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EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE .......... Nome do Recorrente, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado na Rua, Bairro...., Cidade....., CEP...., no Estado de ......, vem, respeitosamente, impetrar o presente MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR em face de ato atribuído ao GERENTE EXECUTIVO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS DE .... (descrever a cidade da Gerência Executiva) , tudo de conformidade com os fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos. PRELIMINARMENTE DO CABIMENTO DA PRESENTE AÇÃO MANDAMENTAL No caso em tela, a parte impetrante pleiteia a concessão de nova aposentadoria e a renúncia da aposentadoria anteriormente concedida pelo Instituto Nacional do Seguro 1

Modelo de Peticao Inicial Mandado de Seguranca Com Pedido de Medida Liminar

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EXMO. SR. JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ..........

Nome do Recorrente, nacionalidade, estado civil, profissão, residente e domiciliado na Rua, Bairro...., Cidade....., CEP...., no Estado de ......, vem, respeitosamente, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR

em face de ato atribuído ao GERENTE EXECUTIVO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS DE .... (descrever a cidade da Gerência Executiva), tudo de conformidade com os fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos.

PRELIMINARMENTE

DO CABIMENTO DA PRESENTE AÇÃO MANDAMENTAL

No caso em tela, a parte impetrante pleiteia a concessão de nova aposentadoria e a renúncia da aposentadoria anteriormente concedida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, eis que o novo benefício garantirá a percepção de valor pecuniário mais vantajoso ao segurado.

A presença do direito líquido e certo é incontroversa, nos termos do art. 1º da Lei n. 12.016, de 07/08/2009, não se fazendo necessária a realização de qualquer dilação probatória, uma vez que, sendo concedida a segurança ora reclamada, compete ao INSS simplesmente substituir o benefício atualmente pago por outro, adotando-se as regras de cálculo vigentes na data da aquisição do direito ao benefício.

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A demonstração do direito líquido e certo se consubstancia por ter a parte impetrante coligido a relação dos salários-de-contribuição constantes do CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais evidenciando que o segurado continuou contribuindo para a Previdência Social após sua aposentadoria. Por outro lado, o cálculo em anexo realizado pela parte impetrante demonstra que, havendo a concessão de nova aposentadoria, este benefício será superior ao valor auferido atualmente pelo segurado, retirando qualquer dúvida sobre o interesse processual para o ajuizamento da presente ação mandamental.

Como se sabe, direito líquido e certo é matéria de cunho processual relacionada à prova preconstituída, não tendo vinculação com a controvérsia jurídica da discussão em foco1.

Hely Lopes destaca: "Em última análise, direito líquido e certo é direito comprovado de plano. Se depender de comprovação posterior, não é líquido e certo, para fins de segurança." (MEIRELLES, Hely Lopes. "Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, Habeas Data." Malheiros Editores. 19ª ed. São Paulo: 1998. p. 35).

Poder-se-ia argumentar que não seria cabível mandado de segurança na medida em que seria necessário realizar um novo cálculo no curso do presente feito.

Ora, não se pode confundir direito líquido e certo com sentença líquida. Na verdade, direito líquido e certo significa aferir a convicção baseando-se nos documentos já apresentados por ocasião da petição inicial, sem necessidade de novas provas (periciais ou testemunhais). Obviamente a discussão no caso em tela é eminentemente jurídica e a única análise fática consiste em saber se o segurado continuou, ou não, contribuindo para a Previdência Social após sua aposentadoria para gerar um benefício mais vantajoso. O valor do novo benefício será apurado pelo INSS no cumprimento da decisão judicial, quando então a autarquia aplicará as regras de cálculo vigentes na data da aquisição do direito por parte do segurado.

Ter entendimento diverso seria o mesmo que impedir um contribuinte de discutir uma ação fiscal simplesmente sob o fundamento de que seria indispensável calcular o valor do indébito tributário mediante uma perícia contábil. Se alguém recorre ao Poder Judiciário alegando lesão ao seu patrimônio jurídico em face uma ação estatal compete ao magistrado fazer cessar a indigitada ilegalidade, para posteriormente instaurar-se a fase da liquidação do decisum.

O segurado, ao impetrar o mandado de segurança, já aferiu que a desaposentação lhe será vantajosa, apresentando inclusive elementos contábeis e documentais que evidenciam tal fato. Caberia à autoridade coatora, em sede de informações, apresentar cálculos oficiais que invalidem as afirmações do segurado em sua petição inicial, ou seja, comprovando que o novo benefício será de valor

1 Súmula do STF: 625: "Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança".

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inferior ao quantum atualmente percebido pela parte impetrante. Não havendo qualquer comprovação da autoridade neste sentido, a via do mandado de segurança deverá ser considerada idônea para resguardar o direito da parte.

Diante disso, o mandado de segurança é a via mais célere para a solução da presente controvérsia, sendo inclusive mais conveniente também para o INSS, eis que não tem efeitos patrimoniais anteriores ao ajuizamento da ação2 e não há condenação em honorários sucumbenciais3.

Por outro lado a parte impetrante é pessoa com idade avançada não podendo aguardar durante 5 ou 6 anos o desfecho de uma Ação Ordinária.

Assim sendo, estando presente o direito líquido e certo a ser amparado nos presentes autos, considerando se tratar de análise meramente jurídica sem necessidade de dilação probatória, requer seja dado prosseguimento à presente ação mandamental.

DA TEMPESTIVIDADE DO MANDAMUS

O impetrante requereu administrativamente o pedido de nova aposentadoria na data de __________.

O INSS indeferiu no dia __________ a postulação apresentada sob o fundamento de que a parte impetrante não teria direito a uma nova aposentadoria por ser esta irreversível e irrenunciável.

Considerando que o prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias a contar da ciência da violação de direito líquido e certo (art. 23 da Lei n. 12.016, de 2009), é manifesta a tempestividade desta ação mandamental, eis que o decurso do prazo decadencial se opera somente em _____________.

