carbono.

    Assim sendo, sabe-se que: PccQccRMgc .

  • 36

    Onde:

    a. Qcc a quantidade de crditos de carbono, sequestrados por rvore;

    b. e Pcc o preo do crdito de carbono, negociado no mercado.

    Os Crditos de carbono so ativos j negociados em vrios mercados, o que facilita

    o emprego desta unidade dentro do modelo, aqui proposto. Poder-se-ia, porm, considerar

    quaisquer outras unidades que meam indiretamente os servios ambientais oferecidos pela

    floresta (KAHN, 2004).

    Considera-se que o seqestro inicial de carbono somente atinge o pico, com quinze

    anos de plantio (SANTOS et al., 2004). Antes deste perodo, o volume de carbono

    seqestrado da atmosfera muito pequeno. Posteriormente, o volume sequestrado se

    estabiliza. Considerar-se- para efeito de estabelecer um parmetro futuro, o seqestro de

    carbono em at 18 anos aps o plantio. O sistema pode ser mais flexvel quanto a este

    perodo, o qual pode mudar dependendo da regio, das espcies plantadas, dos sistemas de

    produo sustentvel adotados, etc. Veja o GRFICO 04, onde se observa a RMgC,

    representada na curva amarela, onde a rea total em amarelo C corresponde Receita Total

    com a negociao crditos de carbono (ou, RMgC acumulada no perodo t).

    O modelo de gesto econmico-ambiental deve antecipar, ao valor presente, o

    valor auferido com a negociao dos crditos de carbono no futuro, para cobrir o ponto

  • 37

    crtico, explicado na rea H. Tecnicamente, como se retirssemos parte da rea C, em

    amarelo, para remunerar as famlias no perodo H.

    Este modelo deve ser pautado em projetos onde haja total segurana jurdica das

    reas propostas preservao e/ou recuperao. No deve haver riscos quanto aos direitos

    de propriedade, pois isso impactaria, diretamente, os valores dos ttulos no mercado. Por esta

    razo que este modelo seria melhor empregado em pases em desenvolvimento com fortes

    sistemas de proteo da propriedade privada, como o Brasil.

    IV.5 Da escolha do Mtodo de Valorao dos Crditos de carbono

    Embora, neste projeto de gesto econmico-ambiental, o valor dos crditos de

    carbono seja considerado como o parmetro de mensurao do valor dos servios

    ambientais, importante frisar que as externalidades so positivas para os demais servios

    ambientais. Ou seja, haver efeitos positivos para os sistemas hdricos, para a

    biodiversidade, para o controle de pragas, etc. Assim, ainda que o conceito de valorao de

    crditos de carbono esteja sob risco - haja vista a continuada reduo de preos da tonelada

    de carbono (Pcc) o conceito de pagamentos por servios ambientais permanece inalterado

    e permite a remunerao de produtores locais que escolhem modelos sustentveis de

    produo, como o SAF.

    Quanto ao valor presente para a antecipao, poder-se-ia adotar dois modelos:

    1 Modelo: Valor Presente dos crditos de carbono (VP1): ao se multiplicar a

    quantidade de crditos de carbono (Qcc) da rea C pelo seu atual preo de mercado (Pcc),

    se usar o valor negociado hoje (Pccpresente).

    Frmula do 1 Modelo: presentePccQccVP 1

    2 Modelo: Valor Futuro Descontado (VP2): Ao se multiplicar a quantidade de

    crditos de carbono (Qcc) da rea C pelo seu preo de mercado (Pcc), se usar o preo

  • 38

    projetado do preo dos crditos de carbono (Pccfuturo). Para transformar ao valor presente,

    pode-se estabelecer uma taxa de desconto 3,25% a.a. (WSJ Prime Rate, junho/2012)5.

