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Modelos de Partido: Organização e Poder nos Partidos Políticos. UNICAMP 2007 CAPÍTULO 1 - Os dilemas organizativos No primeiro capítulo são tratados os dilemas organizativos, a articulação dos fins organizativos e é proposto um modelo de evolução organizativa. Segundo o autor, dois preconceitos são comuns em grande parte da literatura sobre partidos. O primeiro ele define como preconceito sociológico e o segundo como preconceito teleológico. O preconceito sociológico consiste em considerar as atividades dos partidos como o “produto” das demandas dos grupos sociais por eles representados e que os partidos nada mais são do que a manifestação das divisões sociais em âmbito político. O preconceito teleológico é igualmente difundido, consiste em atribuir alguns objetivos aos partidos que representam à razão de ser do partido. Partidos não são organizações que têm por único objetivo a vitória eleitoral. A distinção dos partidos e de outras organizações se dá pelo ambiente específico no qual desenvolvem uma atividade específica. O autor trata de quatro dilemas organizativos os quais aponta para melhor analisar a questão dos modelos de partidos. O primeiro dilema ele chamou de modelo racional versus modelo do sistema natural. No modelo racional cabe aos dirigentes a responsabilidade pela condução da organização. No modelo do sistema natural ao dirigente cabe um papel de mediação, de equilíbrio, de ponderação das diversas demandas. Seguindo o modelo de Michels freqüentemente os dois modelos são colocados em seqüência: as organizações nascem para realizar certos objetivos, com o passar do tempo elas desenvolvem tendências no seu próprio interior para a auto- conservação e/ou a diversificação dos objetivos dos diferentes agentes organizativos. O segundo dilema foi chamado de incentivos coletivos versus incentivos seletivos, a teoria dos incentivos. As duas versões correspondem a diferentes modos de classificar os incentivos organizativos. Os incentivos coletivos são divididos entre incentivos de identidade, incentivos de solidariedade e incentivos ideológicos. Por sua vez os incentivos seletivos são os incentivos de poder, de status e materiais. As associações voluntárias devem distribuir tanto incentivos coletivos quanto incentivos seletivos. A teoria dos incentivos seletivos explica muito bem o comportamento das elites. Eles podem fortalecer, mas nunca produzir uma identidade, o que por sua vez apenas poderá ser alcançado através da distribuição de incentivos coletivos. Se por um lado a organização apenas focar a distribuição de incentivos seletivos isto afetará a sua credibilidade, enfraquecerá a causa, se focar apenas na distribuição de incentivos coletivos, a continuidade da organização ficará comprometida. A ideologia organizativa é a principal fonte dos incentivos coletivos. A segunda função interna da ideologia é ocultar a distribuição dos incentivos seletivos. O terceiro dilema é a adaptação ao ambiente versus predomínio. Toda organização está envolvida numa multiplicidade de relações com o próprio ambiente externo, algumas teorias enfatizam a tendência das organizações em se adaptar ao ambiente no qual está inserido ou a tendência a dominar o próprio ambiente ou uma pluralidade de ambientes. Uma estratégia de domínio está geralmente destinada a suscitar reações violentas por parte de outras organizações que se sentem ameaçadas. Nas relações com o ambiente externo, as organizações são levadas a duas direções contrarias: será tentada a colonizar o próprio ambiente numa estratégia de domínio, mas também pactuar com ele por meio de uma estratégia de adaptação. A ideologia leva o partido a desenvolver atividades de domínio do território contra organizações concorrentes. Os interesses pela auto-conservação são alimentados pelos incentivos seletivos e levam a organização a se adaptar ao ambiente. Ideologia e lealdades relacionadas aos incentivos coletivos levam-na a dominar o próprio ambiente. Quanto mais prevalecem na organização os incentivos seletivos, mais ela tenderá a uma estratégia de adaptação ao ambiente. Quanto mais prevalecem na organização os incentivos coletivos, mais ela tenderá a uma estratégia de predomínio sobre o próprio ambiente. O quarto e último dilema é o da liberdade de ação versus liberdades organizativas. As decisões organizativas são geralmente produtos de negociações internas à organização, de influencias recíprocas entre os agentes organizativos.