DOS FATOS

O INSS concedeu à parte impetrante o benefício de aposentadoria com data de início do benefício (DIB) fixada em ___________.

2 Súmulas do STF: 269: "O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança"; 271 "Concessão de mandado de segurança não produz efeitos em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria." 3 Súmula do STF: 512: "Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança."Súmula do STJ: 105: "Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios".

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O benefício do impetrante foi concedido com renda mensal inicial (RMI) fixada no valor de R$ __________ e o valor de sua última renda mensal é de R$ _________.

A parte impetrante, contudo, continuou a exercer atividades remuneradas e verter para os cofres da Previdência Social as contribuições previdenciárias previstas na Lei n. 8.212/91, mesmo após sua aposentadoria.

Por essa razão, requereu junto ao INSS a concessão de uma nova aposentadoria para lhe garantir o aproveitamento do tempo laborado após a concessão do primeiro benefício.

A autoridade impetrada entendeu que tal direito não assiste ao segurado vinculado ao Regime Geral de Previdência Social, uma vez que o Decreto n. 3.048/99 veda o cancelamento do benefício de aposentadoria já concedido.

Ora, o argumento do INSS, conforme será evidenciado nos fundamentos jurídicos desta exordial, é manifestamente descabido, porquanto a Lei n. 8.213/91 não estabeleceu qualquer proibição quanto ao pedido de desaposentação, motivo pelo qual o Decreto expedido pelo Presidente da República não poderia veicular tal previsão, sob pena de afronta ao princípio da legalidade.

Não há dúvida de que a parte impetrante continuou contribuindo para a Previdência Social e, conforme se infere dos cálculos em anexo, haverá vantagens financeiras caso sejam aproveitados os salários-de-contribuição posteriores à primeira aposentação.

DO DIREITO

DA NATUREZA DISPONÍVEL E PATRIMONIAL DO DIREITO À APOSENTADORIA

O direito à aposentadoria reveste-se de caráter patrimonial, facultando o seu titular exercê-lo quando lhe convier.

Se o segurado pode requerer o benefício a qualquer momento, uma vez preenchidos os requisitos legais, a sua renúncia também decorre do mesmo viés patrimonial da prestação previdenciária.

Não se pretende afirmar que a renúncia à aposentadoria se opera de forma definitiva e irreversível. O direito social à proteção previdenciária é irrenunciável. A percepção da prestação alimentar, contudo, é disponível, podendo o segurado exercitar a qualquer momento o direito que se incorporou ao seu patrimônio jurídico.

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A mesma realidade jurídica se consubstancia, a título de analogia, com os alimentos no âmbito do Direito Civil. Um cônjuge poderá dispensar os alimentos quando da separação judicial sem que isto lhe obstaculize de requerer o seu pagamento quando restar presentes os requisitos necessários para a sua concessão. Da mesma forma, eventual renúncia de percepção dos alimentos não impede futura postulação, sempre objetivando preservar a dignidade da pessoa humana e o caráter protetivo da norma jurídica.

Assim, tem-se a desaposentação como ato unilateral do aposentado, concernente ao desfazimento voluntário da inatividade, aproveitando-se, contudo, o tempo de contribuição para jubilação em outro regime previdenciário a que tenha se vinculado ou perante o mesmo regime.

Ilídio das Neves pondera que a “irrenunciabilidade às prestações de segurança social constitui na verdade uma indisponibilidade jurídica meramente relativa conquanto seriam admissíveis duas modalidades de renúncia, a primeira, mediante um ato volitivo do beneficiário, que exemplifica o caso em que o segurado opta pela renúncia a um benefício para possibilitar o recebimento de outro mais vantajoso e não cumulável com o primeiro, e a segunda hipótese de renúncia, caracterizada quando o titular da prestação não exerce tal direito, configurando disponibilidade tácita do benefício.” (Direito da Seguridade Social”, Coimbra Editora, 1996, pág. 519)

Deve-se entender que os princípios da definitividade e irreversibilidade das prestações devem ser aplicados para proteção do segurado e não contra o mesmo, quando tem este, por exemplo, a oportunidade de auferir outro benefício mais satisfatório mediante a cessação de um benefício que ora esteja recebendo.

Wladimir Novaes Martinez expõe sobre a liberalidade que permeia o exercício dos direitos previdenciários:

(...) O ordenamento jurídico se subordina à Carta Magna, e esta assegura a liberdade de trabalho, vale dizer, a de permanecer prestando serviços ou não (até depois da aposentação). Deste postulado fundamental deflui a liberdade de escolher o instante e se aposentar ou não fazê-lo. Ausente essa diretriz, o benefício previdenciário deixa de ser libertador do homem para se tornar o seu cárcere." (MARTINEZ, Wladimir Novaes. Direito Adquirido na Previdência Social. LTR, 2000, p. 82)

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já firmou o entendimento no sentido de que é possível a renúncia de benefício previdenciário por ser este um direito patrimonial disponível, in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE. COMPETÊNCIA DO EXCELSO PRETÓRIO. APOSENTADORIA. DIREITO PATRIMONIAL DISPONÍVEL. RENÚNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

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(...)2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente se firmado no sentido de que é plenamente possível a renúncia à aposentadoria, por constituir direito patrimonial disponível.3. Agravo regimental a que se nega provimento.(STJ. AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.055.431 - SC (2008⁄0102846-1). DJ: 09/11/2009. Relator OG FERNANDES)

Transcreve-se, nesta oportunidade, trecho do voto do Ministro Relator do julgado mencionado:

"Quanto ao mérito propriamente, é de se notar que o Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de que a aposentadoria, direito patrimonial disponível, pode ser objeto de renúncia, revelando-se possível, nesses casos, a contagem do respectivo tempo de serviço para a obtenção de nova aposentadoria, ainda que por outro regime de previdência.

