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EXMO(A). SR(A). JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL XXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, militar da aeronáutica, portador da Carteira de Identidade nº. XXXXXX, devidamente inscrito no CPF/MF sob o nº. XXXXXXX ( doc. 01), residente e domiciliado na XXXXXXXXXXX, vem, respeitosamente, por intermédio de seus procuradores regularmente constituídos mediante instrumento de mandato ( doc. 02), com endereço profissional na XXXXXXXXXXX, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA COM URGENTÍSSIMO PEDIDO DE LIMINAR contra ato praticado pelo XXXXXXXXXX, vinculado ao COMANDO DA AERONÁUTICA – BASE AÉREA DE BRASÍLIA, órgão público do Poder Executivo Federal, inscrito no CNPJ/MF sob o nº. 00.394.429/0006-15, sediado no Setor Militar do Aeroporto VTAC – Vieira, Teixeira, Araújo e Cassiano Advogados Associados R. Benjamin Roriz, Qd. 33, Lt. 31, Sl. 04-07 | Setor Aeroporto, Luziânia - GO | CEP.: 72.801-147 Fone: +55 61 3601.2160 | E-mail: vtac/[email protected] 1

Modelo Mandado de Segurança

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EXMO(A). SR(A). JUIZ(ZA) FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SEO JUDICIRIA DO DISTRITO FEDERAL

XXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, militar da aeronutica, portador da Carteira de Identidade n. XXXXXX, devidamente inscrito no CPF/MF sob o n. XXXXXXX (doc. 01), residente e domiciliado na XXXXXXXXXXX, vem, respeitosamente, por intermdio de seus procuradores regularmente constitudos mediante instrumento de mandato (doc. 02), com endereo profissional na XXXXXXXXXXX, impetrar

MANDADO DE SEGURANA COM URGENTSSIMO PEDIDO DE LIMINAR

contra ato praticado pelo XXXXXXXXXX, vinculado ao COMANDO DA AERONUTICA BASE AREA DE BRASLIA, rgo pblico do Poder Executivo Federal, inscrito no CNPJ/MF sob o n. 00.394.429/0006-15, sediado no Setor Militar do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, Lago Sul, em Braslia DF, CEP.: 71.607-900, e UNIO FEDERAL, representada pela Procuradoria Geral da Unio, sediada no Setor de Autarquias Sul, Quadra 3, Lotes 05/06, Ed. Multi Brasil Corporate, Sede I AGU, 10 Andar, em Braslia DF, CEP.: 70.070-030, pelas razes de fato e de direito a seguir expostas:

Preliminarmente: Da Legitimidade Passiva

A Autoridade Coatora do presente Mandado de Segurana o XXXXXXXXXX, uma vez que, na estrutura da Base Area, compete ele a aplicao das punies disciplinares aos militares integrantes da corporao.Nesse sentido, observe-se o disposto no Regulamento Disciplinar da Aeronutica, Decreto n. 76.322/75:ART.42 - Tem competncia para aplicar punies disciplinares: 1 - A todos os que esto sujeitos a este regulamento: a) o Presidente da Repblica; b) o Ministro da Aeronutica. 2 - A todos os que servirem sob seus respectivos comandos ou forem subordinados funcionalmente: a) os Oficiais-Generais em funo; b) os Oficiais Comandantes de Organizao; c) os Chefes de Estado-Maior; d) os Chefes de Gabinete; e) os Oficiais Comandantes de Destacamento, Grupamento e Ncleo; f) os Oficiais Comandantes de Grupo, Esquadro e Esquadrilha. 3 - Os Chefes de Diviso e Seo administrativas ou outros rgos, responsveis pela administrao de pessoal, quando especificamente previsto no Regulamento ou Regimento Interno da Organizao. Pargrafo nico. O Quadro Anexo II especifica a punio mxima que pode ser aplicada pelas autoridades referidas neste artigo.

Sendo assim, como autoridade hierrquica superior na estrutura do Sexto Esquadro de Transporte Areo, o XXXXXXXXXX responsvel pelos atos concernentes punio dos militares subordinados ele, bem como pelo processo administrativo de apurao da transgresso disciplinar, de modo que deve responder pelos atos coatores praticados em detrimento de seus comandados, no caso em tela o Impetrante.

Dos Fatos

O Impetrante, assim como muitos brasileiros, passa por um momento financeiro bastante crtico. Por ser o nico homem da famlia e sua renda praticamente servir para o sustento desta, passa por inmeras restries que, em certos momentos, chegam a ser vexatrias. Sua me tem problemas de sade, e suas irms no possuem renda. Isso faz com que todos em sua casa dependam dele para praticamente tudo.E, em um destes dias de luta comuns em seu cotidiano, foi surpreendido com a necessidade extrema de retornar para sua casa com urgncia. Isso devido ao fato de sua me necessitar de auxilio mdico. Entretanto, este retorno para casa no seria to fcil, e no s pelo fato de ter que cumprir sua jornada na Base Area.Como dito antes, atravessava uma grave crise financeira, onde no sobrava dinheiro para quase nada. E justamente neste dia, mais precisamente entre o dia 31 de maio e 01 de junho de 2013, no tinha combustvel suficiente para retornar para Luzinia-GO, local de sua residncia. Fora trabalhar porque tinha combustvel para ir e, em seu pensamento, continha a esperana de conseguir dinheiro emprestado, ou companheiros para retornar e, com o auxlio destes, abasteceria seu veculo para o regresso.No contava com uma emergncia familiar, de modo que teve que solicitar emprstimo junto aos seus colegas de trabalho, mas sem sucesso. Explicou sua necessidade e pediu a quantia necessria tambm aos seus superiores, que tambm negaram. E com uma altivez que parece fazer parte do uniforme, pareciam testar sua capacidade de superar desafios.No lhe restando alternativas, embora tivesse tentado de tudo, se viu obrigado a cometer um ato impensado, movido pelo mais puro estado de necessidade. Ocorre que, o Impetrante estava de servio de motorista ao Sexto Esquadro de Transporte Areo (ETA 6), do dia 31/05/2013 para o dia 01/06/2013, quando, por volta das 23h do dia 31/05/2013, estacionou a viatura KOMBI 06BP191, placa JKH 2613, e ao conferir os nveis de leo e de gua, verificou que era possvel retirar combustvel pela mangueira de injeo do motor.Como no tinha dinheiro para abastecer seu veculo, ou at mesmo para tomar uma conduo para retornar sua casa, o Impetrante, aps ver negado o pedido de emprstimo de valores feito a seus companheiros de farda, inclusive superiores, decidiu por subtrair alguns litros de gasolina para abastecer seu veculo particular, tendo em vista que esta era a nica alternativa que lhe restara, uma vez que necessitava de prestar apoio sua me, que se encontrava adoentada em casa, com suas 02 (duas) irms mais novas.No dia seguinte, foi escalado para cumprir uma misso no Stio do Gama e, posteriormente, foi designado para outra misso, agora em Vicente Pires, razo pela qual solicitou o abastecimento da viatura, tendo em vista que o combustvel existente no seria suficiente para atender ao ofcio.O Oficial-de-Dia, verificando que o referido veculo fora abastecido no dia anterior, percebeu um certa discrepncia de consumo de combustvel ou vazamento na viatura, razo pela qual conferiu o odmetro e constatou um alto consumo da viatura em virtude da diferena havida entre sua atual quilometragem e aquela anotada no abastecimento do dia anterior, lanando tal fato no Livro de Ocorrncias do ETA 6.Em virtude disso, o Impetrante foi chamado, pelo Primeiro Tenente Aviador Leandro Csar Gonalves de Oliveira, para prestar esclarecimentos acerca dos fatos ocorridos entre os dias 31/05/2013 e 01/06/2013.Inicialmente, o Impetrante negou o cometimento do ato ilcito, mas, posteriormente, confessou que havia furtado gasolina da viatura oficial para abastecer seu veculo particular, uma vez que precisava ir ao encontro de sua me adoentada, mas no dispunha de combustvel suficiente para retornar sua casa, nem tampouco de verba para proceder com o abastecimento de seu automvel ou para tomar uma conduo.Como consequncia de tal ato, o Impetrante passou a responder um Inqurito Policial Militar (doc. 03), pelo furto de aproximadamente 23,2 (vinte e trs vrgula dois) litros de gasolina da viatura KOMBI 06BP191 no dia 31/05/2013, quando se encontrava de servio de motorista de dia ao ETA 6.O referido IPM concluiu pela ocorrncia do fato delituoso, de modo que o Sr. XXXXXXXXXX, determinou o encaminhamento dos autos Auditoria da 11 Circunscrio Judiciria Militar.Entretanto, como consequncia do correto entendimento pela aplicao do princpio da insignificncia, a i. Representante do Ministrio Pblico Militar requereu o arquivamento do Inqurito Policial Militar, asseverando que o valor do bem subtrado no coloca em risco bem jurdico na intensidade exigida pelo princpio da ofensividade.Isso, porque, conforme apresentado em laudo tcnico pericial, o valor total atribudo ao combustvel subtrado totalizava R$ 68,90 (sessenta e oito reais e noventa centavos), de modo que ausente a justa causa para a propositura da ao penal.Diante disso, a MM. Juza-Auditora acolheu o pedido do Ministrio Pblico Militar e determinou o arquivamento do Inqurito Policial Militar n. 0000083-24.2013.7.11.0111, em virtude da atipicidade da conduta do Impetrante, uma vez que, pela insignificncia do valor do bem subtrado, no teria causado prejuzos sociedade.Mesmo com o encerramento do Inqurito Policial Militar pelo seu arquivamento, a Autoridade Impetrada determinou, em 02/10/2013, a abertura de Processo de Apurao de Transgresso Disciplinar, o qual foi instaurado pelo FATD n. 22/2013, conforme se verifica no documento em anexo (doc. 04).Instado a apresentar justificativas sobre os fatos ocorridos, o Impetrante reafirmou ter cometido o ato apurado no IPM n. 0000083-24.2013.7.11.0111, alegando que subtraiu o combustvel da viatura para colocar em seu veculo particular, uma vez que estava com o tanque de seu automvel vazio, ao ponto de no conseguir sequer dar a partida no motor.Asseverou tambm que o principal motivo que o levou a praticar tal ato foi o fato de necessitar ver sua genitora que estava doente e, como era o nico homem da casa, precisar ir prestar apoio sua me.Alegou ainda que se arrependeu do que fez e que se sentia envergonhado, uma vez que esses no foram os valores ensinados por seus pais em sua educao, alm do que afirmou ter aprendido a lio e que jamais procederia novamente desta forma, de modo que postulou a retratao dos atos praticados, assim como requereu a absolvio de quaisquer punies na esfera administrativa.Por fim, requereu, no caso de aplicao de punio, a aplicao de penalidade que no atingisse o teto mximo, a fim de no mudar a classificao de seu comportamento, uma vez que j teria realizado o exame de seleo para o Curso de Formao de Cabos da Aeronutica em 2014, conforme edital em anexo (doc. 05), tendo se sado muito bem prova.Contudo, a Autoridade que apurou a transgresso disciplinar concluiu pela improcedncia da justificativa apresentada pelo Impetrante em sua defesa, propondo ao Sr. XXXXXXXXXX que o Impetrante fosse punido no item 4, do art. 15 do RDAer, com o Licenciamento a bem da disciplina, por ter cometido ato desonesto e ofensivo dignidade militar, sendo, portanto, impossvel permanecer no cotidiano da Unidade Area, por representar ameaa confiana, ao respeito mtuo e ao bom andamento das atividades do Esquadro.Dessa forma, o XXXXXXXXXX, ora Impetrado, decidiu pela aplicao da punio proposta pela Autoridade que apurou a transgresso, qual seja, Licenciamento a bem da disciplina.Entretanto, a punio disciplinar imposta ao Impetrante pela autoridade Impetrada no observou uma srie de princpios e normas aplicveis ao processo administrativo de apurao de transgresso disciplinar, tendo em vista que a referida penalidade: 1) foi cominada mesmo no se tratando de transgresso disciplinar propriamente dita, mas de fato tipificado apenas como crime pelo Cdigo Penal Militar; 2) foi contrria ao devido processo legal administrativo; 3) teve o contraditrio e a ampla defesa viciada; 4) no teve a devida motivao da autoridade que apura e a que aplica a transgresso disciplinar; 5) nula, porque em caso semelhante, envolvendo oficial de carreira, a mesma suposta transgresso no mereceu o mesmo apenamento; e 6) ocorreu sem a considerao das circunstncias atenuantes derivadas da boa conduta do Impetrante, enquanto oficial temporrio da Aeronutica.O XXXXXXXXXX no s se furtou ao seu dever de cumprir as regras e normas estatudas para a apurao e aplicao de penalidades em decorrncia de transgresses disciplinares praticadas por oficiais sem estabilidade garantida, como ainda promoveu a imposio de punio administrativa a fato tipificado apenas como crime pelo Cdigo Penal Militar, mesmo no estando caracterizada nenhuma das hipteses descritas no pargrafo nico, do art. 9 do Decreto n. 76.322/75 (Regulamento Disciplinar da Aeronutica - RDAer), quais sejam, absolvio ou rejeio da denncia.Analisando o caso em tela, o Impetrante subtraiu para si aproximadamente 23,2 (vinte e trs vrgula dois) litros de gasolina da viatura XXXXXXX, cometendo ato ilcito tipificado pelo art. 240 do CPM como furto. Como a i. Representante do Ministrio Pblico Militar requereu o ARQUIVAMENTO do Inqurito Policial Militar MM. Juza-Auditora da Justia Militar, em razo da ausncia de justa causa para a propositura da ao penal, no h que se falar em absolvio ou em rejeio da denncia, de modo que tal conduta no poderia ser analisada luz do RDAer.Entretanto, inadvertidamente, o XXXXXXXXXX promoveu a instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar e determinou a punio do Impetrante, inclusive com uma das penalidades mais rigorosas possveis, a de licenciamento a bem da disciplina, e ainda sem a observncia do devido procedimento administrativo para a aplicao de punio disciplinar.Registre-se, ademais, que o ato coator praticado pelo Impetrado ainda est fazendo com que o Impetrante perca seu direito de se matricular no Curso de Formao de Cabos da Aeronutica, haja vista que, como previsto por ele no momento da apresentao de suas justificativas, logrou aprovao no exame de seleo, inclusive em uma boa colocao, conforme se verifica na lista de aprovados em anexo (doc. 06).Isso, porque a autoridade Impetrada se nega a apresentar o Ofcio de Apresentao de Militares constando o nome do Impetrante no mesmo, o qual, inclusive, j foi encaminhado ao XXXXXXXXXXXX sem o nome do Impetrante (doc. 07), impedindo-o, portanto, de alcanar a to sonhada promoo e estabilidade na carreira militar.To grande prejuzo uma pessoa s poderia ser levado a cabo se, no mnimo, estivesse em observncia e defesa da legalidade, de regras expressas do ordenamento jurdico, o que, em ltima instncia, significaria garantir a ordem pblica e a segurana jurdica. No entanto, no esse o caso. Os tpicos seguintes demonstraro que o comportamento adotado pelo XXXXXXXXXX passou por cima de vrios dispositivos legais e constitucionais, assim como de princpios constitucionais e administrativos.