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Ttrata-se de uma análise do Livro de Ângelo PANEBIANCO.

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Modelos de Partido: Organização e Poder nos Partidos Políticos.

UNICAMP2007

CAPÍTULO 1 - Os dilemas organizativos

No primeiro capítulo são tratados os dilemas organizativos, a articulação dos fins organizativos e é proposto um modelo de evolução organizativa.

Segundo o autor, dois preconceitos são comuns em grande parte da literatura sobre partidos. O primeiro ele define como preconceito sociológico e o segundo como preconceito teleológico.

O preconceito sociológico consiste em considerar as atividades dos partidos como o “produto” das demandas dos grupos sociais por eles representados e que os partidos nada mais são do que a manifestação das divisões sociais em âmbito político.

O preconceito teleológico é igualmente difundido, consiste em atribuir alguns objetivos aos partidos que representam à razão de ser do partido.

Partidos não são organizações que têm por único objetivo a vitória eleitoral. A distinção dos partidos e de outras organizações se dá pelo ambiente específico no qual desenvolvem uma atividade específica.

O autor trata de quatro dilemas organizativos os quais aponta para melhor analisar a questão dos modelos de partidos.

O primeiro dilema ele chamou de modelo racional versus modelo do sistema natural.

No modelo racional cabe aos dirigentes a responsabilidade pela condução da organização.

No modelo do sistema natural ao dirigente cabe um papel de mediação, de equilíbrio, de ponderação das diversas demandas.

Seguindo o modelo de Michels freqüentemente os dois modelos são colocados em seqüência: as organizações nascem para realizar certos objetivos, com o passar do tempo elas desenvolvem tendências no seu próprio interior para a auto-conservação e/ou a diversificação dos objetivos dos diferentes agentes organizativos.

O segundo dilema foi chamado de incentivos coletivos versus incentivos seletivos, a teoria dos incentivos.

As duas versões correspondem a diferentes modos de classificar os incentivos organizativos. Os incentivos coletivos são divididos entre incentivos de identidade, incentivos de solidariedade e incentivos ideológicos. Por sua vez os incentivos seletivos são os incentivos de poder, de status e materiais.

As associações voluntárias devem distribuir tanto incentivos coletivos quanto incentivos seletivos.

A teoria dos incentivos seletivos explica muito bem o comportamento das elites. Eles podem fortalecer, mas nunca produzir uma identidade, o que por sua vez apenas poderá ser alcançado através da distribuição de incentivos coletivos.

Se por um lado a organização apenas focar a distribuição de incentivos seletivos isto afetará a sua credibilidade, enfraquecerá a causa, se focar apenas na distribuição de incentivos coletivos, a continuidade da organização ficará comprometida.

A ideologia organizativa é a principal fonte dos incentivos coletivos. A segunda função interna da ideologia é ocultar a distribuição dos incentivos seletivos.

O terceiro dilema é a adaptação ao ambiente versus predomínio. Toda organização está envolvida numa multiplicidade de relações com o próprio ambiente externo, algumas teorias enfatizam a tendência das organizações em se adaptar ao ambiente no qual está inserido ou a tendência a dominar o próprio ambiente ou uma pluralidade de ambientes.

Uma estratégia de domínio está geralmente destinada a suscitar reações violentas por parte de outras organizações que se sentem ameaçadas.

Nas relações com o ambiente externo, as organizações são levadas a duas direções contrarias: será tentada a colonizar o próprio ambiente numa estratégia de domínio, mas também pactuar com ele por meio de uma estratégia de adaptação.

A ideologia leva o partido a desenvolver atividades de domínio do território contra organizações concorrentes.

