48
1 Saúde Suplementar e Modelos Assistenciais Autora: Deborah Carvalho Malta 1 Introdução Nas últimas décadas ocorreram inúmeros avanços relativos às políticas setoriais públicas, em especial no setor saúde no Brasil. O movimento da "Reforma Sanitária" constituiu-se em um movimento político em torno da remodelação do sistema de atenção à saúde, tendo a compreensão da saúde como um direito do cidadão e dever do Estado. Este movimento aglutinou diversos atores sociais, formando uma ampla coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde - 8080, de 1990, que definiram as diretrizes de universalidade, integralidade e equidade (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990). A política de saúde no Brasil seguiu, nos anos 80, uma trajetória paradoxal: de um lado, a concepção universalizante, de outro, obedecendo às tendências estruturais organizadas pelo projeto neoliberal, concretizaram-se práticas caracterizadas pela exclusão social e redução de verbas públicas. Em função dos baixos investimentos em saúde e conseqüente queda da qualidade dos serviços, ocorreu uma progressiva migração dos setores médios para os planos e seguros privados (MALTA, 2001). A expansão da Saúde Suplementar nas últimas décadas foi significativa, estimando-se segundo os dados da PNAD/98, em 38,7 milhões o número de brasileiros cobertos por pelo menos um plano de saúde, o que corresponde a 24,5% da população do País (IBGE, 2000). Esses números expressam as profundas alterações que a prestação dos serviços de saúde vem sofrendo, colocando na agenda governamental a necessidade do estabelecimento de um ordenamento jurídico legal para o setor, que incorpore a regulamentação desse mercado privado e a definição das suas responsabilidades. Essa regulamentação iniciou-se em 1998, mediante a Lei 9656/98, mas, ainda existe um grande percurso na sua consolidação (BRASIL, 1998). Convive-se com uma grande heterogeneidade nos padrões de qualidade do setor, fragmentação e descontinuidade da atenção, que comprometem a efetividade e a eficiência do sistema

MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

1

Saúde Suplementar e Modelos Assistenciais

Autora: Deborah Carvalho Malta1

Introdução

Nas últimas décadas ocorreram inúmeros avanços relativos às políticas setoriais

públicas, em especial no setor saúde no Brasil. O movimento da "Reforma Sanitária"

constituiu-se em um movimento político em torno da remodelação do sistema de

atenção à saúde, tendo a compreensão da saúde como um direito do cidadão e dever

do Estado. Este movimento aglutinou diversos atores sociais, formando uma ampla

coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único

de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico da Constituição Federal de 1988 e

da Lei Orgânica da Saúde - 8080, de 1990, que definiram as diretrizes de

universalidade, integralidade e equidade (BRASIL, 1988; BRASIL, 1990).

A política de saúde no Brasil seguiu, nos anos 80, uma trajetória paradoxal: de um

lado, a concepção universalizante, de outro, obedecendo às tendências estruturais

organizadas pelo projeto neoliberal, concretizaram-se práticas caracterizadas pela

exclusão social e redução de verbas públicas. Em função dos baixos investimentos em

saúde e conseqüente queda da qualidade dos serviços, ocorreu uma progressiva

migração dos setores médios para os planos e seguros privados (MALTA, 2001).

A expansão da Saúde Suplementar nas últimas décadas foi significativa, estimando-se

segundo os dados da PNAD/98, em 38,7 milhões o número de brasileiros cobertos por

pelo menos um plano de saúde, o que corresponde a 24,5% da população do País

(IBGE, 2000). Esses números expressam as profundas alterações que a prestação dos

serviços de saúde vem sofrendo, colocando na agenda governamental a necessidade

do estabelecimento de um ordenamento jurídico legal para o setor, que incorpore a

regulamentação desse mercado privado e a definição das suas responsabilidades.

Essa regulamentação iniciou-se em 1998, mediante a Lei 9656/98, mas, ainda existe

um grande percurso na sua consolidação (BRASIL, 1998). Convive-se com uma

grande heterogeneidade nos padrões de qualidade do setor, fragmentação e

descontinuidade da atenção, que comprometem a efetividade e a eficiência do sistema

Page 2: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

2

como um todo, atingindo as redes de cuidados básicos, especializados e hospitalares,

que atendem a clientela de planos de saúde.

A chamada “assistência médica supletiva” adquire inúmeros formatos na prestação da

assistência e esses inúmeros aspectos devem ser mais bem conhecidos. O atual

trabalho procura abrir o debate sobre os diferentes Modelos Assistenciais praticados

na Saúde Suplementar, visando o maior conhecimento do setor e orientação da ação

regulatória do Estado.

Características dos segmentos da Saúde Suplementar

A Saúde Suplementar é composta pelos segmentos das autogestões, medicinas de

grupo, seguradoras e cooperativas.

Denomina-se “autogestão” os planos próprios patrocinados ou não pelas empresas

empregadoras, constituindo o subsegmento não comercial do mercado de planos e

seguros. As autogestões totalizam cerca de 300 empresas e aproximadamente 4,7

milhões de beneficiários. O grupo é heterogêneo, incluindo as grandes indústrias de

transformação (Volkswagen), entidades sindicais, empresas públicas, até empresas

com pequeno número de associados. Cerca de 50% é administrada por instituições

sindicais ou entidades jurídicas paralelas às empresas empregadoras, como as caixas

de assistência, caixas de previdência e entidades fechadas de previdência. Integram

sua administração, representantes dos trabalhadores e patronais. Percentual

significativo é administrado por departamentos de benefícios/recursos humanos da

própria empresa. Os planos de autogestão organizam suas redes de serviços,

fundamentalmente, mediante o credenciamento de provedores (CIEFAS, 2000; BAHIA

2001; ABRAMGE, 2002).

O subsegmento comercial compreende as cooperativas de trabalho médico –

UNIMED’S e cooperativas odontológicas, as empresas de medicina de grupo (incluindo

as filantrópicas) e as seguradoras.

As seguradoras, vinculadas ou não a bancos, representam a modalidade empresarial

mais recente no mercado de assistência médica suplementar, com 16% do

contingente de pessoas cobertas através de planos privados de saúde. Esse segmento

1 Médica, Doutora em Saúde Coletiva (Planejamento e Administração em Saúde), Professora Adjunta EE/UFMG

Page 3: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

3

utiliza-se da lógica atuarial para o cálculo das prestações dos planos e realiza uma

seleção de riscos mais rigorosa, dado que se referenciam na lógica securitária

(CORDEIRO, 1984; BAHIA 2001).

As cooperativas de trabalho médico, as UNIMED’S possuem 25% dos clientes de

planos de saúde e se organizaram, a partir da iniciativa de médicos, com a

argumentação da ameaça de perda da autonomia da prática médica e da

mercantilização da medicina.

As medicinas de grupo, constituídas inicialmente por grupos médicos aliados ao

empresariado paulista, são atualmente responsáveis por quase 40% dos beneficiários

da assistência médica supletiva. Esse segmento se organizou em torno de

proprietários/acionistas de hospitais, criando redes de serviços e credenciando

hospitais e laboratórios, dado que existia um comprador de serviços que lhes garantia

um mercado seguro. O surgimento do setor deu-se a partir de meados da década de

1960, com o denominado convênio-empresa entre a empresa empregadora e a

empresa médica (medicina de grupo), estimulados pela Previdência Social, que

repassava subsídios per capita pelo serviço prestado, prática essa que foi decisiva no

empresariamento da medicina (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 1986, MÉDICI, 1992).

A extensão do mercado da Saúde Suplementar

Apresentaremos uma breve descrição sobre a extensão da Saúde Suplementar no

Brasil, no que se refere à cobertura, abrangência geográfica, dados sobre o

financiamento, número de operadoras, dentre outros, possibilitando maior

aproximação do objeto estudado. Apesar do grande número de fontes consultadas,

torna-se muitas vezes difícil comparar as informações, pois os dados encontram-se

dispersos, com discrepâncias significativas para um mesmo ano, além de nem sempre

existirem dados da mesma fonte para todos os anos. Os dados das fontes oficiais,

como os do Ministério da Saúde e IBGE, são ainda limitados na abrangência e

apresentam descontinuidade temporal. Grande parte das informações disponíveis é

produzida pelas operadoras através de suas entidades representativas, ou, por firmas

de consultorias contratadas pelas mesmas. A maioria dos estudos e pesquisas

acadêmicas sobre a Saúde Suplementar trabalham com dados secundários oriundos

das fontes mencionadas. Diante dessas dificuldades, os estudos que pretendem

esboçar um panorama necessitam de esforço considerável para a organização e

Page 4: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

4

produção de informações consistentes, além de demandar adaptações metodológicas

para utilização adequada das informações disponíveis (BAHIA, 1999; KORNIS &

CAETANO, 2002). Mesmo diante dessas limitações iremos nos apoiar nessas fontes

para a caracterização da Saúde Suplementar.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, do IBGE, tem por finalidade a

produção de informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico

do País. A amostra de domicílios possibilita investigar diversas características

socioeconômicas (educação, trabalho, rendimento e habitação), e outras com

periodicidade variável, como as informações sobre migração, fecundidade,

nupcialidade, saúde, nutrição. A primeira Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

foi realizada em 1967 e a partir de 1971, os levantamentos passaram a ser anuais,

sendo interrompidos nos anos dos Censos Demográficos de 1970, 1980 e 1991. Em

1998 foi realizada investigação sobre saúde obtendo informações de morbidade

percebida, acesso e utilização de serviços de saúde, cobertura por plano de saúde e os

gastos com saúde (IBGE, 2000).

A PNAD estimou em 38,7 milhões o número de brasileiros cobertos por pelo menos

um plano de saúde, correspondendo a 24,5% da população do País, cobertura menor

que nos países europeus e nos Estados Unidos (que é da ordem de 84%). Destes 75%

estavam vinculados a planos de saúde privados (operadoras comerciais e empresas

com plano de auto-gestão) e 25% estavam vinculados a planos de instituto ou

instituição patronal de assistência ao servidor público civil e militar (IBGE, 2000).

A cobertura de planos de saúde é expressivamente maior nas áreas urbanas (29,2%),

do que nas áreas rurais (5,8%). O IBGE calcula que 25,7% das mulheres e 23,0% dos

homens brasileiros estejam cobertos por um plano de saúde. Em relação às faixas

etárias, o percentual da população brasileira que possui um plano de saúde, oscila de

20,7% entre pessoas até 18 anos, a 29,5% entre pessoas na faixa etária de 40 a 64

anos. Acima de 65 anos a cobertura atinge 26,1% para os homens e 28,2% para as

mulheres. A cobertura é maior também entre aqueles que avaliam seu estado de

saúde como muito bom e bom (25,9%), reduzindo para 14,5% entre aqueles que

avaliam seu estado de saúde como ruim ou muito ruim (IBGE, 2000).

Page 5: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

5

Aqueles que apresentam renda familiar inferior a 1 salário mínimo, tem cobertura de

planos de saúde de apenas 2,6%, aumentando progressivamente com o crescimento

da renda, até atingir 76% de cobertura entre aqueles que recebem 20 salários

mínimos e mais (IBGE, 2000).

Segundo a mesma pesquisa, cerca de 60% dos planos de saúde no País são pagos

pelo empregador do titular, de forma integral (13,2%) ou parcial (46,0%). A

modalidade de contrato mais freqüente é abrangente e inclui serviços ambulatoriais,

hospitalares e exames diagnósticos e terapêuticos. O co-pagamento é uma prática

observada em 20% dos planos de saúde do País (IBGE, 2000).

Existe uma alta correlação positiva entre acesso ao médico e o poder aquisitivo da

população. Enquanto 49,7% das pessoas de menor renda familiar declararam ter

consultado médico nos últimos 12 meses, esse valor sobe para 67,2% no caso

daquelas pessoas com mais de 20 salários mínimos de renda familiar. Segundo o

IBGE, as pessoas sem rendimento foram as que apresentaram o maior coeficiente de

internação hospitalar (11,5 por 100 pessoas no grupo).

Em síntese a PNAD/98 apontou os seguintes problemas de acesso aos serviços de

saúde no País: a) cerca de um terço da população brasileira não tem um serviço de

saúde de uso regular; b) o acesso à consultas médicas e odontológicas aumenta

expressivamente com a renda e é maior nas áreas urbanas; c) cerca de um quinto da

população brasileira nunca foi ao dentista e esse percentual cresce para 32% entre os

residentes da área rural; d) aproximadamente 5 milhões de pessoas referiram ter

necessitado mas não procuraram um serviço de saúde, sendo que a justificativa mais

freqüente desta atitude foi a falta de recursos financeiros; e) entre as pessoas

atendidas, cerca da metade teve seu atendimento realizado através do SUS e,

aproximadamente, um terço das pessoas referiu ter utilizado plano de saúde para

receber este atendimento; f) do total de atendimentos, cerca de 16% implicaram em

algum pagamento por parte do usuário; g) o atendimento recebido foi bem avaliado

pelas pessoas que usaram serviços de saúde, tanto públicos como privados (IBGE,

2000).

O IBGE concluiu que os planos de saúde atuam no sistema de saúde brasileiro

introduzindo mais um elemento de geração de desigualdades sociais no acesso e na

utilização de serviços de saúde, na medida em que cobrem uma parcela seleta da

Page 6: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

6

população brasileira na qual predominam: pessoas de maior renda familiar, inseridas

em determinados ramos de atividade do mercado de trabalho e que avaliam seu

estado de saúde como muito bom ou bom (IBGE, 2000).