Dessa forma, como já asseverado na decisão agravada, o segurado pode renunciar à aposentadoria com o propósito de obter benefício mais vantajoso, no regime geral de previdência social ou em regime próprio de previdência, mediante a utilização de seu tempo de contribuição."

Corroborando tal entendimento, confira-se trecho do voto proferido pelo Min. Hélio Quaglia Barbosa, nos autos do RMS n.º 14.624⁄RS, DJ de 15⁄08⁄2005, que, em situação análoga,  transcreve  a  seguinte  lição  da  doutrina, in verbis:

"Sobre o tema, vale citar na doutrina pátria o ensinamento do autor Hamilton Antônio Coelho, in Revista de Previdência Social, São Paulo, ano XXIII, nº 228, Novembro,1999, in verbis:' [...] O Professor e Juiz de Direito João Batista Damasceno, reconhecendo o direito  à desaposentação, dá-nos a seguinte e incontrastável conclusão: 'Se a aposentadoria é renunciável ante a indevida acumulação, não há fundamento jurídico para seu indeferimento quando se tratar de liberalidade do aposentado. Assim, não há se negar o reconhecimento à renúncia à aposentadoria apresentada voluntária ou necessariamente, bem como a certificação de tal ocorrência e do tempo de serviço prestado pelo aposentado'.[...]Não vejo nenhuma incompatibilidade entre um ato que visa a aposentadoria e outro que objetiva o seu desfazimento, ou seja, a desaposentação do titular do benefício. O ato administrativo aposentadoria é constitutivo positivo de direito para o aposentado; já o de desaposentação é desconstitutivo negativo, consubstanciado em desobrigar a Administração Pública de continuar no custeio de um benefício previdenciário. Logo, a desaposentação libera o Estado de um compromisso pecuniário.Assim, a manifestada vontade de desfazimento do ato de jubilação pelo titular do benefício impõe à Administração o seu pronto deferimento, sob pena de abuso de poder, posição intolerável num Estado Democrático de Direito.

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Além do mais, o que se consegue através da desaposentação não é o retorno da situação anterior do inativo, mas apenas a contagem do tempo de serviço vinculado à antiga aposentadoria para fins de averbação em outra atividade profissional ou mesmo para dar suporte a uma nova e mais benéfica jubilação. Por isso, insurgir-se contra esse direito de renúncia do cidadão aposentado, sob o argumento de que a nova inativação será mais onerosa para o Poder Público é, no mínimo, perpetrar hermenêutica jurídica sem nenhum compromisso com os princípios fundamentais da República, insculpidos pelo nosso legislador maior no 1º artigo da Lei Básica Federal de 1988, tais como: a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho do aposentado.'"

Citem-se, também, os judiciosos ensinamentos, a respeito da questão sub judice, de Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior, in Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, Ed. Livraria do Advogado, 5ª Edição, 2005, p. 321, litteris:

"A renúncia é o ato jurídico mediante o qual o titular de um direito dele se despoja, sem transferi-lo a outra pessoa, quando inexiste vedação legal. Trata-se de uma modalidade de extinção de direitos aplicável, basicamente, aos direitos patrimoniais, pois ninguém está obrigado a exercer direito que possui considerando o fato de a aposentadoria ser um benefício de prestação continuada destinada a substituir os proventos auferidos pelo trabalhador - enquanto exercia atividade laboral, assegurando-lhe o mínimo indispensável para s sua subsistência - é inquestionável que se trata de direito patrimonial, e, portanto, disponível [...][...]Assim, sendo a renúncia ato privativo de vontade do aposentado, não há que se cogitar de interesse público a condicionar a vontade do renunciante."

DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O INSS alega o caráter eminentemente alimentar das aposentadorias por tempo de contribuição, idade e especial, sendo as mesmas irrenunciáveis e irreversíveis, invocando os termos do artigo 181-B do Decreto nº 3.048/99, com redação prevista pelo Decreto nº 3.265/99:

“Art. 181-B. As aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial concedidas pela previdência social, na forma deste Regulamento, são irreversíveis e irrenunciáveis.”

Não se pode, contudo, cogitar a irrenunciabilidade e a irreversibilidade absoluta da aposentadoria, notadamente quando em prejuízo ao próprio segurado. Ressalte-se ainda que não há qualquer previsão na Lei 8.213/91 acerca

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de tal instituto, sendo mera previsão regulamentar, não podendo obviamente decreto inovar no ordenamento jurídico.

O princípio da legalidade tem previsão expressa no art. 5º, inciso II, da Constituição Federal, pelo qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".

A Constituição Federal também estabelece: "Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:"

A Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, preceitua: "Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência."

Colacionam-se a seguir alguns outros julgados:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. RENÚNCIA À APOSENTADORIA ANTERIOR COM APROVEITAMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO POSTERIOR. DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS. DESNECESSIDADE.

1. Inexistindo vedação constitucional ou legal, revela-se admissível a renúncia à aposentadoria, com objetivo de se computar o tempo de serviço posterior à obtenção do benefício, para fins de concessão de aposentadoria mais vantajosa. Precedentes: AgRg no REsp 600.419/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 29/11/2005, DJ 06/02/2006 p. 372; AgRg no REsp 926.120/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 07/08/2008, DJe 08/09/2008; TRF-1ª Região AC 2002.38.02.002087-0/MG, Rel. Desembargador Federal Luiz Gonzaga Barbosa Moreira, Primeira Turma, DJ p.15 de 03/11/2004. Ressalva do entendimento pessoal do relator.

2. O entendimento firmado na jurisprudência é no sentido de que o ato de renunciar à aposentadoria tem efeitos ex nunc, não gerando para o segurado o dever de restituição dos valores recebidos. Precedentes: REsp 557.231/RS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 08/04/2008, DJe 16/06/2008; TRF-1ª Região, AC 1998.01.00.033479-6/MG, Rel. Juiz Federal Manoel José Ferreira Nunes (conv), Primeira Turma Suplementar, DJ p.40 de 13/11/2003.