Os interesses pela auto-conservação são alimentados pelos incentivos seletivos e levam a organização a se adaptar ao ambiente. Ideologia e lealdades relacionadas aos incentivos coletivos levam-na a dominar o próprio ambiente.

Quanto mais prevalecem na organização os incentivos seletivos, mais ela tenderá a uma estratégia de adaptação ao ambiente. Quanto mais prevalecem na organização os incentivos coletivos, mais ela tenderá a uma estratégia de predomínio sobre o próprio ambiente.

O quarto e último dilema é o da liberdade de ação versus liberdades organizativas. As decisões organizativas são geralmente produtos de negociações internas à organização, de influencias recíprocas entre os agentes organizativos.

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Para cada coalizão de decisão majoritária, há ao menos potencialmente uma ou mais coalizões alternativas prontas para agir e aproveitar qualquer passo em falso.

A coalizão de decisão majoritária procura buscar o aumento da sua margem de manobra. Quando essa margem é muito estreita ela acabará por repercutir na própria organização, ameaçando-a. Se por outro lado essa margem for ampla, a coalizão de decisão majoritária poderá defender muito melhor a estabilidade organizativa.

Os objetivos oficiais para os quais a organização surgiu e que têm contribuído para forjá-la, não são abandonados. Eles são adaptados às necessidades organizativas.

Transformar o partido numa organização cujo fim real é a sua própria conservação é muito radical.

Quando um partido político se constitui ele é uma associação entre iguais, organizada para atingir um fim comum. Trata-se de um sistema de solidariedade, seu nascimento está sempre ligado a um sistema de igualdade.

Com o tempo, o partido tende a se transformar de um sistema de solidariedade, num sistema de interesses.

Trata-se de um modelo em três fases: gênese, institucionalização, maturidade. As características da fase de gênese são simetricamente opostas àquelas da fase de maturidade.

Os traços organizativos próprios da fase de gênese continuam em geral presentes e atuantes, embora diluídos, na fase de maturidade.

As modalidades da institucionalização variam com a forma organizativa originaria. Alguns partidos se tornam instituições fortes outras instituições fracas.

O desenvolvimento de um partido pode distanciar-se profundamente do modelo traçado se ele depender de outras instituições como igreja, sindicato.

O modo organizativo dos partidos é constantemente condicionado por contínuas mudanças ambientais.

CAPÍTULO 2 – Poder, incentivos, participação.

As questões de poder são abordadas neste capítulo, a desigualdade nas trocas verticais e horizontais, os filiados, os militantes crentes e carreiristas são descritos. Uma abordagem acerca dos incentivos é iniciada.

Para investigar a ordem organizativa de um partido é preciso investigar sus estrutura de poder, como é distribuído esse poder, para isso Michels formulou a “lei férrea da oligarquia”. Para os defensores da lei férrea o poder é algo muito semelhante a uma propriedade, para seus detratores o poder é uma relação de influência.

É necessário uma definição capaz de explicar tanto a capacidade de manipulação da liderança organizativa quanto o fenômeno inverso, a existência de limites ao poder organizativo, a capacidade dos seguidores exercerem pressões eficazes sobre a liderança.

O poder pode ser definido como uma relação de troca na qual uma das partes sai mais favorecida que as outras. É uma relação que um pode conseguir mais que o outro, mas, ao mesmo tempo, um estará completamente desarmado diante do outro.

O poder é relacional, assimétrico, mas recíproco. Manifesta-se numa negociação desigual, mas nunca é absoluto. O poder só pode ser exercido atendendo-se às expectativas do outro ao menos em parte.

A relação de poder entre o líder e seus seguidores deve ser concebida como uma relação desigual na qual o líder ganha mais do que seus seguidores, mas, apesar disso, deve dar algo em troca.

Os recursos do poder estão relacionados com as zonas de incertezas. Os líderes são aqueles controlam as principais áreas de incertezas, cruciais para a organização.

Quanto maior for à liberdade de ação dos líderes, mais eles estarão em posição favorável para resistir aos assaltos dos adversários internos.