1.1.1 Outras fontes na caracterização da Saúde Suplementar

Iremos nos apoiar em dados de literatura, nas fontes oficiais (Agencia Nacional de

Saúde Suplementar - ANS) e nos sites das operadoras, para a caracterização do

mercado de planos de saúde no Brasil.

A fonte oficial sobre o mercado da Saúde Suplementar é o Cadastro de Beneficiários

da ANS, de preenchimento obrigatório por parte das operadoras e que em abril de

2002, contabilizava 32,7 milhões de beneficiários, distribuídos da seguinte forma:

Medicina de Grupo (33,6%), Cooperativa Médica (25,0%), Autogestão (14,6%),

Seguradora (16,2%), Odontologia de Grupo (5,3%), Filantropia (2,7%) (Tabela 1)

(BRASIL, 2002a).

Distribuição de beneficiários da saúde suplementar por segmento, Brasil 2002

Faixa deBeneficiários

Beneficiáriosativos Beneficiário

s %Operadora

s

%

Medicina de GrupoCooperativa MédicaAutogestãoOdontologia de GrupoCoop. OdontológicaAdministradoraSeguradoraFilantropia

11.011.7688.209.6974.782.9431.728.578

823.06132

5.288.272883.868

33,625,014,65,32,5

016,22,7

627315285284148

113

102

35,317,716,016,08,3

0,060,75,7

Total 32.728.219 100,0 1.775 100

Fonte: Cadastro de Beneficiários - abril de 2002 (BRASIL, 2002a)

Dados do mesmo cadastro em novembro de 2002 contabilizavam 35,5 milhões de

beneficiários (BRASIL, 2002b). O Cadastro da ANS não inclui os beneficiários

vinculados aos sistemas de Previdência Pública Estadual, por não serem incluídos na

obrigatoriedade da Lei 9656/98, quanto à apresentação do cadastro à ANS e também

não incluí, eventualmente, operadoras que obtiveram liminares na justiça,

desobrigando-as do fornecimento de seus dados cadastrais.

Page 7: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

7

A ABRAMGE estima que o mercado de planos de saúde compreenda cerca de 41

milhões de clientes, divergindo dos dados oficiais. Cabe esclarecer que a ABRAMGE

trabalha com estimativas e não com cadastro real (ABRAMGE, 2002). Para fins desse

trabalho consideraremos os números de cobertura oficiais.

O Cadastro da ANS contabilizava em abril de 2002: 13 seguradoras, 627 Empresas de

Medicina de Grupo, 102 Filantrópicas, 285 Autogestões, 315 Cooperativas Médicas,

148 Cooperativas odontológicas, 284 Odontologias de Grupo e 1 Administradora

(BRASIL, 2002a) (Tabela 1).

Os dados do cadastro mostram a concentração dos beneficiários em grandes

operadoras: são 752 operadoras com até 2000 beneficiários, ou 1,58% e 54

operadoras somam mais de 17 milhões, ou 52% dos beneficiários (Tabela 2).

A maioria das empresas de medicina de grupo e UNIMED’S são de pequeno porte

(menos de 100.000 beneficiários) e com coberturas mais localizadas. Ao contrário, as

seguradoras possuem planos com mais de 100.000 beneficiários e concentrados em

um pequeno número de empresas (Figura 1).

Tabela 1. Distribuição das faixas de beneficiários por operadoras,

Brasil 2002

Faixa deBeneficiários Operadora

s

% Beneficiários %

Até 20002001 a 10000

10001 a 2000020001 a 50000

50001 a 100000100001 a

500000Acima de

500000

75256319114372477

42,331,710,88,04,02,60,4

518.4562.726.6162.753.9954.451.2715.126.0079.712.9877.438.887

1,68,38,4

13,615,629,722,7

Total 1775 100 32.728.219 100,0

Fonte: Cadastro de Beneficiários - abril de 2002 (BRASIL, 2002a)

Page 8: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

8

Figura 1. Participação dos segmentos da saúde suplementar por

faixa de beneficiários, Brasil 2002

0%

20%

40%

60%

80%

100%

até 2.000 2.001 a10.000

10.001 a20.000

20.001 a 50.000

50.001 a100.000

100.001 a500.000

acima de500.000

administradora autogestão cooperativa medicina de grupo seguradora

Fonte: Cadastro de Beneficiários - abril de 2002 (BRASIL, 2002a)

A distribuição geográfica mostra uma concentração de operadoras e beneficiários nas

regiões Sudeste (60,80%) e Sul (17,26%), em função do maior poder aquisitivo da

população e da existência de numerosas indústrias e empresas, contratantes de

planos coletivos. A região Norte detém o menor percentual de operadoras (2,8%)

(Tabela 3).

Tabela 2. Distribuição das operadoras por região, Brasil 2002

Região Número deoperadoras

%

Sudeste 1599 60,8Sul 454 17,3Nordeste 384 12,7Centro Oeste 169 6,4Norte 74 2,1Total 2630 100,0

Fonte: Cadastro de Beneficiários abril de 2002 (BRASIL, 2002a)

Os estados com maior cobertura são, por ordem decrescente: São Paulo (40,6%),

Distrito Federal (30,9%), Rio de Janeiro (29,2%), Espírito Santo (20,6%), Minas

Gerais (18,7%) e as coberturas menores que 4% são observadas nos estados: Acre,

Tocantins, Maranhão, Roraima e Sergipe (Tabela 4) (BRASIL, 2002a).

Page 9: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

9

Tabela 3. Distribuição dos beneficiários da saúde suplementar porestado e cobertura populacional, Brasil 2002

UF Beneficiáriosativos

População % UFBeneficiários ativos

População %

SPDFRJES

MGPRSCRSPECE

AM

MS

RN

GO

15.042.346633.960

4.200.755639.144

3.343.0651.622.386

827.5291.181.134

876.828809.424296.463202.392254.700402.840

37.032.4032051.146

14.391.2823.097.232

17.891.4949.563.4585.356.360

10.187.7987.918.3447.430.6612.812.5572.078.0012.776.7825.003.228

40.630.929.220.618.717.015.411.611.110.910.59.79.28.1

PBMTBAAPALPARRPISEROMATOAC

266.665190.675984.22527.118

150.545316.49216.088

112.77066.68250.002

168.27131.93013.790

3.443.8252.504.353

13.070.353477.032

2.822.6216.192.307

324.3972.843.2781.784.4751.379.7875.651.4751.157.098

557.526

7,77.67.55.75.35.15.04.03.73.63.02.82.5

Brasil 32.728.219 169.799.170 19.3

Fonte: Cadastro de Beneficiários abril de 2002 (BRASIL, 2002a)

A implantação da regulação pública na Saúde Suplementar

O debate sobre o tema da regulação na Saúde Suplementar é ainda muito incipiente

no Brasil, dado o recente tempo de efetiva publicação da Lei 9.656/98, que constituiu

um importante instrumento de regulação pública. A Lei introduziu novas pautas no

mercado como: a ampliação de cobertura assistencial, o ressarcimento ao SUS, o

registro das operadoras, o acompanhamento de preços pelo governo, a

Page 10: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

10

obrigatoriedade da comprovação de solvência, reservas, técnicas, a permissão para a

atuação de empresas de capital estrangeiro, dentre outras.

Segundo Bahia (2001), existem divergências quando se discute qual é o objeto e a

intensidade dessa regulação. Para alguns, a regulamentação visa corrigir/atenuar as

falhas do mercado com relação à assimetria de informações entre clientes, operadoras

e provedores de serviços. A regulação deveria então atuar minimizando a seleção de

riscos, por parte das empresas de planos, que preferem propiciar cobertura aos riscos

“lucrativos” e por parte de clientes, que tendem a adquirir seguros/planos, em razão

de já apresentarem alguma manifestação do problema de saúde pré-existente.

Os grandes embates posteriores à criação da ANS têm se dado em função da

ampliação da cobertura e ameaças de quebra das operadoras de menor porte, face às

exigências de demonstração de solvência.

As críticas produzidas dentre os diversos atores variam conforme a sua origem,

inserção social e defesa dos interesses que representam. Nesse sentido, os órgãos de

defesa dos consumidores, como o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC),

pontuam, por exemplo, a “armadilha aos idosos”, apontada como a permissão da

adoção de preços diferenciados entre os mais jovens e mais velhos, e a permissão de

não coberturas. Os órgãos de defesa do consumidor conjuntamente com as entidades

médicas, questionam a não cobertura de todas as patologias, a autonomia na

solicitação dos procedimentos, a remuneração dos profissionais, dentre outros. As

cooperativas médicas questionam os prazos de adaptação às Leis, a obrigatoriedade e

constitucionalidade do ressarcimento, as dificuldades impostas aos pequenos planos e

empresas regionais, no que se refere às exigências de coberturas. As medicinas de

grupo pontuam os prazos de adaptação às Leis, a ilegalidade quanto à retroatividade,

as inúmeras exigências que levam ao aumento dos custos dos produtos. As

seguradoras criticam que o modelo criado tornou-se muito expandido com regras de

difícil execução (FIGUEREDO, 2002).

Os embates sobre a regulamentação pública se estenderam para dentro do aparelho

de estado, enquanto o Ministério da Fazenda defendia uma regulação governamental

de menor intensidade através da SUSEP, onde o centro era a regulação econômica e

financeira, o Ministério da Saúde defendia uma ação mais efetiva do Estado,

colocando a regulação também no aspecto assistencial. O modelo da regulação

Page 11: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

11

bipartite, feita pela SUSEP e pelo MS se arrastou até a criação da ANS, através da Lei

9961/00, que definiu por um órgão regulador único, saindo vitoriosa a tese do

Ministério da Saúde (BRASIL, 2000c; MESQUITA, 2002).

A Agência de Saúde Suplementar (ANS) foi criada com autonomia orçamentária e

decisória e assemelha-se às demais agências reguladoras quanto a estrutura

organizacional e autonomia. Sua criação significou um importante passo na regulação

do mercado, revelando diversos abusos das operadoras contra os clientes e ampliando

o papel de regulação e controle da assistência. Ainda permanecem muitas lacunas no

processo regulatório que precisam ser aperfeiçoadas.

Um grande avanço nos mecanismos de regulação constituiu-se na implantação do

ressarcimento ao SUS, em 2000. Este foi concebido para desestimular o atendimento

de clientes de planos de saúde em estabelecimentos da rede pública e privada

conveniada. A cobrança tem se dado através de uma terceira tabela para a

remuneração dos procedimentos, a Tabela Única Nacional de Equivalência de

Procedimentos (TUNEP), que foi concebida com valores intermediários entre os

praticados pelas operadoras e pelo SUS (BRASIL, 2000a). O ressarcimento ainda é

polêmico entre as operadoras, que se defendem dizendo que seus clientes optam

espontaneamente pelo SUS e por isso estariam desobrigadas em ressarcir tais

despesas. Ainda existem inúmeras dificuldades no processo de retorno do recurso

desembolsado aos cofres públicos, demonstrados pelos dados de desempenho do

ressarcimento: dos 364.242 procedimentos identificados até dezembro de 2002,

193.014 haviam sido impugnados, 145.349 cobrados e apenas 33.935 efetivamente

pagos (BRASIL, 2003).

O processo de regulação ainda é incipiente e torna-se necessário o enfrentamento de

temas mais complexos e estruturantes como o desafio de entender a natureza dessa

regulação, seus avanços e limites, a dimensão da organização do subsetor, o

financiamento da oferta de serviços, as modalidades assistenciais, suas redes e a

complexidade dessas relações.

A compreensão do Modelo Assistencial praticado só se faz na medida que entendemos

o processo de regulação existente. Modelo Assistencial e regulação são as duas faces

da mesma moeda. Visando facilitar a compreensão da dimensão do processo

regulatório, buscamos a contribuição de Cecílio (2003), que propõe um diagrama para

Page 12: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

facilitar a visualização da cartografia do campo regulatório da ANS, possibilitando o

mapeamento dos campos de intervenção e abrindo a discussão de como atuar visando

a transformação na melhoria da atenção à saúde (Figura 2).

Cecílio (2003) designa o campo A (regulação da regulação ou macroregulação), como

o campo constituído, pela legislação e regulamentação (Legislativo, Executivo/ANS,

CONSU), ou seja, a Lei 9656/98 e 9.961/2000, as resoluções normativas,

operacionais, instruções, dentre outras, ou seja, "O braço do Estado que se projeta

sobre o mercado" (BRASIL, 1998; BRASIL, 2000b).

O campo B constitui o campo da auto-regulação ou regulação operativa, isto é, as

formas de regulação que se estabelecem entre operadoras, prestadores e

compradores/beneficiários. Sendo que no espaço relacional 1, ocorrem as relações

entre operadoras e prestadores, o espaço relacional 2 é aquele onde se estabelecem

as transações entre as operadoras e os compradores/beneficiários, o espaço relacional

3 marca o encontro dos beneficiários com os prestadores.

Figura 2 A cartografia do campo regulatório da ANS

ANS Operadoras

Campo A - Regulação da Regulação

re

1

2

3

12

Fonte: Cecílio (2003)

Compradores/ Beneficiários

Campo B - auto-

gulação operativa

Page 13: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

13

Page 14: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

14

Mapeando essas relações torna mais fácil a caracterização do espaço regulatório.

