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Volume 1, Número 1 ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017 Artigo Modernidade: a importância da proteção constitucional do meio ambiente Páginas 155 a 181 155 MODERNIDADE: A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE Laurivania Daniella S. M. Cavalcanti 1 Tania Regina Castelliano 2 RESUMO: A preocupação com a proteção ao meio ambiente ocupa atualmente um papel de destaque entre aquelas de maior importância com a sociedade. Cada vez mais, se voltam às atenções para a inviabilidade da ideia de extrair os recursos naturais como se estes fossem inesgotáveis. Assim, se percebeu que o desenvolvimento indiscriminado pode afetar o equilíbrio ecológico, a qualidade de vida e a própria vida do ser humano, passando a ecologia a ser discutida crescentemente. O objetivo deste artigo é desvendar o escopo da modernidade numa análise institucional com ênfase na seriedade da proteção ao meio ambiente. Este estudo permitiu verificar que se faz necessário um maior rigor na aplicação da legislação pertinente a área ambiental. Considera-se, assim, que é importante a conscientização de todos os segmentos da sociedade moderna. Palavras-chaves: Ecologia. Meio Ambiente. Modernidade. Proteção. ABSTRACT: The concern with the protection to the environment occupies a prominence paper now among those of larger importance for the whole society. More and more, they come back to the attentions for the inviability of the idea from extracting the natural resources as if these root inexhaustible. Like this, it was noticed that the indiscriminate development can affect the ecological balance and the quality of the human being life, leading the ecology to increasingly be discussed. The objective of this article is to unmask the intenction of the modernity in an institutional analysis with 1 Bióloga pela UFPB, graduanda do curso de Direito da Mauricio de Nassau, João Pessoa - PB. Email: [email protected] 2 Mestre em linguística pela UFPB. Docente da Faculdade Maurício de Nassau, João Pessoa - PB. Email: [email protected]

MODERNIDADE: A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO ...revistatcbrasil.com.br/wp-content/uploads/2017/08/1110.pdf · período de tempo e a uma localização geográfica inicial,

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Artigo

Modernidade: a importância da proteção constitucional do meio ambiente

Páginas 155 a 181 155

MODERNIDADE: A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO

CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE

Laurivania Daniella S. M. Cavalcanti1

Tania Regina Castelliano2

RESUMO: A preocupação com a proteção ao meio ambiente ocupa atualmente um

papel de destaque entre aquelas de maior importância com a sociedade. Cada vez mais,

se voltam às atenções para a inviabilidade da ideia de extrair os recursos naturais como

se estes fossem inesgotáveis. Assim, se percebeu que o desenvolvimento indiscriminado

pode afetar o equilíbrio ecológico, a qualidade de vida e a própria vida do ser humano,

passando a ecologia a ser discutida crescentemente. O objetivo deste artigo é desvendar

o escopo da modernidade numa análise institucional com ênfase na seriedade da

proteção ao meio ambiente. Este estudo permitiu verificar que se faz necessário um

maior rigor na aplicação da legislação pertinente a área ambiental. Considera-se, assim,

que é importante a conscientização de todos os segmentos da sociedade moderna.

Palavras-chaves: Ecologia. Meio Ambiente. Modernidade. Proteção.

ABSTRACT: The concern with the protection to the environment occupies a

prominence paper now among those of larger importance for the whole society. More

and more, they come back to the attentions for the inviability of the idea from extracting

the natural resources as if these root inexhaustible. Like this, it was noticed that the

indiscriminate development can affect the ecological balance and the quality of the

human being life, leading the ecology to increasingly be discussed. The objective of this

article is to unmask the intenction of the modernity in an institutional analysis with

1 Bióloga pela UFPB, graduanda do curso de Direito da Mauricio de Nassau, João Pessoa - PB. Email:

[email protected]

2 Mestre em linguística pela UFPB. Docente da Faculdade Maurício de Nassau, João Pessoa - PB. Email:

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emphasis in the seriousness of the protection of the environment. This study allowed to

verify that is done necessary a larger rigidity in the application of the pertinent

legislation to the ambiental area. Is important the understanding of all the segments of

the modern society.

Keywords: Ecology. Environment. Modernity. Protection.

INTRODUÇÃO

Apresenta o homem nu e vazio, reconhecendo sua fragilidade natural, pronto

para receber do alto alguma força estranha, desprovido de toda humanidade

ciência, e cada vez mais apto a louvar em si a ciência divina, anulando seu

julgamento para dar mais lugar a fé [...] É um mapa em branco preparado

para assumir segundo a mãos de Deus, formas que agradem a Ele.

