modernidade e pós-modernidade

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Modernidade e pós-modernidade no âmbito educaional

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Ps-modernismo e educao

Ps-modernismo e educao

Elson Rezende de Mello

(Fonte: http://www.elsonrezende.hpg.ig.com.br/artigos/posmoder.htm)

(sublinhado: Laerte)

"Temos que compreender, de uma vez por todas, que todas as significaes que constituem nosso mundo so simplesmente uma estrutura historicamente determinada e em contnuo desenvolvimento, e na qual o homem se desenvolve, e essas significaes de nenhuma maneira so absolutas." (Karl Mannheim, em Ideologia e Utopia)

O ps-modernismo se expande cada vez mais aos setores mais variados da teoria e do fenmeno social, e o campo da teoria educativa e da pedagogia no podia fugir tambm a esse influxo, o que impe a necessidade de mapear esses terrenos, tendo em vista as novas realidades que resultam da ruptura ou do dilogo ps-moderno com o mundo cultural e social. Para tanto, repassamos algumas informaes que alimentam essa discusso do ps-moderno, em um contexto que obriga, pelo menos, uma flexibilizao de vises e conceitos, sobre os quais ainda hoje pesa uma crosta de dogmatismos e determinismos. Apoiado em anlises de Tomaz Tadeu e outros autores, enfocamos o tema no campo da educao.

A questo do ps-modernismo, em sua relao com a educao, chama a ateno, principalmente com a leitura do ensaio de Henry A. Giroux, "O Ps-modernismo e o Discurso da Crtica Educacional", publicado no livro de Tomaz Tadeu da Silva, Teoria Educacional Crtica em Tempos Ps-Modernos. Como o ps-modernismo se ralaciona com o discurso, a linguagem, a cultura, atravessados pela teoria e a prtica do poder - a televiso e os media em geral esto no centro desses jogos de poder -, nada mais natural que o interesse com a questo se renovasse, agora de uma maneira at operativa, instrumental, para aqueles que, tambm, se preocupam e trabalham com a comunicao.

A aproximao ao ps-moderno tambm pode se dar de acordo a necessidade de buscara teorias e discursos que possam enriquecer uma viso da realidade e ajudem a rejeitar as abordagens que j agora se fazem limitadoras no conhecimento dessa realidade. No que o ps-modernismo se constitua em resposta cabal s teorias sociais e s inquiries culturais; no se trata de buscar frmulas acabadas. No obstante, o elemento interessante neste pensamento a possibilidade de relativizar algumas verdades, ou todas as verdades, e de deslocar a idia de absolutos da cincia social.

A crtica que faz o ps-modernismo aos metarrelatos, no que tm principalmente de deterministas, de destacar-se, ao relativizar as explicaes dominantes, em que as teorias sociais pretenderiam dar da realidade uma viso acabada, bem articulada em todos os planos, tanto cultural, poltico, acadmico e at cientfico. O enfoque ps-moderno pode proporcionar uma abertura de abordagem, numa multiplicidade de vozes sociais e tericas, ainda que no saiba se realmente d as respostas. E talvez j nem se trate mais disso.

O ps-modernismo revitaliza ainda mais a idia de processo, para combater o pressuposto de uma teleologia na histria. Ainda que irradie um ar de desesperana, justamente a desesperana causada pela modernidade, porque difcil viver esse processo aberto, sem as grandes finalidades, os grandes objetivos que justifiquem o trajeto. Pior a fragmentao resultante, se bem que j condizente com a realidade do sculo. De todos os modos, no o ps-modernismo que instaura o fragmentrio, entre outras realidades e fenmenos causados pela vida social sob o capitalismo (o socialismo real foi uma outra cara desse capitalismo?).

O ps-modernismo s tem sentido mesmo, e por isso discusso de nossa poca, quanto existem as condies para o seu afloramento - o que uma afirmao tautolgica e acaciana - depois do modernismo e em plena modernidade. O seu elemento ps, assim se justifica em sua temporalidade. A discusso, ento, est enfocada como crtica a situaes tericas, cognitivas e sociais que vieram se definindo e consolidando desde o Feudalismo, justamente conformando-se com o Iluminismo e o nascente Capitalismo. So etapas do pensamento e do conhecimento que se vo desdobrando - e a velha dialtica se realiza mais uma vez, com anttese, tese e sntese. Srgio Paulo Rouanet (1) no aceita a existncia do ps-modernismo, contudo, colocando o que denomina "ruptura com a modernidade" dentro de uma perspectiva de desenvolvimento desta, e at propondo o temo neomoderno para definir o fenmeno.

David Harvey (2) tambm se perguntava se o ps-modernismo no seria apenas uma revolta no interior do modernismo contra o "alto modernismo", ou um estilo, ou um conceito periodizador. Ou se ele teria um potencial revolucionrio, lembrando sua crtica s metanarrativas e o dar voz s "minorias". Ou se no passa de comercializao e domesticao do modernismo.

Ao debate ps-moderno, entretanto, afloram idias e posturas que no necessariamente so ps-modernas, no obstante estivessem sufocadas e no conseguissem expresso no intercmbio terico e poltico em seu momento, ou quando o conseguiam era com muita dificuldade e de maneira isolada, sem um arcabouo terico e estatuto epistemolgico que as envolvesse.