Discutiremos as hipóteses do estudo, visando a compreensão do modelo regulatório e

do modelo de assistência praticado. Essas hipóteses são fruto de um trabalho coletivo,

de um grupo de pesquisadores da Saúde Suplementar2 (JORGE; 2003; CECÍLIO,

2003).

As hipóteses do estudo

A regulação pública praticada atualmente na Saúde Suplementar tem ocorrido, em

geral, a partir da premissa da regulação da saúde financeira das operadoras, ou seja,

da capacidade de se estabelecer no mercado, honrando os compromissos na

prestação da assistência à saúde dos seus beneficiários, conforme o que foi

contratado, sob a perspectiva do direito dos consumidores. Esse modelo de regulação

tem sido praticado nos diversos países, inclusive no Brasil, mesmo que timidamente e

ele se refere à regulação no Campo A, do diagrama proposto por Cecílio (2003).

Após a aprovação da Lei 9656/98, abriu-se uma disputa dentro do aparelho de

estado, onde alguns setores defendem uma nova perspectiva no processo regulatório

do Estado, entendendo uma nova atribuição no papel regulatório, ou seja, a regulação

da produção do cuidado à saúde. Esses setores entendem que as operadoras podem

ser gestoras da saúde dos seus beneficiários, ou não, e que essa prática precisa ser

regulada pelo Estado. Essa perspectiva abre uma nova frente de ação do Estado. No

que se praticava até então no processo regulatório, amplia-se para o entendimento

que se deve intervir também na regulação do cuidado à saúde, praticado pelas

operadoras. Coloca-se um outro patamar de intervenção, onde as políticas públicas

indicam as diretrizes desse novo formato regulatório, ou seja, intervir também no

campo B, ou no campo da auto-regulação ou regulação operativa.

A regulação do Estado nesse nível deverá ser precedida por um processo de

apreensão dessa dimensão, compreendendo como esses mecanismos assistenciais

ocorrem no cotidiano. Existe um déficit de conhecimento e de incorporação de

ferramentas que fundem essa nova perspectiva de intervenção.

2 As pesquisas são: "Estudo e desenvolvimento de modelos e garantias assistenciais para a ANS" e “Mecanismos de regulaçãoadotados pelas operadoras de planos de saúde no Brasil”.

Page 15: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

15

O processo brasileiro é de tal complexidade, que não se consegue enxergar

completamente o subsetor Saúde Suplementar, criando limites na eficácia do processo

regulatório. O mercado tem atuado livremente, e uma nova prática do estado implica

em se adquirir saberes e competências que subsidiem essa nova forma de operar.

Uma outra hipótese importante levantada é que, para fazer frente à Lei 9656/98, as

operadoras e prestadores têm desenvolvido mecanismos micro-regulatórios para

sobreviver ao mercado e à regulação da ANS. Alguns desses mecanismos são

conhecidos, como a instituição de protocolos, de mecanismos de referência e fluxos

que dificultam a solicitação de alguns procedimentos, o co-pagamento, fatores

moderadores, dentre outros. Ainda há muito que se investigar para melhor

compreensão desses mecanismos.

A existência desses mecanismos de micro-regulação resultam na fragmentação do

cuidado, que se tornam centrados na lógica da demanda e da oferta do que foi

contratado e não na lógica da produção da saúde, do cuidado. O modo de operar a

assistência passa a se tornar centrado na produção de atos desconexos, não

articulados. Assim as operadoras trabalham, não com a produção da saúde, mas sim

com a idéia de “evento/sinistralidade”. Assim a saúde torna-se para o mercado um

produto e não um bem. Mesmo quando se investe em atividades de promoção e

prevenção, esse componente entra mais como produto de marketing do que como

diretriz do modelo assistencial, visando de fato o cuidado à saúde.

Neste contexto, quando se avalia a hipótese de que as operadoras/prestadores na

Saúde Suplementar podem ser gestores do cuidado e que isso pode ser regulado pelo

estado, verifica-se que esta idéia não se sustenta a partir da atual configuração do

mercado de saúde brasileiro e da prática regulatória vigente na Saúde Suplementar,

que atua basicamente no espaço da macro-regulação. Para a viabilização desta nova

perspectiva de regulação há que se repensar e intervir sobre as práticas assistenciais

vigentes, instituindo uma nova forma de operar o processo regulatório, intervindo no

campo B.

Isso implica, portanto, investigar essas relações, mapear como as operadoras estão

impondo os seus mecanismos regulatórios ao mercado (gestão por pacote, glosas,

auditorias), como os prestadores reagem à esses mecanismos, buscando maior

eficiência, produzindo redução de custos, ampliando a competitividade entre si ou a

Page 16: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

16

sobrevivência no mercado. Assim estamos nos referindo a como entender o espaço

relacional 1 (Figura 2).

Ainda no campo B (Figura 2), cabe também mapear o espaço relacional

beneficiários–prestadores, ou o espaço relacional 2, principalmente considerando o

micro espaço de encontro entre o usuário e a equipe de saúde, em especial, a relação

médico-paciente. Cabe, portanto, compreender como os prestadores/médicos estão

reagindo e instituindo outros mecanismos de microregulação, ou seja, atuando

centrados no poder médico. Cabe indagar se essa relação busca se pautar pela

produção da qualidade em saúde, pelo processo de informação do usuário/

beneficiário e de produção de sua autonomia, ou ao contrário, em função da pressão

das operadoras, se a relação entre os prestadores/médicos e clientes tem-se pautado

pela redução de custos, restrição de exames e procedimentos. Nesse espaço cabe

indagar se essa relação pode se pautar por uma lógica mais “cuidadora”, mais

relacional e “resolutiva”, ou por outro modelo relacional mais autoritário.

No espaço relacional beneficiários-operadoras, ou espaço 3, o debate central passa

por temas como a seleção de riscos (ou barreiras à entrada dos segurados no

sistema, excluindo os de alto risco), risco moral ou moral hazard (aumento da

utilização de serviços pelos usuários, quando coberto), a quebra da integralidade do

cuidado por parte da operadora, não garantindo o cuidado contratado, e a busca da

garantia de direito, por parte dos usuários (ALMEIDA, 1998).

Constata-se um grande esforço regulatório da ANS na construção de uma agenda da

regulação, concentrada no campo A, cabe ao Estado discutir também a atuação sobre

o campo da regulação operativa, ou no campo B. Esse último constitui o centro de

reflexão do atual trabalho, ou seja, como ampliar a compreensão sobre as questões

que ocorrem no cotidiano dessas relações (Campo B), visando ampliar o olhar do

Estado/ANS, para que estabeleça uma nova intervenção nesse espaço, atuando sobre

o Modelo de Assistência praticado (Figura 2).

Poderíamos sintetizar as seguintes hipóteses frente às características do modelo

assistencial praticado pela Saúde Suplementar no país:

1. As operadoras podem se constituir enquanto gestoras do cuidado.

2. As operadoras e os prestadores têm desenvolvido mecanismos micro-regulatórios

para sobreviver ao mercado e à regulação da ANS.

Page 17: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

17

3. A existência de mecanismos de regulação resulta na fragmentação do cuidado

centrado na lógica dos contratos.

4. Para o consumidor estes mecanismos resultam na não integralidade da assistência.

5. O mercado em Saúde Suplementar não trabalha com o conceito de produção da

saúde, mas com a idéia de evento/sinistralidade.

6. A hipótese de que as operadoras podem ser gestoras do cuidado e que isto pode

ser regulado, não se sustenta na atual configuração do mercado e na prática

regulatória vigente na Saúde Suplementar.

7. As atividades de promoção à saúde, realizadas pelas operadoras, não são

estratégias para intervenção na perspectiva de um modelo mais integral de atenção,

mas predominantemente estratégias de marketing.

8. As operadoras estão operando com mecanismos de seleção de riscos, apesar da Lei

9656/98.

9. O mercado opera com variáveis para identificação de riscos, que não são as

mesmas da saúde pública, dando prioridade aos cálculos econômicos e financeiros.

(JORGE, 2003).

A importância desse mapeamento consiste na caracterização das tendências dos

atores em cena, seus tensionamentos, e disputas, fundamentando uma nova

intervenção do Estado nessa relação. Pretende-se construir competência para exercer

a regulação no campo da regulação operativa (que é fortemente auto-regulada), ou

seja, atuar no espaço da micro-regulação do mercado de saúde. Esse campo se

apresenta como um campo de disputas e negociações, configurando um território

instável e em constantes deslocamentos (CECÍLIO, 2003). Implica aproximar-se do

objeto em questão, e propiciar o diálogo com as hipóteses formuladas. Para esse

percurso, iremos buscar discutir o conceito de Modelo Assistencial, enfocando as

disputas colocadas, o desenho da linha de cuidado esperada e a micropolítica do

trabalho em saúde. A revisão pretende ampliar a compreensão dos atores em disputa,

possibilitando a perspectiva futura de atuar no processo de micro-regulação da

produção do cuidado, visando a melhoria do acesso, da integralidade e da qualidade

da assistência prestada.

Page 18: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

18

Modelo Assistencial na Saúde Suplementar

Modelo Assistencial, na literatura que trata especificamente da Saúde Suplementar, é

um assunto pouco discutido e investigado, embora a temática esteja presente na

legislação que regulamenta o subsetor, onde o modelo assistencial aparece como

atribuição do Conselho Nacional de Saúde Suplementar (CONSU). A Lei 9656/98 traz

no seu "Art. 35", o seguinte texto: "Fica criado o Conselho Nacional de Saúde

Suplementar – CONSU, órgão colegiado integrante da estrutura regimental do

Ministério da Saúde, com competência para deliberar sobre questões relacionadas à

prestação de serviços de Saúde Suplementar nos seus aspectos médico, sanitário e

epidemiológico e, em especial: I - regulamentar as atividades das operadoras de

planos e seguros privados de assistência à saúde, no que concerne aos conteúdos e

modelos assistenciais, adequação e utilização de tecnologias em saúde” (BRASIL,

1998).

Na Lei 9.961/00, alterada pela MP No. 2.097-36, de 26.01.01, o tema de modelos

assistenciais aparece novamente, no Capítulo I - artigo 4o. que trata da competência

da ANS, há o seguinte texto: “XLI – fixar as normas para constituição, organização,

funcionamento e fiscalização das operadoras de produtos de que tratam o inciso I e o

parágrafo 1o. do art. 1o. da Lei 9656, incluindo: a) conteúdos e modelos assistenciais”

(BRASIL, 2000b).

Verifica-se, portanto, que é objeto tanto do CONSU, quanto da ANS, a regulação dos

modelos assistenciais da Saúde Suplementar, embora os textos publicados, que

tratem do tema, se preocupem, principalmente, com as discussões relacionadas ao

financiamento, gestão e regulação geral. A despeito desta situação, a Saúde

Suplementar não deixa de determinar e operar modelos de atenção.

Modelo assistencial consiste na organização das ações para a intervenção no processo

saúde-doença, articulando os recursos físicos, tecnológicos e humanos, para enfrentar

e resolver os problemas de saúde existentes em uma coletividade. Podem existir

modelos que desenvolvam exclusivamente intervenções de natureza médico-curativa

e outros que incorporem ações de promoção e prevenção; e ainda há modelos em que

seus serviços simplesmente atendem às demandas, estando sempre aguardando os

casos que chegam espontaneamente ou outros que atuam ativamente sobre os

usuários, independentemente de sua demanda (PAIM, 1999).

Page 19: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

19

Autores como Merhy et al (1992) discutem a dimensão articulada dos saberes e da

política na determinação da forma de organizar a assistência:

"Modelo Técnico Assistencial constitui-se na organização da produção de serviços

a partir de um determinado arranjo de saberes da área, bem como de projetos

de ações sociais específicos, como estratégias políticas de determinado

agrupamento social. Entendemos desse modo, que os modelos tecno-

assistenciais estão sempre apoiados em uma dimensão assistencial e

tecnológica, para expressar-se como projeto de política, articulado a

determinadas forças e disputas sociais” (MERHY et al, 1992).

Merhy et al (1992) consideram que os modelos tecno-assistenciais se apresentam

como projetos de grupos sociais, formulados enquanto projetos tecno-assistenciais,

para serem implementados enquanto estrutura concreta de produção de parte das

ações de saúde, realizando-se de forma “pura” ou incorporando propostas de outros

projetos. Esses projetos tecno-assistenciais apóiam-se em conhecimentos e saberes

que definem o que é problema de saúde, como devem ser as práticas de saúde, para

que servem e como devem ser organizadas tais práticas, quais serão os trabalhadores

necessários e para quais pessoas estão dirigidas.

A conformação desses modelos expressa uma dada forma de poder político e,

portanto, uma dada conformação do Estado e de suas políticas, que pressupõem a

construção de uma visão dos outros modelos, seja para a disputa enquanto projeto,

seja como estratégia de sua manutenção.

Campos (1992) considera “modalidade assistencial” ou “modelos tecnológicos”, como

partes integrantes de um certo modelo tecno-assistencial.

“Por sua vez, “modalidades assistenciais” ou “modelos tecnológicos” se prestarão

para designar as várias partes constitutivas de um dado modo de produção,

sempre combinadas segundo um sentido determinado pela totalidade do modelo.

Combinações que, por sua vez, tenderiam alterar as características arquetípicas

(tipos ideais) de cada modalidade ou modelo tecnológico: clínico ou

epidemiológico, estatal ou privado, produção de serviços segundo a lógica liberal

ou assalariado, da pequena produção ou de empresas etc” (CAMPOS, 1992:37).