    Frmula do 2 Modelo: )1(

    %)25,31(

    )(2

    anost

    futurod PQVP

    Tecnicamente, a diferena do primeiro modelo (VP1), para o Segundo (VP2), de

    que o Valor Presente do primeiro modelo permite que a aplicao remunere o investidor

    medida da variao do preo dos crditos de carbono no mercado, enquanto que o segundo

    modelo antecipa o Valor Futuro ao Valor Presente e estabelece uma taxa fixa de

    remunerao para a aplicao. No primeiro modelo, o risco fica com o investidor que deve

    aceitar que suas aplicaes fiquem sujeitas s variaes positivas ou negativas do preo dos

    crditos de carbono, no mercado. No segundo modelo, o risco fica com a instituio

    financeira a qual administra o fundo de investimentos e que se apropriar da diferena

    (positiva ou negativa) entre a valorao real do preo dos crditos de carbono, ao longo do

    tempo, e o pagamento do valor fixo aos investidores.

    Prefere-se usar o 1 modelo (VP1), uma vez que no se especula sobre o valor

    futuro de Pcc6, satisfazendo uma das prerrogativas do modelo econmico propositivo: alm

    de estabelecer um rendimento fixo, tambm inserir um rendimento varivel. Se o 2 modelo

    (VP2) fosse utilizado, dever-se-ia projetar Pcc para 18 anos e ento usar um padro de taxa

    de desconto para o valor presente. correto deixar que as foras de mercado atuem com

    clareza de informaes para fornecedores de servios ambientais (produtores locais do SAF)

    e compradores destes servios (investidores). Adotando-se o 1 modelo, a valorao do

    preo dos crditos de carbono, ao longo do tempo, seria o parmetro de atrao de mais

    investidores para alimentar o Fundo de Investimentos s Famlias de produtores locais (FIF)

    e permitir que ele se expanda para outras atividades sustentveis, em outros territrios

    degradados.

    5 Publicao do Wall Street Journal em 20 de junho de 2012, para mdia praticada pelos bancos para a Prime

    Interest Rate: http://www.wsjprimerate.us

    6 Preo de 01 tonelada mtrica de Carbono, ou de 01 Crdito de Carbono.

    http://www.wsjprimerate.us/

  • 39

    Adicionalmente, deve-se enfatizar os argumentos relacionados no captulo

    referente representatividade das populaes amaznicas no modelo de pagamentos por

    servios ambientais (ou nos modelos de incentivos positivos). Adotando-se um preo de

    referncia inicial e deixando que este preo varie ao longo do tempo, dentro do modelo, dar

    aos agricultores a opo de negociar livremente com o mercado. Ou seja, a visibilidade do

    modelo econmico posposto permitir que os preos, por cada tonelada de carbono

    sequestrado, variem conforme a sensibilidade dos compradores para os carbonos

    sequestrados na Amaznia brasileira, mais especificamente, no Estado do Amazonas.

    IV.6 Dos Agentes do Modelo de Gesto Econmico-Ambiental

    Este modelo visa interao de trs agentes:

    O primeiro agente o Fornecedor. Trata-se dos moradores das regies ameaadas

    de desmatamento ou de moradores que residam em reas j degradadas, os quais adotariam

    o modelo de produo agrcola SAF. Segundo CAMPOS (et al.,2009), os moradores destas

    comunidades so essencialmente indgenas ou caboclos. Suas principais atividades

    econmicas so: a pesca, que funciona como moeda de troca entre as famlias; a caa; e a

    agricultura, a qual essencialmente voltada para a subsistncia. Os produtos agrcolas mais

    expressivos so: o aa, a castanha-do-par, o leo da andiroba e o tucum. Estes produtos

    representam boa fonte de renda para as famlias locais e so negociados com outras

    comunidades, ou nas feiras dos centros urbanos mais prximos.

    O segundo agente deste modelo de gesto econmico-ambiental o agente

    Comprador, o qual o investidor que aplicar recursos no fundo de investimentos para a

    recuperao de reas degradadas e expanso dos servios ambientais.