O que j um elemento mais que contribui para a j assinalada falta de uma definio clara do que seja ps-modernismo. Mais alm de suas definies ou indefinies, a crtica ps-moderna, porm, possibilita um levantamento de interpretaes da realidade social, cultural e poltica - apontando para um certo reordenamento epistemolgico - que reproblematizam questes que aparentemente se haviam sedimentado no pensamento social e cultural, e tambm acompanham o que vai surgindo na esteira da aplicao da cincia e da tecnologia nas sociedades humanas atuais. assim que Huyssens (3) se refere ao ps-modernismo como transformao cultural e mudana de sensibilidade.

Destaque do cultural

O ps-modernismo tem se disseminado com alto poder corrosivo, tanto como teoria social como condio de vida em sociedade, ainda que existam analistas que afirmem que ele j se esteja acabando como fenmeno e possibilidade de anlise dos produtos humanos. Para outros, at uma moda e, como toda moda, vai passar.

Como teoria, o ps-modernismo no tem assim um corpo terico acabado, prprio, estruturado, embora marcando vrios discursos e linguagens; neste aspecto, seu ponto principal o de pr em xeque o modernismo e o saber e a cincia que lhe do sustentao. Tambm um condio existencial, expresso do desencanto, niilismo e descentramento deste fim de sculo e milnio. Para Rouanet todos esses males, que so atribudos ao mundo moderno, levam a uma conscincia de ruptura, embora para ele tudo isso se d no mbito do modernismo, ou melhor, da modernidade.

O ps-modernismo coloca em questo a crena modernista na recionalidade, na cincia e na tecnologia - que vieram constituindo o sonho iluminista de progresso ilimitado. Como fenmeno social e cultural, passou a existir no interior de disciplinas acadmicas e reas culturais, comeando pela arquitetura, filosofia, chegando at os estudos literrios e, como j veremos, a problematizar a teoria crtica da Educao. E foi tendo um desenvolvimento interdisciplinar crescente. O rtulo de ps-moderno comeou a identificar manifestaes artsticas e fenmenos sociais, principalmente a partir de meados da dcada passada, embora j existissem desde anos anteriores. Uma vertente de conceituao se originou em torno do conceito de ps-industrial das dcadas de 50 e 60, apresentado em estudos de Daniel Bell, Alain Touraine e outros (4). David Harvey situa o aparecimento do ps-modernismo entre 1968 e 1972, "a partir da crislida do movimento antimoderno dos anos 60" (5).

Insistindo ainda com a questo, observa-se que, como teoria, o ps-modernismo no se materializa estritamente em uma disciplina. Ainda no se v, por exemplo, na teoria crtica da educao, uma contribuio e realizao que encarne sem deixar dvidas, e fora do debate acadmico em torno temtica, os pressupostos ps-modernos. O que h so teorizaes sobre o ps-moderno em algum campo do educativo, no teorizaes ps-modernas nesse mesmo campo - para no correr o risco de ampliar a afirmao a outras reas.

O ps-modernismo, como mais ou menos indicamos, uma viso com certo vis, que expressa uma condio contaminada pelas determinaes sociais e culturais de nossa poca. Uma viso mais ou menos desencantada, mais ou menos realista. H enfoques ps-modernos em todos os campos, com sentidos diversos, tanto conservadores como progressistas. Tanto serve para justificar o status quo, estilo "fim da histria" do Fukuyama, como para dar corpo a uma insatisfao com teorias, culturas, o saber cientfico da poca, ainda tentando transformar esses discursos.

Para Charles Newman, o ps-modernismo somente o sistema representativo de uma "inflao do discurso", que percorre todos os nveis da sociedade, em especial as esferas da cultura da comunicao (6).

Esse destaque do cultural, que permearia a viso de todas as instncias sociais, rompe com o conhecido paradigma que contrape base e superestrutura, com o primeiro elemento em sua materializao econmico-produtiva determinando o segundo; neste caso, estas categorias de anlise perdem o sentido. Fredric Jameson (7) constata que h uma "expanso da cultura por todo o domnio social, a ponto de se poder dizer que tudo o que compe a vida social - do valor econmico e do poder de estado s prticas e prpria estrutura da psique - se tornaram culturais".

Impregna esta esfera da cultura toda a expresso do que o homem moderno (ps-moderno?), o que ele ou deixa de ser em suas relaes sociais, no desencanto j indicado. nesse espao da cultura onde se poder realizar melhor o colapso da diviso entre realidade e imagem, como vem ocorrendo nos pases do Primeiro Mundo: as imagens da cultura, produzidas e propagadas pelos mass media substituram o sentido do real, e assim as imagens - com seu sentido de espetculo e jogo de linguagem e aparncia - e a realidade se permutam indistintamente. Nesse jogo de espelhos, as imagens se fortalecem e se impem ao espao cultural. So imagens construdas, "reais", que podem transmitir mais facilmente as orientaes de um poder difuso. nessa cultura que hoje o homem se aliena, muito mais que nas relaes de explorao no trabalho, muito mais que nas relaes fetichizadas da mercadoria - que, de mais a mais, esto completamente atravessadas por essa cultura (8). medida que as tecnologias informacionais se disseminam essa comutabilidade entre imagem e realidade se agudiza, chegando inclusive a ser uma questo que num futuro j nem se coloque, por corriqueira. Estas fronteiras vo perdendo sentido, com evidentes conseqncias para a vida social.

