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M e m o r i a l Submetido à Banca Examinadora do Concurso Público de provas e títulos para provimento de uma vaga como Professor Adjunto da Carreira do Magistério Superior da Universidade Federal do Rio de Janeiro IFCS / Departamento de História — Teoria e Metodologia da História Rio de Janeiro, março de 2004. Norma Côrtes § Formação acadêmica Sou historiadora. Formei-me pela PUC-Rio, onde ingressei ainda adolescente, às vésperas de casar e completar 19 anos. E de lá só sai aos 34 anos de idade — já adulta, divorciada, e com o título de Mestre em História Social da Cultura. Da PUC fui estudante e professora. E em ambos os casos, entrei por concurso permanecendo tempo o bastante para acreditar que sou boa aprendiz das artes do meu ofício. Ter sido formada em História entre 1980 e 1995 foi quase um privilégio. Se foi uma década economicamente perdida, os anos oitenta também foram um período de grandes abalos e rupturas cognitivas. Entre a euforia e a perplexidade, assistimos então ao colapso dos esquemas teóricos e explicativos do estruturalismo e/ou do marxismo de inspiração althusseriana. E a isso se seguiu um espírito de franca liberalidade intelectual, parecendo que todos os paradigmas e formas de abordagem do passado estavam disponíveis e eram possíveis ou legítimos. Mágica, a palavra interdisciplinaridade soava como a solução de todos os dilemas teóricos. Era, porém, só o canto de uma sereia cujo encanto nos levava a acreditar que a verdadeira História (!?) residia num campo intelectual permissivo, difuso e frouxamente compartilhado entre a Antropologia, a Literatura, a Psicanálise, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia etc. Ainda bem que tive a sorte de estar próxima de professores — uns entusiasmados, outros céticos e alguns deliciosamente indecisos — que rapidamente me ensinaram que a identidade do historiador não se construiria pela diluição das fronteiras intelectuais dessa disciplina. Ao contrario: o diálogo interdisciplinar era tão urgente quanto era necessário afirmar a singularidade da abordagem histórica e historiográfica. Lembro bem. Quem me ensinou isso foi Maria Alice Rezende de Carvalho (e sinceramente acho que ela falava por experiência própria, uma vez que sua trajetória

Modelo de Memorial Cientifico

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Modelo de como fazer um memorial cientifico para mestrados

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Page 1: Modelo de Memorial Cientifico

M e m o r i a l

Submetido à Banca Examinadora do Concurso Público de provas e títulos para provimento de uma vaga como Professor Adjunto da Carreira do Magistério Superior da Universidade Federal do Rio de Janeiro

IFCS / Departamento de História — Teoria e Metodologia da História

Rio de Janeiro, março de 2004.

Norma Côrtes

§ Formação acadêmica

Sou historiadora. Formei-me pela PUC-Rio, onde ingressei ainda adolescente, às

vésperas de casar e completar 19 anos. E de lá só sai aos 34 anos de idade — já adulta,

divorciada, e com o título de Mestre em História Social da Cultura. Da PUC fui estudante e

professora. E em ambos os casos, entrei por concurso permanecendo tempo o bastante para

acreditar que sou boa aprendiz das artes do meu ofício. Ter sido formada em História entre

1980 e 1995 foi quase um privilégio. Se foi uma década economicamente perdida, os anos

oitenta também foram um período de grandes abalos e rupturas cognitivas. Entre a euforia e

a perplexidade, assistimos então ao colapso dos esquemas teóricos e explicativos do

estruturalismo e/ou do marxismo de inspiração althusseriana. E a isso se seguiu um espírito

de franca liberalidade intelectual, parecendo que todos os paradigmas e formas de

abordagem do passado estavam disponíveis e eram possíveis ou legítimos. Mágica, a

palavra interdisciplinaridade soava como a solução de todos os dilemas teóricos. Era,

porém, só o canto de uma sereia cujo encanto nos levava a acreditar que a verdadeira

História (!?) residia num campo intelectual permissivo, difuso e frouxamente compartilhado

entre a Antropologia, a Literatura, a Psicanálise, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia

etc. Ainda bem que tive a sorte de estar próxima de professores — uns entusiasmados,

outros céticos e alguns deliciosamente indecisos — que rapidamente me ensinaram que a

identidade do historiador não se construiria pela diluição das fronteiras intelectuais dessa

disciplina. Ao contrario: o diálogo interdisciplinar era tão urgente quanto era necessário

afirmar a singularidade da abordagem histórica e historiográfica.