    Para completar o modelo, alm dos agentes de compra e venda, deve haver um

    terceiro agente: o Agente de Custdia, ou a instituio financeira. Este terceiro agente pode

    ser representado por qualquer instituio financeira, a qual faria a custdia dos ttulos e

    ganharia um percentual sobre os rendimentos do total aplicado, como uma taxa de

    administrao. Em quaisquer carteiras de antecipao, as instituies financeiras limitam o

    total a ser antecipado dependendo do risco de liquidez do ativo. Suponha, por exemplo, que

  • 40

    se queira antecipar duplicatas de um cliente com histrico de inadimplncia. A instituio

    financeira pode estipular que somente antecipar 50% do valor do ttulo. O antecipador

    receber, portanto, 50% do valor da duplicata, descontados da taxa de antecipao. Pode-se

    usar, no modelo, este mesmo princpio de antecipao. Reconhecendo o risco de aplicao e

    crditos de carbono de pases em desenvolvimento, como o Brasil, pode-se atribuir uma taxa

    de tolerncia de apenas 50%. Ou seja, somente 50% do valor total da rea C seria

    antecipado ao valor presente. Os percentuais de antecipao sero determinados dadas as

    condicionantes de risco e rendimento, as quais sero observadas na aplicao do modelo,

    para que haja remunerao satisfatria do FIF s famlias dos agentes fornecedores, como

    tambm haja remunerao satisfatria do FSC para assegurar a devoluo do valor aplicado

    pelos agentes compradores.

  • 41

    V VANTAGENS ANTECIPADAS DO MODELO

    1. possvel pagar, mensalmente, por hectare, com recursos oriundos da antecipao

    dos valores de crdito de carbono, pelo menos 1/3 (um tero) de um salrio mnimo

    s famlias, durante o perodo H;

    2. O ponto estar entre os anos 0 e 4 do modelo;

    3. O ponto estar entre os anos 4 e 7 do modelo;

    4. O modelo economicamente vivel, com remunerao aos trs agentes envolvidos:

    agentes compradores, vendedores e de custdia.

  • 42

    VI MATERIAIS

    VI.1 Do Valor da Renda Marginal do Crdito de Carbono

    VI.1.a Do preo do Crdito de Carbono

    O preo do Crdito de Carbono tem como unidade de referncia o total de 01

    tonelada mtrica de carbono sequestrado da atmosfera. Para efeito de anlise do modelo, a

    varivel de preo de 01 tonelada de carbono ser chamada, doravante, de Pcc.

    De acordo com estudo realizado pela NordPool Consulting (Noruega) e pela

    NASDAQ OMX Commodities (Bolsa Americana de Valores, NASDAQ), de Abril de 2009,

    existe uma reduo significativa do preo mdio dos crditos de carbono, os quais so

    impulsionados por questes como:

    Crescimento Econmico: Demanda por Energia e Nveis Industriais;

    Preos do Petrleo, do Carvo e do Gs Natural;

    Eventos Climticos: percepo de mudanas climticas;

    Decises Polticas: Programas de Reduo de Emisses.

    GRFICO 05: da Reduo Histrica do Preo Mdio dos Crditos de Carbono7

    7 Publicao de 10 de junho de 2009: CARBON TRADING Overseas Experience:

    http://www.kpx.or.kr/newsletter/market/data/Carbon%20Trading%20%20Oversea%20Experiences%282-1%29.pdf

    http://www.kpx.or.kr/newsletter/market/data/Carbon%20Trading%20%20Oversea%20Experiences%282-1%29.pdf

  • 43

    O preo mdio de um crdito de Carbono caiu de 22,00 dlares americanos, em

    dezembro de 2005; para cerca de 15,00 dlares americanos, em abril de 2009. O referido

    estudo realizado aponta que as Redues Certificadas de Emisses, ou CER, so uma

    preferncia de mercado e que podem subir de preo. A Bolsa BlueNext, de Pars, em 20 de

    junho de 2012, oferecia o EUA-Spot a 8,09 euros8, ou o equivalente a US$10,10. Na mesma

    publicao da Blue Next, para os valores de CER (Redues Certificadas de Emisses),

    havia a cotao de 4,12, ou o equivalente a US$5,15.