O discurso ps-moderno, principalmente em teorizaes de Jean Baudrillard, se move naturalmente no mbito dessas realidades, cujos aspectos retricos e de linguagem ganham centralidade na anlise.

Trs autores em destaque

Peter McLaren (9) afirma que a ps-modernidade pode ser descrita "como uma poca de coupure cultural e epistemolgica, uma poca na qual as fronteiras culturais e epistemolgicas esto se desfazendo e os gneros disciplinares se tornando indistintos". E ele cita Fredric Jameson, de "Marxismo e ps-marxismo" (New Left Review, 1989) para melhor caracterizar a poca e o conceito: "O ps-modernismo um perodo de transio entre dois estgios do capitalismo, no qual as formas anteriores do econmico esto num processo de reestruturao em escala global, incluindo as formas antigas de trabalho e suas instituies e conceitos organizacionais tradicionais".

Deste modo, para se captar todas as implicaes sociais e culturais do fenmeno, se tem que contextualiz-lo no capitalismo que emerge na Segunda ps-guerra e chega a nossos dias quase como nica formao econmico-social, depois do desastre e derrocada do chamado socialismo real. Assim, o ps-modernismo avana, no plano das teorias, paralelamente a esse capitalismo tardio, que aponta agora para uma estratgia de globalizao. Jameson chega mesmo, de maneira rpida, a fazer uma identificao entre ps-modernismo e a americanizao, num ensaio recente em que discorria sobre a nova ordem mundial (10).

Para Steven Connor (11), o debate ps-moderno:

"pode ser visto como um processo intelectual-discursivo que, num s movimento, multiplica opes crticas e as aprisiona em formas reconhecveis e disseminveis, ou, como diz Dana Polan, de maneira ainda mais sombria, 'estrutura intensamente o discurso crtico como uma espcie de combinatoire mecanicista em que tudo dado de antemo, em que no pode haver prtica, mas a interminvel recombinao de peas fixas da mquina gerativa'. Viso um tanto distinta (...) evidencia-se na descrio de John Rajchman do 'mercado mundial das idias' que a teoria ps-moderna institui e do qual participa: em sua elasticidade e descentramento terico, a teoria ps-moderna ' como o Toyota do pensamento: produzido e montado em vrios lugares diferentes e vendido em toda parte'".

Steven Connor, no mesmo estudo citado, faz uma distino entre ps-modernismo e ps-modernidade, que tem um sentido de deslindar o terreno e quase nenhum valor operativo, j que na prtica os autores continuam usando um termo pelo outro: o ps-modernismo, a partir do modernismo, vertente que apontaria a emergncia dessa teoria na cultura mundial; e a ps-modernidade, j no campo da emergncia de novas formas de arranjo social, poltico e econmico. E indica trs autores cuja obra assinalaria a discusso da ps-modernidade social: Jean-Franois Lyotard, Fredric Jameson e Jean Baudrillard, autores com os quais se tropea em todo texto que aborde a questo.

Lyotard, com uma origem marxista, do grupo "Socialismo e Barbrie", do qual tambm participou Cornlius Castoriadis (editaram na Frana uma revista com o mesmo ttulo), marcou sua entrada na discusso com o livro, de 1979, La Condicin Postmoderne, que no Brasil recebeu o ttulo O Ps-Moderno, e j vai pela quarta edio. Lyotard basicamente discute o saber cientfico e sua crise de legitimao. Para ele, hoje, o saber cientfico estaria em busca de caminhos de sada da crise, considerando-se como crise o determinismo. Diz que o saber ps-moderno agua nossa sensibilidade para as diferenas e refora nossa capacidade de suportar o incomensurvel (12).

Com sua concepo das metanarrativas, Lyotard tem sido suscitador para o debate ps-moderno. Ele considera ps-moderna a incredulidade em relao aos metarrelatos, configurados nas vises globalizantes, totalizantes, tpicas da modernidade (13). Henry A. Giroux (14) resume o pensamento de Lyotard:

"Na viso de Lyotard, o significado do ps-modernismo est inextricavelmente relacionado s cambiantes condies de conhecimento e tecnologia que esto produzindo formas de organizao social que enfraquecem os antigos hbitos, vnculos e prticas sociais da modernidade. (...) De acordo com Lyotard, as inovaes tcnicas, cientficas e artsticas esto criando um mundo no qual os indivduos devem traar seu prprio caminho sem o auxlio de referentes fixos ou de arrimos filosficos tradicionais. Domnio e libertao total so descartados como constituindo discursos de terror e de consenso forado. Em seu lugar, o ps-modernismo surge como um referente para designar um mundo sem estabilidade, um mundo do qual o conhecimento est constantemente mudando e no qual o significado no pode mais ser ancorado numa viso teleolgica da histria."

Fredric Jameson, ainda com um tratamento marxista na discusso do ps-moderno, se esfora, como diz, em "correlacionar a emergncia de novas caractersticas formais na cultura com a emergncia de um novo tipo de vida social e uma nova ordem econmica" (15). Para ele, o ps-modernismo a lgica cultural do capitalismo avanado. Ocupa-se do tema em algumas obras, entre as quais se destaca Portmodernism: or the Cultural Logic of Late Capitalism, de 1984, justamente um trabalho paradigmtico do seu pensamento. Steven Connor, contudo, destaca que, apesar de sua incapacidade de apresentar uma resoluo dos problemas advinda de uma sociologia do ps-moderno, "a obra de Jameson oferece o mais sugestivo relato de difcil e desigual relao entre cultura ps-moderna e ps-modernidade socioeconmica feito at agora".