Do DireitoIII.1. das normas que regem o procedimento administrativo de apurao das transgresses disciplinares dos militares da aeronutica

O art. 142 da Constituio Federal de 1988, no captulo destinado s Foras Armadas, traou os princpios constitucionais da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica, assim como o quadro bsico de direitos, deveres e sujeies dos militares, seno veja-se:Art. 142. As Foras Armadas, constitudas pela Marinha, pelo Exrcito e pela Aeronutica, so instituies nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da Repblica, e destinam-se defesa da Ptria, garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

O referido dispositivo repetido pelo art. 2 da Lei n. 6.880/80, denominado Estatuto dos Militares:Art. 2 As Foras Armadas, essenciais execuo da poltica de segurana nacional, so constitudas pela Marinha, pelo Exrcito e pela Aeronutica, e destinam-se a defender a Ptria e a garantir os poderes constitudos, a lei e a ordem. So instituies nacionais, permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da Repblica e dentro dos limites da lei.

O princpio militar acima descrito demonstra que os valores da hierarquia e da disciplina so a base institucional das Foras Armadas.Na Constituio Federal no existe a preocupao de dispor que os demais rgos pblicos devem obedincia aos princpios da hierarquia e da disciplina, seno aos princpios constitucionais inerentes Administrao Pblica, principalmente aos princpios da legalidade, da impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia.No entanto, em todas as instituies pblicas, independentemente do grau de complexidade, existe uma ordenao hierrquica de funes e a necessidade de observncia fiel das funes por cada servidor para a concretizao dos fins a que se destinam.Percebe-se, portanto, que nenhuma organizao prescinde de hierarquia e disciplina para seu funcionamento. Diante disso, veja-se o conceito de hierarquia e disciplina trazido pelo Estatuto dos Militares:Art. 14. A hierarquia e a disciplina so a base institucional das Foras Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierrquico. 1 A hierarquia militar a ordenao da autoridade, em nveis diferentes, dentro da estrutura das Foras Armadas. A ordenao se faz por postos ou graduaes; dentro de um mesmo posto ou graduao se faz pela antiguidade no posto ou na graduao. O respeito hierarquia consubstanciado no esprito de acatamento sequncia de autoridade. 2 Disciplina a rigorosa observncia e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposies que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmnico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. 3 A disciplina e o respeito hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

Neste sentido, a hierarquia, entendida como ordenao progressiva de autoridade que se faz por postos, graduaes ou pela antiguidade, necessria para fixar funes e responsabilidades, enquanto que a disciplina, entendida como a soma de preceitos que devem ser obedecidos por todos os componentes de uma corporao, fundamental para o desenvolvimento regular destas atividades.Por outro lado, nenhum rgo da Administrao Pblica, e nisto se incluem as Foras Armadas, pode se esquivar de observar os princpios constitucionais na realizao de suas atividades, principalmente os princpios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficincia, sob pena de afronta Constituio Federal do Brasil.No entanto, quando se fala das Foras Armadas, os princpios basilares do militarismo so mesmo a hierarquia e a disciplina, sendo esta uma disciplina qualificada, pois detentora de institutos prprios e, em regra, espera-se do servidor pblico militar um algo a mais, alm do estrito cumprimento de seus deveres na vocao para a vida castrense, com a imposio de comportamentos absolutamente afinados aos imperativos da autoridade, do servio e dos deveres militares que normalmente no se exige do servio pblico civil.Os militares tem por finalidade manter a ordem e a paz social e essas comeam, por primeiro, dentro da prpria estrutura das Foras Armadas. Dessa forma, quando ocorre alguma anormalidade na vida de caserna dever dos prprios integrantes das Foras Armadas, geralmente os superiores hierrquicos, tomarem as medidas adequadas e cabveis para cada caso. Assim, a hierarquia e a disciplina de caserna esto presentes nos Regulamentos Disciplinares das Foras Armadas, at mesmo no procedimento para apurao das transgresses disciplinares, tendo em vista que, devido s suas particularidades, so vistos como fontes de obrigao e de deveres do militar, constituindo-se a base institucional do militarismo, sendo seus alicerces sociais e estruturais.Nesse sentido, PAULO TADEU RODRIGUES ROSA, enfatiza a importncia desses princpios ao afirmar que O regulamento disciplinar o diploma castrense, que trata das transgresses disciplinares s quais esto sujeitos os militares pela inobservncia dos princpios de hierarquia e disciplina.Assim, quando o militar viola seus deveres ou suas obrigaes, ele poder incorrer na prtica de transgresso disciplinar, contraveno penal ou at mesmo crime militar, conforme se depreende do art. 42 do Estatuto dos Militares:Art. 42. A violao das obrigaes ou dos deveres militares constituir crime, contraveno ou transgresso disciplinar, conforme dispuser a legislao ou regulamentao especficas. 1 A violao dos preceitos da tica militar ser to mais grave quanto mais elevado for o grau hierrquico de quem a cometer. 2 No concurso de crime militar e de contraveno ou transgresso disciplinar, quando forem da mesma natureza, ser aplicada somente a pena relativa ao crime.

O mesmo Estatuto estabelece que a inobservncia de tais deveres ou obrigaes acarreta ao militar a responsabilidade funcional, pecuniria, disciplinar ou penal, de acordo com o determinado pela legislao especfica, seno veja-se:Art. 43. A inobservncia dos deveres especificados nas leis e regulamentos, ou a falta de exao no cumprimento dos mesmos, acarreta para o militar responsabilidade funcional, pecuniria, disciplinar ou penal, consoante a legislao especfica.Pargrafo nico. A apurao da responsabilidade funcional, pecuniria, disciplinar ou penal poder concluir pela incompatibilidade do militar com o cargo ou pela incapacidade para o exerccio das funes militares a ele inerentes.