(Montaigne)

A vida moderna e o constante processo de industrialização têm levado o homem

a utilizar os recursos naturais como se fossem ilimitados, provocando a aceleração da

degradação do meio ambiente. Esse processo de desenvolvimento industrial é chamado

de “progresso”. Esse avanço nos leva a uma análise institucional e epistemológica da

modernidade. Assevera Giddens (1990, p.11) que:

Modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que

emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram

mais ou menos mundiais em sua influência. Isto associa a modernidade a um

período de tempo e a uma localização geográfica inicial, mas por enquanto

deixa suas características principais guardadas em segurança numa caixa

preta.

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Poderíamos apontar que uma das características guardadas nesta caixa preta,

hoje, no século XXI, a qual as ciências devem responder o que nos leva para além da

própria modernidade e que nos tange como sendo da nossa responsabilidade a proteção

ao meio ambiente. A modernidade em sua difusão mundial criou a oportunidade para

que os seres humanos gozassem de um sistema gratificante. Por outro lado, o sombrio

se torna aparente no nosso século ao aferir ao Meio Ambiente. Não apenas pela ameaça

de confronto nuclear, pois sabemos que a emergência desordenada dos avanços

tecnológicos do homem, tornou-se num mundo perigoso.

Verificamos que o ser humano retira os recursos naturais e devolve os seus

resíduos para a natureza. A evolução da humanidade está subordinada à degradação

ambiental, uma vez que o impacto da industrialização está restrito à esfera de produção,

mas como influência ao caráter genérico da interação humana com o meio ambiente

material, negligenciando o meio ambiente.

No entanto, esse paradigma está propenso a mudanças desde a década de 1970.

Impulsionado principalmente pela Conferência das Nações Unidas sobre o

Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, o homem começou a

se preocupar efetivamente com o meio ambiente e com o destino da humanidade. Se a

degradação ambiental prosseguir avançando de forma devastadora, o ser humano ficará

sem os recursos naturais. O homem é um ser racional e está destruindo seu habitat com

tais práticas, dado que os recursos são limitados e devem ser usados com

sustentabilidade.

Alertamos que a legislação pátria em matéria ambiental tem sofrido os

impactos significantes dessa mudança de concepção. Mesmo tendo uma visão

utilitarista, agora, influenciada principalmente, pela nova visão existente na

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Constituição Federal de 1988, e em especial com relação a seu cunho protetor que ora

abordaremos, começa a haver uma preocupação real com o meio ambiente. Essa

constituição é chamada por alguns de “Constituição3 Verde4”, pois, diferentemente da

forma trazida pelas constituições anteriores, o constituinte de 1988 procurou dar efetiva

tutela ao meio ambiente, trazendo mecanismos para sua proteção e controle, pois, essa

albergou a fruição do meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado como

direito fundamental. Nesse sentido, nossa Constituição está impregnada com as

questões ambientais como sendo fundamentais para continuidade da vida em nosso

Planeta; sendo essa preocupação de cunho global.

MEIO AMBIENTE

O meio ambiente é o conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um

sistema natural sem uma massiva intervenção humana, incluindo toda a vegetação,

animais, microorganismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem

ocorrer em seus

3 Constituição Verde – Dicionário Aurélio: Lei fundamental e suprema dum Estado, que contém normas

respeitantes à formação dos poderes públicos, forma de governo, distribuição de competências, direitos e

deveres dos cidadãos, etc.; carta constitucional, carta magna.

4 Verde - Coberto de vegetação (nativa ou cultivada): área verde; cinturão verde. 11.Relativo à

preservação dos recursos naturais e do equilíbrio ecológico (q. v.), ou às idéias ou ações políticas,

econômicas, administrativas, dos que defendem esta preservação: partido verde; legislação verde.

12.Relativo ao uso ou à aplicação de princípios ou técnicas não-poluentes de exploração dos recursos

naturais: O mercado de produtos verdes vem crescendo nos países desenvolvidos.

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limites, bem como os recursos e fenômenos físicos universais que não possuem um

limite claro como: o ar, a água, o clima, assim como a energia, a radiação, a descarga

elétrica, e o magnetismo, que não se originam de atividades humanas.

O ambiente natural se contrasta com o ambiente construído, que compreende as

áreas e componentes que são fortemente influenciados pelo homem. Contudo, deve

haver o respaldo jurídico sobre o assunto, bem como um envolvimento de toda

sociedade. O que se busca é uma tutela protetora para o bem de toda a coletividade, que

é o propósito constitucional. No entanto, não basta apenas legislar. É fundamental que as

instituições, autoridades e pessoas responsáveis, retirem essas regras do papel, da teoria

para a uma efetiva aplicação na prática. Verificamos que um dos problemas ambientais

brasileiros, é o desrespeito generalizado à legislação vigente. É preciso utilizar-se da

retórica5 ecológica6, uma vez, que esse tema abordado possui um caráter

interdisciplinar, pois em diversos artigos, o meio ambiente se refere a aspectos

econômicos, sociais, procedimentais, abrangendo ainda natureza penal, sanitária,

administrativa, entre outras.