Baudrillard, tambm com uma tintura que em seu tempo foi marxista, , dos trs, o que apresenta uma viso talvez mais desencantada, por isso mesmo mais envolvida com a condio ps-moderna. Sua obra gera em torno da cultura de massa, do que ele chama "economia poltica do signo". Como anota Henry A. Giroux, no discurso de Jean Baudrillard a condio ps-moderna representa mais do que uma enorme transgresso das fronteiras que so essenciais lgica do modernismo; ela representa uma forma de hiper-realidade, uma proliferao infinita de significados, na qual todas as fronteiras confundem-se em modelos de simulao.

Desafio educao

O debate do ps-moderno que nos ltimos anos chega ao campo da educao tem, no mnimo, um sentido salutar e desafiador (16). Tradicionalmente, as teorias educativas refletem o que se desenvolve em outras reas; a instituio educativa um campo conservador, at pelos compromissos que assume na sociedade. Os avanos que nela se do acontecem com mais lentido, como vemos acontecer com o ps-modernismo, ao invadir a cidadela da educao e sua teoria. Para comear, o desafio que o ps-modernismo impe o da atualizao, mesmo que seja a atualizao num nvel de discusso e arejamento de idias.

E um dos caminhos interessantes que a discusso ps-moderna pode levar para a educao o da discusso cultural, de acordo com o convergncia que faz o ps-modernismo da cultura para o domnio social. O que levado para o campo das teorias educativas tem implicaes dinamizadoras, para uma educao que se deve toda cultura, mas que no seu dia-a-dia vive separada dela, ou tem uma relao com ela no homognea, com um dilogo insuficiente. Os educadores at esquecem que atuam no campo da cultura, tenha a definio que tenha.

Portanto, os questionamentos ps-modernos, levados esfera das teorias e prticas da educao, vo significar uma imploso de sua viso e metodologias, como j assinalou recentemente Tomaz Tadeu (17). Embora tomando-se certos cuidados para, por exemplo, no cair no relativismo (18) e desencanto que se desprendem de alguns dos enfoques do ps-modernismo, desde j se pode indicar como um dos seus aspectos positivos o colocar em questo a capacidade de manipulao e moldagem das conscincias que os estudos fundadores da Sociologia da Educao apontam como contribuio da escola. O desafio que impe a teorizao ps-moderna para a escola o de buscar sadas que dem conta da formao do homem neste final de sculo. Por contraditrio que seja, um elemento de transformao se cola tambm ao discurso educativo, o que para alguns ensejaria a aproximao da teoria crtica, em sua busca de respostas para a questo da transformao e formao, dos pressupostos ps-modernos. So expectativas que marcam, alm do mais, o pensamento cientfico das cincias sociais (19) - em alguns casos at o transformando em discurso moral. O ps-modernismo, destacando a impossibilidade de absolutizar sentidos, , tambm, uma forma de relativizar esse discurso moral.

No Brasil, recentemente, marca a discusso do ps-modernismo na educao o livro de Tomaz Tadeu (organizador), Teoria Educacional Crtica em Tempos Ps-Modernos, publicado o ano passado, trazendo oito ensaios em que se discutem as relaes entre o ps-modernismo e a teoria educacional crtica (20). H, no livro, posturas tericas que se apiam favoravelmente nos pressupostos ps-modernos, as que os discutem e no os aceitam e outras que matizam sua posio com relao contribuio dessa teorizao para a educao.

No livro de Tomaz Tadeu se destacam Peter McLaren, Henry A. Giroux, Svi Shapiro, e Landon E. Beyer e Daniel P. Liston. Os dois primeiros com posies que, embora crticas, buscam conciliar a teorizao ps-moderna com a teoria crtica da educao. Os outros se posicionam contrrios ao ps-modernismo.

Para Peter McLaren h pouca preciso no uso do termo ps-modernismo, que tambm seria moda na academia; no obstante, indica que h um interesse crescente entre os educadores para a discusso do questo de se vivemos ou no numa conjuntura ps-moderna e suas implicaes para a avaliao do legado da tradio iluminista moderna. Ele deplora, contudo, que s recentemente se comeou a tirar proveito desses debates para repensar a relao entre escola, cultura, linguagem e poder (21).

Henry A. Giroux , no seu ensaio, caracteriza a contribuio da modernidade no campo da educao. Chega concluso de que contestar o modernismo significa redesenhar e remapear a prpria natureza de nossa geografia social, poltica e cultural. "Bastaria essa razo para que a contestao atualmente feita pelos vrios discursos ps-modernistas fosse considerada e examinada criticamente pelos educadores." (22) Para ele a crtica ps-moderna oferece uma combinao de possibilidades reacionrias e progressistas, e seus vrios discursos tm que ser examinados com grande cuidado se quisermos nos beneficiar poltica e pedagogicamente de seus pressupostos e de suas anlises. Argumenta que a base de uma pedagogia crtica no deve se desenvolvida em torno de uma escolha entre modernismo e ps-modernismo. Com ecos de Jameson, afirma que a condio ps-moderna refere-se "s vrias transformaes discursivas e estruturais que caracterizam a cultura na era do capitalismo tardio".

