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Módulo 5 – Exames de Locais Apresentação do módulo A cena de um crime guarda uma série de elementos materiais que contam uma história, a história do fato delituoso. A função de quem examina a cena de um crime é perpetuar o fato, reconstituir a dinâmica do evento e estabelecer o diagnóstico diferencial. Toda vez que neste cenário houver a participação de uma arma de fogo, pode haver vestígios como armas, estojos de cartuchos, projéteis, além de impactos nos mais variados suportes e superfícies. O exame desses vestígios reveste-se de significativa importância pelo que podem responder sobre a dinâmica do evento. Quanto aos vestígios, é importante verificar, dentre outras observações: suas posições em relação ao local; seus elementos de identificação; a correlação entre a arma encontrada e os ferimentos apresentados pela vítima(s) – quando uma arma suspeita encontra-se no local – e; a eficiência da arma e sua capacidade em produzir os danos e lesões verificadas. Especificamente, quanto à munição, pode-se observar a presença de projéteis e estojos de cartuchos percutidos e suas posições em relação ao local, bem como os elementos aderidos aos projéteis, tais como as manchas e detritos provenientes dos impactos, possibilitando correlacionar esses projéteis com as marcas verificadas nos suportes que eram constituídos ou tinham como revestimento os materiais semelhantes aos aderidos ou incrustados nos projéteis. No caso de armas semi automáticas, ainda, a

Módulo 5 – Exames de Locais - Prefeitura de Jundiaí · produzidas por projéteis de armas de fogo em superfícies metálicas; ... deformação característica, como na fotografia

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Módulo 5 – Exames de Locais

Apresentação do módulo

A cena de um crime guarda uma série de elementos materiais que contam

uma história, a história do fato delituoso.

A função de quem examina a cena de um crime é perpetuar o fato,

reconstituir a dinâmica do evento e estabelecer o diagnóstico diferencial.

Toda vez que neste cenário houver a participação de uma arma de fogo,

pode haver vestígios como armas, estojos de cartuchos, projéteis, além de

impactos nos mais variados suportes e superfícies. O exame desses

vestígios reveste-se de significativa importância pelo que podem responder

sobre a dinâmica do evento.

Quanto aos vestígios, é importante verificar, dentre outras observações:

suas posições em relação ao local;

seus elementos de identificação;

a correlação entre a arma encontrada e os ferimentos apresentados

pela vítima(s) – quando uma arma suspeita encontra-se no local – e;

a eficiência da arma e sua capacidade em produzir os danos e lesões

verificadas.

Especificamente, quanto à munição, pode-se observar a presença de

projéteis e estojos de cartuchos percutidos e suas posições em relação ao

local, bem como os elementos aderidos aos projéteis, tais como as manchas

e detritos provenientes dos impactos, possibilitando correlacionar esses

projéteis com as marcas verificadas nos suportes que eram constituídos ou

tinham como revestimento os materiais semelhantes aos aderidos ou

incrustados nos projéteis. No caso de armas semi automáticas, ainda, a

posição relativa dos estojos percutidos pode permitir estabelecer a posição

do atirador.

Para o estabelecimento de uma possível dinâmica do evento, é importante

considerar que cada vestígio, pelo menos em parte, representa uma ação

ou omissão. Interpretá-los e analisá-los com vistas a determinar de que

forma eles se compõem e se relacionam permite estabelecer a dinâmica do

fato delituoso. Uma vez constatados e analisados os vestígios, após

estabelecida a possível dinâmica do fato delituoso em apuração, cumpre ao

perito estabelecer o diagnóstico diferencial entre suicídio, homicídio e

acidente o que, às vezes, pode constituir-se em tarefa muito difícil.

Neste módulo você estudará sobre a dinâmica do exame no local.

Objetivo do Módulo

Ao final do estudo desse módulo, você será capaz de:

Identificar os impactos tangenciais e perfurações de entrada

produzidas por projéteis de armas de fogo em superfícies metálicas;

Identificar as perfurações de saída e as mossas deixadas quando o

projétil não apresenta energia para perfurá-la;

Descrever o estabelecimento de trajetória.

Caracterizar as entradas em paredes de alvenaria;

Identificar as características dos orifícios produzidos por passagem de

projéteis oriundos de ricochete.

Estrutura do módulo

Aula 1 - Impacto contra suportes variados

Aula 2 – Ricochetes

Aula 3 – Exames em locais de crimes violentos

Aula 4 – Balística

Aula 1 – Impacto contra suportes variados

1.1 Impactos contra superfícies metálicas

Observe a sequência de fotografias abaixo:

Fotografia 64

Fotografia 65

Fotografia 66

Fotografia 67

Fotografia 68

Fotografia 69

Fotografias 64 a 69. Fotografias extraídas de filmagem realizada pela Academia de Policia Civil

do Distrito Federal em disciplina ministrada pelo autor.

O veículo acima foi atingido por disparos de diversos calibres e em ângulos

de impactos diferentes. As fotografias são frutos de filmagem com cadência

de vinte e quatro quadros ou fotografias por segundo. Tais disparos foram

efetuados no Estante de tiro da Acadêmia de Policia Civil do Distrito Federal,

quando da realização de Curso para Peritos Criminais de diversos estados

brasileiros, com o objetivo de retratar as características e detalhes do

impacto e ricochete em superfícies metálicas, observe que:

Na fotografia 64 verifica-se apenas as perfurações resultantes dos

impactos dos projéteis de três disparos de “calibre .38” SPL, assinalados

pela seta,em disparos diretos contra a tampa do porta-malas. Os demais

disparos, tanto na tampa do porta-malas quanto no vidro, são de calibres

diferentes, e serão descritos em seguida.

Na fotografia 65 verifica-se, assinalado pela seta de cor branca, o ponto

de impacto do projétil de arma de fogo de “calibre .38” na tampa do porta-

malas; o impacto no vidro posterior traseiro, assinalado pela seta, e uma

fina nevoa esbranquiçada, formada pela desintegração do vidro, demarcada

por outra seta simples. O interessante nesta fotografia é o fato de que,

embora já tenha ocorrido o impacto sobre a tampa do porta-malas e no

vidro, quase não é perceptível a deformação, nem tão pouco a ruptura

desse vidro.

Nas fotografias 66 e 67, tanto a deformação na tampa do porta-malas,

quanto a perfuração no vidro estão mais visíveis. Percebe-se, ainda, em

ambas as fotografias, a névoa formada a partir da desintegração do vidro. A

fotografia 65 associada às de números 66 e 67 demonstra que essas

deformações e perfurações levaram algumas frações de segundo, após o

impacto, para se formarem e, considerando ainda a velocidade do projétil,

que este estaria à uma distância considerável, quando elas ocorreram.

A imagem perceptível na fotografia 68, bem como, a fotografia 67, são

praticamente idênticas, variando apenas nas dimensões do quebramento do

vidro do veículo. A fotografia 69 é apenas a ampliação da imagem da

fotografia 67.

Observe que a fotografia 68 apresenta todas as deformações concluídas,

tanto da lataria do veículo, quanto do quebramento do vidro.

Observou?

Nas superfícies metálicas, nos vidros ou em outros tipos de superfície, o

rompimento da superfície suporte, quando a trajetória do projétil é tendente

a tangencial, pode induzir a erros na análise da trajetória dos disparos, por

uma interpretação de transfixação.

Fotografia 70. Foto operada por cursando na ocasião do curso

ministrado pelo autor na Academia de Policia Federal pela

SENASP.

