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Isabella Barroso Oliveira MODELOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO JORNALISMO ONLINE Belo Horizonte Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) 2010

MODELOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO JORNALISMO ONLINE

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No atual cenário mundial os jornais e suas empresas estão em crise. Alguns fatores podem ser apontados como responsáveis: o abandono da publicidade, a principal fonte de receita das empresas jornalísticas; a queda na demanda pelo produto jornal impresso impulsionada pelo comportamento dos novos consumidores e leitores. A Internet possibilita infinitas alternativas de conectividade social, o novo público passa a ter acesso e a produzir as notícias de forma instantânea, sem passar pelo meio jornal, TV ou rádio. Tudo isso gratuitamente, sem mensalidades ou assinaturas. Como resposta a esse comportamento surgem novos modelos econômicos e de empreendimentos aplicados por empresas jornalísticas. As teorias da Cauda Longa e da nova economia do grátis de Anderson sustentam a necessidade desses modelos.

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Isabella Barroso Oliveira

MODELOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

NO JORNALISMO ONLINE

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2010

Isabella Barroso Oliveira

MODELOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

NO JORNALISMO ONLINE

Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação Social do

Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) como requisito parcial

para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profa. Lorena Tárcia

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2010

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mudança na receita advindas de anúncios publicitários por mídia de 2008 a 2009 ...... 11

Figura 2: Usuários estão dispostos a pagar pelo acesso aos seus sites de notícia favoritos? ................... 11

Figura 3: Leitura de jornais em países emergentes (circulação média/população adulta- cópias por

mil habitantes) ............................................................................................................................... 11

Figura 4: Os dez maiores jornais do Brasil (circulação/dia) ......................................................... 20

Figura 5: Com que frequência os usuários clicam em anúncios na internet.................................. 34

Figura 6: Janela de bloqueio de acesso ao conteúdo noticioso da Folha de S.Paulo par aos não

assinantes. Fonte: folha.uol.com.br .............................................................................................. 47

Figura 7: Janela de bloqueio de acesso aos usuários não assinantes ao conteúdo noticioso digital

que foi produzido também no jornal impresso. Fonte: folha.uol.com.br ..................................... 47

Figura 8: Página inicial do site folhaonline.com Fonte: folha.uol.com.br .................................... 48

Figura 9: Página inicial do site em.com.br Fonte: www.em.com.br ............................................ 50

Figura 10: Página interna do site em.com.br Fonte: www.em.com.br ........................................ 51

Figura 11: Página de notícia resumida e com conteúdo total bloqueado par anão assinantes ...... 52

Figura 12: Página inicial do jornal The Wall Street Journal Fonte: www.wsj.com ...................... 53

Figura 13: Página inicial do jornal O Tempo Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/ .......... 54

Figura 14: Página interna do jornal O Tempo Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/ ......... 55

Figura 15: Página incial do jornal USA Today Fonte: www.usatoday.com ................................ 56

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 03

1 EMPRESAS JORNALÍSTICAS E SUSTENTAÇÃO ECONÔMICA ......................... 07

1.1 Do jornalismo tradicional ao empresarial ......................................................................... 07

1.2 Jornalismo enquanto negócio ............................................................................................ 07

1.3 Antigo modelo econômico do negócio jornal ................................................................... 09

1.4 A crise dos jornais ............................................................................................................. 11

1.5 O perfil do novos consumidores e leitores ........................................................................ 14

1.6 A resposta dos conglomerados de comunicação à crise econômica .................................. 16

1.7 Situação dos jornais brasileiros ......................................................................................... 18

2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA, JORNALISMO E NOVOS MODELOS DE

SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................ 23

2.1 Panorama histórico ............................................................................................................ 23

2.2 A tumultuada evolução econômica da internet.................................................................. 25

2.3 Estratégias de disponibilização de conteúdo jornalístico online e impresso ..................... 27

2.3.1 O início das estratégias jornalísticas para os Portais de notícia ..................................... 28

2.4 A lógica da cauda longa .................................................................................................... 31

2.5 Modelos econômicos alternativos ..................................................................................... 33

2.6 A nova economia do grátis ................................................................................................ 39

3 PANORAMA MUNDIAL DOS MODELOS DE NEGÓCIO DE ONLINE NEWS .... 41

3.1 Histórico dos jornais - do papel aos bits ............................................................................ 42

3.1.1 Folha de São Paulo ......................................................................................................... 42

3.1.2 O Estado de Minas .......................................................................................................... 43

3.1.3 O Tempo ......................................................................................................................... 43

3.1.4 The New York Times (NYT) ......................................................................................... 44

3.1.5 The Wall Street Journal (WSJ) ....................................................................................... 45

3.1.6 USA Today ..................................................................................................................... 46

3.2 Modelos de negócio de online news ................................................................................. 47

3.2.1 Modelo Híbrido de conteúdo de jornais online .............................................................. 47

3.2.1.1 A Folha de S. Paulo ..................................................................................................... 48

3.2.1.2 O Estado de Minas ....................................................................................................... 51

3.2.1.3 The Wall Street Jornal ................................................................................................ 52

3.2.2 Modelo Aberto de conteúdo de jornais online................................................................ 53

3.2.2.1 USA Today .................................................................................................................. 55

3.2.3 Modelos Alternativos de conteúdo de jornais online ..................................................... 56

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 58

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 60

5

INTRODUÇÃO

Este é um momento histórico no qual os meios eletrônicos permitem a produção e a recepção de

conteúdos informativos ou de entretenimento em qualquer lugar e a qualquer hora. Através de

tecnologias digitais é possível compartilhar, interagir, modificar e criar conteúdos como nunca se

viu antes na história. A internet é o meio que possibilita essa revolução e após cerca de duas

décadas de existência e maturação, as novas gerações do público consumidor de notícias

mudaram o antigo perfil de estático para interativo e gratuito.

Nunca antes houve tantas notícias ao mesmo tempo. Tanta informação. As empresas de

comunicação passam por um momento no qual disputam e contam com milhões de cidadãos que,

além de produzir seus próprios conteúdos, ainda consomem e interagem com que o que foi

produzido pelas empresas. Porém, pesquisas indicam que esse novo público consumidor de

notícias não está disposto a pagar pelo conteúdo informativo disponível online.

A proposta deste trabalho surgiu ao tentar entender porque certas empresas jornalísticas

disponibilizam seu conteúdo gratuitamente e outras cobram por ele. E mais que isso, será que é

necessário pagar pelas notícias disponibilizadas online? Fez-se necessário entender a conta, a

matemática do negócio das empresas jornalísticas. Será que elas estão tendo prejuízo ou apenas

não estão lucrando na mesma medida?

O primeiro capítulo teórico apresenta o jornalismo como negócio, descrevendo as transformações

históricas ocorridas na rotina do fazer jornalístico, no formato das notícias e no meio usado para

publicá-las. Apresenta, também, o antigo modelo adotado pelas empresas jornalísticas produtoras

do jornal impresso. E descreve o atual cenário mundial em que os jornais e suas empresas estão

em crise, graças ao abandono da principal fonte de receita: a publicidade, e, da queda na demanda

pelo produto jornal impresso. Essa última afirmação é suportada por outro item do capitulo, o

comportamento dos novos consumidores e leitores. Encerrando o capítulo, está a resposta dos

conglomerados de comunicação à crise, o que as grandes empresas do mercado fizeram e estão

fazendo.

4

O segundo capítulo mostra a internet como principal fator na mudança dos modelos econômicos

das empresas de jornais. Traça a sua evolução e como o negócio jornal se adaptou e se

transformou frente a internet. Aborda as estratégias iniciais de disponibilização do conteúdo

online de empresas que antes existiam e produziam apenas no meio impresso e do início da

existência dos Portais de notícia. Como base teórica é apresentada a teoria da Cauda Longa, que

justifica o surgimento de novos modelos econômicos alternativos e a teoria da nova economia

baseada no grátis; Ambas se apoiam na lógica do comportamento dos novos consumidores de

notícia, apresentada no primeiro capítulo.

No capítulo final, são apresentados os atuais modelos econômicos de três jornais do Brasil e três

dos EUA. Os seguintes jornais brasileiros serão apresentados: Folha de São Paulo, Estado de

Minas e O Tempo. Já os modelos de jornais norte-americanos são: o The New York Times, o The

Wall Street Journal e o USA Today. São apresentados ainda modelos econômicos alternativos

surgidos para fazer frente à falência progressiva do modelo tradicional, com respectivos

exemplos.

5

1 JORNALISMO IMPRESSO, MODELOS ECONÔMICOS E CRISE

1.1 Do jornalismo tradicional ao empresarial

A história do jornalismo tem raiz no século XVII, mas sua criação só foi possibilitada pela

invenção da prensa dois séculos antes por Johannes Gutenberg de Mainz. Briggs e Burke (2006)

referem-se a essa época como a “revolução das prensas gráficas” e apontam o surgimento dos

jornais no século XVII como um fator que aumentou a ansiedade, na época, dos possíveis efeitos

dessa nova tecnologia na população europeia.

Seguindo a linha de Briggs e Burke (2006), os autores Albert e Terrou (1999) remetem ao século

XV as origens imediatas do jornal e do jornalismo.

Para Albert e Terrou (1999) são sete os fatores históricos que conspiraram para o surgimento do

jornal e sua prática: as necessidades de informação impulsionadas pelas grandes descobertas

europeias, o Renascimento, a Reforma, os conflitos e os novos Estados que exigiam criação de

novas redes e sua alimentação com informações; a criação dos correios modernos – garantindo

maior segurança e regularidade às comunicações; o nascimento e rápida difusão da impressão

tipográfica em 1438 por Gutenberg; as notícias manuscritas que desde o século XVI eram

organizadas e trocadas como mercadoria; as folhas volantes impressas, chamadas gazetas, que no

final do século XV eram editadas em pequenos cadernos com gravuras e folhas de notícia, nas

quais, eram relatadas vitórias/guerras; os primeiros impressos periódicos derivados de calendários

e posteriormente se tornando anuais; a longa sobrevivência de formas primárias de jornalismo

que até o século XVIII completavam os textos impressos.

Marconde Filho (2000) divide a história do jornalismo em quatro fases. A que ele define como

primeiro jornalismo vai de 1789 à metade do século XIX, época em que o jornalismo se

profissionaliza, aparece a redação como um departamento específico do jornal e são definidas

algumas funções, como a do editor e a do diretor do jornal. É época do jornalismo político-

literário, o jornal é mais pedagógico e de forte formação política. Nessa época, gradualmente o

jornalismo passa a ser uma força política autônoma. O jornal era uma fonte para a exposição das

opiniões políticas dos jornalistas que produziam o conteúdo. O final da primeira fase é

6

caracterizado pela mudança nos jornais, que passam a se tornar grandes empresas capitalistas e se

tornam uma “máquina de produção de notícias e de lucros com os jornais populares e

sensacionalistas” (MARCONDES FILHO, 2000, p.13).

Para o autor, o segundo jornalismo acontece a partir da metade do século XIX e é definido pelas

modificações nos processos de produção do jornal com o surgimento das inovações tecnológicas.

Outra característica determinante é a transformação dos jornais em empresas jornalísticas que

precisam se autosustentar, pagar investimento em maquinário. A imprensa passa a ser um

negócio após 1830 na França, Estados Unidos da América e Inglaterra. A publicidade passa a ter

um papel importantíssimo para financiar os custos do jornal. No final do século XX o jornal se

torna, para o autor, um “ amontoado de comunicações publicitárias permeado de notícias”.

(MARCONDES FILHO, 2000, p.18)

Nesse momento inicia-se uma nova fase do jornalismo, quando os jornais passam a se tornar

empresas e o jornal um negócio.

1.2 Jornalismo enquanto negócio

Marcondes Filho (2000) caracteriza o terceiro jornalismo, que surge no século XX e é

representado pelos monopólios de empresas jornalísticas e também, pelo desenvolvimento da

indústria publicitária e de relações públicas como novas fontes de informação e comunicação

chegando a competir e até a desconfigurar o jornalismo. O antigo modelo romântico, de liberdade

de imprensa, de luta pelos direitos a opiniões políticas e pessoais, é deposto e é colocado em seu

lugar um modelo menos engajado.

A delimitação final é denominada pelo autor de o quarto jornalismo. Acontece no final do século

20 e é marcado por uma era de inovações tecnológicas. A difusão da implantação de

computadores e redes de comunicação em todo o mundo modificou a forma de fazer o jornalismo

diário. Essas mudanças modificam a rotina jornalística dentro das redações e a forma de produzir

o produto jornal. Os jornalistas acabam por “se adaptar à completa volatilização do ambiente de

trabalho” (MARCONDES FILHO, 2000, p.25). Modifica-se também o conteúdo, pois, esse passa

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a ser influenciado pela lógica da tecnologia e certas linguagens são escolhidas em detrimento das

outras.