Para efeito desse trabalho adotaremos a compreensão de Merhy et al (1992),

assumindo que os modelos assistenciais incorporam uma dimensão articulada de

Page 20: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

20

saberes e tecnologias de dados grupos sociais que, apoiados na dimensão política,

disputam dada forma de organizar a assistência.

Visando analisar os modelos assistenciais a partir da sua matriz discursiva, tomamos

os autores Silva Jr (1998) e Reis (2002) que se referenciam na compreensão de

Merhy et al (1992) sobre o tema. O primeiro analisando os modelos tecno-

assistenciais formulados pelo campo da Saúde Coletiva Brasileira (SILOS - Bahia,

“Cidade Saudável” de Curitiba e “Em Defesa da Vida” do LAPA - UNICAMP), estabelece

uma comparação com o modelo tecno-assistencial hegemônico (liberal-

privatista/neoliberal) e propõe uma matriz analítica. Nessa matriz, o autor compara os

modelos segundo as seguintes dimensões: concepção da saúde e doença,

integralidade na oferta das ações, regionalização e hierarquização de serviços e

articulação intersetorial.

Reis (2002), por sua vez, analisa os modelos tecno-assistenciais em Belo Horizonte,

desde o início do século XX e propõe uma matriz analítica com o objetivo de

caracterizar cada um dos modelos ao longo desse período, abordando o ator (quem

institui o modelo), os objetivos, as políticas, saberes e tecnologias, organização e

assistência. Na visão do autor, a matriz proposta, não pode ser tomada como um

somatório de partes que caracterizam os modelos tecnoassistenciais. Essas dimensões

não teriam vida própria, mas constituiriam práxis sociais, de sujeitos sociais, em

constante processo de interação (disputas, criação de consensos, hegemonia). As

dimensões se interpenetram e se condicionam mutuamente, constituindo articulações

concretas, sociais e históricas, das dimensões política, tecnológica, organizativa e

assistencial que possibilitam analisar os modelos tecnoassistenciais constituídos.

Visando analisar os modelos assistenciais em Saúde Suplementar propõe-se uma

matriz comparativa dos segmentos (Cooperativas Médicas, Empresas de Medicina de

Grupo, Auto-gestões e Seguradoras), que aborda o ator (quem institui o modelo), os

objetivos, as políticas, saberes e tecnologias, organização e assistência prestada.

O Quadro 1 apresenta a matriz com as dimensões analíticas propostas. Os objetivos

são entendidos como a definição dos propósitos que instituem o segmento. A

dimensão da política pretende caracterizar os atores implicados em cada segmento e

seus interesses disputantes, estabelecendo um mapa das relações entre os diversos

atores e verificando os graus de tensão entre os mesmos e as pactuações existentes

Page 21: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

21

que incidem sobre a modelagem dos serviços de saúde. Os modelos assistenciais

incorporam também uma dimensão articulada de saberes e tecnologias na sua

configuração, sendo importante caracterizar os saberes que sustentam e direcionam

essa organização. A dimensão organizativa aborda a maneira de operar em função

dos pressupostos e saberes, considerando a forma de gestão/ gerência, os recursos

financeiros empregados, o número de operadoras, o número de beneficiários, a

abrangência geográfica, a cobertura, as facilidades do acesso, as portas de entrada

(atendimento telefônico, call center), os fluxos e direcionalidades aos usuários, a

definição de referência/contrareferência, a hierarquização da rede. A dimensão

assistencial caracteriza ss redes assistenciais constituídas, as diferentes modalidades

da atenção especializada, a assistência à alta complexidade e à saúde mental,

considerando-se os equipamentos existentes, hospitais e leitos, a existência de

práticas de prevenção (educação para a saúde), assistência farmacêutica, atividades

domiciliares e outras.

O preenchimento dessas dimensões deu-se em função dos dados disponíveis na

literatura, portanto tivemos dificuldades no sentido da padronização das fontes, o que

fez com que utilizássemos diversas fontes e anos distintos para a obtenção das

dimensões propostas.

A matriz (Quadro 1) serve como exercício de aproximação do objeto, possibilitando

abordar o macro ator (no caso, quem institui) e a sua forma de operar no respectivo

segmento, os principais objetivos do segmento, as principais disputas, os saberes e

tecnologias determinantes do campo, a macro organização para operar a assistência e

o quantitativo de alguns procedimentos realizados por segmento. São aproximações

iniciais que possibilitam um recorte ainda imperfeito. O aprofundamento no tema

implicaria em outros instrumentos, outros desenhos metodológicos, possibilitando

novos olhares. A seguir apresentamos o Quadro 1 e a caracterização geral dos

segmentos da saúde suplementar e uma aproximação do modelo assistencial

praticado.

Page 22: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

22

Quadro 1- Caracterização do Modelo Técnico Assistencial da SaúdeSuplementar implantado por segmento

Dimensão doMTA

Cooperativas Médicas Medicina de Grupo Autogestão Seguradoras

I- Objetivos

Valorizar o trabalho médico eprover soluções de saúde,assegurando a satisfação dosseus clientes (UNIMED/BH,2003).

Prestar assistência àsaúde através dosserviços próprios oucredenciados aosbeneficiários dos planoscoletivos e dos planosindividuais.

Proporcionarassistência àsaúde atrabalhadoresde empresaspúblicas ou desetoresestratégicos daeconomia,através desistemas desaúdesupletivos quesãoadministradosdiretamentepela instituiçãopatrocinadoraou por umainstituiçãoassistenciale/ouprevidenciáriadiretamenteligada a ela.

Prestarassistência àsaúde porsistemasupletivo desaúde através deuma formaparticular deintermediaçãofinanceirasegundo a qual aempresaseguradora pagadiretamente aoprestador doserviço deatenção médicacredenciado oureembolsa asdespesas feitaspelo seguradosob regime delivre escolha.

Page 23: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

23

II Política:-Atoresinstituídos eInteressesdisputantes

Confederação das UnimedsDireção da entidade:representação e defesa dosinteresses das operadorasassociadasMédicos Cooperados:interesses na proteção dotrabalho médico em primeirolugar, remuneraçãosatisfatória e liberdade paraexercer sua atividade e mantera prática liberal.Rede prestadora –maximização dos lucros,expansão do mercado.Usuários (plano individual) –acesso a serviço de qualidadee menor custo.Usuário/empresa contratante(plano coletivo) – acesso aserviço de qualidade,satisfação do seu trabalhador,pronto restabelecimento,redução do custo.

ABRAMGE; SINAMGE;CONAMGE -representação e defesados interesses dasoperadoras associadas.Operadoras ou empresasde Medicinas de Grupo-capitalização emaximização dos lucros,disputa pela ampliação domercadoRede prestadora -maximização dos lucros,expansão do mercado. Usuários (planoindividual) - acesso aserviço de qualidade emenor custo.Usuário/empresacontratante (planocoletivo) – acesso aserviço de qualidade,satisfação do seutrabalhador, prontorestabelecimento, reduçãodo custo.

CIEFAS;ABRASPE;(UNIDAS)representaçãoe defesa dosinteresses dasempresasassociadas.Empresasmantenedoras- acesso aserviço dequalidade,satisfação doseutrabalhador,prontorestabelecimento redução doscustos.Sindicatos -representaçãoe defesa dosinteresses dosseusrepresentados(trabalhadores).Redeprestadoraprópria -qualidade,redução decustos.Redeprestadoracontratada -maximizaçãodos lucros,expansão domercado.Beneficiários –acesso aserviço dequalidade,redução dosdescontos emfolha.

FENASEG -representação edefesa dosinteresses dasoperadorasassociadas.Direção daseguradora -capitalização emaximização doslucros, disputapela ampliaçãodo mercadoRede prestadora- maximizaçãodos lucros,expansão domercado. Usuários (planoindividual) -acesso a serviçode qualidade emenor custo.Usuário/empresacontratante(plano coletivo)– acesso aserviço dequalidade,satisfação doseu trabalhador,prontorestabelecimento, redução docusto.

Page 24: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

24

Dimensão doMTA

CooperativasMédicas

Medicina deGrupo

Autogestão Seguradoras

III- TecnológicaSaberes

Clínica,Planejamento,Economia dasaúde, promoçãoà saúde

Clínica,Planejamento,Economia dasaúde

Clínica,Planejamento,Economia da saúde,promoção à saúde,Epidemiologia

Clínica, Planejamento,Economia da saúde.

IV - OrganizativaNo deBeneficiáriosNo deOperadoras

8,2 milhões declientes; 315UNIMEDsSingulares(BRASIL, 2002).2 Confederação e34 Federações

18,2 milhões debeneficiários, 800operadoras(ABRAMGE,2002)ou- 11 milhões debeneficiários e627 operadoras(Medicina deGrupo) e 883 milbeneficiários e102 operadoras(filantrópicas) –cadastro ANS(BRASIL, 2002a)

11 milhões debeneficiários (em2000 e 364empresas ouentidades(TEIXEIRA, et al2002).4,7 milhões debeneficiários e 285empresas (BRASIL,2002a)

5 milhões de beneficiários e40 operadoras de seguro-saúde em 1998, (BAHIA,2002).5,2 beneficiários e 13operadoras de seguro-saúde(BRASIL, 2002)

Recursosfinanceiros

Faturamento 5bilhões(ABRAMGE,2002)

Faturamento 6,2bi (ABRAMGE,2002)

Faturamento: 5,74bilhões de reais em1997 (KORNIS &CAETANO, 2002)

Faturamento - cerca de 6bilhões de reais (FENASEG,2003)

Financiamento

O custeio dosplanos érealizado pelosbeneficiários(planoindividual), oupelas empresasparcial ouintegralmente(plano coletivo).

O custeio dosplanos érealizado pelosbeneficiários(planoindividual), oupelas empresasparcial ouintegralmente(plano coletivo).

O custeio dosplanos é co-participação entreempresas eempregados(80,7%). Em14,5% dasempresas o custeioé integralizadopelos usuários ouentidades,enquanto que emapenas 4,8% éintegralizado pelasempresasmantenedoras dosplanos (CIEFAS,2000).

O custeio é realizado pelosbeneficiário (planoindividual) ou pagamento daempresa parcial ouintegralmente (Planocoletivo). Operam com umsistema de pre-pagamentoem que o contratante pagaantecipadamente pelosserviços e tem direito àcobertura dos eventosprevistos no contrato

AbrangênciaGeográfica,cobertura

Atinge 76% dosmunicípiosbrasileiros.Dependendo dacooperativa aabrangência énacional,estadual ouregional.

Abrangêncianacional,estadual ouregional,dependendo daoperadora. 57%dos beneficiáriosresidem noestado de SãoPaulo, 17% noRio de Janeiro e10% no RioGrande do Sul.

Dependendo daautogestão aabrangência énacional, estadualou regional

Na maioria a abrangência énacional.

Page 25: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

25

Dimensão doMTA

CooperativasMédicas

Medicina deGrupo

Autogestão Seguradoras

O acesso se dápor demandaespontânea àrede de médicoscooperados eserviços deprontoatendimento.AlgumasUNIMEDs temimplantadodiretrizes deregulação como:protocolosclínicos,estímulosfinanceiros aosmédicos queseguem oprotocolo), callcenter,autorizaçãoprévia dedeterminadosprocedimentos,co-pagamento.

O padrão de oferta deserviços é muitoheterogêneo entre asdiversas operadoras.Algumas apresentammecanismossistemáticos deatenção gerenciadapara regulação doacesso e da utilizaçãode serviços, como:call center,atendimento on line,autorização prévia deprocedimentos, co-pagamento,referenciamento derede, protocolos.

Organizam suasredes mediantecredenciamentode provedores.Regulação daporta de entrada:76,7% afirmamque fazemautorização préviaparaprocedimentoseletivos, 70%utilizammecanismos deco-participaçãopara regular oconsumo, 15%utilizam-se dedirecionamento daclientela, comoreferenciamento ehierarquização e10% fazem usode franquia. (CIEFAS, 2000)

O acesso se dáprioritariamentepor mecanismosde regulaçãocomo call center,atendimento online, centrais deatendimentos 24horas ou mesmomédico-reguladorpara autorizaçãoprévia deprocedimentos

Page 26: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

26

IV OrganizativaAcesso –facilidades,atendimentotelefônico, callcenter, porta deentrada,referência-contrareferência,hierarquização

O acesso se dápor demandaespontânea àrede de médicoscooperados eserviços deprontoatendimento.AlgumasUNIMEDs temimplantadodiretrizes deregulação como:protocolosclínicos,estímulosfinanceiros aosmédicos queseguem oprotocolo), callcenter,autorizaçãoprévia dedeterminadosprocedimentos,co-pagamento.

O padrão de oferta deserviços é muitoheterogêneo entre asdiversas operadoras.Algumas apresentammecanismossistemáticos deatenção gerenciadapara regulação doacesso e da utilizaçãode serviços, como:call center,atendimento on line,autorização prévia deprocedimentos, co-pagamento,referenciamento derede, protocolos.