Lembro bem. Quem me ensinou isso foi Maria Alice Rezende de Carvalho (e

sinceramente acho que ela falava por experiência própria, uma vez que sua trajetória

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intelectual descreve um caminho de ida, mas também de volta, entre a História e a

Sociologia). Duas vezes minha orientadora, na PUC e no Iuperj, Maria Alice ensinou-me a

calibrar esse encontro entre a História e as Ciências Sociais. Substantivamente, ela me

apresentou à História da razão sociológica e também ao repertório conceitual da Sociologia

dos intelectuais e do conhecimento. Mas ao invés de fazê-lo como se manejasse um elenco

fixo e atemporal de instrumentos teóricos cuja aplicação é universal e a validade, absoluta,

fez-me ver a historicidade do processo de composição da reflexão sociológica. Em suma,

enraizando a Sociologia na história e fazendo uso de um raciocínio historicamente

orientado — em estreito acordo com o historicismo que germina em Mannheim —,

transmitiu-me uma perspectiva crítica e auto-reflexiva acerca dos limites e das condições de

possibilidade (históricas e epistêmicas) daquela mesma razão sociológica que então me

apresentava.

Quando ingressei no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, na

turma de 1994, para fazer o doutorado em Ciência Política recebi uma acolhida intelectual

bastante generosa. E isso foi muito importante, pois embora parecesse que o Instituto era

uma versão laica da História da PUC, o fato é que nunca me senti fortemente integrada ao

mainstrean da casa. Digo, não aprendi a ser uma cientista política dura. Na rua da Matriz,

em Botafogo, aprendi outras coisas: lá fui aluna de Cesar Guimarães, Ricardo Benzaquen,

José Murilo de Carvalho, Marcelo Jasmin, Renato Lesa, Luiz Werneck Vianna — além de

Maria Alice, é claro1. Todos epocais (para usar o linguajar sibilino do professor Candido

Mendes), pois eram sociólogos, antropólogos, cientistas políticos e/ou historiadores que

mesmo pertencendo a duas gerações diferentes se irmanavam tanto pela seriedade dos seus

trabalhos quanto porque compreendiam o pensamento brasileiro, a inteligência política e

sociológica clássica ou a vida intelectual e filosófica em geral como expressões singulares

de uma época histórica qualquer. Com eles também aprendi a pensar a vida inteligente

como manifestação do “espírito” de uma época e a conceber os fatos da razão (política ou

sociológica) como fenômenos empíricos historicamente conformados. Ali, finalmente,

refinei o meu estilo de escrita e de abordagem histórica e acho que posso me apresentar

como uma historiadora das idéias políticas sem que isso cause vergonha ou provoque

constrangimento naqueles que contribuíram para minha formação intelectual e acadêmica.

1 Além desses, também fui aluna do professor Manuel Luiz Salgado Guimarães na disciplina História e Narrativa, oferecida durante o segundo semestre de 1994 no Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ.

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A essa curta trajetória também se soma uma idiossincrática inclinação para os

estudos teóricos e filosóficos. Por alguma razão que eu mesma não compreendo, desde

muito jovem sou “amadora” da Filosofia e encontrei na área de Teoria e Metodologia da

História a minha vocação profissional. Meu aprendizado dessa área foi marcado pelos

ensinamentos do professor Francisco Falcon cujas aulas de Teoria ou de História da

historiografia eram copiosas, mas totalmente propícias a fazer pensar. Durante os quinze

anos em que estive na PUC fui sua aluna. Quer dizer, eu praticamente o persegui durante

toda a minha graduação e também no mestrado. E desde então compreendi que é um tour

de force querer separar a teoria da história. Afinal, ainda que possuam estatutos desiguais, a

reflexão teórica e os acontecimentos históricos não estão em campos antitéticos. Pois longe

de exprimir uma oposição ao real, a atitude teorética revela uma ação, sendo o esforço

reflexivo de um agente histórico que quer conhecer a si e a seus próprios passos cognitivos

e intelectuais. Em outras palavras, se compreendida como ação, a reflexão teórica não pode

ser vista como refratária ao mundo, pois nela se encerra um modo de pertencimento do

homem à realidade e à sua História. Volto a esse ponto logo adiante.

§ Histórico profissional (ensino & pesquisa)

Há dezesseis anos sou professora universitária2. Iniciei minha carreira docente em

1988 na antiga Faculdade da Cidade (situada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas,

bairro da zona sul do Rio de Janeiro), onde oferecia História do Brasil republicano para

turmas de graduação em Comunicação e Turismo. Depois, atuei durante oito anos no

Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

lecionando disciplinas obrigatórias da área de Teoria e Metodologia para os alunos da

graduação de História além de variadas outras disciplinas eletivas para as Ciências Socais,

o Direito, a Comunicação ou a Administração. Afora tais atividades docentes, na PUC

participei do grupo de estudos formado pelos professores e alunos do Mestrado em História

Social da Cultura que, assim como eu, também lecionavam na graduação. No início dos

anos 1990, durante aproximadamente um ano, mantivemos encontros regulares para estudar

e analisar os clássicos da historiografia ou do pensamento político. O professor Cesar

2 A única experiência profissional que mantive com vínculos institucionais fora dos muros universitários foi no Arquivo Nacional, onde por aproximadamente dois anos (primeiro como estagiária e depois como pesquisadora) atuei junto à Divisão de Pesquisa (cf Declaração anexo).