No Brasil, as empresas jornalísticas e os grandes conglomerados de comunicação pertencem a

empresas familiares. É essa a realidade durante o século XX e início do século XXI pontuada por

Ferrari (2003). A autora comenta que esses grupos são conhecidos informalmente como “barões

da internet brasileira”. Situação similar é a observada por Meyer (2007). Segundo o autor, nos

Estados Unidos, até o século XX, as empresas jornalísticas eram mantidas e administradas por

famílias que visavam o lucro a longo prazo e tinham o foco na participação de mercado e não na

lucratividade. Esta situação, no entanto, começa a mudar no século XXI.

Sant´Anna (2008) também percebe essa mudança quando pontua que existe uma tendência

baseada em experiências internacionais, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra. O autor

indica que conforme se consolida a fusão do veículo rumo à convergência dos meios de

comunicação, as tradicionais empresas de famílias compostas por jornalistas dão lugar a gestores

profissionais e, em um segundo momento, abrem o capital a acionistas vindos de fora como

forma de conseguir investimento para quitar dívidas e para ampliar a produção.

Caminho parecido com o citado acima ocorreu no Brasil, onde as dificuldades financeiras

advindas de dívidas contraídas em anos anteriores levaram as empresas jornalísticas dos

principais jornais brasileiros a profissionalizarem sua gestão. Sant´Anna (2007) relata os casos do

Grupo Estado, em que os membros da família Mesquita recuaram dos cargos de direção e

assumiram assentos no Conselho de Administração. As Organizações Globo já haviam efetuado

essa transição durante a década de 1990.

Meyer (2007) narra as experiências de abertura de capital de grandes empresas jornalísticas

americanas e a maioria delas, assim como no exemplo brasileiro acima, tinham em comum o

endividamento. Mas no caso norte-americano, elas viram na abertura de capital uma chance de

conseguir investimento e de continuar no mercado. Meyer (2007) cita uma fala de John S. Knight

enunciada em uma reunião com acionistas de Wall Street: “Senhoras e senhores, não pretendo me

tornar um prisioneiro”. Knight se referia a deixar o comando e o conteúdo dos jornais serem

8

ditados por acionistas e analistas da bolsa e não por aqueles que entendiam o negócio jornal. Com

essas palavras, Meyer (2007) ilustra um momento histórico de crise no qual o jornalismo

prevaleceu quando se viu ameaçado por decisões de acionistas quanto a modelos de negócios.

Para o autor, Wall Street apoia o jornalismo de qualidade onde há competição. E demora a

reconhecer as novas mídias como concorrentes do jornal.

Para Meyer (2007), os jornais pararam de crescer não só porque o público trocou o meio jornal

por novas tecnologias e substitutos eletrônicos. Ele acredita que o jornal já possuía um limite de

crescimento limitado pela alta estrutura de custos de produção variados. O autor pontua que a

nova competição, nesse caso a internet, está livre desse tipo de restrição econômica, pois tem alta

possibilidade de disseminação de conteúdo a baixo custo, logo, possui uma grande flexibilidade

financeira que a faz ser mais competitiva que o papel.

1.3 Antigo modelo econômico do negócio Jornal

Albert e Terrou (1999) perceberam que após a Segunda Guerra Mundial, com a concorrência de

novos meios de informação como o rádio e a televisão, os jornais perderam o monopólio de três

séculos da informação coletiva e tiveram que se adaptar a esses novos veículos que passaram a

restringir o tempo de leitura do leitor, a instigar no público à curiosidade e a criar novas

necessidades. E pela primeira vez na história passaram a ter que dividir as verbas publicitárias.

Briggs e Burke (2006) veem o surgimento de novas tecnologias, como a invenção da televisão,

não como a origem das mudanças sociais e sim como um catalisador que ajuda o processo de

alteração da ordem comunicacional.

Para Albert e Terrou (1999), as inovações proporcionaram a expansão das telecomunicações e

subverteram a vida dos jornais. Nos anos 60, os avanços da impressão offset e nas décadas

seguintes com a composição automática, a fotocomposição e a introdução dos computadores nas

salas de redação, a prática jornalística se transformou, intensificando a quantidade e a produção

de notícias. Isso, segundo os autores, aumentou a importância das agências de notícia.

9

O modelo econômico das empresas jornalísticas se manteve praticamente o mesmo desde o início

de sua existência até o começo da década de 1990. Esse modelo é definido no artigo How to Save

Your Newspaper1, de Walter Isaacson, publicado em 2009 no Time.com. Para o autor “jornais e

revistas tradicionalmente tiveram três fontes de receitas: vendas em bancas, assinaturas e

publicidade” (ISAACSON, 2009, tradução nossa)2.

Exemplo de como era realizada a prática da cotação de preço de espaços publicitários em jornais

impressos do antigo modelo de sustentação econômica das empresas jornalísticas é ilustrado por

Marcondes Filho:

A eficácia dos anúncios diminui de forma manifesta com o progressivo distanciamento da parte

noticiosa; com isto, os promotores da publicidade estão prontos a pagar a proximidade espacial

de seus anúncios em relação à parte redacional com consideráveis aumentos. Por exemplo, o

milímetro de anúncio, na edição de sábado do Werlt, nos classificados, custa 4,70 marcos (para

uma coluna de 45 mm de largura); na parte de textos, ao contrário, 26,80 marcos (para uma

coluna de 58mm). Um outro exemplo de disposição evidente dos anunciantes em também pagar

mais pelo valor de atenção mais alto, são os preços dos anúncios dos “Ilustrados da Cidade”

(Stadtilustriert) que parecem como suplementos de revistas de públicos específicos. O seu

preço, por milhares, é duas vezes maior que os dos jornais diários regionais com que eles

concorrem. Isso também é justificado na divulgação dos Stadt-Illu, da seguinte maneira: o

tamanho dos Stadt-Illu será sempre rigorosamente limitado, ou seja, não haverá nenhum

cemitério de anúncios; qualquer anúncio estará completo e por inteiro no centro.

(MARCONDES FILHO, citado por MARSHALL).

Algumas condições que levaram à estabilização desse modelo antigo foram: a dificuldade de

penetração em um ambiente onde já existiam jornais de credibilidade estabelecidos, a utilização

eficaz das economias de escala, produção e distribuição geograficamente centralizadas, a forte

dependência de verbas publicitárias (MENSING e REJFEK, 2005).

1.4 A crise dos jornais

Da invenção do rádio, à da TV, a cada nova tecnologia que possibilita a disseminação da

informação, a existência do jornal é colocada à prova. Com o advento da internet, do

desenvolvimento da Web, das novas tecnologias portáteis que possibilitam a leitura, a

1No original http://www.time.com/time/business/article/0,8599,1877191-1,00.html 2 “Newspapers and magazines traditionally have had three revenue sources: newsstand sales, subscriptions and

advertising.”

10

conectividade e o compartilhamento de informações e conteúdos, os jornais passam por mais uma

crise.

Os dados da World Association of Newspaper (WAN)3 mostram em números o estado da crise

dos jornais. Nos últimos anos, a circulação global de jornais diários vem diminuindo. Em 2009,

caiu 0,8 por cento em relação ao ano anterior, totalizando 517 milhões de cópias vendidas. Na

América do Sul, essa queda foi de menos 4,6 por cento.

Ainda segundo a WAN, a queda de circulação global tem efeito direto sobre a receita arrecadada

com publicidade, essa última caiu 17 por cento em 2009; e os jornais norte-americanos perderam

um quarto das suas receitas publicitárias. Já na América Latina, os números mostram uma

redução de 2,9 por cento.

Para Sant´Anna (2008), a queda de circulação, do número de leitores e do tempo de leitura dos

jornais coincide com o período de acirramento da concorrência de outros meio de informação,

como a internet, as TVs por assinatura, as emissoras de rádio noticiosas e as revistas semanais. O

autor ressalta que os jornais disputam não só a atenção do público, mas também as verbas

publicitárias.

Os anúncios publicitários em jornais estão diminuindo a números alarmantes. Como pode ser

observado no gráfico disponibilizado no início do ano de 2010 no relatório The State of The News

Media publicado pelo PEW – Project for Excellence in Journalism4. Os anúncios em jornais

impressos diminuíram cerca de 25 por cento no ano de 2009.

3 Dados disponíveis no site do World Association of Newspaper (http://www.wan-press.org/article18612.html) 4 É um centro de pesquisa que pretendem estudar as revoluções que acontecem no campo da informação. São

especializados na utilização de métodos empíricos para avaliar e estudar o comportamento da imprensa e a análise de

conteúdo.

11

Figura 1: Mudança na receita advindas de anúncios publicitários por mídia de 2008 a 2009

Fonte: PEW

A jornalista e professora Penny Abernathy5 resume a crise atual enfrentada pelos jornais de uma

forma simples. Para ela, os jornais impressos possuíam monopólios geográficos e agora, com a

competição de outros veículos, os modelos de publicidade e receita não são mais adequados às

necessidades financeiras dos jornais.

Essa situação recente é reflexo de um processo que já vem sendo observado desde 1960. Meyer

(2007) cita Herbert A.Simon6 que no final da década de 60, em uma série de conferências

patrocinadas pelo Johns Hopkins Intitute for Advanced Studies, percebeu o surgimento de

sobrecarga na mídia. Para Simon esse novo cenário pós-industrialização significava:

[…] a falta de outra coisa: a escassez daquilo que a informação consome. E a informação

consome algo bastante óbvio: a atenção dos receptores.[...] A riqueza de informação, portanto,

cria a escassez de atenção e a necessidade de locar essa atenção de forma eficiente em meio a

5 Entrevista realizada pela Fox News com o título de “Paying for online content: When and How Much” 6 Herbert A. Simon, “Designing Organizations for na Information-Rich World”, em Martin Greenberg (org.),

Computers, Communications, and the Public Interest (Baltimore: Jons Hopkins University Press, 1971).

12

superabundância de fontes de informação que podem consumi-la (SIMON, citado por MEYER,

2009, p. 19).

O American Press Institute (API) 7 em resposta a essa crise criou o Newsmedia Economic Plan

8.

Segundo o plano, a base do jornalismo americano se encontra em um precipício. Para o API, esse

contexto se deu com o declínio da circulação impressa e da publicidade, com a chegada das

tecnologias disruptivas da internet e ainda, com a concorrência de uma variedade de novos atores

e setores.

O Google News agregador online de notícias, criado pela empresa Google traz uma questão

contraditória para as empresas jornalísticas. Ele exibe as notícias relacionadas ao assunto e não

cobra nada por isso, nem paga. A polêmica surge pela razão econômica; de direitos autorais, já

que as notícias podiam ser lidas pelo Google News sem necessidade de ir direto no site do jornal;

e pelos critérios de hierarquização das notícias que aparecem para os usuários. No 8º Congresso

Brasileiro de Jornais, realizado em Agosto de 2010, esse assunto foi debatido . O presidente da

Associação Mundial de Jornais, Gavin O'Reilly, frisou que "conteúdo ainda é rei" no jornalismo.

A cobrança de pagamento dos direitos autorais do material das empresas jornalísticas é prevista

pela Declaração de Hamburgo, proposta por publishers europeus e assinada em 2009 pela ANJ.

O API constata que o problema é que o modelo de negócio online ainda não chegou perto de

compensar o antigo modelo de negócios que ele está substituindo. O API observa que faixas da

população americana parecem ter abandonado os jornais ou estão crescendo sem o hábito de lê-

los. Enquanto isso, os sites de organizações noticiosas atraem cada vez mais leitores.

7 American Press Institute – Instituto Americano de Imprensa 8 O Newsmedia Economic Plan (Plano Econômico para Mídia de Notícias) foi criado em 2008 para atender a crise

econômica enfrentada pelos jornais

13

1.5 O perfil dos novos consumidores e leitores

Pouco mais de um quarto da população mundial tem acesso à internet9, mas os números

aumentam a cada dia. Novos usuários, hábitos de consumo e comportamento online emergem a

todo momento e uma característica tem sido comum a eles: a interatividade. Os novos usuários

não se contentam com o antigo papel passivo de meros receptores de conteúdo, eles agora,

modificam e criam.

Piotet e Pisani (2010) denominam esses internautas de “web atores”. Os atuais usuários têm um

comportamento em plena mutação. Eles passaram a propor serviços, trocar informações,

comentar e participar. Essa mudança foi gradual, devido ao acesso a tecnologia e novos

aplicativos, como o correio eletrônico, fóruns de discussão, redes de relacionamento e sites de

compras. Atualmente, para os autores, as páginas estão cada vez mais abertas às mudanças

propostas pelos usuários e seus mecanismos cada vez mais simples de serem desenvolvidos e

criados por neófitos.

Esse é o novo perfil de usuário com o qual se deparam as empresas jornalísticas. Essa

transformação nos hábitos de navegação na internet é, segundo Piotet e Pisani (2010), profunda e

“chegou de surpresa, sem que tenhamos nos dado conta”.

Garfield (2010, p.24) caracteriza o comportamento da nova geração de leitores, a chamada

geração Y, que deveria consumir os jornais “[…] assim como os jovens já não escutam mais o

rádio, eles simplesmente não compram mais os jornais”. O autor indica que existe uma expansão

de leitores online, tanto de jovens, quanto de mais velhos, mas, que estes não estão dispostos a

pagar pelo conteúdo.