O impacto pode não romper a superfície suporte, resultando numa

deformação característica, como na fotografia 70. Nela, percebe-se o sulco

deixado pelo projétil quando da sua passagem, cuja largura é muito

próxima à largura do projétil. Nessa fotografia percebe-se, ainda, o

raiamento do projétil, fato que não é muito comum de ser visualizado, e as

linhas transversais ao sulco, formando setas que indicam o sentido de

deslocamento do projétil.

Pode ocorrer que, em algum momento do impacto do projétil contra a

superfície metálica, ele venha a aderir a essa superfície, resultando que, na

sequência do seu movimento, este acabe por arrastar a parte da superfície

aderida, rompendo-a como se a rasgasse. Em situações como essa, a

análise que permite determinar o sentido da trajetória e a comprovação do

ricochete é simples de ser deduzida, como pode ser observado na fotografia

71.

Fotografia 71. Foto operada por cursando na ocasião

do curso ministrado pelo autor na Academia de Policia

Federal pela SENASP.

Fotografia 72. Foto operada por cursando

na ocasião do curso ministrado pelo autor

na Academia de Policia Federal pela

SENASP.

É importante observar que para determinadas situações, como aquela

verificada nos seis fotogramas iniciais, o projétil, ao impactar-se contra a

superfície suporte, e na continuidade de seu movimento, pode vir a

ricochetear e apresentar como resultado o rompimento da superfície

suporte, deixando a impressão de transfixação (que ocorre em função da

energia dissipada no impacto). Em superfícies metálicas, da mesma forma

que nos casos em que a superfície suporte do impacto seja o vidro, uma

análise prematura do cone de fratura ou da ruptura da superfície pode

induzir a erros. Veja a fotografia número 72, nela tem-se a nítida impressão

de que, como resultado dos dois impactos, houve a transfixação da

superfície metálica, no entanto, esta só ocorreu na primeira das

deformações, assinalada pela seta.

Nos disparos efetuados contra

superfícies metálicas (da mesma forma

ocorrida contra superfícies de madeira

ou vestes, dentre outras), o formato da

perfuração varia de acordo com a

inclinação da trajetória do projétil

expelido por arma de fogo. Quando a

trajetória do projétil é perpendicular, o

orifício de entrada é, em geral,

arredondado, o que pode ser observado

na fotografia número 73, nos três

disparos assinalados no ponto A. Os

outros três disparos, apontados pela

letra B, apresentaram trajetória oblíqua.

Logo, a perfuração é tendente a ovalar.

Fotografias 73. Imagem extraída

de filmagem realizada pela

Academia de Policia Civil do

Distrito Federal em disciplina

ministrada pelo autor.

Veja também as fotos de números 74 e 75:

Fotografia 74. Fotografia operada pelo

autor em veículos submetidos a exame de

vistoria no ICDF.

Foografia 75. Fotografia operada pelo autor

em veículos submetidos a exame de vistoria

no ICDF.

Os orifícios de saída em chapas metálicas, normalmente, apresentam as

bordas evertidas, demonstrando claramente o sentido da trajetória do

projétil. Quando não possuem energia cinética suficiente para romper o

anteparo deste impacto, ocorrem, geralmente, deformações de formato

característico, que reproduzem, em parte, a forma do projétil, como pode

ser observado nas fotografias de números 76 e77 abaixo:

Fotografia 76. Fotografia obtida de

filmagem ou operada por cursando,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

Fotografia 77. Fotografia obtida de

filmagem ou operada por cursandos,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

No caso específico dos veículos, uma análise mais acurada permite definir o

trajeto desenvolvido pelo projétil em seu interior e inferir sobre a(s)

posição(ões) do atirador. Dependendo da sequência de disparos e de suas

características, permite ainda concluir se o veículo estava parado ou em

movimento, se estava com as portas abertas ou fechadas e, reconstruir,

pelo menos em parte, a dinâmica do evento. Veja como exemplo as

fotografias de números 78, 79 e 80. Nelas é possível inferir que a trajetória

foi da esquerda para a direita do veículo e de cima para baixo, e que a

porta atingida encontrava-se fechada no momento do disparo.

Fotografia 78. Fotografia operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.

Fotografia 79. Fotografia operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.

Fotografia 80. Fotografia

operada pelo autor em veículos submetidos a exame de vistoria no ICDF.

As fotografias de números 81, 82, 83 e 84 demonstram o impacto de

projéteis oriundos de espingardas. A fotografia de número 18 trata do

impacto resultante de projétil singular (balote), calibre 12, na estrutura de

um veículo. A fotografia de número 82 mostra o impacto de projéteis

múltiplos do tipo SG, também de calibre 12, com disparo efetuado a uma

distância de 10 metros. A terceira e quarta fotografias, de números 83 e

84, demonstram as perfurações deixadas pelos projéteis múltiplos de

disparo de calibre 12, do tipo 3T, na mesma distância. Observe que nesta

última fotografia ampliada, fotografia de número 84, alguns dos impactos

não perfuraram a lataria.

13

08

75 3

Fotografia 81. Fotografia obtida de

filmagem ou operadas por cursandos,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

Fotografia 82. Fotografia obtida de

filmagem ou operadas por cursandos,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

Fotografia 83. Fotografia obtida de

filmagem ou operada por cursando,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

Fotografia 84. Fotografia obtida de

filmagem ou operada por cursando,

quando de curso ministrado pelo autor

no Rio de Janeiro oferecido pela

SENASP.

1.2 Impactos contra estruturas

As marcas de disparos em paredes de alvenaria, muros ou outras partes de

edificações, apresentarão deformações e características distintas, conforme

a resistência estrutural dessas peças e da energia cinética do projétil.

O impacto em estruturas como vigas, pilares, lajes ou outras estruturas de

concreto, geralmente, se caracteriza por uma pequena deformação na qual

se verifica a impregnação ou a incrustação de material constituinte do

projétil, tanto nos casos de ricochete do projétil, como nos casos em que

ele dissipa totalmente sua energia no impacto, caracterizando a ação

contundente do projétil.

Quando se observa alguns casos de ruptura

e transfixação dessas estruturas (estruturas

de concreto), geralmente verifica-se que a

energia cinética do projétil é muito grande

(projéteis de fuzis). Sendo assim, a ruptura,

normalmente, está associada a uma série

de impactos simultâneos na mesma região e

não a um único impacto.

As características observadas em casos de tijolos maciços, cerâmicas,

alvenarias com blocos de concreto, são as mesmas das estruturas de

concreto, ressalvadas as diferenças quanto à menor resistência estrutural.

No caso de paredes ou muros constituídos de tijolos furados, é comum

verificar perfurações produzidas por projéteis de armas de fogo. A

perfuração se caracteriza pelo efeito da quebradura devido a impacto

pontual. Novamente, a ação contundente é a mais perceptível.

Normalmente, não guarda dimensões que permitam estabelecer calibres,

apenas excluir calibres diferentes, quando for o caso. Na fotografia 85,

observa-se uma pequena parede em que foram efetuados, contra ela,

disparos de diferentes calibres. Acima de cada perfuração produzida pelo

Fotografia 85. Fotografia

obtida de filmagem ou

operadas por cursandos,

quando de curso ministrado

pelo autor no Rio de Janeiro

oferecido pela SENASP.

impacto, encontra-se assinalado o calibre. Note que as dimensões dos

orifícios são semelhantes apesar de terem sido produzidas por calibres

diferentes. No caso de tijolos de oito furos, comumente utilizados em nosso

país, os projéteis de calibres mais comuns como o “.380 ACP”, “.38 SPL”,

apesar de serem capazes de perfurá-los, geralmente não possuem energia

cinética que permita a sua transfixação. A transfixação é observada, na

maioria dos casos, para projéteis de calibre “.40 S&W”, “9mm Luger”, “.45

ACP”, dentre outros, dependendo do tipo de ponta (ponta oca ou totalmente

encamisada) que irá configurar um projétil mais expansivo ou não.