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Guimarães apresentou-nos Lições da Filosofia da História de Hegel; Marcelo Jasmim

analisou as obras históricas de Aléxis de Tocqueville; Sonia Lacerda (atualmente na UNB)

expôs a Ciência Nova de Vico; Berenice Cavalcante brindou-nos com Caio Prado Junior; e

Ricardo Benzaquen esbanjou erudição ao analisar Casa Grande e Senzala de Gilberto

Freyre. Produtivos e densos, os debates desse grupo de estudo me ajudaram a definir um

modo de leitura e interpretação e também um método de abordagem teórica. Dosando o

chamado contexto histórico — informações pré-textuais, biográficas etc — em equilíbrio

com os elementos formais e propriamente textuais, as peripécias discursivas ou os recursos

conceituais e teóricos mobilizados pelos clássicos, tais exercícios analíticos exibiam um

formato de enquadramento em História social das idéias e um modelo de compreensão da

historicidade da inteligência política e/ou historiográfica que, mesmo acentuando

fortemente seu enraizamento na chamada realidade histórica, não depreciava o estatuto

ôntico das idéias à mera “vulgaridade ideológica”.

Recentemente, há mais ou menos cinco anos, sou Professora Adjunta da

Universidade Candido Mendes (com atuação nos campi Ipanema, Campos de Goytacazes

ou Tijuca). Na UCAM, sempre ofereço disciplinas das Ciências Humanas, com caráter

propedêutico, que ocupam a franja inicial da grade curricular do curso de Direito. Lá ensino

Introdução à História da Filosofia; Introdução à Ciência Política; História do Direito;

Introdução à Sociologia; Sociologia Jurídica; ou Introdução à Metodologia do Trabalho

Científico.

Acredito que essa variedade de disciplinas e de público alvo acabou temperando

minhas habilidades didáticas. Afinal de contas, se aprendi a dar aulas observando os meus

professores (e posso dizer, sem medo de errar, que assisti a uma gama de exemplos

admiráveis), foi somente com meus alunos que ganhei clareza e simplicidade — e isso foi

num crescendo, tornando-se um compromisso inabalável com a transmissão dos conteúdos

programáticos. Sob esse ânimo, há anos elaboro apostilas didáticas (cf particularmente:

Quase tudo que se deve saber para viver numa Universidade, mas ninguém ensina; Para

escrever bem e Como escrever um projeto de pesquisa em História), que agora estão

disponíveis em meu site pessoal, o Artes do Tempo© 3. Escrevo-as por prazer — ou talvez

por causa de uma esquisitice criativa que volta e meia me assalta —, mas o importante,

porém, é que resultam do esforço de sistematização das minhas experiências docentes ou de

pesquisa e revelam com boa dose de precisão o tipo de envolvimento que normalmente

3 Artes do Tempo©, url: www.artesdotempo.hpg.com.br / e-mail: [email protected]

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dedico aos meus alunos.

Ultimamente sou bolsista recém doutora pelo CNPq junto ao Departamento de

História e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro4. Desde novembro de 2001, quando obtive esta bolsa, além das atividades

docentes na graduação e na pós-graduação5, da coordenação da Comissão da Biblioteca do

IFCH e da edição da Revista eletrônica Intellectus6, também realizo um estudo

historiográfico sobre as obras de Nelson Werneck Sodré e a filosofia de João Cruz Costa.

Intitulada Clássicos da Historiografia Brasileira. Visões da História em Nelson Werneck

Sodré e João Cruz Costa, essa pesquisa visa investigar e compreender os debates

intelectuais que contribuíram para fixar os atuais padrões de inteligibilidade da História do

Brasil. Quer dizer, mais que resgatar do esquecimento as obras do “último historiador

marxista” ou as idéias do “único” filósofo nacionalista da USP, o que se pretende é

encontrar elementos empíricos que permitam compreender e analisar o debate

historiográfico que, em meados dos anos 1970, polarizou duas gerações de intelectuais

brasileiros e os seus respectivos estilos de pensamento7 — e isso resultou na conformação

de um padrão de raciocínio acentuadamente estruturalista cuja força explicativa foi quase

hegemônica8, pois se estendeu à maioria das áreas disciplinares das chamadas Ciências

Humanas (com exceção, talvez, do Direito) e também a todos os eventos da História do

Brasil desde o Tratado de Tordesilhas.