Já Mounier (2002), indica os sistemas dinâmicos de publicação de sites como uma nova forma de

interação entre usuários, que, assim, podem modificar o conteúdo de páginas que antes eram

estáticas. O usuário passa a poder alterar o conteúdo e a formar comunidades e redes virtuais

9 Os dados estimados da população mundial do U.S Census Bureau

(http://www.census.gov/ipc/www/idb/worldpopinfo.php) do Internet World Stats

(http://www.internetworldstats.com/stats.htm).

14

onde isso acontece. Briggs (2007) enfatiza a importância da criação e distribuição de conteúdos

na Web, caracterizada pela comunicação aberta, controle descentralizado, liberdade para

compartilhar e recombinar conteúdos.

O resultado desse novo perfil dos usuários pode ser observado na afirmação de Anderson (2006).

O autor comenta que, atualmente, existe toda uma geração que cresceu com a expectativa de ser

capaz de acessar notícias a qualquer hora, sobre qualquer assunto, de graça. Por isso, o setor de

notícias teria sido o primeiro a realmente sentir o impacto da internet.

A pesquisa feita pelo – Project for Excellence in Journalism (PEW

)10

comprova esse

comportamento do novo público. A pergunta da pesquisa feita aos usuários de sites de notícia foi

a seguinte: o que você faria se seu site de notícias favorito se tornasse pago? Oitenta e dois por

cento dos entrevistados afirmaram que mudariam de fonte de informação e procurariam obtê-las

em outro lugar. Apenas quinze por cento continuariam a pagar pelo serviço.

10 É um centro de pesquisa que pretendem estudar as revoluções que acontecem no campo da informação.

Especializado na utilização de métodos empíricos para avaliar e estudar o comportamento da imprensa e a análise de

conteúdo.

15

Gráfico 1 Os usuários estão dispostos a pagar pelo acesso aos seus sites de notícia favoritos?

Fonte: PEW.

1.6 A resposta dos conglomerados de comunicação à crise econômica

Assim como os autores Anderson (2009) e Briggs (2007), Garfield (2010) percebeu a mudança

no comportamento do consumidor e na economia, negada em princípio pelos empresários do

setor. Bob Garfield (2010) ilustra um panorama inicial de comportamento dos representantes das

grandes corporações midiáticas frente a esse novo cenário. Ele cita o discurso de Timothy

Balding11

, em Fevereiro de 2007 “ […] A forma de prever a morte dos jornais deve ser exposta

por aquilo que é - nada mais que uma moda, com base em pressupostos comuns que são

desmentidas pelos fatos”. (BALDING, citado por GARFIELD, 2009, pg. 34).

11 CEO da base em Paris da Associação Mundial de Jornais

16

Garfield (2009) apresenta o caso de vários jornais americanos que ou fecharam ou tiveram seu

patrimônio consideravelmente diminuído. Um dos casos é o do Minneapolis Star Tribune,

adquirido por McClatchy em 1998 por US$ 1,2 bilhão, O jornal foi vendido aos investidores

privados, em Dezembro de 2006 por US$ 530 milhões. Outra situação é do San Francisco

Chronicle e do Seattle Times que, em 2009 estavam, segundo o autor, na porta da morte.

Mesmo com exemplos de extinção de jornais, as respostas à crise são muitas vezes divergentes.

Associações de empresas jornalísticas e de jornalistas profissionais perceberam a situação dos

jornais e, em agosto de 2010, Christoph Riess executivo da WAN-INFRA12

disse ao apresentar o

relatório de tendências da imprensa: “tenho notado uma tendência entre os jornalistas e

comentaristas de mídia de focar nos aspectos negativos do negócio, quando é evidente que há

muitos pontos positivos”. Essa fala de Riess é interessante, pois observa que a WAN criou em

1997, o projeto Shaping the Future of the Newspaper que tem como objetivo ajudar os jornais,

com planos de curto e longo prazo, e sobrevivem e prosperam no ambiente de mídia em mutação.

Já a API13

, criou o Newsmedia Economic Plan que estuda formas de ajudar as empresas

jornalísticas a buscarem uma reposta à crise. A Knight Foundation criou o News Challenge um

concurso que premia o desenvolvimento de plataformas, ferramentas e serviços que transformam

as comunidades de notícias.

O empresário Rupert Murdoch do conglomerado News Corporation e dono de canais de tv a cabo

como a FOX, o jornal New York Post e outros veículos em todo o mundo tomou medidas para ir

contra a onda mundial de adaptação e planos alternativos de receita para salvar os jornais e

empresas jornalísticas. No início de 2010, Murdoch anunciou que iria implantar o paywall no

jornal inglês The Times, a partir dessa data para ter acesso as notícias do site é necessário se

tornar assinante. As ferramentas e novas possibilidades que definem o comportamento dos

leitores online, como o compartilhamento de notícias em redes sociais, a capacidade de comentar

e interagir com a notícia também foram bloqueados pelo paywall.

12 WAN - World Association of Newspapers and News Publishers - http://www.wan-ifra.org/ e INFRA - 13 American Press Institute – Instituto Americano de Imprensa

17

Em 2009, o publisher do jornal USA Today , David L. Hunke, lançou a edição digital do jornal

para assinantes. Esse passo foi adotado como forma de procurar aumentar a receita do jornal, que

demitiu centro e trinta pessoas, cerca de nove por cento de sua equipe, e reestruturou todo o

ambiente e as divisões de trabalho. O jornal pretende evoluir de uma empresa de jornal impresso

para uma companhia midiáticas de multiplataformas, dos meios impresso, digital e de telefonia

móvel. Essa decisão foi tomada pela demanda do público, que passou a consumir o conteúdo em

iPad, no iPhone e em aparelhos de telefonia móvel. Hunke comenta que a empresa precisa ir

aonde o público está (FITZGERALD, 2010) 14

.

Briggs (2007) acredita que o tempo em que os jornais monopolizavam o mercado informativo

chegou ao fim e sugere como saída para as empresas informativas a criação e a complementação

e apoio de novos mercados. O autor incentiva a preservação do jornalismo e justifica:

Precisamos de uma nova e diferente maneira de pensar nas empresas

jornalísticas para conseguirmos sobreviver e prosperar no atual cenário da mídia.

Mas isso não significa que tenhamos de trabalhar com novas e diferentes pessoas.

Esse pensamento inovador pode surgir no meio das mesmas pessoas inteligentes.

(BRIGGS, 2007, p.27)

Cabe às empresas jornalísticas acharem uma solução para o futuro dos jornais e para isso é

necessário conhecer o público e o conteúdo que vende.

1.7 Situação dos jornais brasileiros

Nos países emergentes, a situação dos jornais impressos é diferente do cenário mostrado nos

países desenvolvidos. China, Índia e Brasil aumentaram nos últimos anos o número de leitores de

jornais. São esses números que mantêm estável a queda da taxa de circulação de jornais diários

no mundo. Sem esse aumento de circulação, os números mundiais seriam negativamente mais

expressivos.

14 No original: http://www.editorandpublisher.com/Departments/Business/%E2%80%98radical%E2%80%99-

shakeup-at-%E2%80%98usa-today%E2%80%99-as-print-takes-back-seat-to-mobile-130-more-layoffs-seen-62428-

.aspx

18

Gráfico 2: Leitura de jornais em países emergentes (circulação média/população adulta- cópias por mil habitantes).

Fonte: Associação Nacional de Jornais

Segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o ano de 2008 foi positivo para os jornais

brasileiros e a circulação média diária do país teve um aumento de 5,0% em relação ao ano de

2007. No entanto, houve uma queda em 2009. Em 2008, a circulação dos 105 jornais auditados

pelo Instituto de Verificador de Circulação chegou a 4,3 milhões de exemplares, o que, de acordo

com a ANJ significa uma circulação média diária no total de 8,5 milhões de exemplares no Brasil.

O perfil do público brasileiro que lê os jornais mudou devido ao crescimento estável do país e às

políticas educacionais de alfabetização com o incentivo da Organização das Nações Unidas para

a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) que propôs como meta educacional reduzir pela

metade até 2015 o número de analfabetos no mundo. Os números da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são

0

20

40

60

80

100

120

140

160

China Índia Brasil

Leitura de jornais em países emergentes(Circulação Média/População Adulta – Cópias por Mil Habitantes)

2007 2008 2009

19

claros: a taxa de analfabetismo caiu 1,8%15

de 2004 a 2009, entre as pessoas de 15 anos ou mais

de idade. O ano de 2009 apresentou a taxa de analfabetismo em 9,7% da população, um total de

cerca de 14,1 milhões de pessoas. Atualmente, segundo o IBGE a população brasileira é de 192

milhões de habitantes.

O perfil do acesso as notícias também mudou. De acordo com o IBOPE Nielsen On Line16

, em

2009, o número de assinaturas de notícias para aparelhos de telefonia móvel era de 173.859, essa

quantidade mais que dobrou se comparada ao números de 2005. O mesmo ocorreu com os

hábitos de leitura na internet, os números correspondentes a visitas únicas por mês em milhares

de pessoas passaram de 4.238 em 2005 para 12.782 em Janeiro de 2009.

A idade por sexo dos leitores brasileiros é de cerca de 51 anos para homens e 47 para mulheres,

segundo Ipsos Marplan17

.

Outro fator que impulsionou o aumento do número de circulação de jornais no Brasil foi a

criação de jornais diários populares. A ANJ diferencia os quality papers dos jornais populares.

Os primeiros mantêm uma circulação estável ou um aumento correspondente ao crescimento

demográfico. Os jornais populares, por sua vez, apresentaram crescimento real nos últimos anos.

Esse aumento de vendas dos jornais populares refletiu diretamente em um aumento da circulação

total de jornais no país.

Para Odmar de Almeida Filho, diretor executivo do mercado de jornais do Grupo Estado, o que

alavancou o crescimento de circulação do segmento de jornais impressos foram os jornais

populares. Segundo Almeida Filho, esses jornais surgiram do aumento do poder aquisitivo das

classes mais baixas que demandava informações. Essa necessidade foi suprida com os novos

formatos de comercialização mais promocionais dos jornais (VALLINI, 2009).

15 Dados em: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/09/taxa-de-analfabetismo-cai-18-em-cinco-

anos-no-brasil-mostra-pnad.html 16 O IBOPE Nielsen Online é uma joint-venture entre o IBOPE e a Nielsen, líder mundial em medição de

audiência de Internet. Com o auxílio de um software proprietário, instalado em um painel de internautas

representativo da população domiciliar brasileira com acesso à Web, a empresa detalha o comportamento dos

usuários do meio digital. 17 A Ipsos realiza pesquisa de mercado e suas tendência por meio da interpretação de dados.

20

Os dados do Instituto Verificador de Circulação ilustram a realidade dos jornais impressos

brasileiros e a expressiva participação dos jornais populares no raking dos dez maiores impressos

do país. O Super Notícias, com venda distribuída em trezentos municípios de Minas Gerais,

possuía em 2009 uma tiragem diária de 289.436 exemplares. Já a tiragem do jornal Folha de

S.Paulo distribuído nacionalmente, com ênfase no estado de São Paulo, é de 295.558 exemplares.

Em 2002, o jornal Super Notícias não aparecia no ranking dos dez maiores jornais impressos do

país. Aparece em 2006 e já no oitavo lugar, com 135.217 exemplares. Em quatro anos, no

ranking, o jornal subiu para a segunda posição.

21

Tabela 1: Os dez maiores jornais do Brasil (circulação/dia).

Fonte: Associação Nacional de Jornais, números do Instituto Verificador de Circulação

Para Teodoro Braga, diretor executivo da Sempre Editora, responsável por publicar O Super

Notícia, o motivo do sucesso do empreendimento é o foco em um público diverso, mas mais

intensificado nas classes B, C e D. Outros fatores são: o preço de R$ 0,25 centavos por exemplar

o torna acessível para várias camadas, o sistema de distribuição (vendas em bancas, pontos

alternativos, vendedores ambulantes) e as promoções com o intuito de fidelizar os leitores. Já a

lucratividade do jornal, Braga justifica com a receita advinda da publicidade permanente dos

anunciantes do varejo. Houve edições do jornal em que dez páginas eram dedicadas aos anúncios

de varejistas. (VALLINI, 2009).

A resposta dos conglomerados de notícia brasileiros frente à situação dos jornais no mundo e no

país pode ser resumida pela Associação Nacional de Jornais representante dos interesses dessas

empresas:

[…] a indústria jornalística brasileira adotou uma postura de cautela, tanto na área de

circulação como na venda de espaços publicitários, tratando de ajustar seus custos frente a uma

previsão de receitas inferiores às de 2008. […]As empresas jornalísticas brasileiras estão

conscientes de que os últimos anos apresentaram resultados excepcionais, conseqüência de

taxas de crescimento que dificilmente seriam sustentáveis no longo prazo, mesmo que a

economia prosseguisse em expansão. A incerteza que tomou conta dos mercados a partir do

final de 2008 faz prever que em 2009 ocorra uma interrupção desse processo. Entretanto, uma

recuperação econômica (cujo início é esperado para o final deste ano), permitirá uma retomada

do crescimento da circulação dos jornais impressos, em função do prosseguimento da melhoria

da educação da população e de uma recuperação do nível de emprego e renda dos maiores

segmentos da população. (ANJ, 2009)

A respeito do novo perfil de leitores e sobre a migração do público de jornais para a mídia digital,

a ANJ relata que as empresas jornalísticas brasileiras acompanham atentamente a situação

mundial e nacional. Nos países desenvolvidos, esse movimento migratório é mais intenso. A

proposta da associação é fornecer ao leitor e ao mercado publicitário “produtos que atendam às

necessidades de uma audiência híbrida (impresso e digital) mediante o oferecimento de

conteúdos mais ricos e diversificados” (ANJ, 2009).