No final de seu ensaio to perspicaz, Henry A. Giroux aponta alguma contribuio do enfoque ps-moderno para a batalha educativa:

"A nfase ps-moderna na rejeio da formas de conhecimento e pedagogia que venham envolvidas no discurso legitimador do sagrado e do consagrado, sua rejeio da razo universal como fundamento para as questes humanas, sua assero de que todas as narrativas so parciais e seu apelo para que se realize uma leitura crtica de todos os textos cientficos, culturais e sociais como construes histricas e polticas, fornecem as bases pedaggicas para radicalizar as possibilidades emancipatrias do ensino e da aprendizagem como parte de uma luta mais ampla pela vida pblica democrtica e pela cidadania crtica. Nessa viso, a pedagogia no reduzida ao frio imperativo metodolgico de se ensinar interpretaes conflitivas sobre o que conta como conhecimento."(23)

Por seu lado, Svi Shapiro descr da possibilidade de um enfoque ps-moderno na educao, pelo menos na pedagogia crtica em seu sentido emancipatrio (24). Para ele, o ponto de vista ps-moderno antittico aos elementos de uma pedagogia crtica: "Seja qual for a importncia da linguagem e do discurso, so as vidas e as experincias dos seres humanos que permanecem centrais ao projeto de uma pedagogia crtica."

Todo o seu ensaio um reafirmar das possibilidades e das necessidades de transformao do homem e da conseqente transformao da realidade. No entanto, "apesar disso tudo", acha que se deve reconhecer que as idias e as iluminaes ps-modernas fornecem advertncias pedagogia crtica:

"1. Que o poder no pode simplesmente ser identificado com as foras da represso e da explorao; que est presente at mesmo no interior das foras de libertao.

2. O discurso universal o discurso dos privilegiados: tem sido precisamente em nome de valores universais ou estruturas ontolgicas que a opresso tem sido praticada e legitimada." (25)

Landon E. Beyer e Daniel P. Liston (26), se bem afirmem que o ps-modernismo tem contribudo de forma importante para a compreenso do mundo educacional, levantam algumas limitaes aos pressupostos ps-modernos, precisamente no campo das aes morais e polticas. Criticam o ps-modernismo, que estaria preso num presentismo da particularidade e da anlise do discurso que no deixa nenhuma possibilidade de desenvolver vises morais que possam levar crtica e ao social transformativa, e que assim no seria adequado para o tipo de trabalho que os educadores so obrigados a fazer.

No obstante, os autores chamam a ateno sobre que o ps-modernismo tem ajudado em estar alerta para as realidades e conseqncias de se marginalizar as vozes dos "outros", para a tendncia a uma racionalidade tcnica, ocidental, hegemnica e opressiva. Para eles, o ps-modernismo indica a necessidade de se ver o particular e o local. Levantam os problemas, que vieram descrevendo no ensaio, que levam a que se questione a eficcia dessa teoria no tratamento das deliberaes polticas e morais que os educadores devem enfrentar. E terminam fazendo um chamado de desconfiana no ps-modernismo: "Sua demonstrada incapacidade para fornecer as bases para o tipo de projeto poltico que deve constituir a transformao educacional, assim como os problemas e paradoxos conceituais e empricos que contm, deveriam servir de freio para as exageradas asseres feitas em seu favor".

Tomaz Tadeu da Silva

Tomaz Tadeu tem uma posio um tanto contraditria. Comea seu ensaio, "Sociologia da educao e pedagogia crtica em tempos ps-modernos" (27), fazendo uma pequena ressalva a um trabalho anterior seu (28), no qual teria descartado a viso ps-modernista em educao por consider-la mera ideologia. Um ano depois, no entanto, no presente trabalho, argumenta que o fez de uma forma ingnua e apressada.

De todas as formas, o seu ensaio atual tem o valor de resenhar as diversas contribuies e posies do ps-modernismo em relao s teorias educativas (29). Ele integra o que denomina movimento ps-moderno tendncia de analisar e teorizar a educao atravs de uma Teoria Cultural, a ver a educao em termos de campo poltico cultural, como j vinha ocorrendo nos ltimos vinte anos, atravs da incorporao das preocupaes da Teoria Crtica da Escola de Frankfurt, de insights gramscianos sobre o campo cultural como campo de luta por hegemonia, da influncia do programa terico e pesquisa de Pierre Bourdieu e do enfoque culturalista da Universidade de Birmingham.

Conceituando o pensamento ps-moderno em educao como contestao ao que se apresenta como conhecimento escolar, Tomaz Tadeu o interpreta como continuidade a pelo menos uma das vertentes da tradio crtica em educao, configurada na Nova Sociologia da Educao. "Com o predomnio dos temas ps-modernos, a preocupao com o contedo e a natureza do conhecimento veiculado pelas instituies educacionais volta com renovada e transformada nfase". (30)

Tomaz Tadeu indica, entretanto, que h rupturas. A Nova Sociologia da Educao tratava questes de interesse e poder de forma genrica, enquanto na teorizao ps-moderna esses interesses so mais claramente identificados, colocando toda a tradio filosfica e cientfica ocidental moderna em suspeita como eurocntrica, falocntrica, racista, numa problematizao que inclui as prprias idias de razo, progresso e cincia.