Com isso, a hierarquia e a disciplina se refletem no poder-dever de punir, haja vista que o superior, ao tomar conhecimento de uma infrao lei, ao regulamento, s normas e s disposies que fundamentam a organizao militar, tem a obrigao de responsabilizar o transgressor, se inferior hierrquico, ou comunicar autoridade superior para que tome providncias.Igualmente, o processo administrativo disciplinar militar fundado em normas prprias, em que observa os direitos e garantias constitucionais do acusado e, ao mesmo tempo, tutela adequadamente os valores militares, de acordo com os preceitos constitucionais.Todavia, no h de se confundir transgresso disciplinar com crime militar, haja vista que so delitos jurdicos distintos.O Estatuto dos Militares apenas dispe que os crimes militares sero relacionados, classificados e apenados pelo Cdigo Penal Militar, mas no estabelece um conceito determinando o que so os crimes militares, seno veja-se:Art. 46. O Cdigo Penal Militar relaciona e classifica os crimes militares, em tempo de paz e em tempo de guerra, e dispe sobre a aplicao aos militares das penas correspondentes aos crimes por eles cometidos.

Diante disso, o insigne CLIO LOBO, aps discorrer sobre teorias nacionais e estrangeiras, concluiu que o crime militar pode ser assim conceituado:Nessa linda de raciocnio, em face do direito positivo brasileiro, o crime militar a infrao penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou interesses vinculados destinao constitucional das instituies militares, s suas atribuies legais, ao seu funcionamento, sua prpria existncia, no aspecto particular da disciplina, da hierarquia, da proteo autoridade militar e ao servio militar.

J com relao s transgresses disciplinares, a Lei n. 6.880/80 (Estatuto dos Militares) apenas dispe que elas sero especificadas, classificadas e disciplinadas pelos regulamentos militares, conforme disposto no art. 47:Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Foras Armadas especificaro e classificaro as contravenes ou transgresses disciplinares e estabelecero as normas relativas amplitude e aplicao das penas disciplinares, classificao do comportamento militar e interposio de recursos contra as penas disciplinares.

Assim sendo, o Regulamento Disciplinar da Aeronutica, Decreto 76.322/75 (doc. 08), no bojo do art. 8, conceituou a transgresso disciplinar como sendo toda ao ou omisso contrria ao dever militar, conforme se depreende da leitura abaixo:ART. 8 - Transgresso disciplinar toda ao ou omisso contrria ao dever militar, e como tal classificada nos termos do presente Regulamento.Distingui-se do crime militar que ofensa mais grave a esse mesmo dever, segundo o preceituado na legislao penal militar.

Todavia, a conceituao mais recente a fornecida pelo Regulamento Disciplinar do Exrcito, que muito se aproxima das garantias constitucionais; ou seja, est em mais harmonia com a Constituio Federal de 1988, enquanto que os regulamentos da Marinha e Aeronutica foram elaborados quando o Pas ainda estava sob a gide da Ditadura Militar, ento vejamos o art. 14 do Decreto n. 4.346/2002:Art. 14. Transgresso disciplinar toda ao praticada pelo militar contrria aos preceitos estatudos no ordenamento jurdico ptrio ofensiva tica, aos deveres e s obrigaes militares, mesmo na sua manifestao elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe. 1 Quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime ou contraveno penal, no se caracterizar transgresso disciplinar.(...)

Por sua vez, conforme disposto no art. 6 do RDAer, a punio s se torna necessria quando dela advm benefcio para o punido, pela sua reeducao, ou para a Organizao Militar a que pertence, pelo fortalecimento da disciplina e da justia. Caso contrrio, a penalidade no se far justa e a autoridade que aplicou a punio incorrer em excesso.Diante disso, necessrio que a autoridade, quando da apurao da transgresso disciplinar, analise todas as causas justificativas apresentadas, assim como sopese as circunstncias atenuantes e agravantes antes de proferir sua deciso, nos termos dos art. 13, 14 e 37, todos do RDAer:ART. 13 - Influem no julgamento das transgresses circunstncias justificativas, atenuantes e agravantes.(...)

ART. 14 - No haver punio quando, no julgamento da transgresso, for reconhecida qualquer causa justificativa.(...)

ART. 37 - Na aplicao de punio deve ser observado o seguinte:1 - A punio ser proporcional gravidade da falta, observados os seguintes limites mnimos e mximos:a) para transgresses leves: repreenso em particular e deteno at 10 dias;b) para transgresses mdias: repreenso em pblico por escrito e priso at 10 dias;c) para transgresses graves: 1(um) dia de priso, e os limites estabelecidos no Quadro de punies mximas (Anexo II);2 - Ocorrendo somente circunstncias atenuantes, a punio tender para o mnimo previsto, respectivamente, nas letras "a", "b" e "c" do nmero 1 deste artigo.3- Ocorrendo circunstncias atenuantes e agravantes, a punio ser aplicada tendo-se em vista a preponderncia de umas sobre as outras.4 - Ocorrendo somente circunstncias agravantes, a punio poder ser aplicada em seu grau mximo.(...)

Acerca da sistemtica de apurao da transgresso disciplinar e da aplicao de punio disciplinar, o RDAer bastante sucinto, limitando-se a descrever, em linhas gerais, o prazo que a autoridade punitiva tem para impor a penalidade e a possibilidade de abertura de sindicncia nos casos em que se fizerem necessrios, seno veja-se:ART. 34 - Nenhuma punio ser imposta sem ser ouvido o transgressor e sem estarem os fatos devidamente apurados.1 - A punio dever ser imposta dentro do prazo de 3 dias teis, contados do momento em que a transgresso chegar ao conhecimento da autoridade que deve punir, podendo, porm, sua aplicao ser retardada quando no interesse da administrao.2 - Nenhum transgressor ser interrogado ou punido enquanto permanecer com suas faculdades mentais restringidas por efeito de doena, acidente ou embriaguez. No caso de embriaguez, porm, poder ficar desde logo, preso ou detido, em benefcio da prpria segurana, da disciplina e da manuteno da ordem.3 - Quando forem necessrios maiores esclarecimentos sobre a transgresso, dever ser procedida sindicncia.4 - Durante o perodo de investigaes de que trata o nmero anterior, a pedido do respectivo encarregado da sindicncia, o Comandante poder determinar a deteno do transgressor na Organizao ou em outro local que a situao recomendar, at um prazo mximo de oito dias.(...)Desta forma, como o Regulamento Disciplinar da Aeronutica no dispe acerca da sistemtica de apurao de transgresso disciplinar e de aplicao de punio disciplinar, coube s Portarias n. 839/GC3, de 11 de setembro/2003, e 782/GC3, de 10 de novembro de 2010 (doc. 09), aprovar tal procedimento, a fim de adequar o Decreto n. 76.322/75 (RDAer) nova Carta Constitucional vigente, principalmente em ateno aos princpios da ampla defesa e do contraditrio.Segundo a Portaria n. 782/GC3, o Comandante da Organizao Militar poder, por meio de ato administrativo publicado em Boletim Interno, designar autoridade para apurar a transgresso disciplinar e para aplicar a punio, nos termos do 2, do art. 1: Art. 1 (...)2 Para cumprir a presente regulamentao, o Comandante da Organizao Militar (OM) poder, por meio de ato administrativo apropriado, publicado em Boletim Interno da OM, designar:I - autoridade(s) para apurar transgresso disciplinar; eII - autoridade(s) para aplicar punio disciplinar.

Aps a designao de autoridade para apurar a transgresso disciplinar, o militar que cometeu o ato ser convocado, a fim de ser notificado, na presena de 02 (duas) testemunhas, acerca da instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar em seu desfavor, concedendo-lhe o prazo de 05 (cinco) dias teis, contados a partir do primeiro dia til subsequente ao recebimento, para apresentao do Formulrio de Apurao de Transgresso Disciplinar FATD preenchido com as alegaes de defesa que julgar cabveis:Art. 4 - A sistemtica de apurao de transgresso disciplinar e de aplicao de punio disciplinar deve ser conduzida de acordo com os seguintes procedimentos:I - ao tomar conhecimento do fato, a autoridade que apura a transgresso disciplinar dever convocar o transgressor sua presena, para inform-lo da abertura do processo de apurao de transgresso disciplinar e que ter que apresentar, por escrito, as suas justificativas ou alegaes de defesa;II - a autoridade que apura a transgresso disciplinar notificar o transgressor, na presena de duas testemunhas, preferencialmente sendo observada a ascendncia hierrquica, acerca da transgresso disciplinar que lhe imputada e entregar-lhe-, mediante recibo, o Formulrio de Apurao de Transgresso Disciplinar (FATD), previsto no Anexo A a esta Portaria, e todos os documentos que dizem respeito ao fato objeto da apurao, concedendo-lhe o prazo de cinco dias teis para a devoluo do formulrio preenchido com as justificativas ou alegaes de defesa julgadas cabveis, contados a partir do primeiro dia til subsequente ao recebimento;III - desde que devidamente fundamentada pelo transgressor, por escrito, a impossibilidade de apresentao das justificativas no prazo previsto no inciso anterior, este poder ser prorrogado, por igual perodo, pela prpria autoridade que apura a transgresso disciplinar;(...)

Em seguida, caso o FATD seja devolvido no prazo estipulado e preenchido adequadamente, dever ser apresentado, em at 03 (trs) dias teis aps sua devoluo, a Soluo da Autoridade que apura a transgresso disciplinar, a qual necessariamente conter: 1) o parecer quanto procedncia ou no das acusaes e das alegaes de defesa; 2) o parecer quanto s justificativas, se houver; 3) a apreciao das circunstncias agravantes e atenuantes, se houver; e 4) a proposta de punio disciplinar a ser imposta, se for o caso, seno veja-se:Art. 4 - (...)IV - caso o FATD seja preenchido adequadamente e devolvido no prazo, a autoridade que apura a transgresso disciplinar o receber e dar continuidade aos procedimentos de apurao, encerrando-os com o preenchimento do campo SOLUO DA AUTORIDADE QUE APURA A TRANSGRESSO DISCIPLINAR, constante do referido formulrio;(...)VI - recebido o FATD apresentado pelo transgressor, a autoridade que apura a transgresso disciplinar ter o prazo de trs dias teis, contados do primeiro dia til subsequente ao referido recebimento, para dar soluo apurao e encaminhar o processo autoridade que aplica a punio disciplinar;VII - no campo SOLUO DA AUTORIDADE QUE APURA A TRANSGRESSO DISCIPLINAR, dever constar:a) o parecer quanto procedncia ou no das acusaes e das alegaes de defesa;b) o parecer quanto s justificativas, se houver;c) a apreciao das circunstncias agravantes e atenuantes, se houver; ed) a proposta de punio disciplinar a ser imposta, se for o caso.VIII - diante de dificuldade insupervel, devidamente justificada, a autoridade que apura a transgresso disciplinar poder solicitar autoridade que a designou a prorrogao do prazo previsto no inciso VI, por igual perodo;(...)