Organizam suasredes mediantecredenciamentode provedores.Regulação daporta de entrada:76,7% afirmamque fazemautorização préviaparaprocedimentoseletivos, 70%utilizammecanismos deco-participaçãopara regular oconsumo, 15%utilizam-se dedirecionamento daclientela, comoreferenciamento ehierarquização e10% fazem usode franquia. (CIEFAS, 2000)

O acesso se dáprioritariamentepor mecanismosde regulaçãocomo call center,atendimento online, centrais deatendimentos 24horas ou mesmomédico-reguladorpara autorizaçãoprévia deprocedimentos

Gestão/gerência

O Sistema deGestão daUNIMED éformado pelosseguintesórgãos:ÓRGÃOSSOCIAISI - A AssembléiaGeral;II - O ConselhodeAdministração;III - O ConselhoFiscal;IV - O ConselhoTécnico.

A gestão dos planos éfeita por cada umadasempresas/operadoras,que constituemorganizaçõesindependentes.

Administração dosplanos: 24% éfeita através dosdepartamentosdas empresas,21% porfundações, 21%por associações,13% por caixas deassistência, 5%por caixasprevidenciárias,2% por sindicatose 14% por outrasmodalidades(CIEFAS, 2000).

A gestão dosplanos é feitapelasseguradoras, ouBancos(acionistas)

V Assistencial RedesAssistenciais,(No deequipamentos,hospitais, leitos)

Rede Prestadora:40 Hospitaispróprios e3.125 Hospitaiscredenciados2185 Leitospróprios283000 - Leitoscredenciados87621 médicoscooperados16500empregados CLT260000empregadosindiretos, em1997 (KORNIS &CAETANO, 2002)

220Hospitais próprios4000 Hospitaiscredenciados 20400 Leitos próprios 363000 Leitoscredenciados 27500 médicos CLT85000 médicoscredenciados72500 empregadosCLT168000 empregadosindiretos, em 1997(KORNIS & CAETANO,2002).

8000 empregadosCLT60000empregadosindiretos1000 hospitaiscredenciados e50.000 Leitoscredenciados em1997 – (KORNIS& CAETANO,2002)

4.000 hospitaiscredenciados5000 empregadosCLT90000empregadosindiretos45.000 médicoscredenciados,300.000 Leitoscredenciados, em1997 (KORNIS &CAETANO, 2002)

Page 27: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

27

Dimensão doMTA

Cooperativas Médicas Medicina de Grupo Autogestão

V - AssistencialEspecialidades,altacomplexidade,saúde mental

Ofertam especialidades médicas,algumas cooperativas ofertam deserviços de alta complexidade,pouco freqüente a disponibilidadede serviços de saúde mental.

Ofertam especialidades médicas.Algumas operadoras têm oferta deserviços de alta complexidade narede própria e/ou credenciada,sendo pouco freqüente adisponibilidade de serviços desaúde mental.

Ofertam especialidades mDesenvolvem atendimenalta complexidade incluinsaúde mental.

Procedimentos realizados

4,7 consultas per capita/ano e50,2 milhõesconsultas/ano; 968.000internações/ano ou 0,091 internaçõesbeneficiários, em 1997(KORNIS & CAETANO,2002)

95,3 milhões de consultas,5,18consulta/beneficiário/ano,2,14 milhões de internações,82,65 milhões de exameslaboratoriais, 13,60 milhõesde exames radiológicos, 5,4milhões de Ultra-som,394.000 partos, 13,33milhões de sessões defisioterapia, 150.000quimioterapias, 1 milhão deradioterapias (ABRAMGE,2002)

3,15 consultas per cano e2,22 exames/consul(CIEFAS, 2000)28 milhões deconsultas/ano ou 3,5consultas/beneficiárimil internações/ano,0,113internações/ano/beno, em 1997, (KORNICAETANO, 2002)

Práticas deprevenção –assistênciafarmacêutica,atividadesDomiciliares,educação paraa saúde

Atividades de Promoção àSaúde: através depropagandas de bonshábitos, veiculadas para osbeneficiários e sites dasentidades. (ex: use acamisinha, aproveite asférias e leve seu filho aooftalmologista). AlgumasUNIMEDS ofertamatividades domiciliares(como por ex. o programaUnibaby com visitas daenfermeira à puérpera ebebê nos primeiros mesesde vida). Algumasfornecem medicamentos apreço de custo aosusuários.

As maiores operadorasoferecem programas deassistência farmacêuticatanto para aquisição demedicamentos a menorescustos como pararessarcimento de algunsmedicamentos de usocrônico. Recentemente estãosendo desenvolvidosprogramas de prevenção dedoenças comoacompanhamentosambulatoriais de grupos derisco, puericultura, vacinação

Atendimento domicilpós-desospitalização59,5% dos planos, aterapia ocupacional e54,8% e o atendimedomiciliar de urgêncconcedido em 38,1%planos de saúde. Alédisso, 74,4% dos plaofertam também bencomo farmácia, 48,8remoção aérea, 44,7aparelhos ortopédico39,5% serviço de ótDesenvolvem tambéações preventivas sodoenças e agravos ade orientação e prev(CIEFAS, 2000)

Maioresempresas

UNIMED PaulistanaUNIMED BHUNIMED RioUNIMED Campinas

AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICAINTERNACIONALAMICO ASSISTÊNCIAMÉDICAINTERMÉDICA SISTEMAS DESAÚDE INTERCLÍNICASASSISTÊNCIA MÉDICAMEDIAL SAÚDE

CASSIGEAP

Page 28: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

28

A garantia do cuidado e a regulação do processo de trabalho em saúde

No que se refere ao modelo de assistência na saúde suplementar há que se indagar

sobre os mecanismos de acesso aos diferentes níveis de complexidade e a

resolutividade dessas ações. Essas características são fundamentais na análise do

modelo assistencial, remetendo-nos à conclusão da indissolubilidade da discussão da

regulação e da assistência, na garantia do acesso à rede de serviços em todos os

níveis necessários. Visando fundamentar essa análise, discutiremos a seguir alguns

aspectos na garantia da assistência ou do cuidado.

A ação cuidadora implica em mecanismos de responsabilização por parte da operadora

e dos produtores de serviços, implica em cuidados específicos, em uma ação integral,

na qual não ocorrem a interrupção e a segmentação do cuidado.

Visando aprofundar essas questões iremos discutir a "linha de cuidado", como

mecanismo adequado para a análise do usuário no seu "percurso assistencial". Nesse

desenho abordaremos inicialmente o processo de trabalho em saúde, a relação que

ocorre no cotidiano envolvendo usuários e produtores de serviços, as disputas

colocadas, as tensões. Dessa forma iremos buscar elementos que nos revelem com

mais clareza a assistência prestada, as interações ocorridas entre o usuário, o

prestador e a operadora. Visando fundamentar a abordagem recuperaremos alguns

conceitos sobre processo de trabalho em saúde.

O diagnóstico da crise estrutural do setor saúde e do esgotamento da forma de se

produzir saúde, segundo as diretrizes biologicistas do ensino médico e os interesses

de mercado, vem sendo discutido há décadas por diversos autores: Donangelo

(1976), Arouca (1975), Campos (1992), Merhy (1992); Cecílio, (1994). Dentro do

“modelo médico produtor de procedimentos”, ou Modelo Médico Hegemônico, a

assistência à saúde se tornou algo extremamente sumário, centrado no ato prescritivo

que produz o procedimento, não sendo consideradas as determinações do processo

saúde-doença centradas nas condições sociais, ambientais e relacionadas às

subjetividades, valorizando apenas as questões biológicas. Outro problema do modelo

atual está no seu custo, extremamente elevado, porque utiliza como insumos

principais para a produção, recursos tecnológicos centrados em exames e

medicamentos, como se estes tivessem um fim em si mesmo e fossem capazes de

restabelecer a saúde por si só. São produzidos atos desconexos sem uma intervenção

Page 29: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

29

competente, articulada, cuidadora, reduzindo-se, portanto, a eficácia da assistência

prestada nos serviços de saúde.

Outro movimento que vem produzindo a fragmentação do cuidado consiste na

crescente especialização dos médicos e demais profissionais da saúde, o que acarreta

na redução da capacidade resolutiva, da abordagem da integralidade, aumentando a

alienação desses profissionais em relação ao trabalho e seus resultados. Uma vez que

cada especialista se encarrega de uma parte da intervenção, em tese ninguém pode

ser responsabilizado pelo resultado do tratamento. Este modelo se aplica também no

cotidiano da clínica, ocorrendo uma progressiva perda da eficácia das práticas clínicas,

diminuindo a resolubilidade dos profissionais. Por sua vez, as áreas básicas tendem a

funcionar cada vez mais como "triadoras", avaliando riscos e encaminhando para

outros. Isto implica mais e mais especialistas envolvidos, demanda por mais apoios

diagnósticos, maior custo e maior imposição de sofrimento e restrições aos pacientes.

Para se repensar novas modelagens assistenciais, assentadas em diretrizes com a

integralidade do cuidado, o vínculo e a responsabilização, há que se aprofundar o

debate sob novos fundamentos teóricos, particularmente sobre a natureza do

processo de trabalho, particularmente a sua micropolítica e a sua importância na

compreensão da organização da assistência à saúde.

Propostas alternativas de modelagem dos serviços de saúde buscam incorporar outros

campos de saberes e práticas em saúde e configurar outras formas de organização da

assistência anti-hegemônicas. Estas ações diferenciadas na produção da saúde

operam tecnologias voltadas à produção do cuidado, apostam em novas relações

entre trabalhadores e usuários, tentando construir um devir para os serviços de

saúde, centrado nos usuários e suas necessidades. Este é atualmente, o contraponto

à crise vivida pela saúde e indica um caminho novo a ser percorrido para sua

superação.

O trabalho em saúde possui especificidades que o diferenciam dos outros trabalhos.

Implica em um espaço relacional, envolvendo o usuário e o produtor. Mesmo com os

atravessamentos das operadoras e administradoras, essa relação intercessora entre o

cliente e o produtor de saúde se dá em ato, em cada encontro e produz momentos

criativos, carregados de subjetividades que são determinantes no processo de

recuperação da saúde.

Page 30: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

30

Portanto, ao falar de modelo assistencial, a dimensão do processo de trabalho em

saúde não pode ser de maneira alguma preterida, pois depende essencialmente do

trabalho humano, vivo e em ato, sendo essa característica fundamental e

insubstituível. O trabalho ocorre através das relações que são estabelecidas no

encontro entre os indivíduos trabalhadores e os usuários.

O consumo de ações de saúde difere do consumo de serviços em geral, pois não se

operam escolhas livres no ato da decisão do consumo. O usuário não se porta como

um consumidor comum diante da mercadoria, em função de ser desprovido de

conhecimentos técnicos e por não deter as informações necessárias para a tomada de

decisão sobre o que irá consumir. Não cabem as premissas comuns ao mercado, como

a livre escolha e a concorrência. Muitas vezes o consumo em saúde é imposto por

situações de urgência emergência, quando até a escolha do serviço e do profissional

torna-se muitas vezes imposta por outros determinantes, como por exemplo a

proximidade e a disponibilidade.

Revisitaremos alguns conceitos que se tornam fundamentais para subsidiar os marcos

teóricos desse trabalho, dentre eles, o do "trabalho vivo", que refere-se ao trabalho

em ato, o trabalho criador; liberado pelos profissionais de saúde no momento do ato

cuidado; o seu oposto, o "trabalho morto", que consiste no trabalho aprisionado e

mecânico, comum nas linhas de produção, mas também pode estar presente na saúde

quando comandado pelas "tecnologias duras" (equipamentos, exames) e "leve-duras"

(saberes bem estruturados como a Clínica Médica, a Psicanálise, a Epidemiologia, os

protocolos delas decorrentes). O desejável é que o trabalho vivo em saúde opere com

as "tecnologias leves" (saberes que resultam na produção do cuidado em saúde),

liberando assim o potencial transformador e qualificando a assistência (MERHY,

1997a; MALTA & MERHY, 2003).

No setor saúde mesmo que o “trabalho vivo” seja “capturado” pelas tecnologias mais

estruturadas, descritas como duras e leve-duras, ou se estiver também submetido ao

controle empresarial, o "espaço intercessor" referente ao encontro entre o usuário e o

profissional de saúde, abre possibilidades de mudanças e de atos criativos, sempre

podendo ser recriado. Este encontro é singular e sempre opera em ato, tornando

difícil capturar o "trabalho vivo" na saúde. Este espaço relacional é sempre

Page 31: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

31

conflituoso, tenso, existindo diversas possibilidades de desdobramentos, tornando-se

um momento especial, portador de forças "instituintes" (MERHY, 2002).

A potencialidade desse encontro pode ser, entretanto, "amordaçada", em função do

modelo de assistência praticado e dos seus pressupostos; poderíamos afirmar que, na

maioria das vezes na Saúde Suplementar, os espaços intercessores são preenchidos

pela "voz" do profissional de saúde e pela "mudez" do usuário. Esta relação em saúde

deveria ser não "objetal", comandada pelo autoritarismo" do profissional e baseada na

"mudez" do usuário, mas do tipo "interseção-partilhada", ou seja, onde acontecessem

trocas, compartilhamentos, seja pela ética do profissional, pela sua disponibilidade de

liberação de saberes e atos cuidadores, seja pela busca do usuário em restabelecer

sua autonomia. O espaço intercessor é o lugar que revela estas disputas das distintas

forças e mesmo que se torne invadido pelas forças instituídas, as forças instituintes

estarão sempre gerando "ruídos" em seu interior. Ou seja, cotidianamente, ocorrem

processos silenciosos nas relações entre os agentes institucionais, até o momento em

que esta lógica funcional é rompida. Estes "ruídos" devem ser percebidos como

processos instituintes que abrem possibilidades de interrogação sobre o modo

instituído (MERHY, 1997b; MERHY, 2002; BAREMBLIT, 1996).