Dentro deste quadro de interdisciplinaridade, e de complementação mútua,

salientamos que o direito deve estar preparado para atuar em face ao chamado social e

às necessidades atuais da modernidade. É nessa linha de raciocínio que o artigo abrange

o estudo o direito ambiental mais precisamente a proteção constitucional do meio

ambiente.

5 Retórica – Grifos nossos. Dicionário Aurélio: Do gr. rhetoriké (subentende-se téchne), ‘a arte da

retórica’, pelo lat. rhetorica. Discurso da ecologia.

6 Ecológica: Parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ou ambiente em que

vivem, bem como as suas recíprocas influências.

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Princípios Ambientais

Princípios são as regras jurídicas basilares de um sistema, que lhe apontam o

rumo a ser seguido e que guiam à interpretação e aplicação das demais normas jurídicas.

As normas constitucionais são dotadas de diferentes graus de eficácia e a sua

existência e aplicação obedece a uma hierarquia no sistema constitucional. Essa

estrutura da Constituição se apoia justamente nos seus princípios fundamentais, e

nenhuma norma está autorizada a violar os alicerces desse edifício jurídico, sob pena

deste desmoronar. E mesmo os diversos princípios guardam relação de subordinação

entre si, onde os princípios maiores ditam as diretrizes para os menores, harmonizando

todo o sistema jurídico-constitucional. Nesse contexto, segue abaixo alguns princípios:

Princípio da Prevenção ou Precaução: Este princípio é considerado o maior e

mais importante do ordenamento jurídico ambiental, visto que parte do pressuposto de

que a prevenção é o grande objetivo de todas as normas ambientais, pois, a reconstrução

de um lugar degradado não é tarefa fácil, fato pelo qual se torna cada vez mais evidente

a prioridade que deve ser dada às ações de caráter preventivo em todos os escalões em

que forem cabíveis, bem como o reconhecimento da importância da tutela do meio

ambiente em caráter reparatório.

In dubio7 pro natura: É uma regra fundamental de interpretação da legislação

ambiental, que leva para a preponderância do interesse maior da sociedade em

detrimento do interesse individual e menor do empreendedor ou de um dado projeto. Na

dúvida em relação a uma decisão que poderá afetar o meio ambiente de forma

extremamente prejudicial, devemos optar por a não executar a ação.

7 HOEPPNER,M.G:Dicionário jurídico: expressão latina que significa literalmente na dúvida.

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Equivalência ou equilíbrio: Também conhecido como princípio do custo/benefício,

o qual devem ser pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente,

buscando-se adotar a solução que melhor concilie um resultado coletivamente positivo.

Um exemplo é o desmatamento de uma área para que se possa construir uma vila

popular.

Poluidor-pagador: O princípio do poluidor-pagador, está disciplinado no art. 225, §

3º, da Constituição Federal, cuja influência no Direito Tributário é de extrema

importância para a graduação do tributo, conforme o índice de poluição provocado em

razão do produto não biodegradável8 ou mesmo seu processo de fabricação (dificuldade

de reintegração dos resíduos ao meio).

DIREITO AMBIENTAL

O direito ambiental surgiu na sociedade com uma finalidade bem definida e

encontra-se gravemente ameaçado, ainda, colocando em risco as condições ideais de

vida, tornando-se necessária uma reação em caráter de urgência, se faz necessário criar

sistemas de prevenção e de reparação, adaptados com excelência a uma melhor e mais

eficaz defesa contra as agressões oriundas do desenvolvimento tecnológico pertinente

da sociedade moderna.

Assevera Sampaio (1998, p.140), as principais tarefas da ciência jurídica, em

apoio ao esforço feito consistem, basicamente, em estabelecer normas que prevejam e

8 Biodegradável: Dicionário Aurélio: Diz-se de substância suscetível de decomposição por

microrganismos.

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desencorajem condutas consideradas nocivas aos objetivos colimados de proteção e

recuperação do meio ambiente e de sua compatibilização com as atividades cotidianas

do homem.

A preocupação com a proteção ao meio ambiente atingiu, nos últimos anos, um

nível elevado que levou a inclusão, nos ordenamentos jurídicos, de dispositivos

destinados a reger a conduta das pessoas quanto a suas ações capazes de afetar de

alguma maneira a natureza e, em uma visão holística, o ambiente, incluindo-se tudo

aquilo em que o homem participou modificando-o através de suas obras e construções.