Por fim, a Autoridade que aplica a punio disciplinar tambm ter o prazo de 03 (trs) dias para exarar sua deciso, a qual dever ser motivada, levando em considerao os fatos, os argumentos apresentados pelo transgressor e a apurao: Art. 4 - (...)IX - a autoridade que aplica a punio disciplinar ter o prazo de trs dias teis para exarar sua deciso, contados do primeiro dia til subsequente ao recebimento do processo, aps a soluo da autoridade que apura a transgresso disciplinar;X - no campo DECISO DA AUTORIDADE QUE APLICA A PUNIO DISCIPLINAR, dever constar, em funo da anlise das consideraes decorrentes da apurao da transgresso disciplinar, o julgamento da autoridade quanto procedncia ou no das acusaes e das alegaes de defesa, apontando-se a punio disciplinar imposta, se for o caso;XI - a autoridade que aplica a punio disciplinar poder ampliar o prazo previsto no inciso IX, desde que no interesse da Administrao e registrado por escrito no processo;XII - a deciso da autoridade que aplica a punio disciplinar ser motivada, levando em considerao os fatos, os argumentos apresentados pelo transgressor e a apurao, conforme o art. 35 do RDAer;(...)

Caso seja determinada a aplicao de alguma punio disciplinar ao transgressor, a autoridade que aplica a penalidade dever convocar o transgressor para apresentar-lhe a nota de punio disciplinar, a qual, em caso de recusa no recebimento pelo transgressor, dever ser assinada por 02 (duas) testemunhas: Art. 4 - (...)XIII - no caso de punio disciplinar, a autoridade que aplica a punio disciplinar convocar o transgressor sua presena, sendo-lhe apresentada a Nota de Punio Disciplinar (NPD), prevista no Anexo B a esta Portaria, na presena de duas testemunhas, preferencialmente com a observncia da ascendncia hierrquica, para conhecimento da punio disciplinar a ele imputada e aposio de sua assinatura;XIV - caso o transgressor se recuse a assinar a NPD, registrar-se- o fato na prpria Nota, que dever ser assinada pelas duas testemunhas presentes; eXV - a aplicao da punio disciplinar ser publicada em Boletim Interno da OM.

Por conseguinte, em conformidade com os art. 58 e seguintes do RDAer, o militar que julgar a deciso injusta ou infringente da legislao vigente pode pedir a reconsiderao do ato, no prazo de 15 (quinze) dias corridos, contados da data em que tenha tomado conhecimento:ART. 58 - Ao militar assiste o direito de pedir reconsiderao de ato, emanado de superior, que repute injusto ou infringente das leis ou regulamentos militares e que:1 - o atinja direta ou indiretamente; ou2 - atinja subordinado de quem seja chefe imediato.ART. 59 - O pedido de reconsiderao na esfera disciplinar deve ser feito por meio de parte fundamentada, dentro do prazo de quinze dias corridos, contados da data em que o peticionrio tenha tomado conhecimento do ato a ser reconsiderado.ART.60 - O pedido de reconsiderao no pode ficar sem despacho e a soluo deve ser dada dentro de quinze dias corridos, contados da data do recebimento do pedido.ART.61 - Os prazos citados nos artigos 59 e 60 podem ser dilatados desde que o militar responsvel pela formulao ou pela soluo do pedido de reconsiderao se encontre ausente, quando ento a data iniciada ser a da sua apresentao na Organizao Militar.

Ademais disso, so previstos tambm os seguintes Recursos Administrativos, que visam provocar o reexame do ato pela Organizao Militar, tais como: 1) o Recurso Hierrquico, que o pedido de reexame do ato dirigido autoridade superior quela que proferiu o ato; e 2) a Reviso, que o recurso de que se utiliza o militar, punido por transgresso disciplinar, para reexame da deciso, em caso de surgirem fatos novos suscetveis de demonstrar a sua inocncia.Portanto, de acordo com as normas acima descritas, se um militar da Aeronutica cometer qualquer tipo de transgresso disciplinar, desde que no caracterizada como crime militar, deve a autoridade responsvel por aplicar a punio disciplinar observar as diretrizes estatudas pelo Regulamento Disciplinar da Aeronutica (Decreto n. 76.322/75), juntamente com a Portaria n. 839/GC3, de 11 de setembro/2003, que acrescentou ao processo de apurao de transgresso disciplinar os princpios da Carta Constituinte de 1988, notadamente o direito ao contraditrio e ampla defesa do investigado; assim como tambm dever ser regido pelo procedimento de apurao de transgresso disciplinar institudo pela Portaria n. 782/GC3, de 10 de novembro de 2010.

III.2. da impossibilidade de instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar em face do impetrante

Como visto, existem limites que devem ser respeitados pelos superiores hierrquicos quando da anlise dos atos transgressores de seus subordinados, haja vista que a autoridade competente deve julg-los com iseno de nimo, justia, sem condescendncia ou com rigor excessivo, considerando-se, ainda, as circunstncias agravantes ou atenuantes, assim como a situao pessoal do transgressor, conforme preconiza o art. 35 do RDAer (Decreto n 76.322, de 22 de setembro de 1975):ART. 35 - As transgresses disciplinares sero julgadas pela autoridade competente com iseno de nimo, com justia, sem condescendncia nem rigor excessivo, consideradas as circunstncias justificativas, atenuantes e agravantes, analisando a situao pessoal do transgressor e o fato que lhe imputado.

Assim, a hierarquia e a disciplina devem ser preservadas por serem princpios essenciais s Corporaes Militares, mas os direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5 da Constituio Federal so normas de aplicao imediata (art. 5, 1, da CF), que devem ser asseguradas a todos os cidados (civis ou militares, brasileiros ou estrangeiros), sem qualquer distino, na busca do fortalecimento do Estado de Direito.A justia elemento essencial de qualquer instituio, pois somente com a observncia do devido processo legal e das garantias constitucionais que se podem alcanar os objetivos do Estado Democrtico de Direito. O respeito lei, em todos os seus aspectos, condio essencial para a construo de uma sociedade justa, fraterna e livre da violncia e das desigualdades sociais.Neste sentido, importante ressaltar que, ao aplicar punio e/ou dar alguma ordem, o superior hierrquico tem de observar o pronto atendimento aos limites permitidos na lei e os princpios de justia, com a finalidade de o ato administrativo militar ser vlido, ter eficcia e estar de acordo com o texto e o esprito das normas constitucionais, a fim de evitar o excesso e o arbtrio nas suas aes.Destarte, a sano administrativa militar prevista e deve ser imposta queles que no se adquam aos preceitos tico-militares, mas cabe autoridade observar os limites situados no direito, sob pena de cometer arbtrio.Dito isto, os j citados art. 8 e 9 do RDAer distinguem didaticamente os crimes militares das transgresses disciplinares, estabelecendo, respectivamente, a competncia administrativa e a judicial, in verbis:ART. 8 - Transgresso disciplinar toda ao ou omisso contrria ao dever militar, e como tal classificada nos termos do presente Regulamento.Distingui-se do crime militar que ofensa mais grave a esse mesmo dever, segundo o preceituado na legislao penal militar.ART. 9 - No concurso de crime militar e transgresso disciplinar, ambos de idntica natureza, ser aplicada somente a penalidade relativa ao crime.Pargrafo nico. A transgresso disciplinar ser apreciada para efeito de punio, quando da absolvio ou da rejeio da denncia da Justia.

Percebe-se, portanto, que um fato somente ser considerado como transgresso disciplinar se, e somente se, no estiver tipificado em lei como crime ou contraveno penal. Quando assim for, o agente dever ter sua conduta julgada pela Justia Penal Militar e no por uma autoridade designada para apurao de transgresso disciplinar.Entretanto, como visto, o ato praticado pelo Impetrante est tipificado como crime no Cdigo Penal Militar, no art. 240, in verbis:Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel:

Dessa forma, o ato praticado pelo Impetrante deveria ter sido apurado apenas por meio do competente Inqurito Policial Militar, para posteriormente ser encaminhado ao Ministrio Pblico Militar oferecer a denncia e, por fim, ser apreciado pelo Magistrado do Poder Judicirio Militar da Unio, como de fato ocorreu inicialmente.Note-se que, a i. Representante do Ministrio Pblico Militar, acertadamente, requereu o arquivamento do Inqurito Policial Militar, asseverando que o valor do bem subtrado no coloca em risco bem jurdico na intensidade exigida pelo princpio da ofensividade.Isso, porque, conforme apresentado em laudo tcnico pericial, o valor total atribudo ao combustvel subtrado pelo Impetrante foi o montante de R$ 68,90 (sessenta e oito reais e noventa centavos), de modo que ausente a justa causa para a propositura da ao penal.Diante disso, a MM. Juza-Auditora acolheu o pedido formulado pelo Ministrio Pblico e determinou o arquivamento do Inqurito Policial Militar n. 0000083-24.2013.7.11.0111, em virtude da atipicidade da conduta do Impetrante, uma vez que, pela insignificncia do valor do bem subtrado, no teria causado prejuzos sociedade.No entanto, mesmo aps o encerramento do Inqurito Policial Militar pelo seu arquivamento, a autoridade Impetrada determinou, em 02/10/2013, a abertura de Processo de Apurao de Transgresso Disciplinar instaurado pelo FATD n. 22/2013, conforme se verifica no documento em anexo (doc. 04).Acontece que, conforme disposto no art. 9 do RDAer, se uma determinada conduta possuir, AO MESMO TEMPO, natureza de crime militar e de transgresso disciplinar, ao agente somente poder ser cominada a penalidade relativa ao crime.Por sua vez, o pargrafo nico do mesmo dispositivo infra legal estatui que, em caso de a DENNCIA SER REJEITADA ou na hiptese de o AUTOR DO DELITO SER ABSOLVIDO, a punio pela transgresso disciplinar poder ser aplicada ao infrator.Dessa forma, para que a conduta seja apreciada em sede administrativa, para efeitos de punio disciplinar, DEVE: 1) possuir natureza de CRIME MILITAR E DE TRANSGRESSO DISCIPLINAR AO MESMO TEMPO; E 2) alternativamente, SER O AUTOR DA CONDUTA ABSOLVIDO ou SER A DENNCIA REJEITADA PELO JUIZ MILITAR. Caso no exista um dos requisitos, no se poder aplicar a penalidade ao agente infrator.Diante disso, em hiptese alguma o Impetrante poderia ser punido por transgresso disciplinar, em virtude dos argumentos que se passa a demonstrar:Em primeiro lugar, note-se que, no caso em tela, o Impetrante no praticou nenhuma conduta que seja caracterizada como transgresso disciplinar e como crime militar ao mesmo tempo, haja vista que o fato ocorrido somente est tipificado como crime, mas no como ato de indisciplina.E no cabe aqui asseverar que a conduta praticada pelo Impetrante se enquadra no item 52, do art. 10 do RDAer, abaixo transcrito:ART. 10 - So transgresses disciplinares, quando no constiturem crime:(...)52 - apropriar-se de quantia ou objeto pertencente a terceiro, em proveitoprprio ou de outrem;(...)