Isso pressupõe que os jogos de poder vertical são a precondições lógicas aos jogos de poder horizontal e que o êxito das negociações entre os líderes depende dos êxitos das negociações entre líderes e seguidores.

Todo agente organizativo tende a se beneficiar de incentivos coletivos e seletivos de forma combinada, porém se beneficia mais de um deles.

Quanto mais um partido necessitar distribuir incentivos seletivos, mais será a importante a questão de ocultar tais incentivos, conforme já foi dito.

Consideremos os três tipos de seguidores: os eleitores (numa área mais externa aos centros dos partidos), os defensores (numa posição intermediária) e os militantes (mais próximos do centro do partido).

O eleitorado se beneficia predominantemente de incentivos coletivos de identidades, às vezes esse eleitorado também se beneficia de incentivos seletivos ligados a serviços de assistência, atividades de patrocínio, etc.

Numa área mais intermediária entre o extremo e o centro do partido estão seus defensores, são os filiados que se limita a pagar suas quotas de filiação e uma participação esporádica, mas obviamente ocupa uma posição intermediária entre

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o eleitorado fiel e o verdadeiro militante que faz parte do núcleo duro do partido. Eles também se beneficiam de incentivos coletivos de identidade predominantemente aos quais se somam alguns incentivos seletivos.

O chamado núcleo duro do partido, os seus militantes, é uma minoria restrita que tem participação real e contínua no partido embora com intensidade variável. É principal grupo do partido, o grupo mais importante que faz o partido funcionar.

Entre os militantes o autor distingue dois tipos: o crente, cuja participação depende predominantemente de incentivos coletivos e o carreirista, cuja participação depende predominantemente de incentivos seletivos. É a identidade dos crentes, sobretudo, que os líderes devem defender.

Os carreiristas são militantes interessados nos incentivos seletivos, é, ao menos potencialmente, o fator humano das cisões, representando uma área possível de turbulência, uma ameaça à ordem organizativa.

Uma distribuição diferenciada de incentivos seletivos de status, relacionada a um sistema hierárquico, implica que os postos superiores sejam mais bem recompensados simbolicamente do que os inferiores.

A militância, seja ela predominantemente do tipo crente ou carreirista, é recompensada com um misto de incentivos de identidades, materiais e de status. A distinção entre crente e carreirista é apenas analítica e a maioria da militância se aproxima do tipo crente.

O processo de análise da distribuição dos incentivos serve para explicar como se formam e como são alimentadas as lealdades organizativas dos eleitores fiéis, dos filiados e dos militantes-crentes e militantes-carreiristas.

Para os seguidores, quanto menores as possibilidade de se obter em outro lugar benefícios equiparáveis às remunerações distribuídas pelos líderes, mais o jogo de poder vertical se desequilibra em favor dos líderes.

Quanto mais o partido for uma comunidade definida por uma identidade específica, sem concorrentes no “mercado” externo, mais forte será a posição dos líderes nos jogos de poder vertical. O raciocínio oposto também é válido, ou seja, quanto mais os incentivos forem substituíveis, maior será a possibilidade de se encontrar remunerações alternativas, menor estarão desequilibradas as relações de poder vertical em favor dos líderes. Nunca haverá casos puros de um ou de outro tipo.

Esse raciocínio permite compreender por que os jogos de poder verticais tendem, ou tenderam no passado, a produzir mais facilmente oligarquias nos partidos que organizavam classes populares do que nos partidos que organizavam classes burguesas. No primeiro caso a possibilidade de substituição dos incentivos era baixa e quase sempre nula; no segundo, ao contrário, era alta.

Isso explica por que os partidos que organizam classes burguesas geralmente devem enfrentar muito mais problemas originados pela escassez de militância e pela descontinuidade do nível de participação em relação aos partidos que organizam classes populares.