    Como referncia de preo do Pcc, para o modelo proposto, ser usado o valor de

    3,30, ou o equivalente a R$8,56. O referido valor consta da ATA do Leilo9 de 12 de junho

    de 2012, realizado pela BM&F Bovespa (So Paulo-SP), para a venda de CER, ou RCE em

    portugus, segundo Edital do Leilo n001/201210

    .

    Tem-se, pois, que o Pcc = R$8,56.

    VI.1.b Do Volume de Carbono

    Considerando que o presente modelo econmico propositivo, para pagamento por

    servios ambientais, trabalha com valores marginais, e/ou de unidades de rvores, ser

    estabelecida a anlise de sequestro de carbono de um hectare de SAF, dividindo-o o total de

    toneladas sequestradas pelo nmero de rvores perenes propostas no modelo, a fim de que se

    tenha uma mdia de volume de Carbono sequestrado.

    Segundo Santos (2004), um hectare de SAF sequestra cerca de 298,44 toneladas de

    carbono, ao ano. No referido estudo, o volume mdio sequestrado por SAF variou entre o

    mximo de 402,79 t/ha e o mnimo de 128,79 t/ha. Segundo Higushi (et al., 1998), a

    variao entre os volumes mdios de carbono sequestrado se d pela concentrao de

    espcies de menor porte como o aaizeiro e o cacaueiro. Quo maior a concentrao dessas

    espcies em detrimento da concentrao de rvores maiores, menor ser a mdia de carbono

    sequestrado (HIGUSHI, id.).

    8 Publicaes da BlueNext: http://www.bluenext.eu/ 9 Ata do Leilo da BM&F Bovespa: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/download/Ata-do-Leilao.pdf 10 Edital BM&F Bovespa n001/2012 de 12 de junho de 2012: http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/download/Edital-RCE-

    120612.pdf

    http://www.bluenext.eu/http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/download/Ata-do-Leilao.pdfhttp://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/download/Edital-RCE-120612.pdfhttp://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/download/Edital-RCE-120612.pdf

  • 44

    Brancher (2010) conduziu estudo com os SAFs do municpio de Tom-Au, no

    Estado do Par. Considerando os diferentes tipos de SAF, Brancher (2010) encontrou

    volumes de carbono sequestrados entre 129,1 t/ha e de 145,2 t/ha. No referido estudo, foram

    analisados 4 tipos de SAF, com diferentes espcies consorciadas, onde o aaizeiro era a

    nica espcie presente em todos os tipos de SAFs. O SAF-4 foi o que sequestrou mais

    carbono, contendo as seguintes espcies: aaizeiro, cupuauzeiro e paric. Brancher (2010)

    tambm cita Higushi (1998), ao considerar que a variao entre os mnimos e mximos

    depende da concentrao de espcies de pequeno porte. No obstante, os dados coletados

    por Brancher (2010), so muito inferiores s mdias coletadas por outros estudos, segundo

    as citaes dos volumes de Santos (2004) de 298,79t/ha; e de Dixon (1995) de 228 t/ha.

    Segundo Brancher (2010), a diferena das mdias analisadas tambm pode ser explicada

    pela alta concentrao de espcies de porte menor que sequestram menos carbono.

    Vieira (2009) conduziu pesquisa nos SAFs de Tom-Au que comprova a alta

    concentrao de espcies de menor potencial de sequestro de carbono. No referido estudo, o

    cacaueiro est em primeiro lugar no ranking de nmero de plantas existentes, segundo os

    cooperados do CAMTA11

    . A pimenta-do-reino e o aaizeiro aparecem, respectivamente no

    2 e no 3 lugar.