Diante do observado, constitui-se a intenção principal do presente capítulo

apresentar os conceitos elementares a respeito do Direito Ambiental, expondo

primeiramente, de maneira breve, o caminho percorrido pela legislação ambiental

brasileira, dentro do desenvolvimento do quadro geral mundial. A seguir, dar-se-á um

sucinto levantamento histórico das constituições, complementando-se com a análise dos

princípios mais importantes estabelecidos em conferências e reuniões internacionais

realizadas para debate e incentivo à questão ambiental.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

Nossa carta Magna nos aponta em seu artigo 23 e incisos:

Art.23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios:

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

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IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições

habitacionais e de saneamento básico;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e

exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

Garante-nos o inciso § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe

ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico

das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as

entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes

a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente

através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos

que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

Legislação ambiental

A primeira Constituição brasileira, de 1824, não fez menção a qualquer matéria

na esfera ambiental. Vale lembrar que nosso país naquela época era exportador de

produtos agrícolas e minerais, no entanto, a visão existente com relação àqueles

produtos era apenas econômica, não existindo nenhuma conotação de proteção

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ambiental. Já a Constituição, de 1934, trouxe dispositivo de proteção às belezas

naturais, patrimônio histórico, artístico e cultural e competência da União em matéria de

riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração. E a Carta

Constitucional de 1937, trouxe preocupação com relação aos monumentos históricos,

artísticos e naturais. Acrescentou como matéria de competência da União legislar sobre

minas, águas, florestas, caça, pesca, subsolo e proteção das plantas e rebanhos.

A Carta pátria de 1946, além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural

e paisagístico, conservou a competência legislativa da União sobre saúde, subsolo,

florestas, caça, pesca e águas. Dispositivos semelhantes estavam presentes tanto na

Constituição de 1967, quanto na Emenda Constitucional nº 1/69. Neste último texto

constitucional, nota-se pela primeira vez a utilização do vocábulo “ecológico”.

Os dispositivos presentes nestas Constituições tinham por escopo a

racionalização econômica das atividades de exploração dos recursos naturais, sem

nenhuma conotação de proteção ao meio ambiente.

Nesse contexto, nota-se que a legislação brasileira tardou a contemplar

expressamente a questão ambiental em sua Constituição Federal, vindo isso a ocorrer

apenas com a promulgação da Carta Magna no ano de 1988. Além disso, os dispositivos

legais dedicados à temática do meio ambiente e que a norteiam e direcionam,

encontravam-se dispersos e, de certa forma, dificilmente aplicáveis

Em virtude de tal constatação, apresenta-se de relevante interesse, antes de

desenvolver um estudo direcionado ao chamado Direito Ambiental, que se faça uma

abordagem, ainda que sucinta, da evolução histórica da legislação ambiental no

ordenamento jurídico pátrio até os dias atuais, passando pelo supracitado texto

constitucional.

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A atual Constituição está apenas iniciando sua segunda década de vigência, e da

legislação esparsa anterior pertinente à tutela do meio ambiente não ser tão antiga em

relação à mesma, observa Machado (1994, p.174) que “O Direito Ambiental constituiu-

se mais rapidamente no Brasil que na maioria dos países. O fato de não termos um

código ambiental não impediu a sistematização das novas regras jurídicas”.

Respaldado em sua afirmativa, traçamos um quadro cronológico, expondo como

sobrevieram os principais dispositivos legais com o objetivo de proteger o patrimônio

ambiental e delimitar sua exploração, da seguinte maneira:

1965 – Lei n. º 4.771, de 15 de setembro, alterada pela lei n.º 7.803/89: instituiu o

Código Florestal, que, entre outras disposições, reconheceu a atribuição dos Municípios

elaborarem os respectivos planos diretores e leis de uso do solo (art. 2º , parágrafo

único), previu a recuperação da cobertura vegetal (art. 18), definiu o que são as áreas de

preservação permanente (art. 20), e teve aplicação ampla na área penal (art. 26 e

seguintes);

1967 – Decreto-lei n.º 221, de 28 de fevereiro: instituiu o chamado Código de

Pesca, que, entre outros dispositivos, estabelece proibições à pesca (art. 35),

regulamenta o lançamento de efluentes das redes de esgoto e os resíduos líquidos ou

sólidos industriais às águas (art. 37), estabelece penas às infrações (art. 57 e seguintes);

1980 – Lei n.º 6.803, de 02 de julho: refere-se ao Estudo de Impacto Ambiental.