22

2 EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA, E NOVOS MODELOS DE SUSTENTABILIDADE NA

INDÚSTRIA JORNALÍSTICA

2.1 Panorama histórico

A criação da internet representa um dos exemplos mais bem sucedidos dos benefícios do

investimento e do compromisso com a pesquisa no desenvolvimento de infra-estrutura de

informação. Desde o início das pesquisas a indústria, o governo e o meio acadêmico são parceiros

no desenvolvimento dessa nova tecnologia. (LEINER, 2003).

A internet surgiu a partir de pesquisas militares durante a Guerra Fria entre os Estado Unidos da

América (EUA) e a União Soviética na década de 1960. Os EUA necessitavam de um meio de

comunicação que fosse eficaz ao transmitir as informações, e que ao mesmo tempo, fosse

confiável e descentralizado por motivos de segurança. Criou-se a ARPANET, pela então

Advanced Research Projects Agency (ARPA), atualmente denominada de Defense Advanced

Research Projects Agency (DARPA). Em 1962, J.C.R Licklider do Massachusetts Institute of

Technology (MIT) já discutia em termos da existência de uma Rede Galáxica. A visão de

Licklider era a de um mundo interconectado por um conjunto de computadores através do qual

todos acessariam rapidamente os dados e programas de qualquer local do planeta. A essência da

ideia da internet nascia ali com o primeiro chefe de pesquisa em computação da ARPA.

(LEINER, 2003)

Com a diminuição da tensão política entre as duas potências mundiais nos anos seguintes, o

governo americano autorizou que as pesquisas continuassem a ser desenvolvidas pelos

pesquisadores nas suas respectivas universidades e eles entraram então na ARPANET. A rede

não suportou todo este sistema de universidades e militares interligados. Surgiu então a MILNET

de uso exclusivo dos militares e a ARPANET que passou a possuir localidades de acesso para os

civis. (LEINER, 2003).

23

Em meados da década de 1970 foi, criado o Transmission Control Protocol/Internet Protocol

(TCP/IP) como objetivo de permitir o tráfego de informações de uma rede para outra. Com o

aumento de pesquisadores e estudantes com acesso à rede, o governo norte-americano percebeu a

necessidade de criar backbones18

que são poderosos computadores conectados por linhas com a

capacidade de transmitir e receber grandes fluxos de dados. Em 1983, os EUA possibilitaram a

criação de backbones não só para servir as universidades e aos militares, o governo norte-

americano passou a incentivar a criação para fins comerciais. E em 1990, Tim Berners-Lee, do

European Center for Nuclear Research (CERN), criou a World Wide Web, versão gráfica da rede

mundial de computadores. (LEINER, 2003).

Para Leiner (2003), são quatro os aspectos envolvidos na história da internet. O primeiro é a

evolução tecnológica que começou com as primeiras pesquisa em “packet switching”19

, com a

ARPANET e suas tecnologias, e onde a pesquisa atual continua a expandir os horizontes da

infra-estrutura em várias dimensões como escala, desempenho e funcionalidade; os aspectos

operacionais e gerenciais de uma infra-estrutura operacional complexa e global; o aspecto social

que resultou numa larga comunidade de internautas trabalhando juntos para criar e evoluir com a

tecnologia; e o aspecto de comercialização que resulta numa transição extremamente efetiva da

pesquisa numa infra-estrutura de informação disponível e utilizável.

Póvoa (2000) apresenta a televisão e a internet como sendo os dois maiores fenômenos da

comunicação no século XX e pontua que a TV teve mais de 50 anos de existência enquanto a

internet ainda está se desenvolvendo no século XXI. O autor diferencia a mídia internet da TV,

do impresso e do rádio ao mesmo tempo em que observa a interatividade como uma das

características inovadoras estruturais. Segundo Póvoa (2000) os dois meios que mais reúnem

pessoas são, simultaneamente, os Portais de internet e as redes de televisão aberta. Os exemplos

de força popular na internet são demonstrados por Portais como o Yahoo, UOL, Globo.com e

outros.

18 Em português backbone é espinha dorsal. 19 É uma tecnologia de troca de dados pela rede de computadores interligados. Ao enviar uma informação ela é

dividida em diversos pacotes, que são enviados para o computador mais perto, com a indicação em cada pacote do

computador remetente e o computador destinatário. Os pacotes transitam pelos computadores da rede, e cada

computador encarrega-se de enviar os pacotes pelo caminho mais curto disponível até ao destino.

24

Para Mark Briggs (2007), a mudança de Web 1.0 para a Web 2.0 revolucionou os Portais de

notícia, principalmente em relação à participação dos usuários comuns como o diferencial entre

as duas:

No modelo 1.0, um editor (seja um site de notícias ou um site pessoal no

Geocities) colocava o conteúdo num site da Web para que muitos outros lessem,

mas a comunicação terminava aí. O modelo 2.0 não apenas permite que “muitos

outros” comentem e colaborem com o conteúdo publicado, como também

permite que os usuários coloquem, eles mesmos, material original. (BRIGGS,

2007, p.30)

O autor enfatiza a importância da criação e distribuição de conteúdos na Web, caracterizada pela

comunicação aberta, controle descentralizado, liberdade para compartilhar e re-combinar

conteúdos.

A comunicação digital, iniciada em primeiro lugar pela internet, mas agora desenvolvida por

dispositivos digitais portáteis, gerou uma mudança essencial no modelo econômico do jornal. A

realidade atual passa a ser de alguns custos fixos de produção e de distribuição, essa última passa

a ser descentralizada e a publicidade passa a ser onipresente nos meios. (MENSING, 2005)

2.2 Sociedade em Rede

Desde a antiguidade, a sociedade humana forma redes, mas as redes ganharam vida nova em

nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas pela internet, afirma Manuel

Castells (2003). Segundo o autor, as redes têm grandes vantagens como ferramentas de

organização, graças a algumas de suas características como a flexibilidade e a adaptabilidade que

lhes são inerentes e, para o autor, essenciais para sobreviver e prosperar em um ambiente que é de

rápida mutação.

Para Castells (2003), a internet teve seu início como uma tecnologia obscura e geralmente restrita

ao mundo isolado de cientistas computacionais transformou-se em ponto crucial na transição para

uma nova forma de sociedade: a de rede, e com ela para uma nova economia. O autor apresenta a

internet como o meio de comunicação que permite, pela primeira vez na história, que muitas

25

pessoas em muitos lugares diferentes se comuniquem, ao mesmo tempo, em determinado tempo

escolhido e em escala mundial.

Castells (2003) cita a expressão “Galáxia de Gutenberg” criada por MacLuhan para explicar a

importância dada à difusão da máquina impressora no Ocidente, e cunha sua própria

denominação do atual fenômeno de comunicação global que é a internet, ele chama esse novo

mundo no qual vivemos de “Galáxia da Internet”. O autor recorda o contexto inicial dessa

transformação global ao relatar que nos últimos anos do segundo milênio, aumentou

consideravelmente o uso da internet como sistema de comunicação e forma de organização.

Segundo Castells (2003), o ano de 1995 foi o primeiro de disseminação da world wide web, e

contava com cerca de 16 milhões de usuários de redes de comunicação por computador no

mundo. O autor previu em sua obra que em 2010 nos aproximaríamos da marca de dois bilhões

de pessoas e sua previsão foi confirmada. Atualmente, são 1,9 bilhões de pessoas conectadas na

rede20

.

Castells (2003) chama a atenção para a influência das redes baseadas na internet, que segundo o

autor não se limita ao número de seus usuário, e aponta a importância da qualidade do uso. Para o

autor, a internet é o centro e o meio pelo qual as atividades econômicas, sociais, políticas, e

culturais essencias estão sendo construídas. Castells (2003) aponta a exclusão digital como sendo

uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura.

De acordo com Castells (2003) existe um sentimento ambivalente em relação a internet, que ora

trará efeitos negativos à sociedade e é ora vista de forma positiva devido a previsões de

consequências sociais proporcionadas por maravilhas tecnológicas. O autor acredita que o

mercado de capitais contribuiu para esse sentimento e relembra o contexto antes de abril de 2000,

em que independente de seu desempenho as empresas relacionadas à internet recebiam avaliações

altíssimas. No início de 2001, a maior parte das empresas de tecnologia foi castigada pela fuga de

investidores.

20 Dados do Internet World Stats (http://www.internetworldstats.com/stats.htm)

26

Castells (2003) constata que o cerne do novo negócio eletrônico está na conexão em rede,

interativa, baseada na internet, entre produtores, consumidores e prestadores de serviços.

Segundo o autor, nesse contexto a rede é a mensagem. O autor identifica como contribuição dos

novos meios tecnológicos e do novo modelo de negócios, para as empresas que existiam antes da

internet, as seguintes características: escalabilidade, que remete a capacidade de expansão ou

diminuição do negócio dependendo de sua necessidade, sem maiores custos com capacidade de

produção ociosa; interatividade, que pode ocorrer com fornecedores, compradores, empregados e

tem como resultado a otimização de processos e relações; a administração de flexibilidade que

permite ampliar, controlar e diversificar o projeto empresarial segundo as necessidades dele; e

por último a customização, ou seja, a capacidade de adaptar o produto final às necessidades dos

consumidores.

2.3 Estratégias de disponibilização de conteúdo jornalístico online e impresso

Nos anos 90, deu-se início às transformações ocorridas nas empresas de comunicação,

telecomunicações e informática. Essas mudanças foram impulsionadas, principalmente, pelas

inovações tecnológicas, observa Saad (2003). Para a autora, esse foi um período de ruptura, no

qual se iniciou um novo paradigma estratégico para as empresas jornalísticas, que passaram a

introduzir em sua rotina produtiva as novas tecnologias. A autora denomina como a mais

impactante revolução da comunicação humana, o advento da rede mundial de computadores. E

em específico o desenvolvimento comercial da internet com a criação da World Wide Web.

Igualmente revolucionário para a autora, é o conceito de hipermídia, que possibilita a

visualização na tela do computador conectado os recursos de imagens, hipertextos, animação e

voz.

Saad (2003) chama a atenção para o segmento das empresas informativas que foram atingidas,

seja pelo que a autora chama de novo paradigma, ou seja pela necessidade de adaptação que

levou ao reposicionamento estratégico. O novo paradigma da tecnologia da informação, é

caracterizado por ter a informação como matéria-prima. Segundo a autora, nas revoluções

tecnológicas anteriores, a informação agia sobre a tecnologia e no momento atual são as

tecnologias que agem sobre a informação e resulta na transformação da economia e da sociedade.

27

Pinho (2003) relata que, no Brasil, devido ao crescimento exponencial da rede mundial de

computadores, os grandes grupos editorias e de comunicação, estavam interessados no potencial

futuro de receitas originadas pelo usuário. E para que isso ocorresse, as empresas criaram e

colocaram seus sites na internet. De acordo com Pinho (2003) , a Folha de São Paulo, a Gazeta

Mercantil, o Valor Econômico e a Veja haviam restringido o acesso aos conteúdos das

publicações apenas para assinantes.

Independente da denominação dada, jornalismo na internet, seja chamado de digital, online ou

webjornalismo, o jornalismo marca presença na Web, segundo Pinho (2003). A primeira

empresa jornalística brasileira a migrar para a rede foi o Grupo O Estado de S.Paulo, em 1995.

Essa mudança no campo das novas tecnologias é um reflexo do novo paradigma, que influencia

na construção de estratégias de empresas de comunicação. Mas a pressão para que ocorra essa

mudança vem do mercado, dos consumidores e não de decisões corporativas. (Saad, 2003)

2.3.1 O início das estratégias jornalísticas para os Portais de notícia

Pinho (2003) apresenta o conceito de Portais. Segundo o autor, eles surgiram no contexto

brasileiro em 1998, quando essa nomenclatura era usada para se referir a sites de buscas que

ofereciam serviços noticiosos, de e-mails gratuitos e bate-papo em tempo real.

De acordo com Póvoa (2000), o Portal de internet é um ponto de partida para a experiência

pessoal de um usuário na internet. Segundo o autor, a personalização do conteúdo, serviços e

links favoritos do usuário é um fator importante na estratégia de interface. E, através do valor

proposto ao usuário, pode-se criar lealdade ao brand21

, formar oportunidade de vendas, promover

serviços de comunicação e compreender o perfil de comportamento da massa de usuários.