Aula 2 - Ricochete

2.1. O que é ricochete?

Ricochete é o fenômeno que se observa quando, em consequência de

impacto contra uma superfície em ângulo específico, o projétil tem a sua

trajetória modificada. Após este impacto, o projétil, ao ricochetear,

apresenta, como conseqüência, trajetória irregular e falta de direção.

De acordo com Juan C. Larrea (apud LOCLES, 1992, p. 83), os ricochetes

podem ser entendidos como fenômenos que alteram notavelmente a

trajetória de um projétil, resultantes de um impacto deste contra superfícies

resistentes (como solos rígidos, superfície d’água, chapa metálicas, dentre

outros) em uma faixa de ângulos, geralmente de pequeno valor; e que

apresentam, como consequência, perda de estabilidade, avanço irregular,

falta de direção e perda de força (energia).

Todas as superfícies apresentam ângulos críticos de incidência de projéteis

de armas de fogo, para os quais, as consequências do impacto são

totalmente divergentes.

Disparos cujo projétil esteja em ângulo de incidência maior que o ângulo

crítico podem perfurar a superfície suporte do disparo, transfixando-a ou

dissipando toda a sua energia no trajeto desenvolvido no interior da

superfície.

Outra hipótese verifica-se no caso em que a superfície suporte seja muito

resistente. Nesta situação, o projétil pode transferir toda a sua energia no

choque, se deformando acentuadamente, perdendo a sua forma construtiva

(como na fotografia número 1), e, por fim, aderindo ao suporte ou caindo

próximo a ele; ou ainda, se fragmentando, fazendo com que esses

fragmentos apresentem, normalmente, pequenos ângulos de trajetórias.

Porém, na hipótese do ângulo de incidência ser menor que o ângulo crítico,

os projéteis devem ricochetear.

A medida desses ângulos críticos irá

variar em função de uma série de

fatores, tais como o tipo da superfície

suporte de impacto (superfícies

metálicas, concreto, asfalto vidros,

madeira, etc), numa mesma superfície,

em função da homogeneidade e

característica dessas, pois um projétil

que venha se impactar contra um nó

de uma peça de pinho, não

apresentará a mesma reação que

outros impactos no restante da peça,

nem tampouco, o mesmo

comportamento de pedaços de

madeira de aroeira ou cedro quando

comparado ao pinho.

Fotografia 86. Fotografia operada

pelo autor.

Importante!

No dia a dia do exame pericial, a grande maioria das superfícies não é

homogênea, como pisos ou paredes, podendo apresentar, no ponto de

impacto, aditivo mineral ou vazio em sua estrutura com resistência,

elasticidade e módulo de flexão totalmente diferentes.

Os projéteis de fuzis possuem maiores velocidades e energia que os

projéteis de armas de porte. Esses projéteis, normalmente, têm maiores

comprimentos e menores diâmetros, o que faz com que apresentem uma

maior tendência a se fragmentar do que a ricochetear. Os ângulos críticos

para esses projéteis são menores que os demais.

Os ângulos críticos variam com a natureza e a forma do projétil.

Os projéteis com formato ogival apresentam uma maior tendência ao

ricochete que projéteis do tipo canto-vivo, semi canto-vivo e cone truncado

com pontas planas.

Nos projéteis ogivais, o formato progressivo do ângulo da ogiva, formando

um segmento de esfera, associado aos movimentos de rotação e precessão

do projétil, facilita a interação com o meio, a mudança de inclinação e o

ricochete. Com isso, um maior valor de ângulo crítico.

Projéteis com curvatura da ogiva menos acentuadas, como os projéteis

ogivais do calibre 9 x19 mm ou 9 mm Luger, apresentam um maior ângulo

crítico do que aqueles, também ogivais, mas de curvaturas mais intensas,

como os projéteis montados em cartuchos de calibre “.45 ACP” ou “.380

ACP”. Normalmente, apresentam ainda, um menor ângulo de ricochete.

Outro fator que altera o ângulo crítico é a natureza do material constitutivo

do projétil. Projéteis encamisados ou jaquetados totais apresentam uma

maior possibilidade de ricochetear que os projéteis nus de liga de chumbo

ou que os projéteis semi-encamisados. Provavelmente, tal fato se deve à

maior possibilidade de deformação e a uma maior transferência de energia

cinética que os projéteis nus ou semi-encamisados apresentam, o que faz

com que os projéteis encamisados tendam a ricochetear com maiores

ângulos de incidência. As munições glaser da Winchester, que apresentam

uma elevada taxa de transferência de energia cinética e uma grande

deformação, possuem remotíssimas possibilidades de ricochetear devido à

constituição da ogiva em material sintético, à ruptura do involucro, e à

liberação dos balins e fragmentos.

Os ângulos de ricochete, nos impactos contra superfície sólida, geralmente

são muito menores que os ângulos de incidência e tendem a aumentar na

medida em que aumentam os ângulos de incidência. Excetuam-se os casos

em que a ruptura do suporte, quando do impacto, forma uma “rampa de

projeção”, com inclinações mais elevadas, que propicia maiores ângulos de

ricochetes.

Entretanto, nos casos de maior ângulo de incidência, também serão maiores

as deformações e danos na superfície suporte do impacto no projétil e

haverá maior possibilidade de fragmentação. Nesses casos, a energia

cinética e velocidade residual do projétil diminuem. Em uma experiência

realizada para observar este fato, utilizou-se blocos de plastilina,

compactados pra obter densidade da ordem de 800 vezes em relação à

densidade do ar (que é semelhante à densidade dos tecidos moles do corpo

humano), cartuchos dotados de projéteis ogivais nus de liga de chumbo de

calibre “.38 SPL”, todos de uma mesma caixa de munição, com o emprego

de uma mesma arma, variando-se apenas o ângulo de incidência dos

projéteis sobre lajes de concreto. Verificou-se que o volume da cavidade

obtida na massa de plastilina com ângulos de incidência de cinquenta graus

(500 )era de cerca da metade do volume obtido quando o ângulo de

impacto era da ordem de trinta graus (300 ).

Segundo Di Maio (2010, p. 158), os ângulos de incidência que promovem

ricochetes na água são muito pequenos, da ordem de 3 a 8 graus, e os

ângulos de ricochete de duas a três vezes maiores que os ângulos de

incidência.

Todo ricochete segue, em princípio, as leis clássicas da física. O projétil

alcança uma superfície com um ângulo α encontrando-se animado com uma

velocidade (V), que pode ser decomposta em duas componentes:

Figura 10

A primeira, perpendicular à superfície, cuja equação seria VP = V sen ά e, a

segunda paralela à superfície, que pode ser representada pela equação VT

= V.cos.ά. Em tese, somente a componente vertical da velocidade atua na

superfície e no projétil causando os danos e deformações em ambos. Para

pequenos valores do ângulo α, o valor do sen de α é tendente a zero (0) e

os efeitos de deformação na superfície e no projétil são mínimos. Para

valores de α próximos a 90.º, (disparos perpendiculares à superfície) o

valor do sen de α é 1 (máximo). Por conseguinte, toda a energia será

dissipada com o impacto e não haverá nenhum ricochete.

Teoricamente, a componente paralela da velocidade permaneceria

inalterada, uma vez que não está atuando sobre a superfície. No entanto,

VP = V sen ά

VT = V cos ά

V

ά

parte da velocidade seria reduzida em função do atrito com a superfície,

independente da elasticidade desta.