Essa pesquisa está em desenvolvimento (atualmente estou organizando um Guia

4 Lá encontrei um plantel de historiadores sérios e admiráveis, que me oferecem um convívio fraternal, intelectualmente estimulante e particularmente produtivo. Sinceramente, sou-lhes muito grata por isso. 5 cf anexo, os programas das disciplinas oferecidas. 6 Editada pela Prof Maria Emilia Prado e por mim, a Intell�ctus (www2.uerj.br/~intellectus/) é uma revista eletrônica que pretende publicar estudos sobre a vida intelectual latino-americana e brasileira. Sua intenção é reunir artigos, resenhas, links e nomes de pesquisadores ou estudiosos que analisem a história e as obras da nossa inteligência política, econômica, cultural, social, artística, filosófica, jurídica etc. A revista está aberta a todas as especialidades e diferentes formas de reflexão e abordagem do seu tema principal – os fatos e feitos da vida inteligente —, pois quer contribuir para ampliação desse debate. 7 Com auto-imagens distintas e excludentes — uns acreditavam expressar a consciência social de um dizer comum e popular; outros pretendiam edificar uma ciência radicalmente contrária aos saberes vulgares e aos ditos ideológicos —, o que polarizou essas gerações foram duas visões antagônicas de Brasil. Subdesenvolvimento versus desenvolvimento combinado e dependente; cosmopolitismo versus nacionalismo; consciência versus ciência; lógica dual versus lógica dialética; historicismo versus estruturalismo; razão histórica versus razão sociológica: todas essas dicotomias revelam duas weltanschauungen que disputavam o significado da realidade social, travaram um conflito de interpretações acerca da sociedade brasileira e se chocaram pela prerrogativa de definir a melhor chave explicativa do mundo dos homens. 8 Hoje esta hegemonia está em franco declino. No próximo semestre, planejo oferecer um curso no PPGH da UERJ sobre tal História dos debates historiográficos brasileiros, tentando traçar seus combates políticos e dilemas conceituais e teóricos desde a tese do feudalismo até a descoberta da “terceira margem do Atlântico” . Quer dizer, desde Nelson Werneck Sodré até os atuais estudos historiográficos que de um modo geral passaram a investigar a África.

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Bibliográfico reunindo toda a literatura secundária relativa à vida e obra de Nelson

Werneck Sodré) e, como o previsto, até o fim deste ano os seus resultados substantivos

devem vir a público9. Acredito que ela consiste num experimento de abordagem dos

debates historiográficos brasileiros e espero que contribua para a compreensão da história

da formação dos atuais paradigmas de inteligibilidade da História do Brasil. Enfim,

pretendo que seus rendimentos intelectuais me permitam refinar um modo compreensivo

que, diluindo as fronteiras entre a história e a teoria/metodologia da História, resgate a

historicidade da inteligência historiadora e consiga equilibrar o tratamento analítico

comumente dado aos aspectos epistemológicos e teoréticos com o resgate histórico das

controvérsias substantivas (de ordem política e social) que estão contidas nas obras deste

dois autores clássicos da historiografia brasileira.

§ Produção científica, publicações e afins.

Meus trabalhos mais relevantes, digo os que exigiram maior fôlego e investimento,

foram: a dissertação de mestrado, Alceu Amoroso Lima: Idéia, Vontade, Ação da

intelectualidade católica no Brasil; e a tese de doutorado, Esperança e Democracia. As

idéias de Álvaro Vieira Pinto (ED)10. Ambos tiveram a orientação de Maria Alice Rezende

9 A validade da bolsa RD expira em outubro de 2004, quando devo apresentar ao CNPq o Relatório Final. Como produtos parciais deste empreendimento, além dos relatórios já enviados em 2002 e 2003, posso citar as Disciplinas oferecidas na graduação e no PPGH da UERJ; a Comunicação Coordenada Arquivo pessoal e a construção do sentido histórico apresentada no Encontro Regional da ANPUH sediado na UERJ em outubro de 2002; e finalmente a exposição O filósofo e o historiador feita na Jornada de Estudos Nelson Werneck Sodré (VII Jornadas de Ciências Sociais) na UNESP – Marília, entre os dias 19 e 22 de agosto de 2002 (cf anexo).

10 De ambos trabalhos frutificaram os seguintes artigos, ensaios e comunicações (cf anexo):

� A democracia educa. Revista Contemporaneidade e Educação, n 11 (prelo) � Anti-mímesis. Despojamento, diálogo, democracia. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 30, 2002, p. 91-

109. � Consciência e Realidade Nacional — notas sobre a ontologia da nacionalidade de Álvaro Vieira Pinto (1909–1987).