Nessa estratégia inicial, de acordo com Saad (2003), a competitividade passava pela formação de

equipes mais flexíveis, pela produção de pacotes informativos passíveis de customização e

21 É a identidade de um produto, de uma empresa ou de um serviço.

28

digitalização, por novas formas de gestão dos estoque informativos e audiovisual e pelo

estabelecimento de sinergias técnico-produtivas.

Os Portais de notícia no Brasil surgiram nesse período. Inicialmente, segundo Ferrari (2003), eles

não tinham a concepção de um Portal de notícias, acabaram evoluindo para tal. Os primeiros

passos tomados pelas empresas informativas no Brasil, segundo Saad (2003) foram os

lançamentos de uma página na Web com conteúdo experimental e os lançamentos de algumas

páginas já com o conteúdo similar ao de um Portal.

O conceito de Portais de notícia é apresentado por Ferrari (2003), e para ela o conteúdo

jornalístico tem sido o principal chamariz dos Portais. A autora observa que por reunir milhões

de pessoas conectadas simultaneamente, os Portais passaram a assumir um comportamento de

mídia de massa. Ferrari (2003) delimita algumas características que podiam ser observadas nos

Portais22

, como: ferramenta de busca; comunidades, comércio eletrônico, e-mail gratuito, seções

de entretenimento e esporte, notícias, previsão do tempo, chat, discos virtuais, o serviço de

criação de home page pessoais (com tutorial para construir seu próprio site), jogos online,

páginas amarelas, mapas, cotação financeira, canais, mapa do site e a personalização do conteúdo.

Sobre a estratégia dos Portais de internet no início da sua criação, Póvoa (2000) diz que

inicialmente a ideia era que eles seriam um ponto de partida para outros conteúdos, contendo

apenas links externos. Mas, os Portais perceberam a oportunidade de gerar lucros com esse

tráfego de usuários, através dos espaços de propaganda, que se tornavam mais valiosos na medida

em que o acesso dos usuários se tornava mais intenso. E criava assim, segundo o autor, situações

de comércio.

A realidade brasileira dos grandes sites de conteúdo, durante a segunda metade da década de 90

até o início dos anos 2000, era a de oferta abundante de conteúdo, de acordo com Ferrari (2003).

A autora caracteriza esse período como sendo muito mais voltado ao volume de notícias do que

ao aprofundamento das matérias.

22 A observação da autora refere-se a realidade dos Portais existentes no início dos anos 2000.

29

Beth Saad (2003, p. 21) descreve esse mesmo cenário como sendo caracterizado por uma

“revolução no mercado de produção de informações impulsionada pela introdução dos

computadores nas redações e nas áreas de captação e distribuição”. Na época, o campo de

pesquisa percebeu nessas mudanças a oportunidade de formular e estudar as aplicações práticas.

Para a autora:

Estas inovações traziam as idéia de que o processo de comunicação dominante - a comunicação

de unidirecional - passaria a conviver, por conta das novas tecnologias, com outras formas mais

individualizadas e específicas de relação entre receptores e mensagens. (SAAD, 2003, p.21)

Para Saad (2003), essas estratégias são necessárias para produzir conteúdos que sejam

consumidos de forma plena pelos leitores. A autora pontua que essa nova realidade colocou

publishers e empresas informativas em estado de alerta. A busca por soluções poderia passar de

contratações de consultorias especializadas a instituições acadêmicas que desenvolvessem

modelos de negócios e estratégias para enfrentar as transformações.

Marcello Póvoa (2000), ao ilustrar o cenário de evolução dos Portais, conceitua as fases que

iniciaram esse processo pela competição de usuários que, ainda, está em continuação. A primeira

fase foi caracterizada pela quantidade e variedade crescente de conteúdo culminando em uma

competição acirrada entre os Portais e o esclarecimento de suas personalidades. A fase seguinte

foi marcada pela adição de serviços sticky applications. Essas são aplicações que “grudam” em

função de seu valor utilitário e fazem com que o usuário volte e fique por mais tempo nos Portais.

Exemplos desse serviço são e-mails grátis, calendários, instant messengers, sincronizadores de

agendas (Palm, Windows CE). A terceira fase é a atual, na qual o diferenciador competitivo dos

Portais é a integração de todos os elementos de forma harmoniosa.

Com a crise da internet, a partir de 2001, foram frustradas as expectativas dos investidores e

donos de sites, que antes imaginavam ficar ricos com iniciativas inovadoras. Segundo Ferrari

(2009), o mercado passou, então, a preocupar-se mais seriamente com a integração entre

conteúdo de qualidade, design acessível e viabilidade financeira a ser obtida não com o aporte

abundante de capital de investidores, mas com a obtenção de receita por publicidade.

30

Saad (2003) indica que os novos modelos estratégicos de adaptação das empresas informativas

frente ao ambiente digital e a internet propõem mudanças e inovações nas operações internas

como: estrutura organizacional, fluxo de trabalho, práticas comerciais e até em modelos de

receita que exigem uma organização pró-ativa à operação digital, que apontem atividades mais

rentáveis em relação a uma combinação ou outra.

2.4 A lógica da Cauda Longa

O conceito de Cauda Longa foi criado por Anderson (2006) para explicar uma realidade

percebida pelo autor. Segundo ele, muitos de nossos pressupostos sobre as tendências dominantes

são, na verdade, consequências da incompatibilidade entre oferta e demanda - resposta do

mercado a ineficiências na distribuição.

Para Anderson (2006), com a difusão da internet e a abertura de lojas virtuais, ou, varejo online,

essas limitações físicas foram contornadas e um novo mercado foi criado e reconhecido como a

economia da Cauda Longa. Nesse conceito, o autor divide o mercado em dois: o de massa, que

continua existindo e tendo a mesma dinâmica e o de nichos, onde estão representados os

consumidores que passam a ter acesso e a consumir produtos alternativos.

A economia lida com o conceito de escassez, mas, para Anderson (2006), com a distribuição do

varejo online, e com o novo perfil dos usuários da internet, vivemos o momento da abundância. O

autor contextualiza as empresas jornalísticas nesse novo conceito de uma economia de Cauda

Longa, ele comenta que, nos princípios da década de 1990, as notícias começaram a se difundir

na internet e a serem lidas no computador e não mais apenas nos jornais. Segundo Anderson

(2006), a partir desse momento, qualquer pessoa com um laptop e conexão com a Internet tinha o

poder da imprensa. Para o autor, o poder que as empresas possuíam decorria do controle das

ferramentas de produção da notícia

Ferrari (2003) conceitua blog como diários online. E são os blogs um dos fenômenos pontuados

por Anderson (2006). O autor observa que ficou menos aparente a diferença entre as reportagens

feitas por jornalistas profissionais das amadoras. E ainda ressalta que os bloguistas podem ser

31

mais especialistas em sua área de interesse do que os jornalistas que escrevem a matéria, podem

escrever e publicar mais rápido e ainda podem ter melhor acesso às fontes de informação de

determinado assunto do que os jornalistas.

Atualmente, de acordo com estatística do BlogPulse23

a quantidade de blogs é cerca de 146

milhões e para Anderson (2006) as chances de que alguns desses blogs sejam importantes são

boas e estão melhorando. Com o aperfeiçoamento dos filtros de pesquisa, de acordo com o autor,

aumenta-se a probabilidade de que os blogs fiquem ainda melhores. Segundo Anderson, sob a

perspectiva da grande mídia, isso significa mais competição. O autor constata, que queiramos ou

não, a fragmentação de fontes de notícia é inevitável.

Para Anderson (2006) os blogs podem alcançar os usuários da grande mídia e encaixá-los em

nichos muito mais específicos, sem recorrer as generalizações da velha mídia. O autor cita o caso

de Richard Posner, juiz e jurista eminente, que ao escrever numa resenha de livros do The New

York Times, observou, como quase sem custos financeiros algum, um bloguista tem condições de

alcançar determinado segmento do público, muito mais estreito do que aquele acessível aos

jornais e aos canais de notícias.

O que realmente incomoda os jornalistas tradicionais é que, embora os blogs isoladamente não

ofereçam garantia de exatidão, a blogosfera como um todo dispõe de melhor máquina de

correção de erros do que a mídia convencional. A rapidez com que se corrige e se seleciona

essa vasta massa de informações deixa a mídia convencional na poeira. Além da existência de

milhões de blogs e de milhares de bloguistas especializados, os leitores, ainda por cima, postam

comentários que enriquecem os blogs, e as informações contidas nesses comentários, como as

existentes nos próprios blogs, percorrem a bloglândia à velocidade das transmissões eletrônicas.

(POSNER citado por ANDERSON, 2006, p.184)

No Brasil, segundo dados mais recentes de dezembro de 2008, 11,6 milhões de pessoas

acessaram blogs (IBOPE//NetRatings).

23 Acesso http://www.blogpulse.com

32

2.5 A nova economia do grátis

O novo modelo econômico baseado no Grátis é apresentado por Anderson (2009) que também o

conceitua. O autor define grátis como uma palavra proveniente do latim gratis (contração de

grattis, “por nada”, isto é, “sem recompensa”, ou preço zero). Já a palavra equivalente em inglês

é free que tem dois significados embutidos. Segundo o autor isso tem uma conotação positiva

para o marketing que é a de associar o sentido de “liberdade” (um dos significados da palavra

free) o que ameniza as defesas, e, ao mesmo tempo se torna um truque de vendas. A palavra free

vem então, para o autor, da noção social de liberdade, tanto da escravidão quanto do custo.

Segundo o autor, quando algo se torna um produto digital, inevitavelmente passa a ser grátis - em

termos de custo e muitas vezes de preço. O autor caracteriza e separa a economia em dois tipos: a

de bits e a de átomos. A primeira é a digital, existente basicamente de forma virtual. Já a segunda

é a de átomos, a física, que abrange basicamente quase tudo feito historicamente até o século XX.

Para Anderson (2009), um exemplo claro de como após uma década e meia de experimento

online o grátis se tornou o padrão (e o pagamento foi fadado a obscuridade) é o caso do jornal

americano The New York Times que em 2007 disponibilizou gratuitamente online seu conteúdo

com um modelo híbrido de forma gratuita a pessoas que tivessem interesse em compartilhá-las

online em mensagens postadas em blogs e outras mídias sociais .

De acordo com Anderson (2009) “A informação abundante quer ser grátis. A informação escassa

quer ser cara”. Essa afirmação vem da síntese de uma idéia baseada na publicação de Steven

Levy24

de 1984, na qual o jornalista relatava os sete princípios éticos de um hacker, sendo o

terceiro princípio aquele que interessa à Anderson (2009) que diz que “Toda informação deve ser

grátis”.

No próximo capítulo serão apresentados os atuais modelos econômicos de três jornais do Brasil e

três dos EUA. Os jornais brasileiros apresentados são: Folha de São Paulo, Estado de Minas e O

Tempo. Já os modelos de jornais norte-americanos são: o The New York Times, o The Wall Street

Journal e o USA Today.

24Ver o livro Hackers, Heroes of the Computer Revolution

33

2.6 Modelos econômicos no webjornalismo

Meyer (2007) propõe como sugestão inicial ao problema da adaptação do Jornalismo ao meio

digital e sua possível extinção:

Talvez seja necessário um diferente tipo de jornalismo, sustentado por uma base financeira

diferente, para nos conservar inteiros. Para o bem de nossa saúde social e política, devemos

entender o suficiente sobre jornalismo como negócio para tentar preservá-lo em novas

plataformas. (MEYER, 2007, p.16)

Para o autor, o novo problema está justamente no excesso de mensagens, que ultrapassa a

capacidade do público de apreendê-las. Novas formas de receita deverão surgir para que o jornal

não desapareça.

A situação atual das empresas jornalísticas foi discutida no painel “Bleeding red ink: How

newspapers plan to stop the flow”, sediado no encontro anual em 2009 da Society of American

Business Editors and Writers (SABEW). Os palestrantes convidados foram a professora Penny

Muse Abernathy, da Universidade da Carolina do Norte e John Temple, antigo editor do jornal

americano the Rocky Mountain News, extinto em 2009. Para Temple, os jornais tradicionalmente

aproximam pessoas, e o que falta nos novos modelos é exatamente conectá-las na comunidade

em que está inserido o jornal. John Temple pontua que os anunciantes buscam manter contato

com seu público alvo e a Web cria essa oportunidade para os anunciantes. Segundo ele, os jornais

não estão experimentando as novas formas possíveis de conseguir isso. Temple cita o Facebook25

como exemplo de anúncios direcionados para comunidades específicas.

A professora Abernathy comenta no mesmo seminário da Sabew, que as empresas de jornais

americanas sabem muito pouco sobre seus clientes. Para ela, os jornais tendem a classificar o

preço da publicidade de duas formas: a primeira, é a de superfaturar o preço, o que resultou na

atual situação crítica dos jornais impressos; e a segunda, é na forma de cobrar os espaços de

anúncios na internet, que hoje são muito mais baratos do que deveriam. Abernathy (2010) pontua

que as empresas jornalísticas têm a tradição de se considerarem como supermercados, ao

25 O Facebook é uma rede social que reúne pessoas a seus amigos e àqueles com quem trabalham, estudam e

convivem. As pessoas postam fotos, trocam mensagens e compartilham conteúdos da Web.