CAPÍTULO 3 – Coalizão dominante e estabilidade organizativa

Ângelo Panebianco inicia sua argumentação neste capítulo definindo uma premissa da qual parte para defender sua tese, premissa essa baseada na questão da sobrevivência e funcionamento das organizações, nas quais a questão das zonas de incerteza ocupa um destacado papel.

Procura no desenvolvimento de seu raciocínio destacar questões tidas por ele como centrais, os incentivos coletivos e seletivos, a coalizão dominante, a legitimidade e a estabilidade organizativa.

A sobrevivência e o funcionamento de uma organização dependem de uma série de prestações de serviço aos seus filiados e militantes, se essa prestação fundamental terá continuidade ou será interrompida ou negada é o que gera e define as chamadas zonas de incerteza. Quem controla tais zonas de incerteza dispõe de um recurso valioso para os jogos de poder interno da organização.

As principais zonas de incerteza estão numa limitada quantidades de atuações do partido e são basicamente as seguintes:

a) a competência: define o poder do especialista, aquele que tendo um saber especializado em virtude da divisão de trabalho controla uma importante zona de incerteza.

b) as relações com o ambiente: o ambiente é do ponto de vista da organização a principal zona de incerteza, portanto seu controle significa controlar uma zona decisiva de incerteza.

c) comunicação: é o controle dos canais de comunicação por circulam as informações. Manipular, retardar, distribuir, suprimir as informações. É também um recurso decisivo de poder.

d) as regras formais: significa escolher o terreno onde ocorrerão os confrontos, as negociações e os jogos de poder com os outros agentes organizativos.

e) o financiamento: quem controla os canais de circulação do dinheiro para o financiamento organizativo, controla um recurso fundamental.

f) o recrutamento: decidir quem pode e quem não pode passar a fazer parte da organização, quem pode ser promovido nas carreiras internas.

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Oligarquia de Michels, círculo interno de Duverger, são algumas das definições usuais para identificar as elites dirigentes do partido. Panebianco adota a expressão “coalizão dominante”.

A fisionomia da coalizão dominante é o que distingue a ordem organizativa entre os partidos. O grau de coesão de uma coalizão depende do fato do controle sobre as zonas de incerteza estar disperso ou concentrado nas mãos de certa elite organizativa.

Num partido cujos grupos internos são facções o controle sobre as zonas de incerteza é disperso e a coalizão dominante é pouco coesa. Num partido cuja competição interna se desenvolve por tendências, o controle sobre as zonas de incerteza é mais concentrado e a coalizão dominante é mais coesa.

O grau de coesão define se a relação de poder descrita pelas trocas verticais está concentrada em poucas mãos ou dispersa entre uma pluralidade de líderes.

A legitimidade da liderança gira, entre outras coisas, em função da sua capacidade de distribuir incentivos coletivos e/ou incentivos seletivos.

Se o fluxo de incentivos diminui, a organização entra automaticamente em crise e os líderes serão duramente contestados, podendo emergir novas lideranças e novas coalizões.

O vínculo entre legitimidade e incentivos seletivos é bastante claro, enquanto o fluxo de incentivos seletivos estiver bem, os dirigentes tenderão a se manter de forma equilibrada no poder.

Mais complexo é o vínculo entre legitimidade e incentivos coletivos. Isso implica uma conexão bastante estreita entre linha política e legitimidade da liderança. Uma vez formulada a linha política e aceita pelo partido, da sua aplicação depende a capacidade da elite de distribuir os chamados incentivos coletivos.

“O objetivo fundamental da liderança é a manutenção da estabilidade organizativa”, com essa afirmação Panebianco redefine os conceitos de Michels, passando a tecer sua linha de trabalho com base nessa premissa.estabilidade é constantemente ameaçada pelos desafios ambientais externos e a alteração de estabilidade que pode surgir da relação com esse ambiente pode municiar as elites minoritárias e alterar o equilíbrio de poder interno.