No caso de disparos efetuados com ângulos pequenos que viessem a

ricochetear (próximos a zero grau), os valores de cosseno de α são

próximos a 1, o que implica que o projétil assumiria uma nova trajetória,

animado com uma velocidade próxima a do impacto. Entretanto, é provável

que, em função do impacto, o projétil viesse a perder o movimento de

rotação em torno do seu eixo, desestabilizando-se e assumindo uma

trajetória errática (rotação em torno do seu eixo longitudinal), o que levaria

a um significativo aumento do coeficiente aerodinâmico e,

consequentemente, reduziria o seu alcance máximo1.

Figura 11

O esperado pela análise teórica, em consequência da perda da componente

vertical da velocidade, e normalmente observado, é que o ângulo de

incidência seja superior ao ângulo de ricochete. Em alguns casos,

modelados experimentalmente, verificou-se que o ângulo de ricochete foi

1 de acordo com Rinker, 1999, p. 112, poderia atingir um terço da distância máxima alcançada caso não

ocorresse o ricochete

VP = V sen ά

VT = V cos ά

V

ά

V’P = V’ sen

V’T = V’ cos

V’

superior ao ângulo de incidência. Este fato pode ser explicado tendo em

vista que, durante o impacto, o projétil produz um sulco sobre a superfície,

e irregularidades na constituição da superfície suporte podem favorecer as

condições para que o ângulo de ricochete seja superior ao ângulo de

incidência.

Para cada conjunto superfície suporte/projétil, têm-se valores de ângulos

específicos para os quais os projéteis penetrem na superfície suporte e/ou

se fragmentem (podendo ocorrer ricochete de fragmentos) ou ricocheteiem.

É importante observar

que, para determinadas

situações, o projétil ao

impactar-se contra a

superfície suporte e

ricochetear, pode gerar o

rompimento da superfície

suporte deixando a

impressão de transfixação

em função da energia

dissipada no impacto.

Como mencionado anteriormente, não existem valores fixos de ângulos

para os quais certamente irá ocorrer um ricochete. Eles variam com o tipo

de projétil, com a espessura e o tipo da superfície suporte. Em

experimentos práticos realizados com pratos metálicos, observou-se que

para ângulos de incidência entre 40.º e 50.º, os ângulos de ricochete

obtidos foram inferiores a 10.º, com diversos calibres e tipos de projétil.

Entretanto, a partir de disparos efetuados com arma de calibre 7,65 mm

Browning, com projéteis encamisados e mesmo suporte, observou-se que,

para ângulos compreendidos entre 17.º e 22.º, iniciou-se a penetração no

anteparo. Para ângulos menores que 17.º, observou-se o fenômeno dos

Fotografia 87. Fotografia operada pelo autor. Incrustações de chumbo e da camisa do projétil sobre uma superfície de vidro oriunda de impacto tangencial.

ângulos de ricochete maiores que os ângulos de incidência e, ainda, a

fragmentação do projétil para ângulos superiores a 35.º.

O projétil, ao ricochetear, muda a sua trajetória, deforma-se e,

normalmente, perde o seu movimento de rotação em torno do seu eixo

longitudinal. Quando esses projéteis são recuperados, é possível perceber

incrustações e aderências da superfície suporte que impactou

originariamente.

Além de incrustações, as superfícies deixam deformações características

nos projéteis, como quando o impacto do qual resultou o ricochete ocorreu

contra uma superfície metálica ou contra vidros que não se rompem, neste

exemplo, as deformações resultantes no projétil são planificações polidas.

Nesses casos, geralmente não se verifica presença de sulcos na superfície

do projétil que sofreu o impacto.

No caso de impactos contra superfícies menos flexíveis, como o caso de

pisos de cerâmicas, concreto ou asfalto, a tendência é que este impacto

apresente ruptura do suporte e, devido à rugosidade desses materiais,

resulte em sulcos irregulares dispostos na superfície de impacto. Caso seja

o primeiro impacto, o sentido de produção desses sulcos geralmente é

paralelo ao eixo longitudinal do projétil.

A superfície também se deforma. Na

fotografia de número 88, ao lado,

verifica-se um piso de concreto que

apresenta deformação e incrustações

de liga de chumbo, resultante de

impacto de projétil de arma de fogo

que ricocheteou.

Fotografia 88. Fotografia operada

pelo autor.

Os impactos sobre metais, paredes de alvenaria e madeira são perceptíveis

e podem ser caracterizados como deformações resultantes de impactos de

armas de fogo. Todavia, impactos contra água ou areia são imperceptíveis e

os sinais destes impactos no suporte são efêmeros, por isso não são

identificáveis.

As entradas de projéteis oriundos de ricochete em vestes e, principalmente,

na pele, ou em qualquer outro suporte, geralmente são irregulares, com

dimensões bem maiores do que as de um disparo direto, com os bordos

escoriados, lacerados, não se confundindo com um disparo direto. Nas

lesões, não se verifica a perda do tecido, evidenciando-se muito mais a

ação contundente do projétil que a ação perfurante. Pode-se verificar a

deposição junto ao orifício de entrada do material constituinte da superfície

de impacto.

As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil

apresentam características distintas das normalmente verificadas em

disparos diretos, tais como:

1. Ausência de orla de enxugo – as sujidades que o projétil

normalmente carrega consigo, geralmente advindas de sua

passagem forçada pelo cano da arma, devem ficar

depositadas, pelo menos em parte, no primeiro impacto,

podendo carregar materiais constituintes do suporte para a

lesão e regiões circunvizinhas.

2. Lesão de entrada irregular – o formato regular da lesão de

entrada, com o arrancamento circular ou elíptico dos tecidos,

deve-se ao movimento de rotação do projétil. Com a perda do

movimento de rotação do projétil, a ação é de natureza

contundente, com a ruptura irregular (denteada) do tecido e,

ainda, em consequência das deformações sofridas, sem o

formato característico. Embora possa ocorrer perda de tecido,

ela será menor e apresentará os bordos invertidos.

Na fotografia 89, verifica-se, à

esquerda, uma laceração

produzida por projétil nu de

calibre .38, após ricochetear em

piso de concreto e, à direita,

observa-se a marca de um

disparo direto com o mesmo

tipo de munição. Associado a

isto, pode-se verificar, ainda, o

projétil entrando lateralmente;

dessa forma, a lesão deve

apresentar uma maior

extensão. Considerando ainda

uma maior ação contundente, é

de se esperar uma maior

aureola equimótica.

3. Ausência dos efeitos secundários do disparo – as zonas

características dos efeitos secundários, como a zona de

chama, esfumaçamento e tatuagem, devem ficar retidas no

suporte do primeiro impacto.

4. Perda de energia cinética – em consequência da parcela de

energia dissipada no primeiro impacto, o projétil pode não

penetrar no tecido; apresentar uma penetração superficial

somente até as camadas subcutâneas; penetrar normalmente,

inclusive com a transfixação de órgãos vitais; ou, por fim, pode

até mesmo apresentar uma lesão de saída, entretanto,

certamente terá a sua energia cinética diminuída.

Fotografia 89. Fotografia operada

pelo autor.

Aula 3 – Exames em locais de crimes violentos

Nos exames de locais de crimes violentos praticados com emprego de

armas de fogo, cabe ao perito estabelecer, sempre que possível, o

diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio ou acidente, o que pode

constituir-se em uma tarefa muito difícil. Geralmente, esse diagnóstico é

fruto de um conjunto de fatores que acaba por formar um quadro sugestivo

ou mesmo característico de uma hipótese ou outra.

A proposta que você estudará a seguir, não diz respeito às metodologias e

procedimentos de busca em local de crime, de levantamentos descritivos,

fotográficos, levantamentos planialtimétricos e de coleta e transporte de

evidências. Será apresentada uma série de observações ou questões a

serem consideradas pelos peritos, quando do levantamento do local,

relacionadas a vestígios balísticos em locais de crimes violentos. Tais

questões e observações não se constituem em um roteiro a ser seguido.