3. Apelação e remessa oficial, tida por interposta, desprovidas.

(Primeira Turma do TRF 1ª Região – 09.03.2009. APELAÇÃO CÍVEL Nº 2002.32.00.003819-7/AM. RELATOR DESEMBARGADOR FEDERAL CARLOS OLAVO. Processo na Origem: 200232000038197.)

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A tese acima esposada encontra adesão também na doutrina, consoante se extraiu da lição de Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari:

"A Constituição não veda a desaposentação, pelo contrário, garante a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana (art. 201, § 9º). A Legislação Básica da Previdência é omissa quanto ao assunto, vedando apenas a contagem concomitante do tempo de contribuição e a utilização de tempo já aproveitado em outro regime. Somente o Decreto n. 3.048/99, com redação dada pelo Decreto n. 3.265/99, estabelece que os benefícios concedidos pela Previdência Social são irreversíveis e irrenunciáveis.

Tem entendido o INSS que a aposentadoria é irrenunciável, dado seu caráter alimentar, só se extinguindo com a morte do beneficiário. E lhe atribuiu o caráter de irreversibilidade, por considerar a aposentadoria um ato jurídico perfeito e acabado, só podendo ser desfeito pelo Poder Público em caso de erro ou fraude na concessão.

Entendemos que a renúncia é perfeitamente cabível, pois ninguém é obrigado a permanecer aposentado contra seu interesse. E, neste caso, a renúncia tem por objetivo a obtenção futura de benefício mais vantajoso, pois o beneficiário abre mão dos proventos que vinha recebendo, mas não do tempo de contribuição que teve averbado. Comunga desta posição o Procurador do Trabalho, Ivani Contini Bramante, que escreveu: ‘A desaposentação, ipso facto, trata-se de renúncia-opção. E, quando vocacionada à conversão da aposentadoria de um regime menos vantajoso para um regime mais vantajoso é válida e eficaz. Nesta questão, como visto, prevalece o entendimento de que a aposentadoria é renunciável quando beneficiar o titular do direito e ou ensanchar nova aposentadoria mais vantajosa." (CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 8. ed. Florianópolis. Conceito Editorial, 2007.)

IN DUBIO PRO MISERO E AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ATO JURÍDICO PERFEITO

As normas previdenciárias visam a proteção da dignidade da pessoa humana e a constante melhoria das condições sociais do segurado e do trabalhador.

Obviamente, muitos preceitos contidos no ordenamento jurídico, especialmente aqueles que se destinam ao tratamento normativo dos direitos sociais, não podem ser invocados para prejudicar o segurado da Previdência Social.

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O ato jurídico da aposentadoria não é imutável, podendo ser cancelado pelo segurado todas as vezes que verificar que existem meios para gerar um benefício mais favorável.

A própria natureza jurídica do benefício previdenciário e sua finalidade que é a garantia da subsistência do segurado permitem o desfazimento unilateral desse ato jurídico objetivando uma proteção previdenciária mais eficaz.

Não se admite, portanto, que a norma protetiva seja invocada em desfavor de seu destinatário. Nessa mesma linha, o STF já manifestou o entendimento de que a regra que proíbe o trabalho do menor não pode ser invocada em detrimento do próprio menor, garantindo-lhe o direito de computar o tempo trabalhado, ainda que seja na qualidade de menor, conforme se depreende do julgamento do AgRAI 105.794, 2ª T., Rel. Aldir Passarinho, DJ 02.05.86 e do julgamento do RE 104.654, 2ª T., Rel. Francisco Rezek, DJ 25.04.86. Observe-se, trecho do voto de Rezek, no RE supra citado:

“Está claro, ainda, que a regra do inciso X do mesmo dispositivo constitucional - proibindo qualquer trabalho ao menor de doze anos – foi inscrita na lista das garantias dos trabalhadores em proveito destes, e não em seu detrimento. Não me parece, assim, razoável o entendimento da origem, que invoca justamente uma norma voltada para a melhoria da condição social do trabalhador, e faz dela a premissa de uma conclusão que contraria o interesse de seu beneficiário, como que a prover nova espécie de ilustração para a secular ironia summum jus, summa injuria."

Com efeito, se a norma é omissa quanto ao pedido de desaposentação, seria inconcebível inferir uma proibição sem qualquer previsão legal e ainda mais para prejudicar o segurado, impedindo-lhe de gozar um benefício mais vantajoso.

No mesmo sentido, é o entendimento do TRF da 2ª Região:

"Não há previsão legal expressa quanto à desaposentação no Direito brasileiro, quer se considere a Constituição Federal ou a legislação previdenciária, tampouco norma proibitiva. A limitação das liberdades individuais deve ser tratada de forma explícita pelo texto legal, não podendo ser reduzida ou diminuída por omissão, subsistindo, portanto, a permissão à renúncia do benefício por parte do segurado.

Há que se observar que a Constituição Federal é clara quando elenca, dentre os direitos e garantias fundamentais, que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei (artigo 5º, inciso II) e que, nos termos do artigo 37, caput, à Administração Pública somente é permitido aquilo que a lei prevê. Entretanto, tal questão deve ser analisada sob o prisma interesse individual versus interesse público. Nesta hipótese, sem embargo, deve sair vitoriosa a interpretação de que o direito do cidadão deve se sobrepor ao direito da Administração, principalmente em se considerando a condição de hipossuficiência daquele frente ao Estado.

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Assim, a inexistência de dispositivo legal que proíba a renúncia ao benefício previdenciário legalmente concedido deve ser considerada como possibilidade para a revogação do benefício a pedido do segurado.

Impende ressaltar que a desaposentação atende de maneira adequada aos interesses do cidadão. A interpretação da legislação previdenciária impõe seja adotado o entendimento mais favorável ao beneficiário, desde que isso não implique contrariedade à lei ou despesa atuarialmente imprevista, situações não provocadas pelo instituto em questão.