    Para efeito de clculo do volume de carbono sequestrado, ser utilizado o modelo

    de SAF-4, de Brancher (2010) das pesquisas de Tom-Au, como uma referncia de volume

    de toneladas de carbono sequestradas por um hectare de SAF de 9 anos de idade

    considerando que as espcies do SAF-4 so as que mais se assemelham s propostas no

    referido modelo para o municpio de Presidente Figueiredo. Ou seja, ser considerado para o

    modelo, o volume de 145,2 t/ha, no 9 ano do SAF.

    Segundo Brancher (2010), os volumes de carbono sequestrados anualmente

    variaram para os diferentes tipos de SAF (/SAF 1, SAF 2, SAF 3 ou SAF 4). Para o SAF-4,

    o sequestro anual foi de 16,27 toneladas de carbono ao ano, por hectare.

    11 Cooperativa Agrcola Mista de Tom-Au.

  • 45

    Segundo Silver (2000), at os 20 primeiros anos de reflorestamento em reas

    tropicais devastadas, o volume de sequestro de carbono no apresenta reduo relativa,

    mantendo-se em um patamar elevado e estvel. Entretanto, a partir do vigsimo ano, h uma

    reduo perceptvel do volume mdio anual de sequestro do carbono.

    Para o modelo proposto para o municpio de Presidente Figueiredo, o perodo

    proposto de 18 anos. Considera-se, pois, que no ano 18, o ciclo se completa e os

    pagamentos so integralmente realizados. Neste perodo, portanto, no haveria reduo

    significativa da taxa anual de toneladas de carbono sequestrado.

    Para efeito de estimativa da rea C do Modelo Econmico proposto (vide

    GRFICO-04), sero utilizados os seguintes critrios para estimativa dos volumes de

    carbono sequestrados:

    a) O modelo proposto sugere o perodo de 18 anos, onde n = anos do modelo.

    Ou seja, o modelo proposto varia entre t0 e t18;

    b) At o 9 ano, um hectare de SAF j acumulou 145,2 toneladas de Carbono;

    c) Entre os momentos t0 e t3 ser considerado o crescimento de 15,86 t/h, ao

    ano;

    d) Para o perodo entre t4 e t9, a taxa de sequestro anual seria de 16,27

    toneladas por hectare perfazendo o total de 145,2 toneladas no 9 ano;

    e) De t9 em diante, at t18, a taxa de sequestro anual de carbono seria de 16,27

    toneladas ano considerando, pois, o sequestro anual estvel citado por

    Silver (2000);

    f) O resultado que, ao final dos 18 anos, propostos para o modelo, 291,63

    toneladas de carbono seriam sequestradas, em cada hectare, conforme

    TABELA 01. O referido total inferior s estimativas citadas por Dixon

    (1995) com 228t/ha, ou por Santos (2004) 298,79t/ha, permanecendo dentro

    da mdia de mnimo e mximo proposta por Santos (2004, id.)

  • 46

    TABELA 01 Toneladas de Carbono Sequestradas ao ano, em um hectare.

    n ton/hectare (Qccn)

    t0 -

    t1 15,86

    t2 15,86

    t3 15,86

    t4 16,27

    t5 16,27

    t6 16,27

    t7 16,27

    t8 16,27

    t9 16,27

    t10 16,27

    t11 16,27

    t12 16,27

    t13 16,27

    t14 16,27

    t15 16,27

    t16 16,27

    t17 16,27

    t18 16,27

    Total 291,63

    Considerando-se o perodo de t0 a t18, o sequestro acumulado de 291,63 toneladas

    de carbono por hectare. Ou seja, Qcchectare = 291,63

    VI.1.c Da Renda Auferida com o Carbono Sequestrado

    Considerando que:

    Pcc = R$8,56; e que Qcchectare = 291,63. Tem-se que o total de renda auferida, ao

    valor presente, com o pagamento de servios ambientais de R$2.496,35 por hectare. Ou

    seja, ao Valor Presente, a estimada rea S seria da monta do referido valor de R$2.496,35,

    no perodo de t0 a t18. Estes valores, porm, equivalem ao total acumulado no perodo. Em

    considerando que o modelo trabalha com valores marginais, dever-se-, como segue,

    verificar os montantes, por rvore, em volume de carbono e em valor presente.