Isso, porque o referido dispositivo trata da apropriao de quantia ou objeto pertencente TERCEIRO, e o terceiro, nesse caso, somente pode ser compreendido como aquele que no faz parte da relao disciplinada pelo Regulamento Disciplinar da Aeronutica RDAer, a qual envolve a Aeronutica do Brasil e os militares integrantes desta Organizao.Ou seja, se o transgressor furtou algo de algum, seja ele civil ou militar, ele poderia ser enquadrado no referido item, mas se ele apropriou-se de alguma coisa pertencente prpria Base Area no caberia a aplicao deste dispositivo, uma vez que, por aplicao do princpio da legalidade, administrao s compete o que se est permitido, alm de ningum poder ser punido sem prvia cominao legal.Percebe-se que, o Impetrante no praticou nenhuma das condutas elencadas como transgresso disciplinar pelo RDAer, mas apenas como crime militar, de modo que a punio que lhe foi imposta carece de fundamento legal, em flagrante ofensa ao princpio da legalidade.Ademais disso, tambm no se poderia determinar a punio ao Impetrante por se fazer uma interpretao do pargrafo nico, do art. 10 do RDAer, tendo em vista que seria necessrio que a ao, alm de no estar especificada no referido dispositivo, tambm no fosse qualificada como crime nas leis penais militares, fato que no ocorre no presente caso, uma vez que a conduta do Impetrante est claramente tipificada no art. 240 do Cdigo Penal Militar, de modo que no se poderia invocar o referido dispositivo da norma disciplinar, seno veja-se:ART. 10 - (...)Pargrafo nico. So consideradas tambm, transgresses disciplinares, as aes ou omisses no especificadas no presente artigo e NO QUALIFICADAS COMO CRIMES NAS LEIS PENAIS MILITARES, contra os Smbolos Nacionais; contra a honra e o pundonor individual militar; contra o decoro da classe, contra os preceitos sociais e as normas da moral contra os princpios de subordinao, regras e ordens de servio, estabelecidos nas leis ou regulamentos, ou prescritos por autoridade competente.

Em segundo lugar, o Impetrante no poderia sofrer um processo administrativo de apurao de transgresso disciplinar quando ainda faltava qualquer um dos requisitos estipulados pelo pargrafo nico, do art. 9 do RDAer, haja vista que o Inqurito Policial Militar foi ARQUIVADO em razo da ausncia de justa causa para a propositura da ao penal, no havendo que se falar em ABSOLVIO ou em REJEIO DA DENNCIA.Note-se que, a i. Representante do Ministrio Pblico Militar sequer chegou a apresentar denncia, uma vez que requereu apenas o arquivamento do Inqurito Policial Militar MM. Juza-Auditora da Justia Militar da Unio, o que, tecnicamente, no configura o oferecimento da denncia, nem tampouco sua rejeio.Ademais disso, tambm no se pode falar que ocorreu a absolvio do Ru na ao penal militar, tendo em vista que, se no houve apresentao de denncia, nem sequer chegou a ser instaurado um processo penal, que prescinde desta para sua inicializao.Portanto, a conduta do Impetrante no merecia ser analisada luz do RDAer para efeito de punio disciplinar, haja vista que, alm de no haver concurso entre crime militar e transgresso disciplinar na conduta praticada por ele, o Inqurito Policial Militar tambm no teve um dos dois desfechos possveis para apreciao como transgresso penal, ou seja, nem foi a denncia rejeitada, nem foi o Impetrado absolvido, de modo que absolutamente indevida a instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar em face do Impetrante.Diante disso, merece ser anulado todo e qualquer ato do XXXXXXXXXX de Braslia que vise punio disciplinar do Impetrante, sob pena de se compactuar com a ilegalidade ora perpetrada.

III.3. das irregularidades existentes no procedimento adotado para a aplicao de punio disciplinar ao impetrante

Registre-se que, importante frisar que o presente writ, a priori, no tem a pretenso de questionar o mrito da punio administrativa disciplinar junto ao Poder Judicirio, ou seja, questionar se a punio foi justa ou injusta, uma vez que isso no possvel de se fazer isoladamente, haja vista que se trata de matria atinente Administrao Castrense, ou seja, uma questo discricionria das Foras Armadas ou Foras Auxiliares (Polcia e Bombeiros Militares).CELSO ANTNIO BANDEIRA DE MELLO assim conceitua o que seja um ato discricionrio:Atos discricionrios, pelo contrrio, seriam os que a Administrao pratica com certa margem de liberdade de avaliao ou deciso segundo critrios de convenincia e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita lei reguladora da expedio deles.

Aps a leitura do ensinamento do Mestre BANDEIRA DE MELLO, podemos, sem sombra de dvidas, afirmar o seguinte: a) os Regulamentos Militares Disciplinares so normas especficas a serem aplicadas aos integrantes de cada Fora Armada ou Foras Auxiliares; b) os prprios Regulamentos Disciplinares conferem poderes discricionrios aos superiores hierrquicos para punirem seus subordinados; e c) nestas normas disciplinares h grande poder de discricionariedade de avaliao e deciso por parte dos superiores hierrquicos.Devido a tais poderes de avaliao e deciso, que podero ser identificados na leitura dos regulamentos disciplinares das Foras Armadas e Auxiliares, que o Poder Judicirio est impedido de analisar o mrito (justa ou injusta) da punio disciplinar, pois tal ato administrativo est adstrito unicamente Administrao.Entretanto, importante ressaltar, logo agora, que a Administrao Castrense no possui poder discricionrio ilimitado, pois nos prprios regulamentos constam atos vinculados, que assim so definidos por BANDEIRA DE MELLO:Atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prvia e objetiva tipificao legal do nico possvel comportamento da Administrao em face de situao igualmente prevista em termos de objetividade absoluta, a Administrao, ao expedi-los, no interfere com apreciao subjetiva alguma.

Mas, ento, o que isso tudo quer dizer? Significa que o superior hierrquico detm poderes discricionrios para avaliar a transgresso disciplinar e poder decisrio sobre a mesma. Todavia, ele est obrigado a cumprir certas regras discriminadas nos regulamentos, na CF/88 e demais normas jurdicas superiores.Se descumprir uma norma jurdica estar cometendo um ato ilegal ou inconstitucional: OU SEJA, SE DESCUMPRIR A LEI ESTAR ULTRAPASSANDO SEU PODER ADMINISTRATIVO, LOGO, O PODER JUDICIRIO PODER ANALISAR AT MESMO O MRITO DA PUNIO DISCIPLINAR.Porm, ressalte-se, a ilegalidade da punio disciplinar no estar restrita apenas ao descumprimento dos regulamentos militares, mas principalmente quando houver quaisquer desconformidades com a Constituio Federal de 1988 (CF/88) ou com as demais leis do pas, e ainda, a alguns Tratados Internacionais de que o Brasil faa parte.Ademais, oportuno mencionar que os Regulamentos Disciplinares da Aeronutica e Marinha foram promulgados antes da CF/88, ambos possuindo, no raro, normas incompatveis com a Carta Democrtica de 1988 e demais Leis.Em relao parte processual do processo administrativo, em regra, ser ilegal qualquer ato que descumpra os preceitos constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditrio, tanto na esfera judicial como na administrativa.Assim, tem-se que possvel verificar se uma punio administrativa disciplinar ilegal quando estiver em desacordo, seja no aspecto material ou processual, com alguma norma jurdica (prprio regulamento, CF/88 e demais normas jurdicas, como lei, decretos, etc.).Dito isto, passamos anlise do caso em tela, a fim de apresentarmos as irregularidades existentes no processo administrativo disciplinar que determinou que o Impetrante fosse licenciado a bem da disciplina da Base Area de Braslia.Em primeiro lugar, fato notrio que a autoridade que apurou o fato transgressor foi o r. Major Aviador Gabriel Camargo Brando, mas a autoridade que efetuou a punio do Impetrante foi o r. XXXXXXXXXX de Braslia, o Coronel Aviador Avelar Konrad Hegermann.Ocorre que, conforme disposto no inc. I, do 2, do art. 1 da Portaria n. 782/GC3, de 10 de novembro de 2010, o legitimado ativo para apurar e aplicar a punio disciplinar o Comandante da Organizao Militar, no caso o XXXXXXXXXX de Braslia, o qual, no entanto, poder designar autoridade para apurar a transgresso disciplinar, desde que seja por meio de ato administrativo apropriado, publicado em Boletim Interno da prpria Base Area, caso contrrio, somente o Comandante da Organizao Militar competente para apurar e aplicar a punio.No entanto, compulsando os Boletins Internos da Organizao Militar (doc. 10), anteriores ao incio da apurao do fato transgressor, no se verifica a nomeao do citado Major Aviador como responsvel pela apurao da transgresso disciplinar praticada pelo Impetrante ou de qualquer outro militar, de modo que a soluo de punio proposta ao Impetrante foi proveniente de autoridade absolutamente incompetente para analisar o feito, uma vez que destituda dos referidos poderes.Outrossim, cabe mencionar que, segundo disposto na Constituio Federal de 1988, ningum poder ser processado, nem tampouco julgado, por autoridade incompetente, em aplicao do princpio do juiz natural, seno veja-se:Art. 5. (...)LIII - ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente;