1981 – Lei n.º 6.938, de 31 de agosto: dispõe sobre a Política Nacional de Meio

Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Estabeleceu seus

objetivos (art. 4 º) e a constituição do Sistema Nacional do Meio Ambiente (art. 6º,

alterado pela lei n.º 8.028/98);

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1988 – Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de

outubro: prevê um capítulo integralmente dedicado ao meio ambiente (capítulo VI, do

título VIII, da Ordem Social) que é, em suma, o artigo 225, onde estabelece:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder público à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”.

1992 – Declaração do Rio de Janeiro: surgiu da Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que reuniu as principais autoridades

internacionais para tratar do meio ambiente e estabeleceu princípios para uma melhor

condução das atividades objetivando a preservação ambiental;

1997 – Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro: institui a Política Nacional de Recursos

Hídricos, colocando a Bacia Hidrográfica como espaço geográfico de referência e a

cobrança pelo uso de recursos hídricos como um dos instrumentos da política;

1998 – Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro, chamada Lei de Crimes Ambientais:

dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades

lesivas ao meio ambiente, entre outras inovações, transformando algumas contravenções

em crimes, responsabilizando as pessoas jurídicas por infrações cometidas por seu

representante legal e permitindo a extinção da punição com a apresentação de laudo que

comprove a recuperação ambiental.

1999- Decreto n o 3.179, de 21 de setembro: define em seu artigo 1° que: Toda ação

ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação

do meio ambiente é considerada infração administrativa ambiental e será punida com as

sanções do presente diploma legal, sem prejuízo da aplicação de outras penalidades

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previstas na legislação. Esse decreto em seu artigo 5° pune o infrator em multa de até r$

50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).

2000 - Lei no 9.985, de 18 de julho: Lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza – SNUC estabelece critérios e normas para a criação,

implantação e gestão das unidades de conservação.

2002 - Lei 10.410, de 11 de janeiro, cria e disciplina a carreira de Especialista em Meio

Ambiente. - Dec. 4.074, de 04 de janeiro de 2002: Regulamenta a Lei 7.802, de 11 de

julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem

e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda

comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e

embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de

agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Obs.: Art. 98 - Ficam

revogados os Decretos 98.816, de 11 de janeiro de 1990, 99.657, de 26 de outubro de

1990, 991, de 24 de novembro de 1993, 3.550, de 27 de julho de 2000, 3.694, de 21 de

dezembro de 2000 e 3.828, de 31 de maio de 2001

- Dec. 4.085, de 15 de janeiro de 2002: Promulga a Convenção 174 da OIT e a

Recomendação no 181 sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores.

- Dec. 4.097, de 23 de janeiro de 2002: Altera a redação dos arts. 7o e 19 dos

Regulamentos para os transportes rodoviários e ferroviários de produtos perigosos,

aprovados pelos Decretos 96.044, de 18 de maio de 1988, e 98.973, de 21 de fevereiro

de 1990, respectivamente.

- Portaria IBAMA 09, de 23 de janeiro de 2002: Estabelece o roteiro e as especificações

técnicas para o licenciamento ambiental em propriedade rural.

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- Instrução Normativa 20/01 - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (DOU

15.01.2002): Dispõe sobre as normas para avaliação da segurança de plantas

geneticamente modificadas ou de suas partes e dá outras providências.

2003- Decreto publicado no Diário Oficial da União, Ano CXL Nº 127, Seção 1, 4 de

julho de 2003, pg. 1: regulamenta em seu Art. 1º que: Fica instituído Grupo Permanente

de Trabalho Interministerial com a finalidade de propor medidas e coordenar ações que

visem a redução dos índices de desmatamento na Amazônia Legal

2004- Decreto de 3 de janeiro de 2004: dispõe sobre a criação no âmbito da Câmara de

Políticas dos Recursos Naturais, do Conselho de Governo, a Comissão de Políticas de

Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Brasileira, com a finalidade de propor

estratégias de desenvolvimento sustentável.

2005 – Lei Nº 11.105, de 24 de março: Esta Lei estabelece normas de segurança e

mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o

transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a

comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos

geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo

ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à

saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a

proteção do meio ambiente.

2006 - Lei Nº 11.428, de 22 de dezembro: Essa lei disciplina as matérias de

conservação, a proteção, a regeneração e a utilização do Bioma Mata Atlântica,

patrimônio nacional, observarão o que estabelece esta Lei, bem como a legislação

ambiental vigente, em especial a Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965.

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2007 - Lei Nº 11.445, de 5 de janeiro: Esta Lei estabelece as diretrizes nacionais para

o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico.

2008 – Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente e estabelece

o processo administrativo federal para apuração destas infrações.