Acervo. Revista do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, v. 12, jan/dez 1999, p. � Católicos e autoritários. Breves considerações sobre a sociologia de Alceu Amoroso Lima. Rio de Janeiro, Intellectus

– revista eletrônica. Disponível em www2..uerj.br/~intellectus/ � Entre o Império e a República, o sentido trágico da Questão Religiosa. Revista ARCKÈ Interdisciplinar, ano III, n. 8,

1994, p. 99-115. � Comunicação no XI Congresso Brasileiro de Sociologia. Álvaro Vieira Pinto. A realidade como construção social e

dialógica. Campinas, 04 de setembro de 2003. � Exposição O filósofo e o historiador na Jornada de Estudos Nelson Werneck Sodré (VII Jornadas de Ciências

Sociais) UNESP – Marília. De 19 a 22 de agosto de 2002. � Conferência Álvaro Vieira Pinto — a nação como projeto da semana de abertura da exposição Construtivismo e

Arte: o Brasil como projeto. Curador Reynaldo Roels. Museu de Arte Moderna — MAM. Rio de Janeiro, 02 de março de 1999.

� Conferência IISEB e a democracia. Álvaro Vieira Pinto. No Seminário Pensamento Político Brasileiro oferecido pelo Prof Cesar Guimarães no Iuperj, em 17 de abril de 2001. (sem texto)

� Comunicação Álvaro Vieira Pinto: Esperança e Democracia na III Semana de História realizada pelo Departamento

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de Carvalho e consistem em estudos de interpretação histórica e de exegese das idéias

sociais, políticas e filosóficas desses dois intelectuais brasileiros. Jamais havia pensado

seriamente a respeito de existir ou não algum tipo de continuidade entre tais trabalhos (na

verdade, é a primeira vez que preciso escrever um Memorial e, honestamente, não me sinto

nada confortável em construir esta persona que vos escreve), mas apesar disso vou afirmar

que, embora tenham alvos distintos e graus de maturidade autoral notavelmente desiguais,

guardam forte semelhança de enquadramento intelectual. Inscritas no campo temático dos

estudos sobre o pensamento brasileiro — a dissertação dedicada à investigação dos

intelectuais católicos desde a Questão Religiosa até fins da década 1930; e a tese voltada

para as idéias nacionalistas que entre 1950 e 1960 estavam contidas na filosofia historicista

e existencialista de Vieira Pinto, o filósofo do Instituto Superior de Estudos Brasileiros

(ISEB) —, ambas foram tentativas de elaborar uma Historia social das idéias e dos

intelectuais no Brasil.

De uma forma geral, além de lidar com as fontes e eventualmente descobrir uma

nova documentação de pesquisa, meus principais desafios eram: primeiro, não superestimar

as determinações do real em qualquer de suas instâncias ou dimensões (e isso significava

não tratar os intelectuais ou suas idéias como fenômenos de segunda grandeza, meros

reflexos de um mundo que os determina e precede). Depois, conseqüentemente, também

não reificar a noção de contexto histórico — na medida em que o contexto não consiste

num continente elucidativo dos conteúdos textuais, mas tão-somente numa reunião

razoavelmente arbitrária das outras fontes documentais (objetos, textos ou imagens)

elaboradas à época pelos demais agentes históricos. E finalmente, evitar hipertrofiar a

autonomia da vida intelectual. Porque, ao contrário dos cabelos, as idéias não germinam nas

cabeças espontânea ou naturalmente11.

Todas essas questões já estavam mais ou menos sugeridas na dissertação de

mestrado. Nela, sob clara inspiração hegeliana (idéia, vontade, ação são figuras da

consciência extraídas da Fenomenologia do Espírito de Hegel), tentei explorar o paradoxo

existente entre as intenções humanas e o sentido da História12. Da ação trágica e

de História da UERJ, 24 a 28 de novembro de 2003. (sem texto)

11 Que eu saiba, tais questões encontram a sua melhor formulação no contextualismo lingüístico. Cf particularmente Dominick LaCapra et alii. Modern european intellectual history. Ithaca: Cornel University Press, 1982.; J.G.A. Pocock. Politics language & time. Chicago: The University of Chicago Press, 1989; James Tully (ed) Meaning & context. Quentin Skinner and his critics. Princeton: Princeton University Press, 1988. 12 Ver G. W.F. Hegel. Lecciones sobre la filosofia de la historia universal. Madrid: Alianza Editorial, 1975, p 85.

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8

involuntária13 até o planejamento e a ação política, a dissertação sobre Alceu Amoroso

Lima descreve a história da formação da inteligência católica no Brasil e analisa os seus

modos de agir e pensar.