Por sua vez, o art. 4, inc. II da referida Portaria determina que a autoridade que apura a transgresso disciplinar dever notificar o transgressor na presena de 02 (duas) testemunhas, preferencialmente ascendentes hierarquicamente, de modo a demonstrar a lisura do procedimento de apurao da transgresso disciplinar.Como visto, o referido dispositivo no concede uma prerrogativa autoridade que apura a transgresso disciplinar, mas sim um dever que, caso no seja cumprido, pode prejudicar a defesa do autor do ato transgressor, principalmente no caso de divergncia nas datas apresentadas no FATD.Todavia, tal obrigao foi descumprida no processo que apurou a transgresso disciplinar cometida pelo Impetrante, em flagrante ofensa ao princpio do contraditrio e da ampla defesa, assim disposto na CF/88:Art. 5. (...)LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Isso, porque, conforme si ocorrer na administrao castrense, em mais uma clssica aplicao do princpio da obscuridade dos atos militares, o fato foi comunicado ao Impetrante em data posterior quela aposta no FATD, reduzindo-lhe, portanto, o prazo para apresentao de suas alegaes de defesa e/ou justificativas, que normalmente de 05 (cinco) dias.Tal fato acabou por cercear o direito de defesa do Impetrante, uma vez que teve que apresentar sua defesa s pressas, sem ter tempo hbil para formular adequadamente suas justificativas, ou at mesmo anexar aos autos o Relatrio Mdico que comprova que sua genitora sofre de hipertenso, conforme se verifica no documento em anexo (doc. 11), o qual evidencia o motivo de fora maior que levou o Impetrante, por estado de necessidade, ao cometimento do ato transgressor.Ademais disso, ainda que se aceitasse a observncia do princpio acima descrito, a soluo da autoridade que apura a transgresso disciplinar, segundo disposto no art. 4, inc. VII, alneas a a c, da Portaria n. 782/GC3, deve, necessariamente, conter: a) o parecer quanto procedncia ou no das acusaes e das alegaes de defesa; b) o parecer quanto s justificativas; e c) a apreciao das circunstncias agravantes e atenuantes do transgressor.Entretanto, em momento algum o r. Major Aviador Gabriel Camargo Brando, autoridade supostamente competente para apurar a transgresso disciplinar, cumpre os requisitos constantes do referido dispositivo ao apresentar proposta de punio ao Impetrante, se limitando a julgar como improcedente a justificativa apresentada pelo Impetrado, alegando que a infrao praticada por ele afronta todos os regulamentos que norteiam a conduta na caserna, notadamente o Estatuto dos Militares, o Regulamento Disciplinar da Aeronutica e o Cdigo Penal Militar.Observe-se que, a referida autoridade sequer apresenta o fundamento que legitima a instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar, uma vez que sequer cita o dispositivo infra legal que teria sido infringido pelo Impetrante, apenas asseverando que se trata de conduta tipificada pelo art. 240 do Cdigo Penal Militar.Segundo se infere da proposta de soluo apresentada pela autoridade que apura a transgresso, s o fato de o ato praticado pelo Impetrante ter sido considerado incapaz de dar incio persecuo penal j seria suficiente para ser analisado luz do RDAer.Acontece que, conforme disposto no art. 9 do RDAer, uma determinada conduta que possua, ao mesmo tempo, natureza de crime militar e de transgresso disciplinar, somente pode ser punida disciplinarmente se, e somente se, o autor da conduta for absolvido ou se a denncia for rejeitada pelo juiz militar.Conforme sobejamente demonstrado no tpico acima, percebe-se que o Impetrante no praticou nenhuma das condutas elencadas como transgresso disciplinar pelo RDAer, mas apenas como crime militar, nem tampouco ele foi absolvido ou a denncia foi rejeitada, de modo que a punio que lhe foi imposta carece de fundamento legal, em flagrante ofensa ao art. 5, inc. II e XXXIX da Constituio Federal, assim dispostos:Art. 5 (...)II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei;(...)XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal;

Para piorar ainda mais a situao, o r. Major Aviador procura desqualificar ainda mais o Impetrante ao afirmar que ele teria considerado que o delito, tipificado formalmente no Cdigo Penal Militar, no traria consequncias graves sua vida na caserna.Em nenhum momento o Impetrante fez essa afirmao, tendo apenas alegado que no teve noo da gravidade do ato praticado, o que muito diferente de considerar que o ato delituoso no lhe traria consequncias em sua carreira militar.Acontece que o Impetrante estava diante de uma situao difcil em sua vida, onde teria que escolher entre praticar um ato delituoso ou deixar de acompanhar sua me que havia passado mal em decorrncia de uma crise de hipertenso.Tal fato o fez pensar que teria uma justificativa plausvel at mesmo para infringir os princpios da hierarquia e da disciplina, tendo em vista que a vida e a sade de seus familiares, principalmente a de sua genitora, so to importantes ou mais do que sua vida na caserna.Ora, Excelncia, no se pode exigir que um ser humano, que nutre afeto por seus familiares, se exima at mesmo de descumprir os princpios norteadores da vida na caserna quando existir o conflito entre estes e a sade daqueles a quem ama. Alis, que pessoa, em s conscincia, tomaria conduta adversa?Ademais disso, o prprio Regulamento Disciplinar da Aeronutica estatui, em seu art. 14, que no haver punio disciplinar se estiver presente qualquer causa justificativa do ato transgressor e, dentre as causas justificativas, esto justamente o motivo de fora maior e o caso fortuito, seno veja-se:ART. 13 - Influem no julgamento das transgresses circunstncias justificativas, atenuantes e agravantes.1 - So circunstncias justificativas da transgresso:(...)b) motivo de fora maior ou caso fortuito, plenamente comprovados;

Conforme consabido, o caso fortuito uma circunstncia provocada por fatos humanos que interferem na conduta de outros indivduos. Segundo VENOSA: " a situao que decorre de fato alheio vontade da parte, mas proveniente de fatos humanos".E no caso em tela est mais do que configurada a presena de uma circunstncia provocada por fatos humanos alheia vontade do Impetrante, mas que o teria levado ao cometimento do furto de combustvel da viatura oficial, qual seja, a necessidade de ter que se deslocar para Luzinia-GO, ao trmino de seu expediente, a fim de verificar o estado de sade de sua me, que havia passado mal em virtude do problema de hipertenso que lhe acomete.Entretanto, mesmo diante desta situao, a Autoridade que apurou a transgresso disciplinar sequer considerou a justificativa apresentada pelo Impetrante, sem nem ao menos justificar o entendimento adotado, em flagrante descumprimento aos art. 13, item 1, alnea b c/c 14, ambos do RDAer.Outrossim, a Autoridade que apurou a transgresso disciplinar tambm no apreciou as circunstncias agravantes e/ou atenuantes relativas ao Impetrado na proposta de soluo apresentada. Segundo disposto no art. 13 do RDAer, so circunstncias atenuantes e agravantes:ART. 13 (...)2 - So circunstncias atenuantes:a) o bom comportamento;b) relevncia de servios prestados;c) falta de prtica do servio;d) ter sido a transgresso, cometida por influncia de fatores adversos;e) ocorrncia da transgresso para evitar mal maior;f) defesa dos direitos prprios ou do outrem;3 - So circunstncias agravantes:a) mau comportamento;b) reincidncia na mesma transgresso;c) prtica simultnea ou conexo de duas ou mais transgresses;d) existncia de conluio;e) premeditao ou m-f;f) ocorrncia de transgresso colocando em risco vidas humanas, segurana de aeronave, viaturas ou propriedade do Estado ou de particulares;g) ocorrncia da transgresso em presena de subordinado, de tropa ou em pblico;h) abuso de autoridade hierrquica ou funcional;i) ocorrncia da transgresso durante o servio ou instruo.

Analisando a situao especfica do Impetrante, observe-se que ele nunca sofreu nenhuma punio disciplinar enquanto integrante dos quadros da Base Area de Braslia, conforme se verifica no relatrio de alteraes em anexo (doc. 12), razo pela qual ainda estava classificado no bom comportamento quando da aplicao da punio disciplinar.Ademais disso, pesa a favor do Impetrante a relevncia dos servios prestados durante os anos em que serviu Aeronutica do Brasil e o fato de ter sido a transgresso cometida por influncia de fatores externos.Por outro lado, no se vislumbra a ocorrncia de nenhuma das circunstncias agravantes descritas no item 3, do citado art. 13 do RDAer e, no caso de existirem somente circunstncias atenuantes, a punio tender para o mnimo previsto, enquanto que o grau mximo de punio somente poder ocorrer quando verificada apenas circunstncias agravantes, conforme se depreende do art. 37 do RDAer, in verbis:ART. 37 - Na aplicao de punio deve ser observado o seguinte:1 - A punio ser proporcional gravidade da falta, observados os seguintes limites mnimos e mximos:a) para transgresses leves: repreenso em particular e deteno at 10 dias;b) para transgresses mdias: repreenso em pblico por escrito e priso at 10 dias;c) para transgresses graves: 1(um) dia de priso, e os limites estabelecidos no Quadro de punies mximas (Anexo II);2 - Ocorrendo somente circunstncias atenuantes, a punio tender para o mnimo previsto, respectivamente, nas letras "a", "b" e "c" do nmero 1 deste artigo.3- Ocorrendo circunstncias atenuantes e agravantes, a punio ser aplicada tendo-se em vista a preponderncia de umas sobre as outras.4 - Ocorrendo somente circunstncias agravantes, a punio poder ser aplicada em seu grau mximo.(...)