Da mesma forma, o fenômeno não viola o ato jurídico perfeito ou o direito adquirido, preceitos constitucionais que visam à proteção individual e não devem ser utilizados de forma a representar desvantagem para o indivíduo ou para a sociedade. A desaposentação, portanto, não pode ser negada com fundamento no bem-estar do segurado, pois não se está buscando o desfazimento puro e simples de um benefício previdenciário, mas a obtenção de uma nova prestação, mais vantajosa porque superior."

(TRF da 2ª Região. Publicado DJU - Data::15/01/2010 - Página::100/101. Relator JUIZ FEDERAL CONVOCADO ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES. AGRAVO INTERNO EM AC 2008.51.01.804342-0)

Transcrevem-se também pronunciamentos do STJ:

"Havendo colisão entre preceitos constantes nos dois diplomas normativos, deve prevalecer aquele mais favorável ao trabalhador, em face do caráter social do direito previdenciário e da observância do princípio in dubio pro misero .” (STJ. DJ 20/02/2006 p. 203. Relatora Ministra LAURITA VAZ (1120) EREsp 441721 / RS)

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM. EXPOSIÇÃO AO AGENTE FÍSICO RUÍDO. LIMITE MÍNIMO 80 dB ATÉ 05⁄03⁄1997. POSSIBILIDADE. 1. O art. 292 do Decreto n.º 611⁄92 classificou como especiais as atividades constantes dos anexos dos Decretos n.os 53.831⁄64 e 83.080⁄79. Havendo colisão entre preceitos constantes nos dois diplomas normativos, deve prevalecer aquele mais favorável ao trabalhador, em face do caráter social do direito previdenciário e da observância do princípio in dubio pro misero .(STJ. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 441.721 - RS (2005⁄0144326-8)

A Procuradora do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, Dra. Elvira Samara Pereira de Oliveira, no Parecer n. PN TC 03/00 assim manifestou:

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"Ora, é basilar em direito de que quem pode o mais, pode o menos. Dessa maneira, podendo o segurado que reúna todas as condições para usufruir o benefício, sequer não requerê-lo, com maior razão poderá não mais ter interesse em continuar usufruindo tal prestação.

Diga-se mais: o instituto do ato jurídico perfeito, inscrito no art. 5o, inciso XXXVI, da Carta Magna, implica em garantia do particular contra a tirania estatal, nunca em motivo para serem sonegados seus direitos.

Destaste, resulta cristalino que os defensores da irrenunciabilidade vêm dado exegese distorcida e equivocada ao tema, posto que estão a interpretar às avessas a norma constitucional, transformando garantia individual em óbice legal."

Silmara Londucci na obra "Nova Aposentadoria", Editora Baraúna, p. 38, expõe de forma clara:

"(...)a aposentadoria é um direito fundamental social. Assim, a renúncia à aposentadoria somente é permitida e possível quando esta claramente implicar uma situação mais favorável ao segurado. Deve-se demonstrar de forma inequívoca que o direito pleiteado se sobrepõe (de forma mais vantajosa ao segurado) ao direito renunciado.”

DA INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DE DEVOLUÇÃO DOS VALORES AUFERIDOS PELO SEGURADO

Verifica-se claramente que o segurado não pode ser compelido a devolver as verbas alimentares auferidas em razão da concessão do benefício de aposentadoria.

O ato de renunciar tem efeitos ex nunc e não ex tunc, ou seja, não existe obrigação de devolução que foi recebido, considerando que o valor era devido pela Previdência Social, sem qualquer irregularidade.

A devolução de valores recebidos por segurados tem previsão no art. 115, II, da Lei n. 8.213/91, que permite ao INSS descontar no valor do benefício uma verba que foi paga indevidamente.

No caso específico da desaposentação, não se pode falar em pagamento indevido, eis que o segurado reuniu os requisitos para o gozo da prestação previdenciária e tal direito incorporou-se ao seu patrimônio jurídico. Como então admitir a hipótese de devolução de valores que foram pagos em total conformidade com a legislação de regência?

O entendimento de que o segurado deveria devolver o que recebeu em caso de nova aposentadoria baseia-se em argumentação desprovida de amparo legal, sob

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o pretexto de que esta devolução seria fundamental para preservar o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário.

Ora, se essa assertiva fosse verdadeira caberia ao legislador definir a forma e o procedimento dessa devolução de benefícios previdenciários auferidos, ou seja, no silêncio da lei não cabe ao intérprete extrair ilações sobre a maneira pela qual o sistema previdenciário deveria ser regulado para garantir seu equilíbrio financeiro. Absolutamente tal prerrogativa cabe ao Congresso Nacional e não ao Poder Judiciário que estaria exercendo autêntica função legiferante ao estabelecer uma obrigação não prevista na legislação de regência.

O jurista Fabio Zambitte assim asseverou:

"Naturalmente, como visa o benefício posterior, somente agregará ao cálculo o tempo de contribuição obtido a posteriori, sem invalidar o passado. A desaposentação não se confunde com a anulação do ato concessivo do benefício, por isto não há que se falar em efeito retroativo do mesmo, cabendo tão-somente sua eficácia ex nunc. A exigência de restituição de valores recebidos dentro do mesmo regime previdenciário implica obrigação desarrazoada, pois se assemelha ao tratamento dado em caso de ilegalidade na obtenção da prestação previdenciária.

A desaposentação em mesmo regime previdenciário é, em verdade, um mero recálculo do valor da prestação em razão das novas cotizações do segurado. Não faz o menor sentido determinar a restituição de valores fruídos no passado."(Fabio Zambitte Ibrahim. Desaposentação. Editora Impetus. p. 60)

O STF entendeu que a lei não pode retroagir para beneficiar o segurado sem que exista previsão legal expressa. O entendimento do STF baseou-se no princípio da precedência da fonte de custeio. Por outro lado, se o Poder Judiciário não pode estender um benefício sem que haja previsão de fonte de custeio, também não deveria, igualmente sem previsão legal, criar uma genuína fonte de custeio a pretexto de financiar a desaposentação, porquanto se a lei foi omissa nesse sentido é que se presume que a fonte de custeio já está contemplada pelo simples fato do trabalhador continuar recolhendo após a sua aposentadoria caso continue exercendo atividade remunerada.