Embora de caráter básico, elas podem ajudar na interpretação do ocorrido e

no estabelecimento da dinâmica do fato. Muitas dessas observações foram

extraídas de apostilas e laudos do perito Saul de Castro Martins, com

grande experiência em exames de local de Mortes Violentas. Pode ser que

para alguns peritos muito pouco se acrescente, no entanto, para a maioria,

essas observações trarão pontos importantes que poderão ser acrescidos à

experiência e metodologia de análise de cada um.

Do local do fato

Observações:

Vias de acesso, a existência de pegadas, manchas de sangue e a dinâmica da

sua formação (espargimento, gotejamento, projeção, etc), objetos deixados nas

rotas de acesso;

Localização dos projéteis e pontos de impactos no local;

Marcas de impactos em paredes, lajes e pisos ou transfixação em mobiliários,

objetos, vidraças ou outras peças;

Existência de estojos no local e/ou existência de cartuchos não deflagrados,

buchas e outros elementos balísticos;

No caso de munições não deflagradas, verificar a existência de marcas de

percussão em sua espoleta, ou outras marcas;

Objetos na periferia do cadáver; a integridade e disposição desses objetos.

O objetivo particular da Criminalística no exame de local de crime é

proteger, observar e fixar o local do fato delituoso, por meio das diversas

formas de levantamento, bem como coletar e submeter as evidências ao

Laboratório de Criminalística, para fins de exames específicos.

3.1 O Local

A preocupação aqui é retratar o local como foi encontrado, informando suas

dimensões, condições de iluminação, delimitações, formas de acesso, tipo

de construção, disposição de ambientes e de objetos que contém etc.

Devem-se indicar todos os vestígios encontrados, tais como: cadáveres;

veículos; desordem de objetos; avarias; objetos quebrados e seus

fragmentos; instrumentos utilizados ou possíveis de terem sido utilizados no

crime; marcas de impacto e perfurações, indicando a orientação de

produção e os tipos de instrumentos que os produziram; pelos; manchas de

substâncias, biológicas ou não, e a forma como foram produzidas, tais

como, gotejamentos, espargimentos, contatos indefinidos, contatos com

estampa e escorrimentos, informando o sentido de produção; entre outros.

Começar a busca de provas na cena do crime pelos prováveis acessos e

saídas, onde, em casos de homicídios, armas e ferramentas são

frequentemente deixadas durante a fuga.

A localização e análise dessas evidências físicas que estão associadas ao

fato, sejam de caráter identificador ou reconstrutor, podem propiciar ao

perito a possibilidade de fazer as reflexões indutivas e dedutivas a respeito

do fato, a fim de formar juízo sobre ele e poder emitir opiniões técnico-

científicas.

Dessa forma, a metodologia se dirige a efetuar a busca de provas em

qualquer área onde o criminoso possa ter permanecido com o objetivo de

cometer o crime; no ponto de entrada, determinar a possível rota tomada

pelo criminoso na cena do crime, analisar todos os objetos que possam ter

merecido a atenção do criminoso ou de qualquer forma por ele

manuseados, como cigarros, fósforos, etc. É importante pesquisar alguns

locais pouco usuais onde possa ser encontrada alguma prova, por exemplo,

vaso sanitário, fogão, geladeira, latas de mantimentos, etc.

3.2 A Posição

Deve-se descrever a posição em que o cadáver foi encontrado, já que é um

vestígio importante e, não raras vezes, nos auxilia na determinação da

dinâmica do evento: decúbito ventral, decúbito dorsal, decúbito lateral

esquerdo/direito, genopeitoral, sentado, suspensão completa/incompleta,

submersão completa/incompleta, boxeador e fetal; membros superiores e

inferiores estendidos/semifletidos/fletidos e posição dos membros em

relação ao tronco e/ou à cabeça.

A posição em que o corpo foi encontrado é de grande importância para

estabelecer a dinâmica do fato, principalmente nos casos de suicídio, como

também a posição da arma em relação ao corpo. As mãos de um suicida

podem revelar dados como manchas de espargimento de sangue e massa

encefálica e, nos casos em que a arma empregada é uma pistola, pode-se

verificar no dorso da mão, no espaço entre o dedo polegar e o indicador,

lesão produzida pela movimentação do ferrolho. A existência de tal lesão é

prova inconteste de que a pistola estava segura por aquela mão quando da

movimentação do ferrolho, sendo muito provável estar a mão empunhando

a arma quando do disparo.

Com os pontos de impactos, transfixações e pontos de repousos finais de

estojos e projéteis determinados, torna-se possível estabelecer a posição

relativa de todos os atores envolvidos, e reconstruir, pelo menos em parte,

a dinâmica do local.

3.3 Vestes

Em relação às vestimentas, o perito deve fazer as seguintes observações:

O estado e a disposição das vestes no corpo, bem como os demais

pertences, bolsos revirados, relógio, anéis, documentos, dinheiro,

etc.

Existência de coincidência dos orifícios verificados nas vestes em

número e sentido de produção com os orifícios verificados nas

mesmas regiões anatômicas, cobertas por estas vestes.

Existência ou não de coincidência dos orifícios verificados nas vestes

em relação ao alinhamento com os das lesões,

Se as vestes apresentam-se amarfanhadas, rasgadas ou portam

outros sinais de violência,

As vestes geralmente são analisadas de fora para dentro e de cima para

baixo ou de baixo para cima, ou seja, primeiro o boné, depois o casaco,

depois a camisa, a calça, a bermuda, peças intimas, os sapatos e as meias

ou, de outro modo, primeiro os sapatos, depois as meias, a calça, a

bermuda, a cueca, o casaco, a camisa e o boné.

Todos os vestígios observados

nas vestes devem ser

registrados, indicando-se em

que regiões estão localizados.

Como a disposição no corpo (se

estão alinhadas ou não;

amarfanhados; havendo

manchas, definir quais as

substâncias que as produziram

e formas de produção, a

exemplo de gotejamentos;

contatos; espargimentos e

escorrimentos, informando,

sempre que possível o sentido

de produção; etc);

Importante descrever os orifícios, cortes e rasgos, informando as dimensões

e para que face estão voltadas as fibras do tecido (face externa ou interna);

zonas de enxugo, de queimadura e de tatuagem; fecho éclair aberto, etc.

As vestes são a superfície suporte de uma quantidade enorme de vestígios.

As observações acima, sobre a existência ou não de coincidência e

colinearidade entre os orifícios na veste e no corpo, sobre o estado em que

se apresentavam essas vestes, como sujidades aderidas, rasgões, ou outros

sinais de violência, em alguns casos, permitem estabelecer a dinâmica do

fato ocorrido neste local.

Fotografia 90. Foto operada em

exames de local do ICDF.

A posição das vestes pode indicar se uma

pessoa foi arrastada ou não, pode

demonstrar que a pessoa encontrava-se

caída no momento do disparo e, em casos

de trama de tecidos diferentes, pode

permitir identificar se determinado projétil,

possivelmente encontrado no local, atingiu

alguma região especial pela análise das

deformações indumentárias encontradas

nele, como as vistas na fotografia número

91, ao lado.

Outro fator a ser observado são as características de distância de disparo

que ficam mais evidenciadas nas vestes de cores claras do que em outros

anteparos. Observe-se que, quando verificada zona de tatuagem ou de

queimadura, é recomendável recolher a veste para a realização de

pesquisas de chumbo e de pólvora em laboratório. As vestes, além de

permitir o seu transporte para análises em ambientes com melhores

recursos, permitem ensaios químicos para melhor materializar esses

vestígios.