Afirmar que o objetivo do líder é a manutenção da estabilidade organizativa, significa atribuir à liderança um objetivo mais amplo do que a simples defesa da sobrevivência da organização.

Suas estratégias podem ser apenas para manter o “status quo”. Podem ser defensivas ou conservadoras; ou ainda podem ser inovadoras ou agressivas. Isso depende das características dos equilíbrios internos de poder e da relação da organização com seus ambientes externos.

Reformulando em outros termos a tese de Michels, a estabilidade organizativa é o principal objetivo dos líderes.

Os líderes são aqueles que controlam as zonas de incerteza mais vitais.

A permanência no tempo de certa ordem organizativa depende do sucesso do acordo entre o objetivo de estabilidade dos líderes e os outros inúmeros objetivos que podem ser alcançados no interior da organização.

CAPÍTULO 4 – A institucionalização

Primeiramente neste capítulo o autor defende ser possível afirmar que os fatos de maior incidência na ordem organizativa dos partidos, são: a história organizativa e as relações que ele estabelece com seus inconstantes ambientes externos.

Para uma melhor análise o autor utiliza dois conceitos centrais: o do modelo originário e de institucionalização.

No capítulo o autor ainda discorre sobre instituições fortes e fracas como tipos ideais e traça um paralelo entre modelo originário e institucionalização; finalmente aborda a questão do carisma pessoal, tratando-o como um caso desviante.

Segundo Panebianco, a teoria da formação dos partidos parou substancialmente em Duverger e na sua distinção entre partidos de criação interna e externa. Para o autor essa diferença não pode sustentar a diferenciação de ordem genética entre os vários partidos, que geralmente é um processo complexo que consiste na aglutinação de pluralidades de grupos políticos.

São três os fatores principais que definem o modelo originário específico de cada partido.

O primeiro diz respeito ao modo pelo qual se iniciou ou se desenvolveu a construção da organização, por penetração ou por difusão, por exemplo.

O segundo consiste na existência de uma instituição externa que patrocine o nascimento do partido; disso resulta lealdades externas indiretas, destinadas em primeiro lugar à instituição externa, logo, essa instituição é a fonte de legitimação da liderança; daí pode distinguir os partidos de legitimação interna e de legitimação externa.

Finalmente o terceiro fator a ser considerado é dado pelo caráter carismático ou não da formação do partido.

Os partidos carismáticos puros são muitos raros. A utilização do conceito de carisma situacional permite identificar casos intermediários entre os partidos carismáticos e os demais.

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Quando o partido ainda está em construção, os líderes, carismáticos ou não, exercem um papel fundamental. Nessa fase se constrói a identidade coletiva do partido.

Com a institucionalização o partido dá um salto de qualidade, incorpora valores e objetivos de seus fundadores. A organização torna-se ela própria “objetivo” para grande parte de seus filiados e desse modo carrega-se de valores.

Essencialmente são dois os processo que ocorrem para a institucionalização: o desenvolvimento de interesses para a manutenção da organização e o desenvolvimento de lealdades difusas.

A institucionalização organizativa pode ser medida ao longo de duas dimensões: o grau de autonomia do ambiente que a organização desenvolve e o grau de sistemicidade, de interdependência entre as diversas partes da organização.

Pelo menos cinco indicadores do diferente grau de institucionalização dos partidos podem ser utilizados: primeiro o grau de desenvolvimento da organização extraparlamentar central; segundo o grau de homogeneidade; terceiro as modalidades de financiamento; em quarto as relações com as organizações colaterais externas; e por último o grau de correspondência entre normas estatutárias e constituição material do partido.

Uma institucionalização fraca geralmente resulta numa coalizão dominante pouco coesa, já uma institucionalização forte gera uma coalizão dominante coesa. Uma forte institucionalização implica uma forte concentração do controle sobre as zonas de incerteza.

O grau de institucionalização de um partido político incide sobre a conformação da sua coalizão dominante influenciando o seu grau de coesão interna.