Por fim, a Autoridade que aplica a punio disciplinar tambm dever motivar sua deciso, levando em considerao os fatos, os argumentos apresentados pelo transgressor e a apurao, conforme disposto no art. 35 do RDAer, ou seja, deve a autoridade agir com iseno de nimo, com justia, sem condescendncia ou rigor excessivo, consideradas as circunstncias justificativas, atenuantes e agravantes, analisando a situao pessoal do transgressor e o fato que lhe imputado.Entretanto, a deciso apresentada pelo XXXXXXXXXX falhou em diversos aspectos, principalmente em no analisar as justificativas apresentadas pelo Impetrante, assim como por agir com excessivo rigor, haja vista que no foram consideradas as circunstncias agravantes e/ou atenuantes do transgressor, notadamente o fato de ele nunca ter sofrido nenhuma punio durante todo seu tempo de caserna, a relevncia dos servios prestados e de ter agido em decorrncia de fatores externos, no caso a doena de sua genitora. de se ressaltar, ainda, que em circunstncias semelhantes, na apurao de transgresso disciplinar de militares que haviam furtado estabelecimento comercial existente nas imediaes da Base Area de Braslia, o Comandante da BABR no utilizou dos mesmos parmetros para aplicar punio ao transgressor, tendo em vista que puniu-os com apenas 06 (seis) dias de cadeia, conforme se verifica no Boletim interno Ostensivo em anexo (doc. 13), sendo que os mesmos continuam nos quadros da Aeronutica at os dias atuais.Analisando o tratamento dado a estes fatos indaga-se: onde est o princpio da isonomia? O princpio da isonomia ou igualdade no pode ser considerado apenas como um princpio de Estado de Direito, devendo ser visto fundamentalmente como um princpio de Estado Social.Este princpio o mais amplo dos princpios constitucionais, abarcando as mais diversas situaes e por essa razo deve ser observado por todos os aplicadores do direito, em qualquer segmento que possamos utilizar, sob pena de violao direta de quase todos os outros dispositivos existentes no ordenamento jurdico brasileiro.A prtica de atos discriminatrios em razo da raa, de classe, de gnero, de afinidades pessoais, etc., ofendem no s a Constituio em face de seu princpio de sustentabilidade, mas tambm ofende a essncia do prprio ser humano, negando radicalmente o Estado Democrtico Brasileiro, de modo que estaremos diante de uma inconstitucionalidade, que caber ao Poder Judicirio controlar.Assim, a igualdade deve dar-se no s perante a lei, mas tambm perante todo o Direito, perante a justia, perante os escopos sociais e polticos, gerando reais oportunidades do ser humano obter condies dignas de vida.Portanto, o tratamento desigual situaes anlogas ofende um dos principais pilares do Estado Democrtico de Direito, qual seja, o princpio da igualdade, segundo o qual todos sero iguais perante a lei, pelo que se conclui que o Impetrante deveria ter sido julgado da mesma forma com que foram tratados os militares que cometeram o mesmo tipo de ato transgressor, devendo tal ato coator ser revisto pelo Poder Judicirio, por ser medida de justia.Ademais, a inobservncia de todas estas circunstncias na punio disciplinar nada mais do que a desobedincia ao prprio princpio do devido processo legal.Conforme consabido, o princpio do devido processo legal remete-nos noo de justia. Ao termo devido, subtende-se aquilo que justo. Processo, ento, como meio para se alcanar a justia, o que se faz evitando arbitrariedades, por meio de um processo correto, onde se asseguram as garantias processuais, de modo a alcanar aquilo que justo (justia).Mas o que necessrio em um processo ter para ele ser justo? Diante da indeterminao da expresso, temos, ento, uma clusula geral, conceito aberto, para indicar o que vem a ser um devido processo legal. Na verdade, a ideia de processo justo deve ser compreendida por construo histrica, variando no espao e no tempo. E conforme foi ocorrendo a evoluo processual, gerou-se um acmulo do que se pode chamar contedo mnimo do devido processo legal.Ou seja, para que tenhamos um devido processo legal preciso que se garanta, pelo menos, a ampla defesa, o contraditrio, o juiz natural, a isonomia, a publicidade, a motivao e a tempestividade, dentre outras garantias processuais.Isto , o conjunto de princpios que asseguram as garantias processuais e que foram sendo conquistados ao longo dos tempos, os quais vo, em conjunto, formando a ideia de processo justo que, em ltima anlise, corresponde clusula geral do devido processo legal.Cada um desses princpios processuais decorrem de conquistas histricas para limitar o poder estatal, os quais servem como adjetivo de um processo devido (justo). Todas estas garantias processuais foram conquistas obtidas ao longo dos anos e que, atualmente, formam um conjunto maior que denominamos de garantia do devido processo legal.Tem-se, portanto, um conceito que vai se abrindo, proporcionalmente s conquistas processuais alcanadas. O que era um mnimo necessrio ao processo hoje, passa a no mais s-lo amanh, se surgir uma nova garantia processual. E, assim, o contedo mnimo do devido processo legal vai se ampliando no tempo e no espao.Percebe-se, ento, que o princpio do devido processo legal uma clusula geral da qual se irradiam diferentes princpios processuais, os quais foram ganhando autonomia com o passar dos anos e adquiriram texto de lei prprios. Nesse ponto, observa-se que os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade tambm decorrem do devido processo legal. Como falado, a clusula geral do devido processo legal trata-se do conjunto das garantias processuais mnimas (contraditrio, ampla defesa, juiz natural, motivao, publicidade, tempestividade, etc), explcitas e implcitas, que so asseguradas aos litigantes. Contudo, todas essas garantias compem o devido processo legal na sua acepo formal, processual, ou procedimental.Mas a doutrina contempornea vem inserindo o princpio do devido processo legal no apenas no contexto meramente processual, mas tambm substancial. que a arbitrariedade pode ser cometida com violncia processual formal (prova ilcita, inexistncia de motivao, ausncia de contraditrio, etc), mas tambm no contedo das decises. preciso impedir decises desproporcionais, arbitrrias, irrazoveis. Porque possvel que a deciso tenha respeitado todas as garantias processuais e seja, ao mesmo tempo, absurda.Logo, o devido processo legal tambm adentra no contedo. preciso que as decises tambm sejam devidas no que se refere sua substncia. Estamos falando agora do devido processo legal na sua acepo material, substancial, ou substantiva, que exatamente a aplicao dos princpios da proporcionalidade e da razoabilidade.Dessa forma, podemos dizer que o devido processo legal, no plano substancial, ento, a exigncia de proporcionalidade e razoabilidade nas decises. Razovel aquilo que no disparate, fora do bom senso comum, daquilo que racional. Proporcional uma espcie daquele, referindo-se adequao entre os fins e os meios. Isto , ser razovel ser proporcional, e no somente.Assim, a doutrina costuma dividir o devido processo legal em formal e substancial. O devido processo legal formal (processual) o conjunto das garantias processuais a assegurar um processo justo em conformidade com o direito, acepo j muito difundida. J o devido processo legal material (substancial) a exigncia de justia no contedo da deciso, isto , no aspecto substantivo, um processo que seja justo no s nas garantias formais, mas tambm no plano material.No basta a obedincia s formas prescritas (garantias processuais formais), necessrio que isto reflita em uma deciso justa. Em outros termos, o princpio do devido processo legal substancial a fonte dos deveres de proporcionalidade e razoabilidade, motivando no s a observncia de um procedimento justo, mas tambm o proferimento de uma deciso que se apresente justa em seu contedo, os quais foram totalmente inobservados no presente procedimento, tanto no momento da apurao, quanto na deciso proferida.Diante de todas as irregularidades apresentadas no processo que originou a punio disciplinar ao Impetrante, licenciando-o a bem da disciplina, no pode ser outro o entendimento de V. Exa., a no ser anular o procedimento de apurao de transgresso disciplinar, de modo a reintegrar o Impetrante ao corpo da Aeronutica do Brasil, na Base Area de Braslia, assim como de determinar que a autoridade Impetrada, o XXXXXXXXXX de Braslia, seja compelido encaminhar ao Sr. Chefe do Estado-Maior do Sexto Comando Areo Regional, ofcio contendo o nome do Impetrante como habilitado para a concentrao intermediria e matrcula no curso de formao de cabos do ano de 2014.

III.4. panorama dos dispositivos legais e infralegais infrigidos

Est claro que o ato praticado pelo XXXXXXXXXX de Braslia ignorou, de uma s vez, diversos dispositivos legais e infralegais. Pela exposio dos dois subtpicos anteriores, identifica-se a violao dos seguintes:a) Lei Federal n. 6.880/80, Arts. 2; e 14, 1;b) Decreto n. 76.322/75 (RDAer), Arts. 6; 8; 9, caput e nico; 13, itens 1, alnea b, e 2, alneas a, b e d; 14, caput; 37, itens 1 e 2; e 42, item 2, alneas e e f;c) Portaria n. 782/GC3, Arts. 1, 2, inc. II; 4, inc. I, II, VII, X e XII.

Passando por cima de todo o processo administrativo determinado para a apurao de transgresses disciplinares no mbito da Aeronutica do Brasil, o ato atacado nesta pea possui flagrante carter arbitrrio e ilegal, pelo que se contrape, em ltima instncia, at mesmo aos enunciados da Constituio Federal, conforme se passa a demonstrar.

III.5. dos dispositivos constitucionais violados

A Constituio Federal, em seu art. 142, traou os princpios constitucionais da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica, determinando que os valores da hierarquia e disciplina so a base institucional das Foras Armadas.No caso em tela, ocorreu uma quebra do princpio da hierarquia no momento em que a autoridade competente para punir foi diversa daquela que apurou o fato transgressor, sem ao menos ter ocorrido a nomeao especfica por meio de ato administrativo prprio e especfico para esta finalidade, publicado em boletim interno.Tal ato tambm feriu o disposto no art. 5, inc. LIII da CF/88, uma vez que o Impetrante foi processado por autoridade incompetente para tanto, ou seja, pelo Major Aviador Gabriel Camargo Brando, quando deveria ter sido analisado e julgado pelo XXXXXXXXXX de Braslia, o Coronel Aviador Avelar Konrad Hegermann.Ademais disso, o fato de o Impetrante ter sido punido administrativamente por fato que possui apenas natureza de crime militar, mas no de transgresso disciplinar, representa ofensa ao princpio da legalidade (art. 5, inc. II e XXXIX, da CF/88), segundo o qual a Administrao Pblica, ou aquele que a representa, somente pode fazer o que a lei permite e, no presente caso, o XXXXXXXXXX deixou de cumprir o que a lei determina, uma vez que teria punido disciplinarmente o Impetrante, mesmo no sendo a conduta dele configurada como transgresso disciplinar, punindo-o, portanto, sem haver lei anterior que tenha definido o ato praticado como ilcito.Por sua vez, as inmeras irregularidades apontadas no procedimento administrativo de apurao de transgresso disciplinar, que culminou com a punio do Impetrante com seu licenciamento a bem da disciplina dos quadros da Aeronutica, no representam nada mais do que a ofensa ao princpio do devido processo legal e ao princpio da ampla defesa e do contraditrio, assim enunciados:Art. 5 (...)LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Assim sendo, uma vez que no presente caso o processo administrativo instaurado se configura absolutamente arbitrrio e irregular, no pode haver outra concluso a no ser pela declarao da ofensa direta aos princpios descritos na Carta Magna.

Da Gratuidade de Justia

A Constituio Federal, no captulo destinado aos direitos fundamentais, concede a garantia de pleno acesso ao Poder Judicirio, no excluindo de sua apreciao qualquer leso ou ameaa a direito, nos termos do art. 5o, inc. XXXV, da Carta Magna:XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito;

Ademais, se no bastasse tal premissa, a Constituio traz ainda o asseguramento defesa de direitos, independentemente do pagamento de taxas, conforme se depreende do art. 5o, inc. XXXIV, da CF:XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

Para corroborar tal premissa, o inc. LXXIV do j citado art. 5o traz consigo o dever o Estado de prestar a assistncia jurdica e gratuita aos que comprovarem no dispor de fundos para tanto:LXXIV - o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos;

Regulamentando o direito prestao da assistncia judiciria gratuita, a Constituio Federal recepcionou a Lei no. 1060/50, a qual dispe:Art. 1. Os poderes pblicos federal e estadual, independente da colaborao que possam receber dos municpios e da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, concedero assistncia judiciria aos necessitados nos termos da presente Lei.Art. 2. Gozaro dos benefcios desta Lei os nacionais ou estrangeiros residentes no pas, que necessitarem recorrer Justia penal, civil, militar ou do trabalho.Pargrafo nico. - Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situao econmica no lhe permita pagar as custas do processo e os honorrios de advogado, sem prejuzo do sustento prprio ou da famlia.