Eis o que afirmou o jurista Fabio Zambitte:

"Do ponto de vista atuarial, a desaposentação é plenamente justificável, pois se o segurado já goza de benefício, jubilado dentro das regras vigentes, atuarialmente definidas, presume-se que neste momento o sistema previdenciário somente fará desembolsos frente a este beneficiário, sem o recebimento de qualquer cotização, esta já feita durante o período passado.

Todavia, caso o beneficiário continue a trabalhar e contribuir, esta nova cotização gerará excedente atuarialmente imprevisto, que certamente poderia ser utilizado para a obtenção de novo benefício, abrindo-se mão do anterior de

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modo a utilizar-se do tempo de contribuição passado. Daí vem o espírito da desaposentação, que é a renúncia de benefício anterior em prol de outro melhor."(Fabio Zambitte Ibrahim. Desaposentação. Editora Impetus. p. 55)

Exatamente diante da natureza jurídica dos benefícios de caráter alimentar, a CF prevê sua irredutibilidade (art. 194, parágrafo único, inciso V), bem como a preocupação com a preservação do seu valor real (art. 201, §4º, da CF).

Os benefícios concedidos pela Previdência e Assistência Social não podem ter seu valor nominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto, salvo os determinados por ordem judicial ou lei, nem de arresto, seqüestro ou penhora (art. 114 da Lei n. 8.213/91).

O caráter alimentar das prestações previdenciárias impede a obrigação de sua devolução nos termos do art. 100 da CF:

Art. 100. (...)§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.

Transcreve-se o seguinte julgado do STJ:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR COM ARRIMO NO ART. 557 DO CPC. MATÉRIA NOVA. DISCUSSÃO. NÃO-CABIMENTO. PRECLUSÃO. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS. NÃO-OBRIGATORIEDADE.(...).4. A renúncia à aposentadoria, para fins de concessão de novo benefício, seja no mesmo regime ou em regime diverso, não implica em devolução dos valores percebidos, pois, enquanto esteve aposentado, o segurado fez jus aos seus proventos. Precedentes.5. Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1107638 / PR. T5 - QUINTA TURMA. Ministra LAURITA VAZ. DJe 25/05/2009)

Não obstante a previsão do art. 115, II, da Lei n. 8.213/91, a jurisprudência tem entendido que a obrigação de devolver somente é possível se houve má-fé do segurado (postulado da irrepetibilidade dos alimentos). O que se dirá de um benefício concedido de forma regular e com manifesta boa-fé do segurado?

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Transcreve-se trecho do voto do Relator no julgamento de um recurso no TRF da 2a Região:

Entretanto, há que se destacar a natureza alimentar das verbas recebidas, destinadas a prover a subsistência do segurado e, por isso, protegidas pelo princípio da irrepetibilidade ou da não-devolução de alimentos (REsp 697.397/SC). Ademais, não havendo irregularidade na concessão do benefício, não há que se falar em obrigatoriedade de devolução de importâncias percebidas. Não se cogita, também, de cumular benefícios; finda uma aposentadoria pela renúncia, outra terá início, não havendo justificativa aceitável para que se imponha ao segurado a obrigação de restituir quaisquer valores ao Erário.

Ainda que a doutrina divirja sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que o ato de renunciar ao benefício não envolve a obrigação de devolução de parcelas, pois, enquanto perdurou a aposentadoria, o segurado fez jus aos proventos, sendo a verba alimentar indiscutivelmente devida.

(TRF da 2a Região . Publicado DJU - Data::15/01/2010 - Página::100/101. Relator JUIZ FEDERAL CONVOCADO ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES. AGRAVO INTERNO EM AC 2008.51.01.804342-0)

DA INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 18 DA LEI N. 8.213

O INSS, para refutar o direito à desaposentação, invoca o disposto no art. 18, §2º, da Lei n. 8.213/91, que dispõe:

Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços:(…)§ 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

Esse dispositivo legal, exatamente por restringir um direito social fundamental, não pode ser interpretado extensivamente. A Lei menciona a expressão aposentado, ou seja, se o segurado estiver no gozo de uma aposentadoria a legislação não lhe permite cumular esse benefício com outra prestação previdenciária, exceto o salário-família e a reabilitação profissional. Mas se o segurado dispõe da aposentadoria não ocorre violação do aludido dispositivo legal, eis que a condição de aposentado é condição sine qua non para gerar a proibição de acumulação.

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Pode-se aqui fazer uma analogia com o benefício de pensão por morte. A Lei n. 8.213/91 estabelece que o cônjuge não pode acumular duas pensões, exceto se ele abrir mão de uma delas. A legislação, portanto, contempla em vários momentos a possibilidade de renunciar a um benefício para auferir uma prestação mais vantajosa, procurando sempre efetivar o postulado da universalidade inscrito no inciso I do parágrafo único do art. 194 da Constituição Federal, bem como o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Eis o que dispõe o art. 124, inciso VI, da Lei n. 8.213/91:

Art. 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios da Previdência Social:

(...)

VI - mais de uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro, ressalvado o direito de opção pela mais vantajosa

Não há dúvida que deve prevalecer os métodos da interpretação sistemática e finalística, sendo inconcebível uma leitura literal do art. 18, §2º da Lei n. 8.213/91, pois o escopo da norma previdenciária é sempre garantir a melhor proteção possível.

Aliás, a Lei n. 8.213/91 proíbe a percepção de duas aposentadorias:   

Art. 124. Salvo no caso de direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes benefícios da Previdência Social:(...)II - mais de uma aposentadoria

Com efeito, o que a legislação veda é a percepção simultânea de uma aposentadoria com outro benefício, exceto nos casos de salário-família e reabilitação profissional.