Uma instituição forte é dividida normalmente em tendências, já uma instituição fraca é dividida em facções.

Os partidos com forte institucionalização têm normalmente menos relações clientelistas com os próprios usuários externos do que os partidos com fraca institucionalização.

Partidos de institucionalização forte e institucionalização fraca são tipos ideais. Nenhum partido corresponde totalmente ao caso da institucionalização forte ou da fraca. Além disso, um partido que tenha experimentado um processo de institucionalização forte não garante, em caso de profundas mudanças no seu ambiente, que não possa haver processo de desinstitucionalização.

O modelo originário de um partido pode influenciar o seu grau de institucionalização seguindo os seguintes modelos:

Primeiro modelo, partido com forte institucionalização e legitimação externa: representado principalmente pelos partidos comunistas, o desenvolvimento organizativo é predominantemente caracterizado por penetração territorial.

Segundo modelo, partido com fraca institucionalização e legitimação externa: representado pelos partidos trabalhistas, seu desenvolvimento principal dá-se por difusão territorial.

Terceiro modelo, partido com forte institucionalização e legitimação interna: é principalmente representado por alguns partidos que Duverger define como de criações internas, o centro que desenvolve o partido por penetração territorial é coeso.

Quarto modelo, partido com fraca institucionalização e legitimação interna: são os partidos nascidos por federação de grupos preexistentes, um desenvolvimento inicial por difusão, por assim dizer, no estado puro.

O carisma rompe o elo que criamos hipoteticamente entre o grau de institucionalização e o grau de coesão da coalizão dominante, de tal forma que, quanto mais forte é a institucionalização, mais coesa é a coalizão dominante é vice-versa.

Quase nenhum partido carismático consegue sobreviver ao seu fundador e manter um processo de rotina do carisma.

CAPÍTULO 5 – a ordem organizativa: uma tipologia

O uso de uma classificação com duplo critério não é uma novidade, a originalidade está muito mais relacionada à tentativa de sair do impasse das distinções de caráter estático e de individuar quais os fatores ou qual a combinação de fatores responsáveis pelo fato de a evolução organizacional de um partido seguir por um ou outro caminho.

A análise até aqui desenvolvida apóia-se em duas hipóteses: primeiro a análise do partido deve retroceder à fase formadora do partido, a dimensão histórica numa posição central; segundo interação entre modelo originário, posição do partido na fase de institucionalização e características ambientais, essa é a premissa inicial para a análise que Panebianco utiliza neste capítulo.

A evolução organizativa e a conformação da coalizão dominante são detidamente discutidas no capitulo. A coesão da coalizão dominante, a estabilidade organizativa, o mapa do poder organizativo são temas centrais neste capítulo, enfim, estuda-se aqui a ordem organizativa dos partidos.

O autor inicialmente compara os diferentes casos com o tipo ideal de evolução. São os tipos ideais de evolução, segundo Panebianco:

a. Do sistema de solidariedade ao sistema de interesse;

b. De uma fase em que a organização é dominada por uma ideologia manifesta a uma fase em que a ideologia organizativa se torna latente;

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c. De uma fase expansiva de predomínio sobre o ambiente a uma estratégia prudente de adaptação ao ambiente;

d. De uma fase de máxima liberdade de ação dos líderes a uma fase máxima compreensão da liberdade de escolha e de manobra dos líderes.

A estagnação organizativa e uma estratégia de adaptação ao ambiente precede a institucionalização e não se segue a ela, conforme postulado pelo tipo ideal.

Ele afirma ser previsível que uma gama de desvios do tipo ideal se verificasse nos vários casos concretos.

São três e distintas as possibilidades de conformação da coalizão dominante: coalizão dominante coesa e estável, coalizão dominante dividida e estável e coalizão dominante dividida e instável. Trata-se naturalmente de três configurações puramente hipotéticas.

No caso de coalizão dominante coesa e estável, a estabilidade da coalizão dominante garante forte coesão e estabilidade à organização como um todo.