Para ele, a Sociologia da Educao moderna e a crtica educacional ps-moderna tambm divergem na teorizao sobre a conscincia e a subjetividade. O pensamento ps-moderno rejeitaria a noo de conscincia unitria, auto-idntica, auto-reflexiva, racional, homognea, centrada, determinada por certas dinmicas centrais, das quais seria devedora a Sociologia da Educao. Nos pressupostos ps-modernos a subjetividade vista como fragmentada, descentrada, contraditria, como resultado de mltiplas determinaes. E a conscincia seria sempre parcial, fragmentada e incompleta. No texto apresentado no VII Endipe, o autor afirma que a autonomia do sujeito e de sua conscincia cede lugar a um mundo social constitudo antes e que o precederia, na linguagem e pela linguagem (31).

Neste sentido, ele estaria trabalhando com as noes de diferena e alteridade, sobre as quais h uma nfase no pensamento ps-moderno.

Chegado, contudo, o momento das avaliaes, do que ele denomina balano provisrio entre Sociologia da Educao "moderna" e Crtica Educacional ps-moderna, indica que h mais rupturas e descontinuidades que permanncias e continuidades. E aponta as diferentes direes e posies que, diante do pensamento ps-moderno, tm tomado os analistas educacionais crticos que trataram da temtica, incluindo principalmente os autores de ensaios no livro do qual foi organizador:

1) Os que buscariam traar uma linha de conciliao entre os dois pensamentos, casos de Giroux e McLaren;

2) Os que postulam uma quase completa ultrapassagem da anlise moderna pela anlise ps-moderna, como Wexler;

3) Os que rejeitam os principais argumentos ps-modernos, como Beyer e Liston, Shapiro; e

4) Autores mais radicais que, a partir de posies feministas, questionam seriamente a prpria Pedagogia Ps-Moderna, como Ellsworth, Lather, Luk e Orner.

Por seu lado, a posio que toma ele mesmo esclarecida e de fundo sentido humanista. Diz que a problematizao que a anlise ps-moderna traz Sociologia da Educao e Teoria Educacional Crtica deve ser levada em considerao, mas, por outro lado, ela prpria deve tambm ser questionada e problematizada. Levanta que a desconfiana das narrativas mestras e totais que faz a anlise ps-moderna pode contribuir para o projeto crtico se prevenir que elas possam contribuir para a criao e manuteno da distribuio desigual de poder e de recursos, e que essa anlise pode ser regressiva, conservadora, se no deixa nenhum instrumento analtico que permita fazer sentido (ou visualizar) da dinmica social global:

"O reducionismo pan-discursivo do ps-modernismo pode ser til para um projeto educacional crtico na medida em que nos torna conscientes a respeito dos efeitos de verdade de todos os discursos, mas pode ter tambm conseqncias regressivas e conservadoras quando essa desconfiana em relao aos discursos e ao carter ilusrio de todos os discursos nos impede de fazer uma crtica de estruturas sociais que so bem reais e concretas e que tm efeitos bem concretos e reais sobre as vidas de pessoas e grupos. Temos de ter uma forma de reconhecer, nomear e criticar essas estruturas".(32)

Ainda assim, Tomaz Tadeu aceita a contribuio da crtica ps-moderna no seu questionamento da noo de sujeito, conscincia e subjetividade. Termina o ensaio afirmando que o pensamento ps-moderno pode contribuir para a teoria educacional que ainda est em construo na medida em que for visto de forma crtica e problematizadora e sirva para aprimorar a teorizao educacional crtica. Entretanto, na medida em que esse pensamento representa uma regresso em relao ao projeto de crtica radical das divises sociais, deve ser criticamente rejeitado.

Desiderato

J destacamos o interesse no ps-modernismo como busca daquelas idias e teorias que ajudem a entender a sociedade em que vivemos. Daquelas idias, ou instrumental terico, que possibilitem o desenvolvimento de um pensamento sem amarras, para ter uma insero na realidade que permita transform-la, em funo das potencialidades humanas (por mais que isso possa ser aprisionado nas malhas curtas de uma metanarrativa). A busca tambm de saber viver com a diferena, com o fragmentrio, sem perder de vista o contexto mais global. Suportar o incomensurvel, como diz Lyotard.

O complicado que vivemos uma poca de transio e transformaes aceleradas, o que no permite uma perspectiva adequada para as avaliaes e as conseqentes aes. A ingenuidade que vamos deixando pelo caminho tem de ser em funo de construir algo, em avanar na construo de um mundo melhor, por mais que este desiderato no se encaixe no discurso ps-moderno, no que ele tem de desencanto, de niilista.

O debate ps-moderno (que em algumas paragens j se vai esgotando) pode ser visto como uma possibilidade de abertura a algumas crticas necessrias construo modernista do pensamento e da sociedade. E o que marca esse debate sua auto-reflexividade e auto-referencialidade, que pode ser tremendamente reiterativo e paralisante, e assim se desgastar muito mais rapidamente. Um cuidado que se impe o de no se enveredar por esse caminho como pura moda intelectual e terica.

De qualquer maneira, o ps-modernismo j deixa suas marcas, seja ou no uma moda passageira. Os mitos caem, e j podemos falar um pouco mais abertamente, expressando tantas inconformidades com o pensamento e a prtica poltico-tericos dominantes em determinados ghetos.