34

oferecerem tudo para todos. E o que eles deveriam fazer neste momento é se concentrar no que

fazem de melhor e transformar nisso o seu negócio.

A realidade é que o comportamento dos internautas não é fácil de prever e estudar. No gráfico

abaixo, disponibilizado no início do ano de 2010, no relatório The State of The News Media

publicado pelo PEW – Project for Excellence in Journalism26

, pode-se observar a periodicidade

com que o público clica em anúncios na internet. Cerca de 40 por cento dos usuários nunca

clicam em anúncios que aparecem nas páginas da Web na qual navegam.

Gráfico 3: Com que frequência os usuários clicam em anúncios na internet. Fonte: PEW

Em publicação intitulada Blueprint for Transformation (2010) o American Press Institute

realizou uma pesquisa com novos modelos de sustentação econômica para a indústria jornalística

e chegou a alguns pontos chave que deverão ser considerados na hora de construir esse novo

modelo econômico que deverá ser adaptado à realidade de cada empresa jornalística. Alguns

desses fatores são: organizar e ter um foco sobre o que é o seu negócio o que irá vender; investir

em soluções que são boas para o negócio imediatamente e aprender com o feedback dos clientes

26 É um centro de pesquisa que pretendem estudar as revoluções que acontecem no campo da informação. São

especializados na utilização de métodos empíricos para avaliar e estudar o comportamento da imprensa e a análise de

conteúdo.

35

para aprimorar a próxima solução; construir as soluções de forma a compartilhar incentivos com

seus parceiros de negócio para garantir a cooperação deles; dar liberdade às gerências para que

elas criem soluções para os problemas, já que conhecem melhor o negócio e os leitores;

concordar que será necessário canibalizar parte do negócio, ele deverá ser sacrificado para que o

progresso aconteça.

Bagh (2010) apresenta o modelo de vendas de jornais ainda em fase de teste da Apple. A

proposta é que a Apple desenvolva um sistema de assinaturas para conteúdo online que possa ser

lido em tablets e aparelhos de leitores digitais. A empresa oferece inicialmente a proposta de que

fique com o lucro de 30 por cento gerado de toda a publicidade em suas versões de jornal online e

40 por cento do lucro das assinaturas. Bagh (2010) chama a atenção para o fato de que as

empresas jornalísticas não ficaram felizes com esse novo modelo, pois não estão acostumadas a

dividir o lucro. O autor chama atenção para a Apple como a possível salvadora das empresas

jornalísticas, pois se disponibiliza a desenvolver e comercializar o produto jornal em plena crise.

Os modelos alternativos de negócio de conteúdo de notícias online estão surgindo como resposta

à crise dos jornais. São vários os possíveis caminhos e eles dependem de inúmeras variáveis que

são as características de cada veículo, público ao qual o jornal se dirige e tipo de publicidade.

Mark Glaser é editor do site MediaShift27

, que pretende ser um guia no que ele chama “revolução

digital da mídia”. No Guide to Alternative Models for Newspapers28

publicado no site, Glaser

propõe soluções para os problemas dos jornais online.

2.6.1 Metered Payment System

Segundo Heald (2010), o modelo de Metered Payment System ainda está em fase de testes e é o

que será implantado em 2011, pelo New York Times. Nesse modelo, os usuários têm o acesso

permitido a um número determinado de notícias por mês, caso ultrapasse o número permitido, o

usuário é bloqueado e convidado a assinar o conteúdo do jornal online. É um modelo ainda em

experimentação e deverá possuir pontos de customização das notícias. O jornal americano já

27 http://www.pbs.org/mediashift/ 28 http://www.pbs.org/mediashift/2008/12/your-guide-to-alternative-business-models-for-newspapers353.html

36

tinha tentado um experimento de receita que foi o TimeSelect, o paywall que em 2007 veio

abaixo e aumentou em milhões de leitores o site do New York Times. Segundo Arthur Sulzberger

Jr, citado por Heald (2010), é necessário assumir riscos e experimentar com várias formas de

receita. Ele defende que a mudança do modelo de paywall do TimeSelect para o atual ,onde todo

leitores lêem de graça, é uma forma de tentar de adaptar.

2.6.2.Micropayment Model

Existe ainda, o modelo experimental apresentado por Graybel e Hayes (2010), conhecido como

Modified News Micropayment Model. Nesse modelo, os autores apresentam um sistema de

micropagamentos modificado. Associa-se ao conceito de micropagamentos ,o modelo em que

cada notícia ou conteúdo teria um valor que seria cobrado ao usuário para visualizá-lo. Assim

como ocorre hoje em dia, com músicas que se podem comprar individualmente no iTunes. Esse

modelo é chamado de modificado, pois sua receita não depende somente dos micropagamentos

pois é associado a publicidades, aos classificados e aos assinantes de conteúdo online e digital.

Tendo em vista que um dos grandes trunfos da Web é a possibilidade de compartilhar conteúdo,

os autores criaram a possibilidade de compartilhar o conteúdo da notícia e sugerem que caso o

usuário o faça ele seja recompensado com créditos por quantidade de usuários redirecionados ao

site do jornal. Os autores também chamam a atenção para um serviço ainda pouco explorado

pelos jornais, que é o de produzir conteúdo para mídias móveis, como o aparelhos de telefone

celular e tablets.

2.6.3 Networks blogs e classfied networks

Uma outra solução de remuneração no jornalismo online é a capacidade de fazer o networks

blogs, que é agregar ao site do jornal os blogs escritos por funcionários, freelancers e

leitores. Assim, o site pode atrair mais tráfico e por consequência mais possibilidades de receita

com publicidade. Um exemplo citado por Glaser é o LATimes.com que fez isso e conseguiu

aumentar seu número de acessos. Outra ideia do autor é o classified networks, uma ferramenta

que agregaria os anúncios de classificados. Glaser explica que os serviços de anúncios

classificados online e gratuitos como o site Craigslist usurparam boa parte da receita dos jornais.

37

O Craigslist.org é um site de classificados digitais, o usuário pode acessar e postar um anúncio

gratuitamente em todo o mundo. É separado por localidades e os anúncios variam de pessoas que

procuram ou ofertam emprego, alojamento, serviços, atividades locais, conselhos e até romance.

2.6.4 Crowdfunding

Já o crowdfunding envolve a participação financeira do público, em que esse faz pagamentos

diretos para apoiar um jornalista a escrever uma história ou cobrir uma pauta. O autor frisa que os

blogueiros já conseguiram ir por esse caminho, e está sendo experimentado por sites e jornalistas.

Glaser acha que essa opção é viável para alguns freelancers, mas não para empresas jornalísticas

mais complexas.

Um exemplo é o site Spot.us em que as contribuições feitas para patrocinar as reportagens são

deduzíveis no imposto de renda e em alguns casos são feitas parcerias com agências de notícia

para publicar o conteúdo produzido. Funciona da seguinte maneira: o público submete ao site

ideias, dicas e informações, os jornalistas criam pautas que são disponibilizadas para doação de

fundos e assim que produzidas são disponibilizadas gratuitamente. No caso de alguma agência de

notícias querer exclusividade desse conteúdo ela precisa pagar metade do que foi gasto para

produzi-la.

2.6.5 Jornais Customizados

Outra saída proposta por Gleiser, seriam os jornais personalizados que ofereceriam páginas

personalizadas para impressão na casa dos leitores, ou edições com conteúdos hiperlocais. O

próprio autor ressalta um ponto negativo dessa opção: o custo alto de impressão para os leitores.

Exemplo brasileiro foi feito pelo jornal Estado de São Paulo em 2008, patrocinado pela Nissan,

foi dado aos assinantes do jornal impresso a possibilidade de criar a capa do jornal, para isso eles

teriam que ir online configurar a página e submetê-la ao site. No domingo seguinte os assinantes

que completaram essa tarefa receberam em casa o jornal a sua primeira página customizada com

a criação que haviam feito.

38

2.6.6 Notícias mais locais

Tentar se tornar um Portal de notícias local é uma outra opção apontada por Glaser. Nessa

alternativa o Portal de notícias seria um guia de entretenimento, incluindo anúncios, opiniões e

diretórios de empresas locais, que podem ganhar dinheiro através da publicidade local e daquilo

que foi listado. Glaser frisa, que para que haja sucesso, os Portais online têm que se tornar uma

fonte confiável desses anúncios.

A possibilidade de receita com anúncios multimídia tem potencial, para Glaser a sugestão é que

as reportagens em vídeo podem ser precedidas por um anúncio curto. Atualmente os Portais de

notícia NYTimes.com, Washingtonpost.com e WSJ.com, lideram esse caminho. Outra

possibilidade para atrair audiência são os sites de nichos, estes podem ser muito mais específicos

online. Glaser explica que eles podem atrair um novo público para os jornais.

Uma última tendência que aparece e é apontada por Glaser como alternativa são os sites de

notícia sem fins lucrativos que funcionam com uma combinação de doações de fundações, e

patrocínios do leitor online. O autor frisa que esse modelo é relevante para empresa iniciantes.

2.6.7 Plataforma de notícias hyper local

Outro exemplo de novo modelo de negócio de notícias foi apresentado em matéria publicada no

site do American Press Intitute (API), de acordo com o API, o modelo é do site neozelandês

Locally Informed29

que agrega, organiza e atualiza constantemente as notícias e informações

locais derivadas de centenas de fontes na internet através de um software de plataforma . Nesse

modelo, os leitores podem contribuir com as suas próprias histórias, com o conhecimento que

têm do local e fotos, bem como participar de discussões.

O site não tem espaço para publicidade e não cobra pelo acesso, a receita vem da taxa paga pelos

usuários quando listam no site um desafio, ou um trabalho. O fator inovador desse modelo, para o

API, é a forte ligação criada entre as notícias e o mercado. Segundo API, isso acontece devido ao

sistema de créditos em que as pessoas são compensadas pela contribuição de notícias locais,

29 locallyinformed.co.nz

39

informações, fotos e comentários. Esse modelo utiliza os conhecimentos de pessoas locais para

ajudar aos cidadãos na comunidade a encontrarem novas maneiras de resolver os desafios e

tarefas diárias.

40

3 MODELOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA NO JORNALISMO ONLINE

Como observado nos capítulos anteriores, estão ocorrendo mudanças nos modelos de sustentação

econômica das empresas jornalísticas em todo o mundo graças às inovações tecnológicas, à

internet, ao acesso fácil a notícias e informações, e, ao aparecimento de um novo perfil do

consumidor de notícias, que não está disposto a pagar por elas.

As alterações nos modelos econômicos acontecem na forma de disponibilizar o conteúdo de

notícias online e de como manter em dia as contas das empresas que comercializam notícias.

Este trabalho organiza um panorama dos modelos econômicos de seis empresas jornalísticas, três

brasileiras e três americanas, que iniciaram sua trajetória comercial com os jornais impressos e

migraram para a internet como forma de sobrevivência e ampliação de base de leitores. São

apresentados, também, no panorama, alguns modelos alternativos de empresas que surgiram

durante as mudanças e apresentam características e soluções peculiares para o mesmo problema

que afeta os grandes jornais: como financiar e lucrar com o produto notícia nessa nova realidade?

Os modelos dos seguintes jornais brasileiros serão analisados: Folha de São Paulo, Estado de

Minas e O Tempo. Esses objetos foram escolhidos respectivamente por sua importância nacional,

estadual e municipal. Além de sua importância e número expressivo de tiragem, com esses

jornais pretende-se ilustrar diferentes tipos de modelo. Os modelo de conteúdo pago e híbrido são

exemplificado pela Folha de São Paulo e pelo jornal Estado de Minas, e o de conteúdo aberto é

representado pelo O Tempo.

Já os modelos de jornais americanos apresentados serão: o The New York Times, o The Wall

Street Journal e o USA Today. Os objetos foram selecionados ao cruzar os dados apresentados

pelo PEW- Project for Excellence in Journalism, os três jornais citados acima são os que

acumulam ao mesmo tempo, o maior número de acessos mensais em seus sites e a maior tiragem.

41

3.1 Histórico dos jornais - do papel aos bits

3.1.1 Folha de São Paulo

A história da Folha de São Paulo começa com a criação do jornal "Folha da Noite" em 1921.

Outros dois jornais são criados nos anos seguintes, o Folha da Manhã e o Folha da Tarde, mas

somente em 1960, os três títulos da empresa se fundiram e surge daí, o jornal Folha de São Paulo

como é hoje.

Já em 1994, a Agência Folha começa a comercializar o serviço de notícias 24 horas por dia e

passa a atender vários veículos de comunicação brasileiros. Em 1995, a Folha lança o "CD-

ROM Folha", que continha os textos na forma integral das edições do jornal do ano anterior e o

Manual de Redação da Folha. Em Julho do mesmo ano, o Folha Web, serviço de notícias do

jornal veiculado pela internet, é criado.

No ano de 1997, é lançado o site Universo Online com acesso aberto a todo usuário da internet. O

sistema permite a ligação com o banco de dados com o todo o conteúdo existente desde de o

início do site. Em 1998, foram introduzidos na redação os computadores Macintosh que facilitam

a produção de mapas, quadros, tabelas, gráficos e ilustrações.