Uma das questões mais importantes sobre a dinâmica do local é a distância

métrica em que o disparo aconteceu. Pode ser essa distância métrica o fator

principal para definir a cena de crime entre suicídio, homicídio e acidente.

Essa questão pode ser respondida, em algumas situações, comparando a

disposição dos vestígios metálicos e não metálicos obtidos nas diversas

distâncias, em superfícies suporte semelhantes à veste com o emprego da

arma incriminada e munição idêntica e a veste incriminada. Somente desta

forma será possível inferir sobre a distância de disparo, comparando os

residuogramas padrões com o residuograma verificado na peça de vestuário

examinada nos exames de Residuogramas.

Fotografia 91. Foto operada em

exames de local do ICDF.

Mostra as deformações

indumentárias ocorridas

quando da transfixação do

projétil sobre determinada

veste.

3.4 O exame perinecroscópico

Exame perinecroscópico é a análise externa do cadáver e de tudo que está

ao seu redor.

3.4.1 Observações

É importante verificar:

Existem sinais positivos de morte – em alguns casos, quando o perito

chega para a realização do exame de local, se depara com a situação

de que a vítima não está morta. Por isso, é de bom alvitre verificar a

existência de sinais positivos de morte.

A vítima foi atingida naquele local e não teve sua posição modificada.

A vítima foi deslocada (Quem o fez? Por que motivo? ).

A vítima foi arrastada, carregada ou de alguma forma transportada?

O local em exame é o local do fato ou a vítima foi posta naquele

local?

Informações como as observações relacionadas anteriormente, bem como

todas as informações sobre o tempo de morte (cronotanatognose),

permitem inferências fundamentais para toda e qualquer análise sobre o

fato delituoso, além de permitir reconhecer se o local do fato é o principal,

ou se existem outros locais correlatos que também devem ser periciados.

3.4.2 Número de ferimentos

Localização anatômica e identificação dos ferimentos relativos a

armas de fogo:

o Número dos orifícios de entrada;

o Número de orifícios de saída;

o Número de lesões tangenciais;

o Número de reentradas;

o Sinais de disparos encostados;

o Sinais de disparo a curta distância;

o Sinais de disparo com a vítima caída. O sentido de

escorrimento das manchas de sangue, além de outros

vestígios, indica a posição relativa da vítima;

o Existência de lesões de defesa nas mãos ou no antebraço;

o Existência de projéteis subcutâneos;

o Existência de projéteis retidos na roupa;

o Lesões provenientes de ricochete;·

o Se as lesões verificadas imobilizam ou matam rapidamente;

o Se as lesões impedem de deambular;

o Ordem sequencial dos disparos e das lesões;

o Movimentos e sobrevida da vítima;

o Posição relativa da vítima e do atirador.

3.4.3 Localização anatômica e identificação de outros ferimentos

relativos a outros instrumentos:

o Lesões de que tipo físico (perfurocontusas, pérfuro-incisas,

contusas, lacerocontusas, cortocontusas, punctórias, incisas,

escoriativas,);

o Em que localização.

Fotografia 92. Foto operada

em exames de local do ICDF.

de propriedade daquele

Instituto.

3.4.4 Notas importantes

No exame perinecroscópico é importante observar todos os vestígios

externos no corpo, iniciando pelos sinais de cronotanatognose, como

a rigidez cadavérica; passando pelos livores hipostáticos ou, quando

for o caso, sinais de putrefação; em seguida, pelas feridas,

agrupadas por tipo (perfurocontusas, pérfuro-incisas, contusas,

lacerocontusas, cortocontusas, punctórias, incisas, escoriativas, etc);

pelas demais lesões, tais como hematomas, equimoses, marcas de

compressão, fraturas constatadas por apalpação, etc. E, por fim,

materiais, biológicos ou não, presos às unhas; pele anserina; língua

protrusa; cianose da face e das extremidades; congestão da face, do

pescoço e do tronco; manchas de sangue e de qualquer outra

substância, informando o tipo e, para aquelas decorrentes de

escorrimentos, espargimentos e arrastamentos, o sentido de

produção; etc.

Importante!

Não custa lembrar o explicitado no artigo 164 do Código de Processo Penal:

“Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem

encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e

vestígios deixados no local do crime.” (Redação dada pela Lei nº 8.862, de

28.3.1994). Grifo nosso.

Ao relacionar as feridas de um mesmo tipo, é de boa prática procurar

ordená-las, em relação à região corpórea, como, por exemplo, de

cima para baixo (cabeça, tronco, membros superiores e membros

inferiores) e da frente para trás (frontal, parietal, occipital, facial,

cervical, torácica, abdominal, dorsal, lombar, glútea, etc).

Sugere-se que as feridas perfurocontusas produzidas por projéteis

expelidos por arma de fogo sejam descritas, respeitado o parágrafo

precedente, na seguinte ordem: primeiro todas as de entrada; depois

todas as de saída, relacionando-as, caso seja possível, com as de

entrada; e, por fim, as de reentrada, relacionando-as com as de

saída.

Observe-se que a relação de entrada/saída/reentrada de projétil só

deve ser feita se for possível identificá-la ao exame perinecroscópio.

Informar sempre, ao descrever a ferida, as correspondências com

perfurações, cortes e rasgos verificados nas vestes.

Observar que esta correspondência nem sempre é direta, haja vista

que, quando de sua produção, a veste poderia estar amarfanhada

e/ou em desalinho com o corpo, sendo que essa informação pode

revelar detalhes importantes da dinâmica do fato.

Na descrição de várias feridas de um mesmo tipo, sugere-se que as

características comuns sejam agrupadas e, a seguir, para cada uma,

seja informada a região anatômica em que se localiza e suas

características particulares.

O acompanhamento da necropsia é sempre importante, haja vista

que este exame pode fornecer informações necessárias ao correto

estabelecimento da dinâmica do evento. Por exemplo, um edema

equimótico orbitário não necessariamente é decorrente de ação direta

contra aquela região anatômica – pode ter como origem uma fratura

de base de crânio; podemos citar, ainda, lesões importantes para a

correta interpretação da dinâmica dos fatos, tais como escoriações e

equimoses, que se tornam mais evidentes depois de decorrido certo

tempo do óbito e que, quando do exame externo do corpo no local,

podem passar despercebidas pelos peritos.

Lesões e fraturas na medula espinhal; fraturas da pelve óssea,

principalmente nos ossos do quadril, fratura do sacro e fraturas do

cóccix; e fraturas do fêmur; imobilizam suas vítimas e impedem de

deambular.

Disparo no cérebro, em especial no tronco cerebral ou no sistema

reticular, lesões de grandes vasos, como a ruptura da artéria

carótida, que pode levar a anoxia cerebral quase que imediatamente,

entre outras, são lesões que imobilizam ou levam à morte

rapidamente.

A partir da análise dos vestígios, é possível reconstituir mecanismos ou

manobras exercidas tanto pelo autor quanto pela vítima de determinado

fato, principalmente nos delitos contra a pessoa e, com isso, detalhar a

dinâmica, e a participação dos envolvidos.

Como exemplo da importância da análise conjunta destes vestígios, perceba

a análise feita pelo perito Saul de Castro Martins:

A localização e o sentido de produção dos orifícios que havia no boné que se

encontrava junto à cabeça da vítima, em correspondência com as duas feridas

produzidas por saída de projétil de arma de fogo e com uma daquelas produzidas

por entrada, indicam que a vítima, ao ter aquela região corpórea atingida por tais

instrumentos, encontrava-se de pé e usando o boné.