    VI.1.d Da Quantidade de rvores por Hectare

    O Centro de Sementes da UFAM contribuiu para a pesquisa, fornecendo os dados

    de volume de rvores por hectare, valores de investimento e custo de manuteno das

    rvores, bem como do rendimento potencial com a comercializao dos produtos agrcolas

  • 47

    advindos dos referidos SAFs. Foram sugeridas as seguintes espcies a serem consorciadas

    no SAF:

    TABELA 02: Mximo de rvores para um hectare:

    ESPCIE Nome CientficoMximo de

    rvores por 01

    Hectare

    CASTANHEIRA (Bertholletia excelsia) 100

    PAU ROSA (Aniba roseodora Ducke) 300

    TUCUMANZEIRO (Astrocaryum aculeatum) 400

    AAIZEIRO (Euterpe oleracea) 400

    Fonte: Centro de Sementes Nativas do Amazonas - CSNAM/UFAM.

    Considerando-se a importncia do aaizeiro e do tucumanzeiro, sugere-se que

    sejam consideradas as seguintes concentraes das espcies no SAF:

    55% da rea para 230 touceiras de Aaizeiro;

    25% da rea para 100 touceiras de Tucumanzeiro;

    10% da rea para 10 rvores de Castanha do Par;

    10% da rea para 30 rvores de Pau-Rosa;

    Como resultado, haver 370 rvores que podem estar distribudas, conforme a

    concentrao proposta. Quanto distribuio espacial, em cada hectare, o CSNAM,

    aconselha que as espcies fiquem concentradas, evitando a intercalao de espcies como

    aaizeiro e tucumanzeiro, em um mesmo espao, por exemplo. Ou seja, para efeito de

    disposio espacial, no municpio, a concentrao das espcies configura um SAF. Em

    hectares mais prximos s reas de vrzea, por exemplo, poder-se-ia haver maior

    concentrao de aaizeiros.

    VI.1.e Dos Valores de Renda Marginal de Crditos de carbono (RMgCn)

    Considerando-se os dados de preo da tonelada de carbono (Pcc), da Quantidade

    de Carbono Sequestrado ao ano (Qccn) e o total de rvores em um nico hectare, pode-se

    auferir o valor da Renda Marginal de crditos de carbono, ou o valor de pagamentos por

    servios ambientais, por rvore. Conforme descrito na TABELA 03 (abaixo), ter-se-ia, ao

    final dos 18 anos, o sequestro de 291,63 toneladas de carbono por hectare, ou R$2.496,35 de

  • 48

    valor dos crditos de carbono negociados (a valor presente), em cada hectare do modelo

    proposto no municpio de Presidente Figueiredo.

    TABELA 03: Tabela de Clculo da Renda Marginal por Recebimentos de Servios

    Ambientais, com base na valorao por Crditos de carbono:

    n ton/hectare (Qccn) Preo Pcc Faturamento (Qccn) rvores RMgCn

    t0 - 8,56R$ -R$ 370 -R$

    t1 15,86 8,56R$ 135,76R$ 370 0,37R$

    t2 15,86 8,56R$ 135,76R$ 370 0,37R$

    t3 15,86 8,56R$ 135,76R$ 370 0,37R$

    t4 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t5 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t6 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t7 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t8 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t9 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t10 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t11 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t12 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t13 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t14 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t15 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t16 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t17 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    t18 16,27 8,56R$ 139,27R$ 370 0,38R$

    Total 291,63 xxx 2.496,35R$ 370 6,75R$

    Tem-se, pois, a seguinte formatao da RMgCn, no tempo n, conforme disposto no

    GRFICO 06, abaixo:

    Renda Marginal de Crditos de Carbono - em anos

    R$ 0,37

    R$