Parece que no existe uma produo brasileira que trate da crtica ps-moderna na educao ou sobre a educao, com a exceo de Tomaz Tadeu, ainda assim mais como divulgador e compilador. No livro que ele organizou se ressente a presena, pelo menos, de algum outro estudioso brasileiro.

O ps-modernismo, ao invadir a cidadela educativa, pode servir para a renovao da educao, possibilitando tir-la desse atoleiro em que a meteram, e no para justificar e apoiar ainda mais a prtica (neoliberal?) dominante que, apesar dos discursos, mantm a educao marginalizada, verdadeiramente abandonada.

Que o ps-modernismo sirva pelo menos a que os educadores se mexam.

Agosto de 1994.NOTAS

1. Srgio Paulo Rouanet, As razes do Iluminismo, Companhia das Letras, So Paulo, SP, 1987, pp. 268-269.

2. David Harvey, Condio ps-moderna, Edies Loyola, So Paulo, SP, 1993, p. 47.

3. Citado por David Harvey, op. Cit., p. 45.

4. Rouanet, op. Cit., indica que o termo ps-moderno, no campo da literatura, foi usado pela primeira vez por Federico de Onis, em 1934, numa antologia de poesia espanhola e hispano-americana.

5. David Harvey, op. Cit., p. 44.

6. Citado por Steven Connor, in Cultura Ps-Moderna: Introduo s teorias do contemporneo, Edies Loyola, So Paulo, SP, 1992, p. 15.

7. Fredric Jameson, citado por Steven Connor, op. Cit., p. 44.

8. "Muitos cidados defendem-se dos incessantes assaltos do meio isolando-se e protegendo os seus sentidos, obscurecendo as vidraas dos seus automveis, levando continuamente aos ouvidos os walkmans a todo o volume, evitando a comunicao face a face, anestesiando com drogas ou lcool suas emoes ou fixando-se na pequena tela ou no transstor dia e noite, para evitar a viso da realidade, conscientizar-se. Como resultado, as vivncias reais tornam-se ilusrias e remotas, cria-se um mundo no qual a essncia humana de carne e osso torna-se menos real que as histrias que se apresentam no vdeo, filme, fita megafnica ou o papel do dirio. Incapazes de alcanar uma vida pessoal frutificante, estes homens e mulheres optam por uma existncia imaginria, sucednea, de Segunda mo, como espectadores, ouvintes ou leitores passivos dos meios de comunicao. (...) Diante do contnuo e intolervel bombardeio de seus receptores fsicos e mentais, o indivduo perde pouco a pouco a sua capacidade de responder e adota uma atitude defensiva de recuo e desinteresse, sofre de embotamento afetivo e perde a capacidade de discriminar entre os mltiplos estmulos do meio, de discernir o essencial do suprfluo, a realidade da fico. Os cidados movem-se como em transe, em um estado de despersonalizao que se manifesta em indiferena. O fim destes processos anmicos de isolamento, apatia e inrci o autismo social, a alienao do indivduo e o seus estranhamento de si prprio e dos outros." (Luis Rojas Marcos, La ciudad y sus desafos (Hroes y Vctimas), citado por Octvio Ianni, in "A cidade Global", Revista Vozes, ano 88, n. 2, maro-abril de 1994, Petrpolis, RJ)

9. Peter McLaren, "Ps-Modernismo, Ps-Colonialismo e Pedagogia", in Teoria Educacional Crtica em Tempos Ps-Modernos, Tomaz Tadeu da Silva, org., Artes Mdicas, Porto Alegre, RS, 1993, p. 15.

10. Fredric Jameson, "Conversas sobre a nova ordem mundial", in Depois da Queda, Robin Blackburn, org., 2 ed., Paz e Terra, Rio de Janeiro, RJ, 1993, p. 231.

11. Steven Connor, Cultura Ps-Moderna: Introduo s teorias do contemporneo, Edies Loyola, So Paulo, SP, 1992, p. 24.

12. Jean-Franois Lyotard, O Ps-Moderno, 4 ed., Jos Olmpio Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1993.

13. Tomaz Tadeu, num texto apresentado no VII Endipe, realizado em Goinia em junho deste ano, "O adeus s metanarrativas educacionais", p. 11: "Parece que o abandono das metanarrativas irreversvel. As metanarrativas, em sua ambio universalizante, parecem Ter falhado em fornecer explicaes para os multifacetados e complexos sociais e polticos do mundo e da sociedade. A dependncia em relao s metanarrativas polticas tem revelado uma tendncia a produzir regimes totalitrios e ditatoriais. O apego a certas metanarrativas tem servido apenas de justificao para que certos grupos conservem outros sob opresso."

14. Henry A. Giroux, "O ps-modernismo e o discurso da crtica educacional", in Teoria Educacional Crtica em Tempos Ps-Modernos, Tomaz Tadeu da Silva, org., Artes Mdicas, Porto Alegre, RS, 1993, p. 44.

15. Fredric Jameson, "Postmodernism and Consumer Society", in Steven Connor, op. Cit., p. 42.

16. Em 1989, aqui na Faculdade de Educao/Ufmg, Carlos A. Messeder Pereira tocava na temtica ps-moderna para um curso no Mestrado, com a palestra "Antropologia e ps-modernidade: espao-tempo em questo".