Muito embora tenha sido um trabalho claramente escolar, os rendimentos da

dissertação me conduziram a discutir teoricamente o caráter inventivo e construtivo das

tradições. (Convém observar que tal questão era válida tanto para os meus próprios gestos

de recomposição historiográfica quanto para os de Amoroso Lima, pois em meados de

1930, ao mirar o passado, ele fixa a tradição de pensadores católicos em que se reconhece.

Outrossim, é importante frisar que o tratamento não teleológico da tradição fez-me evitar as

ultrapassadas noções de influência e de precursor14) E em seguida, além disso, também

considerei as escolhas cognitivas e os recursos intelectuais, isto é, os conceitos, as teorias,

os sistemas explicativos, os modos de enquadramento ou abordagem etc, como topoi

discursivos e cognoscentes que conformam visões de mundo e revelam gestos e opções de

natureza política. Afinal, quando Amoroso Lima elegeu a Sociologia como o sistema

compreensivo da sociedade brasileira — e isso após um longo e penoso processo de

laicização da vida pública — ele finalmente encontrou a fórmula da autonomia e da

liberdade da Igreja face ao Estado15.

Nessa investigação sobre a formação da consciência católica já se encontrava um

claro esforço de reflexão teórica. Contudo, foi só na tese de doutorado que enfrentei as

questões acerca da historicidade da inteligência — a minha própria e a do meu “objeto” de

investigação — e do estatuto ôntico das idéias munida de um repertório filosófico, teórico e

conceitual consistente. Não quero insinuar que se trate de obra de maturidade (sou moça

demais para isso!), mas o fato é que o estudo sobre o pensamento de Álvaro Vieira Pinto

obrigou-me a assumir a circularidade da situação hermenêutica e a refletir sobre os

embaraços aí envolvidos de modo a resolvê-los produtivamente.

Esperança e Democracia. As idéias de Álvaro Vieira Pinto. ganhou o Prêmio de

publicação do Iuperj e, em outubro de 2003, foi lançado pela Editora UFMG no Encontro

13 Cf anexo: Entre o Império e a República, o sentido trágico da Questão Religiosa. Revista ARCKÈ Interdisciplinar, ano III, n. 8, 1994, p. 99-115. 14 Cf o 4o capítulo, Breves apontamentos de uma quase conclusão, de Alceu Amoroso Lima: idéia, vontade, ação da intelectualidade católica no Brasil. 15 “[...] ele adotou a sociologia como a intérprete da realidade social, levando até as últimas conseqüências o pressuposto epistêmico e ontológico dessa disciplina: a ordem da sociedade obedece a uma legalidade própria e guarda autonomia frente ao Estado. Assim, quando utiliza a sociologia como modo de compreensão da vida coletiva ele também se apropriava de uma sistematização teórica e metódica que lhe confirmava a idéia de a sociedade não estar compreendida no e pelo direito positivo.” Norma Côrtes. Católicos e autoritários. Breves considerações sobre a sociologia de Alceu Amoroso Lima. RJ, Intellectus – revista eletrônica. Disponível em www2..uerj.br/~intellectus/ (cf anexo)

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anual da ANPOCS. (A capa é de minha autoria, também16.) Serei breve. Suas principais

contribuições são estas que abaixo se seguem:

1. Gerado durante as aulas do professor Cesar Guimarães

sobre cultura e política no Brasil dos anos 1950-196017,

Esperança e Democracia consiste numa crítica aos

paradigmas historiográficos e sociológicos ainda

vigentes, que insistem em interpretar esse período da

História republicana reduzindo-o à tríade conceitual

nacionalismo / desenvolvimentismo / populismo. Se não

chega a configurar um movimento, tal revisão

historiográfica também não se deu isoladamente. E

mesmo não sendo intencional ou tendo qualquer organicidade, é possível identificar

em diversos outros autores da atualidade o mesmo ânimo para retirar a História dos

anos 1950 do engessamento conceitual a que até recentemente estava condenada18.