Quando ocorre a renúncia da aposentadoria para percepção de outra, não está ocorrendo qualquer violação ao mencionado dispositivo legal. O segurado não vai receber nova aposentadoria acumulando-se com o benefício anterior. Com a renúncia da primeira aposentadoria, não se aplica o disposto no parágrafo segundo do art. 18 da Lei n. 8.213/91. O que este dispositivo trata é exatamente a hipótese de alguém aposentado que opta por não cancelar seu benefício, mesmo tendo trabalhado posteriormente à sua aposentadoria; neste caso os únicos benefícios que a legislação lhe assegura é a reabilitação profissional e o salário-família.

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A busca pelo benefício mais vantajoso também está contemplada na Instrução Normativa do INSS n. 45, de 06 de agosto de 2010, que contém o seguinte preceito ao tratar do benefício assistencial da Lei n. 8.742/93:

Art. 426. O titular de benefício previdenciário que se enquadrar no direito ao recebimento de benefício assistencial será facultado o direito de renúncia e de opção  pelo  mais  vantajoso, exceto  nos  casos  de aposentadoria por idade, tempo de contribuição e especial, haja vista o contido no art. 181-B do RPS.   Parágrafo único. A opção prevista no caput produzirá efeitos financeiros a partir da DER e o benefício previdenciário deverá ser cessado no dia anterior a DER do novo benefício.

O STF, iniciando o julgamento dessa matéria, já proferiu o voto do Ministro Marco Aurélio que assim manifestou sobre a questão do §2º do art. 18 da Lei n. 8.213/91 (RE 381367):

“Essa conclusão não resulta na necessidade de declarar-se inconstitucional o § 2º do artigo 18 da Lei nº 8.213/91, mas em emprestar-lhe alcance consentâneo com a Carta Federal, ou seja, no sentido de afastar a duplicidade de benefício, mas não o novo cálculo de parcela previdenciária que deva ser satisfeita”

O STJ também já apreciou essa questão:

"A pretensão do Autor não é a cumulação de benefícios previdenciários, mas sim, a renúncia da aposentadoria que atualmente percebe (aposentadoria por idade, na qualidade de rurícola) para o recebimento de outra mais vantajosa (aposentadoria por idade, de natureza urbana), que, por sinal, segundo o juiz sentenciante, o segurado perfaz todos os requisitos para sua concessão.Dessa forma, merece reforma o aresto impugnado, porquanto não há falar em cômputo do "tempo de serviço já utilizado para a concessão do primeiro" benefício. Assevero que, no caso em apreço, não se trata da dupla contagem de tempo de serviço já utilizado por um sistema, o que pressupõe, necessariamente, a concomitância de benefícios concedidos com base no mesmo período, o que é vedado pela Lei de Benefícios. Trata-se, na verdade, de abdicação a um benefício concedido no valor de um salário mínimo – aposentadoria por idade, de natureza rural –, a fim de obter a concessão de um benefício mais vantajoso – aposentadoria por idade, como contribuinte autônomo –, haja vista, segundo afirma o Autor, ter contribuído para Previdência Social com um valor muito acima de um salário mínimo. (grifei)"

(STJ. AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.121.999 - PE (2008⁄0270429-8). Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima) 

Conforme já aduzido, o art. 18, parágrafo segundo da Lei n. 8.213/91 deve ser interpretado em conjunto com outros preceitos e especialmente com a exegese

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finalística no âmbito do ordenamento jurídico previdenciário. Caso não prevaleça essa interpretação, esse dispositivo deve ser reputado inconstitucional uma vez que viola sem clemência o art. 201, §11º da CF, conforme será mencionado a seguir.

O caráter retributivo do sistema previdenciário é a regra geral, ou seja, o segurado paga uma contribuição previdenciária (tributo vinculado), ainda que aposentado, e o sistema deve lhe garantir contrapartida em prestações previdenciárias.

Em casos excepcionais o sistema previdenciário pode ser exclusivamente distributivo, desde que contenha dispositivo constitucional autorizando tal possibilidade, exatamente como ocorre com os servidores públicos inativos nos termos do art. 40 da Constituição Federal na redação dada pela Emenda Constitucional n. 41/03.

Relativamente ao Regime Geral de Previdência Social, a Constituição estabelece que o aposentado goza de imunidade tributária (art. 195, II, CF), não incidindo sobre sua aposentadoria qualquer contribuição previdenciária e em outra norma constitucional (art. 201, §11) estipula que as contribuições incidentes sobre a remuneração do trabalho gerarão benefícios aos segurados, não contemplado qualquer espécie de distributividade baseada na contribuição previdenciária do trabalhador.

Nesse mesmo sentido, o STF tem entendido que a contribuição previdenciária somente pode incidir sobre aquelas parcelas que vão ser incorporadas na aposentadoria, ou seja, que geram retorno ao segurado. Ora, se o aposentado que retorna ao trabalho continua contribuindo tal como antes de sua aposentadoria somente se admitiria duas interpretações: ou ele não é obrigado a contribuir (tese que o Judiciário não tem acolhido) ou aquela contribuição precisa trazer um retorno para o segurado, independentemente de sua condição de aposentado. Faz-se menção aos seguintes precedentes do STF e STJ:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE AS HORAS EXTRAS E O TERÇO DE FÉRIAS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. Esta Corte fixou entendimento no sentido que somente as parcelas incorporáveis ao salário do servidor sofrem a incidência da contribuição previdenciária. Agravo Regimental a que se nega provimento.