Em 2000 é criado o serviço Folha WAP, que passa a disponibilizar notícias e outros serviços do

Folha Online para telefones celulares, gratuitamente. O jornal tem o conteúdo atualizado

constantemente e passa a contar com colunistas e o banco de dados que contem informações do

Grupo Folha.

A forma digitalizada seu conteúdo em totalidade fica disponível apenas em arquivos digitais que

podem ser baixados do site do Portal Folha Online mediante pagamento. Já as notícias que são

divulgadas no Portal não são as mesmas do jornal impresso. O conteúdo de notícias do jornal

impresso não aparece no Portal Folha Online para o público não assinante, sendo conteúdo

exclusivo pago e protegido por paywall.

42

3.1.2 O Estado de Minas

O jornal Estado de Minas foi fundado em 1928 e possui tiragem diária de cerca de 70 mil

exemplares. Faz parte do grupo Diários Associados, que dirige o jornal e outros veículos de

comunicação como o Portal informativo de internet Uai que reúne a Tv Alteroza, o jornal Aqui, a

rádio Guarani e a versão online paga do jornal Estado de Minas.

O jornal, em sua forma impressa, possui o formato standard de 50cm x 30cm. Os textos são

densos e acompanhados de fotos e ocasionalmente infográficos. Já na forma digitalizada, seu

conteúdo em totalidade fica disponível apenas em arquivos digitais que podem ser acessados do

site do Portal Uai. As notícias divulgadas no Portal não são as mesmas do jornal impresso. O

conteúdo de notícias do jornal impresso não aparece no Portal Uai para o público não assinante,

sendo conteúdo exclusivo pago.

3.1.3 O Tempo

A história do jornal diário O Tempo começa anos depois da criação de um outro jornal: o

semanário O Tempo Betim. No dia 7 de setembro de 1974, O Tempo Betim rodava cerca de 500

exemplares e aos poucos foi aumentando sua capacidade de produção. Em 1989, foi adquirido

pela Sempre Editora e aumentou gradualmente a sua tiragem para os números atuais. O jornal

diário O Tempo surgiu em 1996, e hoje, tem uma tiragem de 45 mil exemplares. Sua sede é na

cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Atualmente, são produzidos

também os jornais: Pampulha, o Super Notícia, O Tempo Betim e O Tempo Contagem.

O Portal de notícias dos jornais citados acima é o Tempo Online, ele possui em sua página inicial

as editorias de Últimas, Cidades, Utilidade pública, Brasil, Economia, Mundo, Política, Cursos,

concursos e vestibulares. A parte designada apenas ao Jornal O Tempo possui as seguintes

editorias: Opinião, Esportes, Política, Economia, Mundo, Brasil, Cidades e Magazine.

O conteúdo do jornal impresso é disponibilizado gratuitamente na internet e ainda são oferecidos

ao leitor do conteúdo online algumas informações, fotos, gráficos que não constam no impresso.

43

3.1.4 The New York Times (NYT)

O jornal The New York Times (NYT) foi fundado, em 1851, por Henry Jarvis Raymond e George

Jones. Em 1956, Raymond auxiliou na fundação da agência de notícias Associated Press.

O NYT começou a ser publicado na internet em 1996. Em 2000, o jornal passa a fazer coberturas

e atualizações 24 horas por dia em seu site. Em 2005, o NYT lança o TimesSelect um plano de

assinatura pago para o conteúdo online, que incluía o conteúdo dos textos publicados pelos

colunistas, a seção de opiniões e acesso aos arquivos do jornal. Essa assinatura era grátis apenas

para os assinantes do jornal impresso.

Já no ano de 2006, os recursos de navegação do site do jornal se tornam mais objetivos, seu

design mais clean e com opções de customização para os leitores de acordo com seus interesses.

Nesse mesmo ano, foi lançado o serviço de notícias para celulares mobile.ntimes.com.

No ano de 2007, o TimesSelect deixa de existir e todo o conteúdo do site passa a ser gratuito. A

empresa estima que a venda do antigo plano de assinaturas tenha rendido 10 milhões de dólares

por ano. No mesmo ano, lança o produto Times Reader, que é o conteúdo do jornal impresso em

arquivo digital que pode ser acessado em diversas plataformas.

Em 2008, o recurso do Times Reader é criado como aplicativo para o iPhone, permitindo ao

usuário interação offline, um browser dedicado a fotos, opções de personalização do conteúdo e

navegabilidade. A parceria criada com o site LinkedIn30

permite aos membros desse último

receber de forma personalizada notícias focadas em áreas de tecnologia e negócios de interesse

profissional do usuário. No mesmo ano, ele cria o Times Extra uma opção de página inicial que

oferece a possibilidade de visualização de manchetes de outros sites de notícia sobre o assunto

que foi selecionado. O Times Widget é outra criação com a intenção de estimular a interação do

site de notícias com blogs e redes sociais. Nesse aplicativo, o usuário pode criar filtros de feeds31

30 LinkedIn é uma rede social que permite aos usuários criarem perfis profissionais visando conectar as pessoas de

em redes de interesse profissional. 31 É um formato de dados usado para fornecer aos usuários conteúdo de notícias ou atualizações de sites

frequentemente em seus próprios sites, blogs, celulares.

44

de acordo com o seu interesse nas editorias do jornal, com o widget 32

criado ele passa alimentar

continuamente o site onde é colocado com as atualizações das notícias publicadas pelo NYT.

Em 2009, o Times Reader é atualizado e cria-se o Times Reader 2.0 com novas possibilidades e

disponível nos sistemas operacionais Mac OS, Windows e Linux. No início de 2010, o NYT

anuncia que pretende lançar, em 2011, um novo modelo de conteúdo pago chamado de metered

model.

3.1.5 The Wall Street Journal (WSJ)

O jornal Wall Street Journal foi criado em 1889, pelos repórteres Charles Dow, Edward Jones e

Charles Bergstresser. Em 1901, foi vendido para Clarence Walker Barrow, um repórter

especializado em jornalismo econômico e que focou ainda mais o jornal no mundo financeiro. O

WSJ cobre os Estados Unidos da América e assuntos relacionados ao mundo dos negócios e

assuntos financeiros, perfis de executivos e personalidades do meio econômico e notícias do

mercado de ações. A tiragem do jornal nos primeiros anos de existência era de cerca de sete mil

exemplares.

Na década de 1990, o jornal passou por uma crise iniciada pela queda de publicidade e o aumento

dos custos do papel de jornal. Como estratégia, o conteúdo do jornal online passou a ser pago.

Em 2002, em parceria com a empresa Oasys Mobile, lançou uma aplicação que permite aos

usuários acessar o conteúdo do jornal através do celular. 2007 foi o ano em que WSJ foi vendido

para o conglomerado midiático de Rupert Murdoch, ao qual pertencem o jornal New York Post e

o canal Fox News. A tiragem atual do jornal é de cerca de dois milhões de exemplares.

O Portal de notícias do jornal possui em sua página inicial as editorias de Mundo, Estados Unidos,

Nova York, Negócios, Mercados, Tecnologia, Finanças Pessoais, Vida e Cultura, Opinião,

32 Widgets exibem informações e convidam o usuário a agir de várias maneiras. Exemplos incluem botões, caixas

de diálogo, janelas pop-up, pull-down menus, ícones, barras de rolagem, bordas de janela redimensionáveis,

indicadores de progresso, caixas de seleção, janelas, menus destacáveis, barras de menus e formuláiros.

45

Carreira, Mercado Imobiliário e Pequenos Negócios33

. É possível personalizar o site de acordo

com a área em que se encontra no mundo (Ásia, Europa ou Américas) e em três línguas: espanhol,

português e inglês. O número de assinantes online é de 1,1 milhão.34

3.1.6 USA Today

O jornal foi criado em 1982 e foi construído depois de extensivas pesquisas de opinião com o

público buscando um produto que interessasse e mudasse os modelos de jornais. O resultado foi

um produto que possui notícias sintetizadas. A ideia surgiu da empresa de informação Gannett,

datada do início do século XX, que atualmente publica 82 jornais diários nos Estados Unidos da

América, 17 no Reino Unido e cerca de 6.500 de outros gêneros ao redor do mundo.

As editorias do jornal impresso são Notícias, Dinheiro, Esportes e Vida35

. Já no Portal de notícias

do USA Today as editorias são Notícias, Viagem, Dinheiro, Esportes, Vida, Tecnologia e

Tempo.36

O jornal possui online suas edições impressas e modificadas para a interação dos

usuários e com formatos para várias plataformas como o direcionado para o iPhone, o Kindle37

e

para celulares.

O USA Today revolucionou os modelos de jornais que eram até então impressos, ele introduziu as

páginas supercoloridas, os infográficos, layouts e designs mais arrojados, aumento da cobertura

de esportes, notícias de comportamento, de moda e da previsão do tempo. (MARSHALL,

2003).

3.2 Modelos de negócio no Jornalismo Online

Modelo de negócio de um jornal é a forma como a empresa jornalística que o produz mantem sua

produção e lucro. Nesta pesquisa, no contexto digital, vamos considerar três tipos de modelo: o

33 No original e em ordem: US, New York, Business, Markets, Tech, Personal Finance, Life & Culture, Opinion,

Careers, Real State, Small Business. 34 Dados no site http://www.theaustralian.com.au/business/media/new-online-business-model-will-succeed-says-

rupert-murdoch/story-e6frg996-1225900511922 35 No orginal e em ordem: News, Money, Sports, Life. 36 No original e em ordem: News, Travel. Money, Sports, Life, Tech, Weather. 37 Um aparelho que tem como função principal ler e-books (livros digitais).

46

aberto, que disponibiliza gratuitamente o acesso ao conteúdo noticioso do site; o híbrido, que

cobra dos leitores o acesso às notícias que foram publicadas no jornal impresso e libera o acesso

às notícias produzidas para o site; e os alternativos, que podem funcionar até por consórcio, em

que os leitores patrocinam matérias que interessam ser publicadas. Os modelos aberto e fechado

dependem, assim como o jornal impresso, de receita advinda da publicidade do site.

3.2.1 Modelo Híbrido de conteúdo de jornais online

O modelo definido como híbrido é aquele que possui um paywall38

, ou seja, para ter acesso ao

conteúdo noticioso ou o que é determinado como conteúdo exclusivo do site, é necessário se

tornar asssinante. Os veículos apresentados que optam pela modelo são os jornais brasileiros

Folha de S.Paulo, Estado de Minas. Já os americanos são o Wall Street Journal e a partir do ano

de 2011 o The New York Times.

3.2.1.1 A Folha de S. Paulo

O jornal Folha de S. Paulo em seu Portal online intitulado Folha Online, bloqueia o acesso dos

leitores ao conteúdo que foi publicado no jornal impresso. O site libera o acesso apenas ao

conteúdo criado para o próprio ou ao de outras agências de notícia que são associadas ao jornal.

A janela que aparece quando se clica em um conteúdo bloqueado é a exibida abaixo, nela aparece

a mensagem que exige os dados do usuário assinante para permitir o acesso ao conteúdo.

38 Paywall bloqueia o acesso a sites e requerem do usuário pagamento para a visualização do conteúdo.

47

Figura 2: Janela de bloqueio de acesso ao conteúdo noticioso da Folha de S.Paulo par aos não assinantes.

Fonte: folha.uol.com.br

O assinante do jornal impresso possui gratuitamente o acesso ao jornal digital, sendo assim, a

todo o conteúdo do site. Pode-se optar por assinar somente o jornal digital, passando assim a ter

acesso a todo conteúdo do site. A Folha de São Paulo tem uma parceria com o Portal Uol e

disponibiliza conteúdo de notícias para esse último. A imagem abaixo é a da janela do paywall

que aparece quando se clica em um conteúdo que está bloqueado ao acesso gratuito.

Figura 3: Janela de bloqueio de acesso aos usuários não assinantes ao conteúdo noticioso digital que foi produzido

também no jornal impresso.

Fonte: folha.uol.com.br

48

No início do ano de 2010, as redações do jornal impresso e do jornal online passaram a funcionar

juntas, com a intenção de ampliar as opções e informações que chegam ao leitor dos dois meios.

O jornal fez uma reforma na rotina jornalística em que o editores, repórteres e redatores passam a

trabalhar no mesmo espaço físico e a compartilhar a construção do conteúdo online e do impresso.

Houve também uma reforma gráfica que atualizou o jornal para uma lógica de maior legibilidade,

uma identidade visual mais homogénea e uma nova forma de hierarquização. Mudou-se a

tipografia, que foi criada para o jornal, aumentou-se o tamanho das fontes que estão 10 por cento

maiores, os sinais gráficos e infografias passaram a ter mais destaque na diagramação do jornal

impresso.