2. Esperança e Democracia é um estudo sobre o pensamento brasileiro e também

consiste num exercício teórico-metodológico. Com dupla inscrição disciplinar (Brasil

e Teoria), ele é a um só tempo uma investigação sobre a filosofia de Vieira Pinto e

uma detida e escrupulosa reflexão acerca das atitudes metódicas necessárias a

aproximação e ao entendimento do passado. Com efeito, antes de adotar um

procedimento crítico formal ou uma estéril descrição conceitual do chamado “marco

teórico”, seu caminho metódico responde a uma exigência gerada pela

consciência da historicidade da própria investigação. Em outras palavras, os

passos de aproximação e composição do objeto (as obras de Vieira Pinto) rejeitaram

a ingenuidade cognitiva, refletiram sobre si mesmos, negaram gratuidade às escolhas

intelectuais, indagaram sobre a conformação e a História dos seus próprios recursos

cognoscentes — eis a História, o processo de conformação e institucionalização, dos

16 A capa segue a disposição gráfica da Coleção Origens e foi elaborada a partir de Bandeirinhas de Alfredo Volpi. Sobre a proximidade entre a arte construtivista no Brasil e a filosofia de Vieira Pinto, cf anexo Anti-mímesis. Despojamento, diálogo, democracia. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 30, 2002, p. 91-109. 17 Além de inúmeras outras teses e dissertações, o Banco de Dados Cultura e Política no Brasil (1950-1968), organizado pelo Professor Cesar Guimarães, com a participação de Santuza Neves, Ricardo Guanabara e a minha, foi um dos produtos de suas aulas e pesquisas (consultas on-line em www.iuperj.br). 18 Sem fazer uma listagem exaustiva, ver os recentes trabalhos de Jorge Ferreira, Daniel Aarão Reis, Paulo Cunha, Fernando Latmann-Weltman, Marcos Silva, Marcelo Ridenti, Santuza Neves e vários outros.

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paradigmas historiográficos brasileiros — e, finalmente, desconstruindo tal trajetória,

assumiram a circularidade da situação hermenêutica tal como postulada em

Gadamer, Verdade e método.

3. Instalado nessa situação compreensiva, ED encerra uma suspeita quanto à pretensão

inscrita na incursão epistemológica de fundamentar teoricamente o conhecimento

histórico19. Na prática, apesar de a questão não ser meramente procedimental, isso

implicou em: a) fugir do malfadado primeiro capítulo teórico, que geralmente exibe

um arsenal conceitual que congela ou despreza os dados empíricos; b) evitar elaborar

uma angelical apresentação do chamado “estado das artes” — pois seria o desfile das

mesmíssimas armas conceituais que derrotaram as idéias de Vieira Pinto20 —; e

finalmente, c) não lidar com a teoria ou o método como se fossem instrumentos

atemporais, neutros e sempre disponíveis ou dados a priori de qualquer investida

cognoscente. E por outro lado, sob o aspecto teórico, digo filosófico, tratava-se tanto

de superar o fetiche da metodologia — fetiche que confere primazia ao rigor

metódico supondo que as premissas teórico-metodológicas garantem per si o

entendimento dos vestígios do passado —, quanto ultrapassar o criticismo de

inspiração kantiana cuja a preocupação consiste em fundamentar o conhecimento,

estabelecendo a priori as suas condições de possibilidade epistêmicas. Na contramão

de ambas atitudes, Esperança e Democracia pretende que a fundamentação (teórica)

do saber histórico repouse na história ela mesma21.

Muito bem. De Esperança e Democracia restaram pistas e sugestões para futuros

outros projetos e estudos (um deles já mencionado e em desenvolvimento financiado pela

bolsa RD/CNPq). Mas de seu saldo também se extrai um núcleo de questões que, a bem da

verdade, lançam suspeição sobre o estatuto teorético da Teoria e Metodologia da História.

Mais do que indagar sobre sua serventia ou função, a questão consiste em rejeitar a

19 Entre outros, cf Charles Taylor. Argumentos filosóficos. São Paulo: Loyola, 2000; e Richard Rorty. A filosofia e o espelho da natureza. Lisboa: Dom Quixote, 1988. 20 Ver a nota sete deste Memorial. 21 “É a força de uma tradição que interpela o intérprete da História, não o contrário. O ânimo de conhecer um acontecimento passado não nasce no cérebro curioso de um investigador solitário, isto é, não tem sua origem numa psique plena de traços ímpares e idiossincráticos. A gênese que lança, anima e estabelece o empreendimento compreensivo reside no pulsar de uma tradição transmitida ao longo do tempo. Não convém banalizar tal proposição e imaginar o sujeito do conhecimento, o intérprete do passado, como mero fantoche destituído de personalidade e sempre pronto a assumir papéis ou interesses que lhes são alheios. O ponto não é ignorar a subjetividade, mas sim deslocar a indagação epistemológica do terreno da consciência para o mundo histórico propriamente dito.” (ED: p57)

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pretensão inaugural da atitude teorética.

Explico-me.