O escorrimento de sangue verificado a partir da ferida perfurocontusa que havia no

dorso da mão direita do cadáver, em conformidade com a posição desta região

anatômica no solo, indica que tal ferida fora produzida quando a vítima estava com

a mão no local e na posição em que foi encontrada, portanto, após sua queda ao

solo.

A disposição da mão esquerda do cadáver, com a face dorsal voltada para cima e

com os dedos fletidos, tendo a porção dorsal das extremidades voltada para o solo,

indica que o ferimento no segundo dedo daquela mão fora produzido antes da

vítima tombar.

Com a vítima no solo, considerando a posição em que foi encontrada, não é

possível estabelecer correlação entre ângulo de disparo admissível e o alinhamento

das feridas perfurocontusas em seu braço esquerdo, produzidas por entrada e saída

de um mesmo projétil de arma de fogo, o que leva os peritos a inferir que a vítima

se encontrava de pé e em movimento ao experimentar tais lesões.

Pelo exposto nos parágrafos precedentes e considerando que a gravidade das

lesões verificadas na cabeça da vítima é suficiente para a perda imediata, senão da

consciência, ao menos do equilíbrio, levando-a a tombar ao solo, os peritos inferem

que estas feridas foram promovidas após a vítima ter sido atingida no braço

esquerdo e no segundo dedo da mão direita.

Considerando o tipo de solo no qual a vítima se chocou ao tombar, pode-se afirmar

que a ausência de escoriações em seus membros indica que o tombamento se dera

de forma gradual, não abrupta.

Com base nas proposições supra, na orientação ascendente dos projéteis que

transfixaram o tronco da vítima, a partir da região dorsal, e na ausência de

manchas de sangue produzidas por gotejamentos nas partes inferiores de seu

corpo e na camiseta que ela trajava, os peritos inferem que os ferimentos nesta

região anatômica foram produzidos quando a vítima não mais se encontrava com o

tronco ereto.

As proposições anteriores, associadas ao fato de não haver projétil de arma de fogo

encravado no solo, indicam que, quando a vítima tivera o tronco transfixado por

tais instrumentos, esta região corpórea ainda não estava em contato com o solo e

os projéteis, após a terem transfixado, ricochetearam em alguma região do solo e

foram ter sua posição de repouso final em área que os peritos não lograram êxito

em determinar.

Aula 4 - Balística

4.1 Questões e laudos

Veja a seguir o que deverá orientar a busca de resposta.

o Existência ou não de arma com a vítima

o A quem pertence a arma

Da vítima

De alguém da família

Origem desconhecida

o Localização da arma.

Empunhada

Mão direita

Mão esquerda

Caída junto ao cadáver

Onde?

A que distância

Sinais de impacto da arma no chão,

Incrustações do piso na estrutura da arma,

o Tipo de arma

Pistola

Revólver

Disposição dos cartuchos íntegros e deflagrados

no tambor

Espingarda

Fuzil

Outros;

o Calibre

o Tipo de munição utilizada

o Número de disparos, disposição dos cartuchos íntegros e

estojos percutidos no interior do tambor quando for o caso.

o Descrição e análise dos projéteis e outros elementos

balísticos.

Todas as observações acima podem representar elementos muito

significativos na análise e interpretação do local do crime, a maioria de

caráter reconstrutivo. Quando associadas às demais observações anteriores,

permitem elaborar hipóteses, inferir probabilidades e, mesmo que de

caráter presuntivo, explicar o fato em estudo.

Na construção da prova, é importante a descrição de todas as armas de

fogo, bem como de peças a elas ligadas, como carregadores, cartuchos,

entre outros, informando sinais que os particularizem, avarias relacionadas

ou não com o evento em apuração, e as condições de seus mecanismos.

No tocante às condições do mecanismo, é importante relembrar que o Art.

17 do Código Penal Brasileiro explicita:

“Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por

absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.

Grifo nosso.

Fotografia 93. Fotografia operada quando de

exame no instituto de criminalística

demonstrando a posição do estojo percutido

no tambor da arma

Para atender a necessidade de demonstrar a propriedade do objeto, o

Código de Processo Penal no artigo art. 175. Estabelece:

“Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da

infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência”.

Do exposto, os testes realizados com as armas e os instrumentos e,

principalmente no caso de armas de fogo, objetivam verificar o

funcionamento dos seus mecanismos de percussão, repetição, extração e

segurança, ou seja, todos os seus sistemas e bem como os resultados

obtidos. Esses ensaios devem ser realizados tanto para disparos em ação

simples, como para disparos em ação dupla. Da mesma forma, devem ser

ensaiados os sistemas de funcionamento das armas de fogo; esses ensaios

devem ser feitos no sistema semi-automático e no sistema automático,

quando for o caso. Especial atenção deve ser dada no caso de ineficiência

dessa arma. Quando em ensaios verifica-se que uma arma é ineficiente

deve-se determinar as causas dessa ineficiência e, se possível, a época em

que se deu tal problema.

Outros exames podem ser realizados nas

armas de fogo, tais como confrontos

balísticos, residuogramas, força para tração

do gatilho, testes de precisão de pontaria,

regeneração de numeração de série,

logomarca do produtor e outras gravações.

Fotografia 94. Operada quando

de exame no instituto de

criminalística, demonstrando

exames de regeneração da numeração de série original.

Fator importante de ser observado é a intercambialidade de cartuchos, ou

seja, a utilização de um cartucho que, embora não seja do calibre específico

da arma, mesmo que de forma inadequada, acaba sendo utilizado, como,

por exemplo, a utilização de cartuchos de calibre “.380 ACP” em algumas

pistolas de calibre 9 x 19mm. Embora seja possível efetuar o disparo, não

acontece a ejeção do estojo deflagrado e a introdução de novo cartucho na

câmara. Outro exemplo é a utilização de projéteis característicos de um

calibre na produção de cartuchos recarregados, com o objetivo de induzir a

erro os peritos do caso. Como por exemplo, a utilização de munição de

“calibre .32” ACP em revólveres de calibre “.32 SWL”, imprópria, mas

intercambiável, conforme descrito no trecho do laudo abaixo:

Trecho do Laudo

“A denominação 7,65mm, de origem européia, é equivalente à

denominação .32" Auto, de origem norte americana.

Embora os cartuchos de tais calibres sejam produzidos para

armas semi-automáticas (pistolas) de calibre 7,65mm Browning, ambos

podem ser utilizados em revólveres de calibre .32".

O projétil de “calibre .32" longo, constituinte de cartucho

produzido industrialmente, não pode ser utilizado em pistolas, entretanto,

quando montados artesanalmente (recarga) em estojos de calibre 7,65mm

ou .32" Auto, também podem ser utilizados em pistolas.

Quanto aos ressaltos e cavados impressos nos projéteis pela alma

do cano de arma de fogo, embora existam pistolas que as promovam com

largura compatível com a largura produzida por revólveres, tais pistolas

existem em número muito reduzido, em relação àquelas comumente

encontradas, e são produzidas no exterior, assim, é lícito afirmar ser muito

pequena a possibilidade de encontrarmos projéteis com largura de ressaltos

e cavados compatíveis com revólveres, que tenham sido disparados por

pistolas.

Apenas como exemplo, segue trecho de Laudo contendo a descrição de

projéteis de armas de fogo, lembrando que as deformações acidentais

guardam características dos impactos deste projétil. Além das deformações,

os projéteis carregam também incrustações ou simples aderências e

algumas vezes uma análise acurada permite determinar a ordem desses

impactos.

Trecho do Laudo

Os projéteis são todos do tipo semijaquetado, de ponta oca, calibre .38"

(trinta e oito centésimos de polegada).