O site possui espaço considerável para anúncios em sua página inicial. Dois banners animados

estão localizados na parte superior da tela, antes da logomarca e do menu e editorias do jornal. A

tela é dividida em quatro colunas verticais. A quarta coluna começando a contar da esquerda da

tela para a direita, toda essa quarta coluna é dedicada aos anúncios. A terceira coluna alterna

entre anúncio e chamadas de entretenimento e notícias relacionadas ao cotidiano. Apenas a

primeira e a segunda coluna do site não possuem nenhum tipo de publicidade.

Figura 4: Página inicial do site folhaonline.com Fonte: folha.uol.com.br

49

Na parte interna do site, ou seja, quando se clica em uma notícia disponível gratuitamente aos

usuários, a lógica da publicidade no lado direito e superior da tela se mantém. Com a alteração de

que a tela passa a ser dividida por três colunas. A primeira maior e contendo o texto da notícia.

Além de contar com a receita das assinaturas e da venda em bancas, formas de lucro que

caracterizam a Folha de S.Paulo como um modelo híbrido de sustentação econômica ainda existe

a receita advinda da publicidade, do site e do impresso. A discrepância nos valores dos anúncios

online para os anúncios impressos são expressivas. O anúncio mais caro do impresso é de

R$316.000,00 que corresponde a uma página inteira, já o do online é R$60.000,00. Onde está

escrito CPM na tabela dos preços relacionados a publicidade do online que dizer custo por mil

(CPM). Sobre essa discrepância, Abernathy39

ressalta que os modelos de publicidade e receita

atuais não são mais adequados às necessidades financeiras dos jornais.

3.2.1.2 O Estado de Minas

O mesmo ocorre no caso do jornal Estado de Minas. Em setembro de 2010, fez uma reforma em

seu Portal de notícias Uai. O jornal criou o site próprio em.com.br direcionado para o

acompanhamento das notícias do jornal impresso ao longo do dia. Os jornalistas passaram a

escrever blogs de conteúdos variados, incluíram a produção de áudio, vídeo, infografias, galerias

de fotos e abriram espaço para os comentários do leitor. Antes, as notícias online eram

produzidas por uma equipe separada da que produzia o conteúdo do jornal impresso, com o novo

site, as redações trabalham juntas.

O Portal de notícias Uai faz parte do conglomerado de comunicação dos Diários Associados,

dono do jornal Estado de Minas. Ele ainda reúne os maiores veículos e sua página principal

contém as chamadas para as notícias produzidas para o Portal e os outros veículos, sendo um

deles o jornal Estado de Minas. O site é dividido em três colunas de tamanhos diferentes, a

primeira, enumerando-as da esquerda para a direita, é maior e contém as chamadas para as

matérias principais, já a do meio contém chamadas para notícias de esporte, matérias de

39 Entrevista realizada pela Fox News com o título de “Paying for online content: When and How Much”

50

continuação de notícias anteriores e de serviço público. A terceira contém a galeria de imagens,

menu de blogs e a parte de atualização de notícias.

Figura 5Página inicial do site em.com.br Fonte: www.em.com.br

Em relação ao espaço dedicado à publicidade do site, na página inicial o número de anúncios na

tela é pequeno, se comparado ao número da Folha Online, há apenas dois banners animados na

parte superior do site antes da logomarca do jornal, ativando a barra de rolagem até metade de

seu espaço disponível outro anúncio aparece na parte direita da tela.

Na parte interna do site, quando clica-se em uma notícia disponibilizada gratuitamente a tela

passa a ser dividida em duas colunas. A primeira contêm o texto e é maior que a segunda, que

contêm um banner na parte superior e praticamente o mesmo menu da página incial do site. Na

parte superior o espaço para os banners é o mesmo.

51

Figura 6: Página interna do site em.com.br

Fonte: www.em.com.br

A receita das assinaturas do impresso e do conteúdo online, da venda em bancas e as

publicidades e anúncios, são formas de lucro que caracterizam o jornal Estado de Minas como

um modelo híbrido de sustentação econômica um anúncio na página principal do site pode chegar

a R$4.500 reais o dia ou pode ser calculado por CPM, ou seja, custo por mil visualizações.

3.2.1.3 The Wall Street Jornal

Experiência semelhante é a do jornal americano The Wall Street Journal. Atualmente, é um dos

poucos exemplos do modelo híbrido que é bem sucedido. Seu sucesso está relacionado com o

conteúdo e qualidade das informações que comercializa. O jornal tem renome no meio

econômico e empresarial, as opiniões que são emitidas têm peso, importância e contam com

52

credibilidade junto ao público e ao mercado financeiro. E vem justamente dessa fidelidade de

público, que pode ser considerado de certa forma, um nicho, o sucesso nesse caso do modelo

híbrido. Mensalmente, cerca de 39 milhões de pessoas acessam o site do jornal, de 2008 para

2009, o acesso aumentou cerca de 28 por cento.

O jornal disponibiliza em seu Portal online um resumo da notícia que só poderá ser

compartilhado se for assinante. Em alguns casos a notícia é aberta ao público ou apenas resumida.

Figura 7: Página de notícia resumida e com conteúdo total bloqueado par anão assinantes,

do jornal The Wall Street Journal

Fonte: www.wsj.com

O espaço para anúncios na página inicial do WSJ é pequeno. O site é dividido em três colunas,

todas são tomadas por chamadas de notícias e a terceira, enumerando-as da esquerda para a

direita, possui um gráfico estático que mostra as cotações das principais bolsas de valores do

mundo. Logo abaixo do gráfico aparece um, dos dois únicos anúncios de publicidade do site. O

outro aparece na mesmo coluna, mas com um espaço considerável entre eles. Na parte interna do

site, ele é dividido em duas colunas, a primeira contém o texto e é mais larga que a segunda que

53

contém o espaço para anúncios e o menu de chamadas para as notícias do site. Existem notícias

no site do WSJ que são disponibilizadas gratuitamente.

Figura 8: Página inicial do jornal The Wall Street Journal Fonte: www.wsj.com

O preço do anúncio de página inteira no jornal impresso é de cerca de US$ 200.000,00 já o preço

dos anúncios online não foram possíveis de coletar para essa pesquisa, o site do jornal não

forneceu tais dados. A receita das assinaturas do impresso e do conteúdo online, da venda em

bancas e as publicidades e anúncios, são formas de lucro que caracterizam o jornal como parte do

modelo híbrido de sustentação económica.

3.2.2 Modelo Aberto de conteúdo de jornais online

O modelo aberto de jornal considerado nesta pesquisa é aquele em que os leitores online possuem

acesso gratuito as notícias inclusive as mesmas publicadas no jornal impresso.

54

O jornal O Tempo é o caso apresentado, pois concorre com um jornal que possui o modelo de

conteúdo online híbrido, que é o Estado de Minas. Assim como o último citado, o site do jornal

O Tempo existe como parte do Portal de notícias no qual estão notícias dos jornais Pampulha, o

Super Notícia, O Tempo Betim e O Tempo Contagem.

No site específico do jornal O Tempo em sua primeira página existe uma divisão de três colunas,

em que todas são dedicadas ao conteúdo das chamadas e notícias. Na parte superior da tela existe

o espaço para um banner ao lado da logomarca. Na terceira coluna na parte superior existe o

espaço para um anúncio.

Figura 9: Página inicial do jornal O Tempo Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/

Na parte interna ao qual o usuário é direcionado, quando se clica em uma notícia da parte

principal a divisão é em duas colunas. A primeira é dedicada ao texto e é mais larga, na segunda

coluna mantém-se a mesma lógica da primeira página, em que na parte superior existe um banner

de publicidade.

55

Figura 10: Página interna do jornal O Tempo Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/

3.2.2.2 USA Today

O USA Today possui um modelo aberto online, com conteúdo gratuito disponibilizado também

em aparelhos de telefonia móvel, já a sua edição digital lançada em 2009 é paga. A decisão de

lançar esse produto foi a de modificar de certa forma o modelo econômico de até então, que

disponibilizava gratuitamente seu conteúdo.

O momento é de mudanças, as estruturais que estão sendo feitas, como visto no capítulo I, esse

passo foi adotado como forma de procurar aumentar a receita do jornal, que demitiu cento e trinta

pessoas, cerca de nove por cento de sua equipe, e reestruturou todo o ambiente e as divisões de

trabalho. O jornal pretende evoluir de uma empresa de jornal impresso para uma companhia

midiáticas de multiplataformas, dos meios impresso, digital e de telefonia móvel. Essa decisão foi

tomada pela demanda do público, que passou a consumir o conteúdo em iPad, no iPhone em

aparelhos de telefonia móvel. Hunke comenta que a empresa precisa ir aonde o público está em

(FITZGERALD, 2010). A receita advinda da publicidade dos anúncios em um página inteira do

jornal impresso custa US$189.000,00 em dias de semana.

56

A página inicial do site do jornal USA Today possui poucos anúncios. Apenas dois aparecem no

exemplo ilustrado abaixo. Um banner no topo da página na horizontal e outro vertical na terceira.

A página inicial é dividida em três colunas principais, a primeira da esquerda para a direita dá

ênfase a uma foto, a coluna do meio mostra as manchetes principais do dia e a última coluna

mostra os assuntos mais populares, a previsão do tempo que pode ser customizada para a

localidade do usuário e a cotação das principais bolsas de valores. A parte interna do site, quando

se clica em uma notícia, mantém a lógica de dois banners por página.

Figura 11: Página incial do jornal USA Today Fonte: www.usatoday.com

57

4 CONCLUSÃO

Foram apresentados neste trabalho modelos econômicos do negócio de notícias. Retirados como

amostra de um panorama que representa a realidade das empresas jornalísticas e de novos

modelos de empreendimentos na área.

Todos os jornais analisados estão em crise. Os custos de operação dessas empresas não são

sanados pela receita advinda do antigo tripé dos modelos anteriores: as assinaturas de exemplares,

venda nas bancas, e a publicidade.

O que foi observado é o fato de não existir um modelo definitivo, aplicável em qualquer contexto

independentemente das circunstâncias que influem na lógica produtiva dos empreendimentos

jornalísticos. Isso se dá devido à complexidade da construção de tais modelos, já que cada jornal

existe inserido em contextos específicos, com diferentes nichos de consumo, que inferem suas

preferências e características sociais e econômicas no produto do negócio jornal, sendo ele online

ou impresso.

Os modelos alternativos destacados no capítulo II são saídas que dependem da lógica de

customização do serviço de notícias oferecido. Essa lógica é baseada nas necessidades do público

local. Sendo assim, não são possíveis em casos de conglomerados de notícias que optam pela

cobertura geral e padronizada.

Neste momento de transição e mesmo de indecisão quanto a cobrar ou não do leitor pelo

conteúdo informativo, estão sendo feitas experiências mercadológicas. Nenhum grande jornal

arrisca tomar uma decisão definitiva, devido à mutabilidade de recursos e ferramentas à

disposição, do perfil do usuário e de leitura. Devido ao caráter de incertezas e indefinições de

modelos frente ao mercado essas decisões estratégicas são tomadas na base da tentativa e do erro.

Esse trabalho nasceu da necessidade de entender as estratégias que moldam o comportamento das

empresas de comunicação nesse momento histórico: uma nova economia, a formação de um novo

público leitor e de mudanças significativas na profissão de jornalista. É preciso documentar e

58

analisar essas decisões estratégicas de disponibilização de conteúdo numa época em que o grátis

e o instantâneo imperam nas redes de comunicação e de informação.

A dificuldade de acesso a dados relativos ao custo de produção dos jornais e o quanto esses

arrecadam fica claro no trabalho. É grande a necessidade de pesquisa nessa área no Brasil,

quando se trata de modelos econômicos e revoluções tecnológicas o que se percebeu é que os

exemplos de jornais brasileiros seguem o que é pautado e experimentado fora do país.

59

REFERÊNCIAS

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60

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by_headline=false&search_by_keywords=any&search_by_priority=all&search_by_section=all&

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no meio. Disponível em: <http://www.wan-press.org/article18612.html>. Acesso em 21 de

Setembro 2010

62

ANEXOS

Legenda: A tabela contem os preços dos anúncios online do site da Folha de S.Paulo

Fonte: Midiakit da Folha de S. Paulo, http://www.publicidade.folha.com.br/files/fsp-pt.pdf

63

Legenda: Essa tabela contem os preços dos anúncios nos cadernos do jornal impresso da Folha de

S.Paulo. Fonte: Midiakit da Folha de S. Paulo, http://www.publicidade.folha.com.br/files/fsp-

pt.pdf

64

Legenda: Essa tabela contem os preços dos anúncios na primeira página do site do em.com.br

Fonte: Midiakit do jornal Estado de Minas, http://www.uai.com.br/publicidade/site/formatos.htm

65

66

Legenda: Essa tabela contem os preços dos anúncios no site do jornal O Tempo

Fonte: Midiakit do jornal O Tempo, http://www.otempo.com.br/midiakit2/formatos/

Legenda: Essa tabela contem os preços dos anúncios no site do Usa Today

Fonte: Midiakit do jornal USA Today,

http://www.usatoday.com/marketing/media_kit/images/2010_USA_TODAY_Rate_Card.pdf

67

Legenda: Preço dos anúncios do jornal impresso The Wall Street Journal

Fonte: http://www.wsjmediakit.com/newspaper/rates/us