2009 - Lei Complementar 129, de 8 de janeiro: Institui, na forma do art. 43 da

Constituição Federal, a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste -

SUDECO, estabelece sua missão institucional, natureza jurídica, objetivos, área de

atuação, instrumentos de ação, altera a Lei no 7.827, de 27 de setembro de 1989, e dá

outras providências.

Decreto 6.753, de 28 de janeiro de 2009: Promulga o Acordo para a Conservação de

Albatrozes e Petréis, adotado na Cidade do Cabo, em 2 de fevereiro de 2001.

Instrução Normativa ICMBio 1, de 2 de janeiro de 2009: Estabelece, no âmbito

desta Autarquia, os procedimentos para a concessão de autorização para atividades ou

empreendimentos com potencial impacto para unidades de conservação instituídas pela

União, suas zonas de amortecimento ou áreas circundantes, sujeitos a licenciamento

ambiental.

Instrução Normativa MAPA 42, de 31 de dezembro de 2008: Institui o Plano

Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal -

PNCRC/Vegetal.

Portaria MTE 32, de 8 de janeiro de 2009: Disciplina a avaliação de conformidade

dos Equipamentos de Proteção Individual e dá outras providências.

Resolução ANP 2, de 28 de janeiro de 2009: Altera a Resolução ANP 25, de 02 de

setembro de 2008 (regulamenta a atividade de produção de biodiesel).

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Resolução ANTT 2.975, de 18 de dezembro de 2008: Altera o Anexo à Resolução

420, de 12 de fevereiro de 2004, que aprova as Instruções Complementares ao

Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos.

2010 - Lei Nº 12.334, de 20 de setembro: Estabelece a Política Nacional de

Segurança de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à

disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais, cria o

Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens e altera a redação do

art. 35 da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4o da Lei no 9.984, de 17 de

julho de 2000.

MEIO AMBIENTE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Sabemos que o meio ambiente equilibrado é direito fundamental de toda

coletividade. Trata-se de um direito difuso caracterizado principalmente por sua

indivisibilidade, ou seja, para que se satisfaça um de seus sujeitos, deve satisfazer a

todos, pela sua transindividualidade e pela própria indeterminação de seus sujeitos. Esse

direito pertence à massa de indivíduos e cujos prejuízos de uma eventual reparação de

dano não pode ser individualmente calculado.

Afirma Medeiros (2004) que o ambiente natural se caracteriza por interesse

difuso, pois trata de pretensão dispersa por toda a comunidade independentemente de

determinação de sujeitos. No entanto, o Supremo Tribunal Federal já se posicionou no

sentido de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito da

coletividade, portanto, de terceira geração, senão vejamos:

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A questão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Direito

de terceira geração. Princípio da solidariedade.

O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração –

constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do

processo de afirmação de direitos humanos, a expressão significativa de um

poder atribuído, não a indivíduo identificado em sua singularidade, mas num

sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. (MS

- 22.164-0/SP rel. Min. Celso de Mello, in DJU 17/11/95, p. 39206.)

Observa- se que é necessário o envolvimento de cada indivíduo na luta para

um meio ambiente saudável, visto que todo organismo possui um papel na natureza,

chamado nicho ecológico. Esse nicho mostra como as espécies exploram os recursos do

ambiente de forma a transformá-lo e não destruí-lo.

Esse princípio de meio ambiente saudável denota a importância da cooperação

buscando em conjunto a melhoria da qualidade de vida de todos.

Nota-se que é fundamental a participação da coletividade, visando a proteção e

defesa do meio ambiente para que gerações futuras possam usufruir dos recursos

fornecidos, mas de forma sustentável.

Matéria ambiental como direito adquirido

A nossa carta magna promulgada em 1988 em seu famigerado artigo 5°,

XXXVI, garante que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e

a coisa julgada”. No entanto, em se tratando de matéria ambiental essa garantia

encontra-se mitigada eis que na hipótese de uma atividade em que posteriormente ao

seu licenciamento ambiental, se mostre danosa ao meio ambiente não se poderá

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suprimir se recorrer a este princípio constitucional visando resguardar o direito já

“adquirido” pelo poluidor.

Segundo Mascarenhas (2004, p.287), deve prevalece o interesse maior que é o

da coletividade, a quem foi dado o direito fundamental ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

Já para Milaré (2001, p.261) o Direito Ambiental, para cumprir a sua missão de

tutela ao interesse público, deverá o poder impor medidas antipoluição as instalações já

existentes, sob pena de violar-se o princípio poluidor-pagador e perpetuar o direito a

poluir.