No caso da Saúde Suplementar cumpre conseguir captar e entender estes "ruídos".

Um momento muito claro nesta ruptura ocorre quando o usuário se dirige ao site da

ANS e faz a sua denúncia, ou às entidades de defesa do consumidor e formula sua

queixa. Esses ruídos devem ser monitorados, pois consistem em um observatório do

funcionamento do sistema.

Analisar a Saúde Suplementar implica em também interrogar o processo de liberação

do trabalho vivo e sua potencialidade instituinte e criadora. Para assegurar a

qualidade em saúde, faz-se necessário combinar a autonomia profissional com certo

grau de definição de responsabilidade dos profissionais de saúde com os usuários,

recuperando a prática clínica assentada no "vínculo" e na responsabilização com o

usuário, combinando autonomia e responsabilidade profissional (MALTA & MERHY,

2003).

A compreensão da importância de se operar sobre o trabalho vivo, visando o seu

controle e assim a reformulação do processo produtivo, já vêm de longa data. Desde

o Século XIX, Taylor estudou a gerência científica e como expropriá-la do seu

Page 32: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

32

processo criativo, visando a maximização dos lucros, evoluiu com o fordismo, o

toyotismo, Total Quality Control e outros. Recentemente nos EUA, desenvolveu-se por

parte das administradoras de planos e seguros, uma intervenção sobre o processo de

trabalho, visando a sua captura e o direcionamento para outras lógicas, não no

sentido da sua publicização e do seu direcionamento para práticas em prol do usuário,

ao contrário, a serviço do capital. Essa perspectiva significa um novo ciclo, uma nova

captura do trabalho, onde novamente o capital percebe a importância do "trabalho

vivo" e introduz mecanismos de regulação do mesmo, através da atenção gerenciada.

Segundo Iriart (2000), a atenção gerenciada se caracteriza pela organização de

serviços de atenção à saúde sob o controle administrativo de grandes organismos

privados, financiados pela captação de usuários. Estes organismos intermediam a

relação entre produtores de serviços e consumidores, e um ator fundamental é o

capital financeiro, externo ao setor de saúde (IRIART, 2000).

Os estudos em torno da “atenção gerenciada”, vão apontando para um processo

produtivo e de consumo, organizando uma rede articulada, pactuada entre diversos

atores, a saber, a operadora do plano, os prestadores e usuários. Ao mesmo tempo,

os processos produtivos vão transitando de um formato em que os processos de

trabalho operados a partir do médico, passam de uma liberalidade e autonomia, para

outro em que há uma certa regulação e controle das ações clínicas do profissional,

mas que ainda mantém a lógica produtiva centrada nas tecnologias duras e leve-

duras (FRANCO, 2002).

A Atenção Gerenciada representa o controle do ato médico, operando a relação

custo/efetividade, alterando a lógica de produção do cuidado. A Atenção Gerenciada

não tem “a priori” uma preocupação com a produção do cuidado, do ponto de vista do

atendimento às necessidades do usuário, mas uma ação reguladora externa, visando

a redução de custos. O processo de trabalho permanece centrado no modelo de

“produção de procedimentos". Um elemento chave no processo de implantação da

atenção gerenciada é a introdução de um ator “auditor”, na pessoa de um

administrador, como autorizador de procedimentos, guiado por protocolos técnicos,

onde este conduz o controle dos atos médicos, limitando-os de acordo com a

eficiência pretendida do sistema. O auditor, que no caso representa interesses do

operador do plano, fica entre o prestador (no caso o médico) e o usuário (detentor da

Page 33: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

33

necessidade), e se coloca como o regulador do uso das tecnologias de cuidado. Todo

comando é realizado pela lógica administrativa. Procedem-se também mudanças

organizacionais importantes, visto que o contrato de trabalho entre o operador e

prestador é estruturado nos termos de uma nova pactuação da sua relação, onde o

critério do ato prescritivo é determinado geralmente por protocolos, seguindo a lógica

dos instrumentos administrativos e metas de consumo/receitas do respectivo

operador do plano de saúde. Portanto, centra-se no trabalho morto para operar um

controle externo (FRANCO, 2002).

Segundo Merhy (2002) o setor da Saúde Supletiva tem experimentado, nos últimos

anos, uma importante mudança no sentido de otimizar custos na produção da saúde,

“toma-se a possibilidade de transferência do processo de decisão, sobre as ações de

saúde a serem realizadas nos serviços, do campo das corporações médicas para os

dos administradores, como uma estratégia vital para atacar a relação custo-benefício

do sistema. Mas este não é o campo restrito de intervenção dessas propostas, pois ela

também se filia a um outro conjunto de estratégias que visam a reorganização dos

modelos de atenção partindo da ação dos prestadores privados, centrados nas

políticas das instituições seguradoras e financeiras” (MERHY, 2002:69-70).

Essa prática vem sendo reproduzida por operadoras de planos e administradoras não

somente no mercado americano, mas são difundidas sem fronteiras, representando

uma nova reconfiguração do capital, absorvendo novas estratégias que visem novos

controle e regulações do setor. Por isso a perspectiva de repensar o processo de

trabalho a partir da sua micropolítica é tão vital para a Saúde Suplementar. Essa pode

ser uma nova perspectiva na recriação de uma nova forma de atuar.

Como criar novos formatos do trabalho em saúde, que se pautam pela resposta ao

sofrimento dos usuários? Como buscar novas formas de prestação de assistência que

possam dar proteção ou resolução aos problemas dos usuários? Como os modelos de

assistência podem romper com a fragmentação e descompromisso hoje existentes?

Como pactuar um modelo nos pressupostos de garantia do acesso, acolhimento aos

clientes, responsabilização, estabelecimento de vínculo e integralidade da assistência?

Como democratizar a relação profissional e usuário? Seria possível criar espaços de

acolhida às demandas e sugestões dos clientes na gestão do cuidado?

Page 34: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

34

Não é fácil construir novos referenciais, mas a Saúde Suplementar terá que ser

repensada sob essas novas bases, assentando-se em atos cuidadores, que retomem a

dimensão do vínculo no seu cotidiano, orientando o seu papel regulador a partir da

ótica do usuário. Visando aprofundar essa reflexão iremos levantar a discussão das

redes de cuidado e as suas implicações nessa nova modelagem.

As linhas de produção do cuidado como analisadoras do modelo

tecnoassistencial na Saúde Suplementar.

Segundo Merhy & Cecílio (2003), o desenho da linha do cuidado entende a produção

da saúde de forma sistêmica, a partir de redes macro e micro institucionais, em

processos extremamente dinâmicos, as quais está associada a imagem de uma “Linha

de Produção” voltada ao fluxo de assistência ao beneficiário, centrada em seu campo

de necessidades.

A concepção da linha do cuidado parte da “missão” institucional do

estabelecimento/serviço de saúde, definida a partir de quais produtos, para que

clientela e com quais características (CECÍLIO, 1997). Entende-se, portanto, que a

linha do cuidado pressupõe produtos, clientela e qualidade da assistência, sendo

alimentada por recursos/insumos que expressam as tecnologias a serem consumidas

durante o processo de assistência ao beneficiário, funcionando de forma sistêmica e

operando vários serviços. Esta tem início na entrada do usuário em qualquer ponto,

seja em serviços de urgência, consultórios ou clínicas da operadora ou

contratada/conveniada com a mesma. A partir deste lugar de entrada, abre-se um

percurso que se estende conforme as necessidades do beneficiário por serviços de

apoio diagnóstico e terapêutico, especialidades, atenção hospitalar e outros (MERHY &

CECÍLIO, 2003).

O fluxo pressupõe um nível de acompanhamento, ou de responsabilização da

operadora/prestador cuidador por esse usuário. O consumo de "tecnologias duras"

(exames, imagens, procedimentos), implicará no retorno ao "cuidador" que definirá

sempre pela necessidade de novos procedimentos, ou pela instituição de determinada

terapêutica. A figura do cuidador é central e pressupõe o uso intenso da "tecnologia

leve" (dos saberes, da capacidade de decisão do profissional). Este é um espaço

relacional pleno de subjetividades, implicando no encontro entre o usuário e o

cuidador. O caminhar pela linha de cuidado pressupõe a existência de uma rede se

Page 35: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

serviços que suporte as ações necessárias, o projeto terapêutico adequado àquele

usuário, que comandará o processo de trabalho e o acesso aos recursos disponíveis à

assistência. Esse fluxo se faz sempre marcado por subjetividades, pelo encontro

singular entre o profissional e o usuário. Não se faz esse percurso de forma impessoal,

mecânica, desvinculada de sentimentos e impressões.

Essa dimensão tem se deslocado no processo assistencial atual, que ocorre centrada

em procedimentos, atos desconexos e fragmentados, como que substituindo os

mecanismos de responsabilização.

A retomada de uma perspectiva de um projeto terapêutico adequado a cada usuário

na sua singularidade, implica em um fluxo contínuo, monitorado, e controlado pelo

atores que figuram como “gestores do cuidado”, ou cuidadores

Diversos são o que influenciam a linha do cuidado esponsáveis pela

sua (des)contin

os prestadores

definição de fl

tecnologicamen

papel regulado

condição para s

A análise da li

diversos segm

beneficiário, qu

de acesso, uti

promoção e os

Ao analisar o

centrado no ca

terapêutico qu

segurança no a

e promoção, ou

As linhas de cu

diversos atores

e intencionalid

s atores

uidade. Há os beneficiários que buscam ass

que regulam seu funcionamento, através da

uxos, os profissionais de saúde que opera

te determinados e a Agência Nacional de Sa

r. Neste sentido, ocorre um grande pacto,

ua existência e eficácia no cuidado aos benef

nha de cuidado possibilita mapear todos os

entos da saúde, avaliar as tecnologias u

anto ao tipo, fluxos, mecanismos de regulaç

lização dos recursos das clínicas especializ

ruídos produzidos.

caminhar do usuário na linha, pode-se ve

mpo de necessidades dos usuários, determi

e lhe é indicado, a sua acessibilidade ao

tendimento, seguimento de tratamento, aco

ao contrário, se ocorre a interrupção da assi

idado possibilitam descrever e avaliar a pac

implicados com a estruturação e funcioname

ade na estruturação da assistência à sa

, sendo r

35

istência; as operadoras e

pactuação de contratos e

m processos de trabalho

úde Suplementar, no seu

entre estes atores, como

iciários (FRANCO, 2003).

recursos disponíveis nos

tilizadas para assistir ao

ão, tentativas de negação

adas, vigilância à saúde,

rificar se este fluxo está

nado pelo suposto projeto

s serviços, comodidade,

mpanhamento, orientação

stência.

tuação existente entre os

nto, a sua contratualidade

úde dos beneficiários. O

Page 36: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

36

esperado é de um “caminhar” na rede de serviços, que seja seguro e tranqüilo, sem

obstáculos, pois isto garantirá a qualidade da assistência.

Importa registrar ainda que a “linha de produção do cuidado” não se encerra no

momento em que é estabelecido o projeto terapêutico, ela deve continuar,

dependendo do modelo assistencial que opera nesta linha, através do

acompanhamento deste usuário para garantir a integralidade do cuidado, conforme

fluxograma (Figura 3).

Figura 3 - Fluxograma da Linha de Produção do Cuidado em Saúde

Fonte: Franco (2003), modificado.

Cada etapa deste fluxograma configura um micro-processo de trabalho específico,

determinado pelos atos de cada produtor de serviços/profissional de saúde envolvido

no que se desenvolve ao longo da “linha do cuidado”, como uma determinação maior

da produção da saúde, o consultório médico, o laboratório, constituem micro-unidades

produtivas Os processos existentes em cada etapa, estarão integrados ou não,

dependendo do modelo produtivo em curso. Ele poderá se expressar de forma

partilhada ou integrada. O importante é perceber que os processos de trabalho

específicos de cada etapa acontecem em micro-unidades produtivas, na qual umas

fornecem insumos para outras.