No caso de coalizão dominante dividida e estável, a combinação entre estabilidade e divisão no interior da coalizão dominante se associa à estagnação organizativa, há forte pressão para impedir a expansão.

No caso de coalizão dominante dividida e instável, cada facção age por conta própria e os acordos entre as facções são extremamente precários. O resultado é uma política expansiva da organização, que, diferentemente do primeiro caso, não é o fruto da estabilidade e da coesão, mas, ao contrário, da instabilidade e divisão extremas.

Não basta saber se uma coalizão dominante é coesa ou dividida, estável ou instável para diferenciar as ordens organizativas dos partidos, é necessário também saber por meio de que relações infra-organizativas se exercem o poder da coalizão dominante.

O mapa do poder organizativo pode assumir várias fisionomias, para as quais o autor desenvolveu cinco tipos esquemáticos de organogramas diferentes entre si, organogramas esses descritos no seu livro. Os organogramas 1 e 2 correspondem aos mapas do poder organizativo encontrados nos partidos de institucionalização forte, embora a institucionalização seja mais forte no organograma do tipo 1. Os organogramas 3, 4 e 5 descrevem os mapas do poder organizativo dos partidos fracamente institucionalizados, diferentes entre si com elevada fragmentação da sua estrutura de poder interna, outro com equilíbrio de forças entre o grupo parlamentar e os líderes de nível médio e que não existem diafragmas organizativos entre os parlamentares e as estruturas de base.

Uma relação de cooperação entre duas organizações implica sempre uma troca de recursos materiais e/ou simbólicos entre as duas organizações.

Todo partido encontra-se diversamente relacionado a uma pluralidade de grupos, associações e organizações. Esquematicamente essas conexões podem assumir três formas distintas:

Primeiro, o partido controla a organização, existe uma relação de troca desigual, na qual o partido ganha mais do que a organização externa. O partido talvez com algum custo poderia prescindir da organização, o contrário não é possível (exemplo a relação PT/CUT originalmente, anotação minha).

A segunda possibilidade, os vértices do partido serão igualmente vértices da organização externa, é uma relação de troca paritária nas quais as vantagens são equivalentes tanto para o partido quanto para a organização externa, nesse caso trata-se de uma relação de igualdade entre ambos.

A terceira possibilidade é que entre o partido e a organização externa exista uma relação de troca desigual, mas em benefício da organização externa. Nesse caso os partidos têm mais necessidade dos recursos oferecidos pela organização externa do que o contrário. Todos os partidos de legitimação externa têm precisamente uma relação desse tipo com a organização patrocinadora (como no caso do PSDC de sua relação com a Igreja Católica na Europa, anotação minha).

Com base nessa análise, é possível formular três proposições de ordem geral:

Os partidos com forte institucionalização podem manter com as organizações externas tanto relações do tipo A quanto do tipo B, mas não do tipo C.

Os partidos com fraca institucionalização tenderão a manter predominantemente relações do tipo B e/ou do tipo C, mas não do tipo A.

Em igualdade de nível de institucionalização, os partidos governistas têm maior probabilidade de desenvolver um número elevado de relações interorganizativas do tipo B; se forem fracamente institucionalizados facilmente também terão relações do tipo C.

Os partidos de oposição também desenvolvidos como instituições fortes também tendem a sofrer processos de desinstitucionalização quando passam da oposição para o governo.

O grau de coesão e de estabilidade da coalizão dominante, combinado com o mapa do poder organizativo, resulta numa taxonomia da coalizão dominante dos partidos e, logo, uma taxonomia dos partidos.

É necessário observar que as passagens de uma configuração a outra são sempre mudanças da ordem organizativa, mas nem sempre implicam variações no nível de institucionalização.

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BIBLIOGRAFIA

PANEBIANCO, Ângelo. Modelos de partido: organização e poder nos partidos políticos; tradução Denise Agostinetti; revisão da tradução Karina Jannini. 1ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2005.