Destarte, se houver um conflito entre o direito adquirido por alguém em virtude

da expedição de licença ambiental e do interesse da coletividade que estão sendo

prejudicada em virtude da atividade que apesar de licenciada, causa danos ambientais,

deve prevalecer o interesse da coletividade. Como supramencionado, o direito adquirido

nesse caso terá pouca ou nenhuma força, pois o que deve prevalecer é o interesse

coletivo em detrimento do individual.

A ÉTICA E A ORDEM ECONOMICA DO MEIO AMBIENTE

A ética está relacionada ao conceito de ética antropocêntrica, ou seja, considera-

se o comportamento do homem em relação a si mesmo. Nesse conceito, o Homem, por

possuir a capacidade de raciocínio, é um ser superior aos demais seres da Terra.

Ética ambiental é um conceito que amplia o conceito anterior, pois não só refere-

se à maneira de agir do homem em relação ao seu meio social, mas também em relação

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à Natureza. Essa nova ética é necessária, pois a conservação da vida humana é hoje

compreendida como inserida na conservação da vida de todos os seres. Esse conceito de

ética ambiental relaciona-se como o conceito de ética egocêntrica (de OIKOS, casa em

grego).

Por esse conceito, todos os seres são iguais. O Homem, apesar de imbuído de

razão, não pode continuar a ver outros seres como inferiores e, portanto, não pode agir

de forma predatória em relação aos mesmos. O Ser Humano deixa de ser "dono" da

Natureza para voltar a ser parte da Natureza.

Busca-se, com a ética ambiental, criar-se uma nova ordem mundial, onde o

Homem não mais satisfaz apenas seus desejos imediatos, mas, ao agir, busca atender

seus desejos, limitados pelas necessidades de outros seres vivos. Assim, dentro dessa

nova visão sobre meio ambiente trazida pela Constituição Federal, há que se ressaltar

que seu disciplinamento protetor não se esgota no dispositivo constante no artigo 225. E

o Título VII, que trata da Ordem Econômica e Financeira, traz em seu artigo 170, o

seguinte:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios:

VI – defesa do meio ambiente.

O artigo supracitado eleva à condição de princípio da ordem econômica a defesa

do meio ambiente. Do exposto se infere que o princípio da defesa do meio ambiente

conforma a ordem econômica, informando substancialmente os princípios da garantia

do desenvolvimento e do pleno emprego. Além de objetivo, em si, é instrumento

necessário – e indispensável – à realização do fim dessa ordem, o de assegurar a todos

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existência digna. Nutre também, ademais, os ditames da justiça social. Todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo9 –

diz o art. 225, caput10.

A inclusão do princípio da defesa do meio ambiente na ordem econômica,

demonstra a preocupação do legislador de que o desenvolvimento não pode estar

dissociado da proteção ambiental. Lembre-se que o desenvolvimento da economia

sempre gera algum tipo de impacto ao meio ambiente, porém, devemos buscar formas

no sentido de que este impacto seja o menor possível, bem como devem existir medidas

para compensá-lo.

A MODERNIDADE E A IMPORTANCIA DA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL

No que tange a economia, o meio ambiente ficava em segundo plano, até que

surgiram as leis de proteção ambiental. Não faz muito tempo que a visão comum era no

sentido de que as preocupações com o meio ambiente eram descabidas e prejudicariam

o crescimento e industrialização dos países em desenvolvimento. Como é o caso dos

poluentes gerados na região da Ásia e de países emergentes como China, Índia e

Indonésia relacionados com o crescimento econômico desses países e que circulam em

todo o planeta. Esses poluentes, por sua vez, ficam suspensos e circulam por todo o

planeta durante vários anos, até descerem às camadas mais baixas para se dispersarem.

No estudo “Monção Asiática Transporta Poluição para a Estratosfera”, o fenômeno

9 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8ª ed. São Paulo: Malheiros.

2003. p. 219. 10 Caput: Expressão latina que significa cabeça do artigo.

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serve de veículo, um sistema de circulação que se forma sobre uma grande concentração

de poluentes. Esse fenômeno esta aumentando o buraco da camada de ozônio, gás

responsável pela filtragem dos raios ultravioletas do sol. Nota-se que a prioridade é a

aceleração do crescimento econômico. As externalidades negativas, ou seja, o custo

ambiental resultante da degradação ocorrida nesse processo produtivo seria neutralizado

com o progresso. Como observa o mestre Paulo de Bessa Antunes (2004, p.30) que:

O desenvolvimento econômico no Brasil sempre se fez de forma degradante

e poluidora, pois, calcado na exportação de produtos primários, que eram

extraídos sem qualquer preocupação com a sustentabilidade dos recursos, e,

mesmo após o início da industrialização, não se teve qualquer cuidado com a

preservação dos recursos ambientais. Atualmente, percebe-se a existência de

vínculos bastante concretos entre a preservação ambiental e a atividade

industrial. Esta mudança de concepção, contudo, não é linear e, sem dúvida,

podemos encontrar diversas contradições e dificuldades na implementação de

políticas industriais que levem em conta o fator ambiental e que, mais do isto,

estejam preocupadas em assegurar a sustentabilidade utilização de recursos

ambientais.