Para gozar do direito assistncia judiciria, bastar ao interessado apresentar declarao de que no possui condies de arcar com as custas de um processo judicial, nos termos do art. 4o da Lei no. 1060/50: Art. 4. A parte gozar dos benefcios da assistncia judiciria, mediante simples afirmao, na prpria petio inicial, de que no est em condies de pagar as custas do processo e os honorrios de advogado, sem prejuzo prprio ou de sua famlia.

Portanto, uma pessoa que se v incapaz de arcar com os custos que uma lide judicial impe, mas necessita da imediata prestao jurisdicional, pode, atravs de simples afirmativa, postular as benesses de tal prerrogativa, amplamente garantida pela Carta Constitucional vigente.O princpio do amplo acesso justia encontra forte pilar na justia gratuita. Tal prerrogativa, alm de fazer valer importante garantia constitucional, disponibiliza ao Autor, a certeza de que, caso comprove sua impossibilidade de arcar com as despesas, estar dispensado das mesmas.O Autor, militar da aeronutica licenciado, percebia como remunerao de seu trabalho a quantia de aproximadamente R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais), conforme se verifica nos contracheques em anexo (doc. 14), a qual j insuficiente para arcar com suas despesas de alimentao, moradia, vesturio, medicamento, transporte e etc., de modo que o adiantamento das custas processuais acabaria por prejudicar ainda mais seu oramento, se tornando impossvel seu sustento.Desta forma, o Autor declara que no pode adiantar as custas processuais de um feito comum sem prejuzo de seu sustento e de sua famlia, razo pela qual requer, nos termos do artigo 4 da Lei no. 1.060/50 e da Lei no. 7.115/83, o benefcio da Gratuidade da Justia (doc. 15).

Da Medida Liminar

O art. 7, inc. III da Lei n. 12.016/2009, permite que o Juiz, ao despachar a petio inicial, conceda medida liminar suspendendo o ato que deu origem ao pedido, quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar ineficcia da medida quando for esta finalmente deferida.O fundamento relevante do pedido, que ao mesmo tempo podemos classificar como o fumus boni iuris desse caso, encontra-se perfeitamente explicitado nos tpicos anteriores, principalmente no que diz respeito desobedincia aos ditames legais para a apurao e aplicao de punio disciplinar aos militares da Aeronutica, bem como acerca das ofensas aos princpios da legalidade, do juiz natural, do devido processo legal, da proporcionalidade, da razoabilidade e da ampla defesa e do contraditrio.No se pode permitir que, aps mais de 25 (vinte e cinco) anos de reabertura democrtica e consolidao da Constituio, as Autoridades Militares continuem ignorando os procedimentos legais definidos, pelo Congresso Nacional e pelo pas, para o exerccio de suas funes. No h lugar para abuso de poder no sistema jurdico brasileiro.Nesse sentido, quando um ato de qualquer Autoridade administrativa for atentatrio contra os ideais insculpidos pela Magna Carta, caber ao Poder Judicirio a apreciao da legalidade dos Atos Administrativos, at mesmo quando se tratar de ato proveniente de Autoridade castrense, ainda mais se considerarmos que as maiores arbitrariedades ocorrem no mbito das Foras Armadas, tendo em vista que por vezes se confundem os princpios da hierarquia e da disciplina com o abuso de poder.Por sua vez, a concesso da segurana buscada com certeza ser ineficaz caso precise esperar at o fim do presente feito, pois h o grande e inegvel risco de a presente medida se tornar incua quando de seu deferimento, representando, portanto, o periculum in mora da situao em que se encontra o Impetrante. Isso, porque, conforme afirmado alhures, o XXXXXXXXXX de Braslia promoveu a instaurao de processo de apurao de transgresso disciplinar e determinou a punio do Impetrante, inclusive com uma das penalidades mais rigorosas possveis, a de licenciamento a bem da disciplina, mesmo no sendo a conduta praticada pelo Impetrante passvel de punio administrativa, e ainda sem a observncia do devido procedimento administrativo para a aplicao de punio disciplinar.Registre-se que, o referido ato coator praticado pela Autoridade Impetrada est fazendo com que o Impetrante perca seu direito de se matricular no Curso de Formao de Cabos da Aeronutica, haja vista que, como previsto por ele no momento da apresentao de suas justificativas, logrou aprovao no exame de seleo, inclusive em uma boa colocao, conforme se verifica na lista de aprovados em anexo (doc. 06).Acontece que, em virtude da fatdica punio imposta, a Autoridade Impetrada se nega a apresentar o Impetrante ao Chefe do Estado Maior do Sexto Comando Areo Regional, sendo que j foi at encaminhado o Ofcio de Apresentao de Militares, no qual no constava o nome do Impetrante (doc. 07), impedindo-o, portanto, de alcanar a to sonhada promoo e estabilidade na carreira militar.Pra piorar ainda mais a situao, o curso para formao de Cabos da Aeronutica tem incio no prximo dia 17/02/2014, de modo que, caso a Autoridade Impetrada no envie, imediatamente, o referido ofcio ao Chefe do Estado Maior do Sexto Comando Areo Regional, o Impetrante se ver impedido de se matricular no Curso de Formao de Cabos.Convm salientar, por fim, que a medida liminar pleiteada no tem por objeto o imediato cancelamento do ato administrativo que determinou a punio disciplinar do Impetrante, mas to somente que seja determinada a suspenso da referida deciso at que se decida acerca do mrito do presente writ, principalmente pelo fato de tal deciso poder ser facilmente revertida, em caso de o pleito do Impetrante ser julgado improcedente.Requer-se, assim, apenas que seja suspensa a ilegal deciso que determinou o licenciamento a bem da disciplina do Impetrante, com posterior anulao em sentena, a fim de que ele possa ser reintegrado aos quadros da Base Area de Braslia, bem como para que o XXXXXXXXXX seja compelido a encaminhar ao Chefe do Estado Maior do Sexto Comando Areo Regional ofcio em que apresenta o Impetrante como um dos aprovados no exame de seleo para o Curso de Formao de Cabos da Aeronutica em 2014.

Dos Pedidos

Por tudo o que foi considerado, requer o Impetrante:A concesso de medida liminar, inaudita altera parte, para a imediata suspenso da deciso que determinou o licenciamento a bem da disciplina do Impetrante, com posterior anulao em sentena, a fim de que ele possa ser reintegrado aos quadros da Base Area de Braslia, bem como para que o XXXXXXXXXX seja compelido a encaminhar ao Chefe do Estado Maior do Sexto Comando Areo Regional ofcio em que apresenta o Impetrante como um dos aprovados no exame de seleo para o Curso de Formao de Cabos da Aeronutica em 2014;Seja a Base Area de Braslia oficiada, primeiramente por fax, no nmero (61)3365-1014 / 3365-1700, devido urgncia da providncia, tudo nos termos da Lei n. 12.016/2009, art. 4 c/c art. 13, para cumprimento imediato da liminar; aps, seja o original do Ofcio encaminhado rea Militar do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, Lago Sul, em Braslia DF, CEP.: 71.607-900;A notificao da Autoridade apontada como coatora no prembulo desta pea para que, no prazo legal, querendo, preste informaes;O envio de cpia desta pea Procuradoria Geral da Unio, sediada no Setor de Autarquias Sul, Quadra 03, Lotes 05/06, Ed. Multi Brasil Corporate, Sede I AGU, 10 Andar, em Braslia DF, CEP.: 70.070-030, para que, querendo, ingresse no feito;A oitiva do i. Representante do Ministrio Pblico, caso repute necessrio;Finalmente, a concesso da segurana mediante sentena, em confirmao da liminar, para que seja anulada a ilegal deciso que determinou o licenciamento a bem da disciplina do Impetrante, a fim de que ele possa ser reintegrado definitivamente aos quadros da Base Area de Braslia, tendo em vista a impossibilidade de instaurao do procedimento administrativo disciplinar, assim como pelas inmeras irregularidades apontadas e pelo desrespeito ao processo de apurao disciplinar estatudo pelo Decreto n. 76.322/75 e demais Portarias, alm das ofensas aos diversos princpios constitucionais elencados;seja deferido o benefcio da gratuidade de justia, nos termos do art. 4, da Lei n. 1.060/50, por no poder arcar com as custas processuais sem prejuzo da prpria subsistncia e de sua famlia;a condenao do Impetrado ao pagamento das custas processuais.

Pretende provar o alegado mediante a produo de todos os meios de prova em Direito admitidos, principalmente a prova documental, testemunhal, depoimento pessoal do Autor, nos termos do art. 332, do Cdigo de Processo Civil.D causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para efeitos meramente fiscais.

Nesses termos, Pede deferimento.

Braslia DF, 13 de janeiro de 2014.

ANDERSON SILVA ARAUJO DANIEL TEIXEIRA DOS SANTOSOAB/DF 40.143 OAB/GO 28.998

JOSEVALDO CASSIANO LEONARDO VIEIRA DA SILVAOAB/DF 39.373 OAB/GO 28.441-A

Rol de Documentos:Doc. 01 Documentos Pessoais do Impetrante;Doc. 02 Instrumento de Procurao;Doc. 03 Inqurito Policial Militar n. 0000083-24.2013.7.11.0111;Doc. 04 Formulrio de Apurao de Transgresso Disciplinar FATD;Doc. 05 Edital do Exame de Seleo ao Curso de Formao de Cabos da Aeronutica do ano de 2014;Doc. 06 Resultado da Convocao por Especialidade do Exame de Seleo;Doc. 07 Ofcio encaminhado pelo XXXXXXXXXX de Braslia ao Chefe do Estado-Maior do Sexto Comando Areo Regional;Doc. 08 Regulamento Disciplinar da Aeronutica RDAER;Doc. 09 Portaria n. 839/GC3, de 11 de setembro/2003, e Portaria n. 782/GC3, de 10 de Novembro de 2010;Doc. 10 Boletins Internos Ostensivos publicados anteriormente data do incio da apurao da transgresso disciplinar do Impetrante;Doc. 11 Relatrio Mdico da genitora do Impetrante;Doc. 12 Ficha de Desimpedimento e Boletim Interno de Publicao do licenciamento do Impetrante;Doc. 13 Boletim Interno Ostensivo em que foi publicada a punio dos oficiais que praticaram atos semelhantes ao do Impetrante;Doc. 14 Contracheques do Impetrante;Doc. 15 Declarao de Hipossuficincia do Impetrante.

14VTAC Vieira, Teixeira, Arajo e Cassiano Advogados AssociadosR. Benjamin Roriz, Qd. 33, Lt. 31, Sl. 04-07 | Setor Aeroporto, Luzinia - GO | CEP.: 72.801-147Fone: +55 61 3601.2160 | E-mail: vtac/[email protected]