17. No texto apresentado no VII Endipe, Tomaz Tadeu continua aprofundando sua abordagem da questo do ps-modernismo em sua relao com a teoria crtica da educao. No texto, que comea com a afirmao de que a teoria educacional e a pedagogia encontram-se sitiadas - pelo ps-modernismo, o ps-estruturalismo e o feminismo - ele faz um deslinde crtico entre ps-estruturalismo e ps-modernismo, e afirma que a posio ps-estruturalista, naquilo que se refere chamada "virada lingstica", "subverte todas as nossas mais queridas noes sobre educao, incluindo aquelas que tnhamos como mais crticas e transgressivas". E que nisso residiria sua fora.

Tomaz Tadeu conclui seu trabalho indicando que, pelos questionamentos colocados pelo ps-modernismo e pelo ps-estruturalismo, com a teoria "no mais obrigada a dar conta de tudo, no mais obrigada a prescrever uma srie de receitas para todas as situaes, a intelectual educacional pode talvez agora assumir sua tarefa poltica de participante coletiva no processo social: vulnervel, limitada, parcial, s vezes correta, s vezes errada, como todo mundo".

18. Ainda que haja autores que recuperem o relativismo nas cincias sociais, como Karl Mannheim, pelo menos em dado momento, porque ele ampliou o alcance do conceito, chegando ao que denominou relacionismo. No obstante, quando tratava da questo da objetividade no processo social, ele observou que, numa situao de crise, o ceticismo e o relativismo, em sua destruio mtua e desvalorizao de fins polticos divergentes, se transformam em mio de salvao, ao promover o autocriticismo e o auto-domnio - levando a uma concepo de objetividade. (Karl Mannheim, Ideologa y Utopa, 2 ed., Aguilar, Madrid, Espanha, 1966).

19. "Sin concepciones valorativas, sin una mnima significativa finalidad, no se puede hacer nada, ya sea en la esfera de lo social o de lo psquico". Karl Mannheim, op. Cit., p. 57.

20. Os oito ensaios so os seguintes: "Ps-Modernismo, Ps-Colonialismo e Pedagogia", de Peter McLaren; "O Ps-Modernismo e o Discurso da Crtica Educacional", de Henry A. Giroux; "Discurso ou Ao Moral? Uma Crtica ao Ps-Modernismo em Educao", de Landon E. Beyer e Daniel P. Liston; "O fim da Esperana Radical? O Ps-Modernismo e o Desafio Pedagogia Crtica em Tempos Ps-Modernos", de Tomaz Tadeu; "Um projeto social para o currculo: Perspectivas Ps-Estruturais", de Cleo H. Cherry Holmes; "Dilogo entre as Diferenas: Continuando a Conversao", de Nicholas C. Burbules e Suzanne Rice; e "Condies Ps-Modernas: Repensando a Educao Pblica", de Mustafa . Kiziltan, William J. Bain e Anita Caizares M.

21. Peter McLaren, op. cit., p. 24.

22. Henry A. Giroux, op. cit., p. 42.

23. Ibidem, p. 65.

24. Svi Shapiro, "O fim da Esperana Radical? O Ps-Modernismo e o Desafio Pedagogia Crtica", in Tomaz Tadeu, op. cit., p. 107.

25. Ibidem, p. 110.

26. Landon E. Beyer e Daniel P. Liston, "Discurso ou Ao Moral? Uma Crtica ao Ps-Modernismo em Educao", in Tomaz Tadeu, op. cit.

27. Tomaz Tadeu da Silva, op. cit.

28. Tomaz Tadeu da Silva, O que produz e o que reproduz em educao, Artes Mdicas, Porto Alegre, RS, 1992.

29. ilustrativa a participao de Tomaz Tadeu, no ms de julho de 1994, em Belo Horizonte, de um pretenso debate sobre o ps-modernismo e a teoria social. Como o evento fora organizado por um grupo de estudos marxistas, parece que ele veio com todo o cuidado em evitar possivelmente um choque de frente com posturas ortodoxas. Com isso, pouco falou realmente do ps-modernismo e mais se justificou por estar agora enveredando por esses caminhos. Definiu-se como estudioso que no se fecha para outras realidades intelectuais.

Nesse sentido, o "debate" foi ilustrativo ao mostrar que ainda imperam posies ortodoxas, que se fecham para a discusso intelectual e acadmica: o companheiro de mesa de Tomaz Tadeu, um professor de Filosofia, se dedicou maantemente a defender o marxismo (precisa?) e, o que de praxe em certos currais, a defender a obra marxiana. Parece que querem defender a pureza e o acerto da obra marxiana, deslindando-a do marxismo mais geral que est sendo posto em questo ao no dar conta da problemtica social e poltica de nosso tempo, sobretudo depois da derrocada do "socialismo real". Essa atitude uma forma de preservar Marx, mas tambm uma forma de transform-lo em pea de museu, de fossiliz-lo, ao se impedir que se possa dialogar com sua obra. Isto ficou patente na interveno desse professor de Filosofia, para quem qualquer posio terica ou prtica que no se coadune com a hermenutica marxiana uma heregia. E o senhor insistentemente reivindicava Marx como filsofo, o que tem suas implicaes, que no do caso discutir aqui...

30. Tomaz Tadeu, op. cit., p. 124.

31. Tomaz Tadeu, "O adeus s metanarrativas educacionais".

32. Tomaz Tadeu, "Sociologia da educao e pedagogia crtica em tempos ps-modernos", in Teoria educacional crtica em tempos ps-modernos, p. 134.