Aquele identificado como P1 tem massa de 8,96g (oito gramas e noventa e

seis centigramas) e está semideformado, com amolgaduras na ponta e em

parte do corpo cilíndrico e da base e com dilaceração parcial da jaqueta.

O projétil P2 tem massa de 9,19g (nove gramas e dezenove centigramas) e

está semideformado, com amolgaduras na ponta e em parte do corpo

cilíndrico e da base.

O projétil P3 tem massa de 9,07g (nove gramas e sete centigramas) e está

semideformado, com amolgadura na ponta e com dilaceração parcial da

jaqueta.

Confrontos Balísticos

Cotejando, entre si, em microscópio óptico comparativo, os referidos

projéteis, verificaram-se justaposições, entre seus ressaltos, cavados e

micro estriamentos, que permitem afirmar que eles foram expelidos através

de um mesmo cano de arma de fogo.

Observação

Com os dados, é possível estabelecer:

o a posição relativa do corpo no momento do disparo;

o a posição do atirador;

o a dinâmica do fato.

4.2. Notas finais

Um dos grandes problemas verificados

nos tribunais refere-se à posição

relativa do corpo no momento do

disparo. O trajeto apresentado pelo

projétil dentro do corpo, quando este

corpo encontra-se em posição

anatômica (na posição anatômica o

corpo se encontra ereto, com os pés

juntos, paralelos e os dedos voltados

para frente; os braços devem estar

pendentes ao lado do corpo, com as

palmas das mãos voltadas para frente)

na maioria das vezes não corresponde

àquela posição assumida pelo corpo

durante o fato em estudo.

Os laudos de medicina legal referem-se ao trajeto do projétil dentro do

corpo. Quando este trajeto é adotado como a trajetória definitiva, este pode

levar a erros de interpretação sobre a posição da vítima e do atirador. A

determinação da trajetória é extremamente dependente dos vestígios e

passa, necessariamente, por um minucioso exame de local. Estabelecida a

Figura 12. Ilustração em 3D

referente a trajetória de

projétil de arma de fogo, em

caso submetido a exame de

local, efetuada pelo Agente

Penitenciário Augusto

Assucena de Vasconcelos

trajetória e as posições relativas da vítima(s) e atirador(es) nos momentos

que compõem a dinâmica do fato, haverá a reconstrução do acontecido.

Você iniciou seus estudos discutindo a dificuldade de estabelecer o

diagnóstico diferencial e a dinâmica do fato, certamente a resposta às

indagações e observações aqui relacionadas podem constituir-se em um

caminho pra a análise e para a busca da verdade factual e, ainda, para a

determinação do ocorrido no local do crime.

Finalizando...

Para o estabelecimento de uma possível dinâmica do crime, é

importante considerar que cada vestígio, pelo menos em parte,

representa uma ação ou omissão. Interpretá-los e analisá-los com

vistas a determinar de que forma eles se relacionam permite

estabelecer a dinâmica do fato delituoso.

Nos disparos efetuados contra superfícies metálicas (da mesma

ocorrida nas madeiras ou vestes, entre outras), o formato da

perfuração varia de acordo com a inclinação da trajetória do projétil

expelido por arma de fogo.

Os disparos em paredes de alvenaria, muros ou outras partes de

edificações, resultarão em deformações e características distintas do

projétil, conforme sua resistência estrutural e sua energia cinética.

O impacto em estruturas como vigas, pilares, lajes ou outras

estruturas de concreto, geralmente se caracteriza por uma pequena

deformação, na qual se verifica impregnação ou a incrustação de

material constituinte do projétil, tanto nos casos de ricochete do

projétil, como nos casos em que ele dissipa totalmente sua energia

no impacto, caracterizando a ação contundente do projétil.

Ricochete é o fenômeno que se observa quando, em consequência de

impacto contra uma superfície em ângulo específico, o projétil tem a

sua trajetória modificada. Após este impacto, o projétil ao

ricochetear, normalmente perde a estabilidade, velocidade e energia

cinética, apresentando, como consequência, uma trajetória irregular

e falta de direção.

As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil

apresentam características distintas das normalmente verificadas em

disparos diretos.

Nos exames de locais de crimes violentos praticados com emprego de

armas de fogo, cabe ao perito estabelecer, sempre que possível, o

diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio ou acidente, o que

pode constituir-se em uma tarefa muito difícil.

A determinação da trajetória é extremamente dependente dos

vestígios e necessariamente passa por um minucioso exame de local.

Estabelecida a trajetória e as posições relativas da vítima(s) e

atirador(es) nos momentos que compõem a dinâmica do fato, haverá

a reconstrução do acontecido.

Exercícios

1. Considerando o impacto de um projétil nu, originário de cartucho de

calibre “.38 SPL”, contra uma viga de concreto armado nas dimensões

de 15 x30 centímetros (largura x altura), espera-se como resultado

desse choque:

a. A presença de uma pequena deformação com a incrustação de

material constituinte do projétil.

b. A transfixação da viga com o orifício de entrada de formato

arredondado, nos casos da trajetória do projétil ser

perpendicular ou de formato ovalar nas trajetórias oblíquas.

c. A transfixação da viga com a perfuração de entrada de formato

irregular que não guarda dimensões que permitam estabelecer

calibres.

d. A perfuração em que o orifício apresenta as bordas evertidas,

demonstrando claramente o sentido da trajetória do projétil.

2. Assinale (V) para as sentenças Verdadeiras ou (F) para as falsas:

a. (V) Definindo de forma simples, ricochete é o fenômeno que se

observa quando, em consequência de impacto contra uma

superfície em ângulo específico, o projétil tem a sua trajetória

modificada.

b. (V) Normalmente, o projétil ao ricochetear perde a estabilidade,

velocidade e energia cinética e apresenta, como consequência,

uma trajetória irregular e falta de direção.

c. (V) Todas as superfícies apresentam ângulos críticos de incidência

de projéteis de armas de fogo, para os quais, no caso do ângulo

de incidência ser menor que o ângulo crítico, os projéteis

apresentam grande probabilidade de ricochetear.

d. (F) Os ângulos críticos variam somente com a natureza da

superfície suporte do disparo e independem de outros fatores.

3. As lesões produzidas em consequência do ricochete de um projétil

apresentam características distintas das normalmente verificadas em

disparos diretos. As características observadas são:

a. Ausência de orla de enxugo;

b. Lesão de entrada de dimensões e formato irregular;

c. Ausência dos efeitos secundários do disparo;

d. todas as anteriores.

4. As deformações indumentárias são aquelas existentes nos projéteis,

originárias de impactos contra:

a. Lâminas de vidros;

b. Superfície suporte constituída de madeira;

c. Superfície suporte constituída de alvenaria;.

d. As tramas de tecidos das vestes.

5. Uma das questões mais importantes sobre a dinâmica do local é a

distância métrica em que o disparo aconteceu. Para asseverar sobre a

distância métrica em que o disparo aconteceu faz-se necessário:

a. A simples constatação da presença física da zona de chama,

enfumaçamento e/ou tatuagem..

b. Necessariamente por meio do emprego de reagentes químicos no

suporte do disparo para verificar a dispersão dos resíduos metálicos

do disparo.

c. Comparando a disposição dos vestígios metálicos e não metálicos da

superfície suporte do disparo inclinado com a disposição dos vestígios

metálicos e não metálicos obtidos nas diversas distâncias com o

emprego da arma incriminada e munição idêntica à incriminada em

superfície suporte semelhante à incriminada (veste).

(Residuogramas).

d. Por meio do que foi especificado em literatura especializada, sobre

quais os vestígios estarão presentes em distâncias específicas.

Gabarito:

1 - A

2 - V V V F

3 - D

4 - D

5 - C