(AI 727958 AgR, Relator(a):  Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 16/12/2008, DJe-038 DIVULG 26-02-2009 PUBLIC 27-02-2009 EMENT VOL-02350-12 PP-02375)

TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA – SALÁRIO-MATERNIDADE - BENEFÍCIO SUBSTITUTIVO DA REMUNERAÇÃO - POSSIBILIDADE – ART. 28, § 2º, DA LEI 8.212/91 – ADICIONAL DE PERICULOSIDADE, INSALUBRIDADE E HORAS EXTRAS - PARCELAS

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REMUNERATÓRIAS - ENUNCIADO 60 DO TST - AUXÍLIO-DOENÇA E AUXÍLIO-ACIDENTE - CARÁTER INDENIZATÓRIO - TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS - REALINHAMENTO JURISPRUDENCIAL - NATUREZA INDENIZATÓRIA - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO JURISPRUDENCIAL.(...)3. Os adicionais noturnos, de periculosidade, de insalubridade e referente à prestação de horas-extras, quando pagos com habitualidade, incorporam-se ao salário e sofrem a incidência de contribuição previdenciária.4. O STJ, após o julgamento da Pet 7.296/DF, realinhou sua jurisprudência para acompanhar o STF pela não-incidência de contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias.Precedentes.5. Não incide contribuição previdenciária sobre os primeiros 15 dias de auxílio-doença pagos pelo empregador, nem sobre as verbas devidas a título de auxílio-acidente, que se revestem de natureza indenizatória. Precedentes.6. Recurso especial provido em parte.(REsp 1149071/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 22/09/2010)

DA NECESSÁRIA CONTRAPARTIDA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

O segurado, mesmo aposentado, se continua exercendo atividade remunerada é obrigado a continuar contribuindo para a Previdência Social. Antes a legislação previdenciária lhe reservava o direito ao pecúlio consistente no pagamento das contribuições recolhidas após sua aposentadoria. Esse benefício foi, entretanto, revogado pelas Leis n. 8.870/94 e 9.032/95.

A redação antiga dos arts. 81 e 82 da Lei n. 8.213/91 era a seguinte:

Art. 81. Serão devidos pecúlios:(...)II - ao segurado aposentado  por idade ou por tempo de serviço pelo Regime Geral de Previdência Social que voltar a exercer atividade abrangida pelo mesmo, quando dela se afastar;

(...)

Art. 82. No caso dos incisos I e II do art. 81, o pecúlio consistirá em pagamento único de valor correspondente à soma das importâncias relativas às contribuições do segurado, remuneradas de acordo com o índice de remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia primeiro;

Assim sendo, conforme preceitua a Lei n. 8.212/91, o segurado que retorna ao trabalho é obrigado a continuar contribuindo para a Previdência Social:

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Art. 12. (...)(...)§ 4º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social-RGPS que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata esta Lei, para fins de custeio da Seguridade Social.

Não há dúvida de que essa contribuição recolhida após a aposentadoria do segurado deve lhe garantir um retorno, tendo em vista a extinção do instituto do pecúlio. Esse retorno é viável exatamente em face da desaposentação. Entender o contrário seria admitir a violação ao preceito constitucional constante do art. 201 da CF:

Art. 201 (...)

§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

O jurista Fabio Zambitte assim leciona:

"A contributividade dos sistemas previdenciários, regra fundamental do sistema, ao mesmo tempo que gera um ônus financeiro aos segurados, também produz um bônus, materializado na possibilidade de aplicar tais recursos em hipóteses diversas, nem todas mapeadas pela legislação previdenciária. Não há como a Administração Pública ignorar esse prerrogativa ao segurado, que pode muito bem se desfazer de um benefício atual visando a transferência de seu tempo de contribuição para novo benefício." (Fabio Zambitte Ibrahim. Desaposentação. Editora Impetus. p. 55)

DOS PEDIDOS

1. Seja concedida medida liminar , nos termos do art. 7º, inciso III, da Lei n. 12.016, de 07 de agosto de 2009, para que seja a autoridade impetrada condenada a conceder uma nova aposentadoria (por tempo de contribuição, por idade ou especial) em favor da parte impetrante computando-se o tempo de contribuição apurado (antes e após a primeira aposentadoria) até a nova DIB - Data de Início do Benefício, por intermédio da renúncia da atual aposentadoria independentemente da devolução de qualquer prestação previdenciária recebida pelo segurado (efeito ex nunc do pedido de renúncia;

2. Seja a autoridade impetrada notificada para prestar as informações que entender pertinente no prazo de 10 dias;

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3. Seja concedido à parte impetrante o beneplácito da assistência judiciária gratuita nos termos da Lei 1.060/50, por ser pobre no sentido legal;

4. Requer seja encaminhada uma das cópias da presente petição inicial, bem como da documentação que a instrui, ao INSS - INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, em atendimento ao disposto nos arts. 6º e 7º da Lei n. 12.016, de 07 de agosto de 2009;

5. Requer seja deferida a tramitação preferencial ao presente feito, nos termos do art. 71 da Lei n. 10.741, de 2003, por ser a parte impetrante idosa;

6. Seja a presente segurança concedida, para condenar a autoridade impetrada a conceder em favor do segurado uma nova aposentadoria (por tempo de contribuição, por idade ou especial) computando-se o tempo de contribuição apurado (antes e após a primeira aposentadoria) até a nova DIB - Data de Início do Benefício, por intermédio da renúncia da atual aposentadoria independentemente da devolução de qualquer prestação previdenciária recebida pelo segurado (efeito ex nunc do pedido de renúncia), pagando-se as diferenças daí decorrentes retroativamente ao requerimento administrativo da nova aposentadoria acrescido de correção monetária e juros de mora de 1% ao mês;

7. Requer, ainda, sem prejuízo do acolhimento do pedido anterior, seja declarado o direito do segurado de formular perante o INSS, sempre que constatada a existência de contribuições previdenciárias após a concessão de uma aposentadoria, novos pedidos de desaposentação para o cômputo do período trabalhado após o ato de aposentadoria, evitando-se novas ações judiciais com o mesmo objeto caso o segurado continue trabalhando após o ajuizamento da presente ação;

8. Requer, ainda, a intimação do MPF.

P. deferimento.

Dá-se a causa o valor de R$ ________________.

Nome da Comarca e data.

Nomes dos advogados e OAB

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