O diagrama possibilita indagar sobre os cuidados fragmentados em diversos pontos da

cadeia. A seguir citamos alguns fatores que podem romper a linha de cuidado:

a) A ausência das práticas de promoção e prevenção pode ser determinante do

estímulo à entrada na rede de serviços. Essa preocupação tem sido objeto muitas

Entrada/Call Center

AmbulatórioConsulta

ExameConsultaespecializadaProcedimentoInternação

Tratamentorealizado

SaídaAcompanhamento

Produto final: Usuário cuidado.Autonomia do usuárioMonitorar por indicadores de saúde

Resultado

Retorno

Page 37: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

37

vezes de marketing, de anúncios nos sites das operadoras, mas não de uma

prática efetiva. Exemplos simples como a prática de vacinação em idosos, a

criação de grupos de acompanhamentos de hipertensos, diabéticos, idosos,

gestantes e puericultura, poderiam vincular clientelas específicas e evitar

consumos desnecessários de serviços. Enquanto essa prática não for assentada

em uma responsabilidade concreta da operadora, que resulte em ações efetivas de

promoção, muitas ações mais complexas e desnecessárias serão praticadas.

b) Deficiência da rede de serviços (insuficiência do apoio diagnóstico terapêutico),

inexistência de ofertas específicas (alta complexidade, exames não cobertos,

carências) e outros. Pode-se interrogar, por exemplo, se a rede de serviços

oferecida pela operadora é insuficiente seja pelo número, seja pelas

especialidades e ou complexidade disponíveis. Neste caso, o usuário, frente a sua

necessidade, não encontra resposta na rede disponibilizada pela operadora. O

mais comum é, no momento da adesão ao plano da operadora, ser apresentada

uma suposta rede credenciada e no momento da necessidade essa rede não se

encontra efetivamente à disposição, por descredenciamentos realizados, não

atualização dos manuais dos clientes, etc.

c) Devido à segmentação dos planos (plano hospitalar, plano ambulatorial, plano

obstétrico, plano odontológico). A segmentação por si só pressupõe a interrupção

da linha do cuidado. Os planos segmentados resultam no parcelamento do

cuidado. No plano ambulatorial, as consultas de urgência, mesmo quando

necessárias, não são seguidas da internação, tornando novamente o usuário

responsável por encontrar a solução para seus problemas de saúde.

d) Atitudes de desresponsabilização do cuidador (não vinculação, saber insuficiente,

negação ou cerceamento de uso de tecnologias adequadas, retardo ou não

fechamento do diagnóstico, não oferta de mecanismo de acolhida às demandas

agudas). Fragmentação do processo de atenção à saúde, centrado na execução de

procedimentos, o que leva o usuário buscar novas alternativas assistenciais, numa

seqüência totalmente determinada por ele. Como não existe um responsável pelo

cuidado, a repetição de procedimentos desnecessários torna a atenção mais

onerosa e ineficiente.

Page 38: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

38

e) Atitudes de cerceamento ao acesso por parte da operadora. A regulação do

cuidado por parte da operadora está centrada no processo restritivo. Para isto são

criados inúmeros passos e autorizações para que o usuário tenha acesso ao

cuidado (call center adiando as entradas - fila de espera, limites de exames,

limites de diárias de UTI, restrição a retornos). Baseados numa falsa lógica de

racionalidade, estão colocadas restrições quantitativas e qualitativas à

procedimentos, bem como o não atendimento a patologias específicas. Outra

forma de restrição constitui-se no não acesso à tecnologias específicas como

próteses e procedimentos de alta complexidade e custo.

f) Prestador com falta de insumos, perda de exames, qualidade questionável na

prestação de assistência. Essa interrupção ocorre quando a rede própria e ou

contratada pela operadora, devido à política de contenção de custos, apresenta um

nível de qualidade que não responde pelas necessidades de atenção do usuário,

que acaba por se responsabilizar pelo seu próprio cuidado. Faltam mecanismos

racionais na escolha de prestadores, como seleção por critérios de eficiência,

mecanismos de avaliação da qualidade do serviço prestado ou monitoramento de

indicadores de avaliação da satisfação dos usuários.

Para evitar a fragmentação da linha do cuidado dever-se-ia operar em outra lógica, ou

outro formato de modelo assistencial. O desejado é que o projeto terapêutico operado

na linha do cuidado fosse comandado por um processo de trabalho cuidador, e não

por uma lógica "indutora de consumo". Quando não existe um cuidador orientando

esse percurso, o usuário faz o seu caminhar de forma "anárquica", peregrinando pelas

redes de serviços. O que existem são vários indutores de procedimentos, que,

estimulados por interesses diversos, promovem consumos muitas vezes

desnecessários. Nesse caso, a marca é a desvinculação, onde muitas vezes o usuário

define o seu percurso e consumo pela rede de serviços, opta por novas e repetidas

procuras de novos profissionais e novos insumos, muitas vezes estimulado por

estratégias de marketing promotoras de consumo dos atos médicos, ou por

modismos. Essa "peregrinação" é altamente perversa, podendo levar à erros

diagnósticos, acessos negados, procedimentos mais onerosos e na não efetividade do

cuidado. Muitas vezes só o usuário consegue recuperar a história da sua peregrinação,

sendo o seu próprio "fio condutor".

Page 39: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

39

O grande desafio consiste em restabelecer uma nova prática, seja pelo estímulo à

promoção e prevenção, seja através de uma clínica referenciada no vínculo e na

responsabilização. A própria operadora poderia estimular a prática da vinculação a

cuidadores. Por exemplo, pode-se mapear certos grupos de risco (idosos, diabéticos,

hipertensos), ou certos ciclos de vida (gestantes, menores de 1 ano), estimulando os

usuários a se vincularem a "cuidadores". Os cuidadores teriam usuários cadastrados

nos quais fariam acompanhamento sistemático, com retornos programados, definição

de um projeto terapêutico adequado a cada situação, estimulando a participação em

grupos educativos, o acompanhamento e monitoramento desses usuários com algum

risco diferenciado. No caso da gestante de alto risco implicaria também na definição

de centros de referência ao parto; no caso das crianças menores de 1 ano o

acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, avaliação do uso das vacinas,

alimentação, pronto atendimento às intercorrências; no caso dos hipertensos e idosos,

o acompanhamento da medicação de uso contínuo, a garantia do atendimento aos

casos agudos, enfim, a garantia da continuidade do processo, o contato quando o

retorno não foi cumprido, a informação sobre as intercorrências, possíveis internações

e de todo o processo assistencial.

Eventos sentinelas como marcadores da produção do cuidado

Uma grande vantagem de se trabalhar na perspectiva de mapear a linha de cuidado,

está na possibilidade de acompanhar o seu fluxo, monitorando situações inadequadas,

ou as situações de alerta. Nessa perspectiva propõe-se o mapeamento da linha de

cuidado, tomando-se situações traçadoras, como marcadoras dos eventos "atípicos".

O monitoramento poderá ocorrer através de indicadores selecionados, advindo das

ocorrências não esperadas, que sejam "ruidosas" o suficiente para alertar sobre a

exceção ocorrida.

O evento sentinela constitui-se em evento não esperado e cuja detecção serve de

alerta para determinado fato sob observação. Na vigilância epidemiológica são

comumente definidos unidades de saúde sentinela, visando o monitoramento de

grupos alvos, ou determinadas doenças sob investigação (PEREIRA, 2000). No caso

da Saúde Suplementar, pode-se adotar o evento sentinela para determinadas

situações. No Sistema Único de Saúde, os Sistemas de Informação, possibilitam o

acompanhamento e monitoramento da situação de saúde, avaliando-se, por exemplo,

Page 40: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

40

o quadro de morbidade hospitalar pelo Sistema de Informação Hospitalar (SIH), as

ações e procedimentos realizados na atenção básica, pelo Sistema de Informação

Ambulatorial (SIA) e Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). Ao contrário,

na Saúde Suplementar, não existem sistemas unificados que possibilitem o

acompanhamento dos dados epidemiológicos da rede de planos e seguros de saúde. O

acompanhamento existente na Saúde Suplementar, em geral, restringe-se aos atos

administrativos, contábil-financeiros e não no quadro de morbi-mortalidade.

A implantação do Sistema de Informação de Produtos (SIP), em 2002, pela ANS,

possibilitará o acompanhamento por operadora, de determinados eventos

procedimentos realizados junto à população beneficiária (procedimentos

ambulatoriais, internações, procedimentos coletivos, alguns indicadores, referentes à

população materno infantil e Saúde Bucal (BRASIL, 2002d).

A monitorização das linhas de cuidado na Saúde Suplementar poderá ser iniciada a

partir das informações existentes no Sistema de Informação de Produtos (SIP). Na

atenção à gestante os indicadores já coletados pelo SIP (taxa de internações por

transtornos maternos relacionados à gravidez, taxa de parto cesárea, taxa de

prematuridade, coeficiente de natimortalidade, taxa de utilização de UTI/CTI neonatal,

taxa de incidência de complicações no período de puerpério e outros), poderão ser

utilizados na avaliação da assistência, seja por série histórica, ou na comparação

entre operadoras. O uso dessas informações demandará a efetiva alimentação, análise

rotineira e retroalimentação do SIP, a fim de ele se torne, de fato, uma base de dados

consistente e que auxiliará no processo de monitoramento da Saúde Suplementar.

Algumas ocorrências podem ser tratadas como "evento sentinela", por exemplo, o

óbito infantil, ou materno, levantando-se por operadora os óbitos ocorridos e

desencadeando um processo investigativo das suas causas. Os Comitês de óbito

infantil e materno, já são uma realidade no país, e em diversos municípios, prestando

inúmeras contribuições no esclarecimento das causas de óbito (BRASIL, 2002e).

A literatura tem apontado diversos fatores determinantes da mortalidade infantil,

como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, principalmente no caso das

crianças de baixa renda (HADAD et al, 2003; LANSKY, 2002) a pequena escolaridade

materna, como fator marcador da desigualdade social, as condições inadequadas de

pré-natal e parto, dentre outros (VICTORA, 2001; HARTZ, et al,1996; FRANÇA et al,

Page 41: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

41

2001). Dentro deste contexto, espera-se que a população coberta por planos de saúde

tenha uma menor incidência desse evento. Por isso, o evento "óbito infantil" adquire o

contorno de “situação traçadora”, pois a sua ocorrência constitui-se em algo pouco

esperado, devendo resultar em investigação, que poderá responder a questões como:

Qual a causa do óbito? Foram condições relativas à restrição do acesso? Qual a

qualidade da assistência ao Pré-natal? Houve falta do cuidador? Como é a qualidade

da assistência ao parto? Essas indagações fazem parte do processo investigativo, que

deveria ser introduzido pelas operadoras, como evento rotineiro, em todas as

situações onde ocorrerem. Dessa forma poder-se-á estabelecer as respostas, servindo

com um dispositivo de garantia da qualidade da assistência prestada.

O Sistema de Informação de Nascidos (SINASC), já tem sido muito utilizado no

mapeamento das condições de assistência ao Pré-natal e ao parto (ACCIOLY, 1997;

COSTA, 1997), possibilitando o levantamento da qualidade das maternidades,

avaliando o diferencial nas taxas de mortalidade infantil e materna. O uso rotineiro do

SINASC e do SIM pode auxiliar no processo de gestão, e de monitoramento da “linha

de cuidado do parto”, mapeando os óbitos segundo serviço de ocorrência, as

condições dos nascidos e a definição de indicadores por maternidade. Um indicador

simples consiste na avaliação da taxa de cesáreas. A OMS preconiza até 15% de

partos cesáreos. Estabelecimentos e médicos tem praticado taxas muito maiores, o

que eleva o risco de mortalidade infantil e a taxa de prematuridade (WHO, 1985;

VICTORA, 2001).

Trabalhar com dados epidemiológicos na avaliação desses estabelecimentos, não é

uma prática na Saúde Suplementar, não existe sistematização de avaliação da

qualidade do desempenho dos estabelecimentos da rede conveniada. Assim, a

avaliação da assistência prestada pode iniciar pela eleição de eventos sentinelas,

possibilitando o monitoramento da linha de cuidado e o processo regulatório

assistencial. Outras linhas de cuidado podem e devem ser avaliadas, mas iniciar pela

linha de cuidado do parto, pode ser desencadeador de um novo olhar na qualidade da

assistência prestada, tanto pela facilidade de obtenção dos dados, tanto pela

existência do SIP, como instrumento já implantado e alimentado.

Outro desafio que se coloca consiste na implantação de um efetivo sistema de

informação na Saúde Suplementar. Os sistemas de informação prestam inestimáveis

Page 42: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

42

serviços à qualidade da assistência, pois possibilitam a captura de dados de forma

contínua, possibilitando avaliar a série histórica, dados dos serviços, comparar o

desempenho dos prestadores, o surgimento de agravos inusitados que necessitam de

acompanhamento, a notificação obrigatória, enfim subsidiando a tomada de decisão

(MOTA & CARVALHO, 1999). Essa discussão deve ser enfrentada pelo Ministério da

Saúde e ANS, visando a implantação das bases de dados similares ao SUS, com

registros individualizados de todos os pacientes internados, ou o Sistema de

Informação Hospitalar da Saúde Suplementar. Somente com registros individualizados

teremos um real controle da qualidade da assistência prestada, a comparação

fidedigna de indicadores epidemiológicos. Essa discussão deve ser enfrentada, pois

somente através de um controle público efetivo teremos a democratização dessas

informações. O Cadastramento Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES),

realizado em 2001, deverá ser um passo no sentido da implantação do Sistema de

Informação Hospitalar na Saúde Suplementar. Temos que ampliar o SIH para além

das informações referentes aos hospitais conveniados e contratados ao SUS.

Conclusão

O Estado inscreve suas políticas de proteção social, respondendo às principais

necessidades/finalidades em saúde, colocadas por aquela sociedade, definindo sua

forma de prestação de assistência, seu papel enquanto ordenador das políticas

públicas e privadas, regulando o setor como um todo. A Constituição Federal define os

seus princípios, materializados através do Sistema Único de Saúde, que se propõe

universal, integral e equânime. Ao setor privado cabe organizar-se de forma

complementar ao público.

O debate sobre modelos assistenciais em Saúde Suplementar não é desvinculado do

entendimento global do funcionamento do SUS. A compreensão e a regulação da

saúde supletiva deve considerar as experiências e modelagens produzidas no público,

com o objetivo de compará-las e de estabelecer novos conhecimentos.