Devemos frisar que o fundamento principal é assegurar existência digna, através

de uma melhor qualidade de vida. Contudo, esse princípio não objetiva impedir o

desenvolvimento econômico.

Sabemos que a atividade econômica, na maioria das vezes, representa alguma

degradação ambiental. No entanto, o que se pretende é minimizá-la, pois pensar de

forma contrária significaria expor que nenhuma indústria que possa deteriorar o meio

ambiente poderia ser instalada, e não é essa a concepção apreendida do texto. Como

afirma ainda, Fiorillo, (2004, p.27) que o correto é que as atividades sejam

desenvolvidas lançando-se mão dos instrumentos existentes adequados para a menor

degradação possível.

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A combinação entre progresso e proteção ambiental deve ser pautada no

desenvolvimento sustentável, que consiste na exploração equilibrada dos recursos

naturais.

O AVANÇO CONSTITUCIONAL

Período Pré-Colonial e Colonial:

1500/1530 – Exploração do Pau-Brasil e Tráfico de Animais Silvestres.

1530 – Capitanias Hereditárias e Sesmarias.

1548 – Governo Geral (certa autonomia jurídica e administrativa).

1603 – Ordenações Filipinas (regras para o combate de poluição das águas, à caça e a

pesca predatória).

1605 - 1ª Lei de Proteção às Florestas – Regimento do Pau Brasil.

1797 – Proteção de Rios, nascentes e encostas.

1799 – Regimento de corte de madeira.

Período Brasil Imperial

1822 – Fim do Regime das Sesmarias.

1824 – Constituição do Império (Proibição do corte raso de madeiras de lei). Pena para

o corte ilegal de madeira

1850 – Lei de Terras do Império-Lei n 601/1850. Criou regras para proteção da

vegetação e do solo. Rearborização da Floresta da Tijuca.

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Período Republicano

1891 – Constituição Republicana não disciplinou matéria ambiental.

1895 – Convênio Egretes/Paris (Proteção dos rios e lagos da Amazônia).

1916 – O Código Civil contempla artigos sobre águas, fauna e flora (visão patrimonial).

1934 – A Constituição a matéria ambiental de forma indireta e diluída.

1934 - 1º Código Florestal Brasileiro Código das águas.

1937 - 1ª Conferência Brasileira para proteção da natureza.

1960 – Política Nacional de Saneamento Básico.

1965 – Código Florestal.

1967 – Lei de proteção à Fauna.

1979 – Lei do Parcelamento de terras.

Período Republicano

1981 – Política Nacional de Meio Ambiente.

1985 – Ação Civil Pública.

1988 – Constituição Federal (art. 225 e outros).

1989 – Criado o IBAMA.

1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos.

1998 – Lei de Crimes Ambientais.

2000 – Lei do SNUC.

2001 – Estatuto das Cidades.

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CONCLUSÃO

Do estudo realizado neste trabalho, pudemos observar que direito ambiental é

uma área que está recebendo uma atenção maior nos últimos anos. Todavia se faz

necessário um maior rigor na aplicação da legislação pertinente a área ambiental. Assim

como a atuação da sociedade em defesa do ambiente sadio, pois as leis existem e devem

ser cumpridas, mas é preciso que a sociedade faça a sua parte, que é respeitar as leis e

fazer as denúncias cabíveis, quando detectadas as irregularidades. Com o presente

trabalho concluímos que, a questão da preservação do meio ambiente tem recebido

atenções maiores que no passado, embora não tenha sido o suficiente para reverter o

quadro de degradação e destruição do patrimônio ambiental.

Salientamos, ainda, que as ações em prol da defesa do meio ambiente devem

ter eminentemente caráter preventivo, visando evitar a ocorrência de danos, em virtude

de sua difícil reparação, pois um ambiente ecológico não se auto renova. No entanto,

urge que esta mudança atinja não só a legislação ambiental, mas que perpasse por cada

um dos indivíduos da sociedade. Os danos que estão ocorrendo no meio ambiente têm

afetado também os seres humanos, por vezes de forma violenta e trágica.

Portanto são necessários mais estudos acadêmicos nesta área de atuação, a qual é

tão complexa e interessante, haja vista a atualidade do tema e sua importância para o

conjunto social e o próprio planeta. Daí a importância de conscientização de todos os

segmentos de uma sociedade moderna.

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