A rigor, nem o controle dos instrumentos metódicos, nem as opções teóricas são

caminhos inexoráveis para a verdade (em qualquer acepção do termo). A distinção entre a

boa e a má História não depende do formalismo do método e nem sequer pertence

exclusivamente a uma das inúmeras possibilidades de coloração teórica. Grosso modo, para

além da hegemonia intelectual de uma dada cultura historiográfica que fixa consensos e

sanciona paradigmas interpretativos, os critérios que permitem separar o joio do trigo

residem na honestidade, na sinceridade e na maturidade intelectual do historiador. É claro

que essa convicção de caráter deontológico não afasta a necessidade da introspecção

crítica22. Ao contrário: pois se ela enfatiza um aspecto ético extra epistêmico (uma espécie

de vocação para a verdade), por outro lado, continua exigindo reflexão. Afinal, nesse

registro, os profissionais dedicados ao conhecimento do passado precisam compreender

todos os seus atos cognoscentes, isto é, devem dominar os procedimentos metódicos e

principalmente compreender a historicidade e o enraizamento mundano (ordinário)

das suas próprias opções intelectuais.

Mais ingênuo que o empirismo ou o academicismo positivista que conferem

loquacidade à documentação dos arquivos é o historiador que imagina que suas premissas

teórico-metodológicas são o fiat inaugural do processo de conhecimento do passado. Ora,

as chamadas premissas nem fornecem critérios neutros ou universais para verificação e

validação de nossas próprias intuições, suspeitas ou convicções cognoscentes; e nem sequer

são premissas exatamente. Porque antes de ocuparem a ante-sala da História, como se

fossem o ponto-zero que dá partida e assegura as condições de possibilidade do

conhecimento histórico — situação em que tudo se resolveria pela imaculada precisão das

elucubrações do sujeito cognitivo —, elas exprimem modos de concepção do conhecimento

da história e esforços compreensivos já realizados e vividos no passado. Em outras

palavras, revelam tradições intelectuais. E, portanto, não há qualquer anterioridade ou

primazia entre tais formulações e os vestígios pretéritos contidos na história propriamente

dita.

Todas as incursões teóricas (ultrapassadas ou atuais) foram historicamente

constituídas. Sei que isso é um truísmo, mas é preciso assinalar que tais incursões possuem

22 Aqui sigo os passos do argumento de Max Weber sobre os limites da ciência tal como aparecem na célebre conferência A ciência como vocação.

Page 12: Modelo de Memorial Cientifico

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matrizes intelectuais, cumpriram uma senda histórica, conformaram-se através das

vicissitudes dessa trajetória — que, de resto, pode ter sido um processo conflitivo de

institucionalização e profissionalização da disciplina23 — e por fim formalizaram um

corpus qualquer de idéias que contém uma concepção de conhecimento, uma visão de

mundo, uma perspectiva acerca da espessura temporal24, uma eleição de quem são os

protagonistas do passado etc, etc. Histórico e socialmente construído, esse elenco de

proposições não pode ou deve ser utilizado como se fosse um modelo explicativo absoluto.

Na prática, isso significa que não basta oferecer aos futuros historiadores uma

parafernália teórico-metodológica atualíssima, eventualmente sistematizada num manual de

iniciação aos estudos históricos, e imaginar que as exigências de rigor historiográfico foram

atendidas. Antes disso talvez seja necessário levá-los a considerar o caráter histórico dos

debates historiográficos. Quer dizer, o ponto é fazê-los perceber que não há inexorabilidade

ou naturalidade alguma nos atuais recursos intelectuais. Ademais, longe de serem precisos

ou rigorosos, os nossos conceitos, métodos e teorias ocultam uma trajetória de fixação

geralmente cheia de imprecisões explicativas, imperfeições lógicas, ilações ideológicas —

sem falar nas disputas por poder acadêmico, nas pequenas vilanias ou na fogueira das

vaidades intelectuais.... Enfim, toda a questão então se resume em fazê-los reconhecer a

historicidade dos nossos próprios regimes mentais. Se assim for, Teoria e Metodologia da

História provoca espanto e só serve para fazer pensar, mas isso nos humaniza e pode ser um

bom caminho através do qual reconhecemos aquilo que somos nós.

Muito obrigada,

Norma

23 Como exemplo cf os estudos de Fritz Ringer.O declínio dos mandarins alemães. São Paulo: Edusp, 2000. ou François Dosse. A história em migalhas. São Paulo: Edusc, 2003. Para o caso brasileiro, ver os ensaios de Bernardo Sorj. A construção intelectual do Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001 e também Carlo Fico e Ronaldo Polito. A historiografia dos últimos vinte anos — tentativa de avaliação crítica. in J. Malerba (org) A velha história. Campinas, Papirus, 1996. 24 Sobre o tempo, cf anexo Amnésia o tempo domo construção. Revista Espaço Acadêmico, ano II, n. 22, mar 2003 – mensal. Disponível em http://www.espacoacademico.com.br/rea_arquivo.htm