A atuação do Estado na Saúde suplementar tem como marco a aprovação da Lei

9656/98, que estabeleceu um novo patamar no processo de regulação, entretanto há

que se aprofundar a natureza dessa regulação visando garantir a assistência à saúde

e a produção do cuidado. Coloca-se o desafio de entender como se estruturam os

Modelos Assistenciais vigentes na Saúde Suplementar, identificando o modo como as

Page 43: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

43

operadoras de planos de saúde vem se organizando para a oferta dos serviços de

saúde, de forma a garantir a assistência com qualidade aos seus usuários,

responsabilizando-se pelo seu processo saúde/doença.

O modelo comumente praticado na saúde suplementar consiste em uma prática

fragmentada, centrada em produção de atos, predominando a desarticulação e com

inúmeras queixas dos usuários. Para a superação desse cenário impõe-se um novo

referencial, assentado no compromisso ético com a vida, com a promoção e a

recuperação da saúde. Nesse sentido discutimos a importância de abordar a

assistência de forma integrada, articulando-se todos os passos na produção do

cuidado e no restabelecimento da saúde.

Propõe-se mapear a integralidade da assistência pelo acompanhamento da linha do

cuidado, evitando-se assim a sua fragmentação. Cada usuário deverá ser

acompanhado segundo determinado projeto terapêutico instituído, comandado por um

processo de trabalho cuidador, e não por uma lógica "indutora de consumo".

Torna-se um desafio para a Saúde Suplementar incorporar em seu processo

assistencial os debates colocados no processo de trabalho, estabelecendo novas

vertentes analíticas para avaliar a eficácia e a efetividade do seu papel na prestação

de atenção à saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar deverá discutir novos

mecanismos de macro e especialmente de micro-regulação e apontar para o

estabelecimento de novos formatos de intervenção.

Sobretudo a Saúde Suplementar deve trabalhar sob o prisma da prevenção, da

promoção, estimulando essa prática em todos os seus prestadores, não enquanto

marketing da operadora, mas como prática cotidiana de fato incorporada.

Esses pontos deveriam se tomar novos referenciais e diretrizes do modelo assistencial

na saúde suplementar, visando a garantia do acesso aos cuidados necessários, o

vínculo, a responsabilização para com o usuário e a integralidade da assistência e o

monitoramento contínuo dos resultados alcançados.

i

Referências Bibliográficas

Page 44: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

44

ACCIOLY, M.C. Determinantes da mortalidade neonatal em Belo Horizonte; 1993.

Subsídios para o planejamento da atenção materno infantil. Dissertação mestrado.

UFMG;1997.

ALMEIDA, C. “O mercado privado de serviços de saúde no Brasil: panorama atual e

tendências da assistência médica suplementar”. Brasília: IPEA, 1998.

AROUCA, A.S.S. O Dilema Preventivista, contribuição para a compreensão e crítica da

Medicina Preventiva. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP,

Campinas, 1975.

ABRAMGE - Associação Brasileira de Medicina de Grupo. Informe de Imprensa; São

Paulo. www.abramge.com.br , 2002.

BAHIA, L. Mudanças e Padrões das Relações Público-Privado: Seguros e Planos de

Saúde no Brasil. Tese (Doutorado). Rio de Janeiro, ENSP/FIOCRUZ, 1999.

BAHIA, L. Planos privados de saúde: luzes e sombras no debate setorial dos anos 90.

Ciênc. Saúde coletiva; 6(2): 329-339, 2001.

BAHIA, L. O mercado de planos e seguros de saúde no Brasil: tendências pós-

regulamentação. In: ANS. Diretoria de normas e habilitação dos produtos.

Oficina DIPRO/GGTAP. Imaginando e Operando a Gestão da Assistência no Âmbito

da Saúde Suplementar: Textos de Apoio. Rio de Janeiro: ANS, janeiro de 2002.

BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional e Outras Correntes: teoria

e prática. 3a ed., Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 1996.

BRASIL, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Cadastro de beneficiários,

Rio de Janeiro, abril de 2002a.

BRASIL, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Cadastro de beneficiários,

Rio de Janeiro, novembro de 2002b.

BRASIL, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Regulação e Saúde:

Evolução e Perspectivas da Assistência Médica Suplementar; Rio de Janeiro, 2002c.

BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Relatórios para

gestores. Nacional. Cadastro de Beneficiários. DIDES. Janeiro, 2003.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Capítulo da Saúde, Brasília, 1988.

Page 45: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

45

BRASIL. Lei 8080. Lei Orgânica da Saúde. Diário Oficial União. Brasília, 1990.

BRASIL. Lei 9656 3 de junho de 1998. Dispõe sobre os Planos de Assistência à Saúde.

Brasília, 1998.

BRASIL. Lei 9661. Dispõe sobre a criação da ANS. 2000b.

BRASIL. Manual de ressarcimento ao SUS, Ministério da Saúde, 2000 a. Mimeo.

BRASIL, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Sistema de Informação de

Produtos, SIP. 2002d

BRASIL. Ministério da Saúde. Os Comitês de Prevenção à Morte Infantil e Materna.

www.saude.gov.br. Acessado em fevereiro de 2002e.

CAMPOS, G.W.S. A saúde pública e a defesa da vida. HUCITEC. São Paulo: 1992

CECÍLIO, L.C.O Uma sistematização e discussão de tecnologia leve de planejamento

estratégico aplicada ao setor governamental. In MERHY, E.E. & ONOKO, R. (Orgs.).

Agir em Saúde, um desafio para o público. São Paulo: HUCITEC, 1997.

CECÍLIO, L.C.O. (org.); Inventando a Mudança na Saúde; Hucitec, São Paulo, 1994.

CECÍLIO, L.C.O. Relatório parcial do projeto de pesquisa “Mecanismos de regulação

adotados pelas operadoras de planos de saúde no Brasil”. Agência Nacional de Saúde

Suplementar. DIPRO/GGTAP. Maio de 2003.

CIEFAS. Pesquisa Nacional sobre Saúde nas Empresas. São Paulo, 2000.

CORDEIRO, H. As empresas médicas: as transformações capitalistas da prática

médica. Ed. Graal: Rio de Janeiro, 1984.

COSTA, J.O Níveis de complexidade e de segurança em potencial das unidades

perinatais de hospitais maternidades, proposta de um modelo de avaliação. .

Dissertação mestrado. UFMG;1997.

DONANGELO, M.C., Saúde e Sociedade, Duas Cidades, São Paulo, 1976.

FENASEG - FEDERAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE SEGUROS PRIVADOS E DE

CAPITALIZAÇÃO. Balanço Social. In: www.fenaseg.org.br., acessado em fevereiro

de 2003.

FIGUEIREDO, L.F. O Processo de Regulamentação dos Planos e Seguros de Saúde. In:

ANS. DIRETORIA DE NORMAS E HABILIAÇÃO DOS PRODUTOS. OFICINA

Page 46: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

46

DIPRO/GGTAP. Imaginando e Operando a Gestão da Assistência no Âmbito da

Saúde Suplementar: Textos de Apoio. Rio de Janeiro: ANS, janeiro de 2002.

FRANÇA et al. Associação entre fatores sócio-econômicos e mortalidade infantil por

diarréia, pneumonia e desnutrição em região metropolitana do sudeste do Brasil: um

estudo caso-controle. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 17(6): 1437-1447, nov-dez

2001.

FRANCO, T.B. Relatório parcial do projeto de pesquisa “Estudo e Desenvolvimento

de Modelo de Garantias Assistenciais para ANS”. Agência Nacional de Saúde

Suplementar. DIPRO / GGTAP. Maio de 2003.

FRANCO, T.B.; Trabalho e Transição Tecnológica na Saúde; Projeto para Qualificação

à Tese de Doutorado. FCM. UNICAMP, Campinas, 2002.

HADAD et al, Mortes infantis por causas evitáveis e qualidade dos serviços de saúde:

um estudo da percepção materna da doença e do atendimento à criança doente. Cad.

Saúde Pública. 2003.

HARTZ, Z.M.A. Mortalidade infantil evitável em duas cidades do nordeste do Brasil:

indicador de qualidade do sistema local de saúde. Rev.. Saúde Pública 30:310-8.

1996.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios. Acesso e Utilização de Serviços de Saúde 1998. Ministério do

Planejamento. Brasil. Rio de Janeiro, 2000.

IRIART, A.C.; Atenção Gerenciada: Instituinte a Reforma Neoliberal; Tese apresentada

junto ao Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp, para obtenção de

título de doutora em saúde coletiva; Campinas – São Paulo, 1999.

JORGE, 2003. Relatório parcial do projeto de pesquisa “Estudo e Desenvolvimento

de Modelo de Garantias Assistenciais para ANS”. Agência Nacional de Saúde

Suplementar. DIPRO / GGTAP. Maio de 2003.

KORNIS, G.E. & CAETANO, R. Dimensão e Estrutura Econômica da Assistência Médica

Suplementar no Brasil. In: TEIXEIRA, A. (org.). Regulação & Saúde: Estrutura,

Evolução e Perspectivas da Assistência Médica Suplementar. Ministério da

Saúde. ANS (Série C. Projetos, Programas e Relatórios; n. 76). Rio de Janeiro: 2002.

264 p.

Page 47: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

47

LANSKY, S, FRANÇA, E. LEAL, M.C. Mortalidade perinatal e evitabilidade: revisão de

literatura. Rev. Saúde Pública. 36 (6): 752-72. 2002.

MALTA, D.C. & MERHY, EE. A micropolítica do processo de trabalho em saúde,

revendo alguns conceitos. Revista Mineira de Enfermagem, 7 (1):61-66, jan./jul.

2003.

MALTA, D.C. Buscando novas modelagens em saúde, as contribuições do Projeto Vida

e Acolhimento para a mudança do processo de trabalho na rede pública de Belo

Horizonte, 1993 - 1996. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Médicas,

UNICAMP, Campinas, 2001.

MÉDICI, A.C.. Incentivos governamentais ao setor privado de saúde no Brasil.

Revista Administração Pública. Rio de Janeiro: 26(2): 79-115. Abr/jun de 1992.

MERHY E.E. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo em saúde.

In: Merhy, E.E. & Onocko, R.(orgs). Agir em Saúde. Um desafio para o público.

São Paulo: HUCITEC. Buenos Aires: Lugar Editorial, 1997a.

MERHY, E.E. O SUS e um dos seus dilemas: mudar a gestão e a lógica do processo de

trabalho em saúde (um ensaio sobre a micropolítica do trabalho vivo). In: Fleury, S.

(org). Saúde e Democracia, a luta do CEBES. São Paulo: Lemos, 1997b.

MERHY, E.E. Saúde: A cartografia do trabalho vivo. Hucitec, 2002.

MERHY, E.E., CECÍLIO, L.C.O., NOGUEIRA, R.C. Por um modelo tecno-assistencial da

política de saúde em defesa da vida: contribuição para as Conferências de Saúde.

Cadernos da 9ª Conferência Nacional de Saúde, Descentralizando e

Democratizando o Conhecimento. Vol. 1. Brasília, 1992.

MERHY, E.E.; CECÍLIO, L.C.O. A Integralidade do cuidado como eixo da gestão

hospitalar. Mimeo. Campinas: UNICAMP, 2003.

MESQUITA, MAF. A regulamentação da assistência da Saúde Suplementar: legislação

e contexto institucional. In: Regulação e Saúde. Estrutura, evolução e perspectivas

da assistência médica suplementar. Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, 2002.

MOTA, E.LA; CARVALHO, D.M. Sistemas de Informação em Saúde. In ALMEIDA &

ROUQUAYROL, Epidemiologia e Saúde. RJ: MEDSI, 1999.

Page 48: MODELOS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE SUPLEMENTAR · coalizão política em torno de princípios que sustentavam a criação do Sistema Único de Saúde e que resultaram no arcabouço jurídico

48

OLIVEIRA, J. A. A, TEIXEIRA, S. M.F. e (Im)previdência Social - 60 anos de

história da Previdência Social no Brasil, Petrópolis, Vozes, 1986.

PAIM, J.S. Políticas de descentralização e atenção primaria a saúde. In: Rouquayrol

& Almeida. Epidemiologia & Saúde. 5ª Edição. MEDSI, Rio de Janeiro, 489 – 503,

1999.

PEREIRA, M.G. Epidemiologia Teoria e prática, Guanabara Koogan, Rio de janeiro,

2000.

REIS, AT. Modelos tecnoassistenciais em Belo Horizonte, de 1897 a 1964: em direção

à uma compreensão sobre a produção de serviços de saúde. Dissertação

(mestrado). Faculdade de Medicina, UFMG. 2002.

SILVA, JR. A.G. Modelos tecnoassistenciais em Saúde, o debate no campo da

Saúde Coletiva. Ed. Hucitec, São Paulo,1998.

UNIMED. Textos Unimed.www.unimedbh.com.br. Acessado em janeiro de 2003.

VICTORA, C.G. Infant mortality due to perinatal causes in Brazil: trendes, regional

patterns and possible interventions. São Paulo Rev. Paul Med.119 (1) 33-42. 2001.

WHO, World Health Organization. Apropriate technology for birth. Lancet:2 436-7,

1985.

i Vários elementos desse trabalho são oriundos da Pesquisa "Estudo e desenvolvimento de modelos e garantias assistenciais para a ANS", da qualparticipam os pesquisadores: Alzira de Oliveira Jorge, Túlio Batista Franco e Mônica Aparecida Costa